Desterros, terreiros: pós cadernos 2 / PPGAV UFRJ. - Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes, 2017. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2017
A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é ... more A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é o sequestro da subjetividade humana, ou a intromissão do sistema de controle nos sonhos humanos. Logo em seguida apresenta nossa sociedade mediada pelo Tecnoceno, que é um dos braços fortes do Antropoceno, e como este promove o sequestro do futuro, a partir da tecnociência + capitalismo corporativo. Evidencia a ideia de que o excesso de extração dos recursos naturais de dentro da Terra é concomitante à extração do “espírito” de dentro dos corpos, e isso está nos levando aos desastres climáticos, assim como à miséria ontológica.
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, dizendo que intentam maior liberação dos futuros e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas ideias estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções grandes, em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresenta (no campo da fantasia = real) inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem alguns modelos de trabalho oriundos de práticas tais como Programa Ruidocrático, Sonhos Derivados, Comunidades Oníricas. Cada um deles nos levando para um grau de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva à sociedade de controle e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos.
Depois da II Guerra Mundial o espaço se tornou uma tela de projeção para todo tipo de utopia e di... more Depois da II Guerra Mundial o espaço se tornou uma tela de projeção para todo tipo de utopia e distopia. Havia naquele momento como que uma urgência em antecipar o futuro, científica e ficcionalmente, dado os estragos da guerra, os avanços tecnológicos e a Guerra Fria. Uma enorme quantidade de elementos da cultura espacial surgiu nessa época (final dos anos 1940 até o final dos anos 1970), e esses elementos sistematizados e compartilhados foram chamados por De Witt Douglas Kilgore de astrofuturismo. 2 Uma das características do astrofuturismo é a cultura alien. Para muitos, a expectativa em relação ao encontro com extraterrestres representava a experiência mais radical de alteridade, pois havia já nesse período uma crítica incisiva aos projetos coloniais, que reduziam a experiência da alteridade à hierarquia e dominação física, econômica e cultural dos povos menos tecnologizados. A questão da alteridade e utopia estava em plena expansão e os movimentos sociais eclodiam em meio à corrida espacial, trazendo reivindicações contra o racismo, o machismo e o desequilíbrio entre os avanços técnicos e os avanços sociais. Por um lado, os programas espaciais dos Estados Unidos e União Soviética representavam o futuro e o desenvolvimento e contavam com ufanistas e apoiadores; por outro, eram alvo de oposição. Um dos movimentos mais radicais nos EUA surgiu dentro das comunidades negras, que, durante o lançamento da 1 O texto foi extraído da tese de Fabiane M. Borges, intitulada "Na busca da cultura espacial" (2013). Disponível em: https://catahistorias.files.wordpress.com/2013/04/na-busca-da-cultura-espacial-web.pdf 2 KILGORE, De Witt Douglas.
ARTE ESPACIAL - CULTURA ESPACIAL - ARTES E CIÊNCIAS ESPACIAIS UM BREVE RECORTE AUTOCARTOGRÁFICO , 2019
Esse texto é a apresentação de um recorte do que podemos chamar de arte espacial. Por eu não me i... more Esse texto é a apresentação de um recorte do que podemos chamar de arte espacial. Por eu não me identificar muito com o termo, costumo usar "arte e ciências espaciais". O nome arte espacial (space art) é por demais "americanizado" e tem um vetor específico de proposição que na maioria das vezes não contempla a precariedade, os sonhos frustrados e as propostas alternativas dos artistas que atuam na área, mas não têm acesso à pesquisa espacial de ponta-de forma que temos a liberdade dos trópicos de irmos inventando palavras e sentidos para isso que conecta a pesquisa artística com a pesquisa da ciência espacial. Grosso modo, poderia resumir o fenômeno da arte espacial, ou cultura espacial, ou arte e ciências espaciais, como uma prática artística voltada para questões cósmicas, de sensoriamento remoto, estudos da astronomia e astrofísica, poéticas ligadas às ciências espaciais em geral, e isso obviamente inclui a Terra, tanto em relação ao Antropoceno e seus derivantes quanto em relação aos modelos de comunidades produzidas no planeta e suas relações interespécies, pensando aqui, evidentemente, a própria Terra e seus múltiplos modos de existência como cósmica, sem esquecer da sua capa orbital de satélites artificiais. Me interessa mostrar algo dessas práticas artísticas através de uma cartografia pessoal, de acordo com minha pesquisa de doutorado e pós-doutorado, mas também através dos espaços que visitei, dos grupos que conheci, das exposições que curei ou participei diretamente, dos festivais que tenho realizado, assim como da revista que lançamos em 2018-Extremophilia-, que é ela própria um arquivo cartográfico que fizemos a fim de nos aproximarmos das pesquisas nessa área. Faço isso para evidenciar o caminho feito até agora, de pesquisa e estilo. Dentro desse recorte, existem algumas preferências em relação a formatos. Me interessam, por exemplo, trabalhos que dialoguem com a cultura livre, com propostas de autonomia e colaboração, assim como com projetos que vislumbram: a) plataformas planetárias e menos nacionalistas (apesar de endossar o direito dos países periféricos às decisões orbitais e espaciais), b) b) proposições críticas e questionadoras (e não só sensacionalistas ou virtuoses), c) questões éticas relacionadas à temas como colonização, pós-colonização, perifuturismos, ocupações espaciais, assim como questões de mineração do espaço e da Terra em época de câmbios climáticos, e o que isso implica quando falamos de Antropoceno Espacial. Conto aos poucos essa história através de alguns encontros que considero relevantes para essa breve cartografia.
of the anti-hijacking scheme. The first part of this text began by presenting some science fictio... more of the anti-hijacking scheme. The first part of this text began by presenting some science fiction films whose theme is the hijacking of human subjectivity, or the intrusion of a system of control within human dreams. Shortly thereafter our society is presented as mediated by the Technocene, which is one of the strong branches of the Anthropocene, and how it promotes the hijacking of the future. It confirms the idea that the excessive extraction of natural resources from within the Earth is concurrent with the extraction of the “spirit” from inside our bodies, and this is leading us to climate disasters and to ontological misery.
Afterwards, this text presents a pedagogical equation, in which it defines the onto-political bases that support the text’s propositions, affirming that they are part of the grammar of liberation of the future and of dreams. They are: technoshamanism + ancestor-futurism + network of the unconscious. This is placed before the techno-ideological bases of the society of control, responsible for the hijacking of the future and dreams, that are: technoscience + corporate capitalism + artificial intelligence of God. It’s clear that these equations are in conflict and dispute the network of the unconscious and the future of the Earth. It is suggested that the great ideology of freedom and individuality, promised after the Second World War by the industrial corporations of the allied countries, was a big trap, that culminated in a terrible system of control.
Then the text emphasizes the importance of fiction and its capacity to create worlds, taking it out of the constraints of the symbolical and imaginary universe and introducing it to actual concretization. Fiction is then presented as one of the most powerful instruments for the production of reality, just like hyperstition, which is the capacity to create fictions in groups, and materializing them in reality. Here the text returns to the films, claiming that these fictions present the terrorism of the machine, the cornering that the society of control is imposing on the whole world, at the same time as they present innumerable forms of resistance or escape. Based on this idea of fiction as something determining, the text introduces ancestor-futurism and networks of the unconscious, presenting them as metaphysical projects of forced amplification of our ontological bases and restructuring the idea of communicability between the many unconscious, presenting it as a radical operator of ancestralities and futures between humans and the others (who are not humans, but other entities). Here questions related to spectrality enter, parallel universes of signs that pass through language and invisible fields that are inaccessible with this level of petty consciousness, as Davi Kopenawa demonstrates when he says that white people only dream about themselves and their goods and because of this they don’t see anything and think that everything they don’t see is a lie.
The final part of the text shows dreams as one of the most powerful portals for the rescue of lost ontologies of the past, as well as the production of freer futures. Departing from various references, the text suggests a methodology of treatment/training of dreams, starting from a relation between art and clinical practice. At that point some work methodologies appear, coming from such practices as the noisecratic programme, derived dreams, dream communities, etc. Each of these leads us to a higher degree of understanding about dreams as an onto-political public space, which must be urgently rescued for there to be a possibility for subjective resistance to the terrorism of the machine, and for the liberation of the future to be strengthened through the anti-hijack scheme of dreams, because the freer the dreams, the more capable they are of generating worlds.
I Nós terranos, habitamos uma nave em plena viagem pelo universo, a girar ao redor do Sol, que po... more I Nós terranos, habitamos uma nave em plena viagem pelo universo, a girar ao redor do Sol, que por sua vez realiza o mesmo movimento em torno de outros astros, em um sistema complexo de conexões siderais: nossa experiência de mundo é um viagem pelo espaço, bem como pelo tempo, e desta condição nunca poderemos esquecer. II Buscamos a ancestralidade da Terra, reiterando a compreensão de que somos formados por pó de estrelas cujas existências nos excedem. Trazemos em nossa carga genética as infinitas interações galácticas e, orbitando por entre gravidade, somos a um só tempo, terranos e cosmistas. III Queremos atingir a singularidade terracosmista. Confiamos no múltiplo que a ciência e a tecnologia são capazes de produzir, sem univocidade. Não seremos indivíduos atrelados a uma só corporação, mas incorporados da diversidade de múltiplas galáxias. Seremos honestos em relação à vida e próximos à nossa potência de interação e criação de mundos. IV Gostamos da experiência do nomadismo por entre comunas, dos coletivos de mutualismo simbiótico, das redes de proteção interdependente. Acreditamos que ninguém é obrigado a viver ou morrer junto, mas cremos na habilidade de existir com os outros. Não confiamos em estados totalitários, nem em deuses impostos e viveremos como anarcomunais. V 1 Criadores do Manifesto: Priscila Lima, Pitter Rocha, Christian Zahn, Rafael Frazão, Jessica Macedo, Hernani Diamantas, Rubens Velloso, Lino Divas, Fabiane M. Borges e Leno Veras. O manifesto foi criado a partir da proposta de uma oficina de ficção especulativa organizada por Fabiane M. Borges e Leno Veras na II Comuna Intergaláctica realizada no dia do equinócio de primavera no Planetário do Ibirapuera-São Paulo/ 2018.
Seminal Thoughts for a Possible Technoshamanism, 2014
Many people have an idea as to what "technoshamanism" means. These ideas are generic and point to... more Many people have an idea as to what "technoshamanism" means. These ideas are generic and point towards something between science and religion, or between technology and ecstasy. I prefer to present it as a subject which is under construction - a challenge we are all currently facing, and to which we need to find solutions.
This text will cover a small number of ecological, anthropological and philosophical concepts which I will try to delineate clearly, even if they may seem shrouded in mist. For reference I will use such thinkers as Viveiros de Castro, Bruno Latour, Fabián Ludueña, among others. It is important to emphasize that the concept of technoshamanism is open and means many things to many people. This text is only an attempt to bring about a few clarifications in the apparent deadlock between two seemingly opposed forces.
I will divide the text into seven parts:
1- The tragedy of the Guarani Kaiowa
2- The Maracanã Village
3- Earthbound versus Humans
4- Xawara and the Falling Sky
5- Perspectivism and onthological inversion
6- Transversal shamanism, dirty or noisy
7- Technoshamanism
Essa mostra Zona de Poesia Árida , tal qual a Poéticas do Dissenso não parece ser a coisa mais tr... more Essa mostra Zona de Poesia Árida , tal qual a Poéticas do Dissenso não parece ser a coisa mais tranquila do mundo. Trazer a arte política, ou a intervenção urbana pra dentro do contexto do museu, principalmente sendo ele o MAR, que tem um histórico de gentrificação e de remoção de pessoas durante sua construção, sempre provocou muitos questionamentos. Eu queria falar um pouco dessas críticas que fazem a nós, para podermos pensá-las, sem ignorá-las, muito menos nos defender delas, mas como tentativa de aprofundar esses questionamentos, essas críticas, pensar em nossa decisão, que implicações isso tem, qual o teor da nossa aposta.
Desterros, terreiros: pós cadernos 2 / PPGAV UFRJ. - Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes, 2017. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2017
A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é ... more A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é o sequestro da subjetividade humana, ou a intromissão do sistema de controle nos sonhos humanos. Logo em seguida apresenta nossa sociedade mediada pelo Tecnoceno, que é um dos braços fortes do Antropoceno, e como este promove o sequestro do futuro, a partir da tecnociência + capitalismo corporativo. Evidencia a ideia de que o excesso de extração dos recursos naturais de dentro da Terra é concomitante à extração do “espírito” de dentro dos corpos, e isso está nos levando aos desastres climáticos, assim como à miséria ontológica.
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, dizendo que intentam maior liberação dos futuros e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas ideias estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções grandes, em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresenta (no campo da fantasia = real) inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem alguns modelos de trabalho oriundos de práticas tais como Programa Ruidocrático, Sonhos Derivados, Comunidades Oníricas. Cada um deles nos levando para um grau de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva à sociedade de controle e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos.
Depois da II Guerra Mundial o espaço se tornou uma tela de projeção para todo tipo de utopia e di... more Depois da II Guerra Mundial o espaço se tornou uma tela de projeção para todo tipo de utopia e distopia. Havia naquele momento como que uma urgência em antecipar o futuro, científica e ficcionalmente, dado os estragos da guerra, os avanços tecnológicos e a Guerra Fria. Uma enorme quantidade de elementos da cultura espacial surgiu nessa época (final dos anos 1940 até o final dos anos 1970), e esses elementos sistematizados e compartilhados foram chamados por De Witt Douglas Kilgore de astrofuturismo. 2 Uma das características do astrofuturismo é a cultura alien. Para muitos, a expectativa em relação ao encontro com extraterrestres representava a experiência mais radical de alteridade, pois havia já nesse período uma crítica incisiva aos projetos coloniais, que reduziam a experiência da alteridade à hierarquia e dominação física, econômica e cultural dos povos menos tecnologizados. A questão da alteridade e utopia estava em plena expansão e os movimentos sociais eclodiam em meio à corrida espacial, trazendo reivindicações contra o racismo, o machismo e o desequilíbrio entre os avanços técnicos e os avanços sociais. Por um lado, os programas espaciais dos Estados Unidos e União Soviética representavam o futuro e o desenvolvimento e contavam com ufanistas e apoiadores; por outro, eram alvo de oposição. Um dos movimentos mais radicais nos EUA surgiu dentro das comunidades negras, que, durante o lançamento da 1 O texto foi extraído da tese de Fabiane M. Borges, intitulada "Na busca da cultura espacial" (2013). Disponível em: https://catahistorias.files.wordpress.com/2013/04/na-busca-da-cultura-espacial-web.pdf 2 KILGORE, De Witt Douglas.
ARTE ESPACIAL - CULTURA ESPACIAL - ARTES E CIÊNCIAS ESPACIAIS UM BREVE RECORTE AUTOCARTOGRÁFICO , 2019
Esse texto é a apresentação de um recorte do que podemos chamar de arte espacial. Por eu não me i... more Esse texto é a apresentação de um recorte do que podemos chamar de arte espacial. Por eu não me identificar muito com o termo, costumo usar "arte e ciências espaciais". O nome arte espacial (space art) é por demais "americanizado" e tem um vetor específico de proposição que na maioria das vezes não contempla a precariedade, os sonhos frustrados e as propostas alternativas dos artistas que atuam na área, mas não têm acesso à pesquisa espacial de ponta-de forma que temos a liberdade dos trópicos de irmos inventando palavras e sentidos para isso que conecta a pesquisa artística com a pesquisa da ciência espacial. Grosso modo, poderia resumir o fenômeno da arte espacial, ou cultura espacial, ou arte e ciências espaciais, como uma prática artística voltada para questões cósmicas, de sensoriamento remoto, estudos da astronomia e astrofísica, poéticas ligadas às ciências espaciais em geral, e isso obviamente inclui a Terra, tanto em relação ao Antropoceno e seus derivantes quanto em relação aos modelos de comunidades produzidas no planeta e suas relações interespécies, pensando aqui, evidentemente, a própria Terra e seus múltiplos modos de existência como cósmica, sem esquecer da sua capa orbital de satélites artificiais. Me interessa mostrar algo dessas práticas artísticas através de uma cartografia pessoal, de acordo com minha pesquisa de doutorado e pós-doutorado, mas também através dos espaços que visitei, dos grupos que conheci, das exposições que curei ou participei diretamente, dos festivais que tenho realizado, assim como da revista que lançamos em 2018-Extremophilia-, que é ela própria um arquivo cartográfico que fizemos a fim de nos aproximarmos das pesquisas nessa área. Faço isso para evidenciar o caminho feito até agora, de pesquisa e estilo. Dentro desse recorte, existem algumas preferências em relação a formatos. Me interessam, por exemplo, trabalhos que dialoguem com a cultura livre, com propostas de autonomia e colaboração, assim como com projetos que vislumbram: a) plataformas planetárias e menos nacionalistas (apesar de endossar o direito dos países periféricos às decisões orbitais e espaciais), b) b) proposições críticas e questionadoras (e não só sensacionalistas ou virtuoses), c) questões éticas relacionadas à temas como colonização, pós-colonização, perifuturismos, ocupações espaciais, assim como questões de mineração do espaço e da Terra em época de câmbios climáticos, e o que isso implica quando falamos de Antropoceno Espacial. Conto aos poucos essa história através de alguns encontros que considero relevantes para essa breve cartografia.
of the anti-hijacking scheme. The first part of this text began by presenting some science fictio... more of the anti-hijacking scheme. The first part of this text began by presenting some science fiction films whose theme is the hijacking of human subjectivity, or the intrusion of a system of control within human dreams. Shortly thereafter our society is presented as mediated by the Technocene, which is one of the strong branches of the Anthropocene, and how it promotes the hijacking of the future. It confirms the idea that the excessive extraction of natural resources from within the Earth is concurrent with the extraction of the “spirit” from inside our bodies, and this is leading us to climate disasters and to ontological misery.
Afterwards, this text presents a pedagogical equation, in which it defines the onto-political bases that support the text’s propositions, affirming that they are part of the grammar of liberation of the future and of dreams. They are: technoshamanism + ancestor-futurism + network of the unconscious. This is placed before the techno-ideological bases of the society of control, responsible for the hijacking of the future and dreams, that are: technoscience + corporate capitalism + artificial intelligence of God. It’s clear that these equations are in conflict and dispute the network of the unconscious and the future of the Earth. It is suggested that the great ideology of freedom and individuality, promised after the Second World War by the industrial corporations of the allied countries, was a big trap, that culminated in a terrible system of control.
Then the text emphasizes the importance of fiction and its capacity to create worlds, taking it out of the constraints of the symbolical and imaginary universe and introducing it to actual concretization. Fiction is then presented as one of the most powerful instruments for the production of reality, just like hyperstition, which is the capacity to create fictions in groups, and materializing them in reality. Here the text returns to the films, claiming that these fictions present the terrorism of the machine, the cornering that the society of control is imposing on the whole world, at the same time as they present innumerable forms of resistance or escape. Based on this idea of fiction as something determining, the text introduces ancestor-futurism and networks of the unconscious, presenting them as metaphysical projects of forced amplification of our ontological bases and restructuring the idea of communicability between the many unconscious, presenting it as a radical operator of ancestralities and futures between humans and the others (who are not humans, but other entities). Here questions related to spectrality enter, parallel universes of signs that pass through language and invisible fields that are inaccessible with this level of petty consciousness, as Davi Kopenawa demonstrates when he says that white people only dream about themselves and their goods and because of this they don’t see anything and think that everything they don’t see is a lie.
The final part of the text shows dreams as one of the most powerful portals for the rescue of lost ontologies of the past, as well as the production of freer futures. Departing from various references, the text suggests a methodology of treatment/training of dreams, starting from a relation between art and clinical practice. At that point some work methodologies appear, coming from such practices as the noisecratic programme, derived dreams, dream communities, etc. Each of these leads us to a higher degree of understanding about dreams as an onto-political public space, which must be urgently rescued for there to be a possibility for subjective resistance to the terrorism of the machine, and for the liberation of the future to be strengthened through the anti-hijack scheme of dreams, because the freer the dreams, the more capable they are of generating worlds.
I Nós terranos, habitamos uma nave em plena viagem pelo universo, a girar ao redor do Sol, que po... more I Nós terranos, habitamos uma nave em plena viagem pelo universo, a girar ao redor do Sol, que por sua vez realiza o mesmo movimento em torno de outros astros, em um sistema complexo de conexões siderais: nossa experiência de mundo é um viagem pelo espaço, bem como pelo tempo, e desta condição nunca poderemos esquecer. II Buscamos a ancestralidade da Terra, reiterando a compreensão de que somos formados por pó de estrelas cujas existências nos excedem. Trazemos em nossa carga genética as infinitas interações galácticas e, orbitando por entre gravidade, somos a um só tempo, terranos e cosmistas. III Queremos atingir a singularidade terracosmista. Confiamos no múltiplo que a ciência e a tecnologia são capazes de produzir, sem univocidade. Não seremos indivíduos atrelados a uma só corporação, mas incorporados da diversidade de múltiplas galáxias. Seremos honestos em relação à vida e próximos à nossa potência de interação e criação de mundos. IV Gostamos da experiência do nomadismo por entre comunas, dos coletivos de mutualismo simbiótico, das redes de proteção interdependente. Acreditamos que ninguém é obrigado a viver ou morrer junto, mas cremos na habilidade de existir com os outros. Não confiamos em estados totalitários, nem em deuses impostos e viveremos como anarcomunais. V 1 Criadores do Manifesto: Priscila Lima, Pitter Rocha, Christian Zahn, Rafael Frazão, Jessica Macedo, Hernani Diamantas, Rubens Velloso, Lino Divas, Fabiane M. Borges e Leno Veras. O manifesto foi criado a partir da proposta de uma oficina de ficção especulativa organizada por Fabiane M. Borges e Leno Veras na II Comuna Intergaláctica realizada no dia do equinócio de primavera no Planetário do Ibirapuera-São Paulo/ 2018.
Seminal Thoughts for a Possible Technoshamanism, 2014
Many people have an idea as to what "technoshamanism" means. These ideas are generic and point to... more Many people have an idea as to what "technoshamanism" means. These ideas are generic and point towards something between science and religion, or between technology and ecstasy. I prefer to present it as a subject which is under construction - a challenge we are all currently facing, and to which we need to find solutions.
This text will cover a small number of ecological, anthropological and philosophical concepts which I will try to delineate clearly, even if they may seem shrouded in mist. For reference I will use such thinkers as Viveiros de Castro, Bruno Latour, Fabián Ludueña, among others. It is important to emphasize that the concept of technoshamanism is open and means many things to many people. This text is only an attempt to bring about a few clarifications in the apparent deadlock between two seemingly opposed forces.
I will divide the text into seven parts:
1- The tragedy of the Guarani Kaiowa
2- The Maracanã Village
3- Earthbound versus Humans
4- Xawara and the Falling Sky
5- Perspectivism and onthological inversion
6- Transversal shamanism, dirty or noisy
7- Technoshamanism
Essa mostra Zona de Poesia Árida , tal qual a Poéticas do Dissenso não parece ser a coisa mais tr... more Essa mostra Zona de Poesia Árida , tal qual a Poéticas do Dissenso não parece ser a coisa mais tranquila do mundo. Trazer a arte política, ou a intervenção urbana pra dentro do contexto do museu, principalmente sendo ele o MAR, que tem um histórico de gentrificação e de remoção de pessoas durante sua construção, sempre provocou muitos questionamentos. Eu queria falar um pouco dessas críticas que fazem a nós, para podermos pensá-las, sem ignorá-las, muito menos nos defender delas, mas como tentativa de aprofundar esses questionamentos, essas críticas, pensar em nossa decisão, que implicações isso tem, qual o teor da nossa aposta.
Toda pós pornografia não dizia o suficiente do composto orgânico que existia depois da imagem das... more Toda pós pornografia não dizia o suficiente do composto orgânico que existia depois da imagem das ancas largas, das ervas e temperos que saiam pelos cabelos, pelas pontas dos dedos, pelos pubianos quando o botão era acionado com tato. Mas essa inversão era perspectivismo, o clitóris ser o centro do mundo, a tal inversão ontológica. Papo reto com Sr. Colombo: a América já era bem povoada antes do Sr. Colombo dedilhar os pequenos lábios de sua vulgívaga, por índias que sim conheciam o clitóris, assim como conheciam botãozinhos de fios nervosos bem menores e excessivos por todo o corpo. A pena azul de ganso falso atiçando delicadamente a conjunção de fios nervosos. Que perda!
Texto sobre a história de Rosa Mitô - Indigenista dos anos 1970,1980 da OPAN (Operação Amazônia N... more Texto sobre a história de Rosa Mitô - Indigenista dos anos 1970,1980 da OPAN (Operação Amazônia Nativa).
Sobre a amizade da autora com uma indigenista dos anos 1970 -1980 no Alto Rio Negro, e as coisas ... more Sobre a amizade da autora com uma indigenista dos anos 1970 -1980 no Alto Rio Negro, e as coisas que aconteceram nessa época.
Liberdade poética sobre Mother e Siri que construíram o templo Matrimandir em Auroville, Pondiche... more Liberdade poética sobre Mother e Siri que construíram o templo Matrimandir em Auroville, Pondichery, Sul da Índia.
Mulher leva um fora e se identifica com o filme Post Coitun Animal Trist, e fala como voltou a pr... more Mulher leva um fora e se identifica com o filme Post Coitun Animal Trist, e fala como voltou a produzir depois de uma enorme depressão.
Mulher se sente mal por um atropelamento, gasta seu dinheiro nomadizando por entre os países muçu... more Mulher se sente mal por um atropelamento, gasta seu dinheiro nomadizando por entre os países muçulmanos, usando burca.
duas amantes lésbicas que se desencontram, uma virou política e uma diplomata, a outra seguiu na ... more duas amantes lésbicas que se desencontram, uma virou política e uma diplomata, a outra seguiu na esbórnia e no ativismo, mas está cansada.
Das novas famílias que se formam por agrupamento, não por família nuclear, e o reconhecimento da ... more Das novas famílias que se formam por agrupamento, não por família nuclear, e o reconhecimento da lei.
A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é ... more A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é o sequestro da subjetividade humana, ou a intromissão do sistema de controle nos sonhos humanos. Logo em seguida apresenta nossa sociedade mediada pelo Tecnoceno, que é um dos braços fortes do Antropoceno, e como este promove o sequestro do futuro. Evidencia a ideia de que o excesso de extração dos recursos naturais de dentro da Terra é concomitante à extração do “espírito” de dentro dos corpos, e isso está nos levando aos desastres climáticos, assim como à miséria ontológica. Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, afirmando que elas fazem parte da gramática de liberação do futuro e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas equações estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle. Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresentam inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira. A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem algumas metodologias de trabalho, oriundos de práticas tais como programa ruidocrático, sonhos derivados, comunidades oníricas, etc. Cada um deles nos levando para um grau mais elevado de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, algo que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva ao terrorismo da máquina, e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos, pois quanto mais livres são os sonhos, mais capazes são de gerar mundos.
Esse livro “Peixe Morto” surge a partir da lista de emails “Submidialogia”. Organizado por Fabian... more Esse livro “Peixe Morto” surge a partir da lista de emails “Submidialogia”. Organizado por Fabiane M. Borges
O nome do livro foi inspirado no evento Submidialogias/201 0, que aconteceu em três cidades do Brasil: Arraial d'Ajuda - Bahia, Baía de Paranaguá - Paraná e Mirinzal - Maranhão. As imagens de Peixe Morto da capa desse livro foi uma convergência performática, onde vários dos participantes do festival se deitaram no chão do mar de Arraial D'ajuda, escrevendo com seus corpos a frase "Peixe Morto".
Os textos são sobre a história da cultura digital brasileira, sobre os festivais de midia como midia tática Brasil, Digitofagia, Submidialogias, sobre questões mais filosóficas como matéria e natureza, ou ainda ecologia digital, tem também reciclagem de computadores, rituais tecnomágicos, sexo na internet, entre outras coisas.
Livro produzido durante o festival de Submidialogia Belém do Pará/2009. Organizado por Fabiane M.... more Livro produzido durante o festival de Submidialogia Belém do Pará/2009. Organizado por Fabiane M. Borges
Políticas queer, contos sobre sexualidades desviantes do senso comum, hermafroditas, travesti, tr... more Políticas queer, contos sobre sexualidades desviantes do senso comum, hermafroditas, travesti, transexuais, suas lutas, subjetividades, tudo em forma de conto. Esquizotrans.
Tese de doutorado sobre a história da corrida espacial, sobre imaginário espacial, ficção, utopia... more Tese de doutorado sobre a história da corrida espacial, sobre imaginário espacial, ficção, utopias, projetos de exploração, cartografia sobre as nova ocupações espaciais desde fim do século XX em diante, apropriação espacial por grupos civis.
Livro de Fabiane Borges feito a partir da pesquisa de mestrado, sobre moradores de rua, ocupações... more Livro de Fabiane Borges feito a partir da pesquisa de mestrado, sobre moradores de rua, ocupações de movimentos sem teto e sem terra, espaço urbano, intervenção urbana, arte contemporânea e o espaço público, entre outros.
Complete interview about technoshamanism conducted by Beatriz Garcia, publisher of the spanish La... more Complete interview about technoshamanism conducted by Beatriz Garcia, publisher of the spanish Laudano Magazine, with Fabiane M. Borges, Carsten Agger, Ariane Stolfi and Raisa Inocêncio, participants of the technoshamanism network. English translation by Carsten Agger, Ariane Stolfi, Isabella Aurora and Iaci Kupalua. ( http://www.laudanomag.com/tecnochamanismo-indios-hackers/) Keywords: Ancestorfuturism, hackerism, art and technology, traditional knowledge with future technologies. 1-Could you explain to us what technoshamanism is and how this community / idea emerged? Is there any relation with other practices that encompass technology and spirituality like Gnoise or technomagic? We can give a Brazilian point of view that doesn't represent the history of all the people involved in this network. Since the network is diverse and alter-globalist, each person has their own vision of how they became a part of it. But from a Brazilian perspective we could start with the World Social Forums in Porto Alegre since 2001, where there were already practices that related 'do it yourself' culture with traditional cultures and permaculture, where lots of people from free software and DIY networks had met. We could also situate as a specific point the Media Tática Brasil Festival (MTB, " Tactical Media Brazil "), which happened in 2003 in Casa das Rosas, organized by activist groups working with free software and urban art. At that time, the Leftist Party had come to power through the election of president Lula (PT), who nominated Gilberto Gil as Minister of Culture. Gil joined the MTB and expressed interest in taking the project inside the ministry. Very shortly, activist groups were implementing one of the PT government's biggest Free Software projects, called Cultural Hotspots ( pontos de cultura). Through the implementation of this program, hundreds of hackers, hacktivists and open-source programmers gained access to a 'deep Brazil' consisting of communities and ways of life very different from those of the big cities. The word " technoshamanism " started to appear about that time, as a consequence of the meeting of the implementers with traditional Afro-Brazilian, indigenous and riverside communities. The sensation arose that the Free Software movement was not only about technological inclusion but also a meeting point for different cultures, perspectives, knowledges and technologies. It was at this point that the word " technoshamanism " started to show up in the networks, with a number of connotations, some of them more technophobic and other more technophile, but the essence was a re-enchantment with the native cultures, with shamanism, with magic and with the idea that the technologic production was very far from its immanent potential and from the connection with Planet Earth. So in 2014, when the majority of the implementers of the program had already left their government jobs, we decided to make the I International festival of Technoshamanism, following a tradition of festivals that used to relate free software with alternatives or traditionals ways of life as Digitophagy, The first Festival of Technoshamanism was organized in Arraial d'Ajuda, in the Itapeco Institute of Permaculture, with collaboration of the Bailux lab (an offshoot of the Meteracycling network) the Hacker Bus, Voodoohop, LCCP-laboratory of body-creation-performance-interference, the Pataxó from nearby Aldeia Velha and lots of other contributors. At that festival, it was more clearly defined what technoshamanism is about: 1) Plant
3) Quais são as definições do pornoterrorismo?
Eu, Carola Gonzáles e Ana Girardello estamos trad... more 3) Quais são as definições do pornoterrorismo?
Eu, Carola Gonzáles e Ana Girardello estamos traduzindo o livro de Diana Torres (Pornoterrorismo) para o português, que pretendemos lançar ainda em 2015. As principais linguagens são: escrita, performance, vídeo e intervenção (urbana, pública, em encontros). Os conteúdos ou definições são complexos, mas existe a ideia do desvio do terrorismo político para a sexualidade, apontando ao mesmo tempo uma crítica contra a fabricação de terroristas por parte dos Estados e meios midiáticos, e também uma provocação a sociedade em geral, ao produzir uma sexualidade feminista ativa, agressiva, que relaciona o erotismo com os estados de guerra e de violação com o qual convivemos, para criar tensão e pensamento.
Afora a questão do terrorismo, existe uma busca pela inversão do projeto de mulher produzido pelos homens historicamente, então essas aparições agressivas surpreendem as pessoas, pelo excesso de honestidade e também de diversidade. Um dos trabalhos que mais gosto é quando o pornoterrorismo juntou dezenas de mulheres para se masturbar em praça pública em Barcelona, dizendo que as mulheres deveriam se masturbar do modo como elas faziam sozinhas, e só pararem quando gozassem. Esse ataque estético parece inocente, se não fosse um legítimo terrorismo, já que não se espera que as mulheres se masturbem de modos tão diferentes dos que os propagados pela cena pornográfica heteronormativa. Tem também a questão da vingança histórica, a vingança contra os gozos trancados de suas avós, as que eram subjugadas a uma sexualidade de machos, de modo que conclamam o nome de suas antepassadas e se masturbam ou transam publicamente oferecendo o gozo como uma oferenda. É um sacrifício tudo isso, e uma glória. É uma sexualidade publicizada, na linha da pornografia, mas que trata o gozo de modo feminista, mostrando abertamente erotismos, fetiches, desejos sexuais que não estão protocoladas no cardápio da cena erótica habitual. O lesbianismo, o amor entre mulheres é uma questão preponderante no caso do que conheci na Espanha, que mistura o cuidado e a delicadeza com cenas muito fortes ligadas a perfurações, múltiplas penetrações, bondage, travestimento. Em meio a essa cena lésbica decisiva também tem a produção de grupos heterosexuais, transexuais, trangêneros, queers em geral.
Gosto muito do aspecto colaborativo entre essa rede, os eventos, os encontros, as sex parties. Na verdade isso tudo faz parte de um processo, já que são muitos anos de militância e o movimento foi mudando de cara ao longo de todos esses anos. Hoje em dia as participantes do evento pós pornográfico já atuam em outros espaços da sociedade, seja na arte, na academia, no mercado, elas deixaram um legado potente em literatura, vídeo, mídias para as novas gerações. Algumas delas continuam trabalhando com feminismo, sexualidade de forma muito intensa ainda como o coletivo Post-op que atua com pós pornografia com pessoas com deficiências físicas ou mentais, fazendo projetos de desenvolvimento sexual com elas. Diana Torres que acabou de lançar seu novo livro “Coño Potens” e continua com a mostra marrana (mostra de cinema pós pornográfico), Quimera Rosa que está atuando com body noise e relação transespécie, Maria Llopis que está na campanha e publicação do livro “Maternidade Subversiva”, entre outras não citadas aqui, ou seja, muitas delas continuam super potentes e produzindo materiais relacionados ao pós porno. Beatriz Preciado (agora Paul Beatriz Preciado), é uma grande teórica desse movimento, que inspira muita gente a se aventurar nas delícias da pós pornografia. Ela as vezes tem problemas com ativistas por ser acadêmica, mas ao meu ver é uma das melhores acadêmicas que existem, pois sua vida e seu pensamento se sustentam com sua própria experiência, trazendo à tona vivências pessoais para pensar a sexualidade contemporânea, o que é pouco comum no meio acadêmico. O cricricri dos descontentes é inevitável.
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Papers by Fabiane M . Borges
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, dizendo que intentam maior liberação dos futuros e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas ideias estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções grandes, em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresenta (no campo da fantasia = real) inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem alguns modelos de trabalho oriundos de práticas tais como Programa Ruidocrático, Sonhos Derivados, Comunidades Oníricas. Cada um deles nos levando para um grau de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva à sociedade de controle e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos.
Afterwards, this text presents a pedagogical equation, in which it defines the onto-political bases that support the text’s propositions, affirming that they are part of the grammar of liberation of the future and of dreams. They are: technoshamanism + ancestor-futurism + network of the unconscious. This is placed before the techno-ideological bases of the society of control, responsible for the hijacking of the future and dreams, that are: technoscience + corporate capitalism + artificial intelligence of God. It’s clear that these equations are in conflict and dispute the network of the unconscious and the future of the Earth. It is suggested that the great ideology of freedom and individuality, promised after the Second World War by the industrial corporations of the allied countries, was a big trap, that culminated in a terrible system of control.
Then the text emphasizes the importance of fiction and its capacity to create worlds, taking it out of the constraints of the symbolical and imaginary universe and introducing it to actual concretization. Fiction is then presented as one of the most powerful instruments for the production of reality, just like hyperstition, which is the capacity to create fictions in groups, and materializing them in reality. Here the text returns to the films, claiming that these fictions present the terrorism of the machine, the cornering that the society of control is imposing on the whole world, at the same time as they present innumerable forms of resistance or escape. Based on this idea of fiction as something determining, the text introduces ancestor-futurism and networks of the unconscious, presenting them as metaphysical projects of forced amplification of our ontological bases and restructuring the idea of communicability between the many unconscious, presenting it as a radical operator of ancestralities and futures between humans and the others (who are not humans, but other entities). Here questions related to spectrality enter, parallel universes of signs that pass through language and invisible fields that are inaccessible with this level of petty consciousness, as Davi Kopenawa demonstrates when he says that white people only dream about themselves and their goods and because of this they don’t see anything and think that everything they don’t see is a lie.
The final part of the text shows dreams as one of the most powerful portals for the rescue of lost ontologies of the past, as well as the production of freer futures. Departing from various references, the text suggests a methodology of treatment/training of dreams, starting from a relation between art and clinical practice. At that point some work methodologies appear, coming from such practices as the noisecratic programme, derived dreams, dream communities, etc. Each of these leads us to a higher degree of understanding about dreams as an onto-political public space, which must be urgently rescued for there to be a possibility for subjective resistance to the terrorism of the machine, and for the liberation of the future to be strengthened through the anti-hijack scheme of dreams, because the freer the dreams, the more capable they are of generating worlds.
This text will cover a small number of ecological, anthropological and philosophical concepts which I will try to delineate clearly, even if they may seem shrouded in mist. For reference I will use such thinkers as Viveiros de Castro, Bruno Latour, Fabián Ludueña, among others. It is important to emphasize that the concept of technoshamanism is open and means many things to many people. This text is only an attempt to bring about a few clarifications in the apparent deadlock between two seemingly opposed forces.
I will divide the text into seven parts:
1- The tragedy of the Guarani Kaiowa
2- The Maracanã Village
3- Earthbound versus Humans
4- Xawara and the Falling Sky
5- Perspectivism and onthological inversion
6- Transversal shamanism, dirty or noisy
7- Technoshamanism
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, dizendo que intentam maior liberação dos futuros e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas ideias estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções grandes, em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresenta (no campo da fantasia = real) inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem alguns modelos de trabalho oriundos de práticas tais como Programa Ruidocrático, Sonhos Derivados, Comunidades Oníricas. Cada um deles nos levando para um grau de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva à sociedade de controle e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos.
Afterwards, this text presents a pedagogical equation, in which it defines the onto-political bases that support the text’s propositions, affirming that they are part of the grammar of liberation of the future and of dreams. They are: technoshamanism + ancestor-futurism + network of the unconscious. This is placed before the techno-ideological bases of the society of control, responsible for the hijacking of the future and dreams, that are: technoscience + corporate capitalism + artificial intelligence of God. It’s clear that these equations are in conflict and dispute the network of the unconscious and the future of the Earth. It is suggested that the great ideology of freedom and individuality, promised after the Second World War by the industrial corporations of the allied countries, was a big trap, that culminated in a terrible system of control.
Then the text emphasizes the importance of fiction and its capacity to create worlds, taking it out of the constraints of the symbolical and imaginary universe and introducing it to actual concretization. Fiction is then presented as one of the most powerful instruments for the production of reality, just like hyperstition, which is the capacity to create fictions in groups, and materializing them in reality. Here the text returns to the films, claiming that these fictions present the terrorism of the machine, the cornering that the society of control is imposing on the whole world, at the same time as they present innumerable forms of resistance or escape. Based on this idea of fiction as something determining, the text introduces ancestor-futurism and networks of the unconscious, presenting them as metaphysical projects of forced amplification of our ontological bases and restructuring the idea of communicability between the many unconscious, presenting it as a radical operator of ancestralities and futures between humans and the others (who are not humans, but other entities). Here questions related to spectrality enter, parallel universes of signs that pass through language and invisible fields that are inaccessible with this level of petty consciousness, as Davi Kopenawa demonstrates when he says that white people only dream about themselves and their goods and because of this they don’t see anything and think that everything they don’t see is a lie.
The final part of the text shows dreams as one of the most powerful portals for the rescue of lost ontologies of the past, as well as the production of freer futures. Departing from various references, the text suggests a methodology of treatment/training of dreams, starting from a relation between art and clinical practice. At that point some work methodologies appear, coming from such practices as the noisecratic programme, derived dreams, dream communities, etc. Each of these leads us to a higher degree of understanding about dreams as an onto-political public space, which must be urgently rescued for there to be a possibility for subjective resistance to the terrorism of the machine, and for the liberation of the future to be strengthened through the anti-hijack scheme of dreams, because the freer the dreams, the more capable they are of generating worlds.
This text will cover a small number of ecological, anthropological and philosophical concepts which I will try to delineate clearly, even if they may seem shrouded in mist. For reference I will use such thinkers as Viveiros de Castro, Bruno Latour, Fabián Ludueña, among others. It is important to emphasize that the concept of technoshamanism is open and means many things to many people. This text is only an attempt to bring about a few clarifications in the apparent deadlock between two seemingly opposed forces.
I will divide the text into seven parts:
1- The tragedy of the Guarani Kaiowa
2- The Maracanã Village
3- Earthbound versus Humans
4- Xawara and the Falling Sky
5- Perspectivism and onthological inversion
6- Transversal shamanism, dirty or noisy
7- Technoshamanism
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, afirmando que elas fazem parte da gramática de liberação do futuro e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas equações estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresentam inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem algumas metodologias de trabalho, oriundos de práticas tais como programa ruidocrático, sonhos derivados, comunidades oníricas, etc. Cada um deles nos levando para um grau mais elevado de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, algo que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva ao terrorismo da máquina, e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos, pois quanto mais livres são os sonhos, mais capazes são de gerar mundos.
O nome do livro foi inspirado no evento Submidialogias/201 0, que aconteceu em três cidades do Brasil: Arraial d'Ajuda - Bahia, Baía de Paranaguá - Paraná e Mirinzal - Maranhão. As imagens de Peixe Morto da capa desse livro foi uma convergência performática, onde vários dos participantes do festival se deitaram no chão do mar de Arraial D'ajuda, escrevendo com seus corpos a frase "Peixe Morto".
Os textos são sobre a história da cultura digital brasileira, sobre os festivais de midia como midia tática Brasil, Digitofagia, Submidialogias, sobre questões mais filosóficas como matéria e natureza, ou ainda ecologia digital, tem também reciclagem de computadores, rituais tecnomágicos, sexo na internet, entre outras coisas.
Eu, Carola Gonzáles e Ana Girardello estamos traduzindo o livro de Diana Torres (Pornoterrorismo) para o português, que pretendemos lançar ainda em 2015. As principais linguagens são: escrita, performance, vídeo e intervenção (urbana, pública, em encontros). Os conteúdos ou definições são complexos, mas existe a ideia do desvio do terrorismo político para a sexualidade, apontando ao mesmo tempo uma crítica contra a fabricação de terroristas por parte dos Estados e meios midiáticos, e também uma provocação a sociedade em geral, ao produzir uma sexualidade feminista ativa, agressiva, que relaciona o erotismo com os estados de guerra e de violação com o qual convivemos, para criar tensão e pensamento.
Afora a questão do terrorismo, existe uma busca pela inversão do projeto de mulher produzido pelos homens historicamente, então essas aparições agressivas surpreendem as pessoas, pelo excesso de honestidade e também de diversidade. Um dos trabalhos que mais gosto é quando o pornoterrorismo juntou dezenas de mulheres para se masturbar em praça pública em Barcelona, dizendo que as mulheres deveriam se masturbar do modo como elas faziam sozinhas, e só pararem quando gozassem. Esse ataque estético parece inocente, se não fosse um legítimo terrorismo, já que não se espera que as mulheres se masturbem de modos tão diferentes dos que os propagados pela cena pornográfica heteronormativa. Tem também a questão da vingança histórica, a vingança contra os gozos trancados de suas avós, as que eram subjugadas a uma sexualidade de machos, de modo que conclamam o nome de suas antepassadas e se masturbam ou transam publicamente oferecendo o gozo como uma oferenda. É um sacrifício tudo isso, e uma glória. É uma sexualidade publicizada, na linha da pornografia, mas que trata o gozo de modo feminista, mostrando abertamente erotismos, fetiches, desejos sexuais que não estão protocoladas no cardápio da cena erótica habitual. O lesbianismo, o amor entre mulheres é uma questão preponderante no caso do que conheci na Espanha, que mistura o cuidado e a delicadeza com cenas muito fortes ligadas a perfurações, múltiplas penetrações, bondage, travestimento. Em meio a essa cena lésbica decisiva também tem a produção de grupos heterosexuais, transexuais, trangêneros, queers em geral.
Gosto muito do aspecto colaborativo entre essa rede, os eventos, os encontros, as sex parties. Na verdade isso tudo faz parte de um processo, já que são muitos anos de militância e o movimento foi mudando de cara ao longo de todos esses anos. Hoje em dia as participantes do evento pós pornográfico já atuam em outros espaços da sociedade, seja na arte, na academia, no mercado, elas deixaram um legado potente em literatura, vídeo, mídias para as novas gerações. Algumas delas continuam trabalhando com feminismo, sexualidade de forma muito intensa ainda como o coletivo Post-op que atua com pós pornografia com pessoas com deficiências físicas ou mentais, fazendo projetos de desenvolvimento sexual com elas. Diana Torres que acabou de lançar seu novo livro “Coño Potens” e continua com a mostra marrana (mostra de cinema pós pornográfico), Quimera Rosa que está atuando com body noise e relação transespécie, Maria Llopis que está na campanha e publicação do livro “Maternidade Subversiva”, entre outras não citadas aqui, ou seja, muitas delas continuam super potentes e produzindo materiais relacionados ao pós porno. Beatriz Preciado (agora Paul Beatriz Preciado), é uma grande teórica desse movimento, que inspira muita gente a se aventurar nas delícias da pós pornografia. Ela as vezes tem problemas com ativistas por ser acadêmica, mas ao meu ver é uma das melhores acadêmicas que existem, pois sua vida e seu pensamento se sustentam com sua própria experiência, trazendo à tona vivências pessoais para pensar a sexualidade contemporânea, o que é pouco comum no meio acadêmico. O cricricri dos descontentes é inevitável.