UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FOSFORITOS DO GRUPO BAMBUÍ NA REGIÃO DE CAMPOS
BELOS (GO) / ARRAIAS (TO), NA BORDA OESTE DO CRÁTON
SÃO FRANCISCO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 258
CIMARA FRANCISCA MONTEIRO
ORIENTADOR: PROF. Dr. MARCEL AUGUSTE DARDENNE
CO-ORIENTADOR: PROF. Dr. JOSÉ ELOI GUIMARÃES CAMPOS
BRASÍLIA, 2009
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FOSFORITOS DO GRUPO BAMBUÍ NA REGIÃO DE CAMPOS
BELOS (GO) / ARRAIAS (TO), NA BORDA OESTE DO CRÁTON
SÃO FRANCISCO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 258
CIMARA FRANCISCA MONTEIRO
ORIENTADOR: PROF. Dr. MARCEL AUGUSTE DARDENNE (IG – UnB)
CO-ORIENTADOR: PROF. Dr. JOSÉ ELOI GUIMARÃES CAMPOS (IG – UnB)
EXAMINADORA INTERNA: PROFª. Dra. LUCIETH CRUZ VIEIRA (IG – UnB)
EXAMINADOR EXTERNO: PROF. Dr. PAULO CÉSAR BOGGIANI (GSA / IG – USP)
BRASÍLIA, 2009
À minha mãe, minha grande incentivadora
Ao meu companheiro, Érico N. P. Zacchi
Ao Sr. João Moreira
i
À Deus, por ter colocado em meu caminho inúmeras pessoas que tanto me auxiliaram de
variadas formas em minha jornada, como meus familiares, amigos, professores e colegas de
trabalho.
Ao Prof. Marcel Auguste Dardenne pela valiosa orientação e paciência e, sobretudo pelo
exemplo indiscutível de determinação, superação e profissionalismo, além de todo o legado
que construiu e ainda continua construindo em prol da geologia do nosso país.
Ao Prof. José Eloi Guimarães Campos, co-orientador desta dissertação, pela disposição e
atenção nunca negadas a mim durante todo o curso, e pela indispensável colaboração.
À empresa Itafós Mineração Ltda, na pessoa do Sr. Henrique Libério, pelo suporte aos
trabalhos de campo.
Ao Sr. João Moreira, técnico de mineração responsável da Itafós Mineração Ltda, pela
disponibilidade em apoiar os trabalhos realizados, pelas ricas informações transmitidas sobre
o minério fosfático e pelo exemplo de dedicação à profissão.
Aos professores Edi Mendes Guimarães, Claudinei Gouveia de Oliveira, José Affonso
Brod, Nilson Francisquini Botelho, Carlos José de Souza Alvarenga, Augusto César
Bittencourt Pires e Adalene Moreira Silva, que cada um ao seu jeito, me auxiliaram durante o
período do curso de mestrado.
Ao meu amigo, Pedro Cordeiro, pelo auxílio determinante na elaboração do capítulo de
geoquímica.
À minha mãe, Maria Nilda F. Monteiro, pelo incentivo em todos os momentos, pela
confiança nos meus resultados e pelo exemplo de dedicação maternal incondicional.
Ao meu pai, Cincinato Monteiro Neto (†), por ter sempre investido e acreditado na
educação de suas filhas como um bem maior até os seus últimos dias de vida.
À minha irmã, por estar sempre ao meu lado, como minha melhor amiga.
Ao meu companheiro, Érico N. P. Zacchi, pelas inúmeras provas de amor, dentre as
quais, a paciência e compreensão nos momentos mais difíceis e pelo auxílio no
processamento e análise de dados para esta dissertação.
Aos meus familiares, pelo incentivo e orações.
ii
Aos meus ex-colegas de trabalho, nas pessoas dos Srs. José J. Fanton e Fábio C.
Mendonça, pelo ambiente de trabalho familiar, pelo carinho, pelo auxílio técnico, e pela
amizade construída.
Aos funcionários do Instituto de Geociências da UnB pela atenção.
Enfim, agradeço a todos os meus amigos, companheiros de vida e de faculdade, na pessoa
de um grande amigo muito especial, Balduíno Neto.
Cimara Francisca Monteiro
Brasília, julho de 2009.
iii
Os depósitos de fosfato sedimentar da região de Campos Belos (GO) e Arraias (TO)
compreendem até o momento três depósitos de volume reduzido, mas com teores elevados,
superiores a 24% P2O5, denominados: São Bento, Coité 1 e Coité 2.
Os fosforitos e siltitos fosfatados encontrados na região estão inseridos na porção basal da
Formação Sete Lagoas, pertencente ao Grupo Bambuí, de idade Neoproterozóica. O Grupo
Bambuí integra a porção oriental da Faixa de Dobramentos Brasília e também compõe ampla
cobertura do Cráton São Francisco.
A Formação Sete Lagoas se encontra sobreposta a diamictitos da Formação Jequitaí, ou
diretamente sobre o embasamento granítico atribuído a Suíte Aurumina, de idade
Paleopreoterozóica. Na área de estudo a Formação Sete Lagoas é composta por espessos
pacotes (~120 metros) de siltitos estratificados, intercalados com bancos de margas calcíferas
na base, seguidos por calcários e dolomitos em direção ao topo. As rochas mineralizadas em
fosfato ocorrem interdigitadas com siltitos, próximo ao embasamento granítico.
Com base em estudos petrográficos, mineralógicos e químicos foram definidos nos
depósitos São Bento, Coité 1 e Coité 2, quatro grupos de rochas fosfatadas: grupo siltito
fosfatado; grupo fosforito primário estratificado; grupo fosforito brechado; e grupo fosforito
pedogênico.
O grupo siltito fosfatado, com maior distribuição geográfica dentre os demais grupos, é
composto por siltitos laminados com teor médio de 11,49% P2O5.
Quanto ao grupo fosforito primário estratificado houve a necessidade de compartimentálo em dois subgrupos: subgrupo fosforito laminado, constituído por fosforitos estruturados
em finas lâminas, com teor correspondente a 24,28% P2O5; e subgrupo fosforito acamadado,
composto por fosforitos dispostos em camadas finas a médias, com teor médio equivalente a
32% P2O5.
O grupo fosforito brechado é composto por fosforitos retrabalhados no ambiente de
sedimentação, e possui teor médio elevado de 34,13% P2O5.
Em relação ao grupo fosforito pedogênico, dois subgrupos foram distinguidos: subgrupo
fosforito laterítico, composto por fosforitos em estágio avançado de intemperismo, com teor
iv
médio de 27,64% P2O5; e subgrupo fosforito concrecionário, caracterizado por concreções
fosfáticas no entremeio ao solo, que apresentam teor médio equivalente a 24,82% P2O5.
Com relação à mineralogia, pressupõe-se que a francolita foi a apatita primária, que
constituiu as rochas fosfatadas. Processos intempéricos foram os principais responsáveis
pelas transformações na estrutura da francolita, permitindo que a mesma assumisse
composições cada vez mais próximas a da fluorapatita. Difratogramas de raios-x indicam a
presença de picos correspondentes a fluorapatita, o que é corroborado pelas razões CaO/P2O5
e F/P2O5 inferiores a 1,621 e 0,148, respectivamente (valores normativos para a francolita).
Os padrões de elementos terras raras mostram que não houve variação da fonte dos
sedimentos.
A sedimentação fosfática ocorreu sob condições climáticas frias, evidenciadas pela
presença da Formação Jequitaí na região, de origem comprovadamente glacial, e também por
valores negativos de δ13CPDB e δ18OPDB em dolomitos do topo da Formação Sete Lagoas. O
ambiente de deposição dos fosforitos nessa região é caracterizado por paleo-canais
irregulares e descontínuos encaixados no embasamento granítico, em um contexto de bacia
sedimentar restrita, com influência de regime transgressivo. Deslizamentos em flancos dos
canais permitiram o retrabalhamento de sedimentos depositados, formando brechas
sedimentares. A evolução de processos intempéricos incorreu na lateritização dos fosforitos e
na lixiviação de fosfato dessas rochas.
Ocorrências de fosfato sedimentar próximas a região estudada no nordeste de Goiás,
também atribuídas a Formação Sete Lagoas, são registradas nos municípios de Monte Alegre
de Goiás e Nova Roma. Outras ocorrências pouco expressivas de rochas fosfatadas,
margeando o Cráton São Francisco, no contexto da Formação Serra da Saudade (Gr.
Bambuí), foram registradas próximo às cidades de Formosa e Cabeceiras, ambas em Goiás, e
Coromandel, em Minas Gerais.
v
São Bento, Coité 1 and Coité 2 are the three sedimentary phosphate deposits known to
date in the Campos Belos (GO) and Arraias (TO) region. They are 3 low volume but high
grade deposits, with more than 24% P2O5.
The phosphorites and siltites found in that region occur at the bottom of the Sete Lagoas
Formation, as part of the Neoproterozoic Bambui Group. The Bambui Group makes part of
the eastern portion of the Brasilia Fold Belt (Faixa de Dobramentos Brasilia), and it
represents also a large coverage of the São Francisco Craton.
The Sete Lagoas Formation overlays diamictites of the Jequitaí Formation or it rests
directly on the granitic basement considered of the Aurumina Suite, of Paleoproterozoic age.
In the study area, Sete Lagoas formation is made up of thick packages (~120 metres) of
stratified siltites, interlayered with banks of calcitic marl at the bottom, followed by
limestones and dolomites towards the top. Phosphate-rich rocks occur inter-fingered with
siltites close to the granitic basement.
Based on petrographic, mineralogical and chemical studies, four groups of phosphate-rich
rocks were defined in São Bento, Coité 1 e Coité 2 deposits: phosphate-rich siltite group;
stratified primary phosphorite group; phosphorite breccia group; and pedogenic phosphorite
group.
The phosphate-rich siltite group, which is the most widespread geographically when
compared with the other groups, is composed of laminar siltites, with an average grade of
11,49% P2O5.
The stratified primary phosphorite group was sub-divided in two sub-groups: the
laminated phosphorite sub-group, which is composed of finely laminated phosphorites, with
grades of 24,28% P2O5; and the sub-group of layered phosphorite, constituted by fine to
medium layers of phosphorite, grading 32% P2O5, in average.
The phosphorite breccia group is composed of phosphorite that was re-worked during the
sedimentary process and has a higher average grade: 34,13% P2O5.
Two sub-groups were defined for the pedogenic phosphorite group: lateritic phosphorite
sub-group, which is composed of phosphorites in an advanced stage of weathering, with an
average grade of 27,64% P2O5; and the concretionary phosphorite sub-group, which is
vi
characterized by phosphate concretions within the soil, showing an average grade of 24,82%
P2O5.
Mineralogically it is supposed that francolite used to be primary apatite, what constituted
the phosphate-rich rocks. Weathering was the principal responsible for structural
transformation of francolite, allowing that francolite could gradually assume a composition
similar to fluorapatite, which constitutes the phosphate-rich rocks. X-ray diffractograms
indicate peaks that correspond to fluorapatite, what is corroborated by CaO/P2O5 and F/P2O5
lower than 1,621 e 0,148, respectively (francolite normative values). Rare Earth Elements
pattern shows that there were no changes in the sediments source.
The phosphatic sedimentation happened under cold climate conditions. Evidences are
given by the occurrence of the Jequitai Formation in the region, which is glacial in origin, as
well as due to negative values of δ13CPDB and δ18OPDB in dolomites at the top of Sete Lagoas
Formation. The depositional environment of the phosphorites in this region is characterized
by irregular and discontinuous paleo-channels inserted in granitic basement, in a restricted
sedimentary basin context, and under a transgressive regime influence. Landslides on the
flanks channels have promoted reworking of sediments, generating sedimentary breccias. The
evolution of weathering processes has provoked the lateritization of phosphorites as well as
phosphate leaching from these rocks.
Occurrences of sedimentary phosphate close to the study area of the northeast of Goiás,
also considered as part of the Sete Lagoas Formation, were found in Monte Alegre de Goiás
and Nova Roma municipalities. Other less important occurrences of phosphate-rich rocks,
within Serra da Saudade Formation (Bambui Group), were found close to the cities of
Formosa and Cabeceiras, both in Goiás, and Coromandel in Minas Gerais.
vii
INTRODUÇÃO
1.1.
1.2.
1.3.
1.4.
1.5.
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................1
OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS ......................................................................................................2
MÉTODOS DE TRABALHO ...............................................................................................................3
LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO...............................................................................................3
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS.............................................................................................................6
DEPÓSITOS BRASILEIROS DE FOSFATO SEDIMENTAR PROTEROZÓICOS
2.1.
2.2.
2.3.
2.4.
2.5.
2.6.
2.7.
2.8.
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................7
DEPÓSITO DE FOSFATO DA UNIDADE RIO PRETO, SUPERGRUPO ESPINHAÇO (MG).....11
JAZIDA FÓSFORO-URANÍFERA DE ITATAIA, GRUPO ITATAIA (CE)....................................13
DEPÓSITOS DE FOSFATO DE ROCINHA E LAGAMAR, GRUPO VAZANTE (MG)................15
DEPÓSITO FOSFÁTICO DE IRECÊ, GRUPO UNA (BA) ..............................................................17
DEPÓSITO FOSFÁTICO DE CEDRO DO ABAETÉ, GRUPO BAMBUÍ (MG).............................20
ROCHAS FOSFATADAS DE XAMBIOÁ, GRUPO ESTRONDO (TO)..........................................22
DEPÓSITO DE FOSFATO DA SERRA DA BODOQUENA, GRUPO CORUMBÁ (MS)..............23
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL E ARCABOUÇO TECTÔNICO
3.1.
3.2.
3.3.
3.4.
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................26
FAIXA DE DOBRAMENTOS BRASÍLIA ........................................................................................27
GEOLOGIA DA REGIÃO DE CAVALCANTE - CAMPOS BELOS - ARRAIAS..........................29
3.3.1. COMPLEXO GRANITO-GNÁISSICO.................................................................................31
3.3.2. FORMAÇÃO TICUNZAL.....................................................................................................32
3.3.3. SUÍTE AURUMINA..............................................................................................................33
3.3.4. SUÍTE PEDRA BRANCA .....................................................................................................34
3.3.5. GRUPO ARAÍ........................................................................................................................35
3.3.6. GRUPO BAMBUÍ..................................................................................................................35
ARCABOUÇO TECTÔNICO REGIONAL .......................................................................................38
GEOLOGIA LOCAL, ASPECTOS PETROGRÁFICOS E MINERALÓGICOS
4.1.
4.2.
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................40
GEOLOGIA DA ÁREA ......................................................................................................................40
4.2.1. SUÍTE AURUMINA..............................................................................................................43
4.2.2. GRUPO ARAÍ........................................................................................................................44
4.2.3. GRUPO BAMBUÍ..................................................................................................................45
!
viii
4.3.
"
#
$
GEOLOGIA ESTRUTURAL..............................................................................................................53
PETROGRAFIA E MINERALOGIA DO MINÉRIO FOSFÁTICO
5.1.
5.1.1
5.1.2.
5.1.3.
5.1.4.
UNIDADE FOSFÁTICA ....................................................................................................................55
FOSFORITO PRIMÁRIO ESTRATIFICADO
57
FOSFORITO BRECHADO.................................................................................................................60
FOSFORITO PEDOGÊNICO .............................................................................................................62
SILTITO FOSFATADO......................................................................................................................66
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO MINÉRIO FOSFÁTICO
6.1.
6.2.
6.3.
6.3.1
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................68
MÉTODOS DE ANÁLISE QUÍMICA ...............................................................................................68
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA APATITA........................................................................................69
ESTRUTURA DA APATITA.............................................................................................................70
%
&
'
"
!
%
. &
'
" ()
!
%
. &
'
"
!
%
. &
'
!
6.4.
EVOLUÇÃO DA FRANCOLITA DURANTE PROCESSOS INTEMPÉRICOS .............................73
6.5.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS QUÍMICOS DOS DEPÓSITOS DA
REGIÃO DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS ...................................................................................................74
%
CARACTERIZAÇÃO GEOQUÍMICA DE FOSFORITOS DOS DEPÓSITOS DA REGIÃO DE
CAMPOS BELOS/ARRAIAS DURANTE O INTEMPERISMO ...................................................................75
%
COMPARAÇÃO DE DADOS QUÍMICOS ENTRE DEPÓSITOS DE FOSFATO DA REGIÃO DE
CAMPOS BELOS/ARRAIAS E DEPÓSITOS DE FOSFATO BRASILEIROS E MUNDIAIS ....................85
CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS SOBRE A FORMAÇÃO SETE LAGOAS E O MINÉRIO
FOSFÁTICO
!
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................91
7.1.
7.2.
AMBIENTES DE SEDIMENTAÇÃO DA FORMAÇÃO SETE LAGOAS NO CONTEXTO DO
GRUPO BAMBUÍ, NA REGIÃO DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS ............................................................91
7.3.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE FOSFOGÊNESE ..................................................................94
7.4.
MODELO FOSFOGENÉTICO DE ROCHAS FOSFATADAS NA REGIÃO DE CAMPOS
BELOS/ARRAIAS ...........................................................................................................................................98
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
ANEXOS
"
#
$%&'()%&*&+
"
# ,+-.'&/(+ 0-1* 2(+
"
# 34. +, /, +5'(6(+ +'4 , +
ix
78
#
)-%&
9:
; Mapa de localização da área de estudo
4
)-%&
; Localização da área tipo definida para pesquisa em relação aos municípios mais próximos
(Campos Belos-GO e Arraias-TO), expondo as frentes de lavras e ocorrências de fosforitos e/ou rochas
fosfatadas
78
#
7
5
7
<
)-%&
; Distribuição de fosfato ao redor da transição Proterozóico/Cambriano com escala
cronoestratigráfica e idades atualizadas com base na International Stratigraphic Chart, 2008
8
)-%&
; Distribuição de ocorrências e depósitos de rochas fosfatadas em toda a Terra formados
durante o Pré-Cambriano
9
)-%&
; Depósitos de rocha fosfática no Cráton São Francisco e em sua borda oeste
)-%&
; Mapa de situação do nível fosfático da Unidade Rio Preto, topo da Fm. Sopa-Brumadinho,
Supergrupo Espinhaço
10
12
)-%&
; Mapa geológico da região do depósito fósforo-uranífero de Itataia localizado na Fm. Alcantil
14
)-%&
; Mapa geológico do depósito de Rocinha situado no noroeste de Minas Gerais
16
)-%&
; Mapa geológico da folha de Irecê, destacando os principais depósitos de fosfato na região
19
)-%&
; Mapa geológico da Serra da Saudade
21
)-%&
!; Seção geológica simplificada de furo com ocorrência de fosfatos em Xambióa (TO)
)-%&
; Mapa geológico na escala 1:50.000 do Projeto Fosfato da Serra da Bodoquena (MS)
78
#
"
23
24
9
=
)-%&
; Mapa Geológico da Faixa Brasília
27
)-%&
; Mapa geológico regional simplificado compreendendo as regiões nordeste de Goiás e sudeste
do Tocantins
30
)-%&
; Carta estratigráfica das unidades geológicas distinguidas durante mapeamento das folhas
Monte Alegre de Goiás, Nova Roma e Cavalcante
31
)-%&
; Relações de contato em campo, entre as unidades: Formação Ticunzal, Suíte Pedra Branca e
grupos Araí e Bambuí
33
)-%&
; Coluna litoestratigráfica do Grupo Bambuí definida na região nordeste de Goiás
36
x
78
#
>
7
7
)-%&
; Mapa geológico da área tipo definida para estudo de depósitos e ocorrências de fosfato na
região de Arraias (TO)/Campos Belos (GO). O mapa geológico foi sobreposto a uma imagem de radar
SRTM
41
)-%&
; Imagem de satélite Aster, composição ternária 321, com geologia sobreposta
42
)-%&
; Coluna estratigráfica definida para a região de estudo
43
)-%&
; Granitos da Suíte Aurumina
44
)-%&
; Rochas do Grupo Araí
45
)-%&
; Diamictito da Formação Jequitaí
46
)-%&
; Fotomicrografias de diamictito da Fm. Jequitaí de origem glaciogênica
47
)-%&
; Afloramento de margas atribuídas a Formação Sete Lagoas às margens da rodovia GO-118
48
)-%& !; Perfil W-E elaborado entre a Serra das Gerais, passando por cava próxima a lavra São Bento,
até os paredões de dolomito
48
)-%&
; Frente de lavra Coité 2
)-%&
; Rochas carbonáticas da fácies
)-%&
; Paredão de dolomito com aspecto ruiniforme disposto em estratos sub-horizontais
51
)-%&
; Amostras mesoscópicas representantes da fácies
52
49
* da Fm. Sete Lagoas
50
+
)-%&
; Siltitos da Formação Serra de Santa Helena sobrepondo dolomitos da Formação Sete Lagoas
a norte da área tipo
52
)-%&
; Estereogramas de pólos e de freqüência (hemisfério inferior) referentes ao acamamento
sedimentar do Domínio Supracrustal
54
78
#7
?
)-%&
; Afloramentos de fosforito
56
)-%&
; Esboço de perfil W-E elaborado na frente de lavra Coité 2
56
)-%&
; Fosforito finamente laminado e silicificado. Teor de 19,60% P2O5
58
)-%&
; Fosforito acamadado, com coloração bege a amarela, e teor de 35,37% P2O5
58
)-%&
; Fotomicrografias de diferentes tipos de fosforito estratificado encontrados nas frentes de lavra
Coité 1e 2
59
)-%&
; Difratograma de fosforito laminado pertencente ao grupo dos fosforitos laminados, referente
à amostra exibida na figura 5.3
59
)-%&
; Fosforito brechado com matriz roxo claro. Intraclastos de fosforito e clastos de siltito e siltito
fosfatado. Teor de 33,63% P2O5
60
)-%&
)-%&
; Fotomicrografias de fosforitos brechado da frente de lavra São Bento e do furo LB-01
!; Difratograma de fosforito brechado referente à amostra apresentada na figura 5.8b
61
61
)-%&
; Fosforito laterítico formado sobre fosforitos brechados aflorante na região da frente de lavra
Coité 2. Teor de 27,76% P2O5
62
)-%&
; Fosforito laterítico formado sobre fosforitos do subgrupo acamadado aflorante na frente de
lavra Coité 2. Teor de 22,18% P2O5
63
xi
)-%&
; Concreções fosfáticas, desenvolvidas em perfil de solo podzólico. Teor de 26,98% P2O5.
Lavra Coité 2
)-%&
; Fotomicrografias de fosforitos lateríticos das frentes de lavras Coité 2 e São Bento
64
)-%&
; Difratograma de fosforito laterítico formado sobre fosforito do subgrupo acamadado
referente à amostra apresentada na figura 5.11
)-%&
63
65
; Difratograma do solo vermelho podzólico presente entre as concreções fosfáticas
65
)-%&
; Siltito cinza claro com lâminas fosfáticas de cor vermelha, exibindo inúmeras fraturas e
cavidades. Teor de 6,80% P2O5
66
)-%&
; Fotomicrografias de siltito fosfatado interceptado no furo P-01
67
)-%&
# Difratograma de siltito fosfatado interceptado no furo LB-01 imediatamente abaixo do
conjunto de fosforitos
78
#
< 9:
@ 8
67
?
)-%&
; Projeção da malha elementar da fluorapatita sobre o plano 001
70
)-%&
; CaO/P2O5 por F/P2O5
78
)-%&
; Correlação positiva entre CO2 e P2O5
78
)-%&
; Gráfico binário de F por P2O5
79
)-%&
; Gráfico CaO versus P2O5
79
)-%&
; Gráficos mostrando correlações negativas entre fosfato e óxidos
80
)-%&
; Padrões de elementos terras raras normalizados ao NASC
82
)-%&
; Variação composicional associada com a concentração de ETR’s no perfil laterítico
83
)-%&
)-%&
!; Gráficos de P2O5 versus óxidos
88
; Gráfico da razão CaO/P2O5 pela razão F/P2O5
89
)-%&
; Padrões de ETR’s referentes aos depósitos da região de Campos Belos/Arraias, Rocinha,
Conceição do Mato Dentro e Fosforito médio
78
#
9A
?
90
9:
?
)-%&
; Sedimentação do Grupo Bambuí há aproximadamente 790 Ma, na porção oriental da Faixa de
Dobramentos Brasília
)-%&
; Diagrama de δ13C‰ (PDB) por δ18O‰ (PDB)
)-%&
; Modelo 2.5D, com dado altimétrico gerado pela SRTM sobreposto por mapa geológico ao
milionésimo
92
94
99
xii
78
#
"
9
=
&B,.&
; Tabela esquemática dos eventos deformacionais e estruturas associadas relacionadas aos
quatro domínios geotectônicos individualizados
78
#
< 9:
@ 8
39
?
&B,.&
# Parâmentros de malha para os membros extremos do grupo da apatita
70
&B,.&
# Grupos e subgrupos de fosforitos definidos no capítulo 5
75
&B,.&
# Síntese de conteúdos médios de P2O5 (%), CaO (%), CO2 (%) e F (%), e razões CaO/P2O5 e
F/P2O5, relacionados a francolita, fluorapatita normativas e aos grupos e subgrupos de rochas fosfatadas
definidos nos depósitos da região de Campos Belos/Arraias
76
&B,.&
# Síntese de conteúdos médios de óxidos relacionados aos grupos e subgrupos definidos nos
depósitos da região de Campos Belos/Arraias
81
&B,.&
# Resultados químicos de óxidos, CO2 e F referentes aos depósitos brasileiros de Campos
Belos/Arraias, Conceição do Mato Dentro, Rocinha, Xambioá, Cedro do Abaeté, Serra da Bodoquena, e
depósitos da Tunísia (África) e Tennessee (Estados Unidos)
86
78
#
9A
?
9:
?
&B,.&
; Principais características de depósitos de fosfado sedimentar, brasileiros, de idade
Proterozóica
102
xiii
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
1. INTRODUÇÃO
1.1.
APRESENTAÇÃO
O estudo de fosforitos quer seja no âmbito acadêmico ou prospectivo/econômico tem
avançado significativamente com a necessidade crescente por insumos fosfatados para uso
agrícola. Isto tem incentivado fortemente a procura por novos depósitos, a revitalização
daqueles existentes e a viabilização de jazidas de pequeno porte, visto que não há substituto
para o fósforo na agricultura, sendo as rochas fosfáticas sua única fonte.
Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 2007 a
produção interna de fertilizantes subiu 11,9%, em relação a 2006, enquanto a produção de
rocha fosfática teve alta de 5,1% no mesmo período. Em 2008 o preço da tonelada de fosfato
teve alta de aproximadamente 125%, alcançando R$ 1.800,00-2.000,00/ton.
A maioria do minério fosfático produzido no Brasil provém de complexos carbonatíticos
e não de rochas sedimentares, como na maior parte mundo, haja vista a vocação geológica
dos nossos terrenos. As intrusões carbonatíticas que hospedam os maiores volumes de fosfato
(P2O5) estão associadas ao Lineamento Azimute 125°, e se distribuem nos estados de Minas
Gerais, Goiás, Santa Catarina e São Paulo.
Os principais depósitos de fosfato sedimentar lavrados no Brasil foram formados em
bacias neoproterozóicas de margem passiva, localizadas nos estados de Minas Gerais e Bahia.
Em Minas Gerais destacam-se as jazidas de Rocinha e Lagamar, relacionadas ao Grupo
Vazante, e na Bahia têm-se a jazida de Irecê, associada ao Grupo Una (equivalente ao Grupo
Bambuí).
Associadas ao Grupo Bambuí, há ocorrências de rochas fosfatafas registradas na
Formação Sete Lagoas, porção basal do grupo, margeando a borda oeste do Cráton São
Francisco. Porém, ocorrências significativas de rochas fosfáticas no Grupo Bambuí foram
observadas somente na região de Campos Belos (GO/Arraias (TO), conforme relatado pela
METAGO S.A. (extinta Metais de Goiás), na década de 70. Na época, essas ocorrências,
atualmente elevadas à condição de depósitos, não despertaram interesse em função do
pequeno volume. Há alguns anos, com a valorização do minério fosfático, esses depósitos
foram viabilizados e vêm sendo pesquisados e lavrados pela Itafós Mineração Ltda.
1
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Determinações a respeito de ambientes de deposição de fosforitos têm avançado
constantemente, embora ainda não haja consenso sobre o assunto. A Teoria de Ressurgência,
proposta por Kazakov em 1937, referente à origem do fosfato sedimentar, mantém-se como o
modelo mais aceito atualmente, embora com algumas ressalvas. Kazakov sugeriu que
fosforitos sejam gerados em associação com correntes marinhas ascendentes, devido à
presença de nódulos fosfáticos em áreas de ressurgência, e que a precipitação de fósforo em
plataformas continentais ocorreria entre profundidades de 50 e 200 m, sob condições
ambientais, em que há a diminuição na pressão parcial de CO2, acompanhada de aumento do
pH, baixa temperatura e diminuição da solubilidade de fosfato.
A teoria de Kazakov, em parte, não se aplica a formação dos depósitos estudados, visto
que a sedimentação do Grupo Bambuí ocorreu em águas rasas, ou seja, não pode ter havido
ascensão de fósforo solubilizado em águas profundas. A fonte do fósforo não é determinada.
Segundo Cook (1992) houve picos de fosfogênese durante o Proterozóico, sendo que os
maiores episódios estiveram associados ao Neoproterozóico (idade do Grupo Bambuí). Estes
picos evidenciam um incremento do conteúdo de fosfato em águas marinhas.
Além de Campos Belos e Arraias, outras ocorrências têm sido registradas em Monte
Alegre e Nova Roma (GO). Essa região envolve o objeto de estudo da presente dissertação,
devido às características que envolvem a sua gênese.
1.2.
OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS
Objetivou-se mapear ocorrências de fosforitos e/ou rochas fosfatadas sedimentares na
Formação Sete Lagoas, porção basal do Grupo Bambuí, na região de Campos Belos
(GO)/Arraias (TO), definindo distintos tipos de minério fosfatado, bem como a mineralogia,
petrografia e composição química, buscando a compreensão dos processos geológicos
envolvidos na geração do minério, que possui características únicas dentre os demais
depósitos de minério fosfático sedimentares brasileiros.
Não há trabalhos acadêmicos focados na petrografia e gênese do fosfato existente naquela
região, portanto essa dissertação tem papel fundamental na iniciação e incentivo à pesquisa,
favorecendo a elaboração de artigos que venham a contribuir com os resultados obtidos. A
compreensão dos depósitos verificados na área auxiliará na prospecção de novas ocorrências.
2
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
1.3.
MÉTODOS DE TRABALHO
Durante o período em que se seguiu a pesquisa para desenvolvimento da presente
dissertação, foram realizados quatro trabalhos de campo, nos quais foram realizados:
reconhecimento da geologia regional e observações de relações estratigráficas, em frentes de
lavra e em testemunhos de sondagem; coleta de inúmeras amostras de todos os tipos de
rocha; e mapeamento geológico realizado na área-tipo, na escala 1:25.000, com 295 pontos
descritos.
Entre amostras provindas de campo e de testemunho de sondagem foram quimicamente
analisadas 71, entre os mais variados tipos litológicos. Todas as análises foram realizadas no
laboratório ACME Analytical Laboratories Ltd – Vancouver, Canadá, em equipamento ICPES, com digestão em ácido nítrico diluído, e em ICP-MS, com digestão em ácido nítrico. De
71 amostras, 27 foram também analisadas para determinação de flúor por análise de eletrodo
de íon específico após fusão em NaOH.
Lâminas petrográficas delgadas, referentes a parte amostras analisadas quimicamente,
foram confeccionadas pelo Laboratório de Laminação do Instituto de Geociências (IG) da
Universidade de Brasília (UnB), totalizando 40 lâminas.
Do mesmo pacote de 71 amostras foram gerados 61 difratogramas em análises realizadas
no Laboratório de Difratometria de Raio-X do IG-UnB, que forneceram informações sobre a
estrutura da apatita, que representa o principal mineral do depósito.
No Laboratório de Isótopos Estáveis do IG-UNB foram analisadas 28 amostras de rochas
carbonáticas, visando à obtenção de dados de isotópicos de C e O.
Informações detalhadas sobre cada método empregado serão apresentadas nos capítulos
relacionados a tais métodos.
1.4.
LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO
Vários pontos chave foram visitados em toda a região, com a finalidade de compreender a
evolução geológica da mesma. Uma área-tipo situada no sudeste do município de Arraias e a
norte de Campos Belos, foi definida para dar enfoque à pesquisa. A área escolhida
compreende três pequenos depósitos, denominados: São Bento, Coité 1 e Coité 2, além de
3
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
outras ocorrências situadas no entremeio as litologias que representam todo o contexto
geológico, em que se deu a formação dos depósitos.
A área pode ser acessada a partir de Brasília pela BR-020, de onde se encaminha para
norte na GO-118 em direção a Campos Belos (Figura 1.1). Após chegar a Campos Belos,
segue-se pela GO-452, em direção a cidade de Novo Alegre (TO), por aproximadamente 4,3
km, tomando-se uma estrada não pavimentada a norte (Coordenada UTM: 313.765
E/8.560.538 N, Datum SAD-69, Zona 23 Sul). A planta de beneficiamento está situada a
oeste dessa estrada, a cerca de 2,3 km do início da mesma. O acesso a porção sul da área-tipo
se dá seguindo por essa mesma estrada por mais 6,0 km a partir da planta de beneficiamento
(Figura 1.2). As coordenadas UTM dos vértices superior esquerdo e inferior direito da áreatipo são: 306.418 E/8.573.237 N e 313.618 E/8.567.737 N, respectivamente, ambas no Datum
SAD-69 e Zona 23 Sul.
Figura 1.1 – Mapa de localização da área de estudo, com acessos a partir de Brasília-DF.
4
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 1.2 – Localização da área-tipo definida para pesquisa em relação aos municípios mais próximos
(Campos Belos-GO e Arraias-TO), expondo as frentes de lavras e ocorrências de minério fosfático.
A área-tipo compreende os Processos DNPM Nos 864.113/2003 e 864.175/2004 e
parcialmente os Processos DNPM Nos 864.176/2004 e 864.392/2006, totalizando 39,75 km2.
Os Processos DNPM Nos 864.113/2003, 864.175/2004 e 864.176/2004 são de propriedade da
empresa Itafós Mineração Ltda e se encontram em estágio de autorização de pesquisa,
enquanto o Processo Nº 864.392/2006 pertence à empresa EMS (Empresa de Recursos
Minerais e Serviços Ltda) e está em fase de requerimento de pesquisa.
5
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
1.5.
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
O município de Campos Belos está situado no nordeste de Goiás e pertence à
microrregião da Chapada dos Veadeiros. Esse município faz fronteira a leste com o estado da
Bahia, tendo a Serra Geral de Goiás como limite geográfico, e fronteira a norte com o estado
do Tocantins, por meio do Rio Bezerra, afluente pela margem direita do Rio Paranã, que
compõe a Bacia Hidrográfica Tocantins. Geomorfologicamente, Campos Belos está
localizada em terras do Planalto Central Brasileiro. A cidade está à altitude de 700m e foi
edificada sobre metaconglomerados polimícticos e meta-arcóseos do Grupo Araí, que
formam uma pequena bacia, no entremeio a serras
constituídas por granitos
paleoproterozóicos.
Arraias está situada na porção sudeste do Tocantins, na microrregião de Dianópolis. O
município está localizado à altitude de 682m, e também pertence à Bacia Hidrográfica
Tocantins e ao Planalto Central Brasileiro, sendo circundada por serras da Fm. Arraias,
pertencente ao Grupo Araí.
O clima em ambas as cidades, classificado como do tipo Aw de acordo com a
classificação de Koëppen (1948), é tropical, com estações secas e chuvosas bem definidas,
sendo o inverno seco e o verão úmido. A maior média pluviométrica é registrada nos meses
de novembro a março, sendo que a temperatura média anual oscila entre 20° e 22°. A
vegetação típica nos dois municípios é o cerrado.
6
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
2. DEPÓSITOS BRASILEIROS DE FOSFATO SEDIMENTAR
PROTEROZÓICOS
2.1.
INTRODUÇÃO
Grandes acumulações de rochas fosfáticas sedimentares foram formadas em idades
relativamente bem definidas durante a história da Terra. Nesses períodos, sedimentos ricos
em fosfato ocorrem em escala global, representando eventos fosfogenéticos maiores, podendo
gerar depósitos economicamente viáveis (Donnelly et al. 1990). Cook & Shergold (1986)
documentaram várias centenas de depósitos de fosforitos e ocorrências de idade Proterozóica
e Cambriana em todo o planeta, enquanto Cook et al. (1990) deram importante contribuição à
ciência, apresentando um panorama histórico sobre a investigação de fosforitos.
Importantes picos de fosfogênese foram registrados durante o Proterozóico, na transição
Proterozóico/Cambriano e no Cambriano (Figura 2.1) refletindo incremento acentuado do
teor de fosfato nos oceanos (Cook, 1992). Cook & Shergold (1984) sugerem que o aumento
do conteúdo de fosfato durante o Proterozóico esteve relacionado com o desenvolvimento de
ambientes oceânicos anóxicos, com o armazenamento de fosfato em reservatórios de oceanos
profundos, seguidos da circulação e ascensão de correntes marinhas que transportaram
fósforo solúvel para águas rasas, com condições passíveis de precipitação desse elemento.
Segundo Cook (1992) a elevação do nível do mar pode ser uma das razões que contribuem
para a circulação de fósforo solúvel.
A tese de que o oceano seja sempre a fonte primária do fósforo é questionável. Uma
contribuição continental por intermédio de redes fluviais que deságuam no mar é cogitada
como fonte em alguns depósitos, como no caso de fosforitos do sudeste dos Estados Unidos
(Pevear, 1966). Também é proposta uma relação entre vulcanismo e fosfogênese (Mansfield,
1940; Brodskaya & Ilyinskaya, 1968; 1970; In: Cook et al. 1990).
Várias ocorrências fosfáticas são associadas a folhelhos e carbonatos, particularmente
dolomitos, com ou sem formação de biohermas estromatolíticos, gerados em águas rasas.
Muitas das sequências fosfáticas sobrepõem tilitos, como no nordeste da Austrália, sudoeste
da China, nordeste da Índia, Cazaquistão e Brasil, dentre outros. Essa similaridade de
sucessões não indica necessariamente um sincronismo deposicional, mas representa uma
semelhança entre processos fosfogenéticos e ambientes de sedimentação.
7
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 2.1 – Distribuição de fosfato ao redor da transição Proterozóico/Cambriano (modificado de Cook, 1992,
com escala cronoestratigráfica e idades atualizadas com base na International Stratigraphic Chart, 2008).
Importantes reservas mundiais de rocha fosfática atribuídas ao Proterozóico/Cambriano
são encontradas na África, com destaque aos depósitos de Burkina Faso (antigo Alto Volta –
Depósito de Kodjari), Benin, Níger e Tunísia (Depósito de Gafsa); na Europa episódios
fosfogênicos dessa idade são mais amplos sobre a Plataforma Báltica, tendo importância
depósitos encontrados na Suécia e Finlândia, além da Espanha no sudoeste europeu; na Ásia
tem-se a maior concentração de depósitos de rocha fosfática de grande porte, com destaque
para os depósitos da Mongólia, Coréia do Sul, China (Depósito de Kunming), Vietnã, Índia
(Depósito de Udaipur) e Israel (Depósito de Arad); na Austrália, onde se destacam os
depósitos de Duchess-Lady Annie e Alexandria-Wonorah; e Américas, com depósitos no
Canadá, nos Estados Unidos e Brasil (Depósito de Rocinha) (Cook & Shergold, 1986).
Na figura 2.2 são apresentados desde ocorrências de rochas fosfatadas até depósitos de
tonelagem variada, formados no Pré-Cambriano e distribuídos por todos os continentes.
No Brasil há registro de fosfogênese no Paleoproterozóico, representado pelo depósito da
Unidade Rio Preto, pertencente ao Supergrupo Espinhaço, no Estado de Minas Gerais, gerado
em margem continental dominada por correntes (Mourão, 1995). Próximo a transição
Meso/Neoproterozóico é verificada no Estado do Ceará, a jazida fósforo-uranífera de Itataia,
incluída no Grupo homônimo, tendo sido depositada em ambiente marinho e reconcentrada
por processos tectono-metamórficos (Castro et al. 2005).
Depósitos de fosfato formados durante o Neoproterozóico são encontrados no Cráton São
Francisco e em sua borda oeste (Figura 2.3). No Neoproterozóico Inferior foram formados os
8
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Depósitos de Rocinha e Lagamar, ambos situados em Minas Gerais e pertencentes ao Grupo
Vazante. O volume de minério fosfático do depósito de Rocinha é o maior já identificado no
país, dentre os demais depósitos sedimentares, chegando a 415 Mt com 10 a 15% de P2O5.
Ambos os depósitos foram sedimentados em águas relativamente profundas e redutoras, onde
predominou a sedimentação pelítica rica em matéria orgânica de origem provavelmente
bacteriana (Dardenne et al. 1986; Nogueira, 1993; Dardenne et al. 1997).
Figura 2.2 – Distribuição de ocorrências e depósitos de fosforitos em toda a Terra formados durante o PréCambriano (modificado de Lee, 1980 e Notholt, 1979; In: Cook, 1992).
O Depósito de Irecê, localizado no Estado da Bahia, é associado ao Grupo Una. A
mineralização fosfática primária nesse depósito está associada a camadas de estromatólitos
colunares e tapetes algais (Misi, 1992; Monteiro et al. 1997; Misi et al. 2007).
O pequeno depósito de Cedro do Abaeté, situado em Minas Gerais, foi formado no Grupo
Bambuí próximo a transição entre as formações Lagoa do Jacaré e Serra da Saudade. A
sedimentação nesse caso se deu em plataformas rasas, parcialmente redutoras com influxo de
material pelítico e baixa contribuição carbonática (Dardenne et al. 1986; Lima et al. 2007).
No município de Xambioá, em Tocantins, foram mapeadas ocorrências de apatita em
saprólitos de folhelhos metamorfisados. Tais ocorrências pertencem a Formação Xambioá,
inclusa no Grupo Estrondo, de idade Neoproterozóica (Costa & Da Silva, 2009).
O Depósito da Serra da Bodoquena, situado no Estado do Mato Grosso do Sul, foi gerado
durante a sedimentação das formações Tamengo e Bocaina, que constituem o Grupo
Corumbá, na Faixa Paraguai. A idade do Grupo Corumbá converge para o final do
Neoproterozóico. A deposição do fosfato se deu em ambiente de talude, sujeito a correntes
9
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
ascendentes, com posterior retrabalhamento e formação de brechas (Corrêa et al. 1976;
Boggiani et al. 1993; Boggiani, 1997; Justo, 2000).
Figura 2.3 – Depósitos de rocha fosfática no Cráton São Francisco e em sua borda oeste, com nomes dos
mesmos destacados em negrito (adaptado de CPRM, 2004). (1), (2), (3) – Depósitos de fosfato sedimentar
neoproterozóicos atribuídos a Fm. Sete Lagoas, Gr. Bambuí; (4), (5), (7), (8) - Depósitos de fosfato sedimentar
neoproterozóicos atribuídos a Fm. Serra da Saudade, Gr. Bambuí; (6) - Depósito de fosfato sedimentar
neoproterozóico atribuído a Fm. Rocinha, Gr. Vazante, (9) - Depósito de fosfato sedimentar neoproterozóico
atribuído a Unidade Nova América, Fm. Salitre, Gr. Una, (10) - Depósito de fosfato sedimentar
paleoproterozóico atribuído a Unidade Rio Preto, Fm. Sopa-Brumadinho, Gr. Diamantina, SGr. Espinhaço.
10
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
2.2.
DEPÓSITO DE FOSFATO DA UNIDADE RIO PRETO, SUPERGRUPO
ESPINHAÇO (MG)
O Supergrupo Espinhaço foi depositado em ambiente de rifte durante o Paleoproterozóico
(Pflug & Renger 1973; Schöll & Fogaça 1979; Knauer, 2007). A parte superior da Sequência
Espinhaço representa uma cobertura transgressiva sobre o Cráton São Francisco (Boujo et al.
1994). Uma das mais antigas ocorrências de fosfato é reconhecida no Espinhaço, nas
proximidades do município de Conceição do Mato Dentro, na porção centro-sul da Serra do
Espinhaço Meridional. A unidade fosfática é caracterizada pela sucessão cíclica de bancos
quartzíticos micáceos e bancos de sericita-quartzo xistos, geralmente carbonáticos, orientados
segundo N20W (Mourão, 1995). O posicionamento estratigráfico e a associação litológica
permitem correlação com a Unidade Rio Preto, topo da Formação Sopa-Brumadinho (Figura
2.4).
O mineral de fosfato que constitui o depósito corresponde a flúor-hidroxiapatita que, em
termos de ETR e proporções de Sr e Ba, é similar a apatitas de fosforitos marinhos (Mourão,
1995). Fosfatos de alumínio e ferro foram formados em decorrência de processos
intempéricos em níveis superficiais (Mourão, 1995).
Mourão (1995) descreve cinco grupos de apatita diferenciados com base no tipo de
ocorrência e na química do mineral fosfatado: Apatitas do Grupo 1, têm ocorrência
generalizada nos quartzitos e xistos da unidade fosfática. As apatitas euédricas a subédricas
perfazem cerca de 70% do total. Outros tipos são: apatita poiquilotópica e apatita euédrica em
cristais isolados associada à massa sericítica. Apatitas do Grupo 2 ocorrem associadas a
vênulas quartzo-feldspática, associadas a porfiroblastos de feldspato, em inclusões em
porfiroblastos de feldspato e como apatita goticular em veio de quartzo. Apatitas do Grupo 3
são subédricas a anédricas e estão associadas a flogopita. Apatitas do Grupo 4 ocorrem
disseminadas em metabasitos encaixados na unidade fosfática. Apatitas do Grupo 5 são
associadas a clorita xistos do Supergrupo Rio Paraúna.
Nas apatitas do grupo 1, o Ca2+ é substituído em proporção variável por Sr2+, Ba2+, Fe2+ e
K+, enquanto o P5+ pode ser substituído por Si4+ e Al3+, e o Fˉ por OHˉ e Clˉ. As apatitas do
grupo 2 são, em termos de elementos maiores e traços, semelhantes a apatitas do grupo 1. A
diferença está na ausência do K+ como substituto do Ca2+ e na presença de Mg no grupo de
elementos que ocupam o sítio do Ca2+. As apatitas do grupo 3 são análogas às dos grupos 1 e
2, embora com concentrações de OHˉ mais elevados entre os todos os outros tipos analisados.
11
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 2.4 – Mapa de situação do nível fosfático da Unidade Rio Preto, topo da Fm. Sopa-Brumadinho,
Supergrupo Espinhaço (adaptado de CPRM, 2004).
12
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Nas apatitas do Grupo 4, o Ca2+ é substituído principalmente por Fe2+ e Mg2+, em
detrimento do Sr2+, e o P5+ é substituído somente por Si4+. Apatitas do grupo 5 são bastante
distintas dos demais tipos, tendo ferro e magnésio em proporções elevadas, enquanto
estrôncio e bário ocorrem em quantidades inexpressivas. Cloro e hidroxila ocorrem em
quantidades similares nos grupos 1, 2, 3 e 4.
A sedimentação fosfática está relacionada a importante evento transgressivo na Bacia
Espinhaço durante o Paleoproterozóico (Mourão, 1995). A ausência de níveis carbonosos
e/ou sulfetados e a natureza detrítica dos sedimentos sugerem a implantação de um sistema
fosfogenético de baixa produtividade, caracterizado por suprimento periódico de material
detrítico e baixo fluxo de carbono orgânico (Mourão, 1995). Os horizontes enriquecidos em
fosfato foram, provavelmente, gerados durante períodos de intensificação no regime de
transgressão, nos quais a atuação de correntes de fundo promoveu retrabalhamento e
lixiviação dos sedimentos, com consequente concentração de apatita (Mourão, 1995).
2.3.
JAZIDA FÓSFORO-URANÍFERA DE ITATAIA, GRUPO ITATAIA (CE)
A jazida fósforo-uranífera de Itataia está localizada no município de Santa Quitéria (CE)
e está incluída no Domínio Ceará Central (Arthaud et al. 1998; Fetter 1999). O Domínio
Ceará Central é dividivo em quatro unidades geotectônicas: (1) Coberturas supracrustais
meso/neoproterozóicas de rifte plataformal, caracterizadas por sequências metapsamopelítica-carbonáticas, subdivididas em: Grupo Ceará, Grupo Itataia e Grupo/Complexo
Independência; (2) Terreno Santa Quitéria, constituído por gnaisses e migmatitos
paleoproterozóicos
de
composição
tonalítica;
(3)
Terrenos
acrescionários
do
Paleoproterozóico agrupados sob a denominação de Suíte Metamórfica Algodões-Choró; (4)
Núcleo máfico-ultramáfico arqueano (Martins, 2000).
O depósito fósforo-uranífero de Itataia é composto por colofanito que ocorre sob
diferentes formas e associações e se concentra preferencialmente em mármores e rochas
calcissilicáticas da Formação Alcantil, Grupo Itataia (Figura 2.5).
O depósito de Itataia contém pelo menos cinco tipos de minérios: (a) Colofanito maciço
situado especialmente no topo da seqüência de mármores e que sustenta pequena elevação
associada a mármores brechados. Esse tipo de minério possui granulação fina, com hábito
botrioidal localmente. Microscopicamente são observados cristais de apatita muito fina
13
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
fibrorradiados. Economicamente esse é o tipo de minério mais importante e está associado à
carstificação e enriquecimento supergênico; (b) Associado a brechas carbonosas e não
carbonosas mineralizadas. As brechas carbonosas possuem granulometria fina a média, com
fragmentos milimétricos a centimétricos de rocha feldspática fina, colofanito, mármore e
rocha calcissilicática, suportados por matriz carbonosa. As brechas não carbonosas
mineralizadas são constituídas por fragmentos angulosos e decimétricos de mármore,
envolvidos por matriz vermelha de material colofanítico. Alguns fragmentos estão
impregnados por colofana intergranular da borda para o centro dos clastos. A presença de
cimentos entre os fragmentos de mármore e minério disseminado pode indicar uma origem
por infiltrações de águas meteóricas em fraturas que interceptam o protominério; (c) Veios de
pequena espessura que cortam mármores e a foliação milonítica; (d) Disseminado em
pegmatitos filoneanos, que ocorrem próximo a jazida. Os pegmatitos contêm colofana
disseminada de aspecto terroso, de cor amarelo-ocre a marrom, principalmente na zona de
interação entre as bordas e as rochas hospedeiras; (e) Disseminado em gnaisses pelíticos e
calcissilicáticos deformados e acompanhando o bandamento ou a foliação milonítica. Esse
tipo é apontado como provável minério primário. Falhas que cortam as sequências foram
importantes canais, pelo quais percolaram fluidos ricos em colofana (Castro et al. 2005).
Figura 2.5 – Mapa geológico da região do depósito fósforo-uranífero de Itataia localizado na Fm. Alcantil
(Modificado de Mendonça et al. 1984 e Santos, 2003; In: Castro et al. 2005).
14
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Segundo Castro el al. (2005), a análise das razões isotópicas sugere que os fluidos
envolvidos na formação da mineralização fósforo-uranífera de Itataia são oriundos de água
marinha, parcialmente modificados por fluidos meteóricos ou de água doce não magmática.
A interação entre esses fluidos parece ter ocorrido durante estágio pós-deposicional, fato que
indica que a mineralização fósforo-uranífera de Itataia foi dominantemente de origem
sedimentar, reconcentrada por processos tectono-metamórficos e, posteriormente, enriquecida
por processos supergênicos.
2.4.
DEPÓSITOS DE FOSFATO DE ROCINHA E LAGAMAR, GRUPO
VAZANTE (MG)
Os depósitos de Rocinha e Lagamar (Dardenne et al. 1986; Nogueira, 1993), situados nas
proximidades dos municípios de Lagamar e Patos de Minas, no noroeste de Minas Gerais,
estão inseridos na Formação Rocinha, porção basal do Grupo Vazante, que integra a borda
leste da Faixa de Dobramentos Brasília (Província Tocantins) (Figura 2.3). O depósito de
Lagamar é datado entre 1.350-950 Ma (Dardenne, 1981), idade dos estromatólitos colunares.
A Formação Rocinha é caracterizada por sequência rítmica arenosa e pelítica. A porção
superior consiste de uma espessa sequência de ardósias e camadas de metassiltitos
intercaladas. Verticalmente esse conjunto passa a ardósias com pirita e carbonatos, com finas
laminações fosfáticas, que gradam lentamente a fosfarenitos ricos em intraclastos e pellets,
formando o depósito de fosfato de Rocinha (Dardenne, 2000), o qual tem reservas da ordem
de 415 Mt com teor de 10% a 15% P2O5 (Dardenne & Schobbenhaus, 2003), configurando o
maior volume de fosfato sedimentar brasileiro. Na parte superior da Formação Rocinha,
sedimentos rítmicos (quartzitos e siltitos) hospedam o depósito de fosfato de Lagamar,
composto essencialmente de fosfarenitos (Dardenne, 2000). As reservas definidas em
Lagamar são da ordem de 5 Mt com 30% a 35% de P2O5 (Dardenne & Schobbenhaus, 2003).
Na figura 2.6 é exibido o mapa geológico do depósito de Rocinha.
Ocorrências de fosforitos são relatadas na Formação Retiro, situada estratigraficamente
abaixo da Formação Rocinha. Essas ocorrências estão localizadas nas adjacências do
município de Coromandel, em Minas Gerais (Figura 2.3). A Formação Retiro consiste em
camadas de quartzitos brancos, localmente conglomeráticos, intercalados com ardósias.
Concentrações significativas de fosfato são encontradas na forma de camadas de fosfarenitos
15
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
ricos em intraclastos e pellets (Dardenne, 2000). Ocorrências nas formações Serra do Poço
Verde e Morro do Calcário, próximo ao topo do Grupo Vazante, apresentam pequenas
concentrações de colofanita substituindo parcialmente a matriz de brechas intraformacionais
(Sanches et al. 2007).
Figura 2.6 – Mapa geológico do depósito de Rocinha situado no noroeste de Minas Gerais (modificado de
Chaves et al. 1976).
Os fosforitos são constituídos, em sua maioria, por carbonato-fluorapatitas (francolitas)
criptocristalinas, que foram afetadas por processos intempéricos de lixiviação de carbonato
transformando-se em fluorapatitas (Nogueira, 1993). Em fases mais avançadas do
intemperismo, há neoformação de apatitas (Nogueira, 1993). Em níveis mais superficiais, o
intemperismo provocou mudanças químicas e mineralógicas, com a formação de fosfatos de
alumínio a partir de apatitas primárias (Nogueira, 1993).
16
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Nogueira (1993) individualizou dois grupos de fosforitos no depósito fosfático de
Lagamar, baseado em dados petrográficos: grupo dos Fosforitos Puros e grupo dos Fosforitos
Calcíticos.
O grupo dos Fosforitos Puros compreende: (a) Fosfolutitos, constituídos entre 80% a 90%
por matriz apatítica criptocristalina, além de fosfointraclastos e oólitos; e (b) Fosfarenitos
Micríticos, de cor cinza, sustentadas por matriz, com grãos fosfointraclásticos de dimensões
variadas, localmente deformados. Mais raramente são encontrados pseudo-oólitos, que
apresentam núcleos de fosfointraclastos envoltos em finas lamelas de cristais de apatita. O
grupo dos Fosforitos Calcíticos ocorre como níveis de rochas negras, plano-acamadas,
intercalados à sequência fosfática no município de Lagamar e abrange dois subtipos: (a)
Fosfolutitos, constituídos por massa fosfomicrítica e pela disseminação de cristais anédricos
de calcita cristalina intersticial; (b) Fosforitos Calcimicríticos, com aproximadamente 60% de
grãos de apatita criptocristalina no entremeio a calcita criptocristalina. Os fosfointraclastos
apresentam-se deformados.
Mineralogicamente, três grupos de apatitas foram diferenciadas por Nogueira (1993): (a)
Apatitas criptocristalinas (apatitas C), que ocorrem como fosfointraclastos e como matriz em
fosforitos puros e calcíticos, guardando textura sedimentar primária; (b) Apatitas em forma de
franjas (apatitas F), com cristais prismáticos, microcristalinos, zonados, de caráter
secundário, crescidas sobre a superfície de grãos intraclásticos e nas paredes de voids; (c) e
Apatitas microcristalinas crescidas em fraturas (apatitas T), ocorrem seccionando fosforitos
puros e se apresentam zonadas em virtude do efeito de vários pulsos de sobrecrescimento
durante sua cristalização.
As características estruturais e sedimentológicas indicam que o Grupo Vazante foi
depositado em borda de plataforma continental em latitude relacionada à ocorrência dos
biohermas da Formação Rocinha (Nogueira, 1993). A precipitação fosfática marinha foi
provavelmente intermediada por cianobactérias e teve relação com um aumento do nível
eustático do mar (Nogueira, 1993).
2.5.
DEPÓSITO FOSFÁTICO DE IRECÊ, GRUPO UNA (BA)
O depósito de fosfato de Irecê (Dardenne et al. 1986; Misi, 1992) se localiza nas
imediações da cidade de Irecê (BA) e se encontra incluído na Unidade Nova América, base
17
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
da Formação Salitre, que compõe o Grupo Una (Figura 2.7), o qual é correlacionável ao
Grupo Bambuí na porção norte do Cráton São Franscico (Figura 2.3). Segundo Sanches et al.
(2007), os fosforitos de Irecê ocorrem em fácies dolomíticas equivalentes a Formação Sete
Lagoas, porção basal do Grupo Bambuí. A esse depósito é atribuída idade Neoproterozóica.
A Unidade Nova América é subdividida em Subunidade Nova América Inferior e
Subunidade Nova América Superior. A Subunidade Nova América Inferior é constituída pela
alternância de estratos de calcarenitos e dolarenitos e localmente níveis milimétricos de pelito
vermelho (Monteiro et al. 1997). Nos estratos dolareníticos ocorrem estruturas
estromatolíticas não colunares, classificadas por Srivastava (1986) In: Monteiro et al. (1997)
do tipo Stratifera e Irregularia. O contato com a Subunidade Nova América Superior é
transicional, refletindo pequenas variações nos níveis da lâmina d‟água (Monteiro et al.
1997). A Subunidade Nova América Superior é composta por calcarenitos dolomíticos,
dolarenitos, dolomitos e estratos decimétricos a métricos de estromatólitos colunares e
tapetes. O depósito de fosfato encontra-se associado a estromatólitos colunares do tipo
Jurusania Krylov (Srivastava, 1986. In: Dardenne & Schobbenhaus, 2003) intercalados com
níveis de dolarenitos com estratificações cruzadas (Dardenne & Schobbenhaus, 2003).
Três tipos de fosforitos foram registrados (Dardenne & Schobbenhaus, 2003): (a)
Fosforito Estromatolítico Colunar, constituído por fluorapatita micro a criptocristalina,
apresentando os teores mais elevados de P2O5 entre os demais tipos, sendo superiores a 20%;
(b) Fosforito Estromatolítico Laminar, também contituído por apatita micro a
criptocristalina; (c) e Fosforito Intraclástico, que se apresenta como produto da erosão dos
outros dois tipos de fosforitos, e formam o material intercolunar e os níveis intercalados com
os horizontes de estromatólitos colunares e laminares.
A fosfatização ocorreu em fase sindiagenética anterior à dolomitização e associada ao
desenvolvimento de comunidades de cianobactérias (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). O
tempo de precipitação da apatita ainda é incerto. Duas hipóteses são levantadas sobre essa
indefinição: a partir da atividade bacteriana ou como substituição precoce em lâminas
carbonatadas ricas em matéria orgânica (Dardenne & Schobbenhaus, 2003).
Fosforitos secundários foram gerados devido a alteração supergênica dos fosforitos
primários a partir da lixiviação de carbonatos, o que incorreu em enriquecimento de fosfato,
atingindo teores acima de 30% P2O5 (Dardenne & Schobbenhaus, 2003).
18
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 2.7 – Mapa geológico da folha de Irecê, destacando os principais depósitos de fosfato na região
(adaptado de Monteiro et al. 1997).
As reservas estimadas do depósito de Irecê são da ordem de 40 Mt com teor médio de
14% P2O5 (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Grande parte dessas reservas é proveniente da
acumulação de fosforitos retrabalhados mecanicamente em colúvios nas imediações dos
afloramentos (Dardenne & Schobbenhaus, 2003).
Segundo Monteiro et al. (1997), a mineralização ocorre associada à fácies de intermaré,
desenvolvida sob pulsos transgressivos e regressivos, dentro de um ciclo maior de natureza
regressiva.
19
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
2.6.
DEPÓSITO FOSFÁTICO DE CEDRO DO ABAETÉ, GRUPO BAMBUÍ
(MG)
Os ritmitos fosfáticos que compõem o depósito em questão (Chaves et al. 1971; Dardenne
et al. 1986; Lima et al. 2007) se localizam nas imediações da cidade de Cedro do Abaeté
(MG) e estão inseridos no contexto geológico da Formação Serra da Saudade (Figura 2.8),
porção superior do Grupo Bambuí, no sul do Cráton São Francisco (Figura 2.3).
A mineralização está associada à ritmitos areno-pelíticos de cor cinza claro, intercalados
nas sequências de ritmitos areno-pelíticos verdes (verdetes), na forma de lentes estratiformes,
descontínuos, concordantes com o acamamento dobrado perfazendo lentes alongadas
segundo a direção N-S (Lima et al. 2007).
Outras ocorrências associadas à Formação Serra da Saudade foram registradas na borda
oeste do Cráton São Francisco, próximo às cidades de Formosa e Cabeceiras (GO) (Figura
2.3) (Dardenne et al. 1986; Sanches et al. 2007).
Microanálises realizadas por Lima et al. (2007) permitiram a identificação do mineral de
fosfato como sendo fluorapatita. O mineral fosfático primário (francolita ou carbonofluorapatita) não foi encontrado nas amostras analisadas. O teor médio de fosfato nas rochas
mineralizadas é da ordem de 8% P2O5. Nos casos em que as amostras se encontram muito
intemperizadas e ricas em veios preenchidos por wavellita (origem supergênica) os teores
podem exceder a 25% P2O5 (Lima et al. 2007). Zonas de charneiras de anticlinais seriam
responsáveis por acumulações enriquecidas em fosfato por serem áreas de fácil remobilização
desse material (Chaves et al. 1971).
Além da presença de grãos detríticos de apatita, com granulometria de areia muito fina a
silte, também foi identificado cimento fosfático diagenético.
Lima et al. (2007), sumarizam a evolução geológica da mineralização em quatro fases. A
Fase 1 corresponde a precipitação primária de francolita em ambiente de baixa energia, águas
rasas, com influxo de material detrítico fino e baixa contribuição carbonática e relativamente
oxidante, permitindo a adsorção de moléculas de P2O5 por óxidos e hidróxidos. Na Fase 2
foram formados depósitos alóctones do ritmito fosfático, por meio de erosão e
retrabalhamento do ambiente gerado na Fase 1, com transporte e acumulação dos grãos
fosfáticos no sítio de deposição final. Os agentes de erosão e transporte são cogitados como
episódios de tempestades e a ação de ondas, provavelmente intensificadas durante evento
20
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
regressivo. Assim sendo, a primeira e segunda fases possuem caráter essencialmente
sindiagenético. A Fase 3 marca o surgimento da fluorapatita, durante estágios da evolução
diagenética, em condições redutoras a suboxidantes, a partir da alteração de francolitas. A
Fase 4 é epigenética, sendo caracterizada pela alteração supergência dos minerais fosfáticos e
formação de wavellita. Em razão das descontinuidades e da presença de níveis rochosos
permeáveis, os limites dessa mineralização secundária podem ser extrapolados e afetar outras
litofácies.
Figura 2.8 – Mapa geológico da Serra da Saudade (Lima et al. 2007). Compilação de mapas 1:250.000 das
Folhas Três Marias e Bom Despacho (COMIG/CPRM, 2002) e dados obtidos pelos autores.
21
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
São registradas na região, intercalações entre a Formação Serra da Saudade e a Formação
vulcano-sedimentar Mata da Corda, de idade Cretácea, que localmente apresenta teores
baixos, da ordem de 2-3% P2O5 (Dardenne et al. 1986). Um enriquecimento em fosfato
devido ao intemperismo da Formação Mata da Corda, sobrejacente a Formação Serra da
Saudade, teria proporcionado a redeposição de fosfato por precipitação em fraturas e
porosidades em rochas dessa formação (Ladeira & Brito, 1968. In: Dardenne et al. 1986).
Deste modo, Cedro do Abaeté teria sido afetado por dois episódios fosfogenéticos distintos: o
primeiro no Neoproterozóico (conforme descrito por Lima et al. 2007) e o segundo no
Cretáceo (Dardenne et al. 1986).
2.7.
MINÉRIO FOSFÁTICO DE XAMBIOÁ, GRUPO ESTRONDO (TO)
As ocorrências de rochas fosfáticas de Xambioá (norte do Estado de Tocantins) foram
descobertas em 1990 pela DOCEGEO (Rio Doce Geologia e Mineração). Essas ocorrências
estão inseridas no contexto geológico da porção norte da Faixa de Dobramentos Araguaia. O
minério fosfático ocorre na Formação Xambioá, porção basal do Grupo Estrondo, de idade
Neoproterozóica. A Formação Xambioá é caracterizada por mármores calcíticos e
dolomíticos intercalados com xistos e micaxistos (folhelhos metamorfisados).
Segundo Costa & Da Silva (2009) em furos de sondagem realizados na área foram
interceptados da base para o topo (Figura 2.9): mármores calcíticos e dolomíticos formados
por calcita, dolomita, muscovita, quartzo e minerais opacos como acessórios, com teor de
0,11% P2O5; finas lentes de xistos, dispostas entre o conjunto de mármores, constituídos por
biotita, muscovita, quartzo, plagioclásio, calcita, escapolita e pelos minerais acessórios
epidoto, opacos e apatita, o que confere a rocha total teor de 0,21% P2O5; e saprólito marrom
a vermelho, formado a partir de xistos, constituído por hematita, goethita, quartzo, argilominerais (caolinita, esmectita e ilita), fosfatos, carbonatos e plagioclásios reliquiares.
Análises químicas de solo e de saprólitos de xistos interceptados por furos de sondagem
registraram teores de até 13% P2O5 (Costa & Da Silva, 2009). Dados de difratometria de
raios-x, infravermelho e microssonda, além de análises químicas permitiram identificar
carbonato-fluorapatita (francolita) e crandallita (Costa & Da Silva, 2009). O saprólito
apresenta conteúdos médios de 7,7% P2O5, 12,36% CaO, 1,06% MgO, 0,83% F e 1,88% CO2
(Costa & Da Silva, 2009).
22
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
A sucessão de mármores (calcários), xistos (folhelhos metamorfisados), xistos ricos em
apatita (folhelhos ricos em apatita/fosforitos) é muito comum em sequências marinhas
sedimentares geradas na transição Proterozóico/Cambriano, como é o caso das ocorrências
em questão.
Figura 2.9 – Seção geológica simplificada de furo com ocorrência de fosfatos em Xambióa (TO). Modificado
após Da Silva (1998).
2.8.
DEPÓSITO DE FOSFATO DA SERRA DA BODOQUENA, GRUPO
CORUMBÁ (MS)
O depósito de fosfato da Serra da Bodoquena (Corrêa et al. 1976; Boggiani et al. 1993;
Boggiani, 1997) está situado entre as cidades de Bonito, localizada a sudoeste da área, e
Bodoquena, a nordeste, que distam, respectivamente 258 km e 268 km de Campo Grande,
capital do estado de Mato Grosso do Sul. Geologicamente, o minério fosfático pertence às
formações Tamengo e Bocaina (Figura 2.10), porção mediana do Grupo Corumbá, que
compõe a Faixa Paraguai no oeste da Província Tocantins.
23
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Indicadores paleontológicos e isotópicos relevantes à datação do Grupo Corumbá
convergem para idade no limite Neoproterozóico\Cambriano (Boggiani et al. 1993).
Figura 2.10 – Mapa geológico na escala 1:50.000 do Projeto Fosfato da Serra da Bodoquena (MS) (modificado
de Justo, 2000).
A área de ocorrência de minério fosfático foi alvo de estudo do Projeto Fosfato da Serra
da Bodoquena (MS), executado por Justo (2000) por intermédio do Serviço Geológico
Brasileiro (CPRM). A Formação Bocaina é subdividida em Unidade Calcítica, composta por
calcários, e Unidade Dolomítica, constituída por dolomitos, sendo que de modo geral essa
24
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
formação é essencialmente dolomítica. Segundo Boggiani (1997) e Justo (2000), no topo da
Formação Bocaina houve deposição de microfosforitos maciços, além de estromatólitos e
laminações algáceas fosfatizadas. A Formação Tamengo está representada na área de
ocorrência do depósito por ritmitos e brechas intraformacionais (Justo, 2000). As brechas são
constituídas por clastos, provenientes principalmente da Formação Bocaina, incluindo clastos
de fosforitos (Justo, 2000). Os ritmitos são formados por intercalações centimétricas a
milimétricas de argilitos, folhelhos carbonosos e algumas vezes microfosforito (Boggiani,
1997; Justo, 2000).
Segundo Boggiani et al. (1993), os depósitos de rocha fosfática do Grupo Corumbá
podem ser interpretados como originários em áreas de ressurgência na borda da plataforma
carbonática da zona interna, hipótese esta, apoiada pela posição das ocorrências no limite
entre fácies sedimentares de águas rasas e profundas. A associação dos fosfatitos e rochas
fosfáticas com estromatólitos reforça esta ideia, pois nestas áreas deve ter havido intensa
atividade biológica. Desta maneira, os fosfatitos e rochas fosfáticas foram originados em água
rasa na plataforma, posteriormente ressedimentados no talude.
25
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
3. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL E ARCABOUÇO TECTÔNICO
3.1.
INTRODUÇÃO
As sequências litoestratigráficas do Grupo Bambuí são registradas nos estados de Goiás,
Minas Gerais, Bahia e Tocantins. Geologicamente, o Grupo Bambuí se distribui ao longo da
porção leste da Faixa de Dobramentos Brasília (FDB), margeando o Cráton São Francisco,
onde estão inseridas ocorrências de rochas fosfatadas e fosforitos, bem como recobrindo
ampla área cratônica.
Pode ser observado nas rochas do Grupo Bambuí, um padrão de dobramento assimétrico
formado em condições compressivas dúcteis-rúpteis, com vergência para leste, além de falhas
e fraturas associadas à deformação distensiva rúptil, ocorridas devido a Orogênese Brasiliana
durante o Neoproterozóico (Alvarenga et al. 2006). O grau de metamorfismo varia entre xisto
verde baixo e anquimetamorfismo (Alvarenga et al. 2006).
O Grupo Bambuí, segundo definido por Dardenne (1978b), é constituído por seis
formações: Formação Jequitaí, composta por diamictitos e subordinadamente pelitos
maciços; Formação Sete Lagoas, caracterizada por pelitos e margas na base e calcários e
dolomitos no topo; Formação Serra de Santa Helena, constituída por argilitos e siltitos com
lentes de calcário cinza escuro e níveis de marga; Formação Lagoa do Jacaré, composta por
níveis margosos e siltitos argilosos intercalados com bancos ou lentes de calcário preto
oolítico; Formação Serra da Saudade, composta por siltitos argilosos, esverdeados e
margosos, com presença de calcário cinza na base e arcóseos esverdeados no topo; e
Formação Três Marias, composta por arcóseos esverdeados em bancos maciços intercalados
com siltitos arcoseanos também esverdeados.
A sedimentação do Grupo Bambuí tem início com os diamictitos da Formação Jequitaí, a
qual tem sua origem relacionada a um período glacial (Dardenne, 1978b). O derretimento das
camadas de gelo referentes a tal glaciação permitiu a instalação de ambiente marinho
epicontinental, e início da deposição de sedimentos pelito-carbonatados do Grupo Bambuí,
que se sobrepõe ao Cráton São Francisco (Dardenne, 1978b). O ambiente formado em função
da deglaciação estabeleceu também as condições climáticas necessárias para a deposição dos
sedimentos fosfáticos.
26
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
3.2.
FAIXA DE DOBRAMENTOS BRASÍLIA
A Faixa de Dobramentos Brasília (Figura 3.1), cuja extensão supera 1.100 km,
desenvolveu-se na borda ocidental e meridional do Cráton São Francisco durante o Ciclo
Brasiliano (Almeida et al. 1977). Essa faixa neoproterozóica representa o complexo cinturão
de dobras e falhas de empurrão com vergências tectônica e metamórfica em direção ao
Cráton São Francisco (Fuck et al. 1994).
Figura 3.1 - Mapa Geológico da Faixa Brasília (adaptado de Marini et al. 1984a, b. In Dardenne, 2000).
27
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Dados geocronológicos U-Pb e Rb-Sr sugerem que a história tectono-metamórfica da
Faixa de Dobramentos Brasília foi marcada por dois eventos metamórficos, o primeiro evento
termo-tectônico em ~750 Ma e o último em ~630-600 Ma, que representa o ápice do
metamorfismo na faixa, correspondendo à Orogênese Brasiliana (Pimentel et al. 1991, 1992).
A Faixa de Dobramentos Brasília possui estruturação marcada por dois ramos de direções
distintas: um setentrional, de orientação NE, e outro meridional, de orientação NW, que
apresentam uma evolução geotectônica única, mas com características bem distintas (Araújo
Filho, 1999). O encontro dos dois ramos marca uma grande estrutura regional definida como
Flexura dos Pireneus (Costa & Angeiras, 1971; Araújo Filho, 1980), posteriormente
renomeada de Sintaxe dos Pirineus (Araújo Filho, 1999) que consiste de lineamentos WNWSSE, situados à mesma latitude do Distrito Federal.
A compartimentação longitudinal da Faixa de Dobramentos Brasília, de leste para oeste,
em Zona Externa, Zona Interna, Maciço de Goiás e Arco Magmático de Goiás (Dardenne,
1978a, 1981; Fuck et al. 1993; Fuck, 1994) é ainda muito utilizada pela comunidade
científica, embora Fuck et al. (2005) tenham atualizado essa divisão.
Seguindo a divisão da Faixa de Dobramentos Brasília em dois ramos distintos,
denominados de Faixa Brasília Setentrional, ao norte da sintaxe, e Faixa Brasília Meridional,
ao sul, têm-se a caracterização das unidades que compõem estas duas faixas, seguindo a nova
compartimentação longitudinal, proposta por Fuck et al. (2005):
» A Faixa Brasília Setentrional estrutura-se em três compartimentos geologicamente
distintos: i) Embasamento Ortognáissico Paleoproterozóico, representado pelo Bloco AlmasDianópolis, que também inclui estreitas faixas de rochas supracrustais. Algumas unidades
supracrustais são atualmente interpretadas como embasamento siálico da Faixa de
Dobramentos Brasília sobre o qual foram depositados os grupos Araí e Natividade em
ambiente de rift intracontinental, com seqüências transgressivas no topo, de idade
Paleo/Mesoproterozóica, composto por rochas sedimentares e vulcânicas metamorfizadas.
Também ocorrem faixas restritas referentes à Formação Ticunzal e aos grupos Paranoá e
Bambuí, além de granitos da suítes Aurumina e Pedra Branca; ii) Maciço de Goiás, Grupo
Serra da Mesa e porções do Grupo Araxá. Atualmente o Maciço de Goiás compreende: o
Bloco Arqueano Crixás-Goiás, constituído por ortognaisses e em menor participação por
greenstones belts; e os complexos máficos-ultramáficos de Barro Alto, Niquelândia e CanaBrava e as seqüências vulcano-sedimentares associadas de Juscelândia, Indaianópolis e
28
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Palmeirópolis, respectivamente. O Grupo Serra da Mesa, de idade mesoproterozóica consiste
principalmente de quartzitos e micaxistos com participação carbonática no topo da seqüência;
iii) Arco Magmático de Goiás, constituído por ortognaisses e seqüências vulcanosedimentares neoproterozóicos, representa a crosta menos espessa da província, segundo
dados geofísicos (Soares et al. 2005). É subdividido em Arco Magmático de Mara Rosa na
porção norte e Arco Magmático de Arenópolis na porção sul.
» Na Faixa Brasília Meridional também são reconhecidos três compartimentos (Fuck et
al. 2005): i) Depósitos Sedimentares de Margem Passiva, representados pelo cinturão de
dobras e empurrões, sobrepostos por rochas do Grupo Araxá, que consiste essencialmente em
rochas metassedimentares. Freqüentemente são observadas associações com rochas
vulcânicas que indicam que o Grupo Araxá representa uma melánge ofiolítica, obductada
sobre a margem continental por nappes de transporte W-E; ii) Núcleo Metamórfico,
representado por rochas de alto grau do Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu, compondo o
eixo da faixa, e pequena porção do Arco Magmático de Goiás. O complexo é caracterizado
por ortogranulitos de composição máfica-ultramáfica e tonalítica a granodiorítica, rochas
metassedimentares associadas à granulitos aluminosos, leptinitos e granada gnaisses, rochas
metavulcano-sedimentares e intrusões de granitóides; iii) Prolongamento do Arco Magmático
de Goiás, parcialmente encoberto pelos sedimentos da Bacia do Paraná.
3.3.
GEOLOGIA DA REGIÃO DE CAVALCANTE - CAMPOS BELOS ARRAIAS
O Grupo Bambuí na região estudada está distribuído entre a porção leste da Faixa de
Dobramentos Brasília e o Cráton São Francisco. As ocorrências de rochas fosfatadas e
fosforitos fazem parte de um contexto, no qual se inserem, da base para o topo, as seguintes
unidades litoestratigráficas: Complexo Granito-gnáissico, Formação Ticunzal, Suíte
Aurumina, Quartzo Diorito Nova Roma, Suíte Pedra Branca, Grupo Araí, Grupo Paranoá,
Formação Jequitaí, Grupo Bambuí e grupos Areado e Urucuia. Na figura 3.2 é apresentado
mapa geológico regional expondo as unidades aflorantes no nordeste do estado de Goiás e no
sudeste do estado do Tocantins. Esse mapa é resultado da cartografia das folhas Monte
Alegre de Goiás, Nova Roma e Cavalcante, em escala 1:100.000, por intermédio do
Programa Geologia do Brasil (PGB/PGL), do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 2006.
29
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Na figura 3.3 é apresentada a coluna estratigráfica das unidades geológicas mapeadas nas
folhas Monte Alegre de Goiás, Nova Roma e Cavalcante. Em seguida serão descritas as
unidades distinguidas na região de ocorrência dos fosforitos.
Figura 3.2 – Mapa geológico regional simplificado compreendendo as regiões nordeste de Goiás e sudeste do
Tocantins (modificado de Botelho & Silva, 2004).
30
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Aurumina
Figura 3.3 – Carta estratigráfica das unidades geológicas distinguidas durante mapeamento das folhas Monte
Alegre de Goiás, Nova Roma e Cavalcante (Alvarenga et al. 2006).
3.3.1. COMPLEXO GRANITO-GNÁISSICO
O
Complexo
Granito-gnáissico
compreende
uma
ampla
área
distribuída
longitudinalmente entre as cidades de Almas e Dianópolis, no sudeste do Tocantins, até as
imediações da cidade de Cavalcante, no nordeste do Estado de Goiás (Pimentel et al. 2000).
É atribuída idade Arqueana/Paleoproterozóica a esses terrenos, os quais são compostos
principalmente por ortognaisses, granitóides deformados e algumas unidades supracrustais.
31
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Sobre esse embasamento se depositaram sedimentos dos grupos Paranoá e Bambuí, do Grupo
Araí, e seu possível equivalente a norte, o Grupo Natividade (Pimentel et al. 2000).
Na região de Almas-Dianópolis duas suítes foram reconhecidas. A mais antiga está
intrudida em rochas supracrustais do Grupo Riachão do Ouro e compreende principalmente
corpos tonalíticos, enquanto a segunda suíte compreende vários plútons de formato oval
intrudidos em granitóides e rochas supracrustais. Dados geoquímicos de rocha total em
ambas as suítes indicam afinidade calcialcalina (Pimentel et al. 2000).
Nas proximidades de Cavalcante e Teresina de Goiás, o principal tipo de rocha
encontrado é hornblenda-biotita tonalito, e subordinadamente, quartzo-diorito e granodiorito.
A geoquímica dessas rochas permite inferir protólitos calcialcalinos para as mesmas. Essas
rochas são geralmente intrudidas por vários corpos graníticos, pertencentes às suítes
Aurumina e Pedra Branca (Botelho, 1992).
3.3.2. FORMAÇÃO TICUNZAL
A distribuição da Formação Ticunzal na Faixa Brasília ainda é incerta, mas alguns
trabalhos demostram a presença dessa formação no nordeste de Goiás e sudeste do Tocantins
(Botelho et al. 2002). A sua área-tipo foi definida na região das serras do Ticunzal e
Tombador, município de Cavalcante (GO) (Marini et al. 1978). A idade da Formação
Ticunzal não é bem definida, mas segundo dados Sm-Nd é mais antiga que 2,15 Ga, idade
das intrusões graníticas mais velhas da Suíte Aurumina no entremeio ao Ticunzal. Essa
formação estabelece contatos com o Complexo Granito-gnáissico e Suíte Aurumina (Figura
3.2), com a Suíte Pedra Branca e grupos Araí e Bambuí (Figura 3.4).
A Formação Ticunzal é constituída essencialmente por rochas metassedimentares
agrupadas em três litofácies: Litofácies PP1tzp: composta por paragnaisses contendo restos
de granada e cristais de grafita; Litofácies PP1tzx: compreende quartzo-muscovita xistos
esbranquiçados associados a muscovita-granada xistos e ainda clorita-muscovita-quartzo
xistos e grafita xistos ricos em muscovita e com pequenas concentrações de óxidos de
manganês; Litofácies de metaconglomerados e quartzitos: constituída por níveis de
metaconglomerados e microconglomerados com matriz arenosa, associados a quartzitos e
quartzo xistos mal selecionados.
32
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 3.4 – Relações de contato em campo, entre as unidades: Formação Ticunzal, Suíte Pedra Branca e
grupos Araí e Bambuí. Vista a partir da estrada não pavimentada que faz a ligação entre a cidade de Nova Roma
(GO) à GO-118.
3.3.3. SUÍTE AURUMINA
A Suíte Aurumina foi definida por Botelho et al. (1999) com base em granitos aflorantes
entre o município de Teresina de Goiás e o povoado de Aurumina. Em Aurumina,
considerada a área-tipo, a suíte está representada por pequeno corpo de biotita-muscovita
granito, milonitizado e alongado segundo N30W, intrusivo em granitos milonitizados
considerados como parte da própria Suíte Aurumina, que se estende para as regiões de
Cavalcante, Nova Roma, Monte Alegre de Goiás, Campos Belos, em Goiás, e Arraias, no
Tocantins (Alvarenga et al. 2006). Em todas essas regiões observa-se que a Suíte Aurumina é
intrusiva na Formação Ticunzal. A Suíte Aurumina também estabelece contatos com o
Complexo Granito-gnáissico e Grupo Bambuí (Figura 3.2) e com a Suíte Pedra Branca e o
Grupo Araí.
Os primeiros dados de U/Pb em zircão indicam idades de 2.0 a 2.2 Ga para os granitos e
tonalitos da Suíte Aurumina. Segundo Pimentel & Botelho (2001), a fonte dos magmas
peraluminosos da Suíte Aurumina é predominantemente arqueana com pequeno
retrabalhamento crustal.
A Suíte Aurumina está subdividida em seis litofácies, incluindo rochas graníticas sin-,
tardi- e pós-tectônicas:
33
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
- Litofácies PP2γ2au1: representada por muscovita granito, no qual a muscovita ocorre na
forma de grandes lamelas, de caráter pré- a sin-tectônico. Observa-se nas rochas dessa
litofácies, intensa deformação com desenvolvimento de foliação milonítica de direção NNE e
mergulho SSE.
- Litofácies PP2γ2au2: compreende intrusões de biotita-muscovita granito com
distribuição espacial significativa entre o nordeste de Goiás e o sudeste de Tocantins.
Mineralizações de ouro foram reconhecidas no contato entre essa litofácies e a Formação
Ticunzal, relacionados a zonas de cisalhamento, como é o caso dos depósitos de ouro em
Cavalcante e Aurumina (GO). A deformação encontrada na fácies PP2γ2au2 é a mesma
descrita na fácies PP2γ2au1.
- Litofácies PP2γ2au3: constituída por tonalitos, predominantemente leucocráticos,
distribuídos entre Monte Alegre de Goiás (GO) e Arraias (TO) e também entre Arraias e
Paranã (TO). Em geral essa fácies se apresenta menos deformada do que os granitos
anteriores, sendo que foliação milonítica é verificada em domínios ou faixas mais restritos.
- Litofácies PP2γ3au4: consiste em biotita granitos com ocorrência muito restrita nas
proximidades de Teresina de Goiás. Apresenta deformação incipiente em relação às demais
fácies, sugerindo uma natureza pós-tectônica para a mesma.
As outras duas litofácies compreendem migmatitos e turmalina-muscovita granitos.
3.3.4. SUÍTE PEDRA BRANCA
A Suíte Pedra Branca faz parte da Província Estanífera de Goiás e atualmente engloba os
granitos Tipo A pb1 e pb2 (Alvarenga et al. 2006), anteriormente denominados g1 e g2,
respectivamente (Botelho et al. 1993). A fácies PP4γpb1 é constituída por biotita granitos
rapakivíticos, granófiros e diques porfiríticos com quartzo azul, enquanto a fácies PP4γpb2 é
formada por biotita granitos e leucogranitos com mica litinífera, além de estar associada aos
depósitos de estanho mais importantes da região, sendo responsáveis pelos processos
mineralizadores que deram origem aos depósitos de estanho da parte oeste da Província
Estanífera (Botelho & Moura, 1998). A idade da Suíte Pedra Branca está entre 1.74 e 1.77 Ga
e se encontra intrusiva em terrenos da Suíte Aurumina e Formação Ticunzal (Figura 3.4).
34
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
3.3.5. GRUPO ARAÍ
O Grupo Araí compreende um conjunto de rochas metassedimentares e metavulcânicas
de grau anquimetamórfico a xisto verde baixo, que recobrem o embasamento granitognáissico, Formação Ticunzal, Suíte Aurumina e Quartzo Diorito Nova Roma e são
recobertos pelos grupos Paranoá e Bambuí (Alvarenga et al. 2006). Essa unidade aflora na
porção setentrional da Chapada dos Veadeiros, na região de Alto Paraíso e se estende até o
sudeste do Tocantins.
O Grupo Araí é subdividido em duas formações, da base para o topo: Formação Arraias,
representada principalmente por quartzitos e metaconglomerados intraformacionais,
intercalados com metassiltitos, sedimentados em ambientes de pré-rifte e sin-rifte, incluindo
depósitos fluviais, eólicos e transicionais (continental/marinho), intercalados com basaltos,
dacitos, andesitos, riolitos e aglomerados vulcânicos (Dardenne, 2000). Os depósitos da fase
rifte estão relacionados à estrutura extensional, desenvolvida entre 1.77 e 1.6 Ga na região
Centro-Oeste do Brasil (Alvarenga et al. 2006). O vulcanismo bimodal observado nessa
formação tem aproximadamente a mesma idade (1.77 Ga) dos granitos estaníferos da Suíte
Pedra Branca (Alvarenga et al. 2006); e Formação Traíras, que consiste principalmente de
rochas pelíticas com algum carbonato e espessas camadas de quartzito, associadas à fase pósrifte com deposição em ambiente marinho.
3.3.6. GRUPO BAMBUÍ
O Grupo Bambuí, definido por Costa & Branco (1961), ocupa a porção leste da Faixa de
Dobramentos Brasília e extensa cobertura do Cráton São Francisco (Dardenne, 2000). Esse
grupo representa uma associação de litofácies siliciclásticas, químicas e bioquímicas,
formadas pelo acúmulo de sedimentos depositados sobre uma extensiva plataforma
epicontinental, onde o mar recobriu grande parte do paleocontinente São Francisco no final
do Neoproterozóico (Alvarenga et al. 2006).
A estratigrafia clássica do Grupo Bambuí foi definida por Costa & Branco (1961) e
Dardenne (1978b). Seis formações foram propostas por Dardenne (1978b): Formação
Jequitaí, Formação Sete Lagoas, Formação Serra de Santa Helena, Formação Lagoa do
Jacaré, Formação Serra da Saudade e Formação Três Marias (Figura 3.5). Pflug & Renger
35
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
(1973) propuseram a exclusão da Formação Jequitaí do Grupo Bambuí e sua inclusão no
Supergrupo São Francisco.
Figura 3.5 – Coluna litoestratigráfica do Grupo Bambuí definida na região nordeste de Goiás por Alvarenga et
al. (2006).
A Formação Jequitaí é formada por diamictitos com raras intercalações de pelitos e
arenitos. Esses diamictitos são interpretados como tilitos (Karfunkel & Karfunkel, 1976;
36
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Martins-Neto et al. 1999), devido a identificação de pavimentos estriados, assim como seixos
estriados, polidos e facetados pelo transporte glacial. Recentemente, a interpretação de tilitos
compondo a Formação Jequitaí foi questionada e as rochas que compõem essa formação
foram relacionadas à sedimentação glaciomarinha (Martins-Neto & Herco, 2002; Uhlein et
al. 1999), assim como os pavimentos estriados foram reinterpretados como produto de
geleiras marinhas flutuantes (Rocha Campos et al. 1996). O evento glacial que deu origem a
Formação Jequitaí, é interpretado por alguns autores como correlato a Glaciação Sturtiana,
ocorrida em aproximadamente 750 Ma (Pimentel et al. 2002; Uhlein et al. 2007).
Os afloramentos mais importantes da Formação Jequitaí ocorrem sobre o Cráton São
Francisco, se estendendo até as regiões de Formosa e Cabeceiras, em Goiás (Guimarães,
1997).
A associação sedimentar, a qual se seguiu a glaciação Jequitaí, é representada por três
grandes ciclos (Dardenne, 2000). Cada um desses megaciclos começa com uma rápida
transgressão marinha de extensão regional, associada a uma abrupta subsidência da bacia
(Dardenne, 2000).
- Megaciclo 1: corresponde a deposição de sedimentos pelito-carbonatados da Formação
Sete Lagoas. Apresenta calcilutito cinza escuro a preto na base, passando a calcários e
dolomitos no topo;
- Megaciclo 2: está relacionado aos sedimentos essencialmente pelíticos e
subordinadamente carbonáticos, que constituem a Formação Serra de Santa Helena,
indicando a abrupta e generalizada subsidência da bacia. Segue-se a Formação Lagoa do
Jacaré, composta por calcários cinza escuros depositados em plataforma dominada por
tempestades e correntes de maré.
- Megaciclo 3: representado por sedimentos pelito-arenosos, que compõem a Formação
Serra da Saudade, e que foram depositados em plataforma com profundidade média, que
estava periodicamente sujeita a influência de tempestades; e pela Formação Três Marias, que
consiste principalmente de arcóseos depositados em plataforma rasa dominada por correntes
de tempestade com ocorrência local de fácies de maré e supramaré.
As sequências litoestratigráficas da área cratônica de Januária-Itacarambi em direção a
região de Vazante, a oeste, exibe um considerável aumento da espessura de camadas de
rochas pelíticas e carbonáticas (Dardenne, 1978b; Dardenne, 2000). Isto reflete um
aprofundamento na porção oeste da bacia, que esteve relacionado a movimentos sin37
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
sedimentares ao longo de grandes falhas regionais com direção variando entre N-S e N10º20ºW (Dardenne, 1978; Alvarenga & Dardenne, 1978).
A idade do Grupo Bambuí ainda é debatida, assumindo um amplo intervalo entre 950 Ma,
correspondente a abertura do Rifte Macaúbas, e 600 Ma, que marca o final do evento
tectônico Brasiliano. Estudos geocronológicos baseados em U/Pb em zircões detríticos da
Formação Jequitaí (Pimentel et al. 2002; Babinski et al. 2004), datações Pb/Pb em calcários
pós-glaciais da Formação Sete Lagoas (Babinski & Kaufman, 2003) e estudos isotópicos de
C, O e Sr em rochas carbonáticas (Santos et al. 2000) sugerem idades entre 800 e 700 Ma
para a base do Grupo Bambuí. Datações K/Ar e Rb/Sr em rochas pelíticas do Grupo Bambuí
mostraram idades entre 650 e 600 Ma (Tomaz Filho et al. 1998. In: Dardenne, 2000). Dados
de razões isotópicas
87
Sr/86Sr em amostras de calcários e dolomitos do Grupo Bambuí
forneceram idades jovens da ordem de 600 Ma (Misi et al. 1997).
3.4.
ARCABOUÇO TECTÔNICO REGIONAL
Com base no relatório do Programa Geologia do Brasil (PGB/PGL), em que foram
mapeadas as folhas Monte Alegre de Goiás, Cavalcante e Nova Roma, será apresentado neste
tópico uma síntese da geologia estrutural e tectônica definida para a região nordeste do
Estado de Goiás.
Quatro domínios geotectônicos foram identificados, os quais se encontram segmentados
por rochas e estruturas originadas em diferentes momentos geológicos (Alvarenga et al.
2006).
- Domínio Geotectônico I (sinéclise e antepaís): Estão incluídas neste domínio, as rochas
formadas durante os estágios de sinéclise e antepaís, responsáveis pela deposição da
Formação Jequitaí e Grupo Bambuí. Os depósitos pelito-carbonatados do Grupo Bambuí
foram deformados com vergência para leste pela Orogênese Brasiliana, sendo que a
intensidade da deformação é minimizada em direção ao Cráton São Francisco. Esse domínio
apresenta um padrão de deformação assimétrico, com flancos longos mergulhando entre 20º e
40º para oeste e flancos curtos com mergulho mais forte, variando entre 60º e 90º.
- Domínio Geotectônico II (Rifte e pós-rifte: Grupo Araí): Engloba as rochas formadas
durante as fases de rifte e pós rifte. Nesse domínio, que afeta principalmente as rochas do
38
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Grupo Araí, é possível inferir que as falhas anteriores a Orogenia Brasiliana canalizaram a
deformação dúctil-rúptil, transformando-se em corredores de cisalhamento de grande porte
acompanhados de intensa milonitização e silicificação. Essas falhas mostram movimento
transpressivo e transcorrente e devem ter sido originadas durante o rifteamento
Paleoproterozóico e reativadas pelo Evento Brasiliano no Neoproterozóico. As antigas falhas
extensionais relacionadas à fase rifte, e que estiveram relacionadas ao preenchimento da
bacia de sedimentação, foram transformadas em falhas compressivas.
- Domínio Geotectônico III: Nesse domínio a Orogenia Brasiliana afetou essencialmente
os maciços graníticos da Suíte Pedra Branca, onde se manifesta pela individualização de
zonas de cisalhamento e pelo extenso fraturamento dessas rochas.
-
Domínio
Geotectônico
IV:
Esse
domínio
é
representado
pela
Orogênese
Transamazônica. As rochas pertencentes à Formação Ticunzal e à Suíte Aurumina foram
afetadas pelo Evento Transamazônico em torno de 2.1 Ga. Muitas das feições características
deste evento foram mascaradas pela intensidade das deformações sobrepostas pelo Evento
Brasiliano. Os grandes falhamentos, que afetam o Domínio IV, foram provavelmente gerados
pelos processos de abertura do rifteamento, não sendo possível especular sobre sua existência
prévia relacionada à Orogenia Transamazônica. O desenvolvimento de foliação milonítica e
falhas de cisalhamento com extensão regional (ex. Falha da Serra da Goiana) são resultado da
deformação Brasiliana.
Tabela 3.1 – Tabela esquemática dos eventos deformacionais e estruturas associadas relacionadas aos quatro
domínios geotectônicos individualizados (Alvarenga et al. 2006).
Domínios Geotectônicos e seus elementos
estruturais
Evento
Idade
NP
III
Granito
intraplaca
(Suíte
Pedra
Branca)
Fase
Deformação
D2
Distensiva
rúptil
D1
Compressiva
Rúptil-dúctil
Sn+1; L1; Sn
Sn+1; L1;
Sn
Sn+1;
L1; Sn
L1; Sn
Fácies Xisto
Verde Baixo
Distensiva
Rúptil +
Subsidência
flexural
Falhas
-
S0
-
Diagênese
Compressiva
Dúctil
Sn-1
-
-
-
Fácies
Anfibolito alto
Deformacional
Orogênese
Brasiliana (E3)
IV
Qz Diorito
Nova Roma,
Suíte
Aurumina,
Formação
Ticunzal
PP/MP
Rifte Araí (E2)
Rifte
+
Pósrifte
PP
Orogênese
Transamazônica
(E1)
Dn
II
Rifte
Gr.
Araí
I
Sinéclise
Antepaís
Falhas e Fraturas
Metamorfismo
Anquizona
39
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
4. GEOLOGIA LOCAL, ASPECTOS PETROGRÁFICOS E
MINERALÓGICOS
4.1.
INTRODUÇÃO
Na região de Arraias/Campos Belos foram mapeadas exposições do embasamento
granítico atribuídas à Suíte Aurumina, conglomerados polimíticos, pertencentes à base do
Grupo Araí, diamictitos glaciogênicos, atribuídos a Formação Jequitaí, rochas pelitocarbonatadas e fosfatadas correlacionáveis à Formação Sete Lagoas e rochas pelíticas, da
Formação Serra de Santa Helena. Quarenta lâminas delgadas foram confeccionadas a partir
de amostras dos tipos litológicos relacionados acima, além de 61 difratogramas obtidos em
análises no Laboratório de Raios-x do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília.
No intuito de dar ênfase ao depósito de fosfato existente na região, foi delimitada uma
área-tipo, que engloba o embasamento granítico e as rochas pelito-carbonatadas e fosfatadas
do Grupo Bambuí. A área-tipo está situada 8 km a norte do município de Campos Belos e 17
km a sudeste do município de Arraias, compreendendo os Processos DNPM Nos
864.113/2003 e 864.175/2004 e parcialmente os Processos DNPM Nos 864.176/2004 e
864.392/2006, totalizando 39,75 km2.
4.2.
GEOLOGIA DA ÁREA
Após quinze dias de mapeamento de campo e onze dias de visitas à área para
detalhamento do minério, nos quais foram descritos um total de 295 pontos, foi elaborado um
mapa geológico em escala 1:25.000 da área-tipo (Figura 4.1). A definição dos contatos
geológicos foi possível com o auxílio de imagem de satélite Aster, composição ternária 321
(Figura 4.2). A partir de dados altimétricos gerados pela SRTM (Shuttle Radar Topography
Mission), nos quais foi aplicado filtro direcional de 45º por meio do software Envi 4.3, foram
interpretadas as principais feições estruturais.
Neste tópico serão abordadas principalmente as unidades estratigráficas que ocorrem
dentro da área-tipo, representadas por granitos da Suíte Aurumina, além de pelitos, rochas
carbonatadas e siltitos fosfatados e fosforitos atribuídas a Formação Sete Lagoas, porção
basal do Grupo Bambuí. Os demais tipos de rocha ocorrem nas proximidades da área
40
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
estudada e pertencem à Formação Jequitaí e ao Grupo Araí, e também serão descritas visto a
importância que possuem para a compreensão do contexto geológico. As relações
estratigráficas entre essas unidades são apresentadas na figura 4.3.
Figura 4.1 – Mapa geológico da área-tipo definida para estudo de depósitos e ocorrências de fosfato na região
de Arraias (TO)/Campos Belos (GO). O mapa geológico foi sobreposto a uma imagem de radar SRTM.
41
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 4.2 – Imagem de satélite Aster, composição ternária 321, com geologia sobreposta.
Dados obtidos por meio de microscopia eletrônica e difratometria de raios-x serão
apresentados juntamente com a descrição de litologias pertencentes às formações Jequitaí e
Sete Lagoas que possuem maior relevância para compreensão da mineralização fosfática.
42
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 4.3 – Coluna estratigráfica definida para a região de estudo.
4.2.1. SUÍTE AURUMINA
A Suíte Aurumina ocorre formando a Serra das Gerais na porção oeste da área, a qual
apresenta direção aproximada NW-SE (Figura 4.2 e Figura 4.4a) e também compondo ampla
área topograficamente rebaixada a norte e oeste da referida serra. Essa unidade representa o
embasamento do Grupo Bambuí na área-tipo.
São distinguíveis muscovita granitos e biotita-muscovita granitos (Figura 4.4b), que
pertencem respectivamente às fácies PP2γ2au1 e PP2γ2au2 da Suíte Aurumina. Os
afloramentos ocorrem principalmente sob a forma de blocos métricos de rocha intemperizada,
cuja coloração varia entre esbranquiçada e amarelada. A granulação dessas rochas varia entre
média e grossa. As exposições mostram em sua maioria sericitização e saussuritização.
Localmente os granitos foram cortados por extensos veios de quartzo.
A deformação nessas rochas é dúctil-rúptil, representada por foliação milonítica e
estiramento de grãos de quartzo em domínios localizados. Na porção sul da Serra das Gerais
43
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
é possível observar dobramento em imagem de satélite Aster, composição ternária 321
(Figura 4.2).
Figura 4.4 - Granitos da Suíte Aurumina – (a) Serra das Gerais, vista a partir da frente de lavra São Bento,
situada na porção sudoeste da área-tipo. (b) Amostra macroscópica de biotita-muscovita granito de granulação
grossa, que forma a Serra das Gerais.
Em difratograma obtido para granitos dessa unidade foram distinguidos picos relativos a
quartzo, plagioclásio sódico (albita), biotita e microclínio. Os picos referentes ao quartzo e a
albita possuem intensidades semelhantes, se destacando entre os demais. O difratograma é
apresentado no anexo 1A.
4.2.2. GRUPO ARAÍ
Não há registro de exposições do Grupo Araí na área-tipo. Rochas dessa unidade foram
verificadas próximo a área de estudo às margens da GO-452, onde estão expostos
metarritmitos em corte de estrada, e sob a área urbana do município de Campos Belos, em
que são encontradas exposições ora friáveis e ora preservadas de metaconglomerados.
A litofácies Metaconglomerado Basal (PP4acg) é representada por exposições de
metaconglomerados polimíticos, matriz suportados (Figura 4.5a). São distinguíveis nessa
fácies, fragmentos líticos de granitos e quartzitos e seixos de quartzo imersos em matriz
arenosa e quartzosa, com grau de arredondamento variando entre subanguloso a arredondado.
A litofácies Metarritmitos (PP4as) se sobrepõe diretamente aos metaconglomerados na
região. Essa sequência é composta pela alternância de estratos de metassiltitos argilosos de
cor de alteração rosada e estratos de quartzitos feldspáticos finos (Figura 4.5b). Essa fácies é
44
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
comumente encontrada na região em estágio avançado de alteração. As rochas dessa
litofácies são geralmente bem foliadas, embora ainda apresentem algumas evidências do
acamamento original.
Figura 4.5 – Rochas do Grupo Araí (a) Metaconglomerado basal, matriz suportado, pertencente ao Grupo Araí
(Coordenadas UTM: 8.559.603 N/309.984 E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul). (b) Bancos de quartzitos
arcoseanos pertencentes à litofácies Metarritmito (Grupo Araí) em corte da estrada GO-452.
4.2.3. GRUPO BAMBUÍ
As rochas referentes ao Grupo Bambuí foram atribuídas às formações Jequitaí, Sete
Lagoas e Serra de Santa Helena. A Formação Jequitaí ocorre em afloramentos restritos
próximo à cidade de Campos Belos. A Formação Sete Lagoas está presente na maior parte da
área, se distribuindo a leste do embasamento granítico, e compreende rochas pelíticas,
carbonáticas e fosfatadas. A Formação Serra de Santa Helena ocorre restritamente sobre
dolomitos da Formação Sete Lagoas na porção oeste da área e a norte da mesma.
4.2.3.1.
FORMAÇÃO JEQUITAÍ (NP12jt)
A Formação Jequitaí é observada em afloramentos restritos, em fazenda, a alguns metros
da rodovia GO-452, recobrindo em discordância rochas paleoproterozóicas do Grupo Araí.
As exposições se dão por meio de matacões. Sua espessura pode atingir 40 metros nessa
região.
Essa unidade litoestratigráfica é composta por diamictitos maciços polimíticos com seixos
imersos em matriz silto-arenosa esverdeada. São distinguidos seixos centimétricos a
45
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
decimétricos, geralmente angulosos a arredondados (Figura 4.6). São observados fragmentos
de quartzitos, granitos, quartzo xistos rochas carbonáticas e filitos, enquanto na matriz é
possível distinguir além de argilo-minerais, grãos de quarzto, carbonato, feldspato e
anfibólio, dentre outros.
A classificação modal do material detrítico que compõem o diamictito, definida com base
em observações em lâmina petrográfica, indica 40% de fragmentos líticos, 35% de material
terrígeno na fração silto-argilosa que compõem a matriz, 15% de quartzo muito fino, que
constitui parte da matriz, 8% de quartzo na forma de clastos e os 2% restantes compreendem
grãos de plagioclásio e lamelas de muscovita e clorita. Uma das feições características em
rochas formadas em ambientes glaciais, representada pela coexistência de grãos arredondados
e grãos extremamente angulosos, é visível tanto em afloramento, quanto em lâmina (Figura
4.7), bem como a diversidade dos fragmentos líticos que compõem a rocha.
Figura 4.6 – Diamictito da Formação Jequitaí. Destaque para o grau de arredondamento dos clastos em que é
possível observar clastos muito angulosos ocorrendo junto à clastos arredondados (Coordenadas UTM:
8.559.333N/310.683E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
Em análise por difratometria de raios-x foram identificados na matriz do diamictito dessa
unidade picos relativos a quartzo, calcita, dolomita, albita e os argilo-minerais ilita e
clinocloro, sendo que o quartzo é o mineral que mostra o pico de maior intensidade. O
difratograma referente ao diamictito é apresentado no anexo 1B.
46
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 4.7 – Fotomicrografias de diamictito da Fm. Jequitaí de origem glaciogênica. (a) Diamictito da Fm.
Jequitaí (nicóis paralelos), exibindo fragmentos líticos mal selecionados e com composições variadas imersos
em matriz síltico-arenosa muito fina. (b) Diamictito da Fm. Jequitaí (nicóis cruzados). (Aumento de 4x).
4.2.3.2.
FORMAÇÃO SETE LAGOAS (NP2sl)
Três conjuntos de litofácies são reconhecidos dentro da Formação Sete Lagoas, as quais
serão descritas a seguir:
- NP2slm: corresponde a unidade basal da Formação Sete Lagoas. É constituída por
margas, siltitos maciços, siltitos laminados, siltitos calcíferos, siltitos fosfatados e fosforitos.
Às margens da GO-118 são encontrados afloramentos placosos de margas calcíferas,
laminadas, de cor cinza e roxa, e com clivagem ardosiana proeminente (Figura 4.8). Há
preenchimento com calcita no plano de acamamento, além de mica detrítica. Esse
afloramento está localizado a 1,4 km a nordeste da exposição de diamictitos da Formação
Jequitaí.
No alvo conhecido como Avião, localizado a oeste da planta de beneficiamento e a sul da
área-tipo, foram registrados siltitos maciços micáceos de cor amarela a rosada, que possuem
em sua porção basal, seixos esparsos de dimensões milimétricas, e localmente exibem níveis
de fosfolutitos intemperizados com teor médio de 22% P2O5. Esses siltitos estão situados a
2,7 km a norte do afloramento de margas na rodovia GO-118.
Os siltitos e argilitos laminados ocorrem na maior parte da área. Esses tipos de rochas são
encontrados em estágio de intemperismo avançado, mostrando cor de alteração rosa, amarela,
bege, marrom e roxa como pode ser observado em fotografia da figura 4.9. São
predominantes siltitos amarelos e rosas. Localmente há ocorrência de lentes de calcário e
47
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
dolomito laminados com filmes argilosos no entremeio aos siltitos. Na figura 4.9 é
apresentado um perfil elaborado a partir das relações estratigráficas observadas na frente de
lavra São Bento.
Figura 4.8 – Afloramento de margas atribuídas a Formação Sete Lagoas às margens da rodovia GO-118
(Coordenadas UTM 8.559.973N/311.905E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
Figura 4.9 – Perfil W-E elaborado entre a Serra das Gerais, passando por cava próxima a lavra São Bento, até
os paredões de dolomito. Destaque para a posição dos fosforitos em relação ao paleo-embasamento e a sucessão
de siltitos composicionalmente distintos. (Exagero vertical de 3 vezes). Na fotografia à esquerda é visível lente
de rocha carbonática com lâminas argilosas no entremeio aos siltitos, os quais exibem cores de alteração
distintas: 1 – siltito bege, 2 – siltito rosa, 3 – siltito marrom, 4 – siltito amarelo, e F – fosforitos estratificados e
brechados. Na fotografia à direita estão marcados os contatos entre o embasamento granítico, com dolomitos
situados em paleoaltos e siltitos e fosforitos localizados em paleo-vales do embasamento.
48
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Na frente de Lavra Coité 2 observa-se sucessões de siltitos composicionalmente bandados
intercalados com níveis manganesíferos de cor preta (Figura 4.10a). Níveis de silexitos
também estão presentes, embora pouco frequentes. Essas sucessões se dispõem em dobras
assimétricas (Figura 4.10b).
Figura 4.10 – Frente de lavra Coité 2. (a) Níveis manganesíferos no entremeio ao pacote de siltitos. (b)
Sucessões de siltitos composicionalmente bandados dispostos em dobras assimétricas. (Coordenadas UTM:
8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
Difratogramas de siltitos expostos na área-tipo mostram picos referentes ao quartzo, aos
argilo-minerais ilita e clinocloro, além de rara muscovita, albita e rutilo, e no caso de
calcilutitos e dololutitos há presença de calcita e dolomita ocorrendo separadamente ou
coexistindo, sendo que neste último caso os picos desses minerais exibem intensidades
distintas de acordo com o tipo de rocha. Nos anexos 1C, 1D, 1E e 1F são apresentados
difratogramas que ilustram as informações acima.
Nas frentes de lavra os fosforitos são encontrados interdigitados com siltitos próximo ao
contato com o embasamento, na forma de “cordões” descontínuos e pouco espessos da ordem
de 5 a 6 metros. Em afloramentos de fosforitos, os mesmos se encontram lateritizados,
apresentando aspecto botrioidal e cores de alteração marrom, bege, amarelada, rosada e
vermelha. As ocorrências de fosforitos em frentes de lavra, bem como em afloramentos,
apresentam muitas cavidades preenchidas ou parcialmente preenchidas com quartzo
microcristalino, além de intensa silicificação. Siltitos fosfatados ocorrem próximos aos
corpos de siltitos com teores variáveis entre 2% e 16% de P2O5.
Com base em observações nas frentes de lavra e afloramentos foi possível estabelecer
relações entre os diferentes tipos de minério fosfático, que terão sua petrografia e mineralogia
detalhados no capítulo 5.
49
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
- NP2slc: compreende calcários laminados, às vezes bandado, e calcários argilosos de cor
cinza. Essa unidade é a mais delgada da Formação Sete Lagoas.
Foram registradas ocorrências de calcário com laminações plano-paralelas próximo a
planta de beneficiamento, no alvo conhecido como Avião, localizado entre a área-tipo e as
ocorrências de diamictitos da Formação Jequitaí. Esses calcários possuem cor roxa, e por
vezes se encontram intercalados com siltitos calcíferos de cor rosada (Figura 4.11a). Estão
sobrepostos a siltitos maciços micáceos. Estratigraficamente acima das intercalações entre
calcários e siltitos calcíferos, ocorrem calcarenitos cinza laminados intercalados com
calcirruditos roxos contendo clastos do calcarenito cinza (Figura 4.11b).
Ocorrem ainda na base dessa fácies alternâncias entre calcário micrítico cinza com níveis
ricos em piritas euédricas e calcários argilosos pretos laminados (Figuras 4.11c e 4.11d).
Figura 4.11 – Rochas carbonáticas da fácies NP2slc da Fm. Sete Lagoas. As amostras A e B foram registradas
no alvo Avião, a oeste da planta de beneficiamento (Coordenadas UTM: 8.562.502N/311.702E e
8.562.430N/311.689E, referentes as amostras A e B, respectivamente, no Datum SAD-69, Zona 23 Sul). As
amostras C e D foram observadas em furo de sondagem na frente de lavra Coité. (a) Intercalações de
calcarenitos cinza laminados e calcirruditos roxos contendo clastos de calcarenito cinza laminado. (b)
Intercalações de calcarenitos e calcirruditos. (c) Calcário micrítico cinza com níveis de pirita intercalado com
calcário argiloso preto (testemunho de sondagem). (d) Fotomicrografia de lâmina da amostra da figura „c‟ em
que podem ser distinguidos cristais euédricos de pirita no entremeio ao carbonato.
50
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Difratogramas dessa unidade mostram geralmente mineralogia simples com picos
relativos à calcita, dolomita e quartzo. Mineralogia mais complexa foi encontrada na amostra
da figura 4.11c, na qual ocorrem quartzo, calcita, dolomita, pirita, titanita, albita e os argilominerais ilita e clinocloro. A ocorrência de titanita, albita e argilo-minerais está
provavelmente associada à porção calcário argilosa da rocha, representada por níveis mais
escuros na figura referida acima. Os difratogramas relacionados a amostras dessa unidade são
apresentados nos anexos 1G e 1H.
- NP2sld: litofácies constituída por extensas lentes de rochas dolomíticas. Formam
grandes paredões rochosos ruiniformes (Figura 4.12) que se sobrepõem aos siltitos, ao longo
da direção NNW-SSE, acompanhando o embasamento granítico.
Os dolomitos apresentam cores cinza e roxo, são recristalizados, criptocristalinos a
cristalinos e se apresentam estratificados sub-horizontalmente. Ocorrem dolomitos maciços,
bem como dolarenitos e doloruditos (Figura 4.13a). São distinguidas raras laminações
truncadas e cruzadas de baixo a médio ângulo (Figura 4.13b), além de estilólitos. São
observados finos níveis argilosos entre as camadas dolomíticas, bem como cristalização de
dolomita nos planos de acamamento.
Figura 4.12 – Paredão de dolomito com aspecto ruiniforme disposto em estratos sub-horizontais.
Em difratogramas de rochas dolomíticas dessa unidade foram encontrados somente
dolomita e quarto, conforme pode ser observado no anexo 1I.
51
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 4.13 – Amostras mesoscópicas representantes da fácies NP2sld. Coordenadas UTM de ambas as
amostras localizadas nas adjacências da planta de beneficiamento do minério: 8.562.956N/312.687E, Datum
SAD-69, Zona 23 Sul. (a) Dolorudito cinza. (b) Laminações cruzadas de baixo ângulo em dolomitos
esbranquiçados.
4.2.3.3.
FORMAÇÃO SERRA DE SANTA HELENA (NP2sh)
A Formação Serra de Santa Helena ocorre na porção leste da área e a norte da área-tipo.
Em sua exposição na parte leste da área, os siltitos da Formação Serra de Santa Helena
formam extenso morro. Nesse local os siltitos encontram-se intensamente silicificados,
apresentando coloração amarela a esbranquiçada. São distinguidos lineamentos de direção
NE-SW em cristas que compõe o morro. A norte da área essa formação é composta por
siltitos laminados amarelos a rosados, sobrepostos a dolomitos da Formação Sete Lagoas
(Figura 4.14).
Figura 4.14 – Siltitos da Formação Serra de Santa Helena sobrepondo dolomitos da Formação Sete Lagoas a
norte da área-tipo.
52
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
4.3.
GEOLOGIA ESTRUTURAL
Na área em estudo encontram-se registros de três eventos tectônicos, conforme
apresentado por Alvarenga et al. (2006). A saber, Orogênese Transamazônica (E1), ocorrida
no Paleoproterozóico, Rifte Araí (E2), compreendido na passagem entre o Paleoproterozóico
e o Mesoproterozóico, e Orogênese Brasiliana (E3) desenvolvida no Neoproterozóico.
De acordo com a deformação heterogênea observada nas rochas e o número restrito de
dados estruturais, a área mapeada pode ser dividida em dois domínios: Domínio
Embasamento, constituído por rochas da Suíte Aurumina, e Domínio Supracrustal,
caracterizado por rochas sedimentares do Grupo Bambuí.
4.3.1. DOMÍNIO EMBASAMENTO
O Domínio Embasamento compreende rochas graníticas das fácies PP2γ2au1 e
PP2γ2au2 da Suíte Aurumina. Esse domínio foi afetado por três eventos deformacionais, o
que se refletiu no desenvolvimento de foliação, localmente milonítica, falhas de cisalhamento
e dobras.
A foliação Sn nos granitos é a feição mais presente na área-tipo e possui direção variando
em torno de N30W, com mergulhos altos para NE. Nos granitos milonitizados há
granoblastos de quartzo apresentando elongação mineral e sombra de pressão. A presença de
milonito é indicativa de deformação dúctil, mas os dados não permitem afirmar isto, então se
sugere uma deformação do tipo dúctil-rúptil/dúctil.
A deformação existente nas rochas do Domínio Embasamento é muito heterogênea. Há
locais em que as rochas encontram-se indeformadas, ausentes de qualquer textura ou
estrutura tectônica, e outros em que estão quase indescritíveis, por conseqüência da
deformação a qual estiveram submetidas.
4.3.2. DOMÍNIO SUPRACRUSTAL
O Domínio Supracrustal abrange o Grupo Bambuí. A superfície de acamamento S0
observada em rochas pelito-carbonatadas desse grupo encontra-se preservada e é facilmente
53
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
identificável. Observam-se principalmente neste domínio, dobramentos assimétricos com
vergência para leste, ou seja, em direção ao Cráton São Francisco, desenvolvidos durante a
Orogênese Brasiliana.
Na figura 4.15 encontram-se os estereogramas de pólos e freqüência referentes aos planos
de acamamento S0 de rochas do Grupo Bambuí, mostrando que esses planos possuem uma
direção próxima a NNW, com mergulho baixo predominante e mergulho intermediário
subordinado para ENE.
Figura 4.15 - Estereogramas de pólos e de freqüência (hemisfério inferior) referentes ao acamamento
sedimentar do Domínio Supracrustal, mostrando que S0 possui direção NNW e mergulho baixo a intermediário
para ENE (39 medidas).
54
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
5. PETROGRAFIA E MINERALOGIA DO MINÉRIO FOSFÁTICO
5.1.
UNIDADE FOSFÁTICA
Na região de Arraias (TO)/Campos Belos (GO) e em áreas próximas como Monte Alegre
de Goiás e Nova Roma foram encontrados fosforitos com alto teor de P2O5. Até o momento
foram descobertos depósitos, com pequeno volume, somente na porção sudeste do município
de Arraias, imediatamente a norte do município de Campos Belos. Os principais depósitos
são: São Bento, Coité 1 e Coité 2. Em outras áreas, apenas ocorrências foram registradas.
O teor de P2O5 equivalente a 18% foi utilizado nesta dissertação, como limite para a
classificação de fosforitos e rochas fosfatadas, conforme proposto por Slansky (1979).
Portanto, puderam ser individualizados fosforitos e siltitos fosfatados.
Os fosforitos e siltitos fosfatados pertencem a Formação Sete Lagoas, situada logo acima
da Formação Jequitaí, na porção basal do Grupo Bambuí. Essas rochas mineralizadas
ocorrem na base da Formação Sete Lagoas, próximo ao embasamento granítico, o qual é
representado por granitos da Suíte Aurumina.
Os fosforitos na área-tipo ocorrem em paleocanais encaixados no embasamento granítico,
interdigitados com siltitos e siltitos fosfatados, na forma de “cordões” descontínuos e
irregulares com espessura de poucos metros. As ocorrências conhecidas de minério fosfático
na área-tipo seguem, em sua maioria, alinhamento NNW-SSE, acompanhando o
embasamento a oeste e dolomitos a leste, como pode ser observado nos mapas das figuras 4.1
e 4.2 (Capítulo 4).
Os afloramentos típicos de fosforitos ocorrem em pequenos morrotes na forma de
matacões soltos intensamente silicificados, com aspecto botrioidal e coloração diversificada
variando entre marrom, bege, rosa, vermelha e amarela (Figuras 5.1a e 5.1b). A intensa
silicificação verificada nessas rochas apresenta relação com a grande quantidade de cavidades
existentes. Essas cavidades exibem cristalização de quartzo microcristalino em suas bordas
ou podem estar completamente preenchidas por esse tipo de material. A identificação de
apatita neoformada crescendo juntamente com o quartzo em microscópio é difícil, de modo
que raras apatitas foram verificadas, embora sua existência na maioria das cavidades
presentes em fosforitos seja cogitada.
55
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 5.1 – Afloramentos de fosforito (a) Afloramento típico de fosforito lateritizado em morrotes. (b) Aspecto
típico de afloramento de fosforitos na forma de matacões.
Com base nos cortes da frente de lavra Coité 2, apesar da enorme quantidade de material
retirado, foi possível elaborar um esboço de perfil W-E do corpo mineralizado, o qual
forneceu dados da relação estratigráfica entre os tipos de minério individualizados (Figura
5.2). Os teores de P2O5 variam pouco entre esses tipos de minérios e mudam em função do
grau de intemperismo da rocha.
Figura 5.2 – Esboço de perfil W-E elaborado na frente de lavra Coité 2 mostrando as relações estratigráficas
entre os tipos de minério, bem como sua forma de ocorrência como corpos restritos em paleo-vales encaixados.
Ambas as fotos mostram a frente de lavra Coité 2 e correlações com o perfil (Exagero vertical de 2 vezes).
56
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
As melhores exposições de fosforitos são encontradas nas frentes de lavra Coité 1
(Coordenadas UTM: 8.572.201N/308.826E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul), Coité 2
(Coordenadas UTM: 8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul) e São Bento
(Coordenadas UTM: 8.569.799N/309.500E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
Com base em observações petrográficas, mineralógicas e químicas foram reconhecidos
quatro grupos de minério fosfático apresentados a seguir.
5.1.1. FOSFORITO PRIMÁRIO ESTRATIFICADO
Esse grupo pode ser subdividido nos subgrupos, laminado e acamadado, de acordo com
características petrográficas, mineralógicas e químicas.
O primeiro subgrupo compreende fosfolutitos sem estruturação sedimentar bem definida
e quando há, a estrutura é representada por laminações sub-milimétricas. Esse tipo de
fosforito mostra cor de alteração amarelada a esbranquiçada (Figura 5.3). Apresentam-se
bastante silicificados. Os teores de fosfato em fosforitos laminados são em média da ordem
de 24% P2O5. Ocorrências desse tipo de minério foram registradas na cava São Bento, no
Alvo Mangueira, localizado próximo a cava São Bento e no Alvo Avião.
O segundo subgrupo consiste em fosfolutitos e fosfarenitos finos acamadados verificado
nas três frentes de lavra estudadas (Coité 1 e 2 e São Bento). Apresenta teores elevados, com
média de 32% P2O5. Esses fosforitos são estruturados em camadas centimétricas com
coloração roxa, amarela e bege (Figura 5.4), intercalados com níveis de siltitos fosfatados de
cor amarela e níveis de silexitos. Os afloramentos de fosforito acamadado mostram um
intemperismo avançado, onde se percebe fragmentação das camadas e presença comum de
cavidades vazias. A silicificação é intensa.
Em lâmina petrográfica o material colofanítico dispõe-se em camadas de fosfolutito puro,
ou menos freqüente, com raros intraclastos submilimétricos de fosfolutito (Figura 5.5a).
Ocorrem também intercalações entre fosfolutito puro e fosfarenito muito fino, nas quais estão
presentes grãos submilimétricos de quartzo, lamelas de muscovita, além de filmes de óxidos
(Figura 5.5b). É comum a ocorrência de fosfolutitos puros fraturados ou com cavidades
vazias. As fraturas e cavidades são quase sempre preenchidas por quartzo e por apatita
neorformada subordinada, que crescem a partir da borda em direção ao centro desses espaços
(Figuras 5.5c e 5.5d). Em fosforitos estratificados a colofana perfaz entre 60% a 80%. O
57
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
quartzo ocorre em quantidades entre 10% e 30%, seja como clastos ou como grãos detríticos
que compõem a matriz.
Figura 5.3 – Fosforito finamente laminado e silicificado. Teor de 19,60% P 2O5. (Alvo Mangueira, coordenadas
UTM: 8.569.385N/309.912E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
Figura 5.4 – Fosforito acamadado, com coloração bege a amarela, e teor de 35,37% P2O5. Amostra da frente de
lavra Coité 2 (Coordenadas UTM: 8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul). Nota-se lâminas finas
com ondulações discretas.
Difratogramas de fosforitos estratificados mostraram duas associações mineralógicas, a
primeira composta por somente por quartzo e fluorapatita, com picos intensos relacionados a
ambos os minerais, com destaque para o pico do quartzo (Figura 5.6), e a segunda contendo
quartzo, fluorapatita e ilita, também com picos menos intensos associados à ilita.
58
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 5.5 – Fotomicrografias de diferentes tipos de fosforito estratificado encontrados nas frentes de lavra
Coité 1e 2. (a) Fosfolutito com raro intraclasto (nicóis paralelos). (b) Fosfolutito intercalado com fosfarenito
fino, no qual coexistem colofana e grãos de quartzo (nicóis paralelos). (c) Fosfolutito puro fraturado e com
vários espaços vazios (nicóis paralelos) amostrado no furo de sondagem LB-01 na profundidade de 17m. (d)
Mesma fotomicrografia apresentada na figura „c‟ com nicóis cruzados para destacar o preenchimento da fratura
por quartzo principalmente e alguma apatita neoformada. (Aumento de 4x em todas as fotomicrografias).
Figura 5.6 – Difratograma de fosforito laminado pertencente ao grupo dos fosforitos laminados, referente à
amostra exibida na figura 5.3 (Alvo Avião).
59
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
5.1.2. FOSFORITO BRECHADO
Esse tipo de fosforito é formado a partir do retrabalhamento de fosforitos estratificados,
com os quais se encontram interdigitados e em posição estratigráfica superior em relação aos
mesmos. Os fosforitos brechados apresentam o maior volume de minério dentre os outros
dois grupos exclusivamente de fosforitos.
Semelhante aos fosforitos do subgrupo acamadado, os fosforitos brechados também
possuem teores médios altos da ordem de 34% P2O5. São distinguidos nesse grupo,
intraclastos e clastos centimétricos a decimétricos, subangulosos a arredondados, de
fosforitos, siltitos fosfatados, siltitos amarelos e roxos, quartzo e silexitos, imersos em matriz
colofanítica com coloração roxo claro (Figura 5.7) ou bege dependendo dos teores de Fe+3.
Por vezes, os intraclastos de fosforitos mostram o acamamento original. A presença de
pequenas cavidades na matriz parcialmente e/ou completamente preenchidas por quartzo
microcristalino é comum, o que viabilizou a silicificação.
Figura 5.7 – Fosforito brechado com matriz roxo claro. Intraclastos de fosforito e clastos de siltito e siltito
fosfatado. Teor de 33,63% P2O5. (Furo LB-01, profundidade de 15 metros).
Estudos petrográficos mostram que fosforitos brechados ou fosforuditos são formados por
fragmentos líticos que perfazem em média entre 40 e 60% da rocha (Figura 5.8a). Os
fragmentos mais frequentes são intraclastos de fosfolutitos, precedidos por fosfarenitos finos
brechados. Os intraclastos e clastos são subangulosos a arredondados e possuem dimensões
milimétricas a centimétricas. É comum a presença de quartzo muito fino preenchendo
fraturas e vazios e compondo subordinadamente a matriz juntamente com a colofana. Ocorre
60
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
apatita junto com quartzo em fraturas, embora seja de difícil visualização ao microscópio.
Localmente observa-se a substituição de dolomita por colofana (Figura 5.8b).
Ambas as associações mineralógicas observadas nos difratogramas de fosforitos
estratificados são verificadas nos difratogramas de fosforitos brechados. Na figura 5.9 é
apresentado difratograma referente à amostra exibida nas figuras 5.7 e 5.8b, em que aparecem
picos associados ao quartzo e a fluorapatita, com destaque para a intensidade do pico da
fluorapatita.
Figura 5.8 – Fotomicrografias de fosforitos brechado da frente de lavra São Bento e do furo LB-01
(profundidade de 13m), respectivamente. (a) Fosforito brechado com intraclastos de fosfolutito e fosfarenito
brechado fino imersos em matriz colofanítica com quartzo. (b) Matriz colofanítica de fosforito brechado, com
destaque para a substituição de dolomita por colofana. (Aumentos respectivos de 4x e 10x).
Figura 5.9 – Difratograma de fosforito brechado referente à amostra apresentada na figura 5.8b (Furo LB-01).
Destaque para a intensidade do pico da fluorapatita.
61
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
5.1.3. FOSFORITO PEDOGÊNICO
Esse grupo de fosforitos é representado por fosforitos em estágio avançado de
lateritização, desenvolvido sobre fosforitos estratificados e brechados. Dois subgrupos foram
reconhecidos.
No primeiro subgrupo são distinguidos grandes blocos de fosforitos lateríticos com hábito
boitriodal, capa de alteração preta e teores mais baixos de P2O5, da ordem de 27% P2O5, em
função da maior intensidade de silicificação. Fosforitos lateríticos são diferenciados dos
fosforitos brechados devido aos altos teores de Fe, Al e SiO2, e pelo próprio aspecto
laterítico. Esses fosforitos quando formados sobre fosforitos brechados apresentam clastos de
siltitos e intraclastos de fosforitos imersos em matriz fosfarenítica vermelha (Figura 5.10) ou
bege. É típico em fosforitos lateríticos formados nessa posição estratigráfica a ocorrência de
inúmeras cavidades com formatos variados, em sua maioria preenchidas por quartzo
microcristalino, e subordinadamente cavidades com preenchimento restrito somente às bordas
(Figura 5.10). Quando a formação de fosforitos lateríticos se dá sobre fosforitos do subgrupo
acamadado, distinguem-se os planos de acamamento com tendência a fragmentação, ou de
fato fragmentados, e a presença de inúmeras cavidades acompanhando os planos de
acamamento com crescimento de quartzo microcristalino em suas bordas (Figura 5.11).
Figura 5.10 - Fosforito laterítico formado sobre fosforitos brechados aflorante na região da frente de lavra Coité
2. Teor de 27,76% P2O5. (Coordenadas UTM: 8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul). Destaque
para o preenchimento de cavidades com quartzo microcristalino.
62
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 5.11 – Fosforito laterítico formado sobre fosforitos do subgrupo acamadado aflorante na frente de lavra
Coité 2. Teor de 22,18% P2O5. (Coordenadas UTM: 8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
O segundo subgrupo é caracterizado por concreções fosfáticas de diâmetro centimétrico a
decimétrico em solo podzólico. Essas concreções foram observadas na frente de lavra Coité
2, como resultado da evolução do perfil laterítico, atingindo uma espessura aproximada de
10m. As concreções são constituídas por fragmentos de fosforitos lateríticos e possuem teores
de 27% P2O5 (Figura 5.12). O solo exibe coloração vermelha, com enriquecimento em ETR e
teor de fosfato mais baixo em relação às concreções, correspondendo a 20% P2O5.
Figura 5.12 – Concreções fosfáticas, desenvolvidas em perfil de solo podzólico. Teor de 26,98% P 2O5. Lavra
Coité 2. (Coordenadas UTM: 8.572.435N/308.656E, Datum SAD-69, Zona 23 Sul).
63
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Em lâmina petrográfica se observa feições de lateritização com percolação de fluidos
ricos em sílica que preencheram completamente ou parcialmente cavidades com quartzo
microcristalino e alguma apatita neoformada que se cristalizaram na borda em direção ao
centro (Figura 5.13a). A lateritização permitiu também a percolação de fluidos ricos em
óxidos em fraturas pré-existentes que colaboraram com o rompimento de fragmentos (Figura
5.13a e 5.13b). O fosforito pedogenético se apresenta como fosforudito oxidado e silicificado
com matriz colofanítica com participação de quartzo detrítico, na qual se encontram imersos
intraclastos de fosfolutitos e fosfarenitos finos brechados e clastos de siltito, siltito fosfatado e
quartzo. Esses fragmentos estão comumente envolvidos por filmes de óxidos e assim como a
matriz se encontram silicificados. Clastos de granitos deformados são observados localmente
(Figura 5.13c). Em amostras da frente de lavra São Bento são distinguidas concreções
lateríticas com halos de crescimento (Figura 5.13d).
Figura 5.13 – Fotomicrografias de fosforitos lateríticos das frentes de lavras Coité 2 (a, b e c) e São bento (d).
(a) Fosforito laterítico com cavidades completamente preenchidas com quartzo microcristalino com percolação
de fluidos ricos em óxido entre os fragmentos. (b) Percolação de fluidos ricos em óxidos em fratura que corta
fosforito, resultando em rompimento de material colofanítico. (c) Clasto de granito deformado imerso em matriz
colofanítica com quartzo e cavidades parcialmente preenchidas por quartzo microcristalino e alguma apatita
neoformada. (d) Concreção fosfática laterítica com halos de crescimento. (Aumento de 4x em todas as
fotomicrografias).
64
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Nos difratogramas obtidos para amostras de fosforitos lateríticos foram individualizados
picos de quartzo, fluorapatita, caolinita, ilita e mais raramente bohmita. Na figura 5.14 é
exibido difratograma da amostra da figura 5.11. Em relação ao solo desenvolvido entre as
concreções fosfáticas foram distinguidos picos de fluorapatita, quartzo, cronstedtita e
tridimita (Figura 5.15).
Figura 5.14 – Difratograma de fosforito laterítico formado sobre fosforito do subgrupo acamadado referente à
amostra apresentada na figura 5.11. (Frente de lavra Coité 2).
Figura 5.15 – Difratograma do solo vermelho podzólico presente entre as concreções fosfáticas. (Frente de
lavra Coité 2).
65
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
5.1.4. SILTITO FOSFATADO
Esses siltitos ocorrem margeando os fosforitos e apresentam teores de P2O5 variáveis de
acordo com a posição em relação aos mesmos. Dentre todos os grupos de minério fosfático,
este é o que apresenta o maior volume de minério, embora com teor de P2O5 mais baixo. São
representados por siltitos laminados de cor de alteração bege a amarelada. No furo P-01
foram interceptados siltitos fosfatados de coloração cinza clara com lâminas avermelhadas
com composição fosfática (Figura 5.16). Os teores médios de fosfato nesse tipo de rocha são
da ordem de 4% P2O5. Em geral as exposições desse tipo de minério são bastante alteradas.
Figura 5.16 – Siltito cinza claro com lâminas fosfáticas de cor vermelha, exibindo inúmeras fraturas e
cavidades. Teor de 6,80% P2O5. (Furo P-01).
Com base em estudos petrográficos em lâminas de siltitos fosfatados foi observada a
intercalação de finos níveis submilimétricos de fosfolutito puro e níveis milimétricos de
siltito fosfatado com quartzo detrítico muito fino (Figura 5.17a). O material colofanítico
corresponde a aproximadamente 35% da rocha, enquanto o quartzo seja detrítico ou
neoformado, e argilo-minerais perfazem juntos 60% da mesma. Alguma apatita neoformada
está presente juntamente com quartzo preenchendo a borda de fraturas e cavidades (Figura
5.17b).
Em difratogramas foram distinguidos fluorapatita, quartzo e ilita, como pode ser
observado na figura 5.18.
66
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 5.17 – Fotomicrografias de siltito fosfatado interceptado no furo P-01 (situado entre as ocorrências São
Mateus e Barra do Dia). (a) Intercalações de finos níveis de fosfolutito puro e siltito fosfatado com fino quartzo
detrítico (nícois paralelos). (b) Mesma fotomicrografia anterior com nícois cruzados, na qual é perceptível o
preenchimento de borda de fraturas com quartzo e alguma apatita. (Aumento de 4x em ambas as
fotomicrografias).
Figura 5.18 – Difratograma de siltito fosfatado interceptado no furo LB-01 imediatamente abaixo do conjunto
de fosforitos (Furo próximo a frente de lavra Coité 1).
67
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
6. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO MINÉRIO FOSFÁTICO
6.1.
INTRODUÇÃO
Os depósitos de fosfato de Campos Belos/Arraias compreendem os depósitos de pequeno
porte, denominados São Bento, Coité 1 e Coité 2. Esses depósitos encontram-se associados a
pacotes de siltitos na base, e calcários e dolomitos no topo. Os fosforitos ocorrem no início
dessa sequência, interdigitados aos siltitos, e com participação carbonática restrita. Nesse
contexto, o entendimento do comportamento geoquímico de fosforitos e siltitos
mineralizados, pode fornecer informações importantes sobre o ambiente de sedimentação do
depósito fosfático, e os processos a que o mesmo foi submetido ao longo do tempo geológico,
além de fornecer bases para comparações do depósito em questão com outros depósitos de
fosfato sedimentar.
Com o objetivo de caracterizar geoquimicamente o minério foram analisadas 71 amostras
para rocha total, sendo que 8 amostras são duplicatas. Os equipamentos utilizados foram ICPES (Inductively Coupled Plasma Emission Spectrometer – Espectrômetro de emissão com
fonte de plasma indutivamente acoplado) e ICP-MS (Inductively Coupled Plasma Mass
Spectrometer – Espectrômetro de massa com plasma indutivamente acoplado).
A caracterização do minério baseou-se em dados químicos de elementos maiores,
menores, traços e terras raras em rocha total. Todas as análises químicas foram realizadas na
ACME Analytical Laboratories Ltd em Vancouver, Canadá.
6.2.
MÉTODOS DE ANÁLISE QUÍMICA
As amostras analisadas em ICP-ES tiveram abertura por fusão de metaborato/tetraborato
de lítio e digestão em ácido nítrico diluído, sendo necessário 0,2 g de cada amostra. Os
elementos dosados por análise no ICP-ES foram SiO2, Al2O3, Fe2O3t, MgO, CaO, Na2O,
K2O, TiO2, P2O5, MnO, Cr2O3, Ni, Sc, e perda ao fogo. Análises de Ctotal e Stotal foram obtidas
por meio de analisador LECO a partir de 0,2 g de cada amostra.
As análises de Ba, Be, Co, Cs, Ga, Hf, Nb, Rb, Sn, Sr, Ta, Th, U, V, W, Zr, Y e
elementos terras raras foram obtidas por meio do ICP-MS, com abertura das amostras por
fusão de metaborato/tetraborato de lítio e digestão em ácido nítrico, sendo necessário 0,2 g de
68
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
cada amostra. Para análises de Mo, Cu, Pb, Zn, Ni, As, Cd, Sb, Bi, Ag, Au, Hg, Tl e Se,
também realizadas por meio do ICP-MS, foi necessário 0,5 g de cada amostra, e digestão em
água régia.
O flúor, por sua vez, foi dosado por análise de eletrodo de íon específico após fusão em
NaOH. Dados de CO2 foram obtidos a partir de recálculo de resultados de Ctotal, considerando
a não existência de matéria orgânica, calcita ou dolomita e a descarbonatação de apatitas.
6.3.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA APATITA
A apatita é encontrada como mineral acessório comum em rochas ígneas, metamórficas,
sedimentares ou hidrotermais. A fórmula estequiométrica da apatita é expressa como
Ca10(PO4)6F2. Substituições na estrutura da apatita implicam em variações na composição
química desse mineral e são controladas por processos geológicos associados com cada
ambiente de formação. De acordo com Toledo & Pereira (2001), considerando a presença dos
grupos aniônicos (CO3)-2 e (PO4)-3 na posição tetraédrica e F-, OH- e Cl- no sítio aniônico
monovalente, as variedades mais frequentes de apatitas naturais são:
- Fluorapatita Ca10(PO4)6F2 – ocorre principalmente em rochas ígneas com
substituições importantes do F- por OH- e com teores variados em CO3-2 (em substituição ao
PO4-3 e não ao F-), embora mais baixos do que aqueles observados em apatitas sedimentares;
- Hidroxiapatita Ca10(PO4)6(OH)2 – tem ocorrência na alteração supérgena de
materiais sob influência de guano (excrementos de aves) e juntamente com a carbonatohidroxiapatita constitui a matéria mineral de ossos e dentes;
- Clorapatita Ca10(PO4)6Cl2 – menos comum que as demais variedades. Pode ocorrer
em rochas ígneas básicas, em rochas metassomáticas com cloro e em alguns ambientes
marinhos;
- Carbonato-fluorapatita ou Francolita (Ca, Na, Mg)10(PO4, CO3)6(F, OH)2 – típica
de ambientes sedimentares com F- e CO3-2 acima de 1% em peso. Apatitas associadas aos
fosforitos marinhos normalmente se enquadram nessa categoria.
- Carbonato-hidroxiapatita ou Dahlita Ca10(PO4, CO3)6(OH)2 – ocorre principalmente
como matéria mineral de ossos e dentes fósseis e atuais.
69
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
6.3.1. ESTRUTURA DA APATITA
A apatita se cristaliza no sistema hexagonal, grupo P63/m, apresentando dois planos
paralelos de simetria. O cristal de fluorapatita, por exemplo, é formado por um sítio
tetraédrico (PO4)-3, ligado ao Ca em dois sítios estruturais diferentes. O primeiro sítio
denominado de Ca (I), possui coordenação 9, pois está unido a nove átomos de oxigênio. O
segundo, denominado de Ca (II), possui coordenação sete ou oito, e está ligado a seis átomos
de oxigênio e um de flúor, cloro ou hidroxila. Cada átomo de oxigênio está ligado a um
átomo de fósforo, um átomo de Ca (I) e dois átomos de Ca (II) (Figura 6.1).
O tamanho dos eixos a, c e z do cristal de apatita varia conforme a composição química
(Tabela 6.1). Quanto maiores as concentrações de CO3-2 e F, menor será o tamanho do eixo a
na apatita. Portanto substituições de PO4-3 por CO3-2, comuns na francolita, têm influência
direta no comprimento do eixo a, o que faz com que esse eixo assuma valor próximo ao da
fluorapatita quando a quantidade de moles de CO3-2 é próxima de zero (McClellan & Van
Kauwenbergh, 1991).
Tabela 6.1 – Parâmentros de malha para os membros extremos do grupo da apatita (Deer et al. 1992).
#
Fluorapatita
Clorapatita
Hidroxiapatita
Carbonato-fluorapatita
a (Å)
9,36
9,64
9,42
9,32
c (Å)
6,88
6,78
6,88
6,90
c/a
0,735
0,703
0,730
0,740
Figura 6.1 – Projeção da malha elementar da fluorapatita sobre o plano 001 (Slansky, 1980).
70
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
6.3.1.1.
SUBSTITUIÇÕES NA ESTRUTURA DA APATITA
Considerando a fórmula geral da apatita como Ca10(PO4)6F2:
- O sítio do Ca pode ser ocupado por Sr+2, Ba+2, Cd+2, Pb+2, Mn+2, Mg+2, Zn+2, Br+2, Fe+2,
Ni+2, Cu+2, Cr+2, Co+2 e Rh+2 sendo possível ocorrer substituições também por cátions
monovalentes como, Na+, K+, Ag+ e Li+; por cátions trivalentes como, Sc+3, Y+3, Bi+3, Al+3 e
ETR+3; e ainda pelo cátion tetravalente U+4 (Nathan, 1984).
- O sítio do P, pode ser ocupado por C, As, V, Mn, Cr, S e Si, formando os grupos
aniônicos bivalentes (CO3)-2, (CrO4)-2 e (SO4)-2; os grupos aniônicos trivalentes (AsO4)-3,
(VO4)-3, (PO4)-3, (CO3F)-3, (CO3OH)-3; e o grupo aniônico tetravalente (SiO4)-4 (Nathan,
1984).
- No sítio F podem ocorrer OH-, Cl-, Br-, O-2 e CO3-2 (Nathan, 1984).
6.3.1.1.1. SUBSTITUIÇÕES NO SÍTIO DO Ca
As substituições catiônicas ocorrem não apenas em função das disponibilidades e
condições do ambiente de formação do mineral, mas também em função da necessidade de
compensação de cargas pelas substituições aniônicas (Toledo & Pereira 2001).
O Ca+2 pode ser substituído parcialmente por Sr+2, Ba+2 e Mn+2. Substituições por ETR+3,
ocorrem principalmente em ambientes onde há abundância desses elementos como em
granitos e carbonatitos (Toledo & Pereira 2001). A substituição de Ca+2 por ETR+3 ocorre
sempre associada com outras substituições para que haja compensação de cargas. Em
ambientes sedimentares marinhos a apatita é frequentemente empobrecida em Ce+3 e
relativamente enriquecida em lantanídeos pesados.
Em francolitas marinhas é comum a ocorrência da substituição de Na+ e Mg+2 por Ca+2.
McClellan & Lehr (1969) estabeleceram que essas substituições estão acopladas à
substituição de PO4-3 por CO3-2 no sítio do P. A intensificação da substituição de PO4-3 por
CO3-2 implica no aumento da entrada de Na+1 e Mg+2 no lugar do Ca+2 na estrutura da
francolita. O número de moles de Mg+2 que entra na estrutura da francolita é maior que o
número de moles de Na+1, considerando um mesmo percentual de substituição de PO4-3 por
CO3-2, em função do seu raio iônico ser bem menor do que o do Ca+2.
71
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
6.3.1.1.2. SUBSTITUIÇÕES NO SÍTIO DO P
Substituições no sítio do P parecem estar diretamente ligadas à história de formação da
apatita, havendo ainda discussão sobre os mecanismos de substituição no que diz respeito à
compensação de cargas e aos problemas cristaloquímicos gerados, por exemplo, por
substituições entre PO4-3 por CO3-2 (Toledo & Pereira, 2001).
No caso da substituição de PO4-3 por CO3-2, que se caracteriza por ser a substituição mais
frequente em francolitas, a hipótese mais aceita é que íons de F- podem acompanhar íons de
CO3-2 mantendo assim a eletroneutralidade. Esse flúor não estaria associado a sua posição no
sítio do F e representaria uma quantidade de F- excessiva e não estequiométrica (Toledo &
Pereira, 2001). Nesse caso o flúor estaria em uma posição intersticial ou em sítio vago do
oxigênio deixado pela substituição de PO4-3 por CO3-2.
Uma segunda hipótese é que um íon OH- ou F- poderia acompanhar o ânion CO3-2,
formando um tetraedro distorcido (Toledo & Pereira, 2001). Sommerauer & Katz-Lehnert
(1985) In: Toledo & Pereira (2001) propõem que a substituição do ânion fosfato por
carbonato é compensada em termos de cargas pela entrada de SiO4-4 também no sítio do
fosfato, por OH- acoplados aos ânions carbonato (CO3OH-3) e pela entrada de ETR+3 na
posição do Ca+2.
Menos frequentemente ocorre a substituição de PO4-3 por SO4-2, onde o ânion sulfato tem
dimensões similares às do ânion fosfato, embora necessite de compensações com outras
substituições acopladas para resolver o problema da diferença de carga (Toledo & Pereira,
2001).
6.3.1.1.3. SUBSTITUIÇÕES NO SÍTIO F
Além do flúor podem ocupar este sítio os ânions OH- e Cl-. O OH- pode ser substituído
por CO3-2 e por F-, enquanto o Cl- pode ser substituído por OH-. Segundo Montel (1968) In:
Toledo & Pereira (2001) a presença de CO3-2 em sítio aniônico monovalente provoca um
aumento no seu diâmetro, o que pode ser facilitado em apatita cuja composição catiônica
também determinou um alargamento neste sítio, como é o caso da apatita com bário, que
possui o eixo a maior.
72
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
6.4.
EVOLUÇÃO DA FRANCOLITA DURANTE PROCESSOS
INTEMPÉRICOS
A composição média da apatita marinha primária apresenta composição próxima àquela
da carbonato-fluorapatita ou francolita. Formalmente, o termo francolita é aplicado para
designar apatitas com teores apreciáveis de CO2 (McClellan, 1980 & Deer et al. 1992) e
teores acima de 1% de flúor (Deer et al. 1992).
McArthur (1978) propõe uma composição original constante para a francolita, sugerindo
que a maioria desse tipo de apatita seja formada com aproximadamente a mesma composição
química do membro extremo puro. Essa composição “original” seria alterada por uma
variedade de processos para formar espécies minerais diferentes (McClellan & Van
Kauwenbergh, 1991). McClellan (1980) suporta essa hipótese e sugere que intemperismo e
metamorfismo poderiam alterar a composição da francolita aproximando-a da composição da
fluorapatita. McClellan (1980) e McClellan & Van Kauwenbergh (1991) apresentam valores
limites para as razões CaO/P2O5 e F/P2O5, as quais permitem distinguir esses dois tipos de
apatita. Tais autores mostram que a francolita normativa possui razões CaO/P2O5 e F/P2O5,
equivalentes a 1,621 e 0,148, respectivamente, enquanto que a fluorapatita normativa, detém
valores inferiores, correspondentes a 1,318 e 0,089, respectivamente.
Lucas et al. (1980) apresentam dados referentes ao depósito de Sidi Daoui (Marrocos,
África), que confirmam as transformações na composição da francolita, em função de
processos intempéricos. Nesse depósito, minerais com composição muito próxima àquela da
francolita, mostram teores de 4,5 a 6% de CO2, razão CaO/P2O5 aproximadamente igual a
1,56 e razão F/P2O5 correspondente a 0,12. Argilo-minerais normalmente acompanham a
francolita e são representados por esmectitas, Mg- e Fe-montmorilonitas e alguma
palygorskita (Lucas et al. 1980). Calcita e dolomita também coexistem com esse tipo de
apatita.
Em rochas intemperizadas do mesmo depósito de Sidi Daoui, Lucas et al. (1980)
demonstram que houve variações químicas importantes na composição da francolita, bem
como mudanças na mineralogia da rocha portadora desse mineral. O CO2 existente na
francolita diminuiu para valores entre 1,5 e 4,5%. A razão CaO/P2O5 foi reduzida para ~1,30,
enquanto a razão F/P2O5 caiu para ~0,09 a 0,10, induzindo depleção de Sr e F. A calcita
associada a francolita foi parcialmente dissolvida, enquanto magnésio da dolomita foi
lixiviado, mostrando uma tendência a dedolomitização. Os argilo-minerais se tornaram mais
73
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
abundantes nesse processo, embora se apresentem mal cristalizados. A palygorskita
desapareceu, enquanto a caolinita foi formada. O V, Ni, Cr e Zn apresentaram aumento em
seus teores.
Ainda segundo Lucas et al. (1980), a evolução do processo intempérico leva a formação
de minerais progressivamente depletados em Na, K, Mg, Sr, Ba, ETR e também em P. Além
disso ocorre a descarbonatação da francolita; dissolução de minerais de sílica como quartzo
detrítico e chert; neoformação de caolinita, primeiro in situ devido ao intemperismo de argilominerais, e depois por migração e precipitação em cavidades secundárias; individualização da
goethita formada pelo ferro removido de argilo-minerais, sendo que essa goethita pode ser
adsorvida pela caolinita ou concentrada em micronódulos.
O Ca+2 e o P+5 liberados pela apatita, podem ser absorvidos pelos minerais coexistentes
com os minerais de fosfatos, ou esses íons podem se combinar com o Al+3 e o Fe+3 liberados
da estrutura desses minerais originando fosfatos de Al e Fe. O surgimento desses fosfatos
ocorre de acordo com uma sucessão de minerais (Lucas et al. 1980):
Carbonato-fluorapatita → Ca-millisita + Sr-crandalita → Ca-crandalita (→wavellita)
Em suma, é muito comum que em processos intempéricos a francolita, formada
inicialmente em ambiente sedimentares marinhos, assuma composição próxima a da
fluorapatita, até ser totalmente transformada nela e em estágios muito avançados desses
processos formarem fosfatos de Al e Fe.
6.5.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS QUÍMICOS DOS
DEPÓSITOS DA REGIÃO DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS
Os dados geoquímicos de rocha total são apresentados e discutidos de acordo com os
quatro grupos de minério fosfático apresentados no capítulo 5 (Tabela 6.2), comparando-os
entre si, e buscando o entendimento de aspectos sedimentológicos e pós-deposicionais. No
anexo 2A, estão apresentados todos os resultados de análise química.
Admite-se, nesta dissertação, que a apatita marinha primária, possuía provável
composição similar àquela observada na francolita. O intemperismo agiu intensamente nos
depósitos da região de Campos Belos/Arraias (São Bento, Coité 1 e Coité 2), sendo o
74
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
principal processo de transformação das prováveis francolitas, formadas no ambiente de
sedimentação de silitos fosfatados e fosforitos da Formação Sete Lagoas.
Tabela 6.2 – Grupos e subgrupos de fosforitos definidos no capítulo 5.
GRUPOS E SUBGRUPOS DE FOSFORITOS
Subgrupo de fosforitos laminados
Grupo de Fosforitos Primários Estratificados
Subgrupo de fosforitos acamadados
-
Grupo de Fosforitos Brechados
Grupo de Fosforitos Pedogênicos
Subgrupo de fosforitos lateríticos
Subgrupo de fosforitos concrecionários
Grupo de Siltitos Fosfatados
-
6.5.1. CARACTERIZAÇÃO GEOQUÍMICA DE FOSFORITOS DOS DEPÓSITOS DA
REGIÃO DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS DURANTE O INTEMPERISMO
Os depósitos de minério fosfático da região de Campos Belos/Arraias formaram-se em
ambiente marinho raso dentro do contexto de sedimentação do Grupo Bambuí. A presença de
mineral de fosfato com composição próxima a da francolita ainda é detectada em amostras
com grau menor de intemperismo.
Determinação do tipo de apatita
A determinação do tipo de apatita depende da sua composição em termos de F, CO2, Cl e
OH. No caso das apatitas dos depósitos de Campos Belos/Arraias foram cogitadas as
presenças de francolita, ou mineral com composição muito próxima, e também fluorapatita,
por estas serem os tipos de apatita mais comuns em depósitos sedimentares. Portanto, foram
analisados os conteúdos de F e CO2 e as razões CaO/P2O5 e F/P2O5, em rocha total e
posteriormente comparados com dados dos membros extremos francolita e fluorapatita.
Na tabela 6.3 são apresentados teores médios de P2O5, CaO, F e CO2, e as razões
CaO/P2O5 e F/P2O5, relativos aos grupos de minério fosfático, definidos no capítulo anterior e
exibidos na tabela 6.2, bem como aos minerais francolita e fluorapatita. Nota-se que, em
termos das razões CaO/P2O5 e F/P2O5, as apatitas dos depósitos estudados possuem
composição intermediária entre esses dois membros extremos.
Com base em uma avaliação geral dos quatro grupos de minério fosfático foram
observadas razões CaO/P2O5 entre 1,23 e 1,52 (Figura 6.2). Somente uma amostra,
representante do subgrupo fosforito concrecionário, apresentou razão CaO/P2O5 equivalente a
75
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
1,23, a qual é inferior a razão observada na fluorapatita normativa (=1,318), indicando
estágio intempérico muito avançado, com intensa lixiviação de Ca. As demais razões
CaO/P2O5 são sempre superiores a 1,318 e inferiores a 1,621 (francolita normativa),
indicando composições intermediárias entre os membros francolita e fluorapatita. Com
relação às razões F/P2O5 foi observada uma variação de valores entre 0,09 e 0,12, que
confirma composições intermediárias entre a francolita normativa (=0,148) e a fluorapatita
normativa (=0,089) para as apatitas estudadas.
Tabela 6.3 – Síntese de conteúdos médios de P2O5 (%), CaO (%), CO2 (%) e F (%), e razões CaO/P2O5 e
F/P2O5, relacionados a francolita, fluorapatita normativas e aos grupos e subgrupos de minério fosfático
definidos nos depósitos da região de Campos Belos/Arraias. Os teores relacionados à francolita e fluorapatita
foram obtidos de McClellan (1980) e McClellan & Van Kauwenbergh (1991).
Tipo de Apatita / Grupo de
minério fosfático
Francolita
(Ca, Na, Mg)10(PO4, CO3)6(F, OH)2
Fluorapatita
Ca10(PO4)6F2
Siltito
Fosfatado
Fosforito Primário Estratificado
Fosforito Brechado
Fosforito Pedogênico
Subgrupo
P2O5
(%)
CaO
(%)
F
(%)
CaO/
P2O5
F/
P2O5
CO2* (%)
-
34,0
55,1
5,04
1,621
0,148
6,3
-
42,2
55,6
3,77
1,318
0,089
0,0
-
11,49
15,29
1,19
1,34
0,10
1,01
24,28
36,22
-
1,49
-
2,31
31,98
46,36
3,26
1,45
0,10
2,99
34,13
48,34
3,59
1,42
0,11
3,30
27,64
40,75
2,58
1,48
0,10
2,48
24,82
32,66
2,13
1,31
0,09
2,01
Fosforito
Laminado
Fosforito
Acamadado
Fosforito
laterítico
Fosforito
concrecionário
*Valores aproximados obtidos a partir da conversão de Ctotal.
Rochas do grupo fosforito brechado e dos subgrupos fosforito acamadado e fosforito
laterítico apresentam razão média de CaO/P2O5 correspondentes a 1,42, 1,45 e 1,48,
respectivamente. Tais médias são incomuns, visto que se espera que fosforitos lateríticos
(tipo mais intemperizado) apresentem médias CaO/P2O5 mais baixas em relação aos outros
dois tipos, ou seja, mais próximas a da fluorapatita, em função de processos de transformação
mais intensos. Portanto, ao avaliar essas razões, cogita-se que há perda de fosfato da estrutura
da apatita devido à evolução de processos intempéricos, ou seja, fosforitos mais preservados
(grupo fosforito brechado e subgrupo fosforito acamadado) apresentam maior teor de fosfato
e menores razões CaO/P2O5, enquanto fosforitos mais intemperizados (subgrupo fosforito
laterítico), mostram teores mais baixos de fosfato e maiores razões CaO/P2O5. A lixiviação de
fosfato requer ambiente oxidante compatível com processos intempéricos, em que há
percolação de águas ácidas.
76
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Em rochas do grupo siltito fosfatado e dos subgrupos fosforito laminado e fosforito
concrecionário, as razões médias de CaO/P2O5 são equivalentes a 1,34, 1,49 e 1,31,
respectivamente. O subgrupo fosforito laminado possui a maior média de razões CaO/P2O5
dentre todos os grupos, mostrando que foi concentrado mais cálcio na rocha, em relação ao
fosfato. No caso do grupo siltito fosfatado e do subgrupo fosforito concrecionário, as razões
CaO/P2O5 assumem valores bem próximos aos observados em fluorapatitas normativas, o que
indica que rochas desses dois tipos alcançaram um estágio de transformação mais avançado
em relação aos demais grupos.
Em todos os grupos de minério fosfático as razões F/P2O5 se mostram coerentes com
composições intermediárias entre francolita e fluorapatita, sendo que as maiores razões são
encontradas no grupo fosforito brechado e no subgrupo fosforito acamadado, o que é
compatível com o nível menos avançado de intemperismo dos mesmos em relação ao grupo
fosforito pedogênico.
O teor de CO2 diminui proporcionalmente a intensidade do intemperismo, apresentando
maiores teores em rochas do subgrupo fosforito acamadado e do grupo fosforito brechado,
nos quais os valores médios variam entre 3,00 e 3,30% CO2, enquanto que rochas do grupo
fosforito pedogênico assumem valores entre 2,00 e 2,48% CO2 (Figura 6.3). Rochas do grupo
siltito fosfatado e do subgrupo fosforito laminado apresentam valores naturalmente mais
baixos de CO2, devido à presença significativa de sedimentos terrígenos. Com o avanço do
intemperismo, siltitos fosfatados e fosforitos laminados assumem conteúdos da ordem de
1,01 e 2,31 % CO2, respectivamente. Esses resultados novamente confirmam composição
intermediária entre os membros extremos fluorapatita e francolita, conforme a tabela 6.4.
Com relação ao flúor (Figura 6.4), os teores variam entre 1,19% em rochas do grupo
siltito fosfatado e 3,59% em rochas do grupo fosforito brechado, os quais são compatíveis
com os conteúdos presentes em minerais com composições próximas àquela da fluorapatita,
visto que todos os valores encontrados sejam inferiores ao teor de F presente na fluorapatita
normativa (=3,77%). Conforme a figura 6.4, somente duas amostras apresentam valores
distoantes, uma delas referente ao grupo fosforito brechado com teor de F maior que 3,7% e a
outra pertencente ao grupo siltito fosfatado com teor de F abaixo de 0,8%.
Analisando os gráficos das figuras 6.4 (F x P2O5) e 6.5 (CaO x P2O5) nota-se que
acompanhando a redução do teor de fosfato, há também uma diminuição relativa dos teores
de Ca e F, que tem como causa a evolução do intemperismo.
77
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 6.2 – CaO/P2O5 por F/P2O5, mostrando composição intermediária entre os membros extremos francolita
e fluorapatita para os fosforitos estudados. A seta com linha pontilhada aponta em direção a fluorapatita
normativa.
Figura 6.3 – Correlação positiva entre CO2 e P2O5, evidenciando composição intermediária entre francolita e
fluorapatita, segundo dados apresentados por McClellan (1980) e McClellan & Van Kauwenbergh (1991).
78
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 6.4 – Gráfico binário de F por P2O5 mostrando forte correlação positiva entre ambos. A linha superior
indica a composição de flúor da fluorapatita, segundo McClellan (1980) e McClellan & Van Kauwenbergh
(1991).
Figura 6.5 – Gráfico CaO versus P2O5, mostrando correlação positiva entre ambos.
79
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Relação entre teores de óxidos no perfil intempérico
Com o desenvolvimento do perfil intempérico os teores de Al2O3, SiO2, FeOtotal e MnO
foram aumentados em relação a rochas mais preservadas. Nos gráficos da figura 6.6 percebese correlações negativas entre P2O5 e SiO2, MnO, FeOtotal e Al2O3, evidenciando a ocorrência
de lixiviação de fosfato proporcional a evolução do perfil intempérico. Desse modo, rochas
lateríticas, como é o caso do grupo fosforito pedogênico, apresentam concentrações menores
de fosfato e concentrações maiores de elementos resistentes ao intemperismo, enquanto que
rochas do grupo fosforito brechado e do subgrupo fosforito acamadado, submetidos à
intemperismo menos intenso, apresentam os maiores teores de fosfato e as menores
concentrações de Al2O3, SiO2, FeOtotal e MnO.
Figura 6.6 – Gráficos mostrando correlações negativas entre fosfato e óxidos em função do desenvolvimento de
processos intempéricos. Percebe-se em todos os gráficos que há diminuição dos teores de fosfato em função do
aumento de conteúdos de óxidos, o que se traduz na lixiviação do fosfato em perfis lateríticos dos depósitos
pesquisados.
80
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
As altas concentrações desses óxidos em rochas do grupo siltito fosfatado e do subgrupo
fosforito laminado são atribuídas à presença de maior volume de sedimentos terrígenos
contidos nessas rochas.
Na tabela 6.4 é apresentada uma síntese dos conteúdos médios de óxidos, referentes a
cada grupo e subgrupo do minério fosfático.
Tabela 6.4 – Síntese de conteúdos médios de óxidos relacionados aos grupos e subgrupos definidos nos
depósitos da região de Campos Belos/Arraias.
Grupo
Subgrupo
P2O5 (%)
CaO (%)
SiO2(%)
Al2O3
(%)
FeOtotal
(%)
MnO (%)
Siltito
Fosfatado
-
11,49
15,29
63,52
3,42
2,27
0,15
Fosforito
Primário
Estratificado
Fosforito
Laminado
Fosforito
Acamadado
24,28
36,22
27,51
3,37
1,99
0,02
31,98
46,36
13,36
2,06
0,88
0,02
Fosforito
Brechado
-
34,13
48,34
8,71
1,30
0,51
0,01
Fosforito
Pedogênico
Fosforito
laterítico
Fosforito
concrecionário
27,64
40,75
19,44
4,05
1,99
0,06
24,82
32,66
21,49
8,76
2,75
0,35
Padrões de elementos terras raras nos fosforitos
Os padrões de elementos terras raras (ETR‟s) de fosforito foram obtidos normalizando os
resultados ao NASC (North American Shale Composite, segundo Gromet et al. (1984)), por
essa composição representar a média de amostras de folhelhos África, Antártica e de locais
não especificados, não estando restrito apenas a amostras norte-americanas. (Figura 6.7).
Os padrões de ETR‟s de todos os grupos de minério fosfático se apresentam paralelos
entre si, indicando que a fonte dos sedimentos e a composição da água do mar não variou,
pois não houve fracionamento de ETR‟s durante a precipitação de fosfatos. Além disso, os
padrões de ETR‟s são paralelos à própria composição do NASC, representado pela linha de
cor preta na figura 6.7, indicando que os fosforitos e siltitos fosfatados apresentam
composição, em termos de ETR‟s, semelhantes à média de folhelhos do mundo.
A variação na abundância dos ETR‟s , entre 0,1 nos fosforitos primários a 1,0 em rochas
dos subgrupos fosforito concrecionário e fosforito laminado pode ser atribuída ao
intemperismo e/ou à presença de sedimentos terrígenos. Essa gradação na abundância dos
ETR‟s do subgrupo fosforito acamadado em direção ao grupo fosforito pedogênico (Figura
6.7) indica que o processo de intemperismo concentrou ETR‟s. Entretanto, o aumento da
81
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
concentração de ETR‟s não é proporcional ao aumento de apatita (Figura 6.8a), evidenciando
que a apatita não é o mineral concentrador de ETR‟s no perfil laterítico. A correlação
negativa entre P2O5 e Al2O3 (Figura 6.6d) indica que processos intempéricos foram
responsáveis pela lixiviação de apatita da rocha. Portanto, o intemperismo concentrou ETR‟s
de outra forma, provavelmente associado com Zr em sedimentos terrígenos (figura 6.8b),
interpretado como proveniente de concentração mecânica de zircões em fração silto-argilosa,
que podem ter como fonte granitos da Suíte Aurumina, que representam o embasamento do
Grupo Bambuí na área estudada.
Figura 6.7 – Padrões de elementos terras raras normalizados ao NASC, segundo Gromet et al. (1984).
82
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
As anomalias negativas de Ce observadas em todos os grupos de minério fosfático, com
exceção de raras amostras, indicam que a água do mar era empobrecida nesse elemento e que
o ambiente era redutor.
Figura 6.8 – Variação composicional associada com a concentração de ETR‟s no perfil laterítico se dá em
zircões na fração silto-argilosa e não na estrutura da apatita. Observa-se que a presença de ETR‟s nessas rochas
não é proporcional ao aumento de P2O5, e sim ao aumento de Zr, provavelmente associado com a concentração
mecânica de zircão em fração silte.
Comportamento de elementos traços
No anexo 2B é apresentada uma comparação entre a média de resultados químicos de
elementos traços encontrados nos quatro grupos de minério fosfático, médias de elementos de
siltitos comuns da Formação Sete Lagoas, resultados de análises de fosforitos marinhos
baseados em 18 médias de dados químicos de fosforitos regionais apresentados por
Altschuler (1980), e médias de análises de folhelhos, segundo Turekian & Wedepohl (1961)
In: Altschuler (1980).
Com base na tabela do anexo 2B percebe-se que os elementos Be e Zn ocorrem em todos
os quatro grupos de minério fosfático com conteúdos acima da média dos fosforitos marinhos
83
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
prosposta por Altschuler (1980), com exceção do grupo de siltito fosfatado em que Zn tem
conteúdos dentro na faixa de valores proposta.
No caso de Ag, As, Cd, Co, Cu, La, Mo, Ni, Pb, Sc, Se, Sn, Sr, U, V, Y, Yb e Zr são
observados conteúdos abaixo da média dos fosforitos, com exceção do subgrupo de fosforitos
concrecionários em que Ba, Co, Ga e Ni ocorrem acima da média, e Sr ocorre dentro do
intervalo proposto por Altschuer (1980). Em rochas do grupo siltito fosfatado Ag, Ni e Zn
possuem teores dentro da margem proposta e Co e Ga possuem conteúdos sobressalentes,
assim como em rochas dos subgrupos laminado e laterítico. Conteúdos de Ag, As, Se, Y e Yb
dos fosforitos são semelhantes às médias de folhelhos propostas por Turekian & Wedepohl
(1961) In: Altschuler (1980).
Urânio e menos frequentemente o tório ocorrem associados à fosforitos marinhos. Os
teores de U nos fosforitos e siltitos fosfatados estudados mostram valores baixos, da ordem
de 2,80 a 56,50 ppm, assim como o Th, que apresenta valores entre 0,50 e 8,60 ppm. A
presença de U indica um ambiente de formação com características redutoras. A detecção de
teores baixos desse elemento atualmente pode indicar que houve mobilização do mesmo em
processos pós-deposicionais ou mesmo que as condições em que se deu a deposição não
foram estritamente redutoras ou ainda que não havia quantidades siginificativas desse
elemento disponível na água do mar.
Bário e estrôncio podem ocorrer em substituição ao cálcio. Observa-se, no entanto que os
teores de bário e estrôncio nas rochas pesquisadas são muito baixos, compreendendo
intervalos entre 83,00 e 394,00 ppm e 36,70 e 244,60 ppm, respectivamente, indicando que
substituições catiônicas envolvendo esses elementos foram muito restritas. Somente
fosforitos do subgrupo concrecionário apresentaram teores de Ba elevados, da ordem de
1.512,00 ppm, e teor médio de Sr equivalente a 915,53 ppm, o qual se encontra dentro da
média de fosforitos, ou seja, esses elementos foram concentrados em função da evolução do
perfil intempérico ao invés de terem sido lixiviados como relatado por Lucas et al. (1980).
Portanto, substituições podem ter ocorrido nessas rochas que se encontram em estágio mais
avançado de intemperismo.
O vanádio, o níquel e o zinco mostraram teores médios mais elevados em fosforitos
concrecionários, equivalentes a 56,67 ppm, 187,67 ppm e 545,67 ppm, respectivamente.
Ainda assim essas concentrações são mais baixas que a média dos fosforitos indicadas por
Altschuler (1980), corroborando com dados apresentados por Lucas et al. (1980), que
84
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
observaram aumento dos teores desses elementos em função da tranformação de francolita
em fluorapatita.
De modo geral, o grupo de fosforitos pedogênicos, com destaque ao subgrupo de
fosforitos concrecionários, exibe os conteúdos mais altos de Ag, As, Ba, Be, Cd, Co, Cu, Ga,
La, Mo, Ni, Pb, Sc, Sn, Sr, U, V e Zn, em relação aos demais grupos que compõem o
minério, revelando que há concentrações desses elementos em perfis lateríticos mais
desenvolvidos. O Y e o Yb, por sua vez, mostram conteúdos mais elevados em fosforitos do
subgrupo laminado.
6.5.2. COMPARAÇÃO DE DADOS QUÍMICOS ENTRE DEPÓSITOS DE FOSFATO
DA REGIÃO DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS E DEPÓSITOS DE FOSFATO
BRASILEIROS E MUNDIAIS
Nesse tópico serão apresentados dados geoquímicos de cinco depósitos de fosfato
sedimentar brasileiros e quatro depósitos estrangeiros, todos com idade Proterozóica, e
também dados da média dos conteúdos de fosforitos mundiais (Tabela 6.5), com a finalidade
de compará-los aos depósitos da região de Campos Belos/Arraias. Os fosforitos médios
apresentados por Altschuler (1980) representam uma média de 18 análises de fosforitos
provenientes de todo o mundo. Serão apresentados somente dados de ETR‟s atribuídos ao
fosforito médio.
Serão analisadas e comparadas as características químicas dos depósitos de Conceição do
Mato Dentro (Unidade Rio Preto, Fm. Sopa-Brumadinho, Gr. Diamantina, SGr. Espinhaço),
Rocinha e Lagamar (Fm. Rocinha, Gr. Vazante), Xambioá (Fm. Xambioá, Gr. Estrondo),
Cedro do Abaeté (Fm. Serra da Saudade, Gr. Bambuí) e Serra da Bodoquena (Fms. Tamengo
e Bocaina, Gr. Corumbá). Os quatro depósitos internacionais escolhidos estão localizados em
Burkina Faso (Depósito de Kodjari, África), Rajastão (Depósito de Jhamarkotra, Índia), Rum
Jungle (Austrália) e Tennessee (Distrito manganesífero de East Fork, Estados Unidos).
Os dados de Conceição do Mato Dentro foram obtidos de Mourão (1995). Resultados
químicos de óxidos e F são referentes a uma amostra (Macaca), pertencente ao que foi
definido por Mourão (1995) como Apatitas do Grupo 1, que estão distribuídas por xistos e
quartzitos da Unidade Fosfática. Análises de ETR‟s compreendem uma média das
concentrações observadas em Apatitas do Grupo 1.
85
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Para o depósito de Rocinha foram obtidas análises de óxidos e ETR‟s relativos a uma
amostra (GM Lag 7 1B) do Grupo de Fosforitos Puros, conforme estabelecido por Nogueira
(1993).
Com relação à ocorrência de fosfato de Xambioá os resultados analíticos a serem
apresentados foram obtidos de Costa & Da Silva (2009). Tais resultados são referentes à
saprólito rico em apatita e compreendem óxidos, CO2 e F.
Dados geoquímicos dos depósitos de Cedro do Abaeté e Serra da Bodoquena foram
obtidos de Lima et al. (2007) e Justo (2000), respectivamente. Em ambos os casos têm-se
informações sobre conteúdos de óxidos.
Quanto aos depósitos de Rum Jungle, East Fork, Kodjari e Jamarkotra foram obtidas
concentrações de óxidos, F e CO2, a partir de pesquisas de McClellan & Saavedra (1986), que
também apresentam breves descrições sobre cada depósito, sumarizadas a seguir.
Tabela 6.5 – Resultados químicos de óxidos, CO2 e F referentes aos depósitos brasileiros de Campos
Belos/Arraias, Conceição do Mato Dentro, Rocinha, Xambioá, Cedro do Abaeté, Serra da Bodoquena, e
depósitos da Tunísia (África) e Tennessee (Estados Unidos). (Todos os dados em pocentagem).
Depósitos
P2O5
CaO
SiO2
Al2O3
Fe2O3
MnO
F
CO2
11,49
15,29
63,52
3,42
2,27
0,15
1,19
1,01
Subgrupo Fosforito
Laminado
24,28
36,22
27,51
3,37
1,99
0,02
-
2,31
Subgrupo Fosforito
Acamadado
31,98
46,36
13,36
2,06
0,88
0,02
3,26
2,99
34,13
48,34
8,71
1,30
0,51
0,01
3,59
3,30
Subgrupo Fosforito
Laterítico
27,64
40,75
19,44
4,05
1,99
0,06
2,58
2,48
Subgrupo Fosforito
Concrecionário
24,82
32,66
21,49
8,76
2,75
0,35
2,13
2,01
Conceição do Mato Dentro
8,60
11,60
63,70
6,70
2,10
0,03
0,72
-
Rocinha
31,56
55,60
6,75
1,13
0,68
-
-
-
Xambioá
13,70
21,20
35,00
7,20
14,20
0,36
1,60
1,80
Cedro do Abaeté
18,64
13,30
30,10
13,30
2,34
-
-
-
Serra da Bodoquena
28,40
34,80
20,40
4,52
2,67
-
-
-
Rum Jungle (Austrália)
25,7
33,3
17,3
4,7
8,7
2,1
0,68
Distrito manganesífero East Fork (Tennessee,
EUA)
31,6
42,2
19,2
2,1
0,48
2,9
0,81
Kodjari (Burkina Faso, África)
26,3
36,1
26,0
2,0
1,6
2,6
1,2
Jhamarkotra (Rajastão, Índia)
37,3
50,6
4,8
0,16
0,3
3,6
1,5
Grupo Siltito Fosfatado
Campos
Belos /
Arraias
Grupo
Fosforito
Primário
Estratificado
Grupo Fosforito Brechado
Grupo
Fosforito
Pedogênico
86
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
O depósito de Rum Jangle está associado a arenitos e siltitos hematíticos e a brechas
quartzo-hematíticas intensamente dobradas. Por sua vez, o depósito do distrito manganesífero
de East Fork, inclui folhelhos com camadas de calcário e dolomito sobrepostos por folhelhos
carbonosos e dolomito ricos em manganês e arcóseos fosfáticos grossos. No caso do depósito
de Kodjari, datado em 660 ± 8 ma, a sequência litológica se inicia com tilitos, calcários,
pelitos e cherts associados com os fosforitos, os quais são sobrepostos por arenitos, folhelhos
e sedimentos clásticos continentais. Quanto ao depósito de Jhamarkotra, os fosforitos são
estromatolíticos e ocorrem junto à cherts e folhelhos negros metamorfisados em fácies xisto
verde a anfibolito.
Na figura 6.9 são apresentados gráficos que ilustram a relação entre P2O5, óxidos, F e
CO2, referente aos depósitos analisados. Nota-se que há correlação positiva entre os depósitos
em termos de P2O5, CaO e F (Figura 6.9a e 6.9b), o que é esperado, visto que o tipo de apatita
sedimentar presente em tais depósitos são fosfatos de cálcio que contém variados teores de F.
As concentrações desses elementos variam de acordo com a composição assumida pelo
mineral entre os membros extremos do grupo da apatita, frente aos processos metamórficos e
intempéricos a que foram submetidos. Na figura 6.10 está exposto gráfico que confronta as
razões CaO/P2O5 e F/ P2O5. Com exceção dos depósitos de Conceição do Mato Dentro e Rum
Jungle, os demais depósitos, entre os quais se incluem os depósitos de Campos Belos/Arraias,
possuem composição intermediária entre os membros extremos francolita e fluorapatita.
No caso do CO2 não há um padrão definido (Figura 6.9c). Amostras dos depósitos de
Rum Jungle, Kodjari, Jhamarkotra e East Fork possuem padrão de ocorrência de CO2 em
relação ao fostato diferente de amostras dos depósitos de Campos Belos/Arraias e do depósito
de Xambioá. Os quatro primeiro depósitos apresentam teores altos de fosfato, entre 25,70 e
37,30% P2O5, e conteúdos de CO2 variando entre 0,68 e 1,50%. Considerando teores de
fosfato semelhantes a aqueles observados nos quatro depósitos internacionais, nota-se que no
caso dos depósitos da região de Campos Belos/Arraias, as amostras dos quatro grupos, bem
como seus respectivos subgrupos, com exceção do grupo siltito fosfatado, apresentam teores
de CO2 mais elevados, com intervalo entre 2,01 e 3,30%. O depósito de Xambioá e o grupo
de siltito fosfatado mostram tendência a assumir valores de CO2 intermediários, entre os dois
grupos de depósitos abordados acima, e teores de fosfato bem inferiores em relação aos
mesmos depósitos.
87
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 6.9 – Gráficos de P2O5 versus óxidos. Além de resultados médios relativos aos quatro grupos de minério
fosfático dos depósitos de Campos Belos/Arraias, encontram se plotados resultados de diversos depósitos de
fosfato sedimentar brasileiros e dois depósitos estrangeiros. É possível notar que existe em apatitas de todos os
depósitos confrontados há uma relação positiva entre P 2O5 e CaO, P2O5 e F, e P2O5 e CO2, enquanto que relação
entre P2O5 e os óxidos SiO2, Al2O3 e Fe2O3 é negativa.
88
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 6.10 – Gráfico da razão CaO/P2O5 pela razão F/P2O5. Nota-se que somente as amostras dos depósitos de
Conceição do Mato Dentro e Rum Jungle, possuem composição mais empobrecida em flúor do que a
fluorapatita normativa.
No caso de SiO2 e Al2O3 observa-se correlação negativa, em todos os depósitos,
conforme esperado. Em termos de SiO2 essa correlação é bem marcada, enquanto que para o
Al2O3 há variações referentes ao subgrupo de fosforito concrecionário e ao depósito de Cedro
do Abaeté. No caso do depósito de Cedro do Abaeté, o teor de Al2O3, correspondente a
13,30%, é alto em relação ao padrão observado. Esse fato pode estar associado à abundância
de sedimentos terrígenos associados ao minério fosfático.
Quanto ao Fe2O3, percebe-se que de modo geral, para um intervalo restrito de
concentrações de Fe2O3, entre 0,30 e 2,75%, há uma alta variação de teores de P2O5, entre
8,60 e 37,3%. Os depósitos de Xambioá e Rum Jungle não acompanham esse padrão. Ambos
os depósitos apresentam uma correlação negativa entre si. O depósito de Rum Jungle possui
teores de Fe2O3 e P2O5 equivalentes a 8,70% e 25,70%, respectivamente. Os altos teores de
ferro nesse depósito estão associados à presença de rochas hematíticas. Em relação ao
depósito de Xambioá, as concentrações de Fe2O3 e P2O5 correspondem a 14,20% e 13,70%,
respectivamante. Os conteúdos elevados de ferro se justificam pela origem da amostra, a qual
provém de saprólito de xisto que é composto, entre outros minerais, por hematita e goethita.
Na figura 6.11 são apresentados padrões de ETR‟s referentes aos depósitos de Campos
Belos/Arraias, Rocinha, Conceição do Mato Dentro e Fosforito Médio (média de 18 análises
de fosforito, segundo Altschuler (1980)). Todas as amostras foram normalizadas ao NASC
(Gromet et al. 1984).
89
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Figura 6.11 – Padrões de ETR‟s referentes aos depósitos da região de Campos Belos/Arraias, Rocinha,
Conceição do Mato Dentro e Fosforito médio. Amostras normalizadas ao NASC, segundo Gromet et al. (1984).
Na figura 6.11 nota-se que as amostras de depósitos de Campos Belos/Arraias são as
únicas, dentre as demais, que formam padrões paralelos entre si e à composição do NASC,
representada pela linha preta, indicando que não houve fracionamento de ETR‟s e, portanto
não deve ter havido variação na fonte dos sedimentos fosfáticos, e também que possuem
composição próxima a do NASC.
O padrão que representa o depósito de Rocinha se assemelha aos depósitos de Campos
Belos/Arraias somente em termos de ETR‟s leves, havendo um empobrecimento em ETR‟s
pesados, que não é observado nos depósitos de Campos Belos/Arraias. No caso do depósito
de Rocinha houve fracionamento dos ETR‟s, provavelmente em função de mistura entre
sedimentos fosfáticos e sedimentos terrígenos.
O depósito de Conceição do Mato Dentro, de idade Paleoproterozóica, apresenta o padrão
mais enriquecido dentre os outros depósitos e o fosforito médio. O padrão exibido por esse
depósito apresenta enriquecimento em ETR‟s pesados, distoando dos demais padrões.
Os depósitos de Campos Belos/Arraias possuem padrões paralelos ao fosforito médio,
indicando similaridade composicional em termos de ETR‟s. No entanto, a abundância de
ETR‟s no fosforito médio é em média 10 vezes maior que nos fosforitos dos depósitos de
Arraias/Campos Belos.
90
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
7. CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS SOBRE A FORMAÇÃO SETE LAGOAS
E O MINÉRIO FOSFÁTICO
7.1.
INTRODUÇÃO
O minério fosfático da região de Campos Belos/Arraias possui ocorrência restrita, e
deposição fortemente controlada pelas condições paleo-climáticas e paleo-topográficas. Os
fosforitos e siltitos fosfatos foram formados em ambiente com baixas temperaturas, o que é
confirmado pela presença da Formação Jequitaí em posição estratigráfica imediatamente
inferior a essas rochas. Com relação à paleo-topografia, há na área-tipo estudada, relações
estratigráficas e morfológicas, que indicam que o minério fosfático foi depositado em paleovales encaixados no embasamento granítico, e se encontra interdigitado com siltitos da base
da Formação Sete Lagoas.
As condições clássicas para precipitação de fosfato, prospostas por Kazakov (1937), não
se aplicam aos depósitos estudados, visto que uma das premissas importantes da teoria de
Kazakov requer que haja, por meio de correntes marinhas ascendentes, a circulação de águas
muito profundas ricas em nutrientes, em direção a zonas mais rasas com condições ideais
para a precipitação de fosfato. O Grupo Bambuí se caracteriza por ter se sedimentado em
ambiente marinho epicontinental, ou seja, esteve sempre submetido a condições de águas
rasas.
7.2.
AMBIENTES DE SEDIMENTAÇÃO DA FORMAÇÃO SETE LAGOAS
NO CONTEXTO DO GRUPO BAMBUÍ, NA REGIÃO DE CAMPOS
BELOS/ARRAIAS
Acompanhando o soerguimento inicial da Faixa de Dobramentos Brasília, uma grande
depressão foi formada em área cratônica a leste da faixa, onde a deposição do Grupo Bambuí
teve lugar (Figura 7.1) (Dardenne, 2000). A sedimentação do Grupo Bambuí ocorreu em
ambiente marinho instalado após o derretimento de camadas de gelo durante período glacial,
o qual pode estar correlacionado a Glaciação Sturtiana (~750 Ma), segundo Pimentel et al.
(2002); Alvarenga et al. (2007); e Uhlein et al. (2007). A Formação Jequitaí, pertencente à
base do Grupo Bambuí e representada por diamictitos polimíticos, tem sua gênese
91
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
relacionada a esse período glacial que se extendeu sobre ampla área do Cráton São Francisco
durante o Neoproterozóico.
Figura 7.1 – Sedimentação do Grupo Bambuí há aproximadamente 790 Ma, na porção oriental da Faixa de
Dobramentos Brasília (Dardenne, 2000).
Após a glaciação que deu origem a Formação Jequitaí, teve início a sedimentação da
Formação Sete Lagoas, marcada por uma transgressão marinha de extensão regional
(Dardenne, 1978b; 2000). Segundo Vieira et al. (2007), a Formação Sete Lagoas, em sua
área-tipo na região da cidade homônima, foi depositada em rampa carbonática, dominada por
tempestades, compreendendo dois ciclos retrogradacionais-progradacionais, envolvendo
principalmente rochas carbonáticas e subordinadamente rochas pelíticas.
Na área pesquisada, a Formação Sete Lagoas é composta, da base em direção ao topo, por
intercalações de margas, siltitos, siltitos calcíferos e calcários laminados (Fácies NP2slm);
calcários laminados e calcários argilosos (Fácies NP2slc); e dolomitos laminados,
dolarenitos, doloruditos e dolomitos maciços (Fácies NP2sld).
As sucessões litológicas na fácies NP2slm, na base da Formação Sete Lagoas, evidenciam
o desenvolvimento de um ambiente transgressivo incial, associado à plataforma carbonática
mista, com aporte significativo de sedimentos terrígenos. Os sedimentos estavam sujeitos à
correntes de baixa energia, o que é indicado pela sua granulometria fina e por laminações
plano-paralelas e suavementes onduladas.
Em um segundo momento na história deposicional, que corresponde as fácies de topo da
Formação Sete Lagoas, NP2slc e NP2sld, a contribuição da sedimentação carbonática tornouse gradativamente maior. A energia das correntes marinhas sofreu aumento progressivo, o
que é representado pela passagem de calcários e dolomitos estratificados horizontalmente a
92
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
dolarenitos e doloruditos, com estratificações cruzadas tangencias de baixo ângulo,
observadas localmente. A participação de sedimentos terrígenos é muito restrita, constatada
pela presença de finas lâminas argilosas entre os planos de acamamento de calcários e
dolomitos.
As águas em que foram depositados os sedimentos pelito-carbonatados da base da
Formação Sete Lagoas eram frias, em função do degelo relacionado à glaciação, que deu
origem a Formação Jequitaí.
Isótopos Estáveis
Dados isotópicos de δ13CPDB e δ18OPDB foram obtidos por meio do analisador GAS
BENCH II com autosampler, acoplado com delta 5, após reação com ácido fosfórico (H3PO4)
a 100%, em atmosfera de hélio por uma hora. Todas as análises foram realizadas no
Laboratório de Isótopos Estáveis do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (IGUnB).
Os isótopos de δ13CPDB e δ18OPDB (Anexo 3A) foram obtidos de dolomitos do topo da
Formação Sete Lagoas, próximo a frente de lavra São Bento, em perfil vertical de
amostragem que compreendeu desde a porção basal do afloramento de dolomito e seguiu por
mais 11 metros em direção ao seu topo; e de rochas carbonáticas localizadas a 2,6 km de
ocorrências da Formação Jequitaí. Os resultados são expressos em notação de “permil” (‰),
relativa ao padrão PDB (Pee Dee Belemnite). O desvio padrão é de 0,05 ‰ para ambos os
isótopos de C e O.
Os valores de δ13CPDB variam entre -2,15‰ e -1,09‰, enquanto que o δ18OPDB apresenta
valores variando entre -8,33‰ e -4,62‰ (Figura 7.2a). Na figura 7.2b é apresentado o
afloramento de dolomito, no qual foram feitas as análises, próximo a frente de lavra São
Bento.
Entre 0,0 e 6,0 metros no perfil amostrado no dolomito, a média das análises de δ13CPDB e
δ18OPDB foi de -1,29‰ e -5,17‰, respectivamente, enquanto que entre as cotas de 6,70 a
11,00 metros, a média das análises de δ13CPDB e δ18OPDB mostrou valores mais baixos,
equivalentes a -1,52‰ e -5,53‰, respectivamente. Portanto, percebe-se que houve uma
variação na composição isotópica dos carbonatos, em ambiente pós-glacial neoproterozóico.
93
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Os valores negativos de δ13CPDB e δ18OPDB indicam que há alta fixação de 12C, enquanto
que o
13
C apresenta conteúdos muito baixos e, portanto assume valores negativos. Dentro
desse contexto há também baixa produtividade orgânica, em função da fixação de
12
C.
Dansgaard (1964) In: Allègre (2008) obteve dados de geleiras atuais e observou que em
baixas temperaturas, as composições isotópicas de C e O, possuem valores negativos. Em
condições de clima frio há maior tendência ao fracionamento isotópico. Deste modo, é
possível correlacionar os teores negativos registrados nos isótopos de C e O com a glaciação
que deu origem aos diamictitos da Formação Jequitaí. Baixos teores de C podem estar
indicando a presença de água doce no ambiente de sedimentação. Essa hipótese é corroborada
pelo fato de que a deglaciação gerou grandes volumes de água doce no início da deposição da
Formação Sete Lagoas.
Os valores encontrados para isótopos de C e O na área estudada são coerentes com os
resultados obtidos por Alvarenga et al. (2007) em dolomitos de capa da Formação Sete
Lagoas na região de Bezerra-Formosa (GO), que estudaram uma sucessão de cap dolomites
naquela região.
Figura 7.2 – Diagrama de δ13C‰ (PDB) por δ18O‰ (PDB) de dolomitos depositados em paleoaltos do
embasamento granítico (Figura b) e de rochas carbonáticas situadas próximo aos diamictitos da Fm. Jequitaí.
Todas as 20 amostras coletadas em perfil vertical apresentaram valores negativos para ambos os isótopos de C e
O.
7.3.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE FOSFOGÊNESE
A origem de fosforitos vem sendo especulada desde a sua primeira descoberta, há mais de
170 anos. Inúmeros trabalhos de pesquisa têm sido desenvolvidos com a finalidade de buscar
94
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
uma melhor compreensão dos processos que determinam a formação dessas rochas. É de
conhecimento geral que a geração de um depósito fosfático é controlada pelos seguintes
fatores: ambiência tectônica, latitude, clima, variações do nível do mar, circulação de águas
oceânicas, e topografia. Considerações breves sobre esses fatores controladores serão aqui
apresentadas, com base em alguns desses importantes trabalhos.
Ambiência tectônica
Cook & McElhinny (1979) sugeriram uma ligação genética indireta entre fosfogênese e
períodos de vulcanismo intenso, orogêneses e formação de evaporitos. Eles relacionam cada
um desses eventos com tectônica de placas. Em relação a placas divergentes, o vulcanismo e
o tectonismo estão associados aos primeiros estágios de rifteamento; os evaporitos ocorrem
em estágios intermediários do rifte; e os fosforitos são formados em estágios tardios após o
rifteamento. No caso de placas convergentes, os estágios de sedimentação continental e rifte
vão sendo substituídos por fase orogênica. Há, comprovadamente, relações entre
acumulações de fosfato e controles estruturais, caracterizados por deposição de fosfatos,
principalmente em eixos de dobras sinclinais.
Paleo-latitude
Sheldon (1964) In: Cook & Shergold (1986) reconstruiu as posições continentais no
tempo de formação de grandes depósitos de fosfato, demonstrando que a origem de fosforitos
possuía controles paleo-latitudinais. Ele encontrou fosforitos formados entre paleo-latitudes
de 5º e 42º, com latitude média equivalente a 23º.
Os intensos processos tectônicos determinaram o tamanho e forma das bacias oceânicas, a
posição longitudinal e os padrões climáticos na época de formação das mesmas.
Paleo-clima
Dados de isótopos estáveis de oxigênio, além de dados sedimentológicos e
paleontológicos permitem inferir que houve variações do nível do mar, como resultado direto
de glaciações e deglaciações (Vail et al. 1977). Sheldon (1980) relaciona episódios de
deposição fosfática, ocorridos durante variados períodos geológicos, às transgressões em
oceanos com águas frias, associadas com eventos glaciais.
95
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Cook & McElhinny (1979) sugerem uma íntima associação entre eventos glaciogênicos e
fosfogênese, o que é demonstrado por associações estratigráficas entre tilitos e fosforitos em
variados depósitos formados em distintos períodos de tempo. Os maiores episódios glaciais
ocorreram em aproximadamente 770 Ma, 615 Ma, 560 Ma, 445 Ma, 295 Ma e 26 Ma.
Variações do nível do mar
Seções estratigráficas representam registros muito sensíveis de flutuações globais,
regionais e locais no nível do mar. Vail et al. (1977) definiram três ordens de mudança
relativa do nível do mar. Ciclos de primeira ordem ou globais são registradas em escala
mundial, e possuem durações de 100 a 300 Ma. Ciclos de segunda e terceira ordens têm
durações menores, entre 10 e 80 Ma e 1 e 10 Ma, respectivamente.
Vail et al. (1977) propuseram que ciclos de primeira ordem e alguns ciclos de segunda
ordem, com magnitude e duração suficiente, sejam respostas a processos geotectônicos.
Segundo os mesmos autores, glaciações e deglaciações podem representar alguns ciclos de
segunda ordem e muitos ciclos de terceira ordem.
Não existem curvas globais de variação do nível do mar para o Proterozóico, ao contrário
do Fanerozóico. Entretanto, cada um dos quatro episódios fosfogênicos definidos por Cook &
McElhinny (1979) – Proterozóico Superior I (~620 Ma); Proterozóico Superior II (~700-800
Ma); Proterozóico Médio (~1,21-1,6 Ga); Proterozóico Inferior (~1,8-2,0 Ga) – é
caracterizado por extensas sequências de sedimentos, associados com várias assembleias
fosfáticas. Esses episódios fosfogenéticos são respostas a processos de extensão global,
assumindo que cada episódio representa uma variação no nível do mar, o qual está associado
com ciclos de primeira ordem (Cook & Shergold, 1986).
Circulação de águas oceânicas
Kazakov foi o primeiro a propor que correntes de ressurgência poderiam ter papel
importante na deposição de fosfatos, possibilitando a circulação de águas profundas ricas em
fósforo solúvel, em direção a águas rasas, com condições necessárias para a precipitação
desse elemento.
Parrish (1982) identificou duas causas para o estabelecimento de sistemas de
ressurgência: a circulação atmosférica, que produz ressurgência costeira, divergência em mar
96
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
aberto, e menos comum, ressurgência em canais; e a interação entre regimes de correntes
oceânicas, batimetria e a morfologia das margens costeiras, que produz a ressurgência
dinâmica. A autora distinguiu quatro tipos de zonas de ressurgência:
- Ressurgência costeira – esse tipo de ressurgência requer que haja ventos estáveis
paralelos a costa, substituindo águas superficiais das regiões costeiras por águas profundas,
frias e ricas em nutrientes.
- Divergência em mar aberto – esta forma de ressurgência ocorre em sistemas de baixas
pressões atmosféricas. Os padrões de ventos resultantes nesses sistemas conduzem águas
oceânicas superficiais, afastando-as do seu centro de baixa pressão, produzindo ressurgência
em águas subjacentes.
- Ressurgência em canais – ocorre quando persistem ventos soprando em porções
estreitas de mares, causando ressurgência ao longo de um lado e correntes “mergulhantes” no
lado oposto. Os Golfos da Califórnia e Tailândia são exemplos atuais desse tipo de sistema
ressurgente.
- Ressurgência dinâmica – ao longo da margem de continentes, a ressurgência é
primariamente associada com interações entre movimentos circulares em águas oceânicas,
configuração da linha de costa, e batimetria, com alguma influência dos padrões de ventos.
Paleo-topografia
A paleo-topografia é um dos fatores controladores da deposição de fosfatos. O
entendimento desse fator possui grande importância na prospecção de depósitos.
Russell & Trueman (1971) In: Cook et al. (1990), pesquisaram a sedimentação em calhas
erosionais no depósito de fosfato Duchess, no norte da Austrália. Os autores divulgaram a
existência de um controle da sedimentação em função da topografia da bacia. No depósito
Duchess, carbonatos bioclásticos e fosfáticos foram desenvolvidos sobre as porções mais
elevadas do embasamento, e cherts e fosforitos foram depositados nos flancos de calhas
erosionais, e sobre áreas do embasamento com relevo suavemente positivo, enquanto que
carbonatos fosfáticos, micríticos e fétidos foram formados em calhas mais profundas.
Riggs (1980), ao estudar a deposição de fosforitos do Mioceno, na Flórida, também
sugere que a formação e deposição de sedimentos fosfáticos marinhos, foram intimamente
controladas por variações nas condições ambientais, em função da paleo-topografia.
97
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Kazakov (1937) sugeriu condições para sedimentação de fosfatos, que incluem: a
diminuição da pressão parcial de CO2; aumento do pH; e decréscimo na solubilidade do
fosfato, que se precipitaria em profundidades entre 50 e 200 metros.
A profundidade de deposição dos fosfatos associados com estromatólitos mostra que a
precipitação desse material também pode ocorrer em profundidades de poucos metros, ou
seja, mais rasas do que o intervalo entre 50 e 200 metros, prosposto por Kazakov (1937).
Com relação à origem do fostato disponibilizado em ambiente marinho, muitos
pesquisadores têm discutido a aplicabilidade da Teoria de Kazakov e questionado a idéia de
que o oceano seja sempre a fonte primária do fósforo. Nas últimas décadas foram propostas
fontes continentais, em que o fosfato, seria carreado por vias fluviais para os oceanos; e
fontes vulcânicas (Cook et al. 1990).
Durante a transição Proterozóico/Fanerozóico, houve formação de importantes depósitos
de fosforito em todo o mundo (Cook, 1992). As variações na química do oceano durante esse
período, representadas principalmente pelo enriquecimento do sistema marinho em fósforo,
podem ter desencadeado algumas mudanças na biota, incluindo um aumento na biomassa
animal e o início da biomineralização, primeiramente nas áreas com altas concentrações de
fosfato e posteriormente por colonização de áreas com pequenas quantidades de fosfato, por
metazoários providos de esqueleto (Cook, 1992).
7.4.
MODELO FOSFOGENÉTICO DO MINÉRIO FOSFÁTICO NA REGIÃO
DE CAMPOS BELOS/ARRAIAS
Diversas fases de fosfatogênese deram origem aos depósitos de fosfato proterozóicos
brasileiros. A borda cratônica parece ser um local favorável a deposição de fosfatos, entre o
Mesoproterozóico e o Neoproterozóico, tendo como exemplos os depósitos de
Rocinha/Lagamar e Campos Belos/Arraias, além de inúmeras ocorrências registradas nessas
condições, como Monte Alegre de Goiás, Nova Roma, Formosa, e Cabeceiras, em Goiás, e
Coromandel, Cedro do Abaeté e Pium-Hi, em Minas Gerais (Boujo et al. 1994). Ocorrências
dentro do Cráton têm sido também registradas em Irecê (BA) e Felixlândia (MG).
Na figura 7.3 é apresentada uma sobreposição do mapa geológico ao milionésimo,
elaborado pela CPRM (2004), e dado altimétrico gerado pela SRTM (Shuttle Radar
Topography Mission). A modelagem em 2,5D foi feita no software Envi 4.3.
98
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Considerando um perfil W-E na figura 7.3a, observa-se que, na porção mais ocidental do
modelo estão situadas rochas pertencentes ao Complexo granito-gnáissico, rochas
metassedimentares atribuídas a Formação Ticunzal, granitos associados às Suítes Aurumina e
Pedra Branca e rochas metassedimentares atribuídas ao Grupo Araí. Em direção ao Cratón
São Francisco, situado a leste, estão dispostas, em amplo terreno rebaixado, rochas pelitocarbonatadas do Grupo Bambuí, em contato discordante sobre o embasamento granítico e
sobre o Grupo Araí. Na borda leste das exposições do Grupo Bambuí são observadas restritas
faixas, onde ocorrem rochas do embasamento granítico. Em seguida, na porção mais oriental,
estão expostas rochas mesozóicas referentes aos grupos Areado e Urucuia, que repousam
sobre o Cratón São Francisco.
Na Figura 7.3b tem-se uma visão mais próxima da área de estudo, mostrando que a
mesma compreende rochas pelito-carbonatadas da Formação Sete Lagoas, que se sobrepõem
ao embamento granítico, distinguido como Suíte Aurumina. A Formação Sete Lagoas é
pouco espessa, devido ao longo processo erosivo a que foi submetida, o que facilita a
compreensão de relações estratigráficas entre a formação em questão e o seu embasamento.
O minério fosfático foi depositado em mar epicontinental, desenvolvido no início do
Neoproterozóico, possivelmente como resposta a Orogênese Brasiliana, caracterizando, uma
provável bacia de ante-país (bacia tipo foreland), localizada na transição entre cadeias
orogênicas e o cráton. Após uma importante glaciação houve um aumento na temperatura
global, incorrendo em deglaciações, que foram responsáveis por significativas inundações
continentais. Nesse momento, inicia-se o preenchimento com sedimentos pelitocarbonatados, da bacia Bambuí, a qual se distribuía por área muito extensa. A desposição
desses sedimentos ocorreu sob regime transgressivo, em plataforma rasa.
Nesse contexto tectônico, a deposição dos sedimentos fosfáticos foi condicionada,
principalmente, por controles paleo-topográficos. As acumulações desse material foram
geradas em paleo-vales irregulares, descontínuos e bem encaixados no embasamento
granítico. A descontinuidade dos vales e, portanto das ocorrências de corpos de fosforito,
possui relação íntima com a topografia da região, na época de deposição. Nessas áreas
rebaixadas, os fosforitos são encontrados interdigitados com siltitos fosfatados, e com
participação carbonática restrita, representada por siltitos calcíferos e lentes carbonáticas.
99
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
A ausência de níveis carbonosos e a natureza detrítica dos sedimentos sugerem um
sistema fosfogenético sem associações com organismos. Nesta região, estromatólitos são
observados somente em direção ao topo da Formação Sete Lagoas.
Figura 7.3 – Modelo 2.5D, com dado altimétrico gerado pela SRTM sobreposto por mapa geológico ao
milionésimo (CPRM, 2004), mostrando o contexto topográfico atual da área de estudo.
O ambiente de sedimentação pode ser caracterizado como redutor em função da
precipitação de pirita eodiagnética (diagênese precoce), representada por cristais euédricos,
em calcários argilosos basais, que foram depositados concomitantemente aos fosforitos.
Outro processo diagenético, caracterizado pela dolomitização dos calcários, foi responsável
pela elevação da razão Ca/Mg na água do mar, o que favorece a precipitação de fosfato, em
função da disponibilização de Ca no ambiente, além dos conteúdos desse elemento já
100
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
existentes naturalmente na água do mar, e também da retirada de Mg, o qual é um elemento
inibidor da precipitação de fosfato.
A energia das correntes era baixa, o que é observado pela presença de fosfolutitos
laminados e acamadados, embora vários deslizamentos nos flancos dos paleo-vales
permitiram o retrabalhamento dos fosfolutitos, formando volumes importantes de fosfarenitos
e fosforuditos intraclásticos. Em paleoaltos foram precipitados, preferencialmente carbonatos.
As águas oceânicas eram frias, quando os sedimentos fosfáticos foram depositados, o que
é comprovado pela presença de diamictitos glaciais atribuídos a Formação Jequitaí, e pelas
razões isotópicas de C e O. Nestas condições a produção orgânica era limitada o que
possibilitaria a preservação do fosfato dissolvido na água do mar, ao contrário do que
ocorreria em momentos com ampla produção orgânica (como na deposição da Formação
Lagoa do Jacaré) que no haveria amplo consumo do fosfato pelas algas e bactérias
responsáveis pela formação de oncólitos e biohermas.
Os depósitos fosfáticos foram constituídos inicialmente por apatitas com composição
muito próxima a da francolita ((Ca, Na, Mg)10(PO4, CO3)6(F, OH)2), que se caracteriza por
ser o tipo de apatita primária formada em ambientes sedimentares marinhos. Cristais de
calcitas foram formados em associação com a apatita primária.
A fonte desse fosfato não foi bem determinada. Entretanto cogita-se que os granitos da
Suíte Aurumina possam ser a fonte dos sedimentos, visto que foram encontrados alguns raros
fragmentos líticos graníticos em lâminas petrográficas de fosforitos. Esses granitos são
naturalmente enriquecidos em fosfato, com teores de 0,5%, o qual pode ter sido solubilizado
por processos intempéricos e levados em solução até a bacia, onde são reconcentrados em
camadas sedimentares de fosforitos ou em siltitos fosfatados.
Processos diagenéticos foram responsáveis pela dissolução da calcita, gerando
porosidades secundárias nos fosforitos. Durante o desenvolvimento do intemperismo, tais
porosidades foram parcialmente ou completamente preenchidas por quartzo microcristalino, o
que ocasionou a silicificação dessas rochas em graus de intensidade distintos.
Os fosforitos e siltitos fosfatados, bem como todo o conjunto de rochas pelíticas, foram
submetidos ao intemperismo. A evolução de processos intempéricos permitiu a lateritização
de rochas expostas superficialmente, gerando fosforitos intensamente silicificados e com
altos teores de Al2O3, FeOtotal e MnO. O estágio mais avançado do perfil laterítico é
101
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
representado por concreções de fosforito, distribuídas no entremeio ao solo, com teores de
fosfato reduzidos e concentrações mais elevadas de óxidos.
Conforme comprovado por dados geoquímicos e de difratogramas de raios-x, houve
descarbonatação e perda de flúor, da estrutura da apatita primária, durante processos
intempéricos, de modo que esse mineral assumiu composições intermediárias entre francolita
e fluorapatita.
Os teores de fosfato contidos na fluorapatita variam de acordo com o estágio evolutivo
associado ao intemperismo. Fosforitos mais preservados, como é o caso dos grupos fosforito
primário estratificado e fosforito brechado, apresentaram teores mais elevados de P2O5, em
relação às rochas do grupo fosforito pedogênico. Isso mostra que não houve concentração
supergênica de fosfato em perfis lateríticos bem desenvolvidos, e que o mesmo tem sido
lixiviado, em função das condições oxidantes, proporcionadas pelo próprio intemperismo.
Na tabela 7.1 são confrontadas informações sobre os depósitos a serem comparados, tais
como idade; unidade geotectônica, a que pertencem; unidade geológica, em foram formados;
associação litológica; tipo de apatita; e teores médios de P2O5.
Nota-se que, com exceção dos depósitos de Conceição do Mato Dentro,
Rocinha/Lagamar e Itataia, os demais depósitos foram formados exclusivamente no
Neoproterozóico. Margens cratônicas são os locais com ocorrências mais frequentes de
minério de fosfato. Somente o depósito de Irecê está situado sobre área cratônica.
O Grupo Bambuí, que tem o Grupo Una como seu correlado, é a unidade geológica que
mais apresenta ocorrências de minério fosfático. O Grupo Vazante, que segundo Dardenne
(2000), pode representar uma sequência transicional entre os grupos Paranoá e Bambuí,
possui as maiores reservas de fosfato sedimentar do Brasil.
As associações litológicas mais comuns são com rochas pelíticas, ritmitos, dolomitos e
calcários. No caso de Conceição do Mato Dentro, Itataia e Xambióa, as rochas encontram-se
metamorfizadas, mas tem como protólitos rochas pelito-carbonatadas. Os depósitos de
Rocinha/Lagamar, Irecê e Serra da Bodoquena, distintamente dos demais depósitos,
apresentam-se geneticamente associados a estromatólitos.
O tipo mais comum de apatita encontrado nesses depósitos é a variedade fluorapatita, que
resulta de transformações da estrutura da apatita marinha primária, formada nos depósitos de
fosfato. Essas tranformações podem ocorrer por meio de processos intempéricos ou
metamórficos.
102
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Os teores são os mais variados possíveis, sendo que os depósitos de fosforito da região de
Campos Belos/Arraias são os que possuem os maiores teores médios, equivalentes a 24%
P2O5.
Tabela 7.1 – Principais características de depósitos de fosfado sedimentar, brasileiros, de idade Proterozóica.
Depósitos
Campos
Belos /
Arraias
Unidade
geológica
hospedeira
Associação litológica
Tipo de
Apatita
Teores
médios
de P2O5
(%)
Fluorapatita
24
Flúorhidroxiapatita
<12,
em
níveis
mais
ricos
-
-
Fluorapatita
10-15
Fluorapatita
>20
Idade
Unidade
geotectônica
Neoproterozóico
Borda oeste
do Cráton São
Francisco
Formação Sete
Lagoas – Grupo
Bambuí
Fosforitos e siltitos
fosfatados estão
associados aos siltitos,
siltitos calcíferos e
carbonatos
A unidade fosfática
está associada aos
quartzitos micáceos,
xistos, geralmente
carbonáticos, e
metabasitos
Conceição
do Mato
Dentro
Paleoproterozóico
Faixa Araçuaí
Unidade Rio Preto
– Formação SopaBrumadinhoGrupo
Diamantina –
Supergrupo
Espinhaço
Itataia
Meso /
neoproterozóico
Domínio
Ceará Central
Formação
Alcantil – Grupo
Itataia
Rocinha /
Lagamar
Meso /
neoproterozóico
Borda oeste
do Cráton São
Francisco
Formação
Rocinha – Grupo
Vazante
Neoproterozóico
Porção norte
do Cráton São
Francisco
Unidade Nova
América Superior
– Formação
Salitre – Grupo
Una
Neoproterozóico
Borda oeste
do Cráton São
Francisco
Formação Serra
Da Saudade –
Grupo Bambuí
Faixa
Araguaia
Formação
Xambioá – Grupo
Estrondo
Saprolito de xistos
(folhelhos
metamorfizados) ricos
em apatita, associados
com mármores
Formações
Tamengo e
Bocaina – Grupo
Corumbá
Na Formação
Bocaina: fosforitos
associados aos
dolomitos, calcários e
estromatólitos; e na
Formação Tamengo:
fosforitos associados
às brechas
intraformacionais e
ritmitos
Irecê
Cedro do
Abaeté
Xambioá
Serra da
Bodoquena
Neoproterozóico
Neoproterozóico /
Cambriano
Faixa
Paraguai
Colofanitos
associados aos
mármores e rochas
calcissilicáticas
Fosfarenitos e
fosfolutitos
associados aos
ritmitos arenosos e
pelíticos, ardósias,
metassiltitos e
carbonatos e
biohermas
estromatolíticos
Fosforitos associados
aos dolomitos e
calcários, e
localmente pelitos
vermelhos e
biohermas
estromatolíticos
Ritmitos fosfáticos
associados aos
ritmitos arenopelíticos de cor cinza
e verde (verdetes).
Fluorapatita e
wavellita (em
estágios mais
avançadas de
intemperismo)
Francolita e
crandallita
(em estágios
mais
avançadas de
intemperismo)
8%
7,7
Fluorapatita
103
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
8. CONCLUSÕES
Ocorrências de fosforitos atribuídos a Formação Sete Lagoas, porção basal do Grupo
Bambuí, de idade Neoproterozóica, têm sido registradas em toda a borda noroeste do Cráton
São Francisco, em contato com a Faixa de Dobramentos Brasília, formada durante a
Orogênese Brasiliana. Entretanto, até o momento somente ocorrências na região de Campos
Belos/Arraias têm demonstrado economicidade. Apesar do pequeno porte dos cospos de
fosforitos dos depósitos encontrados nessa região, o aumento da demanda por insumos
fosfatados e o processo de flotação dos siltitos fosfatados (com conseqüente aumento de teor
médio), viabilizaram a prospecção da mineralização.
Os depósitos da região de Campos Belos/Arraias são representados pelos depósitos São
Bento, Coité 1 e Coité 2, os quais possuem reduzido volume de fosforitos, mas com teores
elevados, assumindo uma média de 24% P2O5. Uma área-tipo com 39,75 km2 foi definida
para estudo na porção sudeste de Arraias (TO) e a norte de Campos Belos (GO), distando 17
km e 8 km, respectivamente, das sedes destes municípios.
Na área-tipo foram identificadas rochas pelito-carbonatadas e fosfatadas atribuídas a
Formação Sete Lagoas, siltitos pertencentes à Formação Serra de Santa Helena e granitos
associados à Suíte Aurumina, de idade Paleoproterozóica. Nas proximidades da área-tipo
foram verificados diamictitos que constituem a Formação Jequitaí, rochas metassedimentares
atribuídas ao Grupo Araí, com idade Paleoproterozóica, e rochas metassedimentares
associadas à Formação Ticunzal, que apresentam provável idade Arqueana.
A caracterização petrográfica, mineralógica e química do minério fosfático foi feita com
base em observações nas frentes de lavra dos três depósitos citados acima, bem como em
furos de sondagem, realizados em suas proximidades. Com base em tal caracterização foi
possível distinguir quatro grupos de minério fosfático:
- Grupo Siltito Fosfatado – assim denominado por ser formado por siltitos com teores
inferiores a 18% P2O5 (teor limite para fosforitos adotado nessa dissertação, segundo Slansky,
1979). Em lâmina petrográfica, percebe-se que esses siltitos são estruturados em laminações
finas, ora com teores mais elevados de fosfato e ora mais empobrecidas nesse minério.
Geralmente encontram-se muito intemperizados.
- Grupo Fosforito Primário Estratificado – esse grupo teve a necessidade de ser
subdividido em dois subgrupos: subgrupo fosforito laminado e subgrupo fosforito
104
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
acamadado. Ambos os grupos são considerados com o tipo mais primário de fosforito
formado, sendo caracterizados por estruturas de estratificação, embora com dimensões
distintas. Os fosforitos laminados apresentam teores médios mais baixos, equivalentes a
24,2% P2O5, em relação aos fosforitos acamadados, devido a uma maior participação de
sedimentos terrígenos em sua constituição. Os fosforitos acamadados, por sua vez, se
caracterizam por serem rochas com menor influência de sedimentos terrígenos e, portanto
apresentarem teores médios de P2O5 mais elevados, que correspondem a 32%.
- Grupo Fosforito Brechado – composto por fosforitos retrabalhados em função de
deslizamentos nos flancos de canais, onde foram depositados. Em geral, são fosforuditos com
intraclastos de fosfolutito predominantes, e clastos de siltito e siltito fosfatado subordinados,
imersos em matriz colofanítica com diminutos grãos de quartzo detríticos. Os fosforitos desse
grupo apresentam teores médios de 34% P2O5, caracterizando-se por ter os teores mais
elevados.
- Grupo Fosforito Pedogênico – representa os fosforitos lateritizados no estágio mais
avançado do perfil intempérico. Dois subgrupos também foram distinguidos: subgrupo
fosforito laterítico e subgrupo fosforito concrecionário. Os fosforitos lateríticos possuem
teores médios de 27,6% P2O5, e representam rochas do grupo fosforito brechado e do
subgrupo fosforito acamadado lateritizadas. Os fosforitos concrecionários são formados a
partir da evolução intempérica dos fosforitos lateríticos, e são caracterizados por ocorrerem
como concreções no entremeio ao solo, com teores médios mais baixos, equivalentes a
24,8%.
O intemperismo se caracteriza como processo intensamente atuante sobre esses depósitos,
sendo responsável por diversas mudanças químicas e mineralógicas que ocorreram nas rochas
que compõem os mesmos. Tais mudanças possuem intensidade variada, de acordo com o
estágio intempérico em que determinada rocha se encontra. Portanto, rochas do grupo
fosforito pedogênico foram as mais afetadas por essas mudanças, enquanto rochas do grupo
fosforito brechado e do subgrupo fosforito acamadado se mostram mais preservadas.
A principal modificação desenvolvida em função do intemperismo foi a transformação da
apatita marinha primária, com composição próxima a da francolita, em membros com
composição intermediária entre a francolita e fluorapatita normativas. Essas transformações
foram verificadas ao analisar os resultados de F e CO2 e as razões CaO/P2O5 e F/P2O5, que
105
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
indicaram apatitas com composições intermediárias entre os membros extremos citados
acima.
Outro fato importante ocorrido devido a processos intempéricos é a lixiviação do fosfato
em rochas lateritizadas submetidas às condições oxidantes. Nas rochas lateritizadas do grupo
fosforito pedogênico há maior concentração de óxidos como, SiO2, Al2O3, FeOtotal e MnO, e
menores teores de P2O5, enquanto que em rochas do grupo fosforito brechado e do subgrupo
fosforito acamadado ocorre o inverso. As razões CaO/P2O5 foram mais altas em rochas do
subgrupo fosforito laterítico, em relação a rochas do grupo fosforito brechado, indicando
novamente que houve lixiviação de fosfato em função da evolução de processos
intempéricos. Portanto, conclui-se que nos depósitos estudados não há concentrações de
fosfato supergênico.
Os padrões de ETR‟s mostraram que não houve fracionamento dos mesmos e que,
portanto não houve variação na fonte dos sedimentos e na composição da água do mar
durante a precipitação do fosfato. Os ETR‟s não se concentraram na estrutura da apatita no
perfil intempérico, estando associados a zircões em fração silte, o que é confirmado por
correlação positiva entre Zr e ETR‟s e Zr e Al2O3, e correlação negativa entre ETR‟s e P2O5.
Com relação ao ambiente deposicional do minério fosfático, o mesmo foi interpretado
como plataforma carbonática mista, com significativa contribuição de terrígenos, que grada
para plataforma com participação carbonática cada vez mais importante. Esse ambiente foi
instalado após uma transgressão marinha, ocorrida devido ao derretimento de camadas de
gelo, provavelmente relacionadas à Glaciação Sturtiana, em função da qual teriam se formado
os diamictitos da Formação Jequitaí (Pimentel et al. 2002; Alvarenga et al. 2007; Uhlein et
al. 2007).
Os fosforitos e siltitos fosfatados ocorrem interdigitados com siltitos, e com restrita
participação carbonática. A precipitação do fosfato foi controlada principalmente, pela paleotopografia e pelo paleo-clima. Com base em relações estratigráficas observadas em frentes de
lavra foi possível observar que houve acumulação de fosfato em paleo-vales encaixados no
embasamento granítico, atribuído a Suíte Aurumina. Em paleoaltos do embasamento foram
precipitados carbonatos. O paleo-clima é considerado como frio, visto que os fosforitos foram
depositados logo após período glacial, representado pela Formação Jequitaí, a qual foi
mapeada nas proximidades da área-tipo. O ambiente era redutor e tinha disponibilidade de
Ca, o que favorece a precipitação de fosfato.
106
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Isótopos de δ13CPDB e δ18OPDB apresentaram valores negativos que variam entre -2,15‰ e
-1,09‰, e -8,33‰ e -4,62‰, respectivamente. Esses resultados indicam que houve alta
fixação de
12
C nos carbonatos, acompanhada por baixa produtividade orgânica e por baixas
temperaturas, as quais estão relacionadas ao período pós-glaciação.
Quando os depósitos da região de Campos Belos/Arraias são comparados com outros
depósitos sedimentares brasileiros também formados no Proterozóico, percebe-se há
semelhança no tipo de apatita. A fluorapatita, ou minerais com composições próximas a
fluorapatita, são os tipos mais comuns de apatita observada em todos os depósitos
comparados.
Quanto à ambiência tectônica, as ocorrências de maior importância estão situadas em área
cratônica, seja na borda, como é o caso do depósito estudado, e dos depósitos de
Rocinha/Lagamar e Cedro do Abaeté, ou no interior do cráton, onde está lozalizado o
depósito de Irecê. O depósito de Rocinha/Lagamar possui associação genética com
estromatólitos e o depósito de Cedro do Abaeté, por sua vez, foi formado no ambiente de
sedimentação da Formação Serra da Saudade. Portanto, na borda oeste do Cráton São
Francisco, os depósitos de Campos Belos/Arraias possuem características únicas, pois estão
associados à Formação Sete Lagoas, situada no Grupo Bambuí em posição estratigráfica bem
inferior a Formação Serra da Saudade, e não possuem associação com biohermas
estromatolíticos, como Rocinha/Lagamar.
Os demais depósitos, Conceição do Mato Dentro, Serra da Bodoquena e Xambioá estão
localizados em faixas móveis.
Essa dissertação cumpriu os objetivos de caracterização do minério fosfático, além de
estabelecer breves comparações químicas e genéticas com outros depósitos, e definir as bases
sobre os controles genéticos do depósito aqui denominado como mineralização de fosfato do
tipo Campos Belos/Arraias.
Sugere-se que sejam realizadas as seguintes pesquisas:
- Química mineral, focada na apatita que constitui o principal mineral do depósito fosfático,
com a finalidade de determinar a composição química exata da apatita e substituições em sua
estrutura;
- Datações Pb/Pb e Lu/Hf, para tentar determinar a idade de deposição, o que poderá
inclusive contribuir com o refinamento da idade de deposição do próprio Grupo Bambuí;
107
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
- Estudos relacionados à solubilidade das fases de fosfatos sedimentares que deverão ser úteis
para os processos tecnológicos visando ao aproveitamento econômico do material.
-
Definição
de
novos
alvos
para
prospecção
de
fosfato
a
partir
de
dados
gamaespectrométricos utilizando dados integrados de levantamentos aerogeofísicos de Goiás
e Tocantins.
108
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Allègre A.J. (Ed) 2008. Isotope Geology. London, Cambridge University Press, 512 p.
Almeida F.F.M. De; Hasui, Y.; Neves, B.B. de B. & Fuck, R.A. 1977. Províncias Estruturais Brasileiras. In:
SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, Campina Grande - PB. Atas, p. 363-391.
Altschuler Z.S. 1980. The geochemistry of trace elements in marine phosphorites. Part I. Characteristic
abundances and enrichment. In: Bentor, Y.K. (ed.), Marine phosphorites – Geochemistry, occurrence,
genesis. Oklahoma, Tulsa, Soc. Econ. Paleont. Miner., p. 19-30 (Special Publication 29).
Alvarenga C.J.S. & Dardenne M.A. 1978. Geologia dos grupos Bambuí e Paranoá na Serra de São Domingos,
MG. In: SBG, Cong. Bras. Geol., 30, Recife, Anais, 546-556.
Alvarenga C.J.S., Dardenne M.A., Botelho N.F., Machado M.A., Lima O.N.B., Almeida T. 2006. Relatório
Final das Folhas SD.23-V-C-III – Monte Alegre de Goiás; SD.23-V-C-V – Cavalcante; SD.23-V-C-VI –
Nova Roma. Convênio UnB/FINATEC/CPRM. Brasília, 67p.
Alvarenga C.J.S., Giustina M.E.S.D., Silva N.G.C., Santos R.V., Gioia S.M.C.L., Guimarães E.M., Dardenne
M.A., Sial A.N., Ferreira V.P. 2007. Variações dos isótopos de C e Sr em carbonatos pré e pós-glaciação
Jequitaí (Esturtiano) na região de Bezerra-Formosa, Goiás. Revista Brasileira de Geociências, 37(4 –
suplemento):147-155.
Araújo Filho J.O.de. 1980. Geowissenschaftliches Lateinamerika Kolloquium, Heidedlberg: 9-11.
Araújo Filho J. O.de. 1999. Structural characteristics and tectonic evolution of the Pirineus Syntaxis, Central
Brazil. Ph.D. Thesis, University of Illinois at Urbana-Champaign, USA, p. 433.
Arthaud M.H., Vasconcelos A.M., Nogueira Neto J.A., Oliveira F.V.C., Parente C.V., Monié P., Liégeois J.P.,
Caby R., Fetter A.H. 1998. Main structural features of Precambrian domains from Ceará (NE Brazil). In:
International Conference Basement Tectonics, 14, Abstracts, 84-85.
Babinski M., Kaufman A.J. 2003. First direct dating of a neoproterozoic post-glacial cap carbonate. In: South
American Symposium on Isotope Geology, 4, Salvador, Short Papers, 1:321-323.
Babinski M., Liu D., Trindade R.I.F., Brito Neves B.B. Santos R.V. 2004. Idade e proveniência dos sedimentos
glaciais da Formação Bebedouro, Cráton do São Francisco, com base em dados U-Pb SHRIMP em zircões
detríticos. In: Cong. Bras. Geol., 42, Araxá, Anais, p. 751.
Boggiani P.C., Fairchild T.R., Coimbra A.M. 1993. O Grupo Corumbá (Neoproterozóico-Cambriano) na região
central da Serra da Bodoquena (Faixa Paraguai) Mato Grosso do Sul. Revista Brasileira de Geociências
23(3): 301-305.
Boggiani P.C. 1997. Análise Estratigráfica da Bacia Corumbá (Neoproterozóico) - Mato Grosso do Sul. Tese
de Doutoramento, Programa de Pós-graduação em geologia sedimentar, Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo (USP). 181p.
Botelho N.F. 1992. Les ensembles granitiques sublcalins a peralumineux mineralisés en Sn et In de la Sousprovince Paranã, Etat de Goiás, Brèsil. Thèse de Doctorat, Université de paris VI. 344p.
Botelho N.F., Bilal E., Moutte J., Fonteilles M., 1993. Precambrian A-type tin-bearing granites in the Goiás tin
province, central Brazil: a review. Workshop Magmatismo Granítico e Mineralizações Associadas, pp. 5-8.
Academia Brasileira de Ciências, Rio janeiro, Brasil.
Botelho N.F., Moura M.A. 1998. Granite-ore deposit relationship in central Brazil. Journal of South America
Earth Sciences, 11: 427-438.
Botelho N.F., Alvarenga C.J.S. de, Meneses P.R., D‟el-Rey Silva L.J.H. 1999. Suíte Aurumina: Uma suíte de
granitos paleoproterozóicos, peraluminosos e sin-tectônicos na Faixa Brasília. In: SBG, Simpósio de
Geologia do Centro-Oeste, 7, Brasília, Anais pp.17.
Botelho N.F., Moura M.A., Alvarenga, C.J.S.de, Dantas E.L., Dardenne M.A., Campos J.E.G., Meneses P.R.,
Brito A.P. 2002. Granitogênese peraluminosa Transamazônica no embasamento da Faixa Brasília e seu
significado tectônico. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 41, Anais, pp.436.
Botelho N.F., Silva D.V.G. 2004. Caracterização mineralógica e química das mineralizações de ouro (± PGE)
da suíte granítica Aurumina, Goiás. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 42, Araxá, Resumos.
109
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Boujo A., Trompette R., Flicoteaux R., Melfi A.J., Affaton P., Blot A., Monteiro M.D., De Oliveira J.J., Magat
P. 1994. Fosfatos Sedimentares Marinhos do Proterozóico Médio e Superior e do Cambriano da África e do
Brasil: Geologia, Mineralogia, Geoquímica e Importância Econômica. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, 66(3):293-318.
Brodskaya N.G., Ilyinskaya M.N. 1968. Phosphate accumulation in volcanic regions. In: Sedimentology and
useful fossils of past volcanic regions, 2. Proceedings of the Geological Institute, USSR Academy of
Sciences, 196, 193-292.
Brodskaya N.G., Ilyinskaya M.N. 1970. Principal genetic types of phosphate deposits associated with an
endogenic source of phosphorus. In: State and problems of Soviet lithology. All Union Lithological
Conference, 8th Report, 3,257-262.
Castro G.L., Parente C.V., Veríssimo C.U.V., Sial A.N., Garcia M.G.M., Santos R.V., Melo R.C. de, Santos
A.A. 2005. Isótopos de carbono e oxigênio dos mármores associados com o depósito Fósforo Uranífero de
Itataia, Ceará. Revista Brasileira de Geociências 35(2): 199-208.
Chaves A.G., Heineck C.A., Tavares W.P. 1971. Projeto Cedro do Abaeté. Belo Horizonte. Convênio
DNPM/CPRM 1971, 2v, Relatório final.
Chaves A.G., Heineck C.A., Tavares W.P. 1976. Projeto Patos de Minas. Relatório Final de Pesquisa, CPRM,
Belo Horizonte, 78p.
COMIG/CPRM. 2002. Projeto São Francisco. Módulo 1, Belo Horizonte, CD-Room.
Cook P.J., McElhinny M.W. 1979. A re-evaluation of the spatial and temporal distribution of sedimentary
phosphate deposits in the light of plate tectonics. Economic Geology, 74:315-30.
Cook P.J., Shergold J.H. 1984. Phosphorus, phosphorites and skeletal evolution evolution at the PrecambrianCambrian boundary. Nature, 308:231-6.
Cook P.J. & Shergold J.H. (Eds.) 1986. Phosphate deposits of the world. Volume 1: Proterozoic and Cambrian
phosphorites. London, Cambridge University Press, 386 p.
Cook P.J., Shergold J.H., Burnett W.C., Riggs S.R. 1990. Phosphorite research: a historical overview.
Geological Society, London, Special Publications, 52: p. 1-22.
Cook P.J. 1992. Phosphogenesis around the Proterozoic-Phanerozoic trasition. Journal of the Geological
Society, 149: p. 615-620.
Corrêa J.A., Correia-Filho F.C.L., Scislewski G., Neto C., Cavallon L.A., Cerqueira N.L.S., Nogueira V.L.
1976. Geologia das regiões centro e oeste de Mato Grosso do Sul. Projeto Bodoquena. (Mapa geológico
escala 1:250.000). Brasília, DNPM. 111p. (Série Geologia Básica 3).
Costa, L.A.M. & Angeiras, A.G. 1971. Geosynclinal Evolution in the Epi-Baikalian Plataform of Central Brasil,
Geologische Rundschau, 60:1024-1050.
Costa M.T., Branco J.J.R. 1961. Roteiro para a excursão Belo Horizonte-Brasília. In: SBG, Congresso
Brasileiro de Geologia, 14,. UFMG, Inst. Pesq. Radioat., Publ 15. 25p., Belo Horizonte.
Costa M.L., Da Silva, V.P. 2009. The proterozoic phosphates of Xambioá (Tocantins). In: Simpósio Brasileiro
de Metalogenia, 2, Gramado, Anais.
CPRM, 2004. Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo. CPRM. Brasília. CD-ROM.
Da Silva, V.P. 1998. Caracterização geoquímica dos fosfatos de Xambioá (TO). Manuscrito da dissertação
inconclusa de mestrado (inédita). Belém, UFPA, 141p.
Dansgaard W. 1964. Stable isotopes in precipitation. Tellus 16,436-68.
Dardenne M.A. 1978a. Zonação tectônica na borda ocidental do Cráton São Francisco. In: SBG, Congresso
Brasileiro de Geologia, 30, Recife, Anais, 1: 299-308.
Dardenne M.A. 1978b. Síntese sobre a estratigrafia do Grupo Bambuí no Brasil Central. In: SBG, Congresso
Brasileiro de Geologia, 30, Recife, Anais, 2: 597-610.
Dardenne M.A. 1981. Os Grupos Paranoá e Bambuí na Faixa Dobrada Brasília. In: SBG-Núcleo BA, Simpósio
Cráton do São Francisco e Faixas Marginais, 1, Salvador, Anais, 140-157.
110
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Dardenne M.A., Trompette R.R., Magalhães L.F., Soares L.A. 1986. Proterozoic and Cambrian phosphorites –
regional review: Brazil. In: Cook P.J., Shergold J.H. (Eds.). Phosphate deposits of the world. Proterozoic
and Cambrian Phosphorites, London, Cambridge University Press, p.116-131.
Dardenne M.A., Freitas-Silva F.H., Dos Santos G.M., Souza J.F.C. 1997. Depósitos de Fosfato de Rocinha e
Lagamar, Minas gerais. In: Schobbenhaus C., Queiroz, E.T. & Coelho C.E.S. (Eds). Principais depósitos
minerais do Brasil – Rochas e minerais industriais. 4v. (v. 4c). Brasília, DNPM, p.113-122.
Dardenne M.A. 2000. The Brasília Fold Belt. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Campos D.A.
(Eds.) Tectonic Evolution of South America. 31th International Geological Congress, Rio de Janeiro, Brazil,
p.231-263.
Dardenne, M.A., Schobbenhaus C. 2003. Depósitos Minerais no Tempo Geológico e Épocas Metalogenéticas.
In: Bizzi, L.A., Schobbenhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (Eds). Geologia, tectônica e recursos
minerais do Brasil – Texto, mapas e SIG. Brasília, CPRM, p. 365-448.
Deer W.A., Howie R.A., Zussman J. (Eds) 1992. Minerais constituintes das rochas – Uma introdução. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 728p.
Donnelly T.H., Shergold J.H., Southgate P.N., Barnes C.J. 1990. Events leading to global phosphogenesis
around the Proterozoic/Cambrian boundary. Geological Society, London, Special Publications; v. 52; p. 273287.
Fetter A.H. 1999. U/Pb and Sm/Nd geocronological constraints on the crustal framework and geologic history
of Ceará State, NW BorboremaProvince, NE Brazil: implications for the assembly of Gondwana. PhD
Thesis, Dep. Geology, Kansas University, Lawrence, 164p.
Fuck, R.A., Jardim de Sá, E.F., Pimentel, M.M., Dardenne, M.A. e Pedrosa-Soares. A.C. 1993. As faixas de
dobramentos marginais do Cráton São Francisco: Síntese dos conhecimentos, In: J.M.L. Domingues e A.
Misi (eds), O Cráton do São Francisco, SBG/SGM/CNPq, p.161-185.
Fuck, R.A. 1994. A Faixa Brasília e a Compartimentação Tectônica da Província Tocantins. In: SBG, Simpósio
de Geologia do Centro-Oeste, 4. Brasília. Anais, 1:184-187.
Fuck R.A., Pimentel M.M., D‟el Rey Silva L.J.H., 1994. Compartimentação tectônica na porção oriental da
Província Tocantins. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 38, Cambiriú. Boletim de Res.
Expandidos1, p.215-217.
Fuck, R.A., Pimentel, M.M., Soares, J.E.P., Dantas, E.L. 2005. Compartimentação da Faixa Brasília. In: SBG,
Simp. Geol. Centro-Oeste, 9. Goiania. Anais, 1:26-27.
Gromet L.P., Dymek R.F., Haskin L.A., Randy L.K. 1984. The “North American shale composite”: Its
compilation, major and trace element characteristics. Geochimica et Cosmochimica Acta, 48, p. 2469-2482.
Guimarães E.M. 1997. Estudos de proveniência e diagênese com ênfase na caracterização dos filossilicatos dos
grupos Paranoá e Bambuí na região de Bezerra-Cabeceiras, Goiás. Tese de Doutoramento. Instituto de
Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, 269p.
International Stratigraphic Chart 2008. International Commission on Stratigraphic. Disponível em:
http://www.stratigraphy.org/upload/ISChart2008.pdf. Acessado em: 23/07/2009.
Justo L.J.E.C. 2000. Fosfato da Serra da Bodoquena – Mato Grosso do Sul. In: Programa de Avaliação
Geólogico-econômica de insumos minerais para agricultura no Brasil, Projeto PIMA-GO/TO/MT/MS.
Goiânia, CPRM, relatório final. 38p.
Karfunkel B., Karfunkel J. 1976 . Geologia da Serra do Espinhaço no norte de Minas Gerais (ItacambiraBotumirim). In: SBG, Congr. Bras. Geol., 29, Ouro Preto, Anais. v. 2. p. 169-178.
Kazakov A.V. 1937. The phosphate facies: origin of the phosphorite and the geologic factors of formation of the
deposits. Proc. Sci. Inst. Fertilizers and Insectofungicides, 145: 1-106.
Knauer L.G. 2007. O Supergrupo Espinhaço em Minas Gerais: considerações sobre sua estratigrafia e seu
arranjo estrutural. Geonomos, 15(1): 81-90.
Köppen, W. 1948. Climatologia. Fondo de Cultura Económica. México.
Ladeira E.A., Brito, O.E.A. 1968. Contribuição à geologia do Planalto da Mata da Corda. In: SBG, Congr. Bras.
Geol., 22, Belo Horizonte, Publicaçiones, p. 181-99.
111
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Lee A.I.N. (Ed.) 1980. Fertilizer Mineral Occurrencesi n the Asia-Pacijic Region. East-West Resource Systems
Institute, East-West Center, Honolulu.
Notholt A.J.G. 1979. Resources of Precambrian and Cambrian Sedimentary Phosphate Rock. In: Cook P.J. &
Shergold J.H. (Eds). Proterozoic-Cambrian Phosphorites. Australian National University Press, Canberra,
71-86.
Lima O.N.B., Uhlein A., Britto W.de. 2007. Estratigrafia do Grupo Bambuí na Serra da Saudade e geologia do
depósito fosfático de Cedro do Abaeté, Minas Gerais. Revista Brasileira de Geociências, 37(4 –
suplemento): 204-215.
Lucas J., Flicoteaux R., Nathan Y., Prévôt L., Shahar Y. 1980. Different aspects of phosphorite weathering. In:
Bentor, Y.K. (ed.), Marine phosphorites – Geochemistry, occurrence, genesis. Oklahoma, Tulsa, Soc. Econ.
Paleont. Miner., p. 41-51 (Special Publication 29).
Mansfield G.R. 1940. The role of fluorine in phosphate deposition. American Journal of Science, 238,863-879.
Marini O.J., Liberal C.S., Reis L.T., Trindade C.A.H., Souza, S.L. 1978. Nova unidade litostratigráfica do PréCambriano do estado de Goiás, In: SBG, Congr. Bras. Geol., 30, Recife, Bol. Esp. 1: 126-127.
Marini O.J., Fuck R.A., Danni J.C.M., Dardenne M.A., Loguércio S.O., Ramalho R. 1984a. As faixas de
dobramentos Brasília, Uruaçu, Paraguai-Araguaia e o Maciço Mediano de Goiás. In: Schobbenhaus C.,
Campos D.A., Derze G.R., Asmus H.E. (Coords). Geologia do Brasil, Brasília, DNPM, p.251-303.
Marini O.J., Fuck R.A., Dardenne M.A., Danni J.C.M. 1984b. Província Tocantins, Setores Central e Sudeste.
In: Almeida F.F.M. & Hasui Y. (eds). O Pré-Cambriano do Brasil, São Paulo, Edgar Blücher, p. 205-264.
Martins G. 2000. Litogeoquímica e controles geocronológicos da suíte metamórfica Algodões-Choró, Ceará.
Tese de Doutoramento, Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 218p.
Martins-Neto M.A. & Hercos C.M. 2002. Sedimentation and tectonic setting of Early Neoproterozoic glacial
deposits in southeastern Brazil. Spec. Publs. int. Ass. Sediment, 33: 383-403.
Martins-Neto M.A., Gomes N.S., Hercos C.M., Reis L.A. 1999. Fácies glaciocontinentais (outwash plain) na
megassequência Macaúbas, norte da Serra da Água Fria (MG). Revista Brasileira de Geociências, 29(2):
281–292
McArthur J.M. 1978. Systematic variations in the contents of Na, Sr, CO 3, and SO4 in marine carbonate
fluorapatite and their relation to weathering. Chemical Geology, 21: 89-112.
McClellan G.H. & Lehr J.R. 1969. Crystal chemical investigation of natural apatites. American Mineralogist,
54: 1379-1391.
McClellan G.H. 1980. Mineralogy of carbonate fluorapatites. Journal of the Geological Society, 137(6): 675681.
McClellan G.H. & Saavedra F. N. 1986. Proterozoic and Cambrian phosphorites - specialist studies: chemical
and mineral characteristics of some Cambrian and Precambrian phosphorites. In: Cook P. J. & Shergold J.
H. (eds) Phosphate Deposits of the World, 1: Proterozoic and Cambrian Phosphorites, Cambridge
University Press, Cambridge, 244-267.
McClellan G. H. & Van Kauwenbergh S. J. 1991. Mineralogical and chemical variation of francolites with
geological time. Journal of the Geological Society, 148: 809-812.
Mendonça J.C.G.S., Campos M., Braga A.P.G., Souza E.M., Favali J.C.,Leal J.R.L.V. 1984. Jazida de Urânio
de Itataia-CE. In: Principais Depósitos Minerais do Brasil, DNPM, v.1, pp. 121-131.
Misi A. 1992. Geologia e gênese da fosforita de Irecê. Revista Brasileira de Geociências, 22:399-406.
Misi A.; Veizer J.; Kawashita K.; Dardenne M. A. 1997. The age of the Neoproterozoic carbonate platform
sedimentation based on 87sr/86sr determination, Bambuí and Una groups, Brazil. In: South American
Symposium on Isotope Geology, Campos do Jordão. Extended Abstracts, 1, p. 199-200.
Misi A., Kaufman A.J., Veizer J., Powis K., Azmy K., Boggiani P.C., Gaucher C., Teixeira J.B.G., Sanches
A.L. & Iyer S.S.S. 2007. Chemostratigraphic Correlation of Neoproterozoic Successions in South America.
Chem. Geol., 237:161-185.
Monteiro M.D., Andrade A.R.F. de, Toniatti G. 1997. Depósito de fosfato de Irecê, Bahia. In: Schobbenhaus C.,
Queiroz E. T. de, Coelho C. E. S. (eds) Principais depósitos minerais do Brasil, v. IV, parte C, DNPM,
CPRM.
112
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Montel G. 1968. Conceptions nouvelles sur la physico-chimie des phosphates de structure apatitique. Colloque
Intern. sur lês phosphates minéraux solides, 1967, Toulouse. Bulletin de la Societé Chimique de France,
número especial, p. 1693-1700.
Mourão M.A.A. (1995). A unidade fosfática da Formação Sopa-Brumadinho, Supergrupo Espinhaço (região de
Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais): Petrografia, geoquímica e considerações genéticas. Dissertação
de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, 161 p.
Nathan Y. 1984. The mineralogy and geochemistry of phosphorites. In: Nriagu & Moore (eds) Phosphate
minerals, p. 275-291.
Nogueira G.M. S. dos. 1993. Enquadramento litoestratigráfico, sedimentologia, e evolução geoquímica do
depósito fosfático de Lagamar, MG – Formação Vazante – Proterozóico Médio. Dissertação de Mestrado,
Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, 134 p.
Parrish J.T. 1982. Upwelling and petroleum source beds, with reference to Paleozoic. American Association of
Petroleum Geologists, Bulletim, 66: 750-774.
Pevear D.R. 1966. The estuarine formation of United States Atlantic coastal plain phosphorite. Economic
Geology, 61(2): 251-256.
Pflug R. & Renger F. 1973. Estratigrafia e evolução geológica da margem sudeste do Cráton Sanfranciscano. In:
SBG, Cong. Bras. Geol., 27, Aracajú. Anais, 2:5-19.
Pimentel M.M., Heaman L., Fuck R.A. 1991. U-Pb zircon and sphene geochronology of late Proterozoic
volcanic arc rock units from southwestern Goiás, central Brazil. Journal of South American Earth Sciences,
4:329-339.
Pimentel M.M., Heaman L., Fuck R.A. 1992. Idade do meta-riolito da seqüência Maratá, Grupo Araxá, Goiás:
estudo geocronológico pelos métodos U-Pb em zircões, Rb-Sr e Sm-Nd. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, 64:19-28.
Pimentel M.M., Fuck R.A., Gioia S.M.C.L. 2000. The Neoproterozoic Goiás Magmatic Arc, central Brazil: a
review and new Sm-Nd data. Revista Brasileira de Geociências, 30(1):35-39.
Pimentel M. M. & Botelho N. F. 2001. Sr and Nd isotopic characteristics of 1,77-1,58 Ga rift related granites
and volcanics of the Goiás tin province, Central Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 73: 263 –
276.
Pimentel M.M., Alvarenga C.J.S., Armstrong R. 2002. Proveniência da Formação Jequitaí, Brasil Central, com
base em dados U/Pb Shrimp em zircões detríticos. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, XLI. João
Pessoa (PB). Anais, p. 503.
Riggs S.R. 1980. Intraclast and pellet phosphorite sedimentation in the Miocene of Florida. Journal of the
Geological Society, 137: 741-748.
Rocha-Campos A.C., Young G.M., Santos P.R. 1996. Reexamination of a striated pavement near Jequitaí, MG:
implications for proterozoic stratigraphy and glacial geology. Anais Academia Brasileira de Ciências, 68
(4): 593.
Russell R.T., Trueman N.A. 1971. The geology of the Duchess phosphate deposits, northwest Queensland,
Australia. Economic Geology, 66, 1186-1214.
Sanches A.L., Misi A., Kaufman A.J., Azmy Karem 2007. As sucessões carbonáticas neoproterozóicas do
Cráton do São Francisco e os depósitos de fosfato: correlações e fosfogênese. Revista Brasileira de
Geociências, 37(4 – suplemento):182-194.
Santos R.V., Alvarenga C.J.S.de, Dardenne M.A., Sial A.N., Ferreira V.P. 2000. Carbon and oxigen isotope
profiles across Meso-Neoproterozoic limestones from central Brazil: Bambuí and Paranoá Group. Prec. Res.
104: 107-122.
Santos A.A. 2003. Caracterização litoestrutural e geocronológica da região fósforo-uranífera de Itataia-Ce.
Dissertação de Mestrado, Departamento de Geologia, Universidade Federal do Ceará, Ceará, 100p.
Schöll W.U., Fogaça A.C.C. 1979. Estratigrafia da Serra do Espinhaço na região de Diamantina (MG). In: SBGMG, Belo Horizonte, Boletim 1, p. 55-71.
Sheldon R.P. 1964. Paleolatitudinal and paleogeographic distribution of phosphorite. US Geological Survey
Professional Paper, 501-C, 106-13.
113
Universidade de Brasília – Instituto de Geociências
Fosforitos do Grupo Bambuí na região de Campos Belos (GO)/Arraias (TO) na borda oeste do Cráton São Francisco
Sheldon R.P. 1980. Episodicity of phosphate deposition and deep ocean circulation – an hypothesis. Society of
Economic Paleontologists and Mineralogists, Special Publication, 29, 239-48.
Slansky M.1979. Proposals for nomenclature and classification of sedimentary phosphate rocks. In: Cook P.J. &
Shergold J.H. (Eds). Proterozoic-Cambrian Phosphorites, Canberra, ANU Press, p. 60-3.
Slansky M. 1980. Gèologie des phosphates sedimentaires. Memoire Bureau de Recherches géologiques et
minières, 114, 92p.
Soares J.E.P., Fuck R.A., Berrocal J. 2005. Estrutura sísmica da crosta do Brasil Central: implicações na
formação da Província Tocantins. In: SBG, Simp. Geol. Centro-Oeste, 9. Goiania. Anais, 1:128-129.
Sommerauer J., Katz-Lehnert K. 1985. A newpartial substitution mechanism of CO 32-/ CO3OH3- and SiO44- for
the PO43- group in hydroxyapatite from the Kaisersthult alkaline complex (SW-Germany). Contributions to
Mineralogy and Petrology, 91:360-368.
Srivastava N.K. 1986. Os estromatólitos da formação Salitre: relatório preliminar de viagem. Salvador: CBPM.
Toledo M.C.M., Pereira, V.P. 2001. A variabilidade de composição da apatita associada a carbonatitos. Revista
do Instituto Geológico, São Paulo, 22(1/2)27-64.
Tomaz Filho A., Kawashita K., Cordani U.G. 1998. A origem do Grupo Bambuí no contexto da evolução
geotectônica e de idades radiométricas. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 70(3), 527-548.
Turekian K.K., Wedepohl K.H. 1961. Distribution of elements in some major units of the Earth‟s crust. Geol.
Soc. Am. Bull., v.72, p.175-192.
Uhlein A., Trompette R.R., Alvarenga C.J.S. de. 1999. Neoproterozoic glacial and gravitacional sedimentation
on a continental rifted margin: the Jequitaí-Macaúbas sequence (Minas Gerais, Brazil). Journal of South
American Earth Science 12: 435-451.
Uhlein A., Trompette R.R., Egydio-Silva M., Vauchez A. 2007. A Glaciação Sturtiana (~750 MA), a estrutura
do rifte Macaúbas-Santo Onofre e a estratigrafia do Grupo Macaúbas, Faixa Araçuaí. Geonomos 15(1): 4560.
Vail P.R., Mitchum R.M.Jr., Todd R.G., Widmier J.M., Thompson S. III, Sangree J.B., Bubb J.N., Hatelid W.G.
1977. Seismic stratigraphy and global changes of sea level. American Association of Petroleum Geologists
Memoir, 26,49-212.
Vieira L.C., Almeida R.P. Trindade R.I.F., Nogueira A.C.R., Janikian L. 2007. A Formação Sete Lagoas em sua
área-tipo: fácies, estratigrafia e sistemas deposicionais. Revista Brasileira de Geociências, 37(4 –
suplemento):1-14.
114
A EXOS
! "
Anexo 1A –
#
&
$
$' (
Anexo 1B –
." /0 )
#
%
)
*
+' , -
%
Anexo 1C –
1
%-
#
$' (
Anexo 1D –
1
%-
+' $
*
+'
)
#
2
*
)
$
Anexo 1E –
-
3
Anexo 1F –
1( 4 #
#
*
+' $
1
%
#
*
+' $
1
%
)
/4%44
)
Anexo 1G –
#
2
Anexo 1H –
*
%
5
1
%
1
%
' )
#
*
!
+' $
6)
+' $
Anexo 1I –
2
7
#
8 9
*
-
+' $
2
1
%
)
Anexo 2A – 1
+8
)"
1
-
=
% !
%
:
!3;
'
2
2
<
)
1 2
!( /
)
!
!
! "
#
!
!
$
!
"
!
% Fosforito
&
!
Fosforito
'
!
&
(
!
&
)
!
:
%
>
:
%
>
:
!
>
:
2
%
%
%
%
2 5
>
>
>
Fosforito
>
Fosforito
+8
$
%2
)
5
>
6
6
>
Fosforito
*
+
!
%
$
>
%
$
>
%2
2
>
#
! ) $
$
!
"
!
Fosforito
2
%
>
&
!
% Fosforito
2
%
>
'
!
Fosforito
2
%
>
(
!
%
Fosforito
2
%
>
)
!
%% Fosforito
2
%
>
!
%
$
>
>
Fosforito
2
Fosforito
!
)?
+'
+
+
5
$
$*
"
>
- +
2
>
2
:
2
5
>
>
Fosforito
2
-
5
6
-
# Fosforito
!
2
5
5
@
#
2
5
Fosforito
!
?
:
%
2
:
2
%
5
6
)"
&
?
+
+8
>
%
Fosforito
5
-
2
:
2
>
2
5
)
&
! &
! "% ? "0% 3 " $ " )
?
:
'
!
' ,- ." $/0
(
!
)
)
!
)%
:
#
!
)
:
#
! &
#
!
( !
##
!
"
#"
!
#&
6
+8
%
:
>
>
>
, 2
%
5
D
2
:
!
)3
>
:
)3
)
:
)!
:
EFG) !
'
'
6
6
!
)
>
$
! 2 +
)
)*
:
%
%
%
) :H
H
%
)!
2
%
>
Fosforito
)3
&
+'
:
- +
Fosfato
)
5 %
>
:
! #)
%
)$
2
%
5 +' >
+8
) !
E,
G) ;
>
! #)%
+8
E,
G) ;
$#
? "0)
+8
2
.
$
/C
>
3
)?
$
%
>
:
1 2 (
-
$
%
:
6
:%
+' 1
>
:
! #
#)
+' 1
:
#'
#(
A *B$ 3
:
:
2 H
?
A *B$ 3
2
.
$
+8
:
2
$$
!
& % Fosforito
$"
!
&
A
>
)1
)$
6
+8
6
6
)
2
)
fosforito
8
5 %
>
$&
I 2>
!
&
3
:
fosfato
5
Fosforito
$'
4
6
$(
4
% Fosforito 2
5
$)
4
Fosforito 2
5
"
4
Fosforito
"
4
Siltito fosfatado
"
4
$
"#
4
"$
4
A
>
:
2
5 >
>
2
>
:
:
>
&
:
5 ?
+8
>
:
>
)!
:
>
""
4
"&
-
"'
-
"(
+'
")
$
Siltito fosfatado
% $
! $
2
.
&
!
&
Fosforito
& );
%
%
%
+8
:
5
6
%
)J
' )
>
Fosforito
)$
)$
%
K
2
Fosforito 2
+
'%
5
5
>
5
& )?
: +' )
%
5
6
) !
2
>
Fosforito
)$
! $ %
D
>
>
6
&#
: %
7 5 9 EFG%
&
%
. #
:
Fosforito
5 +' ) !
.
+
&
K
+
!
%
:
)L
2
%
>
:
+'
E2
5 G) J
' );
:
+'
E2
5 G) J
' );
>
&$
! $
!
>
)
Anexo 2B – !
+8
+'
6
+
6
5
8
#
Médias de
análises de
folhelhos
(Turekian &
Wedepohl,
1961
Altschuler,
1980)
Médias de
análises de
fosforitos
marinhos
(Altschuler,
1980)
(18 amostras)
Ag
4%4O
%44 P 0%44
As
%44
%44
B
44%44
I%44
Ba
0N4%44
04%44 P 044%44
Be
%44
%I4
Cd
4% 4
N%44 P /4%44
Co
M%44
O%44
Cr
M4%44
Cu
/0%44
O0%44
Ga
M%44
/%44
Hg
(ppb)
/44%44
00%44
La
/4%44
/O%44
Li
II%44
0%44
5
#
Médias de análises de fosforitos
acamadados
5
'
E MN4G) ?
%
%2
6
6
&
Fosforito maciço
a laminado
(5 amostras)
Fosforito
acamadado
(8 amostras)
Médias de
análises de
fosforitos
brechados
(3 amostras)
4% /Q4%
E4%44 4% 4G
4% /Q0% /
EI%M4 M%I4G
4% MQ4%4/
E4% 4 4% 4G
I%OIQ % 0
E %O4 4%M4G
4% Q4%4I
E4% 4 4%/4G
0%I Q % 0
E % 4 O%M4G
/O % NQIMO% /
E 4 % 4 )O I%I4G
4% 4Q % 4
E %44 OI%44G
/% Q %OI
E % 4 4%O4G
M%44Q/%0O
E %44 0%/4G
/%O Q N% M
EN %44 ON% 4G
M%O0Q /%4
E %44 O4%44G
0%4 Q %M/
E %N4 O% 4G
O% IQ %M/
E %44 % 4G
%44Q %
EMO%44
%44G
I0% Q %N0
E0N%44 OM%44G
%I4Q %/
E %44 /%O4G
N%0OQ % 0
EI%M4 %44G
/%IIQ0%
% 4 % 4G
/% /Q % I
E %44 0%O4G
IIQ O%OO
EI4%44 M4%44G
%M Q %I/
E %M/ 0%M4G
%//Q/%IO
E0%04 N% 4G
%4/Q %4/
E %N4 /%04G
4O%04Q 0M% 0
E 4%44 /M4%44G
0%O/Q %
E % 4 M% 4G
%OOQ/%I4
E 4%44 N%M4G
%04Q4% I
E % 4 %N4G
//I%IOQ I %/
E M4%44 NI4%44G
N%OOQ %O
E0% 4 %I4G
'
)
Médias de análises de fosforitos
pedogênicos
E
Médias de
análises de
siltitos fosfatados
(2 amostras)
Médias de
análises de
siltitos
(7 amostras)
%/0Q/%I4
E4% 4 I%O4G
0%N4Q0%0
E %M4 M%O4G
4%4/Q4%40
E4%44 4% 4G
/%MIQ %/O
E % 4 M%N4G
%44Q /M%4M
4%44 )O4 %44G
0%IOQ %
E
%44 O%44G
/% Q %
E %N4 0% 4G
M%/ Q % I
EN% 4 4% 4G
M%04Q
%I/
EI0%44 M/%44G
%44QO%4O
EI%44 I%44G
%44Q %0I
E4%M4 % 4G
%O0QM% I
E0% 4 N% 4G
) /0% 4QM I%/I
E 0I%N4 )OO % 4G
% /Q %NI
E %44 O%44G
4% IQ4% /
E4%44 4%O4G
%4IQ/%/
E/%I4 O% 4G
00%MOQ 0%/
E I%N4 N/%N4G
4%44Q0%II
EI% 4 I%04G
0O % Q 04%4O
E/44%44 NI4%44G
M%44Q 4%O/
E %O4 %/4G
N% 4Q %/I
E 4% 4 I%/4G
0%/4Q % 0
E % 4 O%O4G
N4%44Q /% /
E O4%44 M4%44G
% 4Q %0M
E %/4 % 4G
0%0/Q 4% /
E % 4 M%N4G
O%44QO%0N
E %/4 /%I4G
I %NIQO %N
E 4%44 4%44G
% MQ I%M4
E %N4 /M%M4G
Fosforito
laterítico
(7 amostras)
Fosforito
concrecionário
(3 amostras)
4% /Q4% 4
E4% 4 4%/4G
%I QO%0I
EI% 4 N%04G
4%0 Q4%/M
E4% 4 % 4G
%IOQ %
%I4 /%44G
/ % IQI0% 0
%/4 //%M4G
/ %O Q/ %
EI%44 4M%44G
0% /Q % N
E %M4 N%44G
/%OMQ /%M0
E/%M4 4 %/4G
)0
E )
0%44 P O %44
E
%M/QN%/
%44 I% 4G
/%N4Q4%N4
E %O4 I% 4G
OO% /Q /N% N
E 4%4 0 4%44G
% Q %I0
EO% 4 I% 4G
E
Médias de
análises de
fosforitos
marinhos
(Altschuler
(1980)
(18 amostras)
Mn
Médias de
análises de
folhelhos
(Turekian &
Wedepohl
(1961)
Altschuler
(1980)
N04%44
Mo
%I4
M%44 P O%44
i
IN%44
0 %44
Pb
4%44
04%44
Sc
%44
%44
Se
4%I4
/%I4
Sn
I%44
%44
Sr
44%44
O04%44 P MN4%44
Ti
/)I44%44
I/4%44
U
%O4
4%44
V
4%44
44%44
Y
I%44
I4%44
Yb
%I4
/%44
Zn
M0%44
Zr
I4%44
#
)
Médias de análises de fosforitos
acamadados
Fosforito maciço
a laminado
(5 amostras)
Fosforito
acamadado
(8 amostras)
4%NIQ4%N/
E4% 4 % 4G
%I4Q O%0O
EO%44 /M%44G
0% /Q %
E % 4 O%O4G
/% 4 %M0
E %44 M%44G
4%N4Q4%/0
E4%44 %44G
4I% QN %ON
E I%O4 4%/4G
4% 0Q4% /
E4% 4 4%N4G
N% Q %OO
E M%44 O0%44G
0%IIQ %O
E %I4 %/4G
%NNQ4%MM
E %44 %44G
4% MQ4% I
E4%44 4%04G
4%O0Q4%/I
E4%44 %44G
I %M Q 0%M/
E04%O4 M %44G
% Q I% 4
E %N4 / %44G
/ % 4QN%M
E N%44 0 %44G
0% /Q % O
EO%I4 N/% 4G
%O Q % I
E4%/O 0%0OG
M0%N4Q N% 0
E I %44 ON0%44G
M% IQ %ON
EM%04 M%M4G
%/IQO% /
% 4 %/4G
O%04Q0%00
E M%44 0%44G
I% IQ %
E %/4 M%O4G
4%/NQ4% N
E4% O 4%O G
O0%NNQ 4/%4N
E 4 %44 0 0%44G
M% QM%0/
EO% 4 N%/4G
Médias de
análises de
fosforitos
brechados
(3 amostras)
Médias de análises de fosforitos
pedogênicos
Médias de
análises de
siltitos fosfatados
(2 amostras)
Médias de
análises de
siltitos
(7 amostras)
Fosforito
laterítico
(7 amostras)
Fosforito
concrecionário
(3 amostras)
%M Q4%IO
E % 4 %04G
NO%IOQ I% I
E N%44
%44G
O% Q0%4N
E % 4 %44G
I%44Q %/I
E/%44 4%44G
4% 4Q4% /
E4% 4 4%/4G
0 %04Q/O% N
E 4%44 NO%44G
%04Q/% 4
E4%I4 I%/4G
%04Q %
E %44 0%44G
4%04Q4%44
4%04Q4%44
MN%4OQ O%I
EON% 4
%/4G
% Q %/
E4% 4 M%M4G
N%44Q O%4I
E4%44 O/%44G
O% OQO%4/
EN%N4 N% 4G
/%0/Q % M
E %44 I%44G
4%4OQ4% M
E4%44 4%04G
4%NIQ4% N
E4%44 %44G
N% /QO4%MM
E0I% 4 //%I4G
% Q4%0N
E %44 %44G
M 0%0 Q N4%/N
EONO% 4 )
%M4G
NI%I4Q//%MO
E0/%N4 N%/4G
4% Q4% I
E4% 4 4%N4G
I% MQ %0/
E4%44 I %44G
I%/OQ %0/
E %I4 4%O4G
/%/ QI%IN
E %44 %44G
4% Q4% O
E4%44 4%04G
% /Q %/I
E4%44 /%44G
M%IOQ 0%N
EM%O4 0 % 4G
I% OQI%N
%N4 //% 4G
%IOQ0%
E I%44 I%44G
N% Q %
E0% 4 %/4G
4%04Q4% 4
E4%/ 4%I G
0 4%44Q /I%II
E 0I%44 I/N%44G
/%M Q %/I
E %M4 I%I4G
M% IQ N%/O
EO% 4 0I%04G
/N%O Q %4/
E O%44 II%44G
4% /QN% 0
EI%M4 M% 4G
% Q4%//
E4%I %NNG
/I %O Q 00%44
E 4I%44 OOM%44G
M%0OQ 4%N4
E N%N4 0N%M4G
/ % 4Q %0N
E M% 4 /I% 4G
0I%IOQ 4%
E/ %44 N4%44G
N%0OQO%M
E %N4 O%O4G
% Q4%I
E4%M %4 G
0/0%IOQ / %ON
E MM%44 IN %44G
0/%4OQ 0%NN
E O%I4 N %M4G
0%M4Q4% N
E0%O4 I% 4G
/4%44QO%4O
E 0%44 /0%44G
0%/0Q O%
E % 4 O%O4G
% 0Q %
E4%
% OG
I %44Q N% N
E / %44 N %44G
0%M4Q I% I
E O%/4 0/%/4G
/%4IQ %
E % 4 0%O4G
N%0OQMO% /
E %44 0O%44G
% 4Q 0%I0
E %N4 0/%O4G
%MOQ %/
E4% /%0OG
MM%/ QI/% O
E /%44 /%44G
/M% IQII%
E 0% 4 4% 4G
4%44
M0%44 P
O4%44
4%44
0%44
E
4%O Q4%04
E4% 4 % 4G
O%IOQI%N
E 4%44 %44G
I%I Q %/4
E/% 4 M% 4G
% Q4%0N
E %44 %44G
4%04Q4%44
%44Q4%44
E
%44Q4%44
#
6
7
89
:7
.
Anexo 3A – 1
+8
"
'
CB@A 4)4 )
: %
2
2
)
)
)
CB@B
4)04 )
CB@C
)4 )
: %
CB@D
)0 )
: %
CB@E
) 4 )
: %
%
+'
CB@F
)I4 )
: %
%
+'
CB@G
)4 )
: %
+
CB@H
)0 )
:
+ %
: %
)
:
%
+ %
+'
:
)
)
)
)
)
%
+8
)
CB@I
/)4 )
:
+ %
%
+8
)
CB@J
0)4 )
:
+ %
%
+8
)
CB@K 0)0 )
:
CB@L
:
I)4 )
CB@M I)O4 )
+
:
CB@
O)4 )
:
CB@O
N)4 )
:
CB@P N)0 )
:
CB@Q
+'
)
+
)
+
)
+8
%
M) 4 )
:
CB@R M)N4 )
:
%
%
+'
4)04 )
:
+
)
CB@T
)44 )
:
+
)
:
ITA 19b
:
ITA 19c
:
)
)
CB@S
ITA@19A
)
+8
)
)
)
)
+8
+8
ITA@39a –
+8
);
ITA@39b –
+8
);
)
)
2
)
!"
!
%
$
#
)
*
!
"
"%
"
"$
")
"*
"!
"
""
"
%
$
#
# "$ "%
# "# "%
# ") "%
# "* "%
# "! "%
# " "%
# "" "%
# " "%
# % "%
# "%
# $ "%
# # "%
# ) "%
#*
# ! "%
# " "%
) !" "%
) ! "%
) % "%
)
"%
) $ "%
) # "%
) ) "%
) * "%
) ! "%
&
&
&
&
&
'"%
'"%,
'"%
'!%,
'!%
,'
,'
,','.
,'
,'
,'/
,'0
,'1
,'2
,'3
,'&
,'
,'4
,'5
,'
,'
,'
,',
,'
'"($#
'"($
'"(
'"()*
' (")
'"(#
'"()"
'"()
'"()
'"()
'"()*
'"(!
'"()*
'"( *
'"(!%
'"(!
'"(!*
'"(!$
'"( %
'"( #
'"( %
'"("%
'"( $
'"(*
'"(!$
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
)
!
*
*
)
!
)
!
#
)
)
!
*
#
#
"
$
)
)
$
)
)
'#(#%
'#(
'#( #
' (!!
' ( *
')($
')( )
')(
')(#
')())
'#(
')( %
')("!
'*(%*
')(
'*(%$
'*(%"
')(!
'*(
')("#
'*(%$
'#( $
'#( !
'*(#
'*(%!
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
*
*
)
*
)
*
)
%
!
$
*
*
!
#
)
#
"
)
$
$
)
#
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
!"
()*+ ,)-.-+ -+ .,)/). $
0 + 1)/+ 2 &
#
+0+)*+-3 4
(./:,),3
%$
&5
=
66
!
66
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
#
#
#
!
#
!#
!
#
&
#
#
#<
&
<
$
$
$
$ #
$ !
$
$
$ &
$
$ <
$
$
$
$ #
$ !
$
$
$ &
$
$ <
$#
$#
$#
$##
$#!
!
##
A
&
!
<
!
!
&
<
<
&
## #
#
!<
#!
#
!
&
!
# ,. 6/+, )( 78), -),9 1)/+
;
#
$ $
$
$
>
?(
)
66
66
66
!
#
#
!<
&
!
&
!
&<
!!
#!&
!
#<
!
&&
#
!
&
&
!
#!
!!
&&
&
!
&
& #
#
<<
##
!
&
&
<
!
#
!
!
&
#
##
&
#
!#
<#
#!
#
<&
#
!
#
! <
! &
!#
&&<
&
#
&<
!!
#
&
!
&
&
&
<
<&
#
<
!
&
<
&
#$
&
&
#
#
&
#
#<
&
&
#
%
)
@
66
A
A
A
A
!"
#$ &
'
%
<
,
66
66
>
66
#
#
66
#
A
#
<
&
<
&
#
#
#
<
#
A
A
#
##
#
#
A
&
&
!
A
#
#
&
&
#&
<
#
&
&
#
!#
!
!
#
!
&
!&
=
66>
@
66
!
#
<
/
66
A
A
A
#<
#
#
A
&
#
#
&
<
#$#
A
A
A
A
A
A
#
!
A
A
A
A
A
A
A
A
!
<
A
A
&
&
&
&&
<
#
#
#
#
!
&
&
#
#
!
#
&&
#
&
##
#
<
#!
&
&
#
#
!
&<
#
<
!
#
#
#
A
!<
A
A
A
A
A
A
&
!
A
#
A
A
A
A
A
A
A
!!
A
A
A
A
A
A
A
<
&
<
#
#
!
#
# &
#
A
A
A
A
A
A
<
!
+
66
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
#
!
#
"
$ %
&
#
!
% '
" #
&
(
)
$
,
--
--
,
.
.
-.
-.
/.
.
.
.
.
.
.
.
.
$./
.
.
.
.$
.
.
.
./
.$
.
.
.
$.
.
.
$/.
$ .
$ .
.
.
.
/.
.
.
.$
.
./
.
.
.
/.$
.
.
.
.
.
.
.
.
.$
./
.
./
.
$
,
.
-.
%&
-.
-. $
' "
$./
.
.$
.
.
$.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
2 .
.
./
.
.
.
.
$.
.
$.
$.
.
.
. /
.
.
.
.
./
$.
. /
. /
.
.
.
.
.
. /
.
.$
. /
.//
.
.
.$
.
. /
.
$.
.
.
.
.
.
.
.
./
.
./
.
.$
.
.$
. $
.$
. /
.
.$
.
.$
.
./
.
.$
. /
.
-.
$
,
.
-.
-.
()
-.
(
-.
*
.
!
-.
.
.
.
.
.
.
./
.
.$$
.$
.
.
./
.$
./
.
.
.$
.$
.
.$
.
.
.
. /
.
./
$.
/.
.
.
.
.
$ .
$$.
.
.
.
.
$ .
$.
$ .
.
$.
/.
$.
.
$.
.$
.
.
.
/.$
.
,
!
,
.
!'
-.
+
,
.
.
.
.
.
$/.
.
.
.
.
$.
.
$.$
.
.
./
.
./
.
$.
$.
$.$
$.
$.
$.
$.
.$
.
$.
. $
.$
.
.
.
.
.$
.
.
. /
. /
.$
.
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
. /
$. /
.$
.
.
.
.
.
. $
.
.
. $
.
.
$.
.
.$
.
. /
.
.
.
. $
.$
.
.
.$/
2 .
.
2 .
2 .
.
./
.
.$
.
.
.
.
.
2 .
.
.
.
2 .
2 .
2 .
. $
.
.
. /
.
.
.
,
(
$/
$
$
/
/
/
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
01 -'
.
. /
. $
.
.
.
.
.
.
. $
.
.
.
.
./
$. /
$.$
. /
.
.
. /
.$
$.
$./
.
.
$. /
$
2
$
$
/
$
/
$
$
$
$
/
/
/
/$
/
$
/
$
/
$
/
/
.
$/./
/.
.
$ .
$ .$
.
.
/. $
/.$
$/. $
.
.$
.$
.$
$ .
.
/.
$ .$
/./
. $
.
.
$ .
$ .
$ .
$/.
2 .
.
2 .
2 .
.
.
.
.
.
2 .
.
.
.
.
.
.
.
2 .
2 .
2 .
2 .
2 .
.
.
.
.
.
/
/
$
$
$
$
$
$
. $
. $
.
.
.
.
.$
. /
. /
.
.$
.
.$
.
.
.$
.
.$
.
.
.
.
.$
.$
.
./
. /
.
. $
.$$
.
.
.
./
.
. $
. /
./
$.
.$
.
.
. /
.
. $
.
.$
.
.
.
.
.
$.$$
.
.
.
.
.
.
.$
.
.
./
.
$.
.
.$
$.
.
.
.
.$
.
./
.$
./
.
$.
.
.
.
.
.
.
. /
.
.
.
.$
./$
.
. $
.
.
.
. $
. $
$.
.
. /
.
. /
.
.
.
.$
.$
$./
.
.
.
.$
.
.
.
$.$
.
.
.
.
.
.
$.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.$
.
.
.
. /
.
.
.
.
.
.$
.
./$
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
. /
#
,
.
$.
2 .
.
.
. $
.
.
.
.
.
.
.
.
2 .
.
.
.
.
.
.
.
.
. $
.
.
.
.
-.
.
.
.
.
./
$.
.
.
.
.
./
.
$.
.
.
$.
.
.
.
.
.
.$
.
.$
.
.
$.
-.$
--
$.
.
$.
.
.
$.
$ .
$ .
.
$.
/.
.
.
$.
$ .
./
.
.
$.
.$
$.$
$.
.$
.
.
.
/.
2
.
-.
-.
.
. /
$ . /
.
. $
. /
.$
.$
$ .
$$. $
. /
./
.
.
.
.
$ .
$ .
.
$ .
$ .
$ .
$ ./
.
.$
.
/. /
$.
.
.
. /
$. /
$.
. /
.
.
$.
.
.
.
.
. /
$.
$.
.
./
.
.
.
.
.
$.
.
.
$.
.
.
$./
.
/.
.
$.
.
./
.$
.
.
.$
$/.
.
/.
.
.
.
.
.
$ .
.
/.
$ .
/.
,
2
2
/
$
$
/
$$
$
/
2
$
$
2
2
$
/$
/
#
30
--
2
$
$
2
$
$
3
.
34
-.
. $
.
. $
.
. $
. /
$.
./
.
/.$$
.
.
.
.
/.
.//
./
/.
$ .
/. $
$.
.
.
$ .
.
$./
.
$.$
.
.
.
.$
. $
.
.
. $
.$
.
.
.
.
.
.$
$.
. /
. /
. /
.
. /
. $
.$
.$
$.
$.
,
3
--
$
2
2
2
2
$
2
2
2
$
2
$
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
3
-.
3'4
,
.
.$
.
./
/ .
/$ .
/ .
.
/ .$
/.
.
.
./
$ .
/.
.
.
$$.$
.
.
/ .
/.
.
.
/.
.$
$.$
$.
./
./
.
.
/.
/.
.
.
.
. $
.
.//
.
.
./
/.
.
.
/.$
.$$
.
. /
.
/.$
/.
/.
/.$
5
-.
2
2
2
2
.
.$
.
.
.
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
./
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
5#
-.
56
-.
.
.
.
.
.$
.$
.
. /
.
.
.
.
./
. /
.
.$
.$
.
.
.
. /
.
.
. /
.$
.
. $
.
.
.
.
$.
$.
/.
.$
.
.
.
./
.
.
.
$.
.
.
.
./
.
.$
.
.
$.
.
$./
5
,
.
.
.
. $
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
. /
.
.
.
. $
.
.
.
.
.
.
.
54
-.
. $
.
.
.
.
.
.$
.
.
.
.
.$
. $
.
.$
.
. /
. /
.
.
.
.
.
.
.
.$
.
7
-.
$.
.
/./
.
$ .
.
.
.$
$$.
$ ./
/.
.
.
.
$.
.
.
.
/.
$$.
.
.
$.
.
./
.$
.$
-/
2/
$
$
/
/
$
$
$
$
$$
$
$
/
8
-.
$ /.
/.
.
.
$ .
$.
.
./
$ .
$ .
.
$ .
.
./
.$
.$
$ .
.
.
.
.
.$
.
.
.
$ .
.
9
-.
.
$ .
/.
.
$./
.
.
.
.
.
/.
.
$ .$
$.
.$
.
.$
./
$.
./
$.
.
.
.$
.$
.
.
9#
-.
.
.
.
.
. $
.
. $
.
.
.
.
.
.
.$
.
.$
.
. /
.$
.$
.$
.
.
.
.
.
.
:
-.
.
.
$.
.
$ .
.
/$.
/.
.
$.
.
.
.
.
/.$
.
/.
.$
$.
.$
.
.
$ .
.
$ .
.
./
! 0
! 0
5 5;
5 5;3
,
,
.
.
2 .
. /
.
.
.
.
.
. $
./
.
. /
.
.
.$/
.
.
.
./
.
.
. /
.
.
.
.
. /
.
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
%<
+
-.
%<
-.
%<
'
-.
2 .
.
.
2 .
.$
.
.
.
.
.$
.
.
2 .
.
2 .
.
.$
.$
.
.
.
.
.
.
.
.$
.$
2 .
.
$.
.
.
.
.
.
./
$.
.
.
./
.
.
.
/.
.
.
.
.
.$
.
.
.
$.
.
.
.
$.
./
.
$./
.
.
.
.
./
.
2 .
.
.
.
./
.
/.
.
.
2 .
$.
./
.
.
.
%<
-.
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
.
.
.
.
.
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
%<
-.
%<
'
-.
%<
(+
-.
2 .
.
.
2 .
.
.
./
.
.
.
.
.
2 .
$.
.
$.
$.
.
./
$.
.
.
.$
$.
.
.
.
.
.
.
.
$ ./
/ ./
.$
.
/.
.
/.
.
.
.
./
.
$ .$
.
.
.
.$
.
.
.
.$
.
.
.
.
. $
.
.
./
.
.$/
.
.
.
.
.
.
.
.
.
./
.
. /
.
.
.
.
.
.
.
%<
%<
-.
-.
%<
-#
-.
2 .
.
.
.$
$.
$.
.
/.
./
.
.
.
.
.
./
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.$
.
.
.
.
.
.
/$.
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
$.
./
.
.
.
$/.
/.$
$ .
./
/.
.
.
.$
.
$.
$.
./
$.
$.
$ .$
.
.$
.
.
/.
.
.
.
/.
.
.
.
.
.$
/.
.
$.
.
.
%<
3#
-.
%<
3
-.
%<
5
-.
2 .
.$
.
.
.
.$
.
.
.
.
.$
.$
.$
2 .
.
.
.$
.
.
.$
.
.
.
.
.
.
.
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2 .
.
2 .
2 .
.$
$.$
.
.
.
.
.
.
.
2 .
.
2 .
.
2 .
2 .
2 .
.
.
.$
.
.
.
.
2
2
2
2
2
2
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
./
./
.
.
%<
:
--
"
"
/ "'
"
,
-.
$
/
=
=
=
=
$
/$
/ =
=
$
=
$
/
/$
$
$$
/
$
=
=
=
=
=
$ =
=
=
$$ =
=
=
$
=
$ / =
. .
. .
$.
. .
.
.
.
. .
$.
$.//
$. /
. .
. .
.
. .
.
./
$.$
.
$.$
$.
$.
$.
.
. $
.$
.
!
#
"
$ %
&
#
!
% '
&
(
)
"
&
''
''
&
(
''
"
&
''
(
(
(
( "
(
(
" (-,
(,,
(
(,
(
(
",(
(
(
" (
(
"(
-(
,"(
- ("
(
-(
-(
",(,
""(
(
(
"(
-(
(
"(
(
(
(
#$
''
(
''
( "
(
(
(
(
("
((
(
(
("
"("
"("
(
(
((--("
(
( (
(,
( ((
(
"(,
"(
"(
("
(-
''
%
''
(
"
&
''
(
(
"("
(
( "
((
(",
(-,
( ,
( "
(
(
"(
("
((
-(
(
,(
. (
"(-
''
(
(
"
"
"-
"
"
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
)* '% +
,("
"(
(
"(
(,
(("
("
( ( ,
"
"
"
.
.
"
"
",
,
.
.
(
(
(
(
. (
(
(
(
. (
. (
"
"
"
((,,
(
(
( ,
(
(("
(
("
"( "(
(
( ,
(,
(
,(
("
( ( ,
/0
''
(
((
"(
(
(
"(,
(
(
(
(
/
''
(
(
(
( ( "
( ("
(
(
(
( -
1
%
&
(
(
(,
(
((
(
(
(
( "
(
''
(
(
(
-(
(
-("
" (
(
"-(
(
,("
&
(
("
(
(
""(
(
(
(
(
(
" (-
''
(
( "
(
(
(
(
( (
(
(
(
2
&
(
!
(
(,
(
(
(
(
"(
"(
("
(,,
(,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
&
.
.
.
.
.
,
"
"
"
&
''
'
''
(
(
(
"( "( "
. (
. (
(
(
(". (
. (
-(
(
(
"(
(
(
(
("
(
(,
''
&
("
"(
"((
-(
(
",("
(
"-(
(
,(,
(
.
.
.
.
.
(
(
(
(
(
(
(
( "
(
("
'
''
(
(,
(
(
( (
(
("
(
( "
(
!
''
3)
''
(
- (
- (
,,(
"(
(
(
,-((
("
(,
,
"
.
"
3
&
(
34
''
(
""(-,
- (-"( (,
(
-(-(
(-"
-( "
-("
(
(
"(
( ,
(
-(
,(
((-"
(
3
''
"
"
.
.
"
.
.
3
''
(
(
("
,"(
, ("
" (
((
(
- (
(
3%4
&
(
((,
(
(,"
(
(
(
((
(,
6
''
(
(
(((
. (
(
(
(
. (
(
6!
''
(
67
''
(
(
( ,
(
(
(
( ( ,
(,
(
(
(,
-(
(
(
(
(
(,
("
(
(
6
&
(
(
( ,
(
(
( "
(
(,
(
(
(
64
''
(
( ("
(
(
(
( "
( ,
(
(
(
8
''
''
(
(,
(
(
((
"(
(
(
(
("
,
.,
.,
"
9
''
(
"-(- (
" -(
(
" (
(
(,
(
(,
(
:
(
:!
''
(
;
''
(
,("
,("
-(,
("
(
(
(,
" (
(,(
(
( "
( ,
(
(
"(
"(",
"("("
( -
, (
(
, ("
" (
(
,(
"(
" (,
(
(,
''
)
6 6<
&
(
(,
(
( "
,(
(
(
(
((-"
,(-
)
6 6<3
&
(
(
. (
(
. (
. (
. (
. (
. (
. (
. (
#5
2
''
(
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
#5
''
(
(
(
(
-(,(
((
(
-("
,(,
#5
%
''
(
. (
(
(
(
(
. (
. (
(
(
. (
#5
''
#5
(
#5
%
''
(
(
(
(
(
(
(
. (
(
. (
. (
"("
-(
(
(
(
(
-(((
(
''
(
.
.
.
.
.
.
.
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
.
.
.
.
.
#5
/2
''
(
(
(
=
(
(
. (
(
. (
. (
(
#5
''
#5
''
(
(
(
(
("
("
(
. (
. (
(
. (
("
,((
(
-(
"(
-("
(
" ("
"(,
(
#5
'!
''
(
#5
3!
''
(
#5
3
''
(
#5
6
''
(
(
(
(
((,
(
(
(
(
(
("
(
(
(
(
(
(
(
(
(
. (
(. (
. (
. (
. (
. (
. (
. (
(
.
.
.
.
.
.
.
.
.
(
(
(
(
(
(
("
. (
. (
. (
#5
;
''
-
"
,
,"