Embora estabeleça em Ser e Tempo o conhecimento como um modo derivado de descerramento em relação... more Embora estabeleça em Ser e Tempo o conhecimento como um modo derivado de descerramento em relação ao ser-no-mundo empenhado na curadoria junto ao ente intramundano, e explique esta derivação como correlata a uma possibilidade de articulação proposicional (61-62), Heidegger também parece postular, ao reivindicar o método fenomenológico da analítica existencial, algum tipo de acesso epistêmico imediato, na ideia de fenômeno como o que se mostra em si mesmo, e não-proposicional, na medida em que não comporta uma descrição por correspondência predicativa mas somente um discurso dito apofântico no sentido de retirar o fenômeno do estrito não mostrar-se, configurado em distorção ou encobrimento, e deixá-lo mostrar-se em si mesmo e por si mesmo (28-38). Parece ser no sentido deste tipo de dado cognitivo peculiar que Heidegger diz que o enunciado não é o lugar da verdade. Mesmo a verdade da sentença dependeria de uma evidência estritamente fenomenal e isenta de bivalência, que não seria mediada por predicações. Podemos ter aqui o núcleo problemático mais profundo daquilo de que Tugendhat apontou o desdobramento ulterior numa trivialização da correção proposicional por parte de Heidegger. É forte a impressão de que o método alegado mistura explicações e explicitações com demonstrações e provas numa só noção epistêmica que daria então autoridade às alegações da própria analítica existencial. Heidegger poderia simplesmente dizer que o descerramento é verdadeiro num sentido diverso daquele da correspondência proposicional entre sentença e estado de coisas, mas parece pretender algo muito mais forte, que o é no sentido de uma evidência que não se deixa articular nos termos de uma tal correspondência. Tais presunções estão radicadas na apropriação de duas noções da fenomenologia de Husserl, a evidência fenomenológica como ato de identificação e a intuição categorial. Pretendo discutir esta apropriação e entender onde exatamente ela pode ter se tornado incontrolável.
Apresentação das considerações do Prefácio da Fenomenologia do Espírito, conforme a ordem de expo... more Apresentação das considerações do Prefácio da Fenomenologia do Espírito, conforme a ordem de exposição do texto. Também tentei suprir o texto com alguma interpretação favorável onde isso ajudasse na compreensão e persuasão. Destinado a quem vai começar a ler o Prefácio ou a quem procura um auxílio para a compreensão de cada parágrafo. Versão revista e acrescida de um resumo do Prefácio da Fenomenologia do Espírito (19/01/2023).
Embora estabeleça em Ser e Tempo o conhecimento como um modo derivado de descerramento em relação... more Embora estabeleça em Ser e Tempo o conhecimento como um modo derivado de descerramento em relação ao ser-no-mundo empenhado na curadoria junto ao ente intramundano, e explique esta derivação como correlata a uma possibilidade de articulação proposicional (61-62), Heidegger também parece postular, ao reivindicar o método fenomenológico da analítica existencial, algum tipo de acesso epistêmico imediato, na ideia de fenômeno como o que se mostra em si mesmo, e não-proposicional, na medida em que não comporta uma descrição por correspondência predicativa mas somente um discurso dito apofântico no sentido de retirar o fenômeno do estrito não mostrar-se, configurado em distorção ou encobrimento, e deixá-lo mostrar-se em si mesmo e por si mesmo (28-38). Parece ser no sentido deste tipo de dado cognitivo peculiar que Heidegger diz que o enunciado não é o lugar da verdade. Mesmo a verdade da sentença dependeria de uma evidência estritamente fenomenal e isenta de bivalência, que não seria mediada por predicações. Podemos ter aqui o núcleo problemático mais profundo daquilo de que Tugendhat apontou o desdobramento ulterior numa trivialização da correção proposicional por parte de Heidegger. É forte a impressão de que o método alegado mistura explicações e explicitações com demonstrações e provas numa só noção epistêmica que daria então autoridade às alegações da própria analítica existencial. Heidegger poderia simplesmente dizer que o descerramento é verdadeiro num sentido diverso daquele da correspondência proposicional entre sentença e estado de coisas, mas parece pretender algo muito mais forte, que o é no sentido de uma evidência que não se deixa articular nos termos de uma tal correspondência. Tais presunções estão radicadas na apropriação de duas noções da fenomenologia de Husserl, a evidência fenomenológica como ato de identificação e a intuição categorial. Pretendo discutir esta apropriação e entender onde exatamente ela pode ter se tornado incontrolável.
Apresentação das considerações do Prefácio da Fenomenologia do Espírito, conforme a ordem de expo... more Apresentação das considerações do Prefácio da Fenomenologia do Espírito, conforme a ordem de exposição do texto. Também tentei suprir o texto com alguma interpretação favorável onde isso ajudasse na compreensão e persuasão. Destinado a quem vai começar a ler o Prefácio ou a quem procura um auxílio para a compreensão de cada parágrafo. Versão revista e acrescida de um resumo do Prefácio da Fenomenologia do Espírito (19/01/2023).
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