Documento de Liane Locatelli 2
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FOCADA NA SOLUÇÃO
Assim como a MRI-Mental Research Institute, a Terapia focada na solução são abordagens que
focalizam na queixa apresentada pelo cliente e tentam resolvê-las de maneira mais “acessível
possível”. É uma terapia conhecida por examinar as exceções, os momentos em que o problema
não foi um problema, utilizando de técnicas fáceis de ensinar.
Esse modelo propõe a mudança nas cognições dos pacientes, considerando que eles já
conseguem se comportar eficientemente, mas que sua eficiência foi bloqueada por uma postura
mental negativa. Desse modo, esse modelo terapêutico, busca ajudar os pacientes não só a ver
que seus problemas têm exceções, mas também perceber que essas exceções são soluções que
eles ainda tem seu repertório.
FORMULAÇÕES TEÓRICAS:
Dvorah Simon (1966, p. 46) sugere que a capacidade do terapeuta de transmitir aos
clientes um sentimento de esperança “é o que parece estar na essência desse
trabalho, colocar os anseios, os desejos e a crença de que uma vida melhor não só é
possível, como também pode ser executado, fazendo com que os pacientes se
sintam bem em relação a si mesmos, ao destacar suas forças e sucessos.
DESENVOLVIMENTO
FAMILIAR NORMAL:
Os terapeutas focados na solução adotam a ideia construtivista de que nada é absoluto;
portanto, não devem impor sua visão de normalidade. Shazer (1991b) escreve: “O
pensamento estruturalista aponta para a ideia de que os sintomas são o resultado de
algum problema subjacente, um problema psíquico ou estrutural tal como hierarquias
incongruentes, conflitos parentais encobertos, baixa autoestima, comunicação
distorcida, sentimentos reprimidos, ‘jogos sujos’, etc.”
O terapeuta só deve se preocupar com as queixas que a família apresenta, e não deve
impor valores sugerindo que os clientes tratem outros problemas, não-mencionados.
OBJETIVOS DA TERAPIA:
O objetivo da terapia focada na solução é resolver as queixas apresentadas, ajudando os
clientes a fazer ou pensar algo diferente, para que se sintam mais satisfeitos com suas vidas.
Os terapeutas confiam que os clientes vão atingir seus próprios objetivos. Acreditam que as
pessoas já possuem as habilidades para resolver seus problemas, mas as perderam de vista,
porque os problemas lhes parecem tão grandes que não acreditam ser capazes de resolvê-
los. Às vezes, uma simples mudança de foco, do que não vai bem para o que já está melhor,
pode lembrar os clientes desses recursos. Outras vezes, as pessoas talvez precisem procurar
capacidades que não têm usado e aplicá-las aos seus problemas.
Assim, mudar a maneira pela qual as pessoas falam sobre seus problemas é o que precisa
ser feito, porque, “conforme cliente e terapeuta falam mais e mais sobre a solução que
querem construir juntos, passam a acreditar na verdade ou realidade daquilo sobre o qual
estão falando. Esta é a maneira pela qual a linguagem funciona, naturalmente” (Berg e de
Shazer, 1993, p. 9).
Por isso a terapia focada na solução pode ser tão breve, é muito mais fácil conseguir que os
clientes falem de maneira diferente sobre seus problemas do que produzir mudanças
significativas em padrões de comportamento ou na estrutura intrapsíquica. Supõe-se, por
certo, que fazer as pessoas falarem positivamente as ajudará a também pensar
positivamente e, por fim, a agir positivamente para resolver seus problemas.
TERAPIA-AVALIAÇÃO:
Os terapeutas que utilizam o modelo focado na solução evitam cuidadosamente
qualquer avaliação de como os problemas se desenvolvem. Também não estão
interessados em avaliar padrões de comportamento que poderiam manter esses
problemas. O que querem identificar são aqueles padrões de comportamento que
existiam quando o problema não era operativo. Ao invés de remexer em problemas
passados, os terapeutas se concentram em avaliar objetivos futuros. Dessa forma, fazem
algumas perguntas, como:
Ao não pressionar os pacientes por mudanças, afastar a atenção dos problemas e dirigi-la
às soluções, o relacionamento pode evoluir ao ponto em que o cliente se torne um
consumidor em busca de mudança.
TÉCNICAS TERAPÊUTICAS:
As intervenções ocorrem em um processo de três etapas. O terapeuta:
1. reestrutura ativamente o problema sob uma luz mais positiva e funcional e elogia o cliente
por sua perseverança e capacidade;
2. esclarece o vínculo lógico que o cliente criou para si mesmo e o aprisiona;
3. associa uma diretiva de tipo hipnótico a um sinal inevitável de progresso.
Essa tarefa ajudava a reorientar as pessoas, para que deixassem de “remoer” os pontos ruins
de sua vida e passassem a pensar nos bons, com o objetivo de criar um ponto de vista mais
positivo, capaz de levar a interações melhores, que por sua vez reforçavam e expandiam o
ponto de vista positivo. Esta se tornou conhecida como a tarefa fórmula da primeira sessão e
é a tarefa padrão dada no final da primeira sessão.
Com o sucesso dessas tarefas-fórmula, a equipe começou a se dar conta de que o
processo de mudança pode ser iniciado sem grande conhecimento do problema
ou das personalidades daqueles que sofrem com ele. Os terapeutas começaram a
se concentrar em maneiras de desenvolver a faculdade de resolver problemas nas
pessoas, que acreditavam estar inibida por um foco em falhas e fracassos.
Quando descobrir e aproveitar as exceções for eficaz, talvez não haja grande
necessidade de maiores intervenções. Todavia, nos casos em que for difícil para os
clientes identificar sucessos passados, convém pedir que imaginem sucessos futuros,
empregando a questão do milagre.
A QUESTÃO DO MILAGRE:
A questão do milagre é: “Suponha que uma noite, enquanto você estivesse dormindo,
acontecesse um milagre e o seu problema fosse resolvido. Como você saberia? O que
estaria diferente?”
Essa pergunta ativa uma postura de solução de problema, ao dar às pessoas uma visão de
seu objetivo e auxiliar os clientes a olharem além do problema, para ver que aquilo que
realmente desejam talvez não seja a eliminação do problema em si, mas ser capazes de
fazer aquilo que o problema tem impedido.
Estudo de caso
Mary diz que, se não fosse por sua bulimia, ela se aproximaria
mais das pessoas e se divertiria mais. Se, com o incentivo do
terapeuta, Mary começar a assumir riscos interpessoais e se
divertir mais, sua bulimia pode passar a um problema menor,
um obstáculo menos insuperável em sua vida, o que poderia
também aumentar sua capacidade de controlá-la.
Marido: “Sim, a solução seria maior aceitação.” Terapeuta: “Da parte dela?
De sua parte?”
Marido: “Bem, da parte de ambos.”
Mulher: “Bem, a única solução que eu vejo é semelhante, mas eu perdi a
confiança nele.”
Quando a terapeuta pediu que ela falasse mais sobre qual poderia ser a solução, a mulher
retornou às suas queixas. Então, a terapeuta recorreu a uma versão modificada da questão do
milagre, na esperança de levá-la a uma visão mais específica da direção da mudança positiva. “E
se por um milagre essa confiança voltasse amanhã, como você saberia? Quais seriam os sinais?”.
QUESTÕES DA ESCALA:
Recentemente, as questões de escala tornaram-se um
ingrediente importante da terapia focada na solução.
Estudo de caso
Em vez de perguntar sobre os seus problemas, a terapeuta começa perguntando: “O que eu posso fazer que a ajudaria?” Lucinda diz
que está deprimida e estressada e que quer ter alguém com quem conversar, pois seus filhos não estão com ela. Ela também alude ao
relacionamento abusivo com um homem que não está mais com ela.
Sem falar mais nada sobre a difícil situação de Lucinda, a terapeuta faz uma série de perguntas sobre como Lucinda conseguiu
terminar o relacionamento abusivo. Lucinda diz que foi difícil, porque Marvin não queria ir embora e ameaçava matá-la. A terapeuta diz: “É
nesse momento que a maioria das mulheres recua e aceita o homem de volta. Como foi que você conseguiu não dar para trás?” Lucinda
replica: “Algumas vezes eu dei para trás, por ficar apavorada. Sempre que eu voltava para ele, as coisas ficavam cada vez piores”. Ela passa
a descrever como Marvin quebrou a perna do filho dela, razão pela qual ela perdeu a custódia dos filhos, e como isso a fez decidir que não o
aceitaria mais de volta. A terapeuta pontua a história de Lucinda com comentários que salientam a sua capacidade de proteger seus filhos,
tais como: “Mas algumas mulheres... ou ficariam loucas de medo dele ou, quem sabe, achariam que ele iria mudar e o aceitariam de volta” e
“Uau, estou impressionada com isso. Como você fez isso?”
Depois de mostrar à Lucinda que está impressionada com a competência dela, a terapeuta passa para perguntas destinadas a estabelecer
objetivos. Lucinda diz que deseja os filhos de volta e não quer mais ter medo de Marvin. Ela procura conselhos sobre como ser forte com
Marvin. A terapeuta fala: “Mas parece que você já é”.
Para deixar mais claro o objetivo de Lucinda, a terapeuta lhe faz a questão do milagre. Diz à Lucinda para imaginar que, naquela
noite, quando for dormir, vai acontecer um milagre, e seus problemas – desejar os filhos de volta e querer ser mais forte – estarão resolvidos.
Como Lucinda saberia que o milagre aconteceu? Lucinda responde que seus filhos estariam de volta em casa e ela estaria imensamente feliz.
A terapeuta pede que ela fale mais sobre o quadro do milagre, e Lucinda passa grande parte da sessão descrevendo alegremente o que faria
com os filhos e como ela e eles se sentiriam, enquanto a terapeuta interpunha perguntas como: “Onde você aprendeu a ser uma mãe tão boa,
tão amorosa?”
A terapeuta faz uma questão de escala: “Em uma escala de 1 a 10, 10 representando como você estará quando finalmente tiver seus
filhos de volta, e 1, como você estava quando lhe foram tirados, onde você diria que as coisas estão hoje?” Lucinda diz que entre 8 e 9. A
terapeuta pergunta como ela foi capaz de subir tanto. Lucinda responde que é por ter certeza de que seus filhos logo voltarão.
Depois de mais alguns elogios, a terapeuta faz uma pausa e passa a dar um retorno. Diz que faz sentido Lucinda estar deprimida,
considerando o que perdeu e o que experienciou em sua vida, mas que está surpresa ao ver como Lucinda utilizou o que aprendeu. “E isso é
realmente surpreendente para mim. Para alguém tão jovem, você já é muito sábia.” A terapeuta também a cumprimenta por ter rompido com
Marvin. Lucinda concorda com tudo isso, e a terapeuta então diz: “A essa altura eu nem sei se nós precisamos conversar novamente. O que
você acha?” Lucinda concorda que não precisa mais de ajuda, e elas encerram a sessão. Ela nunca telefonou pedindo outra sessão, e seus
filhos lhe foram devolvidos.
Para ilustrar o processo de uma terapia focada na solução, resumiremos uma sessão
relatada por Insoo Berg e Peter De Jong (1996). A cliente, Lucinda, é uma mulher de 19
anos, afro-americana, mãe de duas crianças, de 3 e 4 anos, que foram retiradas dela e
colocadas sob os cuidados de pais adotivos há 18 meses. Lucinda fora abusada
fisicamente por um parceiro anterior. Essas são todas as informações que a terapeuta
quis ter antes de conversar com ela.
2. Fazer mais aquilo que funciona. “Já que você disse que geralmente vocês
conseguem conversar quando saem para caminhar, talvez deva tentar fazer isso de vez
em quando e ver o que acontece.”
3. Fazer alguma coisa diferente. “Você disse que quando confia em Janine e espera
que ela se responsabilize pelo tema de casa, ela costuma não o fazer. Talvez você
devesse tentar algo diferente.” Se o cliente fala: “Eu já disse a mesma coisa milhares
de vezes, e não fez nenhuma diferença”, a sugestão de tentar algo diferente convida o
cliente a descobrir sua própria solução.
6. A “tarefa de predição” (de Shazer, 1988). “Antes de você ir para a cama hoje à
noite, prediga se o problema estará melhor ou igual amanhã. Amanhã à noite avalie o
dia e compare as coisas com a sua predição. Pense sobre o que pode explicar a
predição certa ou errada. Repita isso todas as noites até o nosso próximo encontro.”
Nesta abordagem existem ingredientes úteis que podem ajudar os clientes a sair de
seu pessimismo e avançar para uma ação construtiva.
Como qualquer outra terapia, a abordagem focada na solução provavelmente não será
muito efetiva se o terapeuta, na pressa de chegar aos seus próprios objetivos, deixar
de escutar os clientes e de fazer com que se sintam compreendidos.
Ela chegou a ser chamada de terapia de “solução forçada” por algumas pessoas, pela
tendência percebida nos terapeutas de pressionar os clientes a discutir apenas o
positivo e a desconsiderar o negativo.
O problema que alguns terapeutas focados na solução podem ter com esta linha de
pensamento é que o modelo corre o risco de perder sua característica distintamente
breve. Pode levar várias sessões para que alguns clientes sintam-se totalmente
compreendidos e reconhecidos.
OBRIGADA PELA ATENÇÃO!