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contestação

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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz De Direito da 1ª Vara Cível de

Rondonópolis – Mato Grosso.

Processo nº1039527-47.2023.8.11.0003.

LAURINDO JOSE DE OLIVEIRA FILHO, brasileiro, casado, médico,


portador do RG nº 25084046 SSP, MT, inscrito no CPF/MF sob nº
342.358.686 -91, residente e domiciliado à Rua Pedro Ferrer, n.º 1757,
Santa Cruz, Cep 78710-250, Município de Rondonópolis – MT, ora
intermediado por sua mandatária que esta subscreve, com endereço
profissional e eletrônico descritos no rodapé desta, a qual, em obediência
à diretriz fixada no art. 77, inciso V, do CPC/15, indica-o para as
intimações que se fizerem necessárias, vem com o devido acato e respeito
à presença do Douto Juízo, apresentar CONTESTAÇÃO, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

I. PRELIMINAR – TEMPESTIVIDADE

A presente contestação é tempestiva, conforme os autos, visto que a


citação do Dr. Laurindo fora realizada por hora certa no dia 04/10/2024.

II. DA SÍNTESE FÁTICA

Narra a autora que foi internada na clínica Materclin para um parto


cesáreo eletivo, durante a gestação, não foram detectadas anormalidades,
mas, após o nascimento, o recém-nascido João Miguel apresentou sinais de
cianose, sem que a equipe solicitasse exames imediatos.

Alega que embora tenha comunicado o histórico de incompatibilidade


sanguínea entre ela (Rh negativo) e o pai (Rh positivo), essa informação foi
ignorada, também pontua que o bebê foi erroneamente identificado várias
vezes no prontuário como sendo do sexo feminino.
Nos primeiros dias, Luana notou sinais de icterícia, mas, ao relatar aos
atendentes, foi tranquilizada de que estava tudo bem, sendo os exames
realizados apenas no terceiro dia, quando foi constatado um aumento
crítico nos níveis de bilirrubina.

Diante do agravamento do quadro, João Miguel foi transferido para


uma UTI em Goiânia, onde sofreu convulsões e recebeu o diagnóstico de
paralisia cerebral (CID-10 G80.3), além de outros quadros graves que
passaram a demandar tratamento contínuo e cuidados especializados
devido às sequelas neurológicas permanentes.

Desde já, destaca-se que os fatos alegados pela parte autora carecem
de embasamento jurídico e técnico, e os documentos acostados aos autos
demonstram que todas as medidas médicas cabíveis foram adotadas,
conforme os protocolos clínicos e éticos aplicáveis. Ademais, algumas das
alegações apresentadas contêm falhas formais e interpretações
equivocadas, que serão devidamente rebatidas ao longo desta réplica.

III. DO ALEGADO ERRO MATERIAL NO PRONTUÁRIO

A parte autora alega que houve um erro no registro de gênero do recém-


nascido no prontuário médico, sugerindo que isso configuraria desleixo na
prestação do serviço.

Contudo, é fundamental destacar que o médico, em todos os


registros realizados, indicou o gênero masculino. Mesmo que houvesse
uma falha na identificação do gênero, tal equívoco administrativo não
influenciou a evolução clínica nem alterou as condutas terapêuticas
adotadas. A fototerapia, por exemplo, seria exatamente a mesma,
independentemente de o paciente ser do gênero masculino ou feminino.
O recém-nascido recebeu o atendimento adequado, sendo avaliado
clinicamente e submetido a todos os exames e tratamentos necessários,
seguindo rigorosamente os protocolos médicos estabelecidos. Não houve
qualquer prejuízo à assistência prestada, nem omissão, negligência ou
imprudência por parte da equipe de saúde.

Dessa forma, a alegação de desleixo ou falha na prestação do serviço


carece de fundamentação jurídica. Tentar imputar responsabilidade médica
com base em um erro meramente formal é uma interpretação exagerada,
que deve ser rejeitada para evitar distorções na análise dos fatos.

IV. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA – EXIGÊNCIA DE


COMPROVAÇÃO DE CULPA

Nos termos do art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor


(CDC), a responsabilidade dos profissionais de saúde é de natureza
subjetiva, o que significa que, no caso de profissionais liberais, como
médicos, a responsabilidade não decorre automaticamente de um resultado
insatisfatório ou de um dano ao paciente. Ao contrário, é necessária a
demonstração concreta de que o profissional agiu com culpa, deixando
de empregar a técnica ou os cuidados que seriam razoavelmente esperados.

Vejamos a jurisprudência:

“Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR. DIALETICIDADE


RECURSAL. VIOLAÇÃO. REJEIÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. ERRO MÉDICO. HOSPITAL
PARTICULAR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DA CULPA DO PROFISSIONAL DE SAÚDE.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. VÍNCULO ENTRE AMBAS. PERÍCIA
JUDICIAL. CULPA NÃO DEMONSTRADA. INEXISTÊNCIA DE ATO
ILÍCITO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Afasta-se a preliminar de violação à
dialeticidade recursal quando a ratio decidendi do pronunciamento
judicial foi devidamente atacada pelo recurso. 2. Aplica-se ao caso as
normas protetivas do direito do consumidor, uma vez que as partes se
adequam, respectivamente, aos conceitos estabelecidos nos artigos 2º e
3º do CDC. 3. O hospital particular responde objetivamente pelos danos
praticados pelos profissionais de saúde no exercício da função para a
qual foram contratados, conforme previsto no art. 14 do Código de
Defesa do Consumidor. 4. A responsabilização do hospital, ainda que
apurada objetivamente, está vinculada à comprovação da culpa do
médico que realizou o procedimento, uma vez que, em relação a esse, a
responsabilidade é subjetiva. 5. Para fins de indenização decorrente
de erro médico, é essencial que o conjunto probatório indique o
nexo causal entre o resultado danoso alegado e a culpa do
profissional de saúde, sob consequência de não afigurar devida
a indenização pleiteada pelo paciente. 6. Inexiste dever de
indenizar quando não foram encontradas evidências da culpa
dos médicos encarregados do atendimento, tampouco nexo
causal entre as técnicas adotadas e o resultado alegado pela
paciente. 7. Apelação conhecida e não provida. Preliminar
rejeitada. (TJ-DF 0710052-67.2022.8.07.0003 1827148, Relator:
Robson Teixeira de Freitas, Data de Julgamento: 05/03/2024, 8ª Turma
Cível, Data de Publicação: 15/03/2024)”.

“E M E N T A RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MATERIAIS, DANO MORAIS, ESTÉTICOS E LUCROS
CESSANTES – ERRO MÉDICO – IMPROCEDÊNCIA – REALIZAÇÃO DE
CIRURGIA DE HISTERECTOMIA (RETIRADA DO ÚTERO, TROMPAS E
OVÁRIO) – PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA – LAUDO
INCONCLUSIVO – REJEIÇÃO – MÉRITO – ALEGAÇÃO DE ERRO MÉDICO
– CORTE DO NERVO CUTÂNEO LATERAL DA COXA – QUADRO DE
MERALGIA PARESTÉSICA – PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL –
INEXISTÊNCIA DE ERRO E DANO – RESPONSABILIDADE SUBJETIVA –
NÃO DEMONSTRAÇÃO – ARTIGO 14, § 4º, DO CDC – HOSPITAL –
RESPONSABILIDADE OBJETIVA – INOCORRÊNCIA – LAUDO MÉDICO
PERICIAL – CONCLUSÃO DE AUSÊNCIA DE NEGLIGÊNCIA OU
IMPERÍCIA – NÃO COMPROVAÇÃO DE DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO – INEXISTÊNCIA DE ERRO NA TÉCNICA CIRURGICA E NO
DIAGNÓSTICO PRÉVIO – AUSÊNCIA DOS REQUISITOS
ENSEJADORES DO DEVER DE INDENIZAR – RECURSO
DESPROVIDO. Não há se falar em cerceamento de defesa em razão do
caráter inconclusivo do laudo pericial, uma vez que a apelante teve a
oportunidade de apresentar sua impugnação, bem como recorrer da
decisão que homologou o laudo pericial, contudo, quedou-se inerte. A
utilização de serviço hospitalar importa em relação de consumo, sendo
objetiva a responsabilidade do hospital, pois decorre da verificação de
falha na prestação dos seus serviços, conforme o artigo 14 do CDC. A
responsabilidade do médico é subjetiva, sendo imprescindível para a
sua configuração a demonstração da conduta culposa do profissional,
nos termos do artigo 14, § 4º, do CDC. A obrigação de indenizar surge
apenas quando comprovada a culpa, seja por negligência,
imprudência ou imperícia ou ainda evidências de que o médico
tenha utilizado técnica inadequada no procedimento cirúrgico e
hospitalar. Se os documentos apresentados e a prova pericial
foram concludentes em excluir qualquer conduta ilícita, culposa
ou negligente por parte dos apelados que possa dar azo ao nexo
de causalidade com os alegados males sofridos pela
autora/apelante e não demonstrada a culpa da médica cirurgiã
ou do hospital/requerido pelos alegados danos sofridos, deve ser
mantida a improcedência da demanda. O hospital somente pode ser
responsabilizado por eventual dano sofrido pelo paciente, mediante a
comprovação do nexo causal e de culpa do médico ou quando o dano
decorrer da falha de serviços relacionados exclusivamente àquele
estabelecimento, o que não ocorreu na hipótese.- (TJ-MT
10086864520188110003 MT, Relator: MARILSEN ANDRADE ADDARIO,
Data de Julgamento: 06/07/2022, Segunda Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 12/07/2022)”.

No presente caso, as alegações da parte autora são insuficientes para


configurar culpa. A ocorrência de icterícia neonatal e a necessidade de
fototerapia e UTI são eventos previsíveis em neonatos e, conforme
comprovado pelos documentos e pelo prontuário médico, todos os
cuidados necessários foram adotados com diligência.
A equipe médica:
1. Identificou prontamente a icterícia e iniciou o tratamento
adequado com fototerapia no mesmo dia.
2. Solicitou exames complementares essenciais, incluindo
bilirrubina e tipagem sanguínea, em tempo hábil para monitorar a condição
do recém-nascido.
3. Decidiu pela transferência para a UTI assim que houve indicação
clínica, demonstrando que não houve omissão ou retardamento no
atendimento.

Assim, está evidenciado que não houve negligência, imprudência ou


imperícia por parte da equipe médica. O desfecho clínico negativo não
pode ser imputado automaticamente como erro médico, uma vez que
todos os procedimentos realizados seguiram as melhores práticas e
protocolos estabelecidos. Sem prova inequívoca de conduta culposa, não há
como sustentar a tese de responsabilidade civil.

Portanto, não há fundamento legal ou fático para a condenação dos


profissionais ou da instituição hospitalar, devendo ser afastada qualquer
alegação de erro médico ou negligência.
V. DA INEXISTÊNCIA DE NEGLIGÊNCIA MÉDICA E CONDUTA
ADEQUADA NA PROFILAXIA

Os autores alegam, que o recém-nascido foi recepcionado pelo médico


Dr. Laurindo apresentando cianose e sustentam que, ainda assim, teria
sido encaminhado ao alojamento conjunto sem a devida solicitação de
exames essenciais naquele momento.

No entanto, a análise do prontuário, comprova que a alegação dos


autores é inveridica, vejamos:

Revela o seguinte registro: “Às 05h57, o recém-nascido, fruto de parto


cesáreo, do sexo masculino, foi recepcionado pelo Dr. Laurindo. Nasceu
acianótico, com respiração espontânea, chorando e sem malformações
aparentes.”
Assim, verifica-se que o recém-nascido não apresentava sinais de
cianose, pois respirava espontaneamente, chorava ao nascer e não
apresentava malformações aparentes, razão pela qual foi corretamente
encaminhado ao alojamento conjunto com a mãe.

Consta ainda na evolução médica registrada pelo Dr. Laurindo que o


parto ocorreu com 39 semanas de gestação, resultando em um recém-
nascido do sexo masculino, pesando 3.540 kg, com índices APGAR de 9
e 10, refletindo boas condições de vitalidade. Em 09/12/2021, o médico
solicitou exames de grupo sanguíneo e Coombs, demonstrando a adoção
de condutas adequadas desde o início do atendimento.

A escala de APGAR é um teste aplicado ao recém-nascido logo após o


nascimento, com o objetivo de avaliar seu estado geral e vitalidade.
Durante o exame, são observados sinais como a cor da pele e o número de
batimentos cardíacos, que recebem uma pontuação conforme os critérios
da escala para se obter um valor final. Essa avaliação é realizada
imediatamente após o nascimento e repetida cinco minutos depois,
possibilitando uma análise da resposta do bebê às condições iniciais.

Embora a escala de APGAR não preveja com precisão problemas de


saúde futuros, resultados baixos indicam maior risco de condições como
paralisia cerebral e epilepsia. A escala é útil para monitorar a necessidade
de intervenções imediatas na sala de parto, como aspiração ou ventilação.

A tabela de APGAR oferece uma referência clara sobre a condição do


bebê, auxiliando na identificação de situações que demandem intervenção
imediata.

O resultado da escala de APGAR é considerado normal quando a


pontuação é superior a 7, indicando um menor risco de complicações
imediatas, como infecções e hipoglicemia, em comparação com bebês que
apresentam resultados inferiores.

No entanto, pontuações abaixo de 7, embora não garantam que o


recém-nascido desenvolverá problemas de saúde no futuro, estão
associadas a um risco aumentado de condições como paralisia cerebral
e epilepsia, especialmente quando registradas no 5º minuto de vida.

No presente caso, a análise detalhada do prontuário médico confirma


que não houve qualquer atraso no início da fototerapia para tratar a
hiperbilirrubinemia identificada no recém-nascido, a qual se manifestou
clinicamente como icterícia (coloração amarelada da pele). A fototerapia
foi iniciada em 10/12/2021 e mantida até a transferência do recém-
nascido na madrugada de 13/12/2021, seguindo as práticas clínicas
recomendadas.

Embora seja comum em recém-nascidos, a hiperbilirrubinemia requer


acompanhamento cuidadoso para evitar complicações graves.

Constata-se, ainda, que o recém-nascido permaneceu em fototerapia


dupla com proteção ocular nos dias subsequentes, incluindo
11/12/2021.
Conforme registrado no prontuário médico, em 12/12/2021, apesar
de o recém-nascido estar recebendo o tratamento adequado com
fototerapia dupla e proteção ocular, exames indicaram níveis elevados
de bilirrubina e piora clínica. Diante desse cenário, o pediatra Dr.
Laurindo, em conformidade com as melhores práticas clínicas, solicitou a
transferência imediata para uma unidade de terapia intensiva, abrindo
boletim junto ao sistema HAPVIDA para viabilizar o procedimento.

A transferência foi realizada às 5h da manhã do dia 13/12/2021 pela


equipe da CARMED, com todos os cuidados necessários, utilizando
incubadora e garantindo a presença de um médico responsável pelo
transporte, além da acompanhante materna.

A presente situação encontra respaldo na jurisprudência do Tribunal


de Justiça de São Paulo, que reafirma que complicações clínicas previsíveis
e tratáveis não configuram erro médico. A decisão abaixo ilustra que a
responsabilidade médica não pode ser imputada automaticamente diante
de intercorrências naturais de procedimentos de saúde, desde que o
profissional tenha adotado as medidas necessárias para o tratamento e
recuperação do paciente:
“Ação de indenização de danos materiais e morais. Alegado erro médico.
Parto cesariana com posterior deiscência da sutura (abertura de pontos).
Perícia que concluiu pela inocorrência de erro médico, já que a
complicação é previsível em cirurgias e se resolve com a ressutura da
parede, como de fato ocorreu. Provas dos autos insuficientes para
contrariar as conclusões da perícia oficial. Sentença de improcedência
mantida. Recurso não provido. (TJ-SP - AC: 10058280620168260161
SP 1005828-06.2016.8.26.0161, Relator: Antonio Celso Aguilar Cortez,
Data de Julgamento: 08/12/2022, 10ª Câmara de Direito Público, Data
de Publicação: 08/12/2022)”.
Fica claro, no caso em questão, que em nenhum momento houve
atraso no início do tratamento indicado de fototerapia, já que o recém-
nascido (RN) se mantinha ativo, reativo e apresentava boa capacidade de
sucção. O RN permaneceu em fototerapia continuamente do dia
10/12/2021 até a madrugada de 13/12/2021, quando foi transferido para
a unidade de terapia intensiva (UTI), acompanhado por equipe médica, em
incubadora e ainda sob fototerapia.

Em uma tentativa de distorcer os fatos, alega-se que o médico pediatra


foi negligente ao não solicitar os exames necessários ao quadro clínico do
RN. No entanto, após criteriosa análise do caso, constata-se que tal alegação
é falsa, uma vez que os profissionais médicos solicitaram todos os exames
pertinentes à situação, conforme demonstrado a seguir:
A alegação de negligência médica é claramente infundada,
considerando que todos os exames necessários foram solicitados de
forma seriada e realizados no tempo adequado. Desde o nascimento, o
recém-nascido recebeu avaliações clínicas contínuas, seguindo o
protocolo de monitoramento neonatal. Assim que os sinais de icterícia
foram identificados, a fototerapia foi iniciada sem qualquer atraso,
demonstrando a adoção das melhores práticas clínicas para evitar
complicações.
A icterícia neonatal é uma condição comum, principalmente em bebês
nascidos a termo, e seu tratamento com fototerapia é indicado logo que os
níveis de bilirrubina ultrapassam os valores de referência. A
intervenção imediata com fototerapia é confirmada pelos registros
médicos, que demonstram que o recém-nascido permaneceu em tratamento
contínuo até a transferência para a UTI.

Dessa forma, não houve qualquer falha na prestação do serviço


médico. As intercorrências observadas foram gerenciadas de maneira
tempestiva e diligente, afastando qualquer hipótese de omissão ou
negligência.

Outro ponto relevante é o relato da mãe de que, em sua primeira


gestação, recebeu a imunoglobulina Matergam, seguindo os protocolos
clínicos aplicáveis a gestantes com fator Rh-negativo que gestam bebês com
fator Rh-positivo. Essa profilaxia é essencial para prevenir a sensibilização
imunológica materna, evitando a formação de anticorpos que poderiam
comprometer futuras gestações ao desencadear a Doença Hemolítica do
Recém-Nascido (DHRN).

A imunoglobulina Matergam é prescrita pela ginecologista


responsável e administrada entre a 28ª e 30ª semana de gestação,
conforme as diretrizes médicas e protocolos de segurança. Esse intervalo é
considerado o período ideal para a profilaxia, uma vez que o risco de
aloincompatibilidade Rh aumenta à medida que a gravidez avança e a
circulação fetal e materna podem se misturar.

Nesta gestação, com base no relato da mãe e no histórico de profilaxia


adequada com Matergam, era previsível que ela não estivesse sensibilizada.
A eficácia comprovada desse protocolo justifica a confiança da equipe
médica na ausência de anticorpos maternos contra as hemácias fetais,
direcionando as condutas adotadas no atendimento.
A equipe médica agiu de forma diligente, considerando o histórico
informado pela mãe e solicitando exames no momento adequado para
garantir um acompanhamento seguro. Foram realizados exames de grupo
sanguíneo e teste de Coombs de acordo com as necessidades clínicas, sem
atrasos ou omissões, assegurando que o cuidado prestado fosse preciso e
baseado em protocolos atualizados.

https://noticias.4medic.com.br/bula/matergam
Portanto, as alegações de negligência não encontram fundamento
fático ou jurídico, uma vez que todos os procedimentos foram realizados
em conformidade com os protocolos clínicos. O início imediato do
tratamento por fototerapia, aliado ao acompanhamento constante do
recém-nascido, demonstra que não houve qualquer omissão ou
negligência por parte da equipe médica.

Além disso, a administração da imunoglobulina Matergam na


primeira gestação indica que a profilaxia foi corretamente conduzida,
justificando a expectativa de ausência de sensibilização materna nesta
segunda gestação. Assim, não há como imputar responsabilidade
médica pelas intercorrências naturais observadas no quadro clínico do
recém-nascido, que foram prontamente tratadas.

Conclui-se, portanto, que a equipe médica atuou de forma diligente


e tempestiva, afastando qualquer hipótese de erro médico, negligência ou
omissão.

VI. DOS DANOS MORAIS E PENSÃO VITALÍCIA

O pedido de pensão vitalícia exige prova cabal e específica de


incapacidade permanente diretamente causada pela conduta médica
alegadamente culposa. No entanto, não há nos autos qualquer prova
pericial conclusiva que estabeleça um nexo causal entre a atuação da
equipe médica e o diagnóstico de paralisia cerebral do recém-nascido.

De acordo com a jurisprudência, a concessão de pensão vitalícia


depende da comprovação de que a conduta médica imprópria foi a
causa direta e imediata da incapacidade permanente. Em casos de
neonatologia, a ocorrência de complicações, como paralisia cerebral,
pode decorrer de fatores multifatoriais que não estão sob controle direto
da equipe médica. Vejamos:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


C.C. PENSÃO VITALÍCIA. ERRO MÉDICO. ALEGAÇÃO DE DEMORA
DE DIAGNÓSTICO QUE RESULTOU EM MORTE. Hipótese em que, de
acordo com a prova técnica colimada aos autos, inexiste, prova de
que o evento danoso se deu em razão de imperícia ou
negligência dos profissionais do Município de Franca. Laudo
pericial que concluiu que o óbito se deu devido à gravidade da
doença não havendo indícios de má prática médica no
tratamento do caso em questão. Ausência de negligência ou
imperícia dos profissionais, bem como inexistência de nexo
causal a ensejar a responsabilidade objetiva do Estado. Sentença
de improcedência do pedido mantida. Recurso não provido.(TJ-SP - AC:
10167324820148260196 Franca, Relator: Camargo Pereira, Data de
Julgamento: 25/09/2023, 3ª Câmara de Direito Público, Data de
Publicação: 26/09/2023)”.

No presente caso, não há elementos que demonstrem o nexo


causal entre a atuação do médico e a alegada incapacidade do menor. A
necessidade de tratamento e acompanhamento contínuo é decorrente da
condição clínica do paciente e não pode ser atribuída à conduta
médica, que foi adequada e tempestiva em todos os momentos.

Diante da ausência de provas concretas e robustas, o pedido de


indenização por danos morais no valor de R$ 150.000,00 deve ser
considerado excessivo e improcedente, em respeito aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. Da mesma forma, o pedido de
pensão vitalícia deve ser indeferido, uma vez que não há prova cabal
de incapacidade permanente e nexo causal direto entre a conduta
médica e o dano alegado.

Portanto, requer-se o indeferimento de ambos os pedidos,


assegurando o reconhecimento de que não houve erro médico ou
negligência e que todas as medidas adotadas pela equipe médica foram
compatíveis com o quadro clínico apresentado.

VII. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, considerando a completa ausência de nexo


causal entre a atuação da equipe médica e o resultado alegado, bem como
a comprovação de que todos os procedimentos foram realizados de forma
adequada, requer-se a Vossa Excelência que:

a) Seja julgada improcedente a demanda, afastando-se as alegações de


erro médico, negligência, imprudência ou imperícia por parte do Dr.
Laurindo e da equipe hospitalar.

b) Seja indeferido o pedido de indenização por danos morais, por


ser excessivo e desproporcional, em conformidade com o princípio da
proporcionalidade e da razoabilidade, evitando-se enriquecimento sem
causa.

c) Seja indeferido o pedido de pensão vitalícia, pela ausência de


prova cabal de incapacidade permanente e de nexo causal direto entre a
conduta médica e a condição clínica do recém-nascido.

d) Protesta-se pela produção de todas as provas admitidas em direito,


especialmente a juntada de novos documentos, provas periciais e
testemunhais, caso necessário.

e) Requer-se que todas as comunicações e intimações sejam feitas em


nome dos advogados constituídos, sob pena de nulidade, conforme o art.
272, § 2º, do CPC.
f) Por todo o exposto, confia-se que a presente contestação será
acolhida, reconhecendo-se a total ausência de responsabilidade da equipe
médica e julgando-se improcedente a presente demanda.

Termos em que,
Pede Deferimento.
Rondonópolis - MT, 24 de outubro de 2024.

Any Stefhany Taveira


OAB/MT 32.309

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