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3.2 Semântica Argumentativa

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Semântica argumentativa

Apresentação
O estudo do sentido, sobretudo com o desenvolvimento da Linguística moderna, passou a ter uma
face mais científica e menos filosófica. Porém, devido à complexidade e ao dinamismo do aspecto
semântico, uma vertente acabou não dando conta de explicar outros fenômenos do sentido. Assim,
é nesse cenário que a Semântica Argumentativa se insere. Contrapondo-se à Semântica Formal, a
Semântica Argumentativa busca pesquisar o sentido por meio da perspectiva da argumentação.
Para isso, ela formulou conceitos próprios, a fim de descrever e explicar a maneira pela qual o ser
humano compreende a significação.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar tais conceitos, como a teoria da argumentação
na língua (TAL), a teoria dos blocos semânticos (TBS) e também uma demonstração de modelos de
descrição semântico-argumentativa.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Discutir sobre a teoria da argumentação na língua (TAL).


• Interpretar a teoria dos blocos semânticos (TBS).
• Demonstrar modelos de descrição semântico-argumentativa.
Desafio
A Semântica Argumentativa, que também pode ser chamada de Enunciativa ou da Enunciação,
estuda o sentido a partir da ótica da argumentação, uma vez que a língua dos falantes
produz sentido não apenas de modo informativo, mas também e principalmente com fins de
interação e convencimento do outro. Dessa forma, segundo Koch (2002), pode-se afirmar que,
mesmo que alguém diga que sua fala é "neutra", já se está expressando um ponto de vista, o da
própria objetividade.

Acompanhe este caso:


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Descreva como você irá explicar aos alunos, a partir da perspectiva da argumentação, que embasa a
Semântica Argumentativa, a questão da imparcialidade de acordo com as duas manchetes das
notícias expostas anteriormente.
Infográfico
A Semântica Argumentativa é uma vertente da semântica fundada pelo linguista Oswald Ducrot.
Em virtude desse prisma teórico, o sentido é fruto de um jogo argumentativo entre os
interlocutores efetivado por meio dos elementos linguísticos de uma língua. Portanto, a língua é
marcada pela argumentatividade e também pela intencionalidade, e daí deriva a teoria da
argumentação da língua (TAL). Para estudar isso, Ducrot observou elementos linguísticos que estão
articulados aos enunciados e ligados diretamente à argumentação. São os chamados operadores
argumentativos.

No Infográfico a seguir, você vai ver os principais grupos dos operadores argumentativos.
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Conteúdo do livro
A Semântica Argumentativa surgiu nos anos 1960 e 1970 a fim de estudar o sentido tendo como
prisma a argumentação dos falantes, comprovando a complexidade e o dinamismo do fenômeno da
significação das línguas humanas.

No capítulo Semântica Argumentativa, da obra Semântica e Pragmática, você vai ver os


pressupostos teóricos básicos dessa vertente dos estudos semânticos, principalmente a teoria da
argumentação na língua, a teoria dos blocos semânticos e, para finalizar, um exemplo de descrição
semântico-argumentativa.

Boa leitura.
SEMÂNTICA E
PRAGMÁTICA

Leonardo Teixeira de Freitas Ribeiro Vilhagra


Semântica argumentativa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Discutir sobre a teoria da argumentação na língua (TAL).


 Interpretar a teoria dos blocos semânticos (TBS).
 Demonstrar modelos de descrição semântico-argumentativos.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a semântica argumentativa, uma das
vertentes dos estudos semânticos. Diferentemente de outras vertentes,
a de viés argumentativo aborda o sentido por meio da perspectiva do
convencimento entre os falantes de uma língua. Assim, ela define cate-
gorias analíticas a fim de explicar como a significação ocorre.
Inicialmente, você vai conhecer a TAL. Em seguida, vai ver como ela se
relaciona à TBS. Por fim, você vai acompanhar um exemplo de descrição
semântico-argumentativa.

1 Teoria da argumentação na língua


A semântica argumentativa, também conhecida como semântica enunciativa
ou da enunciação, é orientada pela perspectiva da argumentação. Ou seja, essa
vertente semântica busca estudar o sentido a partir de um jogo de convenci-
mento realizado pelos interlocutores por meio da língua.
Como você deve saber, a semântica formal é regida pelo princípio da
referencialidade, isto é, essa corrente entende que a língua representa algo
no mundo. Já a semântica argumentativa é pautada pela perspectiva da argu-
mentatividade. Essa perspectiva considera que um falante de uma língua não
verbaliza apenas uma sentença contendo uma informação que faz referência
a uma coisa da realidade, mas almeja convencer outro sujeito por meio da
língua. Veja o que Cançado (2005, p. 142) afirma sobre isso:
2 Semântica argumentativa

Nessa abordagem, as condições de verdade de uma sentença não são relevan-


tes. A ideia que sustenta essa teoria é a de que há interesse em contar com
categorias descritivas que dizem respeito mais ao possível uso na interação
dos falantes/ouvintes, e menos no que diz respeito à sintaxe ou ao conteúdo
objetivo da sentença.

A semântica argumentativa teve início na transição entre as décadas de


1960 e 1970, com o linguista Oswald Ducrot. Embora tenham uma raiz no
estruturalismo de Ferdinand de Saussure, as pesquisas de Ducrot aprofundam
os princípios teóricos do pai da linguística, em especial o conceito de valor
do signo linguístico.
Fundamentado no conceito de valor linguístico, que afirma que um signo
linguístico adquire valor a partir de outro, Ducrot almejou “[...] levantar as
possibilidades que a língua oferece para o uso e as limitações que ela impõe
a esses usos [...]” (CABRAL, 2013, p. 184).
Ou seja, Ducrot (1989) entende que o uso está ligado aos sentidos produzidos
nos enunciados dos falantes. Porém, não está em jogo qualquer sentido: há uma
restrição de sentido ocasionada por elementos da própria língua que regulam
orientações argumentativas. Em virtude disso, Ducrot (1989), junto com Jean-
-Claude Ascombre, fundaram a semântica argumentativa, por meio da TAL.
A TAL evidencia que a língua, bem como o sentido, é marcada pela argu-
mentatividade. Em virtude disso, emerge outra característica: a intenciona-
lidade. Veja:

A intencionalidade subjacente à produção de enunciados, em situação de


interlocução, orienta o sentido a ser construído, dada a situação discur-
siva. Se se entende a argumentatividade como algo que está inscrito na
linguagem, parte-se do princípio de que ninguém diz o que não acredita
ser importante; logo, toda ação de dizer comporta a intenção, por parte do
locutor, de “mostrar” a conclusão para a qual o alocutário deve se encami-
nhar (COSTA, 2008, p. 25).

Devido à argumentatividade e à intencionalidade, Ducrot (1989) e seus pares


começaram a se interessar particularmente por estudar algumas palavras que
orientam o sentido a ser construído (CABRAL, 2013). Tais palavras são os
operadores argumentativos, que possuem uma dupla função “[...] de ligação
e de orientação, isto é, o conector é uma palavra que articula as informações
e os argumentos de um enunciado [...]” (CABRAL, 2013, p. 185).
Semântica argumentativa 3

A fim de tornar essa teoria mais palpável, você vai ver a seguir um exemplo
clássico, o uso do operador argumentativo “mas”. No momento em que ele é
usado, não há oposição de sentido entre dois enunciados, e sim restrição de
sentido entre as orientações argumentativas possíveis direcionadas à conclusão.
Observe:

(1) Este restaurante é bom, (2) mas é caro.

Em casos como esse, pode haver condução à conclusão da argumentação —


ou seja, os interlocutores não vão almoçar no restaurante caro —, ou restrição
à conclusão da argumentação — isto é, eles vão almoçar no restaurante caro.
Observe que a inserção do operador argumentativo “mas” conduz a uma
possível conclusão da argumentação e não à outra, pois o “[...] sentido do
enunciado, de acordo com esse ponto de vista teórico, conduz a determinada
direção [...]” (CABRAL 2013, p. 186).
Segundo essa teoria, as condições argumentativas seguem a lógica do
“portanto”. Em relação a isso, considere novamente o exemplo anterior:
“O restaurante é bom, mas é caro. Portanto, não vamos almoçar nele”. De
outra forma, Freitas (2008, p. 112) formula o seguinte:

De acordo com essa posição teórica, os próprios elementos linguísticos favo-


recem a argumentação e não os fatos que estes poderiam representar. Cada
enunciado “argumenta”, isto é, favorece uns encadeamentos discursivos e
impede outros, em função de seu significado linguístico inerente.

Além disso, é interessante destacar a diferença entre sujeito empírico,


locutor e enunciador proposta por Ducrot (1989). O sujeito empírico não é
objeto de estudo da linguística. Já o locutor é o responsável pelo enunciado.
Por sua vez, os enunciadores são origens de pontos de vista, e não pessoas.
Como afirma Freitas (2008, p. 113), “Os enunciadores são argumentadores e
em relação a eles o locutor assume atitudes (de concordância, de identificação,
de rejeição etc.), e assim constitui sua própria argumentação [...]”.
4 Semântica argumentativa

2 Teoria dos blocos semânticos


Com o desenvolvimento da semântica argumentativa, outros teóricos surgiram,
contribuindo para a expansão do campo. Nesse cenário, uma pesquisadora
ganha destaque: Marion Carel. Na década de 1990, Carel (1995) elaborou uma
teoria que aprofundou a TBS.

Marion Carel é professora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, localizada


em Paris, na França. Ela possui especialização em semântica e nos estudos discursivos
e enunciativos.

Segundo Lunardi e Freitas (2011, p. 163), “A TBS é uma teoria que explica
o sentido argumentativo dos enunciados, de modo que as palavras são descritas
não a partir de um conhecimento prévio da realidade, mas sim através de suas
potencialidades discursivas [...]”.
Assim, nessa nova teoria, é mantida a perspectiva da argumentatividade
e da intencionalidade. Porém, na TAL,

[...] as relações argumentativas entre os signos se baseavam em encadeamentos


por meio do conectivo portanto, simbolicamente representado por A - - - - - }
C, em que A indica um fato F, representado em um enunciado-argumento que
explica ou justifica uma conclusão C (DUCROT, 1989, p. 16).

A grande contribuição de Carel (1995) à teoria de Ducrot é relativa ao


sentido dos enunciados. Carel (1995) notou que tal sentido é formado pelo
encadeamento argumentativo entre os enunciados. A TBS “[...] postula que as
relações argumentativas se baseiam em encadeamentos enunciativos constituí-
dos por dois segmentos, unidos por um conector, que tanto pode ser normativo
(portanto) quanto transgressivo (no entanto) [...]” (COSTA, 2008, p. 44). Cada
encadeamento argumentativo, segundo Costa (2008), é fundado na fórmula “X
conectivo Y”, demonstrando um aspecto argumentativo distinto. O Quadro
1 sintetiza essas noções.
Semântica argumentativa 5

Quadro 1. Encadeamento argumentativo

X conectivo Y

Conectivo normativo Conectivo transgressivo

Portanto No entanto

Fonte: Adpatado de Costa (2008).

A fim de compreender isso melhor, observe o exemplo a seguir:

(3) João tem muito dinheiro e é feliz.


(4) João tem saúde e é feliz.

Observe que, tanto no encadeamento argumentativo (3) quanto no encade-


amento argumentativo (4), a felicidade não é a mesma. Logo, cada felicidade
possui um sentido específico. Isso se justifica porque cada enunciado é es-
truturado e sequenciado de maneira singular, atuando impreterivelmente de
maneira conjunta, nunca separada. Observe:

(5) João tem muito dinheiro (portanto) é feliz.


(6) João tem saúde (portanto) é feliz.

Em ambos os casos, há a seguinte configuração:

Enunciado X — conectivo normativo — enunciado Y

Porém, você se lembra de que a TBS também considera os encadeamentos


argumentativos feitos com operadores argumentativos transgressivos? Pois
bem, nesse caso, pode-se expandir as possibilidades argumentativas de um
enunciado. Considere o caso do encadeamento argumentativo “João tem muito
dinheiro e é feliz”. Em relação a ele, pode-se definir um bloco semântico,
como mostra o Quadro 2.
6 Semântica argumentativa

Quadro 2. Bloco semântico

Conectivo normativo Conectivo transgressivo

Aspecto argumentativo 1 Aspecto argumentativo 3

João tem muito dinheiro João não tem muito dinheiro


e (portanto) é feliz. e (no entanto) é feliz.
X — conectivo normativo — Y X negativo — conectivo
transgressivo — Y

Aspecto argumentativo 2 Aspecto argumentativo 4

João não tem muito dinheiro João tem muito dinheiro e


e (portanto) não é feliz. (no entanto) não é feliz.
X negativo — conectivo X — conectivo transgressivo
normativo — Y negativo — Y negativo

Fonte: Adaptado de Costa (2008).

Assim, para cada encadeamento argumentativo, gera-se um aspecto argu-


mentativo com uma fórmula específica, sendo que isso está inserido em um
bloco semântico. Veja o que afirma Carel (1995, p. 69–70):

[...] os termos do encadeamento argumentativo (X e Y) não são segmentos


semanticamente independentes compreensíveis cada um em separado,
mas que constituem uma “representação unitária” dos princípios, estere-
ótipos ou fórmulas que convocam, isto é, se trata de blocos lexicais que
adquirem sua força persuasiva a partir da explicitação de um determinado
lugar comum.

Além disso, Costa (2008) ressalta que o sentido é inerente às palavras,


mas depende do encadeamento argumentativo existente entre os enunciados
mediados pelos operadores argumentativos. Gera-se, assim, um sentido que
será evocado em dada situação comunicativa.
Como você viu, a TBS ampliou a TAL, uma vez que a primeira não se
limita à condição argumentativa fundamentada no conectivo “portanto”.
A TBS considera outros possíveis encadeamentos argumentativos, os quais
são validados a partir de um contexto enunciativo específico.
Semântica argumentativa 7

3 Modelo de descrição semântico-argumentativo


Neste tópico, você vai ver uma descrição semântico-argumentativa elaborada
sobretudo a partir da TBS. Você vai verificar como ocorre a dinâmica dos
blocos semânticos a partir de um conjunto de enunciados reais. Para começar,
considere este exemplo, retirado de Freitas (2008, p. 119):

O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre sem pla-


nejamento nem ordenação ambiental; portanto, é insustentável.
A agricultura migratória já devorou vários tipos de floresta,
apesar da existência de tecnologias para o desenvolvimento
sustentável da região. Infelizmente, muitas pessoas inescrupu-
losas, inimigas da natureza e escravas do lucro fácil, teimam em
exterminar a galinha dos ovos de ouro.

Esse exemplo é um trecho de uma carta do leitor publicada em uma revista


semanal. Aqui, a descrição dos enunciados será dividida em três partes. Em
cada parte, você vai analisar o encadeamento argumentativo, o aspecto argu-
mentativo e o bloco semântico.

O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre sem pla-


nejamento nem ordenação ambiental; portanto, é insustentável.

A seguir, veja como esse trecho pode ser dividido.

 Enunciado 1: “O processo de exploração vigente na Amazônia ocorre


sem planejamento nem ordenação ambiental”.
 Conectivo normativo: “portanto”.
 Enunciado 2: “é insustentável”.

Assim, o sentido desse bloco semântico é: ação predatória — portanto —


insubsistente. Todavia, o trecho do exemplo não se limita à primeira parte,
pois ainda existem mais duas, que você vai ver a seguir. Observe:

A agricultura migratória já devorou vários tipos de floresta,


apesar da existência de tecnologias para o desenvolvimento
sustentável da região.
8 Semântica argumentativa

Veja a divisão a seguir.

 Enunciado 1: “A agricultura migratória já devorou vários tipos de


floresta”.
 Conectivo transgressivo: “apesar de”.
 Enunciado 2: “apesar da existência de tecnologias para o desenvolvi-
mento sustentável da região”.

Logo, o sentido desse bloco semântico é: florestas destruídas — no entanto


— tecnologias para o progresso equilibrado. Por fim, há a terceira parte:

Infelizmente, muitas pessoas inescrupulosas, inimigas da natu-


reza e escravas do lucro fácil, teimam em exterminar a galinha
dos ovos de ouro.

Novamente, veja a divisão a seguir.

 Enunciado 1: “Infelizmente, muitas pessoas inescrupulosas, inimigas


da natureza e escravas do lucro fácil”.
 Conectivo transgressivo: “portanto”.
 Enunciado 2: “teimam em exterminar a galinha dos ovos de ouro”.

Dessa forma, o sentido desse enunciado é: pessoas sem escrúpulos —


portanto — destruição da Amazônia. Observe que, em cada bloco semântico,
há uma unidade de sentido. Porém, como todos os blocos estão interligados e
formam um sentido global, é possível criar um bloco semântico do parágrafo
inteiro. Veja:

Ações predatórias — portanto — insubsistentes — no entanto


— tecnologias para o progresso equilibrado — portanto — des-
truição da Amazônia.

Em outras palavras:

Ações predatórias que ocorrem na floresta são insubsistentes.


Mesmo que haja tecnologia para o progresso equilibrado, a des-
truição da Amazônia ainda acontece.
Semântica argumentativa 9

Com base no exemplo, você pode ver como ocorre a descrição semântico-
-argumentativa fundamentada na TBS. Note que o sentido do parágrafo da
carta do leitor é fruto de um bloco semântico proporcionado por meio de
encadeamentos e aspectos argumentativos. Esses encadeamentos e aspectos,
por sua vez, são gerados por meio de articulações entre os enunciados e os
conectores normativos e transgressivos, sendo que todos são interdependentes,
produzindo um sentido global de sentenças complexas.

CABRAL, A. L. T. Ducrot. In: OLIVEIRA, L. A. Estudos do discurso: perspectivas teóricas.


São Paulo: Parábola Editorial, 2013.
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2005.
CAREL, M. Pourtant: argumentation by exception. Journal of Pragmatic, Amsterdam,
v. 24, n. 1, p. 167–188, 1995.
COSTA, I. A. Aspectos argumentativos e polifônicos do operador discursivo ainda. 2008.
Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Programa de Pós-Graduação em
Estudos Lingüísticos, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal
do Espírito Santo, Vitória, 2008.
DUCROT, O. Argumentação e “topoi” argumentativos. In. GUIMARÃES, E. (org.). História
e sentido na linguagem. Campinas: Pontes, 1989. p. 13–39.
FREITAS, E. C. Blocos Semânticos: o Movimento Argumentativo na Construção do
Sentido no Discurso. Revista do GEL, São José do Rio Preto, v. 5, n. 1, p. 109–128, 2008.
LUNARDI, G. R.; FREITAS, E. C. Metáforas em títulos de reportagens jornalísticas: a ar-
gumentação sob a perspectiva da teoria dos blocos semânticos. Revista Investigações,
Recife, v. 24, n. 2, p. 157–188, 2011.
Dica do professor
Uma contribuição da Semântica Argumentativa feita por Ducrot foi cunhar o conceito de teoria da
argumentação na língua, que diz que, essencialmente, as interações verbais entre os falantes
têm natureza argumentativa, e o sentido é fruto disso. Porém, há questão interessante sobre esse
posicionamento teórico: a questão da intencionalidade dos interlocutores.

Nesta Dica do Professor, você vai saber mais sobre a Semântica Argumentativa, a teoria da
argumentação na língua e a intencionalidade.

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Exercícios

1) A Semântica Argumentativa, criada por Oswald Ducrot entre 1960 e 1970, é baseada na
perspectiva da argumentação, ou seja, o estudo do sentido dos enunciados se constitui a
partir:

A) de modelos mentais criados na mente dos falantes.

B) da referencialidade estabelecida entre a língua e as coisas do mundo.

C) do jogo de persuasão entre falantes de uma língua.

D) de que a língua tem sentidos naturais a cada item lexical.

E) das experiências vividas pelos falantes de uma língua.

2) A teoria da argumentação na língua (TAL) é um pressuposto teórico importante da


Semântica Argumentativa. Nela, Ducrot e seus colaboradores, para estudar o sentido, deram
atenção especial a um grupo lexical singular: os operadores argumentativos.

Sabendo disso, marque a opção abaixo em que todos os operadores argumentativos são os
que conduzem à explicação de um raciocínio:

A) Pois; uma vez que; embora.

B) Quando; entretanto; pois.

C) Uma vez que; enquanto; embora.

D) Porque; uma vez que; visto que.

E) Mais; embora, pois.

3) De acordo com a teoria dos blocos semânticos, analise os enunciados abaixo:

"Os representantes da esfera pública, em sua maioria, se preocupam com o aumento dos
seus salários, mas a sociedade não vê a mesma motivação dos políticos para sanar a
corrupção."

Agora, leia as asserções abaixo:


I. O operador argumentativo em questão é "mas".

II. O aspecto argumentativo é estruturado em: representantes políticos se preocupam com


seus salários – conector normativo – não atuam da mesma maneira para acabar com a
corrupção;

III. O sentido produzido é de que "os governantes elevam suas remunerações, só que não
pensam igual sobre eliminar a corrupção".

Agora, julgue as asserções a seguir:

A) II e III são verdadeiras.

B) I e III são verdadeiras.

C) II é verdadeira.

D) I e II são verdadeiras.

E) III é verdadeira.

4) Na teoria dos blocos semânticos, o conceito de aspecto argumentativo está associado a uma
possibilidade de sentido manifestado por uma expressão que contenha "enunciado X –
conectivo – enunciado Y" (que podem ser sentenças negativas), dentro de um
encadeamento argumentativo.

Sabendo disso, marque abaixo uma sentença que contenha um aspecto argumentativo
elaborado a partir da expressão "enunciado X negativo – conectivo transgressivo –
enunciado Y":

A) A praia está longe, logo é difícil ir lá.

B) A praia não está longe, logo não é difícil ir lá.

C) A praia está longe, logo não é difícil ir lá.

D) A praia está longe, assim não é difícil ir lá.

E) A praia não está longe, porém é difícil ir lá.

5) A teoria dos blocos semânticos, além de fornecer categorias voltadas à análise do sentido,
permite descrevê-lo a partir de um texto. Sabendo disso, observe os enunciados abaixo:
"A reforma não deve se restringir à esfera política, mas deve ser também previdenciária e
tributária."

Segundo o aspecto argumentativo, esses enunciados são estruturados da seguinte maneira:

"A revisão não limitada às regras eleitorais – conectivo transgressivo – também ao nível
previdenciário e ao tributário".

Diante desse encadeamento argumentativo, pode-se afirmar que ele invoca o sentido de
que:

A) a revisão deve ser exclusivamente limitada às regras eleitorais e a nenhuma mais.

B) a revisão deve ser limitada, principalmente, às regras eleitorais e às previdenciárias.

C) a revisão, na verdade, limita-se apenas às regras eleitorais e às regras previdenciárias.

D) a revisão não deve ser limitada às regras eleitorais, devendo incluir as previdenciárias e as
tributárias.

E) a revisão deve ser limitada às regras previdenciárias e às regras tributárias.


Na prática
De acordo com a Semântica Argumentativa, a teoria dos blocos semânticos (TBS) é um modelo de
descrição semântica composto por encadeamentos argumentativos articulados por um conector
normativo (que tenha sentido similar a "portanto") ou transgressivo (que tenha sentido similar a "no
entanto"). Esse modelo é muito relevante, uma vez que pode contribuir para a interpretação
textual, sobretudo, para a Educação Básica.

Sabendo disso, Na Prática, você vai estudar um caso em que a TBS é aplicada em um contexto de
interpretação textual de uma questão do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade)
no Ensino Superior.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Aprendizagem da compreensão leitora: uma proposta de


transposição didática da teoria da polifonia e da teoria dos
blocos semânticos
No texto de Tânia Azevedo, você poderá analisar a relação da teoria dos blocos semânticos com a
compreensão leitora.

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Semânticas argumentativa e enunciativa: uma análise dos


operadores argumentativos
No artigo científico de Morais, França e Nascimento, você pode esmiuçar os operadores
argumentativos e a formulação de sentidos.

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