Papers by Erika G Peixoto
Perspectivas, v. 3 n. 1 (2018), dez. 2019. ISSN: 2448-2390. Disponível em:https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/perspectivas/issue/view/366., 2019
Resumo: A partir das premissas lançadas por Michel Foucault nos cursos do Collège de France de 19... more Resumo: A partir das premissas lançadas por Michel Foucault nos cursos do Collège de France de 1975-1976, intitulado Em defesa da sociedade, esse artigo pretende pensar o papel da guerra civil na sociedade hodierna. Ao propor a guerra como princípio basilar das relações de poder, Foucault revela a confluência paradoxal entre a guerra civil e uma espécie de estatização do biológico, o que ele denominou de biopolítica da espécie humana. De modo similar, o autor italiano Giorgio Agamben lança em 2015 a obra Stasis. La guerra civile come paradigma político, e assevera como a guerra civil se transformou em um limiar de politização fundamental no Ocidente. Palavras-chaves: guerra civil; biopolítica; inimigo. Abstract: From the premises launched by Michel Foucault in the Collège de France courses of 1975-1976, entitled In Defense of Society, this article intends to think about the role of civil war in today's society. In proposing war as the basic principle of power relations, Foucault reveals the paradoxical confluence between civil war and a kind of nationalization of the biological, which he called the biopolitics of the human species. Similarly, the Italian author Giorgio Agamben launches in 2015 the work Stasis. La guerra civile come paradigma político, and asserts how civil war has become a fundamental politicizing threshold in the West.
O presente trabalho é dedicado à investigação de uma das últimas obras do pensador italiano Giorg... more O presente trabalho é dedicado à investigação de uma das últimas obras do pensador italiano Giorgio Agamben. Fruto de dois seminários realizados na universidade de Princeton em 2001 sobre a guerra civil, Agamben lança em 2015 Stasis: a guerra civil como paradigma político,
(Homo sacer II, 2). Definida como a terceiro obra da série Homo sacer, a obra foi posicionada ao lado do Estado de exceção (Homo sacer II, 1), o que não pode ser encarado, na minha
interpretação, como mero acaso ou formalidade, mas demarca a importância desse texto para a
compreensão da crítica jurídico-política do autor. Trata-se de um texto dividido em duas partes; a primeira, dedicada a compreensão da Stasis na Grécia antiga, a partir dos estudos realizados por Nicole Loraux; a segunda parte, centrada na crítica ao pensamento de Hobbes, Agamben
aponta o problema da guerra civil como ponto nodal da fundação do Estado moderno. Partindo dessa perspectiva, nosso intuito, é explicitar o embate realizado pelo autor italiano. Assim como, a sua crítica a teoria moderna de soberania e suas conexões e correlações com a teologia cristã. Na acepção agambeniana, o paradigma stasiológico é singular para compreender tal relação. Além disso, sinaliza, a guerra civil como parte constitutiva do próprio Estado e, por conseguinte, do projeto de governamentalidade da vida em curso.
RESUMO
Essa pesquisa se propõe a elucidar o paradigma do estado de exceção, bem como a sua relaçã... more RESUMO
Essa pesquisa se propõe a elucidar o paradigma do estado de exceção, bem como a sua relação
com a vida humana, dentro da obra do pensador italiano Giorgio Agamben. Percorremos o
caminho traçado pelo autor nas três primeiras obras da série Homo sacer, onde denuncia o
processo de apropriação da vida posta em prática através das mais sofisticadas técnicas políticas
e desvela como a vida biológica está no centro dos cálculos do poder. Inicialmente ilustraremos
as influencias filosóficas de Michel Foucault, e sua perspectiva biopolítica em confronto com
a análise do autor italiano. De forma diversa de Foucault, Agamben, se propõe a analisar o
estatuto do poder soberano em relação à norma jurídica, procurando estabelecer suas
contradições e questionar os limites da estrutura jurídico-política originária do Ocidente, sob
uma ótica que busca reconhecer a inserção da vida humana nessa esfera. O autor italiano através
das reflexões do jurista alemão Carl Schmitt, revela o paradoxo da soberania e a relação oculta
existente entre norma e anomia. Posteriormente, buscamos esclarecer o caráter paradigmático
do estado de exceção. Em um intermitente diálogo entre Schmitt e o filósofo alemão Walter
Benjamin fica patente a relação existente entre violência e a exceção soberana. Utilizando-se
da locução “intima solidariedade” Agamben reconhece pontos de ligação entre as práticas de
exceção dos regimes totalitárias do século XX, o nazismo e o fascismo, e os métodos utilizados
nos regimes democráticos contemporâneos. A partir da tese benjaminiana, compreende como
o estado de exceção não é apenas uma experiência isolada na história humana, mas é então
concebida como uma técnica de governo, cada vez mais utilizada, como uma prática não
declarada de muitos governos. A noção de segurança tomou conta do Estado, transformandose
em uma prerrogativa utilizada por muitos governos democráticos para operarem sem limites
práticas de exceção. De forma conclusiva, o trabalho se adentra na perspectiva apresentada pelo
autor sobre a stasis, na experiência clássica e na modernidade. O paradigma da stasis é deste
modo singular para compreender a relação de politização da vida, que acompanha a
despolitização da cidadania, bem como a estrutura de exceção implícita na ordem moderna. A
guerra civil é uma prática estatal, como uma estrutura análoga ao estado de natureza, mas que
persiste dentro da cidade. Para Agamben, a forma que a guerra civil assume durante o estado
de exceção é de indiscernibilidade, entre estado de natureza e estado de direito, deste modo a
vida enquanto tal é posta na base do poder soberano.
Palavras-chave: Biopolítica. Vida nua. Estado de exceção. Segurança. Guerra civil;
A recente obra Uso do Corpos [Homo sacer, IV, 2], lançada pelo autor Giorgio
Agamben em 2014, tra... more A recente obra Uso do Corpos [Homo sacer, IV, 2], lançada pelo autor Giorgio
Agamben em 2014, traz à tona uma série de conceitos como a noção de uso, de inoperosidade
e de forma-de-vida. Porém, diferente de outras obras apresentadas pelo autor italiano, agora
esses conceitos se entrelaçam e sinalizam para uma forma de fuga ao domínio exercido pelo
biopoder. Ou melhor, para a possibilidade de desativação da máquina antropológica que se
estabeleceu no Ocidente, e desde então, governa nossa concepção de humanidade. Nesse
sentido, o presente artigo pretende evidenciar como é possível a desativação dos dispositivos
de poder, e assim, romper com a estrutura da exceção, da exclusão-inclusiva que politizou a
vida humana desde os tempos mais remotos. De tal modo, que seja possível recompor a vida
humana, afim de pensar uma nova forma-de-vida, uma vida que não se separa da sua forma.
LEVIATÃ E BEHEMOTH – GIORGIO AGAMBEN, 2018
Tradução de Leviatano e Behemoth. Segundo capítulo de: AGAMBEN, Giorgio.
Stasis: La guerra civile... more Tradução de Leviatano e Behemoth. Segundo capítulo de: AGAMBEN, Giorgio.
Stasis: La guerra civile come paradigma politico. Homo sacer , II, 2. Torino: Bollati Boringhieri Editore, p. 31-77, 2015
Book Reviews by Erika G Peixoto
Recensione dell'opera di Agamben, Stasis. La guerra civile come paradigma politico. Homo sacer II... more Recensione dell'opera di Agamben, Stasis. La guerra civile come paradigma politico. Homo sacer II, 2 in Id., Homo sacer. Edizione integrale (1995-2015), Quodlibet, Macerata 2018, pp. 251-310, € 59.50, ISBN 9788822900944 Erika Peixoto, Universidade do Vale do Rio-Università degli Studi di Padova.
Recensione dell'opera de Giorgio Agamben, Il Regno e il Giardino, Neri Pozza, Verona 2019, pp. 12... more Recensione dell'opera de Giorgio Agamben, Il Regno e il Giardino, Neri Pozza, Verona 2019, pp. 128, € 14.50, ISBN 9788854518575 Erika Peixoto, Universidade do Vale do Rio Sinos – Università degli Studi di Padova
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(Homo sacer II, 2). Definida como a terceiro obra da série Homo sacer, a obra foi posicionada ao lado do Estado de exceção (Homo sacer II, 1), o que não pode ser encarado, na minha
interpretação, como mero acaso ou formalidade, mas demarca a importância desse texto para a
compreensão da crítica jurídico-política do autor. Trata-se de um texto dividido em duas partes; a primeira, dedicada a compreensão da Stasis na Grécia antiga, a partir dos estudos realizados por Nicole Loraux; a segunda parte, centrada na crítica ao pensamento de Hobbes, Agamben
aponta o problema da guerra civil como ponto nodal da fundação do Estado moderno. Partindo dessa perspectiva, nosso intuito, é explicitar o embate realizado pelo autor italiano. Assim como, a sua crítica a teoria moderna de soberania e suas conexões e correlações com a teologia cristã. Na acepção agambeniana, o paradigma stasiológico é singular para compreender tal relação. Além disso, sinaliza, a guerra civil como parte constitutiva do próprio Estado e, por conseguinte, do projeto de governamentalidade da vida em curso.
Essa pesquisa se propõe a elucidar o paradigma do estado de exceção, bem como a sua relação
com a vida humana, dentro da obra do pensador italiano Giorgio Agamben. Percorremos o
caminho traçado pelo autor nas três primeiras obras da série Homo sacer, onde denuncia o
processo de apropriação da vida posta em prática através das mais sofisticadas técnicas políticas
e desvela como a vida biológica está no centro dos cálculos do poder. Inicialmente ilustraremos
as influencias filosóficas de Michel Foucault, e sua perspectiva biopolítica em confronto com
a análise do autor italiano. De forma diversa de Foucault, Agamben, se propõe a analisar o
estatuto do poder soberano em relação à norma jurídica, procurando estabelecer suas
contradições e questionar os limites da estrutura jurídico-política originária do Ocidente, sob
uma ótica que busca reconhecer a inserção da vida humana nessa esfera. O autor italiano através
das reflexões do jurista alemão Carl Schmitt, revela o paradoxo da soberania e a relação oculta
existente entre norma e anomia. Posteriormente, buscamos esclarecer o caráter paradigmático
do estado de exceção. Em um intermitente diálogo entre Schmitt e o filósofo alemão Walter
Benjamin fica patente a relação existente entre violência e a exceção soberana. Utilizando-se
da locução “intima solidariedade” Agamben reconhece pontos de ligação entre as práticas de
exceção dos regimes totalitárias do século XX, o nazismo e o fascismo, e os métodos utilizados
nos regimes democráticos contemporâneos. A partir da tese benjaminiana, compreende como
o estado de exceção não é apenas uma experiência isolada na história humana, mas é então
concebida como uma técnica de governo, cada vez mais utilizada, como uma prática não
declarada de muitos governos. A noção de segurança tomou conta do Estado, transformandose
em uma prerrogativa utilizada por muitos governos democráticos para operarem sem limites
práticas de exceção. De forma conclusiva, o trabalho se adentra na perspectiva apresentada pelo
autor sobre a stasis, na experiência clássica e na modernidade. O paradigma da stasis é deste
modo singular para compreender a relação de politização da vida, que acompanha a
despolitização da cidadania, bem como a estrutura de exceção implícita na ordem moderna. A
guerra civil é uma prática estatal, como uma estrutura análoga ao estado de natureza, mas que
persiste dentro da cidade. Para Agamben, a forma que a guerra civil assume durante o estado
de exceção é de indiscernibilidade, entre estado de natureza e estado de direito, deste modo a
vida enquanto tal é posta na base do poder soberano.
Palavras-chave: Biopolítica. Vida nua. Estado de exceção. Segurança. Guerra civil;
Agamben em 2014, traz à tona uma série de conceitos como a noção de uso, de inoperosidade
e de forma-de-vida. Porém, diferente de outras obras apresentadas pelo autor italiano, agora
esses conceitos se entrelaçam e sinalizam para uma forma de fuga ao domínio exercido pelo
biopoder. Ou melhor, para a possibilidade de desativação da máquina antropológica que se
estabeleceu no Ocidente, e desde então, governa nossa concepção de humanidade. Nesse
sentido, o presente artigo pretende evidenciar como é possível a desativação dos dispositivos
de poder, e assim, romper com a estrutura da exceção, da exclusão-inclusiva que politizou a
vida humana desde os tempos mais remotos. De tal modo, que seja possível recompor a vida
humana, afim de pensar uma nova forma-de-vida, uma vida que não se separa da sua forma.
Stasis: La guerra civile come paradigma politico. Homo sacer , II, 2. Torino: Bollati Boringhieri Editore, p. 31-77, 2015
Book Reviews by Erika G Peixoto
(Homo sacer II, 2). Definida como a terceiro obra da série Homo sacer, a obra foi posicionada ao lado do Estado de exceção (Homo sacer II, 1), o que não pode ser encarado, na minha
interpretação, como mero acaso ou formalidade, mas demarca a importância desse texto para a
compreensão da crítica jurídico-política do autor. Trata-se de um texto dividido em duas partes; a primeira, dedicada a compreensão da Stasis na Grécia antiga, a partir dos estudos realizados por Nicole Loraux; a segunda parte, centrada na crítica ao pensamento de Hobbes, Agamben
aponta o problema da guerra civil como ponto nodal da fundação do Estado moderno. Partindo dessa perspectiva, nosso intuito, é explicitar o embate realizado pelo autor italiano. Assim como, a sua crítica a teoria moderna de soberania e suas conexões e correlações com a teologia cristã. Na acepção agambeniana, o paradigma stasiológico é singular para compreender tal relação. Além disso, sinaliza, a guerra civil como parte constitutiva do próprio Estado e, por conseguinte, do projeto de governamentalidade da vida em curso.
Essa pesquisa se propõe a elucidar o paradigma do estado de exceção, bem como a sua relação
com a vida humana, dentro da obra do pensador italiano Giorgio Agamben. Percorremos o
caminho traçado pelo autor nas três primeiras obras da série Homo sacer, onde denuncia o
processo de apropriação da vida posta em prática através das mais sofisticadas técnicas políticas
e desvela como a vida biológica está no centro dos cálculos do poder. Inicialmente ilustraremos
as influencias filosóficas de Michel Foucault, e sua perspectiva biopolítica em confronto com
a análise do autor italiano. De forma diversa de Foucault, Agamben, se propõe a analisar o
estatuto do poder soberano em relação à norma jurídica, procurando estabelecer suas
contradições e questionar os limites da estrutura jurídico-política originária do Ocidente, sob
uma ótica que busca reconhecer a inserção da vida humana nessa esfera. O autor italiano através
das reflexões do jurista alemão Carl Schmitt, revela o paradoxo da soberania e a relação oculta
existente entre norma e anomia. Posteriormente, buscamos esclarecer o caráter paradigmático
do estado de exceção. Em um intermitente diálogo entre Schmitt e o filósofo alemão Walter
Benjamin fica patente a relação existente entre violência e a exceção soberana. Utilizando-se
da locução “intima solidariedade” Agamben reconhece pontos de ligação entre as práticas de
exceção dos regimes totalitárias do século XX, o nazismo e o fascismo, e os métodos utilizados
nos regimes democráticos contemporâneos. A partir da tese benjaminiana, compreende como
o estado de exceção não é apenas uma experiência isolada na história humana, mas é então
concebida como uma técnica de governo, cada vez mais utilizada, como uma prática não
declarada de muitos governos. A noção de segurança tomou conta do Estado, transformandose
em uma prerrogativa utilizada por muitos governos democráticos para operarem sem limites
práticas de exceção. De forma conclusiva, o trabalho se adentra na perspectiva apresentada pelo
autor sobre a stasis, na experiência clássica e na modernidade. O paradigma da stasis é deste
modo singular para compreender a relação de politização da vida, que acompanha a
despolitização da cidadania, bem como a estrutura de exceção implícita na ordem moderna. A
guerra civil é uma prática estatal, como uma estrutura análoga ao estado de natureza, mas que
persiste dentro da cidade. Para Agamben, a forma que a guerra civil assume durante o estado
de exceção é de indiscernibilidade, entre estado de natureza e estado de direito, deste modo a
vida enquanto tal é posta na base do poder soberano.
Palavras-chave: Biopolítica. Vida nua. Estado de exceção. Segurança. Guerra civil;
Agamben em 2014, traz à tona uma série de conceitos como a noção de uso, de inoperosidade
e de forma-de-vida. Porém, diferente de outras obras apresentadas pelo autor italiano, agora
esses conceitos se entrelaçam e sinalizam para uma forma de fuga ao domínio exercido pelo
biopoder. Ou melhor, para a possibilidade de desativação da máquina antropológica que se
estabeleceu no Ocidente, e desde então, governa nossa concepção de humanidade. Nesse
sentido, o presente artigo pretende evidenciar como é possível a desativação dos dispositivos
de poder, e assim, romper com a estrutura da exceção, da exclusão-inclusiva que politizou a
vida humana desde os tempos mais remotos. De tal modo, que seja possível recompor a vida
humana, afim de pensar uma nova forma-de-vida, uma vida que não se separa da sua forma.
Stasis: La guerra civile come paradigma politico. Homo sacer , II, 2. Torino: Bollati Boringhieri Editore, p. 31-77, 2015