Lições de Direitos Humanos-1
Lições de Direitos Humanos-1
Lições de Direitos Humanos-1
Neca Maciel
necavirgiliomaciel@gmail.com
APRESENTAÇÃO
Num contexto de relações de dominação e, vistos como direitos dos mais fracos ou vulneráveis, os “direitos humanos” não representam muito para as elites económicas, políticas ou sociais, sendo por essa razão que tal expressão é mais
popular pelo seu preconceito do que pelo seu conceito. As vezes, mesmo os que promovem e protegem os direitos humanos, como os que os desafiam, não têm um profundo conhecimento da sua relevância jurídica.
I. Conceito dos Direitos Humanos
Então, o que são afinal os direitos humanos?
Num sentido geral, os direitos humanos constituem o núcleo de direitos que protegem a
vida e a dignidade da pessoa humana1. Porém, a simplicidade desta afirmação contrasta
com a dificuldade de explicação do seu conteúdo, na medida em que é difícil definir a
dignidade humana.
Afinal, em que consiste a dignidade humana?
Ao lado desta inquietação, vem outra que emerge da circunstância de as expressões
“direitos humanos” e “direitos fundamentais” serem usadas em sinonímia, podendo
nalguns casos, serem tratadas com alguma diversidade. É o que acontece, para
exemplificar, com a Constituição da República de Moçambique que, no artigo 11,
determina os objectivos fundamentais do Estado, nomeadamente a promoção e defesa dos
direitos humanos pese, embora, o capítulo que trata dos direitos pertinentes ao homem
aparecer com a epígrafe de direitos fundamentais.
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Assim, em conclusão, pode-se afirmar que os direitos humanos são direitos inerentes à
pessoa humana, visando a protecção da sua dignidade. Por isso, que são comumente
considerados direitos inalienáveis e universais. Na verdade, a expressão “direitos
humanos” é usada para designar um amplo conjunto de direitos essenciais para a
dignidade da pessoa humana.
II. Características e Princípios dos Direitos Humanos
Os direitos humanos têm caracteristicas próprias. Porém, não há unanimidade entre autores sobre o número de caracteristicas dos direitos humanos, assim como sobre a
sua terminologia. Para efeitos da presente obra elegeram-se algumas caracteristicas que, em razão de seus efeitos para a interpretação e aplicação dos direitos humanos,
merecem especial atenção, a saber:
a) Universalidade . Esta caracteristrica revela-se em três planos. No primeiro plano, os direitos humanos têm um
carácter erga omnes, uma vez que o seu titular é o ser humano, não importando qualquer distinção de raça, credo,
sexo, nacionalidade, idade ou qualquer outro elemento que o distinga. No segundo plano, a universalidade centra-se
no seu sentido temporal, isto é, que os direitos humanos não são afectados por desenvolvimentos históricos ou
superações tecnológicas. Os indíviduos têm direitos pelo facto de serem seres humanos independentemente do
tempo. O terceiro plano diz respeito ao âmbito espacial da universalidade em que os direitos humanos são de alcance
internacional ou seja reconhecem-se em toda as parte do mundo.
b)Indivisibilidade- Em termos técnico jurídicos, a caracteristica de indivisibilidade
fundamenta-se na não discriminação, coferindo aos direitos humanos igual
importância. Dito por outras palavras, os Estados não se podem furtar de garantir
um direito sob argumento de que determinados direitos não são justiciáveis. A
prática de discriminar os direitos humanos tem a sua história ligada aquando da
aprovação do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto
Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais em 1966.
Porém, o reconhecimento da indivisibilidade como característica essencial de
direitos humanos deu-se, no plano internacional, com a Conferência Internacional
sobre Direitos Humanos de 1968, em Teerão e reafirmado na conferência Mundial
de Direitos Humanos de Viena em 1993.
Irrenunciabilidade – os direitos humanos são irrenunciáveis, na medida em que estão ligados à condição humana.
Renuciar tais direitos implicaria renunciar a própria condição humana. Os direitos humanos são indisponíveis,
pois o seu titular, mesmo que deseje renunciar, não pode fazê-lo. No nosso direito interno temos uma experiência
de irrenunciabilidade de direitos, em relação, por exemplo, aos direitos de personalidade. Com efeito, o artigo 69
do Código Civil moçambicano estabelece que ninguém pode renunciar, no todo ou em parte, à sua capacidade
jurídica.
e) inalienabilidade - Quer dizer que os direitos humanos não podem ser transferidos, seja a título gratuito, seja
por meio oneroso. Como muito bem refere Reinado Silva e Pereira6, esta caracteristica não implica dizer que
os direitos subjectivos resultantes da força de trabalho ou ainda que não violem o princípio da dignidade da
pessoa humana não possam ser objecto de transação, pois, por exemplo há uma diferença nítida entre a
alineação da força de trabalho e do direito do trabalho. A caracteristica da inalienabilidade dos direitos
humanos reporta-se ao seu conteúdo moral, pessoal, individual inerente à condição humana e que não podem
ser alienados sob pena de se converter em objecto.
f) Imprescritibilidade – os direitos humanos não dependem do prazo ou tempo necessário para a sua realizaçao.
Dito por outras palavras , os direitos humanos podem ser evocados a todo tempo.
Além das caractíticas acima referidas, a doutrina dos direitos humanos avança outras, tais como a inviolabilidade,
mas que neste trabalho não vão ser analisadas.
c) Interdependência – os direitos humanos estão relacionados entre si, não sendo possível efectivar uns
sem os outros, Por exemplo, não é possível realizar os direitos económicos, sociais e culturais sem realizar
os direitos civis e políticos.
No entanto, somente por volta dos séculos XI ao século XII (Idade Média) é que ganha força o ideal
de limitação do poder dos governantes, pela consagração de direitos comuns a todos os indivíduos.
Nesta época temos as primeiras declarações, codificando direitos e liberdades individuais, podendo
destacar-se desde logo a Magna Charta Libertatum de 1215 e mais tarde ainda Habeas Corpus Act de
1679 e o Bill of Rights de 1689, instrumentos que no entanto pecavam por não conter uma filosofia
abrangente de direitos humanos, sendo que as liberdades eram muitas vezes vistas como direitos
conferidos aos particulares ou grupos de indivíduos em função de sua posição ou status social.
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As primeiras Declarações de direitos humanos, com filosofia de direitos humanos claramente definida e
abragente, foram as do Estado americano de Virgínia, em 1776 e, posteriormente, a declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, 1789, tendo, o termo “direitos humanos” ou “direitos do homem”
aparecido, pela primeira vez, nesta Declaração, no contexto da revolução francesa.
A partir destes acontecimentos, os direitos humanos deixam de ser meras intenções e tornaram-se
direitos positivos e exigíveis10.
Curiosamente, numa fase embrionária, a evolução da luta pela consagração dos direitos humanos
verificou-se num contexto interno, doméstico. Por exemplo, a Constituição Francesa de 1791 veio
incorporar os direitos previstos na Declaração de Direitos do Homem de 1789. Este facto significou a
constitucionalização e positivação de direitos humanos em detrimento da sua universalização.
Contudo, a concepção contemporânea dos direitos humanos veio a surgir no século XX como resultado
das duas grandes guerras mundiais que banalizaram a dignidade da pessoa humana. Trata-se de período
histórico em que os direitos humanos ganham protagonismo na arena internacional.
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Assim, logo após o final da Primeira Guerra Mundial, foi criada a Liga (ou Sociedade) das Nações,
em 1919, na sequência das negociações sobre o Tratado de Versalhes que culminram com o acordo de
paz, assinado após a Primeira Guerra Mundial, no grande Palácio de Versalhes em França, entre a
Alemanha e os Aliados. Os objetivos do acordo incluíam, de entre outros, o desarmamento, prevenção
da guerra através da segurança colectiva, resolução de conflitos entre países, por meio da diplomacia e
negociação e por fim a melhoria do bem-estar global.
A Liga das Nações surgiu em consequência dos horrores da Primeira Guerra Mundial e foi a primeira
tentativa de consolidar uma organização universal para a paz. Acreditava-se que futuros conflitos só
poderiam ser impedidos se fosse criada uma instituição internacional permanente, encarregada de
negociar e garantir a paz.
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Com a Liga das Nações quase morribunda não foi possível evitar o eclodir da Segunda Guerra
Mundial cujas consequências em relação aos direitos humanos foram muito mais graves do que as
verificadas na I Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial violou todas as formas da dignidade
da pessoa humana.
As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, fizeram o mundo repesentar um
novo modelo de protecção dos direitos humanos como forma de evitar um novo acontecimento
trágico. Houve necessidade de se estabelecerem marcos inderrogáveis de direitos a serem
observados por todos os Estados no pós-guerra, marcando o fim do ideal segundo o qual os Estados
eram supremos em decidir a forma como deviam tratar os seus cidadãos.
Nesse contexto, a adopção da Carta das Nações Unidas em 1945, surge como a premissa maior do
reconhecimento internacional da necessidade de se envidar todos os esforços para a protecção
internacional dos direitos humanos.
A Carta, distintamente, menciona o papel das Nações Unidas na promoção e estímulo do respeito
pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de todos, sem distinção de raça, sexo,
língua ou religião.12 A ideia de promulgar uma “carta internacional dos direitos humanos” foi
também considerada por muitos como basicamente implícita na Carta.
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Dois anos após a aprovação da Carta, foi estabelecida a Comissão das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (Comissão) e, posteriormente, surge a Declaração, adoptada a 10 de Dezembro de
1948 em São Francisco, que significou um patamar elevado na consagração da universalidade dos
direitos humanos.
A Declaração é formada por um preâmbulo e 30 artigos que enumeram os direitos humanos e
liberdades fundamentais de que são titulares todos os homens e mulheres, sem qualquer
discriminação. O Artigo 1º da mesma expõe a filosofia subjacente à Declaração, reafirmando que:
“todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência
e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
A Declaração surgiu como um código moral ‘universal’, porque não possui um carácter impositivo
ou imperativo. Delineou as linhas gerais dos direitos civis e políticos, bem como dos direitos
económicos, sociais e culturais. Tais colocações são consideradas actuais, mesmo que estejam longe
de serem postas em prática por todas as nações do mundo. E tornou-se a base de grande parte do
direito internacional e da carta internacional dos direitos humanos.
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Concebida como “ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações”, a Declaração
tornou-se um padrão por meio do qual se mede o grau de respeito e cumprimento das normas
internacionais de direitos humanos, sendo, até o presente a mais importante e ampla de todas as
declarações das Nações Unidas e uma fonte de inspiração fundamental para os esforços nacionais e
internacionais destinados a promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais.
Tem, também, ajudado a definir a orientação para todo o trabalho subsequente no campo dos
direitos humanos, assim como a proporcionar a filosofia básica a muitos instrumentos
internacionais que visam proteger os direitos e liberdades por ela proclamados.
A mais significante mudança na arena internacional, depois da Segunda Guerra Mundial, foi o fim
da Guerra Fria, cujo evento final, foi simbolizado pela queda do muro de Berlim.
É perante essa nova realidade internacional que se realiza, em Viena, em Junho de 1993, a Segunda
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, que se tornou um ponto de referência no discurso
internacional dos direitos humanos, ao reafirmar a noção de indivisibilidade dos direitos humanos,
cujos preceitos devem aplicar tanto aos direitos políticos , quanto aos econômicos, sociais e
culturais.
V. Fontes dos Direitos Humanos
O artigo 38 do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ), contém a enumeração das
“fontes formais de direito internacional”, denominação atribuída a um conjunto de normas que
indicam o processo de formação e revelação das normas jurídicas internacionais.
Como discutido, os direitos humanos fazem parte do direito internacional público, por isso, que as
formas de formação e de revelação dos direitos humanos obedecem às mesmas regras vigentes no
direito internacional. Nestes termos o artigo 38 do ETIJ considera-se que o Tribunal, cuja função é
decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhes forem submetidas, aplicará:
Os Direitos humanos são caracterizadas por multiplicidade de fontes convencionais,portanto, no
leque das fontes dor direitos humanos pode-se fazer referencias, seguintes:
A. Tratados Internacionais
No mesmo sentido, o caso Media Right Agenda e outra V Nigéria22 evidencia que as únicas
razões legítimas para as limitações dos direitos e das liberdades na Carta Africana estão
consagradas no art. 27 n˚ 2, ao considerar que uma limitação não pode ter como
consequência que o direito em si seja ilusório”.
Para além da jurisprudência, também temos como fontes materiais a doutrina, os escritos
dos professores de direitos de reconhecido mérito que servem de inspiração para a
interpretação dos direitos humanos. Nos seus escritos, estes de forma científica, trazem as
várias formas de interpretação dos instrumentos internacionais que podem servir de
fundamento das decisões sobre matérias de direitos humanos.
VI. A questão das Responsabilidades face aos Direitos
Humanos
A primeira questão que se coloca no que concerne à responsabilidade em face dos direitos humanos
é a seguinte: “a quem cabe respeitá-los ou garantir o seu respeito?”
Parece óbvio que a responsabilidade primária deva recair sobre o Estado, isto porque a presença e o
poder da autoridade estatal são tão dominantes em todas as esferas de nossas vidas que os direitos
humanos frequentemente são concebidos como um conjunto de princípios, ou pactos, entre o Estado
e os que são governados por ele.
Por outras palavras, os Estados são os principais responsáveis por garantir que todos desfrutem de
seus direitos humanos, isto porque, em princípio, os mais notáveis, abusos, omissões e transgressões
no que concerne aos direitos humanos, são de responsabilidade do Estado, por via de seus agentes e
órgãos (polícia, judiciário, legislativo, serviços públicos e política externa).
Argumenta-se, no entanto, que os direitos humanos vão além da relação entre o Estado e o indivíduo,
como refere Oscar Vilhena Vieira, por três razões:
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(1) Eles exigem submissão individual voluntária a uma obrigação correlata de respeitar o
direito dos outros e criam, portanto, obrigações intersubjectivas;
(2) Eles são afectados, tanto positiva quanto negativamente, por autoridades não-estatais;
(3) O encolhimento dos mandatos dos Estados face ao processo de globalização, promove a
redução do papel da autoridade pública.
Ademais, a própria linguagem da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu art.
28, menciona explicitamente a necessidade de uma protecção e respeito dos direitos
humanos no seio de “uma ordem social e internacional” o que implica outros agentes,
incluindo indivíduos, comunidades, outras autoridades não-estatais, corporações e a
comunidade internacional como sujeitos de obrigações em relação aos direitos humanos.
A. A Responsabilidade do Estado face aos Direitos
Humanos
Os Estados são os principais responsáveis por garantir que todos desfrutem de seus direitos
humanos. Assim, os direitos humanos geraram pelo menos quatro níveis de obrigações para os
Estados, ou seja, as obrigações de respeitar, proteger, promover e cumprir - e estas obrigações
são universalmente aplicáveis a todos os direitos.
A obrigação de respeitar é essencialmente uma obrigação negativa, isto é, o Estado deve abster-
se de praticar actos que ponham em perigo as pessoas, enquanto as obrigações de promover,
proteger e cumprir são essencialmente obrigações positivas, o que requer que o Estado tome
medidas legislativas, administrativas e outras para assegurar que as pessoas gozem dos seus
direitos humanos, bem como para proteger as pessoas contra violações de seus direitos por
terceiros.
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Assim, a obrigação de respeitar, requer que o Estado se abstenha de qualquer medida que possa
privar as pessoas do gozo de seus direitos ou de capacidade para satisfazer esses direitos por seus
próprios esforços
Por obrigação de promover os direitos humanos, entende-se que o Estado deve se certificar de que
os indivíduos são capazes de exercer os seus direitos e liberdades, por exemplo, promovendo a
tolerância, sensibilização, e até mesmo a construção de infra-estruturas.
Já, a obrigação de proteger exige que o Estado previna e sancione as violações dos direitos humanos
por parte de terceiros. Esta obrigação é normalmente considerada como uma função central dos
Estados, que têm de evitar que danos irreparáveis sejam causados aos cidadãos. Impõem-se então
aos Estados, (i) evitar violações de direitos por parte de qualquer indivíduo ou actores não estatais,
(ii) evitar e eliminar incentivos para violações dos direitos de terceiros e, (iii) garantir acesso aos
recursos legais quando ocorram violações, a fim de evitar privações adicionais de direitos humanos.
Por fim, a obrigação de cumprir requer que o Estado tome medidas para assegurar que as pessoas
sob a sua jurisdição gozem de oportunidades para obter a satisfação das necessidades básicas,
conforme estabelecido e reconhecido pelos instrumentos de direitos humanos.
B. A Responsabilidade dos Entes Privados
Toda a construção conceitual em torno dos direitos humanos esteve fundamentada na necessidade
de se limitar a actuação do Estado-opressor para garantir o respeito à liberdade dos indivíduos, ou
de se compelir o Estado negligente a implementar determinados direitos, como são os casos dos
direitos sociais e dos direitos civis e políticos.
Dessa forma, a aplicabilidade dos direitos humanos – segundo a doutrina tradicional dominante
entre os séculos XVI e XIX – esteve permanentemente pautada numa relação vertical entre o
Estado e os cidadãos e não numa relação horizontal, isto é, nas relações de carácter privado. 28 Um
outro enfoque ainda carente de uma exploração teórica consolidado tem a ver com a eficácia
horizontal dos direitos humanos, pela qual, em princípio, os direitos humanos também devem ser
respeitados no âmbito das relações privadas.
VII. Restrições e Limitações de Direitos Humanos
Em algumas situações, alguns direitos humanos podem entrar em choque com outros direitos
humanos e, por isso, tem de se buscar um justo equilíbrio entre os mesmos por forma a gerir
potenciais violações. Nestes casos de conflito entre direitos é necessário que se faça um juízo
sobre a prioridade de um sobre o outro. A decisão pode ser tomada tanto a nível judicial quanto
pelo legislador. O problema, no entanto, é decidir sobre tal prioridade e ainda encontrar os
fundamentos que legitimem a priorização de direitos. Torna-se então necessário que se
estabeleçam regras que permitam a clara destrinça entre os limites legítimos e ilegítimos, ou
melhor entre os limites e violações dos direitos.
Todavia, como muito bem diz Manfred Nowak são poucos os direitos humanos que são
considerados absolutos ou ilimitados, tais como a proibição da tortura ou escravatura,
Os tratados internacionais como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), a
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a Convenção Americana dos Direitos Humanos, e
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, propõem um "teste de três etapas" para
determinar a legitimidade de restrições aos direitos humanos.
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A primeira parte deste teste requer que a restrição seja prescrita por lei; a segunda requer que a
restrição ou limitação do direito tenha por fim servir a um propósito legítimo, e por fim a
terceira etapa do teste requer que seja uma restrição necessária numa “sociedade aberta e
democrática."
Porem, tanto na Declaração Universal dos Direitos do Homem como no Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e na Convenção Europeia dos Direitos do Homem podemos encontrar
especial ênfase para a importância de avaliar a legitimidade das restrições numa "sociedade
democrática". Tendo em conta que a enumeração de interesses a serem protegidos em caso de
limitação de direitos é ampla e de difícil definição, notamos que a interpretação que se dá aos
mesmos varia de uma sociedade para outra e de um sistema político para outro.
VIII. Direitos Humanos e seu Impacto na Paz
e Segurança das Nações
Conforme tivemos oportunidade de abordar, os direitos humanos são amplamente baseados em
valores morais e preferências filosóficas. Como tal, eles tendem a ser entendidos como abstractos
esforços intelectuais. No entanto, é inegável que o respeito pelos direitos humanos tem tido um
impacto enorme nos dias de hoje, que inclui a construção e manutenção da paz e segurança a
nível individual, nacional e global.
Desde logo, a busca pelo respeito e observância dos direitos humanos, na sua essência reflecte a
busca pelo respeito e observância da integridade física e moral dos indivíduos. A ideia da
inviolabilidade dos direitos e liberdades fundamentais visa proteger o indivíduo como um agente
independente e moral. Por outro lado, uma política de respeito pelos direitos humanos constitui
um dos pré-requisitos para o alcance de segurança nacional, isto é, a paz interna baseada num
amplo consenso social sobre a legitimidade de um dado regime político em vigência num Estado.
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c) Quanto ao resultado: a interpretação da lei pode ser classificada em declarativa, aquela que se
limita a extrair o sentido da norma, coincidente com o respectivo texto legal. A intepretação
restritiva, aquela a que se chega quando do processo interpretativo conclui-se que o legislador
disse mais do que deveria ter dito. Pode-se ter, igualmente, a intepretação extensiva, quando o
intéprete conclui que o legislador disse menos do que deveria ter dito.
Desde logo porque a fonte primária das normas de direitos humanos são as convenções e tratados
internacionais cuja interpretação segue, ainda, as regras consagradas na Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados37, segundo a qual “Um tratado deve ser interpretado de boa-fé
segundo o sentido comum atribuível aos termos do tratado em seu contexto e à luz de seu
objectivo e finalidade” (Destaque nosso).
Segundo VILLIGER, a interpretação à luz de seu objectivo e finalidade e de boa fé, a que se
refere a Convenção, procura assegurar a efectividade dos dispositivos do tratado.
Referencias Bibliograficas