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Fernando Pessoa Ortónimo

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Fernando

Pessoa, poesia
do ortónimo

Professoras
Filipa Ribeiro
Bárbara Quintão
Sobre Fernando Pessoa:

 Lisboa, 13 de junho de 1888 – Lisboa, 30 de novembro de 1935.


 1905 – 1907: Curso Superior de Letras
 Escreveu poesia em Português e em Inglês;
 1912: Publica 3 artigos associados ao movimento da Renascença Portuguesa e do
Saudosismo (nostalgia).
 1913: Escreve os primeiros poemas de Livro do Desassossego.
 1914: Publica os primeiros poemas da maturidade. Cria os heterónimos: Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
 1915: Fundação de Orpheu e introdução da arte modernista.
 1924: Fundação de Athena.
 Fernando Pessoa criou mais de 136 autores fictícios (mas nem todos são considerados
heterónimos).
 1934: Publica Mensagem.
 1935: Escreve a Carta da génese dos heterónimos.
Sobre o Modernismo:
 Época marcada pela industrialização e por uma grande crise de valores;
 Conjunto de movimentos culturais e artísticos das sociedades ocidentais do início do século
XX, cuja principal característica é a rutura abrupta com a tradição académica, de modo a
privilegiar a liberdade e a subjetividade criativas.
 Engloba várias tendências e vertentes da arte.
 Características pelos múltiplos “-ismos”, pelos tumultos sociais e a fugacidade da vida.
 O início do modernismo em Portugal dá-se com a criação de Orpheu.
 O Modernismo Português privilegiava:
• A euforia do mundo moderno e da tecnologia;
• O cansaço inerente à civilização industrial, o tédio e a decadência;
• A complexidade da mente humana e as angústias existenciais;
• A fragmentação do ”eu”: exploração da psique e o autoconhecimento;
• A crítica aos valores materialistas e burgueses;
• A despersonalização e o fingimento artístico: dramatização.
Sobre a poesia de Fernando Pessoa:
A poesia do Ortónimo assenta em quatro temáticas que formam uma teia, tão complexa quanto
dramática, cujos fios se entrecruzam num labirinto de crença e descrença, de certeza e de dúvida, de desejo e
de desistência:
• O Fingimento artístico;
• A Dor de Pensar;
• A Nostalgia da infância;
• O Sonho e Realidade.

Fernando Pessoa é, ele próprio, sedento de tudo e de nada, procura incessantemente um ser: um ser
de espírito inquieto, sempre lúcido e racional, condenado ao vício de pensar, obstáculo à verdadeira felicidade
e promotor de uma existência angustiada.

O Sonho e a Infância surgem como os únicos espaços onde o poeta se pode refugiar: O Sonho em
busca de uma felicidade relativa; a Infância onde, sendo inconsciente, era feliz.
Fingimento artístico
Segundo a arte poética pessoana, um poema não é um produto direto da emoção, mas sim produto
de uma construção mental, sendo que a sua elaboração se confunde com um «fingimento» (uma
simulação).
O poeta assume-se como «fingidor», não sendo alguém que, desonestamente, mente, mas alguém
que simula uma emoção, que encena no seu intelecto uma situação imaginária representativa da «dor que
deveras sente», isto é, intelectualiza e pensa essa dor.
Fingimento artístico
O poema «Autopsicografia» explica o processo de criação artística (poética). Toda a arte é assim perspetivada
como resultado de um processo intelectual, em que a emoção constitui apenas um estímulo.
O poeta não rejeita os sentimentos sinceros e reais, mas sente a necessidade de os recriar por meio
da imaginação e do intelecto. A verdadeira emoção é intransmissível (é impossível verbalizar com exatidão o que
sentimos). Com efeito, o poeta, ao utilizar as palavras para a expressar, está automaticamente a adulterá-las, a
transfigurá-las, a criar convenções, fruto do que está a experienciar no momento em que a pretende comunicar. A função
do poeta não é «sentir» no poema, mas sim provocar o «sentir» em quem o lê.

Nesta perspetiva, a dor sentida, que envolve os sentimentos, as emoções e as realidades experienciadas pelo
poeta, não é transmitida, mas sim reconstruída intelectualmente, dando origem a uma nova dor, uma dor fingida,
pensada.
O ato criativo completa-se quando o leitor realiza a leitura da dor fingida («dor lida») e consegue sentir
uma dor semelhante (nunca igual) à dor sentida pelo poeta.
Dor de pensar
A atitude permanente de intelectualização das emoções e o estado consciente não só
da incapacidade de aceder a um «eu» que dorme profundamente em si (o inconsciente), mas
também da efemeridade da vida e de que nela tudo passa, fazem com que o poeta não
consiga usufruir dos momentos que esta lhe oferece. A consciência da realidade que o
envolve, da sua pequenez em relação a ela e das suas limitações e fragilidades
impede-o de ser feliz.

A incapacidade de se libertar desse estado de hiperlucidez e de constante análise


da realidade (ou autoanálise) provoca-lhe insatisfação e sofrimento, pois questiona
tudo, sofre e angustia-se, não conseguindo dar resposta às suas inquietações. Pessoa,
apesar da dor que tal atitude acarreta, não nega, nem quer negar, a sua essência humana –
ele é um ser pensante!

Por vezes , afirma que o seu desejo é sentir, no entanto, e de forma paradoxal,
Nostalgia da Infância
Dececionado com a vida e desfragmentado pela angústia que o invade e por
essa excessiva e alucinante «dor de pensar», Pessoa refugia-se,
momentaneamente e pela memória, no tempo da infância. A infância
representa o tempo da inocência e o momento em que todos somos felizes, ainda
que inconscientes.

O poeta remete-nos para uma infância que, recuperada pela memória e


reconstruída pela imaginação, é idealizada como um paraíso perdido, um porto
de abrigo, o único momento possível de felicidade. A infância surge, pois, como
uma época recordada com saudade e nostalgia, podendo até não corresponder à
infância vivida pelo poeta, mas na qual ele era feliz sem o saber. Convém também
salientar que a memória, ao recuperar as vivências passadas, também as reconstrói:
Sonho e Realidade
A dor de pensar e a angústia existencial que atormentam o «eu» fazem com que este se tente
evadir através do Sonho. A dimensão onírica surge, assim, como uma tentativa de fuga à realidade que
oprime e causa sofrimento em Pessoa. O poeta cria uma outra realidade, imaginando-se outro, um ser
capaz de ultrapassar as suas inquietações, um ser realizado.

No entanto, o sonho não dissolve as frustrações e insatisfações do poeta, porque não passa de
uma ilusão, de um estado de felicidade efémera. Tendo consciência desse fracasso, desse «impossível
jardim», apesar do seu inconsciente, o poeta volta à realidade quotidiana (a sua consciência), onde
reencontra, desnorteado, as suas dores e ansiedades, intensificando-se assim o seu estado de desilusão, a
sua angústia existencial.
“Autopsicografia”
•O fingimento artístico
“Autopsicografia” – O fingimento artístico

noção de si relacionado escrita


próprio com a mente

Descrição psicológica escrita que o


“eu” faz sobre si próprio.

Esta composição poética assume-se


como uma explicitação da “arte
poética” pessoana.
O poeta – 1.ª estrofe

“Autopsicografia”

Presente do indicativo, terceira


pessoa – generalização

Emoção fingida pelo “eu”  intelectualização

Emoção genuinamente sentida pelo “eu” 


sentimento (emoção)
O poeta – 1.ª estrofe

“Autopsicografia”

Tese: poeta = fingidor / criador de arte

Poema produto de um fingimento.

Fingimento é um ato de consciência.


Essência da composição poética. Fingimento é um ato intelectual.
Fingimento é produto da imaginação.

O poema resulta de uma emoção artística.


O poeta – 1.ª estrofe

“Autopsicografia”

O uso do verbo ser, o sujeito – “o poeta” – e a sua


caracterização “um fingidor”.
Advérbio de modo: completamente

dor fingida / dor sentida


Exemplo prático: quando me magoo sinto dor, emoção no seu estado puro.
Posteriormente, quando vou falar na dor que senti, já tenho consciência:
- Por um lado, de que senti dor;
- Por outro, de que tenho consciência de que estou a falar sobre a dor que
senti, é um duplo estado de consciência: dor fingida.

1. A sua criação é produto de uma sinceridade artística (v. 2);


2. Simula intelectualmente as emoções através da imaginação: dor fingida (v. 3);
3. A transformação da emoção provém da consciência da dor que imagina ter sentido
(produto da recordação/memória) – dor sentida (v. 4).
Os leitores – 2.ª estrofe

“Autopsicografia”

Perífrase Os leitores  parte do processo


de criação
Emoção interpretada pelos leitores
(imaginação)
Os leitores – 2.ª estrofe

“Autopsicografia”

Poeta e leitores
ambas as emoções (“dor”) são resultado de um
ato intelectual.

= os leitores (perífrase)

= ato de ler é um ato de consciência


por parte do leitor

= dor com base em vivências pessoais anteriores


Razão / Emoção – 3.ª estrofe

“Autopsicografia”

Metáfora O coração é um
brinquedo que distrai a
razão, mas de forma
controlada, nas “calhas”

coração = emoção
Subordinação do sentimento ao
pensamento
associado a um brinquedo (entreter)
como um mecanismo (gira... nas calhas de roda)
dinâmico, mas sem outro objetivo aparente que
não seja entreter a razão (fornecer material
para o pensamento, a produção artística).

Mural Coração, Third, Covilhã, 2021


Sistematização
3 partes
Em síntese – O fingimento artístico
1. O que é ser poeta,
como sente o poeta

2. O que sente o leitor

3. A relação entre
emoção real (sentir) /
fingida (pensar);
razão / emoção
Sistematização
Em síntese
Dor = emoção

Poeta Leitor
“as duas que ele teve” “a que eles não têm”

Dor sentida – Dor Dor fingida – a Dor lida – a emoção e A interpretação do


real do poeta, ser expressão poética da o sentimento são poema que resulta da
humano emoção distanciados, estão sua leitura e que não
Quando escreve, o poeta
em segundo plano corresponde nem à
Emoção real, distancia-se do que para o leitor dor sentida nem à dor
resultante da sentiu, não “usa” o
O leitor lê e associa à sua
fingida
vida quotidiana: coração, sentindo apenas
própria dor
com a imaginação
“a dor que
deveras sente” Emoção artística (fingida) diferente para o
criador (poeta) e o recetor (leitor)
Sistematização

“Autopsicografia” – O fingimento artístico


Tese da arte poética pessoana
Argumento 1: o fingimento leva o poeta a construir a arte (artificial) a
partir da vida (natural)

Argumento 2: o leitor sente a emoção de fruir (desfrutar) a obra


artística, que não é a da criação, nem a do criador, nem a sua natural

Conclusão / reiteração da tese: a emoções apenas servem de


material, pretexto para a criação artística, pois esta é do domínio da
razão/pensamento/construção:

fingimento
Em síntese – O fingimento artístico
• A arte como construção racional da realidade.

• Processo de intelectualização das emoções.

• A imaginação (processo intelectual) sobrepõe-se à emoção.

• Representação de uma dor imaginada que provém da intelectualização


das emoções, não é uma emoção pura, mas sim construída,
intelectualizada, proveniente de um trabalho de raciocínio, está presente
uma dicotomia/oposição entre o:
 sentir / pensar
 razão / emoção
“Ela canta, pobre
ceifeira”
•A dor de pensar
“Ela canta, pobre ceifeira” – A dor de pensar
“Ela canta, pobre ceifeira”
Comparação “ave”  liberdade

Descrição do canto da
ceifeira

Despreocupação
“Ela canta, pobre ceifeira”
Antítese Contradição no
estado de espírito
do “eu”

Efeito do canto no “eu”

Angústia
“Ela canta, pobre ceifeira”
Antítese Contradição no
estado de espírito
do “eu”

Manifestação da vontade do “eu”

Anulação, perante a
impossibilidade de o
“eu” ser como a ceifeira
“Não sei se é sonho, se
realidade”
•Sonho e realidade
“Não sei se é sonho, se realidade” – Sonho e realidade
“Não sei se é sonho, se realidade”
Características da ilha sonhada – espaço dominado pelo
sonho, paraíso perdido, de difícil definição, longínqua e
distante, onde há felicidade

Ideia de afastamento  sonho


“Não sei se é sonho, se realidade”
Características da ilha real – espaço dominado pela razão
(simbolizada pelo “frio” e “luar”). Local desconfortável, que
provoca dor

Ideia de proximidade – realidade

Reflexão do “eu” sobre o confronto


entre sonho e realidade

A felicidade não se
encontra no sonho mas
em “nós”
Em síntese – Sonho e realidade
• O sonho surge como um meio de evasão da realidade e de refúgio.

• Pessoa anseia por um mundo onírico para reivindicar a felicidade da


imaginação (“Onde ser feliz consiste / Apenas em ser feliz” ).
“Quando as crianças brincam”,
de Fernando Pessoa
“Quando as crianças brincam” – A nostalgia de
infância
“Quando as crianças brincam”
Estímulo exterior que espoleta
uma recordação

Efeito no ”eu”
“Quando as crianças brincam”

Metáfora Intensidade do
sentimento

Sentimento de nostalgia construído


pela imaginação  fingido
“Quando as crianças brincam”

Passado  perdido no esquecimento

Futuro  escondido na antevisão

Presente  felicidade construída


Em síntese – A nostalgia de infância
• A infância como um paraíso perdido, idílico, de felicidade.

• Saudade intelectual de um passado irrecuperável e desejo frustrado de


reviver a infância.
“Não sei quantas almas tenho”,
de Fernando Pessoa
“Não sei quantas almas tenho” – A fragmentação do “eu”
“Não sei quantas almas tenho”

Indefinição do “eu”
Anáfora Caracterização do “eu” 
agitação, indefinição,
autoanálise, perda de
identidade
Redução do “eu” à sua essência
“Não sei quantas almas tenho”

Despersonalização do “eu”

Solidão e desconhecimento de si
“Não sei quantas almas tenho”

Comparação O ”eu” é como um livro 


a página anterior
esquece-se e a página
seguinte desconhece-se
Ato reflexivo  razão. Mas nem a
racionalidade explica a sua
essência. Apenas Deus
Em síntese – A fragmentação do “eu”
• A introspeção e a autoanálise conduzem ao desconhecimento de si próprio.

• O drama da identidade perdida e da despersonalização.

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