COMPRAR PARA O MELHOR AMIGO: RELACIONAMENTO HOMEM-PET E
COMPORTAMENTO DE COMPRA1
Michele Raasch
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
micheleraasch@hotmail.com
João Henriques de Sousa Júnior
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
sousajunioreu@hotmail.com
João Coelho Soares
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
joaocsoares88@gmail.com
Weverson Soares Santos
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
weverson_ss@hotmail.com
Rudimar Antunes da Rocha
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC
rrudimar@hotmail.com
RESUMO
O estudo possui o objetivo de verificar se a forma de relacionamento entre donos de cães e
gatos e seus animais possui influência no comportamento de compra. A pesquisa utilizou de
metodologia quantitativa via survey, com a participação de 599 respondentes de 25 estados
brasileiros. Questões sobre antropomorfismo, autoconceito orientado, e objeto/utilidade foram
utilizadas para verificar o tipo de relacionamento entre homem-pet, e sobre esforço e disposição
de compra para o comportamento de consumo. Os principais achados deste estudo destacam
que o tipo de relacionamento afeta o comportamento de compra dos donos de pets. Frente ao
exposto, a pesquisa contribui para o avanço na exploração do comportamento de consumo desse
segmento de mercado, possibilitando aos gestores e profissionais de marketing desenvolverem
estratégias mais assertivas na influência e estímulo de compra dos donos de animais.
PALAVRAS-CHAVE: Comportamento de compra; Antropomorfismo; Autoconceito.
1 Recepção: Março/2022.
Aprovação: Maio/2022.
Publicação: Ago/2022.
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BUYING FOR THE BEST FRIEND: MAN-PET RELATIONSHIP AND SHOPPING
BEHAVIOR
ABSTRACT
The study aims to verify if the form of relationship between dog and cat owners and their
animals has an influence on purchasing behavior. The research used a quantitative methodology
via survey, with the participation of 599 respondents from 25 Brazilian states. Questions about
anthropomorphism, oriented self-concept, and object/utility were used to verify the type of
relationship between man-pet, and about effort and willingness to buy for consumption
behavior. The main findings of this study highlight that the type of relationship affects the
purchasing behavior of pet owners. In view of the above, the research contributes to advancing
the exploration of consumer behavior in this market segment, enabling managers and marketing
professionals to develop more assertive strategies for influencing and encouraging purchases
by pet owners.
KEYWORDS: Buying behavior; Anthropomorphism; Self-concept.
INTRODUÇÃO
A relação entre seres humanos e animais não é recente, desde os primórdios da espécie
humana há registros de vários tipos de relacionamentos que foram estabelecidos, alguns
encontram-se gravados em pinturas rupestres, por exemplo. Conforme estudos diversos, o
relacionamento entre essas espécies é capaz de produzir diversos sentimentos em seus donos,
como: bem-estar (BELK, 1996; BAO; SCHREER, 2016; KYLKILAHTI et al., 2016); amor
incondicional (BELK, 1996; HOLBROOK et al., 2001; HOLBROOK, 2008; KYLKILAHTI et
al., 2016; HOFFMAN et al., 2018); lealdade e confiança (BELK, 1996; BOYA; DOTSON;
HYATT, 2012; HOFFMAN et al., 2018).
Tais sentimentos fazem com que os donos de animais de estimação se aproximem cada
vez mais de seus pets. E se encontrem dispostos a consumir e gastar, uns mais que outros, por
produtos e serviços para seus animais (BELK, 1996; HOLBROOK, 2008; LUE;
PANTENBURG; CRAWFORD, 2008; BOYA et al., 2012; CHEONG; YI, 2015; KIRK, 2019;
SCHLEICHER; CASH; FREEMAN, 2019). Nesse sentido, compreender o comportamento de
compra de donos de animais é cada vez mais crítico para o marketing (KUMCU;
WOOLVERTON, 2015).
É salutar destacar que os animais de estimação desempenham um papel cada vez mais
importante na vida dos consumidores e na economia (KIRK, 2019). O Brasil é o segundo maior
mercado pet mundial, atrás apenas dos EUA, com faturamento de US$ 20,3 bilhões em 2018
(Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, 2019). No tocante
aos gastos com esses animais, aponta-se que o gasto médio mensal com cães de todos os portes
é de R$ 338,76, enquanto o mesmo gasto com gatos gira em torno de R$ 196,56 (IPB, 2019).
No Brasil, há uma estimativa de que existiam 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos no
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ano de 2018 (ABINPET, 2019). Tais números impressionam ao se constatar que, por exemplo,
consumidores norte-americanos que são donos de cães tendem a ter gastos distintos a depender
da forma como se relacionem com seus animais (BOYA et al., 2012, 2015).
Nesse contexto, pautando-se nos estudos supracitados, na recomendação de estudos
futuros de Boya, Dotson e Hyatt (2012), e Cheong e Li (2015), da teoria e os dados levantados
do cenário pet no Brasil, percebe-se a relevância deste mercado para o cenário nacional. Assim,
pesquisas empíricas direcionadas para este segmento de mercado no Brasil são necessárias para
auxiliar gestores na tomada de decisão e no posicionamento de mercado, enquanto que
pesquisas voltadas para o marketing do setor pet podem servir de base empírica para os
profissionais de marketing desenvolverem estratégias mais assertivas e direcionadas para o
público-consumidor. Com isso, o objetivo desta pesquisa foi verificar se a maneira como os
donos e seus animais de estimação se relacionam possui alguma relação com o comportamento
de compra dos donos de animais de estimação, verificando possíveis fatores que influenciam
em tais comportamentos. Aqui serão considerados apenas cães e gatos como animais de
estimação ou pets.
REFERENCIAL TEÓRICO
Relacionamento homem-pets
O aumento no consumo de produtos e serviços para pets, assim como a quantidade de
tempo e energia gastos com o animal, indicam para um relacionamento de proximidade, de
companheirismo, amor e de afeto entre donos e seus bichos (DOTSON; HYATT, 2008;
HOLBROOK, 2008). Pessoas que possuem animal de estimação se mostram mais satisfeitas
com a vida do que pessoas que não possuem pet (BAO; SCHREER, 2016), bem como
encontram-se dispostas a alterar suas rotinas, seus padrões de vida e seus hábitos por conta da
presença de seu animal de estimação (BELK, 1996; HIGGINS et al., 2013).
Os animais de estimação são vistos como objetos principalmente por aquelas pessoas
que os consideram literalmente como animais de estimação. Geralmente estes donos adestram
seus animais como forma de comando ou então como uma peça colecionável como, por
exemplo, um brinquedo (BELK, 1996). Esse tipo de relação faz com que o animal seja reduzido,
por vezes, a um papel de cumprir o status do seu dono, um ornamento, um objeto de
exibicionismo de riqueza e poder, ou ainda como vocação para competições (HIRSCHMAN,
1994).
Em contrapartida, a companhia do pet para o indivíduo transcende os limites entre
humanos e animais, atribuindo emoções humanas e até características humanas a seus animais
(HIGGINS et al., 2013). Nessa perspectiva, cães e gatos são vistos pelos seus donos como
membros da família, como amigos, filhos, irmãos, companheiros de brincadeiras, colaborando
para a sua felicidade e transcendendo um amor incondicional por seus companheiros (BELK,
1996; DOTSON; HYATT, 2008; HIGGINS et al., 2013; HIRSCHMAN, 1994; HOLBROOK
et al., 2001; HOLBROOK, 2008).
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Os cães e os gatos são os animais mais humanizados e antropomorfizados que existem
(HIRSCHMAN, 1994). O antropomorfismo ocorre desde a escolha de um nome humano ou
através da conversa de humanos com seus animais como se eles fossem humanos (BELK,
1996). Por tudo isso, o antropomorfismo representa a necessidade de um esforço de marketing
importante, pois os donos dos animais aplicam as suas preferências pessoais e humanas na
compra de produtos para o seu animal de estimação (BOYA et al., 2012).
Para Holbrook et al. (2001), a relação humano-animal não gera posses, mas sim uma
série de oportunidades para os humanos envolvidos na relação com o animal e na experiência
de consumo desenvolvida por esta relação. Os autores Dotson e Hyatt (2008), responsáveis pela
primeira pesquisa quantitativa a respeito da companhia cão-humano, identificaram sete
dimensões que refletem essa relação: i) relação simbólica; ii) eu estendido/autoconceito
orientado a cães; iii) antropomorfismo; iv) atividade/juventude; v) limites; vi) compras
especiais; e vii) disposição a se adaptar. Essas duas últimas estão ligadas ao comportamento de
compra dos donos de cães.
Distinções entre os sentimentos produzidos na relação de companhia do homem com
seu animal de estimação podem ocorrer entre donos de cães e de gatos (BAO; SCHREER, 2016;
HOFFMAN et al., 2018; LUE et al., 2008). Essas distinções podem refletir no comportamento
de compra dos donos de animais de estimação.
Comportamento de compra de donos de animais de estimação
Os motivos que levam as pessoas a realizarem uma compra baseiam-se em um estado
de ser desejado; se esse for o relacionamento próximo com seu animal de estimação, o tipo de
compra realizada corresponderá a esse estado (BOYA et al., 2012). A pesquisa de Cheong e Yi
(2015), por exemplo, indica que quando os donos de pets consideram seus animais como uma
extensão de si mesmos, eles tendem a tomar decisões de compra como se estivessem
consumindo para si.
Os autores Boya et al. (2012) identificaram três grupos de segmentos para donos de cães
americanos, que diferem em comportamento de compra e relacionamento entre homem e
animal de estimação: i) proprietários fortemente conectados; ii) proprietários moderadamente
conectados; iii) proprietários básicos. Já o estudo de Boya, Dotson e Hyatt (2015) segmentou o
mercado de cães baseado na relação cão-humano, e verificaram a existência de diferença
significativa na natureza da relação entre cães e seus donos, possibilitando a segmentação deste
mercado com base no antropomorfismo e eu estendido.
A relação entre o consumidor e seu animal de estimação parece ser um fator importante
no comportamento de compra de produtos para esses animais de estimação (SCHLEICHER et
al., 2019). Nesse ínterim, as pessoas estão se mostrando cada vez mais ligadas a seus pets, mais
exigentes e envolvidas quando o assunto é a compra de produtos e serviços para o seu animal
de estimação, culminando no entendimento de que o preço já não é mais um critério essencial
de compra (BOYA et al., 2015; SCHLEICHER et al., 2019).
Finalmente, o resultado da pesquisa de Kylkilahti et al. (2016) com donos de cães da
Finlândia mostra que os animais de estimação agem como co-consumidores de produtos,
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serviços e experiências. As escolhas de compra e atividades além do consumo feitas por eles,
donos, levam em consideração a existência do animal de estimação como, por exemplo, a
compra de um carro, o local de trabalho, onde morar, com quem se relacionar e, como resposta,
o animal de estimação retribui ao seu dono com amor, carinho, companheirismo e bem-estar
(KYLKILAHTI et al., 2016). Percebe-se que a literatura apresenta indícios de que os donos de
pets possuem um comportamento de compra que condiz com a forma como ele se relaciona
com seu animal de estimação.
De acordo com os resultados das pesquisas apresentados, e com a teoria a respeito do
relacionamento entre humano-pet, percebe-se que o cão e/ou gato, não são apenas animais de
estimação para seus donos, os indivíduos os veem como reflexo de si próprios. Tais sentimentos
podem impactar no comportamento destes consumidores, seja no consumo de produtos,
serviços ou até mesmo de experiências. Como é esse comportamento de compra? Quais as
variáveis que podem influenciá-lo? É o que a literatura precisa identificar para assim
desenvolver a teoria e auxiliar os profissionais de marketing. Diante do exposto, formulou-se a
primeira hipótese de pesquisa: H1: A distribuição do relacionamento com o animal de estimação
difere entre os grupos de comportamento de compra.
Estudos anteriores já apontaram a importância de analisar as possíveis diferenças dos
fatores demográficos no comportamento de compra (JAMES; HU; LEONCE, 2019; VINASSA
et al., 2020). Para Hult et al., (2019) variáveis demográficas, como o gênero, a idade e a
escolaridade do cliente são importantes, pois esses possivelmente afetam a forma como as
pessoas compram.
Uma das variáveis comumente utilizadas para verificar possíveis diferenças no
comportamento do consumidor é o gênero. Por apresentar características distintas, para Hult et
al. (2019), as mensagens de marketing e as interações entre empresas e clientes podem ser
adaptadas visando garantir a satisfação dos diferentes gêneros. Entretanto, já foi observado na
literatura resultados onde o gênero não influenciou estatisticamente a intenção de compra
(JAMES et al., 2019); não influenciou no comportamento de compra, mas influenciou no tipo
de relacionamento com o cão (BOYA et al., 2012; DOTSON; HYATT, 2008). Assim, decidiuse formular a segunda hipótese do estudo: H2a: Há diferença significativa de gêneros em relação
ao comportamento com o animal de estimação. H2b: Há diferença significativa de gêneros em
relação ao comportamento de compra.
A literatura aponta que a renda é uma variável importante que pode afetar as decisões
de compra dos consumidores (JAMES et al., 2019). Em seu estudo, Kumcu e Woolverton
(2015) observaram que a renda impacta no comportamento de compras, especificamente de
rações premium. Entretanto, em James, Hu e Leone (2019) não foi observada influência da
renda na intenção de compra. Assim como no estudo de Boya et al. (2012), onde a renda não
influenciou no comportamento de compra e no relacionamento entre o cão e seu dono.
Diferenças podem ser encontradas, mas sem significância estatística, o que pode significar a
simples distinção da disponibilidade de recursos financeiros entre os indivíduos (DOTSON;
HYATT, 2008). Desta forma, com base na literatura e por acreditar que ainda se faz necessário
verificar a possível influência da renda, formulou-se a terceira hipótese do estudo: H3a: Há
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diferença significativa da renda em relação ao comportamento com o animal de estimação. H3b:
Há diferença significativa da renda em relação ao comportamento de compra.
A literatura sugere que a escolaridade influencia o comportamento de compra (JAMES
et al., 2019; KUMCU; WOOLVERTON, 2015). Os resultados de Kumcu e Woolverton (2015)
apontaram que escolaridade apresentou impacto positivo na compra de rações premium.
Conforme Vinassa et al. (2020) o processo de tomada de decisão de compra do dono de um
animal pode ser fortemente influenciado pelo seu nível de escolaridade. Pessoas com menos
escolaridade podem se comportar de maneira diferente daquelas com ensino superior em
relação a como fazem suas compras (HULT et al, 2019).
A escolaridade pode ainda afetar na forma como o cão e seu dono interagem, uma maior
interação foi identificada em indivíduos com ensino superior, assim como indivíduos com pósgraduação apresentaram maior tendência a adaptar seu estilo de vida em razão do seu cão, de
acordo com o estudo de Dotson e Hyatt (2008). Porém o estudo de Boya et al. (2012) não
identificou influencia da escolaridade no comportamento de compra, ou no relacionamento
entre cão e seu dono. Com base na literatura já existente e nos objetivos da pesquisa, decidiuse formular a hipótese quatro do estudo: H4a: Há diferença significativa da escolaridade em
relação ao comportamento com o animal de estimação. H4b: Há diferença significativa da
escolaridade em relação ao comportamento de compra.
A literatura também sugere um provável efeito da idade no comportamento de compra
de donos de animais de estimação (KUMCU; WOOLVERTON, 2015); assim como sugere que
este efeito não é significante, conforme identificaram Boya et al. (2012). Mas sabe-se que
consumidores mais jovens geralmente apresentam características distintas dos demais grupos
etários, como uma maior consciência social (JAMES et al., 2019); maior disponibilidade para
adaptar seu estilo de vida em função do seu pet (DOTSON; HYATT, 2008). O que leva a
acreditar que a faixa etária pode influenciar no comportamento de compra.
O estudo de Vinassa et al. (2020) revelou diferenças na influência de características dos
alimentos para animais de estimação na intenção de compra, dependendo da idade dos
respondentes: os idosos não costumam considerar importante o uso de embalagens recicláveis,
característica esta considerada importante para os mais jovens, o que pode refletir um maior
nível de consciência dos impactos ambientais nessa faixa etária. Consonantemente, os
resultados de James et al. (2019) apontam que a idade está negativamente associada a intenção
de compra de produtos orgânicos. Já Kumcu e Woolverton (2015) descobriram que os
consumidores jovens são mais propensos a comprar alimentos premium para seus animais de
estimação. Assim, decidiu-se formular a quinta hipótese do estudo: H5a: Há diferença
significativa da idade em relação ao comportamento com o animal de estimação. H5b: Há
diferença significativa da idade em relação ao comportamento de compra.
A presença de filhos também pode influenciar o comportamento. Famílias sem filhos
são mais comumente associados à humanização de animais de estimação (KUMCU;
WOOLVERTON, 2015). Possuem seus animais de estimação como substitutos de crianças, e
como bons companheiros (DOTSON; HYATT, 2008).
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Em seu estudo Kumcu e Woolverton (2015), observaram que casais sem filhos compram
menos alimentos premium para seus pets do que casais com filhos. A presença, ou inexistência
de filhos também é um influenciador na forma de interação entre cães e seus donos (DOTSON;
HYATT, 2008). Assim, decidiu-se formular a sexta hipótese do estudo: H6a: Há diferença
significativa da presença de filhos em relação ao comportamento com o animal de estimação.
H6b: Há diferença significativa da presença de filhos em relação ao comportamento de compra.
O tipo de animal também pode ser um indicativo do comportamento. O estudo de Kirk
(2019) revela que consumidores atribuem maior valorização econômica aos cães do que aos
gatos. O tipo de animal de estimação também pode possuir relação com as características de
seus donos, onde quem possui cães são mais extrovertidos em relação a donos de gatos (BAO;
SCHREER, 2016).
Os resultados de Vinassa et al. (2020) sugerem diferenças entre donos de cães e gatos
em relação a compra de ração para seu animal, onde as características externas da ração
(aparência e cheiro) possuem maior influência na intenção de compra para proprietários de
gatos, enquanto os donos de cães expressam mais interesse na composição nutricional da ração.
Desta forma, decidiu-se por formular a sétima e última hipótese do presente estudo: H7a: Há
diferença significativa do tipo de animal em relação ao comportamento com o animal de
estimação. H7b: Há diferença significativa do tipo de animal em relação ao comportamento de
compra.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo emprega uma abordagem quantitativa, com coleta de dados realizada
via survey. A amostra foi selecionada pela técnica de amostragem não probabilística por
conveniência. A coleta de dados foi realizada on-line, entre os dias 02 de fevereiro de 2020 a
06 de abril de 2020, através da divulgação do questionário em mídias sociais (ex. Facebook,
WhatsApp e Instagram) dos pesquisadores/autores. Foi solicitado aos respondentes que
encaminhassem o questionário para outras pessoas que possuíssem cães e/ou gatos e que fossem
maiores de 18 anos, para que assim o mesmo fosse disseminado para diversas regiões do Brasil.
A amostra final é composta por 599 questionários válidos, com respondentes de 24 estados do
Brasil e do Distrito Federal (apenas os estados do Maranhão e Roraima não tiveram
respondentes).
O questionário utilizado possui 32 itens, sendo 24 para o levantamento de dados a
respeito das dimensões relacionadas ao comportamento com o animal de estimação
(antropomorfismo, objeto/utilidade e eu estendido/autoconceito) e 8 relacionadas ao
comportamento de compra. Para estes itens foi utilizada a escala Likert de 7 pontos, onde 1
refere-se a discordo fortemente e 7 concordo fortemente com as afirmativas apresentadas. As
dimensões e os itens do questionário, presentes no Quadro 1, foram identificadas, traduzidas
(tradução reversa), analisadas e adaptadas buscando a compatibilidade com o tema e o contexto
da atual pesquisa.
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Quadro 1 – Dimensões, definições e principais autores
Dimensão
Itens
Antropomorfismo
9
Eu
estendido/autoconceito
5
Objeto/utilidade
10
Comportamento de
compra
8
Definição
Autores
Hirschman (1994);
Humanização do animal, ele é parte da família, é visto
Dotson e Hyatt (2008);
como uma criança, há comunicação com o animal,
Boya, Dotson e Hyatt
oportunidade de aprendizado
(2012)
Animal é uma extensão do dono e ao mesmo tempo
seu melhor amigo, seus donos tendem a passar menos
tempo com outras pessoas pela presença do animal, se Dotson e Hyatt (2008)
relacionam melhor com pessoas que aceitam seu pet
ou que possuem um animal
Hirschman (1994);
Posse do animal possui uma finalidade utilitária, ele é
Boya, Dotson e Hyatt
visto como um meio para atingir o ego do seu dono
(2012)
O esforço e disponibilidade de gastar com seu animal,
Boya, Dotson e Hyatt
capaz de proporcionar uma segmentação psicográfica
(2012)
de acordo com o comportamento de compra
Fonte: autoria própria.
As variáveis do questionário foram elaboradas a partir dos estudos de Hirschman (1994),
Dotson e Hyatt (2008) e Boya et al. (2012). As afirmativas do questionário foram traduzidas
para o português e, posteriormente, realizou-se o pré-teste com dois pesquisadores da área de
marketing. Os pesquisadores analisaram o questionário completo e sugeriram pequenas
alterações no texto. Foram realizados os ajustes necessários, e realizado novo pré-teste, no qual
não foram encontradas novas correções a serem feitas. Após a realização do pré-teste deu-se
início a coleta de dados. O questionário também abordou 12 questões demográficas (gênero,
faixa etária, renda, escolaridade) e a respeito da presença de filhos, tipo de animal de estimação.
Estas questões foram levantadas visando obter mais informações a respeito do comportamento
afetivo e do comportamento de compra em relação a estas variáveis.
Para a validação da tradução e do questionário em si, foi realizado além do pré-teste,
análise estatísticas de confiabilidade. Para a análise dos dados, foi realizado o teste de
confiabilidade de alfa de Cronbach com valores esperados ≥ 0,70 (Hair et al., 2009). Foi
realizado análise de agrupamento para agrupar em dimensões o comportamento de compra,
para isso utilizou-se da classificação hierárquica com o método de Ward e a distância euclidiana
quadrada. O teste de Kruskall-Wallis (ρ≤0,05) foi utilizado, conforme orienta Hair et al. (2009)
e Field (2009), para a verificação do tipo de relacionamento com o comportamento de compra
(H1). E para as demais hipóteses foram realizados tanto o teste de Kruskall-Wallis (H6a, H6b,
H7a, H7b) quanto o teste de Mann-Whitney (Ha2, H2b, H3a, H3b, H4a, H4b, H5a, H5b) com valor
esperado de ρ<0,001 (Hair et al., 2009). Para este estudo foram utilizados a plataforma Google
Docs para coleta de dados e o software SPSS® versão 22.0 para os cálculos estatísticos.
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RESULTADOS
De acordo com as regiões do Brasil o estudo é composto por uma amostra que
corresponde a: 62% sul; 24% sudeste; 7% nordeste; 4,5% centro-oeste; 2,5% norte. A maioria
dos respondentes se identificou como do sexo feminino 89,5% (n=536); 31,5% (n=188) na faixa
etária de 25 até 29 anos; 32% (n=192) declararam ser solteiro (a); 8,5% (n=482) não possui
filhos; 61% (n=366) possui pós-graduação; 25% (n=149) possui renda em torno de R$ 2.090,01
até R$ 3.135,00. Quanto as características relacionadas com o animal de estimação, 47,5% dos
respondentes (n=285) indicou ter apenas cachorro, 29,5% indicou ter apenas gato (n=177) e
23% indicou ter tanto cachorro quanto gato (n=137).
Para iniciar as análises estatísticas que envolveram os construtos utilizados na pesquisa,
foi realizado o teste de confiabilidade de alfa de Cronbach, realizado individualmente, visando
garantir a validade interna dos construtos possibilitando a sequência das análises. A análise
fatorial exploratória não foi realizada, uma vez que as variáveis e suas dimensões já obtiveram
suas validades confirmadas nos construtos por estudos anteriores (BOYA et al., 2012, 2015;
DOTSON; HYATT, 2008; HIRSCHMAN, 1994). A Tabela 1 apresenta os resultados
encontrados.
Tabela 1 – Alfa de Cronbach
Comportamento
de compra
Alfa de Cronbach 0,774
Fonte: dados da pesquisa
Antropomorfismo
0,868
Autoconceito/
Eu estendido
0,739
Objeto/Utilidade
0,765
Os dados apresentaram confiabilidade interna (alfa de Cronbach >0,7), permitindo o
prosseguimento das análises estatísticas. Foram analisadas as médias e desvio padrão das
variáveis de relacionamento animal-humano, a Tabela 2 apresenta os resultados.
Tabela 2 – Análise descritiva das variáveis de relacionamento animal-humano
ANTROPOMORFISMO
AN1
AN2
AN3
AN4
AN5
AN6
AN7
AN8
AN9
Variável
Eu vejo meu cão/gato mais como uma pessoa do que um
animal.
Sinto que posso me comunicar com meu cão/gato.
Meu cão/gato faz parte da minha família.
Meu cão/gato é como uma criança para mim.
Eu aprendo muito com meu cão/gato.
Tenho as mesmas responsabilidades de um pai/mãe quando
se trata de cuidar do meu cão/gato.
Eu gosto de mimar meu cão/gato.
Eu gosto de comemorar o aniversário do meu cão/gato.
Se meu cão gato fosse uma pessoa, ele seria muito parecido
comigo.
M
DP
V
5,20
2,041
4,165
6,24
6,66
5,63
6,10
1,200
0,865
1,984
1,447
1,440
0,749
3,937
2,093
5,86
1,684
2,837
6,03
3,71
1,502
2,413
2,257
5,824
5,48
1,826
3,333
MC
5,65
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EU ESTENDIDO/
AUTOCONCEITO
Meu cão/gato é meu melhor amigo.
5,30
Passar um tempo com meu cão/gato me impede de passar
2,79
tempo com outras pessoas.
AC3
Meu cão/gato me ajudou a desenvolver melhores
relacionamentos com outras pessoas que também possuem 4,73
cão/gato.
AC4
Eu não estou disposto a estabelecer relacionamentos com
5,69
alguém que não está disposto a aceitar meu cão/gato.
AC5
Meu cão/gato é uma extensão de mim mesmo.
4,92
OB1
A principal razão pela qual eu tenho um cão/gato é pela
2,24
proteção.
OB2
Meu cão/gato é principalmente um guarda.
2,03
OB3
Eu escolhi meu cão/gato porque ele parece legal.
3,33
OB4
Eu valorizo meu cão/gato principalmente por sua aparência. 2,21
OB5
Tenho um cão/gato exótico, o que me torna diferente dos
1,71
demais.
OB6
Meu cão/gato possui pedigree, faço questão de deixar isso
1,26
claro.
OB7
Meu animal de estimação recebe cuidados especiais para
1,26
exposições e eventos.
OB8
Realizei alguma mudança no visual (cauda/orelha) do meu
1,13
cão/gato porque eu gosto.
OB9
Meu cão/gato serve principalmente como guia.
1,16
OB10 Tenho meu cão/gato como forma de terapia.
3,52
Legenda: M (média); DP (desvio padrão); V (variância); MC (média do construto)
Fonte: dados da pesquisa
OBJETO
AC1
AC2
1,929
3,721
1,984
3,938
2,130
4,538
1,899
3,607
2,131
4,540
1,724
2,972
1,649
2,257
1,676
2,720
5,094
2,810
1,548
2,397
0,915
0,838
1,023
1,047
0,724
0,525
0,726
2,241
0,527
5,022
4,68
1,98
A análise dos dados referente ao relacionamento com o animal de estimação percebe-se
que as médias para as variáveis antropomorfismo (m=5,65) e eu estendido (m=4,68) possuem
valores que corroboram para afirmar que a amostra antropomorfiza e vê seu animal com um eu
estendido/autoconceito. A dimensão objeto/utilidade apresenta médias que demostram que a
amostra pesquisada não vê o seu animal de estimação como um objeto, ou como uma utilidade,
dada a média de 1,98.
O comportamento de compra dos donos de cães e gatos foi analisado através da criação
de agrupamentos em três dimensões. O Grupo 1 (n=336, m=4,80) denominado Compras
Moderadas é composto por donos de animais de estimação que estão entre os extremos, não
apresentam a máxima concordância e nem discordância com as questões postas. De acordo com
as médias as características das pessoas que estão neste grupo são principalmente a influência
do animal de estimação na configuração da sua casa (m=5,88), ou seja, no momento de adquirir
objetos para casa, alterar o layout, até mesmo penar em mudar imóvel, o animal de estimação
será considerado. Outra característica forte é a compra de comida saudável (m=5,69), a compra
de produtos especiais (m=5,40) e a insignificância do fator preço (m=5,40). Pessoas desse grupo
não consideram o animal de estimação na escolha de um veículo (m=1,42).
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O Grupo 2 (n= 127, m=577) denominado Compras Dedicadas, é composto por pessoas
com os mais altos níveis de pontuação média nas afirmativas do comportamento de compra.
Pessoas desse grupo consideram seu animal de estimação na configuração da casa (m=6,48),
assim como na compra de veículos (m=6,09), o preço é insignificante (m=5,80) perante outras
qualidades, compram comida saudável (m=5,78), presentes (m=5,73), produtos especiais (5,63)
para seus animais. Além disso frequentam o veterinário regularmente (5,56), e considera, gastar
muito dinheiro com seus companheiros (5,13).
O Grupo 3 (n=136, m= 3,12) denominado Compras Desconectadas é composto pelas
menores médias de pontuação identificadas. Pessoas neste grupo apontaram não gastar muito
dinheiro com seu animal de estimação (m=2,91), assim como não levam seu animal ao
veterinário com frequência (2,92), tampouco consideram o animal na escolha de um veículo
(m=1,42). Raramente a presença do animal de estimação afetou na configuração de suas casas
(m=4,29). A Tabela 3 apresenta os resultados estatísticos dos grupos.
Tabela 3 – Agrupamento variáveis comportamento do consumidor
Variável
O preço não é problema quando se trata de cuidar do
meu cão/gato.
Eu gasto muito dinheiro com meu cão/gato.
Encontro produtos especiais para meu cão/gato.
Eu gosto de comprar presentes para meu cão/gato.
Eu compro a comida mais saudável para meu cão/gato
independente do preço.
Eu levo meu cão/gato ao veterinário regularmente.
Possuir um cão/gato alterou a configuração da minha
casa.
Ter um cão/gato já influenciou na escolha de um
veículo.
Totais (média)
Legenda: M (média); DP (desvio padrão)
Fonte: dados da pesquisa
Grupo 1
Compras
Moderadas
M
DP
Grupo 2
Compras
Dedicadas
M
DP
5,40
1,419
5,80
1,475
3,98
1,468
4,49
5,40
5,09
1,518
1,389
1,853
5,13
5,63
5,73
1,517
1,338
1,422
2,91
3,09
3,18
1,319
1,653
1,695
5,69
1,096
5,78
1,339
3,32
1,618
5,11
1,791
5,56
1,587
2,92
1,760
5,88
1,718
6,48
0,898
4,29
2,379
1,42
1,025
6,09
1,211
1,29
0,885
4,80
5,77
Grupo 3
Compras
Desconectadas
M
DP
3,12
Para a análise da possível relação entre variáveis relacionadas ao comportamento de
compra com a forma de relacionamento entre donos e seus pets, foram realizadas as análises
das médias quanto para as variáveis de relacionamento para cada grupo. Para análise de H1, e
verificação da relação entre o tipo de relacionamento com o comportamento de compra foi
realizado o teste de Kruskall-Wallis, seguindo as determinações de Hair et al. (2009) e Field
(2009). Para verificação dos grupos com distribuição diferente foi analisado o Post-Hoc com a
comparação de pares. A Tabela 4 apresenta os resultados encontrados.
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Tabela 4 – Relacionamento com o animal de estimação e o comportamento de compra: teste
Kruskall-Wallis
OBJETO
EU ESTENDIDO/
AUTOCONCEITO
ANTROPOMORFISMO
Variável
AN1
AN2
AN3
AN4
AN5
AN6
AN7
AN8
AN9
AC1
AC2
AC3
AC4
AC5
OB1
OB2
OB3
OB4
OB5
OB6
OB7
OB8
OB9
OB10
Grupo 1
M
MC
5,21
6,30
6,74
5,77
6,16
5,67
5,97
6,02
3,65
5,26
5,46
2,71
4,76
4,71
5,76
4,86
2,13
1,89
3,22
2,15
1,59
1,93
1,24
1,23
1,11
1,12
3,63
Grupo 2
M
MC
5,85
6,57
6,90
6,49
6,61
6,24
6,47
6,41
4,91
5,95
6,28
3,63
5,57
5,54
6,38
5,85
2,46
2,17
3,65
2,43
2,12
2,17
1,29
1,38
1,13
1,17
3,95
Grupo 3
M
4,54
5,79
5,79
4,74
5,44
5,02
5,25
2,74
4,78
4,77
2,19
3,87
4,90
4,18
2,31
2,26
3,29
2,15
1,62
1,26
1,24
1,18
1,24
2,87
Q2
df
Sig.
26,701
25,333
39,472
33,570
37,903
46,798
42,834
54,787
21,955
42,002
38,778
36,002
38,788
40,008
4,655
6,402
3,776
3,930
8,933
0,452
4,783
1,106
1,820
18,338
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,098
0,041
0,151
0,140
0,011
0,798
0,092
0,575
0,402
0,000
MC
4,89
3,98
1,94
Legenda: M (média); MC (média do construto)
Fonte: dados da pesquisa
A partir das médias apresentadas para a relação de cada das variáveis comportamentais
pode-se perceber novamente as baixas médias para o relacionamento com o animal de
estimação como um objeto/utilidade, corroborando com as análises das médias de respostas.
Ou seja, nenhum dos grupos considera como comportamento a relação animal-humano como
objeto, nem mesmo as pessoas do Grupo 3 com menor comportamento de compra direcionado
para o animal. O teste de Kruskall-Wallis mostra que existe efeito significativo entre o
comportamento de compra e o relacionamento de antropomorfismo e de autoconceito com o
animal de estimação (ρ≤0,05), mas não há efeito significativo no relacionamento de
objeto/utilidade (ρ≥0,05).
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Este resultado corrobora com o que a análise dos dados já apresentou, o relacionamento
animal-humano de objeto/utilidade não foi evidenciado na amostra, por conta disso nenhum
dos grupos de comportamento de compra se identificaram com essa relação e, com isso não
surgiu efeito entre as médias dos grupos. Decide-se por aceitar a hipótese H1: A distribuição do
relacionamento com o animal de estimação difere entre os grupos de comportamento de
compra.
O teste de Post-Hoc realizado para identificar onde as diferenças eram existentes
mostraram que a variável antropomorfismo apresentou diferença significante (ρ≤0,05) para
com todos os grupos, indicando que a distribuição é diferente entre os grupos. Apenas as
questões AN3 (ρ=0,08), AN7(ρ=0,08) não apresentaram significância entre os grupos 1 e 2, e
a questão AN9 (ρ=0,12) não apresentou diferença significante entre os grupos 1 e 3. A variável
eu estendido/autoconceito apresentou diferença significante (ρ≤0,05) entre todos os grupos. E
a variável objeto/utilidade apresentou diferença significante (ρ≤0,05) apenas na questão OB10
para os grupos 1 e 3, e 2 e 3.
As demais hipóteses que envolviam dados demográficos dos respondentes e
informações acerca dos seus animais foram analisadas a partir dos testes de Kruskall-Wallis
com valor estimado de ρ≤0,05e de Man Whitney com valor estimado de ρ≤0,001 (HAIR et al.,
2009; FIELD, 2009). As hipóteses H2a, H2b, H3a, H3b, H4a, H4b, H5a, H5b, relacionadas a fatores
demográficos foram todas rejeitas, apresentaram ρ>0,001, assim como H7a e H7b, referente ao
tipo de animal que apresentou ρ>0,05. Ou seja, fatores como gênero, renda, escolaridade, idade
e tipo de animal de estimação não possuem diferenças significativas quanto ao seu
relacionamento com o animal e nem com o comportamento de compra direcionado a ele.
Já a presença de filhos afeta no relacionamento antropomorfizado com o animal de
estimação (ρ≤0,001), verificou-se os seguintes valores: AN1(U=23010; ρ≤0,001),
AN2(U=23732; ρ=0,002), AN3(U=24451; ρ≤0,001), AN4(U=23250; ρ≤0,001),
AN5(U=23330; ρ≤0,001), AN6(U=25602; ρ=0,086), AN7(U=23324; ρ≤0,001),
AN8(U=23598; ρ=0,005), AN9(U=22401; ρ≤0,001). A questão AN2 refere-se à capacidade de
se comunicar com o animal de estimação, e a AN6 refere-se a ter as mesmas responsabilidades
de pai/mãe para com o animal, pode-se considerar que elas não apresentaram significância,
visto que estão relacionadas ao tratamento do animal como uma criança, e tanto pais quanto
não pais teriam as mesmas atitudes quanto a seus animais. Decide-se por aceitar a hipótese H6a,
pelo fato das demais variáveis do construto apresentarem significância. Porém, ter filhos não
interfere no comportamento de compra, rejeita-se H6b (ρ>0,001).
Foi realizada uma análise descritiva comparativa com donos apenas de cães, apenas de
gatos e de ambos, verificou-se que em todos os casos prevalece o sexo feminino, solteiro, sem
filhos, com renda de até 3 salários, pós-graduação, já teve um animal antes. A única distinção
identificada foi da faixa etária, onde donos de cães pertencem em sua maioria a faixa etária de
30 até 34 anos e donos de gatos e de ambos na faixa etária de 25 até 29 anos.
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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para os respondentes desta pesquisa seu animal de estimação faz parte da família, fato
que já havia sido identificado em outras pesquisas (HIRSCHMAN, 1994; BELK, 1996;
HOLBROOK, 2008; LUE et al., 2008; BOYA et al., 2012, 2015; HIGGINS et al., 2013). Os
donos de cães e gatos antropomorfizam e auto conceituam seus pets, mas não os veem como
objetos, ou utilidades, descordando de postulações feitas por Hirschman (1994) sobre um dos
papéis da companhia do animal. Isso deve refletir nas estratégias de marketing, que devem levar
em consideração a humanização dos pets, e aspectos de família, por seus donos no momento da
compra de produtos e serviços para seus animais (BOYA, 2012).
Foram identificados três grupos distintos no agrupamento realizado para o
comportamento de compra dos respondentes – moderado (n=336), dedicado (n=127),
desconectado (n=136) -, baseado no peso médio de cada variável. Os resultados obtidos através
das análises estatísticas realizadas apontam que o tipo de relacionamento desenvolvido com o
animal de estimação afeta o comportamento de compra, visto que foram identificadas
diferenças entre as médias através do teste de Kruskall-Wallis entre os grupos e o tipo de
relacionamento. O que corrobora o estudo dos autores Boya et al. (2012), que identificaram que
a segmentação psicográfica por comportamento de compra, possuía uma relação positiva com
o tipo de relacionamento cão-humano. E ainda com a afirmação de Boya et al. (2015), de que
existe diferença significativa na natureza da relação entre cães e seus donos, baseado no
antropomorfismo e autoconceito orientado para cães, o que de acordo com os autores permitiria
a segmentação de mercado baseado nestas características psicográficas, visto que cada
segmento apresenta critérios de compra distintos.
Possuir um animal de estimação demostrou ser uma forte influência na configuração das
casas dos respondentes, principalmente para os indivíduos do grupo de compras dedicadas
(m=6,48). O grupo de compras dedicadas também demonstrou média significante (m=6,09)
para a escolha de um veículo na presença do animal de estimação. Segundo Belk (1996) e
Higgins et al. (2013) donos de cães são capazes de adaptar seus padrões de vida em função de
seu cão, para melhor acomodá-lo. Neste caso essa adaptação vale também para donos de gatos.
Os respondentes apresentaram, em maior destaque, concordância significativa para a
compra de comida saudável para seu animal de estimação, e pouca importância quanto ao preço
quando compram itens e serviços para seu pet. Resultados semelhantes ao de Boya et al. (2015)
e Schleicher, Cash e Freeman (2019) quanto ao critério preço. O perfil de respondentes na
presente pesquisa para donos de cães e gatos separadamente foi para donos de cães a maioria
mulheres, faixa etária de 30 a 34 anos, solteiros, sem filhos, com renda entre R$ 2.090,01 até
R$ 3.135,00, escolaridade pós-graduação. O perfil de donos de gatos foi a maioria mulheres,
solteiros, faixa etária entre 25 e 29 anos, renda entre R$ 2.090,01 até R$ 3.135,00, escolaridade
pós-graduação.
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Os resultados demográficos dos donos de animais de estimação da pesquisa contradizem
informações levantadas pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE, 2016)
que verificou para o perfil de donos de cães em sua maioria eram homens, casados e com média
de idade de 41 anos, classe AB, e donos de gatos eram em sua maioria mulheres, com média de
idade de 40 anos. Esta incompatibilidade nos resultados das pesquisas pode ocorrer pelo fato
de a pesquisa IBOPE ter considerado 6 cidades brasileiras, e a presente pesquisa ter considerado
25 estados do Brasil, ou pela ocorrência de alteração após a pesquisa IBOPE.
Quando verificada a existência de distinção entre o gênero e o tipo de relacionamento
animal-humano e de comportamento de compra, não foi identificada significância estatística
para tal. O mesmo ocorreu com a idade, escolaridade, renda, tipo de animal. Isso aponta que
para a amostra desta pesquisa variáveis demográficas não interferem no tipo de relacionamento
com o animal, e nem mesmo com o comportamento de compra, ao contrário do tipo de
relacionamento existente. Pesquisas apontam que donos de cães do sexo feminino possuem
maiores níveis de relacionamento com seus cães, assim como pessoas acima dos 65 anos e com
ensino superior, mas o nível de renda e o estado civil não apresentou influência (DOTSON;
HYATT, 2008).
Os resultados desta pesquisa não condizem com os achados de Lue, Pantenburg e
Crawford (2008) com americanos donos de cães. Sua pesquisa revelou que donos levam os cães
com mais frequência ao veterinário que donos de gatos. Neste estudo tanto donos de cães, de
gatos ou de ambos levam seus animais com frequências semelhantes ao veterinário. Outro
estudo que identificou a distinção entre variáveis e o tipo de animal foi o estudo realizado por
Kirk (2019), com donos de cães e gatos, ficou evidente na pesquisa que os donos de cães
estavam dispostos a pagar a mais para salvar a vida de seus animais em relação aos donos de
gatos. Dados que não podem ser corroborados por esta pesquisa, visto que não houve diferença
significativa entre as médias quanto a levar o animal ao veterinário, assim como não há
diferença referente a valores econômicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de verificar se a relação entre os donos e seus animais de estimação
possui alguma relação com o comportamento de compra dos donos de pets, e a influência de
possíveis fatores nesse comportamento, este estudo possibilitou descobertas relevantes para o
mercado pet. Os resultados aqui obtidos, assim como já mencionado pela literatura, tanto donos
de cães quanto donos de gatos tendem a antropomorfizar e auto conceituar seus animais. Não
há distinção para quem o faz com mais ou menos força, ambos os donos apresentaram
capacidade de relacionamento semelhante. Então, cumprindo com o objetivo de pesquisa
proposto, foi possível identificar que a forma de relacionamento do humano com o animal de
estimação afeta no comportamento de compra, corroborando com resultados já apresentados
pela literatura para amostras de outros países.
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141
A partir dos resultados desta pesquisa profissionais de marketing poderão direcionar
seus esforços estratégicos para ações voltadas ao antropomorfismo e autoconceito dos donos de
cães e gatos. A literatura sobre relacionamento de animais de estimação e sua influência na vida
de seus donos, ligada ao consumo está em desenvolvimento, como exemplo Boya et al. (2012,
2015), Cheong e Yi (2015), Bao e Schreer (2016), Holbrook (2008), Kilkilahti et al. (2016),
Kirk (2019), Lue et al. (2008), Morelli et al. (2020), Schleicher et al. (2019). Nesse sentido, a
presente pesquisa corrobora com este desenvolvimento, contribuindo e acrescentando o
conhecimento empírico sobre o Brasil no consumo de produtos e serviços pet. A partir deste
conhecimento científico é possível embasar melhores decisões de mercado, e desenvolver
novas pesquisas acadêmicas e de mercado.
Essa pesquisa apresenta uma contribuição social e mercadológica importante, uma vez
que comprova, empiricamente, que brasileiros que são donos de cães e gatos possuem forte
relacionamento com seus animais, e que tal relacionamento influencia no momento da compra
de itens para seu companheiro. Ou seja, provavelmente, se o dono do animal de estimação
encontrar um produto que não se apresente condizente com a imagem que o dono tem de seu
pet e, além disso, que o trate apenas como um animal de estimação, este consumidor poderá
pontuar negativamente este aspecto e decidir por não comprar tal produto. Assim, frente aos
resultados e contribuições elencadas neste estudo, cabe aos gestores e profissionais de
marketing o desenvolvimento de estratégias mais assertivas que tendam a estimular o
comportamento de aproximação dos donos de pets a seus produtos e serviços e, dessa forma,
decidam por efetivar tais compras.
Como toda pesquisa, essa também apresenta limitações, especialmente no que tange à
metodologia utilizada. Dito isto, é importante destacar que, a partir da adoção de amostragem
por conveniência, os resultados aqui apresentados não são generalizáveis a todos os donos de
pets brasileiros. Porém, apesar de tais limitações, enfatiza-se que a amostragem obtida neste
estudo representa uma importante parcela de consumidores e traz resultados significativos para
o conhecimento do comportamento de compra deste segmento de mercado. Ainda, esta pesquisa
analisou produtos e serviços de forma ampla, portanto sugere-se verificar comportamentos de
consumo voltados para produtos e serviços pet específicos, e, ainda, que sejam desenvolvidas
pesquisas abordando critérios de compra e intenção de compra, por exemplo.
Como sugestões futuras, indica-se constatar se há distinção entre pessoas que vivem em
área rural e em área urbana, e ainda se pessoas idosas podem ter seus animais de estimação
companheiros. Tem-se então como sugestão estabelecer um perfil dos donos de animais de
estimação em cada uma destas áreas, rural e urbana, do indivíduo idoso, e se o seu
comportamento de compra e de relacionamento se assemelha.
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Volume 16 | Número 2
Julho - Agosto / 2022
142
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Revista Eletrônica de Administração e Turismo
Volume 16 | Número 2
Julho - Agosto / 2022
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