A Formacao Do Romance Angolano
A Formacao Do Romance Angolano
A Formacao Do Romance Angolano
com
Rita
Chaves,
professora
doutora
do
departamento de Letras Clssicas e Vernculas da Universidade de So Paulo, publicou pela rea de Estudos Comparados a obra de A Literaturas Formao do de Lngua
Portuguesa
Romance
Angolano: Entre Intenes e Gestos . Neste livro, que foi sua tese de doutorado defendida em 1993, Rita, pioneira neste estudo, analisa a obra de quatro dos grandes autores angolanos: Assis Jr, Castro
Soromenho, Oscar Ribas e Jos Luandino Vieira. Rita Chaves no elegeu esses autores ao acaso, pois eles foram os responsveis pela insero do gnero na literatura angolana. A literatura como j se sabe, possui um papel singular na busca da identidade nacional, foi atravs dela e da arte em geral, que o Brasil conquistou essa noo de nacionalidade; e em Angola tambm ocorreu o me smo processo. A literatura, principiada pela imprensa levou Angola independncia, tomados pelo exemplo do
Brasil, angolanos encontraram na literatura a arma necessria para garantir sua libertao do domnio portugus. O livro divide-se em nove partes, contando com o prefcio do escritor Pepetela, expoente da literatura africana de lngua portuguesa. Logo em seguida, Rita traz uma introduo abordando o trajeto dos escritores no ato de escrever e da luta pela independncia atravs da literatura. Traz t ambm na introduo, o difcil cenrio encontrado em Angola tendo sua identidade dividida e transformada pela colnia portuguesa. Ainda na introduo, Rita como na obra inteira, elucida a importncia da tradio oral na preservao da memria e da tradi o:
Como em tantos outros lugares as estrias contadas pelos mais velhos, conforme declara Manoel Rui, cumpriam o papel de transmitir a sabedoria e humanizar o reino das relaes que os outros elementos completavam. (CHAVES, 1993, p.20)
Em contra partida, Rita apresenta o papel que a escrita teve na organizao social em Angola depois do atirar dos canhes e completa dizendo:
Trazida com os tiros, a escrita corresponde a uma espcie de ruptura que ser convertida em nova forma de sentir e dizer . Transformandose em maneira de presentificar experincias e organizar o real, a palavra vai sendo trabalhada no sentido de preencher o vazio entre o homem e o mundo, agora redimensionado, nessa nova etapa do chamado processo civilizatrio. Violenta e irr eversvel, a quebra se deu; mais tarde, caberia literatura ali produzida a tarefa de rejuntar pedaos para a composio de uma nova ordem. (CHAVES, 1999, p.20)
No captulo seguinte, intitulado Literatura e nacionalidade no Contexto Colonial , depara-nos com o processo pelo qual o homem angolano foi submetido a passar e dele encontrar sadas para combater o inimigo prximo na busca do seu lugar, primeiramente como ser humano e em seguida como um homem que possui nao e identidade prpria. E assim, a au tora parte para o captulo seguinte, Assis Jr.: A opo pelo Gnero, iniciando sua anlise principal, que a de encontrar atravs da obra dos
autores escolhidos, o nascer da identidade nacional angolana aps o domnio portugus. Os captulos seguintes, Castro Soromenho: A matriz Neo-Realista, Oscar Ribas: Tradio e Pudor na busca da Identidade Nacional e Jos Luandino Vieira: O Verbo em Liberdade, Rita parte para anlise profunda da obra desses autores e enfatiza cada trao marcante e cada papel que cada um obteve na formao do romance angolano e na formao da to sonhada identidade, verdadeiramente angolana. Depois da leitura de dez obras escritas pelos autores acima citados, o ltimo captulo, a concluso, finaliza a obra A Formao do Romance Angolan o. Na concluso Rita enfatiza o poder da tradio oral, que garantiu o recontar das estrias guardadas pelos mais velhos e retomadas pelos escritores. Em um novo molde, o romance, que nasce em Angola para garantir de certa forma, a memria de seu povo, que durante muito tempo, correu o risco de desaparecer. Mas que pela astcia e coragem dos escritores permanece viva para Angola e para o resto do mundo, inclusive Portugal. O trecho a seguir, do prefcio escrito por Pepetela, traduz o sentido de toda a obra, abordando a realidade vivida pelos autores e transportadas para seus livros:
Castro Soromenho tratou decididamente situaes no s rurais mas tambm de zonas muito afastadas dos principais centros urbanos da costa. Assis Junior ainda em certa med ida um homem do sculo passado, enquanto Luandino Vieira produto da Segunda Guerra Mundial. Oscar Ribas tem posies polticas menos evidentes que os outros. Diferenas, diferenas... E no entanto h uma mesma alma a vibrar, h esperanas soltas no ar, a pregoadas na obra de uns, apenas murmuradas na de outros. Mas em todas elas podemos ler uma nao a despontar. (Pepetela apud CHAVES, 1999, p.15.)
Segundo, ainda Pepetela, Rita Chaves ao tratar da formao do romance angolano a partir de quatro escri tores de origens e vivencias muito diferentes, acabou por ligar estreitamente essa gnese do nacionalismo (Pepetela apud CHAVES, 1993, p.14.). De fato, Rita atravs de sua anlise traz a tona o verdadeiro desejo dos autores, denunciar a condio de co lonizados no sentido de obter a libertao, desejada desde o sculo XIX.
A obra riqussima em vrios aspectos, desde de sua apurada escrita at o seu relevante tema, que envolve a cada captulo lido. Rita Chaves possui um olhar crtico e dinmico do processo ocorrido em Angola e por isso fala com propriedade de cada fato importante na obteno da liberdade e na reconstruo da nao angolana. Rita Chaves traz de volta a importncia dos estudos da oralidade, que na atualidade ganham um novo espao dentro dos centros acadmicos de todo mundo. Pelo fato de ser pioneira no Brasil na rea, e por ter defendido sua tese em 1993, Rita no citou autores de extrema importncia, como Paul Zumthor que trata do tema oralidade na obra aLetra e a Voz (Companhia das Letras, 1987) e Hommi Bhabha e Stuart Hall que lidam diretamente com os aspectos culturais como a dispora, efeitos da colonizao e da sobrevivncia das minorias, de certo, pelo fato de serem tericos modernos. Se a obra de Rita Chaves ganhasse uma nova ed io seria de extrema valia a insero dos conceitos dos tericos mencionados. Porm, A Formao do Romance Angolano: Entre intenes e Gestos , no deixa de ter uma grande importncia no estudo literrio e histrico, j que atravs de sua leitura o Brasil pode conhecer um pouco mais da arte dos nossos nobres vizinhos africanos, que se comunicam com a mesma lngua, a portuguesa, e possuem a mesma condio: a de um pas que busca a sua prpria identidade.
REFERNCIA: CHAVES, Rita. A Formao do Romance Angolano: Entre Intenes e Gestos. Coleo Via Atlntica, n 1. So Paulo, 1999