Aula 01

LITERATURA AFRICANA DE LNGUA PORTUGUESA
Aula 1 Panorama histrico-cultural da frica

Contedo Programtico desta aula
As origens da viso extica sobre a frica;

A histria antiga dos povos africanos;
O discurso colonizador;
As identidades culturais africanas antes
da chegada do colonizador.
PANORAMA HISTRICO-CULTURAL DA FRICA AULA1

Panorama histrico-cultural da frica
A frica um continente pouco povoado,

apesar de extenso. Os desertos, as montanhas
e o litoral ocidental sul so regies
praticamente desabitadas. A concentrao de
habitantes ocorre nas costas mediterrneas e
no golfo da Guin, nos planaltos orientais e
nos litorais do sul e do sudeste do continente.

comum a diviso do continente entre

frica branca, ao norte do Saara, onde vive
uma populao formada pela raa
mediterrnea, e frica negra, ao sul do
Saara, com uma populao diversificada.

Os povos africanos dividem-se em

muitas etnias. Cada uma representa
uma forma especfica de se
relacionar com o universo. Lnguas,
histria, diviso social, crenas e
costumes definem identidades
especficas.

So muitas as lnguas africanas, e elas ainda se subdividem em outras

lnguas faladas pelas diversas etnias. Destacam-se o rabe, o banto, o
suale (de origem banto, mas usada como lngua comercial na frica
oriental), o africnder (Repblica da frica do Sul) e, ainda, as lnguas
introduzidas pelos colonizadores, como o ingls, o francs e o
portugus. Pesquisadores identificaram mais de 2.000 grupos
etnolingusticos na frica.

H trs grandes grupos religiosos: o

islamismo, o cristianismo e as
religies animistas (que, no contexto
africano, significa considerar que
todos os seres da natureza so
dotados de vida e tm uma finalidade
especfica no universo).

A ideia, j consagrada, de que a frica

o bero da Humanidade foi confirmada
por pesquisadores que encontraram, na
Etpia, no ano de 1974, um fssil
de 3,5 milhes de anos.

As contribuies da frica para a Humanidade so inegveis. A escrita

em hierglifos registrou vastos conhecimentos cientficos, religiosos e
filosficos; os egpcios tinham avanado muito nas reas da astronomia,
da arquitetura e da matemtica antes dos gregos, o que facilmente se
comprovou com o estudo das pirmides; o calendrio egpcio foi
elaborado em 4241 a.C. Apesar de todas essas contribuies, a imagem
que se tem do continente africano muito negativa.

Essa viso distorcida da frica tem

origem na colonizao, quando se
inicia, no sculo XV, a explorao
europeia das costas ocidentais
africanas, resultado das expanses
martimas e da busca por caminhos que
levassem sia, especialmente ndia.

Os portugueses aprisionaram e
venderam como escravos povos
berberes islamizados. A partir da,
tornaram-se colnias os pases Angola,
Moambique, So Tom e Prncipe,
Cabo Verde e Guin-Bissau, os quais
formam a frica lusfona.

A conferncia de Berlim de 1884-1885 estabeleceu a partilha do

continente e firmou o princpio da ocupao efetiva das terras, a
fim de legitimar a posse das colnias. O violento processo colonial
acarretou a destruio ou drstica modificao de sociedades
africanas sistematizadas.


Reino de Daom
Antes da chegada dos
europeus, havia dois tipos de
organizao social: os grandes
reinos, como Egito, Mali,
Songai, Oi, Axante e Daom,
ou agrupamento de
nativos em pequenas
comunidades que caavam e
pescavam o suficiente para
seu sustento.
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No entanto, sem exceo, todas as sociedades eram marcadas por

relaes hierrquicas, incluindo as mantidas entre nobres e escravos,
que obedeciam a uma necessidade de sobrevivncia.
O no reconhecimento das culturas africanas pelos povos
colonizadores deve-se a um pensamento etnocntrico que gerou
discursos os quais definem, at hoje, a frica de forma negativa.

Discursos etnocntricos:
Os povos europeus imaginavam ocupar o centro da Terra.
A frica (chamada ento de Etipia) seria uma terra inabitvel pelos
brancos devido ao imenso calor.
Na frica viviam os homens de faces queimadas; a cor negra era
associada ao mal.

O clima quente deixava os negros sujeitos a doenas diversas.

As parbolas medievais apresentavam Sat como negro e os anjos
como brancos.
A frica, terra quente, era associada ao Inferno.
O calor determinava a aparncia fsica e a suposta falta de
inteligncia dos negros.

Na Carta de Pero Vaz de Caminha, os ndios brasileiros so

descritos como tendo bons narizes, uma comparao com os negros
africanos.
Autores medievais retomavam o Livro do Gnesis para explicar a
existncia dos negros como descendentes de Cana, filho de C,
amaldioado por ter desrespeitado seu pai, No.

Esses discursos etnocntricos ajudavam a

justificar a escravido do ponto de vista
do cristianismo, e consolidaram os
esteretipos que marcaram os negros.
A figura de Tarzan gera o conceito de
tarzanismo, ou seja, o smbolo da
superioridade dos brancos sobre os negros.

Outros problemas graves:

as guerras civis, quase sempre motivadas por diferenas tnicas;
a prtica da ditadura, o que impede a edificao de sociedades mais
justas e equilibradas.
a divulgao das calamidades pblicas sem que haja destaque para
fatos positivos ocorridos na frica.

Para desfazer esses esteretipos, a Lei Federal 10.639/2003 tornou

obrigatrio o ensino de Histria e Cultura Afro-brasileira nos Nveis
Fundamental e Mdio. Objetiva-se colocar em evidncia toda a riqueza
histrica e cultural do continente africano, alm de reconhecer que a
nossa histria funde-se com a histria dos africanos.

SNTESE DA AULA
Nesta aula, compreendemos o processo colonial na frica e as suas

consequncias.
Entendemos que os povos africanos possuam uma organizao social
hierrquica e sistematizada antes da chegada dos europeus.
Reconhecemos a importncia de desfazer esteretipos que marcam
a frica e de associarmos nossa cultura s culturas africanas.

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