AS ESTRATÉGIAS E TENDÊNCIAS DAS SALAS DE EXIBIÇÃO NO BRASIL
Priscila Silva Esteves1
Leandro Maurício Medeiros Vieira2
Marcos Ferasso3
RESUMO
O presente trabalho estuda o panorama atual das salas de exibição no Brasil,
fazendo uma análise histórica sobre a evolução deste mercado, o crescimento do
número de salas e o aumento do público espectador, principalmente na última
década. O estudo tem foco na nova tendência das salas de exibição atuais, que
buscam concentrar seus esforços em atributos específicos que antes eram deixados
de lado pelas empresas do ramo. Para uma análise mais profunda sobre a
estratégia adotada por essas organizações, esta pesquisa tomou como base os
conceitos abordados pelo autor Michael Porter em seus livros sobre estratégia
empresarial.
Palavras chave: Cinema; mercado exibidor; estratégia
ABSTRACT
This paper studies the present scenario of cinema rooms in Brazil, making na
historical analysis about this Market evolution, the growth in room numbers and
spectators, mainly in the last decade. The study focuses in specific attributes that
were not considered by the enterprises in the sector. For a deeper analysis about the
adopted strategy by these firms, this research was based in concept from Michael
Porter´s books related to business strategy.
Key words: Cinema; exhibition market; strategy
Possui Doutorado em Administração (Marketing) pelo PPGA/UFRGS, Mestrado em Administração
(Marketing) pelo PPGA/UFRGS, Especialização em Pedagogia Empresarial pela ESAB (Escola
Superior Aberta do Brasil), Extensão em Formação Pedagógica (Feevale) e Graduação em
Administração de Empresas pela UFRGS. Atualmente, é professora do câmpus Viamão e
coordenadora do Curso Técnico em Serviços Públicos. E-mail: priesteves@gmail.com
2 Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Certificado em
Empreendedorismo pela Harvard Business School. Tem MBA em Marketing, pelo Instituto Português
de Administração e Marketing (IPAM). Administrador de Empresas pela UFPB e bacharel em Direito
pelo UNIPÊ. E-mail: leandro@administradores.com.br
3 Bacharel em Administração (2002) e Especialista em Gestão Empresarial pela Universidade do
Oeste de Santa Catarina (2005). Especialista Internacional em Desenvolvimento Local pela
Organização Internacional do Trabalho - Nações Unidas, Turim, Itália (2006). Mestre em
Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estágio de mestrado na
Euromed-Marseille Ecole de Management - Marseille, França (2008), onde atuou como Visiting
Professor (Exchange student). Atualmente, é Doutorando em Administração pela Universidade
Federal do Paraná. E-mail: admmarcos@admmarcos.adm.br
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Introdução
O mercado de exibição brasileiro vem crescendo muito na última década,
superando uma crise enfrentada nos anos anteriores, quando houve uma queda
brutal no número de salas existentes e no público espectador. Com o crescimento
da venda de DVD´s e a existência de cada vez mais canais de televisão, as
empresas responsáveis pela exibição de filmes estão tendo que buscar novas
formas de captar e fidelizar seus clientes a fim de conquistarem uma fatia
significativa neste mercado, considerando-se que o Brasil possui um dos mais
baixos índices de ida ao cinema no mundo.
Nas últimas décadas surgiu um novo tipo de empresas que prestam este
serviço, que passaram a valorizar outros aspectos antes deixados de lado por
organizações do ramo. O “conceito multiplex”, como foi chamado, surgiu buscando
um posicionamento estratégico baseado na diferenciação, dando foco a atributos
como conforto e desenvolvimento de novas tecnologias de exibição, entre outros. O
aparecimento deste tipo de organização gerou uma mudança expressiva no
panorama das salas de cinema no mundo, provocando um fechamento de centenas
de cinemas de rua, e com isso causando uma mudança muito grande no fluxo de
clientes, que passaram a migrar para estes complexos.
Frente a isso, este artigo buscará estudar o panorama atual das salas de
exibição no Brasil, analisando mais profundamente a estratégia adotada por
empresas que agregam o conceito multiplex na sua prestação de serviço. Para
tanto, será feita uma revisão de literatura estruturada nos conceitos adotados por
Michael Porter, que servirá como base para o aprofundamento do estudo em
questão
.
Estratégias Competitivas
Segundo Porter (1992), estratégia competitiva é a busca de uma posição
competitiva favorável em uma indústria, a arena fundamental onde ocorre a
concorrência. A estratégia competitiva visa a estabelecer uma posição lucrativa e
sustentável contra as forças que determinam a concorrência na indústria.
Para o autor, duas questões centrais baseiam a escolha da estratégia
competitiva. A primeira é a atratividade das indústrias em termos de rentabilidade a
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longo prazo e os fatores que determinam esta atratividade. Nem todas as indústrias
oferecem oportunidades iguais para manterem uma rentabilidade, e a rentabilidade
inerente de sua indústria constitui ingrediente essencial na determinação da
rentabilidade de uma empresa. A segunda questão central em estratégia competitiva
se refere aos determinantes da posição competitiva relativa dentro de uma indústria.
Na maioria das indústrias, algumas empresas são muito mais rentáveis do que
outras, independente de qual possa ser a rentabilidade média da indústria.
É importante ressaltar a relevância da posição relativa de uma empresa
dentro de sua indústria. O posicionamento determina se a rentabilidade de uma
empresa está abaixo ou acima da média da indústria. Uma empresa que pode
posicionar-se bem é capaz de obter altas taxas de retornos, mesmo que a indústria
seja desfavorável e a rentabilidade média da indústria seja, portanto, modesta.
A base fundamental do desempenho acima da média a longo prazo é a
vantagem competitiva sustentável. Embora uma empresa possa ter inúmeros pontos
fortes e pontos fracos em comparação com seus concorrentes, existem dois tipos
básicos de vantagem competitiva que uma empresa pode possuir: baixo custo ou
diferenciação. A importância de qualquer ponto forte ou ponto fraco que uma
empresa possui é, em última instância, uma função de seu impacto sobre o custo
relativo ou a diferenciação. A vantagem de custo e a diferenciação, por sua vez,
originam-se da estrutura industrial. Elas resultam da habilidade de uma empresa em
lidar com as cinco melhores forças do que seus rivais (cinco forças: a entrada de
novos concorrentes, a ameaça de substitutos, o poder de negociação dos
compradores, o poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre dos
concorrentes existentes).
Os dois tipos básicos de vantagem competitiva combinados com o escopo
de atividades para as quais uma empresa procura obtê-los levam a três estratégias
genéricas para alcançar o desempenho acima da média de uma indústria: liderança
de custo, diferenciação e enfoque. A estratégia do enfoque tem duas variantes:
enfoque no custo e enfoque na diferenciação.
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Fonte: Porter (1992)
Cada
uma
das
estratégias
genéricas
envolve
um
caminho
fundamentalmente diverso para a vantagem competitiva, combinando uma escolha
sobre o tipo de vantagem competitiva buscada com o escopo do alvo estratégico
onde ela deve ser alcançada. As estratégias de liderança no custo e de
diferenciação buscam a vantagem competitiva em um limite amplo de segmentos
industriais, enquanto a estratégia do enfoque visa a uma vantagem de custo
(enfoque no custo) ou uma diferenciação (enfoque na diferenciação) num segmento
estreito.
As ações específicas necessárias à implementação de cada estratégia
genérica variam muito de indústria para indústria, da mesma forma que as
estratégias genéricas viáveis em uma indústria particular. Embora a seleção e a
implementação de uma estratégia genérica estejam longe de ser simples, elas são,
contudo, os caminhos lógicos para a vantagem competitiva que devem ser
investigados em qualquer indústria.
A noção que fundamenta o conceito de estratégias genéricas é que a
vantagem competitiva está no âmago de qualquer estratégia, e para obtê-la é
preciso que uma empresa faça uma escolha – se a empresa deseja obter uma
vantagem competitiva, ela deve fazer uma escolha sobre o tipo de vantagem
competitiva que busca obter e sobre o escopo dentro do qual irá alcançá-la. Ser
“tudo para todos” é uma receita para a mediocridade estratégica e para um
desempenho abaixo da média, pois normalmente significa que uma empresa não
tem absolutamente qualquer vantagem competitiva.
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Liderança no Custo
A liderança no custo é talvez a mais clara das três estratégias genéricas.
Nela, uma empresa parte para tornar-se o produtor de baixo custo em sua indústria.
A empresa tem um escopo amplo e atende a muitos segmentos industriais,
podendo até mesmo operar em indústrias correlatas – a amplitude da empresa
normalmente é importante para sua vantagem de custo.
A lógica estratégica da liderança no custo normalmente exige que uma
empresa seja a líder no custo, e não uma dentre várias empresas disputando esta
posição.
Diferenciação
Neste tipo de estratégia, uma empresa procura ser única em sua indústria,
ao longo de algumas dimensões amplamente valorizadas pelos compradores. Ela
seleciona um ou mais atributos, que muitos compradores em uma indústria
consideram importantes, posicionando-se singularmente para satisfazer estas
necessidades. Ela é recompensada pela sua singularidade com um preço-prêmio.
Os meios para diferenciação são peculiares a cada indústria.
A lógica da estratégia da diferenciação exige que uma empresa escolha
atributos únicos, com o fito de se diferenciar de suas correntes. Uma empresa deve
ser verdadeiramente única em alguma coisa, ou ser considerada única para que
possa esperar um preço-prêmio. Ao contrário da liderança no custo, contudo, pode
haver mais de uma estratégia de diferenciação de sucesso em uma indústria, se
houver uma série de atributos muito valorizados pelos compradores.
Enfoque
Esta estratégia é bem diferente das outras, porque está baseada na
escolha de um ambiente competitivo estreito dentro de uma indústria. O enfocador
seleciona um segmento ou um grupo de segmentos na indústria e adapta sua
estratégia para atendê-los, excluindo outros. Otimizando sua estratégia para os
segmentos-alvo, o enfocador procura obter uma vantagem competitiva em seus
segmentos-alvo, muito embora não possua uma vantagem competitiva real.
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A estratégia de enfoque tem duas variantes. No enfoque no custo, uma
empresa procura uma vantagem de custo em seu segmento-alvo, enquanto no
enfoque na diferenciação uma empresa busca diferenciação em seu segmentoalvo. Ambas variantes da estratégia de enfoque baseiam-se em diferenças entre os
segmentos-alvo de um enfocador e outros segmentos na indústria. Os segmentosalvo devem ter compradores com necessidades incomuns, ou o sistema de
produção e entrega que atenda da melhor forma; o segmento-alvo deve diferir do
de outros segmentos da indústria. O enfoque no custo explora diferenças no
comportamento dos custos em alguns segmentos, enquanto o enfoque na
diferenciação explora as necessidades especiais dos compradores em certos
segmentos. Estas diferenças implicam que os segmentos são atendidos de uma
forma insatisfatória por concorrentes com alvos amplos que os atendem ao mesmo
tempo que atendem outros. O enfocador pode obter, assim, vantagem competitiva,
dedicando-se apenas aos segmentos. A amplitude do alvo é claramente uma
questão de grau, mas a essência do enfoque é a exploração de diferenças de um
alvo estreito do resto da indústria. O enfoque por si só não é suficiente para um
desempenho acima da média.
Meio Termo
Uma empresa que se engaja em cada estratégia genérica, mas não
alcança nenhuma delas está no “meio termo”. Ela não possui qualquer vantagem
competitiva. Esta posição estratégica geralmente é uma receita para desempenho
abaixo da média. Uma empresa no meio termo irá competir em desvantagem
porque o líder no custo, diferenciadores ou enfocadores estarão bem mais
posicionados para competirem em qualquer segmento. Na maioria das indústrias,
um número bem pequeno de concorrentes está no meio termo.
Panorama Atual das Salas de Exibição no Brasil
Atualmente, as pessoas têm dedicado horas de seus dias para atividades
relacionadas aos seus trabalhos e estudos, tornando suas horas de lazer momentos
quase “sagrados”. A ida ao cinema, entretanto, tem sido vista como uma das
principais opções de lazer das populações das grandes cidades.
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O Brasil, todavia, apresenta um dos mais baixos índices mundiais quanto à
freqüência de sua população às salas de cinema. Enquanto nos Estados Unidos,
cada habitante vai ao cinema pelo menos cinco vezes ao ano, no Brasil esse índice
é de 0,4 (segundo Nilson Rodrigues, diretor da Agência Nacional do Cinema), o que
significa que o brasileiro vai ao cinema apenas “meia” vez por ano, não sendo
incomum encontrar pessoas que nunca foram ao cinema.
Segundo Fagundes (2006), o Brasil possui, atualmente, cerca de 2045 salas
de cinema - o que corresponde a cerca de uma sala de cinema para cada 91 mil
habitantes -, distribuídas em apenas 8% do total de municípios brasileiros. Segundo
o IBGE, entre os municípios de até 20 mil habitantes, 98% não possuem salas de
cinema. A precária situação do mercado de exibição brasileiro (em termos de
número de salas) fica ainda mais evidenciada quando são analisados os casos
mexicano, argentino e americano. No México, existe uma sala de cinema para cada
44 mil habitantes, na Argentina uma sala para cada 37 mil habitantes e nos Estados
Unidos uma para cada 10 mil habitantes.
O mercado de Porto Alegre é atípico, pois possui uma maior densidade de
salas de cinema por habitantes, possuindo em 2003 cerca de 61 salas comerciais
(uma sala para cada 23 mil pessoas).
Após um período de crise existente neste ramo de atuação, e apesar do
crescimento da venda de DVD´s e o surgimento de cada vez mais canais de
televisão, o mercado das salas de exibição vem apresentando um crescimento
significativo nos últimos anos, considerando-se o número de salas existentes e o
público espectador, conforme pode ser observado pelo gráfico abaixo.
Fonte: Fagundes (2006)
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O aumento no número de salas existentes no Brasil foi acompanhado por
uma elevação no público espectador, que na última década vem crescendo
(acompanhado de um declínio no último ano). Em 2005, foram vendidos no Brasil
cerca de 90 milhões de ingressos de cinema, magnitude que representa um
crescimento de 5,5% em relação a 1995. A renda total de bilheteria em 2005 foi de
cerca de 644 milhões de reais.
Fonte: Fagundes (2006)
Muitas pessoas acham que as salas perderam um pouco do romantismo que
tinham quando elas funcionavam em instalações próprias. É natural que elas
percebam isso, pois com o aumento da demanda, houve um certo distanciamento
em relação ao usuário. O que é de certa forma um paradoxo, pois ao mesmo tempo
que elas oferecem um maior conforto e opções de serviços, há também uma
carência no trato mais afetivo com as pessoas.
Os shopping centers ocupam um importante papel nessa revitalização da
indústria de exibição. Após o significativo crescimento desses centros, na década de
90, a indústria de exibição virou-se para esse segmento, onde, atualmente, se
concentram quase todos os investimentos do mercado exibidor, que, anteriormente,
se estabeleciam nas ruas dos centros urbanos, afirmam Saab e Ribeiro (2000).
Diversos são os fatores que contribuíram para a transição dos cinemas de rua para
os shoppings, como, por exemplo, o fato destes últimos proporcionarem mais
segurança e conforto ao público, e, também, pelo fato de possuírem grandes opções
de lazer e fast-foods, que, provavelmente, serão o destino principal do público, após
as sessões.
No final de 1999, de acordo com a Associação Brasileira de Shopping
Centers - ABRASCE, existiam 162 shopping centers afiliados no país, os quais
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possuíam, conjuntamente, 534 cinemas, o que denota um crescimento de 8,76% em
relação ao ano anterior, quando foram registrados 491 cinemas. Destaque-se que,
em maio de 2000, o número de cinemas, nesses centros afiliados, já era de 588.
A Tendência Multiplex
O panorama das estruturas de exibição cinematográfica vem se alterando
nas últimas décadas. Observa-se uma tendência mundial de criação de multiplex,
um complexo de salas de exibição com excelentes recursos cinematográficos, onde
se destacam, principalmente, o conforto, a qualidade e a modernidade. Este
conceito surgiu há 13 anos, nos EUA, no Brasil, o multiplex aparece em 1997, a
partir da entrada no mercado nacional de grandes exibidores estrangeiros, como o
Cinemark e a UCI. Em março de 2000, inclusive, as empresas que operavam no
Brasil salas de exibição multiplex organizaram a sua associação denominada
Associação Brasileira da Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadores de
Multiplex (Abraplex).
Isso vem provocando uma alteração de comportamento do público que
freqüenta o cinema, passando em grande parte a migrar para este tipo de complexo.
Uma conseqüência disso é que de 1991 a 2000, cerca de 430 salas de cinema de
rua encerraram suas atividades no Brasil, segundo o site Cinema Brasil. A estimativa
é de que em 2010 cerca de 79% do circuito nacional deverá ser contemplado por
salas com o conceito multiplex. Em 2003, segundo a Abraplex, de um total de 1817
salas existentes, aproximadamente 30% estavam inseridas no conceito multiplex
(546), colocadas em 60 complexos.
No caso de grandes exibidores, que operam salas multiplex, as receitas com
alimentos e bebidas já representam cerca de 21% dos seus faturamentos, enquanto
as decorrentes de propaganda e publicidade atingem 4% (conforme gráfico abaixo).
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Fonte: Abraplex (2006)
As receitas com publicidade constituem outra contribuição que os multiplex
estão trazendo para as empresas de exibição no Brasil. Com maior espaço,
representado pelo aumento no número de telas disponíveis, onde é veiculada boa
parte dos anúncios publicitários, e com maior capacidade de circulação do público,
as multissalas vêm se tornando cada vez mais um destino de campanhas
publicitárias, que são atraídas pelo baixo custo quando comparadas à utilização de
outras mídias como a televisão, onde 30 segundos de exibição de anúncios no
horário nobre chegam a ser sete vezes mais caros. Sendo o cinema uma mídia não
dispersiva (como a TV), as mensagens publicitárias veiculadas são incorporadas de
modo mais intenso pelo público, e nesse caso o multiplex vem contribuindo para o
aumento das receitas daí auferidas. As campanhas publicitárias podem ser exibidas
nas telas, nos intervalos entre um filme e outro, nas lojas de alimentação e de lazer,
no videowall, distribuídas como panfletos e amostra grátis etc.
Os multiplex tornaram-se uma alternativa às salas de cinema comuns, que,
com o passar dos anos, praticamente deixaram de proporcionar novidades ao
público. O objetivo do multiplex é fazer com que o público não vá somente assistir a
um filme e, logo após, ir embora. A finalidade primordial é fazer com que as pessoas
desfrutem do cinema o máximo possível, pois lá são oferecidas várias alternativas
de filmes, serviços e entretenimento.
Dentre os serviços oferecidos pelos multiplex, destacam-se pistas de
boliche, estacionamento, salas de jogos eletrônicos e praças de alimentação, que
podem ser visitadas durante os intervalos entre um filme e outro, ou, simplesmente,
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no aguardo de um filme cuja procura é intensa e que, por isso mesmo, pode vir a
demandar um tempo demasiado de espera para assisti-lo.
Porém, as novidades oferecidas pelas multissalas não param por aí,
cabendo destacar, por exemplo, as seguintes: as antigas poltronas foram
substituídas por outras mais modernas, reclináveis e equipadas com porta-copos e
bandejas para alimentos; nas salas, em formato stadium, a pessoa que se encontra
na frente não atrapalha a visão do filme de quem está atrás; há maior espaço entre
as fileiras; as salas possuem equipamentos de som ultra-estéreo; as imagens são de
última geração (algumas salas foram inauguradas exibindo imagens 100%
digitalizadas); há lugares especialmente destinados a deficientes físicos e pessoas
obesas; as vendas de ingressos podem ser antecipadas, assim como ser feitas até
pela Internet; enfim, são instalações bastante modernas, localizadas em áreas que
chegam a ocupar até 30 salas de exibição.
Para os exibidores, as salas multiplex representam, além de tudo, uma
diminuição significativa de custos, alcançada, por exemplo, com a redução nos
gastos com salários, pois o número de funcionários é, basicamente, o mesmo de um
cinema comum, e também com a otimização dos gastos de sua construção
relativamente à de um cinema com apenas uma sala. No tocante à estrutura de
gastos necessários à construção e implantação de um "multiplex" padrão, composto
de 8 a 10 salas de exibição, deve ser destacado que, em média, o gasto total é da
ordem de US$ 4 milhões.
Há também o aspecto do retorno financeiro, que, para os investidores, é
mais rápido do que em uma sala comum. Além da diminuição dos custos e do
retorno financeiro a curto e médio prazos, com os multiplex é visível o aumento de
público, podendo, portanto, ser obtido maior faturamento para as empresas,
especialmente nas diversas lojas de alimentação lá instaladas.
Principais Complexos Multiplex no Brasil:
No Brasil existem duas grandes empresas com estas características, são
elas: Cinemark e UCI (United Cinemas International).
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Cinemark
Fundada em 1984, com sede nos Estados Unidos - onde é a terceira maior
cadeia exibidora - está presente em outros 12 países, possuindo cerca de 3.900
salas ao redor do mundo. Desde 1997 no país, a Cinemark é a maior rede de
cinemas do Brasil, hoje operando mais de 317 salas distribuídas em 22 cidades
brasileiras. A empresa, desde o início de suas operações, já vendeu mais de 130
milhões de ingressos, faturou mais de 300 milhões de Reais só em 2005 e deve
alcançar um faturamento acima de 330 milhões em 2006. Os complexos Cinemark
estão distribuídos por São Paulo (onde estão mais de 190 salas), Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal, Amazonas, Mato Grosso do
Sul, Sergipe e Rio Grande do Norte.
UCI (United Cinemas International)
Constituída a partir de uma associação entre a Paramount e a Universal
Studios, a UCI começou a atuar no Brasil em 1997. Possui 111 salas divididas entre
cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Recife e São Paulo.
Embora seja uma empresa de capital norte-americano, a UCI não opera nos
Estados Unidos, concentrando-se no Reino Unido, onde conta com mais de 300
salas, em um total de mais de 850 salas distribuídas por todo o mundo.
Posicionamento Estratégico
Analisando as estratégias adotadas pelas empresas dos complexos
multiplex, observa-se que elas estariam dentro da estratégia de diversificação
apresentada por Porter (1992). As principais razões para este posicionamento
seriam a seleção de atributos considerados importantes pelos clientes (como o
conforto, a tecnologia adotada para exibição dos filmes e a existência de outros
atrativos como opções para se usufruir antes ou após a ida ao cinema) para dar um
maior enfoque buscando uma posição singular no mercado.
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As outras empresas deste ramo de atuação buscam outros atrativos para
captar mais clientes como preço baixo, salas com filmes alternativos, entre outros.
Devido a esta opção por um foco em atributos diferenciados, as multiplex
apresentam um diferencial neste mercado, podendo, então, cobrar um preço-prêmio
para tal serviço. Apesar de apresentarem um custo para seus clientes um pouco
mais elevado que as outras empresas inseridas neste ramo de atuação, o público
que freqüenta as multiplex não se restringe a pessoas de alta renda, uma vez que
cada vez mais pessoas estão aderindo a este tipo de empresa
Considerações Finais
Analisando o panorama atual do mercado das salas de exibição no Brasil, é
possível observar que houve um crescimento expressivo no número de salas de
cinema existentes e no número de espectadores (apesar de este índice ainda ser
considerado muito baixo se comparado a outros países do mundo), superando uma
crise enfrentada nos anos anteriores. Devido a isso, as empresas inseridas neste
mercado estão tendo que buscar novas formas de captar clientes e satisfazer as
suas necessidades a fim de se manterem neste acirrado mercado.
Nas últimas décadas, com o surgimento do conceito multiplex, muitas
organizações passaram a reavaliar as suas estratégias. Isso fez com que houvesse
um fluxo migratório de clientes para estes tipos de complexos, provocando o
fechamento de muitas organizações que permaneceram indiferentes a essas
alterações, ou que não estruturaram esforços para uma melhor definição de sua
estratégia de atuação dentro deste mercado.
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A definição da estratégia de atuação da empresa é essencial para o seu
sucesso, pois uma organização que se posiciona bem é capaz de obter altas taxas
de retorno. Segundo Michael Porter (1992), uma empresa, mesmo em uma indústria
muito atrativa pode, ainda assim, não obter lucros atrativos se tiver escolhido má
posição competitiva.
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