Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Daniela Chiaretti, De São Paulo — Valor


O Brasil corre o risco de desproteger 167 milhões de hectares de vegetação nativa. A área corresponde a 20% do território brasileiro ou três vezes o Estado da Bahia. A ameaça de se permitir um desmatamento dessa dimensão está contida em projeto de lei dos senadores Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) e Márcio Bittar (MDB/AC). Com três artigos, o texto revoga a obrigatoriedade de se manter parte da vegetação nativa nas propriedades rurais, a chamada "reserva legal".

A análise numérica e os impactos do PL 2362/2019 foram feitos pelo engenheiro agrônomo Gerd Sparovek, professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador do GeoLab, renomado laboratório de geoprocessamento da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Sparovek usou em seu trabalho cerca de 25 referências de pesquisadores publicadas nas mais importantes revistas científicas do mundo.

Autor — Foto: Legenda
Autor — Foto: Legenda

A reserva legal é uma área de vegetação nativa que deve ser mantida por lei no imóvel rural. O conceito existe desde 1934, com o primeiro Código Florestal. Na edição atual do código, de 2012, ficou estabelecido que se deve manter, na Amazônia, 80% da área de florestas e, no cerrado, 35%. Nas demais regiões, o percentual é de 20%.

É isso que a proposta dos dois senadores quer eliminar e "garantir o direito constitucional de propriedade". A proposta se fundamenta na constatação de que o país "é um dos que mais preservam sua vegetação no mundo". Depois assume tom contundente: "Nenhuma outra nação pode dar receitas prontas de conservação".

O primeiro parágrafo do PL de Bolsonaro e Bittar termina com a mensagem que sugere uma conspiração internacional contra o Brasil: "Não há pertinência no clamor ecológico fabricado artificialmente por europeus, norte-americanos e canadenses e imposto ao país e a seus produtores rurais, chegando a determinar, segundo interesses políticos e comerciais estrangeiros, o rumo de nossa produção, desenvolvimento e legislação ambiental".

O Brasil tem 63% de suas terras cobertas por florestas. Há vários outros com mais cobertura vegetal em proporção ao território. O Brasil ocupa a 20ª posição segundo a IUCN e o MapBiomas, especializadas no tema. "A proteção de florestas no país é comparável a diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento, e a ocupação de sua área agrícola segue a média mundial", diz Sparovek. "Em relação a estes dois aspectos, o Brasil não representa exceção."

A revisão do Código Florestal foi intensamente discutida em 2012. Na ocasião, segundo cálculos de pesquisadores citados por Sparovek, as exigências para a reserva legal foram reduzidas - seriam 203 milhões de hectares, mas se tornaram 167 milhões de hectares. "A redução de exigência de reserva legal visando assegurar a produção já foi feita", diz a análise.

O pesquisador lembra que o Código Florestal não restringe as reservas legais a áreas voltadas apenas à proteção. É possível recompor o que se perdeu de vegetação nativa com o plantio intercalado com exóticas e frutíferas. Ou seja, na recomposição das reservas legais permite-se a introdução de eucalipto ou pinus, a produção de borracha e frutas. Essas opções econômicas permitem a geração de renda em 50% das reservas legais a serem regularizadas.

A maior parte das áreas de vegetação que poderiam ser desmatadas com a proposta dos dois senadores é de baixa aptidão agrícola, segue ele. "São áreas onde o solo é ruim, o clima ou a topografia não são adequados e podem não interessar a quem produz com alta tecnologia", diz Sparovek.

O Código Florestal diz que a reserva legal deve ser mantida além das áreas de preservação permanente (APPs), que são as áreas verdes ao longo dos rios, no topo de morros e que protegem as nascentes. O PL dos dois senadores quer manter apenas as APPs.

A análise de Sparovek contrapõe a tese de que é preciso eliminar a obrigatoriedade da reserva legal para abrir espaço à produção agropecuária. "A forma tradicional como se expande a fronteira agropecuária no Brasil indica o oposto", diz. "Proprietários rurais, naturalmente, ocupam primeiro as melhores terras de uma região e também abrem nas fazendas as melhores áreas", diz. "Por que um produtor rural abriria sua fazenda nas piores terras e deixaria a vegetação natural nas áreas mais aptas para a agricultura?" questiona ele.

"O desmatamento nas reservas legais resultaria na perda do bem natural e dos serviços ecossistêmicos, sem possibilitar sua conversão para uso agrícola de alta tecnologia", conclui. As áreas correm o risco de serem desmatadas para dar lugar a pastos extensivos que degradariam em "menos de uma década", estima.

O senador Bittar apresentou seu projeto (PLS 1.551/19) em 19 de março, sem coautor. O texto foi encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O relator era o senador Fabiano Contarato (Rede-ES). Depois, contudo, quando Flávio Bolsonaro decidiu pela coautoria, o projeto ganhou nova numeração e novo relator, que passou a ser o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).

Mais recente Próxima

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Ex-presidente está desde quinta-feira em um hospital de Montevidéu e os médicos dizem que ele deverá permanecer no local “por mais alguns dias”.

Internado, Mujica passa por procedimento cirúrgico ligado a efeitos colaterais de radioterapia

Ministra acompanhou hoje o desfile em comemoração ao Dia da Independência em Brasília

Bandeira do Brasil não tem partido e nem dono, diz Tebet

Ministro diz que colega na Corte "tem a coragem e a independência necessárias para fazer o certo"

Dino defende Moraes, alvo de protesto, em post nas redes sociais

Candidato do PSOL a prefeito de São Paulo participou de caminhada no bairro de Heliópolis

Boulos promete investir em moradia e fazer ‘maior regularização fundiária da cidade’

Ministério das Relações Exteriores divulgou nota oficial em que declara a surpresa do governo brasileiro diante da revogação unilateral de Maduro

Itamaraty informa que Brasil manterá custódia de embaixada na Venezuela até que Argentina designe outro país

Demitido na noite desta sexta-feira (6), o ex-ministro terá que prestar esclarecimentos à Controladoria-Geral da União (CGU), Advocacia-Geral da União (AGU), Comissão de Ética e Polícia Federal (PF)

Silvio Almeida: Próximos passos da investigação sobre denúncias de assédio sexual

Vega é formado em engenharia de produção pela Universidad Simón Bolívar, com MBA em finanças e economia pela University of Chicago

Fotografia do alinhamento das cúpulas dos três Poderes vinha sendo articulada pelo presidente da República com as autoridades nos últimos dias

ANÁLISE: Lula reúne Moraes, Barroso e Pacheco no 7 de Setembro em contraponto ao ato de Bolsonaro na Paulista

Placar foi de seis votos a cinco e prevaleceu o entendimento da relatora, ministra Cármen Lúcia

STF: Instituições financeiras devem fornecer dados de clientes ao Fisco

A entidade que representa empresas de óleo e gás anunciou o nome de Claudio Fontes Nunes no lugar de Julio Moreira

IBP tem novo diretor-executivo de E&P