Papers by Allende Renck
Revista Lebertinagem, 2019
Em 2018, após um, de alguma sorte extenso, hiato, Lars Von Trier retornou ao Festival de cinema d... more Em 2018, após um, de alguma sorte extenso, hiato, Lars Von Trier retornou ao Festival de cinema de Cannes para apresentar pela primeira vez sua mais nova obra: o filme A casa que Jack construiu; nele, Von Trier empreende, a partir de uma relação deturpada com a psique informe do psicopata protagonista, uma discussão sobre o conceito de arte. Trinta anos antes de Von Trier apresentar essa discussão na sala principal do festival francês, Jacques Derrida publicava na revista italiana Poesie um texto intitulado Che cos'è la poesia? [Que coisa é a Poesia?]. De uma forma bastante tangencial, esses textos-filme e ensaio-tocam no mesmo ponto; debruçam-se sobre a mesma potência, ou melhor, para mantermo-nos no léxico derridiano: rastreiam o mesmo rastro, traçam o mesmo traço. O interessante, de fato, nesse rastreamento é que nem Von Trier nem Derrida pretendem exaurir o tema, mais ainda: eles nos apresentam a arte a priori como algo impossível de ser abordado por inteiro: recorte, montagem, escanção. A questão então se torna: que montagem? Que recorte? Que escanção?-ou seja: Que coisa é a Arte? O filme de Von Trier segue um personagem principal em um diálogo obscuro com um interlocutor desconhecido-que, descobrimos ao longo do filme, se chama Virgílio em uma explícita referência à Divina Comédia de Dante Alighieri-que o guia por um caminho de breu. O protagonista, um psicopata assassino serial que tem incontáveis mortes em sua estória, decide contar a Virgílio o seu conto enquanto o acompanha pelo caminho, feito alguns séculos antes por Dante, do Inferno. Jack-esse é o nome do protagonista-então apresenta a Virgílio, no relato de seus assassinatos, uma teoria da Arte; para Jack-e aqui encontramos a magistral voz do diretor, pois ele coloca recortes de seus antigos filmes na montagem-a morte, mais ainda, o assassinato se iguala à obra de Arte-o que não o retira de uma certa tradição que é melhor representada em Edgar Allan Poe, mas que tem seus fortes reflexos em Charles Baudelaire e muitos outros. Von Trier nos diz: Encontramos Arte em Thanatos e ao fazê-lo nos apresenta um contorno dialético, pois não há Thanatos sem Eros. Destarte, uma questão, que é também uma 1 Professor e Crítico de Arte
Walter Benjamin - Estética, Política, Literatura e Psicanálise, 2018
RESUMO: Em um texto de 1933, A doutrina das semelhanças, Walter Benjamin avança o pensamento sobr... more RESUMO: Em um texto de 1933, A doutrina das semelhanças, Walter Benjamin avança o pensamento sobre a faculdade mimética, com este conceito Benjamin traçava a possível relação-talvez mágica em suas palavras-entre a clarividência e a linguagem. Para o filósofo, a maior das potências contida na faculdade mimética era o que ele nomeava como "semelhança não-sensível", que se significava na visão de que "a linguagem seria a mais alta aplicação da faculdade mimética: um médium em que as faculdades primitivas de percepção do semelhante penetraram tão completamente, que ela se converteu no médium em que as coisas se encontram e se relacionam, não diretamente, como antes, no espírito do vidente ou do sacerdote, mas em suas essências, nas substâncias mais fugazes e delicadas, nos próprios aromas." 1. Em seu livro publicado em 2015, Bad New Days, no capítulo MIMÉTICO, o teórico de arte americano Hal Foster tenta, ao retornar ao conceito de mimese caustica de Hugo Ball em conversa com a teoria benjaminiana e a psicanálise de Jacques Lacan, pensar um conceito de mimético que veja a representação artística como uma mimese do real, ou seja, que veja a arte crítica como uma linguagem de semelhança não-sensível, algo além que, por sua vez, expusesse as rachaduras e buracos na estrutura da ordem simbólica. Partindo dessa renovação do conceito de mimese por Foster e de sua conversa com a teoria política e estética de Benjamin, a comunicação aqui proposta pretende ler algumas obras do artista brasileiro Nuno Ramos como uma instância mimética do real da violência na política brasileira e uma exposição das rachaduras na ordem simbólica do contemporâneo no país. Tentando assim desenvolver uma leitura da obra de arte como crítica fundamental para desvelar a potência de criação do pensamento.
PUNCTUM, 2017
RESUMO: A proposta dessa comunicação oral é fazer uma relação entre a última obra cinematográfica... more RESUMO: A proposta dessa comunicação oral é fazer uma relação entre a última obra cinematográfica do cineasta Paul Verhoeven, intitulada "Elle", com a ideia de interdição e transgressão que o filósofo francês Georges Bataille desenvolveu em sua obra "O Erotismo". No filme, a atriz Isabelle Huppert, que representa uma executiva-chefe de uma empresa de videogames chamada Michèlle, tem sua rotina quebrada ao ser estuprada (na primeira cena da trama) por um desconhecido dentro de sua própria casa. A personagem, no entanto, ao invés de recorrer ao que poderia chamar de comum em tal situação e prestar queixa com as autoridades, decide que não se abalará com o ataque e acaba por descobrir quem a atacou, e subsequentemente desenvolve uma relação problemática com o seu agressor que põe em jogo a questão entre o erotismo e a interdição. A proposta do filme e a relação que a personagem de Huppert desenvolve com quem a atacou podem ser lidas como ecos da relação que o filósofo francês traçou entre o interdito e a transgressão em sua obra. PALAVRAS-CHAVE: Elle. O Erotismo. Paul Verhoeven. Geroges Bataille.
RESUMO: O presente ensaio pretende pôr em questão o termo " Ornamental " quando empregado na teor... more RESUMO: O presente ensaio pretende pôr em questão o termo " Ornamental " quando empregado na teoria artística e a forma como a arte interage com esse termo no correr do tempo. Coloca-se, portanto, aqui, a natureza polêmica da arte e discutisse o porquê da impossibilidade de realização do paradoxo " arte ornamental ". Tendo em vista que o que polemiza (a arte), age e o que ornamenta, não. ABSTRACT: This essay aims to question the term "ornament " when employed in artistic theory and how art interacts with said term over time. The polemic nature of art is brought to light and therefore is discussed why is impossible to produce the oxymoron " ornamental art " , being that what polemicizes (art) act and what ornament, doesn't.
Conference Presentations by Allende Renck
CONGRESSO APA - 2019, 2019
O dia 20 de janeiro de 2017 se fez um dia histórico. A começar, esse dia marcou a concretização d... more O dia 20 de janeiro de 2017 se fez um dia histórico. A começar, esse dia marcou a concretização do que até aquele momento era o mais cristalizado sintoma da patologia social que assola a sociedade contemporânea-a saber: a posse de Donald Trump. No entanto, o que fez do dia 20 de janeiro de 2017 um dia histórico não foi a posse do quadragésimo quinto presidente dos Estados Unidos da América, mas sim a resposta, bastante contundente, que essa mesma posse recebeu nas ruas do mundo. Grosso modo, é sobre essa resposta que me proponho a falar aqui hoje. O dia 20 de janeiro toma um novo significado social, um significado ritualístico poderíamos dizer, de um factual ritual político a partir mesmo desse ano de 2017, pois em dado ano, ele marcava simultaneamente a data da inauguração de Trump em gabinete e o dia em que foi lançada a primeira Women's March. A iniciativa Women´s March baseava-se em uma premissa bastante simples: mulheres marchando por assuntos que lhes interessavam e contra o que lhes preocupava. Na passeata, que ao longo do mundo reuniu mais de um milhão de pessoas com bastante folga numeral poderíamos afirmar, podia-se observar várias placas e sinais que afirmavam a discordância das pessoas presentes com atitudes que o presidente, então em sua cerimônia de posse, havia tomado durante a corrida eleitoral. Mas talvez a fala mais poderosa tenha vindo de uma mulher que, por uma sorte qualquer, não estava em solo ianque no momento em que a enunciou. A poeta Anne Waldman estava, no dia 20 de janeiro de 2017, cantando alguns de seus poemas na feira literária de Jaipur, na Índia, e no meio da canção de seu Anthropocene Blues parou e disse: "a linguagem não pode ser ameaçada". Um ano depois, Waldman reafirmaria seu comprometimento com a resistência da linguagem ao cantar seus poemas em um evento artístico em Nova Iorque-agora sim fazendo parte da Women's March em solo estadunidense. A segunda edição da marcha das mulheres contou com uma nova iniciativa da comunidade artística estadunidense; seu nome: Art is essential to Democracy [Arte é essencial para Democracia]. A iniciativa atraiu um sem número de artistas por todo o país
Pasolini e o Mito, 2018
A partir da invenção de um diálogo entre Pier Paolo Pasolini, Antônio Gramsci e Walter Benjamin, ... more A partir da invenção de um diálogo entre Pier Paolo Pasolini, Antônio Gramsci e Walter Benjamin, intenta-se nesse breve ensaio propor um pensamento que insira a potência revolucionária do Mito na História.
Semana Pós-Graduação Literatura UFSC, 2018
RESUMO: O título do VII seminário de pesquisa da pós-graduação em literatura da Universidade Fede... more RESUMO: O título do VII seminário de pesquisa da pós-graduação em literatura da Universidade Federal de Santa Catarina é bastante sintomático "De todos os museus, o fogo" e é a partir dele que me disponho, aqui, a pensar. A presente proposta de comunicação pretende colocar em jogo a ideia de ruína pensada por Walter Benjamin frente ao pensamento da higienização fascista. Para isso, faz-se um retorno ao clamor de Viveiros de Castro para que se mantenha a ruína do museu nacional do Brasil queimado, e a contrapõe justamente com a ideia de que há um desejo do poder de renovar aquele espaço. A ideia de uma renovação do espaço de ruína do museu nacional é uma que avança o apagar da história, avança um espectro de limpeza. A isso se soma a afirmação de Jair Bolsonaro "Haverá uma limpeza como nunca antes..." ao se referir ao apagamento de militantes no país. De todos os museus, o fogo é o único que preserva em si a potência de arruinar. O fogo é luz que destrói, aponta a barbárie. Pensemos com Walter Benjamin em Experiência e Pobreza: o barbarismo positivo é aquele que pensa a potência de criação na ruína e, assim, sobrevive à civilização. Hoje só o fogo faz (sobre)viver.
SEMANA DE LETRAS - UFSC , 2017
Em 2006, a professora Maria Lúcia de Barros Camargo, em seu ensaio intitulado Do fim do poema à i... more Em 2006, a professora Maria Lúcia de Barros Camargo, em seu ensaio intitulado Do fim do poema à ideia de prosa: para reler Ana Cristina Cesar, trouxe, logo no primeiro parágrafo, uma consonância com o pensamento aqui intentado: "Falar de Ana Cristina Cesar é falar de uma escrita que se constrói como jogo de múltiplos ocultamentos, que toca no limite entre a confissão da intimidade e a literatura, fazendo da confissão a ficção; é falar de uma escrita que olha de viés seu próprio tempo e dialoga criticamente com seus contemporâneos, deixando rastros indeléveis" (CAMARGO, 2006, p 75) A ideia de que Ana Cristina Cesar possui uma poética que dialoga e critica sua contemporaneidade é fortemente reforçada pela presença, em sua poética, de uma obra como A teus pés, um livro que é tão rico em temas que consegue discorrer sobre a necessidade de movimento ao estar parado (dentro do primeiro e longo poema, sintomaticamente sem título) em um momento político em que a voz (e o movimento) era cortada da população. Consegue, em vários momentos, fazer um intenso comentário na situação da mulher na história como um todo. Consegue ser político e ser (aparentemente) alienado de questões puramente sociais. A teus pés pode ser lido como um livro-modelo, em que Ana Cristina Cesar expressa melhor seu alcance poético, em um número de motivos. Os motivos se multiplicam, até mesmo o sujeito poético se multiplica, se desdobra (para usar termo caro a Deleuze, ao qual retornarei). Ana consegue sintetizar (ou seria expandir?) aquilo que fala tão claramente já em sua Correspondência completa e que foi tão bem lido por Silviano Santiago em seu ensaio Singular e Anônimo: A poesia nunca se faz unilateralmente, não podemos ser (só) Mary, não podemos ser (só) Gil, temos de ser Mary e Gil, pois que a ficção é confissão e a confissão é ficção (como tão sabiamente nos disse a professora Camargo). No presente ensaio pretendo fazer uma leitura do livro A teus pés de Ana Cristina Cesar que ecoe alguns desses vários motivos imaginados pela autora.
SEMANA DE LETRAS - UFSC , 2017
A comunicação oral aqui proposta tem o objetivo de desvelar uma relação de conversa entre o conto... more A comunicação oral aqui proposta tem o objetivo de desvelar uma relação de conversa entre o conto: As queridas velhinhas do autor brasileiro (nascido no Libano) Salim Miguel e a ideia que o filósofo francês (nascido na Argélia) Jacques Derrida desenvolveu em sua obra sobre o rastro. No conto, duas senhoras gêmeas, que nasceram, cresceram e se desenvolveram durante sua vida inteira na mesma cidade, morrem e são (re)lembradas e (re)construídas pela voz dos moradores da cidade em uma tapeçaria de correlatos memorialísticos. A proposta do conto pode ser lida como um eco de algumas das ideias propostas por Derrida em sua obra; construindo com esta uma relação dialógica certamente interessante. Partindo dessa ideia de diálogo entre esses autores de dupla nacionalidade, o presente trabalho se vale de um pensamento sobre rastro e memória em Jacques Derrida para pensar a morte dessas personagens do conto As queridas velhinhas como rastro e memória em Salim Miguel.
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