Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do
Papa Francisco
Revisiting the Terra sem Males’ Macalss in Pope Francis’
times
Aloir Pacini1
Marina Garcia Lara1
DOI: http://dx.doi.org/10.20435/tellus.v22i47.779
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo compreender a dinâmica em
torno da Missa da Terra sem Males, celebrada na Catedral da Sé, em São Paulo,
para relembrar a resistência dos povos indígenas aos conquistadores. A partir
da análise de publicações, relatos, documentários, músicas e vídeos sobre a
missa, o artigo busca fazer um diálogo antropológico entre o momento vivido
há 42 anos e as reflexões sugeridas pelo Papa Francisco para os tempos atuais.
Ademais, destaca-se a importância desse diálogo nos 50 anos da fundação
do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), especialmente em um contexto
de pandemia, quando vivemos, intensa e conjuntamente, em busca de uma
terra sem males.
Palavras-chave: Guarani; Missa da Terra sem Males; Papa Francisco; pandemia.
Abstract: This paper aims to understand the dynamics around the Terra sem
Males’ Mass, celebrated at the Catedral da Sé in São Paulo, to remember the
resistance of the indigenous peoples to the conquerors. Based on the analysis
of publications, reports, documentaries, music, and videos about this mass,
the article seeks to make an anthropological dialogue between the moment
lived 42 years ago and the reflections suggested by Pope Francis for the current
times. Furthermore, the importance of this dialogue is highlighted in the 50
years since the founding of the Indigenous Missionary Council (CIMI, Conselho
Indigenista Missionário, in Portuguese), especially in a pandemic context, when
we live, intensely and jointly, in search of a land without evils (terra sem males).
Keywords: Guarani; Terra sem Males’ Mass; Pope Francis; pandemic.
1
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
Tellus, Campo Grande, MS, ano 22, n. 47, p. 165-196, jan./abr. 2022
Aloir PACINI; Marina Garcia LARA
1 INTRODUÇÃO
1.1 A Missa como gatilho da memória
A Missa da Terra sem Males aconteceu no dia 22 de abril de 1979, no bojo
de um Brasil que pressionava o Regime Militar para voltarmos à Democracia, e
teve grande repercussão espiritual e social, mas atingiu também as estruturas da
política estabelecida no poder. A Igreja Católica, articulada em torno da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, foi uma das instituições que mais colaborava para
que tal Missa fosse celebrada. Uma polêmica foi gerada com o movimento ultraconservador Tradição, Família e Propriedade (TFP) no momento em que a Igreja
Católica vivia tempos de grande perseguição no Brasil, porque se colocara contra
o Regime Militar.2
Porque toda Missa verdadeira escandaliza necessariamente. A Missa é sempre uma ruptura, um Sacrifício, uma Passagem libertadora da Morte para
a Vida: PÁSCOA. Os cristãos primitivos tinham uma consciência mais clara
do risco que significava celebrar a Ceia Pascal do Senhor, aquela “memória
perigosa”. (CASALDÁLIGA, 1980, p. 14).
Em 12/10/1976, na Delegacia de Ribeirão Cascalheira (Mato Grosso), os
policiais tinham martirizado barbaramente o jesuíta Padre João Bosco Burnier, na
frente do bispo Dom Pedro Casaldáliga. O crime consta na Comissão da Verdade
como provocado pela Ditadura Militar. O jesuíta atuava, no momento, como
coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MT) e tinha parentes
de alta patente no Exército brasileiro. O contexto de sua morte refere-se a um
conflito específico em que os policiais foram expulsar os posseiros sem-terra onde
plantavam seu roçado. No confronto, um policial foi morto.
A comunidade estava alarmada com os gritos de duas esposas dos sem-terra que estavam sendo torturadas durante o dia todo na Delegacia de Polícia. O
motivo da tortura- mascarada de “interrogatório”-, era obter informações sobre a
localização de seus maridos e filhos, que haviam fugido no mato. O objetivo final,
2
Membros da TFP que provocaram o golpe militar e o sustentaram tiveram dificuldades de aceitar
a Missa nova (Missa de Paulo VI, rito ordinário, Missa de 1969) porque preferiam a Missa em
Latim, isso em tensão nas relações com Dom Paulo Evaristo Arns, porque criaram a hipótese
de um Papa Herege, aqui atacaram a Missa da Terra sem Males como "sacrílega" e "blasfema".
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certamente, seria um novo massacre por vingança. Dom Pedro Casaldáliga e o
Padre João Bosco Burnier encorajaram-se para pedir que os policiais parassem
com os atos brutais contra as mulheres. Contrariados, os policiais simplesmente
exigiram que voltassem para a “sacristia” e que não interferissem em uma questão
policial. Conforme Dom Pedro deixou documentado nos arquivos do CIMI-MT,
enquanto testemunha ocular dos fatos diante da insensibilidade dos policiais, o
Padre Burnier afirmou, categórico: “Amanhã estou indo à Cuiabá e vou denunciar
vocês aos seus superiores.”3 Vendo-se desafiados em tempos em que a ditadura
militar acobertava a tortura e a morte de civis, o policial Ezy Ramalho Feitosa4 deu
uma coronhada que derrubou o Padre Burnier no chão. Em seguida, disparou um
tiro em sua cabeça que o levaria à morte.
O segundo contexto desse texto é o passado das Missões Guarani-jesuíticas
no sul da América do Sul e o lugar de Sepé Tiaraju na luta contra a colonização.
Sobre a pedra-ara das ruínas das Missões guaraníticas provocadas pelos exércitos
de Espanha e Portugal, em 15/11/1978 aconteceu uma Romaria dos Mártires
para São Miguel das Missões e o santuário de Caaró (RS). Ali celebraram a Missa
dos trezentos e cinquenta anos dos três missionários jesuítas conhecidos como
os Santos Mártires Riograndenses5: São Roque González, Santo Afonso Rodriguez
e São João de Castilho. Com eles, celebrava-se o martírio de milhares de índios
sacrificados pelos impérios “cristãos” de Espanha e Portugal, em destaque aparecia a figura do herói Guarani que ousou levantar-se contra os exércitos, Sepé
Tiaraju, por muitos chamado São Seppé. As ruínas das Missões testemunham o
intento missionário dos Guaranis6 com os jesuítas nos séculos XVII e XVIII, um
3
4
5
6
Isso mostra que o martírio foi uma reação à coragem do Padre Burnier de desafiar os policiais,
o que desfaz a versão que se espalhou de que tinham confundido Dom Pedro, pois queriam
matar na verdade era Dom Pedro. Burnier era na época o coordenador do Regional do Conselho
Indigenista Missionário (CIMI-MT), entidade anexa à CNBB que esse ano de 2021 completa 50
anos.
Esse policial foi expulso da corporação e trabalhou como coveiro em Alto Paraguai (MT), onde
era conhecido como Mata Padre; fez documentos falsos com o nome, Carlindo Rodrigues do
Carmo, e constituiu família em Nortelândia (MT), onde faleceu em 05/02/2019.
Como na época do martírio essa região pertencia à Província do Paraguai, houve um movimento
grande para repatriar os mártires, pois o local do martírio era o Rio Grande do Sul e a devoção
se espalhou por muitos lugares.
Usaremos Guarani sempre com letra maiúscula em reconhecimento, no plural quando está
dito num contexto geral e quando especificamos uma etnia dentro do povo maior colocamos
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broto da República dos Guaranis, que mereceu os elogios insuspeitos de Voltaire
e de Montesquieu.
Essas Ruínas são também o testemunho constrangedor da barbárie dos cristianíssimos colonizadores ocidentais, nossos avós espanhóis e portugueses.
Sepé Tiaraju, luzeiro na testa, “São Sepé” para a fé do Povo, corregedor da
Missão de São Miguel e omais ilustre chefe guerreiro guarani, foi assassinado, juntamente com outros mil e quinhentos companheiros, pelos Exércitos
de Espanha e de Portugal, irmanados na hora da barbárie. Nos campos de
Caiboaté, dia 7 de fevereiro de 1756. Nessas Ruínas históricas e nesse Ano
dos Mártires da Causa Indígena, nasceu a idéia da Missa da Terra-sem-males.
Pensou-se, primeiro, numa Missa “missioneira” em torno às Missões dos
Sete Povos Guarani. (CASALDÁLIGA, 1980, p. 10).
Sepé Tiaraju era o corregedor de São Miguel na época e guiava milhares de
Guaranis, que não aceitavam deixar os Sete Povos das Missões ou ficar sob o jugo
dos portugueses como previa o Tratado de Madrid de 1750, porque tantas vezes
os bandeirantes tinham atacado as Missões e levado seus parentes como escravos
para São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Defendendo seu Pueblo foi martirizado
com sua tropilha no dia 7/02/1756. Mesmo ferido na luta corporal, recebeu um
tiro de dom Viana, Governador de Montevidéu. Sepé exigia que os dois exércitos
não seguissem avante, pois São Miguel não os havia de receber:
– No dia 7 de fevereiro deu-se nossa primeira ação. Saiu dom José Joaquim
Viana – este o nome do já mencionado Governador de Montevidéu – e com
uns 400 homens foi em seguimento de uma tropilha de índios. Estes se iam
retirando na direção de um mato, donde se levantou um grande vozerio de
outros, que ali se achavam para fins de emboscada. Mas, disparando-se lhes
uma descarga, cessaram as vozes e, pelo fato de já ser tarde, retiraram-se
os nossos, depois de perdidos dois homens da nossa parte e oito do lado
desses índios. Um deles, segundo asseguram o parecer verdadeiro de alguns
e o teor de duas cartas em guarani, que se acharam, era o Capitão Sepé.
(ESCANDÓN, 1983, p. 306).
Como dito anteriormente, o povo presente na mencionada Romaria o chamava São Seppé,7 nome da cidade de São Sepé, município no Rio Grande do Sul,
7
o hífen para mostrar a vinculação profunda, sem plural, assim: Mbyá-Guarani; Guarani-Mbyá;
Guarani-Ñandewa; Guarani-Kayowá etc.
Categoria êmica, ou seja, nomenclatura própria do campo e empregada como categoria de
análise, pois os Mbyá-Guarani da aldeia Alvorecer (Kò èju) na T. I. Inhacapetum, usaram no CD
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banhada pelas águas do rio São Sepé, afluente do Vacacaí. Diferentes momentos,
mas ambos vivendo e sofrendo o martírio, nos levam ao terceiro contexto que traz
a atualidade desse texto que reflete o cuidado com a casa comum solicitado pelo
Papa Francisco como solução para a pandemia que assola o Brasil, bem como nos
leva a aprendermos com os indígenas os ensinamentos do respeito à natureza.
1.2 Contexto histórico da Missa: a Aty Guasu
Diferentes contextos, diferentes mundos que se conectam. Não por acaso, a Missa da Terra sem Males foi um ato público e político que contou com a
participação de cerca de 7 mil pessoas – dentre eles, cerca de quarenta bispos e
muitos padres- que se deixaram comover com a mística “libertadora do Evangelho”
e o compromisso com a mística Guarani. Dom Pedro Casaldáliga reflete sobre a
complexidade das Missões entre os povos indígenas e o acontecimento dessa
Missa Ameríndia:
Os Povos Indígenas do Continente, além do mais, tão diversificados em sua
cultura e em suas realizações, foram reduzidos, pelos Povos Conquistadores,
a categoria anónima e arrasada de “Índios”. Conhecidos como Índios apenas,
como Índios foram depredados e confinados aos manuais e as vitrines. Sua
Memória, então, devia ser celebrada numa só Missa, una e comum, um
Sangue só e uma igual Esperança: a Missa Ameríndia (CASALDÁLIGA, 1980,
p. 11).
Curt Unckel Nimuendajú recolheu um mito da terra sem males entre os
Guaranis que toca as sensibilidades religiosas até os dias de hoje (NIMUENDAJÚ,
1987). O trabalho do antropólogo é diferente do historiador, procuramos nos distanciar da dinâmica causa e efeito e buscamos o simbólico das culturas nas falas
nativas que buscam expressar um possível original ou o autêntico naquilo que
estão vivendo. No documento da Missa, que atribui o conceito terra sem males
aos Guaranis, não entraremos em discussão sobre o que possa ser autêntico na
memória das pessoas. Simplesmente observamos a atualização daquilo que aconteceu no passado, e revelamos a relevância desses fatos no momento presente.
Queremos compreender as reflexões nativas e percebemos que a memória é
gravado em abril de 2004, na letra original do canto 02 o nome Oreruvixa karai seppé, traduzido
assim Nosso chefe Seppé Tiaraju, talvez uma associação ao nome do jesuíta que tanto os auxiliou
nos Pueblos das Missões, Anton Sepp.
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seletiva, guarda o que mais foi emocionalmente forte naquela celebração, mesmo
que tenha havido mestiçagens ou “casamentos” entre a cosmologia Guarani e a
narrativa bíblica nesse imaginário dos fatos acontecidos. Podemos dizer que se
trata de uma teologia índia, inculturada. A partir da concepção do mito cristão,
na qual a nova terra, ou o novo céu que Deus Pai criara e dera a seus filhos para
cuidar, era esperado que a sensibilidade católica criasse uma Missa de memória,
perdão, denúncia e compromisso, foco deste escrito.
A divulgação da Missa da Terra sem Males teve nomes de peso envolvidos:
Dom Pedro Casaldáliga, Pedro Tierra (pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva) e
os músicos Martin Coplas e Diana Pequeno, à qual temos acesso numa gravação
em fita cassete pelas Edições Paulinas Discos (SÃO PAULO, 1980).8 O alcance dessa Missa não pode ser contabilizado, contudo, o interesse pelo tema aparece na
internet, onde temos A Missa da Terra sem Males produzida em vídeo pela Verbo
Filmes (1979), publicada pelo Armazém Memória. Em março de 2021, durante a
escrita deste trabalho, o vídeo havia sido reproduzido quase 7 mil vezes. As imagens
da Missa se mesclam com cenas filmadas nas aldeias Guaranis da antiga Missão
Paraquaria, considerado nas falas daquele momento que foi levado avante pelo
ideal inspirado por Deus aos jesuítas e aos Guaranis.
A utopia possível da Terra sem males foi vivida especialmente nos Trinta
Povos das Missões que prosperaram ou existiam em 1750 e que foram duramente
abalados pelas políticas coloniais, construída pela luta dos indígenas e jesuítas oprimidos de uma época memorável. Conforme correspondência entre os governos
locais e os reis de Espanha e Portugal, convém lembrar aqui que uma das causas
dos jesuítas serem expulsos nas colônias portuguesas em 1759 e das colônias
espanholas em 1768 seria a sua “insubmissão” aos reis. Os que não cederam aos
poderes da época, morreram pelo caminho, ficaram presos no Castelo Sant’Angelo
em Roma onde nem o próprio Padre Geral dos jesuítas podia receber a comunhão,
pois a Congregação fora supressa pelo Papa da época.
8
A Biblioteca Digital Curt Nimuendajú disponibiliza a Missa da Terra sem Males (CASALDÁLIGA;
TIERRA; COPLAS, 1980, p. 91), com textos, indicação do ritual, partituras das músicas e 21
fotografias de Cláudia Andujar representando Yanomami, Bóe (Bororo), Xikrin, Tapirapé e Yny
(Karajá) e um bônus especial em arquivo sonoro: Diana Pequeno canta e recita um excerto da
Missa, em gravação de 1982. Observe o detalhe no texto que está indicado a lápis as partes
onde Diana Pequeno participa para abrilhantar o ritual, como o canto de abertura.
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É importante termos uma compreensão do que era a Aty Guasu, o grande
território tradicional dos Guaranis onde, em 1607, foi criada a Província Jesuítica
do Paraguay que articulou a ação religiosa, social e cultural mais importante que
pode ser nomeada como catequização9 dos povos nativos americanos em cerca de
80 Missões. Evidenciamos que as Missões Guaranis, iniciadas em 1610, marcaram
também a experiência dos jesuítas nas Américas. Os jesuítas tinham conseguido
que o título súdito do Rei de Espanha para os indígenas evitasse que fossem escravizados. Havia uma rede de comunicação entre as Missões numa espécie de
cristandade primitiva, mas cada um desses Pueblos formava uma sociedade com
gestão bastante autônoma, tinha território próprio para estâncias, ervais e do
Pueblo, onde um cabildo10 com um ou dois jesuítas decidiam o ritmo da cidade
e a produção para sua sobrevivência.
Esse modelo de sobrevivência nas colônias espanholas era distinto do
que encontramos no Brasil, muito mais baseada na escravidão. Um detalhe que
pode ser observado na colônia do Brasil, acobertado pelos reis de Portugal era o
ataque das muitas Bandeiras bem estruturadas com incremento forte de mamelucos paulistas11 que se juntavam frequentemente para atacar as Missões para
a escravização dos indígenas Guaranis. Apesar de serem documentos coloniais
com intencionalidade na sua divulgação que correspondia à Província jesuítica do
Paraguai, os mapas a seguir são um auxílio importante para compreender dados
relevantes da localização dos conflitos nas fronteiras que deram origem à Guerra
Guaranítica de 1750 a 1756, onde surgiu o heroico Sepé Tiaraju.
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Mapa 01: Paraquariae provinciae societas Jesu cum
adiacentib novíssima descriptio
Fonte: Site cartografiahistorica (1760).
A dedicatória do mapa acima, ao Geral da Companhia de Jesus, Padre Vicente
Carrafa (1585-1649) mostra que trata-se de uma cópia fiel da matriz produzida
por integrantes da Companhia de Jesus, que tinham por costume dedicar alguns
mapas aos Padres Gerais12 em exercício. Convém recordar que os mapas são desenhados a partir de outros mapas e em cada um o artista retira ou coloca alguns
12
Padre Geral é a forma como os jesuítas referem-se ao Superior de toda a Ordem ou Congregação
que está em Roma, por muitos chamado Papa Negro, porque usa roupas pretas.
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dados que considera relevantes, ou seja, são representações da realidade que
merecem estudos aprofundados, mas não correspondem exatamente ao que é
o chão da região das Missões dos povos Guaranis. O mapa acima representa as
Missões Jesuítas na margem esquerda do rio Paraguay que abrange sumariamente
a Aty Guasú que, pelo Tratado de Tordesilhas, ocupava a bacia do rio Paraná e
Uruguay, pertencentes aos reinos de Espanha, segundo o mapa a seguir.
Mapa 02: Fronteira do Brasil na América do Sul por ocasião
da Guerra Guaranítica de 1756. São Borja, 20 de fevereiro de
1759. AGS. M. P. y D. IV-36. Estado. Legajo 7399-14. De uma
carta de Pedro de Ceballos a Don Ricardo Wall 13
A fronteira sul do Brasil na América do Sul aparece no mapa acima com a
linha divisória primeira entre a coroa portuguesa e espanhola (Tordesilhas, 1492)
e, por ocasião do Tratado de Madrid em 1750, pendendo para dar ao Brasil mais
que o dobro do seu território. A Guerra Guaranítica tumultua um pouco essa
https://i.pinimg.com/originals/f0/62/5c/f0625ce202a51bb8eb57a9aa4a63b252.jpg
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fronteira sul do Brasil que se torna mais incerto com o Tratado de Santo Ildefonso
(01/10/1777) que volta atrás em alguns aspectos, mas sem solução estável, pois
as fronteiras dos impérios estavam sendo negociadas desde o início da invasão
europeia, e os Guaranis das Missões e os jesuítas representavam um problema
para a livre negociação. Os demais Tratados continuarão de muitas formas segundo
os interesses dos países que vão se tornando repúblicas em torno do Brasil. Cada
época mostra nos mapas das fronteiras os diferentes interesses como documentos históricos, para termos uma ideia da complexidade do momento da Guerra
Guaranítica na fronteira sul do Brasil. Apesar de não ser um tema aprofundado
neste trabalho, é importante destacar que a sobrevivência de trinta Missões
Guaranis no centro-sul da América do Sul é um fato histórico que foi abortado no
Tratado de Madri (1750) e na Guerra Guaranítica que seguiu até 1756.
Mapa 03: Trinta Missões Guaranis na margem
esquerda do rio Paraguay e nas bacias do rio
Uruguay e baixo Paraná
Fonte: McNaspy, (1976, p. 36).
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É possível notar no mapa acima que a Missão de São Miguel é a mais adentrada nesse momento na região do Tape, por isso foi a primeira a ser atacada pelo
exército de Portugal/Brasil. Para compreender o contexto da Guerra Guaranítica,
os Guaranis da região dos Sete Povos das Missões estavam ligados aos jesuítas e
à Espanha. Os Guaranis recusavam-se a deixar suas terras no território que hoje é
o Rio Grande do Sul e a se transferir para o outro lado do rio Uruguay, conforme
ficara acertado no acordo de limites entre Portugal e Espanha de 1750. As tropas
espanholas e portuguesas juntaram-se para fazer cumprir as decisões vindas das
Metrópoles quanto à transmigração dos 7 Povos das Missões no Rio Grande do
Sul para o outro lado do rio Uruguai, ou ficarem submissos ao Imperador do
Brasil, o que os indígenas não aceitaram, e foi inevitável a Guerra (1754-1756).
1.3 As Missões Guaranis conectadas com os Mbyá-Guarani atuais
Vamos retoma o caminho e dar um passo além. As Missões Guaranis estavam no território da Aty Guaçu que em grande parte eram dos Guaranis e outras
etnias menores, também no outro lado do Uruguay, hoje Uruguai, Argentina e
Paraguai. Os jesuítas começaram os Sete Povos em território tradicional de etnias
que na margem esquerda do Uruguay estavam, e não era fácil deixar o lugar de
seus antepassados. Mesmo sabendo que os exércitos imperiais eram muito equipados com armas de fogo e canhões, preferiram morrer que submergir sem uma
resistência a essa invasão, mesmo depois da morte de Sepé Tiaraju.
As pesquisas mostram que os Mbyá-Guarani são atualmente os que reivindicam essa conexão histórica com as Missões, por isso estão espalhados nesses
lugares tradicionais em territórios regularizados ou não como Terra Indígena, como
é o caso da aldeia Alvorecer (Kò èju) na T. I. Inhacapetum que estava habitada por
cerca de 200 Guaranis e Guarani-Mbyá e que fazem a venda de seus artefatos
no Sítio Arqueológico de São Miguel. Os Mbyá-Guarani da aldeia Kò èju mencionaram no dia 22/06/2021, quando estávamos em viagem de campo pela região
das Missões, sobre a importância da Cruz com duas hastes horizontais que foram
fincadas na praça central de cada uma das Missões Guaranis. Assim contemplam
a cosmovisão Guarani de que existe uma terra além, a Terra sem males e, já nessa
terra, galgam outros mundos possíveis, espirituais.
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As romarias da terra em São Gabriel (RS)14 onde Sepé Tiaraju fora martirizado, os esforços da Igreja Católica pela declaração de santidade dos três beatos
mártires riograndenses (desde 1934), o que finalmente aconteceu em 1988, e as
devoções e peregrinações para Caaró (RS) onde esses jesuítas foram martirizados
formam o contexto histórico da Missa da Terra sem Males. Por outro lado, haviam
as chamadas Missas missioneira, crioula, ou mesmo gauchesca que se espalharam
pelo Rio Grande do Sul até os nossos dias, em torno do nativismo ou movimentos
farroupilhas que possuem nas Missões dos Sete Povos Guaranis uma referência
mítica, porque ali a gauchada pensa que sua origem fora trocada, vilipendiada
no Tratado de Madrid de 1750. Esses movimentos locais ganharam dimensões
nacionais nessa Missa do 22 de abril de 1979 no centro financeiro do país, muito
próximo dos Guaranis Ñandeva e Kaiowá no Mato Grosso do Sul que estavam
sendo espoliados de seu território com o aval do Regime Militar (ver adiante caso
de Tupã-y). Impressiona que até os dias de hoje os Guaranis afirmam diante da
morte sistemática imputada pelos fazendeiros: Nossa mãe-terra precisa que a
defendamos, nem que seja com a nossa vida, é uma prova de amor.15
A moradora da Terra Indígena Yvy Katu, representante da Aty Guasu, Grande
Assembleia Guarani e Kaiowá, Leila Rocha Lopes foi incisiva na compreensão do
martírio ou do sacrifício a que são chamados, e foi lembrando de Marçal Tupã-y
(Guarani-Ñandeva), Dorvalino Rocha, Xurite Lopes, Nísio Gomes, Clodiode de
Caarapó (o agente de saúde Aquileu Rodrigues de Souza). Diante da plateia,
mostrou sua visão holística, a conexão com os antepassados e com a mãe-terra
em uma fala pública no Sínodo para a Amazônia:
Ñanderu está do nosso lado, vivendo com a gente, cuidando de nós. Mesmo
quando a gente morre, estamos conquistando um pouquinho da terra para
nós cuidar. [...] Ñanderu está do nosso lado, vivendo com a gente, cuidando
de nós. Mesmo quando a gente morre, estamos conquistando um pouquinho
da terra para nós cuidar. Nós não temos mais para onde ir. [...] Deus em
As quatro primeiras Romarias tinham sido realizadas em São Gabriel (RS) https://cdhpf.org.br/
artigos/romarias-da-terra-resgate-e-analise-dos-40-anos/
15
Essa fala informal de Leila Rocha Lopes, liderança Guarani-Ñandeva, foi ouvida por Aloir Pacini
nos espaços da Casa Comum por ocasião do Sínodo para a Amazônia em Roma (09/10/2019),
que narrava a resistência histórica de seu povo e os conflitos fundiários que enfrentam. Tratase de um modo de enfrentar específico: parece que estão dispostos a morrerem, não saem de
seus territórios tradicionais mesmo que isso os leve à morte violenta nessa terra, talvez por
causa da sua dimensão espiritual que remete para outros mundos espirituais. (PACINI, 2018).
14
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primeiro lugar, damos nome Ñanderu, está conosco na terra, ensinou como
a gente deve viver. Mesmo que a gente for matado, não podemos matar. A
gente sente muita saudade das pessoas que já partiu da terra. Eu já perdi
muitos dos meus parentes, lideranças tradicionais que cuida dos remédios,
da terra e Deus sabe onde eles estão agora. A gente não vê o Espírito que
está aqui no nosso meio, mas ele defende o nosso povo. Eu amo meu povo,
eu amo Deus do jeito que ele me ama. Eu amo o mato e o rio, quem não
conhece o Deus verdadeiro, está matando o rio, a terra. Ele não sabe o que
fala, porque temos um dono que cuida de nós, da nossa terra e um dia vai
limpar dessa gente que mata. Ñanderu está vendo o índio, a raiz da terra. [...]
A gente já passa comendo comida envenenada, bebendo água envenenada,
trazendo doença pra nós. Ajuda nós construir água limpa, mato grande para
viver na sombra... (Roma, 10/10/2019; transcrição Aloir Pacini).
Forçoso é olhar para os dias atuais e compreender o que aconteceu no dia
10 de fevereiro de 1756, quando o corregedor de Concepción, Nicolau Neenguirú
(Languiru), continuou no comando dos Guaranis e, na Batalha de Caiboaté, onde
foram massacrados16:
O sítio do Caaiabaté e suas vizinhanças era o lugar determinado, para onde
tinham de encaminhar-se os índios que, depois do Capitão Sepé, saíram
de seu Povo e dos demais. Diga-se, porém, que ainda não havia chegado
a ele ou às suas imediações nem a metade dos ditos índios, quando ali já
se encontravam os dois exércitos, prosseguindo sempre as suas marchas
regulares e bem ordenadas. (ESCANDÓN, 1983, p. 307).
Em longos traços, existe uma causa para tamanha tragédia que está sendo
rememorada na Missa da Terra sem Males: o expansionismo do Império português que passou a exercer cada vez mais soberania para além de suas fronteiras.
Os territórios das Missões jesuíticas situadas no atual Paraná, a leste ou ocidente
do Rio Uruguay eram atacados pelos bandeirantes já no século XVII e seguinte.
Na margem direita do rio Guaporé as Missões de Chiquitos e Mojos sofreram a
mesma invasão, sobre o rio Cuiabá e também sobre a margem esquerda do baixo
rio Paraguay durante a primeira metade do século XVIII. Esses acontecimentos
podem ser acessados no filme “A Missão” dirigido por Roland Joffé (1986). A
expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas (1759) e espanholas (1769) levou posteriormente à supressão da Companhia de Jesus (jesuítas), acusados de
16
Entre mais de 1500 Guaranis mortos, apenas 4 soldados dos exércitos imperiais, conforme www.
portaldasmissoes.com.br/site/view/id/1829/batalha-de-caiboate.html
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regicídio pelo Marquês de Pombal. Os locais dos Sete Pueblos das Missões foram
destruídos pela guerra, e isso foi associado à expulsão dos jesuítas, o que levou
à decadência das Missões na região, e as sedes das fazendas das Missões foram
entregues em forma de sesmarias para os comandantes dos Exércitos vencedores,
em forma de prêmio pela conquista.
2 MISSÕES GUARANIS E A BUSCA PELA TERRA SEM MALES
Nos tempos remotos, os jesuítas das Missões foram até o Pico do Monte
Negro, o ponto mais alto do Estado do Rio Grande do Sul, a 1403 metros de altitude na borda do cânion e ali celebraram a Missa, a 45 quilômetros da sede do
atual São José dos Ausentes para deixarem-se inspirar na forma de estabelecer
as Missões com os Guaranis.17 Dada a necessidade de quarentena nesse tempo
trágico que estamos vivendo na pandemia do Covid-19, cada um de nós pode
celebrar como Teilhard de Chardin,18 em nossas casas, os altares domésticos,
estendendo as mãos sobre alimentos, frutos da terra ou elementos da natureza
que estão ao nosso alcance, consagrando-os para incorporar as forças espirituais e
refletir nessa presença dos sábios indígenas em comunhão de mentes e corações
com nossa história. Outra Missa sobre o mundo foi feita pelo Padre Pedro Arrupe
em 23/08/1939 a 3.776 metros de Altura no monte Fuji-san (Japão) que entrou
18 vezes em erupção desde 1707.19 Nomeado Padre Geral, Arrupe defendeu
publicamente a obra do Padre Teillard de Chardin, antropólogo e paleontólogo,
pois era um esforço do apostolado da Companhia de Jesus, por isso atuava no
Concílio Vaticano II com Karl Rahner e Henri de Lubac.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_do_Monte_Negro
Teilhard de Chardin (1891-1955) jesuíta, cientista (paleontólogo e geólogo), filósofo e teólogo foi solicitado a calar-se pelo Papa da época em relação aos diálogos que
fazia entre fé e ciência. Enviado ao deserto de Ordos, China, onde não podia celebrar a Eucaristia, ali escreveu a Missa sobre o Mundo em 1923; www.ihu.unisinos.
br/78-noticias/541655-pierre-teilhard-de-chardin-a-sabedoria-do-teologo-da-noosfera
19
O Padre Arrupe estava em 6/08/1945 Hiroshima com cerca de 400 mil habitantes transformou-se
de uma hora para a outra e, como era médico, transformou o noviciado da periferia Nagatsuka
em hospital. Fez uma oração por aqueles que tiveram a crueldade selvagem de jogar a bomba
atômica: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. E pôs-se ao trabalho dia e noite.
Em Nagasaki Arrupe erigiu um monumento na colina onde 26 cristãos foram crucificados por
ordem de Hideyoshi em 5/02/1597, entre eles os jesuítas Pablo Miki, Juan Soan e Diego Kisai,
que foi inaugurado em 10/06/1962. Nas Missões Guaranis de Sepé Tiaraju também uma delas
tinha esses mártires como padroeiros.
17
18
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Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do Papa Francisco
Depois do Concílio e a Congregação Geral dos jesuítas, Arrupe passou um
mês no Brasil de Dom Helder Câmara para convencer a Companhia de Jesus a
libertar o ser humano de toda forma de injustiça e servidão, por isso dizia: nossa
Missão hoje é o serviço da fé e a promoção da justiça. Esse Padre Geral dos jesuítas
veio a Utiariti (MT) em 1968 para dizer aos missionários que saíssem do Internato
que colonizava mentes e corações dos indígenas para ficar sujeitos a eles nas
suas aldeias (PACINI, 2015). Esse foi o início do Conselho Indigenista Missionário
e da aplicação prática do conceito enculturação, o que desmontou o projeto de
aculturação que vinha acontecendo com a cruz e a espada, e assim iniciou-se
um caminho sem volta. A Missão era inculturar-se, ou seja, viver na cultura dos
indígenas para aprender com eles a viver o Evangelho, pois ali já estava lá sendo
vivido na forma de partilha.
A compreensão dos que organizaram a Missa da Terra sem Males é que
Ameríndia sofreu um passado de cativeiro e aconteceu um saque monumental
de suas riquezas como veias abertas durante os 500 anos de colonização. Por
isso a percepção atual é que os povos indígenas de todo o continente anseiam
pela “terra sem males” e o bem viver em comunhão com a natureza e com outras
etnias (os Wapichana nomeiam: kaimen, ver Pacini, 2019). Agora tornou-se mais
urgente a proposta da mencionada Missa da Terra sem Males, sem pandemia,
sem o capitalismo devastador e isso ficou explícito a partir da Encíclica Laudato Si´
(PAPA FRANCISCO, 2015), primeiro documento enviado para ser absorvido pela
Igreja e pessoas de boa fé para o cuidado da casa comum, um aporte explicitamente indígena que foi captado como um ensinamento para a humanidade. Por
isso os organizadores da Missa da Terra sem Males, mencionam que a memória
do sangue derramado celebrada gera Esperança quando consegue ser Ameríndia,
pelo carisma e sensibilidade dos artistas que a rezaram e cantaram, mas principalmente por causa da presença do Cristo Eucarístico que estamos olhando com
mais detalhes através da arte, através de sua poesia e canto:
Eu sou América, sou o Povo da Terra,
da Terra-sem-males,
o Povo dos Andes,
o Povo das Selvas,
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o Povo dos Pampas,
o Povo do Mar...
Do Colorado,
de Tenochtitlan,
do Machu-Pichu,
da Patagônia,
do Amazonas,
dos Sete Povos do Rio Grande... (CASALDÁLIGA, 1980, p. 11).
Os Mbyá-Guarani inseriram em sua linguagem mitológica o utópico tom
político e escatológico desta Missa há quarenta anos na Catedral da Sé em São
Paulo e continuam secularmente clamando desde as terras do Guayrá (do Mato
Grosso e Paraná) até o Tape (no Rio Grande do Sul), pois são eles os principais
filhos da grande nostalgia, os buscadores incansáveis da terra sem males. Assim
pensavam os que rezavam naquele dia 22/04/1979 ou rezam hoje nessa pandemia. Vi isso acontecer na aldeia Pindó Poty em Porto Alegre: o êxodo comovente
nesta peregrinação pela terra-sem-males que trouxe a tensa alegria da Esperança
no novo céu e a terra nova que Ñanderu jurou dar a seus filhos (PACINI, 2021).
A Missa da Terra-sem-males é uma missa de memória, remorso, denúncia
e compromisso. Ela nos atira no rosto esta realidade fatal: de todos os continentes escravizados - Ásia, África e América - a América é o único que não
retornará a seus filhos. Não se trata de sonhar o impossível sonho de uma
América puramente índia. [...]. Sem retórica, cabe dizer que os conquistadores Ingleses, Espanhóis e Portugueses se lançaram sobre o Continente
americano como uma malta de saqueadores, reduzindo a escombros três
impérios riquíssimos e exterminando, num espaço de quatro séculos, cerca de noventa milhões de índios. A Missa da Terra-sem-males brotou em
terra Guarani, ó Povo-aliança da América Índia. No centro do Continente,
os Guarani foram duplamente submetidos. O conquistador português ou
espanhol, converteu a terra guarani em campo de batalha até a destruição
completa de tudo quanto representasse trabalho humano ou humana aspiração. Contra toda a violência, contra todo o sangue derramado, o Povo
Guarani foi capaz de sonhar a Terra-sem-males. Não foi um “Céu-sem-males”,
foi uma Terra-sem-males, a utopia possível. A utopia construída pela luta
de todos os oprimidos. A pátria libertada de todos os homens. (TIERRA,
1980, p. 22-3).
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Contra toda a violência, contra todo o sangue derramado, o povo Guarani
foi capaz de continuar a sonhar a terra sem males. Eles buscam também o céu
sem males, por isso, como num espelho trabalham aqui na terra para que também
vivamos sem os males da ganância da idolatria, das drogas, da poluição entre
outros. Uma utopia sempre possível quando nos damos as mãos, quando construída na luta de todos os oprimidos em forma de paz para mudar as mentes dos
opressores, o que evitaria que o oprimido também deixasse o opressor habitar sua
consciência. Convivendo com os Guaranis, conseguimos compreender que a pátria
definitiva nos céus mostra como devemos realizar o nosso trabalho aqui na terra.
Poderia ter sido um poema, uma cantata, mas nasceu missa. Porque é impossível separar a história dos Povos Indígenas da América da presença da
Igreja entre eles. A mesma Igreja que abençoou a espada dos conquistadores
e sacramentou o massacre e o extermínio de povos inteiros, nesta missa se
cobre de cinza e faz sua própria e profunda penitência. A penitência por si
só não conduz a nada, nem sequer alivia a responsabilidade histórica que a
Igreja assumiu ao lado do branco colonizador. Contudo, a História marcha
e a Igreja mantém um laço profundo com os oprimidos da América. Que
esta penitência contribua para que este laço se converta em compromisso
com a marcha do Povo a caminho de sua libertação. (TIERRA, 1980, p. 23).
Interessante é a captação das memórias passadas, pois Pedro Tierra escreve
8 de outubro de 1979 um texto intitulado A Missa da Resistência Indígena (Tierra,
1980, p. 21-23) para falar que sua inspiração começou a brotar sobre as pedras
da Missão de São Miguel, fundada na margem direita do Ibicuí, em junho de 1632
pelos Padres jesuítas Pedro Romero, Cristóbal de Mendoza e Pablo Benavides
com os Guaranis e outras etnias, hoje Rio Grande do Sul. Tratam-se de terras
de fronteira entre a América espanhola e portuguesa, já dividida milenarmente
entre as etnias indígenas, com conflitos agravados agora pela ganância e o fogo
dos conquistadores:
O templo semidestruído de São Miguel é um monumento testemunho do
massacre do Povo Guarani, testemunho da resistência e da grandeza dos Povos
Indígenas de toda a América. As pedras escurecidas pelo fogo e pelos séculos
narram com seu terrível silêncio a passagem dos bandeirantes, a devastadora
passagem dos exércitos de Portugal e Espanha. A própria História da Resistência
dos Povos Indígenas aos conquistadores gestou no sangue esta Missa da Terrasem-males. [...]. Neste poema vulcânico, a América mergulha suas raízes na terraTellus, Campo Grande, MS, ano 22, n. 47, p. 165-196, jan./abr. 2022
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-mãe-ameríndia e retira dela a seiva elementar que nutre o sonho e a marcha de
seus filhos. (TIERRA, 1980, p. 21).
3 UMA DESCRIÇÃO DA MISSA DA TERRA SEM MALES
Uma Missa é ritmo e música, por isso se faz necessário que um músico organize suas partes para levar as pessoas a rezarem mais profundamente. Apesar
de não tratarmos de todas as partes da Missa aqui porque não se trata de uma
análise estrutural, trazemos algumas descrições que nos permitem apreciar, com
todos os sentidos, os detalhes a partir de uma parte:
Dentro de nossa memória histórica se afloram, desde suas entranhas, ritmos,
melodias e instrumentos, que fazem parte da longa caminhada de nossos
povos por tantos séculos dizimados e massacrados.
Desde sempre. Desde o fundo escuro das minas, dos canaviais, dos engenhos, hervatais e madeireiras. (COPLAS, 1980, p. 27).
O acesso ao importante ritual só é possível através de gravações e descrições que foram feitas por pessoas que se empenharam em preparar a Missa, e
também das que participaram. Entretanto, sabemos que o planejado nem sempre
acontece da forma como foi idealizado, uma vez que as inspirações do momento
também contam para que o ritual seja “conduzido” pelo Espírito Santo, segundo
os liturgistas. O texto deixado com indicações de quais instrumentos foram utilizados – do que eram feitos, quem os iriam tocar e quais vozes conduziriam os
cantos, estimula a imaginação de quem lê:
Tentando mostrar as raízes culturais de ‘’Nuestra América’’, selecionei para a
Missa da Terra-sem-males alguns dos ritmos mais importantes e populares
que representam as diferentes regiões deste Continente Americano.
A Missa da Terra-sem-males é estruturada em sete movimentos musicais [...]
Tentarei, de algum modo, também, registrar os diferentes instrumentos
empregados para expressar as modulações regionais já citadas. Quena é
um instrumento fundamental, original da América Latina, pertencendo à Era
Paleolítica. As primeiras quenas foram feitas de pedra e osso. Atualmente
são feitas de taquara. É um instrumento de sopro, com afinação pentatônica.
(COPLAS, 1980, p. 27).
É possível perceber como Martin Coplas procura explicar, em síntese, os
detalhes da riqueza musical que povoam as tradições indígenas nas Américas e
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Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do Papa Francisco
que serão trazidos para o ritual, o que é descrito com detalhes nas páginas 28
a 31. No mistério dito em palavras, com três estrofes dedicadas para a Trindade
Santa, o autor faz circular de forma harmônica o que se faz presente na terra-sem-males encarnada, e é celebrado nos mitos e ritos com o canto de abertura
para nunca mais sair da memória dos que participaram, na voz de Diana Pequeno:
Em nome do Pai de todos os Povos,
Maíra de tudo,
excelso Tupã.
Em nome do Filho,
que a todos os homens nos faz ser irmãos.
No sangue mesclado com todos os sangues.
Em nome da Aliança da Libertação.
Em nome da Luz de toda Cultura.
Em nome do Amor que está em todo amor.
Em nome da Terra-sem-males,
perdida no lucro, ganhada na dor,
em nome da Morte vencida,
em nome da Vida, cantamos, Senhor! (COPLAS, 1980, p. 33).
Escrita, cantada e rezada em português, a Missa da terra-sem-males é como
um rito de passagem dos cristãos para uma vida de fé adulta, comprometida com
a construção de uma sociedade mais justa e fraterna com a participação dos indígenas, num momento preciso em que a Igreja no Brasil estava identificada com
o processo de redemocratização e todos enchiam-se de esperança. A adesão foi
grande, como disse, quase quarenta bispos participaram da mencionada Missa,
no dia escolhido para desfazer o mito da descoberta do Brasil e apreciaram o
texto recitado e musicado (em anexo) que ambienta e traduz uma Celebração
Eucarística que, segundo a Igreja Católica é o momento de memória e atualização
do mistério do martírio de Jesus Cristo, dos jesuítas e dos indígenas.
Ao ler esta Santa Ceia, parece que dois momentos maiores tomaram conta
dos que participavam de forma plena, como textos indigenistas: a “Memória
Penitencial” e o “Compromisso Final”. Claro que aqui falamos de uma memória
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possível da época, num diálogo entre américa ameríndia e a consciência coletiva de
nossa civilização – colonizadora e missionária fazia-se presente e expurgava processos de exploração. O compromisso, alternando trágicas referências históricas com
o grito coletivo da comunidade celebrante: “Memória, Remorso, Compromisso!”
No decorrer do ritual da Missa é rememorado a morte do Cristo e sua ressurreição, sua Páscoa pessoal já completa, porém ficava o contraste com a Páscoa
ameríndia, carregada de mortes até os dias de hoje e que precisa de atualização
urgente. Toda a Missa, entretanto, foi traspassada de uma incontida Esperança
como virtude teologal e um inevitável compromisso político e evangélico que parecia tornar acreditável e eficaz, aqui e agora, a Escatologia cristã: “A Missa invoca
seus Santos: do lendário Montezuma até o missionário João Bosco, fuzilado, a meus
pés20, pela Polícia Militar, na delegacia de Ribeirão Bonito.” (CASALDÁLIGA, 1980,
p. 17). Diante dos fatos, o canto emocionado à Mãe de Guadalupe, padroeira da
América Latina manifestada ao indígena São Juan Diego, definia aquele espírito
eclesial na vontade de convocar e de congregar todos os povos do Continente,
numa só marcha pela libertação:
Morena de Guadalupe,
Maria do Tepeyac,
congrega todos os Índios
na estrela do teu olhar,
convoca os Povos da América
que queres ressuscitar. (CASALDÁLIGA, 1980, p. 18).
Ademais, o que importava era celebrar toda a Missa, comprometendo-se
com o cuidado do bem viver na casa comum, ressaltado na causa dos povos indígenas, para viver e encontrar a terra-sem-males, ou melhor, construir dia após
dia o bem viver nas relações de respeito para com a natureza, com as pessoas e
com Deus, com paciência e perseverança.
20
Não é superficial a expressão “a meus pés”, pois ameaças podem ser percebidas até por
gestos com as mãos em forma de armas, feitas por seguidores do atual presidente do Brasil.
Além do mais, dentro do contexto do estímulo à violência sem justificação causal, fazemos
memória ao massacre de quatro Chiquitanos, ocorrido no dia 11 de agosto de 2020 na comunidade San José de la Frontera por policiais do GEFRON: https://cimi.org.br/2020/09/
dois-massacres-ainda-sem-respostas/
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Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do Papa Francisco
“Uirás” sempre a procura
da Terra que virá,
Maíra nas origens,
no fim Marana-tha! (CASALDÁLIGA, 1980, p. 18).
A mencionada Missa, que representa o sentido de sacrifício de Cristo pelos
pecados para os católicos, nos parece ter no viés penitencial o intento de lavar
das Américas os massacres de Cortez, Pizzarro, Valdívia, Raposo Tavares, Borba
Gato e tantos outros já registrados. A análise do ritual mostra que a Igreja Católica
fazia um esforço de retorno à prática de Jesus, inspirada pelo Concílio Vaticano
II (1964-5). A percepção era que os humanos erram desde sempre e os cristãos
não deixam de ser pecadores assim no mais, ou pelo fato de serem discípulos de
Jesus Cristo. Com o governo atual do Brasil, vemos com mais clareza que somos
herdeiros dos missionários de ontem que tiveram seus esforços de altruísmo, mas
dentro de uma história de colonização, andaram nas brechas do sistema estabelecido do mercantilismo com seus pecados e méritos. Assim, Casaldáliga publica
a carta escrita para os leitores do Mensageiro, o meio de comunicação de sua
Prelazia, que deseja superar as polêmicas em torno da Missa (p. 15-8), dizendo:
“Acredito na missão que foi a vocação de Jesus, que é essência da Igreja, no
dizer do Vaticano II. E me sinto herdeiro dos missionários de ontem- de seus
pecados e de seus méritos. O “nós” da “Memória Penitencial” da Missa é
um nós eclesial, coletivo.” (CASALDÁLIGA, 1980, p. 15)
Insistindo, os “nós” da Missa remetem ao coletivo eclesial em virtude dos
erros cometidos ontem e hoje pela Igreja Católica também.
Solo (C):
Eu era a Terra livre,
eu era a Água limpa,
eu era o Vento puro,
fecundos de abundância,
repletos de cantigas.
Todos:
E nós te dividimos
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em regras e em fronteiras.
A golpes de ganância
retalhamos a Terra.
Invadimos as roças,
invadimos as tabas,
invadimos o Homem. (COPLAS, 1980, p. 46).
Notamos que a música tem seu ritmo pautada pelos sons alcançados nas
vozes e nos diferentes instrumentos musicais, auxílios valiosos para que chegasse
na memória e no coração das pessoas como uma experiência espiritual relevante.
Isso fez com que essas marcas auxiliassem para gravar e decorar tais canções, algo
muito semelhante ao que os povos tradicionalmente fazem em relação aos mitos
que são compostos com personagens típicos em cada cultura e são narrados com
imagens, como mitemas, diria Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Ou seja, estamos
trazendo essa compreensão de que os sons ritmados das músicas como estradas
ou trilhos de um trem (ou partituras) auxiliaram a memória para fazer com que
esses cantos fossem decorados e cantados de geração em geração: ou até mesmo
fossem encenados na hora da narração, e, sobretudo, quando são ritualizados,
porque ali são recordados e atualizados com mais facilidade na posteridade,
sempre segundo os dons dos artistas.
4 SÃO SEPÉ TIARAJU E MARÇAL TUPÃ-Y: HERÓIS DA PÁTRIA
América Ameríndia
ainda na Paixão
um dia tua morte
terá Ressurreição!
(Epílogo in Casaldáliga, 1980, p. 5; 13).
Atendendo ao espírito da época de pressão contra a ditatura militar, a Missa
da terra-sem-males queria ser revolucionária não só na forma de celebrar, mas
também ao homenagear o herói indígena que passou para a história na Guerra
Guaranítica contra os impérios de Portugal e Espanha, atribuindo-lhe o título de
santidade, dado que foi morto, derramou seu sengue como Cristo, defendendo
o seu povo. Apesar de não constar no rol oficial dos Santos da Igreja Católica,
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desde o século XVIII, o povo do Rio Grande do Sul canonizou o cacique Guarani
como São Sepé Tiaraju. Em 07/02/1756, esse índio deu a vida por seu povo e para
que a terra ancestral pudesse permanecer com seu povo, ser sinal da Terra sem
males, a casa comum para todos os povos. Em reconhecimento do seu martírio,
já vimos que o povo da região deu o nome de São Sepé a uma cidade da região
central do Rio Grande do Sul.
Aqui ilustramos as relações entre o passado mais distante das Missões
Guaranis, com o contexto do regime Militar (1 de abril de 1964 e que durou até
15 de março de 1985) em que os indígenas foram duramente combatidos no Brasil
através da história pessoal do Guarani Marçal de Souza, o Marçal Tupã-Y (pequeno
Deus), que nasceu no dia 24/12/1920 em Rincão Júlio (região de Ponta Porã, Mato
Grosso do Sul) também sofreu o martírio. Com 3 anos de idade, mudou-se para
a aldeia Te’ýikue, na cidade de Caarapó e, órfão de pai e mãe aos 8 anos, fica na
Nhanderoga, nome dado ao orfanato de crianças indígenas, na Missão Caiuá, área
indígena de Dourados. Vítima de perseguições, em 1978 é expulso de Dourados
pela Funai e volta a morar na aldeia Te’ýikue. A Missa da Terra sem Males o toca
inspirando-o em sua Missão. Em 1980, Tupã-y foi escolhido representante indígena
para falar ao Papa João Paulo II durante sua primeira visita ao Brasil, momento
em que denunciou ao pontífice as condições nas quais viviam. Observamos que
existem duas linguagens, uma espontânea e outra na carta que foi lida e entregue
ao Papa João Paulo II em sua primeira visita ao Brasil (Manaus, Amazonas em 11
de julho de 1980): O Brasil não foi descoberto, não, Santo Papa, o Brasil foi invadido e tomado das mãos dos verdadeiros filhos da terra! (transcrição do vídeo).
21
Aqui, o escrito: “Nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos
[…] Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, o Brasil foi
invadido e tomado dos indígenas” (cópia no Arquivo da Missão Anchieta). Tupã-y
já estava ameaçado de morte, por isso ganha relevância essa fala:
Trazemos à Sua Santidade a nossa miséria, a nossa tristeza pela morte de
nossos líderes assassinados friamente por aqueles que tomam o nosso chão;
21
No vídeo de onde transcrevemos parte dessa fala de Marçal Tupã-y, podem ser vistas outras
cenas mencionando outros lugares, também em maio de 1978, na XI Assembleia de Chefes
Indígenas na aldeia São Marcos (MT), onde foram martirizados Rodolfo Lunkenbein e Simão
Bororo. O salesiano Rodolfo Lunkenbein e o índio Simão Cristino Koge Kudugodu (Simão Bororo)
foram martirizados ali próximo, na aldeia Meruri, no dia 15/07/1976.
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aquela que para nós representa a nossa própria vida e a nossa sobrevivência
nesse grande Brasil chamado um Brasil cristão.22
No mesmo ano, Tupã-y envolve-se na luta pela posse de terras na área indígena de Pirakuá, em Bela Vista. A demarcação é contestada pelo fazendeiro Astúrio
Monteiro de Lima e seu filho Líbero Monteiro, que consideram a região parte de
sua propriedade. Após diversas ameaças e agressões, no dia 25/11/1983, Marçal
Tupã-y é assassinado a tiros na sua casa, na aldeia Campestre23. Os acusados do
crime, Líbero Monteiro de Lima e Rômulo Gamarra, acabam absolvidos em julgamento realizado em 1993.
Apesar dos acontecimentos da vida de São Sepé datarem mais de 250 anos,
da Missa e do martírio de Marçal Tupã-y somarem décadas, alguns fatos de hoje
parecem lembrar aquela tragédia, mostrada no filme “A Missão”, anteriormente
citado. Ainda hoje, a maioria dos povos indígenas no Brasil não tem garantida a
demarcação de suas terras e o respeito aos seus costumes tradicionais, uma saúde
e educação escolar diferenciada e específica segundo suas culturas. No Brasil de
hoje, o agronegócio e os grandes projetos de hidroelétricas como a Itaipu - que
expulsou os Guaranis, as estradas e os arrendamentos que invadem seus territórios, o aparelhamento da FUNAI para não demarcar Terras Indígenas, os cortes
em educação e saúde ameaçam a própria existência dos povos e comunidades
indígenas, tanto na Amazônia, no Brasil, quanto na bacia do Paraguai. Além das
ameaças supracitadas, a pandemia pelo coronavírus encontra uma letalidade
maior entre os indígenas: entre os quase 300 mil brasileiros mortos em decorrência da covid-19, em 15 de março de 2021, o Brasil ultrapassava a marca de
mil indígenas mortos.24
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QKMjXlnM8Xw&ab_channel=RedeTVT.
Essa menção extemporânea e a do Irmão Vicente Cañas, podem ser consideradas atualizações,
consequências ou efeitos da Missa da Terra Sem Males. Tupã-y foi um líder da etnia GuaraniÑandeva (que habita o oeste do Brasil, nas fronteiras com a Argentina, a Bolívia e o Paraguai).
Martirizado, através de seu povo e a atuação de diversas ONGs, foi condecorado com a honra
de Herói Nacional do Brasil pelo governo federal, como a Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Sul declarou Sepé Tiaraju como Herói Guarani Missioneiro Rio-Grandense (Lei º 12.366 de
03/11/2005).
24
Jair Bolsonaro quer matar 30 mil!! - Bing video https://www.bing.com/videos/search?q=
Bolsonaro+falou+que+precisava+eliminar+uns+30+mil&docid=608011; nós o colocamos
num lugar de poder que levou à morte dez vezes mais; https://amazonia.org.br/2021/03/
brasil-ultrapassa-marca-de-mil-indigenas-mortos-em-decorrencia-da-covid-19/.
22
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Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do Papa Francisco
Nesse contexto, retomar nesses dias a memória de São Sepé Tiaraju, de
Marçal Tupã-y é uma forma de recordar tantos índios e índias que ainda hoje arriscam a vida para que os povos autóctones deste continente possam viver livres
e em seus territórios tradicionais. Quem vive um caminho de busca espiritual
sente-se interpelado à solidariedade com os povos indígenas, fonte de sabedoria
e de espiritualidade ecológica para toda a humanidade.
5 REFLEXÕES DO PAPA FRANCISCO
No dia 9 de agosto de 2019, o Papa Francisco expressava em uma entrevista
para La Stampa que o Sínodo para a Amazônia era filho do Laudato Si’, não era
uma encíclica verde, mas social e guardiã da Criação, necessários para os tempos
atuais porque a crise ambiental atual tem causas estruturais associadas a uma
globalização sem limites da “cultura do descarte”. Por isso a Laudato Si’ convida
a reconhecer a irmã-mãe terra como outra com quem temos uma relação de interdependência e da qual viemos. O Papa Francisco propõe na Querida Amazônia
que sonhássemos, uma metáfora da força dos sonhos para os indígena. Os quatro
sonhos como quatro níveis da vida da Amazônia, na Aty Guaçú, dos quais a Igreja
pode e deve cuidar:
[...] Deve encarnar-se a pregação, deve encarnar-se a espiritualidade, devem
encarnar-se as estruturas da Igreja. Por isso, nesta breve Exortação, ouso
humildemente formular quatro grandes sonhos que a Amazônia me inspira:
7. Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos
povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.
Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza
e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.
Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural
que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.
Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal
modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.
(FRANCISCO, 2020, p. 5).
Cada um desses quatro sonhos corresponde a um capítulo do texto que
serve para todos os biomas como os pampas de Sepé Tiaraju ou o Guayrá de
Marçal Tupã-y, localizado na Amazônia como metáfora:
a) Um sonho social (nº 8-27)
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A promoção da justiça socioambiental como bem viver na Amazônia corresponde ao “cuidado da criação” e à “atenção aos últimos” que se entrelaçam
num clima de escuta e de diálogo.
b) Um sonho cultural (nº 28-40)
A Amazônia enquanto tesouro de culturas pode ser representada pela
poesia nº 31:
Do rio, fazes o teu sangue […].
Depois planta-te,
germina e cresce
que tua raiz
se agarre à terra
mais e mais para sempre
e, por último,
sê canoa,
barco, jangada,
solo, jarra,
estábulo e homem (Javier Yglesias, Llamado, 2007).
O encontro intercultural com seus devidos cuidados pela manutenção da
criatividade na formação das identidades se torna um estilo de relação no mistério
que constitui a Igreja enquanto Católica para assumir a perspectiva dos “direitos
dos povos e das culturas”.
c) Um sonho ecológico (nº 41-60)
Aqui também a profecia consegue dizer-se através da poesia número 47:
Aqueles que pensavam que o rio fosse uma corda para jogar, enganava-se.
O rio é uma veia muito subtil sobre a face da terra. […]
O rio é uma corda onde se agarram os animais e as árvores.
Se o puxarem demais, o rio poderia rebentar.
Poderia explodir e lavar-nos a cara com a água e com o sangue (Juan
Carlos Galeano, Los que creyeron, 2011).
A abordagem da proteção da casa comum está envolta na tradição espiritual e relacional que recupera o olhar contemplativo em relação à natureza e à
criação, pois assume o grito dos povos contra a degradação do meio ambiente.
d) Um sonho eclesial (nº 61-110)
Esse sonho é o mais complexo, porque vem de um sono agitado, cheio de
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Revisitando a Missa da Terra sem Males em tempos do Papa Francisco
mártires, da colonização. A primeira parte desse sonho é dedicada à inculturação,
sonho também do Padre Arrupe (nº 61-84) e da Missa da Terra sem Males. O Papa
Francisco inicia uma revolução da ternura, um diálogo difícil nestes tempos de
desumanização pela tirania do mercado, um injusto empobrecimento do Terceiro
Mundo. Assim o Papa foi ao túmulo do Padre Arrupe, que indicou no Campo de
Refugiados, um programa para os jesuítas e colaboradores em três palavras: servir,
acompanhar, defender.
Aqui as palavras fortes e proféticas levam a reconhecer que “é possível receber, de alguma forma, um símbolo indígena sem o qualificar necessariamente
como idolátrico. Um mito denso de sentido espiritual pode ser valorizado, sem
continuar a considerá-lo um extravio pagão” (QA 79). Na Amazônia parece mais
fácil sonhar, amar e sofrer, algo que a Cúria Romana tem dificuldade de ver, mas
alguém que veio dos pampas do sul da América do Sul parece que tem a arte do
sono e do sonho até onde lhe é permitido:
Isto permite-nos receber na liturgia muitos elementos próprios da experiência dos indígenas no seu contacto íntimo com a natureza e estimular
expressões autóctones em cantos, danças, ritos, gestos e símbolos. O Concílio
Vaticano II solicitara este esforço de inculturação da liturgia nos povos indígenas, mas passaram-se já mais de cinquenta anos e pouco avançamos
nesta linha (QA 82).
O impulso profético e poético chega até o limiar do sonho, acordamos para
“A inculturação do ministério”, o que vi ritualizado na Missa da Terra sem Males
tanto tempo antes:
A inculturação deve desenvolver-se e espelhar-se também numa forma
encarnada de realizar a organização eclesial e o ministério. Se se incultura
a espiritualidade, se se incultura a santidade, se se incultura o próprio
Evangelho, será possível evitar de pensar numa inculturação do modo como
se estruturam e vivem os ministérios eclesiais? A pastoral da Igreja tem
uma presença precária na Amazônia, devido em parte à imensa extensão
territorial, com muitos lugares de difícil acesso, grande diversidade cultural,
graves problemas sociais e a própria opção de alguns povos se isolarem.
Isto não pode deixar-nos indiferentes, exigindo uma resposta específica e
corajosa da Igreja (QA 85).
Na segunda parte (nº 85-110), o estado de vigília se impõe porque concretiza na sinodalidade e ministerialidade da Igreja, na Eucaristia, no Ecumenismo a
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tarefa de todo dia. Por isso, a poesia e o ritual deram lugar à descrição normativa,
a profecia abriu espaço para uma vigilância preocupada e parece que não morremos na praia, vamos chegar à terra sem males. Temos que ter a humildade de
saber que o carisma fica além, mas o mistério se encarna no limite. Lamentamos
porque o discurso sobre as comunidades “desprovidas da eucaristia” só conseguiu
imaginar respostas mediadas pela linguagem elaborada na Europa do século XVI,
não se abriu para a criatividade indígena em suas múltiplas celebrações.
6 A MISSA DA TERRA SEM MALES E A PANDEMIA PELO NOVO
CORONAVÍRUS
Assim nos parece que a pandemia é fruto da forma humana de explorar
o planeta terra até o esgotamento no antropoceno. A multiplicação de pragas,
vírus e bactérias acontecem nos ambientes onde os predadores foram eliminados,
tornaram-se terreno propício para infestar-se de pragas e ameaçar todos os seres
humanos. Por isso, o cuidado da casa comum está implicado na preservação da
diversidade da vida na terra e no diálogo com os povos indígenas nas suas sensibilidades e aprendizados ancestrais que eles oferecem para a humanidade atual.
Não podemos sair da Missa da Terra sem Males e da pandemia pelo novo
coronavírus, o novo mal que assola nossa casa comum, da mesma forma como
entramos, egoístas e capitalistas, como pontua o Papa Francisco. Assim, como
num movimento do pêndulo da história, o que não é resolvido volta de outras
formas para que a humanidade tenha a oportunidade de sanar a terra, sarar suas
feridas, lavar dos males o planeta em vários tipos de dilúvio, de água, de fogo e de
vento, como pensam os Guaranis, Wapichana e Chiquitano (PACINI, 2018; 2019).
O Papa Francisco, que veio das águas do rio Paraguai, assumiu o pontificado
(14/03/2013) e surpreendeu a todos com uma pauta associada à Missa da Terra
sem Males. O pontífice convocou todos os povos da terra para cuidar da nossa
casa comum (Laudato Si´, 2015). Encontrou-se com povos indígenas em Puerto
Maldonado em 19/01/2018 para escutá-los antes do Sínodo para a Amazônia
(2019), sintetizado no documento Querida Amazônia (2020). O Papa observa que
os oprimidos das Américas que marcharam durante séculos e marcham hoje em
busca da terra-sem-males serão libertados quando o opressor não mais oprimir.
Assim, não basta somente criar relações mais igualitárias entre os que estão na
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base da sociedade, é preciso também derrubar os poderosos dos seus tronos
com cantou Maria, a Mãe de Jesus (cf. Evangelho de Lucas 1, 46-56). Dessa forma,
percebemos que somente uma figura como a do Papa Francisco poderia convidar
a todos para uma vida simples, sem esbanjamento nem ostentação, viver bem
numa sobriedade feliz como os indígenas na casa comum, e ser ouvido.
E mais, a terra sem males não seria somente o espaço geográfico pensado
como casa comum e não propriedade privada de alguns poucos, mas também
um tempo kairós,25 tempo de Páscoa após uma longa Quaresma. Sugestivo seria
que os Estados Unidos da América, os países mais ricos e que mais degradaram
o planeta, os chamados G7 e o G20, pudessem participar dessa Missa e viver
seu espírito – não como opção, mas como uma obrigação pelo bem comum, ou
mesmo pela subsistência dessa geração humana no planeta terra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos as relações apontadas entre a Missa e sua historicidade no
contexto histórico brasileiro e, ainda que as relações entre o passado e o presente
sejam rapidamente mencionadas, demonstrar certa continuidade nos fenômenos
é um ato político para os nossos tempos. Em outro momento, a Missa poderia ser
revisitada também para tratar das estratégias de resistência, pela via do simbólico, e da tentativa de criação de uma relação de uniformidade histórica entre os
povos Mbyá-Guarani em relação com as outras etnias Guarani, pois as mudanças
que cada uma delas experimentou ao longo dos séculos devem ser consideradas.
Em tese, não vivemos mais na época da Ditadura Militar – apesar de as
atitudes dos governantes sugerirem o contrário. Entretanto, viver na suposta democracia não é suficiente para que os indígenas sejam reconhecidos no Brasil, pois
dia a dia percebemos a reinvenção de atitudes fascistas e genocidas. O que está
na raiz da Missa da Terra sem Males é o desejo de produzir crítica social e mudar
a postura colonialista em relação aos povos indígenas, algo que não acontece por
decreto. Descolonizar é preciso e esta história da resistência dos povos indígenas
25
Kairós (em grego καιρός), na mitologia grega é o deus do tempo oportuno, do momento certo,
supremo. A partir do século V a.C., Íon de Quios lhe dedicou um hino que o celebra como o
filho mais jovem de Zeus.
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do continente mostra uma agência, uma forma de estar neste mundo, buscando
seu próprio rosto, sua identidade, a força da esperança libertadora.
Marçal Tupã-y foi assassinado em 25/11/1983 na aldeia de Campestre,
município de Antonio João, Mato Grosso do Sul, com 59 anos. Marçal, cinco dias
antes de ser morto, havia recusado uma oferta de dinheiro para facilitar a retirada
dos índios Kayowá da área Pirakuá. Segundo a liturgia católica, na Missa fazemos
memória do protomártir Jesus de Nazaré, por isso também é Eucaristia, ação de
Graças pelo bem que Ele fez. Talvez por isso Tupã-y foi condecorado com a honra
de Herói Nacional do Brasil e, em 2009, um decreto do presidente da República
inscreveu o nome de Sepé Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria.26 Parece que é
chegado o momento de invocarmos santos e mártires passados e atuais: do mito
Sepé Tiaraju, “luzeiro na testa, ‘São Sepé’ para a fé do Povo” (CASALDÁLIGA, 1980,
p. 10), até os missionários jesuítas João Bosco Burnier e o Irmão Vicente Cañas
junto aos Enawenenawe (martirizado em 07/04/1987), chegamos à tragédia da
pandemia que nos assola.
Na Missa feita com música, poesia e resiliência de terra-mãe-ameríndia,
as Américas mergulham mais profundamente em suas raízes para fixá-las como
árvores da vida a fim de retirar dela a seiva que nutre o sonho e a marcha de
seus filhos. Parece que essa Missa da terra-sem-males é uma mesa santa que
faz memória da partilha, denuncia e traz o perdão, para que, livres dos pecados
passados, possamos assumir o compromisso e a responsividade (PACINI, 2021)
com uma terra mais justa e fraterna, sem armas, mas com pão para todos, nessa
casa comum: oikos.
26
Em Mato Grosso do Sul, onde vivem os Guarani-Kaiowá e os Guarani-Ñandeva, os conflitos
fundiários compõem um quadro de graves violações de direitos humanos, que ganha contornos
de genocídio que podem ser exemplificados e leva os indígenas a retomar seus territórios –
chamados de tekoha. Marcos Veron, líder do povo Guarani-Kayowá, foi assassinado em janeiro
de 2003 por jagunços e policiais, durante a madrugada, em um ataque covarde contra a aldeia
Taquara, no município de Jutí (MS); Dorival Benitez, também Guarani-Kayowá foi morto a tiros
em conflito com fazendeiros invasores da terra indígena Sombrerito, município de Sete Quedas
(MS); Dorvalino Rocha também Guarani-Kayowá foi assassinado a tiros no dia 24 de dezembro
de 2005 por seguranças da fazenda Fronteira, no município de Antonio João, MS. Dorvalino
encontrava-se acampado às margens da rodovia MS-384, juntamente com todos os outros indígenas que haviam sido expulsos, por decisão judicial, da terra indígena Ñande Ru Marangatu,
15 dias antes do assassinato. Em 2015, entre agosto e setembro foram cinco comunidades
Guarani-Kaiowá violentamente atacadas por pistoleiros, causando a morte de outra liderança,
Simião Vilhalva no mesmo local que em que Marçal está sepultado.
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COPLAS, Martin. Missa da Terra sem Males. n. 27. Rio de Janeiro: Tempo e Presença
Editora, 1980.
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Instituto Anchietano de Pesquisas, 1983.
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e a todas as pessoas de boa vontade. Roma, 2020.
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PACINI, Aloir. Kaimen. O bem-viver Wapichana. Tellus, Campo Grande, MS, ano 19, n. 38,
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Sobre os autores:
Aloir Pacini: Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS − 2012). Mestrado em Antropologia Social pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) − Museu Nacional (1999). Graduação
(Bacharelado) em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG −
1990), graduação (Bacharelado) em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia
e Teologia (1996). Atualmente, é servidor público − cargo de professor adjunto
IV do Departamento de Antropologia do Instituto de Ciências Humanas e Sociais,
professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: pacinialoir@gmail.com,
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9859-6129
Marina Garcia Lara: Mestranda em Antropologia Social pela Universidade Federal
de Mato Grosso (PPGAS/UFMT). Especialista em Docência do Ensino Superior pela
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Pós-graduanda em Ciências Humanas
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharela
em Administração pelo Instituto Cuiabá de Ensino e Cultura (ICEC). Faz pesquisas em Antropologia das Religiões. Professora de Ensino Religioso, Filosofia e
Sociologia do Ensino Médio (Cuiabá, MT). E-mail: profmarinalara@gmail.com,
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6273-2010
Recebido em: 13/04/2021
Aprovado para publicação: 24/11/2021
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