Guia de Vigilância
Epidemiológica
© 2005. Ministério da Saúde
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual do Ministério
da Saúde: www.saude.gov.br/bvs
Série A. Normas e Manuais Técnicos
1. ed. 1985; 2. ed. 1986; 3. ed. 1992; 4. ed. 1998; 5. ed. 2002
6ª edição ampliada – 2005 – Tiragem: 2.000 exemplares
Edição e distribuição
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Departamento de Vigilância Epidemiológica
Produção: Núcleo de Comunicação
Endereço
Esplanada dos Ministérios, Bloco G
Edifício Sede do Ministério da Saúde, 1º andar
CEP: 70.058-900, Brasília/DF
E-mail: svs@saude.gov.br
Endereço eletrônico: www.saude.gov.br/svs
Produção editorial
Copidesque/revisão: Napoleão Marcos de Aquino
Projeto gráfico: Fabiano Camilo, Sabrina Lopes
Diagramação: Edite Damásio da Silva, Sabrina Lopes (revisão)
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6. ed. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2005.
816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
ISBN 85-334-1047-6
1. Vigilância epidemiológica. 2.Saúde pública. I. Título. II. Série.
NLM WA 105
Catalogação na fonte – Editora MS – OS 2005/1082
Títulos para indexação
Em inglês:
Guide to Epidemiological Surveillance
Em espanhol: Guía de Vigilancia Epidemiológica
Ministério da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
Departamento de Vigilância Epidemiológica
Guia de Vigilância
Epidemiológica
6ª edição
Série A. Normas e Manuais Técnicos
Brasília - DF
2005
Sumário
Equipe de elaboração | 7
Apresentação | 13
Introdução | 15
Capítulo 1. Vigilância epidemiológica | 17
Capítulo 2. Investigação epidemiológica de casos e epidemias | 35
Capítulo 3. Sistemas de informação em saúde e vigilância epidemiológica | 65
Capítulo 4. Sistema de vigilância epidemiológica de eventos adversos
pós-vacinais | 85
Capítulo 5. Acidentes por animais peçonhentos | 101
Capítulo 6. Doenças | 127
Aids | 129
Antraz ou carbúnculo | 153
Botulismo | 170
Cólera | 187
Coqueluche | 209
Dengue | 231
Difteria | 254
Doença de Chagas | 282
Esquistossomose mansônica | 297
Febre amarela | 307
Febre do Nilo Ocidental | 325
Febre maculosa brasileira | 330
Febre purpúrica brasileira | 344
Febre tifóide | 350
Hanseníase | 364
Hantaviroses | 395
Hepatites virais | 409
Influenza (gripe) | 434
Leishmaniose tegumentar americana | 444
Leishmaniose visceral | 467
Leptospirose | 502
Malária | 521
Meningites | 541
Parotidite infecciosa | 570
Peste | 574
Poliomielite | 587
Raiva | 603
Rubéola | 633
Sarampo | 652
Sífilis congênita | 673
Síndrome da rubéola congênita | 684
Tétano acidental | 696
Tétano neonatal | 708
Tracoma | 721
Tuberculose | 732
Varicela/Herpes zoster | 757
Varíola | 768
Bibliografia | 778
Glossário | 796
Relação de endereços | 811
Equipe de elaboração
Editores
Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde
Maria da Glória Teixeira
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva
Maria da Conceição Nascimento Costa
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva
Susan Martins Pereira
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva
Expedito Luna
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde
Eduardo Hage Carmo
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde
Estela Maria Ramos do Nascimento
Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, Diretoria de Informação e Comunicação em Saúde
Maria Adelaide Millington
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde
Fernando Barros
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde
Gerson Oliveira Penna
Universidade de Brasília, Núcleo de Medicina Tropical
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Elaboradores e colaboradores
Departamento de Vigilância Epidemiológica
Colaborador: Ricardo Gadelha de Abreu.
Coordenação de Vigilância das Doenças de
Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis
Elaboradores: Fernando Ribeiro de Barros; Marcia Lopes de Carvalho; Giselle Hentzy
Moraes; Lícia Kamila Melo; Luciane Zapellini Daufenbach; Tatiana Miranda Lanzieri;
Teresa Cristina Vieira Segatto; Tochie Massuda; Maria Glória Vicente; Neuma Terezinha
Rosseto Hidalgo; Paulo Neves Baptista Filho; Marilda M. Siqueira; Sara Jany Medeiros da
Silva; Zirlei Matos Silva; Lúcia Regina Ferraz; Lúcia Helena Berto; Tânia Maria Ibelli Vaz;
Silvana Tadeu Casagrande; Maria Selma Soares.
Colaboradores: Anita Gomes Cardoso; Carmo Elias de Andrade Melles; Vera Lúcia Simonsen; Maria Cristina Brandileone; Édson Elias da Silva; José Cerbino Neto; Maria Salet
Parise; Maria Carolina Q. Pereira; Marlene Benfica Mattos; Marília Mattos Bulhões; Naura
Inês Backes Gomes Gandin; Rosane Martins Will; Sandra Solange Leite Campos; Maria
Mazarello Franco Vilaça; Hilda Guimarães de Freitas; João Lima Filho.
Coordenação de Vigilância das Doenças
Transmitidas por Vetores e Antropozoonoses
Elaboradores: Ana Nilce Silveira Maia Elkhoury; Marcia Leite de Sousa; Wagner Alexandre
Costa; Waneska Alexandra Alves; Fan Hui Wen; Marcelo Santalucia; Vera Lúcia Carvalho
da Silva; Zouraide Guerra Antunes Costa; Emanuel Carvalho Martins; Camila Sihler;
Mauro Rosa Elkhoury; Lucia Regina Montebello Pereira; Marcelo Yoshito Wada; Rosely
Cerqueira de Oliveira; Márcio Costa Vinhaes; Antonia Lins Fernandes Carlos; Maria de
Lourdes Simões Arsky; Aderbal Henry Strugo Arruda; Francisco Anilton Araujo; Ricardo
Vianna; Wanderson Kleber de Oliveira.
Colaboradores: João Carlos Pinto Dias; Maria Gloria Teixeira; Roozevelt Ramos Bonfim.
Coordenação de Vigilância das Doenças Transmitidas por Vetores
Elaboradores: Ronaldo Santos do Amaral; Maria José Rodrigues de Menezes; Maria Aparecida Honório Tolentino; Tibério César de Morais Dantas; Helen Selma de Abreu Freitas;
João Batista Furtado Vieira; Maria de Fátima Costa Lopes.
Colaboradores: Steven K. Ault; Hélio Tadashi Yamada; Norma Helen Medina; Gilberto
Fontes; Eliana Rocha.
Gerência Técnica de Doenças Emergentes e Reemergentes
Elaboradores: Vera Lúcia Gattás; Antonio Silva Lima Neto; Alessandra Araújo Siqueira;
Dráurio Barreira Cravo Neto.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistema de Informação de Agravos de Notificação
Elaboradores: Carla Magda Allan Santos Domingues; Carolina Novaes Carvalho; Eduardo
Marques Macário; Ruth Glatt.
Coordenação de Vigilância das
Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar
Elaboradores: Rejane Maria de Souza Alves; Greice Madeleine Ikeda do Carmo; Cristiane
Penaforte do Nascimento Dimech; Moacir Gerolomo; Maria Lucilia Nandi Benatto.
Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase
Elaboradores: Rosa Castália França Ribeiro Soares; Sandra de Sousa Ribeiro Petrus; Magda
Levantezi; Vera Lúcia Gomes Andrade.
Colaboradores: Danielle Bandeira Costa de Sousa; Marleide Aurélio da Silva; Marcos
Cunha Lopes Virmond; Maurício Lisboa Nobre; Isabela Maria Fernandes Goulart; Maria
Eugênia Noviski Gallo; Adgine Freitas Dantas.
Programa Nacional de Controle da Tuberculose
Elaboradores: Cláudio Sérgio Romano; Elza Ferreira Noronha; Joseney Santos; Rui Rafael
Durlacher.
Programa Nacional de Hepatites Virais
Elaboradores: Gerusa Maria Figueiredo; João Eduardo Pereira; Katia Biscuola de Campos.
Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações
Elaboradores: Marilía Ferraro Rocha; Marly Galdino de Almeida; Márcia Vieira Leite Nascimento; Neusa Gueths; José Evoide Moura; Sâmia Abdul Samad; Sirlene de Fátima Pereira.
Colaboradores: Maria de Lourdes de Sousa Maia; Vânia Blois de Souza; Andreia de Pádua
Careli Dantas; Angela Maria Pinheiro Galvão; Heliana Raimunda de Macedo.
Programa Geral de Laboratórios de Saúde Pública
Elaboradores:Lúcia Regina Ferraz; Lúcia Helena Berto; Maria Selma Soares; Denise Santos
Correia de Oliveira; Maria Adelaide Millington; Geane Maria Oliveira; Marlene Benfica
Matos; Rômulo Henrique da Cruz; Suely Esashika.
Colaboradores: Maria Cristina C. Brandileone; Edson Elias da Silva; Tânia Mara Ibelli Vaz;
Dália dos Prazeres Rodrigues; Miyoko Jacob; Marilda Mendonça Siqueira; Terezinha Paiva;
Wyller Alencar Mello; Regina Moreira; Manoel do Carmo Pereira Soares; Clara Yoshida;
Martha Maria Pereira; Elizabeth S. Travassos da Rosa; Ivani Bisordi Ferreira; Akeme Suzuki;
Albert Ko; Maria Luiza Carrieri; Leon Rabinovtch; Cláudio Mafia; Márcio Galvão; Elvira
Mendes do Nascimento; Simone Berger Calic; Eliana Furtado; Cor Jésus Fontes; Armando
Schubach; Mitermayer Galvão Reis; Elizabeth Salbé; Hermann Schatzmayr; Iray Rocco;
José Marcos Sócrates; Marly Tenório; Alzira Paiva de Almeida.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Coordenação Geral do Programa Nacional de Controle da Malária
Elaboradores: Carlos José Mangabeira da Silva; Edmar Cabral da Silva; Carmen Lucia
Muricy; Cor Jesús Fernades Fontes; José Lázaro de Brito Ladislau; Lubélia Sá Freire da Silva;
Maria da Paz Luna Pereira; Pedro Luiz Tauil; Roseli La Corte dos Santos; Rui Moreira Braz.
Coordenação Geral do Programa Nacional de Controle da Dengue
Elaboradores: Pedro Vasconcelos; Sueli Rodrigues; Elizabeth Salbe; Hermann Schatzmayr;
Rita Nogueira; Iray Rocco; José Marcos Sócrates; Marly Tenório; Ana Cristina da Rocha
Simplício; Paulo Cesar da Silva; Giovanini Evelim Coelho; João Bosco Siqueira Junior;
Suely Esashika.
Diretoria Técnica do Programa Nacional de DST/Aids
Elaboradores: Ana Lúcia R. Vasconcelos; Carmen Correia de Barros Dhalia; Cristine
Ferreira; Denise Arakaki Sanchez; Fabio Moherdaui; Maria Fernanda Sardella Alvim
Hilton; Eduardo Campos de Oliveira; Gerson Fernando Mendes Pereira; Leidijany Costa
Paz; Pedro Chequer; Ricardo Pio Marins.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Agradecimentos
As várias edições deste Guia têm sido fruto de um trabalho coletivo que envolve profissionais e dirigentes das áreas técnicas afins do Ministério da Saúde. Os editores têm o papel de
coordenar este processo e revisar os capítulos com vistas a imprimir certa uniformidade à
publicação, além de elaborar capítulos sobre temas específicos. Assim, centenas de profissionais vêm participando ativamente desta construção, de modo que parte dos conteúdos
das edições anteriores permanecem nas edições seguintes. Nesse sentido, os editores desta
6ª edição expressam o seu reconhecimento e agradecem o empenho e contribuições de
todos os autores e colaboradores.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Apresentação
O Brasil vem acumulando importantes vitórias na área de vigilância epidemiológica, prevenção e controle de doenças, a exemplo da erradicação da poliomielite e eliminação do
sarampo. Apesar dos desafios ainda presentes, há no cenário mundial o reconhecimento de
que nosso país situa-se entre os que têm avançado na consolidação das atividades essenciais
de Saúde Pública, tendo inclusive, neste campo, contribuído com as experiências exitosas
na Região das Américas.
Certamente, a consciente participação dos profissionais de saúde tem representado
papel vital para o alcance deste reconhecimento. Para tanto, um dos instrumentos tem sido
a constante atualização dos conhecimentos que propiciam o avanço técnico das ações de
vigilância e controle de doenças transmissíveis.
A presente publicação sintetiza grande parte deste conhecimento de forma clara para
que as ações preconizadas pelo Sistema Único de Saúde nesta área sejam executadas pelos
sistemas locais com eficiência e efetividade, com vistas ao aperfeiçoamento contínuo do
Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e cumpre uma das missões mais importantes
da esfera federal de gestão do Sistema Único de Saúde: disponibilizar para toda a rede de
serviços informações e procedimentos, à luz do atual estado da arte, com vistas à promoção e proteção da saúde coletiva, bem como à prevenção de doenças que colocam em risco
indivíduos ou grupos populacionais.
Assim, tenho grande alegria em oferecer a todos os profissionais da rede de serviços
do SUS a 6ª edição do Guia de Vigilância Epidemiológica produzido pelo Ministério da
Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde.
Saraiva Felipe
Ministro de Estado da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Introdução
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde tem a satisfação de apresentar aos profissionais que integram o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde mais uma
edição, revisada e ampliada, do Guia de Vigilância Epidemiológica.
Este manual objetiva orientar os profissionais de saúde por meio de informações sistematizadas sobre as ações de investigação epidemiológica e as medidas de prevenção e controle das doenças transmissíveis. Assim, procura-se melhorar a condição de saúde de nossa
população pela eliminação e/ou atenuação dos riscos associados à rápida disseminação ou
persistência com grande impacto sobre a morbimortalidade que as mesmas apresentam.
O Guia de Vigilância Epidemiológica tem se constituído em importante instrumento
de divulgação das normas e procedimentos de vigilância e controle de doenças transmissíveis de interesse para o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Essa ação, atribuição
específica do Ministério da Saúde, é essencial para assegurar a padronização de procedimentos em todo o país e permitir a adoção das medidas capazes de prevenir e controlar as
doenças transmissíveis.
De sua elaboração participaram técnicos e dirigentes da SVS e das secretarias estaduais
e municipais de Saúde, bem como consultores especialistas em cada tema específico, que
incorporaram aos conteúdos das edições anteriores os atuais conhecimentos técnico-científicos. Além disso, as normas e procedimentos indicados consideram a capacidade operacional e os recursos disponíveis nos sistemas locais de saúde.
Esperamos que a ampla utilização do Guia contribua com seu permanente aperfeiçoamento, auxiliando o processo coletivo de construção de um sistema de vigilância
em saúde capaz de responder aos desafios postos pelo complexo perfil epidemiológico da
atualidade.
Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Secretário de Vigilância em Saúde
Ministério da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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CAPÍTULO
Vigilância
epidemiológica
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Vigilância Epidemiológica
Bases históricas e conceituais
As primeiras intervenções estatais no campo da prevenção e controle de doenças, desenvolvidas sob bases científicas modernas, datam do início do século XX e foram orientadas pelo avanço da era bacteriológica e pela descoberta dos ciclos epidemiológicos de
algumas doenças infecciosas e parasitárias. Essas intervenções consistiram na organização
de grandes campanhas sanitárias com vistas ao controle de doenças que comprometiam a
atividade econômica, a exemplo da febre amarela, peste e varíola. As campanhas valiamse de instrumentos precisos para o diagnóstico de casos, combate a vetores, imunização
e tratamento em massa com fármacos, dentre outros. O modelo operacional baseava-se
em atuações verticais, sob forte inspiração militar, e compreendia fases bem estabelecidas
– preparatória, de ataque, de consolidação e de manutenção.
A expressão vigilância epidemiológica passou a ser aplicada ao controle das doenças
transmissíveis na década de 50, para designar uma série de atividades subseqüentes à etapa de ataque da campanha de erradicação da malária, vindo a designar uma de suas fases
constitutivas. Originalmente, significava “a observação sistemática e ativa de casos suspeitos ou confirmados de doenças transmissíveis e de seus contatos”. Tratava-se, portanto, da
vigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento ou quarentena, aplicadas individualmente, e não de forma coletiva.
Na década de 60, o programa de erradicação da varíola também instituiu uma fase de
vigilância epidemiológica, subseqüente à de vacinação em massa da população. Simultaneamente, o programa disseminou a aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbito
internacional e não se vinculavam à prévia realização de uma fase de ataque. Pretendia-se,
mediante busca ativa de casos de varíola, a detecção precoce de surtos e o bloqueio imediato
da transmissão da doença. Essa metodologia foi fundamental para o êxito da erradicação
da varíola em escala mundial e serviu de base para a organização de sistemas nacionais de
vigilância epidemiológica.
A vigilância epidemiológica foi o tema central da 21ª Assembléia Mundial de Saúde
realizada em 1968, na qual se estabeleceu a abrangência do conceito, que permitia aplicação a variados problemas de saúde pública, além das doenças transmissíveis, a exemplo
das malformações congênitas, envenenamentos na infância, leucemia, abortos, acidentes,
doenças profissionais, comportamentos como fatores de risco, riscos ambientais, utilização
de aditivos, dentre outros.
No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) − 1966-73 − é reconhecida como marco da institucionalização das ações de vigilância no país, tendo fomentado e
apoiado a organização de unidades de vigilância epidemiológica na estrutura das secretarias estaduais de saúde. O modelo da CEV inspirou a Fundação Serviços de Saúde Pública
(FSESP) a organizar, em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças selecionadas
e disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de circulação quinzenal. Tal processo fundamentou a consolidação, nos níveis nacional e estadual, de bases
técnicas e operacionais que possibilitaram o futuro desenvolvimento de ações de impacto
no controle de doenças evitáveis por imunização. O principal êxito relacionado a esse esfor-
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Vigilância Epidemiológica
ço foi o controle da poliomielite no Brasil, na década de 1980, que abriu perspectivas para a
erradicação da doença no continente americano, finalmente alcançada em 1994.
Por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio
de legislação específica (Lei nº 6.259/75 e Decreto nº 78.231/76). Esses instrumentos legais
tornaram obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas, constantes de relação estabelecida por portaria. Em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual
de Vigilância Epidemiológica, reunindo e compatibilizando as normas técnicas então utilizadas para a vigilância de cada doença, no âmbito de programas de controle específicos.
O atual Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o SNVE, definindo em seu texto legal (Lei nº 8.080/90) a vigilância epidemiológica como “um conjunto de ações que
proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Além de
ampliar o conceito, as ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadas
num contexto de profunda reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela
descentralização de responsabilidades e integralidade da prestação de serviços. O Anexo 1
deste capítulo traz maiores informações sobre a atual organização do SNVE.
Por sua vez, as profundas mudanças no perfil epidemiológico das populações, no qual
se observa declínio das taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e crescente aumento das mortes por causas externas e doenças crônico-degenerativas, têm propiciado
a discussão da incorporação de doenças e agravos não-transmissíveis ao escopo de atividades da vigilância epidemiológica. Iniciativas nesta direção estão sendo adotadas tanto pelo
Ministério da Saúde/SVS como por algumas secretarias estaduais e municipais de saúde.
Propósitos e funções
Por propósito, a vigilância epidemiológica deve fornecer orientação técnica permanente
para os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações
de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam,
numa área geográfica ou população definida. Subsidiariamente, a vigilância epidemiológica
constitui-se importante instrumento para o planejamento, organização e operacionalização
dos serviços de saúde, bem como a normatização das atividades técnicas correlatas.
A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funções
específicas e intercomplementares, desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer,
a cada momento, o comportamento da doença ou agravo selecionado como alvo das ações,
de forma que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. São funções da vigilância epidemiológica:
• coleta de dados;
• processamento dos dados coletados;
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Vigilância Epidemiológica
•
•
•
•
•
análise e interpretação dos dados processados;
recomendação das medidas de controle apropriadas;
promoção das ações de controle indicadas;
avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
divulgação de informações pertinentes.
As competências de cada nível do sistema de saúde (municipal, estadual e federal)
abarcam todo o espectro das funções de vigilância epidemiológica, porém com graus de
especificidade variáveis. As ações executivas são inerentes ao nível municipal e seu exercício exige conhecimento analítico da situação de saúde local, mas cabe aos níveis nacional e
estadual conduzir as ações de caráter estratégico e longo alcance.
A eficiência do SNVE depende do desenvolvimento harmônico das funções realizadas
nos diferentes níveis. Quanto mais capacitada e eficiente for a instância local, mais oportunamente podem ser executadas as medidas de controle. Os dados e informações aí produzidos serão mais consistentes, possibilitando melhor compreensão do quadro sanitário estadual e nacional e, conseqüentemente, o planejamento adequado da ação governamental.
Nesse contexto, as intervenções oriundas dos níveis estadual e federal tenderão a tornar-se
seletivas, voltadas para questões emergenciais ou que, por sua transcendência, requerem
avaliação complexa e abrangente, com participação de especialistas e centros de referência,
inclusive internacionais.
A atual orientação para o desenvolvimento do SNVE estabelece, como prioridade,
o fortalecimento dos sistemas municipais de vigilância epidemiológica, dotados de autonomia técnico-gerencial para enfocar os problemas de saúde próprios de suas respectivas
áreas de abrangência.
1
Coleta de dados e informações
O cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidade
de dados que sirvam para subsidiar o processo de produção de informação para a ação.
A qualidade da informação depende, sobretudo, da adequada coleta de dados gerados no
local onde ocorre o evento sanitário (dado coletado). É também nesse nível que os dados
devem primariamente ser tratados e estruturados para se constituírem em um poderoso
instrumento – a informação –, capaz de subsidiar um processo dinâmico de planejamento,
avaliação, manutenção e aprimoramento das ações.
A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. A força
e o valor da informação (dado analisado) dependem da precisão com que o dado é gerado.
Portanto, os responsáveis pela coleta devem ser preparados para aferir a qualidade do dado
obtido. Tratando-se, por exemplo, da notificação de doenças transmissíveis, é fundamental
a capacitação para o diagnóstico de casos e a realização de investigações epidemiológicas
correspondentes.
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Vigilância Epidemiológica
Outro aspecto relevante refere-se à representatividade dos dados, em relação à magnitude do problema existente. Como princípio organizacional o sistema de vigilância deve
abranger o maior número possível de fontes geradoras, cuidando-se de assegurar a regularidade e oportunidade da transmissão dos dados. Geralmente, não é possível nem necessário
conhecer a totalidade dos casos. A partir de fontes selecionadas e confiáveis pode-se acompanhar as tendências da doença ou agravo, com o auxílio de estimativas de subenumeração
de casos.
O fluxo, periodicidade e tipos de dados coletados devem corresponder às necessidades
de utilização previamente estabelecidas, com base em indicadores adequados às características próprias de cada doença ou agravo sob vigilância. A prioridade de conhecimento do
dado sempre será concedida à instância responsável pela execução das medidas de controle.
Quando for necessário o envolvimento de outro nível do sistema, o fluxo deverá ser suficientemente rápido para que não ocorra atraso na adoção de medidas de controle.
Tipos de dados
Os dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica são os seguintes:
Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos
Os dados demográficos permitem quantificar grupos populacionais, com vistas à definição de denominadores para o cálculo de taxas. Dados sobre o número de habitantes, nascimentos e óbitos devem ser discriminados segundo características de sua distribuição por
sexo, idade, situação do domicílio, escolaridade, ocupação, condições de saneamento, etc.
A disponibilidade de indicadores demográficos e socioeconômicos é primordial para a
caracterização da dinâmica populacional e das condições gerais de vida, às quais se vinculam
os fatores condicionantes da doença ou agravo sob vigilância. Dados sobre aspectos climáticos
e ecológicos também podem ser necessários para a compreensão do fenômeno analisado.
Dados de morbidade
São os dados mais utilizados em vigilância epidemiológica, por permitirem a detecção
imediata ou precoce de problemas sanitários. Correspondem à distribuição de casos segundo a condição de portadores de infecções ou patologias específicas, como também de seqüelas. Trata-se, em geral, de dados oriundos da notificação de casos e surtos, da produção
de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigações epidemiológicas, da busca ativa
de casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras formas.
Seu uso apresenta dificuldades relacionadas à representatividade e abrangência dos
sistemas de informações disponíveis, à possibilidade de duplicação de registros e a deficiências de métodos e critérios de diagnóstico utilizados. Merecem, por isso, cuidados especiais
na coleta e análise.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Vigilância Epidemiológica
O SNVE deve estimular, cada vez mais, a utilização dos sistemas e bases de dados
disponíveis, vinculados à prestação de serviços, para evitar a sobreposição de sistemas de
informação e a conseqüente sobrecarga aos níveis de assistência direta à população. As
deficiências qualitativas próprias desses sistemas tendem a ser superadas à medida que se
intensificam a crítica e o uso dos dados produzidos.
Dados de mortalidade
São de fundamental importância como indicadores da gravidade do fenômeno vigiado, sendo ainda, no caso particular de doenças de maior letalidade, mais válidos do
que os dados de morbidade, por se referirem a fatos vitais bem marcantes e razoavelmente
registrados. Sua obtenção provém de declarações de óbitos, padronizadas e processadas
nacionalmente. Essa base de dados apresenta variáveis graus de cobertura entre as regiões
do país, algumas delas com subenumeração elevada de óbitos. Além disso, há proporção
significativa de registros sem causa definida, o que impõe cautela na análise dos dados de
mortalidade.
Atrasos na disponibilidade desses dados dificultam sua utilização na vigilância epidemiológica. A disseminação eletrônica de dados tem contribuído muito para facilitar o
acesso a essas informações. Considerando tais fatos, os sistemas locais de saúde devem ser
estimulados a utilizar de imediato as informações das declarações de óbito.
1
Notificação de surtos e epidemias
A detecção precoce de surtos e epidemias ocorre quando o sistema de vigilância epidemiológica local está bem estruturado, com acompanhamento constante da situação geral
de saúde e da ocorrência de casos de cada doença e agravo sujeito à notificação. Essa prática possibilita a constatação de qualquer indício de elevação do número de casos de uma
patologia, ou a introdução de outras doenças não incidentes no local e, conseqüentemente,
o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial para a adoção imediata das medidas de
controle. Em geral, esses fatos devem ser notificados aos níveis superiores do sistema para
que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração, quando necessária.
Fontes de dados
A informação para a vigilância epidemiológica destina-se à tomada de decisões – informação para a ação. Este princípio deve reger as relações entre os responsáveis pela vigilância e as diversas fontes que podem ser utilizadas para o fornecimento de dados. Dentre
essas, a principal é a notificação, ou seja, a comunicação da ocorrência de determinada
doença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer
cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.
Historicamente, a notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informaçãodecisão-ação.
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Vigilância Epidemiológica
A listagem das doenças de notificação nacional (Anexo 1) é estabelecida pelo Ministério da Saúde entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país. Os dados
correspondentes compõem o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Estados e municípios podem adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou local, justificada a sua necessidade e definidos os mecanismos operacionais correspondentes.
Entende-se que só devem ser coletados dados para efetiva utilização no aprimoramento
das ações de saúde, sem sobrecarregar os serviços com o preenchimento desnecessário de
formulários.
Dada a natureza específica de cada doença ou agravo à saúde, a notificação deve seguir
um processo dinâmico, variável em função das mudanças no perfil epidemiológico, dos
resultados obtidos com as ações de controle e da disponibilidade de novos conhecimentos
científicos e tecnológicos. As normas de notificação devem adequar-se, no tempo e no espaço, às características de distribuição das doenças consideradas, ao conteúdo de informação
requerido, aos critérios de definição de casos, à periodicidade da transmissão dos dados, às
modalidades de notificação indicadas e à representatividade das fontes de notificação.
Os parâmetros para a inclusão de doenças e agravos na lista de notificação compulsória devem obedecer os seguintes critérios:
Magnitude – aplicável a doenças de elevada freqüência, que afetam grandes contingentes populacionais e se traduzem por altas taxas de incidência, prevalência, mortalidade
e anos potenciais de vida perdidos;
Potencial de disseminação – representado pelo elevado poder de transmissão da doença, por meio de vetores ou outras fontes de infecção, colocando sob risco a saúde coletiva;
Transcendência – expressa-se por características subsidiárias que conferem relevância
especial à doença ou agravo, destacando-se: severidade, medida por taxas de letalidade, de
hospitalização e de seqüelas; relevância social, avaliada, subjetivamente, pelo valor imputado pela sociedade à ocorrência da doença e que se manifesta pela sensação de medo, repulsa ou indignação; e relevância econômica, avaliada por prejuízos decorrentes de restrições
comerciais, redução da força de trabalho, absenteísmo escolar e laboral, custos assistenciais
e previdenciários, etc.;
Vulnerabilidade – medida pela disponibilidade concreta de instrumentos específicos
de prevenção e controle da doença, propiciando a atuação efetiva dos serviços de saúde
sobre os indivíduos e coletividades;
Compromissos internacionais – relativos ao cumprimento de metas continentais ou
mundiais de controle, de eliminação ou de erradicação de doenças, previstas em acordos
firmados pelo governo brasileiro com organismos internacionais. Esses compromissos incluem obrigações assumidas por força do Regulamento Sanitário Internacional, estabelecido no âmbito da Organização Mundial da Saúde, que ainda exige a notificação compulsória
dos casos de cólera, febre amarela e peste. Entretanto, este regulamento está sendo objeto
de revisão e, possivelmente, os Estados-Membros da OMS passarão a notificar eventos inusitados que possam ter repercussões internacionais;
Ocorrência de epidemias, surtos e agravos inusitados à saúde – são situações emergenciais em que se impõe a notificação imediata de todos os casos suspeitos, com o objetivo
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Vigilância Epidemiológica
de delimitar a área de ocorrência, elucidar o diagnóstico e deflagrar medidas de controle
aplicáveis. Mecanismos próprios de notificação devem ser instituídos com base na apresentação clínica e epidemiológica do evento.
No processo de seleção das doenças notificáveis, esses critérios devem ser considerados em conjunto, embora o atendimento a apenas alguns deles possa ser suficiente para
incluir determinada doença. Por outro lado, nem sempre podem ser aplicados de modo
linear, sem considerar a factibilidade de implementação das medidas decorrentes da notificação, as quais dependem de condições operacionais objetivas de funcionamento da rede
de prestação de serviços de saúde.
O caráter compulsório da notificação implica responsabilidades formais para todo cidadão, e uma obrigação inerente ao exercício da medicina, bem como de outras profissões
na área da saúde. Mesmo assim, sabe-se que a notificação nem sempre é realizada, o que
ocorre por desconhecimento de sua importância e, também, por descrédito nas ações que
dela devem resultar. A experiência tem evidenciado que o funcionamento de um sistema de
notificação é diretamente proporcional à capacidade de se demonstrar o uso adequado das
informações recebidas, de forma a conquistar a confiança dos notificantes.
O sistema de notificação deve estar permanentemente voltado para a sensibilização
dos profissionais e das comunidades, visando melhorar a quantidade e qualidade dos dados
coletados mediante o fortalecimento e ampliação da rede. Todas as unidades de saúde (públicas, privadas e filantrópicas) devem fazer parte do sistema, bem como os profissionais de
saúde e mesmo a população em geral. Não obstante, essa cobertura universal idealizada não
prescinde do uso inteligente da informação, que pode basear-se em dados muito restritos
para a tomada de decisões oportunas e eficazes.
Aspectos que devem ser considerados na notificação:
• notificar a simples suspeita da doença. Não se deve aguardar a confirmação do caso
para se efetuar a notificação, pois isto pode significar perda da oportunidade de intervir eficazmente;
• a notificação tem de ser sigilosa, só podendo ser divulgada fora do âmbito médicosanitário em caso de risco para a comunidade, respeitando-se o direito de anonimato dos cidadãos;
• o envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausência
de casos, configurando-se o que se denomina notificação negativa, que funciona
como um indicador de eficiência do sistema de informações.
1
Além da notificação compulsória, o Sistema de Vigilância Epidemiológica pode definir doenças e agravos como de notificação simples. O Sinan, descrito no terceiro capítulo
deste Guia, é o principal instrumento de coleta dos dados de notificação compulsória.
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Vigilância Epidemiológica
Outras bases de dados dos
sistemas nacionais de informação
O registro rotineiro de dados sobre saúde, derivados da produção de serviços ou de
sistemas de informação específicos, constitui valiosa fonte de informação sobre a ocorrência de doenças e agravos sob vigilância epidemiológica. Com a progressiva implementação
de recursos informacionais no setor saúde, esses dados tendem a tornar-se cada vez mais
acessíveis por meios eletrônicos, sendo de primordial importância para os agentes responsáveis pelas ações de vigilância, em todos os níveis. Seu uso para a vigilância epidemiológica
deve ser estimulado, objetivando aprimorar a qualidade do registro e compatibilizar as informações oriundas de diferentes fontes.
Laboratórios
Os resultados laboratoriais vinculados à rotina da vigilância epidemiológica complementam o diagnóstico de confirmação de casos e, muitas vezes, servem como fonte de
conhecimento de casos que não foram notificados. Também devem ser incorporados os
dados decorrentes de estudos epidemiológicos especiais, realizados pelos laboratórios de
saúde pública em apoio às ações de vigilância.
Entretanto, o uso do laboratório como fonte de detecção de casos tem sido restrito a
algumas doenças, em situações especiais. Há necessidade de se organizar um sistema integrado de resultados das análises realizadas para diagnóstico das doenças sob vigilância,
abrangendo, inicialmente, a rede de laboratórios centrais de saúde pública nos estados (Lacens) e também a rede de hemocentros, onde é realizada a triagem sorológica de doadores
de sangue. Complementarmente, esse sistema deve ser progressivamente estendido a outros
laboratórios públicos e privados.
Investigação epidemiológica
Os achados de investigações epidemiológicas de casos e de surtos complementam as
informações da notificação no que se refere a fontes de infecção e mecanismos de transmissão, dentre outras variáveis. Também podem possibilitar a descoberta de novos casos não
notificados.
Imprensa e população
Muitas vezes, informações oriundas da imprensa e da própria comunidade são fontes
importantes de dados, devendo ser sempre consideradas para a realização da investigação
pertinente. Podem ser o primeiro alerta sobre a ocorrência de uma epidemia ou agravo inusitado, principalmente quando a vigilância em determinada área é insuficientemente ativa.
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Vigilância Epidemiológica
Fontes especiais de dados
Estudos epidemiológicos
Além das fontes regulares de coleta de dados e informações para analisar, do ponto
de vista epidemiológico, a ocorrência de eventos sanitários, pode ser necessário, em determinado momento ou período, recorrer diretamente à população ou aos serviços para obter
dados adicionais ou mais representativos, que podem ser coletados por inquérito, levantamento epidemiológico ou investigação.
Inquérito epidemiológico – estudo seccional, geralmente do tipo amostral, levado
a efeito quando as informações existentes são inadequadas ou insuficientes em virtude de
diversos fatores, dentre os quais se podem destacar: notificação imprópria ou deficiente;
mudança no comportamento epidemiológico de determinada doença; dificuldade na avaliação de coberturas vacinais ou eficácia de vacinas; necessidade de avaliação da eficácia das
medidas de controle de um programa; descoberta de agravos inusitados.
Levantamento epidemiológico – estudo realizado com base nos dados existentes nos
registros dos serviços de saúde ou de outras instituições. Não é um estudo amostral e destina-se a coletar dados para complementar informações já existentes. A recuperação de séries
históricas, para análises de tendências, e a busca ativa de casos, para aferir a eficiência do
sistema de notificação, são exemplos de levantamentos epidemiológicos.
Investigação epidemiológica – método de trabalho utilizado para esclarecer a ocorrência de doenças transmissíveis ou de agravos inusitados à saúde, a partir de casos isolados
ou relacionados entre si. Consiste em um estudo de campo realizado a partir de casos notificados (clinicamente declarados ou suspeitos) e seus contatos. Destina-se a avaliar as implicações da ocorrência para a saúde coletiva, tendo como objetivos: confirmar o diagnóstico,
determinar as características epidemiológicas da doença, identificar as causas do fenômeno
e orientar as medidas de controle. Por ser uma atividade de fundamental importância para
o processo de decisão-ação da vigilância epidemiológica, exigindo conhecimento e competência profissional, os procedimentos para sua realizaçao encontram-se detalhados em roteiro específico no segundo capítulo deste Guia.
A expressão “investigação epidemiológica” aqui utilizada tem o sentido restrito de
importante diagnóstico da vigilância epidemiológica, diferente de uma ampla conotação
como sinônimo da pesquisa científica em epidemiologia. Para diferenciar, na vigilância epidemiológica costuma ser denominada como “investigação epidemiológica de campo”.
1
Sistemas sentinelas
Nem sempre o processo de decisão-ação necessita da totalidade de casos (notificação
universal) para o desencadeamento das estratégias de intervenção, pois isto se vincula à
apresentação clínica e epidemiológica das doenças e agravos e, principalmente, aos instrumentos de controle disponíveis e indicados para cada situação específica. Para intervir em
determinados problemas de saúde pode-se lançar mão de sistemas sentinelas de informações capazes de monitorar indicadores-chave na população geral ou em grupos especiais
que sirvam de alerta precoce para o sistema de vigilância.
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Vigilância Epidemiológica
Existem vários tipos destes sistemas, como, por exemplo, a organização de redes
constituídas de fontes sentinelas de notificação especializadas, já bastante utilizadas para o
acompanhamento e vigilância da situação de câncer. Outra técnica baseia-se na ocorrência
de evento sentinela, que é a detecção de doença prevenível, incapacidade ou morte inesperada cuja ocorrência serve como sinal de alerta de que a qualidade terapêutica ou prevenção deve ser questionada. Entende-se que todas as vezes em que isto ocorra o sistema de
vigilância deve ser acionado para que o evento seja investigado e as medidas de prevenção
adotadas.
A instituição de unidades de saúde sentinelas tem sido muito utilizada no Brasil para a
vigilância das doenças infecciosas e parasitárias que demandam internamento hospitalar. O
monitoramento de grupos-alvos, através de exames periódicos, é de grande valor na área de
prevenção de doenças ocupacionais. Mais recentemente, tem-se trabalhado no desenvolvimento da vigilância de espaços geográficos delimitados em centros urbanos, denominado
vigilância de áreas sentinelas.
Diagnóstico de casos
A credibilidade do sistema de notificação depende, em grande parte, da capacidade
dos serviços locais de saúde – responsáveis pelo atendimento dos casos – diagnosticarem
corretamente as doenças e agravos. Para isso, os profissionais deverão estar tecnicamente
capacitados e dispor de recursos complementares para a confirmação da suspeita clínica. A
correta e oportuna realização do diagnóstico e tratamento assegura a confiança da população em relação aos serviços, contribuindo para a eficiência do sistema de vigilância.
Normatização
A definição de normas técnicas é imprescindível para a uniformização de procedimentos e a comparação de dados e informações produzidos pelo sistema de vigilância.
Essas normas devem primar pela clareza e constar de manuais, ordens de serviço, materiais
instrucionais e outros, disponíveis nas unidades do sistema.
Tem especial importância a definição de caso de cada doença ou agravo, visando padronizar os critérios diagnósticos para a entrada e classificação final dos casos no sistema.
Em geral, os casos são classificados como suspeitos, compatíveis ou confirmados (laboratorialmente ou por outro critério), o que pode variar segundo a situação epidemiológica
específica de cada doença.
Definições de caso devem ser modificadas ao longo do tempo, por alterações na epidemiologia da própria doença, para atender necessidades de ampliar ou reduzir a sensibilidade ou especificidade do sistema, em função dos objetivos de intervenção e, ainda, para
adequarem-se às etapas e metas de um programa especial de controle. Como exemplo, o
programa de erradicação da poliomielite adotou, ao longo de seu curso, diferentes critérios
para definir caso suspeito, compatível, provável ou confirmado.
As normas técnicas devem estar compatibilizadas em todos os níveis do sistema de
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Vigilância Epidemiológica
vigilância, para possibilitar a realização de análises consistentes, qualitativa e quantitativamente. Nesse sentido, a adaptação das orientações de nível central, para atender realidades
estaduais diferenciadas, não deve alterar as definições de caso, entre outros itens que exigem
padronização. O mesmo deve ocorrer com as doenças e agravos de notificação estadual
exclusiva, em relação às normas de âmbito municipal.
Retroalimentação do sistema
1
Um dos pilares do funcionamento do sistema de vigilância, em qualquer de seus níveis, é o compromisso de responder aos informantes, de forma adequada e oportuna. Fundamentalmente, essa resposta – ou retroalimentação – consiste no retorno regular de informações às fontes produtoras, demonstrando a sua contribuição no processo. O conteúdo da
informação fornecida deve corresponder às expectativas criadas nas fontes, podendo variar
desde a simples consolidação dos dados até análises epidemiológicas complexas correlacionadas com ações de controle. A credibilidade do sistema depende de que os profissionais
de saúde e as lideranças comunitárias se sintam participantes e contribuintes.
A retroalimentação do sistema materializa-se na disseminação periódica de informes epidemiológicos sobre a situação local, regional, estadual, macrorregional ou nacional. Essa função
deve ser estimulada em cada nível de gestão, valendo-se de meios e canais apropriados. A organização de boletins informativos, destinados a dirigentes com poder de decisão, pode auxiliar na
obtenção de apoio institucional e material para a investigação e controle de eventos sanitários.
Além de motivar os notificantes, a retroalimentação do sistema propicia a coleta de
subsídios para reformular normas e ações nos seus diversos níveis, assegurando a continuidade e aperfeiçoamento do processo.
Avaliação dos sistemas de vigilância epidemiológica
O sistema de vigilância epidemiológica mantém-se eficiente quando seu funcionamento é aferido regularmente, para correções de rumo oportunas. A avaliação do sistema
presta-se, ainda, para demonstrar os resultados obtidos com a ação desenvolvolvida, que
justifiquem os recursos investidos em sua manutenção.
Expressa-se a importância de um problema de saúde pública pelos seus indicadores
de morbidade, mortalidade, incapacidade e custos atribuídos. Nesse sentido, o reconhecimento da função de vigilância decorre, em última análise, da capacidade demonstrada em
informar com precisão, a cada momento, a situação epidemiológica de determinada doença
ou agravo, as tendências esperadas, o impacto das ações de controle efetivadas e a indicação
de outras medidas necessárias. Os resultados do conjunto de ações desenvolvidas no sistema são também medidos pelos benefícios sociais e econômicos decorrentes, em termos de
vidas poupadas, casos evitados, custos assistenciais reduzidos, etc. Informações como essas
devem ser contrapostas às despesas operacionais do sistema.
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Vigilância Epidemiológica
A manutenção em funcionamento de um sistema de vigilância envolve variadas e
complexas atividades, que devem ser acompanhadas e avaliadas continuamente, com vistas
a aprimorar a qualidade, eficácia, eficiência e efetividade das ações.
Avaliações periódicas devem ser realizadas em todos os níveis, com relação aos seguintes aspectos, entre outros: atualidade da lista de doenças e agravos mantidos no sistema; pertinência das normas e instrumentos utilizados; cobertura da rede de notificação
e participação das fontes que a integram; funcionamento do fluxo de informações; abrangência dos tipos de dados e das bases informacionais utilizadas; organização da documentação coletada e produzida; investigações realizadas e sua qualidade; informes analíticos
produzidos, em quantidade e qualidade; retroalimentação do sistema, quanto a iniciativas
e instrumentos empregados; composição e qualificação da equipe técnica responsável; interação com as instâncias responsáveis pelas ações de controle; interação com a comunidade
científica e centros de referência; condições administrativas de gestão do sistema; e custos
de operação e manutenção.
As medidas quantitativas de avaliação de um sistema de vigilância epidemiológica incluem sensibilidade, especificidade, representatividade e oportunidade; e as qualitativas,
simplicidade, flexibilidade e aceitabilidade.
Sensibilidade é a capacidade de o sistema detectar casos; especificidade expressa a
capacidade de excluir os “não-casos”. A representatividade diz respeito à possibilidade de
o sistema identificar todos os subgrupos da população onde ocorrem os casos. A oportunidade refere-se à agilidade do fluxo do sistema de informação.
A simplicidade deve ser utilizada como princípio orientador dos sistemas de vigilância, tendo em vista facilitar a operacionalização e reduzir os custos. A flexibilidade
se traduz pela capacidade de adaptação do sistema a novas situações epidemiológicas ou
operacionais (inserção de outras doenças, atuação em casos emergenciais, implantação de
normas atualizadas, incorporação de novos fatores de risco, etc.), com pequeno custo adicional. A aceitabilidade se refere à disposição de indivíduos, profissionais ou organizações,
participarem e utilizarem o sistema. Em geral, a aceitação está vinculada à importância do
problema e à interação do sistema com os órgãos de saúde e a sociedade em geral (participação das fontes notificantes e retroalimentação).
Perspectivas
Uma das características dos sistemas de vigilância epidemiológica é estar permanentemente acompanhando o desenvolvimento científico e tecnológico por meio da articulação com a sociedade científica e formação de comitês técnicos assessores. Essa articulação
é importante por possibilitar a atualização dinâmica das suas práticas mediante a incorporação de novas metodologias de trabalho, avanços científicos e tecnológicos de prevenção
(imunobiológicos, fármacos, testes diagnósticos, etc.) e aprimoramento das estratégias operacionais de controle. A rápida evolução das ferramentas computacionais, aliadas à redução
dos seus custos, vem possibilitando o desenvolvimento de sistemas de informações mais
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Vigilância Epidemiológica
agéis que contribuem significativamente para tornar mais oportunas as intervenções neste
campo da saúde pública.
A atual política de descentralização do sistema de saúde está proporcionando um salto
qualitativo para a reorganização dos sistemas locais de vigilância epidemiológica (Anexo
1). As secretarias estaduais estão, cada vez mais, deixando de desempenhar o papel de executoras para assumir as responsabilidades de coordenação, supervisão e monitoramento
das ações.
Os profissionais de saúde têm como desafio atual trabalhar para o desenvolvimento
da consciência sanitária dos gestores municipais dos sistemas de saúde, para que passem a
priorizar as ações de saúde pública e trabalhem na perspectiva de desenvolvimento da vigilância da saúde, que tem como um dos seus pilares de atuação a vigilância epidemiológica
de problemas de saúde prioritários, em cada espaço geográfico.
Nesta perspectiva, descreve-se no Anexo 2 deste capítulo o novo modelo de organização do sistema de vigilância epidemiológica, com a definição das principais atribuições das
três esferas de governo.
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1
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Vigilância Epidemiológica
Anexo 1
Portaria nº 2.325/GM Em, 8 de dezembro de 2003
Define a relação de doenças de
notificação compulsória para
todo o território nacional.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e tendo em vista
o disposto no art. 8º, inciso I, do Decreto nº 78.231, de 12 de agosto de 1976, e na Portaria nº
95/2001 do Ministério da Saúde, que regulamentam a notificação compulsória de doenças
no País, e ainda considerando a necessidade de regulamentar os fluxos e a periodicidade
dessas informações,
RESOLVE:
Art. 1º Os casos suspeitos ou confirmados das doenças constantes no Anexo I desta
Portaria são de notificação compulsória às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e ao
Ministério da Saúde.
Parágrafo único. A ocorrência de agravo inusitado à saúde, independentemente de
constar desta relação, deverá também ser notificada imediatamente às autoridades sanitárias mencionadas no caput deste artigo.
Art. 2º A definição de caso, o fluxo e instrumentos de notificação para cada doença
relacionada no Anexo I desta Portaria deverão obedecer à padronização definida pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – SVS/MS.
Art. 3º Os gestores municipais e estaduais do Sistema Único de Saúde poderão incluir
outras doenças e agravos no elenco de doenças de notificação compulsória, em seu âmbito
de competência, de acordo com o quadro epidemiológico local.
Parágrafo único. A inclusão de outras doenças e agravos deverá ser definida conjuntamente entre os gestores estaduais e municipais e a SVS/MS.
Art. 4º Fica delegada competência ao Secretário de Vigilância em Saúde para editar
normas regulamentadoras desta Portaria.
Art. 5º Fica revogada a Portaria nº 1.943/GM, de 18 de outubro de 2001, publicada no
DOU nº 204, Seção 1, pág. 35, de 24 de outubro de 2001.
Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
HUMBERTO COSTA
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Vigilância Epidemiológica
Anexo I. Lista nacional de agravos de notificação compulsória
Botulismo
1
Carbúnculo ou “antraz”
Cólera
Coqueluche
Leishmaniose tegumentar americana
Leishmaniose visceral
Leptospirose
Malária
Dengue
Difteria
Doença de Chagas (casos agudos)
Doenças meningocócicas e outras meningites
Meningite por Haemophilus influenzae
Peste
Poliomielite
Paralisia flácida aguda
Esquistossomose (em área não-endêmica)
Febre amarela
Febre do Nilo
Febre maculosa
Raiva humana
Rubéola
Síndrome da rubéola congênita
Sarampo
Febre tifóide
Hanseníase
Hantaviroses
Hepatites virais
Sífilis congênita
Síndrome da imunodeficiência adquirida (aids)
Síndrome respiratória aguda grave
Tétano
Infeccção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)
em gestantes e crianças expostas ao risco de transmissão vertical
Tularemia
Tuberculose
Varíola
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Vigilância Epidemiológica
Anexo 2
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) compreende o conjunto articulado de instituições do setor público e privado, componente do Sistema Único de Saúde
(SUS), que, direta ou indiretamente, notifica doenças e agravos, presta serviços a grupos
populacionais ou orienta a conduta a ser tomada para o controle dos mesmos.
Reorganização do Sistema de Vigilância Epidemiológica: desde a implantação do SUS,
o SNVE vem passando por profunda reorganização operacional, para adequar-se aos princípios de descentralização e de integralidade da atenção à saúde. Esse processo foi bastante
impulsionado a partir das Portarias nº 1.399/GM, de 15/12/99, e nº 950, de 23/12/99. Estes
instrumentos legais instituíram o repasse fundo-a-fundo dos recursos do governo federal
para o desenvolvimento das atividades de epidemiologia, vigilância e controle de doenças,
rompendo os mecanismos de repasses conveniais e por produção de serviços. Além disso,
estabeleceu os requisitos e atividades mínimas de responsabilidade municipal, a definição
do teto de recursos financeiros e a transferência de recursos humanos dos níveis federal e
estadual para o municipal.
A definição do teto financeiro para estados e municípios considerou: diferenças epidemiológicas regionais e operacionais (três diferentes estratos); valores diferenciados, de acordo com a extensão territorial do município; e acréscimo de um valor fixo per capita para os
municípios que assumem a gestão das ações de vigilância e controle de doenças. As referidas portarias estabelecem as competências da União, estados, Distrito Federal e municípios;
as condições para certificação dos diferentes níveis, na gestão das ações de epidemiologia e
controle de doenças; a PPI (Programação Pactuada Integrada) como eixo de negociação das
ações desta área, a forma de repasse fundo-a-fundo, a partir da certificação dos estados e
municípios; descentralizam as atividades de controle de endemias, anteriormente sob a responsabilidade executiva da Funasa; e recomendam a articulação dos serviços de vigilância
epidemiológica com o Programa Saúde da Família, entre outras disposições.
São reconhecidas as dificuldades existentes nos municípios para assegurar o pleno
desenvolvimento de um sistema de vigilância epidemiológica sensível e efetivo. Há insuficiência de recursos humanos, resistências institucionais ao processo de descentralização,
incipiente capacidade instalada para diagnóstico, investigação e implementação de ações
de controle e, ainda, limitações dos recursos disponíveis para o setor saúde. Não obstante,
os instrumentos legais específicos instituídos representam importante avanço no SUS, por
propiciar a capacitação e ampliação das equipes de profissionais que atuam em vigilância
epidemiológica, elevando a capacidade da análise de informações e execução das ações dos
municípios, conferindo maior agilidade ao desencadeamento de ações decorrentes.
Os resultados das estratégias adotadas poderão ser maximizados pela atuação competente das Comissões Bipartites e dos Conselhos Sociais de cada sistema local de saúde.
Além disso, a flexibilidade parcial do uso dos recursos do Teto Financeiro de Epidemiologia
e Controle de Doenças pode propiciar a construção de modelos de gestão, pautados no
conceito de vigilância à saúde, com vistas a impulsionar o processo de atenção integral à
saúde da população brasileira.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
CAPÍTULO
2
Investigação
epidemiológica de
casos e epidemias
2
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
A ocorrência de casos novos de uma doença (transmissível ou não) ou agravo (inusitado ou não), passíveis de prevenção e controle pelos serviços de saúde, indica que a população está sob risco e pode representar ameaças à saúde que precisam ser detectadas
e controladas ainda em seus estágios iniciais. Uma das possíveis explicações para que tal
situação se concretize encontra-se no controle inadequado de fatores de risco, por falhas
na assistência à saúde e/ou medidas de proteção, tornando imperativa a necessidade de seu
esclarecimento para que sejam adotadas as medidas de prevenção e controle pertinentes.
Nestas circunstâncias, a investigação epidemiológica de casos e epidemias constitui atividade obrigatória de qualquer sistema local de vigilância epidemiológica.
A investigação epidemiológica deve ser iniciada imediatamente após a notificação de
casos isolados ou agregados de doenças/agravos, quer sejam suspeitos, clinicamente declarados ou mesmo contatos, para os quais, as autoridades sanitárias considerem necessário
dispor de informações complementares.
2
Investigação epidemiológica é um trabalho de campo, realizado a partir de casos notificados (clinicamente declarados ou suspeitos) e seus contatos, que tem por principais
objetivos: identificar a fonte de infecção e o modo de transmissão; os grupos expostos
a maior risco e os fatores de risco; bem como confirmar o diagnóstico e determinar as
principais características epidemiológicas. O seu propósito final é orientar medidas
de controle para impedir a ocorrência de novos casos.
A necessidade de uma resposta rápida, para que as medidas de controle possam ser
instituídas, muitas vezes determina que alguns procedimentos utilizados não apresentem o
rigor necessário para o estabelecimento de uma relação causal. Portanto, embora a investigação epidemiológica de campo apresente diversas semelhanças com a pesquisa epidemiológica, distingue-se desta principalmente por duas diferenças importantes:
• as investigações epidemiológicas de campo iniciam-se, com freqüência, sem hipótese clara. Geralmente, requerem o uso de estudos descritivos para a formulação de
hipóteses que posteriormente deverão ser testadas por meio de estudos analíticos −
na maioria das vezes, estudos de caso-controle;
• quando ocorrem problemas agudos que implicam em medidas imediatas de proteção
à saúde da comunidade, a investigação de campo deve restringir a coleta dos dados e
agilizar sua análise, com vistas ao desencadeamento imediato das ações de controle.
A gravidade do evento representa um fator que condiciona a urgência no curso da investigação epidemiológica e na implementação de medidas de controle. Em determinadas situações, especialmente quando a fonte e o modo de transmissão já são evidentes, as ações de
controle devem ser instituídas durante ou até mesmo antes da realização da investigação.
A orientação do tratamento dos pacientes e, principalmente, a definição e adequação
das medidas de controle, que devem ser adotadas em tempo hábil, ou seja, antes que o
evento atinja maiores dimensões, dependem fundamentalmente das informações coletadas
durante a investigação. Assim, esta atividade da vigilância epidemiológica deve ser entendi-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
da como um desafio para a resolução de um problema de saúde individual, de algum modo
relacionado a outros indivíduos da comunidade e que, portanto, pode estar representando
sério risco à população.
Uma investigação epidemiológica envolve o exame do doente e de seus contatos, com
detalhamento da história clínica e de dados epidemiológicos, além da coleta de amostras
para laboratório (quando indicada), busca de casos adicionais, identificação do(s) agente(s)
infeccioso(s) quando se tratar de doença transmissível, determinação de seu modo de transmissão ou de ação, busca de locais contaminados ou de vetores e identificação de fatores
que tenham contribuído para a ocorrência dos casos. O exame cuidadoso do caso e de seus
comunicantes é fundamental, pois, dependendo da enfermidade, pode-se identificar suas
formas iniciais e instituir rapidamente o tratamento (com maior probabilidade de sucesso)
ou proceder o isolamento, visando evitar a progressão da doença na comunidade.
Pode-se dizer, de modo sintético, que uma investigação epidemiológica de campo consiste na repetição das etapas listadas a seguir, até que os objetivos sejam alcançados:
• consolidação e análise de informações já disponíveis;
• conclusões preliminares a partir dessas informações;
• apresentação das conclusões preliminares e formulação de hipóteses;
• definição e coleta das informações necessárias para testar as hipóteses;
• reformulação das hipóteses preliminares, caso não sejam confirmadas, e comprovação da nova conjectura, caso necessária;
• definição e adoção de medidas de prevenção e controle, durante todo o processo.
De modo geral, quando da suspeita de doença transmissível de notificação compulsória, o profissional da vigilância epidemiológica deve buscar responder várias questões
essenciais para o controle da doença. Dentre elas, destacam-se:
Investigação epidemiológica
Questões a serem respondidas
Informações produzidas
Trata-se realmente de casos da doença que se suspeita?
Confirmação do diagnóstico
Quais são os principais atributos individuais dos casos?
Identificação de características biológicas,
ambientais e sociais
A partir do quê ou de quem foi contraída a doença?
Fonte de infecção
Como o agente da infecção foi transmitido aos doentes?
Modo de transmissão
Outras pessoas podem ter sido infectadas/afetadas
a partir da mesma fonte de infecção?
Determinação da abrangência da transmissão
A quem os casos investigados podem ter transmitido
a doença?
Identificação de novos casos/contatos/
comunicantes
Que fatores determinaram a ocorrência da doença ou
podem contribuir para que os casos possam transmitir
a doença a outras pessoas?
Identificação de fatores de risco
Durante quanto tempo os doentes podem transmitir a doença? Determinação do período de transmissibilidade
38
Como os casos encontram-se distribuídos no espaço
e no tempo?
Determinação de agregação espacial e/ou
temporal dos casos
Como evitar que a doença atinja outras pessoas ou
se dissemine na população?
Medidas de controle
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
O profissional responsável pela investigação epidemiológica deve estar atento para
orientar seu trabalho na perspectiva de buscar respostas às questões acima referidas. Deve
entender, ainda, que muitos passos desta atividade são realizados de modo simultâneo e que
a ordem aqui apresentada deve-se apenas a razões didáticas.
Investigação de casos de uma doença
Em geral, os pacientes que apresentam quadro clínico compatível com doença incluída
na lista de notificação compulsória, ou algum agravo inusitado, necessitam de atenção especial tanto da rede de assistência à saúde quanto dos serviços de vigilância epidemiológica, os
quais devem ser prontamente disponibilizados. Salientam-se, portanto, os procedimentos a
seguir descritos.
Assistência médica ao paciente − primeira providência a ser tomada no sentido de
minimizar as conseqüências do agravo para o indivíduo. Quando a doença for de transmissão pessoa a pessoa, o tratamento contribui para reduzir o risco de transmissão. Portanto,
dependendo da magnitude do evento, a equipe de vigilância epidemiológica deve buscar
articulação com os responsáveis pela rede de assistência à saúde, para que seja organizado
o atendimento à população.
Qualidade da assistência − verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade
de saúde com capacidade para prestar assistência adequada e oportuna, de acordo com as
características clínicas da doença.
Proteção individual − quando necessário, adotar medidas de isolamento, considerando a forma de transmissão da doença (entérica, respiratória, reversa, etc.).
Proteção da população − logo após suspeita diagnóstica, adotar as medidas de controle coletivas específicas para cada tipo de doença.
2
Os fundamentos de uma investigação de campo são aplicados tanto para o esclarecimento da ocorrência de casos como de epidemias. Várias etapas são comuns a ambas
situações, sendo que para a segunda alguns procedimentos complementares são necessários. Para facilitar o trabalho dos profissionais, apresenta-se em primeiro lugar
o roteiro de investigação de casos, com as atividades comuns a qualquer investigação
epidemiológica de campo, inclusive de epidemias. Posteriormente, são descritas as
etapas específicas para esta última situação.
Roteiro de investigação de casos
Neste item, são descritas de forma sucinta as várias etapas de uma investigação epidemiológica. Embora apresentadas em seqüência, algumas delas são desenvolvidas paralela e
simultaneamente, visto tratar-se de um processo dinâmico.
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Etapa 1. Coleta de dados sobre os casos
Em geral, as unidades de saúde dispõem de formulários padronizados do Sinan
(Ficha de Investigação Epidemiológica) para a maioria das doenças incluídas no sistema
de vigilância epidemiológica (ver como exemplo a Ficha Epidemiológica de Dengue no
Anexo 1).
Quando se tratar de evento inusitado, uma ficha de investigação especial deverá ser
elaborada, considerando-se as características clínicas e epidemiológicas da doença/
agravo suspeito.
O preenchimento desta ficha deve ser muito cuidadoso, registrando-se com o máximo
de exatidão possível as informações de todos os seus campos. O investigador poderá acrescentar novos itens que considere relevantes. O espaço reservado para “observações” deve ser utilizado para anotar informações adicionais que possam ajudar no esclarecimento do evento.
Dados obtidos mediante entrevista com o paciente, familiares, médicos e outros informantes:
Identificação do paciente − nome, idade, sexo, estado civil, profissão, local de trabalho e de residência, com ponto de referência;
Anamnese e exame físico − data de início dos primeiros sintomas, história da moléstia atual, antecedentes mórbidos, antecedentes vacinais, mudanças de hábitos nos dias
antecedentes aos sintomas e dados do exame físico;
Suspeita diagnóstica − na pendência de dados complementares para firmar o diagnóstico, devem ser formuladas as principais suspeitas visando possibilitar a definição de
medidas de controle preliminares e a solicitação de exames laboratoriais;
Meio ambiente − depende do tipo de doença investigada. Por exemplo, se a suspeita
for uma doença de veiculação hídrica são essenciais as informações sobre o sistema de abastecimento e o tratamento de água, bem como o destino de resíduos líquidos, sólidos e lixo,
alagamentos, chuvas; em outros casos, podem estar envolvidos insetos vetores, inseticidas
e pesticidas, etc.;
Exames laboratoriais − devem ser solicitados com vistas ao esclarecimento do diagnóstico do paciente, fontes de contaminação, veículo de transmissão e pesquisa de vetores,
conforme cada situação.
É importante salientar que embora os exames laboratoriais representem importante
contribuição para a conclusão diagnóstica, em muitas ocasiões não se faz necessário aguardar os seus resultados para dar início às medidas de controle.
Etapa 2. Busca de pistas
Esta é uma etapa essencial da investigação epidemiológica, pois visa buscar subsídios
que permitirão responder a várias das questões formuladas. Cabe ao investigador, considerando os dados já coletados nas etapas anteriores, estabelecer que outras informações são importantes para o esclarecimento do evento, sendo relevante para este raciocínio identificar:
• fontes de infecção (a exemplo de água, alimentos, ambiente insalubre, etc.);
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• período de incubação do agente;
• modos de transmissão (respiratória, sexual, vetorial, etc.);
• faixa etária, sexo, raça e grupos sociais mais acometidos (características biológicas
e sociais);
• presença de outros casos na localidade (abrangência da transmissão);
• possibilidade da existência de vetores ligados à transmissão da doença;
• fatores de risco: época em que ocorreu (estação do ano); ocupação do indivíduo; situação de saneamento na área de ocorrência dos casos (fonte de suprimento de água,
destino dos dejetos e do lixo, etc.); outros aspectos relevantes das condições de vida
nas áreas de procedência dos casos (hábitos alimentares, aspectos socioeconômicos,
etc.); potenciais riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos, etc.).
2
As equipes de outras áreas devem ser acionadas para troca de informações e complementação de dados a serem utilizados nas análises (parciais e final), no sentido de permitir
uma caracterização mais abrangente do evento e orientar os passos seguintes da investigação. Ou seja, a avaliação dessas e de outras variáveis, em seu conjunto, fornecerão as
pistas que contribuirão para a identificação do problema e a tomada de medidas mais específicas orientadas para o seu controle.
Etapa 3. Busca ativa de casos
O propósito desta etapa é identificar casos adicionais (secundários ou não) ainda não
notificados ou aqueles oligossintomáticos que não buscaram atenção médica, e tem como
finalidade:
• tratar adequadamente esses casos;
• determinar a magnitude e extensão do evento;
• ampliar o espectro das medidas de controle.
Para isso, deve-se identificar e proceder a investigação de casos similares no espaço
geográfico onde houver suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa. Esta
busca de casos pode ser restrita a um domicílio, rua ou bairro e/ou ser realizada em todas
as unidades de saúde (centros, postos de saúde, consultórios, clínicas privadas, hospitais,
laboratórios, etc.), ou ainda ultrapassar as barreiras geográficas de municípios ou estados,
conforme as correntes migratórias ou características dos veículos de transmissão.
Etapa 4. Processamento e análises parciais dos dados
Na medida em que se dispor de novos dados/informações, deve-se sempre proceder
análises parciais visando definir o passo seguinte, até que a conclusão da investigação e as
medidas de controle tenham se mostrado efetivas. A consolidação, análise e interpretação
dos dados disponíveis devem considerar as características de pessoa, tempo, lugar e os
aspectos clínicos e epidemiológicos, para a formulação de hipóteses quanto ao diagnóstico clínico, fonte de transmissão, potenciais riscos ambientais e efetividade das medidas de
controle adotadas até o momento.
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Quando a investigação não se referir a casos isolados, os dados colhidos deverão ser
consolidados em tabelas, gráficos, mapas da área em estudo, fluxos de pacientes e outros.
Essa disposição fornecerá uma visão global do evento, permitindo a avaliação de acordo
com as variáveis de tempo, espaço e pessoas (quando? onde? quem?), possível relação causal (por quê?), e deverá ser comparada com a informação referente a períodos semelhantes
de anos anteriores.
Uma vez processados, os dados deverão ser analisados criteriosamente. Quanto mais
oportuna e adequada for a análise, maior será a efetividade desta atividade, pois orientará
com mais precisão o processo de decisão-ação.
Etapa 5. Encerramento de casos
Nesta etapa da investigação epidemiológica, as fichas epidemiológicas de cada caso
devem ser analisadas visando definir qual critério (clínico-epidemiológico-laboratorial; clínico-laboratorial; clínico-epidemiológico) foi ou será empregado para o diagnóstico final,
considerando as definições de caso específicas para cada doença, de acordo com as instruções constantes neste Guia.
Etapa 6. Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório que inclua a descrição do evento (todas as etapas da investigação), destacando-se:
• causa da ocorrência, indicando, inclusive, se houve falhas da vigilância epidemiológica e/ou dos serviços de saúde e quais providências foram adotadas para sua correção;
• se as medidas de prevenção implementadas em curto prazo estão sendo executadas;
• descrição das orientações e recomendações, a médio e longo prazos, a serem instituídas tanto pela área de saúde quanto de outros setores;
• alerta às autoridades de saúde dos níveis hierárquicos superiores, nas situações que
coloquem sob risco outros espaços geopolíticos.
Em situações de eventos inusitados, após a coleta dos dados dos primeiros casos,
deve-se padronizar o conjunto de manifestações clínicas e evidências epidemiológicas, definindo-se o que será considerado como “caso”.
Este documento deverá ser enviado aos profissionais que prestaram assistência médica
aos casos, bem como aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade, autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis
pela investigação e controle do evento.
Investigação de surtos e epidemias
Os primeiros casos de uma epidemia, em uma determinada área, sempre devem ser
submetidos à investigação em profundidade. A magnitude, extensão, natureza do evento,
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
forma de transmissão e tipo de medidas de controle indicadas (individuais, coletivas ou
ambientais) são alguns elementos que orientam a equipe sobre a necessidade de investigar
todos ou apenas uma amostra dos casos.
O principal objetivo da investigação de uma epidemia ou surto de determinada doença infecciosa é identificar formas de interromper a transmissão e prevenir a ocorrência de
novos casos. As epidemias também devem ser encaradas como experimentos naturais, cuja
investigação permite a identificação de novas questões a serem objeto de pesquisas, e seus
resultados poderão contribuir para o aprimoramento das ações de controle.
É essencial a detecção precoce de epidemias/surtos para que as medidas de controle
sejam adotadas oportunamente, de modo que grande número de casos e óbitos possam ser
prevenidos. Além da prevenção de novos casos e surtos, a investigação desse tipo de evento
pode contribuir para a descoberta de novos agentes, novas doenças e novos tratamentos,
além de ampliar o conhecimento sobre novas doenças e as já conhecidas e fazer com que a
população passe a ter mais confiança no serviço público de saúde.
2
Epidemia – elevação do número de casos de uma doença ou agravo, em determinado
lugar e período de tempo, caracterizando de forma clara um excesso em relação à
freqüência esperada.
Surto – tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena e
bem delimitada ou a uma população institucionalizada (creches, quartéis, escolas, etc.).
Planejamento do trabalho de campo
Antes de iniciar o trabalho de investigação, os profissionais da vigilância epidemiológica deverão procurar apreender o conhecimento disponível acerca da doença que se suspeita estar causando a epidemia, e ainda:
• verificar o material e equipamentos necessários para realizar a investigação;
• prever a necessidade de viagens, insumos e outros recursos que dependam de aprovação de terceiros, para as devidas providências;
• definir, junto aos superiores, seus papéis no processo de investigação (executor, assessor da equipe local, líder da investigação, etc.);
• constituir equipes multiprofissionais, se necessário. Nestes casos, o problema e as
atividades específicas a serem desenvolvidas deverão ser discutidos previamente em
conjunto, bem como as respectivas atribuições;
• a equipe deve partir para o campo com informações acerca do encaminhamento
de pacientes para tratamento (unidades básicas e de maior complexidade, quando indicado), material para coleta de amostras biológicas, roteiro de procedimento
de coletas, procedimentos para transporte de amostras, laboratórios de referências,
dentre outras.
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Roteiro de investigação de epidemia ou surto
Etapa 1. Confirmação do diagnóstico da doença
Quando da ocorrência de uma epidemia, torna-se necessário verificar se a suspeita
diagnóstica inicial enquadra-se na definição de caso suspeito ou confirmado da doença
em questão, à luz dos critérios definidos pelo sistema de vigilância epidemiológica (vide
capítulos específicos deste Guia). Para isso, deve-se proceder, imediatamente, as etapas 1
e 2 apresentadas no roteiro de investigação de casos, pois os dados coletados nestas etapas
servirão tanto para confirmar a suspeita diagnóstica como para fundamentar os demais
passos da investigação da epidemia.
Deve-se estar atento para que, na definição de caso, não seja incluída uma exposição
ou fator de risco que se deseja testar.
Em geral, no início da investigação, emprega-se uma definição de caso mais sensível,
que abrange casos confirmados e prováveis (e até mesmo os possíveis), a fim de facilitar a
identificação, a extensão do problema e os grupos populacionais mais atingidos, processo
que pode levar a hipóteses importantes. Somente quando as hipóteses se tornarem mais
claras o investigador utilizará uma definição mais específica e restrita. Neste caso, por terem
sido excluídos os “falsos-positivos”, será possível testar hipóteses aplicando o instrumental
da epidemiologia analítica.
Para doenças incluídas no Sistema de Vigilância Epidemiológica utilizam-se as definições padronizadas encontradas nos itens específicos deste Guia. Quando se tratar de agravo
inusitado, após a coleta de dados clínicos e epidemiológicos, estabelece-se uma definição
de “caso” com sensibilidade suficiente para identificar o maior número de suspeitos. Esta
definição também poderá ser aperfeiçoada no decorrer da investigação, quando já se dispuser de mais informações sobre as manifestações clínicas da doença, área de abrangência
do evento, grupos de risco, etc.
De acordo com a suspeita, um plano diagnóstico deve ser definido para orientar a coleta
de material para exames laboratoriais, envolvendo, a depender da doença, amostra proveniente dos indivíduos (fezes, sangue, líquor, etc.) e do ambiente (água, vetores, mechas, etc.).
Etapa 2. Confirmação da existência de epidemia ou surto
O processo de confirmação de uma epidemia ou surto envolve o estabelecimento do
diagnóstico da doença e do estado epidêmico − o qual diz respeito a uma situação dinâmica
e transitória, ainda que possa ser prolongada, caracterizada pela ocorrência de um número
infreqüente de casos em dado momento e lugar. Considerando-se que freqüência inusitada, tempo e lugar são aspectos fundamentais para estabelecer fidedignamente um estado
epidêmico, torna-se imprescindível conhecer a freqüência habitual (nível endêmico) desses
casos naquele lugar e período. A confirmação decorre da comparação dos coeficientes de
incidência (ou do número de casos novos) da doença no momento da ocorrência do evento
investigado com aqueles usualmente verificados na mesma população (ver Anexo 2).
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Quando do diagnóstico de uma epidemia, faz-se importante observar os cuidados necessários para o descarte de uma série de outras circunstâncias que não uma epidemia, as
quais podem explicar porque o número de casos da doença superou o valor esperado, tais
como:
• mudanças na nomenclatura da doença;
• alteração no conhecimento da doença que resulte no aumento da sensibilidade
diagnóstica;
• melhoria do sistema de notificação;
• variação sazonal;
• implantação ou implementação de programa de saúde que resulte no aumento da
sensibilidade de detecção de casos.
2
Breve análise da tendência temporal da doença deve ser realizada imediatamente, para
que se disponha de uma síntese de sua história natural (a doença vinha apresentando tendência estacionária, ascendente, descendente ou com oscilação periódica?).
Etapa 3. Caracterização da epidemia
As informações disponíveis devem ser organizadas de forma a permitir analisar algumas características e responder questões relativas à sua distribuição no tempo, lugar e
pessoa. Por exemplo:
Relativas ao tempo
− Qual o período de duração da epidemia?
− Qual o período provável de exposição?
Como o período de incubação das doenças é variável, a curva epidêmica (representação gráfica da distribuição dos casos ocorridos durante o período epidêmico, de acordo
com a data do início da doença) expressa a dispersão dos períodos de incubação individuais,
em torno de uma média na qual a maioria dos casos está agrupada (ver Anexos 3 e 4). Um
aspecto importante a ser considerado na construção desta curva é a escolha do intervalo de
tempo adequado para o registro dos casos. Na escolha desse intervalo, um critério útil é que
o mesmo se situe entre 1/8 e 1/4 do período de incubação da doença em questão.
Relativas ao lugar (distribuição espacial)
− Qual a distribuição geográfica predominante? Bairro de residência, escola, local
de trabalho ou outra?
A análise espacial permite identificar se o surto/epidemia afeta uniformemente toda a
área, ou se há locais que concentram maior número de casos e de maior risco. Por exemplo,
quando a distribuição apresenta uma concentração dos mesmos em determinado ponto,
isto sugere que a água, alimento ou outras fontes comuns, possam ser os possíveis veículos
de transmissão.
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Relativas às pessoas
− Quais são os grupos etários e sexo mais atingidos?
− Quais são os grupos, segundo o sexo e idade, expostos a maior risco de adoecer?
− Que outras características distinguem os indivíduos afetados da população geral?
A descrição dos casos deve considerar as características individuais (sexo, idade, etnia,
estado imunitário, estado civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas, costumes,
etc.) e condições de vida (estrato social, condições ambientais, situação econômica).
A caracterização de uma epidemia é muito útil para a elaboração de hipóteses com
vistas à identificação das fontes e modos de transmissão, além de auxiliar na determinação de sua duração.
Etapa 4. Formulação de hipóteses preliminares
Embora, na realidade, o desenvolvimento de conjecturas ocorra desde o momento
de conhecimento da epidemia, a leitura das informações relativas à pessoa, tempo e lugar
possibilita a formulação de hipóteses mais consistentes e precisas.
As hipóteses devem ser testáveis, uma vez que esta avaliação constitui uma das etapas
da investigação epidemiológica.
Hipóteses provisórias são elaboradas com base nas informações obtidas anteriormente
(análise da distribuição segundo características de pessoa, tempo e lugar) e na análise da
curva epidêmica, já que esta representa um fato biológico a partir do qual pode-se extrair
uma série de conclusões, tais como: se a disseminação da epidemia ocorreu por veículo
comum, por transmissão pessoa a pessoa ou por ambas as formas; provável período de exposição dos casos às fontes de infecção; período de incubação; provável agente causal.
Pela curva epidêmica do evento pode-se perceber se o período de exposição foi curto
ou longo, se a epidemia está em ascensão ou declínio e se tem períodos (dias, meses) de
remissão e recrudescimento de casos, dentre outras informações.
No contexto da investigação de uma epidemia, as hipóteses são formuladas com vistas
a determinar a fonte de infecção, o período de exposição dos casos à mesma, o modo de
transmissão, a população exposta a um maior risco e o agente etiológico.
De maneira geral, a hipótese relativa à fonte de infecção e modo de transmissão pode
ser comprovada quando:
• a taxa de ataque para expostos for maior que para não expostos e a diferença entre
elas, estatisticamente significante;
• nenhum outro modo de transmissão pode determinar a ocorrência de casos com
mesma distribuição geográfica e etária.
Avaliação de hipóteses – quando as evidências epidemiológicas, clínicas, laboratoriais
e ambientais são suficientes para apoiar as hipóteses, torna-se desnecessário o seu teste
formal pois os fatos estabelecidos são suficientes. Entretanto, quando as circunstâncias são
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menos evidentes, deve-se lançar mão da epidemiologia analítica cuja característica principal é a utilização de um grupo de comparação. Nesta circunstância podem ser empregados
os estudos tipo caso-controle. Ressalte-se que estas estratégias são também utilizadas para o
refinamento de hipóteses inicialmente não bem fundamentadas ou quando da necessidade
de estudos adicionais.
Etapa 5. Análises parciais
Em cada etapa da investigação e com periodicidade definida de acordo com a magnitude e gravidade do evento (diária, semanal, mensal), deve-se realizar os seguintes procedimentos:
• consolidação dos dados disponíveis, de acordo com as características de pessoa,
tempo e lugar;
• análises preliminares dos dados clínicos e epidemiológicos;
• discussão das análises com outros profissionais;
• formulação de hipóteses quanto ao diagnóstico clínico, fonte de transmissão e potenciais riscos ambientais;
• identificação de informações adicionais, necessárias para a elucidação das hipóteses
levantadas e a continuidade da investigação;
• identificação de informações adicionais, necessárias para a avaliação da efetividade
das medidas de controle adotadas;
• definição de outras medidas de controle, quando necessárias.
2
Etapa 6. Busca ativa de casos
Objetiva reconhecer e proceder a investigação de casos similares no espaço geográfico
onde haja suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa, cuja abrangência, conforme descrito na investigação de caso, é mais ou menos ampla em função dos
dados coletados nas etapas anteriores. Caso necessário, as equipes de outras áreas devem
ser acionadas para troca de informações e complementação de dados a serem utilizados
nas análises (parciais e final), visando caracterizar o evento e orientar os novos passos da
investigação.
Etapa 7. Busca de dados adicionais
Quando necessário, pode-se conduzir uma investigação minuciosa de todos os casos ou
de amostra representativa dos mesmos, visando esclarecer/fortalecer as hipóteses iniciais.
Etapa 8. Análise final
Os dados coletados são consolidados em tabelas, gráficos, mapas da área em estudo e
fluxos de pacientes. Essa disposição fornece uma visão global do evento, permitindo a avaliação de acordo com as variáveis de tempo, espaço, pessoa (quando? onde? quem?) e a relação
causal (por quê?) que deverá ser comparada com períodos semelhantes de anos anteriores.
É importante lembrar que em situações epidêmicas, além das freqüências simples,
torna-se necessário calcular os indicadores epidemiológicos (coeficientes de incidência,
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letalidade e mortalidade). Uma vez processados, os dados deverão ser analisados criteriosamente. Quanto mais oportuna e adequada for a análise, maiores serão as possibilidades de
precisão, sob bases firmes, do processo de decisão-ação.
Caso as informações não sejam suficientes para uma conclusão sobre o mecanismo
causal do evento, em algumas situações deve-se proceder ou sugerir a realização de pesquisa epidemiológica (caso-controle, prevalência) capaz de verificar a existência de associações
ou mesmo testar as hipóteses levantadas.
Etapa 9. Medidas de controle
Logo após a identificação das fontes de infecção, modo de transmissão e população
exposta a elevado risco de infecção, devem ser recomendadas as medidas adequadas de
controle, bem como um relatório circunstanciado, a ser amplamente divulgado a todos os
profissionais de saúde envolvidos no processo.
Na realidade, quando se conhece a fonte de um surto/epidemia, as medidas de controle devem ser imediatamente implementadas, pois este é o objetivo primordial da maioria
das investigações epidemiológicas. As medidas podem ser direcionadas para qualquer elo
da cadeia epidemiológica, quer seja o agente, fonte ou reservatórios específicos, visando
interromper a cadeia de transmissão ou reduzir a susceptibilidade do hospedeiro.
Etapa 10. Relatório final
Os dados da investigação devem ser sumarizados em relatório que contenha a descrição do evento (todas as etapas da investigação), incluindo tabelas e gráficos, e as principais
conclusões e recomendações, das quais destacam-se:
• situação epidemiológica atual do agravo;
• causa da ocorrência, indicando, inclusive, se houve falhas da vigilância epidemiológica e/ou dos serviços de saúde e que providências foram ou serão adotadas para a
devida correção;
• se as medidas de prevenção implementadas a curto prazo estão sendo executadas;
• descrição das orientações e recomendações, a médio e longo prazos, a serem instituídas tanto pela área de saúde quanto por outros setores;
• alerta às autoridades de saúde dos níveis hierárquicos superiores, naquelas situações
que coloquem sob risco outros espaços geopolíticos.
Etapa 11. Divulgação
O relatório deve ser enviado aos profissionais que prestaram assistência médica aos
casos, aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, aos representantes da comunidade, às autoridades locais e à administração central dos órgãos responsáveis pela
investigação e controle do evento. Sempre que possível, quando se tratar de surto ou agravo
inusitado, deve-se divulgar, por boletins, um resumo da investigação.
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Características da investigação de surtos
de doença transmitida por alimento (DTA)
Os surtos de doença transmitida por alimento (DTA) possuem características que demandam procedimentos especiais. Muitas vezes, é difícil estabelecer a etiologia da doença,
pois em geral estes surtos são produzidos por vários agentes etiológicos e se expressam por
variadas manifestações clínicas. Por esta razão, diferentemente das outras doenças também
importantes para o Sistema de Vigilância Epidemiológica, não há definições de casos preestabelecidas. A notificação de casos só se torna obrigatória quando da suspeita de ocorrência
de surto.
Os propósitos fundamentais desta investigação são determinar as circunstâncias nas
quais o surto foi produzido e obter informações que possam orientar as medidas necessárias para evitar novos casos. As atividades desenvolvidas envolvem, basicamente, comensais, definição de caso e coleta de amostras clínicas, bromatológicas e toxicológicas, além
da inspeção sanitária. Como em outras situações epidêmicas, os dados devem ser continuamente analisados para possibilitarem, paralelamente à investigação, a adoção de medidas de
prevenção e controle (processo informação-decisão-ação).
O DTA será registrado no formulário Inquérito Coletivo de Surto de Doença Transmitida por Alimento, disponível no Sinan.
Investigações deste tipo de evento envolvem, obrigatoriamente, desde o primeiro momento, as vigilâncias epidemiológica e sanitária, e na maioria das vezes profissionais de
outros setores, tais como do Ministério da Agricultura, da indústria de alimentos (empresas produtoras, fornecedoras e distribuidoras) e de companhias de abastecimento de água,
dentre outros.
As seguintes orientações devem ser feitas no momento da notificação:
• evitar que os alimentos suspeitos continuem a ser consumidos ou vendidos;
• guardar sob refrigeração todas as sobras de alimentos, na forma em que se encontram acondicionados, até a chegada do grupo encarregado da investigação;
• preservar as embalagens e respectivos acondicionamentos, quando a suspeita estiver
relacionada a produtos industrializados;
• orientar os doentes a não se automedicarem, mas, sim, a procurarem o serviço de
saúde.
2
Planejamento das atividades
Por se tratar de evento muitas vezes grave, súbito e de curta duração, é essencial o
rápido e adequado planejamento das atividades a serem desenvolvidas, logo que se tenha o
conhecimento da suspeita, atentando-se especificamente para:
• avaliar o quadro clínico dos doentes, principalmente dos mais graves, visando a obtenção de informações que orientem as hipóteses diagnóstica e terapêutica;
• providenciar o meio de transporte (se necessário), os formulários e o material necessário à coleta de amostras;
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• constituir uma equipe para participar da investigação e discutir, conjuntamente, sobre o problema e as atividades a serem desencadeadas;
• informar a ocorrência do surto ao laboratório de referência para que prepare-se para
receber e processar as amostras;
• iniciar rapidamente a investigação e coletar as amostras antes que os doentes recebam medicação e os alimentos suspeitos sejam descartados;
• informar nível hierárquico superior.
Em surtos de grande magnitude, a investigação pode ser feita por amostragem. Na
impossibilidade de realizar tal procedimento, deve-se entrevistar o maior número possível
de comensais.
Roteiro da investigação de DTA
A metodologia da investigação epidemiológica é a mesma apresentada para os casos e
epidemias. A seguir, detalhamos informações e procedimentos específicos para as etapas de
eventos relacionados à toxiinfecção alimentar.
Etapas 1 e 2
Confirmação do diagnóstico da doença e existência do surto: diagnosticar a doença
e identificar o(s) agente(s) etiológico(s) − obter dados sobre os comensais (doentes e não
doentes), alimentos ingeridos (tipo, procedência, manipulação, acondicionamento), definição de caso para o evento específico (considerando quadro clínico, período de incubação,
tempo e lugar), coleta de amostras clínicas (de doentes, não doentes, manipuladores usuais
e não usuais), inspeção sanitária (inspeção da cozinha e de manipuladores) e coleta de
amostras bromatológicas e toxicológicas.
Em seguida, verificar:
• duração do período de incubação;
• sintomas predominantes;
• taxa de ataque global no grupo afetado;
• circunstâncias que envolveram o acidente.
Para a identificação do agente causal, pode-se lançar mão de duas estratégias:
• reduzir ao mínimo a lista de alimentos suspeitos, considerando cuidadosamente sua
qualidade e as circunstâncias: bom meio de cultura (leite, cremes, etc.); exposição a
temperatura ambiente; manipulação inadequada; oportunidades de contaminação;
tempo transcorrido entre a manipulação e o consumo; procedência, etc;
• realizar inquérito epidemiológico individual entre doentes e não doentes, incluindo
coleta de material para exames (única possibilidade para se fazer diagnóstico laboratorial na ausência de sobras de alimentos).
Confirmação da existência do surto – as DTA podem apresentar-se tanto sob a forma
de um surto resultante de exposição maciça comum de curta duração (partilhamento de
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
refeição em situações especiais: casamentos, aniversários, reuniões, etc.) ou como exposição maciça comum prolongada (provocada por partida de alimento contaminado, acidente
com rede de abastecimento de água, etc.).
Recomenda-se que sejam investigados:
• os estabelecimentos onde o alimento suspeito foi preparado e consumido, particularmente:
❯ o cardápio do dia em que ocorreu o surto;
❯ a procedência e método de preparação dos alimentos constantes do cardápio;
❯ os métodos de armazenamento dos alimentos de fácil decomposição (antes e depois de cozidos);
❯ a procedência dos alimentos servidos;
❯ a higiene e saúde dos manipuladores dos alimentos;
❯ a presença no corpo dos empregados de lesões nas mãos ou em qualquer parte
descoberta ou processos supurativos da rinofaringe;
❯ a evidência da presença de insetos e roedores.
2
• as pessoas que estavam ou supunha-se estar presentes quando os alimentos suspeitos
foram servidos e consumidos (anotar dados na ficha específica):
❯ identificar os alimentos ingeridos até 48 horas antes do aparecimento dos sintomas (na suspeita de febre tifóide, este período deve ser de 7-21 dias);
❯ verificar os dados clínicos e epidemiológicos.
• os pacientes hospitalizados ou atendidos por médico particular:
❯ obter dados relativos a sintomas, laboratoriais e diagnóstico e tratamento.
Etapas 3 e 4
Caracterização da epidemia e formulação de hipóteses preliminares:
• identificar a população acometida e/ou sob risco, de acordo com a característica do
evento: comensais, não comensais, população que utiliza a mesma fonte de abastecimento de água, rastreamento da rede de distribuição do(s) alimento(s) suspeito(s),
identificação dos consumidores deste(s) alimento(s) segundo o local de ocorrência
e registro dos casos diagnosticados considerando a data de aparecimento dos sintomas, dentre outros;
• a partir dos dados coletados, formular hipóteses considerando os fatores de risco
associados ao surto e a possível fonte de infecção;
• coletar amostras para exames laboratoriais (bromatológicos, toxicológicos, bacteriológicos) dos indivíduos (casos e não casos) e do ambiente, orientadas pelas hipóteses
inicialmente formuladas.
Etapas 5, 6 e 7
Análise parcial, busca ativa de casos e de dados adicionais:
• verificar se as hipóteses formuladas estão consistentes com os dados coletados e se
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Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
as medidas de controle e tratamento adotadas são consonantes com a possível fonte
de infecção, modo de transmissão, possível agente causal, etc. Após esta análise preliminar, determinar se há necessidade de se realizar busca ativa de casos, de acordo
com as orientações dos roteiros de investigação de casos e epidemias;
• contatar com a pessoa/instituição responsável pela organização do evento (se a suspeita ocorreu em casamento, aniversário, confraternização, seminário, etc.) ou com
os organismos responsáveis pelo abastecimento de água e/ou produção, armazenamento e distribuição dos alimentos suspeitos.
Teste de hipótese – dependendo do tipo, magnitude e abrangência do evento, muitas
vezes faz-se necessário realizar um estudo de caso-controle para testar as hipóteses. Nestas
situações, deve-se:
• definir caso e não-caso: não incluir os fatores de risco que se deseja testar na definição de caso;
• determinar o tamanho da amostra (pode ser calculado no Epi-info);
• definir o instrumento de coleta de informações (que pode ser a Ficha Individual
de Investigação de DTA, disponível no Sinan. Pode-se acrescentar, caso necessário,
variáveis específicas ao evento);
• definir e fazer treinamento rápido dos entrevistadores, para padronizar a coleta de
informações;
• realizar o processamento e análise dos dados;
• interpretar os resultados.
Quando o nível local não dispuser de profissional capacitado para desenvolver este
tipo de estudo, deve-se buscar apoio nos níveis hierárquicos superiores.
Etapa 8
Medidas de prevenção e controle:
• evitar que os alimentos suspeitos continuem a ser consumidos, distribuídos e comercializados;
• analisar e avaliar a cadeia alimentar envolvida, identificando pontos críticos para o
controle;
• orientar quanto à mudança no processo de manipulação, produção, acondicionamento, armazenamento e/ou conservação do alimento;
• manter a educação continuada dos profissionais envolvidos no processo de produção e serviços;
• estimular a implantação e implementação de normas e rotinas referentes ao assunto;
• estabelecer e estimular um fluxo sistemático com outras instituições integrantes do
processo, tais como Secretaria de Agricultura, universidades, Secretaria de Educação, Ação Social, Meio Ambiente, etc.;
• garantir o acesso da população às informações e conhecimentos necessários à prevenção e controle dos surtos de DTA;
52
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
• manter as unidades de saúde ou demais serviços informadas sobre o andamento da
investigação;
• repassar informações ao público;
• estimular a notificação de surtos de DTA.
Etapa 9
Processamento e análise final, relatório final e divulgação.
2
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
53
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Anexo 1
SINAN
República Federativa do Brasil
Ministério da Saúde
DENGUE
FICHA DE INVESTIGAÇÃO
Dados Gerais
1 Tipo de Notificação
Nº
SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO
2 Data da Notificação
2- Individual
| | | | |
|
|
|
|
|
DENGUE
|
|
| | | | |
A 9 0
|
10 Sexo
D - dias
M - meses
A - anos
|
|
|
|
|
|
|
14 Nome da mãe
|
|
|
|
|
|
|
|
Código
|
17 Complemento (apto., casa, ...)
|
|
|
Distrito
|
|
|
|
Código (IBGE)
|
23 (DDD) Telefone
|
|
|
|
19 UF
Código (IBGE)
21 Bairro
|
16 Número
|
18 Ponto de Referência
20 Município de Residência
| ||
|
1-Nenhuma 2-De 1 a 3 3-De 4 a 7 4-De 8 a 11
5-De 12 e mais 6- Não se aplica 9-Ignorado
1-Branca 2-Preta 3-Amarela
4-Parda 5-Indígena 9-Ignorado
15 Logradouro (rua, avenida,...)
|
|
12 Escolaridade (em anos de estudo concluídos)
11 Raça/Cor
M - Masculino
F - Feminino
I - Ignorado
13 Número do Cartão SUS
|
|
8 Data de Nascimento
| | | | |
(ou) Idade
9
|
6 Data dos Primeiros Sintomas
Código (CID10)
7 Nome do Paciente
Dados do Caso
|
Código
4 Unidade de Saúde (ou outra fonte notificadora)
5 Agravo
Dados de Residência
|
Código (IBGE)
3 Município de Notificação
|
|
24 Zona 1 - Urbana 2 - Rural
3 - Urbana/Rural 9 - Ignorado
|
|
22 CEP
|
|
|
|
|
|
|
-
|
|
Código
25 País (se residente fora do Brasil)
|
|
|
|
Dados Complementares do Caso
Antecedentes Epidemiológicos
26 Data da Investigação
|
| | | |
27 Ocupação / Ramo de Atividade Econômica
|
|
28 Deslocamento (datas e locais frequentados no período de 15 dias anteriores ao início de sinais e sintomas)
Data
Município
29 Teve Dengue Antes?
30 Caso Sim
Ano
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
|
|
UF
País
31 Vacinado Contra Febre Amarela?
1- Sim 2- Não 9- Ignorado
|
32 Data da Última Dose
| | | | |
Sinais e Sintomas
34 Data de Início da Febre
33 Febre
1- Sim 2- Não 9- Ignorado
|
37 Outros Sinais e Sintomas
Dados Clínicos
1- Sim 2- Não 9- Ignorado
|
35 Duração da Febre em Dias
|| || ||
Dor Retro-Orbitária
Mialgia
Artralgia
Exantema
Prostração
Náuseas/Vômitos
Outros:__________________
1- Sim 2- Não 9- Ignorado
Diarréia
Epistaxe
Gengivorragia
Hematúria
Petéquias
Metrorragia
Sangramento Gastrointestinal
Outros:_________________________
39 Derrame Cavitário
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
1- Sim 2- Não 9- Ignorado
36 Prova do Laço
1 - Positiva 2 - Negativa 3 - Não Realizada
Cefaléia
38 Manifestações Hemorrágicas Espontâneas
40 Sinais de Alerta e/ou Gravidade
|
Ascite
Derrame Pleural
Derrame Pericárdico
Dor Abdominal Intensa
Hipotensão Arterial/Postural
Manifestações Neurológicas
Hepatomegalia Dolorosa
Choque Hipovolêmico
Insuficiência Hepática
Miocardite
Outros:_______________________
41 Data do Choque ou Hipotensão
|
|
|
|
|
Dengue
54
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
CENEPI 02.4 30/05/01
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Atendimento
42 Ocorreu Hospitalização?
Data da Internação
43
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
| |
|
| |
44 UF 45 Município do Hospital
|
|
|
46 Nome do Hospital
47
| | | | | | |
48 Endereço do Hospital
50 Hematócrito (maior)
49 Data da Coleta
|
| | | |
|
|
|
53 Data da Coleta
|
|
|
|
|
57 Data da Coleta (1ª Amostra)
|
| | | |
|
60 Data do Resultado (1ª Amostra)
|
| | | |
|
| | | |
|
|
|
| | | |
|
|
Isolamento Viral
|
|
|
1 - Reagente
2 - Não Reagente
3 - Inconclusivo
4 - Não Realizado
|
|
|
mm3
|
2
56 Plaquetas (menor)
| | | |
Soro 1ª Amostra
63 Tipo de Material
1 - Sim
2 - Não
9 - Ignorado
62 Colheu Material
1 - Sim
2 - Não
9 - Ignorado
|
61 Data do Resultado (2ª Amostra)
|
|
|
|
|
|
59 Resultado
58 Data da Coleta (2ª Amostra)
|
| | | |
55 Data da Coleta
%
|
52 Plaquetas (maior)
51 Data da Coleta
%
|
54 Hematócrito (menor)
| | | |
|
|
Sorologia
Dados do Laboratório
(DDD) Telefone
| |
|
|
mm3
|
Títulos
IgM IgG
S1
1: | | | |
_________________________
S2
_________________________
1: | | | |
64 Resultado
Soro 2ª Amostra
1 - Sorotipo 1
3 - Sorotipo 3
Tecidos
2 - Sorotipo 2
4 - Sorotipo 4
5 - Não Detectado
Patologia
66 Imunohistoquímica
1 - Positivo
2 - Negativo
65 Histopatologia
1 - Compatível
2 - Negativo
3 - Não Realizado
PCR
67 Tipo de Amostra
68 Resultado
1 - Soro
1 - Positivo 2 - Negativo
2 - Tecidos
3 - Não Realizado
Outro
69 Tipo de Amostra
1 - Soro
2 - Tecidos
70 Resultado
1 - Positivo 2 - Negativo
Téc. Utilizada_____________________________
71 Classificação Final
1 - Dengue Clássico
4 - Síndrome do Choque de Dengue
2 - Dengue com Complicações
5 - Descartado
3 - Febre Hemorrágica do Dengue - FHD
72 Critério de Confirmação/Descarte
1 - Laboratório
2 - Vinculo-Epidemiológico
73 No Caso de FHD Especificar
Conclusão
1 - Grau I
2 - Grau II
3 - Grau III
4 - Grau IV
Local Provável de Infecção (no período de 15 dias)
74 UF
77 Bairro
76 Município
75 País
|
79 Doença Relacionada ao Trabalho
78 Distrito
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
80 Evolução do Caso
81 Data do Óbito
1 - Cura 2 - Óbito 9 - Ignorado
|
| | | |
82 Data do Encerramento
|
|
|
| | | |
|
|
Investigador
Observações:
Dengue
83 Município/Unidade de Saúde
84 Cód. da Unid. de Saúde
|
85 Nome
86 Função
|
|
|
|
|
87 Assinatura
CENEPI 02.4 30/05/01
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
55
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Anexo 2
Como calcular o nível endêmico de uma doença
e diagnosticar a ocorrência de uma epidemia
Um dos métodos utilizados para a verificação de ocorrência de uma epidemia é o
Diagrama de Controle, que consiste na representação gráfica da distribuição da média
mensal e desvio-padrão dos valores da freqüência (incidência ou casos) observada, em um
período de tempo (habitualmente 10 anos). A construção deste diagrama pode ser feita da
seguinte forma:
• verificar se a distribuição do número de casos/incidência da doença, registrado mensalmente durante os últimos anos (geralmente dez anos ou mais), apresenta grandes
variações;
• excluir os dados referentes a anos epidêmicos;
• calcular a média aritmética e os desvios-padrão (pode ser calculado no programa
Excel) de cada distribuição mensal das incidências registradas no período selecionado;
• observar que os valores compreendidos entre aqueles correspondentes à média de
cada mês acrescidos de 1,96 desvios-padrão e aqueles de cada média mensal menos 1,96 desvio-padrão, (distribuição normal), correspondem ao nível endêmico da
doença, ou seja, o limite de variação esperada para cada mês;
• representar graficamente (diagrama curvilinear) a distribuição das médias e desvios-padrão da incidência (diagrama de controle);
• observar que quando os valores observados ultrapassam os do limite máximo da
variação esperada, diz-se que está ocorrendo uma epidemia. Desta maneira, quando
uma doença deixa de ocorrer em determinada área, o registro de um único caso
pode configurar uma epidemia ou surto.
Para exemplificar, são apresentados os cálculos necessários à construção do diagrama
de controle, utilizando-se os dados da Tabela 1, que contém a incidência mensal de doença
meningocócica por 100 mil habitantes no Brasil, de 1983 a 2000.
A Tabela 1 e o diagrama apresentam a incidência média mensal, os limites superiores
do diagrama de controle e a incidência mensal observada para a doença em 1994.
56
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Tabela 1. Coeficiente de incidência da doença meningocócica. Brasil, 1983-2000
Meses
83
84
85
86
87
88
89
90
91
Jan
0,08
0,08
0,06
0,11
0,15
0,12
0,14
0,24
0,22
Fev
0,08
0,07
0,05
0,08
0,11
0,11
0,13
0,16
Mar
0,1
0,07
0,05
0,1
0,17
0,14
0,15
Abr
0,08
0,08
0,06
0,07
0,15
0,18
Mai
0,12
0,11
0,07
0,1
0,17
Jun
0,11
0,09
0,06
0,11
Jul
0,11
0,11
0,07
Ago
0,11
0,1
Set
0,09
Out
92
93
94
95
96
97
98
99
00
0,2
0,22
0,29
0,27
0,28
0,34
0,28
0,23
0,24
0,17
0,19
0,23
0,21
0,23
0,28
0,26
0,22
0,22
0,16
0,2
0,18
0,25
0,29
0,27
0,37
0,33
0,31
0,29
0,24
0,2
0,17
0,18
0,19
0,22
0,36
0,28
0,28
0,31
0,31
0,25
0,25
0,18
0,17
0,24
0,25
0,21
0,23
0,36
0,31
0,39
0,36
0,36
0,35
0,29
0,25
0,16
0,22
0,27
0,26
0,23
0,25
0,31
0,41
0,47
0,43
0,43
0,43
0,36
0,26
0,17
0,17
0,3
0,31
0,3
0,3
0,29
0,36
0,49
0,49
0,53
0,48
0,45
0,33
0,3
0,07
0,15
0,12
0,29
0,27
0,28
0,28
0,29
0,34
0,44
0,45
0,5
0,42
0,33
0,28
0,28
0,08
0,06
0,12
0,13
0,17
0,2
0,32
0,28
0,28
0,3
0,4
0,43
0,38
0,4
0,31
0,24
0,32
0,08
0,1
0,07
0,13
0,15
0,15
0,2
0,28
0,3
0,29
0,29
0,32
0,37
0,38
0,3
0,31
0,23
0,28
Nov
0,09
0,09
0,06
0,12
0,13
0,17
0,19
0,24
0,21
0,2
0,24
0,31
0,32
0,3
0,28
0,27
0,2
0,24
Dez
0,06
0,07
0,05
0,1
0,11
0,17
0,15
0,22
0,2
0,21
0,22
0,27
0,27
0,26
0,29
0,23
0,19
0,22
Meses
Média
Desvio-padrão
Limite máximo esperado
Limite mínimo esperado
Jan
0,1472727
0,0638891
0,2724954
0,0220501
Fev
0,1254545
0,0562785
0,2357605
0,0151486
Mar
0,1545455
0,073941
0,2994698
0,0096211
Abr
0,1380000
0,0873863
0,3092771
-0,0332771
Mai
0,1845455
0,0844232
0,3500149
0,019076
Jun
0,1881818
0,0850668
0,3549128
0,0214509
Jul
0,2263636
0,1015158
0,4253346
0,0273927
Ago
0,2090909
0,0982298
0,4016213
0,0165605
Set
0,1845455
0,0963705
0,3734316
-0,0043407
Out
0,1854545
0,0902622
0,3623685
-0,0296413
Nov
0,1581818
0,0633748
0,2823964
0,0339672
Dez
0,1418182
0,0664557
0,2720714
0,011565
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
57
2
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Diagrama de controle da doença meningocócica, no período 1983-1993.
Brasil, 1994
0,5
0,45
0,4
Casos /100 mil hab.
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
Jan
Fev
Mar
Abr
1994
58
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Mai
Jun
Média
Jul
Ago
Set
Out
Limite máximo esperado
Nov
Dez
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Anexo 3*
Classificação das epidemias de
acordo com sua progressão no tempo
Exposição maciça comum de curta duração (epidemia explosiva) – quando os casos aparecem em rápida sucessão e curto período de tempo, a epidemia surge, aumenta de
intensidade e declina, sugerindo a existência de um veículo comum de transmissão e uma
exposição simultânea de vários susceptíveis. A duração máxima de todo o surto incluiu-se
no período máximo de incubação (ex. surto de intoxicação alimentar). No caso de transmissão por veículo comum, devem ser identificados os seguintes períodos ou datas: pico
do surto, início, fim e duração da epidemia e período provável de exposição dos casos às
fontes de infecção.
2
Representação esquemática de curvas epidêmicas
a) Exposição maciça comum de curta duração
b) Exposição maciça comum prolongada
(mais de 1 ano)
período de
incubação
máximo
c) Exposição maciça comum
seguida de casos secundários
d) Exposição múltipla – epidemia prolongada
Exposição maciça comum prolongada – embora também seja de fonte única, a exposição dos indivíduos à mesma é prolongada. A curva é menos abrupta que a anterior e o
evento, em geral, excede um período de incubação (intoxicação por uma partida de alimento contaminado; acidente com a rede de distribuição de água, etc.).
Exposição maciça comum seguida de casos secundários – quando nas situações anteriores ocorrem casos secundários, em forma de uma segunda onda tardia. Assim, a curva
apresenta, como características, o prolongamento no tempo e o aspecto bimodal. A duração
total do surto excede um período de incubação.
*Reproduzido de Rojas RA. Epidemiologia, volume I, p. 79-80.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
59
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Exposição múltipla (epidemias progressivas ou prolongadas) – devido a fatores
como difusibilidade, curto período de incubação e abundância de formas clínicas e inaparentes constituindo-se em vários focos de propagação, o surto se estende até que se esgote
o número de susceptíveis. Logo, sua duração excede em muito o período de incubação. A
curva pode apresentar várias ondas epidêmicas e, às vezes, o período transcorrido entre as
ondas é compatível com o período de incubação da doença (surtos de infecções respiratórias, cólera, sarampo, varíola, etc.).
Determinação do provável período de
exposição dos casos em surto por veículo comum
Método do período médio de incubação – identifica-se a data do pico da epidemia
e a partir da mesma calcula-se retrospectivamente, com base no período médio de incubação, o dia provável de exposição.
Método do período máximo e mínimo de incubação – identificam-se as datas do
primeiro e último caso da epidemia e, a partir das mesmas calcula-se retrospectivamente,
com base, respectivamente, no período mínimo e máximo de incubação, o período provável de exposição. Esse método só pode ser aplicado quando a duração da epidemia for,
aproximadamente, igual ou menor que a diferença entre o período máximo e mínimo de
incubação.
60
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Anexo 4*
Exemplo de análise e interpretação de curva epidêmica
De acordo com o gráfico, observa-se que o número de atendimentos por diarréia nas
unidades de saúde de Paulo Afonso começou a elevar-se a partir da última semana de março de 1988, atingindo as freqüências mais altas no mês de abril e só voltando a reduzir-se
após a primeira semana de maio. A média diária desses atendimentos, que era de 6,6 + 4,3
no mês de fevereiro, alcançou rapidamente 45,7 + 3,9 entre 19 e 31 de maio. Os casos estavam distribuídos em todas as faixas etárias e atingiam ambos os sexos.
A curva observada permite deduzir que a epidemia teve início no final de março de
1988, estendendo-se por todo o mês de abril e reduzindo de intensidade após a primeira
semana de maio. Seu início foi abrupto, acometendo rapidamente elevado número de pessoas, perdurando por mais de um mês, o que caracteriza uma epidemia maciça e prolongada de fonte possivelmente comum.
2
Distribuição dos atendimentos por gastroenterite nas unidades de
saúde da 10ª Diretoria Regional, 1º de fevereiro a 31 de maio de 1988
80
70
Enchimento
da zona rural,
Glória/BA
Número de casos
60
Enchimento
da zona rural,
Fechamento Paulo Afonso/BA
da 2a aduta
50
40
30
CuSO4
Fechamento
da 1a aduta
Início de
enchimento
20
10
0
Fevereiro
Março
Abril
Maio
*Reproduzido de: Teixeira et al., Boletim da Oficina Panamericana, 114 (6), 1993.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
61
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Anexo 5*
Procedimentos para coleta, conservação,
acondicionamento e transporte de amostras biológicas
Tipo de amostra
Secreção das
fossas nasais
Técnica de coleta
Umedecer o swab em solução salina estéril. Introduzir em ambas
as narinas e ,com movimentos giratórios suaves, colher o material
da mucosa nasal e colocar o swab em meio de transporte para
material biológico
Para cultura, utilizar a técnica de swab fecal ou retal em meio
de transporte (Cary Blair ou Stuart), ou ainda utilizar a técnica de
impregnação das fezes em papel-filtro, segundo Wold e Kelterer
Fezes
Fezes in natura para exame direto e coloração de Gram:
utilizar um frasco limpo e seco ou frasco próprio fornecido
pelo laboratório. Coletar em torno de 1g de fezes ou menos
da metade e fechar firmemente após a coleta
Conservação
Meio de transporte adequado −
Meio de Stuart ou Amies
Quando colocada em meio de transporte,
encaminhar, se possível, em até 48 horas
em temperatura ambiente. Acima deste
tempo, sob refrigeração em até 7 dias.
No caso de amostras refrigeradas, respeitar
as especificidades de cada agente. O papelfiltro deve ser acondicionado em invólucro
plástico, perfeitamente vedado (a amostra
só é válida enquanto o papel-filtro estiver
úmido)
Enviar as amostras in natura
ao laboratório em até 2 horas
As margens e superfícies das lesões devem ser descontaminadas,
tanto quanto possível, com álcool a 70% e/ou solução fisiológica
estéril.
Feridas
superficiais
Proceder nova limpeza com solução fisiológica.
Coletar o material purulento localizado na parte mais profunda da
ferida utilizando-se, de preferência, aspirado com seringa e agulha.
O material coletado deve ser encaminhado
ao laboratório imediatamente, em meio
de transporte adequado (meio de Stuart
ou Amies)
Os swab (menos recomendado) será utilizado quando os
procedimentos acima citados não forem possíveis de realização
Secreção
de orofaringe
Usar um abaixador de língua e, com um swab estéril, esfregar
sobre as amígdalas e faringe posterior, evitando tocar na língua
ou bochechas
Procurar o material nas áreas com hiperemia, próximas aos
pontos de supuração, ou remover o pus. Passar o swab firmemente sobre as áreas citadas ou amígdalas e faringe posterior
Vômito
Coletar 5g do espécime durante a fase aguda da doença,
em frasco estéril de boca larga
Transportar imediatamente ao laboratório.
Se a demora for inevitável, refrigerar a
4ºC para evitar o crescimento de outras
bactérias
Urina
Coletar o jato médio da 1ª micção do dia ou com intervalo de
2 a 3 horas após a higiene íntima. Para pacientes sem controle
da micção (crianças), usar saco coletor após a higiene prévia
Encaminhar imediatamente
ao laboratório, sob refrigeração
Sangue
A antissepsia da pele deve ser rigorosa. Coletar 3 amostras com
intervalo de 30 minutos entre cada uma, sendo a quantidade de
sangue de 10 a 20 ml, para adulto, e de 3 a 5 ml, para criança
Anotar em cada frasco o horário da coleta e o número da amostra
Utilizar metodologia tradicional, inoculando na proporção de
10% de sangue para frasco contendo meio de cultura
*Reproduzido do Manual de Doenças Transmitidas por Alimentos − Funasa/Cenepi
62
Encaminhar o material imediatamente
ao laboratório, em meio de transporte
adequado (Stuart ou Amies)
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Inocular a 35º-37º C por 24 horas
ou enviar ao laboratório imediatamente
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Observações
1. O material colhido deve ser representativo do processo infeccioso, devendo-se evitar contaminações e procurar o melhor sítio de coleta.
2. A coleta deve ser realizada na fase aguda da doença e, sempre que possível, antes da
administração de antibióticos.
3. Feridas: não é recomendada a cultura das lesões secas e crostas, a menos que não
seja possível a obtenção de exsudato.
4. As amostras biológicas devem ser acondicionadas em recipiente adequado, rotuladas, identificadas, colocadas em sacos plásticos lacrados (fita adesiva) e transportadas para o laboratório em caixas isotérmicas com gelo embalado ou em temperatura ambiente, dependendo da amostra e metodologia empregada. Lembrar que os
laboratórios com condições de processar as amostras devem adotar a metodologia
convencional e dar continuidade ao procedimento laboratorial. As amostras devem
vir acompanhadas da ficha de investigação epidemiológica (2ª via ou cópia) e da
ficha de remessa de amostras biológicas, devidamente preenchidas.
2
Coleta e conservação de amostras para toxicologia clínica
Toxologia clínica
Dosagem de metais pesados
Tipo de amostra
Sangue
Urina
Técnica de coleta
Para chumbo: 8ml de sangue total
heparinizado e isento de coágulo
Para cobre e zinco: 2ml de soro ou
plasma sem hemólise
Para mercúrio: urina de 24 horas
(de preferência) ou aproximadamente
200ml de urina matinal
Conservação
-4ºC no freezer, até 60 dias
8ºC na geladeira, até 8 dias
0,1g de persulfato de potássio para cada
100ml de urina. Conservar por 8 dias
Exposição aos inseticidas do grupo organofosforados e carbamatos
Determinação das atividades de colinesterase sangüínea
Tipo de amostra
Técnica de coleta
Conservação
Método Ellman, G.L. e colaboradores
Emprego de kit (triagem)
Sangue
Aproximadamente 5ml de sangue
para a separação de soro sem hemólise
Método Ellman modificado por Oliveira
Silva/Fiocruz
-20ºC no freezer, até a análise
Procedimento no laboratório de referência: separar o plasma dos eritrócitos
e adicionar tampão de lise aos mesmos.
Conservar congelado por até 3 dias
Aproximadamente 5ml de sangue
coletados em presença de heparina
Exposição aos inseticidas do grupo dos piretróides
Tipo de amostra
Sangue
Técnica de coleta
Conservação
Metodologia por cromotografia líquida
Aproximadamente 10ml de sangue
coletados em presença de heparina
-20ºC no freezer, até a análise
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
63
Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias
Coleta de amostras bromatológicas e toxicológicas
Qualquer quantidade da amostra do alimento efetivamente consumido é significativa,
uma vez que não se constitui em amostra com fins de análise fiscal.
A distribuição de microrganismos em lotes ou porções individualizadas no alimento
não é homogênea. Além disso, as condições de acondicionamento, conservação, transporte
e manuseio podem variar de unidade para unidade da amostra e interferir na presença e/ou
manifestação do agente. Para avaliar a qualidade de alimentos, são estabelecidas quantidades mínimas, representativas ou não. No que se refere às amostras relacionadas com a DTA,
nem sempre é possível cumprir estas orientações.
Na impossibilidade de se coletar determinada quantidade de alimentos, existem algumas alternativas; tais como:
• coletar produtos envolvidos no preparo dos alimentos;
• examinar os utensílios (panela, conchas, colher, etc.) utilizados no preparo dos alimentos, caso não tenham sido lavados. Recolher esse material em sacos plásticos
esterilizados ou de primeiro uso.
Em determinadas situações (como na suspeita de botulismo), na ausência de restos de
alimento efetivamente consumido a amostra coletada pode ser a própria embalagem vazia.
A toxina pode estar presente nas paredes internas e ser retirada para análise por enxugadura. Outra unidade do mesmo lote pode não apresentar a toxina botulínica.
A coleta da água para consumo humano, ofertada no local de produção do alimento
suspeito, deve ser efetuada para comprovar se os padrões físico-químicos e biológicos estão
adequados à legislação vigente.
64
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
CAPÍTULO
Sistemas de
informação em
saúde e vigilância
epidemiológica
3
3
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
A informação é instrumento essencial para a tomada de decisões. Nesta perspectiva,
representa imprescindível ferramenta à vigilância epidemiológica, por constituir fator desencadeador do processo “informação-decisão-ação”, tríade que sintetiza a dinâmica de
suas atividades que, como se sabe, devem ser iniciadas a partir da informação de um indício
ou suspeita de caso de alguma doença ou agravo.
Dado − é definido como “um valor quantitativo referente a um fato ou circunstância”,
“o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatístico”, ou
“a matéria-prima da produção de informação”.
Informação − é entendida como “o conhecimento obtido a partir dos dados”, “o dado
trabalhado” ou “o resultado da análise e combinação de vários dados”, o que implica
em interpretação, por parte do usuário. É “uma descrição de uma situação real, associada a um referencial explicativo sistemático”.
3
Não se deve perder de vista que a informação em saúde é o esteio para a gestão dos
serviços, pois orienta a implantação, acompanhamento e avaliação dos modelos de atenção
à saúde e das ações de prevenção e controle de doenças. São também de interesse dados/informações produzidos extra-setorialmente, cabendo aos gestores do Sistema a articulação
com os diversos órgãos que os produzem, de modo a complementar e estabelecer um fluxo
regular de informação em cada nível do setor saúde.
Oportunidade, atualidade, disponibilidade e cobertura são características que determinam a qualidade da informação, fundamentais para que todo o Sistema de Vigilância Epidemiológica apresente bom desempenho. Dependem da concepção apresentada pelo Sistema
de Informação em Saúde (SIS), e sua sensibilidade para captar o mais precocemente possível
as alterações que podem ocorrer no perfil de morbimortalidade de uma área, e também da
organização e cobertura das atividades desenvolvidas pela vigilância epidemiológica.
Entende-se sistema como o “conjunto integrado de partes que se articulam para uma
finalidade comum.” Para sistema de informação existem várias definições, tais como:
• “conjunto de unidades de produção, análise e divulgação de dados que atuam integradas e articuladamente com o propósito de atender às demandas para o qual foi
concebido”;
• “reunião de pessoas e máquinas, com vistas à obtenção e processamento de dados
que atendam à necessidade de informação da instituição que o implementa”;
• “conjunto de estruturas administrativas e unidades de produção, perfeitamente articuladas, com vistas à obtenção de dados mediante o seu registro, coleta, processamento, análise, transformação em informação e oportuna divulgação”.
Em síntese, um sistema de informação deve disponibilizar o suporte necessário para
que o planejamento, decisões e ações dos gestores, em determinado nível decisório (municipal, estadual e federal), não se baseie em dados subjetivos, conhecimentos ultrapassados
ou conjecturas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
67
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
O SIS é parte dos sistemas de saúde; como tal, integra suas estruturas organizacionais
e contribui para sua missão. É constituído por vários sub-sistemas e tem como propósito
geral facilitar a formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões. Para tanto, deve contar com os requisitos técnicos e profissionais necessários ao planejamento, coordenação e supervisão das atividades
relativas à coleta, registro, processamento, análise, apresentação e difusão de dados e geração de informações.
Um de seus objetivos básicos, na concepção do Sistema Único de Saúde (SUS), é possibilitar a análise da situação de saúde no nível local tomando como referencial microrregiões
homogêneas e considerando, necessariamente, as condições de vida da população na determinação do processo saúde-doença. O nível local tem, então, responsabilidade não apenas
com a alimentação do sistema de informação em saúde mas também com sua organização
e gestão. Deste modo, outro aspecto de particular importância é a concepção do sistema de
informação, que deve ser hierarquizado e cujo fluxo ascendente dos dados ocorra de modo
inversamente proporcional à agregação geográfica, ou seja, no nível local faz-se necessário
dispor, para as análises epidemiológicas, de maior número de variáveis.
Felizmente, os atuais recursos do processamento eletrônico estão sendo amplamente
utilizados pelos sistemas de informação em saúde, aumentando sua eficiência na medida
em que possibilitam a obtenção e processamento de um volume de dados cada vez maior,
além de permitirem a articulação entre diferentes subsistemas.
Entre os sistemas nacionais de informação em saúde existentes, alguns se destacam em
razão de sua maior relevância para a vigilância epidemiológica:
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
O mais importante sistema para a vigilância epidemiológica foi desenvolvido entre
1990 e 1993, visando sanar as dificuldades do Sistema de Notificação Compulsória de Doenças (SNCD) e substituí-lo, tendo em vista o razoável grau de informatização disponível no
país. O Sinan foi concebido pelo Centro Nacional de Epidemiologia, com o apoio técnico do
Datasus e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte para ser operado a partir das unidades
de saúde, considerando o objetivo de coletar e processar dados sobre agravos de notificação
em todo o território nacional, desde o nível local. Mesmo que o município não disponha
de microcomputadores em suas unidades, os instrumentos deste sistema são preenchidos
neste nível e o processamento eletrônico é feito nos níveis centrais das secretarias municipais de saúde (SMS), regional ou secretarias estaduais (SES). É alimentado, principalmente,
pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos constantes da lista nacional de
doenças de notificação compulsória, mas é facultado a estados e municípios incluir outros
problemas de saúde regionalmente importantes. Por isso, o número de doenças e agravos
contemplados pelo Sinan, vem aumentando progressivamente desde seu processo de implementação, em 1993, sem relação direta com a compulsoriedade nacional da notificação,
expressando as diferenças regionais de perfis de morbidade registradas no Sistema.
68
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
No Sinan, a entrada de dados ocorre pela utilização de alguns formulários padronizados:
Ficha Individual de Notificação (FIN) − é preenchida para cada paciente, quando da
suspeita de problema de saúde de notificação compulsória (Portaria GM nº 2.325, de 8 de
dezembro de 2003) ou de interesse nacional, estadual ou municipal, e encaminhada pelas
unidades assistenciais aos serviços responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica. É também utilizada para a notificação negativa.
Notificação negativa − é a notificação da não-ocorrência de doenças de notificação
compulsória na área de abrangência da unidade de saúde. Indica que os profissionais
e o sistema de vigilância da área estão alertas para a ocorrência de tais eventos.
3
A notificação de surtos também deve ser feita por esse instrumento, obedecendo os
seguintes critérios:
• casos epidemiologicamente vinculados de agravos inusitados. Sua notificação deve
estar consoante com a abordagem sindrômica, de acordo com as seguintes categorias: síndrome diarréica aguda, síndrome ictérica aguda, síndrome hemorrágica
febril aguda, síndrome respiratória aguda, síndrome neurológica aguda e síndrome
da insuficiência renal aguda, dentre outras;
• casos agregados, constituindo uma situação epidêmica de doenças não constantes
da lista de notificação compulsória;
• casos agregados das doenças constantes da lista de notificação compulsória, mas cujo
volume de notificações operacionalmente inviabiliza o seu registro individualizado.
Ficha Individual de Investigação (FII) − na maioria das vezes, configura-se como
roteiro de investigação, distinto para cada tipo de agravo, devendo ser utilizado, preferencialmente, pelos serviços municipais de vigilância ou unidades de saúde capacitadas para
a realização da investigação epidemiológica. Esta ficha, como referido no tópico sobre investigação de surtos e epidemias, permite obter dados que possibilitam a identificação da
fonte de infecção e mecanismos de transmissão da doença. Os dados, gerados nas áreas de
abrangência dos respectivos estados e municípios, devem ser consolidados e analisados
considerando aspectos relativos à organização, sensibilidade e cobertura do próprio sistema
de notificação, bem como os das atividades de vigilância epidemiológica.
Além dessas fichas, o sistema também possui planilha e boletim de acompanhamento
de surtos, reproduzidos pelos municípios, e os boletins de acompanhamento de hanseníase
e tuberculose, emitidos pelo próprio sistema.
A impressão, distribuição e numeração desses formulários é de responsabilidade do
estado ou município. O sistema conta, ainda, com módulos para cadastramento de unidades notificadoras, população e logradouros, dentre outros.
A Figura 1 traz o fluxo de informação definido pelo Ministério da Saúde. Após o preenchimento dos referidos formulários, as fontes notificadoras deverão encaminhá-los para
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
69
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
o primeiro nível informatizado. A partir daí, os dados serão enviados para os níveis hierárquicos superiores por meio magnético (arquivos de transferência gerados pelo Sistema).
Figura 1. Fluxo de informação do Sinan
Unidades
ambulatoriais
de saúde
Hospitais
Outras fontes
Municipal
Secretaria municipal de saúde
Regional de saúde
Estadual
Secretaria estadual de saúde
Nacional
Ministério da Saúde
Os agravos e doenças relacionados no Quadro 1 devem ser prontamente notificados
às Secretarias Estaduais de Saúde, as quais deverão informar tal fato imediatamente à Secretaria de Vigilância em Saúde, por meio do correio eletrônico notifica@saude.gov.br ou às
áreas técnicas do Ministério da Saúde responsáveis por seu acompanhamento, sem prejuízo
do registro das notificações pelos procedimentos rotineiros do Sinan.
Quadro 1. Agravos de notificação imediata via fax, telefone ou e-mail,
além da digitação e transferência imediata por meio magnético, no Sinan
Caso suspeito de
Febre hemorrágica do dengue
Botulismo
Hantavirose
Carbúnculo ou antraz
Paralisia flácida aguda
Cólera
Peste
Difteria
Raiva humana
Doença meningocócica
Varíola
Febre amarela
Tularemia
Caso confirmado de
Surto, agregação de casos
ou agregação de óbitos por
Poliomielite
Sarampo
Tétano neonatal
Agravos inusitados
Doenças de etiologia não esclarecida
Febre hemorrágica ou etiologia não esclarecida
Propõe-se, de maneira geral, que as fichas individuais de notificação sejam preenchidas pelos profissionais de saúde nas unidades assistenciais, as quais devem manter uma segunda via arquivada pois a original é remetida para o serviço de vigilância epidemiológica
responsável pelo desencadeamento das medidas de controle necessárias. Este, por sua vez,
70
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
além dessa incumbência, deve encaminhar os formulários para o setor de digitação das secretarias municipais, para que posteriormente os arquivos de transferência sejam enviados
por meio magnético às secretarias estaduais e, em seguida, ao Ministério da Saúde, conforme periodicidade definida na Figura 2.
Figura 2. Periodicidade para envio dos arquivos de transferência do Sinan
Secretaria municipal de saúde
Secretaria de estado da saúde
Semanal
Regional de saúde
1º ao 3º dia útil
15º ao 18º dia útil
Semanal
Ministério da Saúde
3
Casos de hanseníase e tuberculose, além do preenchimento da ficha de notificação/investigação, devem constar do boletim de acompanhamento, visando a atualização de seu
acompanhamento até o encerramento para avaliação da efetividade do tratamento, de acordo com as seguintes orientações:
• o primeiro nível informatizado deve emitir o Boletim de Acompanhamento de Hanseníase e Tuberculose, encaminhando-o às unidades para complementação dos dados;
• os meses propostos para a alimentação da informação são, no mínimo: janeiro, abril,
julho e outubro, para a tuberculose; janeiro e julho, para a hanseníase;
• cabe ao 1º nível informatizado emitir o boletim de acompanhamento para os municípios não-informatizados;
• após retornar das unidades os boletins devem ser analisados criticamente e as correções devem ser solicitadas de imediato à unidade de saúde;
• a digitação das informações na tela de acompanhamento e arquivamento dos boletins deve ser realizada no 1º nível informatizado.
O encerramento das investigações referentes aos casos notificados como suspeitos e/
ou confirmados deve ocorrer até o prazo máximo de 60 dias da data de notificação, exceto:
Sarampo e rubéola
30 dias da data de notificação
Gestante HIV+ e criança exposta
540 dias da data do parto/nascimento da criança exposta
Leishmaniose tegumentar americana
e leishmaniose visceral
180 dias da data de notificação
Síndrome da rubéola congênita
180 dias da data de nascimento da criança
Hepatites virais
240 dias da data de notificação
A partir da data do diagnóstico, 270 dias para os casos
paucibacilares (PB) e 540 dias para os casos multibacilares (MB)
Hanseníase
Para os casos que abandonam o tratamento:
PB − 2 anos após a data do diagnóstico
MB − 4 anos após a data do diagnóstico
270 dias para os casos em tratamento de esquema I e IR
Tuberculose
360 dias para os casos em tratamento de esquema II e 50 dias para
os casos em tratamento de esquema III, após a data do diagnóstico,
conforme normas do Manual Técnico para Controle da Tuberculose
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
71
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Preconiza-se que em todas as instâncias os dados aportados pelo Sinan sejam consolidados e analisados e que haja uma retroalimentação dos níveis que o precederam, além de
sua redistribuição, segundo local de residência dos pacientes objetos das notificações. No
nível federal, os dados do Sinan são processados, analisados juntamente com aqueles que
chegam por outras vias e divulgados pelo Boletim Epidemiológico do SUS e informes epidemiológicos eletrônicos, disponibilizados no site www.saude.gov.br.
Ao contrário dos demais sistemas, em que as críticas de consistência são realizadas
antes do seu envio a qualquer outra esfera de governo, a necessidade de desencadeamento
imediato de uma ação faz com que, nesse caso, os dados sejam remetidos o mais rapidamente possível, ficando a sua crítica para um segundo momento − quando do encerramento do caso e, posteriormente, o da análise das informações para divulgação. No entanto,
apesar desta peculiaridade, esta análise é fundamental para que se possa garantir uma base
de dados com qualidade, não podendo ser relegada a segundo plano, tendo em vista que os
dados já foram encaminhados para os níveis hierárquicos superiores.
A partir da alimentação do banco de dados do Sinan, pode-se calcular a incidência,
prevalência, letalidade e mortalidade, bem como realizar análises de acordo com as
características de pessoa, tempo e lugar, particularmente no que tange às doenças
transmissíveis de notificação obrigatória, além de outros indicadores epidemiológicos e operacionais utilizados para as avaliações local, municipal, estadual e nacional.
As informações da ficha de investigação possibilitam maior conhecimento acerca da
situação epidemiológica do agravo investigado, fontes de infecção, modo de transmissão e
identificação de áreas de risco, dentre outros importantes dados para o desencadeamento das atividades de controle. A manutenção periódica da atualização da base de dados
do Sinan é fundamental para o acompanhamento da situação epidemiológica dos agravos
incluídos no Sistema. Dados de má qualidade, oriundos de fichas de notificação ou investigação com a maioria dos campos em branco, inconsistências nas informações (casos com
diagnóstico laboratorial positivo, porém encerrado como critério clínico) e duplicidade de
registros, entre outros problemas freqüentemente identificados nos níveis estadual ou federal, apontam para a necessidade de uma avaliação sistemática da qualidade da informação
coletada e digitada no primeiro nível hierárquico de entrada de dados no Sistema, que
torna possível a obtenção de dados confiáveis, indispensáveis para o cálculo de indicadores
extremamente úteis, tais como as taxas de incidência, letalidade, mortalidade e coeficiente
de prevalência, entre outros.
Roteiros para a realização da análise da qualidade da base de dados e cálculos dos
principais indicadores epidemiológicos e operacionais estão disponíveis para os agravos de
notificação compulsória, bem como toda a documentação necessária para a correta utilização do Sistema (dicionário de dados e instrucionais de preenchimento das fichas Manual
de Normas e Rotinas e Operacional).
Para que o Sinan se consolide como a principal fonte de informação de morbidade
para as doenças de notificação compulsória, faz-se necessário garantir tanto a cobertura
72
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
como a qualidade das informações. Sua utilização plena, em todo o território nacional,
possivelmente possibilitará a obtenção dos dados indispensáveis ao cálculo dos principais
indicadores necessários para o monitoramento dessas doenças, gerando instrumentos para
a formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo
de tomada de decisões e contribuindo para a melhoria da situação de saúde da população.
Indicadores são variáveis susceptíveis à mensuração direta, produzidos com periodicidade definida e critérios constantes. A disponibilidade de dados, simplicidade técnica, uniformidade, sinteticidade e poder discriminatório são requisitos básicos para
sua elaboração. Os indicadores de saúde refletem o estado de saúde da população de
determinada comunidade.
3
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
Criado em 1975, este sistema iniciou sua fase de descentralização em 1991, dispondo
de dados informatizados a partir de 1979.
Seu instrumento padronizado de coleta de dados é a Declaração de Óbito (DO), impressa em três vias coloridas, cuja emissão e distribuição para os estados, em séries prénumeradas, é de competência exclusiva do Ministério da Saúde. Para os municípios, a distribuição fica a cargo das secretarias estaduais de saúde, devendo as secretarias municipais
se responsabilizarem por seu controle e distribuição entre os profissionais médicos e instituições que a utilizem, bem como pelo recolhimento das primeiras vias em hospitais e
cartórios.
O preenchimento da DO deve ser realizado exclusivamente por médicos, exceto em
locais onde não existam, situação na qual poderá ser preenchida por oficiais de Cartórios
de Registro Civil, assinada por duas testemunhas. A obrigatoriedade de seu preenchimento,
para todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° 6.015/73. Em tese, nenhum
sepultamento deveria ocorrer sem prévia emissão da DO. Mas, na prática, sabe-se da ocorrência de sepultamentos irregulares, em cemitérios clandestinos (e eventualmente mesmo
em cemitérios oficiais), o que afeta o conhecimento do real perfil de mortalidade, sobretudo
nas regiões Norte e Nordeste.
O registro do óbito deve ser feito no local de ocorrência do evento. Embora o local de
residência seja a informação comumente mais utilizada, na maioria das análises do setor
saúde a ocorrência é fator importante no planejamento de algumas medidas de controle,
como, por exemplo, no caso dos acidentes de trânsito e doenças infecciosas que exijam a
adoção de medidas de controle no local de ocorrência. Os óbitos ocorridos fora do local
de residência serão redistribuídos, quando do fechamento das estatísticas, pelas secretarias
estaduais e Ministério da Saúde, permitindo, assim, o acesso aos dados tanto por ocorrência
como por residência do falecido.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
73
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
O SIM constitui importante elemento para o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, tanto como fonte principal de dados, quando há falhas de registro de casos no Sinan, quanto como fonte complementar, por também dispor de informações
sobre as características de pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao paciente,
causas básicas e associadas de óbito, extremamente relevantes e muito utilizadas no
diagnóstico da situação de saúde da população.
As informações obtidas pela DO também possibilitam o delineamento do perfil de
morbidade de uma área, no que diz respeito às doenças mais letais e às doenças crônicas
não sujeitas à notificação compulsória, representando, praticamente, a única fonte regular
de dados. Para as doenças de notificação compulsória, a utilização eficiente desta fonte de
dados depende da verificação rotineira da presença desses agravos no banco de dados do
SIM. Deve-se também checar se as mesmas constam no Sinan, bem como a evolução do
caso para óbito.
O fluxo da declaração de óbito é apresentado na Figura 3 e o acesso às suas informações consolidadas para os níveis nacional, regional, estadual e municipal é disponibilizado
em CD-ROM. A SVS também disponibiliza essas informações na internet, pelo site www.
datasus.gov.br.
Figura 3. Fluxo da Declaração de Óbito
Hospital
Cartório de
Registro Civil
Preenche
Preenche o documento
1a via
1a via
2a via
2a via
3 via
a
3a via
Encaminha
Encaminha
Família
Secretaria
de Saúde
Cartório de
Registro Civil
Secretaria
de Saúde
Arquiva
Fonte: SVS/MS, Portaria nº 20, de 3 de outubro de 2003
74
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Arquiva
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Uma vez preenchida a DO, quando se tratar de óbitos por causas naturais, ocorridos
em estabelecimento de saúde, a primeira via (branca) será da secretaria municipal de saúde (SMS); a segunda (amarela) será entregue aos familiares do falecido, para registro em
Cartório de Registro Civil e emissão da Certidão de Óbito (ficando retida no cartório); a
terceira (rosa) ficará arquivada no prontuário do falecido. Nos óbitos de causas naturais
ocorridos fora do estabelecimento de saúde, mas com assistência médica, o médico que
fornecer a DO deverá levar a primeira e terceira vias para a SMS, entregando a segunda para
os familiares do falecido. Nos casos de óbitos de causas naturais, sem assistência médica, em
locais que disponham de Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), estes serão responsáveis
pela emissão da DO, obedecendo o mesmo fluxo dos hospitais. Em lugares onde não exista
SVO, um médico da localidade deverá preencher a DO obedecendo o fluxo anteriormente
referido para óbitos ocorridos fora do estabelecimento de saúde, com assistência médica.
Nos óbitos por causas naturais em localidades sem médicos, o responsável pelo falecido,
acompanhado de duas testemunhas, comparecerá ao Cartório de Registro Civil onde será
preenchida a DO. A segunda via deste documento ficará retida no cartório e a primeira e
terceira vias serão recolhidas pela secretaria municipal de saúde. Nos óbitos por causas acidentais ou violentas, o médico legista do Instituto Médico-Legal (IML) deverá preencher a
DO (nos locais onde não exista IML um perito é designado para tal finalidade), seguindo-se
o mesmo fluxo adotado para os hospitais.
As SMS realizarão a busca ativa dessas vias em todos os hospitais e cartórios, evitando
a perda de registro de óbitos no SIM, com conseqüente perfil irreal da mortalidade da sua
área de abrangência. Nas SMS, as primeiras vias são digitadas e enviadas em disquetes para
as Regionais, que fazem o consolidado de sua área e o enviam para as secretarias estaduais
de saúde, que consolidam os dados estaduais e os repassam para o Ministério da Saúde.
3
Em todos os níveis, sobretudo no municipal, que está mais próximo do evento, deve
ser realizada a crítica dos dados, buscando a existência de inconsistências como, por
exemplo, causas de óbito exclusivas de um sexo sendo registradas em outro, causas
perinatais em adultos, registro de óbitos fetais com causas compatíveis apenas com
nascidos vivos e idade incompatível com a doença.
A análise dos dados do SIM permite a construção de importantes indicadores para o
delineamento do perfil de saúde de uma região. Assim, a partir das informações contidas
nesse Sistema, pode-se obter a mortalidade proporcional por causas, faixa etária, sexo, local
de ocorrência e residência e letalidade de agravos dos quais se conheça a incidência, bem
como taxas de mortalidade geral, infantil, materna ou por qualquer outra variável contida na
DO, uma vez que são disponibilizadas várias formas de cruzamento dos dados. Entretanto,
em muitas áreas, o uso dessa rica fonte de dados é prejudicada pelo não preenchimento correto das DO, com omissão de dados como, por exemplo, estado gestacional ou puerperal, ou
pelo registro excessivo de causas mal definidas, prejudicando o uso dessas informações nas
diversas instâncias do sistema de saúde. Estas análises devem ser realizadas em todos os níveis do sistema, sendo subsídios fundamentais para o planejamento de ações dos gestores.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
75
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
O número de nascidos vivos constitui relevante informação para o campo da saúde
pública, pois possibilita a constituição de indicadores voltados para a avaliação de riscos à
saúde do segmento materno-infantil, a exemplo dos coeficientes de mortalidade infantil e
materna, nos quais representa o denominador. Antes da implantação do Sinasc, em 1990,
esta informação só era conhecida no Brasil por estimativas realizadas a partir da informação censitária. Atualmente, são disponibilizados pela SVS, no site www.datasus.gov.br,
dados do Sinasc referentes aos anos de 1994 em diante. Entretanto, até o presente momento,
só pode ser utilizado como denominador, no cálculo de alguns indicadores, em regiões
onde sua cobertura é ampla, substituindo deste modo as estimativas censitárias.
O Sinasc tem como instrumento padronizado de coleta de dados a Declaração de Nascido Vivo (DN), cuja emissão, a exemplo da DO, é de competência exclusiva do Ministério
da Saúde. Tanto a emissão da DN como o seu registro em cartório serão realizados no
município de ocorrência do nascimento. Deve ser preenchida nos hospitais e outras instituições de saúde que realizam parto, e nos Cartórios de Registro Civil, na presença de duas
testemunhas, quando o nascimento ocorre em domicílio sem assistência de profissional de
saúde. Desde 1992 sua implantação ocorre de forma gradual. Atualmente, vem apresentando em muitos municípios um volume maior de registros do que o publicado nos anuários
do IBGE, com base nos dados dos Cartórios de Registro Civil.
A DN deve ser preenchida para todos os nascidos vivos no país, o que, segundo conceito
definido pela OMS, corresponde a “todo produto da concepção que, independentemente do
tempo de gestação ou peso ao nascer, depois de expulso ou extraído do corpo da mãe, respire
ou apresente outro sinal de vida tal como batimento cardíaco, pulsação do cordão umbilical
ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não desprendida
a placenta”. A obrigatoriedade desse registro é também dada pela Lei n° 6.015/73. No caso de
gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para cada criança nascida viva.
É sabida a ocorrência de uma proporção razoável de subnotificação de nascimentos,
estimada em até 35% para alguns estados, em 1999, particularmente nas regiões Norte e
Nordeste − que nesse ano apresentaram cobertura média em torno de 80% do número de
nascidos vivos estimado para cada região, motivo que levou as áreas responsáveis pelas
estatísticas vitais a realizarem uma busca ativa nas unidades emissoras de DNs. Entretanto,
nesse mesmo período, a captação de nascimentos pelo Sinasc encontrava-se igual ou superior a 100% em relação às estimativas demográficas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,
com índices mínimos de 87%, 90% e 96% em três estados. Tais dados revelam progressiva
melhoria da cobertura desse sistema, o que favorece sua utilização como fonte de dados
para a confecção de alguns indicadores.
Igualmente à DO, os formulários de Declaração de Nascido Vivo são pré-numerados,
impressos em três vias coloridas e distribuídos às SES pela SVS/MS. As SES encarregavamse, até recentemente, e sua distribuição aos estabelecimentos de saúde e cartórios. Apesar
da preconização de que as SMS devem assumir esse encargo, isto ainda não está acontecendo em todo o território nacional.
76
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O fluxo recomendado pelo Ministério da Saúde para a DN (Figura 4) tem a mesma
lógica que orienta o da DO.
Figura 4. Fluxo da Declaração de Nascido Vivo
Cartório de
Registro Civil
Hospital
DN − 1a via
Preenche o documento
2a via
3
3a via
1a via
2a via
Família
Cartório
3a via
Arquiva
Secretaria
de Saúde
Encaminha
Secretaria
de Saúde
Arquiva
Unidade
de Saúde
Fonte: SVS/MS, Portaria nº 20, de 3 de outubro de 2003
Nos partos ocorridos em estabelecimentos de saúde, a primeira via (branca) da DN
preenchida será para a SMS; a segunda (amarela) deverá ser entregue ao responsável pela
criança, para a obtenção da Certidão de Nascimento no Cartório de Registro Civil, onde
ficará retida; a terceira (rosa) será arquivada no prontuário da puérpera. Para os partos
domiciliares com assistência médica, a primeira via deverá ser enviada para a SMS e a segunda e terceira vias entregues ao responsável, que utilizará a segunda via para registro do
nascimento em cartório e a terceira para apresentação em unidade de saúde onde realizar
a primeira consulta da criança. Nos partos domiciliares sem assistência médica, a DN será
preenchida no Cartório de Registro Civil, que reterá a primeira via, a ser recolhida pela
SMS, e a segunda, para seus arquivos. A terceira via será entregue ao responsável, que a
destinará à unidade de saúde do primeiro atendimento da criança.
Também nesses casos as primeiras vias da DN deverão ser recolhidas ativamente pelas
secretarias municipais de saúde, que após digitá-las envia o consolidado para as SES, onde
os dados são processados e distribuídos segundo o município de residência e, a seguir, enviados para o MS, que os reagrupa por estados de residência, sendo disponibilizados pela
SVS através do site www.datasus.gov.br e em CD-ROM. Em todos os níveis do sistema, os
dados deverão ser criticados. As críticas realizadas visam detectar possíveis erros de preenchimento da Declaração de Nascido Vivo ou da digitação de dados. Sua validação é feita
pelo cruzamento de variáveis para verificação de consistência, como, por exemplo, o peso
do bebê com o tempo de gestação ou a idade da mãe com a paridade.
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A utilização dos dados deste sistema para o planejamento e tomada de decisões nas
três esferas de governo ainda é incipiente. Na maioria das vezes, como denominador para
o cálculo de taxas como as de mortalidade infantil e materna, por exemplo. Apesar disso,
alguns indicadores vêm sendo propostos − a grande maioria voltada à avaliação de risco da
mortalidade infantil e a qualidade da rede de atenção à gravidez e ao parto.
Entre os indicadores de interesse para a atenção à saúde materno-infantil, são imprescindíveis as informações contidas na DN: proporção de nascidos vivos de baixo peso,
proporção de nascimentos prematuros, proporção de partos hospitalares, proporção de
nascidos vivos por faixa etária da mãe, valores do índice Apgar no primeiro e quinto minutos, número de consultas pré-natal realizadas para cada nascido vivo, dentre outros. Além
desses, podem ainda ser calculados indicadores clássicos voltados à caracterização geral de
uma população, como a taxa bruta de natalidade e a taxa de fecundidade geral.
Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS)
O SIH/SUS, que possui dados informatizados desde 1984, não foi concebido sob a
lógica epidemiológica, mas sim com o propósito de operar o sistema de pagamento de
internação dos hospitais contratados pelo Ministério da Previdência. Posteriormente, foi
estendido aos hospitais filantrópicos, universitários e de ensino e aos hospitais públicos
municipais, estaduais e federais. Nesse último caso, somente aos da administração indireta
e de outros ministérios.
Reúne informações de cerca de 70% dos internamentos hospitalares realizados no
país, tratando-se, portanto, de grande fonte das enfermidades que requerem internação,
importante para o conhecimento da situação de saúde e gestão de serviços. Ressalte-se sua
gradativa incorporação à rotina de análise e informações de alguns órgãos de vigilância
epidemiológica de estados e municípios.
Seu instrumento de coleta de dados é a Autorização de Internação Hospitalar (AIH),
atualmente emitida pelos estados a partir de uma série numérica única definida anualmente
em portaria ministerial. Este formulário contém, entre outros, os dados de atendimento,
com os diagnósticos de internamento e alta (codificados de acordo com a CID), informações relativas às características de pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência do
paciente) das internações, procedimentos realizados, valores pagos e dados cadastrais das
unidades de saúde, que permitem sua utilização para fins epidemiológicos.
As séries numéricas de AIHs são mensalmente fornecidas pelo Ministério da Saúde
às secretarias estaduais de saúde (Figura 5), de acordo com o quantitativo anual estipulado
para o estado, que desde o início de 1995 é equivalente ao máximo de 9% da população
residente (estimada pelo IBGE). Quando se trata de município em gestão plena do sistema,
a cota de AIH definida pela Programação Pactuada e Integrada (PPI) é repassada diretamente pelo Ministério da Saúde para o município. O banco de dados do prestador envia as
informações para o Datasus, com cópia para a secretaria estadual de saúde. Nos municípios
em gestão plena de atenção básica, é o estado que faz a gestão da rede hospitalar.
78
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Figura 5. Fluxo básico de Autorização de Internação Hospitalar (AIH)
Laudo é
encaminhado
Paciente é
examinado
Órgão emissor
Emite
Encaminha
Hospital
3
Digita
Encaminha
Secretaria Municipal de Saúde
Ministério da Saúde
Critica, analisa e glosa
Encaminha
Encaminha
Secretaria Estadual de Saúde
Os números de AIHs têm validade de quatro meses, não sendo mais aceitos pelo sistema. Tal regra permite certa compensação temporal naqueles estados em que a sazonalidade
da ocorrência de doenças influencia fortemente o número de internações.
O banco de dados, correspondente ao cadastro de todas as unidades prestadoras de
serviços hospitalares ao SUS credenciadas, é permanentemente atualizado sempre que há
credenciamento, descredenciamento ou qualquer modificação de alguma característica da
unidade de saúde.
Os dados produzidos por este Sistema são amplamente disponibilizados pelo site www.
datasus.gov.br e pela BBS (Bulletin Board System) do Ministério da Saúde, além de CDROM com produção mensal e anual consolidadas. Os arquivos disponibilizados podem ser
de dois tipos: o “movimento”, em que constam todos os dados, e o “reduzido”, em que não
aparecem os relativos aos serviços profissionais.
O SIH/SUS foi desenvolvido para propiciar a elaboração de alguns indicadores de
avaliação de desempenho de unidades, além do acompanhamento dos números absolutos
relacionados à freqüência de AIHs e que vêm sendo cada vez mais utilizados pelos gestores
para uma primeira aproximação da avaliação de cobertura de sua rede hospitalar, e até para
a priorização de ações de caráter preventivo.
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79
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Entre suas limitações encontram-se a cobertura dos dados (que depende do grau de
utilização e acesso da população aos serviços da rede pública própria, contratada e conveniada ao SUS), ausência de críticas informatizadas, possibilidade das informações pouco
confiáveis sobre o endereço do paciente, distorções decorrentes de falsos diagnósticos e
menor número de internamentos que o necessário, em função das restrições de recursos
federais – problemas que podem resultar em vieses nas estimativas.
Contudo, ao contrário do que ocorre nos bancos de dados dos sistemas descritos anteriormente, os dados do SIH/SUS, não podem ser corrigidos após terem sido enviados,
mesmo após investigados e confirmados erros de digitação, codificação ou diagnóstico. O
Sistema também não identifica reinternações e transferências de outros hospitais, o que,
eventualmente leva a duplas ou triplas contagens de um mesmo paciente.
Apesar de todas as restrições, essa base de dados é de extrema importância para o
conhecimento do perfil dos atendimentos na rede hospitalar. Adicionalmente, não pode
ser desprezada a agilidade do Sistema. Os dados por ele aportados tornam-se disponíveis
aos gestores em menos de um mês, e cerca de dois meses para a disponibilização do consolidado Brasil. Para a vigilância epidemiológica, avaliação e controle de ações, esta é uma
importante qualidade para o estímulo à sua análise rotineira.
Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS)
Em 1991, o SIA/SUS foi formalmente implantado em todo o território nacional como
instrumento de ordenação do pagamento dos serviços ambulatoriais (públicos e conveniados), viabilizando aos gestores apenas a informação do gasto por natureza jurídica do
prestador. O total de consultas e exames realizados era fornecido por outro sistema, de
finalidade puramente estatística, cujo documento de entrada de dados era o Boletim de
Serviços Produzidos (BSP) e o único produto resultante, a publicação Inamps em Dados.
Embora tenha sofrido algumas alterações com vistas a um melhor controle e consistência de dados, o SIA/SUS pouco mudou desde sua implantação. Por obedecer à lógica de pagamento por procedimento, não registra o CID do(s) diagnóstico(s) dos pacientes e não pode
ser utilizado como informação epidemiológica, ou seja, seus dados não permitem delinear os
perfis de morbidade da população, a não ser pela inferência a partir dos serviços utilizados.
Entretanto, como sua unidade de registro de informações é o procedimento ambulatorial realizado, desagregado em atos profissionais, outros indicadores operacionais podem
ser importantes como complemento das análises epidemiológicas, por exemplo: número de
consultas médicas por habitante/ano; número de consultas médicas por consultório; número de exames/terapias realizados pelo quantitativo de consultas médicas.
Desde julho de 1994 as informações relacionadas a esse sistema estão disponíveis no
site www.datasus.gov.br e por CD-ROM.
Ressalte-se como importante módulo o cadastramento de unidades ambulatoriais
contratadas, conveniadas e da rede pública própria dos estados e municípios, bem como as
informações sobre profissionais por especialidade.
80
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Quando da análise de seus dados, deve-se atentar para as questões relativas à cobertura, acesso, procedência e fluxo dos usuários dos serviços de saúde.
Outras importantes fontes de dados
A depender das necessidades dos programas de controle de algumas doenças, outros
sistemas de informação complementares foram desenvolvidos pelo Cenepi, tais como o
FAD (Sistema de informação da febre amarela e dengue), que registra dados de infestação
pelo Aedes aegypti, a nível municipal, e outros dados operacionais do programa.
Outros sistemas de informação que também podem ser úteis à vigilância epidemiológica, embora restritos a uma área de atuação muito específica, quer por não terem uma
abrangência nacional ou por não serem utilizados em todos os níveis de gestão, são:
Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) – sistema de informação territorializado que coleta dados que possibilitam a construção de indicadores populacionais referentes a áreas de abrangência bem delimitadas, cobertas pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde e Programa Saúde da Família.
Sua base de dados possui três blocos: o cadastramento familiar (indicadores sociodemográficos dos indivíduos e de saneamento básico dos domicílios); o acompanhamento
de grupos de risco (menores de dois anos, gestantes, hipertensos, diabéticos, pessoas com
tuberculose e pessoas com hanseníase); e o registro de atividades, procedimentos e notificações (produção e cobertura de ações e serviços básicos, notificação de agravos, óbitos e
hospitalizações).
Os níveis de agregação do SIAB são: microárea de atuação do agente comunitário de
saúde (território onde residem cerca de 150 famílias), área de abrangência da equipe de
Saúde da Família (território onde residem aproximadamente mil famílias), segmento, zonas
urbana e rural, município, estado, regiões e país. Assim, o Sistema possibilita a microlocalização de problemas de saúde como, por exemplo, a identificação de áreas com baixas
coberturas vacinais ou altas taxas de prevalência de doenças (como tuberculose e hipertensão), permitindo a espacialização das necessidades e respostas sociais e constituindo-se em
importante ferramenta para o planejamento e avaliação das ações de vigilância da saúde.
Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) – instrumento de políticas federais, focalizadas e compensatórias. Atualmente, encontra-se implantado em aproximadamente 1.600 municípios considerados de risco para a mortalidade infantil. Disponibiliza informações sobre o programa de recuperação de crianças desnutridas
e gestantes sob risco nutricional.
Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) – implantado em todos os municípios brasileiros, fornece dados relativos à cobertura vacinal de rotina
e, em campanhas, taxa de abandono e controle do envio de boletins de imunização. Além do
módulo de avaliação do PNI, este Sistema dispõe de um subsistema de estoque e distribuição
de imunobiológicos para fins gerenciais.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
3
81
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Siságua) – fornece informações sobre a qualidade da água para consumo humano,
proveniente dos sistemas público e privado, e soluções alternativas de abastecimento. Objetiva coletar, transmitir e disseminar dados gerados rotineiramente, de forma a produzir
informações necessárias à prática da vigilância da qualidade da água de consumo humano
(avaliação da problemática da qualidade da água e definição de estratégias para prevenir e
controlar os processos de sua deterioração e transmissão de enfermidades) por parte das
secretarias municipais e estaduais de saúde, em cumprimento à Portaria nº 36/90, do Ministério da Saúde.
Além das informações decorrentes dos sistemas descritos existem outras grandes bases
de dados de interesse para o setor saúde, com padronização e abrangência nacionais. Entre
elas destacam-se: Cadernos de Saúde e Rede Interagencial de Informação para a Saúde/
Ripsa, da qual um dos produtos é o IDB/Indicadores e Dados Básicos para a Saúde (acesso
via www.datasus.gov.br ou www.saude.gov.br), além daquelas disponibilizadas pelo IBGE
(particularmente no que se refere ao Censo Demográfico, à Pesquisa Brasileira por Amostragem de Domicílios – Pnad e Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000). É também
importante verificar outros bancos de dados de interesse à área da saúde, como os do Ministério do Trabalho (Relação Anual de Informações Sociais/Rais) e os do Sistema Federal
de Inspeção do Trabalho (informações sobre riscos ocupacionais por atividade econômica),
bem como fontes de dados resultantes de estudos e pesquisas realizados por instituições
como o Ipea e relatórios e outras publicações de associações de empresas que atuam no setor
médico supletivo (medicina de grupo, seguradoras, autogestão e planos de administração).
A maioria dos sistemas de informação ora apresentados possui manual instrucional e
modelos dos instrumentos de coleta (fichas e declarações) para implantação e utilização em
computador – disponibilizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
A utilização dos sistemas de informações de saúde e de outras fontes de dados, pelos
serviços de saúde e instituições de ensino e pesquisa, dentre outras, pode ser viabilizada via
Internet, propiciando o acesso a dados nas seguintes áreas:
• demografia – informações sobre população, mortalidade e natalidade;
• morbidade – morbidade hospitalar e ambulatorial, registros especiais, seguro social,
acidentes de trânsito, de trabalho, etc.; meio ambiente: saneamento básico, abastecimento de água, destino dos dejetos e lixo, poluição ambiental, condições de habitação, estudo de vetores;
• recursos de saúde e produção de serviços – recursos físicos, humanos, financeiros,
produção na rede de serviços básicos de saúde e em outras instituições de saúde,
vigilância sanitária; no âmbito documental e administrativo: legislação médico-sanitária, referências bibliográficas e sistemas administrativos.
Existem outros dados necessários ao município e não coletados regularmente, que
podem ser obtidos mediante de inquéritos e estudos especiais, de forma eventual e localizada. Contudo, é preciso haver racionalidade na definição dos dados a serem coletados,
82
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica
processados e analisados no SIS, para evitar desperdício de tempo, recursos e descrédito no
sistema de informação, tanto pela população como pelos técnicos.
Divulgação das informações
A retroalimentação dos sistemas deve ser considerada um dos aspectos fundamentais
para o contínuo processo de aperfeiçoamento, gerência e controle da qualidade dos dados.
Tal prática deve ocorrer nos seus diversos níveis, de forma sistemática, com periodicidade
previamente definida, de modo a permitir a utilização das informações quando da tomada
de decisão e nas atividades de planejamento, definição de prioridades, alocação de recursos
e avaliação dos programas desenvolvidos. Adicionalmente, a divulgação das informações
geradas pelos sistemas assume valor inestimável como instrumento de suporte ao controle
social, prática que deve ser estimulada e apoiada em todos os níveis e que deve definir os instrumentos de informação, tanto para os profissionais de saúde como para a comunidade.
3
Perspectivas atuais
Desde 1992, a SVS vem desenvolvendo, de forma descentralizada, uma política de estímulo ao uso da informação e da informática como subsídio à implantação do SUS no país.
Para isso, adotou iniciativas junto aos estados e municípios, visando a descentralização do
uso do SIM, Sinan e Sinasc, financiou cursos de informação, epidemiologia e informática, e
divulgou os programas EPI-Info e Epimap.
Este processo vem avançando, particularmente, a partir da implantação da Norma
Operacional Básica do Sistema Único de Saúde (NOB 01/96) e da instituição da transferência de recursos, fundo a fundo, para o desenvolvimento de atividades na área de epidemiologia (Portaria MS nº 1.399/99).
Considerações finais
A compatibilidade das principais bases de dados dos diversos sistemas de informações
em saúde, com vistas à sua utilização conjunta, é meta há algum tempo buscada pelos profissionais que trabalham com a informação no setor saúde. A uniformização de conceitos e
definições do Sinan, Sinasc e SIM é exemplo das iniciativas adotadas no sentido de obter a
compatibilização destes sistemas que, entretanto, até o momento ainda não foi totalmente
atingida.
A necessidade de integração dos bancos de dados, para maior dinamização das ações
de vigilância epidemiológica por meio da utilização dos sistemas nacionais de informações
descritos, apresenta-se como pré-requisito para o melhor desenvolvimento de uma política
de informação e informática para o SUS.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
83
CAPÍTULO
4
4
Sistema de vigilância
epidemiológica
de eventos adversos
pós-vacinais
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
As vacinas previnem o adoecimento e a morte de milhões de pessoas a cada ano, representando a intervenção com melhor custo-benefício. Apesar disso, cerca de dois milhões
de crianças morrem anualmente por doenças imunopreveníveis que poderiam ser evitadas
pela utilização de vacinas de baixo custo. No começo do século XX, de cada 1 mil crianças
nascidas 160 morriam de uma causa infecciosa antes dos 5 anos.
As vacinas, como todo produto farmacêutico, não são isentas de efeitos colaterais ou
eventos adversos. Como significativa proporção da população é vacinada a cada ano, há
certo número de eventos adversos após a vacinação – tanto apenas coincidentes como com
relação causal com a vacina.
O grande impacto que um evento adverso pós-vacinal pode causar na sociedade devese ao fato de que as vacinas geralmente são utilizadas em pessoas saudáveis, principalmente
crianças. Deste modo, qualquer reação, por mais leve que seja ou apenas associada temporalmente (coincidente), causa grande repercussão.
Diante da redução expressiva na ocorrência de doenças imunopreveníveis, os eventos
adversos passaram a ter maior destaque, conseqüentes ao aumento progressivo do uso de
imunobiológicos em todo o mundo. Entende-se por evento adverso toda situação clínica
ocorrida em tempo variável após a utilização de produtos imunobiológicos, respeitando-se
um diagnóstico diferencial adequado, o afastamento de situação coincidentes e a plausibilidade biológica do evento. De modo geral, podem ser locais ou sistêmicos, leves, moderados
ou graves, categorizados em:
• relação à vacina (tipos de cepas, substâncias estabilizadoras e/ou conservadoras,
manipulação, conservação e administração);
• relação aos vacinados (fatores predisponentes e/ou imunologicamente idiossincráticos).
4
Apesar do constante aperfeiçoamento dos métodos de produção e purificação das vacinas, estas são constituídas, em sua maioria, por agentes infecciosos atenuados ou inativados ou por algum dos seus produtos ou componentes, podem induzir a eventos adversos.
Diversos países mantêm sistemas de vigilância e investigação de eventos adversos pósvacinais, considerando que o monitoramento adequado e a investigação oportuna e competente são de fundamental importância para a manutenção da confiança nos programas de
imunizações, uma vez que ao cumprirem os seus objetivos orientam, quando necessárias, a
tomada de medidas, como a retirada de um produto do calendário vacinal, ou alterações na
posologia ou faixa etária, entre outras.
No Brasil, o registro da chegada da primeira vacina data de 1805, trazida pelo marquês
de Barbacena, sob a forma de vírus vacínico da varíola no braço dos escravos. Em 1925, o
BCG, já utilizado mundialmente, começa a ser utilizado e produzido no país, bem como
a vacina contra a febre amarela, em 1937 – mas só em meados de 1987 inicia-se a sistematização do registro de eventos adversos. No início dos anos 90, a Organização Mundial
da Saúde recomenda a notificação e investigação de eventos adversos pós-vacinais. Em
1992, o Programa Nacional de Imunizações implantou oficialmente este sistema, que gradativamente aprimorado conta a partir de 2000 com o Sistema Informatizado de Eventos
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
87
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Adversos Pós-Vacinais, que permite uma análise mais rápida e contempla maior número de
variáveis quanto à reatogenicidade dos produtos usados pelo Programa Nacional de Imunizações.
Objetivos do Sistema
•
•
•
•
Identificar os eventos adversos pós-vacinação.
Identificar eventos novos e/ ou raros.
Acompanhar a investigação dos eventos adversos.
Promover uma investigação capaz de estabelecer ou descartar a relação de causalidade com a vacina.
• Identificar os fatores de risco e/ou condições que potencializem eventos adversos.
• Fornecer dados que possibilitem uma avaliação descritiva e/ou analítica da ocorrência dos eventos adversos.
• Sinalizar a necessidade de estudos mais elaborados para melhor interpretar os dados
da vigilância e investigação de eventos adversos pós-vacinais.
Notificação e investigação dos eventos adversos:
atribuições dos diferentes níveis do sistema de saúde
Todos os eventos ocorridos após a aplicação de um produto imunobiológico utilizado
pelo Programa Nacional de Imunizações, devem ser notificados, desde que respeitadas a
plausibilidade biológica da ocorrência, o diagnóstico diferencial abrangente e descartadas
as condições concomitantemente ocorridas ao uso da vacina mas sem qualquer relação com
a mesma. No Manual de Vigilância de Eventos Adversos, 1998 (em revisão), encontram-se
definições de caso para os eventos adversos específicos ou não para cada vacina.
O fluxo de informação deve obedecer as seguintes orientações:
Nível local
• A unidade de saúde deverá identificar, investigar inicialmente e notificar a Coordenação de Imunizações e/ou serviço de vigilância do município.
• Adotar as condutas clínicas pertinentes e avaliar a necessidade de ampliar a investigação.
• Consolidar e analisar os casos notificados.
Nível municipal
• Receber as notificações das unidades de saúde.
• Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível regional ou estadual.
• Promover a investigação das notificações recebidas, analisando e estabelecendo a
conduta adequada, no âmbito de sua competência.
88
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
• Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.
• Consolidar e avaliar os dados municipais.
• Repassar cópias das fichas e consolidado para as regionais de saúde (quando houver)
ou secretarias estaduais de saúde, até o quinto dia útil de cada mês.
• Promover a capacitação e atualização dos recursos humanos.
Nível regional (quando houver)
•
•
•
•
•
Receber, analisar e consolidar os dados dos municípios de sua área de abrangência.
Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível estadual.
Assessorar os municípios na investigação dos casos, quando necessário.
Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.
Repassar cópias das fichas e consolidado para as secretarias estaduais de saúde, até o
décimo dia útil de cada mês.
• Promover a capacitação e atualização dos recursos humanos.
4
Nível estadual
• Receber, consolidar e analisar as notificações regionais ou municipais.
• Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível nacional.
• Garantir, através dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie),
os mecanismos necessários para a investigação, acompanhamento e elucidação de
eventos adversos graves ou inusitados, associados temporalmente às aplicações
de imunobiológicos (Instrução Normativa nº 2, de 24 de setembro de 2002).
• Assessorar as regionais ou os municípios na investigação dos casos, quando necessário.
• Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.
• Consolidar e analisar os dados do estado.
• Repassar o consolidado para o nível nacional até o décimo quinto dia útil de cada
mês.
• Promover a capacitação e atualização dos recursos humanos e/ou colaborar, nesta
área, com as regionais e municípios.
Nível nacional
• Estabelecer as diretrizes gerais para vigilância de eventos adversos pós-vacinação.
• Receber e analisar os consolidados estaduais.
• Garantir, através dos Crie, apoio técnico aos estados, participando inclusive da investigação epidemiológica de campo, quando necessário.
• Elaborar e manter atualizados os protocolos de investigação dos eventos adversos.
• Adotar medidas imediatas frente à ocorrência de surtos de eventos adversos.
• Realizar supervisões sistemáticas aos estados.
• Promover e colaborar, com os estados, na capacitação e atualização dos recursos
humanos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
89
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Anexo 1
Descrição, tempo decorrente entre aplicação
e evento, freqüência, conduta e exames para
cada vacina do Calendário Básico de Vacinação
Vacina
Eventos
adversos
Tempo
decorrente
Freqüência
das doses
1/2 a 5
Tétano
Difteria
Conduta
Notificar e investigar reações
muito intensas ou “surtos”
-
Aumentam com a
repetição das doses
Idem
-
Idem
Menos de1/50
Idem
-
Febre
24/48 horas
1/14 a 1/200
Idem
-
Febre alta
Idem
Rara
Notificar e investigar
-
Reação
anafilática
Menos de 2
horas, geralmente nos primeiros
30 minutos
1/100 mil
a 1/150 mil
Notificar e investigar.
Contra-indica doses
subseqüentes
-
Síndrome de
Guillain-Barré
Semanas
Extremamente
rara
Neuropatia
periférica
Horas a
semanas
0,4/1milhão
Notificar e investigar. Avaliação
neurológica. Contra-indica
doses subseqüentes
Rubor, calor, dor,
endurecimento
local
De 24 a
48 horas
De 1/3 a 1/2
Notificar reações mais
intensas ou “surtos”
Febre
Nas primeiras
48 horas
1/330
Febre maior ou
igual a 39,5ºC
Nas primeiras
48 horas
1/330
Sonolência
Ocorre nas primeiras 24 horas
1/3
Dor
1º dia
Edema,
eritema
Idem
Edema
acentuado
Aumenta com a
repetição das doses
1/4 a 1/3
Notificar e investigar
DTP (I)
Exame
Tratamento especializado
Contra-indica
doses subseqüentes
Notificar e investigar
Tratamento: ver Anexo 2
Não contra-indica
doses subseqüentes
Recomenda-se
antitérmico profilático
-
Investigação
clínica e
laboratorial
especializada
Idem
-
-
-
-
Tratamento: ver Anexo 2
Choro
persistente
Inicia-se entre
2 a 8 horas,
prolongando-se
até 48 horas
após a vacina
Recomenda-se
tratamento sintomático
1/100
Observar
Não contra-indica
doses subseqüentes
Notificar e investigar a existência
de relação com outras causas
90
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
-
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Vacina
Eventos adversos
Irritabilidade
Tempo
decorrente
Nas primeiras
24 horas
Freqüência
das doses
Conduta
Exame
Não há necessidade de notificar
e investigar
1/2
-
Não contra-indica doses subseqüentes
Vômito
Idem
1/15
Idem
-
Anorexia
Idem
1/5
Idem
-
Episódio hipotônicohiporresponsivo
(EHH)
Nas primeiras
48 horas,
principalmente
nas primeiras
6 horas após
a vacina
Notificar e investigar
Tratamento de suporte
1/1.750
Avaliar o EHH e o risco de adquirir
coqueluche. Utilizar nas doses subseqüentes a dupla infantil DT ou a DTP,
de preferência acelular, se disponível,
com as precauções indicadas
Clínico, para
diagnóstico
diferencial
4
Alertar os pais quanto às
complicações da coqueluche
Notificar e investigar
Tratamento a cargo do neurologista
DTP (II)
Encefalopatia
Nos primeiros
7 dias
1/110 mil
Contra-indica as doses subseqüentes
de DPT. Completar o esquema com
a DT (dupla infantil)
Alertar os pais quanto às
complicações da coqueluche
Notificar e investigar
Tratamento: ver Anexo 2
Até 72 horas,
quase sempre
nas primeiras
12 horas
1/1.750
Anafilaxia
Geralmente nos
primeiros 30min
até 2 horas
Extremamente
rara
Reações
imunoalérgicas
Mais de
2 horas até dias
após a aplicação
da vacina
Ardência, eritema,
hiperestesia,
enduração
1º dia
Convulsão
Tríplice
viral (I)
Continuar esquema com DT
ou DPT ou DTaP, caso disponível,
com precauções (avaliar riscos)
Administrar antitérmico profilático
e alertar os pais quanto ao risco
da coqueluche
-
-
Exame
neurológico
Investigação
clínica e
laboratorial
especializada
No caso de
convulsões
de mais de 15
minutos, exame
neurológico
e investigação
clínica e laboratorial
Clínico
Notificar e investigar
Tratamento: ver Anexo 2
Não contra-indica doses subseqüentes
Clínico, para
diagnóstico
diferencial
Raros
Notificar e investigar reações
intensas e “surtos”. Não contraindica doses subseqüentes
-
Linfadenopatia
regional
-
Rara
Idem
-
Resposta local imune
-
Rara
Idem
-
Febre baixa, cefaléia,
irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais
5-12 dias
1/25
a 1/200
Idem
-
Febre alta
5-12 dias
1/6,7
a 1/20
Idem
Exame clínico
Exantema
7-10 dias
1/20
Idem
Idem
Linfadenopatias
7-21 dias
1/100
Idem
Idem
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
91
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Vacina
Tríplice
viral (II)
Eventos adversos
Tempo
decorrente
Meningite
2-3 semanas
Desde 1/1 mil
até 1/1 milhão
conforme a cepa
do componente
caxumba
Pan-encefalite
Em média,
5 a 7 anos
0,7/1 milhão
Até 2 meses
De 1/30 mil
a 1/1 milhão
Púrpura
trombocitopênica
Urticária local
-
Reação
anafilática
Nos primeiros
30 min até
2 horas
Articulares
-
Tríplice
viral (III)
Parotidite
-
Conduta
Exame
Notificar e investigar. Tratamento
sintomático. Contra-indica dose
subseqüente
Investigação
clínica e
laboratorial
especializada
Notificar e investigar. Tratamento
com neurologista. Contra-indica
dose subseqüente
Idem
Notificar e investigar
Tratamento a cargo de especialista
Contra-indica dose subseqüente
Idem
Muito rara
Notificar e investigar. Tratamento:
ver Anexo 2. Aplicar dose subseqüente, se necessária, com precauções
-
1/2,1 milhões
Notificar e investigar. Contraindica dose subseqüente.
-
Em crianças:
1/333
Notificar e investigar. Tratamento
sintomático. Contra-indica doses
subseqüentes
Investigação
clínica, para
diagnóstico
diferencial
Notificar e investigar. Tratamento
sintomático. Não contra-indica
doses subseqüentes
Idem
Raras
Notificação e investigação: desnecessárias. Tratamento sintomático.
Não há contra-indicação para doses
subseqüentes
Idem
Em mulheres
adultas: 1/6,7
10-14 dias
Orquite,
pancreatite
Hepatite B
Freqüência
das doses
-
Dor
1º dia
1/3,5
a 1/33,3
Notificar e investigar. Contra-indica
dose subseqüente
-
Enduração
Idem
1/12,5
Idem
-
Febre
Idem
1/16,9
a 1/100
Idem
-
Mal-estar, cefaléia,
astenia, mialgia,
artralgia
Idem
-
Local (dor, abcesso)
1º dia
-
Febre, mialgia,
cefaléia
6 dias
Reação
anafilática
Nos primeiros
30 min até
2 horas
1/20
Não é necessário notificar e investigar. Tratamento sintomático. Não
contra-indica doses subseqüentes
Idem
Clínico, para
descartar
intercorrência
infecciosa
-
1/1 milhão
Febre
amarela
Encefalite
Visceralização
92
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
-
30 dias após
vacinação
Geralmente em
pessoas com alergia a proteínas do
ovo de galinha
Notificar e investigar.
1/17 milhão (USA).
Notificar e investigar.
Contra-indica doses subseqüentes.
Tratamento da encefalite
No Brasil não há
relato
Raro. Em
investigação
Contra-indica doses subseqüentes
Notificar
-
Investigação
clínica e laboratorial para
afastar outros
diagnósticos
-
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Vacina
Eventos
adversos
Tempo
decorrente
Freqüência
das doses
Maior
freqüência
nos 6 primeiros meses
O risco médio
descrito para
efeitos locais e
regionais (úlcera,
abcesso e linfadenopatia regional
supurada) é de
0,387 por mil
vacinados
Abcessos
subcutâneos
frios
Nos primeiros
3 meses
Idem
Abcessos
subcutâneos
quentes
Podem ocorrer
precocemente,
até o 15º dia
Linfadenopatia
regional não
supurada
Em média nos
três primeiros
meses
Úlcera com
diâmetro maior
que 1cm
BCG (I)
Lesões
locais e
regionais
Idem
Conduta
Exame
Notificar e investigar. No caso de
não cicatrização até seis meses
após a aplicação da vacina, Isoniazida, na dose de 10mg/kg/dia, dose
máxima de 400mg, até a regressão
completa da lesão
-
Garantir limpeza local e não
usar pomadas, antibióticos
ou anti-sépticos
Notificar, investigar e acompanhar.
Isoniazida na dose de 10mg/kg/dia,
dose máxima de 400mg/dia, até a
regressão completa da lesão
-
Notificar, investigar e acompanhar.
Conduta indicada para qualquer
processo infeccioso agudo de pele
-
4
Notificar, investigar e acompanhar
Idem
Não puncionar e não administrar
Isoniazida
-
Notificar, investigar e acompanhar
Linfadenopatia
regional
supurada
Em média,
nos três
primeiros
meses
Isoniazida na dose de 10mg/kg/dia,
dose máxima de 400mg/dia, até o
desaparecimento da supuração e
diminuição significativa do tamanho do gânglio. Na presença de
gânglios, não fazer incisão; não
fazer exérese
Idem
-
Normalmente não se faz nada
Reação
quelóide
Após a
cicatrização
-
Em situação especial, indicam-se
cirurgia e radioterapia superficial,
para diminuir a probabilidade
de formação de quelóide após
a cirurgia
Notificar, investigar e acompanhar
Esquema tríplice com:
Isoniazida: 10mg/kg/dia
Reação lupóide
Tardia
Menos de 1
por 10 milhões
de vacinados
Rifampicina: 10mg/kg/dia
Etambutol: 25mg/kg/dia,
durante 2 meses, seguido de:
Isoniazida: 10mg/kg/dia
Rifampicina: 10mg/kg/dia,
durante 4 meses
-
Biópsia de
fragmentos
de pele
Exame
bacteriológico direto,
cultura,
tipificação
e exame
histológico
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
93
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Vacina
Eventos
adversos
Tempo
decorrente
Freqüência
das doses
Conduta
Exame
Exame
bacteriológico:
BCG (II)
Lesões
resultantes de
disseminação
Lesões
generalizadas
Em geral,
no decorrer
do 1º ano
1,9 por milhão
de vacinados
Idem
- direto
Obs.: o esquema acima deve
ser prescrito por um período
mínimo de 6 meses
- cultura
- tipificação
- exame histopatológico
- exame radiológico
Todas as doses
Vacinados:
1 caso/4,4 a 6,7
milhões de doses
administradas
Vacinado:
4-40 dias
Anti-pólio
oral
Poliomielite
associada
à vacina
Comunicante
de vacinado:
4-85 dias
após a
vacinação
Comunicantes:
1 caso/6,7 a 15,5
milhões de doses
administradas
Notificar e investigar
Tratamento de suporte
Na 1ª dose
Encaminhar aos
Centros de Referência
Vacinados:
1 caso/670 mil
doses administradas
No caso de imunodeficiência, continuar a vacinação
com vacina inativada
Fezes:
colher 2 amostras nos
primeiros 15 dias após
o início da deficiência
motora, observando
um intervalo mínimo
de 24 horas da 1ª
para a 2ª coleta
Eletroneuromiografia
Comunicantes:
1 caso/milhão
de doses
administradas
Soro
anti-rábico
94
Reação
anafilática
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Nos primeiros
30 minutos
até 2 horas
Todos os casos deverão ser
notificados e investigados
Raro
Substituir o soro heterólogo
por imunoglobulina humana
anti-rábica
-
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Anexo 2
Conduta frente a alguns eventos
adversos comuns a vários imunobiológicos
As vacinas situam-se entre os produtos de maior segurança de uso. Entretanto, é possível que haja reações, até mesmo graves, com a sua utilização. A orientação a seguir destina-se aos serviços de rotina de imunização, com os seus recursos habituais. Não é impositiva, devendo ser adaptada às circunstâncias operacionais e à experiência e treinamento
de cada grupo.
4
Manifestações locais
Podem ocorrer após a aplicação de qualquer vacina. Os casos de abscesso geralmente
encontram-se associados com infecção secundária e erros na técnica de aplicação.
Notificação e investigação
Notificar e investigar os casos com abscessos ou outras reações locais muito intensas (edema e/ou vermelhidão extensos, limitação de movimentos acentuada e duradoura);
também notificar o aumento exagerado de determinadas reações locais associadas eventualmente a erros de técnica ou a lote vacinal (“surtos”).
Conduta
Tratamento
• Analgésico, se necessário;
• Compressas frias ou quentes: é prática comum em nosso país a aplicação local de
compressas frias ou quentes, para alívio da dor e/ou inflamação. Embora sua eficácia
não tenha sido validada em estudos controlados, seu emprego não é contra-indicado.
Observação: o Programa Nacional de Imunizações, em seu Manual de Capacitação
de Pessoal da Sala de Vacinação, recomenda apenas o uso de compressas frias para
tratamento de eventos locais;
• Os abscessos devem ser submetidos à avaliação médica, para conduta apropriada.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Não há.
Febre
Pode ocorrer logo após a aplicação da vacina (como na vacina tríplice DPT, vacina
meningocócica B/C) ou alguns dias depois (como na vacina contra o sarampo). É possível
que se deva a alguma infecção intercorrente ou desidratação. A criança deve ser examinada
quando a febre for alta ou fugir do padrão esperado para o tipo de vacina aplicada.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
95
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Notificação e investigação
Notificar e investigar se detectada com intensidade e freqüência acima do esperado,
associadas eventualmente a lotes (“surtos”).
Conduta
Tratamento
Manter a criança em repouso, em ambiente bem ventilado, administrar água e outros
líquidos apropriados, tais como o leite materno e terapia de reidratação oral (TRO). Administrar antitérmico, se necessário, de 6/6 horas. Quando a febre for decorrente da vacinação,
o quadro é benigno e autolimitado. Não aplicar gelo, álcool ou clisteres gelados.
Antitérmicos: de preferência paracetamol, 15mg/kg, via oral. Nos casos de febre muito
alta, dipirona, 15mg/kg/dose, via oral ou intramuscular. Evitar aspirina.
Antitérmico profilático: utilizá-lo quando na dose anterior houve febre elevada ou
convulsão febril.
Administrar no momento da vacinação e repetir de 6/6 horas durante 24 a 48 horas.
Usar de preferência o paracetamol, na dose já indicada.
Ficar atento para a possibilidade de infecção intercorrente, que pode necessitar de tratamento apropriado.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Não há. Considerar a conveniência de antitérmico profilático.
Convulsão febril
As convulsões febris são observadas geralmente entre os 6 meses a 6 anos de idade,
com maior freqüência entre os 12 e 18 meses, incidindo em cerca de 3% da população
infantil. São geralmente de curta duração. Podem, entretanto, ocorrer crises múltiplas e
prolongadas, circunstâncias em que a pesquisa de doença neurológica, especialmente meningite, é obrigatória. Deve-se oferecer repetidamente às crianças com febre, sobretudo nos
dias muito quentes, água, leite materno e outros líquidos apropriados; bem como mantê-las
em ambiente ventilado e longe do sol ou de outras fontes de calor.
Notificação e investigação
Notificar e investigar todos os casos.
Conduta
Tratamento
• Colocar o paciente em decúbito lateral e Trendelenburg;
• Aspirar secreções;
• Afrouxar as roupas;
• Proteger a língua do paciente, com gaze dobrada entre os dentes;
• Aplicar anticonvulsivante: o medicamento de escolha para a terapêutica inicial é
o Diazepan, administrado por via intravenosa, lentamente, na dose de 0,3mg/kg.
96
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
O qual não deve ser aplicado caso a crise tenha cessado espontaneamente. Pode
também ser utilizada a via retal, na dose de 0,5mg/kg. Dose máxima: 10mg/dose. É
droga de meia-vida curta, com pequeno período de ação terapêutica. Fenobarbital
– a ser utilizado como alternativa inicial, quando não houver diazepínico disponível,
ou para dar continuidade ao tratamento. Sua atividade é duradoura, por ter meiavida prolongada. Dose de ataque: 15mg/kg, por via intramuscular;
• Oxigênio úmido, se necessário (cianose, mesmo após aspiração);
• É comum a criança dormir após a crise, mesmo sem medicação; não se deve acordá-la.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Quando a convulsão for associada à vacina tríplice DTP, completar o esquema vacinal
com a dupla infantil DT, ou, se a avaliação do caso e a situação epidemiológica o indicar,
com a vacina tríplice, de preferência acelular (DTaP), se disponível, com administração de
antitérmico profilático e demais precauções indicadas.
4
Reações de hipersensibilidade
Graves: choque anafilático (anafilaxia, reação anafilática)
São reações que ocorrem menos de 2 horas após a aplicação da vacina (ou medicamento), geralmente na primeira meia hora, sendo extremamente raras em associação com
as vacinações, embora possam ocorrer. Contra-indicam doses subseqüentes com qualquer
um dos componentes vacinais do agente imunizante que provocou o choque anafilático.
O choque anafilático caracteriza-se por alterações do tônus muscular, paralisia parcial
ou completa, palidez, cianose, resposta diminuída ou ausente aos estímulos, depressão ou
perda do estado de consciência, alterações cardiovasculares com hipotensão ou choque,
alterações respiratórias e, às vezes, parada cardíaca.
A reação anafilática induzida pela aplicação de vacina pode estar associada com:
• reações ao ovo de galinha, como a vacina de febre amarela;
• reação à gelatina, usada como estabilizador em algumas vacinas, como a tríplice viral;
• reação a alguns antibióticos (por exemplo, kanamicina) contidos em algumas vacinas;
• reação a alguns dos componentes do próprio imunógeno.
As manifestações podem ser:
• Dermatológicas (prurido, angioedema, urticária generalizada e/ou eritema);
• Cardiocirculatórias (hipotensão, arritmias, choque, etc.);
• Respiratórias (edema de laringe, com estridor, dificuldade respiratória, tosse, dispnéia, sibilos, etc.);
• Neurológicas (síncope, convulsão, alteração da consciência, etc.).
Notificação e investigação
Notificar e investigar todos os casos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
97
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Conduta
Tratamento
Toda unidade que aplique vacinas (ou medicamentos) deve ter um estojo de reanimação permanente, com os medicamentos dentro do prazo de validade.
É preciso que o pessoal médico e de enfermagem esteja treinado em relação às condutas para tratamento do choque anafilático.
A rapidez do tratamento é fundamental, devendo ser feito no local do primeiro atendimento, pelo menos inicialmente:
• adrenalina, 0,01ml/kg, via subcutânea (em caso de choque intramuscular) até 3 vezes, com intervalos de 20 minutos, se necessário;
• prometazina, 0,5-1mg/kg, via intramuscular;
• acesso venoso;
• hidrocortisona, 5mg/kg/dose, via intravenosa, podendo ser repetida a cada 4 ou 6
horas;
• manter as vias aéreas permeáveis;
• O2 sob máscara ou ambú ou entubação, segundo indicado e possível;
• expansores de volume nos choques hipovolêmicos;
• encaminhar para unidade hospitalar. Alguns pacientes podem apresentar um segundo episódio até 24 horas após a recuperação do primeiro; por esse motivo, todos os
que apresentarem crise grave devem permanecer hospitalizados por 36 horas no
mínimo.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Sim, de todos os componentes vacinais do imunobiológico causador.
Reações moderadas (urticária,
prurido cutâneo, exantema, petéquias)
São reações que envolvem apenas um sítio/sistema, ocorrendo mais de duas horas
após a vacinação.
Notificação e investigação
Notificar e investigar todos os casos.
Conduta
Tratamento
Anti-histamínicos via oral, no caso de urticária ou exantema pruriginoso. No caso de
manifestações petequiais e/ou purpúricas generalizadas, encaminhar a unidade hospitalar
para avaliação por especialista; nas reações locais, apenas observação.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Não há, mas devem ser aplicadas com precauções.
98
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
Reação local grave, consistente com reação tipo Arthus
Notificação e investigação
Sim.
Conduta
Tratamento sintomático.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Não administrar dose de reforço até dez anos após a última dose.
4
Alergia ao timerosal (merthiolate)
Usado como preservativo de várias vacinas, como DTP, DT, dT, TT, meningocócica
B/C, etc., o timerosal pode provocar dermatite de contato mediada por células (hipersensibilidade tardia). Caso alguém tenha alergia cutânea ao timerosal, pode apresentar discreto
aumento do processo inflamatório local nos primeiros dias após a vacinação.
Notificação e investigação
Desnecessárias.
Conduta
Tratamento
Desnecessário.
Contra-indicação para doses subseqüentes
Não há. Orientar a família.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
99
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
3
Nome do evento adverso
Descrição
Abscesso frio
Tumoração no local de aplicação com flutuação, SEM sinais inflamatórios evidentes
2
Abscesso quente
Tumoração no local de aplicação com flutuação, COM sinais inflamatórios (edema, calor, rubor e dor)
23
Artralgia
Dor nas articulações
45
Artrite
Dor nas articulações, associada com inflamação das mesmas – inchaço, vermelhidão e calor
39
Ataxia
Alteração da marcha. Deve ser avaliada por um profissional habilitado
57
Atrofia no local da aplicação
Retração da pele no local da aplicação
50
Cefaléia
Dor de cabeça
54
Cefaléia e vômito
Dor de cabeça e vômito
28
Choque anafilático
Hipotensão ou choque associado à urticária , edema de face, laringoespasmo
12
Convulsão afebril
Alteração do nível de consciência acompanhada de contrações musculares involuntárias. Em crianças menores, podem ocorrer sem contrações evidentes. Sem associação com febre
11
Convulsão febril
Alteração do nível de consciência acompanhada de contrações musculares involuntárias. Em crianças menores, podem ocorrer sem contrações evidentes. Sempre acontecem após período febril
52
Dificuldade de deambular
Dificuldade para caminhar. Deve ser avaliada por profissional habilitado
29
Dor, rubor e calor
Tipo de reação no local de aplicação
35
Encefalite
Inflamação do encéfalo (cérebro) diagnosticada por profissional habilitado, sendo afastadas outras causas conhecidas mediante realização de exames complementares
36
Encefalopatia
Distúrbio do sistema nervoso central não explicado por outra causa além da vacinação, ocorrida nos primeiros 7 dias (geralmente nas primeiras 72h) após aplicação da DTP Assemelha-se
clinicamente à encefalite, mas sem evidência de reação inflamatória
9
Enduração
Tipo de reação com endurecimento no local de aplicação
13
Episódio hipotônico hiporresponsivo
Palidez ou cianose perioral, hipotonia(“flacidez”) e diminuição de resposta a estímulos de curta duração
17
Exantema
Erupção cutânea generalizada com ou sem prurido
10
Febre maior ou igual a 39,5°C
Verificada com termômetro
58
Granuloma
Tipo de reação com formação de “caroço” no local de aplicação (diagnóstico histopatológico)
56
Icterícia
Coloração amarelada da pele e mucosas, mais evidente nos olhos
41
Lesões generalizadas
Lesões semelhantes às da tuberculose, decorrentes da disseminação do BCG nos órgãos
6
Linfadenomegalia maior que 3 cm não supurada
Aumento dos gânglios linfáticos (“ínguas”) SEM flutuação ou supuração
5
Linfadenomegalia maior que 3 cm supurada
Aumento dos gânglios linfáticos (“ínguas”) COM flutuação ou supuração
7
Linfadenomegalia não supurada
Aumento dos gânglios linfáticos (“ínguas”) SEM flutuação ou supuração
8
Linfadenomegalia supurada
Aumento dos gânglios linfáticos (“ínguas”) COM flutuação ou supuração
22
Meningite asséptica
Inflamação das meninges com culturas do LCR negativas
53
Mialgia
Dor muscular
42
Mielite
Inflamação da medula espinhal com diagnóstico por profissional habilitado e realização de exames complementares
14
Nódulo
Tipo de reação com caroço palpável no local da aplicação
46
Orquite
Inflamação dos testículos
49
Osteomielite
Infecção do aparelho ósteoarticular
47
Outros eventos
Sem definição – Usar campo de resumo clínico para especificar o evento
43
Pancreatite
Inflamação do pâncreas diagnosticado por profissional habilitado e realização de exames complementares
26
Paralisia de membros inferiores
Paralisação das pernas. Deve ser avaliada por profissional habilitado
55
Paresia
Diminuição de força de membros ou de um grupo muscular. Deve ser avaliada por profissional habilitado
15
Parestesia
Alteração de sensibilidade na pele (formigamento, dormência). Deve ser avaliada por profissional habilitado
21
Parotidite
Inflamação das parótidas – região submandibular – normalmente acompanhada de febre e mal-estar
38
Poliomielite associada à vacina
Paralisia flácida aguda que ocorre entre 4-40 dias após a aplicação da vacina, sendo constatada seqüela após 60 dias do início do quadro. Nos casos de comunicantes dos vacinados, o período
é de 4-85 dias
48
Polirradiculite (síndrome de Guillain-Barré)
Inflamação das raízes nervosas da medula espinhal, caracterizada por dor nos MMII e paralisia ascendente. Deve ser diagnosticada por profissional habilitado e realização de exames
complementares
18
Púrpura trombocitopênica
Presença de manchas violáceas na pele, de tamanhos variados ( puntiformes a equimoses), acompanhada da diminuição do número de plaquetas no sangue
27
Quelóide
Cicatriz elevada e disforme no local da aplicação
32
Reação de Arthus
Reação de hipersensibilidade local importante
51
Reação de hipersensibilidade após 2h
Urticária localizada ou disseminada, edema de face, laringoespasmo
20
Reação de hipersensibilidade até 2h
Urticária localizada ou disseminada, edema de face, laringoespasmo
4
Úlcera maior que 01cm
Formação de lesão ulcerada maior que 1cm no local da aplicação
24
Visceralização
Quadro de disseminação do vírus vacinal da FA com quadro semelhante ao da doença por vírus selvagem. Deve ser avaliada por profissional habilitado e realização de exames complementares
1
Outras reações locais
Sem definição – Usar campo de resumo clínico para especificar o evento
25
Febre menor que 39,5°C
Verificada com termômetro
54
Cefaléia / mialgia / mal-estar
Sintomas inespecíficos associados que podem ocorrer após a aplicação de algumas vacinas
Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais
100
Tabela de eventos adversos
Código
CAPÍTULO
5
Acidentes por
animais peçonhentos
Acidentes por Animais Peçonhentos
Acidentes ofídicos
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
No Brasil, quatro tipos de acidente são considerados de interesse em saúde: botrópico,
crotálico, laquético e elapídico. Acidentes por serpentes não-peçonhentas são relativamente
freqüentes, porém não determinam acidentes graves e, por isso, são considerados de menor
importância médica.
O envenenamento causado pela inoculação de toxinas, através de aparelho inoculador
(presas) de serpentes, pode determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.
Agentes causais
A presença de fosseta loreal, órgão termorregulador localizado entre o olho e a narina, caracteriza o grupo de serpentes peçonhentas de interesse médico no Brasil, onde se
incluem os gêneros Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca), Crotalus (cascavel) e Lachesis (surucucu, pico-de-jaca); como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus
(coral verdadeira) não possui fosseta loreal.
O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes peçonhentas, com
mais de 60 espécies encontradas em todo o território brasileiro (incluindo os gêneros Bothriopsis e Bothrocophias). As principais espécies são: B. atrox – o ofídio mais encontrado
na Amazônia, principalmente em beiras de rios e igarapés; B. erythromelas – abundante nas
áreas litorâneas e úmidas da região Nordeste; B. jararaca – tem grande capacidade adaptativa, ocupa e coloniza tanto áreas silvestres como agrícolas e periurbanas, sendo a espécie mais
comum da região Sudeste; B. jararacussu – é a espécie que pode alcançar o maior comprimento (até 1,8m) e que produz a maior quantidade de veneno dentre as serpentes do gênero,
predominante nas regiões Sul e Sudeste; B. moojeni – principal espécie dos cerrados, capaz
de se adaptar aos ambientes modificados, com comportamento agressivo e porte avantajado;
e B. alternatus – vive em campos e outras áreas abertas, da região Centro-Oeste à Sul.
As serpentes do gênero Crotalus são identificadas pela presença de guizo ou chocalho
na extremidade caudal. São representadas no Brasil por uma única espécie (C. durissus),
com ampla distribuição geográfica, desde os cerrados do Brasil central, regiões áridas e
semi-áridas do Nordeste, até os campos e áreas abertas do Sul, Sudeste e Norte.
Para o gênero Lachesis, é também identificada uma única espécie (L. muta), habitante
da floresta Amazônica e dos remanescentes da Mata Atlântica, que pode alcançar até 3,5m
de comprimento.
O gênero Micrurus é o representante da família Elapidae no Brasil, onde se incluem
as najas asiáticas e africanas. Com cerca de 22 espécies, apresenta ampla distribuição geográfica no país. Os hábitos fossorais, os reduzidos tamanhos da abertura bucal e das presas
inoculadoras de veneno e a baixa agressividade justificam o pequeno número de acidentes
registrados por este gênero.
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5
103
Acidentes por Animais Peçonhentos
Diversos gêneros de serpentes consideradas não-peçonhentas ou de menor importância médica são encontrados em todo o país, sendo também causa comum de acidentes:
Phylodrias (cobra-verde, cobra-cipó), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglerophis (boipeva), Helicops (cobra d’água), Eunectes (sucuri) e Boa (jibóia), dentre outras.
Mecanismo de ação
Os venenos ofídicos podem ser classificados de acordo com suas atividades fisiopatológicas, cujos efeitos são observados em nível local (região da picada) e sistêmico.
Atividade
Veneno
Efeitos
Inflamatória aguda
Botrópico e laquético
Lesão endotelial e necrose no local da picada
Liberação de mediadores inflamatórios
Coagulante
Botrópico, laquético e crotálico
Incoagulabilidade sangüínea
Hemorrágica
Botrópico, laquético
Sangramentos na região da picada (equimose)
e a distância (gengivorragia, hematúria etc.)
Neurotóxica
Crotálico e elapídico
Bloqueio da junção neuromuscular (paralisia
de grupos musculares)
Miotóxica
Crotálico
Rabdomiólise (mialgia generalizada,
mioglobinúria)
“Neurotóxica” vagal
Laquético
Estimulação colinérgica (vômitos, dor
abdominal, diarréia, hipotensão, choque)
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal e a gravidade depende da quantidade de veneno inoculada. Pode haver casos de picada em que não ocorre envenenamento (“picada seca”).
Nessas circunstâncias, não há indicação de soroterapia. Não existe imunidade adquirida.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Na maioria dos casos, o reconhecimento das manifestações clínicas e a história epidemiológica do acidente permitem o diagnóstico do tipo de envenenamento. O diagnóstico
por meio da identificação do animal é pouco freqüente.
Acidente botrópico
Manifestações locais – evidenciam-se nas primeiras horas após a picada, com a presença de edema, dor e equimose na região atingida, que progride ao longo do membro
acometido. As marcas de picada nem sempre são visíveis, assim como o sangramento nos
pontos de inoculação das presas. Bolhas com conteúdo seroso ou sero-hemorrágico podem
surgir na evolução e dar origem à necrose cutânea. As principais complicações locais são
decorrentes da necrose e da infecção secundária, que podem levar à amputação e/ou déficit
funcional do membro.
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Manifestações sistêmicas – sangramentos em pele e mucosas são comuns (gengivorragia, equimoses a distância do local da picada), hematúria, hematêmese e hemorragia
em outras cavidades pode determinar risco ao paciente. Hipotensão pode ser decorrente de
seqüestro de líquido no membro picado ou hipovolemia conseqüente a sangramentos, que
podem contribuir para a instalação de insuficiência renal aguda.
Acidente crotálico
Manifestações locais – não se evidenciam alterações significativas. A dor e o edema são
usualmente discretos e restritos ao redor da picada; eritema e parestesia são comuns.
Manifestações sistêmicas – o aparecimento das manifestações neuroparalíticas tem
progressão craniocaudal, iniciando-se por ptose palpebral, turvação visual e oftalmoplegia.
Distúrbios de olfato e paladar, além de ptose mandibular e sialorréia, podem ocorrer com o
passar das horas. Raramente a musculatura da caixa torácica é acometida, o que ocasiona insuficiência respiratória aguda. Essas manifestações neurotóxicas regridem lentamente, porém
são totalmente reversíveis. Pode haver gengivorragia e outros sangramentos discretos. Progressivamente, surgem mialgia generalizada e escurecimento da cor da urina (cor de “cocacola” ou “chá-preto”). A insuficiência renal aguda é a principal complicação e causa de óbito.
5
Acidente laquético
As manifestações, tanto locais como sistêmicas, são indistinguíveis do quadro desencadeado pelo veneno botrópico. A diferenciação clínica se faz quando, nos acidentes laquéticos, estão presentes alterações vagais como náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia,
hipotensão e choque.
Acidente elapídico
Manifestações locais – dor e parestesia na região da picada são discretos, não havendo
lesões evidentes.
Manifestações sistêmicas – fácies miastênica ou neurotóxica (comum ao acidente crotálico) constitui a expressão clínica mais comum do envenenamento por coral verdadeira,
complicação decorrente da progressão da paralisia da face para os músculos respiratórios.
Acidentes por serpentes não-peçonhentas
A maioria das picadas causa apenas traumatismo local. Nos acidentes por Phylodrias
(cobra-verde, cobra-cipó) e Clelia (muçurana, cobra-preta), pode haver manifestações locais como edema, dor e equimose na região da picada, porém sem gravidade.
Diagnóstico diferencial
As histórias clínica e epidemiológica permitem a diferenciação dos tipos de envenenamento, mesmo que a serpente não seja identificada. Apenas nas áreas onde há superposição
na distribuição geográfica de serpentes do gênero Bothrops e Lachesis, o diagnóstico diferencial de acidente botrópico e laquético somente é possível com a identificação do animal
ou presença de manifestações vagais.
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Diagnóstico laboratorial
Não existe exame laboratorial para determinar o tipo de envenenamento ofídico, sendo o diagnóstico eminentemente clínico-epidemiológico.
Nos acidentes botrópicos, laquéticos e crotálicos, exames de coagulação devem ser
realizados para a confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia. O tempo
de coagulação (TC), simples e de fácil execução, pode ser feito nos locais que não dispõem
de laboratório (ver técnica no Anexo 1).
Tratamento
O tratamento é feito com a aplicação do soro (antiveneno) específico para cada tipo de
acidente, de acordo com a gravidade do envenenamento.
A aplicação dos soros deve ser por via intravenosa, podendo ser diluídos ou não, em
solução fisiológica ou glicosada.
Acidente
Soro
Antibotrópico (SAB)
Botrópico
Laquético
Crotálico
Elapídico
Antibotrópicolaquético (SABL)
Antibotrópicolaquético (SABL)
Anticrotálico (SAC)
Antielapídico (SAE)
Gravidade
Nº de
ampolas
Leve: quadro local discreto, sangramento em pele ou mucosas;
pode haver apenas distúrbio na coagulação
2a4
Moderado: edema e equimose evidentes, sangramento sem comprometimento do estado geral; pode haver distúrbio na coagulação
5a8
Grave: alterações locais intensas, hemorragia grave, hipotensão, anúria
12
Moderado: quadro local presente, pode haver sangramentos, sem
manifestações vagais
10
Grave: quadro local intenso, hemorragia intensa com manifestações vagais
20
Leve: alterações neuroparalíticas discretas; sem mialgia,
escurecimento da urina ou oligúria
5
Moderado: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia e mioglobinúria
(urina escura) discretas
10
Grave: alterações neuroparalíticas evidentes,
mialgia e mioglobinúria intensas, oligúria
20
Considerar todos os casos potencialmente graves
pelo risco de insuficiência respiratória
10
Devido à natureza heteróloga, a administração dos soros pode causar reações de hipersensibilidade imediata. No entanto, testes de sensibilidade cutânea não são recomendados pois, além de terem baixo valor preditivo, retardam o início da soroterapia.
Durante a infusão e nas primeiras horas após a administração do soro, o paciente deve
ser rigorosamente monitorado para a detecção precoce da ocorrência de reações, tais como
urticária, náuseas/vômitos, rouquidão e estridor laríngeo, broncoespasmo, hipotensão e
choque. Uma vez diagnosticada a reação, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente reinstituída após tratamento da anafilaxia.
106
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Reações tardias (doença do soro) podem ocorrer uma a quatro semanas após a soroterapia, com urticária, febre baixa, artralgia e adenomegalia.
Não há evidências de que fármacos (antiinflamatórios, heparina) neutralizem os efeitos dos venenos. O único tratamento medicamentoso efetivo pode ser realizado no acidente
elapídico, utilizando-se anticolinesterásico (neostigmina). Dose de ataque: 0,25mg/kg adultos ou 0,05mg/kg crianças, via intravenosa. Manutenção: 0,05 a 1mg, via intravenosa a cada
4 horas, precedida de atropina, via intravenosa (0,5mg/kg adultos, 0,05mg/kg).
A hidratação endovenosa deve ser iniciada precocemente, para prevenir a insuficiência renal aguda.
Aspectos epidemiológicos
O número de notificações de ofidismo vem aumentando ano a ano. Em 2003, por
exemplo, foram registrados 25.478 acidentes, correspondendo à incidência de 15 casos por
100 mil habitantes. Verifica-se, no entanto, significativa variação por região, com coeficientes mais elevados nas regiões Norte e Centro-Oeste (Tabela 1).
5
Tabela 1. Incidência de acidentes ofídicos por regiões. Brasil, 2003
Região
Nº de casos
Incidência (100 mil hab.)
7.073
54,8
Nordeste
6.117
12,8
Sudeste
6.840
9,5
Sul
2.741
10,9
Centro-Oeste
2.627
22,6
Brasil
25.478
15,0
Norte
Observação: 80 casos sem informação.
Uma vez que nem sempre é possível identificar a serpente causadora do acidente, o
diagnóstico do tipo de envenenamento é baseado em critérios clínicos e epidemiológicos.
Assim, dos quatro gêneros de serpentes peçonhentas verifica-se o predomínio do acidente
botrópico, que corresponde a 87,5% dos casos ofídicos notificados no país, seguidos pelo
crotálico (9,2%), laquético (2,7%) e elapídico (0,6%), com pequenas variações de acordo
com a região e distribuição geográfica das serpentes.
Poucos casos são diagnosticados como acidentes por serpentes não-peçonhentas,
provavelmente em vista da não utilização de soro específico. Por outro lado, 18,9% dos
acidentes ofídicos notificados em 2003 foram diagnosticados como acidente por serpente
não identificada. Considerando-se a existência de marcadas diferenças na apresentação clínica dos envenenamentos ofídicos no país, não se justifica essa elevada proporção de casos
ignorados.
A distribuição dos acidentes ao longo do ano não ocorre de maneira uniforme, verificando-se um incremento no número de casos nas épocas de calor e chuvas, que coincidem
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Acidentes por Animais Peçonhentos
com o período de maior atividade humana no campo, o que na maioria dos estados corresponde ao período de janeiro a abril (Gráfico 1). Deste modo, o acidente ofídico acomete,
com maior freqüência, adultos jovens do sexo masculino durante o trabalho na zona rural.
Gráfico 1. Distribuição mensal dos acidentes ofídicos, por macrorregião.
Brasil, 2003
900
800
700
Número de casos
600
500
400
300
200
100
0
Jan
Fev
Mar
Abr
N
Mai
NE
Jun
Jul
SE
Ago
S
Set
Out
Nov
Dez
CO
O reconhecimento dos períodos de maior risco, dado pela característica sazonalidade
na ocorrência destes acidentes, tem importância não apenas para preparar os serviços e os
profissionais de saúde para o aumento na demanda de casos mas também para estabelecer
estratégias de distribuição e controle dos estoques de soros específicos nos locais de atendimento, bem como fortalecer as ações de prevenção por meio de atividades de educação em
saúde.
A maioria dos acidentes é classificada como leve e a letalidade geral é relativamente
baixa (0,5%). O tempo decorrido entre o acidente, atendimento e tipo de envenenamento
pode elevar a letalidade em até oito vezes esta taxa, como no envenenamento crotálico,
quando o atendimento é realizado mais de 6 a 12 horas após o acidente (4,7%). Por outro
lado, a freqüência de seqüelas, relacionada a complicações locais, é bem mais elevada, situada em 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de risco como o uso de torniquete,
picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo na administração da soroterapia.
108
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Escorpionismo
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Envenenamento causado pela inoculação de toxinas através de aparelho inoculador (ferrão) de escorpiões, podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.
Agentes causais
No Brasil, os escorpiões de importância médica são representados pelo gênero Tityus,
com várias espécies descritas: T. serrulatus (escorpião-amarelo) – com ampla distribuição
desde a Bahia ao Paraná e região central do país, representa a espécie de maior interesse
pela facilidade de reprodução partenogenética, adaptação ao meio urbano e maior potencial de gravidade de envenenamento; T. bahiensis (escorpião-marrom) – encontrado em
todo o país, com exceção da região Norte; T. stigmurus – espécie mais comum do Nordeste;
T. cambridgei (escorpião-preto) e T. metuendus – encontrados na Amazônia.
São animais carnívoros e alimentam-se principalmente de insetos, como grilos e baratas. Apresentam hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob pedras, troncos, dormentes de trilhos, entulhos, telhas ou tijolos. Muitas espécies vivem em áreas urbanas, onde
encontram abrigo dentro ou próximo das casas, onde dispõem de farta alimentação. Podem
sobreviver vários meses sem alimento ou água, o que dificulta sobremaneira seu controle.
5
Mecanismo de ação
O veneno escorpiônico, independentemente da espécie, estimula canais de sódio em
terminações nervosas, levando à estimulação de nervos periféricos sensitivos, motores e do
sistema nervoso autônomo.
Susceptibilidade e imunidade
Apesar da intensidade das manifestações clínicas ser dependente da quantidade de veneno inoculada, em geral os adultos apresentam quadro local benigno, enquanto as crianças constituem o grupo mais susceptível ao envenenamento sistêmico grave.
A susceptibilidade é universal e não existe imunidade adquirida após o acidente escorpiônico.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Na maioria dos casos, o reconhecimento das manifestações clínicas e a história epidemiológica do acidente permitem o diagnóstico do tipo de envenenamento. O diagnóstico
etiológico, quando há identificação do animal, é pouco freqüente.
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Manifestações locais – a dor, de instalação imediata, é o principal sintoma, podendo
se irradiar para o membro e ser acompanhada de parestesia, eritema e sudorese localizada
ao redor do ponto de picada. Tem duração de até 24 horas, embora o quadro mais intenso
ocorra nas primeiras horas após o acidente.
Manifestações sistêmicas – após intervalo de minutos até poucas horas (duas a três),
podem surgir, em crianças, manifestações sistêmicas como sudorese profusa, agitação psicomotora, tremores, náuseas, vômitos, sialorréia, hipertensão ou hipotensão arterial, arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar agudo e choque. A presença dessas manifestações impõe a suspeita do diagnóstico de escorpionismo, mesmo na
ausência de história de picada ou identificação do animal.
Diagnóstico diferencial
Nos casos de impossibilidade de obtenção da história de picada e/ou identificação do
agente causal, o diagnóstico diferencial deve ser feito com acidente por aranha do gênero
Phoneutria, que provoca quadros local e sistêmico semelhantes ao do escorpionismo.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico é eminentemente clínico-epidemiológico e não existe exame laboratorial para confirmação.
Os seguintes exames complementares são úteis no acompanhamento de pacientes com
manifestações sistêmicas:
• eletrocardiograma – taqui ou bradicardia sinusal, extra-sístoles ventriculares, distúrbios na repolarização ventricular, presença de ondas U proeminentes, alterações semelhantes às observadas no infarto agudo do miocárdio e bloqueio na condução
ventricular;
• radiografia de tórax – aumento da área cardíaca e sinais de edema pulmonar agudo.
A ecocardiografia evidencia, nas formas graves, hipocinesia do septo interventricular e de parede, às vezes associada à regurgitação mitral;
• bioquímica – creatinofosfoquinase e sua fração MB elevadas, hiperglicemia, hiperamilasemia, hipopotassemia e hiponatremia.
Tratamento
Na maioria dos casos, onde há somente o quadro local, o tratamento é sintomático e
consiste no alívio da dor por infiltração de anestésico sem vasoconstritor (lidocaína a 2%)
ou analgésico sistêmico, como dipirona, na dosagem de 10mg/kg.
O tratamento específico consiste na administração de soro antiescorpiônico (SAEsc)
ou antiaracnídico (SAA) aos pacientes com formas moderadas e graves, mais freqüentes
nas crianças picadas por T. serrulatus.
A aplicação dos soros deve, como os soros antiofídicos, ser feita pela via intravenosa,
bem como os cuidados na administração perante a possibilidade de reações alérgicas.
110
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Acidente
Soro
Nº de
ampolas
Gravidade
-
Leve: dor e parestesia local
Escorpiônico
Antiescorpiônico
(SAEsc)
ou antiaracnídico
(SAA)
Moderada: dor local intensa associada a uma ou mais
manifestações: náuseas, vômitos, sudorese, sialorréia,
agitação, taquipnéia e taquicardia
2a3
Grave: além das acima citadas, presença de uma ou
mais das seguintes manifestações: vômitos profusos
e incoercíveis, sudorese profusa, sialorréia intensa,
prostração, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência
cardíaca, edema pulmonar agudo e choque
4a6
Pacientes com manifestações sistêmicas, especialmente crianças (casos moderados e
graves), devem ser mantidos em regime de observação continuada das funções vitais,
objetivando o diagnóstico e tratamento precoces das complicações.
5
A bradicardia sinusal associada a baixo débito cardíaco e o bloqueio AV total devem
ser tratados com atropina (0,01 a 0,02mg/kg). A hipertensão arterial persistente, associada ou não a edema pulmonar agudo, é tratada com o emprego de nifedipina (0,5mg/kg)
sublingual. Nos pacientes com edema pulmonar agudo, além das medidas convencionais
de tratamento deve ser considerada a necessidade de ventilação artificial mecânica, dependendo da evolução clínica. O tratamento da insuficiência cardíaca e do choque é complexo
e geralmente necessita do emprego de infusão venosa contínua de dopamina e/ou dobutamina (2,5 a 20 μg/kg/min).
Aspectos epidemiológicos
A distribuição do escorpionismo ao longo do ano não ocorre de maneira uniforme,
verificando-se um incremento no número de casos nas épocas de calor e chuvas, que coincidem com o período de maior atividade biológica dos escorpiões.
De caráter predominantemente urbano, sua ocorrência tem se elevado nos últimos
anos, particularmente nos estados do Nordeste, atingindo mais de 21.022 acidentes em
2003 e taxa de incidência de 12 casos por 100 mil habitantes.
A maioria dos acidentes é classificada como leve e não requer soroterapia, podendo
ser tratada na unidade de saúde mais próxima do local de ocorrência. Em que pese a baixa
letalidade (0,2%), crianças abaixo de 14 anos têm risco mais elevado de evoluir para óbito
(3,2%). Em 2003, foram registrados 48 óbitos, a quase totalidade em menores de 14 anos
(Figura 1).
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111
Acidentes por Animais Peçonhentos
Figura 1. Percentual acumulado de óbitos por escorpianismo. Brasil, 2003
100,0
%
95,8
90,0
97,9
100,0
80,0
93,8
70,0
60,0
77,1
50,0
40,0
43,8
30,0
20,0
10,0
4,2
0,0
< 1 ano
1a4
5a9
10 a 14
15 a 19
20 a 34
35 a 40
50 a 64
65 a 79
80 e +
No caso do escorpionismo, o tempo entre o acidente e o início de manifestações sistêmicas graves é bem mais curto do que para os acidentes ofídicos. Deste modo, crianças
picadas por T. serrulatus, ao apresentar os primeiros sinais e sintomas de envenenamento
sistêmico, devem receber o soro específico o mais rapidamente possível, bem como cuidados para a manutenção das funções vitais.
Araneísmo
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Envenenamento causado pela inoculação de toxinas através de aparelho inoculador
(quelíceras) de aranhas, podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas. Apesar do grande número de aranhas encontradas na natureza, poucas são consideradas de importância médica.
Agentes causais
As aranhas peçonhentas de interesse médico no Brasil são representadas pelos gêneros Loxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (armadeira) e Latrodectus (viúva-negra), que
apresentam aspectos biológicos e distribuição geográfica bastante distintos.
O gênero Loxosceles é encontrado em todo o país, mas sua importância é mais destacada na região Sul, particularmente no Paraná, onde vem proliferando de maneira significativa na última década. Várias são as espécies descritas e as principais causadoras de acidentes
são: Loxosceles intermedia, L. laeta e L. gaucho. Podem atingir 1cm de corpo e até 3cm de
envergadura de pernas. Constroem teias irregulares em fendas de barrancos, sob cascas de
112
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Acidentes por Animais Peçonhentos
árvores, telhas e tijolos, atrás de quadros e móveis e em vestimentas, geralmente ao abrigo
da luz; não são agressivas e picam somente quando comprimidas contra o corpo.
Outras aranhas bastante comuns no peridomicílio, como as representantes da família
Lycosidae (aranha-de-grama, aranha-de-jardim) e as caranguejeiras, não representam
problema de saúde. Eventualmente, podem ocasionar picada dolorosa, porém sem
repercussão sistêmica.
Mecanismo de ação
De acordo com as atividades fisiopatológicas, os efeitos dos venenos das aranhas de
interesse médico são distintos, tanto em nível local como sistêmico.
5
Atividade
Veneno
Efeitos
Dermonecrótica
Loxosceles
Necrose cutânea no local da picada
Hemolítica
Loxosceles
Hemólise intravascular
Sobre terminações nervosas
Phoneutria, Latrodectus
Local: dor, edema, sudorese
Sistêmico: contraturas musculares,
intoxicação adrenérgica/colinérgica
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Loxoscelismo
Manifestações locais – a picada é usualmente pouco dolorosa, podendo passar desapercebida; após algumas horas, tornam-se evidentes dor, eritema e edema na região da picada, com equimose central, áreas de palidez (placa marmórea) e, eventualmente, bolhas
com conteúdo sero-hemorrágico; à palpação, nota-se área endurada. A lesão cutânea pode
evoluir com necrose seca e úlcera.
Manifestações sistêmicas – acompanhando o quadro local, queixas inespecíficas como
mal-estar, cefaléia, febre e exantema são comumente referidas pelos pacientes. A presença
de hemólise intravascular caracteriza a chamada forma cutâneo-visceral do loxoscelismo,
observada na minoria dos casos, em geral nas primeiras 72 horas após a picada. Os casos
graves podem evoluir com insuficiência renal aguda.
Foneutrismo
Manifestações locais – a dor irradiada e de início imediato é o sintoma mais característico, podendo ser bastante intensa nas primeiras três a quatro horas após a picada; o
quadro pode ser acompanhado por edema e sudorese no local e parestesia ao longo do
membro. As marcas dos pontos de inoculação podem ou não ser visualizadas.
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Manifestações sistêmicas – em associação ao quadro local, os pacientes podem apresentar taquicardia, hipertensão arterial, agitação psicomotora e vômitos. Crianças podem
apresentar manifestações graves, como sudorese profusa, sialorréia, priapismo, hipotensão,
choque e edema pulmonar agudo, que podem eventualmente levar a óbito.
Latrodectismo
Manifestações locais – geralmente o quadro se inicia com dor local de pequena intensidade, evoluindo com sensação de queimação; observa-se pápula eritematosa e sudorese
localizada.
Manifestações sistêmicas – são mais freqüentemente observadas alterações motoras,
como dor irradiada e contrações espasmódicas dos membros inferiores, contraturas musculares intermitentes, tremores, dor com rigidez abdominal (que pode simular abdome
agudo) e fácies latrodectísmica, caracterizada por contratura facial e trismo dos masseteres.
Outras manifestações, menos freqüentes, incluem opressão precordial, taquicardia e hipertensão arterial, náuseas, vômitos, sialorréia e priapismo.
Diagnóstico diferencial
Os quadros de dor local observados nos acidentes por Phoneutria e escorpiônicos são
indistinguíveis. Nesses casos, mesmo que o agente não seja identificado, é realizado o tratamento sintomático; se houver indicação de soroterapia, deve ser utilizado o soro antiaracnídico que contém frações que neutralizam os venenos de Tityus, Phoneutria e Loxosceles.
Diagnóstico laboratorial
Não existe diagnóstico específico para o loxoscelismo. Na forma cutâneo-visceral, as
alterações laboratoriais podem ser subclínicas, com anemia aguda e hiperbilirrubinemia
indireta; elevação dos níveis séricos de uréia e creatinina é observada somente quando há
insuficiência renal aguda.
Da mesma forma, as alterações laboratoriais no latrodectismo são inespecíficas, sendo
descritos distúrbios hematológicos (leucocitose, linfopenia), bioquímicos (hiperglicemia,
hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria) e eletrocardiográficas (fibrilação atrial, bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T,
inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT).
As alterações laboratoriais do foneutrismo são semelhantes às do escorpionismo, notadamente aquelas decorrentes de comprometimento cardiovascular.
Tratamento
Além de calor local e analgésico sistêmico, o tratamento sintomático para a dor no
foneutrismo inclui infiltração anestésica local ou troncular com lidocaína a 2% ou similar,
sem vasoconstritor (3-4ml em adultos e 1-2ml em crianças). Havendo recorrência da dor,
pode ser necessária nova infiltração, em geral em intervalos de 60 min. Caso não haja resposta satisfatória ao anestésico, recomenda-se o uso de meperidina 50-100mg (crianças:
1mg/kg) via intramuscular. A soroterapia tem indicação restrita, conforme a gravidade do
114
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Acidentes por Animais Peçonhentos
acidente, sendo utilizado o soro antiaracnídico que contém frações que neutralizam o veneno de Tityus, Phoneutria e Loxosceles.
No loxoscelismo, a limitação ao uso de antiveneno se deve ao diagnóstico tardio, muitas vezes realizado já com a necrose cutânea delimitada. Nesse caso, medidas de suporte,
como uso de antissépticos, lavagem com KMnO4 (permanganato de potássio) a 1:40 mil e
curativos locais são recomendados até que ocorram a remoção da escara e o acompanhamento cirúrgico para o manejo da úlcera e correção da cicatriz.
O soro antilatrodéctico encontra-se em fase experimental, não sendo disponível para
uso de rotina. Desta forma, o tratamento medicamentoso do latrodectismo inclui, além de
analgésicos sistêmicos:
• benzodiazepínicos do tipo diazepan: 5-10mg (crianças: 1-2mg), via intravenosa, a
cada 4 horas, se necessário;
• gluconato de cálcio 10%: 10-20ml (crianças: 1mg/kg), via intravenosa, a cada 4 horas, se necessário;
• clorpromazina: 25-50mg (crianças: 0,55mg/kg/dose), via intramuscular, a cada 8 horas, se necessário.
5
Aspectos epidemiológicos
Acidente
Soro
Nº de
ampolas
Gravidade
Leve: dor local, edema, eritema, sudorese, piloreção
Foneutrismo
Antiaracnídico
(SAA)
-
Moderada: dor local intensa, sudorese, vômitos
ocasionais, agitação psicomotora, hipertensão arterial
2a4
Grave: sudorese profusa, sialorréia, vômitos profusos,
priapismo, choque, edema pulmonar agudo
5 a 10
Leve: aranha identificada, lesão incaracterística,
ausência de comprometimento sistêmico
Loxoscelismo
Antiloxoscélico
(SALox) ou
antiaracnídico
(SAA)
-
Moderada: independentemente da identificação do agente,
lesão sugestiva ou característica, manifestações sistêmicas
inespecíficas (exantema, febre), ausência de hemólise
5*
Grave: lesão característica, manifestações clínicas
e/ou evidências laboratoriais de hemólise intravascular
10*
*Recomenda-se a associação com prednisona (adultos: 40mg/dia; crianças: 1mg/kg/dia) durante 5 dias.
A epidemiologia dos acidentes aracnídicos é bastante distinta, a depender dos três
tipos de envenenamento. Dos 15.038 casos registrados em 2003 (incidência: 8,9 acidentes
por 100 mil habitantes), o loxoscelismo foi responsável por 49,6% das notificações, enquanto o foneutrismo respondeu por 11,9% e o latrodectismo por 0,4%. Boa parte dos registros
não fornece informações sobre o tipo de envenenamento, com cerca de 33,6% sem identificação do tipo de acidente.
Diferentemente dos acidentes ofídicos e escorpiônicos, o pico de ocorrência do fonoeutrismo se concentra nos meses de abril e maio, pelo menos na região Sudeste, que concentra a
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
115
Acidentes por Animais Peçonhentos
maioria das notificações. Uma vez que 90% dos casos são considerados acidentes leves, a freqüência do uso de soro antiaracnídico é baixa, podendo, em sua grande maioria, ser tratados
em unidades de saúde não especializadas. Na vigência de manifestações sistêmicas, onde há
necessidade de soroterapia, o tratamento deve ser feito em ambiente hospitalar com recursos
para o monitoramento das funções vitais e suporte de terapia intensiva, se necessário.
Os acidentes por Loxosceles ocorrem com maior freqüência no verão, com sazonalidade semelhante à dos acidentes ofídicos e escorpiônicos. As causas para o incremento
da população de aranhas no Paraná e, conseqüentemente, dos acidentes neste estado não
estão bem definidas. É possível que, além de condições ambientais (umidade, temperatura),
a adaptação ao meio intradomiliciar possa ter facilitado a disseminação desses animais,
mais notadamente no município de Curitiba. A importância do loxoscelismo nessa unidade federada levou, inclusive, à produção do soro antiloxoscélico pelo Centro de Produção
e Pesquisa em Imunobiológicos (CPPI), da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, hoje
distribuído para todo o país.
Os dados epidemiológicos do latrodectismo são escassos, por serem acidentes de baixa
incidência e restritos à faixa litorânea da região Nordeste. Não há óbitos registrados por
este gênero de aranha. Por outro lado, a eficácia do soro antilatrodéctico, importado da
Argentina, na redução da intensidade e duração das manifestações sistêmicas de alguns
casos motivou o desenvolvimento de pesquisas para viabilizar a produção do antiveneno
específico. No momento, sua utilização encontra-se em fase experimental.
Acidentes por lonomia e outras lagartas
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Envenenamento causado pela penetração de cerdas de lagartas (lepidópteros) na pele,
ocorrendo, assim, a inoculação de toxinas que podem determinar alterações locais e, nos
envenenamentos pelo gênero Lonomia, manifestações sistêmicas.
Agentes causais
São considerados de importância médica os acidentes causados por insetos pertencentes a ordem Lepidoptera, na sua forma larvária. Popularmente conhecidas como taturana,
oruga, ruga, lagarta-de-fogo, apresentam grande variedade morfológica. As principais famílias de lepidópteros causadoras de acidentes são a Megalopygidae e a Saturniidae.
Os representantes da família Megalopygidae (megalopigídeos) apresentam cerdas
pontiagudas, curtas e que contêm as glândulas de veneno, entremeadas por outras longas,
coloridas e inofensivas. Já as lagartas da família Saturniidae (saturnídeos) têm “espinhos”
ramificados e pontiagudos de aspecto arbóreo, com tonalidades esverdeadas, mimetizando,
muitas vezes, as plantas que habitam. Nesta família se inclui o gênero Lonomia, causador de
acidentes hemorrágicos.
116
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Alimentam-se durante a noite, permanecendo no tronco durante o dia. Os megalopigídeos são solitários, enquanto os saturnídeos têm hábitos gregários, fazendo com que o
acidente ocorra, geralmente, com várias lagartas, principalmente em crianças que, ao subir
no tronco das árvores, terminam por entrar em contato com as mesmas.
Os lepidópteros têm ampla distribuição em todo o país. As lagartas do gênero Lonomia
vêm adquirindo, na última década, maior relevância em função do aumento na população
de insetos, com duas espécies descritas: L. obliqua, encontrada predominantemente na região Sul, São Paulo e Minas Gerais, e L. achelous, identificada no Pará, Amapá e Maranhão. É
o único grupo responsável por manifestações sistêmicas, caracterizadas por sangramentos.
Mecanismo de ação
Não se conhece exatamente como agem os venenos das lagartas. Atribui-se ação aos
líquidos da hemolinfa e da secreção das espículas, tendo a histamina como um dos principais componentes.
O veneno de Lonomia provoca um distúrbio na coagulação sangüínea, com dois mecanismos descritos. Os extratos de cerdas de L. obliqua indicam atividade procoagulante do
veneno por ativação de um ou mais fatores de coagulação (fator X e protrombina). Já para
o veneno de L. achelous é descrita intensa ação fibrinolítica e quadro semelhante ao de coagulação intravascular disseminada, cujo resultado final se traduz por consumo dos fatores
de coagulação e conseqüente incoagulabilidade sangüínea.
5
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal e a gravidade depende da quantidade de veneno inoculada. Pode haver acidentes em que ocorrem somente alterações locais; nessas circunstâncias
não há indicação de soroterapia e o tratamento pode ser feito com sintomáticos. Não existe
imunidade adquirida após o envenenamento.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Manifestações locais – independentemente do gênero ou família do lepidóptero causador do acidente, o quadro local é indistinguível e se caracteriza por dor imediata em
queimação, irradiada para o membro, com área de eritema e edema na região do contato;
eventualmente, pode-se evidenciar lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculação das cerdas. Adenomegalia regional dolorosa é comumente referida. Embora raro, pode
haver evolução com bolhas e necrose cutânea superficial. Os sintomas normalmente regridem em 24 horas, sem maiores complicações.
Manifestações sistêmicas – são somente observadas nos acidentes por Lonomia e
instalam-se algumas horas após o acidente, mesmo após a regressão do quadro local. Chama a atenção a presença de queixas inespecíficas, como cefaléia, mal-estar, náuseas e dor
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
117
Acidentes por Animais Peçonhentos
abdominal, que muitas vezes estão associadas ou mesmo antecedem o aparecimento de
sangramentos. Dentre as manifestações hemorrágicas, são mais comumente observadas
gengivorragia, equimoses de aparecimento espontâneo ou provocados por traumatismo/
venopunção, epistaxe e, em outros sítios que podem determinar maior gravidade, hematúria, hematêmese e hemoptise. Insuficiência renal aguda e hemorragia intracraniana têm
sido associados a óbitos.
Diagnóstico diferencial
Se o agente causal não for identificado e houver somente manifestações locais, não é
possível fazer o diagnóstico diferencial de acidente por Lonomia e outros lepidópteros.
Na situação de um paciente com história de contato com lagarta, sem sangramento
ou alteração na coagulação, recomenda-se observação clínica e controle laboratorial
durante as primeiras 24 horas após o acidente, período em que pode haver o surgimento do quadro hemorrágico e/ou alteração da coagulação. Neste caso, está indicada
a soroterapia específica.
Diagnóstico laboratorial
Cerca de 50% dos pacientes acidentados por Lonomia apresentam distúrbio na coagulação sangüínea, com ou sem sangramentos. O tempo de coagulação, a exemplo dos acidentes ofídicos, é ferramenta útil na detecção desses casos e no acompanhamento após
soroterapia. A reversão da incoagulabilidade sangüínea costuma ocorrer 24 horas após a
administração do antiveneno específico, podendo o controle ser realizado pelas provas de
coagulação, como tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada e tempo
de trombina, que, em geral, estão alteradas na admissão e mantêm um perfil semelhante
na recuperação pós-soro. Não há alteração na contagem de plaquetas, a não ser nos casos
graves. Hemólise subclínica pode ser detectada. Uréia e creatinina se elevam na vigência
de insuficiência renal aguda. Caso o paciente apresente torpor, rebaixamento do nível de
consciência e coma, recomenda-se a realização de tomografia computadorizada de crânio
para a detecção de eventual sangramento intracraniano.
Tratamento
O tratamento do quadro local é realizado com medidas sintomáticas que envolvem
lavagem e compressas da região com água fria ou gelada, analgésicos e anti-histamínicos
sistêmicos e infiltração local com anestésico do tipo lidocaína a 2%.
Nos acidentes com manifestações hemorrágicas, o paciente deve ser mantido em repouso, evitando-se intervenções traumáticas, como injeções intramusculares, punções e
manipulações cirúrgicas até a normalização da coagulopatia.
O soro antilonômico (SALon) encontra-se disponível para aplicação, conforme a gravidade do envenenamento.
118
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Acidente
lonômico
Gravidade
Nº de
ampolas
Leve: quadro local apenas, sem sangramento ou distúrbio
na coagulação
-
Moderada: quadro local presente ou não, presença de distúrbio na coagulação, sangramento em pele e/ou mucosas
5
Grave: independente do quadro local, presença de
sangramento em vísceras ou complicações com risco
de morte ao paciente
10
Soro
Antilonômico
(SALon)
A aplicação é por via intravenosa e os cuidados em relação às reações adversas são
os mesmos adotados na administração dos demais soros antipeçonhentos, uma vez que a
produção das imunoglobulinas específicas se faz por meio da imunização de cavalos com
extratos de cerdas de lagartas.
5
Aspectos epidemiológicos
A notificação dos acidentes por lepidópteros depende da importância dos envenenamentos por Lonomia, os quais, por sua vez, adquiriram magnitude significativa nos últimos
anos. Os dados disponíveis, no entanto, não refletem a real incidência desses casos. Em
2003, foram registrados 291 acidentes por Lonomia e 820 por outras lagartas, principalmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Mas estados que nunca haviam
registrado casos anteriormente, como Maranhão e Minas Gerais, passaram a notificar acidentes hemorrágicos.
Nos estados das regiões Sul e Sudeste, a sazonalidade no registro dos acidentes é bastante marcada, com predomínio de outubro a abril. São acidentes característicos da zona
rural. Sendo as lagartas polífagas, cuja alimentação é baseada em folhas, freqüentemente
são encontradas em árvores frutíferas como goiabeira, ameixeira, abacateiro etc., além de
plantas nativas. O grupo etário pediátrico é o mais acometido, com ligeira predominância
no sexo masculino, fato relacionado às circunstâncias em que os acidentes ocorrem. Já os
casos graves e óbitos têm sido registrados em idosos com patologias prévias. Outros fatores
de risco para gravidade envolvem a quantidade e intensidade do contato com as lagartas e a
presença de traumatismos que podem levar a hemorragia maciça ou em órgão vital.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Reduzir a incidência dos acidentes por animais peçonhentos por meio da promoção
de ações de educação em saúde;
Diminuir a gravidade, a freqüência de seqüelas e a letalidade mediante o uso adequado
da soroterapia.
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119
Acidentes por Animais Peçonhentos
Definição de caso
Paciente com evidências clínicas compatíveis com envenenamento por animal peçonhento, com ou sem a identificação do animal causador do acidente.
O diagnóstico etiológico é realizado quando, além das alterações decorrentes do envenenamento, o animal causador do acidente é levado pelo paciente ou familiares e identificado.
Entretanto, para efeito de tratamento e de vigilância epidemiológica, são considerados confirmados todos os casos que se enquadrem na definição acima constante.
Notificação
Agravo de interesse nacional, todo acidente por animal peçonhento atendido na unidade de saúde deve ser notificado, independentemente do paciente ter sido ou não submetido à soroterapia.
Existe uma ficha específica de investigação do Sinan que se constitui instrumento fundamental para o estabelecimento de normas de atenção ao paciente e distribuição de soros
antipeçonhentos, de acordo com as características regionais na ocorrência dos acidentes.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Todo paciente deve receber atendimento por profissional médico para avaliação e indicação do tratamento indicado. Recomenda-se que todos aqueles submetidos à soroterapia
sejam hospitalizados para monitorar o aparecimento de reações, avaliar a eficácia da soroterapia (mediante parâmetros para verificar a neutralização dos efeitos do envenenamento)
e a ocorrência de complicações locais e sistêmicas, em especial a insuficiência renal aguda.
As unidades de saúde que aplicam soros devem contar com materiais e medicamentos
essenciais para a intervenção em caso de reação alérgica ao antiveneno, bem como para a
abordagem inicial das complicações.
Qualidade da assistência
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fatores fundamentais para o prognóstico do paciente. Assim, o profissional de vigilância epidemiológica deve verificar se as
equipes de assistência estão capacitadas para realizar o diagnóstico e aplicar corretamente a
soroterapia, e se as unidades de saúde dispõem de antivenenos em quantidade adequada e
para todos os tipos de envenenamento.
O paciente deve ser avaliado minuciosamente para se evitar a administração desnecessária de soro nos casos de acidente sem envenenamento ou por animal nãopeçonhento.
120
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Acidentes por Animais Peçonhentos
A inoculação de pequena quantidade de veneno pode determinar o aparecimento insidioso dos sintomas. Deste modo, indica-se a observação mínima de 6 a 12 horas em todos
os casos cujas manifestações clínicas não sejam evidentes à admissão.
Proteção individual para evitar acidentes
• Não andar descalço: o uso de sapatos, botinas sem elásticos, botas ou perneiras evita
80% dos acidentes.
• Olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer.
• Usar luvas de couro nas atividades rurais e de jardinagem.
• Não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros,
entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras, usar antes um pedaço
de pau, enxada ou foice.
• No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao
chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que as serpentes estão
em maior atividade.
• Usar calçados e luvas nas atividades de jardinagem e ao manusear materiais de construção.
• Examinar calçados e roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las.
5
Proteção da população
• Não depositar ou acumular material inútil junto à habitação, como lixo, entulhos e
materiais de construção; manter sempre a calçada limpa ao redor da casa.
• Evitar trepadeiras encostadas à casa, folhagens entrando pelo telhado ou mesmo
pelo forro.
• Controlar o número de roedores existentes na área: sua diminuição pode evitar a
aproximação de serpentes peçonhentas que deles se alimentam.
• Não montar acampamento junto a plantações, pastos ou matos, áreas onde normalmente há roedores e maior número de serpentes.
• Não fazer piquenique às margens dos rios ou lagoas, deles mantendo distância segura, e não se encostar a barrancos durante pescarias.
• Afastar as camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários.
• Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios.
• Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros, meia-canas e rodapés.
• Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos.
• Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros.
• Combater a proliferação de insetos, principalmente baratas e cupins, pois são alimentos para escorpiões.
• Preservar os predadores naturais de escorpiões, como seriemas, corujas, sapos, lagartixas e galinhas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
121
Acidentes por Animais Peçonhentos
Investigação
Consiste na obtenção detalhada de dados do acidente, mediante o preenchimento da ficha de investigação de caso, com o objetivo de determinar o tipo de envenenamento ocorrido, a gravidade das manifestações clínicas e a soroterapia instituída. A investigação deve ser
realizada em todos os casos confirmados, independentemente da aplicação de antiveneno.
Roteiro de investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da ficha de investigação de caso do Sinan, relativos aos dados gerais, de residência e notificação individual.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
• Anotar, na ficha de investigação, dados dos antecedentes epidemiológicos e clínicos,
para determinar o tipo de acidente compatível com o quadro clínico-epidemiológico.
• Verificar a compatibilidade entre o tipo e quantidade de soro administrado e o diagnóstico e gravidade do envenenamento.
• Acompanhar a evolução após a soroterapia, para identificar a ocorrência de complicações e eventual óbito.
Análise de dados
A análise dos dados objetiva proporcionar conhecimentos atualizados sobre características epidemiológicas dos acidentes, no que diz respeito, principalmente, à distribuição
da incidência por áreas geográficas, tipos de envenenamento, sazonalidade, grupos etários,
utilização de soros, letalidade, eficiência da distribuição e aplicação dos soros e possíveis
falhas na assistência médica no diagnóstico e tratamento dos casos.
Os casos ocorrem predominantemente na zona rural, o que determina diferenças na
incidência dos acidentes nas unidades federadas. O conhecimento sobre as áreas de maior
risco e a distribuição geográfica das serpentes peçonhentas causadoras de acidentes permite
estratégias para a organização da assistência médica e planejamento das ações de vigilância,
incluindo a distribuição de soros compatível com o perfil epidemiológico dos acidentes.
No caso do ofidismo, o grupo etário mais acometido é composto por adultos jovens
(entre 15 e 40 anos), com predomínio do sexo masculino, devido à maior exposição ao
trabalho agrícola. A letalidade é mais elevada nos extremos de idade (crianças abaixo de 7
anos e maiores de 65 anos), o que indica a necessidade de maior atenção a esses grupos. Da
mesma forma, a letalidade é variável de acordo com o tipo de envenenamento, apresentando o acidente crotálico taxa três a quatro vezes maior que o botrópico, apesar deste ser o
acidente de maior freqüência em todo o país.
Os envenenamento por T. serrulatus são mais comuns em crianças abaixo de 14 anos.
De modo geral, as manifestações sistêmicas e os óbitos são descritos precocemente, o que
reflete a importância do pronto atendimento aos acidentados, para a redução da letalidade,
complicações e seqüelas.
122
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Acidentes por Animais Peçonhentos
Encerramento de caso
As fichas epidemiológicas devem ser analisadas visando definir, a partir do diagnóstico, a evolução de cada caso, considerando as seguintes alternativas:
Cura completa – paciente que, após soroterapia, apresenta evolução sem complicações locais ou sistêmicas;
Cura com seqüelas – nos acidentes ofídicos e no loxoscelismo, independentemente da
soroterapia, podem ocorrer complicações em decorrência de infecção ou necrose extensa.
Deste modo, registra-se com alguma freqüência déficit funcional ou amputação do membro
acometido em acidentes ofídicos. Lesão renal irreversível também determina a ocorrência
de seqüelas. Para o escorpionismo e foneutrismo, usualmente a resolução do quadro se faz
sem seqüelas, que só ocorrem devido a complicações de procedimentos invasivos, geralmente em pacientes que necessitaram de hospitalização em unidade de terapia intensiva;
Óbito – quando relacionado diretamente ao envenenamento, conseqüente a complicações ou a reações adversas à soroterapia.
5
Relatório final
A elaboração dos relatórios deve ser feita sistematicamente, em todos os níveis do sistema, e sua periodicidade depende da situação epidemiológica e da organização do fluxo
de informações.
Instrumentos disponíveis para controle
Não existem medidas específicas para controle da população dos animais peçonhentos. Por serem animais silvestres, são proibidos sua captura e transporte não autorizados
legalmente. Portanto, a única garantia para que não haja acidentes é a prevenção de sua
ocorrência.
Vigilância ambiental
Os animais peçonhentos podem estar presentes em vários tipos de ambiente. No caso
de serpentes, há espécies que vivem em ambientes florestais e outras em áreas abertas, como
campos cerrados e caatingas, o que torna inviável o monitoramento de sua presença na
natureza. A diversidade de hábitos alimentares é grande e várias espécies alimentam-se de
invertebrados, como moluscos, minhocas e artrópodes, ao passo que outras se alimentam
de vertebrados, como peixes, anfíbios, lagartos, serpentes, aves e mamíferos. Ressalte-se
como de importância no meio periurbano a presença de roedores, que aumenta a proximidade dos ofídios ao homem.
A proteção de predadores naturais de serpentes, como as emas, siriemas, gaviões, gambás e cangambás, e a manutenção de animais domésticos como galinhas e gansos próximos
às habitações, em geral afastam as serpentes.
O crescimento da população dos escorpiões e de aranhas do gênero Loxosceles no meio
urbano dificulta o controle desses animais, principalmente na periferia das cidades, onde
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
123
Acidentes por Animais Peçonhentos
encontram alimento farto, constituído por baratas e outros insetos. Inseticidas e outros
produtos tóxicos não têm ação na eliminação dos animais no ambiente.
Apesar de não serem bem conhecidos os fatores que acarretam mudanças no padrão
das populações de animais peçonhentos em determinado meio, como é o caso de Loxosceles
e Lonomia no Sul do país, desequilíbrios ecológicos ocasionados por desmatamentos, uso
indiscriminado de agrotóxicos e outros produtos químicos em lavouras, e alterações climáticas ocorridas ao longo de vários anos, certamente têm participação no incremento dos
acidentes e, conseqüentemente, importância em termos de saúde pública.
Ações de educação em saúde
As estratégias de atuação junto às comunidades expostas ao risco de acidentes deve
incluir, além das noções de prevenção dos acidentes, medidas de orientação para a não realização de práticas caseiras e alternativas no manejo dos pacientes, tais como:
• o uso de torniquete ou garrote, embora ainda bastante difundido, tem sido associado a complicações locais nos acidentes botrópicos e laquéticos, por favorecer a
concentração de veneno e agravar a isquemia na região da picada;
• sucção e incisão no local da picada propiciam, além de infecção cutânea, a ocorrência de hemorragia, não tendo nenhuma eficácia na redução da absorção do veneno;
• a colocação de substâncias como alho, esterco, borra de café e outros produtos permanecem como práticas ainda fortemente arraigadas na população. A crença nessas medidas provoca o retardo no encaminhamento do paciente para a unidade de
saúde, que é feito tardiamente para a administração do soro, muitas vezes quando o
indivíduo já apresenta complicações;
• medicamentos fitoterápicos e outras terapias alternativas não encontram respaldo
na literatura científica para o tratamento dos acidentes por animais peçonhentos,
devendo-se desestimular o seu uso.
Organização da distribuição dos soros antipeçonhentos
Desde a implantação do Programa Nacional de Controle dos Acidentes por Animais
Peçonhentos, em 1986, todos os soros antipeçonhentos produzidos no Brasil são adquiridos pelo Ministério da Saúde e distribuídos às secretarias estaduais de saúde, que, por sua
vez, definem os pontos estratégicos para atendimento dos acidentes e utilização correta e
racional dos antivenenos. O diagnóstico correto e a terapêutica adequada são condições
essenciais para o bom prognóstico dos casos.
Deste modo, é preocupação constante do Ministério da Saúde garantir o acesso gratuito e universal ao tratamento soroterápico. Para tanto, as análises epidemiológicas das séries
históricas dos acidentes ocorridos no Brasil têm sido fundamentais para o planejamento
dessa distribuição .
Assim, considera-se a marcada sazonalidade na ocorrência dos acidentes em determinadas regiões, o que orienta a aquisição destes imunobiológicos junto aos laboratórios
produtores e a distribuição racional dos estoques aos estados. Além disso, as estratégias
de distribuição de soros devem levar em conta o mapeamento das áreas de maior registro
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Acidentes por Animais Peçonhentos
de casos, visando minimizar as distâncias entre os locais de ocorrência dos acidentes e as
unidades de saúde.
O acompanhamento da distribuição geográfica dos animais e dos acidentes permite
definir estratégias para a organização da assistência médica e planejamento das ações de
vigilância, incluindo a distribuição de soros antiofídicos compatível com o perfil epidemiológico dos acidentes.
5
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Acidentes por Animais Peçonhentos
Anexo
Técnica para determinação do tempo de coagulação (TC)
• Retirar o sangue com seringa plástica, cuidadosamente, evitando a formação de coágulo e dificuldade de escoamento do fluido.
• Colocar 1ml em cada um dos dois tubos de vidro (13x100mm), que devem estar
secos e limpos.
• Colocar os tubos em banho-maria a 37ºC.
• A partir do 5º minuto, e a cada minuto, retirar sempre o mesmo tubo para leitura.
• Inclinar o tubo até a posição horizontal: se o sangue escorrer pela parede, recolocar o
tubo no banho-maria (o movimento deve ser suave, para evitar falso encurtamento
do tempo).
• Referir o valor do TC naquele minuto em que o sangue não mais escorrer pela parede interna do tubo, quando inclinado.
• Confirmar o resultado com o segundo tubo, que permaneceu em repouso no banhomaria.
Tempo
Resultado
Até 9 min
Normal
10 a 30 min
Prolongado
Acima de 30 min
Incoagulável
Observação: os valores do TC variam pouco em função do diâmetro do tubo empregado, mas sofrem variações com o volume do sangue adicionado, com o número de inclinações do tubo e com a temperatura do banho.
126
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
CAPÍTULO
6
6
Doenças
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
AIDS
CID 10: B20 a B24
Descrição
A aids é uma doença emergente, que representa um dos maiores problemas de saúde
da atualidade em virtude de seu caráter pandêmico e gravidade.
Os infectados pelo HIV evoluem para grave disfunção do sistema imunológico, à medida que vão sendo destruídos os linfócitos T CD4+, uma das principais células-alvo do
vírus. A contagem de linfócitos T CD4+ é importante marcador dessa imunodeficiência,
sendo utilizada tanto na avaliação do tratamento e prognóstico quanto em uma das definições de caso de aids, com fim epidemiológico.
A história natural da aids vem sendo alterada, consideravelmente, pela terapia anti-retroviral (ARV) que retarda a evolução da infecção, até o seu estádio final, em que surgem as
manifestações definidoras de aids. Juntamente com as campanhas de prevenção, os ARV parecem estar contribuindo para a estabilização do crescimento da epidemia de aids no Brasil.
A transmissão vertical, uma das prioridades do Programa Nacional de DST e Aids
(PN-DST/Aids), também vem sendo reduzida com a instituição do tratamento/quimioprofilaxia da gestante/parturiente e criança exposta, que além da quimioprofilaxia com o AZT
será alimentada desde o nascimento com fórmula infantil1.
6
A
Sinonímia
Sida, aids, doença causada pelo HIV, síndrome da imunodeficiência adquirida.
Infecção pelo HIV e aids
Características clínicas e epidemiológicas
Agentes etiológicos
HIV-1 e HIV-2, retrovírus com genoma RNA, da família Lentiviridae. Pertencem ao
grupo dos retrovírus citopáticos e não-oncogênicos, necessitando, para multiplicar-se, de
uma enzima denominada transcriptase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral
para uma cópia DNA, que pode então integrar-se ao genoma do hospedeiro. Bastante hábeis no meio externo, estes vírus são inativados por uma variedade de agentes físicos (calor)
e químicos (hipoclorito de sódio, glutaraldeído). Em condições experimentais controladas,
as partículas virais intracelulares parecem sobreviver no meio externo por até no máximo
um dia, enquanto que partículas virais livres podem sobreviver por 15 dias em temperatura
ambiente, ou até 11 dias a 37ºC.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Guia prático de
preparo de alimentos para crianças menores de 12 meses que não podem ser amamentadas. Brasília: Ministério da
Saúde, 2004. www.aids.gov.br/final/biblioteca/guia_nutricao/aids_versao_internete.pdf
1
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
129
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão e transmissibilidade
O HIV pode ser transmitido pelo sangue (via parenteral e vertical), esperma, secreção
vaginal (via sexual) e leite materno (via vertical).
O indivíduo infectado pode transmitir o HIV durante todas as fases da infecção, risco esse proporcional à magnitude da viremia, principalmente na infecção aguda e doença
avançada.
Além dos estádios clínicos acima mencionados, os processos infecciosos e inflamatórios favorecem a transmissão do HIV. Cite-se, em primeiro lugar, a presença das doenças
sexualmente transmissíveis – DST. As que cursam com úlcera – como a sífilis, o herpes
genital e o cancro mole – estão associadas com o aumento no risco de infecção pelo HIV
cerca de 8 a 18 vezes mais. As DST não ulcerativas, tais como gonorréia, infecção por clamídia e tricomoníase, bem como outras infecções freqüentes do trato genital inferior, como,
por exemplo, a vaginose bacteriana e candidíase, e processos inflamatórios, como vaginites
químicas causadas por espermicidas e outras substâncias, também aumentam o risco de
adquirir e/ou transmitir o HIV. As cervicites, além do processo inflamatório adjacente, cursam quase que invariavelmente com a presença de ectopias, o que lhes confere solução de
continuidade entre o ambiente vaginal e a circulação sangüínea, favorecendo a aquisição
e/ou transmissão do HIV. Igualmente, as verrugas genitais causam friabilidade da mucosa
ou pele infectada, levando à formação de microfissuras e, portanto, a maior risco de aquisição e/ou transmissão do HIV.
Durante a gestação há maior concentração do HIV no fluido cérvico-vaginal, o que
potencialmente aumenta o risco de transmissão sexual desse vírus.
Outros fatores de risco associados aos mecanismos de transmissão do HIV são:
Tipo de prática sexual – relações sexuais desprotegidas, durante o período menstrual
ou que ocasionam sangramento, e sexo anal desprotegido (receptivo e/ou insertivo) são
situações que propiciam aumento do risco de transmissão do HIV.
Utilização de sangue ou seus derivados, não testados ou tratados inadequadamente; e recepção de órgãos ou sêmen de doadores não triados e testados – essas práticas, em
descumprimento às normas de triagem, acondicionamento e controle de qualidade, estão
hoje praticamente banidas no Brasil.
Reutilização de seringas e agulhas – o compartilhamento de agulhas e seringas entre
os usuários de drogas injetáveis aumenta muito a transmissão do HIV.
Transmissão ocasionada por acidente com material biológico, sem a utilização de
equipamentos de proteção individual (EPI) – durante a manipulação com instrumentos
perfurocortantes contaminados com sangue e secreções de pacientes portadores do HIV,
por profissionais da área da saúde. Estima-se que o risco médio de contrair o HIV após uma
exposição percutânea ao sangue contaminado seja de aproximadamente 0,3%. Nos casos de
130
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
exposição de mucosas, de aproximadamente 0,1%. Os fatores de risco identificados como
favorecedores desse tipo de contaminação são profundidade e extensão do ferimento, presença de sangue visível no instrumento que produziu o ferimento, procedimento que envolve agulha instalada diretamente na veia ou artéria de indivíduo infectado e, finalmente,
o paciente, fonte da infecção, apresentar evidências de imunodeficiência avançada (sinais
clínicos da doença, carga viral elevada, CD4 baixo).
Transmissão vertical – detalhada no tópico Gestante/HIV positiva e criança exposta.
Período de incubação
O tempo entre a exposição ao HIV e o aparecimento dos sintomas na fase aguda é de
cinco a 30 dias. O período de latência clínica, após a infecção aguda e até o desenvolvimento
da imunodeficiência é longo. Não há consenso sobre o conceito desse período em aids.
Susceptibilidade e vulnerabilidade
A susceptibilidade é geral, em vista dos vários modos de transmissão e transmissibilidade.
Vulnerabilidade, para os não infectados, significa ter pouco ou nenhum controle sobre
o risco de adquirir o HIV ou outra DST; e para os infectados ou afetados pela doença, ter
pouco ou nenhum acesso a cuidados e suportes apropriados.
6
A
Matriz de risco e vulnerabilidade
Ocorrência freqüente de comportamento de risco e alta vulnerabilidade:
• presidiários
• usuários de drogas injetáveis
• profissionais do sexo
• caminhoneiros
• garimpeiros
Ocorrência freqüente de comportamento de risco e vulnerabilidade variável, segundo
o grupo considerado:
• homo/bissexuais masculinos (homens que fazem sexo com homens – HSH)
Ocorrência variável de comportamento de risco segundo o grupo considerado, mas
alta vulnerabilidade:
• crianças e adolescentes
• mulheres
• índios
• segmentos populacionais de baixa renda
• efetivos militares e conscritos das Forças Armadas
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
131
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Aspectos clínicos e laboratoriais
Diagnóstico pós-exposição
A doença pode ou não ter expressão clínica logo após a infecção, sendo importante
que o profissional saiba conduzir a investigação laboratorial após a suspeita de risco de
infecção pelo HIV. Assim, deve-se atentar para o fato de que, com os testes atualmente disponíveis, o tempo necessário para que a sorologia anti-HIV se torne positiva é de seis a 12
semanas após a aquisição do vírus, com período médio de aproximadamente dois meses.
Esse tempo, compreendido entre a aquisição da infecção e a detecção da soroconversão, é
chamado de janela imunológica ou biológica. Os testes utilizados apresentam, geralmente,
níveis de até 95% de soroconversão nos primeiros seis meses após a transmissão.
Soroconversão – é a positivação da sorologia para o HIV. Acontece quando o sistema
imunológico produz anticorpos em quantidades detectadas pelos testes sorológicos.
Manifestações clínicas
Infecção aguda – esta fase da doença é também chamada de síndrome da infecção
retroviral aguda ou infecção primária, manifestando-se clinicamente em cerca de 50% a
90% dos pacientes. O diagnóstico desta fase é pouco realizado, em vista do baixo índice de
suspeição, sendo, em sua maioria, retrospectivo. A infecção aguda caracteriza-se tanto por
viremia elevada quanto por resposta imune intensa e rápida queda na contagem de linfócitos T CD4+ de caráter transitório. Existem evidências de que, nessa fase de infecção, a
imunidade celular desempenha papel fundamental no controle da viremia pelo HIV.
Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. As manifestações clínicas podem variar desde um quadro gripal até uma síndrome similar à mononucleose. Os pacientes podem apresentar sintomas de infecção viral como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso; ulcerações
mucocutâneas, envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália; hiporexia, adinamia, cefaléia,
fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos. Alguns podem ainda
apresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome
de Guillain-Barré.
Os sintomas duram, em média, 14 dias, sendo o quadro clínico autolimitado.
Após a resolução da fase aguda ocorre a estabilização da viremia em níveis variáveis
(set points), definidos pela velocidade da replicação e clareamento viral. O set point é fator
prognóstico de evolução da doença. A queda progressiva da contagem de linfócitos T CD4+
está diretamente relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids.
Fase assintomática – a infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, pode durar de alguns meses a alguns anos e seus sintomas clínicos são mínimos ou inexistentes. Os exames sorológicos para o HIV são reagentes e a contagem de
linfócitos T CD4+ pode estar estável ou em declínio. Alguns pacientes podem apresentar
linfoadenopatia generalizada persistente, “flutuante” e indolor.
132
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Fase sintomática inicial – nessa fase, o portador da infecção pelo HIV pode apresentar sinais e sintomas inespecíficos de intensidade variável, além de processos oportunísticos
de menor gravidade, que por definição não são definidores de aids, conhecidos como ARC
– complexo relacionado à aids. São indicativos de ARC: candidíase oral; testes de hipersensibilidade tardia negativos e a presença de mais de um dos seguintes sinais e sintomas, com
duração superior a 1 mês, sem causa identificada: linfadenopatia generalizada, diarréia,
febre, astenia sudorese noturna e perda de peso superior a 10%. Há uma elevação da carga
viral e a contagem de linfócitos T CD4+ já se encontra abaixo de 500 cel/mm3.
Aids/doenças oportunísticas – uma vez agravada a imunodepressão, o portador da
infecção pelo HIV apresenta infecções oportunísticas (IO) causadas por microrganismos
não considerados usualmente patogênicos, ou seja, incapazes de desencadear a doença em
pessoas com sistema imune normal. No entanto, microrganismos normalmente patogênicos também podem, eventualmente, ser causadores de IO. Nessa situação, para serem
consideradas oportunísticas, as infecções necessariamente assumem caráter de maior gravidade ou agressividade.
As doenças oportunísticas associadas à aids são várias, podendo ser causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários e certas neoplasias:
• vírus – citomegalovirose, herpes simples, leucoencefalopatia multifocal progressiva;
• bactérias – micobacterioses (tuberculose e complexo Mycobacterium avium-intracellulare), pneumonias (S. pneumoniae), salmonelose;
• fungos – pneumocistose, candidíase, criptococose, histoplasmose;
• protozoários – toxoplasmose, criptosporidiose, isosporiose.
6
A
Os tumores mais freqüentemente associados são sarcoma de Kaposi, linfomas nãoHodgkin, neoplasias intra-epiteliais anal e cervical. É importante assinalar que o câncer de
colo do útero compõe o elenco de doenças indicativas de aids em mulher.
Alterações neurológicas induzidas pelo HIV – além da ação primária sobre linfócitos e macrófagos, o HIV apresenta um neurotropismo bastante acentuado, levando, freqüentemente, ao aparecimento de síndromes neurológicas específicas, particularmente nas
fases mais avançadas da infecção. As manifestações neurológicas mais freqüentes são as
neuropatias periféricas, a mielopatia vacuolar e um quadro de atrofia cerebral e demência
progressiva, todas relacionadas com a ação do HIV e do próprio sistema imune no tecido
nervoso central e periférico.
À medida que a infecção se agrava, a carga viral se eleva e a contagem de linfócitos T
CD4+ diminui de forma significativa, podendo, no estágio mais avançado, chegar a valores
abaixo de 50 cels/mm3.
Diagnóstico diferencial
Entendendo-se o grande polimorfismo da doença, o diagnóstico diferencial deverá
considerar sua fase. Assim, na fase aguda, em virtude da inespecificidade de sintomas, deve-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
133
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
se pensar em doenças virais do tipo mononucleose. Na fase de doença deve-se analisar o
quadro clínico apresentado e o órgão acometido. Por exemplo, meningites bacterianas para
afecções do sistema nervoso central; pneumonias para doenças do trato respiratório etc.
Diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV
A fim de maximizar o grau de confiabilidade na emissão dos laudos e minimizar a
ocorrência dos resultados falso-negativos ou falso-positivos, o Ministério da Saúde estabelece a obrigatoriedade de um conjunto de procedimentos seqüenciados (Portaria nº 59/
GM, de 28/1/03, Ministério da Saúde).
Em indivíduos com mais de 2 anos os testes visam detectar anticorpos anti-HIV.
Para menores de 2 anos, considerando a possibilidade de anticorpos maternos, os testes visam a detecção do RNA, DNA viral ou cultura do vírus positiva.
Fluxograma para detecção de anticorpos anti-HIV, em indivíduos com mais de 2 anos
Amostra
(soro ou plasma)
Etapa I
EIA 1
(-)
(+)/(Ic)
Amostra negativa
para HIV
EIA 2 e IFI ou IB
EIA 2 (-)/(Ic)
e IFI (+)/(I)
ou IB (+)/(I)
EIA 2 (-)
e IFI (-)
ou IB (-)
EIA 2 (+)/(Ic)
e IFI (-)/(I)
ou IB (-)/(I)
EIA 2 (+)
e IFI (+)
ou IB (+)
Etapa II
Amostra positiva
para HIV-1/HIV*
Amostra negativa
para HIV -1
Coletar nova amostra
e repetir a Etapa 1
Western Blot
(-)
Amostra negativa
para HIV-1
(1)
Amostra
indeterminada para HIV-1
Investigar soroconversão
e/ou pesquisar HIV-2
Legenda
EIA – Ensaio imunoenzimático
IFI – Imunofluorescência indireta
IB – imunoblot
Ic – Inconclusivo
I – Indeterminado
(-) Não-reagente
(+) Reagente
*De acordo com o ensaio realizado (IFI ou IB)
134
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
(+)
Amostra positiva
para HIV-1
Coletar nova amostra
e repetir Etapa 1
Etapa III
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Fluxograma para utilização de testes de quantificação de RNA visando a detecção
da infecção pelo HIV em indivíduos com idade entre 2 meses e 18 anos, nascidos
de mães infectadas pelo HIV-22
Mãe
Criança com idade de 2 a 24 meses (1o teste)
Detectável2
Abaixo do limite de detecção1
Repetir teste imediatamente com nova amostra4
(2o teste)
Repetir o teste após 2 meses
(2o teste)
Abaixo do limite
de detecção1
Abaixo do limite
de detecção1
Detectável2
Criança infectada3
Repetir após 2 meses
(3o teste)
Repetir o teste
imediatamente com
nova amostra (3o teste)
Criança provavelmente
não infectada1
Detectável2
Abaixo do limite
de detecção1
Detectável2
Abaixo do limite
de detecção1
Criança infectada3
Criança provavelmente
não infectada1
Criança infectada3
Criança provavelmente
não infectada1
Detectável2
6
A
Manter o acompanhamento clínico nas crianças consideradas como provavelmente não infectadas, de acordo
com as recomendações estabelecidas, e fazer sorologia anti-HIV aos 18 meses de idade. Caso a criança tenha sido
amamentada, o presente algoritmo deve ser iniciado 2 meses após a suspensão do aleitamento materno, visando
minimizar a ocorrência de resultados falso-negativos.
1
2
Este fluxograma foi elaborado para o uso de testes de detecção quantitativa de RNA e o resultado do exame deve
expressar o valor de carga viral encontrado na amostra. Valores até 10 mil cópias/ml sugerem resultados falso-positivos, devendo ser cuidadosamente analisados dentro do contexto clínico, demandando nova determinação em
um intervalo de quatro semanas.
Avaliar a necessidade de tratamento considerando os parâmetros clínicos e laboratoriais, de acordo com as recomendações estabelecidas em seção específica do texto.
3
Para garantir a qualidade dos procedimentos e considerando a possibilidade de contaminação e/ou troca de amostra, bem como a necessidade de confirmação do resultado obtido, recomenda-se a coleta de nova amostra e a
priorização da repetição do teste no menor tempo possível.
4
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em crianças. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST
e Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
2
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
135
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Os critérios indicados para exclusão da infecção, aplicam-se às crianças que não estejam sendo amamentadas pela mãe HIV positiva. A amamentação, em qualquer período, é
considerada como nova exposição ao HIV. Se ocorrer, a criança deve ser submetida a nova
rotina de diagnóstico da infecção pelo HIV.
É importante enfatizar que mesmo com o processamento adequado das amostras de
sangue e a correta execução técnica de todas as etapas da reação sorológica no laboratório, é fundamental que o processo de aconselhamento, antes e depois do teste, seja
feito de forma cuidadosa, para que o resultado do exame seja corretamente interpretado, tanto pelo profissional de saúde quanto pelo paciente, gerando atitudes que visem
a promoção da saúde e/ou a prevenção da infecção pelo HIV nos indivíduos testados,
conforme o diagnóstico obtido a partir de suas avaliações clínica e laboratorial.
Tratamento
A abordagem clínico-terapêutica do HIV tem se tornado cada vez mais complexa, em
virtude da velocidade do conhecimento acerca deste agente.
O tratamento objetiva prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, pela redução da carga viral e reconstituição do sistema imunológico, e é garantido pelo Sistema
Único de Saúde, por meio de ampla rede de serviços.
Para oferecer e garantir o alcance desses objetivos, o Ministério da Saúde, por meio do
Programa Nacional de DST e Aids, instituiu o Comitê Assessor para Terapia Anti-retroviral
em Adultos e Adolescentes Infectados pelo HIV, o Comitê Assessor para Terapia Anti-retroviral em Crianças Infectadas pelo HIV e o Comitê Assessor para Recomendações da
Profilaxia da Transmissão Vertical do HIV e Terapia Anti-retroviral em Gestantes, que se
reúne periodicamente para definir as diretrizes do tratamento para HIV/aids, disponibilizadas no site www.aids.gov.br.
Aspectos epidemiológicos
Na primeira metade da década de 80, a epidemia HIV/aids manteve-se basicamente
restrita às regiões metropolitanas do Sudeste e Sul do país, tendo como principais vias de
transmissão a sexual (entre homens que fazem sexo com homens) e a sangüínea (por transfusão de sangue e hemoderivados e uso de drogas injetáveis). Nesse período, a velocidade
de seu crescimento de incidência e taxas de mortalidade eram elevadas, a estrutura assistencial encontrava-se em fase de implantação/implementação e foram priorizadas medidas
dirigidas à melhoria da qualidade e controle do sangue e seus derivados. Como conseqüência imediata dessas medidas, observou-se drástica diminuição de casos de aids entre
hemofílicos e transfundidos.
Nos últimos anos da década de 80 e início dos anos 90, a epidemia assume outro perfil.
A transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão do HIV, a qual vem
apresentando maior tendência de crescimento em anos recentes, acompanhada de expressiva participação das mulheres na dinâmica da epidemia e de um importante percentual de
136
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
casos por transmissão materno-infantil. Observa-se, ainda, nos últimos anos, um desigual
processo de interiorização, com maiores ritmos de crescimento nos municípios pequenos
(menos de 50 mil habitantes), e a pauperização da epidemia, que tendo início nos estratos
sociais de maior instrução atualmente cresce nos de menor escolaridade.
A partir de 1996, com a distribuição universal e gratuita de anti-retrovirais, vem-se
registrando redução na velocidade de crescimento da incidência e taxas de mortalidade da
doença.
É importante ressaltar que a epidemia de aids no Brasil é, de fato, o somatório de subepidemias microrregionais, em interação permanente, devido aos diferentes momentos de
introdução do HIV no território nacional, às diferentes condições de vida das populações
atingidas, às distintas composições das populações regionais, aos padrões de mobilidade da
população e à diversidade de arranjos e padrões de comportamento sexual.
Vigilância epidemiológica
6
A vigilância epidemiológica da aids, além de se basear em informações fornecidas pela
notificação de casos (Sinan) e óbitos (SIM), possui dois sistemas particulares: Sistema de
Controle de Exames Laboratoriais (Sicel) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos
(Siclom).
A
Objetivos
O componente de vigilância epidemiológica do Programa tem como propósito acompanhar a tendência temporal e espacial da doença, infecções e comportamentos de risco,
visando orientar suas ações.
Definição de caso com fins epidemiológicos
Entende-se por caso de aids o indivíduo que se enquadra nas definições adotadas pelo
Ministério da Saúde: infecção avançada pelo HIV com repercussão no sistema imunitário,
com ou sem ocorrência de sinais e sintomas causados pelo próprio HIV ou conseqüentes
a doenças oportunistas (infecções e neoplasias). Os critérios para a caracterização de casos
de aids estão descritos na publicação Critérios de definição de casos de aids em adultos e
crianças3 e suas definições estão abaixo resumidas.
Definição de caso de aids em adultos (13 anos ou mais) – CID 10: B24
Notas explicativas:
• testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HIV – várias gerações de ensaio por imunoabsorbância ligado à enzima (Enzyme Linked Immunosorbent Assay,
Elisa), ensaio imunoenzimático (Enzyme Immuno Assay, EIA), ensaio imunoenzimático com micropartículas (Microparticle Enzyme Immuno Assay, Meia) e ensaio
imunoenzimático com quimioluminiscência;
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Critérios de
definição de casos de aids em adultos e crianças/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa
Nacional de DST e Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 56p.il. (Série Manuais nº 60).
3
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
137
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Quadro 1. Resumo dos critérios de definição de caso de aids em indivíduos
com 13 anos ou mais, para fins de vigilância epidemiológica
Critério CDC adaptado
Existência de dois testes de triagem reagentes ou um confirmatório para detecção de anticorpos anti-HIV
+
Evidência de imunodeficiência: diagnóstico de pelo menos uma doença indicativa de aids
e/ou
Contagem de linfócitos T CD4+ <350 células/mm3
e/ou
Critério Rio de Janeiro/Caracas
Existência de dois testes de triagem reagentes ou um confirmatório para detecção de anticorpos anti-HIV
+
Somatório de, pelo menos, 10 pontos, de acordo com uma escala de sinais, sintomas ou doenças
e/ou
Critério excepcional óbito
Menção de aids/sida (ou termos equivalentes) em algum campo da Declaração de Óbito
+
Investigação epidemiológica inconclusiva
ou
Menção de infecção pelo HIV (ou termos equivalentes) em algum campo
da Declaração de Óbito, além de doença(s) associada(s) à infecção pelo HIV
+
Investigação epidemiológica inconclusiva
• testes confirmatórios – imunofluorescência indireta, Imunoblot, Western Blot, teste de amplificação de ácidos nucléicos como, por exemplo, a reação em cadeia da
polimerase (Polimerase Chain Reaction, PCR) e a amplificação seqüencial de ácidos
nucléicos (Nucleic Acid Sequence Based Amplification, Nasba). No momento, está
sendo finalizada a avaliação de um algoritmo de triagem utilizando apenas teste
rápido, com resultados promissores;
• doenças indicativas de aids – câncer cervical invasivo, candidose de esôfago, traquéia, brônquios ou pulmões; citomegalovirose em qualquer local que não fígado,
baço e linfonodos; criptococose extrapulmonar; criptosporidíase intestinal crônica
(mais de 1 mês); herpes simples mucocutâneo (mais de 1 mês); histoplasmose disseminada em orgãos que não exclusivamente pulmão ou linfonodos cervicais/hilares;
isosporidíase intestinal crônica (mais de 1 mês); leucoencefalopatia multifocal progressiva; linfomas não-Hodgkin de células B (fenótipo imunológico desconhecido) e
outros linfomas dos seguintes tipos hitológicos: linfoma maligno de células grandes
ou pequenas não clivadas; linfoma maligno imunoblástico sem outra especificação;
linfoma primário de cérebro; pneumonia por Pneumocystis carinii; qualquer micobacteriose disseminada em órgãos que não o pulmão, pele ou linfonodos cervicais/
hilares (exceto hanseníase ou tuberculose); reativação da doença de Chagas (meningoencefalite e/ou miocardite); sepse recorrente por Salmonella (não-tifóide) e
toxoplasmose cerebral;
138
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
• escala de sinais, sintomas e doenças no critério Rio de Janeiro/Caracas – dois pontos: anemia e/ou linfopenia e/ou trombocitopenia; astenia (mais de 1 mês, excluída a
tuberculose como causa básica); caquexia ( perda involuntária de + de 10% do peso
corporal, excluída a tuberculose como causa básica); dermatite persistente; diarréia
(mais de 1 mês); febre (=/+ 1 mês,excluída a tuberculose como causa básica); linfadenopatia (dois ou mais sítios) e tosse persistente (excluída a tuberculose como causa básica). Cinco pontos: candidose oral ou leucoplasia pilosa; disfunção do sistema
nervoso central; herpes zoster em indivíduos com até 60 anos de idade e tuberculose
pulmonar, pleural ou de linfonodos localizados numa única região. Dez pontos: outras formas de tuberculose e sarcoma de Kaposi;
• investigação epidemiológica inconclusiva – aquela em que, após a busca em prontuários, o caso não puder ser descartado ou enquadrado num dos critérios principais, pelo não-registro de dados clínicos/laboratoriais;
• data do diagnóstico na ficha de notificação/investigação é aquela em que o indivíduo se enquadra em um dos critérios de definição de caso de aids, ou seja, tenha evidência clínica e laboratorial, exceto no critério óbito. Nesse caso, é igual à do óbito.
6
A
Definição de caso de aids em crianças (menores de 13 anos)
Quadro 2. Resumo dos critérios de definição de caso de aids em indivíduos
menores de 13 anos de idade, para fins de vigilância epidemiológica
Critério CDC adaptado
Evidência laboratorial da infecção pelo HIV em crianças, para fins de vigilância epidemiológica
+
Evidência de imunodeficiência:
Diagnóstico de pelo menos duas doenças indicativas de aids de caráter leve
e/ou
Diagnóstico de pelo menos uma doença indicativa de aids de caráter moderado ou grave
e/ou
Contagem de linfócitos T CD4+ menor do que o esperado para a idade atual
ou
Critério excepcional óbito
Menção de Aids/Sida (ou termos equivalentes) em algum dos campos da Declaração de Óbito
+
Investigação epidemiológica inconclusiva
ou
Menção de infecção pelo HIV (ou termos equivalentes) em algum dos campos
da Declaração de Óbito, além de doença(s) associada(s) à infecção pelo HIV
+
Investigação epidemiológica inconclusiva
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
139
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Notas explicativas
Evidência laboratorial da infecção pelo HIV em crianças, para fins epidemiológicos:
• para as crianças expostas ao HIV por transmissão vertical, considera-se criança infectada aquela que apresente RNA ou DNA viral detectável acima de mil cópias/ml
em duas amostras (testes de carga viral) obtidas em momentos diferentes. Apesar
da possibilidade da realização desses testes após duas semanas de vida, o Ministério
da Saúde preconiza que as amostras testadas sejam coletadas após o segundo mês,
devido ao aumento de sensibilidade observado a partir dessa idade;
• crianças com 18 meses ou mais, expostas ao HIV por transmissão vertical, serão consideradas infectadas pelo HIV quando uma amostra de soro for reativa em dois testes
de triagem ou um confirmatório para pesquisa de anticorpos anti-HIV;
• em crianças de qualquer idade, cuja exposição ao HIV tenha sido outra forma de
transmissão que não a vertical, o diagnóstico laboratorial de infecção será confirmado quando uma amostra de soro for reativa em dois testes de triagem ou um
confirmatório para pesquisa de anticorpos anti-HIV.
A definição da gravidade das doenças, sinais e/ou sintomas corresponde às categorias
da classificação clínica do Centers for Disease Control and Prevention (CDC 1994), tendo-se
incluído a tuberculose como morbidade de gravidade moderada e excluída a coccidioidomicose pela pouca expressão epidemiológica no país.
Doenças, sinais e sintomas de caráter leve – aumento crônico de parótida; dermatite
persistente; esplenomegalia; hepatomegalia; linfadenopatia e infecções persistentes ou recorrentes de vias aéreas superiores (otite média ou sinusite).
Doenças, sinais e sintomas de caráter moderado – anemia (mais de 30 dias); candidose oral resistente a tratamento (mais de 2 meses em maiores de 6 meses de idade); diarréia persistente ou crônica; febre (mais de 1 mês); gengivo-estomatite herpética recorrente
(2 episódios em 1 ano); hepatite; herpes simples em brônquios, pulmões ou trato gastrintestinal antes de 1 mês de idade; herpes zoster (2 episódios em um ano ou mais de 1 dermátomo); infecção por citomegalovírus antes de 1 mês de idade; leiomiossarcoma; meningite
bacteriana, pneumonia ou sepse; miocardiopatia; nefropatia; linfopenia; neutropenia (mais
de 1 mês); nocardiose; pneumonia linfóide intersticial; toxoplasmose antes de 1 mês de
idade; trombocitopenia (mais de 1 mês); tuberculose pulmonar; varicela.
Doenças, sinais e sintomas de caráter grave – candidose de esôfago; traquéia, brônquios ou pulmões; citomegalovirose em qualquer local que não fígado, baço e linfonodos
em maiores de 1 mês; criptococose pulmonar; criptosporidiose, com diarréia (mais de 1
mês); encefalopatia determinada pelo HIV; herpes simples em brônquios, pulmões ou trato
gastrintestinal; herpes simples mucocutâneo (mais de 1 mês) em crianças com mais de 1
mês de idade; histoplasmose disseminada (em órgãos que não exclusivamente pulmões ou
linfonodos cervicais/hilares; infecções bacterianas graves múltiplas e recorrentes (2 episódios em 2 anos, confirmadas bacteriologicamente); isosporidiose intestinal crônica (mais
de 1 mês); leucoencefalopatia multifocal progressiva; linfoma não-Hodgkin de células B;
140
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
linfoma primário de cérebro; pneumonia por Pneumocystis carinii; qualquer micobacteriose disseminada em órgãos que não o pulmão, pele ou linfonodos cervicais/hilares (exceto
tuberculose ou hanseníase); sarcoma de Kaposi; sepse recorrente por Salmonella não-tifóide; síndrome da emaciação; toxoplasmose cerebral em crianças com mais de 1 mês de idade
e tuberculose disseminada ou extrapulmonar.
Contagem de linfócitos T CD4+ definidora de imunodeficiência de acordo com a
idade – inferior a 12 meses de idade: <1.500 células por mm3 (< 25%); 1 a 5 anos: <1 mil
células por mm3 (< 25%); 6 a 12 anos: <500 células por mm3 (< 25%).
Primeiras medidas a serem adotadas frente à identificação de um caso
Assistência médica ao paciente – o atendimento, além de contar com as equipes do
Programa Saúde da Família, está amparado por ampla rede que inclui diversas modalidades
assistenciais, a saber: hospital-dia (HD), atendimento domiciliar terapêutico (ADT), serviços de assistência especializada (SAE) e hospital convencional (HC). Cada uma delas é destinada para públicos-alvo distintos, de acordo com o estágio da doença e a complexidade
do tratamento. A organização e articulação desses serviços permite a cobertura diagnóstica
e assistencial em todo o território nacional.
6
A
Notificação
Notifica-se como caso confirmado de aids aquele que atende aos critérios definidos
anteriormente. A notificação é feita pelo preenchimento e envio da Ficha de Investigação
Epidemiológica de Caso de Aids, adulto ou criança, disponível no Sinan, que deve ser preenchida pelo médico ou outro profissional de saúde capacitado para tal, no exercício de sua
função. A Portaria n° 2.325/GM, de 8 de dezembro de 2003, regulamenta a notificação de
doenças compulsórias em todo o país, inclusive da aids.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente – chama-se a atenção para o correto preenchimento de
todos os campos da Ficha de Investigação do Sinan, da maior importância para o alcance
dos objetivos da vigilância epidemiológica da aids.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos – por se tratar de doença sexualmente
transmissível, que carrega grande estigma social e cuja investigação demanda a coleta de
dados comportamentais, é vital a garantia do sigilo das informações, principalmente quando se tratar de indivíduos facilmente identificáveis em seu meio social.
Quando houver suspeita de transmissão por transfusão de sangue e hemoderivados,
faz-se necessária uma investigação conjunta com a vigilância sanitária, que inclui o rastreamento das bolsas de sangue e identificação de doadores e outros receptores, tanto para a
confirmação ou não dessa via de transmissão como para impedir a ocorrência de novos
casos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) normatiza as técnicas de hemovigilância em todo o território nacional 4.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual técnico de hemovigilância, Brasília:Ministério da Saúde, 2003. 29p.il. www.anvisa.gov.br/divulga/public/sangue/hemovigilancia/manual_atualizado2003.pdf
4
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
141
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Medidas de controle e prevenção
Prevenção da transmissão sexual
Como o maior número de indivíduos com HIV+/aids no país apresenta, como principal via de transmissão, a sexual, o PN-DST/Aids tem priorizado ações que enfatizam como
principal estratégia de prevenção o uso do preservativo masculino e feminino nas relações
sexuais. Seu uso é recomendado em todas as relações sexuais e deve constituir o principal
insumo nas ações de atenção básica, nas clínicas de DST, nas ações das organizações da
sociedade civil, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e nos serviços que atendem pacientes HIV/aids.
O uso de outros insumos, tais como os microbicidas, encontra-se em estudos, e ainda
não foram validados. Alguns ensaios evidenciaram taxas elevadas de transmissão do HIV
nas suas usuárias, em virtude das irritações e microfissuras causadas na mucosa vaginal e
cervical, portanto não constituem estratégias recomendadas para a prevenção do HIV.
Em relação ao preservativo feminino, recomenda-se que as ações dirigidas às mulheres
o adotem, prioritariamente, como insumo nas intervenções com profissionais do sexo e
mulheres soropositivas.
Prevenção da transmissão sangüínea
Injeções e instrumentos perfurocortantes – recomendações específicas devem ser
seguidas quando da realização de procedimentos que envolvam a manipulação de material
perfurocortante; tais como:
• máxima atenção durante a realização dos procedimentos;
• jamais utilizar os dedos como anteparo;
• as agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa
com as mãos;
• não utilizar agulhas para fixar papéis;
• todo material perfurocortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que estéril, deve ser desprezado em recipientes com tampa e resistentes
à perfuração;
• os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total, e devem ser colocados sempre próximos
do local onde o procedimento é realizado;
• todo lixo proveniente de serviços de saúde deve, obrigatoriamente, ser recolhido
para incineração. Caso o município não disponha desse serviço, proceder conforme
orientação da vigilância sanitária local.
Transfusão de sangue e hemoderivados
Todo doador deve ser cuidadosamente triado, sendo afastados os que apresentem risco
de infecção pelo HIV; e todo sangue aceito para ser transfundido deverá ser obrigatoriamente testado para a detecção de anticorpos anti-HIV. Essas medidas aumentam a segurança da transfusão mas não eliminam totalmente seu risco, em virtude do período de “janela
142
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
imunológica”. A conscientização dos doadores, no sentido de auto-avaliar os riscos de infecção pelo HIV a que possam ter sido submetidos, evitando ser identificados, constitui a
melhor medida de prevenção da transmissão do HIV por essa via.
Doação de sêmen e órgãos
Em tipo de transmissão do HIV deve ser prevenido, à semelhança do acima mencionado, pela triagem cuidadosa e testagem dos doadores. No caso do sêmen, há a possibilidade
de seu armazenamento por determinado período, para utilização posterior quando nova
testagem do doador for negativa. Evita-se, assim a utilização do sêmen de doadores em
“janela imunológica”.
Prevenção da transmissão vertical do HIV
Ver tópico Gestante HIV positiva e criança exposta.
6
Ações de educação em saúde
As ações de educação em saúde para a prevenção do HIV/aids são orientadas a partir
de avaliação das tendências e características da epidemia, em cada local, e das condições
econômicas, sociais e culturais dos grupos mais afetados. Nesse sentido, devem ser considerados os seguintes aspectos:
• a epidemia não atinge de maneira uniforme toda a população e sua distribuição é distinta nas diferentes regiões do país, apresentando, inclusive, diferenças significativas
em uma mesma região, tanto nos aspectos sociais quanto nas vias de transmissão;
• os grupos devem ser considerados segundo critérios de vulnerabilidade e risco;
• a participação dos grupos sociais é de fundamental importância para a mudança de
práticas, atitudes e comportamentos.
A
As ações devem ser dirigidas aos indivíduos, aos grupos específicos e à população
em geral, considerando os aspectos relacionados à situação de risco e vulnerabilidade, influenciada por fatores individuais (biológicos ou não), sociais, econômicos, institucionais
e culturais.
As ações de educação em saúde pautam-se pelas intervenções voltadas, prioritária mas
não exclusivamente, para grupos mais vulneráveis, tais como profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis (UDI), homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas que
vivem com portadores de HIV/aids, população prisional e caminhoneiros. Essas ações são
desenvolvidas por veiculação de campanhas de massa para toda a população, por ações específicas de intervenções na comunidade, baseadas no trabalho de pares, em consonância à
premissa do protagonismo no desenvolvimento das ações de prevenção.
Preconizam-se ações sistemáticas, continuadas e complementares (informação, orientação e disponibilização de insumos tais como preservativos, seringas e gel lubrificante).
Esses princípios se aplicam tanto às intervenções que pretendem interferir no comportamento sexual (oferta de insumos para práticas seguras) quanto no uso de drogas, em que
a perspectiva de redução de danos é o pressuposto básico para a intervenção. As ações de
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
143
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
redução de danos destinadas aos usuários de drogas injetáveis, que não querem ou não
podem interromper seu uso de drogas em curto prazo, são feitas disponibilizando seringas
e agulhas para evitar compartilhamento entre os usuários. Essas ações buscam vincular os
usuários às unidades que promovem atividades de promoção à saúde, a partir dos programas de atenção básica e serviços específicos de prevenção, como os centros de testagem e
aconselhamento.
Estratégias de prevenção
As estratégias de prevenção vêm sendo aprimoradas com o avanço do conhecimento
científico na área e a elevação da consciência sanitária da sociedade sobre a questão, após
mais de vinte anos de convivência com esta epidemia. Atualmente, são conduzidas de acordo com as seguintes diretrizes:
• promoção de mudanças de comportamento mediante disponibilização de informação qualificada sobre os meios de transmissão, prevenção e percepção de risco;
• estabelecimento de modelos de intervenção que permitam considerar os diversos
grupos populacionais quanto à tomada de consciência em relação à sua situação
de vulnerabilidade e risco, considerando os aspectos culturais, contextos sociais e
valores relativos aos grupos envolvidos;
• desenvolvimento de intervenções baseadas no trabalho com indivíduos que compartilham práticas semelhantes, e agentes comunitários de saúde que incentivem as
mudanças de práticas, atitudes, valores e crenças em relação às DST/aids;
• fortalecimento de redes sociais visando participação nas atividades de promoção das
ações de prevenção e de suporte social aos grupos mais vulneráveis, e promoção de
discussão com o propósito de criar alternativas para o enfrentamento da epidemia,
em cada situação específica;
• desenvolvimento de parcerias com organizações não-governamentais, associações
comunitárias e de classe, visando ampliar a abrangência das ações de prevenção à
infecção pelo HIV;
• criação de mecanismos institucionais para ampliar a participação do setor empresarial, empresas privadas e outros agentes sociais na luta contra a aids;
• distribuição de insumos (preservativos masculinos e femininos, gel lubrificante,
agulhas e seringas) de prevenção e programas de redução de danos;
• substituição do leite materno por leite artificial para as crianças, filhas(os) de mães
portadoras do HIV (risco de transmissão vertical). Contra-indica-se o aleitamento
cruzado (amamentação por outra mulher) e o uso do leite materno com pasteurização domiciliar.
144
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Gestante HIV positiva e criança exposta
Modo de transmissão
Vertical – o concepto filho de mulher portadora do HIV pode adquirir esse vírus
durante a gestação, trabalho de parto e parto, pelo contato com o sangue e/ou a secreção
vaginal, e pelo leite materno (pós-parto).
Vários estudos têm evidenciado que a maioria dos casos de transmissão materno-infantil (vertical) do HIV (cerca de 65%) ocorre durante o trabalho de parto e no parto propriamente dito, e que os 35% restantes ocorrem intra-útero, principalmente nas últimas
semanas de gestação. O aleitamento materno representa risco adicional de transmissão, que
se renova a cada exposição (mamada), de 7% a 22%.
6
Parenteral e sexual – a mãe adquire a infecção pelo sangue e/ou esperma, conforme
especificado anteriormente.
A
Período de incubação
Ver tópico no Capítulo Aids.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Ver tópico no Capítulo Aids.
Manifestações clínicas
Ver tópico no Capítulo Aids.
Diagnóstico diferencial
Ver tópico no Capítulo Aids.
Diagnóstico laboratorial
• Para a gestante – ver fluxograma no tópico Diagnóstico sorológico da infecção pelo
HIV, no Capítulo Aids.
• Para a parturiente não testada durante o pré-natal, há a possibilidade de testagem,
no momento do parto, com teste rápido anti-HIV para adoção de medidas preventivas da transmissão vertical. Os testes rápidos são de simples execução e os resultados podem ser conferidos em 15 minutos. Podem ser utilizados sangue total
(uma gota da polpa digital) ou soro. Não obstante sua praticidade, não substituem
os testes diagnósticos preconizados. São exames de triagem para situações em que
há necessidade de pronta tomada de decisão: o início ou não de ações profiláticas da
transmissão vertical, como no momento do parto. Nas parturientes com resultado
“reagente”, faz-se necessária a coleta de uma amostra de sangue para a confirmação
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
145
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
do diagnóstico no pós-parto imediato, conforme o fluxo preconizado pela Portaria
Ministerial nº 59/GM/MS, de 28/1/03.
No momento, está sendo finalizada a avaliação de um algoritmo de triagem utilizando apenas teste rápido, com resultados promissores. Esta e qualquer outra atualização
nessas normas estarão disponíveis no site www.aids.gov.br.
Figura 1. Fluxograma para uso de teste rápido para HIV em parturientes1
Parturiente, sem sorologia anti-HIV
Teste reagente
Teste rápido mediante seu
consentimento verbal
1. Iniciar quimioprofilaxia conforme esquema para redução da
transmissão vertical do HIV
2. Coletar e encaminhar a amostra de sangue para esclarecimento
do diagnóstico, garantindo a confirmação do resultado do teste,
o mais rápido possível
3. Proceder a inibição mecânica da lactação logo após o parto (e
faixamento das mamas) e considerar a utilização do inibidor de
lactação (b)
4. Orientar a mulher quanto ao preparo da fórmula infantil
5. Notificar a ocorrência ao Núcleo de Vigilância Epidemiológica
da maternidade, se houver, ou à Vigilância Epidemiológica do
município
Após confirmação do diagnóstico
6. Inibir em definitivo a lactação. Mantendo o enfaixamento
ou medicando a mulher com 2 comprimidos de cabergolina
(0,5mg) – dose única, com hexa hidro benzoato de estradiol,
1 ampola de 5mg (1ml), IM, de 12/12 horas (duas tomadas)
7. Encaminhar a mulher para avaliação e acompanhamento clínicos, laboratoriais e terapêuticos, em serviço especializados para
portadores do HIV
8. Encaminhar o recém-nascido para acompanhamento clínico e
laboratorial especializado em serviço de infectologia pediátrica
Teste não-reagente
Não medicar (a)
(a) Investigar a condição clínicoepidemiológica e, se necessário,
encaminhar a mulher para realização
de sorologia (conforme determina a
Portaria nº 59/GM/MS, de 28/1/03)
(b) Mediante seu consentimento livre
e esclarecido, e quando as evidências
epidemiológicas apontam para a
remota possibilidade de vir a ser esse
um resultado falso-positivo
• Para a criança: ver fluxograma no tópico Diagnóstico sorológico da infecção pelo
HIV, no Capítulo Aids.
Observação
Os critérios indicados para exclusão da infecção aplicam-se às crianças que não estejam sendo amamentadas pela mãe HIV positiva. A amamentação, em qualquer período, é considerada como nova exposição ao HIV e, se acontecer, a criança deve ser
submetida a nova rotina de diagnóstico da infecção pelo HIV.
1
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendações
para a profilaxia da transmissão materno-infantil do HIV e terapia anti-retroviral em gestantes/Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
146
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Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Tratamento
Crianças infectadas pelo HIV – até o momento não está clara a indicação de tratamento de pacientes com infecção aguda recente (< 6 meses). Pacientes HIV+, com infecção
crônica estabelecida (> 6 meses), devem ser tratados, conforme presença de sinais clínicos indicativos de imunodeficiência e/ou parâmetros laboratoriais (contagem de células
T-CD4+ e carga viral). Atualmente, indica-se tratamento anti-retroviral potente, com a associação de 3 ou mais drogas por tempo indeterminado, e monitoramento periódico da
eficácia clínico-laboratorial e de sinais de toxicidade aos medicamentos. Para maiores esclarecimentos, consultar o Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em crianças2.
Gestantes – vale ressaltar que alguns medicamentos estão contra-indicados em virtude do potencial efeito teratogênico, como o Efavirenz e Hidroxiuréia. Outros ARV, quando
administrados juntos, promovem efeitos adversos graves no concepto, como a didanosina e
estavudina, não devendo, por isso, ser utilizados na gestação. Mulheres HIV+ que engravidam em uso de Tarv devem ser avaliadas e informadas sobre os potenciais riscos/benefícios
da manutenção, modificação ou suspensão do tratamento no tocante à evolução da sua
própria doença e os potenciais efeitos adversos da Tarv sobre a criança, devendo os casos
ser individualmente analisados.
6
A
Profilaxia da transmissão vertical
As gestantes portadoras do HIV deverão receber, a partir da 14ª semana, a zidovudina oral (AZT) e outros anti-retrovirais (ARV), se necessário. Ou seja, as gestantes serão
avaliadas clínica e laboratorialmente (níveis de CD4+ e carga viral) para essa indicação. A
zidovudina intravenosa deverá ser dada a todas as parturientes desde o início do trabalho
de parto, e mantida até a ligadura do cordão umbilical. A zidovudina solução oral (xarope)
deverá ser administrada para todos os recém-nascidos expostos ao HIV, durante 6 semanas
(42 dias), devendo ter início até oito horas de vida. As crianças cujas mães não receberam
o AZT intravenoso deverão receber o AZT oral nas duas primeiras horas de vida. Os ARV
vêm sendo disponibilizados, gratuitamente, na rede pública de saúde desde 1994.
A avaliação dos níveis de carga viral materna definirá qual a via de parto mais adequada
como medida profilática da transmissão vertical, ou seja:
• níveis de carga viral ≥ 1 mil cópias/ml (aferida na idade gestacional ≥ 34 semanas) ou
desconhecida: parto por operação cesariana eletiva;
• ao contrário, níveis de carga viral <1 mil cópias/ml ou indetectável (aferida na idade
gestacional ≥ 34 semanas): parto vaginal.
Nesse grupo de mulheres, o parto por operação cesariana só se aplica quando houver
indicação obstétrica. (Para maiores esclarecimentos, sugere-se consultar a publicação do
Recomendações para profilaxia da transmissão materno-infantil vertical do HIV e terapia
anti-retroviral em gestantes, PN-DST/Aids).
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em crianças. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e
Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
2
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
147
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Operação cesariana eletiva é aquela realizada antes do início do trabalho de parto,
encontrando-se as membranas amnióticas ainda íntegras.
Aspectos epidemiológicos
No final da década de 80, a freqüência de casos de aids entre mulheres cresceu consideravelmente, quando a transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão.
A razão homem/mulher com aids passou de 28:1, em 1985, para 2:1, em 2000.
A feminização da aids é reflexo do comportamento sociossexual da população, associado a aspectos de vulnerabilidade biológica da mulher. Entre os indivíduos com mais de 8
anos de escolaridade, observa-se diminuição no número de casos do sexo masculino, o que
não acontece, com igual intensidade, no feminino. A mulher considera-se menos exposta
ao risco, talvez por sua entrada mais tardia na dinâmica da epidemia, não se enquadrando
nos denominados “grupos de risco” da fase inicial. A faixa etária que concentra os maiores
percentuais de casos de aids em mulheres é a de 25-34 anos, ou seja, são atingidas em plena
idade reprodutiva.
Como conseqüência, vem-se observando o aumento da transmissão vertical. Atualmente a quase totalidade de casos de aids em menores de 13 anos tem transmissão vertical
como fonte de infecção.
Um estudo tailandês (Protocolo 076 do Aids Clinical Trial Group) demonstrou que
a probabilidade desse tipo de transmissão, sem o uso de zidovudina (AZT), foi de 25,5%,
enquanto que em gestantes e conceptos que usaram um esquema terapêutico foi de 8,3%, o
que significou redução de 67,5% de infecções pelo HIV nos recém-nascidos. Depois desse
estudo, vários outros, não controlados e observacionais, confirmaram o benefício do AZT
na redução da transmissão vertical do HIV, inclusive quando a intervenção é realizada
tardiamente na gestação e, mesmo, quando administrado apenas para o recém-nascido,
antes de 48 horas após o nascimento. O estudo demonstrou, ainda, que as intervenções
profiláticas com AZT, realizadas durante o parto e puerpério, podem reduzir em cerca de
50% a probabilidade de transmissão materno-infantil do HIV. Posteriormente, o uso de
outros anti-retrovirais vem sendo incorporado às recomendações de terapia anti-retroviral
(TARV) em gestantes, tendo em vista a ampla comprovação de que o uso de TARV combinada (AZT e outros ARV) é capaz de reduzir, significativamente, a carga viral do HIV para
níveis indetectáveis, levando as taxas de transmissão materno-infantil para níveis inferiores
a 3%, segundo alguns estudos.
148
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Conhecer, o mais precocemente possível, o estado sorológico de gestantes, parturientes, nutrizes e crianças expostas, para promover o início oportuno da terapêutica e/ou profilaxia da transmissão vertical.
Acompanhar o perfil epidemiológico da infecção pelo HIV nesses grupos populacionais, para o estabelecimento, acompanhamento e avaliação de impacto das medidas de
prevenção, controle e tratamento.
Avaliar a operacionalização do protocolo de profilaxia da transmissão vertical, visando o aprimoramento da implementação dessas ações e, conseqüentemente, a obtenção de
maior impacto na redução da transmissão vertical.
Em nível nacional, a cobertura da testagem para a infecção do HIV, durante o pré-natal, está abaixo de 50%, sendo ainda menor nas gestantes mais vulneráveis para a infecção
pelo HIV, em decorrência de fatores como baixa adesão ao pré-natal e/ou captação tardia.
6
A
Notificação
A notificação compulsória de gestantes HIV+ e crianças expostas está prevista na Portaria nº 993/2000, do Ministério da Saúde.
Observe-se que, diferentemente das infecções por HIV nos outros grupos populacionais, a simples suspeita de exposição, tanto em gestantes quanto em conceptos,
deve ser notificada e investigada, em virtude dos benefícios do tratamento precoce no
prognóstico da criança.
Momentos para notificação – pré-natal, parto e acompanhamento da criança, evitando assim a oportunidade perdida. Deve ser realizada pelo profissional de saúde que estiver
atendendo o caso, em quaisquer dos três momentos.
Definição de caso
Gestantes, parturientes e nutrizes infectadas – para efeito de notificação e investigação, considera-se como infectada toda gestante, parturiente ou nutriz que apresentar resultado de exame laboratorial para HIV reativo (considerar o primeiro resultado reagente).
Criança exposta
• Todos os conceptos de mães soropositivas ou que tenham suspeita de infecção pelo
HIV.
• Todas as crianças que tenham sido amamentadas por mulheres infectadas ou que
tenham suspeita de infecção pelo HIV. Neste caso, a notificação/investigação deverá
conter dados da nutriz.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Primeiras medidas a serem adotadas frente à
identificação de infecção pelo HIV nesses indivíduos
Assistência médica às gestantes/parturientes
e puérperas e à criança verticalmente exposta ao HIV
A primeira ação diz respeito ao oferecimento no pré-natal do teste anti-HIV, com
aconselhamento pré e pós-teste para todas as gestantes; para as parturientes, no momento
do parto e para as nutrizes, quando for o caso.
As mulheres portadoras do HIV devem ser aconselhadas a não amamentar. E a lactação deve ser inibida nas puérperas comprovadamente HIV+.
A fórmula infantil deverá ser instituída para todos os recém-nascidos expostos ao HIV.
O seguimento da mulher HIV+ e da criança exposta ao HIV deverá ser garantido:
• em serviço de tocoginecologia/pediatria, credenciado para atendimento do
par mãe HIV+ e seu filho (SAE - materno-infantil);
• seguimento da mulher HIV+ e de sua criança, respectivamente num SAEadulto e SAE-infantil.
Prevenção da transmissão vertical do HIV
Vários são os fatores associados ao aumento do risco de transmissão do HIV, da mãe
para filho: virais – carga viral, genotipo e fenótipo viral, diversidade circulante e resistência
viral; maternos – estado clínico e imunológico; presença de DST e outras co-infecções, estados nutricionais; comportamentais – uso de drogas e prática sexual desprotegida; obstétricos – duração de ruptura das membranas amnióticas, via do parto, presença de hemorragia
intraparto; inerentes ao recém-nascido – prematuridade, baixo peso ao nascer; aleitamento
materno.
Dentre esses, os mais fortemente associados à transmissão vertical do HIV são a carga
viral elevada e a ruptura prolongada das membranas amnióticas. Sendo assim, a promoção
de intervenções que reduzam a carga viral materna e que propiciem a realização rápida
do parto, com adequada assistência ao binômio mãe/filho, contribuem sobremaneira para
a redução desse modo de transmissão. As normas preconizadas para essas intervenções
encontram-se disponíveis no site www.aids.gov.br e na publicação Recomendações para
profilaxia da transmissão vertical do HIV e terapia anti-retroviral em gestantes, do PNDST/Aids.
150
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
Investigação epidemiológica
Encontra-se descrita no tópico Roteiro da investigação epidemiológica, no Capítulo
Aids, devendo-se, entretanto, atentar para os seguintes aspectos:
• registrar os dados de identificação e residência da gestante/parturiente, mãe da
criança exposta ou nutriz, nos casos em que a fonte de infecção for amamentação
cruzada por mulher soropositiva para o HIV;
• identificar a evidência laboratorial – informar o momento em que foi realizada a
coleta do material no qual se evidenciou o diagnóstico laboratorial da infecção pelo
HIV, na gestante/parturiente/mãe/nutriz da criança exposta (considerar o primeiro
resultado reagente);
• para fins de vigilância epidemiológica, o caso deverá ser notificado mesmo com
resultados reagentes de testes de triagem, sem a necessidade de se aguardar confirmação laboratorial para seu envio.
6
Avaliação do protocolo da profilaxia no pré-natal – registrar o momento em que
foi iniciado o pré-natal; se a gestante, anteriormente à gravidez, já preenchia critério de
definição de caso de aids; se foi indicada profilaxia e, caso não tenha sido, quais foram os
motivos.
Avaliação do protocolo da profilaxia no parto – informar sobre o uso da profilaxia
no pré-natal, condições clínicas da gestante no momento do parto, uso da profilaxia no
parto e início da profilaxia na criança.
Avaliação do protocolo da profilaxia na criança e acompanhamento – anotar os
dados de identificação da criança (nome, data de nascimento e sexo), a exposição ao aleitamento materno ou cruzado e a conclusão ou não da profilaxia e diagnóstico laboratorial
(carga viral e sorologia). Também deve ser registrada a ocorrência de óbito se relacionado
à aids em crianças em acompanhamento.
Análise da avaliação – a análise desses últimos três itens possibilitará aos responsáveis
pela vigilância epidemiológica a verificação do impacto das ações implantadas a cada caso
(binômio mãe/filho), bem como detectar possíveis entraves e promover as correções para
atingir o resultado esperado: a redução da transmissão vertical do HIV.
Encerramento de casos – o caso se encerra com o conhecimento do status sorológico
da criança. Não se faz necessário aguardar o desfecho do caso para o envio dos dados. Essas informações serão solicitadas pelo setor responsável pela vigilância epidemiológica de
aids, quando a criança completar 18 meses. Se os resultados da 1ª e 2ª cargas virais forem
concordantes, não mais se precisa aguardar 18 meses para o encerramento do caso, pois já
se tem ou não a evidência laboratorial do HIV.
• Infectado – quando existirem dois resultados de cargas virais detectáveis ou sorologia após os 18 meses reagente.
• Não-infectado – quando existirem dois resultados de cargas virais indetectáveis ou
sorologia aos 18 meses não-reagente.
• Indeterminado – quando os resultados laboratoriais forem inconclusivos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
A
151
Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta
• Perda de seguimento – quando o serviço perde contato com a criança, antes de se
estabelecer a conclusão do diagnóstico laboratorial.
• Óbito – quando ocorrido durante o período de acompanhamento, antes da definição do status viral ou sorológico da criança, independente se o óbito estava ou não
relacionado à aids.
Medidas de controle
Orientações gerais
Ver tópico Medidas de controle e prevenção, no Capítulo Aids.
Medidas específicas para a prevenção da transmissão vertical
Incluem ações de educação em saúde e devem ter início na atenção ao pré-natal, quando se esclarece à gestante os benefícios do diagnóstico precoce do HIV. Nesse sentido, os
serviços de pré-natal e de saúde da mulher devem disponibilizar o acesso ao teste anti-HIV
e promover ações de aconselhamento pré e pós-teste.
Essas ações devem ser conduzidas e acompanhadas de informações complementares
em todas as atividades de promoção à saúde da mulher. A disponibilização de preservativos masculinos e femininos faz parte de todo o processo educativo, inclusive das ações
dirigidas aos casais soro-discordantes. Nesses casos, o trabalho de grupo, acompanhado
por profissional de saúde, tem sido recomendado, pois a troca de experiências e a interação
favorecem hábitos de vida mais saudáveis.
Em relação ao recém-nato de mãe HIV positiva, deve-se dispor de meios e condições
de acesso ao leite artificial, garantindo-se a substituição do leite materno e/ou o acesso ao leite materno pasteurizado, ofertados por bancos de leite cadastrados e controlados pelo MS.
152
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
ANTRAZ OU CARBÚNCULO
CID 10: A22
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Toxiinfecção aguda que, em geral, acomete a pele sob as formas de lesão bolhosa e
pústula maligna, produzida pelo contato com animais (bovino, caprino, eqüino e outros)
com a mesma doença. As formas viscerais são raras, embora graves, representadas pelo
carbúnculo pulmonar, gastrintestinal e neuromeníngeo.
Sinonímia
6
Anthrax, na língua inglesa. No Brasil, a confluência de furúnculos, que é um diagnóstico diferencial da toxiinfecção causada pelo Bacillus anthracis, é denominada carbúnculo
ou antraz. Na vigência desta furunculose multifocal, a suspeita de antraz só deve ser levantada quando houver história epidemiológica compatível.
A
Agente etiológico
Bacilo móvel, grampositivo encapsulado, formador de esporos denominados Bacillus
anthracis.
Reservatório
Animais herbívoros, domésticos e selvagens. O solo contaminado também representa
um reservatório, pois quando se expõem ao ar as formas vegetativas esporulam e os esporos de B. anthracis, que resistem a situações ambientais adversas e à desinfecção, podem
permanecer viáveis durante muitos anos. Este bacilo é comensal do solo, em várias partes
do mundo. A proliferação bacteriana e o número de esporos no solo aumentam quando
de inundações ou outras circunstâncias ecológicas. A terra também pode ser contaminada
por aves de rapina, que disseminam o germe de uma zona para outra, após alimentar-se de
cadáver de animal infectado pelo B. anthracis e em estado de putrefação.
A pele, couro seco ou processado, provenientes de animais infectados, podem albergar esporos durante anos e são fômites que transmitem a infecção pelo mundo.
Vetores
Aventa-se a possibilidade de transmissão por insetos hematófagos que tenham se alimentado de animais infectados.
Modo de transmissão
A maneira mais comum de contaminação é o manuseio de produtos tais como lã, couro, osso e pêlo, provenientes de animais infectados. Em casos mais raros, a doença também
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
153
Antraz ou Carbúnculo
pode ser contraída por ingestão de alimento contaminado (carne de animais infectados)
ou por inalação dos esporos. Outra forma de se adquirir a doença é pela picada de insetos
hematófagos, comuns em regiões endêmicas. É bem pouco provável ocorrer a transmissão
direta da doença de um indivíduo infectado para um sadio.
Período de incubação
Varia de um a sete dias, sendo em média de dois a três dias. É possível se estender por
até 60 dias.
Período de transmissibilidade
Os objetos e o solo contaminados podem permanecer infectantes durante décadas. A
transmissão de pessoa a pessoa é muito rara.
Susceptibilidade e imunidade
Indeterminadas. Existem dados de infecção não manifesta em pessoas que mantém
contato freqüente com o agente infeccioso. Podem surgir segundos ataques, raras vezes
identificados.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Cutânea – lesão na pele que evolui, durante um período de dois a seis dias, do estágio
de pápula para vesícula e pústula, progredindo para cicatriz negra profunda.
Inalatória – inicia com febre, cefaléia, vômitos, tontura, fraqueza, dor abdominal e
dor torácica, progride com piora do quadro respiratório e evidência radiológica de expansão do mediastino.
Intestinal – inicia com náusea, vômito e mal-estar, com progressão rápida para diarréia sanguinolenta, abdome agudo ou sepsis.
Orofaringe – lesão de mucosa, na cavidade oral ou da orofaringe, adenopatia cervical,
edema e febre.
Na forma cutânea, após o período de incubação, aparece pápula inflamatória, seguida
de formação vesicular que logo exsuda e transforma-se em pústula com porção central de
cor amarela, evoluindo para o negro, com formação de escara. Dois a três dias após o início
da lesão, esta já apresenta o aspecto característico de escara indolor, seca, com centro negro
e borda edemaciada e inflamada, acompanhada de adenopatia satélite (para os linfonodos
regionais), febre discreta (37ºC a 38ºC) e bom estado geral. Pode haver evolução espontânea para cicatrização e cura, porém em alguns casos não tratados, quando há comprometimento da resistência, pode disseminar-se para os gânglios linfáticos regionais e a corrente
sangüínea, com conseqüente septicemia.
154
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
Nas infecções respiratórias (carbúnculo por inalação), os sintomas iniciais são discretos, inespecíficos e assemelham-se aos de uma infecção comum das vias aéreas superiores.
Ao término de três a cinco dias, aparecem os sintomas agudos de insuficiência respiratória,
sinais radiológicos sugestivos de exsudado pleural, febre e choque, que evolui rapidamente
para a morte.
O carbúnculo intestinal é raro e mais difícil de ser identificado, exceto quando sob a
forma de surtos epidêmicos explosivos, do tipo causado por intoxicação alimentar. As manifestações clínicas são mal-estar abdominal, seguido de febre, sinais de septicemia e morte.
Diagnóstico diferencial
Furunculose cutânea causada pelo Staphylococcus e/ou Streptococcus, dermatite pustulosa contagiosa (enfermidade vírica de Orf).
Diagnóstico laboratorial
6
Isolamento do Bacillus anthracis no sangue, lesões ou secreções mediante esfregaços
ou inoculações em animais. Em tecidos, pela histologia. Também pode ser identificado por
imunofluorescência.
A
Tratamento
Quadro 1. Esquema para profilaxia pós-exposição com ciprofloxacina
Via de administração
Doses
Oral
500mg, 2 vezes ao dia
Oral
20 a 30mg/kg/dia, em 2 doses diárias
Adulto
Ciprofloxacina
Criança (<20kg)
Ciprofloxacina
Manter profilaxia pós-exposição por 60 dias, definindo esquema terapêutico após a realização de teste de sensibilidade antimicrobiana, de acordo com as seguintes orientações:
• enquanto não houver resultado de teste de sensibilidade antimicrobiana (para amoxicilina ou doxiciclina) ou se o teste revelar resistência antimicrobiana comprovada
laboratorialmente, manter o esquema do Quadro 1.
• quando houver comprovação de que a cepa é sensível para amoxicilina e doxiciclina, o esquema de tratamento deve ser alterado, conforme os quadros a seguir:
Quadro 2. 1ª escolha: Amoxicilina
Via de administração
Doses
Oral
500mg, 3 vezes ao dia
Oral
40mg/kg/dia, em 3 doses diárias
Adulto (18 a 65 anos)
Amoxicilina
Criança (<20kg)
Amoxicilina
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
155
Antraz ou Carbúnculo
2ª escolha: Doxiciclina
Via de administração
Doses
Oral
100mg, 2 vezes ao dia
Oral
5mg/kg/dia, em 2 doses diárias
Adulto
Doxiciclina oral
Criança (<20kg)
Doxiciclina
• Caso o indivíduo exposto a material suspeito de contaminação pelo Bacillus anthracis apresente sintomatologia compatível com a doença, realizar tratamento conforme a conduta estabelecida. Avaliar indicação médica de uso da droga por via
parenteral.
• Realizar acompanhamento semanal de pacientes/expostos em regime ambulatorial
até o fim do tratamento.
Aspectos epidemiológicos
O homem é um hospedeiro acidental e a incidência desta doença é muito baixa, geralmente esporádica em quase todo o mundo. É considerado risco ocupacional em potencial
para trabalhadores que manipulam herbívoros e seus produtos. Há registro de casos na
América do Sul e Central, Ásia e África. Recentemente, ocorreram casos nos Estados Unidos da América, imputados à guerra biológica. No Brasil, não existe registro de casos da
doença em humanos. Atualmente, o risco de se contrair a doença é mínimo.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Diagnosticar e tratar precocemente os casos graves, para evitar complicações e óbitos.
• Identificar a fonte de infecção, para adoção de medidas de controle e desinfecção
concorrente.
• Realizar quimioprofilaxia dos indivíduos expostos ao Bacillus anthracis.
Definição de caso
Suspeito
• Indivíduo com lesão cutânea que evolui para pápula, vesícula e pústula, progredindo para cicatriz negra profunda; e história de exposição a material, animal ou
produtos animais contaminados pelo B. anthracis.
• Indivíduo que apresenta febre, cefaléia, vômitos, tontura, fraqueza, dor abdominal e
dor torácica, que progride com piora do quadro respiratório, evidência radiológica
156
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
de expansão do mediastino e história de exposição a material, animal ou produtos
animais contaminados pelo B. anthracis.
• Indivíduo com quadro de náusea, vômito e mal-estar, com progressão rápida para
diarréia sanguinolenta, abdome agudo ou sepsis; e história de exposição a material,
animal ou produtos animais contaminados pelo B. anthracis.
• Indivíduo com quadro de lesão em mucosa oral ou da orofaringe, adenopatia cervical, edema, febre e história de exposição a material, animal ou produtos animais
contaminados pelo B. anthracis.
Confirmado
Critério clínico laboratorial – indivíduo com infecção pelo B. anthracis confirmada
laboratorialmente.
Critério clínico-epidemiológico – indivíduo com exposição a material, animal ou produtos animais contaminados pelo B. anthracis; e quadro clínico compatível com a doença.
6
Descartado
Casos suspeitos cujos exames laboratoriais identificaram outro agente.
A
Notificação
A ocorrência de casos suspeitos desta doença requer imediata notificação e investigação, por se tratar de doença grave e sob vigilância. Mesmo casos isolados impõem a
adoção imediata de medidas de controle, visto tratar-se de evento inusitado. Por ser doença
passível de uso indevido como arma biológica em ataques terroristas, todo caso suspeito
deve ser prontamente comunicado por telefone, fax ou e-mail às autoridades sanitárias
superiores.
Primeiras medidas a serem adotadas
Toda pessoa exposta a material supostamente contaminado com Bacillus anthracis
deve ser atendida em unidade de saúde de referência. Mesmo antes da confirmação laboratorial da contaminação e início dos sintomas dos indivíduos expostos, deve-se orientá-los
e mantê-los sob monitoramento. Caso alguém passe a apresentar sinais e sintomas compatíveis com a doença, realizar coleta de material de nasofaringe (swab nasal) de todos os
indivíduos expostos e encaminhar para laboratório de referência.
O material supostamente contaminado também deve ser enviado ao laboratório de
referência, para a realização de testes segundo as seguintes diretrizes de biossegurança:
• Para a pessoa que localizou um material suspeito
❯ não tocar, não agitar, não tentar limpar ou recolher o material suspeito
❯ evitar olhar muito próximo, cheirar, provar, espirrar ou tossir
❯ desligar aparelhos de climatização, condicionadores, exaustores e ventiladores
de ar
❯ fechar as janelas e portas e sair do local, mantendo o mesmo isolado, sem permissão de entrada de pessoas e/ou animais
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
157
Antraz ou Carbúnculo
❯
❯
demarcar a área a ser descontaminada com material desinfetante
contactar a secretaria de saúde do estado, ou a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, quando se tratar de ocorrência em áreas de terminais aquaviários, portos, aeroportos, estações, passagens de fronteiras e terminais alfandegados
• Recomendações importantes em caso de contato com o material suspeito
❯ lavar imediatamente as mãos, com água corrente abundante e sabão
❯ não esfregar as mãos antes de molhá-las
❯ não escovar as mãos durante a lavagem
❯ procurar imediata orientação em uma unidade de saúde
• Coleta, recolhimento (se for o caso), acondicionamento, transporte e descontaminação do material
❯ verificar se os procedimentos básicos foram adotados corretamente; caso contrário, adotá-los
❯ avaliar a situação da área suspeita de contaminação
❯ adotar estratégias específicas, relacionadas ao recolhimento, coleta, transporte e
descontaminação, de acordo com o descrito nos Anexos 1 a 5 deste capítulo
Essas atividades devem ser realizadas por equipe competente e capacitada, que deve
atender aos seguintes requisitos:
• nenhum profissional envolvido pode ser portador de ferimentos, queimaduras,
imunodeficiências ou imunossupressões;
• não usar relógios e adereços (anéis, brincos, colares, entre outros);
• usar os equipamentos de proteção individual preconizados no Anexo 1 deste capítulo;
• usar respiradores alternativos e cuidados especiais, quando portadores de pêlos faciais (barba, bigode e costeletas);
• após os procedimentos, realizar higiene pessoal completa: banho com água corrente
abundante e sabão.
Assistência médica ao paciente
Adotar medidas junto às unidades de referência para acompanhamento adequado aos
doentes e a todos os indivíduos expostos sem proteção ao suposto material contaminado.
Qualidade da assistência
Verificar se as unidades de referência estão seguindo as orientações para a quimioprofilaxia e tratamento.
Confirmação diagnóstica
Garantir a coleta e transporte dos espécimes para diagnóstico laboratorial, de acordo
com as normas técnicas constantes do Anexo 1 deste capítulo.
158
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
Proteção da população
Descarte adequado dos materiais supostamente contaminados e quimioprofilaxia dos
expostos.
Investigação
A investigação deve iniciar-se imediatamente após a notificação da existência de material supostamente contaminado ou de um ou mais casos da doença, para permitir que as
medidas de controle possam ser adotadas em tempo oportuno.
Para o material supostamente contaminado, seguir as orientações descritas anteriormente, complementadas com as dos Anexos 1 a 5 deste capítulo.
Roteiro da investigação epidemiológica
6
Identificação do paciente
A
Preencher todos os campos da Ficha de Notificação do Sinan, relativos aos dados gerais, notificação individual e residência. Não se dispõe de ficha epidemiológica de investigação para este agravo no Sinan, devendo-se elaborar uma específica para este fim, contendo
campos que coletem as principais características clínicas e epidemiológicas da doença.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita de exposição
• Anotar na ficha de investigação elaborada os dados sobre o tipo de material (couro,
pó branco, etc.), dia da exposição, etc. Uma pequena história (anamnese) deve ser
feita para maior riqueza de detalhes.
• Investigar minuciosamente:
❯ a fidedignidade das informações;
❯ se outras pessoas identificá-las podem ter entrado em contato com o suposto
material contaminado;
❯ a abrangência da população acometida;
❯ a provável proveniência do material supostamente contaminado, quando se tratar de contaminação intencional;
❯ nos casos de contaminação por animais ou seus produtos, qual a proveniência,
abrangência da disseminação do agente e vínculo com a ocupação dos indivíduos
acometidos.
Análise de dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude da provável contaminação e a adequação das medidas adotadas, principalmente quanto à quimioprofilaxia, tratamento dos casos e risco de eventos semelhantes virem a acontecer.
Como a doença não tem grande poder de disseminação e, mesmo quando se apresenta
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
159
Antraz ou Carbúnculo
sob a forma de surtos, o número de acometidos é limitado, as análises dos eventos devem
ser feitas caso a caso, descrevendo as ocorrências. Desde o início do processo o investigador
deve analisar as informações para verificar se decorre de doença profissional, contaminação acidental ou intencional – análises que devem alimentar o processo de decisão das
autoridades sanitárias.
Observar se todas as informações necessárias para o encerramento dos casos e do
evento (epidemia ou casos isolados) foram coletados durante a investigação e se as mesmas
foram criteriosamente registradas e analisadas.
Relatório final
As informações coletadas devem ser sistematizadas em um relatório final, sejam de
casos isolados, surtos e, principalmente, quando houver suspeita de que a contaminação
possa ter sido intencional.
Dentre as principais conclusões, devem-se destacar:
• local de transmissão do(s) caso(s) e distribuição dos casos segundo espaço, pessoa e
tempo em situações de surtos;
• modo de transmissão (contato com animais, contaminação intencional, caso importado, etc.);
• situação de risco para a ocorrência de novos casos e medidas de controle adotadas;
• critérios de confirmação e descarte dos casos.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
A vacina contra o carbúnculo ou antraz contém um filtrado purificado de cultura do
Bacillus anthracis. O Brasil não dispõe desta vacina e a produção mundial, por sua vez, é
muito limitada.
O esquema de vacinação é de 6 doses de 0,5ml, administradas por via subcutânea em
0, 2 e 4 semanas e, posteriormente, no 6º, 12º e 18º meses. Embora existam evidências de
que esta vacina proteja contra as formas cutânea (pele) e inalatória da doença, tal proteção
é temporária e, além do mais, exige reforços anuais de revacinação.
Recomendações para a vacinação – a vacina é indicada somente quando existe risco
de infecção definido. Exemplos de grupos de pessoas que estão sob risco de infecção são:
técnicos de laboratório que trabalham com o bacilo e militares envolvidos em guerras com
uso de arma biológica.
A vacinação de civis e da população em geral não é recomendada pelas seguintes
razões:
• o esquema para conferir a proteção adequada é longo (18 meses). Portanto, esta vacina não está indicada para a população em situações que exigem proteção imediata,
como um ataque de bioterrorismo;
160
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
• o tempo de proteção conferida pela vacina é muito curto, exigindo a aplicação de
reforços anuais.
Ações de educação em saúde
Os indivíduos expostos ou sob risco de exposição devem ser comunicados e orientados a buscar informações nas unidades de saúde de referência, para serem submetidos à
quimioprofilaxia e/ou tratamento quando indicado. Em áreas de exposição profissional,
alertar sobre as formas de se adquirir a doença. Quando houver suspeita de ataque de bioterrorismo, utilizar os meios de comunicação para orientar a população como proceder nos
casos de identificação de material suspeito, de acordo com as normas descritas.
6
A
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
161
Antraz ou Carbúnculo
Anexo 1
Equipamentos de proteção individual para o
manuseio de material com suspeição de B. anthracis
Grupo 1
No caso de coleta/recolhimento de material suspeito contido em envelope, caixa ou
qualquer outro recipiente, mas sem indícios de contaminação aparente do meio externo, é
indicado o uso de:
• máscara de proteção facial;
• óculos de proteção ou protetor facial;
• luvas descartáveis de látex;
• avental descartável.
Grupo 2
Quando o material suspeito se apresentar de forma residual e localizada, em ambiente
não exposto a correntes de ar, seja desprovido (ou sem uso) de sistema de climatização,
condicionador de ambiente, exaustor ou ventilador de ar, orienta-se, para quem o coletar e
recolher, as seguintes proteções:
• macacão descartável em não-tecido ou Tyvek, com capuz;
• luvas de borracha nitrílica ou luvas emborrachadas sobrepostas a uma de látex descartável;
• máscara de proteção facial;
• óculos de proteção;
• botas de borracha.
Grupo 3
No caso do material suspeito apresentar indicativo de suspensão ou dispersão no ambiente, orienta-se, para quem o coletar e recolher, as seguintes proteções:
• macacão emborrachado ou de PVC, com capuz e elástico;
• luvas de borracha nitrílica, sobrepostas a uma de látex descartável;
• botas de borracha;
• respirador facial inteiro.
162
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
Tabela de especificações dos equipamentos de proteção individual (EPI)
EPI
Especificação
Avental
Descartável, com mangas compridas, punho em malha ou elástico,
gramatura 50g/m2, resistente à esterilização por calor úmido, rasgos e
tração, alta drapeabilidade, hipoalergênico, não inflamável, com 90%
de eficiência na filtração de bactérias
Botas de borracha
Confeccionadas em borracha natural resistente a agentes químicos
Luvas tipo 1
Confeccionadas em látex, descartável, não-estéril
Luvas tipo 2
Confeccionadas em borracha nitrílica, descartável, não-estéril
Luvas tipo 3
Confeccionadas em borracha natural resistente a agentes químicos,
com característica antiderrapante
Macacão não-tecido com capuz
Descartável, com mangas compridas, confeccionado em material nãotecido, gramatura 60g/m2, punho de malha ou elástico, com capuz
contendo ajustes ao redor da face, resistente a tração e rasgos, alta
drapeabilidade, hipoalergênico, não-inflamável, com 90% de eficiência
na filtração de bactérias. Abertura frontal por zíper ou velcro
Macacão Tyvek com capuz
Descartável, com mangas compridas, confeccionado em Tyvek, punho
de malha ou elástico, com capuz contendo ajustes ao redor da face,
resistente à tração e rasgos com abertura frontal por zíper ou velcro
Macacão nitrílico com capuz
Com mangas compridas, confeccionado em borracha nitrílica, ajustes
no punho e no capuz ao redor da face, resistente a agentes químicos,
tração e rasgos, com abertura frontal por zíper ou velcro
Macacão emborrachado
com capuz
Com mangas compridas, confeccionado em poliuretano/PVC, ajustes
no punho e no capuz ao redor da face, resistente a agentes químicos,
tração e rasgos, com abertura frontal por zíper ou velcro
Máscara de proteção facial
6
A
Tipo respirador, para partículas, sem manutenção, N95, com eficácia
na filtração de 95% de partículas de até 0,3μ (usada para ações contra
a tuberculose)
Obs: essa máscara, dependendo das condições de conservação, poderá
ser reutilizada. Pode ser adquirida com válvula especial, para facilitar a
respiração ou não
Óculos de proteção
Flexível, em PVC incolor, leve, com adaptação perfeita ao nariz para
conforto em uso prolongado; com lentes em policarbonato, resistente
a impactos, antiembaçante, contra riscos e proteção antiUV. Pode ser
usado em combinação a óculos com lentes de prescrição
Protetor facial
Com ampla proteção lateral, com ajustes de tensão para posicionamento
do visor. Visor em policarbonato, incolor, que fornece proteção a impactos e resistência a calor, antiembaçante. Pode ser usado em combinação
a óculos com lentes de prescrição e óculos de proteção
Protetor para barba
Descartável, confeccionado em polipropileno, com ajustes em elástico
Respirador facial inteiro
Confeccionado em silicone, com ajustes de tensão para posicionamento
na face. Visor com lentes em policarbonato, que fornece proteção a
impactos, antiembaçante. Equipado com duplo cartucho contendo filtros
N100, P100 ou R100, que oferecem uma eficácia de 99,97% na filtração
de partículas com 0,3μ (o esporo do B. anthracis tem diâmetro de 2 a 6μ)
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
163
Antraz ou Carbúnculo
Anexo 2
Coleta, recolhimento e
acondicionamento do material suspeito
• Coletar o material suspeito e colocá-lo em embalagem plástica, com fechamento
hermético, lacrar, rotular adequadamente e incluir a inscrição “RISCO BIOLÓGICO”. Acondicionar em embalagens específicas (kit) para transporte de amostras infecciosas, conforme disposto na Portaria MS nº 1.985, de 25 de outubro de 2001.
• As amostras devem ser embaladas em três camadas: um receptáculo impermeável
dentro do qual se encontra a amostra; um segundo recipiente resistente, à prova de
filtração, contendo material absorvente entre as suas paredes; e receptáculo interno,
a ponto de garantir a absorção de todo o líquido em caso de vazamento, ou seja, uma
embalagem externa destinada a proteger contra fatores externos, tais como impactos
físicos e água durante o transporte.
• Encaminhar para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) da unidade federada.
Observação: caso haja necessidade de encaminhamento da(s) amostra(s) para laboratório de referência, caberá ao Lacen receptor proceder o envio, de acordo com o fluxo de
amostras biológicas e não-biológicas definido pela Coordenação Geral de Laboratórios da
Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.
Para agilização da remessa, deverão ser adotadas medidas junto às instituições públicas e privadas envolvidas no transporte de cargas.
164
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
Anexo 3
Descontaminação de superfícies contaminadas por B. anthracis
Para a operacionalização dos procedimentos de descontaminação de superfícies recomenda-se a utilização de equipamentos de proteção individual constantes do Anexo 1.
A equipe que executou a coleta e recolhimento do material suspeito, a partir de definição estratégica local, quando devidamente capacitada, poderá proceder às operações de
descontaminação de superfícies.
Procedimentos de descontaminação:
Superfícies
6
Método I (aplicado para grupos 1 e 2 de proteção individual)
A
Esfregar com pano limpo, gaze ou algodão embebido em solução preparada a partir de produtos
desinfetantes (Grupo A - Anexo 4)
Aguardar o tempo de contato recomendado para a substância e/ou produto utilizado
Secar com papel-toalha
Esfregar com pano limpo, compressa, gaze ou algodão embebido em álcool a 70% e aguardar secar
Acondicionar os papéis-toalha, gaze e algodão utilizados em sacos plásticos de cor branca, leitosa, com
símbolo de risco biológico
Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteúdo, mesmo se virados para
baixo. Uma vez fechados, precisam ser mantidos íntegros até o processamento ou destino final do resíduo
biológico (aterro sanitário ou incineração)
• Método I. Este método é composto de três estágios, a saber:
Estágio 1: Desinfecção preliminar
• Cobrir o material suspeito com papel-toalha.
• Colocar a solução desinfetante (Grupo A – Anexo 4), na quantidade de 1 a 1,5 litros
por metro quadrado de área atingida, embebendo todo o papel-toalha.
• Deixar em contato por 2 horas.
• Remover os papéis-toalha, o resíduo do material suspeito e o excesso da solução
desinfetante utilizando papel toalha.
• Acondicionar os papéis-toalha utilizados em sacos plásticos de cor branca leitosa
com símbolo de risco biológico.
• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteúdo,
mesmo se virados para baixo. Uma vez fechados, precisam ser mantidos íntegros
até o processamento ou destino final do resíduo biológico (aterro sanitário ou incineração).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
165
Antraz ou Carbúnculo
Estágio 2: Limpeza
• Esfregar pano limpo ou escova embebidos em água quente sobre as superfícies, com
vistas à retirada dos resíduos.
• Secar, preferencialmente, com papel-toalha e promover seu descarte como resíduo
biológico.
• Acondicionar os papéis-toalha em sacos plásticos de cor branca, leitosa, com símbolo de risco biológico.
• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteúdo,
mesmo se virados para baixo. Uma vez fechados, precisam ser mantidos íntegros até
o processamento ou destino final do resíduo biológico.
Estágio 3: Desinfecção final
• Aplicar a solução desinfetante (Grupo B – Anexo 4) na proporção de 500ml (meio
litro) por metro quadrado de área atingida com tempo de contato de 2 horas.
• Retirar todo o excesso da solução desinfetante com papel-toalha.
• Acondicionar os papéis toalha em sacos plásticos de cor branca, leitosa, com símbolo de risco biológico.
• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteúdo,
mesmo se virados para baixo. Uma vez fechados, precisam ser mantidos íntegros até
o processamento ou destino final do resíduo biológico.
• Método II. Descontaminação por fumigação: é recomendado para os casos em
que houver indícios de que o material contaminado por B. anthracis foi submetido
à suspensão ou dispersão no ambiente.
❯ Estimar o volume da área a ser tratada;
❯ Antes de iniciar-se o procedimento de fumigação o ambiente deverá ser preparado, com a vedação (material adesivo/fita) de portas, janelas, frestas ou quaisquer
outras fontes de circulação de ar;
❯ Os equipamentos de proteção individual deverão apresentar-se de acordo com o
disposto no Anexo 5.
• Fumigação com equipamento específico: os ambientes podem ser fumigados por
aquecimento da solução desinfetante.
❯ Para cada 25-30m3, utilizar solução de 4 litros de água contendo 400ml de formaldeído a 10%, a ser aplicada por equipamento de fumigação;
❯ O tempo de fumigação deverá ser realizado de acordo com as especificações estabelecidas pelo fabricante do aparelho fumigador;
❯ A descontaminação completa por fumigação do ambiente exposto ao material
suspeito deverá ocorrer por um período de tempo maior que 12 horas, em temperatura acima de 18ºC e com umidade relativa superior a 70%;
❯ O ambiente somente poderá ser aberto após 12 horas do início da fumigação,
quando deverá ser retirado o material utilizado para a vedação e submetido com-
166
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Antraz ou Carbúnculo
plementarmente à limpeza e desinfecção da área. Recomenda-se, como produtos
de desinfecção de mobiliários e equipamentos, o álcool a 70%, por 10 minutos
(em 3 aplicações), e para teto, piso e paredes, o hipoclorito de sódio a 1% por 10
minutos ou formulações pertencentes à categoria de desinfetantes hospitalares
(devidamente registrados na Anvisa), cuja diluição e tempo de exposição deverão
atender às especificações de rotulagem.
Descontaminação de equipamentos
de proteção individual e outros materiais
• Equipamentos de proteção individual: os EPI não descartáveis, utilizados nas etapas de coleta, recolhimento e descontaminação, após o uso deverão ser submetidos
a processo de descontaminação com produtos do Grupo D (Anexo 4), caso tolerem os tratamentos recomendados ou submetidos à esterilização por calor úmido a
121ºC por 30 minutos.
Observação: os EPI descartáveis deverão ser colocados em sacos plásticos autoclaváveis, lacrados e submetidos à esterilização por calor úmido a 121ºC por 30 minutos, para posterior descarte.
6
A
• Equipamentos e outros materiais (panos, roupas, utensílios, etc.): equipamentos,
bem como outros materiais utilizados na coleta, recolhimento e descontaminação,
deverão, sempre que possível, ser incinerados ou submetidos à esterilização por calor úmido a 121ºC por 30 minutos. Os que não puderem ser autoclavados, devem
ser imersos em formaldeído com concentração e tempo de exposição indicada no
Grupo D (Anexo 4) ou fumigados conforme o estágio III do Anexo 3.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
167
Antraz ou Carbúnculo
Anexo 4
Grupos de produtos desinfetantes
Grupo A
• Hipoclorito de sódio: este é o agente químico de escolha, exceto quando se trata de
superfícies de corrosão.
❯ Concentração recomendada: 1% (10 mil ppm (mg/l) ) de cloro ativo
Preparo da solução: para um volume de 10 litros, colocar 1 litro de solução de hipoclorito de sódio a 10% de cloro ativo (comercial) e completar com água
Tempo de exposição: 1 hora
• Formaldeído a 10%
❯ Tempo de exposição: 2 horas
• Glutaraldeído a 4% (pH de 8-8,5)
❯ Tempo de exposição: 2 horas
Grupo B
• Ácido peracético a 1%: agente químico de escolha, excetuando superfícies de corrosão
❯ Tempo de exposição: 2 horas
• Formaldeído a 10%
❯ Tempo de exposição: 2 horas
• Glutaraldeído a 4% (pH de 8-8,5)
❯ Tempo de exposição: 2 horas
• Peróxido de hidrogênio a 3%
❯ Tempo de exposição: 2 horas
Grupo C (fumigação)
• Formaldeído a 10%
Grupo D
• Hipoclorito de sódio a 0,5%
❯ Concentração recomendada: 0,5% (5 mil ppm (mg/l) ) de cloro ativo
❯ Preparo da solução: para um volume de 10 litros, colocar 500ml de solução de
hipoclorito de sódio a 10% de cloro ativo (comercial) e completar com água
❯ Tempo de exposição: 2 horas
• Formaldeído a 4%
❯ Tempo de exposição: acima de 8 horas
• Glutaraldeído a 2% (pH de 8-8,5)
❯ Tempo de exposição: acima de 8 horas
168
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Antraz ou Carbúnculo
Anexo 5
Descontaminação de superfícies e ambientes
Local
Superfície
que entrou em
contato com
B. anthracis
Descontaminação
Método I
Grupo
do produto
Grupos A e B
Situação
Material suspeito contido
em envelope, caixa ou
qualquer outro recipiente,
não havendo indícios de
contaminação aparente
do meio externo
EPI
Máscara de proteção facial
tipo respirador valvulado
para partículas, sem manutenção, N95
Óculos de proteção ou
protetor facial, em acrílico
Luvas de látex para
procedimentos
6
Avental descartável com
mangas compridas, punho
em malha, gramatura 50
No caso do material suspeito
se apresentar exposto, de
forma residual e localizada,
em ambientes:
Superfície
que entrou em
contato com
B. anthracis
Método I
Grupos A e B
• não expostos a correntes
de ar; desprovidos de sistema
de climatização, condicionador de ambiente, exaustor ou
ventilador de ar, ou
• presença, porém sem
funcionamento, de sistema
de climatização, condicionador de ambiente, exaustor
e ventilador de ar
A
Macacão descartável
gramatura 50, com capuz
e elástico ou macacão em
não-tecido, Tyvek com
capuz e elástico
Luvas de borracha nitrílica
ou luva emborrachada
sobreposta a uma de látex
(luva de procedimentos)
Máscara de proteção facial
tipo respirador valvulado,
sem manutenção, N95
Óculos de proteção ou
protetor facial, em acrílico,
incolor
Botas de borracha
Macacão emborrachado
ou de PVC, com capuz
e elástico
Ambientes
fechados
expostos
Método II
Grupo C
No caso do material suspeito apresentar indicativo de
suspensão ou dispersão no
ambiente
Luvas de borracha nitrílica,
com luvas de látex (de
procedimentos)
Botas de borracha
Respirador facial inteiro,
com filtro N100, P100
ou R100
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
169
Botulismo
BOTULISMO
CID 10: A05.1
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Há três formas de botulismo: botulismo
alimentar, botulismo por ferimentos e botulismo intestinal. Embora o local de produção da
toxina botulínica seja diferente em cada uma delas, todas as formas caracterizam-se pelas
manifestações neurológicas e/ou gastrointestinais.
O botulismo apresenta elevada letalidade e deve ser considerado uma emergência
médica e de saúde pública. Para minimizar o risco de morte e seqüelas, é essencial que o
diagnóstico seja feito rapidamente e que o tratamento seja instituído precocemente através
das medidas gerais de urgência. Quando causado pela ingestão de alimentos contaminados,
é considerado como doença transmitida por alimento. A notificação de um caso suspeito é
considerada como surto.
Agente etiológico
O Clostridium botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio, esporulado e sua forma vegetativa produz 8 tipos de toxina (A, B, C1, C2, D, E, F e G). As toxinas patogênicas
para o homem são as dos tipos A, B, E e F, sendo as mais freqüentes a A e a B.
Reservatório
Os esporos do Clostridium botulinum são amplamente distribuídos na natureza, em
solos e sedimentos de lagos e mares. São identificados em produtos agrícolas como legumes, vegetais e mel e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos.
Modo de transmissão
O modo de transmissão tem importância na apresentação clínica e nas ações de vigilância epidemiológica.
Botulismo alimentar
Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contaminados e
que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto,
carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pescados defumados, salgados e fermentados; queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlatados industrializados.
170
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
Botulismo por ferimentos
Ocasionado pela contaminação de ferimentos com Clostridium botulinum, que em
condições de anaerobiose assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo. As principais
portas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas ou, ainda, aqueles
produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em
usuários de drogas inalatórias. É uma das formas mais raras de botulismo.
Botulismo intestinal
Resulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da fixação e multiplicação do agente no ambiente intestinal, onde ocorre a produção e absorção de toxina. A
ausência da microbiota de proteção permite a germinação de esporos e a produção de toxina na luz intestinal. Ocorre com maior freqüência em crianças com idade entre 3 e 26
semanas – motivo pelo qual foi inicialmente denominado botulismo infantil. Em adultos,
são descritos alguns fatores predisponentes como cirurgias intestinais, acloridria gástrica,
doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, que levaria à alteração da
flora intestinal.
6
B
Embora raros, são descritos casos de botulismo acidental associados ao uso terapêutico ou estético da toxina botulínica e à manipulação de material contaminado em
laboratório (transmissão pela via inalatória ou contato com a conjuntiva).
Período de incubação
Botulismo alimentar – pode variar de duas horas a 10 dias, com média de 12h a 36h.
Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação.
Botulismo por ferimento – pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias.
Botulismo intestinal – o período não é conhecido devido a impossibilidade de determinar o momento da ingestão de esporos.
Quando ocorre a ingestão de esporos ou a contaminação de ferimentos, o período
de incubação é maior porque a doença só tem início após a transformação do Clostridium
botulinum da forma esporulada para a forma vegetativa, que se multiplica e libera toxina.
Períodos de incubação curtos sugerem maior gravidade e maior risco de letalidade.
Período de transmissibilidade
Não há relato de transmissão interpessoal, apesar de haver excreção da toxina botulínica e esporos da bactéria por semanas ou meses nas fezes de lactentes com botulismo
intestinal.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
171
Botulismo
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas do botulismo serão descritas de acordo com o modo de
transmissão.
Botulismo alimentar
A doença se caracteriza por instalação súbita e progressiva. Os sinais e sintomas iniciais
podem ser gastrointestinais e/ou neurológicos. As manifestações gastrointestinais mais comuns são: náuseas, vômitos, diarréia e dor abdominal e podem anteceder ou coincidir com
os sintomas neurológicos. Os primeiros sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, tais
como cefaléia, vertigem e tontura. O quadro neurológico propriamente dito se caracteriza
por uma paralisia flácida motora descendente, associado a comprometimento autonômico
disseminado. Os principais sinais e sintomas neurológicos são: visão turva, ptose palpebral,
diplopia, disfagia, disartria e boca seca. Eles começam no território dos nervos cranianos e
evoluem no sentido descendente. Esta particularidade distingue o botulismo da síndrome
de Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida ascendente.
Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os músculos do tronco e membros, o que pode ocasionar dispnéia, insuficiência
respiratória e tetraplegia flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica, acometendo com maior intensidade os membros superiores. Uma característica importante no quadro clínico do botulismo é a preservação da consciência. Na maioria dos
casos também não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia no diagnóstico
diferencial com outras doenças neurológicas. O botulismo pode apresentar progressão por
uma a duas semanas e estabilizar-se por mais duas a três semanas, antes de iniciar a fase de
recuperação, com duração variável, que depende da formação de novas sinapses e restauração da função. Nas formas mais graves, o período de recuperação pode durar de seis meses
a um ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros três meses após o início
dos sintomas.
Botulismo por ferimentos
O quadro clínico é semelhante ao do botulismo alimentar; entretanto, os sinais e sintomas gastrointestinais não são esperados e pode ocorrer febre decorrente de contaminação
secundária do ferimento. O botulismo por ferimento deve ser lembrado nas situações em
que não se identifica uma fonte alimentar, especialmente em casos isolados da doença. Ferimentos ou cicatrizes nem sempre são encontrados e focos ocultos, como em mucosa nasal,
seios da face e pequenos abscessos em locais de injeção, devem ser investigados, especialmente em usuários de drogas.
Botulismo intestinal
Nas crianças, o aspecto clínico do botulismo intestinal varia de quadros com constipação leve à síndrome de morte súbita. Manifesta-se inicialmente por constipação e irri-
172
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
tabilidade, seguidos de sintomas neurológicos caracterizados por dificuldade de controle
dos movimentos da cabeça, sucção fraca, disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisias
bilaterais descendentes, que podem progredir para comprometimento respiratório. Casos
leves caracterizados apenas por dificuldade alimentar e fraqueza muscular discreta têm sido
descritos. Em adultos, suspeita-se de botulismo intestinal na ausência de fontes prováveis de
toxina botulínica, como alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas. O botulismo intestinal tem duração de duas a seis semanas, com instalação progressiva dos sintomas
por uma a duas semanas, seguida de recuperação em três a quatro semanas.
Complicações
Desidratação e pneumonia por aspiração podem ocorrer precocemente, antes mesmo
da suspeita de botulismo ou do primeiro atendimento no serviço de saúde. Infecções respiratórias podem ocorrer em qualquer momento da hospitalização, sendo a longa permanência sob assistência ventilatória e os procedimentos invasivos considerados importantes
fatores de risco.
6
Patogenia
B
A toxina botulínica absorvida no trato gastrointestinal ou no ferimento dissemina-se
por via hematogênica até as terminações nervosas, mais especificamente para a membrana pré-sináptica da junção neuromuscular, bloqueando a liberação da acetilcolina (neurotransmissor responsável pela contração muscular). Com isso, haverá falha na transmissão
de impulsos nas junções das fibras nervosas, resultando em paralisia flácida dos músculos
que estes nervos controlam. O dano causado na membrana pré-sináptica pela toxina é permanente. A recuperação depende da formação de novas terminações neuromusculares. Por
este motivo, a recuperação clínica é prolongada, podendo variar de 1 a 12 meses.
Diagnóstico clínico
A anamnese, exame físico e neurológico do paciente são imprescindíveis para o diagnóstico do botulismo.
Anamnese
Para a investigação das doenças neurológicas que se manifestam por fraqueza muscular descendente, faz-se necessário realizar anamnese cuidadosa, buscando identificar fatores de risco específicos para botulismo. Deve-se avaliar o início e a progressão dos principais
sinais e sintomas neurológicos apresentados.
Na suspeita de botulismo alimentar, também devem ser verificados: alimentos ingeridos nos últimos três dias e, quando possível, até 10 dias; tempo decorrido entre a ingestão e
o aparecimento da doença; existência de outros casos e fonte comum de ingestão.
Identificar outros fatores de risco, como ferimentos, imunização e infecções virais recentes, picada de insetos, viagens, exposição a agentes tóxicos, medicamentos e uso de drogas endovenosas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
173
Botulismo
Exame físico geral
De forma geral, prevalecem os sinais e sintomas neurológicos, sendo estes os primeiros e mais importantes achados ao se examinar o paciente. Sinais de desidratação, distensão
abdominal e dispnéia podem estar presentes. Não há febre, a menos que haja uma complicação infecciosa. No botulismo por ferimento pode ocorrer febre secundária à infecção da
ferida por outras bactérias. A freqüência cardíaca é normal ou baixa, se não houver hipotensão (presente nas formas graves, com disfunção autonômica).
Exame neurológico
Avaliar – nível de consciência; déficit de força muscular nos membros e comprometimento da musculatura ocular, facial e bulbar.
Verificar – movimentos da língua e do palato; movimentos da face; reflexos profundos
(aquileu, patelar, bicipital, tricipital, estilo-radial); sensibilidade; comprometimento do sistema nervoso autônomo; acuidade visual e preservação da audição.
Diagnóstico eletrofisiológico
A eletroneuromiografia permite identificar se a lesão no sistema nervoso periférico
localiza-se na raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na junção neuromuscular. Desta
forma, este exame é de grande valor no diagnóstico de botulismo ao demonstrar o comprometimento da junção neuromuscular, mais especificamente da membrana pré-sináptica
causada pela toxina botulínica. Além disso, o exame auxilia no diagnóstico diferencial com
outras doenças com quadros clínicos semelhantes (Quadro 1).
Diagnóstico diferencial
Existem muitas doenças neurológicas que podem manifestar-se com fraqueza muscular súbita e paralisia flácida aguda. O Quadro 1 mostra os principais critérios utilizados para
diferenciá-las do botulismo.
Além destas, existem outras doenças menos comuns que também devem ser consideradas no diagnóstico diferencial: doença de Lyme, neuropatia diftérica, neuropatias tóxicas
alimentares, neuropatia por metais pesados e agentes industriais e outros quadros neurológicos e/ou psiquiátricos (meningoencefalites, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, transtornos conversivos (histeria), hipopotassemia, intoxicação por atropina,
beladona, metanol, monóxido de carbono, fenotiazínicos e envenenamento por curare).
Por ser uma doença do sistema nervoso periférico, o botulismo não está associado a
sinais de envolvimento do sistema nervoso central. A presença das manifestações abaixo
relacionadas, em indivíduo previamente normal, é argumento contra a possibilidade desta
doença:
• movimentos involuntários;
• diminuição do nível de consciência;
• ataxia;
• crises epilépticas (convulsões);
174
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
• espasticidade, hiperreflexia profunda, presença de clônus ou sinal de Babinski e
sinais de liberação piramidal nos membros acometidos por fraqueza;
• assimetria significativa da força muscular;
• déficit sensitivo.
Quadro 1. Diagnóstico diferencial de botulismo
Condição
Botulismo
Fraqueza muscular
Inicia pela face
descendente e simétrica
Sensibilidade
Normal
Características do líquor
Normal
Dissociação
proteíno-citológica
Síndrome de
Guillain-Barré
O envolvimento da
face é menos comum
que no botulismo
Ascendente e simétrica
Em alguns casos
pode haver
déficit sensitivo
Hiperproteinorraquia
Celularidade normal
ou discretamente elevada
(≤ 50 células/mm3)
6
Na primeira semana
pode ser normal
Fraqueza simétrica da face
Síndrome de
Müller-Fisher
Diplegia facial
(variante
da síndrome
de GuillainBarré)
Dificuldade de mastigação
e de deglutição
Miastenia
gravis
Ptose palpebral
Parestesias ou
diminuição da
sensibilidade da
face e da língua
Não há comprometimento de
membros superiores e inferiores
Flutuante no transcorrer
do dia, piora com atividade
física e melhora com repouso
Normal
B
Dissociação
proteíno-citológica
Hiperproteinorraquia
Celularidade normal ou
discretamente elevada
(≤ 50 células/mm3)
Normal
A maioria dos casos se inicia
por ptose palpebral e diplopia
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial é baseado na análise de amostras clínicas e bromatológicas
(casos de botulismo alimentar). Os exames laboratoriais podem ser realizados por várias
técnicas, sendo a mais comum a detecção da toxina botulínica por meio de bioensaio em
camundongos. Em casos de botulismo por ferimentos e botulismo intestinal, realiza-se
também o isolamento de Clostridium botulinum através de cultura das amostras. Estes exames são realizados em laboratório de referência nacional e a seleção de amostras de interesse e oportunas para o diagnóstico laboratorial varia de acordo com a forma de botulismo
(Anexo 1).
Tratamento
O êxito da terapêutica do botulismo está diretamente relacionado à precocidade com
que é iniciada e às condições do local onde será realizada. O tratamento deve ser realizado
em unidade hospitalar que disponha de terapia intensiva (UTI). Observa-se significativa
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
175
Botulismo
redução da letalidade quando o paciente é tratado nessas unidades. Basicamente, o tratamento da doença apóia-se em dois conjuntos de ações: tratamento de suporte e tratamento
específico.
Tratamento de suporte
As medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutas
mais importantes no tratamento do botulismo.
A disfagia, regurgitação nasal, comprometimento dos movimentos da língua, palato
e, principalmente, da musculatura respiratória são sinais indicativos de gravidade e exigem
atenção redobrada e ação imediata para evitar broncoaspiração e insuficiência respiratória.
Nesses casos, a assistência ventilatória é essencial para evitar o óbito, podendo ser necessária por quatro (toxina tipo B) a oito semanas (tipo A) ou mais se houver complicações.
O tratamento de suporte baseia-se fundamentalmente nos seguintes procedimentos:
• assistência ventilatória pode ser necessária para cerca de 30% a 50% dos casos. Para
se indicar a entubação traqueal num paciente com botulismo, não é necessário esperar que a PCO2 esteja elevada ou que a saturação de O2 diminua, pois a espera de
tais sinais pode representar maior risco de instalação da insuficiência respiratória.
Os critérios para indicação de entubação são essencialmente clínicos. Para indicá-la,
pode-se basear em:
❯ cuidadosa avaliação da capacidade do paciente em garantir a permeabilidade das vias aéreas superiores. As paralisias podem causar asfixia e obstruções
respiratórias altas (observar a mobilidade da língua e do palato, disfonia e
disfagia);
❯ capacidade vital (aferida por espirômetro): em geral, a entubação é indicada
quando a capacidade vital é menor que 12 ml/kg;
• traqueostomia nem sempre é necessária, devendo ter sua indicação avaliada caso a
caso;
• lavagens gástricas, enemas e laxantes podem ser úteis nos casos de botulismo alimentar com o objetivo de eliminar a toxina do aparelho digestivo, exceto naqueles
em que houver íleo paralítico;
• hidratação parenteral e reposição de eletrólitos, além de alimentação por meio de
sondas, devem ser mantidas até que a capacidade de deglutição seja recuperada.
• outros procedimentos rotineiros em UTI também devem ser adotados.
Nota: aminoglicosídeos e tetraciclinas podem piorar a evolução do botulismo, especialmente em crianças, devido à redução da entrada de cálcio no neurônio, potencializando
o bloqueio neuromuscular.
Tratamento específico
Visa eliminar a toxina circulante e sua fonte de produção, o Clostridium botulinum,
pelo uso do soro antibotulínico (SAB) e de antibióticos. Antes de iniciar o tratamento específico, todas as amostras clínicas para exames diagnósticos devem ser coletadas.
176
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
O soro antibotulínico atua contra a toxina circulante, que ainda não se fixou no sistema nervoso. Por isso, recomenda-se que o tratamento com SAB seja realizado o mais precocemente possível (até sete dias); caso contrário, poderá não mais ser eficaz. Apresenta-se em
forma de soro heterólogo, eqüino, geralmente em apresentação bi ou trivalente (contra os
tipos A e B ou A, B e E de toxina botulínica). A dose é uma ampola de antitoxina botulínica
bi ou trivalente por via intravenosa, diluída em solução fisiológica a 0,9%, na proporção de
1:10, para infundir em aproximadamente uma hora.
A solicitação do SAB para as unidades de tratamento deve ser feita pelo médico que
diagnosticou o caso ou pelo pessoal de vigilância epidemiológica sempre que a mesma for
acionada inicialmente. A liberação do soro estará condicionada ao preenchimento da ficha
de notificação do caso suspeito, com sua prescrição e relatório sucinto.
A indicação da antitoxina deve ser criteriosa, pois não é isenta de riscos uma vez que
9% a 20% das pessoas tratadas podem apresentar reações de hipersensibilidade. O teste
cutâneo de sensibilidade antes do uso de soros heterólogos foi excluído da rotina, conforme
normas do Programa Nacional de Imunização da Secretaria de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde (PNI/SVS/MS).
Nos casos de botulismo por ferimento, recomenda-se o uso de penicilina cristalina na
dose de 10 a 20 milhões de UI/dia, para adultos, e 300 mil UI/kg/dia, para crianças, em doses fracionadas de 4/4 horas, via intravenosa, por 7 a 10 dias. O metronidazol também pode
ser utilizado na dose de 2g/dia, para adultos, e 15mg/kg/dia, para crianças, via intravenosa,
de 6/6 horas.
O desbridamento cirúrgico deve ser realizado nos casos de botulismo por ferimento,
preferencialmente após o uso do SAB, mesmo quando a ferida tem bom aspecto.
No botulismo intestinal em menores de um ano de idade, acredita-se que a lise de
bactérias na luz intestinal, provocada pelo antibiótico, pode piorar a evolução da doença
por aumento dos níveis de toxina circulante. Em adultos esse efeito não tem sido descrito
mas deve ser considerado quando a porta de entrada para a doença for o trato digestivo. O
SAB e a antibioticoterapia não estão indicados para crianças menores de um ano de idade
com botulismo intestinal.
No botulismo alimentar a indicação de antibióticos ainda não está bem estabelecida.
6
B
Prognóstico
Um tratamento de suporte meticuloso pode resultar em completa recuperação. A letalidade do botulismo diminui de forma considerável quando a assistência médica dos pacientes é prestada em unidades de terapia intensiva. Mortes precoces geralmente resultam
de falha em reconhecer a gravidade da doença e retardo em iniciar a terapia. Quando ocorrem após a segunda semana, resultam de complicações, como as associadas à ventilação
prolongada.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
177
Botulismo
Aspectos epidemiológicos
A distribuição do botulismo é mundial, com casos esporádicos ou surtos familiares,
em geral relacionados à produção e a conservação de alimentos de maneira inadequada.
Raramente ocorrem surtos envolvendo produtos processados comercialmente. Os casos de
botulismo infantil têm sido notificados na Ásia, Austrália, Europa, América do Norte e
América do Sul. A incidência e a distribuição real não é precisa, porque os profissionais de
saúde, em poucas ocasiões, suspeitam de botulismo. Ele pode ser responsável por 5% dos
casos de morte súbita em lactentes.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Detectar precocemente os casos, visando promover a assistência adequada e reduzir
a morbidade e letalidade da doença.
• Caracterizar o surto por tempo, lugar e pessoa.
• Identificar a fonte de contaminação e o modo de transmissão.
• Propor medidas de prevenção e controle, em tempo oportuno, para impedir a ocorrência de novos casos.
• Avaliar as medidas de controle implantadas.
Definição de caso
Caso suspeito de botulismo alimentar e botulismo por ferimentos
Indivíduo que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação do nível de consciência caracterizado por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispnéia.
Nota: A exposição a alimentos potencialmente suspeitos para presença da toxina
botulínica nos últimos dez dias ou história de ferimentos nos últimos 21 dias reforça a
suspeita.
Caso suspeito de botulismo intestinal
• Criança menor de um ano com paralisia flácida aguda de evolução insidiosa e progressiva que apresente um ou mais dos seguintes sintomas: constipação, sucção fraca, disfagia, choro fraco, dificuldade de controle dos movimentos da cabeça.
• Adulto que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação do nível de consciência caracterizado por um ou mais dos seguintes sinais
e sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou
dispnéia na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, como alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas.
178
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
Nota: A exposição a alimentos com risco para presença de esporo de C. botulinum (ex.
mel, xaropes de milho) reforça a suspeita em menores de um ano.
Caso confirmado por critério laboratorial
• Caso suspeito no qual foi detectada toxina botulínica em amostra clínica e/ou no
alimento efetivamente consumido.
• Caso suspeito no qual foi isolado o Clostridium botulinum produtor de toxinas, em
fezes ou material obtido do ferimento.
Caso confirmado por critério clínico-epidemiológico
Caso suspeito com vínculo epidemiológico com o caso confirmado e/ou história de
consumo de alimento com risco para a presença da toxina botulínica nos últimos dez dias
e/ou eletroneuromiografia compatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiose nos últimos 21 dias.
6
Notificação
O botulismo é doença de notificação compulsória desde a publicação da Portaria MS nº
1.943, de 18 de outubro de 2001. Devido à gravidade da doença e à possibilidade de ocorrência de outros casos resultantes da ingestão da mesma fonte de alimentos contaminados, um
caso é considerado surto e emergência de saúde pública. A suspeita de um caso de botulismo
exige notificação e investigação imediatas à vigilância epidemiológica local. O técnico que
recebeu a notificação deve, inicialmente, verificar a consistência das informações. Uma vez
caracterizada a suspeita de botulismo, comunicar imediatamente tal fato aos níveis hierárquicos superiores e áreas envolvidas na investigação, iniciando o planejamento das ações.
B
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
O tratamento do paciente com botulismo deve ser realizado em unidade hospitalar.
As medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutas mais
importantes no tratamento. A terapia de suporte deve ser instituída imediatamente, ficando
a indicação do tratamento específico (administração de soro antibotulínico) condicionada
à avaliação médica.
Qualidade da assistência
O tratamento deve ser realizado em unidade hospitalar que disponha de unidade de
terapia intensiva (UTI). A partir do aprimoramento dos cuidados com os pacientes críticos,
observa-se significativa redução da letalidade.
Proteção dos indivíduos para evitar novas exposições
No caso de botulismo de transmissão alimentar, todos os alimentos suspeitos de ocasionar casos deverão:
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
179
Botulismo
• deixar de ser consumidos, sendo recolhidos imediatamente ou guardados sob refrigeração, na forma em que se encontram acondicionados, até a chegada do grupo
encarregado pela investigação;
• ser preservados nas embalagens originais, quando a suspeita estiver relacionada a
produtos industrializados.
Confirmação diagnóstica
Coletar amostras clínicas de todo caso suspeito antes da administração do soro antibotulínico. Na suspeita de botulismo alimentar deve-se coletar todos os alimentos suspeitos.
A investigação epidemiológica orientará quais amostras deverão ser enviadas para análise
laboratorial.
Investigação
Todo caso suspeito de botulismo deve ser investigado imediatamente, visando impedir
a ocorrência de novos casos.
Roteiro da investigação epidemiológica
A atividade de campo deve ser integrada entre vigilância epidemiológica, vigilância
sanitária, laboratório, assistência e outras áreas que se fizerem necessárias. A cooperação
e o intercâmbio de informações entre as áreas envolvidas são fatores essenciais para a boa
qualidade da investigação.
A coordenação da investigação deve, preferencialmente, ser delegada a um profissional
da vigilância epidemiológica, que terá a responsabilidade de informar e acionar os demais
membros da equipe.
Os serviços devem estar organizados para providenciar imediatamente o meio de
transporte, formulários e material para coleta de amostras, garantindo disponibilidade para
o uso imediato, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos a dados
gerais, notificação individual e residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica de botulismo;
• Observar, com atenção, se o caso notificado enquadra-se na definição de caso de
botulismo, a fim de evitar a notificação inadequada de casos;
• Obter informações detalhadas do próprio paciente (quando possível), dos familiares, da equipe médica e/ou do prontuário;
• Investigar a história alimentar nos últimos dez dias (quando possível) para identificar alimentos de risco;
• Verificar a história prévia de ferimentos e uso de drogas injetáveis e inalatórias.
180
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
Para identificação e determinação da extensão da área de ocorrência de casos
• Realizar busca ativa de casos, sobretudo de sintomatologia leve, entre aqueles que
consumiram os mesmos alimentos que os casos suspeitos, nas unidades de saúde
que atendem à população circunvizinha à residência dos casos e nos hospitais com
unidade de terapia intensiva;
• Informar a população acerca da ocorrência de casos suspeitos de botulismo e sintomas sugestivos da doença, para que procure imediatamente as unidades de saúde;
• Quando a fonte da contaminação for um alimento de larga distribuição, seja de origem industrial ou artesanal, toda a área de distribuição do alimento suspeito deverá
ser rastreada no intuito de buscar novos casos suspeitos e interromper o consumo do
alimento envolvido.
Coleta e remessa de material para exame
Assegurar coleta oportuna, acondicionamento e transporte de amostras clínicas e/ou
bromatológicas e encaminhamento ao Laboratório Central de Saúde Pública. Ver mais detalhes no tópico Diagnóstico laboratorial.
6
B
Análise de dados
Após a investigação individual de cada caso, deve-se avaliar os antecedentes epidemiológicos e resultados laboratoriais para a classificação do botulismo segundo o modo de
transmissão e critério de confirmação. A identificação dos fatores de risco permite determinar as medidas de prevenção e controle específicas para o surto.
Para surtos que envolvem maior número de pessoas, utilizar também os formulários e
metodologia de investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos.
Encerramento de casos
Os casos de botulismo devem ser encerrados de acordo com os seguintes critérios:
Critério laboratorial
• Detecção de toxina botulínica em amostra clínica e/ou no alimento efetivamente
consumido.
• Isolamento do Clostridium botulinum produtor de toxinas, em fezes ou material obtido do ferimento.
Critério clínico-epidemiológico
Presença de vínculo epidemiológico com o caso confirmado e/ou história de consumo
de alimento com risco para a presença da toxina botulínica nos últimos dez dias e/ou eletroneuromiografia compatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiose
nos últimos 21 dias.
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Botulismo
Óbitos
Indivíduo que foi a óbito com quadro clínico compatível com botulismo, com confirmação clínico-epidemiológica e/ou clínico-laboratorial.
Relatório final
Além da ficha de notificação, todas as informações obtidas durante a investigação deverão ser consolidadas em um relatório final com o seguinte conteúdo: dados do caso (idade, sexo, ocupação, local de residência), data da notificação e investigação; data de início
dos sintomas; período de incubação; curva epidêmica; história alimentar e outros fatores de
exposição; sinais e sintomas; tratamento realizado; amostras coletadas e exames realizados;
resultados laboratoriais; fonte de transmissão; classificação final e evolução.
Instrumentos disponíveis para controle
Ações de educação em saúde
Orientar a população sobre o preparo, conservação e consumo adequado dos alimentos associados a risco de adoecimento.
Estratégias de prevenção
Orientar as medidas iniciais de prevenção e controle, de acordo com o modo de transmissão e resultados da investigação do caso.
Nos casos de transmissão alimentar, deve-se eliminar a permanência da fonte através
da interrupção do consumo, distribuição e comercialização dos alimentos suspeitos.
Imunização
A imunização, realizada com toxóide botulínico polivalente, é recomendada apenas a
pessoas com atividade na manipulação do microrganismo.
182
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
Roteiro de investigação epidemiológica do botulismo
Notificação de casos suspeitos
Atenção médica/ dados clínicos
Coleta de
amostras clínicas
Investigação
Coleta de dados clínicos e
epidemiológicos em conjunto
com a vigilância sanitária
Resultado dos exames
6
Suspeita de botulismo
por ferimentos
Suspeita de
botulismo alimentar
Suspeita de
botulismo intestinal
B
Exames
bromatológicos
Diagnóstico
Caso
descartado
Caso confirmado
clínico-epidemiológico
ou clínico-laboratorial
Determinar a
extensão da área
de ocorrência
Núcleo familiar
Ocorrência disseminada
Ações de controle
e de intervenção da
vigilância sanitária
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
183
Botulismo
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
1. Amostras clínicas oportunas e de
interesse para o diagnóstico laboratorial
A coleta de amostras clínicas (soro, lavado gástrico, fezes/conteúdo intestinal, exsudato de ferimento) deve ser realizada o mais precocemente possível e anteceder a administração do soro antibotulínico (SAB), para evitar que a toxina ativa seja neutralizada antes
da coleta. A coleta tardia pode impedir a detecção de toxina, pois esta vai sendo absorvida
pelos tecidos em função do tempo.
A seleção de amostras varia de acordo com o modo de transmissão do botulismo
(Quadro 1). O momento e quantidade de material necessário para o diagnóstico laboratorial estão especificados no Quadro 2.
Quadro 1. Tipo de amostras para o diagnóstico laboratorial de acordo com
o modo de transmissão
Botulismo
alimentar
Botulismo
intestinal
Botulismo
por ferimento
Soro
Sim
Sim
Sim
Fezes ou conteúdo intestinal
Sim
Sim
Não*
Lavado gástrico
Sim
Não
Não*
Exsudato do ferimento
Não
Não
Sim
Soro
Não
Não
Não
Fezes ou conteúdo intestinal
Não
Sim
Não*
Lavado gástrico
Não
Não
Não*
Exsudato do ferimento
Não
Não1
Sim
Amostras
Para detecção de toxina botulínica
Para cultura do
Clostridium botulinum
*Se houver suspeita ou possibilidade do ferimento estar localizado no trato gastrointestinal, incluir a
coleta destas amostras.
Obs.: com exceção das amostras de soro, as demais também podem ser usadas para cultura do
Clostridium botulinum.
184
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Botulismo
Quadro 2. Período máximo de tempo, após o início dos sintomas, para a
coleta oportuna de amostras clínicas e quantidade mínima necessária para
o diagnóstico de laboratório
Amostras
Período máximo para coleta
Total
Soro
8 dias
11ml
Fezes/conteúdo intestinal
Com diarréia inicial
Com constipação intestinal
Sem alteração do trânsito intestinal
3 dias
6 dias
4 dias
15g
15g
15g
Lavado gástrico/vômito
3 dias
15g
Obs.: sempre que possível, coletar as amostras em quantidades superiores às indicadas para o diagnóstico específico.
6
2. Amostras bromatológicas de interesse para
diagnóstico laboratorial de botulismo alimentar
B
Prioritárias e oportunas
• Quando há suspeita de botulismo alimentar as amostras bromatológicas devem ser
coletadas e enviadas o mais precocemente possível ao laboratório central de saúde
pública;
• Coletar todas as sobras e restos dos produtos efetivamente consumidos;
• Evitar a transferência das sobras ou restos (ou ambos) para outro recipiente, mesmo que se encontre em condições precárias de integridade física ou de presença de
sujidades. Caso não existam sobras ou restos, coletar o recipiente vazio que as continham originalmente;
• Nas amostras bromatológicas é comum encontrar formas esporuladas do Clostridium botulinum, em especial no mel. É importante salientar que neste alimento, devido ao alto conteúdo de açúcar e baixa atividade de água, o esporo não tem condições de germinar e, portanto, não há produção de toxina.
Complementares
Na ausência absoluta de amostras de alimentos não consumidos, coletar outras que
pertençam ao mesmo lote (amostras industrializadas) ou que tenham sido produzidas no
mesmo local e data e pela mesma pessoa ou grupo de pessoas (amostras artesanais ou domésticas).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
185
Botulismo
3. Cuidados básicos para o acondicionamento e transporte
de amostras clínicas e bromatológicas para o laboratório
• Coletar as amostras com assepsia e em condições de segurança para o técnico responsável.
• Acondicionar as amostras em recipientes limpos, de preferência esterilizados e hermeticamente fechados. Caso seja amostra de alimento contida em uma embalagem,
não transferir para outro recipiente, coletar todo o conjunto.
• Quando a amostra estiver contida em frascos de vidro ou similares que podem quebrar durante o transporte, protegê-los com auxílio de algodão, tiras plásticas com
bolhas de ar, caixas de papelão próprias para o envio de pequenas amostras ou outro
dispositivo. Vedar ou tampar o recipiente que contém a amostra, garantindo que não
ocorrerá vazamento do produto.
• Conservar e transportar as amostras sob refrigeração a 4ºC-8ºC, pois a toxina botulínica é termolábil, podendo ser inativada em temperaturas acima da ambiental.
Importante: a única exceção cabe aos casos de botulismo por ferimento, cujas amostras devem ser enviadas em temperatura ambiente. O tempo de transporte não deve
ultrapassar 48h.
• Todas as amostras devem ser enviadas ao laboratório identificadas com os seguintes
dados: nome do paciente, tipo de amostra (soro, fezes, alimento, etc.) e finalidade
do exame (determinação de toxina botulínica, cultura). Cada amostra deve ter um
formulário de encaminhamento, determinado por cada laboratório central de saúde
pública.
• O laboratório deve ser avisado do envio da amostra, que deverá ser recebida de imediato, inspecionada e armazenada de forma adequada até o seu encaminhamento
para o laboratório de referência de botulismo.
186
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
CÓLERA
CID 10: A00
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae. Pode
se apresentar de forma grave, com diarréia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor
abdominal e cãibras. Esse quadro, quando não tratado prontamente, pode evoluir para desidratação, acidose e colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal.
Entretanto, freqüentemente a infecção é assintomática ou oligossintomática, com diarréia
leve. A acloridria gástrica agrava o quadro clínico da doença. A infecção produz aumento
de anticorpos e confere imunidade por tempo limitado (em torno de seis meses).
6
Agente etiológico
C
O Vibrio cholerae O1, biotipo clássico, ou El Tor (sorotipos Inaba, Ogawa ou Hikogima) e o O139, também conhecido como Bengal. Bacilo gram-negativo, com flagelo polar,
aeróbio ou anaeróbio facultativo, produtor de endotoxina.
Acreditava-se que entre todos os sorogrupos conhecidos apenas o O1 era patogênico.
Em março de 1993, contudo, o Vibrio cholerae O139 foi identificado como responsável por
uma epidemia no sul da Ásia. Sorogrupos não O1 do Vibrio cholerae já foram identificados em todo o mundo, sabendo-se que podem ocasionar patologias extra-intestinais ou
diarréias com desidratação severa semelhante à cólera. No entanto, só estavam associados
a casos isolados ou surtos muito limitados. O Vibrio cholerae O139 foi o primeiro Vibrio
cholerae não O1 identificado como responsável por grande epidemia, com considerável
mortalidade. As enterotoxinas elaboradas são similares para o grupo e ocasionam quadros
clínicos muito semelhantes. A resistência do biotipo El Tor é maior, o que lhe dá condições
de sobreviver por mais tempo no meio ambiente. Multiplica-se melhor e mais rápido em
meios de cultura, além de apresentar menor susceptibilidade aos agentes químicos e maior
tendência à endemização.
Reservatório
O principal é o homem. Estudos sugerem a existência de reservatórios ambientais,
como plantas aquáticas e frutos do mar. Nos Estados Unidos, Itália e Austrália alguns surtos
isolados foram relacionados ao consumo de frutos do mar crus ou mal cozidos, sugerindo
a existência de reservatórios ambientais.
Modo de transmissão
Ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou
vômitos de doente ou portador. Os alimentos e utensílios podem ser contaminados pela
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
187
Cólera
água, pelo manuseio ou por moscas. A elevada ocorrência de assintomáticos (portador
sadio), em relação aos doentes, torna importante seu papel na cadeia de transmissão da
doença. A contaminação pessoa a pessoa é também importante na cadeia epidemiológica.
A variedade El Tor persiste na água por muito tempo, o que aumenta sua probabilidade
de manter a transmissão e circulação. Alguns autores demonstraram, para a produção de
infecção, a necessidade de inóculo igual ou maior que 103 vibriões em alimentos e maior do
que 106 na água.
Período de incubação
Pode variar de algumas horas a 5 dias. Na maioria dos casos, de 2 a 3 dias.
Período de transmissibilidade
Ocorre enquanto houver a eliminação do Vibrio cholerae nas fezes, o que geralmente
acontece até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o padrão aceito é de 20 dias.
Alguns indivíduos podem permanecer portadores sadios por meses ou até anos, o que os
reveste de particular importância porque podem ser responsáveis pela introdução da doença em área indene.
Alguns doentes tornam-se portadores crônicos, eliminando o Vibrio cholerae de forma intermitente por meses e até anos.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é variável e aumenta com fatores que diminuem a acidez gástrica
(acloridria, gastrectomia, uso de alcalinizantes e outros). A infecção produz aumento de
anticorpos e confere imunidade por tempo limitado – em torno de seis meses. Em áreas
endêmicas, as repetidas infecções tendem a incrementar a produção da IgA secretora e
produzir constantes estímulos à resposta imunológica, capaz de manter a imunidade local
de longa duração. Esse mecanismo pode explicar a resistência demonstrada pelos adultos
nessas áreas.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Doença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae, manifesta-se de forma variada, desde infecções inaparentes até diarréia profusa e grave. Além da
diarréia, podem ocorrer vômitos, dor abdominal e, nas formas graves, cãibras, desidratação
e choque. A febre não é manifestação comum. Nos casos graves mais típicos (menos de 10%
do total) o início é súbito, com diarréia aquosa, abundante e incoercível, com inúmeras dejeções diárias. A diarréia e os vômitos, nesses casos, determinam uma extraordinária perda
de líquidos, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora. Esse quadro, quando não tratado
188
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
prontamente, pode evoluir para desidratação, acidose, colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal. Mais freqüentemente, a infecção é assintomática ou oligossintomática, com diarréia leve. A acloridria gástrica agrava o quadro clínico da doença.
Complicações
As complicações na cólera decorrem, fundamentalmente, da depleção hidrosalina
imposta pela diarréia e pelos vômitos e ocorrem mais freqüentemente nos indivíduos idosos, diabéticos ou com patologia cardíaca prévia. A desidratação não corrigida levará a
uma deterioração progressiva da circulação, da função renal e do balanço hidreletrolítico,
produzindo dano a todos os sistemas do organismo. Em conseqüência, sobrevém choque
hipovolêmico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia (levando a arritmias), hipoglicemia (com convulsão e coma em crianças). O aborto é comum no 3º trimestre de
gestação, em casos de choque hipovolêmico. As complicações podem ser evitadas com adequada hidratação precoce.
6
Diagnóstico diferencial
Com todas as diarréias agudas.
C
Diagnóstico laboratorial
O Vibrio cholerae pode ser isolado a partir da cultura de amostras de fezes de doentes
ou portadores assintomáticos. A coleta do material pode ser feita por swab retal ou fecal,
fezes in natura ou em papel de filtro. O método de coleta de amostras biológicas pode ser
visto no Anexo I. O diagnóstico laboratorial da cólera só deve ser utilizado para a investigação de todos os casos suspeitos quando a área for considerada livre de circulação do agente.
Em outra situação, deverá ser utilizado em conjunto com o critério clínico-epidemiológico,
que correlaciona as variáveis clínicas e epidemiológicas dos casos de diarréia, sendo capaz
de definir o diagnóstico, sem investigação laboratorial.
Tratamento
O tratamento fundamenta-se na reposição rápida e completa da água e eletrólitos perdidos pelas fezes e vômitos. Os líquidos deverão ser administrados por via oral ou parenteral, conforme o estado do paciente.
Formas leves e moderadas – hidratação oral com soro de reidratação oral (SRO).
Formas graves – hidratação venosa e oral + antibioticoterapia.
Antibioticoterapia – Drogas de escolha e posologia
Menores de 8 anos
Sulfametoxasol (50mg/kg/dia) + Trimetroprim (10mg/kg/dia)
12/12h – 3 dias
8 anos ou mais
Tetraciclina 500mg
6/6h – 3 dias
Gestantes e nutrizes
Ampicilina 500mg
6/6h – 3 dias
Fonte: Manual Integrado de Prevenção e Controle de Cólera – CNPC/Funasa/MS
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
189
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
A
A seguir, identificar outros problemas
B
C
Perguntar se tem sangue nas fezes
Em caso positivo e com comprometimento do
estado geral:
1. Observe
Estado geral
Bem alerta
Irritado, intranqüilo
Comatoso, hipotônico
Olhos
Normal
Fundos
Muito fundos e secos
Lágrimas
Presentes
Ausentes
Ausentes
Sede
Bebe normal
Sedento, bebe rápido e avidamente
Bebe mal ou não é capaz de beber
• Tratar o paciente durante 5 dias com Sulfametoxasol (SMX) com Trimetropim (TPM); crianças:
50mg SMX/kg de peso dividido em duas doses,
a cada 12 horas
Adultos: 800mg de SMX a cada 12 horas
2. Explore
Sinal da
prega
Desaparece rapidamente
Desaparece lentamente
Desaparece muito lentamente (mais de 2 seg.)
Cheio
Rápido, débil
Muito débil ou ausente
Pulso
• Ensinar ao responsável pelo paciente como
administrar líquidos e manter a alimentação
descrita no Plano A
Normal (até 3 seg.)
Prejudicado (de 3 a 5 seg.)
Muito prejudicado (mais de 5 seg.)
• Controlar o paciente após 2 dias
Enchimento
capilar (1)
3. Decida
4. Trate
Não tem sinais de
desidratação
Se apresenta dois ou mais sinais,
tem desidratação
Se apresenta dois ou mais sinais, incluindo
pelo menos um “sinal”, tem desidratação grave
Use Plano A
Use Plano B
Pese o paciente se possível
Use Plano C
Pese o paciente
Plano A
Plano B
Para prevenir a desidratação no domicílio
Para tratar a desidratação por via oral
Explique as três regras para o manejo
adequado da diarréia no domicílio:
1. Administrar SRO
Quantidade aproximada de SRO para as
primeiras 4 horas:
1. Dar mais líquido do que habitualmente, para prevenir a desidratação:
• A quantidade de solução ingerida
dependerá da sede do paciente
• O paciente deve tomar líquidos
caseiros (água de arroz, soro caseiro,
chás, sucos e sopas) ou sais de reidratação
• O SRO deverá ser dado continuamente, até que desapareçam os
sinais de desidratação
• Oral (SRO), após cada evacuação
diarréica
2. Manter a alimentação habitual
para prevenir a desnutrição:
• Continuar o aleitamento materno
• Se a criança não mamar, continuar
com leite habitual
• Manter a dieta normal para as
crianças maiores de 4 meses, que
comem alimentos sólidos, e também
para os adultos
• Apenas como orientação inicial, o
paciente deverá receber 50 a 100ml/kg
no período de 4 a 6 horas
2. Observar o paciente continuamente
durante a reidratação e ajudar a família
a dar soro oral
3. Durante a reidratação, reavaliar o
paciente. Usar o “quadro para avaliação
do estado de hidratação do paciente”:
• Se não apresentar sinais de desidratação, use o Plano A
• Se continuar desidratado, repetir o
Plano B por mais 2 horas e reavaliar o
paciente
Para tratar a desidratação grave
Tratamento para pacientes menores de 5 anos
Fase rápida
Metade de soro
glicosado a 5%
e metade de
soro fisiológico
Crianças: 60mg/kg/dia a cada 6 horas durante 5 dias
Adultos: 1g, a cada 8 horas, durante 5 dias
Plano C
Solução (1:1)
• Se houver sangue nas fezes, após 2 dias de tratamento com SMX, troque a medicação para ácido
nalidixico:
Volume
total
Tempo de
administração
• Em áreas endêmicas de amebíase, se persistir
sangue nas fezes após o tratamento acima, substituir a medicação para Metronidazol
Crianças: 30mg/kg dia divididos em doses a cada
8 horas, durante 5 dias
Adultos: 750mg a cada 8 horas, durante 5 dias
(para os casos mais graves, continuar o tratamento
até completar 10 dias)
Perguntar quando começou a diarréia
100ml/kg
2 horas
Quando tiver pelo menos 14 dias de evolução:
• Referir o paciente ao hospital:
- Se é menor de seis meses
Avaliar o paciente continuamente, assim que
puder beber, iniciar o SRO, mantendo a hidratação por via venosa.
Fase de manutenção e reposição
Volume para
manutenção
(SG a 5%) 4:1 (SF)
100ml/kg/24 horas
+
+
Volume para
reposição
(SG a 5%) 1:1 (SF)
50ml/kg/24 horas
+
+
KCL a 10%
2ml/100ml
- Se apresentar desidratação, neste caso hidrate-o
primeiro e, em seguida, refira-o ao hospital
• Quando não tiver condições de referência, ensinar ao responsável como administrar os líquidos
e continuar alimentando o paciente conforme o
Plano A
• Garantir a ingestão calórica dando, se possível,
seis refeições ao dia
• Marcar a volta do paciente após 5 dias:
Se continuar a diarréia, mande-o a um serviço de
saúde
Se a diarréia parou, oriente ao responsável para:
continuar com a alimentação habitual e dar uma
refeição adicional ao dia, até que o paciente recupere o estado nutricional
Cólera
190
Manejo do paciente com diarréia
Primeiro avalie o estado de hidratação do seu paciente
3. Se o paciente não melhorar em dois dias
ou se apresentar qualquer um dos sinais
abaixo, leva-lo ao serviço de saúde:
Tratamento para pacientes maiores de 5 anos
Fase rápida
• Se o paciente evoluir
para desidratação com
choque, passar para o
Plano C
Sinais de perigo
4. Aproveitar a permanência do paciente ou acompanhante no serviço de
saúde para ensinar a:
• Piora da diarréia
• Recusa de alimentos
• Vômitos repetidos
• Reconhecer os sinais de
desidratação
• Febre
• Muita sede
• Preparar e administrar
o SRO
• Sangue nas fezes
Os pacientes devem receber soro oral (SRO)
no domicílio se:
• Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar
•Vierem de áreas afetadas por cólera
Menores
de 1 ano
50 – 100ml
1 envelope
por dia
1 – 10 anos 100 – 200ml
2 envelopes
por dia
Maiores
de 10 anos
4 envelopes
por dia
Tudo o que quiser
1º Soro fisiológico
30ml/kg
30 minutos
2º Ringer lactato
ou solução polieletrolítica
70ml/kg
2 horas e
30 minutos
Avaliar o paciente continuamente. Se não estiver
melhorando, aumentar a velocidade de infusão
Fase de manutenção
• Quando o paciente puder beber (geralmente em
2 a 3 horas), iniciar o SRO mantendo-se a hidratação por via endovenosa com 20ml/kg/dia
• A quantidade de SRO necessária varia de um
paciente para outro, dependendo do volume das
evacuações
Se a criança tiver desnutrição grave (utilizar para
diagnóstico o Cartão da Criança).
• Em caso de desnutrição, iniciar a reidratação e
após encaminhar a um serviço de saúde.
• Entregar ao responsável
• Marcar a volta do paciente após 5 dias:
Se continuar a diarréia, mande-o a um serviço
de saúde;
Se a diarréia parou, orientar o responsável para
continuar com a alimentação habitual e dar uma
refeição adicional ao dia, até que o paciente
recupere o estado nutricional
Verificar temperatura
Se a temperatura for de 39°C ou mais:
• Investigar outras causas além da diarréia, por
exemplo, pneumonia, otite, amigdalite, faringite,
infecção urinária, malária em áreas endêmicas e
tratar apropriadamente conforme as normas
Uso de medicamento em crianças com diarréia
• Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida
é maior nas primeiras 24 horas do tratamento, especialmente nos pacientes com desidratação grave
• Antibióticos devem ser usados somente para
casos de diarréia com sangue (desinteria) e
comprometimento do estado geral, ou em casos
de cólera grave
• Como orientação, considerar a quantidade média
de SRO necessária para estes pacientes, entre 250500ml (SRO/kg de peso/24horas)
Em outras condições são ineficazes e não devem
ser prescritos
Os pacientes desidratados deverão permanecer
na unidade de saúde até
a completa reidratação.
Os pacientes desidratados deverão permanecer
no serviço de saúde até que não haja risco de
retorno da desidratação
• Antiparasitários devem ser usados somente
para:
- Amebíase, quando o tratamento da desinteria
por Shiguella fracassou, ou em casos que se identificaram nas fezes trofozoítos de E. histolitica
englobando hemácias
- Giardíase, quando a diarréia durar 14 dias ou
mais e forem identificados cistos ou trofozoítos
nas fezes ou aspirado intestinal
Antidiarréicos e antieméticos nunca
devem ser usados
Fonte: Adaptado do cartaz Manejo do Paciente com Diarréia, do Ministério da Saúde
191
Cólera
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Idade
Tempo de
administração
• Retirar a via endovenosa somente quando o
paciente puder ingerir o SRO suficiente para manter-se hidratado
•Não puderem voltar ao serviço de saúde
Quantidade
de (SRO)
para levar ao
domicílio
Volume
Total
• Observar o paciente durante, pelo menos, 6
horas
•Estiverem desidratados e receberem alta
Quantidade de
(SRO) que deve
ingerir após cada
evacuação diarréica
Solução
Observar se tem desnutrição grave
6
C
Cólera
A observação dos sinais e sintomas é fundamental para classificar o paciente quanto
ao seu estado de hidratação no decorrer da diarréia de qualquer etiologia, inclusive a causada pela cólera, com a finalidade de identificar o grau de desidratação e decidir o plano de
reposição. O paciente que inicia seu tratamento com reposição venosa, devido à gravidade
da desidratação, ao passar para a hidratação oral deve ficar sob constante avaliação clínica,
considerando, inclusive, a possibilidade de seu retorno à reidratação endovenosa.
A hospitalização prolongada é desnecessária e deve ser evitada. Os pacientes em reidratação oral podem receber alta desde que a ingesta seja suficiente para repor as perdas.
No momento da alta, os pacientes devem ser providos com dois ou mais envelopes de SRO
e devidamente instruídos com pertinência ao seu preparo e uso, alimentação adequada e
ingestão de líquidos.
A experiência demonstra que alguns pacientes que não apresentavam sinais e sintomas de desidratação no momento da primeira avaliação, mas mesmo com história
de diarréia aquosa e abundante eram liberados para o domicílio após receberem os
envelopes de SRO, retornavam ao serviço após 3 a 4 horas apresentando desidratação
grave. Assim, deve-se iniciar a administração da solução de SRO na própria unidade
de saúde, por um período mínimo de 4 horas antes da liberação. Esses casos devem
ser avaliados cuidadosamente, tanto na história clínica quanto no exame físico.
Aspectos epidemiológicos
Até 1991, o Brasil era uma área indene para cólera. A epidemia que atingiu o país, a
partir daquele ano, faz parte da progressão da sétima pandemia iniciada em 1961, com um
foco epidêmico em Sulawesi, ex-Célebes (Indonésia), que se espalhou por países da Ásia,
Oriente Médio, África e regiões da Europa, com eventuais achados nos Estados Unidos,
desde a década de 1970. O biotipo El Tor, isolado por Gotschlich, em 1906, advindo de peregrinos provenientes de Meca, examinados na estação de quarentena de El Tor, no Egito, é
o responsável pela atual pandemia de cólera. Essa pandemia atingiu o continente sul-americano pelo litoral do Peru, em janeiro de 1991, estendendo-se, em seguida, por todo aquele
país e para o Brasil, atingindo finalmente 14 países da América do Sul.
Esta doença, apesar de todo o conhecimento acumulado, continua impondo desafios
não apenas em função das características de seu agente mas, principalmente, pela vulnerabilidade de grande parcela da população mundial, sobrevivendo em condições de pobreza
extrema.
A introdução da cólera em nosso país aconteceu pela selva amazônica, no Alto Solimões. A partir daí, alastrou-se progressivamente pela região Norte, seguindo o curso do rio
Solimões/Amazonas e seus afluentes, principal via de deslocamento de pessoas na região.
Posteriormente, atingiu as regiões Nordeste e Sudeste, através dos principais eixos rodoviá-
192
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
rios. Sua chegada em áreas indenes e com precárias condições de vida teve quase sempre características explosivas. Desde então, passou-se a observar uma alternância de períodos de
silêncio epidemiológico e recrudescimento da epidemia. Atualmente, o comportamento da
cólera sugere um padrão endêmico, definido pela ocorrência regular de casos e flutuações
cíclicas de maior ou menor gravidade, na dependência de condições locais que favoreçam
a circulação do Vibrio cholerae.
O registro de casos é maior nos períodos mais secos do ano, quando a baixa do volume de água nos reservatórios e mananciais proporciona a concentração de vibriões. Em
algumas áreas, as condições socioeconômicas e ambientais favorecem a instalação e rápida
disseminação do Vibrio cholerae. Assim, a deficiência do abastecimento de água tratada,
destino inadequado dos dejetos, alta densidade populacional e carências de habitação, higiene, alimentação e educação favorecem a ocorrência da doença.
Nas áreas epidêmicas, o grupo etário mais atingido é o de maiores de 15 anos. Nas
áreas endêmicas, a faixa mais jovem. A incidência predomina no sexo masculino, por maior
exposição à contaminação ambiental. Os indicadores de morbidade, mortalidade e letalidade são diferenciados de acordo com as condições socioeconômicas, densidade populacional, meios de transporte, acesso aos serviços de saúde e outras situações de risco.
Desde a sua introdução no país, em 1991, os coeficientes de incidência de cólera
aumentaram progressivamente até 1993, ano em que apresentou o maior valor (39,8 casos/100 mil habitantes), com 670 óbitos e letalidade de 1,11%. A partir de então, observouse sensível redução do risco, principalmente após 1995, sugerindo a tendência de endemização da doença. No período de 1991 a 2001 atingiu todas as regiões do país, produzindo
um total de 168.598 casos e 2.035 óbitos, com registro de grandes epidemias na região
Nordeste.
Apesar da intensidade com que a doença atingiu principalmente a região Nordeste,
entre os anos de 1992 a 1994, os esforços do sistema de saúde conseguiram reduzir drasticamente esses valores a partir de 1995, com o registro, em 2001, de somente sete casos
confirmados (quatro no Ceará e um em Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Em 2002 e 2003
não foram detectados casos confirmados. Em 2004 a cólera recrudesceu no país, com a
confirmação de 21 casos no agreste de Pernambuco, em abril (Figura 1).
A taxa de letalidade, em casos graves de cólera sem tratamento adequado, pode atingir
50%; porém, quando este é instituído correta e precocemente, pode cair para menos de 2%.
No período de 1991 a 2004 a letalidade oscilou em torno de 1,3%, apresentando maiores
percentuais desde então. Este aumento observado, no entanto, não parece estar ligado a
uma deterioração do atendimento ao paciente, mas a uma subnotificação importante de
casos (Figura 1).
Nesta fase atual, em que a cólera encontra-se sob controle no país, é importante intensificar estudos que permitam a precoce detecção da presença do Vibrio cholerae O1 toxigênico, bem como avaliar as características genéticas das cepas eventualmente encontradas.
Para alcançar tal objetivo faz-se importante realizar o mapeamento e pesquisa de ambientes
reconhecidamente favoráveis à sobrevivência do agente, além do aprofundamento de estudos acerca do comportamento do agente frente a alterações ambientais.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
C
193
Cólera
O envolvimento das equipes técnicas de vigilância epidemiológica e ambiental dos três
níveis de governo é vital para o desenvolvimento das atividades de prevenção e controle,
com a realização da investigação de casos suspeitos, envolvendo a coleta de amostras clínicas e da água e do meio ambiente, principalmente nos mananciais que abastecem os sistemas de captação da água para consumo humano. A monitorização das doenças diarréicas
agudas (MDDA) representa a mais importante estratégia para a detecção precoce de casos
de cólera. A manutenção do sistema de vigilância epidemiológica integrado e o fortalecimento do sistema de vigilância de controle da qualidade da água para consumo humano
são as principais ações para garantir que a doença se mantenha sob controle no país.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Reduzir a incidência e a letalidade.
• Impedir ou dificultar a propagação da doença.
• Controlar surtos.
Definição de caso
Suspeito
Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae patogênico (sorogrupos O1 e
O139):
• qualquer indivíduo, independente de faixa etária, proveniente de áreas com ocorrência de casos de cólera, que apresente diarréia aquosa aguda até o décimo dia de
sua chegada (tempo correspondente a duas vezes o período máximo de incubação
da doença);
• comunicantes domiciliares de caso suspeito, definido de acordo com o item anterior,
que apresentem diarréia;
• qualquer indivíduo com diarréia, independente de faixa etária, que coabite com pessoas que retornaram de áreas endêmicas ou epidêmicas há menos de 30 dias (tempo
correspondente ao período de transmissibilidade do portador somado ao dobro do
período de incubação da doença);
• todo indivíduo com mais de 10 anos de idade que apresente diarréia súbita, líquida e
abundante. A presença de desidratação rápida, acidose e colapso circulatório reforça
a suspeita. Em locais onde a sensibilidade e a capacidade operacional do sistema de
vigilância epidemiológica permitam, esse limite deverá ser modificado para maiores
de 5 anos (especificamente áreas de risco ainda sem casos).
Em áreas com evidência de circulação do V. cholerae patogênico (V. cholerae O1) já
isolado em pelo menos cinco amostras de casos autóctones ou de amostras ambientais:
• qualquer indivíduo que apresente diarréia aguda, independente de faixa etária.
194
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
Figura 1. Cólera. Número de casos confirmados de cólera e coeficiente
de letalidade. Brasil, 1991-2004*
%
70.000
3,00
60.000
2,50
Número de casos
50.000
2,00
40.000
1,50
30.000
1,00
20.000
6
0,50
10.000
0
1991
Casos
Letalidade
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2.103 37.572 60.340 51.324 4.954 1.017 3.044 2.745 4.759
733
7
-
-
21
2,73
-
-
-
-
1,57
1992
1,23
1993
1,11
1994
1,06
1995
1,94
1996
2,52
1997
1,77
1998
1,42
1,95
0
C
Fonte: Coveh/CGDT/Devep/SVS/MS
*Dados preliminares
Confirmado
Critério laboratorial – indivíduo com diarréia, que apresente isolamento de Vibrio
cholerae nas fezes ou vômitos.
Critério clínico-epidemiológico
Em áreas sem evidência de circulação do Vibrio cholerae:
• qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, proveniente de área com circulação de Vibrio cholerae, que apresente diarréia aquosa aguda até o décimo dia
de sua chegada. Este caso será considerado caso importado para a região onde
foi atendido, desde que tenha sido afastada laboratorialmente outra etiologia, e
autóctone para a região da qual procedeu.
Em áreas com circulação do Vibrio cholerae:
• qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, que apresente diarréia aguda,
desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia;
• menores de 5 anos de idade que apresentem diarréia aguda e história de contato
com caso de cólera, num prazo de dez dias, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra patologia.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
195
Cólera
Observação
paciente adulto, proveniente de área de circulação do Vibrio cholerae, com apenas
um exame laboratorial negativo para esta bactéria e sem isolamento de outro agente
etiológico, não descarta o caso por se dever considerar a intermitência na eliminação
do Vibrio cholerae e a possibilidade de ter ocorrido coleta e/ou transporte inadequado
da amostra.
O critério clínico-epidemiológico é da maior importância para a vigilância epidemiológica, pois permite avaliar a magnitude do evento, monitorar e adotar medidas de controle
da doença, conferindo maior agilidade ao processo diagnóstico, aumentando a sensibilidade do sistema de detecção de casos, diminuindo os custos operacionais do laboratório e
liberando-o para o desempenho de outras atividades.
Esse tipo de diagnóstico é feito por meioda avaliação de um caso suspeito, no qual são
correlacionadas variáveis clínicas e epidemiológicas capazes de definir a confirmação do
caso sem diagnóstico laboratorial. Nessa situação, um exame laboratorial com resultado
negativo para cólera não descarta o caso, a menos que tenha sido identificado outro agente
etiológico.
Descartado – serão considerados descartados todos os casos que não se enquadrem
nas definições de confirmados.
Em áreas onde há evidência de circulação do Vibrio cholerae não se faz necessária
a coleta de material para exame de laboratório de todos os casos suspeitos. Esses
exames são feitos por amostragem (de acordo com a situação epidemiológica local).
Nessa situação, cabe ao laboratório monitorar a circulação do Vibrio cholerae, avaliar
a resistência aos antibióticos e detectar a introdução de novos sorotipos em casos
autóctones ou importados.
Importado – é o caso em que a infecção ocorreu em área diferente daquela onde foi
diagnosticado, tratado ou teve sua evolução. Essa situação muda o fluxo da notificação, que
deve ser feita para o local de procedência, acompanhada de ficha de investigação epidemiológica já iniciada, para ser completada no que se refere à(s) fonte(s) de infecção e outras
informações epidemiológicas relevantes.
Do ponto de vista da vigilância epidemiológica, o caso importado somente merece ser
especificado como tal em áreas de risco silenciosa ou de baixa incidência, pela pouca probabilidade de se contrair a doença nesse local ou por se tratar de caso índice, o qual exige
investigação especial para a implantação das medidas de controle.
Portador – indivíduo que, sem os sinais e sintomas ou com forma subclínica, elimina
o vibrião por determinado período. É de particular importância para a vigilância epidemiológica porque, muitas vezes, é o responsável pela introdução da epidemia em área indene e
manutenção da endemia.
196
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
Notificação
A ocorrência de casos suspeitos de cólera requer imediata notificação e investigação
por ser potencialmente grave e poder se manifestar sob a forma de surto, o que impõe a
adoção de medidas imediatas de controle. Por se tratar de doença de notificação internacional, os primeiros casos de uma área devem ser prontamente comunicados por telefone,
fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente − a maioria dos casos (sem desidratação ou com desidratação leve a moderada) pode ser tratada no nível ambulatorial. Os casos graves deverão ser hospitalizados. Os pacientes com fatores de risco associados (diabetes, hipertensão
arterial sistêmica, cardiopatias, crianças com desnutrição grave, dentre outros), idosos,
gestantes, desacompanhados, residentes em locais distantes, e aqueles sem tolerância oral
plena, devem permanecer em observação até a remissão do quadro. Se necessário, realizar
a internação.
Qualidade da assistência − o diagnóstico e o tratamento precoce dos casos de cólera
são fatores fundamentais para a recuperação do paciente. Além disso, contribuem para a
redução da contaminação do meio ambiente e identificação dos comunicantes. Assim, os
profissionais da vigilância devem verificar se as equipes de assistência estão capacitadas
para realizar estes procedimentos corretamente e se as unidades de saúde dispõem de insumos para todos os casos. O início da terapêutica independe dos resultados de exames laboratoriais. O paciente suspeito, ou com cólera confirmada, deverá obrigatoriamente iniciar
seu tratamento no local onde receber o primeiro atendimento.
Proteção individual − seguir as normas de precauções entéricas para casos hospitalizados ou ambulatoriais, com desinfecção concorrente de fezes, vômitos, vestuário, roupa
de cama e desinfecção terminal. Orientar os pacientes quanto aos cuidados com fezes e
vômitos no domicílio.
Confirmação diagnóstica − a equipe de vigilância deve orientar ou coletar material
para o diagnóstico laboratorial, de acordo com os procedimentos constantes no Anexo I.
Proteção da população − em situações de surto, iniciar imediatamente a distribuição
de sais de reidratação oral, hipoclorito de sódio a 2,5%, quando indicado para tratamento da
água no nível domiciliar, bem como ações de educação em saúde para alerta à população.
Investigação − é o passo seguinte à notificação do caso suspeito e deve ser feita o mais
rápido possível. O tempo decorrido entre a notificação e a investigação deve ser medido
para se avaliar a agilidade do sistema de vigilância epidemiológica.
6
C
Roteiro da investigação epidemiológica
A metodologia de investigação epidemiológica é clara, simples e fácil de ser assimilada
por profissionais de saúde. Visa responder às perguntas básicas de uma investigação de
campo de doença transmissível de veiculação hídrica: quem foi afetado; quando ocorreram
os casos; onde se localizaram e de que maneira foram contaminados.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
197
Cólera
A investigação de todos os casos suspeitos e confirmados só deve ser realizada em áreas
silenciosas, ou por ocasião do início da epidemia. Com a progressão do processo epidêmico e o conseqüente aumento do número de casos, a investigação epidemiológica completa
deve ser feita na medida em que os limites operacionais o permitam, sendo imprescindível,
contudo, a coleta dos dados clínicos e epidemiológicos mínimos, para caracterização dos
casos e monitoramento ambiental.
Identificação do paciente − preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos a dados gerais, notificação individual e residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Caracterizar clinicamente o caso: evolução dos sintomas; características da diarréia
e do vômito; grau de desidratação. Deve-se observar se teve início a reidratação oral
com líquidos habitualmente disponíveis no domicílio do paciente, com soro caseiro
ou sais de reidratação oral industrializado.
• Se indicada a investigação laboratorial, coletar e encaminhar a amostra de fezes ao laboratório, caso este procedimento ainda não tenha sido efetuado por profissionais da
unidade de saúde (verificar se as amostras estão sendo adequadamente coletadas).
Para identificação da área de transmissão
• Verificar a história dos pacientes, com ênfase nos deslocamentos efetuados para áreas
atingidas pela cólera, locais de alimentação e condições de saneamento no trabalho e
ambiente domiciliar.
• Reconstituir as atividades dos pacientes nos 10 dias que precederam o início dos
sintomas: história de deslocamentos no município (urbano/rural), estado e país, e
tempo de permanência. Verificar se a área de estadia dos casos é de ocorrência de
cólera.
• História de contato com caso compatível com cólera.
• Realizar levantamento das fontes de abastecimento de água e qual o tratamento dispensado.
• Verificar a situação da disposição dos dejetos e lixo.
Para determinação da extensão da área de transmissão
• Realizar levantamento de diarréia, no local de ocorrência de casos suspeitos de cólera, visando verificar se há aumento da incidência, principalmente nos maiores de
cinco anos.
• Busca ativa nas áreas de provável procedência
❯ em áreas atingidas: no domicílio (contatos), na comunidade (quarteirão, bairro,
rua ou toda a comunidade, dependendo do tamanho da área de ocorrência, distribuição dos casos e capacidade operacional), nos serviços de saúde, farmácias e
curandeiras, por meio de entrevistas com lideranças locais;
❯ em áreas silenciosas: a inexistência de casos em determinada área nem sempre
198
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
significa que a doença não esteja ocorrendo. A falta de conhecimento sobre a
doença, a ocorrência de oligossintomáticos e o difícil acesso da população aos
serviços de saúde contribuem para a existência de áreas silenciosas;
❯ em áreas de risco deve ser feita a busca ativa de casos, visando detectar precocemente a ocorrência de surtos e desencadear as medidas de controle apropriadas.
• Coleta de amostras ambientais
❯ colocar mechas para coleta de amostras ambientais, principalmente nas coleções
de água onde deságuam esgotos (ver procedimento no Anexo 2).
Determinação das fontes de infecção
• Procedência da água de consumo e cuidados com o tratamento.
• Procedência de alimentos que são ingeridos crus (frutas, legumes e verduras).
• Procedência e situação de higiene do acondicionamento e distribuição de pescados.
• Investigar indivíduos que manipulam alimentos, principalmente quando o surto for
resultante de provável fonte alimentar comum (restaurantes ou refeitórios).
• Investigar prováveis portadores sadios.
6
Essas informações, dentre outras, orientarão a coleta de amostras para diagnóstico
laboratorial da fonte de contaminação.
C
Coleta e remessa de material para exames − coletar material clínico, de alimentos e
do ambiente, o mais precocemente possível, considerando os resultados das investigações
realizadas e as orientações técnicas do laboratório (ver Anexo 2).
Análise de dados − os dados da investigação deverão ser analisados passo a passo, de
modo a subsidiar o processo de decisão sobre as medidas de controle a serem adotadas. Assim, logo que se obtenha indícios de qual seja a fonte de infecção e a abrangência da população sob risco deve-se iniciar imediatamente as medidas capazes de impedir a ocorrência de
novos casos, principalmente nas situações de surtos, casos esporádicos em área de circulação estabelecida e casos importados (visando a reduzir o risco de circulação do agente).
Ao final da investigação, os dados devem permitir o acompanhamento da incidência e as análises de tendência da doença. De acordo com a magnitude de cada evento ou
situação endêmica da área, a análise deverá contemplar: distribuição semanal dos casos e
óbitos, por sexo, faixa etária e procedência; coeficientes de incidência e mortalidade; taxas
de letalidade; distribuição dos casos segundo a evolução, critério de confirmação e tipo de
atendimento, etc.
É importante observar que, dentre outras informações, a análise e interpretação dos
dados requer o conhecimento de dados populacionais, geográficos, demográficos, situação
de saneamento básico, cobertura dos serviços, qualidade da atenção aos pacientes, condições socioeconômicas e culturais da população.
Para facilitar a interpretação e análise, os dados devem ser consolidados em tabelas e
gráficos, utilizando-se variáveis de pessoa, tempo e lugar.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
199
Cólera
Nas áreas epidêmicas, o grupo etário mais atingido é o de maiores de 15 anos, com
predomínio no sexo masculino, devido à maior mobilidade e, conseqüentemente, maior
exposição dos homens adultos às fontes de infecção. Nas áreas endêmicas, observa-se maior
incidência nas faixas etárias mais jovens, em função da imunidade que vai sendo adquirida
à medida que o vibrião circula. A distribuição dos casos de acordo com a ocupação poderá
indicar os grupos profissionais expostos a maior risco.
A distribuição dos casos por dia, semana epidemiológica, mês ou ano permitirá a análise
da evolução temporal da doença. Algumas variações sazonais têm sido observadas em determinadas regiões, como o recrudescimento da epidemia em períodos de seca e/ou no início
das chuvas, o que pode permitir, inclusive, uma previsão de novos surtos nessas áreas.
Em algumas áreas, o conjunto de condições socioeconômicas e culturais pode favorecer a instalação e rápida disseminação do V. cholerae.
A análise da distribuição dos casos, de acordo com as áreas de ocorrência, proporcionará o conhecimento do comportamento da cólera em todos os níveis e subsidiará o planejamento, contribuindo para o direcionamento espacial das medidas de controle.
Encerramento de casos − as fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas
para definir o critério utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
• Confirmado por critério clínico-laboratorial – isolamento do Vibrio cholerae O1 ou
O139 em amostra clínica do paciente;
• Confirmado por critério clínico-epidemiológico – paciente com quadro clínico de
cólera, exame laboratorial negativo ou não realizado, mas que estabeleceu vínculo
epidemiológico;
• Óbitos – óbitos não acompanhados também podem ser confirmados pelo critério
clínico-epidemiológico, desde que existam fortes evidências epidemiológicas aliadas
ao quadro clínico que resultou em morte;
• Caso descartado – todos os casos que não preencham os requisitos apresentados nos
itens anteriores.
Relatório final − deverá conter a descrição das etapas da investigação, principais resultados, medidas de controle adotadas e conclusões e recomendações a curto e médio prazos para a prevenção de novos casos e futuros eventos.
Instrumentos disponíveis para controle
Em regiões onde a infra-estrutura de saneamento é adequada e existe um sistema ativo
de vigilância epidemiológica das diarréias, capaz de detectar precocemente os primeiros casos, a disseminação da cólera é facilmente controlada e, em geral, a circulação não se estabelece. Entretanto, quando o Vibrio cholerae é introduzido em áreas com precárias condições
sanitárias, o risco de circulação é bastante elevado, principalmente quando não existe um
bom sistema de abastecimento de água potável para as comunidades.
Assim, o principal instrumento para o controle da cólera é prover as populações sob
risco de adequada infra-estrutura de saneamento (água, esgotamento sanitário e coleta e
200
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Fluxograma de investigação de casos suspeitos de cólera
Verificar se é da
mesma área de
procedência de
casos anteriores
Com casos
registrados
Discutir informações
com equipe técnica
(saneamento, vigilância ambiental,
educação em saúde,
laboratório)
Urbana ou rural
Para identificação
da área de
transmissão
(visita domiciliar
e à comunidade)
• Caracterização
clínica do caso
História de contato com caso
confirmado
Em trânsito
História do
deslocamento
• Hidratação
Caso suspeito
• Coleta de material
para exame e envio
ao laboratório
• Notificação
imediata à vigilância
epidemiológica
• Verificar se já é
área com circulação
do Vibrio cholerae
Dentro da própria
área de ocorrência
rural ou urbana
Condições de
saneamento
no domicílio
Desencadeia
investigação
Verificar o
trajeto durante
os últimos
10 dias que
antecederam
os sintomas
Investigar a fonte
provável de infecção caso ainda
não seja conhecida
De área urbana
do mesmo
município
para área rural
e vice-versa
De um
município/estado
Em trânsito – vide
origem do caso
Condições de
saneamento
no trabalho
Para determinação
da extensão da
transmissão
Sintomático
Proceder como
novo caso suspeito
Assintomático
Educação
em saúde
Investigação
de contatos
Vigilância de novos casos de
diarréia nos próximos 30 dias,
por meio da monitorização
das doenças diarréicas (MDDA)
Identificação da fonte de contaminação
Vigilância
ambiental
Água
Coleta de água para exame bacteriológico
Identificação da fonte de contaminação
Efluentes
Coleta de material para exame bacteriológico
Identificação da fonte de contaminação
Alimentos
Coleta de água para exame bacteriológico
Adoção de
medidas
pertinentes
Saneamento
Educação
em saúde
Vigilância
sanitária
201
Cólera
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Para determinação
da provável fonte
de infecção
6
C
Cólera
disposição de lixo), o que exige investimentos sociais do poder público. Todavia, na vigência de casos isolados ou surtos, alternativas emergenciais para a prevenção desta doença
podem e devem ser adotadas pelo setor saúde, por meio de sua rede de assistência à saúde,
vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental. Por exemplo, ações restritas de tratamento de água e destino dos dejetos. Atividades de educação em saúde devem ser prontamente
implementadas para reduzir o risco de transmissão e letalidade. Algumas destas alternativas são listadas a seguir.
Vigilância sanitária
Oferta de água de boa qualidade e em quantidade suficiente:
• tratamento domiciliar com hipoclorito de sódio;
Hipoclorito de sódio a 2,5%
Volume de água
1.000 litros
Dosagem
100ml
Medida prática
Tempo de contato
2 copinhos de café (descartáveis)
200 litros
15ml
1 colher de sopa
20 litros
2ml
1 colher de chá
1 litro
0,045ml
2 gotas
30 minutos
Fonte: Manual Integrado de Prevenção e Controle da Cólera/CNPC/Funasa/MS
• em caso de água turva antes da cloração, recomenda-se que a mesma seja mantida
em repouso, para decantação das partículas em suspensão, as quais irão depositar-se
no fundo do recipiente. Após este processo, deve-se separar a parte superior, mais
clara, em outro recipiente. Em seguida, filtrá-la;
• outros produtos à base de cloro, autorizados para o tratamento da água e registrados
no Ministério da Saúde, poderão ser utilizados desde que se observe atentamente as
orientações contidas no rótulo;
• a ebulição (fervura) da água, durante 1 ou 2 minutos, constitui um método de desinfecção eficaz mas pouco acessível, na prática, às condições da maior parte da população. É um procedimento oneroso, a ser recomendado em situações de urgência e
na falta de outro método de desinfecção;
• o acondicionamento da água já tratada deve ser feito em recipientes higienizados,
preferencialmente de boca estreita, para evitar posterior contaminação pela introdução de utensílios (canecos, conchas, etc.) para a retirada da água;
❯ articulação com empresas de abastecimento, visando buscar soluções para
aumentar a oferta, para as comunidades com intermitência de fluxo;
❯ articulação com órgãos governamentais para a resolução do problema a médio prazo;
• tratamento dos dejetos e disposição adequada do lixo (estudar alternativas para
reduzir a contaminação ambiental, consultando técnicos da área de engenharia sanitária);
202
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
• promover a vigilância de indivíduos sintomáticos, mediante orientações para isolamento entérico em domicílio;
• promover a vigilância de meios de transporte e terminais portuários, aeroportuários, rodoviários e ferroviários;
• promover medidas que visem à redução do risco de contaminação de alimentos, em
especial no comércio ambulante;
• definir procedimentos com vistas a garantir a qualidade dos processos de limpeza e
desinfecção, em especial para serviços de saúde e área de preparo de alimentos;
• promover atividades de educação em saúde para garantir o acesso da população aos
conhecimentos e informações necessárias à prevenção e controle da doença.
As medidas sanitárias a serem adotadas deverão considerar as condições ambientais
(fatores bióticos e abióticos) que possam favorecer a sobrevivência do V. cholerae nas áreas
em questão.
6
Vigilância epidemiológica e ambiental
É de fundamental importância que as equipes de vigilância epidemiológica locais
implantem ou implementem a MDDA em sua área de abrangência, acompanhando seu
comportamento no tempo e sua distribuição por faixa etária. Uma elevação do número de
casos de diarréia, em determinado local e período e na faixa etária de maiores de 15 anos, é
sugestiva de surto de cólera. A participação do laboratório é necessária para a confirmação
dos primeiros casos.
A monitorização ambiental de pontos estratégicos é outra medida que deve ser imediatamente adotada, com vistas à detecção precoce da circulação do V. cholerae. Consiste
na coleta periódica do material de meio ambiente para a realização do diagnóstico laboratorial, atividade que deverá ser coordenada pela vigilância ambiental.
C
Área de circulação do Vibrio cholerae
Aquela onde já foi isolado o Vibrio cholerae O1 em, pelo menos, cinco amostras
(clínicas, autóctones e/ou ambientais).
Algumas áreas têm um risco potencial que deve ser considerado com especial atenção.
Entre elas, encontram-se localidades situadas ao longo de eixos rodoviários ou ferroviários,
áreas periportuárias, locais com populações assentadas abaixo do ponto de despejos de esgotamentos sanitários ou as margens de coleções hídricas que recebam esgotos.
Área de risco para cólera
Local ou região onde o conjunto de condições socioeconômicas e ambientais favorece
a instalação e rápida disseminação do Vibrio cholerae.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
203
Cólera
É necessário delimitar o micro ou macroambiente e os locais de suposta circulação
de V. cholerae para definir o caráter e abrangência das ações preventivas/assistenciais de
saúde pública. A delimitação dessas áreas deve ser definida em nível local, não precisando,
necessariamente, obedecer aos limites impostos por fronteiras político-administrativas. A
área de risco pode ser uma única residência, rua ou bairro, etc.
Fatores ambientais, populacionais e de serviços que devem ser considerados para a
definição e delimitação de áreas de risco:
• ausência, deficiência ou intermitência do abastecimento de água;
• destino e tratamento inadequado dos dejetos;
• ausência ou deficiência de coleta, transporte, destino ou tratamento do lixo;
• solos baixos e alagadiços que permitem a contaminação da água por materiais fecais
(principalmente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas);
• densidade populacional elevada e baixa renda per capita;
• populações confinadas (presídios, asilos, orfanatos, hospitais psiquiátricos, quartéis,
etc.);
• hábitos higiênicos pessoais inadequados, que propiciam a contaminação fecal/oral;
• pólos receptores de movimentos migratórios;
• eventos com grandes aglomerações populacionais (festas populares, feiras, romarias, etc.);
• déficit na oferta de serviços de atenção à saúde;
• difícil acesso à informação/analfabetismo;
• áreas periportuárias, ribeirinhas e ao longo de eixos rodoferroviários.
A delimitação da área de risco é feita após a associação dos dados referentes ao isolamento do agente etiológico e os fatores acima mencionados. Sua identificação e delimitação
é importante para priorizar o desenvolvimento das ações de controle e deve ser redefinida
à medida que novos fatores e áreas de circulação sejam identificados.
Deve-se atentar para o fato de que o uso da vigilância epidemiológica, de forma correta e coordenada no nível local, proporciona as informações necessárias para a otimização
dos recursos disponíveis para a prevenção e controle da doença.
Ações de educação em saúde
Existem várias estratégias de trabalho que buscam estimular o indivíduo, os grupos ou
a comunidade a assumir consciente, criativa e criticamente a responsabilidade sobre suas
condições de saúde. O maior enfoque deverá ser dado à ação participativa, cujos componentes básicos devem ser trabalhados com bastante flexibilidade, haja vista que no desenvolvimento do processo os mesmos podem ocorrer isolados, articulados ou concomitantes,
considerando-se a dinâmica da realidade social.
Após o levantamento da situação de cólera, os dados devem ser cuidadosamente analisados e discutidos. Este é o momento da troca de informações (saber técnico versus saber
popular) entre a equipe de saúde e a comunidade, quando se espera atingir uma percepção
real da situação.
204
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
É vital realizar o registro detalhado e o processamento de todos os dados e informações obtidos, para a obtenção de uma análise criteriosa da percepção do grupo sobre
as situações que tais informações definem, visando à validação ou não das conclusões
resultantes.
As vivências da situação, observação e visitas realizadas na localidade, bem como a
análise sobre os tipos de serviços oferecidos, suas fontes de recursos e mecanismos de participação da comunidade, além da utilização de dados epidemiológicos e de bibliografias
sobre cólera, são instrumentos utilizados para trabalhar as informações e ampliar o conhecimento do grupo sobre a situação político-social da cólera no nível local.
São de vital importância a participação da comunidade, como produtora e administradora das ações realizadas, e a parceria e apoio da equipe de saúde. O assumir responsabilidades deve ser um aprendizado contínuo, partindo do exercício da participação através
dos seus grupos organizados e/ou a organizar, a exemplo de grupos de trabalho, comitês,
comissões, escolas, igrejas, dentre outros.
6
Medidas inócuas no controle e prevenção da cólera
Geralmente, quando ocorre um surto de cólera, por pânico da população ou, mais freqüentemente, por autoridades e profissionais desinformados, há pressões para a implementação de algumas medidas que jamais devem ser adotadas, pois sabidamente não resultam
em benefícios individuais ou coletivos, dentre as quais destacam-se:
Imunização − desde 1973, a Organização Mundial da Saúde aboliu do Regulamento
Sanitário Internacional a necessidade de apresentação do Certificado de Vacinação para
Cólera por parte dos viajantes internacionais. Essa medida levou em conta que:
• as vacinas disponíveis apresentam baixa eficácia e curta duração da imunidade;
• muitas vacinas não têm a potência testada e/ou requerida;
• geralmente, as vacinas somente induzem imunidade após decorridos 7 a 14 dias de
sua aplicação;
• a vacinação não altera a severidade da doença e não reduz a taxa de infecções assintomáticas;
• a vacinação não previne a introdução da cólera nem sua propagação em um determinado país;
• a vacinação dá uma falsa impressão de segurança às pessoas vacinadas e o sentimento de realização e satisfação às autoridades de saúde que, conseqüentemente,
negligenciam as precauções mais efetivas.
C
Quimioprofilaxia − são totalmente inócuas as tentativas de combate à cólera pela
quimioprofilaxia de massa e de contatos domiciliares, pois mostrou-se ineficaz para conter
a propagação da epidemia, por várias razões, entre as quais se destacam:
• impossibilidade de tratar, sob supervisão e simultaneamente, todos os contatos ou
toda a população de uma mesma área e, em seguida, mantê-la isolada para evitar a
infecção;
• curta duração do efeito do antibiótico;
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
205
Cólera
• o fato de o meio ambiente permanecer contaminado por tempo superior ao período
de proteção conferida pelo antibiótico;
• a dificuldade de persuadir as pessoas assintomáticas para que tomem os antibióticos.
Além disso, a administração de antibióticos pode determinar:
• alteração da flora intestinal de indivíduos sadios, aumentando sua susceptibilidade
à infecção pelo V. cholerae;
• surgimento de cepas resistentes de V. cholerae e de outras bactérias.
É importante ressaltar que a quimioprofilaxia desvia a atenção e os recursos, que deveriam estar voltados para medidas de vigilância e controle realmente eficazes. Em vários
países, paradoxalmente, tem contribuído para o surgimento de cepas resistentes aos antibióticos, privando, assim, os doentes graves de um tratamento adequado.
Restrições à circulação de pessoas e mercadorias (cordão ou barreira sanitária) −
essas medidas não impedem a propagação da cólera de um país para outro ou de uma
região para outra de um mesmo país. É impossível identificar e isolar todos os viajantes
infectados, pois a grande maioria não apresentará sintomas.
Por outro lado, a execução de um “cordão sanitário” implica na instalação de múltiplos postos de controle e de restrição à circulação (barreiras). Essas atividades absorvem
recursos humanos e materiais importantes, que melhor seriam utilizados se direcionados
às medidas eficazes.
Essas medidas restritivas geram grave impacto à economia do país ou região afetada,
encorajando a dissimulação da verdade acerca dos surtos de cólera. A colaboração entre
as autoridades locais, nacionais e internacionais, engajadas conjuntamente no esforço de
combater a epidemia, fica, dessa forma, fortemente comprometida.
A realização de eventos que congregam grande número de pessoas, como festas populares, religiosas, feiras, etc., dificilmente pode ser desencorajada devido aos fortes componentes sociais, culturais e econômicos envolvidos. As ações de prevenção realmente eficazes, nesses casos, são aquelas que visam garantir o destino adequado dos dejetos humanos
e do lixo, o abastecimento de água potável em quantidade suficiente e o uso de medidas de
higiene no preparo e conservação de alimentos.
Deve ser assegurado o acesso dessa população aos serviços de saúde, os quais podem
ser reforçados com equipes móveis, treinadas no manejo de casos de diarréia e cólera, bem
como de outras doenças freqüentes nesses eventos e daquelas prevalentes na região.
Equipes adicionais de educação em saúde, vigilância epidemiológica, vigilância ambiental, vigilância sanitária e outras também devem ser deslocadas para trabalhar nesses locais.
206
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Cólera
Anexo 1
Coleta de amostras de material clínico
Instrumento
Método
Transporte e viabilidade da amostra
Processar as amostras acondicionadas em meio
de Cary-Blair, de 24 a 72 horas após a coleta, se
mantidas em temperatura ambiente (no caso de
temperatura ambiente acima de 30 graus, colocar
Inocular no meio de transporte Caryo meio de Cary-Blair em recipiente com água em
Blair ou em 10-20ml de água peptonada temperatura natural) ou em até 7 dias se
alcalina (pH entre 8,4 – 8,6)
mantidas sob refrigeração (entre 4º a 8ºC)
Introduzir o swab na ampola retal comprimindo-o, em movimentos rotatórios
suaves, em toda a extensão da ampola
Swab retal
Processar as amostras acondicionadas em tubos
de água peptonada alcalina até 12 horas após
a coleta
6
O meio de transporte Cary-Blair conserva, por
até quatro semanas, numerosos tipos de bactérias,
inclusive vibriões. No entanto, como o swab, retal
Introduzir o swab no meio de transporte ou fecal, contém outros microrganismos da flora
normal, recomenda-se processá-lo de 24 a 72
Cary- Blair ou água peptonada alcalina
horas após a coleta (a 30ºC) ou em até sete dias
se mantido sob refrigeração (4º a 8ºC)
Recolher parte das fezes com o auxílio
de um swab
Swab fecal
C
As amostras coletadas por swab devem ser
semeadas de imediato se não forem acondicionadas no meio de transporte apropriado
Fezes
in natura
Recolher entre 3 a 5 gramas de fezes,
diarréicas ou não, em recipiente de
boca larga, limpo e/ou esterilizado (não
utilizar substâncias químicas)
A semeadura deve ser realizada
imediatamente após a coleta
Evitar recolher amostras fecais contidas
nas roupas, superfície de cama ou chão
Utilizar tiras de papel de filtro, tipo xarope ou mata-borrão (2,5cm de largura
por 6,5cm de comprimento)
Papel de filtro
Espalhar as fezes diarréicas ou emulsionadas em água em 2/3 de uma das
superfícies do papel, com o auxílio de
um fragmento de madeira ou outro
material disponível
Colher a amostra, tampar e observar a umidade
(a amostra só é válida enquanto o papel de filtro
se mantiver úmido)
Acondicionar as tiras de papel de filtro
em invólucros plásticos, perfeitamente
vedados
Observações:
• As amostras devem ser colhidas antes da administração de antibióticos ao paciente.
• Qualquer amostra enviada ao laboratório deve ser previamente rotulada e acompanhada da ficha de encaminhamento de amostras para análise, devidamente preenchida.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
207
Cólera
Anexo 2
Monitoração do meio ambiente
Roteiro para coleta de material do ambiente
Instrumento
Método de coleta
Resíduos líquidos:
Manter a mecha submersa no local
por 48 horas
Mecha - Swab Moore
Retirar, com cuidado, e introduzir
em frasco com boca larga, estéril,
com tampa, contendo 300ml de
APA 3 vezes concentrada
Procedimento
Enviar rapidamente ao laboratório
(idealmente, de 2 a 6 horas)
Resiste, no máximo, até 24 horas
sob refrigeração
Observação: Os pontos de coleta são definidos pelo nível local, de acordo com a investigação dos possíveis pontos de contaminação. O número de amostras e a periodicidade
dependem da capacidade operacional do laboratório.
208
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
COQUELUCHE
CID 10: A37
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa aguda, transmissível, de distribuição universal. Compromete especificamente o aparelho respiratório (traquéia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos
de tosse seca. Ocorre sob as formas endêmica e epidêmica. Em lactentes, pode resultar em
número elevado de complicações e até em morte.
Agente etiológico
6
Bordetella pertussis. Bacilo gram-negativo, aeróbio, não-esporulado, imóvel e pequeno,
provido de cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias.
Reservatório
C
O homem é o único reservatório natural. Não foi demonstrada a existência de portadores crônicos; entretanto, podem ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importância na disseminação da doença.
Modo de transmissão
A transmissão se dá, principalmente, pelo contato direto de pessoa doente com pessoa
susceptível, através de gotículas de secreção da orofaringe, eliminadas por tosse, espirro ou
ao falar. Pode ocorrer a transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções do doente, porém é pouco freqüente, pela dificuldade do agente sobreviver fora do
hospedeiro.
Período de incubação
Em média, de cinco a dez dias, podendo variar de uma a três semanas e, raramente,
até 42 dias.
Período de transmissibilidade
Para efeito de controle, considera-se que o período de transmissão se estende de cinco
dias após o contato com um doente (final do período de incubação) até três semanas após
o início dos acessos de tosse típicos da doença (fase paroxística). Em lactentes menores de
seis meses, o período de transmissibilidade pode prolongar-se por até 4-6 semanas após o
início da tosse. A maior transmissibilidade da doença ocorre na fase catarral.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
209
Coqueluche
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune nas seguintes situações:
• após adquirir a doença: imunidade duradoura, mas não permanente;
• após receber vacinação básica (mínimo de três doses) com DTP ou DTPa: imunidade por alguns anos. Em média, de 5 a 10 anos após a última dose da vacina, a
proteção pode ser pouca ou nenhuma.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A coqueluche evolui em três fases sucessivas:
Fase catarral – inicia com manifestações respiratórias e sintomas leves (febre pouco
intensa ou ausente, mal-estar geral, coriza e tosse seca) e dura de 1 a 2 semanas. A freqüência e a intensidade dos acessos de tosse aumentam gradualmente até o surgimento das crises
de tosse paroxística.
Fase paroxística – geralmente afebril ou com febre baixa. Em alguns casos, ocorrem
vários picos de febre no decorrer do dia. Apresenta como manifestação típica os paroxismos
de tosse seca, que se caracterizam por crise de tosse súbita incontrolável, rápida e curta
(cerca de 5 a 10 tossidas, em uma única expiração). Durante estes acessos, o paciente não
consegue inspirar, apresenta protusão da língua, congestão facial e, eventualmente, cianose
que pode ser seguida de apnéia e vômitos. A seguir, ocorre uma inspiração profunda através da glote estreitada, que pode dar origem ao som denominado de “guincho”. O número de episódios de tosse paroxística pode chegar a 30 em 24 horas, manifestando-se mais
freqüentemente à noite. A freqüência e a intensidade dos episódios de tosse paroxística
aumentam nas duas primeiras semanas; depois, diminuem paulatinamente. Nos intervalos
dos paroxismos o paciente passa bem. Esta fase dura de 2 a 6 semanas.
Fase de convalescença – os paroxismos de tosse desaparecem e dão lugar a episódios
de tosse comum. Esta fase persiste por 2 a 6 semanas e em alguns casos pode se prolongar
por até 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da coqueluche, podem provocar o reaparecimento transitório dos paroxismos.
Em indivíduos não adequadamente vacinados ou vacinados há mais de 5 anos, a
coqueluche nem sempre se apresenta sob a forma clássica acima descrita, podendo
manifestar-se sob formas atípicas, com tosse persistente, porém sem paroxismos e o
guincho característico.
Os lactentes jovens (principalmente os menores de 6 meses) constituem o grupo de
indivíduos particularmente propenso a apresentar formas graves, muitas vezes letais, de coqueluche. Nessas crianças, a doença manifesta-se através de paroxismos clássicos, algumas
vezes associados a cianose, sudorese e vômitos. Também podem estar presentes episódios
de apnéia, parada respiratória, convulsões e desidratação decorrente dos episódios repe-
210
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
tidos de vômitos. Estes bebês exigem hospitalização, isolamento, vigilância permanente e
cuidados especializados.
Complicações
• Respiratórias – pneumonia e otite média por Bordetella pertussis, pneumonias por
outras etiologias, ativação de tuberculose latente, atelectasia, bronquiectasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma.
• Neurológicas – encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intra-cerebrais, hemorragia subdural, estrabismo e surdez.
• Outras – hemorragias subconjuntivais, epistaxe, edema de face, úlcera do frênulo
lingual, hérnias (umbilicais, ingüinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação
e/ou desnutrição.
Diagnóstico diferencial
6
Deve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronquiolites, adenoviroses, laringites, etc.
Outros agentes também podem causar a síndrome coqueluchóide, dificultando o
diagnóstico diferencial, entre os quais Bordetella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis, Chlamydia pneumoniae e Adenovírus (1, 2, 3 e 5). A Bordetella bronchiseptica e a Bordetella avium são patógenos de animais que raramente
acometem o homem (exceto quanto imunodeprimidos).
C
Diagnóstico laboratorial
Diagnóstico específico
Realizado mediante o isolamento da Bordetella pertussis através de cultura de material
colhido de nasorofaringe com técnica adequada (ver normas e procedimentos no Anexo 3).
Exames complementares
Para auxiliar na confirmação ou descarte dos casos suspeitos, pode-se realizar os seguintes exames:
• leucograma – no período catarral, pode ocorrer uma linfocitose relativa e absoluta,
geralmente acima de 10 mil linfócitos/mm3. Os leucócitos totais no final desta fase
atingem um valor, em geral, superior a 20 mil leucócitos/mm3. No período paroxístico, o número de leucócitos pode elevar-se para 30 mil ou 40 mil/mm3, associado
a uma linfocitose de 60% a 80%. Nos lactentes e nos pacientes com quadro clínico
mais leve, a linfocitose pode estar ausente.
• raios X de tórax – recomenda-se em menores de 4 anos, para auxiliar no diagnóstico diferencial e/ou presença de complicações. É característica a imagem de “coração
borrado” ou “franjado”, porque as bordas da imagem cardíaca não são nítidas, devido aos infiltrados pulmonares.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
211
Coqueluche
Tratamento
A eritromicina (de preferência o estolato) é o antimicrobiano de escolha para o tratamento da coqueluche, visto ser mais eficiente e menos tóxico. Este antibiótico é capaz de
erradicar o agente do organismo em um ou dois dias quando seu uso for iniciado durante
o período catarral ou início do período paroxístico, promovendo, assim, a diminuição do
período de transmissibilidade da doença. No entanto, tem-se isolado Bordetella pertussis de
pacientes até 7 dias após o início do uso da eritromicina.
Dose indicada – 40 a 50 mg/kg/dia (máxima de 2 gramas/dia), por via oral, dividida
em 4 doses iguais, durante 14 dias.
No caso de intolerância à eritromicina, pode-se usar sulfametoxazol+trimetoprim
(SMZ+TMP), por via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias, na seguinte dosagem:
• crianças – 40mg (SMZ)/kg/dia e 8mg (TMP)/kg/dia. Com a ressalva de que a segurança e a eficácia de SMZ+TMP nos menores de 2 meses não está bem definida.
• adultos e crianças com mais de 40 kg – 800mg (SMZ)/dia e 160mg (TMP)/dia de
12 em 12 horas.
A imunoglobulina humana não tem valor terapêutico comprovado.
Alguns cuidados gerais importantes
Nos episódios de tosse paroxística, a criança deve ser colocada em lateral ou decúbito de drenagem para evitar a aspiração de vômitos e/ou de secreção respiratória. Se
ocorrer cianose, deve-se aspirar delicadamente a secreção nasal e oral. Na presença de
apnéia, aspirar delicadamente as secreções. Há indicação do uso de oxigênio. Estimular manualmente a respiração e, caso não obtenha resposta, utilizar ambu.
Aspectos epidemiológicos
Em populações aglomeradas, condição que facilita a transmissão, a incidência da coqueluche pode ser maior na primavera e no verão, porém em populações dispersas nem
sempre se observa esta sazonalidade. Não existe uma distribuição geográfica preferencial
nem característica individual que predisponha à doença, a não ser presença ou ausência de
imunidade específica.
A morbidade da coqueluche no país já foi elevada. No início da década de 80 eram notificados mais de 40 mil casos anuais e o coeficiente de incidência era superior a 30/100 mil
habitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983, mantendo, desde então, tendência decrescente. Em 1990, foram notificados 15.329 casos, resultando em um coeficiente
de incidência de 10,64/100 mil habitantes, a maior taxa observada na década. Em 1995,
registraram-se 3.798 casos (coeficiente de incidência de 2,44/100 mil habitantes) e, a partir
de então, o número de casos anuais não excedeu 2 mil, mantendo-se com coeficiente de
212
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
incidência em torno de 1/100 mil habitantes. Nos últimos três anos, o número de casos não
chegou a 1.000/ano e o coeficiente de incidência manteve-se inferior a 0,05/1.000 habitantes
(Gráfico 1). Desde a instituição do Programa Nacional de Imunizações, em 1973, quando a
vacina tríplice bacteriana (DTP) passou a ser preconizada para crianças menores de 7 anos,
observa-se um declínio na incidência da coqueluche, muito embora as coberturas vacinais
iniciais não fossem elevadas. A partir dos anos noventa, a cobertura foi se elevando, principalmente a partir de 1998, resultando em importante modificação no perfil epidemiológico
desta doença (Gráfico 1). Entretanto, nos últimos anos, surtos de coqueluche vêm sendo
registrados, principalmente em populações indígenas.
O grupo de menores de um ano concentra quase 50% do total de casos (Gráfico 2)
e apresenta o maior coeficiente de incidência (Gráfico 3). Isto se deve, provavelmente, à
gravidade do quadro clínico nesta faixa etária, o que, por sua vez, leva à maior procura dos
serviços de saúde e maior número de casos diagnosticados.
A letalidade da doença é também mais elevada no grupo de crianças menores de um
ano, particularmente naquelas com menos de seis meses de idade, que concentram quase
todos os óbitos por coqueluche.
6
50
100
45
90
40
80
35
70
30
60
25
50
20
40
15
30
10
20
5
10
0
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
C
Cobertura (%)
Casos /100 mil hab.
Gráfico 1. Coeficiente de incidência da coqueluche¹ e cobertura vacinal pela DTP².
Brasil, 1980-2003³
0
Ano
Coeficiente de incidência
Cobertura vacinal
Fonte: ¹Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover; ²Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGPNI;
³Dados sujeitos a revisão.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
213
Coqueluche
Gráfico 2. Número de casos de coqueluche, por grupo de idade. Brasil, 1992-2003
7.000
6.000
Número de casos
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
Ano
< 1 ano
1 - 4 anos
5 - 14 anos
> 15 anos
Fonte: Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover. Dados sujeitos a revisão.
Gráfico 3. Coeficiente de incidência da coqueluche, por grupo de idade.
Brasil, 1982-2003
1.000
Casos /100 mil hab.
100
10
1
0,1
0,01
82 83
84
85
86 87
88 89 90
< 1 ano
91
92 93 94
1 - 4 anos
95 96
97 98
5 - 14 anos
Fonte: Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover. Dados sujeitos a revisão.
214
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
99 00
> 15 anos
01 02
03
Coqueluche
Vigilância epidemiológica
A coqueluche é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional
e sua investigação laboratorial é obrigatória nos surtos e nos casos atendidos nas unidades
sentinelas previamente determinadas, a fim de identificar a circulação da Bordetella pertussis (Anexos 1 e 2).
Objetivos
• Acompanhar a tendência temporal da doença, para detecção precoce de surtos e
epidemias, visando adotar medidas de controle pertinentes.
• Aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepas
isoladas para o laboratório de referência nacional, para estudos moleculares e de
resistência bacteriana a antimicrobianos.
6
Definição de caso
Suspeito
• Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há
14 dias ou mais, associada a um ou mais dos seguintes sintomas:
❯ tosse paroxística – tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas
(5 a 10) em uma única expiração;
❯ guincho inspiratório;
❯ vômitos pós-tosse.
• Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há
14 dias ou mais e tenha história de contato com caso confirmado como coqueluche
pelo critério clínico.
C
Confirmado
• Critério laboratorial – todo caso suspeito de coqueluche com isolamento de Bordetella pertussis.
• Critério epidemiológico – todo caso suspeito que teve contato com caso confirmado como coqueluche pelo critério laboratorial, entre o início do período catarral até
três semanas após o início do período paroxístico da doença (período de transmissibilidade).
• Critério clínico – todo caso suspeito de coqueluche cujo hemograma apresente leucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 mil
linfócitos/mm3), desde que sejam obedecidas as seguintes condições: resultado de
cultura negativa ou não realizada; inexistência de vínculo epidemiológico (vide item
acima); não confirmação de outra etiologia.
Descartado
Caso suspeito que não se enquadra em nenhuma das situações descritas anteriormente.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
215
Coqueluche
Notificação
Todo caso suspeito deve ser notificado através do Sistema de Informação de Agravos
de Notificação (Sinan). Os casos atendidos nas unidades sentinelas previamente determinadas devem ser notificados imediatamente pelo meio mais rápido possível ao serviço de
vigilância local, a fim de se proceder a coleta de material para a realização de cultura para
a Bordetella pertussis.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização dos casos graves. Crianças com menos de um ano quase sempre evoluem para quadros graves. A grande maioria dos casos pode ser tratada ambulatorialmente.
Qualidade da assistência
Para crianças com menos de um ano pode se tornar necessária a indicação de assistência ventilatória (oxigenação e broncoaspiração), drenagem de decúbito, hidratação e/ou
nutrição parenteral. Nesta situação, verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade
de saúde com capacidade para prestar atendimento adequado e oportuno.
Proteção individual para evitar disseminação da bactéria
Os doentes com coqueluche devem ser mantidos em isolamento respiratório durante
cinco dias após o início do tratamento antimicrobiano apropriado. Nos casos não submetidos a antibioticoterapia, o tempo de isolamento deve ser de três semanas.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial de acordo com as orientações constantes do Anexo 3.
Proteção da população
Logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de coqueluche deve-se desencadear um bloqueio vacinal seletivo nas áreas onde o paciente esteve no período de transmissibilidade, com vistas a aumentar a cobertura vacinal com a DTP. É importante lembrar
que a vacina DTP é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos. Deve-se realizar
a quimioprofilaxia conforme indicado no tópico Controle dos comunicantes.
Investigação
O caso suspeito atendido nas unidades sentinelas previamente determinadas deve ser
imediatamente investigado, a fim de se garantir a coleta oportuna de material para a realização de cultura de Bordetella pertussis.
A ficha de investigação da coqueluche, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de
rotina. Todos os campos desta ficha devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quan-
216
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
do a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme as
necessidades e peculiaridades de cada situação.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da ficha de investigação epidemiológica relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Anotar na ficha de investigação os dados dos antecedentes epidemiológicos e clínicos
❯ Observar com atenção se o caso notificado enquadra-se na definição de caso suspeito de coqueluche;
❯ Acompanhar a evolução do caso e o resultado da cultura de Bordetella pertussis.
6
Para identificação da área de transmissão
• Verificar se no local de residência, creche ou na escola há indícios de outros casos
suspeitos. Quando não se identificar casos nestes locais, interrogar sobre deslocamentos e permanência em outras áreas.
C
Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares
ou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade.
Para determinação da extensão da área de transmissão
• Busca ativa de casos
❯ Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a
busca ativa de outros casos, casa a casa, na creche, escola, local de trabalho e em
unidades de saúde.
Investigação de comunicantes
Define-se como comunicante qualquer pessoa exposta a um caso de coqueluche, entre
o início do período catarral até três semanas após o início do período paroxístico da
doença (período de transmissibilidade).
• A investigação de comunicantes deve ser feita na residência, creche, escola e outros
locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.
• Identificar os comunicantes com tosse.
• Coletar material de nasofaringe dos comunicantes com tosse, a fim de realizar cultura de Bordetella pertussis (Anexo 3).
• Verificar a situação vacinal dos comunicantes, considerando doses registradas na
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
217
Coqueluche
caderneta de vacinação e, se necessário, atualizar o esquema vacinal dos menores de
sete anos com a vacina DTP.
• Preencher os campos referentes aos dados dos comunicantes na ficha de investigação da coqueluche.
• Manter a área sob vigilância até 42 dias após a identificação do último caso (período
máximo de incubação observado).
Coleta e remessa de material para exames
• Rotineiramente, deve-se coletar material de nasofaringe dos casos suspeitos atendidos nas unidades sentinelas previamente determinadas, a fim de identificar a circulação da Bordetella pertussis.
Atenção
Priorizar os casos em que a antibioticoterapia ainda não foi instituída ou que estão em
uso de antimicrobiano há menos de 3 dias.
• Em situações de surto de síndrome coqueluchóide, deve-se coletar material de nasofaringe para realização de cultura. Na impossibilidade de coletar material de todos
os casos, o que sobrecarregaria a vigilância e o laboratório, selecionar uma amostra
adequada de pacientes, considerando:
❯ tempo da doença – coletar espécime clínico de casos em fase aguda da doença,
ou seja, com menos de quatro semanas de evolução;
❯ tempo de uso de antibiótico – priorizar os casos em que a antibioticoterapia ainda
não foi instituída ou que estão em uso de antimicrobiano há menos de três dias;
❯ distribuição dos casos – coletar casos de pontos distintos, como, por exemplo,
diferentes creches, aldeias, salas de aula, etc.
• É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a coleta de
material para exame, de acordo com a organização de cada local.
• É fundamental que a coleta seja feita por pessoal devidamente treinado.
Atenção
Não se deve aguardar os resultados dos exames para a instituição do tratamento, desencadeamento das medidas de controle e outras atividades da investigação, embora sejam
imprescindíveis para confirmar os casos e nortear o encerramento das investigações.
Análise de dados
A análise dos dados tem como objetivo proporcionar conhecimentos atualizados sobre características epidemiológicas no que diz respeito, principalmente, a distribuição da
incidência por áreas geográficas e grupos etários, taxa de letalidade e eficiência dos programas de vacinação, bem como a detecção de possíveis falhas operacionais da atividade
218
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
de controle da doença na área. Portanto, quando da ocorrência de surtos faz-se necessário
sistematizar as informações em tabelas e gráficos, considerando critérios de confirmação do
diagnóstico, proporção de casos em vacinados, padrões de distribuição da doença e cobertura vacinal. A consolidação dos dados, considerando-se as características de pessoa, tempo
e lugar, permitirá uma caracterização detalhada da situação epidemiológica.
Encerramento de casos
As fichas de investigação de cada caso devem ser analisadas considerando-se as seguintes alternativas utilizadas para o diagnóstico:
• critério laboratorial – o isolamento da Bordetella pertussis classifica o caso como
confirmado;
• critério epidemiológico – o vínculo epidemiológico do caso suspeito com outros
casos confirmados de coqueluche pelo critério laboratorial classifica o diagnóstico
como caso confirmado;
• critério clínico – caso suspeito de coqueluche com resultado de hemograma com
leucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 mil
linfócitos/mm3), com resultado de cultura negativa ou não realizada, mesmo sem a
demonstração de vínculo epidemiológico com outro caso confirmado laboratorialmente, desde que não se confirme outra etiologia, classifica o diagnóstico como caso
confirmado;
• descartado – caso suspeito não confirmado por nenhum dos critérios descritos anteriormente.
6
C
Relatório final
As investigações de surtos devem ser sumarizadas em um relatório com as principais
conclusões, dentre as quais destacam-se:
• se o surto foi decorrente de falhas vacinais;
• que ações de prevenção foram adotadas e quais as que devem ser mantidas a curto e
médio prazos na área;
• avaliação da magnitude do problema e da adequação das medidas adotadas, visando
impedir a continuidade de transmissão da doença;
• condições do programa de imunização na área, principalmente com referência à
manutenção de elevadas e homogêneas coberturas vacinais, conservação e aplicação
da vacina utilizada;
• avaliação da situação da vigilância da doença na área;
• medidas adotadas para superar os problemas do programa de imunização, quando
pertinentes;
• medidas adotadas em relação à vigilância: busca ativa de casos, definição de fluxo
de vigilância para a área, definição de conduta para identificação e investigação de
outros surtos e capacitação de pessoal para coleta e transporte de material.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
219
Coqueluche
Quando a doença manifestar-se apenas sob a forma endêmica, a cada final de ano
deve-se elaborar um relatório contendo informações sobre o desempenho operacional da
vigilância epidemiológica (Anexo 4), tendência temporal, distribuição espacial da doença,
cobertura vacinal em menores de um ano e homogeneidade.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
A medida de controle da coqueluche, de interesse prático em saúde pública, é a vacinação dos suscetíveis na rotina da rede básica de saúde.
A vacina contra a coqueluche deve ser aplicada mesmo em crianças com histórico
anterior da doença. A DTP (tríplice bacteriana) ou DTPa (tríplice acelular) é recomendada até a idade de seis anos (6 anos, 11 meses e 29 dias), sendo que a vacina
combinada DTP+Hib é preconizada para os menores de um ano, pelo Ministério
da Saúde.
Considera-se pessoa adequadamente vacinada quem recebeu três doses de vacina
DTP (contra difteria, tétano e coqueluche) ou DTP+Hib (contra difteria, tétano e coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae), a partir de dois meses de
vida, com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as doses (o ideal é intervalo de dois meses)
e com 1º reforço aplicado no prazo de 6 a 12 meses após a 3ª dose e o 2º reforço com 4-6
anos de idade.
• Vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche)
❯ A eficácia da vacina DTP varia de acordo com o componente, a saber: 80%-90%
para difteria; 75%-80% para coqueluche e 100% para tétano. A imunidade conferida pela vacina não é permanente e decresce com o tempo. Em média, de 5 a 10
anos após a última dose da vacina a proteção pode ser pouca ou nenhuma.
❯ Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de dois meses de idade até 6 anos
completos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação do Programa
Nacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação)
❯ Contra-indicações: crianças com quadro neurológico em atividade; reação anafilática após o recebimento de qualquer dose da vacina; história de hipersensibilidade aos componentes da vacina; encefalopatia nos primeiros sete dias após a
aplicação de uma dose anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões até 72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório,
com choque ou episódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da vacina (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
❯ Eventos adversos: a maioria dos eventos pós-vacinação com DTP são de caráter
benigno e ocorrem nas primeiras 48 horas após a aplicação da vacina. São co-
220
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
muns reações locais (vermelhidão, calor, endurecimento e edema, acompanhados
ou não de dor) e sistêmicas (febre, irritabilidade e sonolência, por exemplo). Menos freqüentemente, podem ocorrer reações como choro persistente e inconsolável, episódio hipotônico-hiporresponsivo e convulsão (vide Manual de Vigilância
Epidemiológica dos Eventos Adversos Pós-Vacinação).
• Vacina tetravalente – DTP+Hib (contra difteria, tétano, coqueluche e infecções
graves causadas pelo Haemophilus influenzae)
❯ De acordo com o calendário nacional de vacinação (Portaria MS nº 597, de
8/4/04), é indicada a aplicação de três doses da vacina tetravalente nas crianças
menores de um ano. Esta vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC, podendo
ser utilizada por cinco dias após a reconstituição (vide Nota Técnica Introdução
da Vacina Tetravalente, da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações);
❯ Deve ser aplicada por via intramuscular profunda, sendo que a via subcutânea
deve ser utilizada em crianças com trombocitopenia ou distúrbios de sangramento (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
❯ Contra-indicações – reação anafilática grave ao mesmo produto ou qualquer de
seus componentes; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicação de uma
dose anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões até
72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório; com choque ou
com episódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da
vacina; quadro neurológico em atividade (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
❯ Eventos adversos – os sintomas locais mais freqüentes relatados nas primeiras
48 horas são dor, eritema, edema e/ou calor e enduração. Os sintomas sistêmicos
relatados em igual período desaparecem espontaneamente, dentre os quais febre,
perda de apetite, agitação, vômito, choro persistente, mal-estar geral e irritabilidade. Menos freqüentemente, pode ocorrer sonolência, choro prolongado e incontrolável, convulsões e síndrome hipotônica-hiporresponsiva. Relatos de reações
alérgicas, incluindo as anafiláticas, são raros (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
6
C
• Vacina DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche acelular)
❯ Esta vacina está disponível somente nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Crie) e é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos (6
anos, 11 meses e 29 dias) que apresentaram os seguintes eventos adversos após o
recebimento de qualquer uma das doses da vacina DTP: convulsão nas primeiras
72 horas ou episódio hipotônico-hiporresponsivo nas primeiras 48 horas (vide
Manual de Procedimentos para Vacinação).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
221
Coqueluche
❯
❯
❯
Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de dois meses de idade até 6 anos
completos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação do Programa
Nacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
Contra-indicações – reação anafilática após o recebimento de qualquer dose da
vacina acelular ou celular (DTP); história de hipersensibilidade aos componentes
da vacina; ocorrência de encefalopatia nos primeiros sete dias após a administração da vacina acelular ou da celular (DTP) (vide Manual de Procedimentos para
Vacinação).
Eventos adversos – os eventos adversos locais e sistêmicos leves das vacinas acelulares são os mesmos das vacinas celulares, porém com menor freqüência e intensidade. Raramente, pode ocorrer febre > 40ºC; convulsões febris, choro com 3
horas ou mais de duração e episódios hipotônico-hiporresponsivos (vide Manual
dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais).
• Recomendações para vacinação
❯ Rotina – o Ministério da Saúde preconiza a administração de três doses da vacina DTP+Hib, a partir de 2 meses de vida, com intervalo de 60 dias entre as
doses. Doses subseqüentes da vacina DTP deverão ser aplicadas aos 15 meses (1º
reforço) e aos 4-6 anos de idade (2º reforço).
Esquema recomendado para as vacinas DTP+Hib e DTP
Vacina
DTP+Hib
DTP
Dose
Idade
Intervalo entre as doses
1ª dose
2 meses
8 semanas
2ª dose
4 meses
8 semanas
3ª dose
6 meses
8 semanas
1º reforço
15 meses
2º reforço
4-6 anos
6 a 12 meses
após a 3ª dose
Fonte: Ministério da Saúde. Portaria nº 597, de 8/4/04.
❯
Casos isolados e surtos – proceder a vacinação seletiva da população susceptível, visando aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência dos casos.
Controle da fonte de infecção
Medidas gerais para pacientes hospitalizados
Isolamento – recomenda-se isolamento tipo respiratório por gotículas durante o período de transmissibilidade, a fim de reduzir o risco da transmissão para outras crianças
expostas. Especial atenção deve ser dada aos lactentes, a fim de evitar o contágio.
Quarto privativo – enquanto o paciente estiver transmitindo a bactéria. Pode haver
compartilhamento com mais de um paciente com o mesmo diagnóstico. O quarto deve ser
mantido com a porta fechada.
222
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
Lavagem de mãos – deve ser feita antes e após o contato com o paciente, após a retirada das luvas, de máscara e quando houver contato com materiais utilizados pelo paciente.
Uso de máscara – recomenda-se o uso de máscara comum para todos os que entram
no quarto. Após o uso, deve ser descartada em recipiente apropriado e o indivíduo deve
lavar as mãos.
Transporte do paciente – deve ser limitado ao mínimo possível e, quando realizado, o
paciente deverá usar máscara comum.
Limpeza e desinfecção – recomenda-se desinfecção concorrente e terminal dos objetos
contaminados com as secreções nasofaríngeas. A solução indicada é o hipoclorito de sódio
a 1%. Após a desinfecção, os objetos devem ser enxaguados em água corrente. Objetos de
metal podem ser desinfetados com álcool etílico a 70%.
Medidas gerais para pacientes não hospitalizados
Os pacientes não hospitalizados devem ser afastados de suas atividades habituais (creche, escola, trabalho):
• por pelo menos cinco dias após o início de tratamento com antimicrobiano;
• nos casos não submetidos à antibioticoterapia o tempo de afastamento deve ser de
três semanas após o início dos paroxismos.
6
C
Controle dos comunicantes
Vacinação
Os comunicantes íntimos, familiares e escolares, menores de sete anos não vacinados,
inadequadamente vacinados ou com situação vacinal desconhecida deverão receber uma
dose da vacina contra a coqueluche e orientação de como proceder para completar o esquema de vacinação.
Importante
Para os menores de um ano, indica-se a vacina DTP+Hib; para as crianças com idade
entre 1 ano e 6 anos completos (6 anos, 11 meses e 29 dias), a vacina DTP.
Quimioprofilaxia – indicações
• Comunicantes íntimos menores de 1 ano, independente da situação vacinal e de
apresentar quadro de tosse.
• Comunicantes íntimos menores de 7 anos não vacinados, com situação vacinal desconhecida ou que tenham tomado menos de 4 doses da vacina DTP ou DTPa.
• Comunicantes adultos que trabalham em profissões que envolvem o contato direto
e freqüente com menores de 1 ano ou imunodeprimidos devem, após o início do
uso do antimicrobiano, ser submetidos a quimioprofilaxia e afastados das atividades
junto às crianças por 5 dias.
• Comunicantes adultos que residam com menores de 1 ano.
• Comunicantes íntimos que são pacientes imunodeprimidos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
223
Coqueluche
Medicamentos indicados para a quimioprofilaxia
• O medicamento de escolha é a eritromicina (de preferência o estolato), na dose
de 40 a 50 mg/kg/dia (máximo de 2 gramas/dia), dividida em 4 doses iguais, durante
10 dias.
• No caso de intolerância à eritromicina pode-se usar sulfametoxazol+trimetoprim
(SMZ+TMP), por via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias, na seguinte dosagem:
❯ crianças: 40mg (SMZ)/kg/dia e 8mg (TMP)/kg/dia. Com a ressalva de que a
segurança e a eficácia de SMZ+TMP nos menores de 2 meses não está bem
definida;
❯ adultos e crianças com mais de 40 kg: 800mg (SMZ)/dia e 160mg (TMP)/
dia, de 12 em 12 horas.
A imunoglobulina humana não tem valor profilático ou terapêutico comprovado.
Ações de educação em saúde
As pessoas devem ser informadas quanto a importância da vacinação como medida de
prevenção e controle da coqueluche. Deve-se dar ênfase à necessidade de se administrar o
número de doses preconizado pelo calendário vigente.
Também deve ser ressaltada a importância da procura aos serviços de saúde se forem
observadas as manifestações que caracterizam a definição de caso suspeito de coqueluche.
224
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
Anexo 1
Fluxograma da vigilância da coqueluche – 1ª parte
Caso suspeito
Caso isolado
Surto
Atendido em
unidade sentinela?
6
Não
Sim
Notificação
Investigação
laboratorial*
Notificação
imediata
Investigação
imediata
Preenchimento
da Ficha de
Investigação
Epidemiológica
Coleta de
secreção
nasofaríngea
do caso para
realizar cultura
Vacinação
seletiva com DTP
ou DTP+HiB,
na área de
residência, escola,
creche, trabalho
Busca ativa
de outros
casos na área de
residência, escola,
creche, trabalho
C
Investigação
dos comunicantes
Coleta de secreção nasofaríngea
de comunicantes com tosse
Verificar situação dos comunicantes
e vacinar, se necessário
Realizar quimioprofilaxia
dos comunicantes, conforme
orientado no Guia
*Opcional
Manter área sob
vigilância por 42 dias
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225
Coqueluche
Anexo 2
Fluxograma da vigilância da coqueluche – 2ª parte
Caso suspeito
Caso isolado
Surto
Notificação
imediata
Preenchimento
da Ficha de
Investigação
Epidemiológica
Coleta de secreção
nasofaríngea
dos casos para
realizar cultura
Vacinação seletiva
com DTP
ou DTP+HiB,
na área
Busca ativa
de outros
casos na área
Investigação
imediata
Investigação dos
comunicantes
Elaboração de
relatório final
Coleta de secreção nasofaríngea
de comunicantes com tosse
Verificar situação dos comunicantes
e vacinar, se necessário
Realizar quimioprofilaxia
dos comunicantes,
conforme orientado no Guia
Manter área sob
vigilância por 42 dias
226
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Coqueluche
Anexo 3
Diagnóstico laboratorial da coqueluche
Pelo seu alto grau de especificidade, a técnica da cultura para o isolamento da Bordetella pertussis da secreção nasofaríngea é considerada como “padrão-ouro” para o diagnóstico laboratorial da coqueluche, embora sua sensibilidade seja variável. Como a Bordetella
pertussis apresenta um tropismo pelo epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a
partir da secreção nasofaríngea. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes do
início da antibioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias após seu início.
Em condições ideais, a probabilidade de crescimento da bactéria é em torno de 60% a
76%. Interferem no crescimento bacteriano nas culturas:
• uso de antimicrobianos;
• coleta realizada após a fase aguda, pois é raro o crescimento após a 4ª semana da
doença;
• uso de swab com algodão não alginatado, pois este material interfere no crescimento da Bordetella pertussis;
• coleta e transporte inadequados.
6
C
Em relação aos testes sorológicos, até o momento não se dispõem de testes adequados
nem padronizados. Os novos métodos em investigação apresentam limitações na interpretação, sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade.
É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos, produtos bacterianos ou seqüências genômicas de Bordetella pertussis são aplicáveis ao diagnóstico da fase
aguda.
1. Coleta de secreção nasofaríngea
• Realizar preferencialmente na fase aguda da doença.
• Realizar antes do início do tratamento com antimicrobiano ou, no máximo, até
três dias após instituição.
• Utilizar swab fino com haste flexível, estéril e alginatado.
• Retirar os tubos com meio de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperatura ambiente.
• Coletar o material de uma narina.
• Utilizar um tubo de ensaio com meio de transporte específico (Regan-Lowe),
com antibiótico.
• Identificar o tubo com o nome e idade, indicando se é caso suspeito ou comunicante, bem como a data e horário da coleta.
• Introduzir o swab na narina até encontrar resistência na parede posterior da nasofaringe. Manter o swab em contato com a nasofaringe por cerca de 10 segundos
e, em seguida, retirá-lo.
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227
Coqueluche
• Após a coleta, estriar o swab na superfície levemente inclinada do tubo (+ 2cm)
e, a seguir, introduzir na base do meio de transporte.
Atenção
• O swab deve permanecer dentro do respectivo tubo.
2. Transporte do material coletado
• O material deverá ser encaminhado ao laboratório imediatamente após a coleta,
em temperatura ambiente. Cada espécime clínico deverá ser acompanhado da
ficha de encaminhamento de amostra ou de cópia da ficha de investigação epidemiológica da coqueluche, conforme definição no âmbito estadual. Se a opção for
a ficha de investigação epidemiológica, deve-se anotar se o material (espécime
clínico) é do caso ou de comunicante.
• Na impossibilidade do envio imediato após a coleta, incubar em estufa bacteriológica com umidade à temperatura de 35ºC a 37ºC por um período máximo de
48 horas. Encaminhar, em seguida, à temperatura ambiente.
• Se o período de transporte do material pré-incubado exceder 4 horas ou se a
temperatura ambiente local for elevada (> 35ºC), recomenda-se o transporte sob
refrigeração, à temperatura de 4ºC.
Atenção
• Os tubos com meio de transporte que não forem utilizados no mesmo dia devem
ser mantidos na geladeira até o momento da coleta.
• Verificar, sempre, o prazo de validade do meio de transporte antes de utilizá-lo.
• Estabelecer com o laboratório uma rotina referente ao envio de amostras (horário
e local de entrega de material), fluxo de resultados e avaliação periódica da qualidade das amostras enviadas, bem como outras questões pertinentes.
Meio de transporte com antibiótico
228
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Coqueluche
Anexo 4
Indicadores operacionais da vigilância da coqueluche
Nº
Indicador
Cálculo
Nº de casos investigados
1
Percentual de casos investigados
X 100
Nº de casos notificados pelas unidades sentinelas
2
3
Percentual de casos investigados
oportunamente (investigação
realizada nas primeiras 72 horas
após a notificação)
Percentual de casos notificados
com coleta oportuna de material
para cultura (amostra de secreção
de nasofaringe coletada em
até três dias após o início da
antibioticoterapia)
Nº de casos investigados em 72 horas
X 100
Nº de casos notificados pelas unidades sentinelas
6
Nº de casos com coleta de material oportuna
X 100
Nº de casos notificados pelas unidades sentinelas
C
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229
Coqueluche
Anexo 5
Ficha de encaminhamento de espécime clínico
para diagnóstico laboratorial da coqueluche
230
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Dengue
DENGUE
CID 10: A90
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma
como se apresente: infecção inaparente, dengue clássico (DC), febre hemorrágica da dengue (FHD) ou síndrome do choque da dengue (SCD). Atualmente, é a mais importante
arbovirose que afeta o ser humano e constitui sério problema de saúde pública no mundo.
Ocorre e dissemina-se especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito
vetor.
6
Agente etiológico
É um vírus RNA. Arbovírus do gênero Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae.
São conhecidos quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4.
D
Reservatório
A fonte da infecção e reservatório vertebrado é o ser humano. Foi descrito na Ásia e na
África um ciclo selvagem envolvendo macacos.
Vetores
São mosquitos do gênero Aedes. A espécie Aedes aegypti é a mais importante na transmissão da doença e também pode ser transmissora da febre amarela urbana. O Aedes albopictus, já presente nas Américas, com ampla dispersão nas regiões Sudeste e Sul do Brasil,
é o vetor de manutenção da dengue na Ásia mas até o momento não foi associado à transmissão da dengue nas Américas.
Modo de transmissão
A transmissão se faz pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, no ciclo ser humanoAedes aegypti-ser humano. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito está apto a
transmitir o vírus depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica
também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, se alimenta num hospedeiro susceptível próximo. Não há transmissão por contato direto de um
doente ou de suas secreções com pessoa sadia, nem por intermédio de água ou alimento.
Período de incubação
Varia de 3 a 15 dias, sendo em média de 5 a 6 dias.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
231
Dengue
Período de transmissibilidade
O período de transmissibilidade da doença compreende dois ciclos: um intrínseco,
que ocorre no ser humano, e outro extrínseco, que ocorre no vetor.
A transmissão do ser humano para o mosquito ocorre enquanto houver presença de
vírus no sangue do ser humano (período de viremia). Este período começa um dia antes do
aparecimento da febre e vai até o 6º dia da doença.
No mosquito, após um repasto de sangue infectado, o vírus vai se localizar nas glândulas salivares da fêmea do mosquito, onde se multiplica depois de 8 a 12 dias de incubação.
A partir deste momento, é capaz de transmitir a doença e assim permanece até o final de
sua vida (6 a 8 semanas).
Imunidade e susceptibilidade
A susceptibilidade ao vírus da dengue é universal. A imunidade é permanente para um
mesmo sorotipo (homóloga). Entretanto, a imunidade cruzada (heteróloga) existe temporariamente. A fisiopatogenia da resposta imunológica à infecção aguda por dengue pode ser
primária e secundária. A resposta primária ocorre em pessoas não expostas anteriormente
ao flavivírus, e o título dos anticorpos se eleva lentamente. A resposta secundária ocorre em
pessoas com infecção aguda por dengue, mas que tiveram infecção prévia por flavivírus, e
o título de anticorpos se eleva rapidamente, atingindo níveis altos.
A susceptibilidade, em relação à FHD, não está totalmente esclarecida. Três teorias
mais conhecidas tentam explicar sua ocorrência:
• teoria de Rosen – relaciona o aparecimento de FHD à virulência da cepa infectante,
de modo que as formas mais graves sejam resultantes de cepas extremamente virulentas;
• teoria de Halstead – relaciona a FHD com infecções seqüenciais por diferentes sorotipos do vírus da dengue, após um período de 3 meses a 5 anos. Nessa teoria, a
resposta imunológica, na segunda infecção, é exacerbada, o que resulta numa forma
mais grave da doença;
• teoria integral de multicausalidade – tem sido proposta por autores cubanos, segundo a qual se aliam vários fatores de risco às teorias de infecções seqüenciais e de
virulência da cepa. A interação desses fatores de risco promoveria condições para a
ocorrência da FHD:
❯ fatores individuais – menores de 15 anos e lactentes, adultos do sexo feminino,
raça branca, bom estado nutricional, presença de enfermidades crônicas (diabetes, asma brônquica, anemia falciforme), preexistência de anticorpos, intensidade
da resposta imune anterior;
❯ fatores virais – sorotipos circulantes e virulência das cepas;
❯ fatores epidemiológicos – existência de população susceptível, circulação simultânea de dois ou mais sorotipos, presença de vetor eficiente, alta densidade vetorial, intervalo de tempo calculado entre 3 meses e 5 anos entre duas infecções
por sorotipos diferentes, seqüência das infecções (DEN-2 secundário aos outros
sorotipos), ampla circulação do vírus.
232
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A infecção por dengue causa uma doença cujo espectro inclui desde formas oligo ou
assintomáticas, até quadros com hemorragia e choque, podendo evoluir para óbito.
Dengue clássico (DC) – a primeira manifestação é a febre alta (39° a 40°C), de início
abrupto, seguida de cefaléia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia, dor retroorbital, náuseas, vômitos, exantema, prurido cutâneo. Hepatomegalia dolorosa pode ocorrer,
ocasionalmente, desde o aparecimento da febre. Alguns aspectos clínicos dependem da
idade do paciente. Desse modo, dor abdominal generalizada tem sido observada mais freqüentemente entre crianças e manifestações hemorrágicas como petéquias, epistaxe, gengivorragia e metrorragia têm sido relatadas mais freqüentemente entre adultos, ao fim do
período febril. A doença tem duração de 5 a 7 dias, mas o período de convalescença pode
ser acompanhado de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas.
Febre hemorrágica da dengue (FHD) – os sintomas iniciais são semelhantes aos do
DC, porém há um agravamento do quadro no terceiro ou quarto dias de evolução, com
aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório. A fragilidade capilar
é evidenciada pela positividade da prova do laço*. Outras manifestações hemorrágicas incluem petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia, hemorragia em diversos órgãos (gastrintestinal, intracraniana, etc.) e hemorragia espontânea pelos locais de punção venosa.
Nos casos graves de FHD, o choque geralmente ocorre entre o 3º e 7º dias de doença, geralmente precedido por dor abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória. É de curta duração e pode
levar a óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada.
Caracteriza-se por pulso rápido e fraco, com diminuição da pressão de pulso e arterial,
extremidades frias, pele pegajosa e agitação. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade.
6
D
*A prova do laço, que não pode ser realizada com garrote ou torniquete, consiste em
se obter, através do esfigmomanômetro, o ponto médio entre a pressão arterial máxima e mínima do paciente, mantendo-se esta pressão por 5 minutos; quando positiva,
aparecem petéquias sob o aparelho ou abaixo do mesmo. Se o número de petéquias
for de 20 ou mais por polegada (um quadrado com 2,5 cm de lado), a prova é considerada fortemente positiva.
A Organização Mundial da Saúde definiu um critério de classificação das formas de
FHD, em 4 categorias, de acordo com o grau de gravidade:
• Grau I – febre acompanhada de sintomas inespecíficos, em que a única manifestação hemorrágica é a prova do laço positiva;
• Grau II – além das manifestações constantes do Grau I, somam-se hemorragias
espontâneas (sangramentos de pele, petéquias, epistaxe, gengivorragia e outras);
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
233
Dengue
• Grau III – colapso circulatório com pulso fraco e rápido, diminuição da pressão
arterial ou hipotensão, pele pegajosa e fria e inquietação;
• Grau IV – choque profundo, com pressão arterial e pulso imperceptíveis (síndrome
do choque da dengue).
O Anexo 2 apresenta um roteiro para o diagnóstico e manejo clínico do paciente com
dengue.
Diagnóstico diferencial
Dengue clássico (DC) – a dengue tem um amplo espectro clínico, mas as principais
doenças a serem consideradas no diagnóstico diferencial são gripe, rubéola, sarampo e outras infecções virais, bacterianas e exantemáticas. Além das doenças citadas, outros agravos
devem ser considerados de acordo com a situação epidemiológica da região.
Febre hemorrágica da dengue (FHD) – no início da fase febril, o diagnóstico diferencial deve ser feito com outras infecções virais e bacterianas e, a partir do 3º ou 4º dias,
com choque endotóxico decorrente de infecção bacteriana ou meningococcemia. Outras
doenças com as quais deve-se fazer o diagnóstico diferencial são leptospirose, febre amarela, malária, hepatite infecciosa, influenza, bem como outras febres hemorrágicas, transmitidas por mosquitos ou carrapatos.
Diagnóstico laboratorial
Exames específicos – isolamento do agente ou métodos sorológicos que demonstram
a presença de anticorpos da classe IgM, em única amostra de soro, ou o aumento do título
de anticorpos IgG (conversão sorológica) em amostras pareadas (ver normas e procedimentos no Anexo 1).
Exames inespecíficos – hematócrito e plaquetometria são os mais importantes para
o diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com manifestações hemorrágicas e para
pacientes em situações especiais: gestante, idoso (>65 anos), hipertensão arterial, diabete
melito, asma brônquica, doença hematológica ou renal crônicas, doença severa do sistema
cardiovascular, doença ácido-péptica ou doença auto-imune. Suas interpretações são descritas no Anexo 2.
Tratamento
Dengue clássico – o tratamento é sintomático (analgésicos e antipiréticos) e pode ser
feito no domicílio, com orientação para retorno ao serviço de saúde após 48 a 72 horas do
início dos sintomas. Indica-se hidratação oral com aumento da ingesta de água, sucos, chás,
soros caseiros, etc. Não devem ser usados medicamentos com ou derivados do ácido acetilsalicílico e antiinflamatórios não hormonais, por aumentar o risco de hemorragias.
Febre hemorrágica da dengue – existe uma progressão do dengue clássico para a FHD,
e a conduta frente ao paciente depende dos sinais clínicos e evolução da hemoconcentração.
Para facilitar o tratamento desta enfermidade, um roteiro de manejo do paciente com suspeita desta forma da doença encontra-se descrito no Anexo 2.
234
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
Aspectos epidemiológicos
Tem sido observado um padrão sazonal de incidência coincidente com o verão, devido
à maior ocorrência de chuvas e aumento da temperatura nessa estação. É mais comum nos
núcleos urbanos, onde é maior a quantidade de criadouros naturais ou resultantes da ação
do ser humano. Entretanto, a doença pode ocorrer em qualquer localidade desde que exista
população humana susceptível, presença do vetor e o vírus seja introduzido.
Nas Américas – a dengue tem sido relatada nas Américas há mais de 200 anos. Na
década de 50, a FHD foi descrita, pela primeira vez, nas Filipinas e Tailândia. Após a década de 60, a circulação do vírus da dengue intensificou-se nas Américas. A partir de 1963,
houve circulação comprovada dos sorotipos 2 e 3 em vários países. Em 1977, o sorotipo 1
foi introduzido nas Américas, inicialmente pela Jamaica. A partir de 1980, foram notificadas epidemias em vários países, aumentando consideravelmente a magnitude do problema.
Cabe citar: Brasil (1982/1986-2002), Bolívia (1987), Paraguai (1988), Equador (1988), Peru
(1990) e Cuba (1977/1981). A FHD afetou Cuba em 1981, evento de extrema importância
na história da dengue nas Américas. Essa epidemia foi causada pelo sorotipo 2, tendo sido o
primeiro relato de febre hemorrágica da dengue ocorrido fora do Sudeste Asiático e Pacífico
Ocidental. O segundo surto ocorreu na Venezuela, em 1989.
No Brasil – há referências de epidemias desde o século XIX. No século passado há relatos
em 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro, sem diagnóstico laboratorial.
A primeira epidemia, documentada clínica e laboratorialmente, ocorreu em 1981-1982, em
Boa Vista/Roraima, causada pelos sorotipos 1 e 4. Em 1986, ocorreram epidemias no Rio de
Janeiro e algumas capitais da região Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo no Brasil
de forma continuada, intercalando-se com a ocorrência de epidemias, geralmente associadas
com a introdução de novos sorotipos em áreas anteriormente indenes. Na epidemia de 1986,
identificou-se a ocorrência da circulação do sorotipo DEN1, inicialmente no estado do Rio de
Janeiro, disseminando-se, a seguir, para outros seis estados até 1990. Nesse ano, foi identificada a circulação de um novo sorotipo, o DEN 2, também no estado do Rio de Janeiro.
Durante a década de noventa, ocorreu aumento significativo da incidência, reflexo da
ampla dispersão do Aedes aegypti no território nacional. A presença do vetor associada à
mobilidade da população levou à disseminação dos sorotipos 1 e 2 para 20 dos 27 estados
do país. Entre os anos de 1990 e 2000, várias epidemias foram registradas, sobretudo nos
grandes centros urbanos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, responsáveis pela maior
parte dos casos notificados. As regiões Centro-Oeste e Norte foram acometidas mais tardiamente, pois as epidemias de dengue só foram registradas a partir da segunda metade da
década de 90. A maior incidência da doença foi observada em 2002, quando foram registrados cerca de 790 mil casos.
A circulação do sorotipo 3 do vírus foi identificada, pela primeira vez, em dezembro de
2000, também no estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, no estado de Roraima, em novembro de 2001. Desde o início da epidemia de 2002 observava-se a rápida dispersão do sorotipo 3 para outros estados: no primeiro semestre de 2004, por exemplo, 23 dos 27 estados
do país já apresentavam a circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus da dengue.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
D
235
Dengue
Casos notificados por região e incidência de dengue. Brasil, 1986-2003
1.000
Casos notificados x 1 mil
Incidência (100 mil hab.)
500
800
400
600
300
400
200
200
0
100
86
87
88
89
90
N
91
NE
92
93
SE
94
S
95
96
CO
97
98
99
00
01
02
03
0
Incidência
Fonte: CGPNCD/Diges/SVS/MS
Vigilância epidemiológica
Objetivos
•
•
•
•
•
Evitar a ocorrência das infecções pelo vírus da dengue em áreas livres de circulação.
Detectar precocemente as epidemias.
Controlar as epidemias em curso.
Reduzir o risco de transmissão da dengue nas áreas endêmicas.
Reduzir a letalidade de FHD/SCD, mediante diagnóstico precoce e tratamento oportuno e adequado.
Definição de caso
Caso suspeito de dengue clássico – paciente que tenha doença febril aguda, com duração máxima de 7 dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaléia,
dor retroorbital, mialgia, artralgia, prostração, exantema. Além desses sintomas, deve ter
estado nos últimos quinze dias em área onde esteja ocorrendo transmissão de dengue ou
tenha a presença de Aedes aegypti.
Caso suspeito de FHD – é todo caso suspeito de dengue clássico que também apresente manifestações hemorrágicas, variando desde prova do laço positiva até fenômenos mais
graves como hematêmese, melena e outros. A ocorrência de manifestações hemorrágicas,
acrescidas de sinais e sintomas de choque cardiovascular (pulso arterial fino e rápido ou
236
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
ausente, diminuição ou ausência de pressão arterial, pele fria e úmida, agitação), levam à
suspeita de síndrome de choque.
Caso confirmado de dengue clássico – é o caso confirmado laboratorialmente. No curso de uma epidemia, a confirmação pode ser feita através de critério clínico-epidemiológico,
exceto nos primeiros casos da área, que deverão ter confirmação laboratorial.
Caso confirmado de FHD – é o caso em que todos os critérios abaixo estão presentes:
• febre ou história de febre recente, com duração de 7 dias ou menos;
• trombocitopenia (< = 100 mil/mm3);
• tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais dos seguintes sinais: prova
do laço positiva, petéquias, equimoses ou púrpuras e sangramentos de mucosas, do
trato gastrointestinal e outros;
• extravasamento de plasma, devido ao aumento de permeabilidade capilar, manifestado por: hematócrito apresentando um aumento de 20% do valor basal (valor do
hematócrito anterior à doença) ou valores superiores a: 45% em crianças; 48% em
mulheres e 54% em homens; ou queda do hematócrito em 20%, após o tratamento;
ou presença de derrame pleural, ascite e hipoproteinemia;
• confirmação laboratorial específica.
6
D
Caso de dengue com complicações – é todo caso que não se enquadre nos critérios de
FHD e a classificação de dengue clássico é insatisfatória, dada a gravidade do quadro clínico-laboratorial apresentado. Nessa situação, a presença de um dos itens a seguir caracteriza o quadro: alterações neurológicas; disfunção cardiorrespiratória; insuficiência hepática;
plaquetopenia igual ou inferior a 50 mil/mm3; hemorragia digestiva; derrames cavitários;
leucometria global igual ou inferior a 1 mil/mm3; óbito.
Caso descartado
• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo (2 resultados negativos, amostras pareadas IgM), desde que se comprove que as amostras foram coletadas e transportadas adequadamente.
• Caso suspeito de dengue com diagnóstico laboratorial de outra entidade clínica.
• Caso suspeito, sem exame laboratorial, cujas investigações clínica e epidemiológica
são compatíveis com outras patologias.
Notificação
Por ser uma doença de notificação compulsória, todo caso suspeito e/ou confirmado
deve ser comunicado ao Serviço de Vigilância Epidemiológica, o mais rapidamente possível. Este deverá informar, imediatamente, o fato à equipe de controle vetorial local para a
adoção das medidas necessárias ao combate do vetor. Em situações epidêmicas, a coleta e
o fluxo dos dados devem permitir o acompanhamento da curva epidêmica, com vistas ao
desencadeamento e avaliação das medidas de controle.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Dengue
Primeiras medidas a serem adotadas
Atenção médica ao paciente – o atendimento dos pacientes doentes deve ser deslocado para as unidades básicas, onde deverão ter a oferta de pelo menos duas consultas, uma
inicial e outra 48 a 72 horas após. Só deverão ser referenciados para as unidades de emergência, ou de maior complexidade, os pacientes que necessitarem de hidratação venosa e
observação continuada. Os pacientes que apresentarem piora dos sinais e sintomas devem
permanecer sob tratamento e observação rigorosa nas 24 horas seguintes, pois apresentam
risco de desenvolver síndrome de choque da dengue.
Qualidade da assistência – verificar se os casos estão sendo atendidos em unidades
de saúde com capacidade para prestar atendimento adequado e oportuno. Considerar a necessidade de adequação da rede para prestar atendimento, inclusive provendo infra-estrutura para realizar hematócrito, contagem de plaquetas e hidratação venosa. Na maioria das
vezes, os pacientes que apresentam a forma clássica da doença não necessitam de cuidados
hospitalares. Entretanto, os pacientes que venham a desenvolver quadros graves ou FHD,
principalmente seguidos de choque, demandam internamento em unidades de saúde de
maior complexidade.
Proteção individual para evitar circulação viral – se o paciente estiver em centro urbano infestado por Aedes aegypti, é recomendável que sua residência possua tela nas portas
e janelas. Não é necessário isolamento, uma vez que a infecção não se transmite de pessoa a
pessoa, nem por meio dos fluidos, secreções orgânicas ou fômites.
Confirmação diagnóstica – a depender da situação epidemiológica, coletar material
para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações do Anexo I.
Proteção da população – logo que se tenha conhecimento da suspeita de casos de dengue, deve-se organizar ações de bloqueio na área provável de transmissão, visando a diminuição da população adulta de mosquitos. A adoção de medidas de controle não deve aguardar
resultados de exames laboratoriais para confirmação dos casos suspeitos.
A integração das atividades de vigilância epidemiológica e controle vetorial é de fundamental importância para o sucesso do controle da doença. É necessário que o repasse de
informações da localização dos casos suspeitos para a vigilância entomológica ocorra da
forma mais ágil possível, viabilizando ações de bloqueio em momento oportuno.
Ações de esclarecimento à população, através de meios de comunicação de massa (rádio e televisão), visitas domiciliares pelos agentes de endemias/saúde e palestras nas comunidades devem ser organizadas. Conhecimento sobre o ciclo de transmissão, gravidade da
doença e situação de risco devem ser veiculadas, assim como medidas de proteção individual, como o uso de repelentes e telas nas portas e janelas.
Investigação – envolve uma seqüência de ações diferenciadas, de acordo com a situação epidemiológica do município.
Roteiro da investigação epidemiológica
A depender da situação entomológica e de circulação prévia do vírus da dengue em
cada área, fazem-se necessárias condutas de vigilância e controle diferenciadas, que exigem
roteiros e condutas de investigação específicos.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
Área não infestada (Fluxograma 1) – o objetivo da vigilância epidemiológica (VE)
é impedir a introdução do Aedes, procurando detectar precocemente os focos (vigilância
entomológica), debelá-los em tempo hábil e fazer a vigilância de casos suspeitos, de acordo
com as definições de caso preconizadas.
• Notificar os casos, de acordo com o fluxo estabelecido para o estado.
• Solicitar a coleta de sangue e encaminhar ao laboratório de referência para confirmação laboratorial.
• Investigar o caso para detectar o local provável de infecção; no caso de suspeita de
autoctonia, solicitar à equipe de controle vetorial pesquisa de Aedes aegypti na área.
• Preencher a ficha de investigação de dengue, enviá-la ao nível hierárquico superior
e encerrar o caso.
Área infestada sem transmissão de dengue (Fluxograma 2) – o objetivo da VE é
monitorar os índices de infestação predial, acompanhando as atividades das equipes de
controle, com vistas a conhecer a distribuição geográfica do vetor e seus índices de infestação, identificando as áreas de maior risco para a introdução do vírus e acionando as
medidas pertinentes, detectando oportunamente os casos e determinando o local provável
de infecção.
Nesta situação, recomenda-se implementar a vigilância das febres agudas exantemáticas e a vigilância sorológica (realizar sorologia de dengue em pacientes com suspeita inicial
de rubéola e/ou sarampo, que tiveram resultado sorológico negativo para ambos).
Quando houver suspeita de dengue, proceder a notificação e investigação imediata de
todos os casos suspeitos.
6
D
Área com história prévia de transmissão de dengue (Fluxogramas 3 e 4) – o objetivo é detectar precocemente a circulação viral, nos períodos não-epidêmicos; e diminuir o
número de casos e o tempo de duração da epidemia nos períodos epidêmicos.
• Períodos não-epidêmicos
❯ Notificar, de acordo com o fluxo estabelecido para o estado.
❯ Investigar os casos suspeitos, com a busca ativa de casos no local de residência,
trabalho, passeio, etc., do paciente suspeito.
❯ Coletar material para sorologia de todos os pacientes suspeitos e concluir os casos.
Atentar para as normas e procedimentos de coleta, de acordo com o Anexo 1.
❯ Realizar monitoramento viral, conforme rotina estabelecida pela vigilância epidemiológica municipal/estadual e pelo Lacen.
Manter as medidas de combate ao vetor e desenvolver atividades educativas e de
participação comunitária.
❯ Investigar imediatamente os óbitos notificados para a identificação e correção
dos seus fatores determinantes.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
240
Fluxograma 1. Município não-infestado por Aedes aegypti
Caso suspeito de dengue
Atenção médica
Notificação imediata pelo meio de
comunicação mais rápido ao nível
hierárquico imediatamente superior
Coleta de sangue
para confirmação
laboratorial
Proceder a investigação
epidemiológica
Ficha de investigação
epidemiológica
Laboratório
de referência
Confirmação diagnóstica
Definir local
provável de infecção
Informar às autoridades de
saúde a área de procedência
Encerramento do caso
Solicitar pesquisa de
A. aegypti em torno
para confirmar se a área
está livre do vetor
Fluxograma 2. Município infestado porém sem transmissão de dengue
Caso(s) suspeito(s) de dengue
Notificação imediata pelo meio
de comunicação mais rápido
disponível ao nível hierárquico
imediatamente superior
Atenção
médica
Medidas
de controle
Plano de ação
para educação
e comunicação
para a
comunidade
e profissionais
Proceder a
investigação epidemiológica
Resultado
Intensificação
Coleta de sangue
para confirmação
laboratorial
Confirmação
diagnóstica
Caso
descartado
Definir
local provável
de infecção
Caso
confirmado
Encerramento
do caso
Busca ativa
de casos
Há casos
suspeitos
Comunicar ao setor
responsável pelas
medidas de controle
Não há
casos suspeitos
ALERTA DE EPIDEMIA
Em áreas com altos
índices de infestação
predial, realizar as
seguintes atividades:
tratamento focal,
tratamento por UBV
e eliminação de
criadouros potenciais
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Dengue
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Enviar para
laboratório
de referência
Educação
em saúde
6
D
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
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Fluxograma 3. Município com epidemia de dengue
Período epidêmico de dengue
Executar o plano de contingência
Organização da Atenção Médica
Garantir atenção
médica oportuna
e padronizada
– Utilizar o Guia
de Manejo Clínico
Divulgação
das características
clínicas, epidemiológicas e laboratoriais
da doença
Divulgar as
unidades de referência para casos graves
Vigilância epidemiológica
Reorganizar o fluxo de
informação, para garantir
o acompanhamento diário
ou semanal da curva
Análise ágil e sistemática
da distribuição espacial
dos casos, para orientar
as medidas de controle
Acompanhamento
dos indicadores
Definir os critérios para
coleta de amostras para
exame laboratorial
Intensificar
combate ao vetor
Educação
em saúde
• Tratamento focal
• Tratamento
por UBV
• Eliminação de
criadouros potenciais
Plano e
estratégia de ação
para educação/comunicação em saúde
Serviços
de saúde
Comunidade
Fluxograma 4. Município com transmissão endêmica de dengue
Transmissão endêmica de dengue
Notificação ao
nível hierárquico
imediatamente superior
Atenção médica aos
casos diagnosticados
Resultado
Coleta de sangue para
controle laboratorial
Medidas de controle
Educação
em saúde
• Tratamento focal
• Tratamento por UBV
• Eliminação de criadouros
potenciais
Vigilância epidemiológica
Resultado
Enviar para laboratório
de referência
Acompanhamento
da curva epidêmica
Análise com ênfase
para distribuição espacial
para orientar a adoção
das medidas de controle
Análise do impacto
das medidas de controle
243
Dengue
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Monitoramento
laboratorial para verificação
dos sorotipos circulantes
6
D
Dengue
• Períodos epidêmicos
Notificar, de acordo com o fluxo estabelecido para o estado.
Recomenda-se a realização da sorologia em apenas uma amostra dos pacientes com
dengue clássico, pois a confirmação da maioria dos casos será feita pelo critério clínicoepidemiológico após a confirmação laboratorial da circulação viral na área. Em geral, temse estabelecido que se colha um a cada dez pacientes com suspeita de dengue. A coleta é
obrigatória para 100% dos casos suspeitos de FHD e para os casos de dengue grave. Atentar
para as normas e procedimentos de coleta, de acordo com o Anexo 1.
Realizar monitoramento viral, conforme rotina estabelecida pela vigilância epidemiológica estadual/Lacen, e investigar imediatamente os óbitos notificados para a identificação
e correção dos seus fatores determinantes.
Adotar, concomitantemente, as seguintes medidas:
• organizar imediatamente a atenção médica pela rede básica de saúde;
• capacitar os profissionais de saúde, de acordo com a necessidade, no diagnóstico e
tratamento da doença, nas suas diversas apresentações clínicas;
• disponibilizar o protocolo de atendimento padronizado para toda a rede;
• divulgar as unidades de referência para casos graves;
• intensificar o combate ao Aedes;
• incrementar as atividades de educação em saúde e mobilização social;
• reorganizar o fluxo de informação para garantir o acompanhamento da curva epidêmica; analisar a distribuição espacial dos casos para orientar as medidas de controle;
acompanhar os indicadores epidemiológicos (taxa de ataque, índices de mortalidade
e letalidade) para conhecer a magnitude da epidemia e a qualidade da assistência
médica.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Casos de dengue clássico – no período não-epidêmico, preencher todos os campos
dos itens da ficha de investigação epidemiológica do Sinan, relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência, exames laboratoriais e conclusão do caso. Durante
epidemias, o município pode adotar o preenchimento apenas da notificação, não preenchendo a ficha de investigação. Essa medida visa garantir a oportunidade da notificação e
deve, obrigatoriamente, ser acordada com a secretaria estadual de saúde.
Casos de dengue com complicações e FHD – sempre preencher a ficha de investigação, com especial atenção para os campos referentes aos exames laboratoriais e conclusão
do caso. Consultar o prontuário dos casos e o médico assistente para completar as informações sobre exames laboratoriais inespecíficos realizados (principalmente plaquetas e hematócrito). Verificar e anotar se foi realizada a prova do laço e qual foi o resultado.
Busca ativa de casos graves – deve ser realizada busca ativa de casos suspeitos de FHD
nas unidades de saúde, não devendo se aguardar apenas a notificação passiva. Quando o
evento estiver ocorrendo em um grande centro urbano, além desta busca deve-se alertar os
serviços de emergências para a possibilidade de FHD e solicitar a notificação imediata dos
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
casos suspeitos ao serviço de vigilância. Este alerta facilita a busca ativa e a mensuração da
magnitude da ocorrência de casos graves.
Medidas de controle
Vigilância entomológica – as atividades de rotina têm como principal função reduzir
os criadouros do mosquito, empregando-se preferencialmente métodos mecânicos. Os larvicidas, quando indicados, devem ser empregados somente nos recipientes que não possam
ser removidos, destruídos, descartados, cobertos ou manipulados de forma que se tornem
incapazes de permitir a reprodução do vetor. As ações de rotina, além de contribuir para a
redução da infestação por Aedes aegypti, podem evitar a sua reintrodução em outras áreas.
• Determinação e/ou acompanhamento dos níveis de infestação vetorial – as atividades de vigilância entomológica devem ser executadas rotineiramente em toda a
área urbana do município, com a finalidade de levantar os índices (predial, Breteau,
recipientes, etc.) para monitoramento das ações executadas e possíveis redirecionamentos necessários. Períodos de circulação endêmica constituem momento ideal
para a adoção de medidas visando impedir epidemias futuras. A meta estabelecida
para os índices de infestação não podem ser superiores a 1% (zero é o ideal).
• Intensificação do combate ao vetor – as atividades de emergência devem ser tomadas em caso de surtos e epidemias. Nessas situações, as aplicações de inseticida
a ultra baixo volume são utilizadas para interromper a transmissão (eliminação de
fêmeas infectadas), devendo ser programadas para repetições semanais. As ações de
rotina (visita casa a casa, mobilização da população, mutirões de limpeza) devem ser
reavaliadas e reiniciadas imediatamente. Naquelas situações onde a situação epidemiológica (surto ou epidemia) indique ações que venham a ultrapassar a capacidade
operativa do município, deve ser solicitado apoio ao nível estadual. Outras ações
de controle estão especificadas no tópico Instrumentos disponíveis para controle. As
avaliações entomoepidemiológicas deverão ser consideradas para paralisar as atividades de aspersão de inseticida a ultra baixo volume.
6
D
Vigilância epidemiológica
• Acompanhar sistematicamente a evolução temporal da incidência de casos em cada
área da cidade e confrontar com os índices de infestação vetorial.
• Organizar discussões conjuntas com as equipes de controle de vetores e de vigilância, visando a adoção de medidas capazes de reduzir (impedir) a circulação viral em
momento oportuno.
• Alertar os níveis hierárquicos superiores quando houver risco de epidemias.
• Implantar vigilância ativa de casos e do vírus em função da ocorrência de inúmeras
infecções oligossintomáticas e dos problemas de subnotificação e sub-registro de
casos. Para isso, deve-se definir unidades sentinelas em cada área da cidade e fazer
coleta de material de indivíduos com suspeita de dengue, para isolamento e/ou sorologia. Este procedimento permitirá o monitoramento da circulação viral e poderá
detectar mais precocemente a introdução de um novo sorotipo na cidade.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
245
Dengue
• Investigar qual o local provável de infecção, verificando cuidadosamente a possibilidade de ser caso autóctone.
Risco de urbanização de febre amarela
A atual situação de dispersão e a elevada densidade do Aedes aegypti aumentam o risco
de reurbanização da febre amarela. Atualmente, um dos principais objetivos da VE do país é
o de impedir esta ocorrência, a partir da detecção oportuna de casos suspeitos. A conduta a
ser adotada frente a casos suspeitos deve seguir as orientações detalhadas no capítulo sobre
febre amarela.
Análise dos dados
A análise dos dados das investigações deve permitir a avaliação da magnitude do problema e orientar/avaliar as medidas adotadas. Deve ser feita sistematicamente, em todos os
níveis do sistema, e sua periodicidade dependerá da situação epidemiológica e da organização do fluxo de informações. É preciso considerar os dados referentes à distribuição, densidade do vetor e ocorrência de casos, para que as informações possam subsidiar a análise da
situação epidemiológica e otimizar o uso dos recursos de controle disponíveis.
Os dados referentes aos casos devem ser consolidados, agrupados e ordenados segundo características de pessoa, tempo, lugar, possibilitando avaliação de tendência da doença
e comparação com igual período em anos anteriores (se for o caso). As tabelas devem ser
atualizadas periodicamente, bem como as curvas endêmica e epidêmica, para que forneçam
uma visão global do evento e permitam o acompanhamento sistemático de sua evolução.
Nos relatórios, empregar linguagem clara e acessível, visando a sua divulgação para a população, imprensa e dirigentes dos órgãos de saúde.
Encerramento de casos
Os dados de notificação, junto com os resultados dos exames laboratoriais e, nos casos
em que foram indicados, a investigação epidemiológica, trarão os subsídios para o diagnóstico final, considerando as alternativas constantes da definição de caso.
Instrumentos disponíveis para controle
Não existem medidas de controle específicas direcionadas ao homem, uma vez que
não há disponibilização de nenhuma vacina ou drogas antivirais. A notificação dos casos
suspeitos, a investigação do local provável de infecção e a busca ativa de casos são elementos
fundamentais. Atualmente, o único elo da cadeia epidemiológica da doença que é vulnerável é o mosquito, por meio da redução da densidade vetorial.
Controle vetorial
A única garantia para que não exista a dengue é a ausência do vetor. Embora não esteja
determinado o limite abaixo do qual se possa ter a certeza de que não ocorrerão surtos de
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
dengue, este nível deve ser bem próximo de zero. Dessa forma, em áreas com Aedes, o monitoramento do vetor deve ser realizado rotineiramente para conhecer as áreas infestadas e
desencadear as medidas de controle:
• manejo ambiental: mudanças no meio ambiente que impeçam ou minimizem a propagação do vetor, evitando ou destruindo os criadouros potenciais do Aedes;
• melhoria de saneamento básico;
• participação comunitária, no sentido de evitar a infestação domiciliar do Aedes,
através da redução de criadouros potenciais do vetor (saneamento domiciliar);
• controle químico: consiste em tratamento focal (elimina larvas), perifocal (em pontos estratégicos de difícil acesso) e por ultra baixo volume (elimina alados) com uso
restrito em epidemias.
Educação em saúde, comunicação e mobilização social
É necessário promover a comunicação e a mobilização social para que a sociedade adquira conhecimentos sobre como evitar a dengue, participando efetivamente da eliminação
contínua dos criadouros potenciais do mosquito.
A população deve ser informada sobre a doença (modo de transmissão, quadro clínico, tratamento, etc.), sobre o vetor (seus hábitos, criadouros domiciliares e naturais) e sobre
as medidas de prevenção e controle para que possa adotar um novo comportamento frente
ao problema, promovendo ações de controle da doença. Devem ser utilizados os meios de
comunicação de massa por seu grande alcance e eficácia, além da produção e distribuição
de material que contemple as especificidades de cada área a ser trabalhada. Para fortalecer
a consciência individual e coletiva, devem ser desenvolvidas estratégias de alcance nacional
para sensibilizar os formadores de opinião para a importância da comunicação e da mobilização social no controle da dengue; para envolver a sociedade em ações de parceria com os
gestores dos três níveis; e para enfatizar a responsabilidade do governo em cada nível, e da
sociedade como um todo, por meio de suas instituições, organizações e representações.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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D
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Dengue
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
O diagnóstico específico dos pacientes com suspeita de dengue é indicado de acordo
com a situação epidemiológica de cada área. A seguir, descreve-se os exames laboratoriais
disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta dos espécimes.
Exames específicos
A comprovação laboratorial das infecções pelo vírus da dengue pode ser feita por meio
de isolamento viral, métodos sorológicos, detecção de antígenos virais e/ou ácidos nucléicos virais ou por diagnóstico histopatológico.
• Sorologia – é o método de escolha para a confirmação laboratorial na rotina. Existem várias técnicas, sendo o Elisa de captura de IgM (MAC-Elisa) o método de escolha, pois detecta infecções atuais ou recentes. A sua realização requer, na maioria
dos casos, somente uma amostra de soro. Baseia-se na detecção de anticorpos IgM
específicos aos 4 sorotipos do vírus da dengue. O anticorpo IgM antidengue desenvolve-se rapidamente após o quinto dia do início da doença, na maioria dos casos, e
tanto as primoinfecções quanto as infecções secundárias estimulam a produção destes anticorpos, tornando-os detectáveis. A detecção dos anticorpos IgM do vírus da
dengue é de extrema importância tanto para o diagnóstico de casos suspeitos quanto
para subsidiar os profissionais no processo de decisão-ação da vigilância epidemiológica.
• Isolamento viral – é o método mais específico para a determinação do vírus responsável pela infecção. A coleta de amostra deverá ser feita, de preferência, na primeira
semana da doença, durante o período de viremia, que em média é de 6 dias. O ideal
é coletar o material até o 5º dia do início dos sintomas. A coleta das amostras para
essa técnica deverá ser orientada pela vigilância epidemiológica, respeitando-se a
capacidade dos laboratórios de referência.
Outras técnicas também são utilizadas no diagnóstico sorológico do vírus da dengue,
incluindo as de inibição de hemaglutinação (HI), fixação de complemento (FC) e neutralização (N), que exigem amostras pareadas do soro de casos suspeitos e cuja confirmação é
mais demorada.
• Detecção de antígenos virais e/ou ácido nucléico viral – gradativamente essas técnicas estão sendo incorporadas na rotina dos laboratórios e muitas vezes selam o
diagnóstico em situações em que não é possível fazê-lo pelas técnicas habituais. Podem ser detectados antígenos ou ácido nucléico viral no sangue, tecidos humanos e
mosquitos, mediante os seguintes métodos:
• Reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) – permite a
detecção de quantidades reduzidas de ácido nucléico viral presente nos espécimes,
248
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
•
•
•
•
pela amplificação do c-DNA obtido a partir do RNA viral utilizando sondas (primers) tipo-específicos de vírus da dengue e seus sorotipos. A sensibilidade, especificidade e a rápida detecção de quantidades mínimas de material genético em amostras de paciente fazem do RT-PCR um excelente método de diagnóstico de infecção
por vírus de dengue. Os resultados falso-positivos geralmente estão relacionados
com a manipulação inadequada das amostras. O sucesso desse método depende, em
parte, da preservação do espécime clínico, sendo recomendado mantê-lo na menor
temperatura possível.
Imunofluorescência – a técnica de anticorpos fluorescentes baseia-se na união imunológica de um anticorpo marcado com um fluorocromo ao seu antígeno homólogo.
No método indireto, o uso de anticorpos monoclonais permite identificar e caracterizar os isolamentos de dengue. Devido à alta especificidade da reação Ag-Ac, a
técnica da IF é bastante utilizada.
Imunohistoquímica – esse método permite a detecção de antígenos virais em cortes
de tecidos fixados em formalina e emblocados em parafina. Corados pela enzima
(fosfatase alcalina ou peroxidase) marcada com anticorpo específico. Essa técnica
deve ser adaptada à infecção viral suspeita, após diagnóstico histopatológico prévio.
Hibridização in situ – é possível detectar os genomas virais específicos usando sondas radiativas (radioisótopos) ou não radiativas (enzimas), inclusive em materiais
conservados por muitos anos.
Diagnóstico histopatológico – realizado a partir de coleta de material post-mortem.
As lesões anatomopatológicas podem ser encontradas no fígado, rins, baço, coração
e linfonodos.
6
D
O rótulo das amostras deve conter, obrigatoriamente: nome completo do paciente,
data da coleta e natureza da amostra.
A confiabilidade dos resultados dos testes laboratoriais depende dos cuidados durante
a coleta, manuseio, acondicionamento e envio das amostras (ver Quadro 1).
Exames inespecíficos
Os exames inespecíficos devem ser solicitados de acordo com a classificação clínica
(Anexo 2).
Grupo A
Hematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucograma: recomendado para pacientes que
se enquadrem nas seguintes situações: gestantes; idosos (> 65 anos); hipertensão arterial,
diabete melito, DPOC, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença severa do sistema cardiovascular, doença ácido-péptica
e doenças auto-imunes.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
249
Dengue
Grupo B
Hematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucograma: obrigatório para todos os pacientes deste grupo.
Grupos C e D
• Hematócrito, hemoglobina, plaquetas, leucograma e outros conforme necessidade
(gasometria, eletrólitos, transaminases, albumina, raios X de tórax, ultra-sonografia
de abdome);
• Uréia, creatinina, glicose, eletrólitos, provas de função hepática, líquor, urina, etc:
orientados pela história e evolução clínica.
Alterações observadas
• Hemograma – a contagem de leucócitos é variável, podendo ocorrer desde leucopenia até leucocitose leve. A linfocitose com atipia linfocitária é um achado comum.
• Coagulograma – aumento nos tempos de protrombina, tromboplastina parcial e
trombina. Diminuição de fibrinogênio, protrombina, fator VIII, fator XII, antitrombina e antiplasmina.
• Bioquímica – albuminúria e discreto aumento dos testes de função hepática: aminotransferase aspartato sérica/AST (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico-oxalacética/TGO) e aminotransferase alanina sérica/ALT (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico pirúvica/TGP).
250
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Dengue
Quadro 1. Coleta, rotulagem, conservação e transporte de amostras únicas para
diagnóstico laboratorial de dengue
Tipo de
diagnóstico
Tipo de material
Quantidade
Período
da coleta
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
1º-5º dia
da doença
Tubo estéril
de plástico
com tampa
de rosca ou
à vácuo
-70ºC
no freezer
ou nitrogênio
líquido
Nitrogênio
líquido ou
gelo seco
e menos
de 24 horas
após a coleta
Logo após o
óbito. Menos
de 12 horas,
máximo de 24
horas
Frasco
estéril de
plástico ou
vidro com
tampa de
rosca
-70ºC
no freezer
ou nitrogênio
líquido
Nitrogênio
líquido ou
gelo seco
e menos
de 24 horas
após a coleta
Tubo estéril
de plástico
ou vidro
com tampa
de rosca ou
à vácuo
-20ºC
no freezer
Nitrogênio
líquido ou
gelo seco
e menos
de 24 horas
após a coleta
Frasco
estéril de
plástico ou
vidro
com tampa
de rosca
Temperatura
ambiente,
em formalina
tamponada
Temperatura
ambiente e
até 24 horas
Sangue
Isolamento
viral
Obtenção
da amostra:
punção venosa
ou punção
intracardíaca
(óbito)
Crianças
2-5ml
Adultos
10ml
Tecido
(fígado, rins,
coração, baço,
linfonodos)
Isolamento
viral
Obtenção
da amostra:
necropsia ou
viscerotomia ou
usando agulha
de biópsia
Fragmento
de 1cm
Sangue
Sorológico
Histopatologia
ou imunohistoquímica
ou técnicas
moleculares
Obtenção
da amostra:
punção venosa
ou punção
intracardíaca
(óbito)
Crianças
2-5ml
Adultos
10ml
S1 = (1º-5º)
dias da doença
S2 = (14º-21º)
dias após S1
S = amostra
única após o 5º
dia da doença
Tecido
Obtenção
da amostra:
necropsia ou
viscerotomia ou
usando agulha
de biópsia
-
Logo após o
óbito ou menos
de oito horas,
máximo de
12 horas
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
D
251
Dengue
Anexo 2
Assistência médica aos pacientes com suspeita de dengue
Todos os indivíduos com doença febril com suspeita diagnóstica de dengue devem ser
submetidos à avaliação clínica e classificados em um dos seguintes grupos do fluxograma
de diagnóstico e conduta dos pacientes, apresentado a seguir.
A presença de sinais de alerta (Quadro 1) indica a possibilidade de gravidade do quadro clínico.
Quadro 1. Sinais de alerta na dengue
Dor abdominal intensa e contínua
Vômitos persistentes
Hipotensão postural
Hipotensão arterial
Pressão diferencial < 20 mmHg (PA convergente)
Hepatomegalia dolorosa
Hemorragias importantes
Extremidades frias, cianose
Pulso rápido e fino
Agitação e/ou letargia
Diminuição da diurese
Diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia
Aumento repentino do hematócrito
252
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Diagnóstico e conduta do paciente com suspeita de dengue
A dengue é uma doença dinâmica, o que permite que o paciente possa evoluir de um estágio a outro, durante o curso da doença. Todo caso suspeito com hipótese diagnóstica de dengue deve
ser notificado à vigilância epidemiológica. Caso suspeito de dengue: paciente com doença febril aguda, com duração máxima de até sete dias, acompanhada de pelo menos dois
dos seguintes sintomas: cefaléia, dor retroorbitária, mialgia, artralgia, prostração ou exantema associados a história epidemiológica compatível
Grupo A
Grupo B
Sintomatologia
• Ausência de manifestações hemorrágicas espontâneas ou
induzidas (prova do laço)
• Ausência de sinais de alerta
Exames complementares
Específico
• Em período não-epidêmico: para todos os casos
• Em período epidêmico, por amostragem (conforme orientação
da vigilância)
Inespecífico (recomendado)
• Hematócrito, hemoglobinas, plaquetas para pacientes em
situações especiais1: gestante, idoso (>65 anos), hipertensão
arterial, diabete melito, asma brônquica, doença hematológica
ou renal crônicas, doença severa do sistema cardiovascular,
doença ácido-péptica ou doença auto-imune
Normal ou não realizado
Alterado
Sintomatologia
• Manifestações hemorrágicas induzidas
(prova do laço) ou espontâneas sem
repercussão hemodinâmica.
• Ausência de sinais de alerta
Normal
Hematócrito aumentado em
até 10% acima do valor basal
ou, na ausência deste, as
seguintes faixas de valores
• Crianças: > 38% e < 42%
• Mulheres: > 40% e < 44%
• Homens: > 45% e < 50%
e/ou
• Plaquetopenia entre 50 e
100 mil cel/mm3 e/ou
• Leucopenia < 1mil cel/mm3
•
•
•
•
•
Conduta
Tratamento ambulatorial
Hidratação oral rigorosa
(80ml/kg/dia), como orientado para o Grupo A
Analgésicos e antitérmicos
Orientar sobre sinais de
alerta
Retorno para reavaliação
clínico-laboratorial em 24
horas e reestadiamento
Observações:
• Em vigência de hemorragia visceral importante, sobretudo no sistema nervoso central, associado
à plaquetopenia <50 mil/mm3, avaliar a indicação de transfusão de plaquetas.
• Pacientes com plaquetopenia <20 mil/mm3 sem repercussão clínica devem ser internados e
reavaliados clínica e laboratorialmente a cada 12 horas.
• As manifestações não usuais (encefalite, hepatite, miocardite, entre outras) podem ocorrer em
qualquer estágio da doença e terão abordagens específicas.
*Anteriormente classificado como Leve (Grupo A), Moderado (Grupo B) e Grave (Grupos C e D).
Sintomatologia
• Presença de algum sinal de alerta e/ou
• Choque
• Manifestações hemorrágicas ausentes ou presentes
Obs: iniciar a hidratação imediatamente, independente do local de atendimento
Alterado
Hematócrito aumentado em
mais de 10% acima do valor
basal ou, na ausência deste,
os seguintes valores
• Crianças: > 42%
• Mulheres: > 44%
• Homens: > 50%
e/ou
• Plaquetopenia
> 50 cel/mm3
Conduta
• Leito de observação
• Hidratação oral supervisionada ou parenteral:
80ml/kg/dia, sendo 1/3
do volume infundido nas
primeiras 4 a 6 horas e na
forma de solução salina
isotônica
• Reavaliação clínica e de
hematócrito após a etapa
de hidratação
Sem hipotensão (Grupo C)
Conduta
• Hidratação EV imediata (fase de expansão):
20ml/kg/hora com solução salina isotônica
sob supervisão médica (até 3 vezes)
• Reavaliação clínica (cada 15-30 minutos)
e hematócrito após 2 horas
• Sintomáticos
Melhora?
Melhora clínica e laboratorial?
SIM
NÃO
Etapa de manutenção,
com 25ml/kg
em 8 e 12 horas
Repetir
conduta
(até 3 vezes)
Melhora clínica
e laboratorial?
SIM
NÃO
Com hipotensão ou choque (grupo D)
Conduta
• Leito de observação ou hospitalar
• Hidratação EV imediata: 25ml/kg em
4 horas, sendo 1/3 deste volume na
forma de solução salina isotônica
• Reavaliação clínica e de hematócrito
após 4 horas e de plaquetas após 12 horas
• Sintomáticos
Tratamento
ambulatorial
Retorno em
24 horas
NÃO
Reestadiar
SIM
NÃO
Avaliar hemoconcentração
Melhora?
SIM
Melhora?
SIM
Exames complementares
• Específico: obrigatório
• Inespecíficos: hematócrito, hemoglobina, plaquetas, leucograma e outros,
conforme necessidade (gasometria, eletrólítos, transaminases, albumina,
RX de tórax, ultra-sonografia)
NÃO
Hematócrito
em ascensão ou
hipoalbuminemia
Expansor plasmático
•Albumina:
3ml/kg/hora
•Substitutos artificiais
Concentrado de
hemácias e avaliação de especialistas
Em queda
Avaliar sangramentos e coagulopatias
de consumo
SIM
NÃO
Hiperhidratação?
Verificar sinais de ICC
SIM
NÃO
Melhora?
Diuréticos
SIM
Estes pacientes podem apresentar evolução desfavorável e devem ter acompanhamento
clínico diferenciado.
2
Os sinais de alerta e agravamento do quadro costumam ocorrer na fase de remissão da febre.
NÃO
1
Unidade de cuidados
intensivos
253
Dengue
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Conduta
• Tratamento ambulatorial
• Hidratação oral: 60 a 80 ml/kg/dia; um terço deste volume com
SRO e o restante em líquidos caseiros (água, sucos naturais,
chás, etc.)
• Analgésicos e antitérmicos: dipirona, paracetamol. Reavaliar
medicamentos de uso contínuo
• Orientar sobre sinais de alerta2
• NÃO UTILIZAR SALICILATOS
• Não há subsídio científico que dê suporte clínico ao uso de
antiinflamatórios não hormonais ou corticóides
• Avaliar risco de sangramento
• Pacientes em situações especiais devem ser reavaliados no primeiro dia sem febre. Para os outros pacientes, reavaliar sempre
que possível no mesmo período
Grupos C e D*
6
D
Difteria
DIFTERIA
CID 10: A36
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença transmissível aguda, toxiinfecciosa, imunoprevenível, causada por bacilo toxigênico que freqüentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente,
em outras mucosas e na pele. É caracterizada por placas pseudomembranosas típicas.
Sinonímia
Crupe.
Agente etiológico
Corynebacterium diphtheriae, bacilo gram-positivo, produtor da toxina diftérica,
quando infectado por um fago.
Reservatório
O próprio doente ou o portador, sendo este último mais importante na disseminação
do bacilo, por sua maior freqüência na comunidade e por ser assintomático. A via respiratória superior e a pele são locais habitualmente colonizados pela bactéria.
Modo de transmissão
A transmissão se dá pelo contato direto de pessoa doente ou portadores com pessoa
susceptível, através de gotículas de secreção respiratória, eliminadas por tosse, espirro ou ao
falar. A transmissão por fômites é pouco freqüente, mas pode ocorrer.
Período de incubação
Em geral, de 1 a 6 dias, podendo ser mais longo.
Período de transmissibilidade
Em média, até duas semanas após o início dos sintomas. A antibioticoterapia adequada
erradica o bacilo diftérico da orofaringe, de 24 a 48 horas após a sua introdução, na maioria
dos casos.
O portador pode eliminar o bacilo por 6 meses ou mais, motivo pelo qual torna-se
extremamente importante na disseminação da difteria.
254
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral. A imunidade pode ser naturalmente adquirida pela passagem de anticorpos maternos via transplacentária, que protegem o bebê nos primeiros
meses de vida, ou através de infecções inaparentes atípicas que conferem imunidade em
diferentes graus, dependendo da maior ou menor exposição dos indivíduos. A imunidade
também pode ser adquirida ativamente, através da vacinação com toxóide diftérico.
• A proteção conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração
(em média, duas semanas).
• A doença normalmente não confere imunidade permanente, devendo o doente continuar seu esquema de vacinação após a alta hospitalar.
6
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A presença de placas pseudomembranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica. Essas
placas podem se localizar na faringe, laringe e fossas nasais, sendo menos freqüentemente
observadas na conjuntiva, pele, conduto auditivo, vulva, pênis (pós-circuncisão) e cordão
umbilical.
Clinicamente, a doença manifesta-se por comprometimento do estado geral do paciente, que pode apresentar-se prostrado e pálido; a dor de garganta é discreta, independentemente da localização ou quantidade de placas existentes, e a febre normalmente não é
muito elevada, variando entre 37,5ºC a 38,5°C, embora temperaturas mais altas não afastem
o diagnóstico.
Nos casos mais graves há intenso edema do pescoço, com grande aumento dos gânglios linfáticos dessa área (pescoço taurino) e edema periganglionar nas cadeias cervicais
e submandibulares. Dependendo do tamanho e localização da placa pseudomembranosa,
pode ocorrer asfixia mecânica aguda no paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomia para evitar a morte.
O quadro clínico produzido pelo bacilo não-toxigênico também determina a formação de placas características, embora não se observe sinais de toxemia ou a ocorrência de
complicações. No entanto, as infecções causadas pelos bacilos não-toxigênicos têm importância epidemiológica por disseminar o Corynebacterium diphtheriae.
D
Formas clínicas
Faringoamigdaliana ou faringotonsilar (angina diftérica) – é a forma clínica mais
comum. Nas primeiras horas da doença observa-se discreto aumento de volume das amígdalas, além da hiperemia de toda a faringe. Em seguida, ocorre a formação das pseudo-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
255
Difteria
membranas caraterísticas, aderentes e invasivas, constituídas por placas esbranquiçadas ou
amarelo-acinzentadas, eventualmente de cor cinzento-escura ou negra, que se tornam espessas e com bordas bem definidas. Essas placas estendem-se pelas amígdalas recobrindoas e, freqüentemente, invadem as estruturas vizinhas, podendo ser observadas nos pilares
anteriores, úvula, palato mole e retrofaringe, adquirindo aspecto necrótico. O estado geral
do paciente agrava-se com a evolução da doença, em virtude da progressão das pseudomembranas e da absorção cada vez maior de toxina.
Difteria hipertóxica (difteria maligna) – denominação dada aos casos graves, intensamente tóxicos, que desde o início apresentam importante comprometimento do estado
geral. Observa-se a presença de placas de aspecto necrótico que ultrapassam os limites das
amígdalas, comprometendo as estruturas vizinhas. Há um aumento importante do volume
dos gânglios da cadeia cervical e edema periganglionar pouco doloroso à palpação, caracterizando o pescoço taurino.
Nasal (rinite diftérica) – é mais freqüente em lactentes, sendo, na maioria das vezes,
concomitante à angina diftérica. Desde o início observa-se secreção nasal serossanguinolenta, geralmente unilateral, podendo ser bilateral, que provoca lesões nas bordas do nariz
e no lábio superior.
Laríngea (laringite diftérica) – na maioria dos casos a doença inicia-se na região da
orofaringe, progredindo até a laringe. É uma forma bastante comum no Brasil. Os sintomas
iniciais, além dos que são vistos na faringe diftérica, são: tosse, rouquidão, disfonia e dificuldade respiratória progressiva, podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda. Em
casos raros, pode haver comprometimento isolado da laringe, o que dificulta o diagnóstico.
Cutânea – apresenta-se sob a forma de úlcera arredondada, com exsudato fibrinopurulento e bordas bem demarcadas e, embora profunda, não alcança o tecido celular subcutâneo. Devido a pouca absorção da toxina pela pele, a lesão ulcerada de difteria pode
tornar-se subaguda ou crônica e raramente é acompanhada de repercussões cutâneas. No
entanto, seu portador constitui-se reservatório e disseminador do bacilo diftérico, daí sua
importância na cadeia epidemiológica da doença.
Outras localizações – apesar de raro, o bacilo diftérico pode acometer a vagina (ulcerações e corrimento purulento), o ouvido (processo inflamatório exsudativo do duto auditivo externo) e conjuntiva ocular (a infecção pode ser inaparente ou manifestar-se sob a
forma de conjuntivite aguda, com eventual formação da membrana).
Complicações
As complicações podem ocorrer desde o início da doença até, na maioria dos casos, a
sexta ou oitava semana, quando os sintomas iniciais já desapareceram. Seu estabelecimento
pode estar relacionado com localização e extensão da membrana; quantidade de toxina absorvida; estado imunitário do paciente; demora no diagnóstico e início do tratamento.
As principais complicações da difteria são:
Miocardite – é responsável pelo maior número de óbitos a partir da 2ª semana da
doença. É decorrente da ação direta da toxina no miocárdio ou, ainda, pela intoxicação do
sistema de condução cardíaco. Os sinais e sintomas mais freqüentemente encontrados são:
256
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
alterações de freqüência e ritmo, hipofonese de bulhas, hepatomegalia dolorosa, aparecimento de sopro e sinais de ICC. As alterações eletrocardiográficas mais encontradas são alteração de repolarização, extra-sistolias, taquicardia ou bradicardia, distúrbio de condução
A-V e corrente de lesão.
Neurite – são alterações transitórias, decorrentes da ação da exotoxina no sistema
nervoso periférico, ocasionando as neurites periféricas. As manifestações geralmente são
tardias, ocorrendo entre a segunda e a sexta semana de evolução, mas podem aparecer alguns meses depois. A forma de apresentação mais comum e mais característica é a paralisia
do véu do palatino, com desvio unilateral da úvula, ocasionando voz anasalada, engasgos e
regurgitação de alimentos pelo nariz, podendo ocorrer broncoaspiração. Em alguns casos,
observa-se paresia ou paralisia bilateral e simétrica das extremidades, com hiporreflexia.
Também pode ocorrer paralisia do diafragma, geralmente tardia, causando insuficiência
respiratória. A paralisia dos músculos oculares determinando diplopia e estrabismo também pode ser observada.
Renais – de acordo com a gravidade do caso, pode-se detectar a presença de albuminúria em diferentes proporções. Na difteria grave, pode se instalar uma nefropatia tóxica
com importantes alterações metabólicas e, mais raramente, insuficiência renal aguda. Geralmente, quando há miocardite, pode ocorrer também insuficiência renal grave.
6
D
Prognóstico
Depende do estado imunitário do paciente, da precocidade do diagnóstico e da instituição do tratamento. Os fatores associados ao mau prognóstico são:
• tempo da doença sem instituição de tratamento – pior se acima de três dias;
• presença de edema periganglionar;
• presença de manifestações hemorrágicas;
• presença de placas extensas na orofaringe;
• miocardite precoce;
• presença de insuficiência renal.
Em geral, a difteria é uma doença grave que necessita de assistência médico-hospitalar imediata e isolamento.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da difteria deverá ser feito com as patologias descritas a
seguir:
• difteria cutânea – impetigo, ectima, eczema, úlceras;
• difteria nasal – rinite estreptocócica, rinite sifilítica, corpo estranho nasal;
• difteria amigdaliana ou faríngea – amigdalite estreptocócica, angina monocítica,
angina de Plaut Vicent, agranulocitose;
• difteria laríngea – crupe viral, laringite estridulosa, epiglotite aguda, inalação de
corpo estranho.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
257
Difteria
Diagnóstico laboratorial
Realizado mediante a identificação e isolamento do Corynebacterium diphtheriae através de cultura de material colhido com técnica adequada das lesões existentes (ulcerações,
criptas das amígdalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe, que são as localizações
mais comuns, ou de outras lesões cutâneas, conjuntivas, genitália externa, etc. (ver normas
e procedimentos no Anexo 1), mesmo sem as provas de toxigenicidade. A bacterioscopia
não tem valor no diagnóstico da difteria, devido à baixa especificidade do método.
Tratamento
Tratamento específico
A medida terapêutica na difteria é a administração do soro antidiftérico (SAD), que
deve ser feito em unidade hospitalar e cuja finalidade é inativar a toxina circulante o mais
rapidamente possível e possibilitar a circulação de excesso de anticorpos, em quantidade
suficiente para neutralizar a toxina produzida pelos bacilos.
Atenção
O soro antidiftérico não tem ação sobre a toxina já impregnada no tecido. Por isso,
sua administração deve ser feita o mais precocemente possível, frente a uma suspeita
clínica bem fundamentada.
Como o soro antidiftérico tem origem heteróloga (soro heterólogo de cavalo), sua administração pode causar reações alérgicas. Deste modo, faz-se necessária a realização de
provas de sensibilidade antes do seu emprego. Caso a prova seja positiva, deverá ser feita a
dessensibilização. As doses do SAD não dependem do peso e da idade do paciente e sim da
gravidade e do tempo da doença. O SAD deve ser feito preferencialmente por via endovenosa (EV), diluído em 100ml de soro fisiológico em dose única.
Esquema de administração do SAD
Forma clínica
Dosagem
Leve (nasal, cutânea, amigdaliana)
40 mil UI, EV
Laringoamigdaliana ou mista
60 mil a 80 mil UI, EV
Graves ou tardias (4 dias de doença)
80 mil a 120 mil UI, EV
Administração do SAD
A administração do soro antidiftérico deve ser sempre precedida da prova intradérmica de sensibilidade, da seguinte forma:
• diluir 0,1ml do SAD a 1:1 mil de soro fisiológico ou soro glicosado a 5%, e fazer a
injeção intradérmica (com agulha de insulina) na região interna do antebraço; após
20 minutos, realizar a leitura;
• reação (+) = nódulo eritematoso maior ou igual a 3cm de diâmetro.
258
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Difteria
Caso a prova intradérmica seja positiva, o soro deverá ser administrado com as seguintes precauções:
• injetar um anti-histamínico 15 minutos antes da aplicação do soro: 1 ampola de 2ml
de prometazina/fenergan tem 50mg. Recomenda-se:
para crianças: 0,5mg/kg/dose, via intramuscular;
para adultos: 100-1.000mg/dia, via intramuscular;
• manter sempre à mão adrenalina milesimal, injetando de 0,5 a 1ml, via intramuscular, caso sobrevenham sintomas de choque anafilático (palidez, dispnéia intensa,
hipotensão, edema de glote, convulsões, etc.);
• a aplicação do soro deverá ser feita segundo o esquema de dessensibilização a seguir,
usando-se injeções em séries de antitoxina, em diluições decrescentes (SG a 5% ou
SF), com intervalos de 15 minutos:
Esquema de dessensibilização ao SAD
6
Diluição do
SAD em SF
Volume de cada injeção
Via de
administração
1
1:1.000
0,1ml
ID
2
1:1.000
0,3ml
ID
3
1:1.000
0,6ml
SC
4
1:100
0,1ml
SC
5
1:100
0,3ml
SC
6
1:100
0,6ml
SC
7
1:10
0,1ml
SC
8
1:10
0,3ml
SC
9
1:10
0,6ml
SC
10
Não diluído
0,1ml
SC
11
Não diluído
0,3ml
SC
12
Não diluído
0,6ml
IM
13
Não diluído
1,0ml
IM
Nº da dose*
D
*Intervalo entre as doses: 15 minutos
• antibioticoterapia – o uso de antibiótico deve ser considerado como medida auxiliar da terapia específica, objetivando interromper a produção de exotoxina pela
destruição dos bacilos diftéricos e sua disseminação.
Importante
Mesmo ante o risco indicado por uma prova de sensibilidade positiva, não se deve
hesitar na administração do soro antidiftérico, considerando-se as medidas de precaução acima explicadas.
Pode-se utilizar eritromicina ou penicilina G cristalina ou penicilina G procaína, com
a mesma eficácia, durante 14 dias, conforme orientação a seguir:
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
259
Difteria
• eritromicina – deve ser administrada por via oral, na dose de 40 a 50mg/kg/dia
(dose máxima de 2g/dia);
• penicilina G cristalina – deve ser administrada por via endovenosa, na dose de 100
mil a 150 mil UI/kg/dia, em frações iguais de 6/6 horas;
• penicilina G procaína – deve ser administrada por via intramuscular, na dose de 50
mil UI/kg/dia (dose máxima de 1.200.000UI/dia), em duas frações iguais de 12/12
horas.
Observação
• Quando houver melhora do quadro, a penicilina G cristalina pode ser substituída
pela penicilina G procaína para completar os 14 dias de tempo total de tratamento.
• A clindamicina constitui boa alternativa à eritromicina e às penicilinas, na dose de 20
a 40mg/kg/dia, em frações iguais de 8/8 horas, por via endovenosa, durante 14 dias.
Tratamento sintomático
O tratamento geral ou de suporte consiste em repouso no leito, manutenção do equilíbrio hidreletrolítico (gotejamento endovenoso de soro glicofisiológico, com acréscimo de
glicose a 25% ou 50% para aumentar a oferta calórica), dieta leve, nebulização ou vaporização. Proceder a aspiração das secreções com freqüência. Não havendo aceitação dos
alimentos e dos líquidos por via oral, deve-se administrá-los por sonda nasogástrica.
Estudos realizados no Brasil apontam que a carnitina exerce efeito protetor sobre o
miocárdio, desde que sua administração seja iniciada antes de decorridos cinco dias desde
o início da doença. A dose recomendada é de 100mg/kg/dia (máximo de 3g/dia), por via
oral, em duas ou três frações iguais de 12/12 horas ou de 8/8 horas, durante quatro dias.
Segundo os estudos, a carnitina propicia redução da incidência de miocardite e redução da
morbimortalidade, estando seu uso indicado como coadjuvante no tratamento da difteria.
Como a carnitina não está comercializada no Brasil, médicos com experiência clínica
com o seu uso orientam o preparo do xarope a 10%, dissolvendo-se 100g de DL-carnitina
em 100ml de água destilada quente e completando-se o volume de 1.000ml com xarope
simples. Nessa fórmula há 500mg/5ml do princípio ativo (Sakane, 2002).
Tratamento das complicações diftéricas
A observação do paciente com difteria deve ser contínua.
Insuficiência respiratória – o agravamento precoce da insuficiência respiratória constitui indicação de traqueostomia. A paralisia da musculatura respiratória (diafragma e músculos intercostais) exige, eventualmente, a instalação de aparelhos de respiração assistida.
Observação: quando houver comprometimento respiratório alto, nos casos leves e moderados de laringite, pode ser tentada a dexametasona em dose inicial de 0,6mg/kg, seguida
por 0,4mg/kg/dia, por via endovenosa, em frações iguais de 6/6 horas, como medida antiedematosa; porém, caso o paciente continue com sinais progressivos de obstrução alta ou se
já se apresentar ao médico com quadro de insuficiência respiratória alta estabelecida, a traqueostomia deve ser feita sem demora, evitando-se que o paciente apresente hipóxia severa.
260
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Miocardite – a terapêutica para esta complicação baseia-se no repouso absoluto no
leito, durante pelo menos três semanas, na restrição de sódio e no emprego de cardiotônicos
e diuréticos. Deve ser realizado eletrocardiograma.
Polineurites – a cura costuma ser espontânea, em tempo variável, mas o paciente deve
ser mantido internado e em observação constante.
Insuficiência renal aguda – tratamento conservador, diálise peritoneal.
Aspectos epidemiológicos
A difteria ocorre durante o ano todo e pode afetar todas as pessoas não imunizadas,
de qualquer idade, raça ou sexo. Observa-se um aumento de sua incidência nos meses frios
(outono e inverno), quando é mais comum a ocorrência de infecções respiratórias devidas,
principalmente, à aglomeração em ambientes fechados, que facilitam a transmissão do bacilo. Contudo, essa diferença não é importante para as regiões que não apresentam grandes
oscilações sazonais de temperatura ou onde a população mantém alto índice de aglomeração durante todo o ano.
É uma doença infecciosa de importância nos países do Terceiro Mundo, sendo rara
quando coberturas vacinais homogêneas são obtidas em mais de 80% da população. É mais
freqüente a ocorrência da doença em áreas com baixas condições socioeconômicas e sanitárias, onde a aglomeração de pessoas é maior. Comumente, estas áreas apresentam baixa
cobertura vacinal e, portanto, não é obtido impacto no controle da transmissão da doença.
O número de casos de difteria notificados no Brasil vem decrescendo progressivamente, provavelmente em decorrência do aumento da utilização da vacina DTP. Em 1990, foram
notificados 640 casos, com coeficiente de incidência de 0,45/100 mil habitantes, número
que foi progressivamente decaindo até atingir 56 casos em 1999 (coeficiente de incidência
de 0,03/100 mil habitantes) e 58 casos em 2000 (coeficiente de incidência de 0,03/100 mil
habitantes). Nos anos subseqüentes, o número de casos não ultrapassou 50 por ano e o
coeficiente de incidência por 100 mil habitantes manteve-se em torno de 0,03. Em 2003,
confirmaram-se 40 casos da doença, com coeficiente de incidência de 0,02/100 mil habitantes. A cobertura vacinal com a DTP vem se elevando neste período, passando de 66%,
em 1990, para 95%, em 2003.
A letalidade esperada varia de 5% a 10%, atingindo 20% em certas situações. No Brasil,
este indicador tem apresentado elevações e diminuições, sendo de 8,6%, 18,8% e 22%, em
2000, 2001 e 2002, respectivamente.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
D
261
Difteria
Coeficiente de incidência¹ da difteria e cobertura vacinal pela DTP².
Brasil, 1980-2003³
0,45
100
0,40
90
80
0,35
70
0,30
60
0,25
50
0,20
40
0,15
30
0,10
20
0,05
0
10
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
Coeficiente de incidência por 100 mil hab.
95
96
97
98
99 00
01
02
03
0
Cobertura vacinal (%)
Fonte: ¹Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover; ²Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGPNI.
³Dados sujeitos a revisão
Vigilância epidemiológica
A difteria é uma doença de notificação e investigação obrigatória em todo o território
nacional (Anexo 1).
Objetivos
• Investigar todos os casos suspeitos e confirmados com vistas à adoção de medidas de
controle pertinentes para evitar a ocorrência de novos casos.
• Aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepas
isoladas para o laboratório de referência nacional, para estudos moleculares e de
resistência bacteriana a antimicrobianos.
• Acompanhar a tendência da doença, para detecção precoce de surtos e epidemias.
Definição de caso
Suspeito
Toda pessoa que, independente da idade e estado vacinal, apresenta quadro agudo de
infecção da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupando as amígdalas, com ou
262
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
sem invasão de outras áreas da faringe (pálato e úvula) ou outras localizações (ocular, nasal,
vaginal, pele, etc.), com comprometimento do estado geral e febre moderada.
Confirmado
Critério laboratorial
• Todo caso suspeito com isolamento do Corynebacterium diphtheriae e provas de
toxigenicidade positiva, ou
• Todo caso suspeito com isolamento do Corynebacterium diphtheriae mesmo sem
provas de toxigenicidade positiva.
Critério epidemiológico
Todo caso suspeito de difteria:
• com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante de um outro caso confirmado laboratorial ou clinicamente; ou
• com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante íntimo de portador, indivíduo no qual se isolou o Corynebacterium diphtheriae.
6
Critério clínico
Quando for observado:
• placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
• placas suspeitas na traquéia ou laringe;
• simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o
início do quadro e evolução, em geral, arrastada;
• miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início
dos sintomas sugestivos de difteria ou até semanas após.
D
Critério anatomopatológico (necropsia)
Quando a necropsia comprovar:
• placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
• placas na traquéia e/ou laringe.
Morte pós-clínica compatível
Óbito de paciente em curso de tratamento de amigdalite aguda e no qual se constata
miocardite.
Descartado
Caso suspeito não confirmado por nenhum dos critérios descritos anteriormente.
Notificação
Todo caso suspeito deve ser notificado imediatamente, para desencadeamento da investigação e adoção das medidas de controle pertinentes, bem como incluído no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
263
Difteria
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata.
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde com capacidade para
prestar atendimento adequado e oportuno.
Proteção individual para evitar disseminação da bactéria
Os doentes com difteria devem ser mantidos em isolamento respiratório durante 14
dias após a introdução da antibioticoterapia apropriada. Os fômites devem receber cuidados apropriados segundo as normas de biossegurança. O ideal é suspender as medidas
relativas às precauções respiratórias somente quando duas culturas de secreções obtidas
de nasofaringe, em meios específicos, forem negativas para Corynebacterium diphtheriae.
Inclusive nos doentes com difteria cutânea, é considerada obrigatória a realização de duas
culturas de material colhido das lesões cutâneas pelo menos 24 horas depois de completada
a antibioticoterapia.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial de acordo com as orientações constantes do Anexo 1.
Proteção da população
Logo que se tenha conhecimento da suspeita de casos de difteria deve-se desencadear
um bloqueio vacinal seletivo com DTP e/ou dT nas áreas onde o paciente esteve no período de transmissibilidade. Coletar material de comunicantes para pesquisa de portadores e
iniciar a quimioprofilaxia dos comunicantes íntimos. É importante lembrar que a vacina
DTP é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos e a dT para pessoas com sete
anos ou mais.
Investigação
Devido ao curto período de incubação e alta transmissibilidade, a investigação dos casos e dos comunicantes deverá ter início imediatamente após a notificação do caso suspeito
de difteria.
Importante
Visando a detecção precoce de outros casos, é importante desencadear busca ativa, ou
seja, ir na comunidade, escola, local de trabalho e perguntar se há casos de “amigdalite”, além de verificar se nos serviços de emergência e internação apareceram casos
com clínica compatível com difteria, pois a instituição da terapêutica específica (SAD
e antibiótico), o mais precocemente possível, diminui a letalidade da difteria.
264
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Roteiro da investigação epidemiológica
A ficha de investigação da difteria, preconizada pelo Sinan, contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os seus campos devem
ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa. Outros itens
e observações podem ser incluídos, conforme as necessidades e peculiaridades de cada
situação.
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
Anotar na ficha de investigação dados dos antecedentes epidemiológicos e dados clínicos:
• preencher todos os campos da ficha de investigação de difteria;
• observar, com atenção, se o caso notificado enquadra-se na definição de caso de
difteria, a fim de evitar a notificação inadequada de casos;
• anotar dados do prontuário do paciente, entrevistar a equipe de assistência, o próprio paciente (quando possível) e familiares;
• acompanhar a evolução do paciente e o resultado das culturas de Corynebacterium
diphtheriae.
6
D
Para identificação da área de transmissão
• Verificar se no local de residência, de trabalho, na creche, na escola, etc. há indícios
de outros casos suspeitos.
• Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares
ou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca
ativa de outros casos, casa a casa, na creche, na escola, no local de trabalho e em unidades
de saúde.
Investigação de comunicantes
Comunicantes são aquelas pessoas que tiveram contato íntimo com o caso suspeito
de difteria, estando, portanto, sob o risco de adquirir a doença, quer sejam moradores
do mesmo domicílio ou não.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
265
Difteria
• A investigação de comunicantes deve ser feita na residência, creche, escola, orfanatos, quartéis e outros locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.
• Assim, além dos comunicantes domiciliares, devem ser considerados os colegas da
mesma classe, os que usam o mesmo meio de transporte ou aqueles que brincam
juntos e/ou utilizam o mesmo quintal. Se o paciente residir em quartéis, orfanatos
ou passar a maior parte do tempo em creches ou similares, as outras pessoas do
mesmo ambiente devem ser consideradas como comunicantes.
Todos os comunicantes de um caso suspeito de difteria deverão ser submetidos a um
exame clínico e ficar sob vigilância por um período mínimo de 7 dias.
• Comunicante domiciliar – para todos os que compartilham o mesmo domicílio
deve-se coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele, bem como iniciar ou
completar o esquema vacinal.
• Orfanatos e creches – quando o caso passar a maior parte do tempo em instituições,
todas as pessoas (outras crianças/trabalhadores) que mantêm maior contato com o
mesmo devem ser tratadas como comunicantes domiciliares.
• Escolas e pré-escolares – quando o caso passar a maior parte do tempo na escola, todas as pessoas (outras crianças/professores/trabalhadores) que mantêm maior
contato com o mesmo caso devem ser tratadas como comunicantes domiciliares.
Outros contatos devem ser vacinados conforme o indicado para os comunicantes
domiciliares.
• Deve-se realizar contatos com a direção visando descobrir faltosos e solicitar comunicação imediata de novos casos nos próximos 15 dias. Orientar o diretor para
transmitir aos alunos e pais a necessidade de consultar um médico frente a qualquer
sintoma suspeito (febre, placa na garganta, etc.).
Na investigação dos comunicantes é indispensável:
• preencher os campos da ficha de investigação da difteria referentes aos comunicantes;
• coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele dos comunicantes, a fim de
realizar cultura de Corynebacterium diphtheriae;
• verificar a situação vacinal dos comunicantes, considerando as doses registradas na
caderneta de vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal com
a DTP, DTP+Hib ou dT, de acordo com as orientações a seguir:
História vacinal
266
Menores de 7 anos
< 1ano
> 1 ano
7 anos ou mais
Não vacinados
Iniciar o esquema
com DTP+Hib
Iniciar o esquema
com DTP
Iniciar o esquema com dT
Vacinação incompleta
Completar o esquema
com DTP+Hib
Completar o
esquema com DTP
Completar o esquema com a dT
Vacinação completa
Aplicar uma dose de DTP como reforço,
se esta foi feita há mais de cinco anos
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Aplicar uma dose de dT como
reforço, se a última dose foi
aplicada há mais de 5 anos
Difteria
Coleta e remessa de material para exames (Anexo 2)
• Deve-se retirar material das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe, que são as localizações mais comuns, ou de
outras lesões cutâneas, conjuntivas, genitália externa, etc., por meio de swab estéril,
antes da administração de qualquer terapêutica antimicrobiana.
• Deve-se realizar cultura separada do material de nasofaringe ou da via oral e de lesão
de pele.
• Na coleta do material da orofaringe, não remover a pseudomembrana, pois sua remoção acelera a absorção da toxina e leva a sangramento.
• A coleta deve ser efetuada antes da administração de antibióticos, mas deverá ser
sempre feita.
• É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder estas
coletas, de acordo com a organização de cada local.
6
Atenção
Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas
de controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a
confirmação de casos e nortear o encerramento das investigações.
D
Análise dos dados
A investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema e da adequação
das medidas adotadas visando impedir a transmissão da doença, bem como indicar as ações
de prevenção que devem ser mantidas a curto e médio prazos na área.
Encerramento de casos
As fichas de investigação de cada caso devem ser analisadas visando definir o critério
utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
Critério laboratorial – o isolamento do Corynebacterium diphtheriae com prova de
toxigenicidade positiva ou não classifica o caso suspeito como confirmado.
Critério epidemiológico – classifica o diagnóstico como caso confirmado:
• o vínculo epidemiológico do caso suspeito com outros casos confirmados de difteria
pelo critério laboratorial ou clínico;
• o vínculo epidemiológico do caso suspeito com comunicante íntimo (sintomático
ou não) em que foi isolado o Corynebacterium diphtheriae.
Critério clínico – classifica o diagnóstico como caso confirmado quando for observado:
• placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
• placas suspeitas na traquéia ou laringe;
• simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o iní-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
267
Difteria
cio do quadro e evolução, em geral, arrastada;
• miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início dos
sintomas sugestivos de difteria ou até semanas após.
Critério anatomopatológico – classifica o diagnóstico como caso confirmado quando
a necropsia comprovar:
• placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
• placas na traquéia e/ou laringe.
Morte pós-clínica compatível – classifica o diagnóstico como caso confirmado quando for a óbito paciente em curso de tratamento de amigdalite aguda e no qual se constata
miocardite.
Descartado – caso suspeito não confirmado por nenhum dos critérios descritos anteriormente.
Análise dos dados
A análise dos dados obtidos pela vigilância tem como objetivo proporcionar conhecimentos atualizados sobre características epidemiológicas no que diz respeito, principalmente, a distribuição de sua incidência por áreas geográficas e grupos etários, taxas de
letalidade, eficiência dos programas de vacinação, bem como a detecção de possíveis falhas
operacionais da atividade de controle da doença na área, sendo, portanto, necessárias ações
visando a obtenção de dados sobre confirmação do diagnóstico, proporção de casos em
vacinados, padrões de distribuição da doença e cobertura vacinal.
A consolidação dos dados considerando as características de pessoa, tempo e lugar
permitirá uma caracterização detalhada da situação da doença.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
A vacinação com o toxóide diftérico é a medida de controle mais importante da difteria. O emprego sistemático desta vacina, com altas coberturas vacinais ao longo do tempo,
além de diminuir a incidência de casos clínicos determina importante redução do número
de portadores, induzindo a chamada “imunidade coletiva”.
Os indivíduos adequadamente imunizados neutralizarão a toxina produzida pelo bacilo diftérico, responsável pelas manifestações clínicas da doença. A vacinação normalmente é feita de forma sistemática, com aplicação de rotina do imunobiológico pelos serviços
de saúde, ou em forma de campanhas de vacinação ou, ainda, de bloqueio, realizada diante
da ocorrência de um caso suspeito da doença.
268
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Considera-se adequadamente vacinado:
• quem recebeu três doses de vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche) ou
DTP+Hib (contra difteria, tétano e coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae) ou DT (dupla infantil), a partir de dois meses de vida, com
intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as doses (o ideal é o intervalo de dois meses)
e com 1º reforço aplicado no prazo de 6 a 12 meses após a 3ª dose e o 2º reforço com
4-6 anos de idade;
• quem recebeu três doses da vacina dT (dupla adulto) a partir de 7 anos de idade,
com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as doses (o ideal é o intervalo de dois
meses).
Vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche)
• A eficácia da vacina DTP varia de acordo com o componente, a saber: 80%-90% para
difteria; 75%-80% para coqueluche e 100% para tétano. A imunidade conferida pela
vacina não é permanente e decresce com o tempo. Daí a necessidade de aplicar uma
dose de reforço com a dT a cada dez anos. Em média de 5 a 10 anos após a última
dose da vacina, a proteção pode ser pouca ou nenhuma.
• Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de dois meses de idade até 6 anos
completos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação do Programa Nacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
• Contra-indicações: crianças com quadro neurológico em atividade; reação anafilática após o recebimento de qualquer dose da vacina; história de hipersensibilidade
aos componentes da vacina; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicação
de uma dose anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões
até 72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório, com choque ou
episódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da vacina
(vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
• Eventos adversos: a maioria dos eventos pós-vacinação com DTP são de caráter benigno e ocorrem nas primeiras 48 horas após a aplicação da vacina. São comuns reações locais (vermelhidão, calor, endurecimento e edema, acompanhados ou não de
dor) e sistêmicas (febre, irritabilidade e sonolência, por exemplo). Menos freqüentemente, podem ocorrer reações como choro persistente e inconsolável, episódio
hipotônico-hiporresponsivo e convulsão (vide Manual de Vigilância Epidemiológica
dos Eventos Adversos Pós-Vacinação).
6
D
Vacina tetravalente – DTP+Hib (contra difteria, tétano, coqueluche
e infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae)
• De acordo com o calendário nacional de vacinação (Portaria MS nº 597, de 8/4/04),
é indicada a aplicação de três doses da vacina tetravalente nos menores de um ano
de idade. Esta vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC, podendo ser utilizada
por cinco dias após a reconstituição (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
269
Difteria
• Deve ser aplicada por via intramuscular profunda, na região do vasto lateral; a via
subcutânea deve ser utilizada em crianças com trombocitopenia ou distúrbios de
sangramento (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
• Contra-indicações: reação anafilática grave ao mesmo produto ou qualquer de seus
componentes; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicação de uma dose
anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões até 72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório, com choque ou episódio
hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da vacina; quadro
neurológico em atividade (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
• Eventos adversos: os sintomas locais mais freqüentes relatados dentro das primeiras
48 horas são dor, eritema, edema e/ou calor e enduração. Os sintomas sistêmicos relatados em igual período desapareceram espontaneamente, dentre os quais febre, perda
de apetite, agitação, vômito, choro persistente, mal-estar geral e irritabilidade. Menos
freqüentemente, pode ocorrer sonolência, choro prolongado e incontrolável, convulsões e síndrome hipotônica-hiporresponsiva. Relatos de reações alérgicas, incluindo
as anafiláticas, são raros (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).
Vacina DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche acelular)
• Esta vacina está disponível somente nos Centros de Referência de Imunobiológicos
Especiais (Crie) e é indicada para as crianças de 2 meses a 6 anos completos (6 anos,
11 meses e 29 dias) que apresentaram os seguintes eventos adversos após o recebimento de qualquer uma das doses da vacina DTP: convulsão nas primeiras 72 horas
ou episódio hipotônico-hiporresponsivo nas primeiras 48 horas (vide Manual de
Procedimentos para Vacinação).
• Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de dois meses de idade até 6 anos
completos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação do Programa Nacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
• Contra-indicações: reação anafilática após o recebimento de qualquer dose da vacina
acelular ou celular (DTP); história de hipersensibilidade aos componentes da vacina;
ocorrência de encefalopatia nos primeiros sete dias após a administração da vacina
acelular ou da celular (DTP) (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).
• Eventos adversos: os eventos adversos locais e sistêmicos leves das vacinas acelulares são os mesmos das vacinas celulares, porém com menor freqüência e intensidade. Raramente, pode ocorrer febre > 4oºC; convulsões febris, choro com 3 horas ou
mais de duração e episódios hipotônico-hiporresponsivos (vide Manual dos Centros
de Referência de Imunobiológicos Especiais).
Vacina dT (dupla adulto – contra difteria e tétano)
• Aplica-se por via intramuscular, a partir de 7 anos completos. É conservada entre
+2ºC e +8ºC, conforme orientação do Programa Nacional de Imunizações (vide Manual de Normas e Procedimentos do Programa Nacional de Imunizações).
270
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Recomendações para vacinação
Rotina para menores de 7 anos – o Ministério da Saúde preconiza a administração de
três doses da vacina DTP+Hib, a partir de 2 meses de vida, com intervalo de 60 dias entre as
doses. Doses subseqüentes da vacina DTP deverão ser aplicadas aos 15 meses (1º reforço) e
aos 4-6 anos de idade (2º reforço).
Esquema recomendado para as vacinas DTP+Hib e DTP
Vacina
DTP+Hib
DTP
Dose
Idade
Intervalo entre as doses
1ª dose
2 meses
8 semanas
2ª dose
4 meses
8 semanas
3ª dose
6 meses
8 semanas
1º reforço
15 meses
6 a 12 meses após a 3ª dose
2º reforço
4-6 anos
6
Rotina para pessoas com 7 anos ou mais – a vacina dT deve ser administrada a partir
de sete anos completos. O esquema preconizado para os que não têm história de vacinação
prévia contra a difteria (DTP ou DTPa ou DT ou dT) é a administração de três doses com
intervalo de dois meses entre elas (intervalo mínimo de 30 dias) e uma dose de reforço a
cada 10 anos. Nas pessoas com vacinação prévia contra a difteria (DTP ou DTPa ou DT ou
dT) deve-se completar o esquema, ou seja, considerar as doses (comprovadas) aplicadas
anteriormente e nunca reiniciar o esquema (ver Portaria MS nº 597, de 8/4/04).
D
Casos isolados e surtos – proceder a vacinação seletiva da população susceptível, visando aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência dos casos.
Vacinação de bloqueio
Logo após a identificação de um caso suspeito de difteria, deve ser feita a visita domiciliar e, de acordo com cada situação, visita à escola, creche, local de trabalho, etc. para
vacinação de todos os contatos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com estado
vacinal desconhecido, de acordo com as seguintes orientações:
• administrar uma dose da vacina DTP ou DTP+Hib ou dupla tipo adulto, conforme
a idade e estado vacinal, e orientar como completar o esquema de vacinação;
• as crianças e adultos com esquema de vacinação em dia só deverão receber uma dose
de reforço se a última dose de vacina foi aplicada há mais de 5 anos;
• a ocorrência de um surto exige, além da vacinação imediata dos comunicantes com
situação vacinal inadequada (medida que procura diminuir o número de susceptíveis), uma investigação da ocorrência e situação vacinal da população sob risco, com
conseqüente extensão da vacinação a todos os expostos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
271
Difteria
Controle da fonte de infecção
Medidas gerais para pacientes hospitalizados
Isolamento – recomenda-se isolamento tipo respiratório por gotículas durante 14 dias
após a introdução da antibioticoterapia. O ideal é suspender as medidas relativas às precauções respiratórias somente quando duas culturas de secreções obtidas da narina e da
faringe, em meios específicos, forem negativas.
Quarto privativo – o paciente com difteria deve ser mantido em aposento exclusivo
ou compartilhado por mais de um paciente com o mesmo diagnóstico. A porta do quarto
deve ser mantida fechada.
Lavagem de mãos – deve ser feita antes e após o contato com o paciente após o manuseio de materiais utilizados pelo mesmo e após retirada das luvas e máscara.
Uso de máscara – recomenda-se o uso de máscara comum para todos os que entram
no quarto. Após o uso, deve ser descartada em recipiente apropriado e o indivíduo deve
lavar as mãos.
Limpeza e desinfecção – recomenda-se desinfecção concorrente e terminal dos objetos contaminados com as secreções nasofaríngeas. A solução indicada é o hipoclorito de
sódio a 1%. Após a desinfecção, os objetos devem ser enxaguados em água corrente. Objetos de metal podem ser desinfetados com álcool etílico a 70%.
Vacinação do caso pós-alta
Como a difteria nem sempre confere imunidade e a reincidência não é incomum, os
doentes serão considerados susceptíveis e, portanto, deverão ser vacinados logo após a alta,
conforme orientação a seguir:
Esquema recomendado
História vacinal
Menores de 7 anos
< 1ano
> 1 ano
7 anos ou mais
Não vacinados
Iniciar o esquema
com DTP+Hib
Iniciar o esquema
com DTP
Iniciar o esquema
com dT
Vacinação incompleta
Completar o esquema
com DTP+Hib
Completar o
esquema com DTP
Completar o
esquema com a dT
Vacinação completa
Aplicar uma dose de DTP como reforço
Aplicar uma dose
de dT como reforço
Controle dos comunicantes
Vacinação dos comunicantes
• Os comunicantes domiciliares e escolares, adultos ou crianças, não vacinados, inadequadamente vacinados ou com situação vacinal desconhecida deverão receber
uma dose da vacina DTP (em crianças menores de 7 anos) ou de dT (em crianças
com 7 anos ou mais e adultos) e serem orientados como proceder para completar o
esquema de vacinação.
272
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
• Nos comunicantes, adultos ou crianças, que receberam há mais de cinco anos o esquema básico ou dose(s) de reforço, deverá ser administrada um dose de reforço de
DTP (em crianças menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e
adultos).
Pesquisa de portadores entre os comunicantes
• Coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele dos comunicantes, a fim de
realizar cultura de Corynebacterium diphtheriae. Considerando o curto período de
incubação da doença (1-6 dias) e visando garantir uma margem de segurança, recomenda-se a coleta de material de pessoas que tiveram contato com o caso (suspeito
ou confirmado) nos últimos 10-14 dias.
• Comunicantes que trabalhem em profissões que envolvam a manipulação de alimentos, ou contato freqüente com grande número de crianças nos grupos de maior
risco ou com pessoas imunodeprimidas. Recomenda-se o afastamento de seus locais
de trabalho até que se tenha o resultado da cultura. Se positivo, o afastamento deverá
ser de 48 horas após a administração do antibiótico (ver item Quimioprofilaxia dos
portadores, no tópico Controle dos portadores).
• Os comunicantes com resultado da cultura positivo deverão ser reexaminados para
confirmar se são portadores ou caso de difteria, e devem ser tratados ou receber a
quimioprofilaxia conforme o parecer do médico que os reexaminou.
• Comunicantes não vacinados, inadequadamente vacinados ou com estado vacinal
desconhecido, nos quais não se coletou material para realização da cultura, recomenda-se a quimioprofilaxia.
• Se por motivos operacionais não for possível coletar material de todos os comunicantes, recomenda-se priorizar: os que têm contato com crianças (professores, atendentes de creche, etc.); pessoas que apresentam diminuição da imunidade; manipuladores de alimentos; pessoas não vacinadas, inadequadamente vacinadas ou com
estado vacinal desconhecido.
6
D
Atenção
Todos os comunicantes susceptíveis deverão ser mantidos em observação durante 7
dias, contados a partir do momento da exposição.
O soro antidiftérico não deve ser administrado com finalidade profilática.
Controle dos portadores
São portadores de difteria aqueles que alojam o Corynebacterium diphtheriae na nasofaringe ou na pele (no caso da difteria cutânea), sem apresentarem sintomatologia.
A identificação dos portadores de difteria é extremamente importante para o controle
da disseminação da doença, uma vez que esses casos são mais freqüentes do que os de difte-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
273
Difteria
ria clínica e responsáveis pela transmissão da maioria dos casos de difteria na comunidade.
Para que se diagnostique o estado do portador nos comunicantes de um paciente com
difteria é necessário coletar amostras das secreções nasais, de orofaringe e de lesões de pele
de todos os comunicantes, para realização do exame laboratorial indicado (cultura). Caso o
resultado do exame seja positivo, fica caracterizado o estado de portador, que pode ou não
evoluir para difteria.
Vacinação dos portadores
• Os portadores do Corynebacterium diphtheriae, menores e maiores de 7 anos e adultos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com situação vacinal desconhecida deverão receber uma dose da vacina DTP ou DTP+Hib (em crianças menores
de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e adultos) e serem orientados
como proceder para completar o esquema de vacinação.
• Nos comunicantes, adultos ou crianças, que receberam há mais de 5 anos o esquema
básico ou dose(s) de reforço, deverá ser administrada um dose de reforço de DTP (em
crianças menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e adultos).
Quimioprofilaxia dos portadores
Medicamento de escolha – eritromicina, de acordo com a orientação a seguir:
• crianças: 40 a 50mg/kg/dia (máxima de 2 gramas/dia), dividida em 4 doses iguais,
durante 7 dias, por via oral;
• adultos: 500mg, de 6/6 horas, durante 7 dias, por via oral.
Medicamento alternativo – penicilina G benzatina
Devido às dificuldades operacionais para o uso da eritromicina, em função da dose
indicada, tempo de uso e o fato da pessoa não apresentar sintomas, a penicilina G benzatina
constitui alternativa para a eritromicina.
A penicilina G benzatina deve ser aplicada em unidades de saúde adequadas para atender a ocorrência de um possível choque anafilático.
Recomenda-se a aplicação em dose única, por via intramuscular, nos seguintes esquemas:
• crianças com menos de 30kg: 600 mil UI;
• adultos e crianças com 30 kg ou mais: 1.200 mil UI.
Controle do estado de portador – duas semanas depois de completado o esquema com
antibiótico, deverá ser colhida nova amostra de secreção da orofaringe para cultura em meios
apropriados para Corynebacterium diphtheriae. Se o resultado for positivo, deverá ser feito tratamento adicional com eritromicina, durante dez dias. Se não houver resposta, outros
antimicrobianos ativos contra o bacilo diftérico (clindamicina, rifampicina, quinolona, por
exemplo) deverão ser utilizados, supondo-se ou confirmando-se ter havido (o que é raro)
resistência à eritromicina.
274
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Atenção
É fundamental o desencadeamento de bloqueio vacinal na área de residência, local de
trabalho, escola ou creche de ocorrência do caso e/ou de identificação de portadores.
Ações de educação em saúde
As pessoas devem ser informadas quanto a importância da vacinação como medida de
prevenção e controle da difteria. Deve-se dar ênfase a necessidade de administrar o número
de doses preconizado pelo calendário vigente.
Cabe ressaltar que toda população sob risco deve ser alertada para procurar os serviços de saúde caso observe manifestações clínicas compatíveis com a definição de caso
suspeito de difteria.
6
D
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
275
Difteria
Anexo 1
Vigilância epidemiológica da difteria
Caso suspeito
Notificação imediata
Coleta de material para cultura
Preenchimento da
Ficha de Investigação
Epidemiológica
Vacinação seletiva
com DTP ou
DTP+HiB, na área
de residência, escola,
creche, trabalho
Investigação imediata
Busca ativa de
outros casos na área
de residência, escola,
creche, trabalho
Investigação
dos comunicantes
Coleta de secreção naso e
orofaríngea e de lesões de pele
Verificar situação dos
comunicantes e vacinar, se necessário
Realizar quimioprofilaxia dos
comunicantes, conforme orientado no Guia
276
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Anexo 2
Diagnóstico laboratorial da difteria
A técnica da cultura para o isolamento do Corynebacterium diphtheriae das lesões
existentes é considerada como “padrão-ouro” para o diagnóstico laboratorial da difteria.
Em relação à pesquisa da toxigenicidade da cepa, que é de interesse clínico e epidemiológico, a mesma poderá ser feita tanto in vivo quanto in vitro, sendo a prova de Elek o
teste mais utilizado.
A bacterioscopia não tem valor diagnóstico para a difteria devido a baixa especificidade do método. A visualização do Corynebacterium diphtheriae é dificultada pela presença
de diversos agentes próprios da flora natural ou patogênica; além disso, o bacilo diftérico
pode apresentar-se com morfologia alterada, dificultando sua caracterização.
6
Coleta de secreção nasofaríngea
Material necessário
• 2 swabs descartáveis, estéreis (1 para nariz e outro para garganta)
• 2 tubos com meio de cultura PAI (1 para nariz e outro para garganta). Na impossibilidade de se utilizar este meio, pode-se utilizar o de Loeffler
• 1 abaixador de língua descartável
• Óculos
• Máscaras descartáveis
• Luvas descartáveis
• Sacos plásticos
• Fita crepe
• Etiquetas para identificação dos tubos
D
Condições para a coleta
• Observar as condições do meio de transporte, principalmente sua data de validade.
O meio deve ser amarelo claro, com consistência firme e sem áreas liquefeitas ou
ressecadas.
• Antes de iniciar a coleta, deve-se observar se o algodão que veda os tubos não está
molhado e se as demais características dos meios encontram-se adequadas. Contrariamente, os meios devem ser inutilizados.
• Os swabs utilizados não deverão apresentar sinais de violação da embalagem, umidade do algodão ou qualquer outra anormalidade que possa indicar contaminação.
Verificar, sempre, o prazo de validade na embalagem.
Procedimento de coleta
• A coleta do material deverá ser realizada na suspeita de caso(s) de difteria.
• A coleta deverá ser realizada preferencialmente antes do início do tratamento com
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
277
Difteria
antimicrobiano, mas deverá ser sempre feita.
• Retirar os meios de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperatura ambiente.
• Identificar um tubo como nariz e outro como garganta.
• Introduzir um swab na narina do paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmo
swab, fazer idêntico procedimento na outra narina
• O segundo swab será utilizado para coletar ao redor da superfície da garganta, passando ao redor da mesma, pelas amígdalas e úvula. Caso verifique-se a presença
de placa pseudomembranosa, o swab deve ser passado cautelosamente ao redor da
mesma, tomando-se o cuidado de não removê-la. A remoção da pseudomembrana
leva ao aumento da absorção de toxina.
• A coleta em casos suspeitos não deverá ser realizada em domicílio, mas sim no hospital e sob acompanhamento médico.
• Uma coleta adequada evita grande número de bactérias da microbiota normal da
orofaringe, o que aumenta consideravelmente a positividade do resultado.
• O material deve ser semeado imediatamente no meio de transporte.
Transporte do material coletado
Meio de transporte
• O meio de transporte utilizado é o PAI.
• O meio PAI deve ser armazenado em geladeira, evitando-se colocá-lo na porta.
• O prazo de validade do meio é de 3 meses a partir da data de fabricação.
• Os tubos com o meio PAI devem ser acondicionados em sacos plásticos fechados
para se evitar a entrada de umidade.
• O swab deve ser armazenado em temperatura ambiente, em local seco.
Procedimentos para transporte do espécime coletado
• Passar o swab em toda a extensão (superfície) do meio, girando-o e fazendo o movimento de zig-zag, a partir da base até o ápice.
• Encaminhar o material coletado ao laboratório em temperatura ambiente, imediatamente após a coleta. Na impossibilidade do encaminhamento imediato após a coleta,
incubar em temperatura de 37ºC por um período máximo de 24 horas. Encaminhar,
em seguida, em temperatura ambiente.
• Prender os dois tubos com fita crepe e identificá-los com nome do doente e/ou comunicante, idade, data e hora da coleta.
• Encaminhar os tubos com a ficha de encaminhamento de amostra (Anexo 3) ou
cópia da ficha de investigação epidemiológica, conforme definição da coordenação
estadual da vigilância.
278
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Difteria
Recomendações adicionais
• Por ser doença de transmissão respiratória, é necessário o uso de máscaras, com
vistas a conferir proteção ao profissional que realiza a coleta. A máscara deverá ser
utilizada tanto para a coleta de caso(s) suspeito(s) quanto de comunicantes.
• Não deverá ser feita nenhuma improvisação do material. É imprescindível que o
meio de transporte e swab estejam obedecendo rigorosamente as condições de uso
no momento da coleta.
• A coleta deverá ser feita com técnica adequada e correta para a obtenção de bons
resultados.
• Todo material descartável utilizado na coleta deverá ser acondicionado em saco
plástico, vedado com fita crepe, identificado como contaminado e recolhido no lixo
hospitalar.
Quadro resumo
Tipo de
material
Exsudatos
de oro e
nasofaringe
Exsudatos
de lesões
de pele
Época da coleta
Tão logo se suspeite
de difteria e, preferencialmente, antes
da administração
de antibióticos
Tão logo se suspeite
de difteria e, preferencialmente, antes
da administração
de antibióticos
No momento em
que se estiver pesquisando portadores
6
Indicação
Confirmação
do diagnóstico
ou pesquisa
de portadores
Confirmação
do diagnóstico
ou pesquisa
de portadores
Coleta e transporte
Na coleta de material da
nasofaringe, introduzir o
swab e girá-lo, retirando-o
O material deve ser semeado
em meio PAI ou Loeffler de
imediato
O transporte do material semeado ao laboratório deve ser feito
em temperatura ambiente
O material deve ser
semeado em meio PAI
ou Loeffler de imediato.
O transporte do material
semeado ao laboratório
deve ser feito em
temperatura ambiente
Tipo de exame
Cultura para
isolamento e
identificação
do Corynebacterium
diphtheriae
D
Cultura para
isolamento e
identificação
do Corynebacterium
diphtheriae
Orientações para coleta e transporte
de material para diagnóstico da difteria
1. Coleta de secreção de nasofaringe
• A coleta do material deverá ser realizada na suspeita de caso(s) de difteria.
• A coleta deverá ser realizada preferencialmente antes do início do tratamento com
antimicrobiano, mas deverá ser sempre feita.
• Retirar os meios de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperatura ambiente.
• Identificar um tubo como nariz e outro como garganta.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
279
Difteria
• Introduzir um swab na narina do paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmo
swab, fazer idêntico procedimento na outra narina.
• O segundo swab será utilizado para coletar ao redor da superfície da garganta,
passando ao redor da mesma, pelas amígdalas e úvula. Caso verifique-se a presença de placa pseudomembranosa, o swab deve ser passado cautelosamente ao
redor da mesma, tornando-se o cuidado de não removê-la. A remoção da pseudomembrana leva ao aumento da absorção de toxina.
• O material deve ser semeado imediatamente no meio de transporte.
Atenção
• Os swabs não devem permanecer dentro dos respectivos tubos.
2. Transporte em meio PAI
Coletar das duas narinas e semear no meio PAI, no tubo indicado. Exemplo:
Coletar da garganta e semear no meio PAI, no tubo indicado. Exemplo:
3. Identificação dos tubos
• Identificar os tubos como nariz e outro como garganta, com dados do paciente,
segundo preconizado pela vigilância e laboratório.
• Anotar a data e hora da coleta do espécime clínico.
4. Envio do espécime clínico para o laboratório
• Os tubos com material coletado deverão ser encaminhados imediatamente ao
laboratório, em temperatura ambiente.
• Na impossibilidade do encaminhamento imediato, incubar os tubos em estufa a
temperatura de 37ºC, por um período máximo de 24 horas, e encaminhá-los, em
seguida, em temperatura ambiente.
280
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Difteria
Anexo 3
Ficha de encaminhamento de espécime clínico
para cultura de Corynebacterium diphtheriae
6
D
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Doença de Chagas
DOENÇA DE CHAGAS
CID 10: B57
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa, causada por protozooário flagelado, de curso clínico crônico, que
se caracteriza por fase inicial aguda, com sinais ou sintomas quase sempre inespecíficos,
quando presentes, e que pode evoluir para a fase crônica, com comprometimento cardíaco
(cardiopatia chagásica) ou digestivo (megaesôfago e megacólon). Outras manifestações clínicas são bastante raras, como a meningoencefalite chagásica.
Agente etiológico
É o Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado da ordem Kinetoplastida, família Trypanosamatidae, caracterizado pela presença de um flagelo e uma única mitocondria. No sangue dos vertebrados, o Trypanosoma cruzi se apresenta sob a forma de trypomastigota e,
nos tecidos, como amastigotas. Nos invertebrados (insetos vetores) ocorre um ciclo com
a transformação dos tripomastigotas sangüíneos em epimastigotas, que depois se diferenciam em trypomastigotas metacíclicos, que são as formas infectantes acumuladas nas fezes
do inseto.
Reservatório
Além do homem, mamíferos domésticos e silvestres têm sido naturalmente encontrados infectados pelo Trypanosoma cruzi, tais como gato, cão, porco doméstico, rato
doméstico, macaco de cheiro, sagüi, tatu, gambá, cuíca, morcego, dentre outros. Os mais
importantes são aqueles que coabitam ou estão muito próximos do homem, como o cão, o
rato, o gambá, o tatu e até mesmo o porco doméstico, encontrado associado com espécies
silvestres na Amazônia. As aves e animais de “sangue frio” (lagartos, sapos, outros) são
refratários à infecção.
Vetores
Das mais de 120 espécies conhecidas, 48 foram identificadas no Brasil, das quais 30 já
capturadas no ambiente domiciliar. Dessas, cinco têm especial importância na transmissão
da doença ao homem. Por ordem de importância: Triatoma infestans, T. brasiliensis, Panstrongylus megistus, T. pseudomaculata e T. sordida. Outros, como T. rubrovaria, no Rio
Grande do Sul, e Rhodnius neglectus, em Goiás, com a eliminação do T. infestans, vêm colonizando a habitação e tendem a assumir, também, algum papel na transmissão domiciliar
da doença de Chagas. Outras espécies, por razões diversas, devem ser consideradas. Entre
essas, deve-se fazer referência ao T. vitticeps, pelas altas taxas de infecção natural (Espírito
Santo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais), R.nasatus, pela freqüência com que é capturado,
282
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
em áreas localizadas (CE e RN), e R. prolixus, pelo fato de ser a principal espécie em alguns
países (Colômbia, Venezuela) e por ter sido identificado em focos naturais (macaubeiras),
no estado do Tocantins. Na Amazônia, as espécies mais importantes são R. pictipes, R.
robustus, P. geniculatus, P. lignarius e T. maculata. Ainda, podemos citar R. prolixus nas
Guianas e Suriname, R. prolixus, T. dimidiata e R. pallescens na América Central e T. barberi, T. dimidiata e T. phyllosoma no México.
Modo de transmissão
A transmissão natural, ou primária, da doença de Chagas é a vetorial, que ocorre através das fezes dos triatomíneos, também conhecidos como “barbeiros” ou “chupões”. Esses,
ao picar os vertebrados, em geral defecam após o repasto, eliminando formas infectantes
de trypomastigotas metacíclicos, presentes em suas fezes, e que penetram pelo orifício da
picada ou por solução de continuidade deixada pelo ato de coçar.
A eliminação do T. infestans, espécie estritamente domiciliar, e a diminuição da densidade triatomínica domiciliar, por outras espécies de triatomíneos, reduziu significativamente a transmissão vetorial que, na década de 70, se estimava ser responsável por 80%
das infecções humanas. A transmissão transfusional ganhou grande importância epidemiológica nas duas últimas décadas, em função da migração de indivíduos infectados para
os centros urbanos e da ineficiência no controle das transfusões, nos bancos de sangue. A
transmissão congênita ocorre, mas muitos dos conceptos têm morte prematura, não se
sabendo, com precisão, qual a influência dessa forma de transmissão na manutenção da
endemia. Ocorrem ainda a transmissão acidental em laboratório e a transmissão pelo leite
materno, ambas de pouca significância epidemiológica. Sugere-se a hipótese de transmissão, por via oral, em alguns surtos episódicos. Recentemente, foram relatados no Paraná
casos da doença de Chagas na forma aguda, conseqüentes à transmissão por via oral após
ingestão de caldo de cana contaminado com fezes de barbeiros.
6
D
Período de incubação
Quando existe sintomatologia, na fase aguda, esta costuma aparecer 5 a 14 dias após a
picada do inseto vetor. Quando adquirida por transfusão de sangue, o período de incubação varia de 30 a 40 dias. Em geral, as formas crônicas da doença se manifestam mais de 10
anos após a infecção inicial.
Período de transmissibilidade
A infecção só passa de pessoa a pessoa através do sangue ou placenta. A maioria dos
indivíduos com infecção pelo T. cruzi alberga o parasito nos tecidos e sangue, durante toda
a vida, o que significa que devem ser excluídos das doações de sangue e de órgãos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
283
Doença de Chagas
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A doença de Chagas apresenta distintas formas clínicas, podendo ser classificada da
seguinte maneira:
Forma aguda
Aparente
Inaparente
Forma crônica
Indeterminada
Cardíaca
• Síndrome de arritmias
• Síndrome de insuficiência cardíaca
• Síndrome tromboembólica
Digestiva
• Síndrome de megaesôfago
• Síndrome de megacólon
Forma mista
Outros megas
Forma nervosa
Forma congênita
Dentre estas destacam-se, por sua importância epidemiológica, as formas agudas (indício de transmissão ativa), indeterminadas (mais freqüentes), cardíacas e digestiva (gravidade clínica). Estima-se que as formas agudas aparentes se manifestam em 3% dos casos,
em área endêmica; as formas indeterminadas, em 50%; as formas cardíacas, em 30% e as
digestivas em 7% a 8%.
Fase aguda
Quando aparente, corresponde aos fenômenos clínicos que se estabelecem nos primeiros dias ou meses da infecção inicial, sendo diagnosticada pelo encontro do parasito no
sangue periférico. É caracterizada por uma miocardite, na maioria das vezes, só traduzível
eletrocardiograficamente. As manifestações gerais são de febre (pouco elevada), mal-estar
geral, cefaléia, astenia, hiporexia, edema, hipertrofia de linfonodos. Freqüentemente, ocorre hepatoesplenomegalia. Às vezes, agrava-se numa forma meningoencefálica, principalmente nos primeiros meses ou anos de vida.
Quando existe porta de entrada aparente, ela pode ser ocular (sinal de Romaña) ou
cutânea (chagoma de inoculação). O sinal de Romaña é um edema bipalpebral (que, às
284
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
vezes, se expande à face), elástico indolor, de início geralmente brusco, coloração róseoviolácea das pálpebras, congestão conjuntival, enfartamento dos linfonodos satélites (préauriculares, parotídeos ou submaxilares) e, com menos freqüência, secreção conjuntival e
dacrioadenite. O chagoma de inoculação é uma formação cutânea, ligeiramente saliente,
arredondada, eritematosa, dura, incolor, quente e circundada por edema elástico, assemelhando-se a um furúnculo que não supura mas que às vezes pode exulcerar. É acompanhado de linfonodos satélites.
As alterações eletrocardiográficas estão na dependência do maior ou menor acometimento do coração, e as principais são: alargamento do espaço PR, alterações primárias
de onda T (baixa voltagem, bifasismo ou inversão), extra-sístoles ventriculares. Em casos
muito graves: bloqueio intraventricular (BRD) e desnivelamento de S-T com alterações de
T. Em geral, as alterações eletrocardiográficas são reversíveis, passada essa fase da doença.
Os exames de raios X de tórax pode mostrar imagem cardíaca discretamente aumentada, logo no início do diagnóstico; achado que pode ser observado apenas após alguns
dias de doença.
6
Fase crônica
Forma indeterminada – passada a fase aguda aparente ou inaparente, o indivíduo
alberga uma infecção assintomática que pode nunca se manifestar ou se expressar clinicamente anos ou décadas mais tarde, em uma das formas crônicas.
Forma cardíaca – é a mais importante forma de limitação ao doente chagásico e a principal causa de morte. Pode apresentar-se sem sintomatologia, mas com alterações eletrocardiográficas (principalmente bloqueio completo de ramo direito), como uma síndrome de
insuficiência cardíaca progressiva, insuficiência cardíaca fulminante ou com arritmias graves e morte súbita. Seus sinais e sintomas são: palpitação, dispnéia, edema, dor precordial,
dispnéia paroxística noturna, tosse, tonturas, desmaios, acidentes embólicos, extra-sistolias,
desdobramento de segunda bulha, sopro sistólico, hipofonese de segunda bulha.
As principais alterações eletrocardiográficas são: bloqueio completo do ramo direito
(BCRD), hemibloqueio anterior esquerdo (HBAE), bloqueio AV do primeiro, segundo e
terceiro graus, extra-sístoles ventriculares, sobrecarga de cavidades cardíacas, alterações da
repolarização ventricular, dentre outras.
Os raios X de tórax revelam cardiomegalia global discreta, moderada ou acentuada,
aumento isolado do ventrículo esquerdo, aumento biventricular, congestão vascular pulmonar, etc.
Forma digestiva – caracteriza-se por alterações ao longo do trato digestivo, ocasionadas por lesões dos plexos nervosos (destruição neuronal simpática), com conseqüentes
alterações da motilidade e de morfologia, ao nível do trato digestivo, sendo o megaesôfago
e o megacólon as manifestações mais comuns. São sinais e sintomas do megaesôfago: disfagia (sintoma mais freqüente e dominante), regurgitação, epigastralgia ou dor retroesternal,
odinofagia (dor à deglutição), soluço, ptialismo (excesso de salivação), emagrecimento (podendo chegar à caquexia), hipertrofia das parótidas. O megacólon se caracteriza por constipação intestinal (instalação lenta e insidiosa), meteorismo, distensão abdominal, fecaloma.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
D
285
Doença de Chagas
Os exames radiológicos são importantes no diagnóstico da forma digestiva. No caso
do megaesôfago há 4 grupos de alterações que vão desde uma simples dificuldade de seu
esvaziamento até as dolicomegaesôfago, que correspondem àqueles com grande volume,
alongado, atônico, dobrando-se sobre a cúpula diafragmática, produzindo sombra paracardíaca direita ao simples exame de tórax. O megacólon é classificado em três grupos, de
acordo com a capacidade de exoneração do meio de contraste, quando se realiza o enema
opaco.
Forma mista – o paciente pode ter associação da forma cardíaca com a digestiva e
também apresentar mais de um mega.
Forma nervosa e de outros megas – apesar de aventadas, não parecem ser manifestações importantes destas infecções.
Forma congênita – sobressaem, dentre os sinais clínicos, a hepatomegalia e esplenomegalia, presentes em todos os casos, icterícia, equimoses e convulsões decorrentes da
hipoglicemia. Não há relato de ocorrência de febre.
Diagnóstico clínico-epidemiológico e/ou laboratorial
Diagnóstico diferencial
Fase aguda – no que diz respeito às manifestações gerais, deve-se fazer diagnóstico
diferencial com a febre tifóide, leishmaniose visceral, esquistossomose mansônica aguda,
mononucleose infecciosa e toxoplasmose, dentre outras enfermidades febris. O sinal de
Romaña deve ser diferenciado de múltiplas manifestações oculares, a exemplo das conjuntivites, edema de Quincke, celulite orbitária, etc. O chagoma de inoculação pode ser confundido com furunculose. A forma meningoencefálica comporta diagnóstico diferencial
com as determinadas por outras etiologias.
Fase crônica – a miocardiopatia chagásica tem que ser diferenciada de muitas outras
cardiopatias. Os dados epidemiológicos, a idade do paciente, os exames sorológicos, eletrocardiográficos e radiológicos, em geral, permitem a perfeita caracterização dessa entidade
clínica.
Forma digestiva – diferenciar de megas causados por outras etiologias.
Forma congênita – diferenciar da sífilis e da toxoplasmose.
Diagnóstico laboratorial
Parasitológico – dentre as diversas técnicas, a mais simples é a da microscopia direta
sobre gota fresca de sangue, examinada entre lâmina e lamínula, com ocular 10 e objetiva
40. O exame deve ser minucioso e abarcar toda a lamínula, sendo positivo quando se encontra o parasito (geralmente em movimentação serpenteante entre as hemácias e leucócitos) com sua forma alongada, grande cinetoplasto e flagelo muito móvel. Diante da suspeita
clínica, se negativo o primeiro exame, deve-se repeti-lo por três ou quatro vezes ao dia, durante vários dias. Também se pode usar a técnica de gota espessa corada, como empregada
para malária, mas que é bem menos sensível que o exame a fresco. A propósito, não muito
286
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
raramente tem ocorrido o diagnóstico ocasional de doença de Chagas aguda (DCA) pelo
achado do parasito em esfregaços corados para contagem diferencial de leucócitos e em
hemogramas de pacientes febris. Desde os anos 1960, o diagnóstico parasitológico direto
da DCA vem sendo aperfeiçoado com procedimentos de enriquecimento, sendo mais empregadas as técnicas de microhematócrito (centrifugação e exame do creme leucocitário)
e de Strout (centrifugação do soro após retirada do coágulo). Cabe ainda mencionar que a
utilização de técnicas moleculares modernas, como a de PCR, permite detectar com grande
sensibilidade e especificidade frações do DNA do parasito. Mesmo podendo ser positivas
também na fase crônica, revelam-se úteis como auxílio diagnóstico de DCA – especialmente nos casos congênitos.
Métodos imunológicos
Hemaglutinação indireta – a interpretação do resultado varia de acordo com o ponto
de corte determinado pelo fabricante dos kits.
Imunofluorescência indireta (IFI) – o resultado da imunofluorescência indireta é
normalmente expresso em diluições são consideradas como positivas reações a partir da
diluição de 1:80.
Ensaio imunoenzimático (Elisa) – consiste na reação de anticorpos presentes nos soros com antígenos solúveis e purificados de T. cruzi obtidos a partir de cultura in vitro (ou
antígenos recombinantes de T. cruzi). Esse antígeno é adsorvido em microplacas e os soros
diluídos (controle do teste e das amostras) são adicionados posteriormente. Os anticorpos
específicos presentes no soro vão se fixar aos antígenos. A visualização da reação ocorre
quando adicionada uma anti-imunoglobulina marcada com a enzima peroxidase, que se
ligará aos anticorpos específicos caso estejam presentes, gerando um produto colorido que
poderá ser medido por espectrofotometria. O resultado considerado sororreagente é aquele que apresente o valor da densidade ótica igual ou superior ao ponto de corte (Cut-Off)
do resultado do controle negativo.
As sorologias que detectam IgM (imunofluorescência e hemaglutinação), também são
utilizadas para diagnóstico da fase aguda; entretanto, só se deve firmar o diagnóstico de forma aguda com o encontro de parasito no sangue periférico. Na fase crônica, utiliza-se mais
freqüentemente os métodos de detecção de anticorpos circulantes (IgG). Dentre os citados,
os mais utilizados são o Elisa, a imunofluorescência e a hemaglutinação indireta.
Testes moleculares – reação em cadeia de polimerase – PCR (amplificação do DNA
do parasita), ainda não disponível na rede de laboratórios de saúde pública, utilizada apenas
em situações especiais.
6
D
Tratamento
Todo indivíduo com infecção chagásica deve ter acesso a um serviço médico capaz de
fazer os diagnósticos clínico, laboratorial e epidemiológico e identificar a fase da doença,
para definição do tratamento adequado, quando necessário. O manejo clínico do paciente
chagásico, particularmente das formas cardíacas, é importante, pois quando bem conduzido e iniciado precocemente pode resultar na elevação da expectativa de sobrevivência.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
287
Doença de Chagas
Tratamento específico
Objetiva suprimir a parasitemia e, conseqüentemente, seus efeitos patogênicos ao organismo. Esse tratamento está indicado na fase aguda da doença, em casos congênitos, na
reativação da parasitemia por imunossupressão (aids e outras doenças imunossupressoras),
transplantado que recebeu órgão de doador infectado, quando a supressão da parasitemia
ou a prevenção do seu aparecimento tem ação benéfica para os pacientes. Não está indicada
para casos crônicos pois os pacientes não se beneficiam clinicamente, visto que nesta fase
a parasitemia não tem importância significativa na evolução da doença e, mesmo em altas
doses, não se consegue, com segurança, curas parasitológicas. Está contra-indicado para
gestantes porque, além de não impedir a infecção congênita, as drogas podem causar danos
ao concepto.
Esquema terapêutico: benznidazol – 8mg/kg/dia, em duas tomadas diárias, durante
60 dias.
Efeitos colaterais: cefaléias, tonturas, anorexia, perda de peso, dermatites, lassidão,
depleção das células da série vermelha.
Tratamento sintomático
Formas cardíacas – o manejo da cardiopatia chagásica exige um conhecimento específico das respostas que as drogas utilizadas na prática cardiológica apresentam neste tipo
de doente. Vale ressaltar que o início precoce e o tratamento bem conduzido beneficiam
significativamente o prognóstico de muitos pacientes, podendo aumentar a sobrevivência
e melhorar a sua qualidade de vida, permitindo o desenvolvimento das atividades habituais
desde que não impliquem em grandes esforços físicos. As drogas utilizadas são as mesmas
que se usam em outras cardiopatias: cardiotônicos, diuréticos, antiarrítmicos, vasodilatadores, etc. Em alguns casos, indica-se a implantação de marca-passo, com resultados bastante satisfatórios na prevenção da morte súbita.
Formas digestivas – dependendo do estágio em que a doença é diagnosticada, indica-se
medidas mais conservadoras (uso de dietas, laxativos ou lavagens). Em estágios mais avançados, impõe-se a dilatação ou correção cirúrgica do órgão afetado.
Aspectos epidemiológicos
A doença de Chagas, primitivamente uma zoonose, passou a constituir problema de
patologia humana, ou seja, uma antropozoonose, a partir da domiciliação dos vetores, deslocados de seus ecótopos silvestres originais pela ação do homem sobre o ambiente.
A transmissão natural ocorre pela contaminação da pele ou mucosas e pelas fezes dos
vetores – insetos hematófagos estritos, da família Triatominae (Hemiptera: Reduviidae),
conhecidos genericamente por triatomíneos e, vulgarmente, por barbeiro, chupão, fincão,
procotó – com formas infectantes de T. cruzi. Os mecanismos secundários de transmissão
são por via transfusional sangüínea, materno-infantil (transplacentária ou por aleitamento), por via oral, transplante de órgãos e transmissão acidental, mais freqüente pela manipu-
288
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
lação de material contaminado em laboratório. Entre essas outras “possibilidades” de veiculação da doença, tem especial importância epidemiológica a transmissão por transfusão de
sangue, que pode levar a doença para áreas sem transmissão natural, inclusive para grandes
centros populacionais, e a transmissão congênita, que pode representar o risco mais duradouro de produção de novos casos e de manutenção da endemia chagásica.
A distribuição espacial da doença, limitada ao continente americano – por isso é também chamada de tripanosomíase americana – depende da distribuição dos vetores e, além
disso, da distribuição da pobreza e das condições por ela geradas, que determinam o convívio do homem com o vetor, no ambiente domiciliar. A casa mal construída, mal acabada
ou mal conservada e a desinformação são algumas dessas condições, expressão da precária
situação de sobrevivência das populações sob risco. Então, em acréscimo aos determinantes
de natureza biológica ou ecológica, aqueles de natureza econômica e social estão na origem
da produção da doença de Chagas.
6
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Manter erradicado o Triatoma infestans e sob controle as outras espécies importantes na transmissão humana.
• Investigação epidemiológica de casos agudos, de transmissão vetorial, transfusional
ou transplacentária, visando a adoção de medidas de controle adequadas.
• Monitoramento da presença do vetor nos domicílios (vigilância entomológica).
• Monitoramento da infecção na população humana, através de inquéritos sorológicos periódicos.
D
Definição de caso
Forma aguda
Suspeito
Todo paciente residente em área caracterizada como provável de estar infestada por
triatomíneo e que apresente sinal de Romaña ou chagoma de inoculação.
Todo paciente residente em área de transmissão ativa da doença e que apresente febre
com mais de uma semana de duração.
Todo paciente, com febre, que tenha sido submetido à transfusão de sangue ou hemoderivados sem o devido controle de qualidade.
Todo paciente com clínica sugestiva e com exame parasitológico direto negativo ou
não realizado.
Confirmado
Todo caso suspeito com:
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
289
Doença de Chagas
• parasitológico direto positivo com ou sem sintomas;
• achados necroscópicos positivos.
Confirmado de formas crônicas
Indeterminada – indivíduo que apresente duas ou mais sorologias positivas, ou xenodiagnóstico positivo, para T. cruzi, sem manifestações clínicas.
Cardíaca – indivíduo que apresente duas ou mais sorologias positivas e/ ou xenodiagnóstico positivo para T. cruzi, com manifestações clínicas de miocardiopatia chagásica.
Digestiva – indivíduo com duas ou mais sorologias positivas e/ou xenodiagnóstico
positivo para T. cruzi, que apresente algum tipo de mega.
Mista – indivíduo com duas ou mais sorologias positivas e/ou xenodiagnóstico positivo para T. cruzi, que apresente algum tipo de mega e manifestações de miocardiopatia.
Congênita – recém-nascido, filho de mãe chagásica, com hepatoesplenomegalia, parasito no sangue periférico e/ou reações sorológicas que detectam IgM positivas.
Notificação
Todos os casos agudos, independente da forma de transmissão devem ser notificados
e investigados imediatamente, mediante instrumentos do Sinan.
As principais fontes de conhecimento de casos são:
• laboratórios, através de quaisquer exames hemoscópicos para diagnóstico parasitológico;
• serviços de hemoterapia, pelo diagnóstico sorológico na triagem de doadores de
sangue;
• serviços de assistência médica ambulatorial e hospitalar;
• inquéritos sorológicos;
• declaração de óbito.
No atual estágio avançado de controle alcançado pelo país, a investigação de casos
agudos da doença de Chagas, que venham a ser conhecidos, torna-se indispensável para
determinar a origem e o mecanismo de transmissão. Sendo o caso resultante de transmissão vetorial, impõe-se uma investigação entomológica que forneça dados sobre a espécie
de vetor envolvida e extensão do foco de infestação domiciliar. Uma vez confirmado que a
transmissão ocorreu por via transfusional, deve ser identificado o serviço de hemoterapia
que forneceu o sangue, com o objetivo de evitar a ocorrência de novos casos.
A investigação de surtos, acontecimento raro em doença de Chagas, é impositiva para
determinar a fonte comum de infecção, quase sempre alimento contaminado por fezes de
triatomíneos.
Os casos crônicos não são de notificação compulsória.
290
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
Primeiras medidas a serem adotadas frente a um caso agudo
Assistência médica ao paciente
Todo caso suspeito de forma aguda da doença de Chagas deve ser internado, visando
instituir tratamento específico.
Qualidade da assistência médica
A evolução clínica da forma aguda da doença de Chagas é muito variada, podendo ser
benigna ou apresentar manifestações de cardiopatia e meningoencefalite, razão pela qual se
indica internamento, se possível em hospitais de referência. Por outro lado, o tratamento
específico necessita de acompanhamento, devido aos efeitos colaterais e monitoramento
da parasitemia.
Proteção da população
Se a transmissão ocorreu por via transfusional, solicitar à vigilância sanitária inspeção
da instituição responsável e adoção das medidas pertinentes. Em caso de transmissão vetorial, realizar imediatamente pesquisa entomológica no domicílio e área de residência do
caso, visando a adoção das medidas de controle da população de triatomíneos.
6
D
Confirmação diagnóstica
A doença de Chagas só é confirmada mediante exame laboratorial, o que impõe que
os profissionais dos serviços de vigilância verifiquem se foram providenciados a coleta e o
envio de material, conforme detalhado no Anexo I. Como a investigação só está indicada
para casos agudos, os exames de eleição são pesquisa de T. cruzi em sangue periférico e
sorologia para detecção de IgM.
Investigação
A inespecificidade dos sinais e sintomas, quando presente, na fase aguda da doença de
Chagas faz pouco freqüente a suspeita clínica. Não obstante, para que medidas de controle
sejam tomadas com oportunidade, a detecção e investigação de casos agudos pela vigilância
epidemiológica são importantes, seja por transmissão vetorial como transfusional, para a
adoção de medidas de controle.
Roteiro da investigação
epidemiológica de doença de Chagas aguda
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan, relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
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291
Doença de Chagas
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmação da suspeita diagnóstica
Anotar na ficha de investigação os dados da história e manifestações clínicas.
Como, em geral, as suspeitas de doença de Chagas aguda se referem a casos com manifestações clínicas e os doentes são hospitalizados, deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para anotar as informações clínicas sobre o paciente, as quais
servirão para definir se o quadro apresentado é compatível com a doença.
Sugere-se que se faça cópia da anamnese, exame físico e da evolução do doente, com
vistas ao enriquecimento das análises e também para que possam servir como instrumento
de aprendizagem dos profissionais do nível local.
Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da forma de transmissão
Relato do paciente, ou familiares, de estadia ou residência em área de provável existência de triatomíneos, ou do indivíduo ser submetido à transfusão de sangue, nos 30 dias que
antecederam o início dos sintomas, orienta quanto à suspeita da forma de transmissão.
Para identificação e delimitação da área de transmissão, quando se tratar
de transmissão vetorial
Verificar se o local de residência corresponde a uma área de provável infestação de
triatomíneos transmissores da doença. Caso o paciente não resida em área de provável
transmissão, verificar seus deslocamentos para caracterizar se houve permanência em local
com esta característica.
Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importância para nortear a continuidade do processo de investigação.
Observe-se que, mesmo em áreas onde o Programa de Controle da Doença de Chagas
já tenha eliminado o vetor, pode-se ter transmissão eventual pelo aparecimento de triatomíneos que surgem nos domicílios vindos de matas próximas, mesmo que não se encontre
indício de colonização no intra ou peridomicílio.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Captura e identificação de triatomíneos: fazer pesquisa de triatomíneos em 100% dos
domicílios da área, visando delimitar qual o raio de transmissão ativa. Identificar as espécies e adotar as medidas de rociamento indicadas.
Coleta e remessa de material para exames
Logo após a suspeita clínica de doença de Chagas, coletar material do caso e de outros
suspeitos que forem encontrados durante a busca ativa, encaminhando para exame, de
acordo com as normas técnicas apresentadas no Anexo 1.
Encaminhar, para exame do conteúdo gastrointestinal, alguns espécimes de triatomíneos capturados.
292
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Doença de Chagas
Deve-se aguardar os resultados dos exames para iniciar o tratamento específico do
paciente. Só devem ser submetidos à terapêuticos, doentes com diagnóstico confirmado, devido à toxicidade das drogas.
Inspeção em unidades de hemoterapia
Na suspeita de transmissão transfusional, notificar imediatamente ao órgão de vigilância sanitária e acompanhar os resultados das inspeções e medidas adotadas.
Análise de dados e relatório final
Em geral, os casos agudos diagnosticados ocorrem de forma isolada e a análise se restringe à conclusão do diagnóstico, tratamento adotado e encerramento do caso. Importante
registrar, no relatório, as medidas de controle adotadas tanto pela vigilância epidemiológica
como sanitária, quando pertinente.
6
Vigilância entomológica
A presença de focos silvestres nos quais o T. cruzi se mantém em circulação, entre
animais hospedeiros, veiculada por diversas espécies de triatomíneos, determina a necessidade de uma vigilância entomológica de caráter permanente para se manter a doença de
Chagas sob controle.
Cabe aqui caracterizar, ao menos, quatro diferentes situações, em função do comportamento das espécies de triatomíneos presentes e da pressão de infestação ou reinfestação
existente na área sob vigilância:
• presença exclusiva de espécie de triatomíneo, completamente domiciliada;
• presença de triatomíneo, estritamente domiciliado, e de espécies nativas, sem conhecida capacidade de invasão de ecótopos artificiais;
• presença de triatomíneo, estritamente domiciliado, e de espécies nativas, com conhecida capacidade invasiva de ecótopos artificiais;
• presença de espécies nativas, presentes em ecótopos artificiais e naturais.
D
Além disso, outras variáveis devem ser consideradas:
• a existência ou não de localidades próximas com infestação domiciliar;
• a densidade das populações silvestres de triatomíneos, de ecótopos naturais existentes, sua proximidade das casas e a relação que com eles tem a população humana;
• mudanças que venham a se processar, ou estejam se processando, no ambiente natural, pela ação do homem.
O conhecimento e análise de todo esse conjunto de condições vão implicar a definição
do tipo e extensão da vigilância a ser exercida.
Para uma situação, por exemplo, onde se observa a presença exclusiva de uma espécie
de vetor introduzida – T. rubrofasciata, em área urbana –, uma vez eliminado o vetor não
há, ao menos teoricamente, qualquer possibilidade de reinfestação das casas e a vigilância
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
293
Doença de Chagas
entomológica seria dispensável. Por outro lado, quando presentes espécies nativas com
reconhecido potencial de domiciliação, em alta densidade, em grande número de ecótopos
silvestres próximos às casas, e com os quais a população mantém estreita relação, a vigilância entomológica deve ser a mais atenta possível.
Inquéritos sorológicos
Inquéritos sorológicos para determinação da infecção no homem, como parte da
vigilância epidemiológica, servem ao monitoramento da situação e ao esclarecimento de
questões, ou acontecimentos, em que importa determinar o grau de risco de transmissão,
tais como: infestação peridomiciliar, por diferentes espécies de vetor; infestação intradomiciliar residual, com baixa densidade populacional de triatomíneos, e infestação intradomicilar recente, por espécies de vetor de hábitos até então silvestres.
Além disso, inquéritos sorológicos podem estar indicados para a detecção de outros casos, a partir do conhecimento de caso agudo ou da infecção em triatomíneos domiciliados.
Instrumentos disponíveis para controle
Não se dispõe de vacina que permita a proteção de susceptíveis. Não se pode pretender o esgotamento das fontes de infecção desde que as drogas existentes são comprovadamente eficazes apenas nos casos de infecção recente, e também porque são muitos os
reservatórios animais de T. cruzi. Então, por limites determinados pela tecnologia disponível, ou por particularidades da própria epidemiologia da doença de Chagas, todo controle
da transmissão natural depende da intervenção sobre o vetor; enquanto que a transmissão
transfusional, do controle de qualidade do sangue transfundido.
Controle vetorial
Controle químico – a outra forma é pelo emprego, regular e sistemático, de inseticidas de ação residual nas habitações sabidamente infestadas por triatomíneos. Portanto,
faz-se necessária a realização de pesquisa entomológica antes de se iniciar o rociamento
das habitações.
Os objetivos do controle químico variam de acordo com as espécies e o estágio de
domiciliação do vetor. Se a espécie é estritamente domiciliar, o objetivo é sua completa
eliminação, como é o caso do T. infestans, cuja proposta hoje é a de eliminá-lo em todos
os países que compõem o Cone Sul. No caso do Panstrongylus megistus, T. brasiliensis,
T.pseudomaculata, e T. sordida, o controle a ser alcançado é a manutenção dos intradomicílios livres de colônias, visto que a existência de focos silvestres possibilita a reinfestação
das habitações. Com relação às outras espécies existentes, o objetivo é prevenir a colonização dos domicílios, através de rigorosa vigilância entomológica.
Melhoria ou substituição de habitações – a transmissão vetorial pode ser controlada
através da melhoria ou substituição de habitações de má qualidade, que propiciam a domiciliação e permanência dos triatomíneos no habitat humano (casas de pau a pique, de sopa-
294
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Doença de Chagas
po, de adobe sem reboco, etc.), por casas de paredes rebocadas, sem frestas, que dificultem
a colonização dos vetores. Prioriza-se a melhoria de habitações onde se encontram espécies
nativas, presentes, em alta densidade, em ecótopos naturais, em especial o T. brasiliensis e
o T.pseudomaculata.
Controle biológico – o uso de inibidores do crescimento, feromônios, microrganismos patógenos e esterilização induzida está sendo estudado, mas a utilização sistemática
desses métodos ainda não é, até aqui, aplicável na prática.
Controle da transmissão transfusional
Basicamente, consiste na fiscalização das unidades de hemoterapia, para que se faça o
controle de qualidade do sangue a ser transfundido através da triagem sorológica de todos
os doadores de sangue com, pelo menos, duas técnicas de alta sensibilidade. Esta triagem
deve ser feita não só para a doença de Chagas como para todas as outras doenças transmitidas pelo sangue (aids, sífilis, malária em áreas endêmicas e hepatites virais).
Outra forma indicada, mas que não tem tido boa aceitação, por modificar a coloração
do sangue, é a de se adicionar violeta de genciana, na concentração de 1:4.000, no sangue,
24 horas antes deste ser transfundido, visto que este produto elimina os parasitos.
6
Controle de outras formas de transmissão
D
A transmissão em laboratório deve ser prevenida através de rigoroso uso das normas
de biossegurança. A transmissão pelo leite materno, apesar de descrita na década de 30,
não tem sido diagnosticada e, possivelmente, não tem muito significado epidemiológico.
Não existe forma de prevenção da forma congênita.
Ações de educação em saúde
A prevenção e controle de doenças implica na adoção de medidas efetivas, entre as
quais ressaltam as ações educativas. Todo esse processo requer a participação ativa da população, de modo a permitir a apropriação de conhecimentos visando a transformação da
realidade sociosanitária.
Em relação à doença de Chagas, a população e os serviços de saúde devem participar
de discussões sobre formas de prevenção, tratamento e controle, inclusive sobre mecanismos que facilitem o acesso às informações, e o entendimento sobre as relações sociais de
convivência, com fatores predisponentes e facilitadores para a instalação de doenças.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Doença de Chagas
Anexo 1
Coleta e conservação de material
para diagnóstico da doença de Chagas
Tipo de
diagnóstico
Sorológico
Tipo de
material
Sangue
Quantidade
5-10ml
(mínimo 2
ml de soro)
2 gotas
Parasitológico
Nº de
amostras
1
1
Método
Imunofluo
rescência
Indireta/IFI
Hemaglutinação indireta
(HAI) ou Elisa
Gota espessa
ou esfregaço
fino
Período
da coleta
Fase aguda
(IgM)
Fase crônica
(IgG, Ig
total)
Duas lâminas
para esfregaço
Fase aguda
Tubo de vidro
ou plástico,
sem tampa
(melhor se
tubo capilar
de micromatócrito)
Concentração:
1
QBC ou
creme
leucocitário
Tubo de
vidro ou de
plástico estéril
e com tampa
(melhor se
Ependorf®)
Fase aguda
Sangue
1-5ml
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
Sangue total:
2ºC a 8ºC
Gelo seco
ou reciclável
Soro:
-20ºC
Nitrogênio
líquido
Exame a fresco
é mais eficiente
Para secagem
estocar em
suporte de
madeira
Não precisa,
pois deve ser
feito imediatamente após a
coleta
Após a secagem, anexar
e embrulhar
a lâmina
junto com
o papel identificatório
-
Observações:
1. O diagnóstico de infecção crônica (IgG) deve ser feito por, no mínimo, duas técnicas
de princípios diferentes, na mesma amostra de soro. O diagnóstico sorológico de
forma aguda (IgM) pode ser feito por exame único.
2. Nos casos de inquérito sorológico (humanos e de reservatórios), é recomendável
o uso de papel-filtro com amostras duplicadas, podendo ser transportadas em dispositivo de madeira para estocar lâminas, sacos plásticos ou envelope de papel. O
papel-filtro pode ser estocado em temperatura ambiente com sílica gel e/ou na geladeira no máximo por 60 dias. A sensibilidade depende da técnica empregada e oscila
entre 90%-97%.
3. A lâmina pode ser fixada através do calor (flambagem) e corada (pelo método de
Giemsa) para caracterização do Trypanossoma.
4. Deve-se deixar coagular o sangue e retrair-se o coágulo. Os flagelados concentram
no soro, que pode ser centrifugado para se obter maior concentração.
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Esquistossomose Mansônica
ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA
CID 10: B65
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A esquistossomose mansônica é uma doença infecciosa parasitária, causada por um
trematódeo (Schistosoma mansoni) que vive na corrente sangüínea do hospedeiro definitivo, cuja evolução clínica pode variar desde formas assintomáticas até as extremamente
graves. A magnitude de sua prevalência e a severidade das formas clínicas complicadas
conferem à esquistossomose uma grande transcendência.
6
Agente etiológico
O agente etiológico é o Schistosoma mansoni, trematódeo digenético, da família Schistosomatidae, gênero Schistosoma.
Reservatório
O homem é o principal reservatório. Os roedores selvagens, primatas, marsupiais, são
experimentalmente infectados pelo S. mansoni, o camundongo e o hamster são excelentes hospedeiros. No Brasil, foram encontrados naturalmente infectados alguns roedores,
marsupiais, carnívoros silvestres e ruminantes. Ainda não está bem definida a participação
desses animais na transmissão da doença.
E
Vetores
Hospedeiros intermediários
A transmissão da doença, numa região, depende da existência dos hospedeiros intermediários. No Brasil, as três espécies, por ordem de importância, envolvidas na transmissão
da doença são: Biomphalaria glabrata, Biomphalaria straminea e Biomphalaria tenagophila.
A distribuição conhecida do B. glabrata abrange 16 estados (Alagoas, Bahia, Espírito Santo,
Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do
Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe) e o Distrito Federal. A B. straminea tem distribuição conhecida mais extensa, estando presente, praticamente, em todas
as bacias hidrográficas do território brasileiro. Ocorre em 23 estados (Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) e no Distrito Federal.
A B. tenagophila é amplamente encontrada no sul do país, embora possa ser detectada em
menor extensão em outras regiões. Hoje, sua distribuição alcança 11 estados (Bahia, Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e o Distrito Federal.
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297
Esquistossomose Mansônica
Modo de transmissão
Os ovos do S. mansoni são eliminados pelas fezes do hospedeiro infectado (homem).
Na água, estes eclodem, liberando larvas ciliadas denominadas miracídios, que infectam o
hospedeiro intermediário (caramujo). Após quatro a seis semanas, abandonam o caramujo,
na forma de cercárias que ficam livres nas águas naturais.
O contato humano com águas que contêm cercárias, devido a atividades domésticas
tais como lavagem de roupas e louças, de lazer, banhos em rios e lagoas; e de atividades
profissionais, cultivo de arroz irrigado, alho, juta, etc., é a maneira pela qual o indivíduo
adquire a esquistossomose.
Período de incubação
Em média, de duas a seis semanas após a infecção.
Período de transmissibilidade
A partir de cinco semanas após a infecção o homem pode excretar ovos viáveis de S.
mansoni nas fezes, permanecendo assim durante muitos anos. Os caramujos infectados
liberam cercárias durante toda a sua vida, que varia de semanas até três meses.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade humana é universal. A imunidade absoluta é desconhecida; no entanto, a diminuição da intensidade da infecção e da incidência, observada em idosos residentes em áreas endêmicas, tem sido atribuída ao desenvolvimento de resistência contra
o agente. Apesar disso, o desenvolvimento de imunidade, como conseqüência à infecção,
ainda não está bem definido.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Características clínicas
A esquistossomose mansônica é uma doença de evolução crônica, de gravidade variada, causada por um verme trematódeo – Schistosoma mansoni – que, no homem, habita os
vasos sangüíneos do fígado e intestino.
Classificação clínica
A maioria das pessoas infectadas pode permanecer assintomática, dependendo da intensidade da infecção; a sintomatologia clínica corresponde ao estágio de desenvolvimento
do parasito no hospedeiro. O conhecimento completo da evolução da doença, somado às
características epidemiológicas, serve para o estabelecimento de bases para o seu controle.
Clinicamente, a esquistossomose pode ser classificada em:
298
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Esquistossomose Mansônica
Fase aguda
Dermatite cercariana – corresponde à fase de penetração das larvas (cercárias) através da pele. Varia desde quadro assintomático até apresentação de quadro clínico de dermatite urticariforme, com erupção papular, eritema, edema e prurido, podendo durar até 5
dias após a infecção.
Esquistossomose aguda ou febre de Katayama – após três a sete semanas de exposição pode aparecer quadro caracterizado por alterações gerais que compreendem: febre,
anorexia, dor abdominal e cefaléia. Com menor freqüência, o paciente pode referir diarréia,
náuseas, vômitos e tosse seca. Ao exame físico, pode ser encontrado hepatoesplenomegalia.
Laboratorialmente, o achado da eosinofilia elevada é bastante sugestivo, quando associado
a dados epidemiológicos.
Fase crônica
Esquistossomose crônica – inicia-se a partir dos 6 meses após a infecção, podendo durar vários anos. Nela, podem surgir os sinais de progressão da doença para diversos órgãos,
podendo atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite,
ruptura de varizes do esôfago. As manifestações clínicas variam, dependendo da localização
e intensidade do parasitismo, da capacidade de resposta do indivíduo ou do tratamento instituído. Apresenta-se por qualquer das seguintes formas:
Tipo I ou forma intestinal – caracteriza-se por diarréias repetidas que podem ser
mucossangüinolentas, com dor ou desconforto abdominal. Porém, pode apresentar-se assintomática;
Tipo II ou forma hepatointestinal – caracteriza-se pela presença de diarréias e epigastralgia. Ao exame físico, o paciente apresenta hepatomegalia, podendo-se notar, à palpação, nodulações que nas fases mais avançadas dessa forma clínica, correspondem a áreas de
fibrose decorrentes de granulomatose periportal ou fibrose de Symmers;
Tipo III ou forma hepatoesplênica compensada – caracteriza-se pela presença de
hepatoesplenomegalia. As lesões perivasculares intra-hepáticas são em quantidade suficiente para gerar transtornos na circulação portal, com certo grau de hipertensão que provoca congestão passiva do baço. Nessa fase, inicia-se a formação de circulação colateral e de
varizes do esôfago, com o comprometimento do estado geral do paciente;
Tipo IV ou forma hepatoesplênica descompensada – inclui as formas mais graves
de esquistossomose mansônica, responsáveis pelo obituário por essa causa específica. Caracteriza-se por fígado volumoso ou já contraído pela fibrose perivascular, esplenomegalia
avantajada, ascite, circulação colateral, varizes do esôfago, hematêmese, anemia acentuada,
desnutrição e quadro de hiperesplenismo.
6
E
Podem ser consideradas, ainda, como formas particulares, as formas pulmonar e cardiopulmonar, verificadas em estágios avançados da doença. Predomina uma arteriolite obstrutiva que ocasiona cor pulmonale crônica, insuficiência cardíaca direta e perturbações
respiratórias severas. Dentre as formas ectópicas a mais grave é a neuroesquistossomose
(mielorradiculite esquistosssomótica), cuja prevalência nas áreas endêmicas tem sido su-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
299
Esquistossomose Mansônica
bestimada. O diagnóstico é difícil, mas a suspeita clínica e epidemiólogica conduz, com
segurança, ao diagnóstico presuntivo. O seu diagnóstico e a terapêutica precoce previnem
a evolução para quadros incapacitantes e óbitos.
Complicações – a principal complicação da esquistossomose mansônica é a hipertensão portal nos casos avançados, que se caracteriza por hemorragias, ascites, edemas e
insuficiência hepática severa. Estes casos, a despeito do tratamento, quase sempre evoluem
para óbito.
Diagnóstico diferencial
A esquistossomose pode ser confundida com diversas doenças, em função das diferentes manifestações que ocorrem durante sua evolução.
Dermatite cercariana – seu quadro clínico pode ser confundido com manifestações
exantemáticas como sarampo, rubéola, escarlatina e dermatites causadas por outros tipos
de cercárias de aves aquáticas.
Esquistossomose aguda ou toxêmica – o diagnóstico diferencial deve ser feito com
outras doenças infecciosas agudas, tais como febre tifóide, malária, hepatite viral anictérica,
estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e ancilostomose aguda.
Esquistossomose crônica – nessa fase, a doença pode ser confundida com amebíase,
estrongiloidíase, giardiase e demais parasitoses, além de outras afecções que cursam com
hepatoesplenomegalia, tais como calazar, leucemia, linfoma, salmonelose prolongada, esplenomegalia tropical e cirroses.
Para se chegar ao diagnóstico da esquistossomose são muito importantes não somente
os resultados laboratoriais mas também os dados epidemiológicos, como história de banhos em águas com caramujos e procedência do doente. A esquistossomose aguda, por
exemplo, é mais freqüente em pessoas que não vivem em áreas endêmicas.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico é feito mediante a realização do exame parasitológico de fezes, preferencialmente através do método Kato-Katz. Este método permite a visualização e contagem
dos ovos por grama de fezes, fornecendo um indicador seguro para se avaliar a intensidade
da infecção e a eficácia do tratamento. O teste da reação em cadeia da polimerase (PCRPolymerase Chain Reaction) e os testes sorológicos possuem sensibilidade ou especificidade
suficiente e seriam úteis principalmente em áreas de baixa prevalência da doença, ou em
pacientes com baixa parasitemia e/ou imunodeprimidos, a exemplo da aids, mas não estão
disponíveis na rotina. A ultra-sonografia hepática é de auxílio no diagnóstico da fibrose
de Symmers. A biópsia retal ou hepática, apesar de não indicada para utilização na rotina,
pode ser útil em casos suspeitos, na presença de exame parasitológico de fezes negativo.
300
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Esquistossomose Mansônica
Tratamento
A importância do tratamento reside não só no fato de curar a doença ou diminuir a
carga parasitária dos pacientes, bem como impedir sua evolução para formas graves. Existem trabalhos demonstrando que a quimioterapia também reduz a hepatoesplenomegalia
previamente instalada. Todo caso confirmado deve ser tratado, a não ser que haja contraindicação médica. Nas áreas de baixa prevalência com transmissão focal e nas áreas indenes
está indicada a verificação de cura no 4° mês ao término do tratamento, com três amostras
colhidas em dias sucessivos. Em caso de persistência da positividade do exame, o tratamento deve ser repetido.
Existem duas drogas disponíveis para o tratamento da esquistossomose mansônica:
oxamniquine e praziquantel. Os dois medicamentos se equivalem quanto à eficácia e segurança. Atualmente, o praziquantel é a droga de escolha, em função do menor custo/tratamento. A dosagem recomendada para o praziquantel é de 60mg/kg para crianças até 15
anos e 50mg/kg para adultos, ambos em dose única. O medicamento é apresentado em
comprimidos de 600mg, divisível em duas partes iguais, de modo a facilitar a adequação da
dose. O oxamniquine é recomendado na dosagem de 15mg/kg para adultos e 20mg/kg para
crianças até 15 anos, ambos em dose única. Existem duas apresentações: cápsulas de 250mg
e suspensão contendo 50mg por cada ml.
6
Efeitos colaterais – tonturas, náuseas, vômitos, cefaléia, sonolência. Esses efeitos são
comuns aos dois medicamentos, sendo a tontura mais freqüente com oxamniquine e náuseas e vômitos com praziquantel.
E
Contra-indicações – nos seguintes casos é contra-indicada a utilização das drogas que
compõem o arsenal terapêutico antiesquistossomótico:
• durante a gestação;
• durante a fase de amamentação (se o risco/benefício compensar o tratamento da
mulher nutriz, esta só deve amamentar a criança 24 horas após a administração da
medicação);
• criança menor de 2 anos (não deve ser tratada devido à imaturidade hepática);
• desnutrição ou anemia acentuada;
• infecções agudas ou crônicas intercorrentes;
• insuficiência hepática grave (fase descompensada da forma hepatoesplênica);
• insuficiência renal ou cardíaca descompensada;
• estados de hipersensibilidade e doenças do colágeno;
• história de epilepsia (convulsão) ou de doença mental (com uso de medicamentos
anticonvulsivantes ou neurolépticos);
• qualquer doença associada que seja mais grave ou incapacitante do que a própria
esquistossomose;
• adulto com mais de 70 anos (somente se na avaliação médica o risco/benefício compensar o tratamento).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
301
Esquistossomose Mansônica
Aspectos epidemiológicos
A esquistossomose mansônica é uma endemia mundial, ocorrendo em 52 países e territórios, principalmente na América do Sul, Caribe, África e Leste do Mediterrâneo, onde
atinge as regiões do Delta do Nilo, além de países como Egito e Sudão. No Brasil, a transmissão ocorre em 19 estados, numa faixa contínua ao longo do litoral, desde o Rio Grande
do Norte até a Bahia, na região Nordeste, alcançando o interior do Espírito Santo e Minas
Gerais, no Sudeste. De forma localizada, está presente nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão, no Nordeste; Pará, na região Norte; Goiás e Distrito Federal, no Centro-Oeste; São
Paulo e Rio de Janeiro, no Sudeste; Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na região
Sul. Atualmente, as prevalências mais elevadas são encontradas nos estados de Alagoas,
Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Espírito Santo. Os estados indenes
sofrem fluxo migratório de pessoas oriundas de áreas endêmicas; em conseqüência, devem
estruturar um sistema de vigilância epidemiológica e malacológica para evitar a introdução
da doença.
Figura 1. Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansônica. Brasil, 2004
Faixa de prevalência
(%) por município
> 15
5-15
<5
não-endêmico
Fonte: GT-Esquistossomose/CDTV/CGDT/SVS/MS
302
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Esquistossomose Mansônica
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Evitar a ocorrência de formas graves e óbitos; reduzir a prevalência da infecção e impedir a expansão geográfica da endemia. A fim de se evitar a instalação de focos urbanos, é
importante manter a vigilância ativa nas periferias das áreas urbanas, em virtude do grande
fluxo migratório para as cidades.
Definição de caso
Suspeito
Todo indivíduo residente e/ou procedente de área endêmica para esquistossomose,
com quadro clínico sugestivo das formas agudas, crônicas, ectópicas ou assintomático com
história de contato com as coleções de águas onde existe o caramujo eliminando cercárias.
Todo suspeito deve ser submetido a exame parasitológico de fezes.
6
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – todo indivíduo residente e/ou procedente de área endêmica para esquistossomose, com quadro clínico compatível, com história de exposição
a águas onde existe o caramujo eliminando cercárias e que apresente ovos viáveis de S.
mansoni nas fezes. A realização de biópsia retal ou hepática, quando indicada, pode auxiliar
na confirmação diagnóstica, embora seja mais indicado, na rotina, a repetição de vários
exames de fezes. Todo caso confirmado deve ser tratado, a não ser que haja contra-indicação médica.
E
Descartado
Caso suspeito ou notificado sem confirmação laboratorial.
Notificação
É doença de notificação compulsória nas áreas não-endêmicas conforme a Portaria
MS/GM nº 2.325, de 8/12/03.
Entretanto, é recomendável que sejam notificadas todas as formas graves na área endêmica e todos os casos de esquistossomose diagnosticados na área endêmica com focos
isolados (Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul).
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Tratamento ambulatorial e acompanhamento de cura (três exames de fezes em dias
sucessivos no quarto mês após o tratamento). A internação hospitalar é indicada nas formas
clínicas graves.
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303
Esquistossomose Mansônica
Qualidade da assistência
Verificar se os casos com confirmação laboratorial (coproscopia positiva para S. mansoni) foram investigados, tratados e acompanhados; e se foram orientadas e adotadas as
medidas de educação em saúde e de proteção ambiental (saneamento básico).
Proteção individual para evitar a propagação da transmissão
Tratamento de todas as pessoas infectadas ou reinfectadas positivas para S. mansoni
ao exame laboratorial.
Confirmação diagnóstica
Laboratorial (presença de ovos de S. mansoni nas fezes).
Proteção da população
Busca ativa periódica, sistemática e prolongada de casos, investigação e exames dos
contatos para detecção da(s) fonte(s) de infecção, adoção de medidas de educação em saúde
e ambiental comunitária.
Investigação
Consiste na obtenção detalhada de dados do caso, mediante o preenchimento da ficha
de investigação de caso, com o objetivo, principalmente, de determinar o local ou locais de
risco e onde possivelmente ocorreu a transmissão do caso, visando o direcionamento das
ações e controle. A investigação deve ser realizada em todos os casos notificados nas áreas
indenes vulneráveis e nas áreas focais em vias de eliminação; nas áreas endêmicas, somente
nos casos de forma grave notificados. Uma vez concluída a investigação, o caso deverá ser
classificado como autóctone se a transmissão ocorreu no mesmo município onde foi investigado; importado, se a transmissão ocorreu em outro município diferente daquele em que
foi investigado; e indeterminado se o local da transmissão é inconclusivo ou descartado se
caso suspeito ou notificado não tiver confirmação laboratorial.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da ficha de investigação epidemiológica do Sinan
relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica – anotar, na ficha de investigação, dados da
história e manifestações clínicas.
Para identificação da área de transmissão – verificar o local de procedência do doente, efetuar exame coproscópico dos conviventes e pesquisa malacológica, com identificação
dos caramujos nas coleções hídricas existentes.
Para determinação da extensão da área de transmissão – observar as condições lo-
304
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Esquistossomose Mansônica
cais que favorecem a instalação de focos de transmissão da doença, quais sejam: a distribuição geográfica dos caramujos hospedeiros intermediários (B. glabrata, B. straminea e B.
tenagophila); os movimentos migratórios de caráter transitório ou permanente de pessoas
oriundas das áreas endêmicas. Tanto em áreas rurais quanto urbanas a investigação deve ser
conduzida para identificar os locais de transmissão visando à eliminação.
Conduta frente a um surto – a ocorrência de surtos de esquistossomose é rara e,
geralmente, só acontece quando um grupo (escolares, recrutas, turistas, etc.) residente em
área indene viaja para área endêmica e, inadvertidamente, entra em contato com coleções
hídricas contaminadas com cercárias e desenvolve a forma aguda da doença. Nestes casos,
todo o grupo deve ser examinado parasitologicamente, investigado e os casos positivos tratados e acompanhados para verificação de cura.
Análise de dados
Os dados coletados pela vigilância epidemiológica deverão ser analisados quanto ao
desempenho das medidas de vigilância e controle, permitindo acompanhar a evolução de
tendência da doença. A análise deverá levar em consideração, entre outras, as seguintes variáveis: faixa etária, sexo, distribuição geográfica, número de ovos por grama de fezes, etc.
6
Encerramento de casos
Confirmado por critério laboratorial – qualquer caso suspeito que apresenta ovos de
S. mansoni nas fezes.
Óbitos – não tendo sido feito exame parasitológico de fezes, considerar caso confirmado aquele com achado de ovos de S. mansoni no exame histopatológico.
Caso descartado – caso notificado mas cujo resultado laboratorial não foi confirmado
ou teve como diagnóstico outra doença.
E
Instrumentos disponíveis para controle
Controle de hospedeiros intermediários
As ações dirigidas aos hospedeiros intermediários, abaixo listadas, são de natureza
complementar e têm indicação nas seguintes situações: levantamento de áreas ainda não
trabalhadas; investigação e controle de focos; e áreas bem delimitadas de altas prevalências.
• Pesquisa de coleções hídricas, para determinação do seu potencial de transmissão.
• Medidas de saneamento ambiental, para dificultar a proliferação e o desenvolvimento dos hospedeiros intermediários, bem como impedir que o homem infectado contamine as coleções de águas com ovos de S. mansoni;
• Tratamento químico de criadouros de importância epidemiológica;
• Controle biológico dos moluscos com espécies competidoras. Esta medida, embora
desejável, na prática ainda não tem se mostrado eficaz.
Nota: estas ações devem ser realizadas em parceria com os órgãos e com participação
da comunidade.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
305
Esquistossomose Mansônica
Ações de educação em saúde
A educação em saúde deve preceder e acompanhar todas as atividades de controle e
ser baseada em estudos dos comportamentos das populações em risco. A orientação da
população, quanto às maneiras pelas quais se previne as doenças transmissíveis, é fator
indispensável para o sucesso de qualquer campanha profilática. Realizada pelos agentes de
saúde e por profissionais das unidades básicas, tem como público-alvo a população geral e
escolares das localidades localizadas nas áreas endêmicas. Para tanto, utiliza várias técnicas
pedagógicas e meios de comunicação de massa.
As ações de educação em saúde e a mobilização comunitária são muito importantes
no controle da esquistossomose, basicamente para promover atitudes e práticas que modificam as condições favorecedoras e mantenedoras da transmissão.
Estratégias de prevenção
A esquistossomose é, fundamentalmente, uma doença resultante da ausência ou precariedade de saneamento básico.
Controle dos portadores
• Identificação dos portadores de S. mansoni, por meio de inquéritos coproscópicos a
cada dois anos, deve fazer parte da programação de trabalho das secretarias municipais de saúde das áreas endêmicas.
• Quimioterapia específica dos portadores, visando reduzir a carga parasitária e impedir o aparecimento de formas graves.
Para o diagnóstico e tratamento dos portadores faz-se necessária a participação das
equipes do Programa Saúde da Família (PSF), que devem atuar em conjunto com os agentes de saúde encarregados do Programa de Controle da Esquistossomose, por exemplo,
no tratamento dos portadores e nas orientações sobre educação em saúde para as pessoas
expostas ao risco de contrair esquistossomose.
A coproscopia para a detecção dos indivíduos infectados pelo S. mansoni e o conseqüente tratamento são medidas dirigidas de maneira direta e mais imediata ao objetivo principal
do Programa: controlar a morbidade, especialmente prevenindo a evolução para as formas
graves da doença. Essas ações de diagnóstico e tratamento devem ser viabilizadas, incorporadas e integradas à rotina dos serviços de atenção primária à saúde (rede básica de saúde).
Saneamento ambiental
As ações de saneamento ambiental são reconhecidas como as de maior eficácia para
as modificações de caráter permanente das condições de transmissão da esquistossomose
e incluem: coleta e tratamento de dejetos, abastecimento de água potável, instalações hidráulicas e sanitárias, aterros para eliminação de coleções hídricas que sejam criadouros de
moluscos, drenagens, limpeza e retificação de margens de córregos e canais, construções de
pequenas pontes, etc. Essas ações deverão ser simplificadas e de baixo custo, a fim de serem
realizadas em todas as áreas necessárias.
306
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Febre Amarela
FEBRE AMARELA
CID 10: A95
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa febril aguda, transmitida por vetores, que possui dois ciclos epidemiológicos distintos (silvestre e urbano). Reveste-se da maior importância epidemiológica,
por sua gravidade clínica e elevado potencial de disseminação em áreas urbanas.
Agente etiológico
Vírus RNA. Vírus da febre amarela, arbovírus pertencente ao gênero Flavivirus, família
Flaviviridae.
6
Hospedeiros
Na febre amarela urbana (FAU) o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica.
Na febre amarela silvestre (FAS) os primatas não-humanos (macacos) são os principais
hospedeiros do vírus amarílico, sendo o homem um hospedeiro acidental.
F
Vetores reservatórios
O mosquito da espécie Aedes aegypti é o principal transmissor da febre amarela urbana. Na febre amarela silvestre, os transmissores são mosquitos, com hábitos estritamente
silvestres, sendo os dos gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes na América
Latina. No Brasil, a espécie Haemagogus janthinomys é a que se destaca na transmissão do
vírus. Devido a persistência do vírus em seu organismo por tempo mais longo do que nos
macacos, os mosquitos seriam os verdadeiros reservatórios, além de vetores.
Modo de transmissão
Picada dos mosquitos transmissores infectados.
Não há transmissão de pessoa a pessoa.
Período de incubação
Três a seis dias após a picada do mosquito infectado.
Período de transmissibilidade
A viremia humana dura, no máximo, sete dias, e vai desde 24-48 horas antes do aparecimento dos sintomas a três a cinco dias após o início da doença, período em que o homem
pode infectar os mosquitos transmissores. Uma vez infectado, o mosquito pode transmitir
o vírus amarílico durante toda a sua vida.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
307
Febre Amarela
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente. Nas zonas
endêmicas, são comuns as infecções leves e inaparentes. Os filhos de mães imunes podem
apresentar imunidade passiva e transitória durante seis meses. A imunidade conferida pela
vacina dura em torno de 10 anos.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
O quadro clínico típico é caracterizado por manifestações de insuficiência hepática e
renal, tendo em geral apresentação bifásica, com um período inicial prodrômico (infecção)
e um toxêmico que surge após uma aparente remissão e, em muitos casos, evolui para óbito
em aproximadamente uma semana.
Período de infecção – dura cerca de três dias, tem início súbito e sintomas gerais
como febre, calafrios, cefalalgia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas e
vômitos.
Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura e diminuição dos sintomas,
provocando uma sensação de melhora no paciente. Dura poucas horas, no máximo um a
dois dias.
Período toxêmico – reaparecem a febre, a diarréia e os vômitos com aspecto de borra
de café. Caracteriza-se pela instalação de quadro de insuficiência hepato-renal representado por icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, acompanhado de manifestações hemorrágicas (gengivorragias, epistaxes, otorragias, hematêmese, melena, hematúria, sangramentos
em locais de punção venosa) e prostração intensa, além de comprometimento do sensório, com obnubilação mental e torpor, com evolução para coma e morte. O pulso torna-se
mais lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecida
como sinal de Faget.
Diagnóstico diferencial
As formas leve e moderada da febre amarela são de difícil diagnóstico diferencial pois
podem ser confundidas com outras doenças infecciosas que atingem os sistemas respiratório, digestivo e urinário. As formas graves, com quadro clínico clássico ou fulminante, devem ser diferenciadas de malária por Plasmodium falciparum, leptospirose, além de formas
fulminantes de hepatites. Devem ser lembradas, ainda, as febres hemorrágicas de etiologia
viral, como dengue hemorrágico e septicemias.
Diagnóstico laboratorial
Realizado mediante isolamento do vírus amarílico em amostras de sangue ou de tecido hepático, por detecção de antígeno em tecido (imunofluorescência e imunoperoxidase)
e por sorologia (ver normas e procedimentos no Anexo 1).
308
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Amarela
Tratamento
Não existe tratamento específico. É apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao
paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos
e das perdas sangüíneas, quando indicado. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido
numa unidade de terapia intensiva, o que reduz as complicações e a letalidade.
Aspectos epidemiológicos
A febre amarela apresenta dois ciclos epidemiologicamente distintos: febre amarela
silvestre (FAS) e febre amarela urbana (FAU).
A forma silvestre é endêmica nas regiões tropicais da África e das Américas. Em geral,
apresenta-se sob a forma de surtos com intervalos de 5 a 7 anos, alternados por períodos
com menor número de registros. Na população humana, o aparecimento de casos é precedido de epizootias. No Brasil, a partir do desaparecimento da forma urbana em 1942, só
há ocorrência de casos de febre amarela silvestre e até 1999 os focos endêmicos estavam
situados nos estados das regiões Norte, Centro-Oeste e área pré-amazônica do Maranhão,
além de registros esporádicos na parte oeste de Minas Gerais.
Nos surtos ocorridos no período de 2000/2003, observou-se uma expansão da circulação viral no sentido Leste e Sul do país, detectando-se sua presença em áreas silenciosas
há várias décadas, o que impôs uma redefinição das áreas de risco. Além da ampliação da
área de transição foi estabelecida uma nova área, denominada de indene de risco potencial,
onde há maior risco para circulação do vírus, contígua à área de transição e com ecossistemas semelhantes, compreendendo municípios do sul de Minas Gerais e da Bahia e a região
centro-norte do Espírito Santo (Figura 1).
O número anual de notificações de FAS é muito variável. No período entre 1980 e
2003, foram diagnosticados 657 casos, dos quais 337 evoluíram para óbito (Figura 2), o
que corresponde a uma letalidade média de 51,3%, com uma variação de 22,9% a 100%.
Todas as unidades federadas da região Norte vêm registrando casos, sendo responsáveis por
39,9% das notificações do país, nas duas últimas décadas.
Esta doença acomete com maior freqüência o sexo masculino e a faixa etária mais
atingida situa-se acima dos 15 anos, em função da maior exposição profissional, relacionada à penetração em zonas silvestres da área endêmica de FAS. Um outro grupo de risco
são as pessoas não vacinadas que residem próximas aos ambientes silvestres, onde circula
o vírus, além de turistas e migrantes que adentram estes ambientes. A maior freqüência da
doença ocorre nos meses de janeiro a abril, período com maior índice pluviométrico, quando a densidade vetorial é elevada, coincidindo com a época de maior atividade agrícola.
A febre amarela urbana não ocorre no país desde 1942. Enquanto o Aedes aegypti
encontrava-se erradicado, havia uma relativa segurança quanto à não possibilidade de reurbanização do vírus amarílico. Entretanto, a reinfestação de extensas áreas do nosso território por este vetor, inclusive já presente em muitos dos centros urbanos das áreas endêmicas,
epizoóticas e enzoóticas, coloca a população brasileira sob o risco de reestabelecer este ciclo
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
F
309
Febre Amarela
do vírus. Recentemente, o diagnóstico de casos infectados em área de transmissão próxima
ao Distrito Federal, demandou a execução de ampla campanha vacinal em função da presença de Aedes aegypti em centros urbanos do DF, inclusive da capital federal.
Considera-se como potenciais fatores de risco para a reurbanização da febre amarela
no Brasil:
• expansão territorial da infestação do Aedes aegypti já detectada em 3.794 municípios, distribuídos por todas as unidades federadas;
• áreas com Aedes aegypti superpostas a áreas de circulação do vírus amarílico;
• presença do Aedes albopictus em estados das regiões endêmicas e de transição;
• áreas urbanas infestadas por Aedes aegypti próximas de áreas endêmicas para febre
amarela silvestre;
• intenso processo migratório rural-urbano, levando à possibilidade de importação
do vírus amarílico dos ambientes silvestres para os urbanos.
Figura 1. Áreas de risco de febre amarela silvestre. Brasil, 2003*
Áreas
Área endêmica
Área de transição
Área indene
Área de risco potencial
Estados
População
12
29.327.171 hab.
parcialmente 7
22.347.837 hab.
8 e parcialmente 7
109.660.162 hab.
parcialmente 3
4.777.348 hab.
*Redefinidas a partir de estudo realizado em 2003
310
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Amarela
Figura 2. Número de casos e de óbitos e taxa de letalidade de febre amarela
silvestre. Brasil, 1982-2003
100
Nº de casos
Taxa de letalidade (%)
100
80
80
60
60
40
40
20
20
0
0
82
Taxa
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
6
03
87,5 100 62,2 71,4 88,9 87,5 53,9 33,3 50 53,3 58,3 22,9 27,8 50 86,7 100 44,1 37,3 47,1 46,9 40 35,9
Óbito
21
6
28
5
8
14
14
3
1
8
7
19
6
2
13
3
15
28
40
15
6
23
Cura
3
0
17
2
1
2
12
6
1
7
5
64
13
2
2
0
19
47
45
32
9
40
Fonte: SVS/MS
Vigilância epidemiológica
F
Objetivos
Reduzir a incidência da febre amarela silvestre e impedir a transmissão urbana mediante
a detecção precoce da circulação viral e adoção das medidas de controle pertinentes.
A doença é de notificação e investigação obrigatória, cuja finalidade é identificar a área
de transmissão e confirmar se o caso é de FAU ou FAS, visando definir as populações sob
risco para prevenir a ocorrência de novos casos.
Definição de caso
Suspeito
Indivíduo com quadro febril agudo (até 7 dias), de início súbito, com icterícia, residente
ou procedente de área de risco para febre amarela ou de locais com ocorrência de epizootias em primatas não-humanos ou isolamento de vírus em mosquitos, nos últimos 15 dias,
sem comprovação de ser vacinado contra a febre amarela (solicitar apresentação do cartão
de vacina).
Observação
Em situações de surto recomenda-se adequar a definição de caso suspeito, tornandoa mais sensível para detectar o maior número possível de casos, levando em conta o
amplo espectro clínico da febre amarela.
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Febre Amarela
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – todo caso suspeito que apresente pelo menos uma das
seguintes condições:
• isolamento do vírus da FA;
• detecção de anticorpos do tipo IgM pela técnica de Mac-Elisa em indivíduos não
vacinados ou com aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de anticorpos do tipo IgG,
pela técnica de inibição da hemaglutinação (IH) ou IgG-Elisa;
• achados histopatológicos compatíveis;
• detecção de genoma viral.
Também será considerado caso confirmado o indivíduo assintomático ou oligossintomático originado de busca ativa que não tenha sido vacinado e que apresente sorologia
(MAC-Elisa) positiva para FA.
Critério clínico-epidemiológico – todo caso suspeito de febre amarela que evoluiu
para óbito em menos de 10 dias sem confirmação laboratorial, no início ou curso de surto
ou epidemia, em que outros casos já tenham sido comprovados laboratorialmente.
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo, desde que se comprove que as
amostras foram coletadas e transportadas adequadamente; ou caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
Notificação
A ocorrência de casos suspeitos de febre amarela requer imediata notificação e investigação por se tratar de doença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o
que impõe a adoção imediata de medidas de controle. Por ser uma doença de notificação
compulsória internacional, todo caso suspeito deve ser prontamente comunicado por telefone, fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata dos pacientes.
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde com capacidade para
prestar atendimento adequado e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitam
de cuidados permanentes e contínuos, demandando internamento em unidades de saúde
de maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.
312
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Febre Amarela
Proteção individual para evitar circulação viral
Se o paciente estiver em centro urbano infestado por Aedes aegypti, seu quarto deverá
ser telado. Recomenda-se, ainda, o uso do mosquiteiro, para reduzir o risco de urbanização
da doença. Não é necessário outro tipo de isolamento, uma vez que a infecção não se transmite de pessoa a pessoa, nem por meio dos fluidos, secreções orgânicas ou fômites.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações do
Anexo 1.
Proteção da população
Logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de febre amarela, deve-se organizar um bloqueio vacinal nas áreas onde o paciente esteve no período de viremia, privilegiando as populações expostas ao risco de transmissão, não sendo necessário aguardar
resultados de exames laboratoriais para a confirmação dos casos suspeitos.
As informações sobre a cobertura vacinal da área endêmica, quando disponíveis, são
importantes para o processo de decisão quanto à extensão inicial e seletividade do bloqueio.
Em áreas consideradas indenes, situadas próximas às enzoóticas e epizoóticas, o que caracteriza um território de expansão de circulação viral, a vacinação de bloqueio sempre deverá
ser extensa e indiscriminada, caso não se tenha informações de campanhas anteriores.
Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizando-se os meios de
comunicação de massa, bem como visitas domiciliares e palestras nas comunidades. Também é importante veicular conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade e esclarecimentos da situação de risco.
6
F
Investigação
Imediatamente após a notificação de um ou mais casos de febre amarela, deve-se iniciar a investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser
adotadas em tempo oportuno. O instrumento de coleta de dados, a ficha de investigação
epidemiológica disponível no Sinan, contém os elementos essenciais a serem coletados em
uma investigação de rotina. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos,
mesmo quando a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos,
conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
É imprescindível que os profissionais que irão participar das investigações tenham
sido vacinados pelo menos dez dias antes de se deslocarem para a provável área de
transmissão.
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313
Febre Amarela
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmação da suspeita diagnóstica
Anotar na ficha de investigação epidemiológica os dados da história e manifestações
clínicas.
• Como, em geral, quando se suspeita de FA os doentes são hospitalizados, deve-se
consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir se o quadro
apresentado é compatível com a doença.
• Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese (história clínica), exame físico e da
evolução do doente, com vistas ao enriquecimento das análises e também para que
possam servir como instrumentos de aprendizagem dos profissionais do nível local;
• Verificar se o paciente foi vacinado previamente contra a febre amarela e registrar a
data da vacinação, para saber se o mesmo encontrava-se protegido. Esta informação
é também utilizada como subsídio para a escolha dos exames laboratoriais.
• Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da área de transmissão
Verificar se o local de residência corresponde a uma área de provável transmissão do
vírus amarílico. Investigar minuciosamente:
• deslocamentos do caso, de familiares e/ou amigos (considerar todos aqueles que antecederam 15 dias do início dos sintomas, inclusive os de curta duração) para caracterizar se houve permanência em local de provável circulação viral;
• notícias de mortes de macacos naquele período, bem como averiguar esta ocorrência em anos anteriores.
Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares
ou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade. Tais dados, que serão anotados
na ficha de investigação e folhas anexas, permitirão identificar o provável local de transmissão do vírus amarílico e verificar se trata-se de área enzoótica, epizoótica, endêmica ou
indene.
Quando o paciente residir em área reconhecidamente endêmica, enzoótica ou epizoótica, a caracterização do local de transmissão é facilitada. Entretanto, a história dos deslocamentos de todos os casos suspeitos permitirá definir com maior grau de certeza o local
provável de infecção. Importante observar que mesmo a permanência de poucas horas em
local de risco pode resultar em infecção.
314
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Roteiro de investigação epidemiológica da febre amarela
Notificação de caso(s) suspeito(s)
Atenção médica/
Dados clínicos
Investigação
Coleta de dados clínicos e
epidemiológicos do paciente
Indene
Endêmica
(enzoótica/epizoótica)
Identificar área
de transmissão
Determinação da
extensão da área
de transmissão
Coleta de material
Envio ao
laboratório
Busca ativa
de casos
Investigar Aedes
aegypti em centros
urbanos próximos
Silvestre
(área de expansão)
Busca ativa de
epizootias e
coleta de vetores
silvestres
Medidas
de controle
Medidas
imediatas
de controle
Envio para
laboratório
de referência
Resultado do exame
Identificação de
novos suspeitos
Levantamento
sorológico
Vigilância de
casos febris
Avaliar se
as ações
desenvolvidas
estão sendo
suficientes
para o controle
da situação
Não
Educação
em saúde
Proteger com
telas o ambiente
onde o paciente
está internado
Sim
Vacinação
em massa
Redimensionar as
ações de controle
Ações
emergenciais
de combate ao
Aedes aegypti
Educação
em saúde
Isolamento com
telagem do local
onde o paciente
se encontra
315
Febre Amarela
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Encerrar o caso
Positivo
Verificar se a
área de transmissão é a mesma do
caso índice
Vigilância
ativa de casos
sintomáticos e
oligossintomáticos
Inquéritos
sorológicos
Bloqueio
Negativo
Urbana
6
F
Febre Amarela
Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importância para nortear a continuidade do processo de investigação e a extensão das
medidas de controle imediatas.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Busca ativa de casos humanos
• Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente busca
ativa de outros casos humanos, casa a casa e em unidades de saúde. Além daqueles
com sinais e sintomas evidentes de febre amarela, deve-se considerar os óbitos com
quadro sugestivo da doença, ocorridos nos dias anteriores na comunidade e os oligossintomáticos, inclusive todos os indivíduos da área que apresentaram febre (vigilância de casos febris), com ou sem outras manifestações clínicas, pois os resultados
dos exames laboratoriais irão esclarecer o diagnóstico.
• Na suspeita de transmissão urbana, o procedimento é o mesmo e a delimitação da
busca também se baseia na área onde se suspeitou ter havido a transmissão.
• Recomenda-se, quando possível, a realização de inquérito sorológico em indivíduos
sem sintomatologia, residentes na área de ocorrência dos casos suspeitos, para detecção de IgM (casos agudos).
• Preferencialmente, inclui-se neste inquérito os indivíduos suspeitos de terem sido
expostos à infecção, excluindo-se os vacinados há mais de 10 dias e há menos de
10 anos. Estes inquéritos devem ser organizados rapidamente, buscando-se apoio
técnico e logístico de profissionais dos níveis hierárquicos superiores e laboratórios
de referência. O percentual de positividade dará uma idéia da magnitude do surto
e a análise individual de todos os casos positivos, encontrados neste levantamento,
indicará se todos procedem da área de transmissão delimitada no início da investigação. Estes resultados servirão como mais um elemento para avaliar se as medidas
de controle adotadas são suficientes ou precisam ser redimensionadas.
Captura e identificação de mosquitos transmissores
• Em áreas silvestres – equipe treinada em pesquisa de vetores silvestres deve ser
deslocada para a(s) área(s) de ocorrência, visando proceder a captura de vetores silvestres (Haemagogus, Sabethes e Aedes albopictus). Os espécimens coletados devem
ser enviados ao laboratório de referência, atendendo aos procedimentos técnicos
indicados no Anexo 1 para identificação e posterior isolamento do vírus amarílico.
• Em áreas urbanas – pesquisar se existe infestação de Aedes aegypti e Aedes albopictus em localidade ou centro urbano próximo à ocorrência de casos, visando identificar a extensão do risco de ocorrência de febre amarela. Identificar se no local de
hospitalização existe a presença deste vetor e, em caso afirmativo, proteger com telas
o local de permanência do(s) paciente(s) e instituir ações emergenciais e intensas de
combate vetorial.
316
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Febre Amarela
Busca ativa de morte de macacos
A morte de macacos é sugestiva da circulação do vírus amarílico; por esta razão, a
comprovação deste evento sentinela na área de procedência do(s) caso(s) pode auxiliar na
delimitação das áreas de risco. Se houver condições de coletar amostras de macacos vivos
ou mortos (fragmentos de fígado, rins, baço, gânglios linfáticos, cérebro, pulmões ou suprarenais), este procedimento deve ser realizado por equipes treinadas, com observância dos
cuidados de biossegurança.
Coleta e remessa de material para exames
• Logo após a suspeita clínica de febre amarela, coletar material de todos os casos
(óbitos, formas graves ou oligossintomáticas), de acordo com as normas técnicas
apresentadas no Anexo 1, observando-se criteriosamente todas as recomendações.
• É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a estas coletas.
6
Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas
de controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações.
Atentar para a interpretação dos resultados de sorologias, considerando as datas de coleta e dias de aparecimento dos sintomas, necessidade de amostras pareadas se não for dosagem de IgM e o estado vacinal do paciente, que pode levar a resultados falso-positivos.
F
Análise de dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema, da adequação das medidas adotadas logo de início visando impedir a transmissão humana e indicar as ações de prevenção que devem ser mantidas a curto e médio prazos na
área, incluindo o combate ao vetor urbano da doença, quando indicado.
Desde o início do processo, faz-se necessária a análise dos dados que estão sendo coletados, para alimentar a tomada de decisão sobre as atividades de investigação e as ações de
controle. Esta análise, como referido anteriormente, deve ser orientada para a identificação
do local de transmissão, fonte de infecção (animais silvestres) e vetores envolvidos na transmissão, dimensionamento da real magnitude do episódio (incidência e letalidade), extensão da área de transmissão e populações sob risco que devem ser incluídas nas medidas de
controle, bem como identificar se a área de transmissão está incluída nos limites das áreas
enzóoticas, epizoóticas e de transição.
Para isso, o profissional deve interpretar passo a passo os dados coletados, de modo a
que possa ir definindo as medidas de controle imediatas, as atividades para dar continuidade à investigação em cada momento e as alterações das medidas adotadas de acordo com a
evolução do evento e da investigação.
A consolidação dos dados, considerando as características de pessoa, tempo e, principalmente, de área geográfica, permitirá uma caracterização detalhada do episódio para avaliação da necessidade de extensão das medidas de prevenção em curto e médio prazos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
317
Febre Amarela
Encerramento de caso
As fichas de investigação epidemiológica, de cada caso, devem ser analisadas visando
definir qual o critério utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
Confirmado por critério clínico-laboratorial (isolamento viral, sorologia e histopatologia) – o isolamento ou laudo histopatológico positivo sela o caso como confirmado.
Os testes sorológicos devem ser interpretados considerando-se positivo IgM em qualquer
titulação, ou elevação de no mínimo quatro vezes os títulos de anticorpos IgG;
Confirmado por critério clínico-epidemiológico – verificar se existe vínculo
epidemiológico entre o caso suspeito e outros casos confirmados, o que sela o diagnóstico
de febre amarela;
Óbitos – também serão considerados confirmados os óbitos de pacientes que apresentarem manifestações clínicas de febre amarela, procedentes de área endêmica e onde há
comprovação laboratorial de circulação viral;
Caso descartado – caso notificado mas cujos resultados de exames laboratoriais, adequadamente coletados e transportados, foram negativos ou tiveram como diagnóstico outra doença.
Observar se todos os dados necessários ao encerramento dos casos e do evento (epidemia ou caso isolado) foram coletados durante a investigação, devendo estar criteriosamente
registrados e analisados. O prazo máximo para encerramento de caso é de sessenta dias.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões, das quais destacam-se:
• se o caso foi decorrente de falhas de vacinação, principalmente de baixa cobertura
vacinal na área, ou conservação inadequada da vacina, o que impõe a adoção de
medidas de aprimoramento dos serviços de saúde no território;
• se o indivíduo foi infectado acidentalmente, por ser turista ou um novo habitante
da área, e se não tinha conhecimento de que deveria ser vacinado 10 dias antes do
deslocamento para a área endêmica;
• se a área era considerada indene e/ou que medidas especiais de vacinação para a
proteção de todas as populações sob risco foram e ainda devem ser adotadas e/ou
estendidas;
• descrição das situações em que houve proximidade da área de circulação viral com
centros urbanos infestados pelo Aedes aegypti, ou se os pacientes foram deslocados para hospitais situados nestes centros, quais as medidas adotadas para evitar a
transmissão e se foi dado o alerta do risco de urbanização às autoridades estaduais e
nacionais. Lembrar que nas atuais condições de infestação do país pelo Aedes aegypti
podem ser indicadas amplas campanhas vacinais emergenciais, nestas situações.
A atual situação epidemiológica da febre amarela no Brasil exige uma vigilância ativa
de casos visando identificar precocemente qualquer suspeita de urbanização. Toda suspeita
da doença impõe uma investigação bastante criteriosa, para que se possa confirmar ou não
318
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Amarela
se houve transmissão urbana, pois falhas na coleta de informações podem levar a falsas
conclusões.
Admite-se que houve ocorrência de transmissão urbana quando o caso preencher um
ou os dois critérios abaixo:
• confirmação de caso de febre amarela em ambiente urbano infestado com Aedes
aegypti, em indivíduo que não reside nem se deslocou para ambiente silvestre;
• evidência de que no centro urbano houve permanência de indivíduos com
diagnóstico de febre amarela silvestre, com aparecimento de novos casos.
Caso algum desses critérios seja preenchido, alertar os dirigentes do nível nacional do
Sistema Único de Saúde.
Instrumentos disponíveis para controle
6
Imunização
A vacina contra febre amarela produzida no Brasil desde 1937, pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, é da cepa 17DD, sendo constituída por vírus vivos atenuados derivados de uma amostra africana do vírus amarílico selvagem denominada Asibi.
A conservação da vacina é de vital importância para a manutenção de sua qualidade
imunogênica. Deverá obedecer rigorosamente as seguintes regras:
• na instância central ou regional deverá ser conservada a –20°C em freezer ou câmara fria negativa;
• na sala de vacinação a conservação é feita em geladeira, com temperatura que varia
entre +2°C a +8°C;
• a vacina reconstituída deve ser mantida em temperatura de +2°C a +8°C, preferencialmente a +2°C. Após a diluição, deverá ser utilizada em até quatro horas. O diluente deverá estar na mesma temperatura da vacina e colocado na geladeira no
mínimo 6 horas ou um dia antes de ser utilizado;
• a faixa etária inicial é a partir de 9 meses, sem limite de idade. Em situações de epidemias recomenda-se a vacinação a partir de 6 meses, por via subcutânea, em dose
única de 0,5ml e reforço de 10 em 10 anos.
F
Eventos adversos – os eventos adversos mais comuns são mal-estar, cefaléia, dores
musculares e febre baixa, o que ocorre em 2% a 5% dos vacinados, por volta do 5° ao 10º
dia. Estas reações duram de 1 a 2 dias. Foram descritos raros casos de encefalite pós-vacinal,
geralmente em menores de 6 meses. Reações de hipersensibilidade imediata como erupção,
urticária, angiodema e choque anafilático podem ocorrer de 30 minutos até 2 horas após a
administração do imunobiológico, porém são incomuns (incidência <1/1 milhão) e mais
freqüentes em pessoas com histórico de alergia a proteínas do ovo. Na literatura, foram descritos casos de eventos adversos graves após a vacinação contra a febre amarela. Nos EUA,
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
319
Febre Amarela
há o registro de 4 casos e 3 óbitos ocorridos em 1996 e 1998. No Brasil, foram notificados
4 casos com 4 óbitos no período de 1999 a 2003. O pequeno número de casos avaliados e
a ampla utilização desta vacina no mundo, associados aos dados de estudos destes casos,
apontam para uma predisposição individual ainda não conhecida, muito difícil de ser identificada previamente ao uso da vacina.
Imunidade – os anticorpos protetores aparecem entre o sétimo e décimo dia após a
aplicação, razão pela qual a imunização deve ocorrer dez dias antes de se ingressar em área
de transmissão. Uma só dose confere imunidade no período mínimo de dez anos.
Contra-indicação – para criança menores de 6 meses de idade; pessoas com história
de reação anafilática após ingestão de ovo e seus derivados; indivíduos com doença infecciosa aguda em estado febril (acima de 38,5°); portadores de imunodeficiência congênita ou
adquirida, neoplasia maligna e pacientes sintomáticos infectados pelo vírus HIV; pacientes
em terapêutica imunodepressora (quimioterapia, radioterapia), uso de corticóide em doses
elevadas, estados de imunodepressão ou adiamento de dois anos após transplante de medula óssea.
Gestação – não é recomendada a administração da vacina em gestantes, exceto em
situações de emergência epidemiólogica, vigência de surtos ou epidemias ou viagem para
área de risco.
Observações: a administração da vacina poderá ser feita simultânea com outras vacinas vivas ou com intervalo mínimo de duas semanas para aplicação. Não são contra-indicadas vacinação recente contra poliomielite, exposição recente ao sarampo ou rubéola e
alergia que não tenha sido de natureza anafilática.
Recomendações para a vacinação – a vacina contra a febre amarela objetiva conferir
proteção individual e coletiva, bloqueando a propagação geográfica da doença, na prevenção de epidemias.
Deverá estar disponível de forma permanente nos serviços de saúde da rede pública.
A partir de 2004, foi instituída no calendário de vacinação da criança, do adolescente e do
idoso, de acordo com a Portaria MS nº 597, de 8/4/04.
É recomendada para toda a população a partir dos 9 meses de idade, tanto as residentes nas áreas de risco de transmissão quanto as que eventualmente se exponham ao risco
de adoecer de febre amarela (motoristas, agricultores, turistas, caminhoneiros, pescadores,
caçadores, garimpeiros).
Na área indene, a vacinação também se inicia a partir dos 9 meses de idade e deve ser
direcionada à população que se dirige esporadicamente e/ou freqüentemente às áreas de
risco. A vacina deve ser aplicada, no mínimo, 10 dias antes do deslocamento.
Estratégias recomendadas pelo PNI/MS para o alcance da cobertura de 100% de forma
homogênea: vacinação de rotina nas unidades de saúde; vacinação por equipes móveis nas
zonas urbana e rural; utilizar as campanhas de multivacinação e, diante de risco de febre
amarela urbana, desencadear campanha de vacinação em massa e ações emergenciais de
combate ao Aedes aegypti. Na zona rural, realizar a vacinação casa a casa e monitoramento
rápido de cobertura.
320
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Amarela
A vacinação de bloqueio é realizada diante de um caso humano suspeito, de epizootias
ou de confirmação da circulação viral em vetores silvestres, numa área de abrangência de
30 km ao redor do caso.
Controle vetorial
Evitar o acesso de mosquitos transmissores urbanos ou silvestres ao doente mediante
telagem do seu local de permanência, pois pode se constituir em fonte de infecção.
Adotar ações emergenciais de eliminação do Aedes aegypti, principalmente no ambiente onde os casos estão internados. Fortalecer as ações de combate vetorial nos municípios
situados próximos às áreas de transmissão, visando reduzir os índices de infestação para
zero.
Ações de educação em saúde
As populações devem ser informadas quanto ao risco da ocorrência de febre amarela
mediante técnicas pedagógicas disponíveis e meios de comunicação de massa, alertando
quanto à importância de vacinar crianças e adultos. Devem ser implementadas estratégias
especiais para conscientizar os indivíduos que se deslocam para áreas de risco quanto à
importância da imunização prévia (10 dias antes).
6
Estratégias de prevenção da reurbanização da febre amarela
• Estabelecimento de imunidade coletiva em áreas infestadas por Aedes aegypti.
• Proteção individual das pessoas que vivem ou adentram áreas enzoóticas ou epizoóticas.
• Eliminação do Aedes aegypti em cada território ou manutenção de índices de infestação muito próximos de zero (vide capítulo de dengue).
• Isolamento de casos suspeitos durante o período de viremia em áreas infestadas pelo
Aedes aegypti.
• Identificação precoce de casos para pronta intervenção da vigilância epidemiológica.
• Vigilância laboratorial das enfermidades que fazem diagnóstico diferencial com febre amarela.
• Vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras: exigência do certificado internacional de vacina, com menos de dez anos da última dose aplicada para viajantes
procedentes de países ou área endêmica de febre amarela.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
F
321
Febre Amarela
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
O diagnóstico específico de cada paciente com suspeita de febre amarela é da maior
importância para a vigilância epidemiológica, tanto em casos isolados quanto em situações
de surtos, muito embora após a confirmação laboratorial de alguns casos em determinada
área possa se proceder a confirmação pelo critério clínico-epidemiológico, de acordo com
as orientações do tópico Definição de caso. A seguir, descreve-se os exames laboratoriais
disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta dos espécimes.
Isolamento e identificação viral – realizado através de inoculação do material do
paciente e/ou animal (sangue, derivados ou tecidos infectado) em camundongos recémnascidos, mosquitos ou cultivos celulares. Uma vez isolado, o vírus é identificado através
dos testes de fixação de complemento e de imunofluorescência indireta.
Detecção de antígenos virais e/ou ácidos nucléicos virais – realizado através de imunofluorescência, imunohistoquímica, hibridização “in situ” e reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR), seguida de sequenciamento nucleotídico, sendo
usados para identificação da amostra viral isolada dos espécimes clínicos e de lotes de mosquitos. Estes testes são utilizados com freqüência e na maioria das vezes selam o diagnóstico em situações em que não é possível fazê-lo pelas técnicas habituais.
Diagnóstico histopatológico – realizado a partir de coleta de material post-mortem.
As lesões anatomopatológicas podem ser encontradas no fígado, rins, baço, coração e linfonodos. As maiores alterações encontram-se no fígado e rins.
Testes sorológicos – são complementares ao isolamento do vírus e utilizados como
alternativas ao diagnóstico:
• MAC-Elisa – é bastante sensível e detecta anticorpos específicos da classe IgM. Estes
anticorpos desenvolvem-se rapidamente a partir do 5º dia da infecção e geralmente
pode persistir por 60 a 90 dias após o início da doença. Em área sem flavivírus, este
exame, quando positivo, é indicativo de FA. É o teste de eleição para triagem de
casos, por ser sensível e dispensar coleta de duas amostras. Deve-se ressaltar que
a vacina contra a febre amarela também induz a formação de anticorpos IgM. Por
isso, é importante a informação sobre o estado vacinal do paciente, inclusive a data
da última dose de vacina recebida;
• Inibição da hemaglutinação (IH) – apesar de pouco específico, é ideal para estudos soroepidemiológicos pois detecta anticorpos da classe IgG e IgM, que aparecem na primeira semana após o início da doença e persistem por longo tempo
(provavelmente toda a vida). A limitação deste teste deve-se à necessidade de obter
322
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Amarela
duas amostras de sangue, coletadas com intervalo de 15 dias. Pode ocorrer reações
cruzadas com outros flavivírus, dificultando a interpretação. A IH não é boa para
avaliar resposta à vacina e é frequentemente negativa em pessoas que demonstram
soroconversão pelo teste de neutralização;
• Fixação de complemento (FC) – menos sensível, mais específico que a IH, porém
só detecta os anticorpos tardios (produzidos a partir da 2ª semana após o início da
doença) e declinam após 6 a 12 meses após a infecção, podendo persistir em títulos
moderados, por períodos mais prolongados (pelo menos dois anos);
• Neutralização (TN) – é o mais específico, detecta anticorpos que aparecem precocemente (1ª semana) e permanecem por muitos anos (provavelmente toda a vida).
O resultado deste teste é sugestivo para FA ao demonstrar a presença de anticorpos
nos soros iniciais ou aumento do título de anticorpos específicos em pares de soros
obtidos na fase aguda da doença e na de convalescença. Os anticorpos neutralizantes
são protetores e se caracterizam pela capacidade de reduzir ou eliminar a infectividade do vírus. As técnicas usadas para detecção dos anticorpos neutralizantes incluem
o PRNT (Plaque Reduction Neutralization Test), o teste de neutralização por redução
em placa de lise em cultura celular e o teste de proteção de camundongos. Atualmente, o PRNT é a técnica padrão para avaliação de resposta à vacina antiamarílica.
6
F
Nos três últimos testes, o diagnóstico está relacionado ao aumento de quatro vezes ou
mais no título de anticorpos específicos, entre amostras de soro colhidas nas fases aguda e
de convalescença da enfermidade. As amostras devem ser analisadas simultaneamente se
coletadas com intervalo de 14 a 21 dias.
Observações:
• Os fragmentos de tecidos de um mesmo paciente para exames anatomopatológicos
podem ser acondicionados em um único frasco.
• Todo o material deverá ser enviado devidamente identificado e acompanhado de cópia da ficha de investigação epidemiológica, que servirá para orientar os técnicos do
laboratório quanto aos exames indicados, de acordo com o período que antecedeu a
suspeita da infecção.
• A informação sobre história vacinal dos casos suspeitos é muito importante para
subsidiar a análise adequada dos resultados de testes sorológicos.
• Não coletar tecidos para exame histopatológico em pacientes vivos, devido ao risco
de sangramento.
• Lembrar que o perfeito acondicionamento das amostras para remessa é de fundamental importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais.
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323
Febre Amarela
Coleta e conservação de material para diagnóstico de febre amarela
Tipo de
diagnóstico
Isolamento
viral
Tipo de material
Sangue
Crianças:
Obtenção
da amostra:
punção venosa
ou punção intracardíaca (óbito)
2-5ml
Tecido (fígados,
rins, coração,
baço, linfonodos,
cérebro)
Isolamento
viral
Sorológico
Histopatologia ou imunohistoquímico
ou técnicas
moleculares
324
Quantidade
Obtenção
da amostra:
necropsia ou
viscerotomia ou
usando agulha
de biópsia
Nº de
amostras
1
Fragmento
de 1cm
Crianças:
Obtenção da
amostra: punção
venosa ou punção intracardíaca
(óbito)
2-5ml
o
Logo após
o óbito.
1
1
S2 = 14-21
dias após S1
S = amostra
única após
o 5o dia da
doença
Adulto:
10ml
-
Menos de
12 horas,
máximo de
24 horas
S1 = após o
5o dia da
doença
Tecido (fígados,
rins, coração,
baço, linfonodos,
cérebro)
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1 -5 dia
da doença
o
Adulto:
10ml
Sangue
Obtenção
da amostra:
necropsia ou
viscerotomia ou
usando agulha
de biópsia
Período
da coleta
Amostra
Logo após
o óbito ou
menos de
oito horas,
máximo de
12 horas
Recipiente
Tubo estéril
de plástico
com tampa
de rosca
com vácuo
Frasco
estéril de
plástico ou
vidro com
tampa de
rosca
Tubo estéril
de plástico
ou vidro
com tampa
de rosca
com vácuo
Frasco
estéril de
plástico ou
vidro com
tampa de
rosca
Armazenamento/
conservação
-70oC
no freezer ou nitrogênio líquido
-70oC
no freezer
ou nitrogênio
líquido
-20oC
no freezer
Temperatura
ambiente, em
formalina tamponada a 10%
Transporte
Nitrogênio
líquido ou
gelo seco
e menos
de 24 horas
após a coleta
Nitrogênio
líquido ou
gelo seco e
menos de
24 horas
após a coleta
Gelox
ou gelo
Temperatura
ambiente e
até 24 horas
Febre do Nilo Ocidental
FEBRE DO NILO OCIDENTAL
CID 10: A92.3
Aspectos clínicos e epidemiológicos
Descrição
Infecção viral que pode transcorrer de forma subclínica ou com sintomatologia de
distintos graus de gravidade, que variam desde uma febre passageira a uma encefalite grave.
A doença se manifesta de forma mais severa em adultos com idade acima de 50 anos.
Agente etiológico
O vírus da febre do Nilo Ocidental pertence ao gênero Flavivirus da família Flaviviridae, comumente encontrado na África, Ásia Ocidental e Oriente Médio e, mais recentemente, na Europa e América do Norte e Central. Faz parte do complexo da família das
encefalites japonesas, como St.Louis, Rocio, Murray e Valley, Ilhéus.
6
Reservatório
O vírus pode infectar humanos, aves, cavalos e outros mamíferos. Seu principal reservatório e amplificador são algumas espécies de aves. Somente elas estão em condições de
atuar como reservatório, já que têm uma viremia alta e prolongada, servindo, assim, como
fonte de infecção para os vetores.
F
Vetores
A competência vetorial está diretamente ligada à abundância do vetor no local, além
da prática da antropofilia e ornitofilia.
O principal gênero de mosquito identificado como vetor do vírus da febre do Nilo Ocidental é o Culex. Entretanto, outras espécies de mosquitos já foram encontradas infectadas
com o vírus. Das espécies infectadas, o Culex pipiens parece ser a mais importante nos Estados Unidos. Neste gênero, algumas espécies sobrevivem ao inverno, o que permite manter a
transmissão mesmo em baixas temperaturas. No Brasil, a espécie que mais se assemelha ao
Culex pipiens é o Culex quiquefasciatus. Além disso, o Aedes albopictus, espécie amplamente
distribuída em nosso país, também é considerada vetor potencial, além do Anopheles.
Modo de transmissão
O vírus do Nilo Ocidental pode ser transmitido quando um mosquito infectado pica
um humano ou animal para se alimentar. Os mosquitos se infectam quando fazem o repasto em aves infectadas, as quais podem circular o vírus em seu sangue por alguns dias.
O vírus se replica no intestino dos insetos, sendo armazenado nas glândulas salivares dos
mesmos. Além disso, a transmissão pode ocorrer, mais raramente, através da transfusão
sangüínea ou transplante de órgãos, além do aleitamento materno. Não há evidências de
que a gestação esteja sob algum risco.
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Febre do Nilo Ocidental
Não ocorre transmissão de pessoa para pessoa.
Período de incubação
Varia de 3 a 14 dias.
Período de transmissibilidade
Nas aves, varia de 3 a 7 dias.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade varia entre as espécies. Aves e mamíferos são as espécies mais acometidas pela doença. No ser humano, indivíduos com idade superior a 50 anos têm apresentado quadro mais grave da doença. Outras espécies de animais, como répteis e roedores,
podem se infectar com o vírus.
Imunidade
A doença pode conferir imunidade duradoura.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
As infecções pelo vírus do Nilo Ocidental normalmente geram uma infecção clinicamente inaparente, sendo que 20% dos casos desenvolvem uma doença leve (febre do Nilo
Ocidental). Os primeiros sinais e/ou sintomas da forma leve da doença são: doença febril de
início abrupto, freqüentemente acompanhada de mal-estar, anorexia, náusea, vômito, dor
nos olhos, dor de cabeça, mialgia, exantema máculo-papular e linfoadenopatia.
Aproximadamente, uma em cada 150 infecções resulta em doença neurológica severa
(encefalite do Nilo Ocidental), cujo maior fator de risco é a idade avançada. A encefalite é
mais comumente relatada do que a meningite e apresenta-se com febre, fraqueza, sintomas
gastrointestinais e alteração no “padrão mental”. Podem apresentar exantema máculo-papular ou morbiliforme envolvendo pescoço, tronco, braços e pernas, seguido de fraqueza
muscular severa e paralisia flácida. São incluídas as apresentações neurológicas como ataxia
e sinais extrapiramidais, anormalidades dos nervos cranianos, mielite, neurite ótica, polirradiculite e convulsão. Existe descrição de miocardite, pancreatite e hepatite fulminante.
Diagnóstico diferencial
Dengue, leptospirose, febre maculosa, meningites e outras encefalites.
Diagnóstico laboratorial
O teste diagnóstico mais eficiente é a detecção de anticorpos IgM para o vírus do Nilo
Ocidental em soro ou líquido cefalorraquideano (LCR) coletado até o oitavo dia do início
326
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Febre do Nilo Ocidental
da doença, utilizando o método de captura de anticorpos IgM (EIA). Pacientes recentemente vacinados ou infectados com outro Flavivírus (ex: febre amarela, dengue, encefalite
japonesa) podem apresentar resultado de IgM-EIA positivo.
Outras provas, como a hemaglutinação, PCR e isolamento do vírus, também são comumente usadas.
Outros achados importantes
Entre pacientes dos recentes surtos, observou-se que:
• pode ocorrer anemia;
• a contagem de leucócitos apresenta-se geralmente normal ou com linfocitopenia;
• o exame do LCR mostra pleocitose linfocítica com proteínas elevadas e glicose normal;
• a tomografia computadorizada do cérebro apresenta-se normal e em um terço dos
pacientes a imagem por ressonância magnética apresenta aumento das leptomeninges e/ou da área periventricular.
6
Tratamento
O tratamento é de suporte, freqüentemente envolvendo hospitalização, fluido intravenoso, suporte respiratório e prevenção de infecção secundária para os pacientes com a
doença em sua forma severa.
F
Aspectos epidemiológicos
A infecção cerebral denominada febre do Nilo Ocidental foi identificada pela primeira vez na Uganda, em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira epidemia,
sendo reconhecida como o vírus do Nilo Ocidental, causador de uma meningoencefalite severa. Subseqüentemente, sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como na
Índia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocorreu na África do Sul a maior epidemia
conhecida causada por este agente. Na década de 90, ocorreram surtos nos seguintes países:
Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática do
Congo (1998), Rússia (1999) e Israel (2000). Nos EUA, a doença vem ocorrendo desde 1999
e em 2002 foram registrados 4.156 casos, com 284 óbitos; em 2003, ocorreram 9.862 casos,
com 264 óbitos, sendo o vírus isolado em 40 estados e no Distrito de Columbia; e em 2004
ocorreram 2.539 casos, com 100 óbitos. No Canadá, em 2002 (até novembro), ocorreram
75 casos e 2 óbitos.
Vigilância epidemiológica
Em situações onde se desconhece a atividade do vírus da febre do Nilo Ocidental,
deve-se implementar um sistema de vigilância para casos de encefalites de etiologia desco-
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327
Febre do Nilo Ocidental
nhecida, tanto em humanos como em aves e mamíferos.
A vigilância deve ser realizada de forma a detectar o mais precocemente possível a circulação viral na área, evitar a ocorrência da infecção em áreas livres e prevenir a circulação
em humanos. Assim, a estruturação deve obedecer os seguintes tipos de vigilância:
Vigilância em aves
• O aparecimento de aves mortas, sem etiologia definida, é fator de alerta para a vigilância.
• Implantação de pontos sentinelas de vigilância de aves mortas em zoológicos, parques e praças.
• Realização de inquéritos sorológicos em aves residentes e migratórias, para tentativa
de isolamento viral.
Vigilância entomológica
• Inquéritos entomológicos em áreas em que ocorrem mortes de aves, objetivando o
monitoramento das espécies presentes na área e a determinação do índice de infestação para a tomada de decisão.
• Tentativa de isolamento viral em mosquitos.
Vigilância em cavalos
Envio de amostras de cérebros de eqüinos que vierem a óbito com suspeita de raiva e
tiveram diagnóstico laboratorial negativo.
Nota: este material deve ser encaminhado para diagnóstico das encefalites eqüinas do
Leste, Oeste e Venezuelana, além da febre do Nilo Ocidental.
Vigilância em humanos
Realização do diagnóstico diferencial com as meningites virais, utilizando como critério de inclusão pessoas adultas com idade acima de 50 anos.
Vigilância sentinela
• A utilização de animais como sentinelas tem sido prática utilizada em áreas onde já
tenha sido detectada a circulação viral.
• Aves domésticas (galinhas), sorologicamente negativas, devem ser introduzidas na
área e, periodicamente, realizados testes para averiguação de positividade nestes
animais.
Definição de caso
Define-se caso suspeito como sendo qualquer pessoa com sintomas clínicos, como
febre e manifestações neurológicas graves (de meningite a encefalite) de etiologia desconhecida.
328
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Febre do Nilo Ocidental
Define-se caso provável como sendo um caso suspeito que preenche um ou mais dos
seguintes critérios:
• demonstração de anticorpos IgM no soro contra o vírus do Nilo Ocidental, no ensaio imunoenzimático Elisa;
• demonstração de elevado título de anticorpos IgG específicos para o vírus do Nilo
Ocidental em soro da fase de convalescência (triagem por Elisa ou inibição de hemoaglutinação e confirmação pelo teste de PRNT).
Define-se caso confirmado como um caso provável que preenche um ou mais dos
seguintes critérios:
• isolamento do vírus do Nilo Ocidental ou demonstração do antígeno viral ou seqüências genômicas do vírus do Nilo Ocidental em tecidos, soro, líquido cefalorraquidiano e outras secreções orgânicas;
• demonstração de soroconversão (aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos) do vírus do Nilo Ocidental no teste de PRNT em amostras séricas ou pareadas de líquido cefalorraquidiano (fase aguda ou de convalescência);
• demonstração de anticorpos IgM para o vírus do Nilo Ocidental em amostra do
líquido cefalorraquidiano na fase aguda por MAC-Elisa.
6
A detecção de anticorpos IgM específicos para o vírus do Nilo Ocidental e/ou anticorpos IgG (por Elisa) em uma única amostra sérica ou de líquido cefalorraquidiano deve ser
confirmada por uma das outras técnicas precedentes.
F
Medidas de controle
Como proteção individual, recomenda-se o uso de repelentes e evitar exposição aos
vetores, principalmente ao amanhecer e entardecer. Uso de telas em janelas e portas podem
ser recomendadas. Ênfase deve ser dada ao controle integrado dos vetores, visando ao controle larvário, o que inclui:
• redução dos criadouros: eliminar todos os recipientes descartáveis que possam acumular água. Atenção especial deve ser dada aos pneus;
• manejo ambiental: alterações no meio ambiente que reduzam os criadouros potenciais de Aedes e de Culex;.
• melhoria de saneamento básico: mosquitos do gênero Culex criam-se em fossas e
remansos de rios ou lagoas poluídas;
• controle químico e biológico dos criadouros que não possam ser descartados. O
controle químico de mosquitos adultos deve ser reservado para as situações de surto, com objetivo de bloqueio da transmissão.
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329
Febre Maculosa Brasileira
FEBRE MACULOSA BRASILEIRA
CID 10: A77.0
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda, de gravidade
variável, podendo cursar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxa
de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickttesia (R. rickettsii), transmitida
por carrapatos, caracterizando-se por ter início brusco, com febre elevada, cefaléia e/ou
mialgia intensa e/ou prostração, seguida de exantema máculo-papular predominantemente nas regiões palmar e plantar, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias.
Pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves e, destes, cerca de
80% evoluem para óbito.
Agente etiológico
Rickettsia rickettsii, bactéria gram-negativa intracelular obrigatória.
Reservatório
No Brasil, o principal reservatório da Rickettsia rickettsii é o carrapato da espécie Amblyomma cajennense. Entretanto, qualquer espécie de carrapato pode ser potencialmente
reservatório, como ocorre com o Haemaphysalis leporis-palustris (carrapato do coelho) e o
Amblyomma cooperi, possível transmissor da doença para os cães.
A participação dos eqüídeos no ciclo de transmissão é discutível, havendo evidências de que além de transportadores de carrapatos potencialmente infectados podem atuar
como sentinelas, semelhantemente ao cão. Supõe-se que a capivara (Hydrochaeris capibara) poderia também estar envolvida neste ciclo, mas é importante ressaltar que não existem
estudos que comprovem ser este roedor um reservatório silvestre de Rickettsia. Um dos
fatores que poderiam justificar sua importância na ecologia e epidemiologia da doença
seria a sua grande área corporal, que viabilizaria a alimentação de centenas/milhares de
ixodídeos.
Vetores
No Brasil, os carrapatos da espécie Amblyomma cajennense são os principais vetores
da R. rickettsii causadora da febre maculosa brasileira. São popularmente conhecidos como
“carrapato-estrela”, “carrapato-de-cavalo” ou “rodoleiro”; suas ninfas (estádio entre a fase
larvar e a adulta), por “vermelhinhos”; e as larvas, por “carrapatinhos” ou “micuins”.
330
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Febre Maculosa Brasileira
Modo de transmissão
A febre maculosa brasileira é geralmente adquirida pela picada de carrapato infectado
e a transmissão ocorre se o artrópode permanecer aderido ao hospedeiro por, no mínimo,
4-6 horas. A doença não se transmite de pessoa a pessoa.
Período de incubação
De 2 a 14 dias.
Período de transmissibilidade
Os carrapatos permanecem infectados durante toda a vida, em geral 18 meses. A partir de um carrapato infectado, outros podem tornar-se infectados, através de transmissão
vertical (transovariana), transmissão estádio-estádio (transestadial) ou transmissão através
da cópula, além da possibilidade de alimentação simultânea de carrapatos infectados com
não-infectados em animais com suficiente rickettsemia.
6
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo entre
profissionais bastante experientes. Por ser doença multissistêmica, a febre maculosa pode
apresentar um curso clínico variável, desde quadros clássicos a formas atípicas sem exantema. O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluindo febre (em geral elevada), cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos.
Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença surge o exantema máculo-papular,
de evolução centrípeta predominando nos membros inferiores, podendo acometer região
palmar e plantar em 50% a 80% dos pacientes. Embora seja o sinal clínico mais importante,
o exantema pode estar ausente, o que pode dificultar e retardar o diagnóstico e tratamento,
determinando, assim, maior número de óbitos. Nos casos graves, o exantema vai se transformando em petequial e, posteriormente, em hemorrágico, constituído principalmente
por equimoses ou sufusões. No paciente não tratado, as equimoses tendem à confluência,
podendo evoluir para necrose, principalmente nos lóbulos das orelhas, escroto e extremidades. Nos casos graves é comum a presença de:
• edema de membros inferiores;
• hepatoesplenomegalia;
• diarréia e dor abdominal;
• manifestações renais com azotemia pré-renal caracterizada por oligúria e insuficiência renal aguda;
• manifestações gastrointestinais como náusea, vômito, dor abdominal e diarréia;
• manifestação pulmonar com tosse, edema pulmonar e alterações radiológicas incluindo infiltrado alveolar, pneumonia intersticial e derrame pleural;
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F
331
Febre Maculosa Brasileira
• manifestações neurológicas como cefaléia, déficit neurológico, meningite/meningoencefalite com líquor claro;
• manifestações hemorrágicas como petéquias, sangramento mucocutâneo, digestivo
e pulmonar.
Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio de torpor e de confusão
mental, com freqüentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo. Icterícia e
convulsões podem ocorrer em fase mais avançada da doença. A letalidade desta forma da
doença, quando não tratada chega a 80%.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico precoce é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias da
doença, quando as manifestações clínicas também podem sugerir leptospirose, dengue, hepatite viral, salmonelose, encefalite, malária ou pneumonia por Mycoplasma pneumoniae.
Com o surgimento do exantema, pode ocorrer confusão com meningococcemia, sepsis por estafilococos e por gram-negativos, viroses exantemáticas (enteroviroses, mononucleose infecciosa, rubéola, sarampo), outras rickettsioses do grupo do tifo, ehrlichioses,
borrelioses (doença de Lyme símile), febre purpúrica brasileira, farmacodermia e doenças
reumatológicas como lupus, entre outras.
Embora o exantema seja um importante e fundamental achado clínico, sua presença
não deve ser considerada a única condição para fortalecer a suspeita diagnóstica.
Diagnóstico laboratorial
Exames inespecíficos
Hemograma – são comuns a anemia e trombocitopenia. A redução do número de plaquetas é um achado comum e auxilia no diagnóstico. Os leucócitos podem estar normais,
aumentados ou diminuídos, podendo apresentar desvio para a esquerda ou não.
Enzimas – creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH), transaminases/aminotransferases (TGP/ALT e TGO/AST) e bilirrubinas estão geralmente aumentadas.
Exames específicos
Pesquisa indireta através de métodos imunológicos
Reação de imunofluorescência indireta (IFI) – é o método sorológico mais utilizado
para o esclarecimento diagnóstico das rickettsioses, sendo considerado padrão-ouro e o
mais disponível na rotina laboratorial. A IFI é uma reação de alta sensibilidade e especificidade que pode ser utilizada para a pesquisa de imunoglobulinas específicas da classe IgM
e da classe IgG. Em geral, os anticorpos são detectados entre o 7o e o 10o dia de doença.
Títulos de anticorpos superiores ou iguais a 1:64, em uma única amostra, ou uma diferença
de quatro vezes no título de anticorpos observada em duas amostras pareadas de soro, coletadas de 2 a 4 semanas entre elas, são os requisitos para confirmação diagnóstica através
da sorologia.
332
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
É pertinente lembrar que o resultado deve ser interpretado dentro de um contexto
clínico e epidemiológico. Assim, a presença de um resultado sorológico positivo pela IFI,
na ausência de um quadro clínico, não nos autoriza dizer que se trata de febre maculosa
pois existem outras Rickettsiias não-patogênicas do grupo da febre maculosa que podem
determinar reação cruzada.
Pesquisa direta da Rickettsia através de histopatologia/imunohistoquímica – a partir de amostras de tecidos obtidas por meio de biópsia de pele e das petéquias de pacientes
infectados, em especial os graves, ou material de necropsia como fragmentos de pele com
lesões, pulmão, fígado, baço, coração, músculos e cérebro. Todos esses espécimes clínicos
devem ser encaminhados ao laboratório de referência para rickettsioses.
Técnicas de biologia molecular: reação de polimerase em cadeia (PCR)
Isolamento – o isolamento do agente etiológico é feito a partir do sangue e/ou fragmentos de tecidos (pele, pulmão) obtidos por meio de biópsia, além do próprio carrapato
retirado do paciente. As amostras de tecido deverão ser imersas, preferencialmente, em
infusão cérebro-coração (Brain Hearth Infusion – BHI) e encaminhadas ao laboratório em
baixas temperaturas, em recipiente estéril. Na impossibilidade de BHI, o material poderá
ser acondicionado em solução fisiológica estéril. Em relação ao vetor eventualmente coletado do paciente, o mesmo deverá ser acondicionado em frasco seco estéril, sem BHI ou
qualquer outra solução e encaminhado ao laboratório em baixas temperaturas.
Este procedimento é limitado, pois além de ser realizado sob condições de biossegurança NB3 não permite o diagnóstico precoce.
Todas as amostras deverão ser encaminhadas imediatamente em isopor com gelo comum ou em gelo seco ou balão de nitrogênio líquido. Quando não puder ser encaminhado,
o material deverá ser armazenado a menos 70ºC.
Os tubos deverão estar devidamente identificados (tipo de amostra, data da coleta de
material). Nos recipientes contendo vetor artrópode, deverão constar informações sobre
sua origem (nome do paciente) e data da coleta. Encaminhar ficha com informações clínico-epidemiológicas e laboratoriais correspondentes às amostras enviadas do paciente.
6
F
Laboratórios credenciados para o envio de amostras clínicas
Laboratório de Hantavírus e Rickettsioses da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz/RJ
Estados: Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal e Goiás
Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais – Lacen/MG
Estados: Minas Gerais e Espírito Santo
Laboratório Central de Saúde Pública de São Paulo – Lacen/SP
Estados: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul
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333
Febre Maculosa Brasileira
Os demais estados encaminharão suas amostras clínicas para o laboratório de referência nacional, localizado no Laboratório de Hantavírus e Rickettsioses da Fundação Oswaldo
Cruz – Fiocruz/RJ.
Normas para coleta, conservação e encaminhamento de espécimes clínicos
Tipo de
material
Exames
Fase de coleta
1ª amostra: a partir
do 1º contato com
o paciente
Sorologia
Sangue
Cultura
(isolamento)
Cultura
Tecidos
(isolamento)
Pele
Amostras
de fígado,
pulmão, pele,
rim, baço
(colhidas em
necropsia)*
Imunohistoquímica
2ª amostra: de 2 a 4
semanas após a data
da primeira coleta
Início dos sintomas,
antes da antibioticoterapia, ou se já
iniciada, com até
48 horas de seu uso
Quantidade
e recipiente
10ml em tubo seco
(sem anticoagulante)
2ml em tubo seco
e transferir o coágulo
para um flaconete
com tampa de rosca
com 1ml de meio
de transporte (BHI)
Início do aparecimento da lesão de
pele (exantema,
petéquias), preferencialmente antes do
início da antibioticoterapia
Colocar o fragmento
de pele em flaconete
com tampa de rosca
com 1ml de meio
de transporte BHI
Necropsia efetuada
idealmente antes de
completar 24 horas
após o óbito
Blocos de parafina
contendo quantidade
representativa das
amostras coletadas.
Enviar, junto com
laudo de necropsia,
os achados macro
e microscópicos
Conservação e transporte
Após retração do coágulo em
temperatura ambiente, colocar
em geladeira (4-8ºC) por no
máximo 24 horas
Encaminhar ao laboratório de
referência em caixa de isopor
com gelo
Encaminhar ao laboratório
de referência no prazo máximo
de 8 horas, em isopor com gelo
Caso não seja possível, congelar
em freezer a menos 70ºC ou em
nitrogênio líquido. Após o congelamento, transportar em isopor
com gelo seco
Acondicionar os blocos de parafina em embalagem que permita
transporte sem danificá-los, em
temperatura ambiente (no máximo até 40ºC).
*As amostras colhidas em necropsia, preferencialmente, já devem ter sido submetidas a processamento histológico (bloco de parafina).
Tratamento
A droga de escolha para pacientes com sinais e sintomas clínicos da FMB é a doxiciclina, que deve ser utilizada em casos leves e moderados de manejo ambulatorial. Nos casos
mais severos, que requerem internação e utilização de antibioticoterapia por via endovenosa, o cloranfenicol é a escolha.
Quando da suspeita de FBM, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado imediatamente, não se devendo esperar a confirmação laboratorial do caso. Se o paciente é tratado
entre os primeiros 4-5 dias da doença, a febre geralmente regride dentro de 24-72 horas
depois do uso apropriado de antibióticos.
Não é recomendada a antibioticoterapia profilática para pessoas não doentes que tenham sido recentemente picadas por carrapatos, pois apenas contribui para atrasar o início
dos primeiros sintomas, caso venham a desenvolver a doença.
334
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
O esquema terapêutico indicado está apresentado no quadro a seguir.
Quadro 1. Antibioticoterapia recomendada
Adultos
Doxiciclina
100mg de 12 em 12 horas, por via oral
500mg de 6/6 horas, por via oral mantendo-se por três dias após o término da febre
Cloranfenicol
Em casos graves, recomenda-se 1,0g (um grama) por via endovenosa, a cada 6 horas,
até a recuperação da consciência e melhora do quadro clínico geral, mantendo-se o
medicamento por mais de sete dias, por via oral, na dose de 500mg de 6/6 horas
Crianças
Cloranfenicol
50 a 100 mg/kg/dia, de 6/6 horas, até a recuperação da consciência e melhora
do quadro clínico geral, nunca ultrapassando 2g por dia, por via oral ou venosa,
dependendo das condições do paciente
Doxiciclina
Peso menor que 45kg: 4mg/kg/dia, divididos em duas doses
6
Aspectos epidemiológicos
No Brasil, a ocorrência da febre maculosa tem sido registrada em Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e, mais recentemente, em Santa Catarina. No período
de 1995-2003, foram registrados 263 casos da doença, com taxa de letalidade de 28%.
Em Minas Gerais, neste período, temos o registro de 106 casos com freqüência maior
no sexo masculino (76%), na faixa etária de 15 a 30 anos, letalidade média de 18% e maior
incidência no mês de outubro. Esta sazonalidade parece ter relação com o ciclo evolutivo
dos carrapatos, já que as formas infectantes (ninfa e adulta) são mais encontradas neste período. As regiões com maior número de casos no estado são os vales do Rio Doce, Mucuri
e Jequitinhonha, localizados na região nordeste de Minas Gerais.
Em São Paulo, neste mesmo período foram registrados 83 casos com maior freqüência
no sexo masculino (73%), na faixa etária de 20-30 anos e letalidade média de 47%. As regiões de Campinas e Pedreira têm apresentado o maior número de casos no estado.
No Rio de Janeiro, no período de 1980-2003, foram registrados 57 casos, com taxa de
letalidade de 23%. No estado, os casos têm ocorrido com maior freqüência na região de
Barra do Piraí.
No Espírito Santo, tem ocorrido surtos nos municípios de Pancas, Barra de São Francisco e Nova Venécia.
Em Santa Catarina, a partir de outubro de 2003 até abril/2004 foram notificados 11
casos da doença, ocorridos na região do médio Vale do Itajaí, sem registro de óbitos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
F
335
Febre Maculosa Brasileira
Vigilância epidemiológica
No Brasil, a febre maculosa brasileira foi incluída na lista de doenças de notificação
compulsória em outubro de 2001, conforme Portaria MS nº 1.943, de 18/10/01.
Objetivos
A vigilância da FMB compreende a vigilância epidemiológica e ambiental dos vetores,
reservatórios e hospedeiros e tem como objetivos:
• detectar e tratar precocemente os casos suspeitos, visando a redução da letalidade;
• investigar e controlar surtos, mediante adoção de medidas de controle;
• conhecer a distribuição da doença segundo lugar, tempo e pessoa;
• identificar e investigar os locais prováveis de infecção;
• recomendar e adotar medidas de controle e prevenção.
Definição de caso
Suspeito
Paciente com febre de início súbito, mialgia e/ou prostração intensa, podendo haver
um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
• cefaléia;
• exantema maculopapular, que surge por volta do terceiro a quinto dia de evolução,
atingindo, inclusive, palmas das mãos e plantas dos pés;
• manifestações hemorrágicas.
Deve ainda ser investigada e considerada a história de picada de carrapatos e/ou de
contato com animais domésticos e/ou silvestres.
Confirmado
Paciente com quadro clínico compatível com a doença, com resultado positivo ao
exame laboratorial, como se segue:
• reação de imunofluorescência indireta positiva (em duas amostras, com diferença
de títulos de, no mínimo, quatro vezes superior entre as mesmas); e/ou
• reação de imunofluorescência indireta (em amostra única) com títulos de IgG igual
ou maior a 1:64 ou com qualquer título de IgM; e/ou
• imunohistoquímica de tecidos positiva para Rickettsias; e/ou
• PCR positivo; e/ou
• cultura (isolamento) bacteriana positiva.
Descartado
• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo;
• Caso suspeito sem dados suficientes para a classificação como confirmado;
• Caso suspeito com diagnóstico confirmado para outra doença.
336
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
Notificação
Todo caso suspeito de febre maculosa requer imediata notificação e investigação, por
se tratar de doença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o que impõe a
imediata adoção de medidas de controle.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Os casos devem ser atendidos em unidade de saúde com capacidade para prestar atendimento adequado e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitam de cuidados permanentes e contínuos, demandando, eventualmente, internamento em unidades de
saúde de maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.
Medidas universais para evitar a circulação bacteriana
Os cuidados iniciais requeridos são os de qualquer enfermidade de caráter infeccioso
sem causa definida. Entretanto, após o diagnóstico laboratorial não se requer a proteção
individual, pois a doença não se transmite de pessoa a pessoa.
6
Coleta de amostras para o diagnóstico laboratorial
As amostras devem ser coletadas, preferencialmente, antes do uso de antibióticos, exceto para sorologia, quando podem ser colhidas em qualquer tempo. A coleta deve ser realizada
logo após a suspeita clínica de febre maculosa e de acordo com as normas técnicas, devendo
ser encaminhada ao laboratório central de saúde pública – Lacen, devidamente identificada
e acompanhada de solicitação e cópia da ficha de investigação epidemiológica preenchida
para orientar o laboratório no processo de investigação e identificação do agente.
F
Investigação
A investigação de casos de FMB deve ser iniciada imediatamente após a notificação,
para permitir que as medidas de controle e prevenção de novos casos possam ser adotadas
em tempo oportuno. Cabe à equipe de investigação confirmar a existência de amostras ou
encaminhar providências quanto à coleta dos espécimes clínicos necessários para o diagnóstico laboratorial, de acordo com as normas estabelecidas.
Roteiro da investigação epidemiológica
O instrumento de coleta de dados é a ficha de investigação epidemiológica, padronizada para utilização em todo o país. Todos os seus campos deverão ser criteriosamente
preenchidos, mesmo quando a informação for negativa, e alguns campos obrigatoriamente
informados ao nível federal.
Passos da investigação:
• identificação completa do paciente, sua residência e local de atendimento;
• coleta de dados clínicos e epidemiológicos – deve-se levantar dados junto ao paciente e familiares, consultar o prontuário e, se possível, entrevistar o médico assistente
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
337
Febre Maculosa Brasileira
•
•
•
•
•
•
•
•
para completar as informações clínicas e definir se o quadro apresentado é compatível com a doença;
identificação da área de transmissão – deve-se verificar se o local de residência, trabalho ou lazer correspondem às áreas de provável transmissão da febre maculosa,
observando se existe:
❯ alta infestação de carrapatos na área;
❯ criação de animais domésticos, como cães, cavalos, e presença de animais
silvestres (capivaras) na área;
determinação da extensão da área de transmissão – na vigência de um número maior
de casos, deverá ser feita uma investigação epidemiológica para tentar chegar aos
mecanismos causais de transmissão da doença e extensão da área de transmissão;
implementação, quando pertinente, de coleta de carrapatos em humanos, cães e nos
eqüídeos, a fim de que se possa tentar uma caracterização das espécies de carrapatos
existentes e, se possível, o isolamento de Rickettsias circulantes;
encerramento de casos – o caso é considerado encerrado a partir do momento em
que todos os dados epidemiológicos e clínicos levantados forem suficientes para o
estabelecimento do critério diagnóstico utilizado;
consolidação dos dados: considerar os aspectos relativos a pessoa, tempo e, principalmente, área geográfica envolvidos;
análise de dados – é de fundamental importância que a análise dos dados da investigação permita uma avaliação da magnitude do problema, da adequação das medidas
adotadas desde o início, visando impedir o aparecimento de novos casos, e das ações
de prevenção que devem ser mantidas na área, a curto e médio prazos, incluindo o
combate ao vetor, quando indicado. Esta análise deve ser orientada para identificação do local de transmissão, fonte de infecção e vetores envolvidos na transmissão;
dimensionamento da real magnitude do episódio (incidência e letalidade); extensão
da área de transmissão e populações sob risco;
interpretação dos dados coletados – deve ser feita de modo a definir as medidas de
controle imediatas, as atividades de continuidade das investigações e as alterações
das medidas adotadas, de acordo com a evolução do evento e da investigação;
relatório final – a qualidade do relatório final, contendo dados confiáveis, será relevante para melhor compreensão da doença e da situação epidemiológica da febre
maculosa no Brasil, que exige uma vigilância ativa de casos visando identificar precocemente novas áreas de transmissão. Deverá analisar as condições de ocorrência
dos casos e apresentar sugestões e orientações para a população e autoridades locais
sobre o risco do aparecimento de novos casos.
Inquérito sorológico humano
A realização de inquérito sorológico está indicada apenas em alguns casos, como
ocorrência de surtos e na tentativa de ajudar na detecção de anticorpos específicos contra a
Rickettsia do grupo da febre maculosa em determinada área geográfica afetada. Porém, esse
procedimento terá valor apenas epidemiológico.
338
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
Fluxograma de investigação epidemiológica da febre maculosa
Caso suspeito de febre maculosa brasileira
Atenção médica /
dados clínicos
Notificar
Investigar
Busca ativa de casos
Colher espécimes
clínicos para
exame laboratorial
e iniciar coleta
de dados
Casos suspeitos
6
Iniciar tratamento
Acompanhar
evolução
Investigar com detalhes
o local provável de infecção
Negativo
Positivo
Descartar
o caso
Avaliar
necessidade
de inquérito
sorológico
em humanos
Investigar
outros
agravos
Foco antigo
Foco novo
Transmissão
em área
rural/silvestre
Provável transmissão no
peri e/ou intradomicílio
Educação
em saúde
Pesquisa entomológica e
de possíveis reservatórios
Cura clínica
Óbito
Positiva
presença do
vetor no peri
e/ou intradomicílio
Encerrar
o caso
Encerrar
o caso
Controle vetorial
Medidas
de proteção
individual
Medidas
de proteção
coletiva
F
Negativa
ausência do
vetor no peri
e/ou intradomicílio
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
339
Febre Maculosa Brasileira
Medidas de prevenção e controle
Ações da vigilância epidemiológica e ambiental
Ações específicas para a área rural
(com foco ou fora do foco), localizadas em áreas de produção
• Criar bovinos separados de eqüídeos;
• Equipe de zoonoses – deve estar capacitada para atuar a contento e trabalhar a questão da educação e saúde. Deverá intervir junto aos proprietários de animais, fazendeiros, carroceiros, peões e clubes eqüestres, fornecendo informações e definindo
ações preventivas quanto ao controle de carrapatos;
• Os banhos, com carrapaticidas, deverão levar em conta a epidemiologia das fases
parasitárias e não-parasitárias, o que permitirá diminuir o número de banhos/ano e
a diminuição dessas fases;
• Os carrapaticidas comercialmente encontrados no mercado possuem posologia
para bovinos. Assim, em eqüinos, os banhos deverão ser realizados com intervalos
de, no máximo, 10 dias, na época compreendida entre abril e outubro, período larval e de ninfas, estágios mais sensíveis aos produtos químicos.
Ações a serem adotadas pela vigilância epidemiológica e ambiental
em áreas urbanas de cidades com confirmação de casos de febre maculosa
• Promover capacitações freqüentes para profissionais de saúde, alertando para a importância do diagnóstico precoce e diferencial com outras doenças.
• Informar a população sobre a circulação sazonal do carrapato, como forma educativa e preventiva (respeitando o ano biológico do carrapato e, conseqüentemente,
a ocorrência dos casos). O mês de março seria a época ideal para o início destas
atividades, pois antecede ao período de alta incidência da população de carrapatos e,
conseqüentemente, ao aparecimento dos casos da enfermidade. Assim, nesse período, toda a população deve ser informada da enfermidade e tudo que for pertinente
ao controle do carrapato, para que, ao chegar o mês de abril, no qual a incidência da
doença começa a aumentar, possa tomar medidas de prevenção.
• Orientar a população como se proteger, adotando o uso de barreiras físicas quando
for se expor a áreas com possibilidade de existir carrapatos, conforme descrito:
❯ usar roupas claras e com mangas compridas, para facilitar a visualização de
carrapatos;
❯ usar calças compridas, inserindo a parte inferior por dentro de botas, preferencialmente de cano longo e vedadas com fita adesiva de dupla face;
examinar o próprio corpo a cada três horas, a fim de verificar a presença de
carrapatos. Quanto mais rápido os mesmos forem retirados, menor a chance
de infecção;
❯ retirar os carrapatos (caso sejam encontrados no corpo) preferencialmente
com o auxílio de uma pinça (de sobrancelhas ou pinça cirúrgica auxiliar);
340
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
não esmagar o carrapato com as unhas, pois o mesmo pode liberar as bactérias e contaminar partes do corpo com lesões.
• Locais públicos conhecidamente infestados por carrapatos devem ser obrigados
(pela vigilância sanitária) a informar seus freqüentadores, por meio de placas, da
presença de carrapatos e das formas de proteção.
• A limpeza e capina de lotes não construídos, bem como a de áreas públicas com
cobertura vegetal, devem adequadamente ser planejadas.
❯
Para o controle em áreas de ocorrência de foco, a equipe de zoonoses deve ser acionada
para orientar as medidas específicas a serem implementadas, tais como informações quanto ao ciclo do carrapato, transmissão da doença e atividades que devem ser realizadas.
Ações de educação em saúde
Logo após a suspeição de um caso ou surto devem ser iniciadas as medidas de esclarecimento à população, mediante visitas domiciliares e palestras nas comunidades, visando
repassar conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade e medidas de
prevenção.
A maioria das ações exige participação das populações expostas, sendo da maior importância o repasse de informações quanto ao risco de ocorrência de febre maculosa. Devem ser divulgadas mediante técnicas pedagógicas disponíveis e meios de comunicação de
massa, alertando quanto à importância da doença e métodos de prevenção.
Os hospitais e profissionais de saúde da região deverão ser alertados da ocorrência da
doença, a fim de que possam estar atentos para o diagnóstico precoce e de outros possíveis
casos do agravo.
6
F
Controle vetorial
Os relatos da transmissão da febre maculosa no Brasil apontam o Amblyomma cajennense como sendo o principal vetor.
O ciclo biológico do Amblyomma cajennense exige três hospedeiros para completá-lo,
como se segue:
• inicia-se com a fêmea adulta ingurgitada (telógena) realizando a ovipostura de aproximadamente seis mil ovos, podendo chegar a oito mil ovos (destes 85% a 99% férteis);
• esses ovos ficam incubados por 60 a 70 dias e transformam-se em larvas (“micuins”)
que podem ficar no solo por até seis meses sem se alimentar;
• a larva, após encontrar um hospedeiro definitivo, realiza a sucção (período de alimentação) durante cinco dias. Retorna ao solo e transforma-se em ninfa (“vermelhinho”), em torno de 25 dias. Pode permanecer por um período de até um ano à
espera de um hospedeiro;
• ao encontrar outro hospedeiro, realiza a sucção por cinco a sete dias. Cai novamente
no solo e muda para o estágio adulto, diferenciando-se em machos e fêmeas (rodoleiros ou carrapatos-estrela), e aí permanece aguardando novos hospedeiros por um
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
341
Febre Maculosa Brasileira
período de até 24 meses. Isto significa que o ciclo completo do Amblyomma cajennense pode se completar em um período de até três anos e meio.
A importância do conhecimento do ciclo do carrapato deve-se à necessidade de se
propor medidas de controle eficazes e no tempo adequado. Ações efetivas de controle não
serão estabelecidas em prazo menor que três anos, uma vez que a dinâmica populacional
dos carrapatos permite sua sobrevivência, por longos períodos, sem alimentação.
O Amblyomma tem características próprias, a considerar:
• a larva pode ficar até seis meses no campo, sem se alimentar; a ninfa, até um ano e a
forma adulta, até dois anos, no meio ambiente;
• esta alta resistência é responsável pela ocorrência de casos de febre maculosa no período de outubro de um ano a abril do ano seguinte, mesmo sendo período chuvoso,
época na qual seria esperada baixa infestação pelas larvas e ninfas;
• esta espécie não requer especificidade de hospedeiro. Portanto, pode alimentar-se
em eqüídeos, bovinos, caprinos, homens, aves silvestres, cães, gatos, etc. De modo
geral, à medida que os carrapatos evoluem nas fases de seu ciclo de vida a tendência
é que seu hospedeiro aumente em porte.
A transmissão da febre maculosa pela forma adulta do carrapato é menos comum,
pois as pessoas o retiram rapidamente do corpo, devido à dor no momento da picada. Para
que ocorra a transmissão da doença é necessária a permanência do mesmo por um período
de pelo menos seis horas, fixado ao corpo do hospedeiro, o que normalmente ocorre nas
formas de larva e ninfa, sem que o hospedeiro se dê conta de sua presença.
Fato importante que normalmente explica o ressurgimento da febre maculosa em índices elevados nos últimos anos é o relativo aumento das fontes de alimentação do Amblyomma cajennense, principalmente eqüídeos, nas áreas rurais e periurbanas. Em função
da crise econômica e social, tem-se observado grande aumento das populações de eqüídeos
nas áreas periurbanas, decorrente da disponibilidade de mão-de-obra não especializada
que busca na ocupação de carroceiro seu modo de sobrevivência.
O aumento da densidade bovina nas propriedades rurais e a criação conjunta de bovinos e eqüídeos promovem a oferta de boa alimentação ao carrapato, com conseqüente expansão de suas populações. O grande desconhecimento do ciclo do carrapato, pela
população em geral e pelos profissionais da saúde em particular, não lhe impõe o devido
controle.
O cavalo, apesar de ser a principal espécie de alimentação do Amblyomma cajennense,
constitui apenas 1% do total de animais, enquanto o boi representa 95% a 98% dos animais,
na maioria das propriedades rurais. Assim sendo, o carrapato do cavalo passa a se alimentar nos bovinos, pela maior disponibilidade dos mesmos, além de poder infestar outros
animais.
A partir da identificação das áreas de risco e ocorrência comprovada de casos, a vigilância epidemiológica deverá atuar enfaticamente. As áreas de risco relacionam-se, principalmente, com a presença e disponibilidade dos vetores e reservatórios.
342
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Maculosa Brasileira
Fatores ambientais para risco
• Meses do ano onde a população de vetores, em suas fases parasitárias jovens, estão
no ambiente em maior proporção (abril a outubro).
• Alterações no ambiente silvestre, principalmente sua invasão pelas populações humanas.
• Influência climática, determinando a dinâmica das populações do carrapato.
Fatores socioeconômicos, culturais e sanitários de risco
• Proximidade do homem com animais no meio urbano, tais como cavalos e cachorros.
• Desconhecimento da biologia do carrapato e da Rickettsia.
• Presença de indivíduos sensíveis à infecção por Rickettsias.
• Intensificação do uso da terra e dos sistemas de produção.
• Hábitos ocupacionais da população, além do aumento do turismo rural.
• Controle inadequado do vetor.
• Aumento do número de carroceiros na zona urbana.
6
F
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
343
Febre Purpúrica Brasileira
FEBRE PURPÚRICA BRASILEIRA
CID 10: A48.4
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
É uma doença infecciosa emergente de caráter agudo e elevada letalidade. Em geral,
apresenta-se sob forma de surtos, atingindo crianças. Tem largo espectro clínico: uma simples infecção conjuntival pode ou não evoluir, em uma ou duas semanas, para síndrome
séptica, com aparecimento de petéquias e púrpuras.
Agente etiológico
Haemophilus influenzae, biogrupo aegyptius. Bactéria gram-negativa, sob a forma de
bacilos finos e retos.
Reservatório
O homem, que também é a fonte de infecção (pessoas com conjuntivite causada pelo
agente).
Modo de transmissão
Contato direto pessoa a pessoa, que esteja com conjuntivite; ou indireto, por intermediação mecânica (insetos, toalhas, mãos).
Período de incubação
O intervalo de tempo entre o início da conjuntivite e a febre é, em média, de 7 a 16 dias
(variando de 1 a 60 dias).
Período de transmissibilidade
Possivelmente, enquanto durar a conjuntivite.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Doença infecciosa aguda, com manifestações clínicas sistêmicas, que acomete crianças
após conjuntivite, com sinais e sintomas que seguem uma certa cronologia em curto espaço
de tempo: início com febre alta (acima de 38,5ºC), taquicardia, erupção cutânea macular difusa, tipo petéquias, púrpuras e outras sufusões hemorrágicas e hipotensão sistólica.
Ocorrem, também manifestações digestivas tais como náuseas, vômitos, dor abdominal,
enterorragias e diarréia, bem como mialgias, sinais de insuficiência renal (oligúria e anúria),
344
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Purpúrica Brasileira
plaquetopenia, leucopenia com linfocitose ou leucocitose com linfocitopenia. Observa-se
agitação, sonolência, cefaléia e convulsão. A cianose e taquidispnéia, conseqüente à acidose,
faz parte da progressão da doença.
Essa enfermidade, em geral, evolui de um a três dias, ou seja, é um quadro grave fulminante, com choque séptico e coagulação intravascular disseminada (CIVD), cuja letalidade
varia de 40% a 90%. Quando o paciente sobrevive, pode vir a apresentar gangrenas, com ou
sem mutilações.
A natureza sistêmica e fulminante da febre purpúrica brasileira (FPB) deve estar associada à liberação de toxinas pela bactéria. A conjuntivite, que a precede, também é conhecida como conjuntivite bacteriana e olho roxo.
Diagnóstico diferencial
Meningococcemia, septicemias por gram-negativos, dengue hemorrágica, febre maculosa tifo exantemático, febre hemorrágica argentina e boliviana e outras febres hemorrágicas.
6
Diagnóstico laboratorial
É feito através de exames:
• específicos – cultura de sangue, material da conjuntiva, do líquor e de raspado de
lesão de pele. Reação de contra-imunoeletroforese do soro e do líquor;
• inespecíficos – hemograma, coagulograma, provas de função renal.
F
Tratamento
Antibioticoterapia: ampicilina, 200mg/kg/dia, 6/6/hs, via intravenosa; ou amoxicilina
50mg/kg/dia, 8/8hs, via oral, por sete dias, associada ou não ao cloranfenicol, 100mg/kg/
dia, via intravenosa, 6/6 hs, por sete dias. O paciente deve ser internado com todos os cuidados de suporte e, se desenvolver CIVD, usar hidrocortisona. Em caso de choque séptico,
internar em unidade de terapia intensiva e não usar hidrocortisona.
Aspectos epidemiológicos
Doença descrita pela primeira vez em 1984, no município de Promissão, em São Paulo, onde ocorreram 10 óbitos com quadro semelhante ao da meningococcemia. Concomitantemente, observou-se quadro semelhante em Londrina, com 13 casos e sete óbitos,
e outros em cidades próximas a Promissão. Desse período até hoje, já se tem registro da
enfermidade em mais de 15 municípios de São Paulo e em áreas do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. Fora do Brasil, os únicos casos descritos ocorreram em novembro de 1986,
na região Central da Austrália (Alice-Springs). O agente etiológico foi isolado do sangue
de casos clínicos em 1986. Anteriormente, o Haemophilus influenzae, biogrupo aegyptius,
nunca havia sido associado a doença invasiva até o aparecimento da FPB.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
345
Febre Purpúrica Brasileira
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Detectar precocemente surtos de conjuntivite, causados por Haemophilus influenzae aegyptius, nas áreas de ocorrência da doença, visando a adoção das medidas de
controle indicadas.
• Diagnosticar e tratar os casos, visando reduzir a morbidade e letalidade.
Definição de caso
Suspeito
Criança que teve ou está com conjuntivite e desenvolve quadro agudo de febre, acompanhado de algum outro sinal de toxemia (palidez perioral, vômitos, dor abdominal, alterações do estado de consciência).
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – quadro febril agudo em criança, com isolamento, no
sangue ou no líquor, de Haemophilus influenzae aegyptius; ou quadro febril agudo, com manifestações hemorrágicas, em pele ou mucosa digestiva, com antecedente de conjuntivite
purulenta, contra-imunoeletroforese e culturas negativas para meningococo e outras bactérias, para as quais estes exames tenham sido realizados. Presença de Haemophilus influenzae aegyptius em conjuntiva, ou dados epidemiológicos da área, como ocorrência de surtos
de conjuntivite (município, escolas, creches, grupamentos familiares) com identificação de
Haemophilus aegyptius, cepa invasora.
Critério clínico-epidemiológico – doença aguda em criança procedente de área de
ocorrência da doença, caracterizada por febre igual ou superior a 38,5oC, dor abdominal e
vômitos, petéquias e/ou púrpuras, sem evidência de meningite, com antecedente de conjuntivite (em familiares) e, ainda, sem antecedente de ocorrência de doença meningocócica
na área de abrangência do caso.
Descartado
Caso suspeito que não se enquadre nas definições de caso confirmado ou que confirme diagnóstico de outra doença.
Notificação
Por se tratar de agravo inusitado, é doença de notificação compulsória e investigação
obrigatória. A notificação deve ser feita pelo meio de comunicação mais rápido disponível
(e-mail, fax, telefone) e também pelo Sinan (ficha de notificação).
346
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Purpúrica Brasileira
Primeiras medidas a serem tomadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata de todos os casos suspeitos de acometimento sistêmico.
Qualidade da assistência
Observar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde com capacidade
para prestar atendimento adequado e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitam de cuidados permanentes e contínuos, demandando internamento em serviços de
saúde de maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.
Proteção individual para evitar circulação bacteriana
Não há indicação para isolamento; entretanto, devem ser adotados cuidados com as
secreções conjuntivais e sangue dos pacientes que contêm o agente.
6
Confirmação diagnóstica
Antes do uso de antibióticos, a equipe de assistência deve fazer encaminhamento das
amostras de sangue, da secreção conjuntival e do líquor para cultura, raspado de lesões
petequiais em pele. As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório, acompanhadas
de solicitação médica e ficha epidemiológica devidamente preenchida, com informações
sobre os dados clínicos e a suspeita diagnóstica para orientar o laboratório no processo de
investigação e identificação do agente.
F
Proteção da população
Logo após a suspeição do primeiro caso, deve-se iniciar as medidas de esclarecimento
à população, mediante visitas domiciliares e palestras nas comunidades, visando repassar
conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade e medidas de prevenção.
Investigação
A investigação de um ou mais casos de FPB deve ter início imediatamente após a notificação, para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas em tempo oportuno.
Esta investigação deve conter os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina de doença transmissível.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Não se dispõe de ficha epidemiológica de investigação no Sinan, devendo-se elaborar
uma específica para este fim, com campos que coletem os dados das principais características clínicas e epidemiológicas da doença.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
347
Febre Purpúrica Brasileira
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica – em geral, quando se suspeita de FPB os
doentes são hospitalizados, devendo-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. Essas informações servirão
para ajudar a definir se o quadro apresentado é compatível com a doença.
O encaminhamento de material para diagnóstico laboratorial, acompanhado de ficha
contendo dados sobre o caso, é fundamental para auxiliar no resultado da investigação.
Na vigência de óbito, tentar a realização de necropsia, coletando líquidos de fluidos
corporais logo após o mesmo, para se tentar isolar o agente.
Os hospitais, profissionais de saúde da região e comunidade deverão ser alertados da
ocorrência da doença, a fim de que possam estar atentos para o diagnóstico precoce de
possíveis outros casos.
Para identificação e determinação da extensão da área de transmissão – fazer busca
ativa casa a casa, creches e escolas, na área de procedência de casos de conjuntivites, com ou
sem manifestações sistêmicas. Em situações de surtos de conjuntivite, solicitar à população
a busca ativa das unidades de saúde, que deverão estar alertadas para a necessidade de notificação imediata, a cada caso suspeito, e articulação com o serviço de vigilância.
Coleta e remessa de material para exames
Logo após a suspeita clínica de FPB, coletar material de todos os casos, sendo da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais
viabilizar, orientar ou mesmo proceder a estas coletas.
Encerramento de casos
A partir da análise dos dados anotados na investigação e considerando-se a definição
de caso, anota-se o critério utilizado para a confirmação do diagnóstico ou descarte do(s)
mesmo(s).
Análise de dados e relatório final
É de fundamental importância que a análise dos dados da investigação permita uma
avaliação da magnitude do problema e da adequação das medidas adotadas, logo de início,
visando impedir o aparecimento de novos casos e indicar as ações de prevenção que devem
ser mantidas a curto e médio prazos na área.
Desde o início do processo, o investigador deve analisar os dados coletados para alimentar o processo de decisão das atividades de investigação e as ações de controle. Esta
análise, como referido anteriormente, deve ser orientada para identificação do local e modo
de transmissão, além de dimensionar a real magnitude do episódio (incidência e letalidade), a extensão da área de transmissão e as populações sob risco que devem ser alertadas
para o problema.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Purpúrica Brasileira
Medidas de controle
Nas áreas de ocorrência dessa doença, deve-se acompanhar os casos de conjuntivite e,
em situações de surtos, notificar os casos suspeitos da FPB. Quando se observar número de
casos de conjuntivite superior ao mês anterior, iniciar a coleta de secreção de conjuntivas
de pacientes acometidos (pelo menos de 20) para diagnóstico do agente (laboratório de
referência) por meio da realização dos exames laboratoriais específicos.
Tratamento das conjuntivites – com colírio de cloranfenicol a 0,5% (1 gota em cada
olho, de 3/3 horas, durante 7 dias). Quando constatada a ocorrência de conjuntivite pela
cepa invasora do Haemophilus aegyptius, administrar rifampicina na dose de 20mg/kg/dia,
durante 4 dias (tomada única), e repetir a cultura da secreção após o término do tratamento. Acompanhar o paciente até a negativação da cultura. Não há indicação para isolamento
dos casos FPB. A aglomeração favorece a transmissão da conjuntivite. Medidas de higiene
devem ser informadas, principalmente nas situações de risco de ocorrência tanto de conjuntivite como da FPB.
6
F
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Febre Tifóide
FEBRE TIFÓIDE
CID 10: A01.0
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença bacteriana aguda, de distribuição mundial, associada a baixos níveis socioeconômicos, principalmente, com situações de precárias condições de saneamento, higiene
pessoal e ambiental. Com tais características, praticamente encontra-se eliminada em países onde estes problemas foram superados. No Brasil, a febre tifóide ocorre sob a forma
endêmica, com superposição de epidemias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste,
refletindo as condições de vida de suas populações.
Agente etiológico
A Salmonella typhi, bactéria gram-negativa da família Enterobacteriaceae. O tempo de
sobrevida deste agente varia de acordo com o meio em que se encontra, e o conhecimento
desta informação é importante para o controle da doença.
Tempo de sobrevida do agente nos diferentes meios:
• água – em condições ótimas, a sobrevida nunca ultrapassa 3 a 4 semanas. Entretanto, varia consideravelmente com a temperatura (temperaturas mais baixas levam
a uma maior sobrevida), com a quantidade de oxigênio disponível (as salmonelas
sobrevivem melhor em meio rico em oxigênio) e com o material orgânico (águas
poluídas, mas não a ponto de consumir todo o oxigênio, são melhores para a sobrevida do agente);
• esgoto – em condições experimentais, quase 40 dias;
• água do mar – não é um bom meio, sendo necessária uma altíssima contaminação;
• ostras, mariscos e outros moluscos – sobrevida demonstrada de até 4 semanas;
• leite, creme e outros laticínios – constituem um excelente meio, chegando a perdurar até por dois meses na manteiga, por exemplo;
• carnes e enlatados – são raros os casos adquiridos através destes alimentos, provavelmente porque o processo de preparo dos mesmos é suficiente para eliminar a
Salmonella. Mas, uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a sobrevida do agente
é maior do que a vida útil destes alimentos.
Ostras e outros moluscos, assim como leite e derivados, são os principais alimentos responsáveis pela transmissão da febre tifóide. Praticamente todos os alimentos, quando
manipulados por portadores, podem veicular a Salmonella typhi.
Reservatório
O homem (doente ou portador).
350
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
Modo de transmissão
Ocorre, principalmente, de forma indireta através da ingestão de água e alimentos,
em especial o leite e derivados, contaminados com fezes ou urina de paciente ou portador.
A contaminação de alimentos geralmente acontece pela manipulação por portadores ou
oligossintomáticos, razão pela qual a febre tifóide é também conhecida como a doença das
mãos sujas. Raramente as moscas participam da transmissão. O congelamento não destrói
a bactéria, de modo que sorvetes, por exemplo, podem ser veículos de transmissão. Todavia, só uma grande concentração de bactérias – inoculo – torna possível a infecção. Por
isso, não se costuma verificar com muita freqüência surtos de febre tifóide após enchentes,
quando provavelmente há maior diluição do agente etiológico no meio ambiente e menor
possibilidade de sua ingestão em número suficiente para causar a doença. A carga bacteriana infectante, experimentalmente estimada, é de 106 a 109 bactérias. Infecções subclínicas
podem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de bactérias.
Em geral, a febre tifóide transmitida por alimentos ocorre quando nestes são encontradas bactérias em quantidade suficiente para sobreviver aos processos a que são submetidos
quando de sua produção. A concentração de bactérias necessárias para causar a doença é denominada de dose infectante mínima (DIM). Nesse particular, a Salmonella typhi inclui-se
no grupo das bactérias que necessitam de DIM. considerada baixa para produzir a doença,
ou seja, 102/ml. Por outro lado, alguns alimentos possuem características específicas que
influenciam de modo significativo na proliferação e sobrevivência do agente etiológico da
febre tifóide. Por exemplo, sabe-se que o crescimento desta bactéria se dá em meios com pH
entre 4,5 a 7,8, valores que também correspondem à faixa do pH de alguns alimentos, tais
como leite (6,5-6,7), manteiga (6,1-6,4), queijo (4,9-5,9) e pescado (6,6-6,8).
Fatores extrínsecos aos alimentos, com destaque para aqueles relacionados com o meio
ambiente, tais como temperatura e umidade existentes nos sítios de conservação, armazenamento, produção, comercialização e forma de consumo, também interferem de modo
significativo no crescimento e viabilidade das Salmonella typhi.
6
F
Classificação de alguns alimentos, segundo
risco de contaminação pela Salmonella typhi
Alto risco – leite cru, moluscos, mexilhões, ostras, pescados crus, hortaliças, legumes
e frutas não lavadas.
Médio risco – alimentos intensamente manipulados logo após o cozimento ou requentados e massas.
Baixo risco – alimentos cozidos ou assados que são consumidos imediatamente, verduras fervidas e alimentos secos.
Período de incubação
Freqüentemente, de 1 a 3 semanas (em média, 2 semanas), a depender da dose infectante.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
351
Febre Tifóide
Período de transmissibilidade
A transmissão ocorre enquanto os bacilos estiverem sendo eliminados nas fezes ou
urina, o que geralmente se dá desde a primeira semana da doença até o fim da convalescença. Após essa fase o período varia, dependendo de cada situação. Sabe-se que cerca de 10%
dos pacientes continuam eliminando bacilos até 3 meses após o início da doença e que 2%
a 5% (geralmente mulheres adultas) transformam-se em portadores crônicos após a cura, o
que os torna de extrema importância por seu potencial de disseminação da doença. Tanto
entre os doentes quanto entre os portadores, a eliminação da Salmonella typhi costuma ser
intermitente.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral e maior nos indivíduos com acloridria gástrica. A imunidade adquirida após a infecção ou vacinação não é definitiva.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A sintomatologia clínica clássica consiste em febre alta, dores de cabeça, mal-estar
geral, falta de apetite, bradicardia relativa (dissociação pulso-temperatura), esplenomegalia,
manchas rosadas no tronco (roséola tífica – raramente observada), obstipação intestinal ou
diarréia e tosse seca. Atualmente, o quadro clássico completo é de observação rara, sendo
mais freqüente aquele em que a febre é a manifestação mais expressiva, acompanhada por
alguns dos demais sinais e sintomas citados anteriormente. Nas crianças, a doença costuma
ser mais benigna que nos adultos e a diarréia é mais freqüente. Como, apesar de ser aguda,
a doença evolui gradualmente, a pessoa afetada muitas vezes é medicada com antimicrobianos simplesmente por estar apresentando uma febre de etiologia não conhecida. Dessa forma, o quadro clínico fica mascarado e a doença deixa de ser diagnosticada precocemente.
A salmonelose septicêmica é uma síndrome em cuja etiologia está implicada a associação de salmonelose com espécies de Schistosoma (no Brasil, o Schistosoma mansoni). Nessa
condição, o quadro clínico caracteriza-se por febre prolongada (vários meses), acompanhada de sudorese e calafrios. Observa-se ainda anorexia, perda de peso, palpitações, epistaxe,
episódios freqüentes ou esporádicos de diarréia, aumento do volume abdominal, edema dos
membros inferiores, palidez, manchas hemorrágicas e hepatoesplenomegalia. A Salmonella
typhi não é o agente mais freqüentemente associado à salmonelose septicêmica prolongada.
A bacteremia recorrente por Salmonella é uma das condições clínicas marcadora da
síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Em regiões onde a Salmonella typhi é
endêmica, a incidência de febre tifóide pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduos
HIV positivos que em soronegativos. Os HIV positivos assintomáticos podem apresentar doença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao tratamento usual.
Doentes com aids (doença definida) podem apresentar febre tifóide particularmente
grave e com tendência a recaídas.
352
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
A hemorragia intestinal, principal complicação da febre tifóide, é causada pela ulceração das placas de Peyer, que às vezes leva à perfuração intestinal. Todavia, quando a febre
tifóide evolui com bacteremia, qualquer órgão pode ser afetado. Outras complicações menos freqüentes são retenção urinária, pneumonia e colecistite.
Diagnóstico diferencial
A febre tifóide tem manifestações clínicas semelhantes a de várias outras doenças entéricas como, por exemplo, a Salmonella paratyphi A, B, C, e mesmo de diversas etiologias
como a Yersinia enterocolítica, que pode produzir uma enterite com febre, diarréia, vômito,
dor abdominal e adenite mesentérica. Há também outras doenças que apresentam febre
prolongada e devem ser consideradas, tais como pneumonias, tuberculoses (pulmonar, miliar, intestinal, meningoencefalite e peritonite), meningoencefalites, septicemia por agentes
piogênicos, colecistite aguda, peritonite bacteriana, forma toxêmica de esquistossomose
mansônica, mononucleose infecciosa, febre reumática, doença de Hodgkin, abscesso hepático, abscesso subfrênico, apendicite aguda, infecção do trato urinário, leptospirose, malária, toxoplasmose, doença de Chagas aguda e endocardite bacteriana.
6
Diagnóstico laboratorial
Baseia-se, primordialmente, no isolamento e identificação do agente etiológico, nas
diferentes fases clínicas, a partir do sangue (hemocultura), fezes (coprocultura), aspirado
medular (mielocultura) e urina (urocultura).
Hemocultura – apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da doença
(75% aproximadamente), devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o paciente tenha tomado antibiótico. Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras, não havendo
necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre as mesmas.
Coprocultura – a pesquisa da Salmonella typhi nas fezes é indicada a partir da segunda até a quinta semanas da doença, bem como no estágio de convalescença e pesquisa de
portadores. No estado de convalescença, é indicada a coleta de amostras do material com
intervalos de 24 horas. No caso de portadores assintomáticos, particularmente aqueles envolvidos na manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta de 7 amostras seqüenciadas.
Mielocultura – trata-se do exame mais sensível (90% de sensibilidade). Tem também
a vantagem de se apresentar positiva mesmo na vigência de antibioticoterapia prévia. As
desvantagens são o desconforto para o doente e a necessidade de pessoal médico com treinamento específico para o procedimento de punção lombar.
Urocultura – tem valor diagnóstico limitado e a positividade máxima ocorre na terceira semana de doença.
F
O método de reação de Widal: embora ainda muito utilizado em nosso meio, é passível
de inúmeras críticas quanto à sua padronização, cepa de Salmonella envolvida e possível
interferência de vacinação prévia. Atualmente, não é indicado para fins de vigilância
epidemiológica, pois não é suficiente para confirmar ou descartar um caso.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
353
Febre Tifóide
Tratamento
O paciente deve ser tratado no nível ambulatorial, pois só excepcionalmente necessita
de internação.
Tratamento específico
Drogas de primeira escolha
• Cloranfenicol – dose
Adultos: 50mg /kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 horas) até a dose máxima de
4g/dia.
Crianças: 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 horas) até a dose máxima de
3g/dia.
A via de administração preferencial é a oral. Quando os doentes tornam-se afebris, o
que em geral ocorre a partir do quinto dia de tratamento, as doses do cloranfenicol devem
ser reduzidas para 2g/dia (adultos) e 30mg/kg/dia (crianças). O tratamento é mantido por
15 dias após o último dia de febre, perfazendo um máximo de 21 dias. Nos doentes com
impossibilidade de administração por via oral, utilizar a via parenteral.
Efeitos colaterais – há possibilidade de toxicidade medular que pode se manifestar
sob a forma de anemia (dose-dependente) ou mesmo anemia aplástica (reação idiossincrásica) – a qual, felizmente, é rara.
Quanto à resistência da Salmonella typhi ao cloranfenicol, apesar de amplamente discutida na literatura, não parece ser problema no Brasil até o momento. Os insucessos terapêuticos não devem ser atribuídos à resistência bacteriana, sem comprovação laboratorial
e sem antes afastar outras causas.
Drogas de segunda escolha
• Ampicilina – dose
Adultos: 1 mil a 1.500mg/dose, via oral, em 4 tomadas (6/6 horas) até a dose máxima de 6 g/dia.
Crianças: 100mg/kg/dia, via oral, dividida em 4 tomadas (6/6 horas).
A administração oral é preferível à parenteral. A duração do tratamento é de 14 dias.
• Sulfametoxazol + trimetoprima – dose
Adultos: 800 a 1.600mg de sulfametoxazol/trimetoprima, via oral, dividida em 2
tomadas (12/12 horas).
Crianças: 30 a 50 mg/kg/dia de sulfametoxazol/trimetoprima, por via oral, dividida
em 2 tomadas (12/12 horas).
A duração do tratamento é de 14 dias.
• Amoxicilina –dose
Adultos: 3g/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas) até a dose máxima de 4g.
Crianças: 100mg/kg/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas).
354
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
A duração do tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicrobiano, pode haver
maior freqüência de intolerância gastrointestinal.
• Quinolonas – há pelo menos duas quinolonas com eficácia comprovada contra a
Salmonella typhi: a ciprofloxacina e a ofloxacina. São drogas pouco tóxicas, mas têm
como principal desvantagem a contra-indicação para uso em crianças e gestantes e,
como fator limitante, o preço elevado. Em nosso país, estão particularmente indicadas para casos comprovados de resistência bacteriana aos antimicrobianos tradicionalmente utilizados. Provavelmente são as melhores opções para os portadores de
HIV ou aids.
❯ Ciprofloxacina – dose: 500mg/dose, via oral, em duas tomadas (12/12 horas)
durante 10 dias. Caso não seja possível a via oral, utilizar a endovenosa na dose
de 200mg, de 12/12 horas.
❯ Ofloxacina – dose: 400mg/dose, via oral, em duas tomadas (12/12 horas) ou 200
a 400mg/dose, via oral, em 3 tomadas (8/8 horas).
A duração do tratamento é de 10 a 14 dias.
6
• Ceftriaxona – trata-se de uma droga com boa atividade contra a Salmonella typhi,
constituindo-se em outra alternativa ao tratamento.
Os pacientes devem receber adequado tratamento de suporte. Atentar para o aparecimento de complicações graves como hemorragia e perfuração intestinal, pois, para a
última, a indicação cirúrgica é imediata.
F
• Tratamento específico para o estado de portador – ampicilina ou amoxicilina nas
mesmas doses e freqüência para tratamento do caso clínico.
Sete dias após o término do tratamento, iniciar a coleta de três coproculturas, com intervalo de 30 dias entre cada uma. Caso uma delas seja positiva, essa série pode ser suspensa e o
indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência com quinolona (ciprofloxacina, 500mg,
via oral, de 12/12 horas durante 4 semanas) e esclarecido quanto ao risco que representa para
os seus comunicantes íntimos e para a comunidade em geral. O tempo ideal de tratamento
para portadores crônicos ainda não está bem definido. Pacientes com litíase biliar ou anomalias biliares, que não respondem ao tratamento com antimicrobianos, devem ser colecistectomizados. Na salmonelose septicêmica prolongada, as salmonelas têm nos helmintos um
local favorável para sua proliferação. De modo geral, o tratamento antiesquistossomótico, ao
erradicar a helmintíase, faz cessar a septicemia e promove a cura da salmonelose.
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355
Febre Tifóide
Aspectos epidemiológicos
A febre tifóide não apresenta sazonalidade ou outras alterações cíclicas que tenham
importância prática, bem como distribuição geográfica especial. Sua ocorrência está diretamente relacionada às condições de saneamento existentes e aos hábitos individuais. Em
áreas endêmicas, acomete com maior freqüência indivíduos de 15 a 45 anos e sua taxa de
ataque diminui com a idade. No Brasil, nas últimas décadas, constata-se uma tendência
de declínio nos coeficientes de morbimortalidade por febre tifóide. Entretanto, estes dados devem ser vistos com cautela quanto à sua representatividade e fidedignidade, pelas
seguintes razões:
• 20% do total de óbitos têm causa básica ignorada;
• dificuldades quanto ao diagnóstico laboratorial necessário para a identificação do
agente etiológico;
• precariedades do sistema de informação (comparando-se os dados de febre tifóide
de fontes distintas, observam-se disparidades entre eles).
Estes indicadores apresentam importantes variações quando analisados por regiões
e unidades da Federação. As regiões Norte e Nordeste registram sempre números mais
elevados devido à precariedade de suas condições sanitárias, onde menos de 50% de sua
população dispõe de algum tipo de abastecimento de água.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Reduzir a incidência e a letalidade.
• Impedir ou dificultar a propagação da doença.
• Controlar surtos.
Definição de caso
Suspeito
Indivíduo com febre persistente, acompanhada ou não de um ou mais dos seguintes
sinais e sintomas: cefaléia, mal-estar geral, dor abdominal, anorexia, dissociação pulso-temperatura, constipação ou diarréia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco
– achado raro) e esplenomegalia.
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – indivíduo que apresente achados clínicos compatíveis
com a doença e houver isolamento da Salmonella typhi ou detecção pela técnica de PCR.
Critério clínico-epidemiológico – indivíduo com quadro clinicamente compatível e
epidemiologicamente associado com um caso confirmado por critério laboratorial.
356
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
Portador
Indivíduo que, após ter a doença na forma clínica ou subclínica, continua eliminando
bacilos por vários meses. Tem particular importância para a vigilância epidemiológica porque mantém a endemia, podendo dar origem a surtos epidêmicos.
Descartado
Caso que não preenche os requisitos postulados para a sua confirmação.
Notificação
A notificação é feita por meio de instrumentos padronizados: ficha individual de notificação e ficha de investigação da febre tifóide do Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação (Sinan). Do completo preenchimento destes instrumentos depende a
representatividade do sistema, ou seja, a sua capacidade de descrever com relativa exatidão
a ocorrência do evento no tempo e no espaço e segundo atributos do indivíduo e da população. Da agilidade da execução da notificação depende a oportunidade da intervenção, que é
o intervalo entre a ocorrência de um evento e o cumprimento das etapas previstas no sistema: notificação, identificação de tendências e desencadeamento das medidas de controle.
Apesar da importância desta fonte de dados, a exemplo de outras doenças existe grande subnotificação da febre tifóide no país. As razões são várias e incluem:
• inúmeros casos da doença não são diagnosticados;
• dificuldades de acesso aos serviços de saúde;
• não reconhecimento do caso suspeito;
• uso precoce de antimicrobianos em situações clínicas indefinidas.
6
F
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
O tratamento é sempre ambulatorial. Só excepcionalmente, quando o estado do paciente está muito comprometido, indica-se a internação.
Qualidade da assistência
É importante que a rede assistencial esteja preparada para prestação de uma assistência
adequada ao paciente, principalmente para uma pronta atuação em caso de aparecimento
de complicações.
Proteção individual
• O isolamento do paciente não é necessário.
• Orienta-se a adoção de medidas de precauções entéricas – nas unidades assistenciais, além das medidas básicas de higiene, recomenda-se a utilização de luvas para
a manipulação de material contaminado e de batas, caso haja a possibilidade de
contaminação.
• Desinfecção dos objetos que tiveram contato com excretas.
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357
Febre Tifóide
• Tratamento clínico adequado.
• Autocuidado do paciente voltado para a sua higiene pessoal, especialmente a lavagem das mãos.
• O paciente deve ser afastado das atividades habituais até a cura, quando oferecer
risco de disseminação.
• Orientação sobre a importância do saneamento (domiciliar e peridomiciliar) pela
incorporação de hábitos saudáveis para a superação dos fatores de risco.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial.
Proteção da população
• Destino adequado dos dejetos e águas servidas.
• Destino adequado dos resíduos sólidos.
• Proteção dos mananciais de água para consumo humano e garantia de potabilização
adequada.
• Cuidados com os alimentos em todas as fases, da produção ao consumo, principalmente aqueles mais implicados com o agravo.
• Orientar pacientes, portadores e convalescentes sobre os cuidados de higiene pessoal.
• Realizar vigilância dos portadores e garantir o afastamento dos mesmos de atividades que envolvam a manipulação de alimentos.
Investigação
Tem por objetivo obter informações sobre as características epidemiológicas da doença, definir as tendências do seu comportamento e permitir a proposição de alternativas para
sua prevenção e controle.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos relativos a dados gerais, notificação individual e residência
constantes da ficha de investigação epidemiológica do Sinan.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Anotar na ficha de investigação os dados da história e manifestações clínicas.
• Caracterizar clinicamente o caso.
• Verificar se já foi coletado e encaminhado material para exame diagnóstico (fezes,
sangue, urina), observando se houve uso prévio de antibiótico.
• Hospitalizar o paciente, se necessário; sugere-se fazer uma cópia do prontuário com
a anamnese, exame físico e evolução do doente, com vistas ao enriquecimento das
358
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
análises e também para que as informações possam servir como instrumento de
aprendizagem dos profissionais do nível local.
• Determinar as prováveis fontes de infecção.
• Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da área de transmissão
• Pesquisar a existência de casos semelhantes no domicílio, local de trabalho, de estudo, etc.
• Proceder a busca ativa de casos na área.
• Identificar os comunicantes e, entre esses, pesquisar portadores mediante realização
de coprocultura.
Muitas vezes, os portadores trabalham em condições adequadas de higiene, mas a
contaminação ocorre por quebra acidental e momentânea das normas.
A contaminação pode, também ocorrer através de portador que não é manipulador
habitual de alimentos.
Na evidência de um caso isolado será muito difícil estabelecer a fonte de contaminação, mas não se deve deixar de examinar e submeter a testes laboratoriais todos os
comunicantes.
6
F
Para determinação da extensão da área de transmissão – diante da ocorrência de um
caso ou surto de febre tifóide, faz-se necessário estabelecer, criteriosamente, a cronologia e
distribuição geográfica. Pela cronologia pode-se observar duas situações relativas à distribuição dos casos: muitas vezes, os portadores trabalham em condições adequadas de higiene,
mas a contaminação ocorre por quebra acidental e momentânea das normas; a contaminação
pode também ocorrer através de portador que não é manipulador habitual de alimentos.
Na evidência de um caso isolado será muito difícil estabelecer a fonte de contaminação,
mas não se deve deixar de examinar e submeter a testes laboratoriais todos os comunicantes.
• Grande aglomeração de casos em um curto período de tempo, sugerindo intensa
contaminação por fonte única, provavelmente circulação hídrica: dirigir a observação para as fontes de abastecimento de água ou locais disponíveis onde a população
se abastece.
• Pequenos aglomerados de casos distribuídos ao longo do tempo, sugerindo contaminação de alimentos por portadores: a atenção deve ser dirigida para alimentos e
sua manipulação. No entanto, quando a contaminação através de alimentos manipulados por portadores se faz num único momento, fica difícil a distinção com a distribuição dos casos por contaminação hídrica.
Pode-se esclarecer, com maior facilidade, a origem da contaminação a partir da distribuição geográfica dos casos, utilizando-se um mapa da localidade, considerando, a seguir,
os atributos pessoais dos doentes.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
359
Febre Tifóide
Coleta e remessa de material para exames
Deve ser providenciada a coleta de amostras clínicas, de água e alimentos suspeitos
o mais precocemente possível. É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo
proceder estas coletas.
Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas
de controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a
confirmação de casos e nortear o encerramento das investigações.
Análise de dados
Os dados deverão ser analisados de modo a permitir o acompanhamento da tendência
da doença. Essa análise compreende os seguintes aspectos principais:
• distribuição semanal e anual de casos e óbitos;
• coeficiente de incidência por atributos pessoais (idade, sexo e outros) e área geográfica;
• letalidade por grupos etários e área geográfica;
• percentual de casos notificados que foram investigados;
• percentual de casos de febre tifóide diagnosticados por laboratório.
Encerramento de casos
As fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visando definir qual o
critério utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
• Confirmado por critério clínico-laboratorial – caso que preencha os requisitos
postulados na definição de caso confirmado.
• Confirmado por critério clínico-epidemiológico – caso que preencha os requisitos
postulados na definição de caso confirmado.
• Óbito – será considerado óbito por febre tifóide aquele em que os achados clínicos
forem compatíveis com a doença e houver isolamento da Salmonella typhi ou detecção pela técnica de PCR; ou o caso clinicamente compatível e epidemiologicamente
associado, ou seja, com forte vínculo com um caso confirmado por critério laboratorial.
• Caso descartado – caso notificado como febre tifóide que, após investigação epidemiológica, não tenha preenchido os requisitos para a confirmação pelo critério
laboratorial ou clínico-epidemiológico.
Relatório final
Deverá conter uma descrição das etapas da investigação e ações desenvolvidas, bem
como apontar as conclusões e recomendações pertinentes para a prevenção de eventos futuros.
360
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
A vacina contra a febre tifóide não é a principal arma para seu controle. Esta doença
exige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento. A vacina, portanto, não apresenta valor prático para o controle de surtos, não
sendo também recomendada em situações de calamidade. A experiência tem demonstrado
que quanto maior a diluição das salmonelas, menor o risco de adquirir a doença. Esse fato
parece estar de acordo com a observação geral de que, embora temida pelas autoridades
sanitárias durante as enchentes, a febre tifóide não costuma produzir surtos nessas ocasiões,
provavelmente em razão da maior diluição de bactéria no meio hídrico.
Além disso, sabe-se que a vacina atualmente disponível não possui um alto poder
imunogênico e que esta imunidade é de curta duração, sendo indicada apenas para pessoas sujeitas a exposições excepcionais, como os trabalhadores que entram em contato com
esgotos; para aqueles que ingressem em zonas de alta endemicidade, como por ocasião de
viagem; e para quem vive em áreas onde a incidência é comprovadamente alta. Com a exceção de recrutas, não há recomendação atual da vacina contra a febre tifóide em massa ou
rotineiramente, em populações circunscritas.
6
Atualmente, utilizam-se dois tipos de vacina contra a febre tifóide:
• a vacina composta de bactéria viva atenuada, apresentada em frasco unidose contendo três cápsulas;
• a vacina polissacarídica, apresentada em frasco de uma, 20 ou 50 doses (depende do
laboratório produtor).
F
O esquema básico de vacinação, quando indicado, compreende:
• vacina contra febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – corresponde a uma
dose, ou seja, três cápsulas, a partir dos cinco anos de idade. Cada cápsula é administrada via oral, sob supervisão, em dias alternados – no primeiro, terceiro e no quinto
dias. A cada cinco anos é feita uma dose de reforço;
• vacina polissacarídica – consiste de uma dose de 0,5 ml, subcutânea, a partir dos dois
anos de idade. Nas situações de exposição contínua, revacinar a cada dois anos.
Eventos adversos pós-vacinação:
• vacina contra a febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – desconforto abdominal, náuseas, vômitos, febre, dor de cabeça e erupções cutâneas;
• vacina polissacarídica – febre, dor de cabeça e eritema no local da aplicação.
Reações locais e sistêmicas são relativamente comuns, manifestando-se nas primeiras
24 horas e regredindo geralmente nas primeiras 48 horas depois da aplicação da vacina.
As vacinas contra a febre tifóide são conservadas entre +2ºC e +8ºC. O congelamento
provoca a perda de potência.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
361
Febre Tifóide
Ações de educação em saúde
Destacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos.
Este aspecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na atenção
de pacientes e crianças. Observar cuidados na preparação, manipulação, armazenamento
e distribuição de alimentos, bem como na pasteurização ou ebulição do leite e produtos
lácteos. As moscas podem transportar mecanicamente para os alimentos as bactérias presentes nas dejeções dos doentes e portadores, embora não desempenhem papel importante
na propagação da doença. Faz-se necessário proteger os alimentos do seu contato, adotar
cuidados com relação ao lixo, telar portas e janelas, etc.
Estratégias de prevenção
Medidas de saneamento – sendo a febre tifóide uma doença de veiculação hídrica,
seu controle está intimamente relacionado ao desenvolvimento de adequado sistema de
saneamento básico, principalmente de fornecimento de água em quantidade suficiente, de
boa qualidade, e à adequada manipulação dos alimentos. Não havendo rede pública de água
e esgoto, a população deve ser orientada sobre como proceder em relação ao abastecimento
de água e destino de dejetos.
Sistema público de abastecimento de água
• Caso não haja desinfecção do sistema, proceder sua imediata implantação mantendo a dosagem mínima de 0,2mg/l de cloro residual livre nas pontas da rede de distribuição.
• Realizar a limpeza e desinfecção dos reservatórios de distribuição, sempre que necessário.
• Manter pressão positiva na rede de distribuição de água.
• Reparar possíveis pontos de contaminação (rachaduras, canalizações abertas, etc).
• Realizar, periodicamente, análise bacteriológica da água.
Sistema individual de abastecimento de água (poços, cisternas, minas, etc.)
• Proceder a limpeza e desinfecção do sistema, fazendo a desinfecção da água.
• Orientar sobre como realizar a proteção sanitária dessas fontes de abastecimento de
água.
Medidas gerais
• Proceder a limpeza e desinfecção periódica das caixas de água de instituições públicas (escolas, creches, hospitais, centros de saúde, asilos, presídios, etc.), a cada seis
meses ou com intervalo menor, se necessário.
• Orientar a população para proceder a limpeza e desinfecção das caixas de água domiciliares, a cada seis meses ou com intervalo menor, se necessário.
• Em locais onde a água for considerada suspeita, orientar a população para ferver ou
clorar a água.
362
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Febre Tifóide
Medidas referentes aos dejetos
• Proceder a limpeza e reparo de fossas, se necessário.
• Orientar a população quanto ao uso correto de fossas sépticas e poços absorventes,
em locais providos de rede de água.
Medidas referentes aos alimentos – alguns procedimentos devem ser adotados para
evitar a transmissão da febre tifóide a partir da ingestão de alimentos contaminados. Dentre
eles, destacam-se:
• a origem da matéria-prima ou do produto alimentício (datas de produção e validade
devem ser conhecidas);
• o armazenamento do alimento deve ocorrer em condições que lhe confira proteção contra sua contaminação e reduza, ao mínimo, a incidência de danos e deteriorização;
• a manipulação do alimento deve ocorrer em ambientes saudáveis e por indivíduos
possuidores de bons hábitos de higiene e que não estejam com doença infectocontagiosa;
• o preparo deverá envolver processos e condições que excluam toda e qualquer possibilidade da presença de Salmonella typhi no alimento pronto para consumo;
• os utensílios e equipamentos que interagem com os alimentos devem estar cuidadosamente higienizados para evitar a contaminação do produto;
• a conservação do produto alimentício acabado e pronto para consumo deve ocorrer
em ambientes especiais (refrigeração), para que sejam mantidas as suas características e não seja facultada a proliferação de microrganismos;
• o alimento pronto para consumo deverá ser armazenado e transportado em condições tais que excluam a possibilidade de sua contaminação.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
F
363
Hanseníase
HANSENÍASE
CID 10: A30
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença crônica granulamatosa, proveniente de infecção causada pelo Mycobacterium
leprae. Este bacilo tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos (alta infectividade), no entanto poucos adoecem (baixa patogenicidade), propriedades estas que não são
função apenas de suas características intrínsecas, mas que dependem, sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e grau de endemicidade do meio, entre outros. O domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença, embora ainda existam lacunas
de conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implicados, especialmente aqueles
relacionados ao ambiente social. O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado ao poder imunogênico do Mycobacterium leprae. A hanseníase parece
ser uma das mais antigas doenças que acomete o homem. As referências mais remotas datam de 600 a.C. e procedem da Ásia, que, juntamente com a África, podem ser consideradas
o berço da doença. A melhoria das condições de vida e o avanço do conhecimento científico
modificaram significativamente esse quadro e, hoje, a hanseníase tem tratamento e cura.
Agente etiológico
Bacilo álcool-ácido resistente, Mycobacterium leprae. É um parasita intracelular obrigatório que apresenta afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos.
Reservatório
O homem é reconhecido como a única fonte de infecção, embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados – o tatu, o macaco mangabei e o chimpanzé. Os
doentes multibacilares sem tratamento – hanseníase virchowiana e hanseníase dimorfa
– são capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilar
de cerca de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa nasal).
Modo de transmissão
A principal via de eliminação dos bacilos é a aérea superior, sendo que o trato respiratório é a mais provável via de entrada do Mycobacterium leprae no corpo. O trato respiratório superior dos pacientes multibacilares (virchowianos e dimorfos) é a principal via de
eliminação do Mycobacterium leprae encontrada no meio ambiente.
Período de incubação
A hanseníase apresenta longo período de incubação; em média, de dois a sete anos. Há
referência a períodos mais curtos, de sete meses, como também de mais de dez anos.
364
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
Período de transmissibilidade
Os doentes paucibacilares (indeterminados e tuberculóides) não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar. Os pacientes
multibacilares, no entanto, constituem o grupo contagiante, assim se mantendo enquanto
não se iniciar o tratamento específico.
Susceptibilidade e imunidade
Como em outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em doença depende
de interações entre fatores individuais do hospedeiro, ambientais e do próprio M. leprae.
Devido ao longo período de incubação, é menos freqüente na infância. Contudo, em áreas
mais endêmicas, a exposição precoce, em focos domiciliares, aumenta a incidência de casos
nessa faixa etária. Embora acometa ambos os sexos, observa-se predominância do sexo
masculino, em uma relação de dois para um.
6
Aspectos clínicos e laboratoriais
Diagnóstico
Clínico
Os aspectos morfológicos das lesões cutâneas e classificação nas quatro formas clínicas podem ser utilizados nas áreas com profissionais especializados e em investigação científica. Entretanto, a ampliação da cobertura de diagnóstico e tratamento impõe a adoção da
classificação operacional, baseada no número de lesões (Quadro 1).
H
Diferencial
As seguintes dermatoses podem se assemelhar a algumas formas e reações de hanseníase e exigem segura diferenciação: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gilbert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma anular, lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimorfas, pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada),
sarcoidose, tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose de
Von Recklinghausen.
Laboratorial
Exame baciloscópico – pode ser utilizado como exame complementar para a classificação dos casos em MB e PB. Baciloscopia positiva indica hanseníase multibacilar, independentemente do número de lesões.
Exame histopatológico – indicado como suporte na elucidação diagnóstica e em pesquisas.
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365
Hanseníase
Quadro 1. Sinopse para classificação das formas clínicas da hanseníase
Características
Clínicas
Baciloscópicas
Formas clínicas
Áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocrômicas e/ou eritemohipocrômicas, com ou
sem diminuição da sudorese e rarefação de pêlos
Negativa
Indeterminada
(HI)
Placas eritematosas, eritemato-hipocrômicas,
bem delimitadas, hipo ou anestésicas, com
comprometimento de tronco nervoso
Negativa
Tuberculóide
(HT)
Lesões pré-foveolares (eritematosas planas com
o centro claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares de tonalidade ferruginosa ou pardacenta), apresentando alterações de sensibilidade
Positiva (bacilos e globias
ou com raros
bacilos) ou
negativa
Dimorfa (HD)
Eritema e infiltração difusos, placas eritematosas
infiltradas e de bordas mal definidas, tubérculos
e nódulos, madarose, lesões das mucosas,
com alteração de sensibilidade
Positiva (bacilos
abundantes e
globias)
Virchowiana
(HV)
Classificação operacional
vigente para a rede pública
Paucibacilar (PB)
até 5 lesões de pele
Multibacilar (MB)
mais de 5 lesões
de pele
Notas:
• Na hanseníase virchowiana, afora as lesões dermatológicas e das mucosas, ocorrem também lesões viscerais.
• As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas clínicas. Na hanseníase indeterminada, não há
comprometimento de troncos nervosos, não ocorrendo problemas motores. Na hanseníase tuberculóide, o comprometimento dos nervos é mais precoce e intenso.
• Os casos não classificados quanto à forma clínica serão considerados para fins de tratamento como multibacilares.
Tratamento
O tratamento do paciente com hanseníase é indispensável para curá-lo e fechar a fonte
de infecção, interrompendo assim a cadeia de transmissão da doença, sendo portanto estratégico no controle da endemia e para eliminar a hanseníase. O quantitativo dos medicamentos utilizados é calculado com base no número de casos, pela equipe técnica do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase, conjuntamente com a assistência farmacêutica,
garantindo o tratamento de todos os pacientes.
O tratamento é eminentemente ambulatorial. Nos serviços básicos de saúde, administra-se uma associação de medicamentos, a poliquimioterapia (PQT/OMS). A regularidade
do tratamento é fundamental para a cura do paciente. A prevenção de incapacidades é
atividade primordial durante o tratamento e, em alguns casos, até mesmo após a alta, sendo
parte integrante do tratamento do paciente com hanseníase. Para o paciente, o aprendizado
do auto-cuidado é arma valiosa para evitar seqüelas.
Na tomada mensal de medicamentos é feita uma avaliação do paciente, para acompanhar a evolução de suas lesões de pele e comprometimento neural, verificando-se se há
presença de neurites ou estados reacionais. Quando necessárias, são orientadas técnicas
de prevenção de incapacidades e deformidades, bem como os auto-cuidados que devem
diariamente ser realizados, para evitar as complicações da doença, sendo verificada sua
correta realização.
366
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Hanseníase
O encaminhamento da pessoa com hanseníase para uma unidade de referência somente está indicado quando houver necessidade de cuidados especiais – no caso de intercorrências graves (efeitos colaterais e para qualquer alteração no esquema terapêutico padrão) ou para correção cirúrgica. Nestes casos, após a realização do procedimento indicado,
ela deve retornar para o acompanhamento rotineiro em sua unidade básica.
Não é eticamente recomendável tratar o paciente com hanseníase com um só medicamento.
Tratamento quimioterápico
A PQT/OMS mata o bacilo, tornando-o inviável e evita a evolução da doença, prevenindo as incapacidades e deformidades por ela causadas, levando à cura. O bacilo morto
é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. Assim
sendo, logo no início do tratamento a transmissão da doença é interrompida e, se realizado
de forma completa e correta, garante a cura da doença.
A PQT/OMS é constituída pelo conjunto dos seguintes medicamentos: rifampicina,
dapsona e clofazimina, com administração associada.
Essa associação evita a resistência medicamentosa do bacilo que ocorre, com freqüência, quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da doença.
É administrada através de esquema-padrão, de acordo com a classificação operacional
do doente em paucibacilar e multibacilar. A informação sobre a classificação do doente é
fundamental para se selecionar o esquema de tratamento adequado ao seu caso.
Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema-padrão é ajustada de acordo com a idade. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos
do esquema-padrão, são indicados esquemas alternativos.
A alta por cura é dada, após a administração do número de doses preconizado, pelo
esquema terapêutico.
6
H
Esquema paucibacilar (PB) – Pacientes com até 5 lesões de pele
Neste caso, é utilizada uma combinação da rifampicina e dapsona, acondicionadas
numa cartela, no seguinte esquema:
• medicação:
rifampicina – uma dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg) com administração supervisionada;
dapsona – uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada;
• duração do tratamento – 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina;
• critério de alta – 6 doses supervisionadas em até 9 meses (Figura 1).
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367
Hanseníase
Figura 1. Cartela (PB)
Dose mensal
supervisionada
Dose diária
auto-administrada
Dapsona
Rifampicina
Dapsona
Esquema multibacilar (MB) – Pacientes com mais de 5 lesões de pele
Aqui é utilizada uma combinação da rifampicina, dapsona e clofazimina, acondicionadas numa cartela, no seguinte esquema:
• medicação:
rifampicina: uma dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg) com administração supervisionada;
dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada;
clofazimina: uma dose mensal de 300mg (3 cápsulas de 100mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50mg auto-administrada.
• duração do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina;
• critério de alta: 12 doses supervisionadas em até 18 meses (Figura 2).
Figura 2. Cartela (MB)
Dose mensal
supervisionada
Dapsona
Clofazimina
Rifampicina
Dose diária
auto-administrada
Dapsona
Clofazimina
Casos multibacilares que iniciam o tratamento, com numerosas lesões e/ou extensas
áreas de infiltração cutânea, poderão apresentar regressão mais lenta das lesões de
pele. A maioria desses doentes continuará melhorando após a conclusão do tratamento com 12 doses. É possível, no entanto, que alguns demonstrem pouca melhora e, por
isso, poderão necessitar de até 12 doses adicionais de PQT.
368
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Hanseníase
Esquema de tratamento para crianças
Para crianças com hanseníase, as doses de medicamentos dos esquemas paucibacilar e
multibacilar são ajustadas de acordo com os seguintes quadros:
Paucibacilar (Figura 3)
Idade em anos
Dapsona (DDS) diária
auto-administrada
DDS mensal
supervisionada
Rifampicina (RFM)
mensal supervisionada
0-5
6-14
25mg
50-100mg
25mg
50-100mg
150-300mg
300-450mg
Figura 3. Cartela (PB) para crianças
Dose mensal
supervisionada
Dapsona
(50mg)
6
Rifampicina
(150mg)
Medicação diária
auto-administrada
Rifampicina
(300mg)
Dapsona
(50mg)
H
Multibacilar (Figura 4)
Clofazimina
Idade
em anos
Dapsona (DDS)
diária autoadministrada
Dapsona (DDS)
supervisionada
Rifampicina
(RFM) mensal
supervisionada
Auto-administrada
Supervisonada
mensal
0-5
6-14
25mg
50-100mg
25mg
50-100mg
50-300mg
300-450mg
100mg/semana
150mg/semana
100mg
150-200mg
Figura 4. Cartela (MB) para crianças
Dapsona
(50mg)
Dose mensal
supervisionada
Clofazimina
(50mg)
Rifampicina
(150mg)
Medicação diária
auto-administrada
Rifampicina
(300mg)
Dapsona
(50mg)
Clofazimina
(150mg)
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369
Hanseníase
Esquema alternativo
Medicamento
Classificação
PB, lesão única sem envolvimento de tronco nervoso1
Rifampicina
600mg, em dose única, supervisionada
Ofloxacina
400mg, em dose única, supervisionada
Minociclina
100mg, em dose única, supervisionada
1
Este esquema é conhecido como ROM (rifampicina, ofloxacina e minociclina) e deve ser usado
exclusivamente para tratar pacientes PB com lesão única, sem envolvimento de troncos nervosos.
É recomendado somente para uso em centros de referência.
Prevenção e tratamento de incapacidades físicas
As atividades de prevenção e tratamento de incapacidades não devem ser dissociadas
do tratamento PQT/OMS. Desenvolvidas durante o acompanhamento de cada caso, devem
ser integradas na rotina dos serviços da unidade de saúde, de acordo com o seu grau de
complexidade.
A adoção de atividades de prevenção e tratamento de incapacidades será baseada nas
informações obtidas através da avaliação neurológica, no diagnóstico da hanseníase. Estas informações referem-se ao comprometimento neural ou às incapacidades físicas identificadas,
as quais merecem especial atenção tendo em vista suas conseqüências na vida econômica e
social dos portadores de hanseníase, ou mesmo suas eventuais seqüelas naqueles já curados.
Durante o tratamento PQT/OMS, e em alguns casos após a alta, o profissional de saúde deve ter uma atitude de vigilância em relação ao potencial incapacitante da doença,
visando diagnosticar precocemente e tratar adequadamente as neurites e reações, a fim de
prevenir incapacidades e evitar que as mesmas evoluam para deformidades.
Duração do tratamento e critério de alta
O esquema de administração da dose supervisionada deve ser o mais regular possível:
de 28 em 28 dias. Porém, se o contato não ocorrer na unidade de saúde no dia agendado,
a medicação precisa ser dada mesmo que no domicílio, pois a garantia da administração
da dose supervisionada e da entrega dos medicamentos indicados para a automedicação é
imprescindível para o tratamento adequado.
A duração do tratamento PQT/OMS deve obedecer aos prazos estabelecidos: de 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina, tomadas em até 9 meses, para os casos paucibacilares, e de 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina, tomadas em até 18 meses,
para os casos multibacilares.
A assistência regular ao paciente paucibacilar, na unidade de saúde ou domicílio, é
essencial para completar o tratamento em 6 meses. Se, por algum motivo, houver a interrupção da medicação, ela poderá ser retomada em até 3 meses, com vistas a completar o
tratamento no prazo de até 9 meses.
Já em relação ao portador da forma multibacilar, que mantiver regularidade no tratamento segundo o esquema preconizado, o mesmo completar-se-á em 12 meses. Havendo a
interrupção da medicação está indicado o prazo de 6 meses para continuidade ao tratamento e para que o mesmo possa ser completado em até 18 meses.
370
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Hanseníase
Considera-se uma pessoa de alta, por cura, aquela que completa o esquema de tratamento PQT nos seguintes prazos:
• esquema paucibacilar (PB) – 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina, em
até 9 meses; mais a sulfona auto-administrada;
• esquema multibacilar (MB) – 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina, em
até 18 meses, mais a sulfona auto-administrada e a clofazimina auto-administrada
e supervisionada.
O paciente que tenha completado o tratamento PQT/OMS não deverá mais ser considerado como caso de hanseníase, mesmo que permaneça com alguma seqüela da doença.
Deverá, porém, continuar a ser assistido pelos profissionais da unidade de saúde, especialmente nos casos de intercorrências pós-alta: reações e monitoramento neural. Em caso de
reações pós-alta, o tratamento PQT/OMS não deverá ser reiniciado.
Durante o tratamento quimioterápico deve haver preocupação com a prevenção de incapacidades e deformidades, bem como o atendimento às possíveis intercorrências. Nestes
casos, se necessário, o paciente será encaminhado para unidades de referência, para receber
o tratamento adequado. Sua internação somente está indicada em intercorrências graves,
como efeitos colaterais graves dos medicamentos, estados reacionais graves ou necessidade de correção cirúrgica de deformidades físicas. A internação deve ser feita em hospitais
gerais e, após a alta hospitalar, deverá ser dada continuidade ao tratamento na unidade de
saúde a qual está vinculado.
6
H
Efeitos colaterais dos medicamentos e condutas
Como os medicamentos em geral, aqueles utilizados na poliquimioterapia e no tratamento dos estados reacionais também podem provocar efeitos colaterais. No entanto, os
trabalhos bem controlados, publicados na literatura disponível, permitem afirmar que o tratamento PQT/OMS raramente precisa ser interrompido em virtude de efeitos colaterais.
A equipe da unidade básica precisa estar sempre atenta para essas situações, devendo,
na maioria das vezes, encaminhar a pessoa à unidade de referência para receber o tratamento adequado.
A seguir, serão apresentados os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos utilizados na PQT/OMS e no tratamento dos estados reacionais, bem como as principais condutas
a serem adotadas para combatê-los. O diagnóstico desses efeitos colaterais é fundamentalmente baseado nos sinais e sintomas por eles provocados.
Efeitos colaterais dos medicamentos utilizados na PQT
Efeitos colaterais da rifampicina
Cutâneos – rubor de face e pescoço, prurido e rash cutâneo generalizado;
Gastrointestinais – diminuição do apetite e náuseas. Ocasionalmente, podem ocorrer
vômitos, diarréias e dor abdominal leve;
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371
Hanseníase
Hepáticos – mal-estar, perda do apetite, náuseas, podendo ocorrer também icterícia.
São descritos dois tipos de icterícias: a leve ou transitória e a grave, com danos hepáticos importantes. A medicação deve ser suspensa e o paciente encaminhado à unidade de
referência se as transaminases e/ou bilirrubinas aumentarem mais de duas vezes o valor
normal;
Hematopoéticos – trombocitopenia, púrpuras ou sangramentos anormais, como
epistaxes. Podem também ocorrer hemorragias gengivais e uterinas. Nestes casos, o paciente deve ser encaminhado ao hospital;
Anemia hemolítica – tremores, febre, náuseas, cefaléia e às vezes, choque, podendo
também ocorrer icterícia leve.
Raramente ocorre uma síndrome “pseudogripal” quando o paciente apresenta: febre,
calafrios, astenia, mialgias, cefaléia, dores ósseas. Este quadro pode evoluir com eosinofilia,
nefrite intersticial, necrose tubular aguda, trombocitopenia, anemia hemolítica e choque.
Esta síndrome muito rara se manifesta a partir da 2ª ou 4ª dose supervisionada, devido à
hipersensibilidade por formação de anticorpos anti-rifampicina, quando o medicamento é
utilizado em dose intermitente.
A coloração avermelhada da urina não deve ser confundida com hematúria.
A secreção pulmonar avermelhada não deve ser confundida com escarros hemoptóicos.
A pigmentação conjuntival não deve ser confundida com icterícia.
Efeitos colaterais da clofazimina
Cutâneos – ressecamento da pele, que pode evoluir para ictiose, alteração na coloração da pele e suor. Nas pessoas de pele escura, a cor pode se acentuar; nas pessoas claras, a
pele pode ficar com uma coloração avermelhada ou adquirir um tom acinzentado, devido
à impregnação e ao ressecamento. Estes efeitos ocorrem mais acentuadamente nas lesões
hansênicas e regridem, muito lentamente, após a suspensão do medicamento;
Gastrointestinais – diminuição da peristalse e dor abdominal, devido ao depósito de
cristais de clofazimina nas submucosas e linfonodos intestinais, resultando na inflamação
da porção terminal do intestino delgado. Estes para-efeitos poderão ser encontrados com
maior freqüência na utilização de doses de 300mg/dia por períodos prolongados, superiores a 90 dias.
Efeitos colaterais da dapsona
Cutâneos – síndrome de Stevens-Johnson, dermatite esfoliativa ou eritrodermia;
Hepáticos – icterícias, náuseas e vômitos;
Hemolíticos – tremores, febre, náuseas, cefaléia, às vezes choque, podendo também
ocorrer icterícia leve, metaemoglobinemia, cianose, dispnéia, taquicardia, cefaléia, fadiga,
desmaios, náuseas, anorexia e vômitos.
Outros efeitos colaterais raros podem ocorrer, tais como insônia e neuropatia motora
periférica.
372
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
Efeitos colaterais dos medicamentos utilizados nos episódios reacionais
Efeitos colaterais da talidomida
• teratogenicidade;
• sonolência, edema unilateral de membros inferiores, constipação intestinal, secura
de mucosas e, mais raramente, linfopenia;
• neuropatia periférica, não comum entre nós, pode ocorrer em doses acumuladas
acima de 40g, sendo mais freqüente em pacientes acima de 65 anos de idade.
Efeitos colaterais dos corticosteróides
• hipertensão arterial;
• disseminação de infestação por Strongyloides stercoralis;
• disseminação de tuberculose pulmonar;
• distúrbios metabólicos: redução de sódio e potássio, aumento das taxas de glicose no
sangue, alteração no metabolismo do cálcio, levando à osteoporose e à síndrome de
Cushing;
• gastrointestinais: gastrite e úlcera péptica;
• outros efeitos: agravamento de infecções latentes, acne cortisônica e psicoses.
6
Condutas gerais em relação aos efeitos colaterais dos medicamentos
A equipe de saúde deve estar sempre atenta para a possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais dos medicamentos utilizados na PQT e no tratamento dos estados reacionais,
devendo realizar imediatamente a conduta adequada.
H
Condutas no caso de náuseas e vômitos incontroláveis
• suspender o tratamento;
• encaminhar o paciente para a unidade de referência;
• solicitar exames complementares, para realizar diagnóstico diferencial com outras
causas;
• investigar e informar à unidade de referência se estes efeitos ocorrem após a ingestão da dose supervisionada de rifampicina, ou após as doses auto-administradas de
dapsona.
Condutas no caso de icterícia
• suspender o tratamento se houver alteração das provas de função hepática, com valores superiores a duas vezes os normais;
• encaminhar o paciente à unidade de referência;
• fazer a avaliação da história pregressa: alcoolismo, hepatite e outras doenças hepáticas;
• solicitar exames complementares necessários para realizar diagnóstico diferencial;
• investigar se a ocorrência deste efeito está relacionada com a dose supervisionada de
rifampicina ou com as doses auto-administradas de dapsona.
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373
Hanseníase
Condutas no caso de anemia hemolítica
• suspender o tratamento;
• encaminhar o paciente à unidade de referência ou ao hematologista para avaliação e
conduta;
• investigar se a ocorrência deste efeito está relacionada com a dose supervisionada de
rifampicina ou com as doses auto-administradas de dapsona.
Condutas no caso de metaemoglobinemia
• leve – suspender o medicamento e encaminhar o paciente para unidade de referência; observar, pois geralmente ela desaparece, gradualmente, com a suspensão do
medicamento;
• grave – encaminhar para internação hospitalar.
Condutas no caso de síndrome pseudogripal
• suspender a rifampicina imediatamente, encaminhar o paciente para unidade de referência e avaliar a gravidade do quadro;
• nos quadros leves, administrar anti-histamínico, antitérmico e deixar o paciente sob
observação por, pelo menos, 6 horas;
• nos casos moderados e graves, encaminhar o paciente à unidade de referência para
administrar corticosteróides (hidrocortisona, 500mg/250ml de soro fisiológico –
30 gotas/minuto, via intravenosa) e, em seguida, (prednisona via oral, com redução
progressiva da dose até a retirada completa.
Condutas no caso de efeitos cutâneos provocados pela clofazimina – prescrever a
aplicação diária de óleo mineral ou creme de uréia, após o banho, e orientar para evitar a
exposição solar, a fim de minimizar esses efeitos.
Condutas no caso de farmacodermia leve até síndrome de Stevens-Johnson, dermatite esfoliativa ou eritrodermia provocados pela dapsona – interromper definitivamente o tratamento com a dapsona e encaminhar o paciente à unidade de referência.
Condutas no caso de efeitos colaterais provocados pelos corticosteróides
• observar as precauções ao uso de corticosteróides;
• encaminhar imediatamente à unidade de referência.
Ao referenciar a pessoa em tratamento para outro serviço, envie, por escrito, todas as
informações disponíveis: quadro clínico, tratamento PQT, resultados de exames laboratoriais (baciloscopia e outros) número de doses tomadas, se apresentou episódios
reacionais, qual o tipo, se apresentou ou apresenta efeito colateral a alguma medicação, causa provável do quadro, etc.
374
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Hanseníase
Situações especiais
Hanseníase e gravidez
As alterações hormonais da gravidez causam diminuição da imunidade celular, fundamental na defesa contra o Mycobacterium leprae. Portanto, é comum que os primeiros sinais
de hanseníase, em uma pessoa já infectada, apareçam durante a gravidez e no puerpério,
quando também podem ocorrer os estados reacionais e os episódios de recidivas.
A gestação, nas mulheres portadoras de hanseníase, tende a apresentar poucas complicações, exceto pela anemia, comum em doenças crônicas.
A gravidez e o aleitamento materno não contra-indicam a administração dos esquemas
de tratamento poliquimioterápico da hanseníase, que são seguros tanto para a mãe como
para a criança. Algumas drogas são excretadas pelo leite, mas não causam efeitos adversos.
Os recém-nascidos, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina,
ocorrendo a regressão gradual da pigmentação após a parada da PQT/OMS.
6
Hanseníase e tuberculose
Em vista da alta incidência de tuberculose no país recomenda-se especial atenção aos
seus sinais e sintomas, antes e durante o tratamento de hanseníase, a fim de evitar cepas de
Mycobacterium tuberculosis resistentes à rifampicina.
Na vigência de tuberculose e hanseníase, a rifampicina deve ser administrada na dose
requerida para tratar tuberculose, ou seja, 600mg/dia. Os demais medicamentos (clofazimina e dapsona) permanecem em igual dose ao esquema padrão PQT/OMS.
H
Hanseníase e aids
A rifampicina na dose utilizada para tratamento da hanseníase (600mg/mês) não interfere nos inibidores de protease utilizados no tratamento de pacientes com aids. Portanto,
o esquema PQT/OMS padrão não deve ser alterado nesses doentes.
Acompanhamento das intercorrências pós-alta
O acompanhamento dos casos pós-alta consiste no atendimento às possíveis intercorrências que possam ocorrer com as pessoas que já concluiram o tratamento PQT/OMS.
As pessoas que apresentarem intercorrências pós-alta deverão ser tratadas na unidade
básica de saúde, por profissional de saúde capacitado, ou em uma unidade de referência ambulatorial, por médico treinado. Somente os casos graves, bem como os que
apresentarem reações reversas graves, deverão ser encaminhados para hospitalização.
É importante diferenciar um quadro de estado reacional de um caso de recidiva. No
caso de estados reacionais, a pessoa deverá receber tratamento anti-reacional, sem reiniciar, porém, o tratamento PQT/OMS. No caso de recidiva, o tratamento PQT/OMS
deve ser reiniciado.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
375
Hanseníase
É considerado um caso de recidiva aquele que completar com êxito o tratamento PQT/
OMS e que depois venha, eventualmente, desenvolver novos sinais e sintomas da doença.
A maior causa de recidivas é o tratamento PQT/OMS inadequado ou incorreto. O tratamento, portanto, deverá ser repetido integralmente, de acordo com a classificação paucibacilar ou multibacilar. Deve haver a administração regular dos medicamentos pelo tempo
estipulado no esquema.
Nos paucibacilares, muitas vezes é difícil distinguir a recidiva da reação reversa. No
entanto, é fundamental que se faça a identificação correta da recidiva. Quando se confirmar
uma recidiva, após exame clínico e baciloscópico, a classificação do doente deve ser criteriosamente reexaminada para que se possa reiniciar o tratamento PQT/OMS adequado.
Nos multibacilares, a recidiva pode manifestar-se como uma exacerbação clínica das
lesões existentes e com o aparecimento de lesões novas. Quando se confirmar a recidiva, o
tratamento PQT/OMS deve ser reiniciado.
No caso de recidiva, a suspensão da quimioterapia dar-se-á quando a pessoa em tratamento tiver completado as doses preconizadas, independente da situação clínica e baciloscópica, e significa, também, a saída do registro ativo, já que não mais será computada no
coeficiente de prevalência.
Características
Reação adversa
Intervalo
de tempo
Ocorre geralmente durante a quimioterapia ou dentro de seis meses após completado o tratamento
Ocorre, normalmente, muito depois
do término da quimioterapia, em geral
depois de um intervalo de um ano
Aparecimento
Súbito e inesperado
Lento e insidioso
Distúrbios
sistêmicos
Podem vir acompanhados
de febre e mal-estar
Geralmente, não vêm acompanhados
de febre e mal-estar
Lesões antigas
Algumas, ou todas, se tornam eritematosas, brilhantes e consideravelmente inchadas, com infiltração
Algumas podem apresentar bordas
eritematosas
Lesões novas
Em geral, várias
Poucas, ex.: hansenomas, placas, etc.
Ulceração
Muitas vezes as lesões se agravam
e ficam ulceradas
Raramente há ulcerações
Regressão
Com descamação
Não há descamação
Envolvimento
dos nervos
Muitos nervos podem estar envolvidos
rapidamente ocorrendo dor, alteração
da sensibilidade e perturbações motoras
Pode ocorrer em um único nervo.
Perturbações motoras ocorrem
muito lentamente
Resposta aos
corticosteróides
Excelente
Não pronunciada
Fonte: Adaptação do Manual para o Controle da Lepra, OMS, 2ª ed.
376
Recidiva
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Hanseníase
Episódios reacionais ou estados reacionais ou reações hansênicas
São reações do sistema imunológico do doente ao Mycobacterium leprae. Apresentamse através de episódios inflamatórios agudos e subagudos. Podem acometer tanto os casos
paucibacilares como os multibacilares.
Os estados reacionais ocorrem, principalmente, durante os primeiros meses do tratamento quimioterápico da hanseníase, mas também podem ocorrer antes ou depois do
mesmo, nesse caso após a cura do paciente. Quando ocorrem antes do tratamento, podem
induzir ao diagnóstico da doença. Os principais fatores potencialmente desencadeantes dos
episódios reacionais são a gestação, as infecções concorrentes e o estresse físico ou psicológico.
Os estados reacionais são a principal causa de lesões dos nervos e de incapacidades
provocadas pela hanseníase. Portanto, é importante que o diagnóstico dos mesmos seja
feito precocemente, para se dar início imediato ao tratamento, visando prevenir essas incapacidades.
O diagnóstico dos estados reacionais é realizado através do exame físico, dermatoneurológico do paciente.
A identificação dos mesmos não contra-indica o início do tratamento (PQT/OMS).
Se os estados reacionais aparecerem durante o tratamento, este não deve ser interrompido,
mesmo porque reduz significativamente a freqüência e a gravidade dos mesmos. Se forem
observados após o tratamento, não é necessário reiniciá-lo.
Deve-se ficar atento para que os estados reacionais pós-alta, comuns nos esquemas
de tratamento quimioterápico de curta duração, não sejam confundidos com os casos de
recidiva da doença.
Os estados reacionais ou reações hansênicas podem ser de dois tipos: reação tipo 1 ou
reação reversa e reação tipo 2.
• Reação tipo 1 ou reação reversa – quadro clínico que se caracteriza por apresentar
novas lesões dermatológicas (manchas ou placas), infiltração, alterações de cor e
edema nas lesões antigas, bem como dor ou espessamento dos nervos (neurites).
• Reação tipo 2 – sua manifestação clínica mais freqüente é o eritema nodoso hansênico (ENH), que se caracteriza por apresentar nódulos vermelhos e dolorosos,
febre, dores articulares, dor e espessamento nos nervos e mal-estar generalizado.
Geralmente, as lesões antigas permanecem sem alteração.
6
H
A seguir, será apresentado um quadro síntese das reações hansênicas (tipos 1 e 2) em
relação à classificação operacional da hanseníase: os casos paucibacilares e multibacilares.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
377
Hanseníase
Episódios reacionais
Tipo 1 – Reação reversa
Tipo 2 – Eritema nodoso
hansênico (ENH)
Formas clínicas
Paucibacilar
Multibacilar
Início
Causa
Manifestações clínicas
Antes do tratamento PQT ou
nos primeiros 6 meses do tratamento
Pode ser a primeira manifestação
da doença
Pode ser a primeira manifestação da doença
Pode ocorrer durante ou após o
tratamento com PQT
Processo de hiper-reatividade
imunológica, em resposta ao
antígeno (bacilo ou fragmento bacilar)
Processo de hiper-reatividade imunológica, em resposta ao antígeno (bacilo
ou fragmento bacilar)
Aparecimento de novas lesões que podem
ser eritemato-infiltradas (aspecto erisipelóide)
As lesões preexistentes permanecem
inalteradas
Reagudização de lesões antigas
Há aparecimento brusco de nódulos
eritematosos, dolorosos à palpação
ou até mesmo espontaneamente,
que podem evoluir para vesículas,
pústulas, bolhas ou úlceras
Dor espontânea nos nervos periféricos.
Aumento ou aparecimento
de áreas hipo ou anestésicas
É freqüente
Comprometimento
sistêmico
Não é freqüente
Edema de mãos e pés
Fatores associados
Aparecimento brusco
de mão em garra e pé caído
Hematologia
Pode haver leucocitose
Apresenta febre, astenia, mialgias,
náuseas (estado toxêmico) e dor
articular
Edema de extremidades
Irite, epistaxes, orquite, linfadenite
Neurite. Comprometimento gradual
dos troncos nervosos
Leucocitose, com desvio à esquerda,
e aumento de imunoglobulinas
Anemia
Lenta
Evolução
Podem ocorrer seqüelas neurológicas
e complicações, como abcesso de nervo
Rápida
O aspecto necrótico pode ser
contínuo, durar meses e apresentar
complicações graves
Se o estado reacional for identificado no diagnóstico da hanseníase, deve-se iniciar o
tratamento PQT/OMS juntamente com o tratamento para a reação.
Se o estado reacional for identificado durante o tratamento PQT/OMS, deve-se mantê-lo e iniciar o tratamento específico para a reação.
Se o estado reacional for identificado no pós-alta, o tratamento PQT/OMS não deve
ser reiniciado: deve-se fazer apenas o tratamento para a reação.
O tratamento dos estados reacionais é geralmente ambulatorial, devendo ser prescrito
e supervisionado por médico.
Em casos de estados reacionais graves, avaliar a necessidade de internação hospitalar,
principalmente na primeira semana do tratamento.
378
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
Medidas recomendadas para tratamento da reação Tipo 1 – reação reversa
• Se o doente estiver sob tratamento quimioterápico, mantenha-o sem modificação,
exceto se apresentar efeitos colaterais graves.
• Prescrever corticosteróide: prednisona – 1 a 2mg/kg/dia, conforme avaliação clínica.
• Manter a dose inicial da prednisona até a regressão clínica do quadro reacional.
• Reduzir a dose do medicamento, em intervalos fixos e quantidade predeterminada,
conforme avaliação clínica e tabela a seguir:
Exemplo da utilização de prednisona para tratamento de estados reacionais,
em doente com 60 kg e com episódio reacional:
60mg/dia
até a regressão clínica
50mg/dia
40mg/dia
6
30mg/dia
25mg/dia
15 dias
20mg/dia
15mg/dia
10mg/dia
5mg/dia
• Retornar à dose imediatamente anterior, em caso de agravamento do quadro clínico.
H
Devem ser tomadas algumas precauções na utilização da prednisona: registrar o peso, a
pressão arterial e a taxa de glicose no sangue, para controle e observação dos efeitos colaterais do medicamento; fazer o tratamento antiparasitário, com medicamento específico para Strongyloides stercoralis, prevenindo a disseminação sistêmica desse parasita.
Exemplo: tiabendazol na dose de 50mg/kg/dia, durante 2 dias, ou 1,5 g/dose única.
Medidas recomendadas para tratamento da reação Tipo 2 – eritema nodoso
hansênico (ENH)
Como previsto na Lei nº 10.651, de 16/4/2003, para utilizar-se a talidomida no tratamento de hanseníase em mulheres em idade fértil faz-se necessário orientar sobre os efeitos
teratogênicos da droga e assegurar a contracepção.
• Se o doente estiver sob tratamento poliquimioterápico, mantenha-o sem modificação, exceto se estiver apresentando efeitos colaterais graves.
• Prescrever talidomida: de 100 a 400mg/dia, conforme a intensidade do quadro.
• Manter a dose inicial até a regressão clínica do quadro reacional.
• Em casos com comprometimento neural, introduzir corticosteróides, segundo o esquema já referido, imobilizar o segmento afetado e programar ações de prevenção
de incapacidades.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
379
Hanseníase
• Deverá ser indicada a utilização da prednisona – no mesmo esquema estabelecido
na reação Tipo 1 – quando ocorrer reação Tipo 2 nas seguintes situações:
❯ mulheres em idade fértil;
❯ comprometimento neural;
❯ irite ou iridociclite;
❯ orquiepididimite;
❯ mãos e pés reacionais;
❯ nefrite;
❯ eritema nodoso necrotizante;
❯ vasculite (fenômeno de Lúcio).
Deve-se levar em consideração a gravidade intrínseca de cada quadro clínico e a necessidade de outras medidas terapêuticas, tal como encaminhamento para cirurgia.
Casos de cronicidade da reação Tipo 2, subintrante ou com complicações graves, devem ser encaminhados para centro de referência.
Aspectos epidemiológicos
A hanseníase é doença de notificação compulsória em todo o território nacional, sendo objeto de atuação na saúde pública devido à sua magnitude, e potencial incapacitante e
por acometer a faixa etária economicamente ativa.
Seu potencial incapacitante deve ser combatido com PQT/OMS adequada e instituição de técnicas de prevenção de incapacidades.
No Brasil, apesar da redução na taxa de prevalência observada, de 19 para 4,52 doentes
em cada 10 mil habitantes, no período de 1985 a 2003, a hanseníase ainda constitui problema de saúde pública que exige uma vigilância resolutiva.
Desde 1985, o país vem reestruturando suas ações voltadas para este problema. Em
1999, ratificou o compromisso de eliminar a hanseníase até 2005, quando se objetiva alcançar o índice nacional de menos de um doente em cada 10 mil habitantes e, até 2010,
sustentar os níveis de eliminação nos estados e conquistá-los em cada município.
O mapa e os gráficos a seguir ilustram o grau de endemicidade das diferentes unidades
federadas e macrorregiões e a série histórica referente à prevalência e detecção de casos
novos de hanseníase no período.
Em que pesem todos os esforços realizados para se alcançar a eliminação da hanseníase ainda é necessário buscar impactar sua transmissão, observada na taxa de detecção anual
de casos novos.
380
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Hanseníase
Prevalência de hanseníase segundo unidades da Federação. Brasil, 2005*
Muito alto: 10 a 20 casos/10 mil hab.
Alto: 5 a 10 casos/10 mil hab.
Médio: 1 a 5 casos/10 mil hab.
Baixo: < 1 caso/10 mil hab.
*Dados até 31/3/2004
Fonte: Sinan/SUS/ATDS/SES/IBGE
6
Hanseníase – coeficientes anuais de detecção e prevalência (por 10 mil hab.).
Brasil, 1985-2003
20
3
2,5
15
2
10
1,5
H
1
5
0,5
0
95
96
97
98 99
00 01
02
03
Prevalência 16,4 17,1 17,0 18,0 18,1 18,5 17,1 15,4 13,0 10,5 8,8
6,7
5,5
4,8
4,7
4,4
4,5
Detecção
85 86
87 88
89
90
91
92 93
94
5,1
4,3
0
1,42 1,34 1,42 1,84 1,89 1,89 2,05 2,31 2,17 2,15 2,30 2,54 2,82 2,60 2,52 2,47 2,73 2,69 2,77
Fonte: SVS/MS
Coeficientes de prevalência e de detecção da hanseníase segundo macrorregião.
Brasil, 2003*
Macrorregião
Prevalência
Detecção
Nº
Coef./10 mil
Nº
Coef./10 mil
Brasil
79.908
4,52
49.026
2,77
Norte
15.764
11,44
10.488
7,61
Nordeste
33.234
6,73
17.380
3,52
Sudeste
18.079
2,40
10.917
1,45
Centro-Oeste
10.783
8,75
8.057
6,54
Fonte: Sinan/ATDS/SES
*Dados atualizados em 31/3/2004
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381
Hanseníase
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Detectar e tratar precocemente os casos novos, para interromper a cadeia de transmissão e prevenir as incapacidades físicas.
• Realizar exames dermatoneurológicos de todos os contatos de casos de hanseníase
com o objetivo de detectar novos casos e iniciar o tratamento o mais precocemente
possível, evitando a ocorrência de novos casos.
• Reduzir a morbidade da doença para menos de 1 doente por 10 mil habitantes –
meta de eliminação proposta pela OMS.
Os objetivos do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase são:
• eliminar a hanseníase como problema de saúde pública até 2005, descentralizando
os serviços de diagnóstico e tratamento para a rede básica de saúde, ampliando o
acesso e promovendo a universalização da cura.
• ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento nos municípios de maior endemicidade, para acelerar o processo de eliminação da hanseníase.
• promover e apoiar o processo de educação permanente, habilitando os profissionais de saúde para as ações de diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hanseníase.
• mobilizar a sociedade civil para a promoção do conhecimento sobre os sinais iniciais da hanseníase e dos locais de acesso ao diagnóstico e tratamento.
• assegurar, nas unidades de saúde, tratamento completo para as formas paucibacilares e multibacilares.
• ampliar a oferta de procedimentos de reabilitação física aos pacientes portadores de
incapacidades/deformidades decorrentes da doença.
Definição de caso
Uma pessoa que apresente uma ou mais de uma das seguintes características e que
requer poliquimioterapia:
• lesão(ões) de pele, com alteração de sensibilidade;
• acometimento de nervo(s) com espessamento neural;
• baciloscopia positiva.
Notificação
Concluído o diagnóstico da doença, o caso deve ser notificado ao órgão de vigilância
epidemiológica hierarquicamente superior, através de uma ficha de notificação/investigação do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan).
Descoberta de casos
A descoberta de casos de hanseníase pode ocorrer por detecção passiva ou ativa.
382
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
A detecção passiva acontece na própria unidade de saúde, durante as atividades gerais
de atendimento à população. Nessas situações há uma busca sistemática de portadores da
doença, pela equipe da unidade de saúde.
Há duas situações onde pode ocorrer a detecção passiva: na demanda espontânea da
população para os serviços da unidade de saúde, em que poderá haver casos com sinais
e sintomas dermatológicos e/ou neurológicos, e nos encaminhamentos feitos por outras
unidades de saúde, para confirmação diagnóstica da doença - casos com suspeita de hanseníase. Nestas situações é realizado o exame dermatoneurológico, para confirmar ou não o
diagnóstico de hanseníase.
Entende-se por detecção ativa de casos de hanseníase a busca sistemática de doentes,
pela equipe da unidade de saúde, por meio das seguintes atividades:
• investigação epidemiológica de um caso conhecido (exame de contatos);
• exame das pessoas que demandam espontaneamente os serviços gerais de unidade
de saúde por outros motivos que não sinais e sintomas dermatológicos ou neurológicos;
• exame de grupos específicos – em prisões, quartéis, escolas, de pessoas que se submetem a exames periódicos, etc.;
• mobilização da comunidade adstrita à unidade, principalmente em áreas de alta prevalência da doença, para que as pessoas demandem os serviços de saúde sempre que
apresentarem sinais e sintomas suspeitos.
6
Em todas essas situações deve ser realizado o exame dermatoneurológico para o diagnóstico de hanseníase.
Visando o diagnóstico precoce, deve-se intensificar a busca ativa de doentes através do
exame de todos os contatos do caso diagnosticado e das outras formas de detecção ativa.
Existem condições importantes para que o diagnóstico da hanseníase seja feito precocemente, referentes à população, às unidades de saúde e aos profissionais de saúde:
• a população deve conhecer os sinais e sintomas da doença e deve estar informada
de que a hanseníase tem cura. Deve estar informada, também, sobre o tratamento e
estar motivada a buscá-lo nas unidades de saúde de seu município;
• as unidades de saúde devem ter seus serviços organizados para desenvolver as atividades de controle da hanseníase, garantindo o acesso da população aos mesmos;
• os profissionais de saúde devem estar capacitados para reconhecer os sinais e sintomas da doença, isto é, para diagnosticar e tratar os casos de hanseníase;
• os profissionais de saúde devem estar capacitados para realizar ações de promoção
de saúde.
H
A descoberta de casos novos implica o cumprimento dos seguintes passos: suspeição diagnóstica da hanseníase, confirmação diagnóstica, tratamento poliquimioterápico do
caso e investigação epidemiológica (exame de contatos) do caso identificado.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
383
Hanseníase
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência ao paciente
Tratamento específico – o tratamento da hanseníase é eminentemente ambulatorial.
O esquema terapêutico utilizado é a PQT/OMS. Os medicamentos devem estar disponíveis
em todas as unidades de saúde de municípios endêmicos. A alta por cura é dada após a
administração do número de doses preconizadas, segundo o esquema terapêutico administrado.
Prevenção e tratamento de incapacidades físicas – todos os casos de hanseníase, independentemente da forma clínica, deverão ser avaliados quanto ao grau de incapacidade
no momento do diagnóstico e, no mínimo, uma vez por ano, inclusive na alta por cura.
Toda atenção deve ser dada ao diagnóstico precoce do comprometimento neural. Para tanto, os profissionais de saúde e pacientes devem ser orientados para uma atitude de vigilância
do potencial incapacitante da hanseníase. Tal procedimento deve ter em vista o tratamento
adequado para cada caso e a prevenção de futuras deformidades. Essas atividades não devem ser dissociadas do tratamento quimioterápico, estando integradas na rotina dos serviços de acordo com o grau de complexidade dos mesmos.
Roteiro para investigação epidemiológica
A partir do diagnóstico de um caso de hanseníase deve ser feita, de imediato, a sua
investigação epidemiológica.
Algumas características de um caso suspeito:
• uma ou mais lesões de pele com alteração de sensibilidade;
• perda de sensibilidade nas mãos ou pés;
• um ou mais nervos periféricos espessados;
• nervos doloridos;
• câimbra e/ou formigamento.
Para a descoberta de casos é fundamental que se divulgue junto à população os sinais
e sintomas da doença e a existência de tratamento e cura para a hanseníase. Os materiais educativos e os meios de comunicação devem utilizar linguagem compreensível
à comunidade, considerando a sua realidade sociocultural.
A investigação epidemiológica tem o objetivo de romper a cadeia epidemiológica da
doença, procurando identificar a fonte de contágio do doente e descobrir novos casos de
hanseníase entre as pessoas que com ele convivem no mesmo domicílio (contatos intradomiciliares do doente), bem como prevenir a contaminação de outras pessoas. As pessoas
que vivem com o doente de hanseníase correm maior risco de serem contaminadas do que a
população em geral. Por isso, a vigilância de contatos intradomiciliares é muito importante.
Considera-se como contato intradomiciliar toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido com o doente nos últimos cinco anos.
384
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
A vigilância de contatos, portanto, compreende a busca sistemática de novos casos de
hanseníase entre as pessoas que convivem com o doente, a fim de que sejam adotadas medidas de prevenção em relação às mesmas: o diagnóstico e o tratamento precoces.
Uma vez identificados, os contatos do portador de hanseníase devem ser submetidos
ao exame dermatoneurológico e se o diagnóstico de hanseníase for confirmado devem receber o tratamento específico.
Os contatos devem receber informações sobre a doença e sobre a necessidade de ficarem atentos ao aparecimento de seus sinais e sintomas, devendo, neste caso, procurar a
unidade de saúde.
Vacinação BCG (bacilo de Calmette-Guërin)
Recomendações
• A aplicação de duas doses da vacina BCG-ID a todos os contatos intradomiciliares
dos casos de hanseníase, independentemente de serem PB ou MB.
• A aplicação da 1ª dose da vacina está condicionada à realização do exame dermatoneurológico; se já existir a cicatriz por BCG-ID, essa deve ser considerada como
primeira dose, independente da época em que foi aplicada.
• A vacina BCG será administrada na dose de 0,1ml, sem necessidade de prova tuberculínica prévia.
• A aplicação da vacina será efetuada por via intradérmica, no braço direito, na altura
da inserção inferior do músculo deltóide. Essa localização permite a fácil verificação
da cicatriz e limita as reações ganglionares à região axilar.
• A segunda dose deverá ser feita seis meses após a aplicação da primeira, próximo ao
local da 1ª aplicação, para mais fácil reconhecimento.
• Todo contato deve receber orientação no sentido de que não se trata de vacina específica para a hanseníase e que, prioritariamente, esta é destinada ao grupo de risco,
contatos intradomiciliares. Em alguns casos, o aparecimento de sinais clínicos de
hanseníase logo após a vacinação pode estar relacionado com o aumento da resposta
imunológica, em indivíduo anteriormente infectado.
6
H
Análise de dados
Para a operacionalização e eficácia da vigilância epidemiológica da hanseníase na obtenção e fornecimento de informações fidedignas e atualizadas sobre a doença, seu comportamento epidemiológico e atividades de controle faz-se necessário um sistema de informação efetivo e ágil.
O sistema de informação é componente fundamental da vigilância epidemiológica,
subsidiando-a na tomada de decisão de planejamento das atividades de controle da doença,
bem como na sua execução: informação – decisão – ação.
Cada unidade de saúde deve manter um arquivo organizado com a definição do fluxo
das informações, atribuição de responsabilidades, prazos e periodicidade.
As informações geradas são úteis para o diagnóstico e análise da situação de saúde da
população e para o processo de planejamento (identificação de prioridades, programação
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
385
Hanseníase
de atividades, alocação de recursos, avaliação das ações). Portanto, é necessário que todos
os profissionais de saúde, bem como a comunidade, tenham acesso a essas informações.
Acompanhamento de casos
Informações relativas ao acompanhamento dos casos são úteis para a avaliação da efetividade do tratamento e para o monitoramento da prevalência da doença. Essas informações devem ser registradas nas unidades de saúde (no prontuário do doente e na ficha de
acompanhamento do caso) e enviadas ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamente superior através de relatório de acompanhamento do caso. O fluxo e a periodicidade
no envio dessas informações devem ser estabelecidos pela unidade federada, em conformidade com os procedimentos preconizados para o sistema de informação.
A partir dessas informações, são construídos indicadores epidemiológicos e operacionais indispensáveis à análise epidemiológica da doença, acompanhamento, avaliação operacional do programa de controle da hanseníase e planejamento de suas ações.
É importante atentar para uma organização específica que possibilite a verificação, no
mínimo, semanal dos dados relativos ao seguimento das pessoas portadoras da doença e de
seus contatos.
Os faltosos devem ser precocemente identificados para os procedimentos de busca,
bem como os contatos intradomiciliares para exames dermatoneurológicos.
As pessoas que já completaram o tratamento, segundo as normas técnicas, devem ser
retiradas do registro ativo através da alta por cura.
Deve ser dada saída administrativa aos doentes paucibacilares que abandonaram o
tratamento e que tenham permanecido no registro ativo por pelo menos 2 anos a contar da
data do início do diagnóstico; e aos doentes multibacilares que abandonaram o tratamento,
e tenham permanecido no registro ativo por pelo menos 4 anos a contar da data de início
do diagnóstico.
O setor de vigilância epidemiológica, no âmbito municipal, deve ser comunicado desses procedimentos.
Outro aspecto importante é a busca de informações sobre os óbitos ocorridos dentre
os portadores da hanseníase, que devem ser registrados no prontuário e retirados do registro ativo – alta por óbito.
Além disso, devem ser pesquisados os múltiplos fichamentos para serem retirados do
sistema (alta por múltiplo fichamento).
Já aqueles cujo diagnóstico de hanseníase foi errôneo devem ser considerados como
alta por erro diagnóstico.
Os transferidos para acompanhamento em outra unidade devem ser registrados como
transferência. As transferências não são consideradas como altas para o Sinan, uma vez
que o paciente permanecerá em tratamento e continuará sendo computado dentro da prevalência nacional.
386
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
Indicadores
Indicadores são aproximações quantificadoras de um determinado fenômeno. Podem
ser usados para ajudar a descrever determinada situação e para acompanhar mudanças ou
tendências em um período de tempo. Os indicadores de saúde permitem a comparabilidade
entre diferentes áreas ou diferentes momentos e fornecem subsídios ao planejamento das
ações de saúde. Os indicadores da endemia hansênica constam na Portaria GM nº 1.073 de
26 de setembro de 2000.
Classificação dos indicadores
Podem ser classificados em dois grandes grupos, de acordo com o tipo de avaliação a
que se destinam: epidemiológicos e operacionais.
Indicadores epidemiológicos
Medem a magnitude ou transcendência do problema de saúde pública. Referem-se,
portanto, à situação verificada na população ou no meio ambiente num dado momento
ou determinado período. Ex: coeficiente de detecção de casos e proporção de casos com
deformidades detectados no ano.
6
Indicadores operacionais
Medem o trabalho realizado, seja em função da qualidade ou quantidade. Ex: proporção de casos multibacilares que completaram PQT, entre os que deveriam ter completado.
H
Notas
• Todos os indicadores listados devem ser calculados utilizando-se dados de casos residentes na unidade federada, independente do local de detecção e/ou tratamento.
• Além dos indicadores de nível nacional listados, outros devem ser utilizados segundo a necessidade de acompanhamento e avaliação do programa de controle e
eliminação da hanseníase em nível local, regional, municipal e estadual, tais como:
proporção de examinados, entre os contatos intradomiciliares, de casos novos detectados no ano; proporção de casos, detectados no ano, submetidos à baciloscopia;
proporção de casos novos, detectados no ano, com baciloscopia positiva; proporção
de casos novos, diagnosticados no ano, com grau de capacidade física variado.
O planejamento das atividades de controle da hanseníase é um instrumento de sistematização de nível operativo que perpassa todas as ações, que vão do diagnóstico situacional, estratégia de intervenção e monitorização à avaliação dos resultados alcançados.
O conhecimento de dados básicos é indispensável ao planejamento. Dentre outros,
destacam-se:
• população alvo (da unidade de saúde, município ou estado);
• número de casos de hanseníase em registro ativo;
• número de contatos intradomiciliares de casos novos;
• casos de hanseníase com incapacidades físicas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
387
Hanseníase
Indicadores epidemiológicos
Indicadores*
Construção
1. Coeficiente de
detecção anual
de casos novos,
por 10 mil hab.
2. Coeficiente de
detecção anual
de casos novos,
na população de
0 a 14 anos, por
10 mil hab.
Utilidade
Casos novos residentes
diagnosticados no ano
X 10 mil
População total residente
em 1/7/ano
X 10 mil
População residente, com idade
entre 0 e 14 anos, em 1/7/ano
Alto: 2,0 – 1,0/10 mil hab.
Médio: 1,0 – 0,2/10 mil hab.
Baixo: < 0,2/10 mil hab.
Determinar a
tendência secular
da endemia
Muito alto: 1,0 – 0,5/10 mil hab.
Alto: 0,5 – 0,25/10 mil hab.
Médio: 0,25 – 0,05/10 mil hab.
Hiperendêmico: > 20,0/10 mil hab.
População total residente em
31/12/ano
5. Proporção de
curados no ano,
com incapacidades
físicas***
Muito alto: 4,0 – 2,0/10 mil hab.
Baixo: < 0,05/10 mil hab.
X 10 mil
4. Proporção de
casos com incapacidades físicas,
entre os casos
novos detectados e
avaliados no ano**
Hiperendêmico: > 4,0/10 mil hab.
Hiperendêmico: > 1,0/10 mil hab.
Casos novos residentes,
com 0 a 14 anos de idade,
diagnosticados no ano
Casos existentes residentes
(em registro ativo) em 31/12/ano
3. Coeficiente
de prevalência
por 10 mil hab.
Determinar a
tendência secular
da endemia e medir
a intensidade das
atividades de
detecção dos casos
Parâmetros
Muito alto: 20,0 – 0,0/10 mil hab.
Alto: 10,0 – 5,0/10 mil hab.
Médio: 5,0 – 1,0/10 mil hab.
Baixo: < 1,0/10 mil hab.
Casos novos residentes,
diagnosticados no ano, com
grau de incapacidade física II
X 100
Casos novos residentes,
diagnosticados no ano, com grau
de incapacidade física avaliado
Casos paucibacilares/multibacilares,
curados no ano, com grau de
incapacidade II
X 100
Casos paucibacilares/multibacilares,
curados no ano, com grau de incapacidade avaliado por ocasião da cura
Medir a
magnitude
da doença
Estimar a
efetividade das
atividades para a
detecção precoce
de casos; estimar
a endemia oculta
Avaliar a
transcendência da
doença. Subsidiar
a política de ação
para seqüelas
Programar insumos
para a prevenção
e tratamento das
incapacidades
pós-alta
Alto: > 10%
Médio: 5-10%
Baixo: < 5%
Alto: > 10%
Médio: 10-5%
Baixo: < 5%
Fonte: Sinan/SES
*Todos os indicadores devem ser calculados utilizando-se dados de casos residentes, independentemente do local
de detecção e tratamento.
*Indicador utilizado somente quando o percentual de casos, com grau de incapacidade avaliado (ver indicadores
operacionais), for maior ou igual a 75%.
***Esse indicador deve ser construído separadamente, para casos paucibacilares e multibacilares. Deve ser utilizado somente quando o percentual de casos, com grau de incapacidade avaliado, for maior ou igual a 75%.
388
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
Indicadores operacionais
Indicadores*
1. Proporção de casos
novos, diagnosticados
no ano, que iniciaram
poliquimioterapia
padrão OMS
Construção
Utilidade
Casos novos diagnosticados que
iniciaram PQT no ano
Parâmetros
Total de casos novos diagnosticados no ano
Medir a qualidade
do atendimento
dos serviços de
saúde
Bom: > 98%
Regular: 90 – 98%
Precário: < 90%
2. Proporção de casos
Casos novos, diagnosticados no ano,
novos, diagnosticados no com grau de incapacidade avaliado
ano, com grau de incapacidade física avaliado
Total de casos novos diagnosticados no ano
Medir a qualidade
do atendimento
dos serviços de
saúde
Bom: > 90%
Regular: 75 – 90%
Precário: < 75%
Avaliar a
efetividade dos
tratamentos
Bom: > 90%
Regular: 75 – 90%
Precário: < 75%
Medir a
qualidade do
atendimento dos
serviços de saúde
Bom: > 90%
Regular: 75 – 90%
Precário: < 75%
Medir a
capacidade
dos serviços em
assistir aos casos
de hanseníase
Bom: > 10%
Regular: 10 – 25%
Precário: > 25%
X 100
3. Proporção de cura
entre casos novos,
diagnosticados nos
anos das coortes**
Casos novos diagnosticados nos anos das coortes
e curados até 31/12/ano de avaliação
4. Proporção de casos
curados no ano com
grau de incapacidade
físico avaliado
Casos curados no ano com grau de
incapacidade física avaliado por ocasião da cura
5. Proporção de abandono de tratamento
entre os casos novos
diagnosticados nos
anos das coortes**
6. Percentagem de
abandono do tratamento na prevalência
do período
7. Percentagem de
examinados entre os
contatos intradomiciliares de casos novos
diagnosticados no ano
8. Proporção de municípios com ações de
controle implantadas
9. Proporção da população coberta pelas ações
de controle**
10. Proporção de
unidades de saúde
da rede básica que
desenvolvem ações
e controle
X 100
X 100
Total de casos diagnosticados nos anos das coortes
X 100
Total de casos curados no ano
Casos novos, diagnosticados nos anos das coortes
que abandonaram o tratamento ou estão em
situação ignorada em 31/12 do ano de avaliação
X 100
Total de casos novos diagnosticados nos
anos das coortes
Casos existentes residentes (em registro ativo)
não atendidos no ano de avaliação + saídas
administrativas no ano de avaliação
X 100
Medir a
capacidade
dos serviços em
assistir aos casos
de hanseníase
X 100
Avaliar a
execução da atividade de vigilância
de contatos
Bom: ≥ 75%
Regular: 50 – 75%
Precário: < 50%
Medir a cobertura
territorial das
ações de controle
Bom: ≥ 75%
Regular: 75 – 60%
Precário: < 60%
Medir a cobertura
populacional das
ações de controle
Bom: ≥ 90%
Regular: 75 – 90%
Precário: < 75%
Total de casos existentes residentes (em registro
ativo) em 31/12 do ano de avaliação + total
de saídas do registro ativo no ano de avaliação
Contatos intradomiciliares de casos novos
diagnosticados no ano, que foram examinados
Total de contatos intradomiciliares de
casos novos diagnosticados no ano
Número de municípios com ações de
controle implantadas
X 100
Número total de municípios
População coberta pelas ações de controle
X 100
População total residente
Número de centros de saúde, postos de saúde e
unidades de saúde da família, cadastrados no SUS,
que desenvolvem ações de controle da hanseníase
X 100
Número total de centros de saúde, postos de saúde
e unidades de saúde da família cadastrados no SUS
6
Bom: < 10%
Regular: 10 – 25%
Precário: > 25%
Medir a cobertura
institucional das
ações de controle
H
A definir
Fonte: Sinan/SES
*Todos os indicadores devem ser calculados para casos residentes, independentemente do local de detecção
e tratamento.
**Nos níveis municipal e estadual, esses indicadores devem ser calculados separadamente para casos paucibacilares e multibacilares.
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389
Hanseníase
Ficha de Notificação
Hanseníase
Instruções de Preenchimento
Ficha de Notificação/Investigação – Sinan Windows
No - Anotar o número da notificação atribuído pela unidade de saúde para identificação do caso (Ex.: nº do registro na unidade de saúde, nº do prontuário). CAMPO DE
PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
1 - Este campo identifica o tipo de notificação, informação necessária à digitação. Não
é necessário preenchê-lo.
2 - Anotar a data da notificação: data de preenchimento da ficha de notificação/investigação. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
3 - Preencher com o nome completo do município, ou código correspondente segundo cadastro do IBGE, onde está localizada a unidade de saúde (ou outra fonte
notificadora) que realizou a notificação. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
4 - Preencher com o nome completo da unidade de saúde (ou outra fonte notificadora), ou código correspondente segundo cadastro estabelecido pelo Sinan, que realizou a notificação do caso. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
5 - Nome do agravo/doença, ou código corespondente estabelecido pelo Sinan (CID
10), que está sendo notificado.
6 - Anotar a data em que foi realizado o diagnóstico do caso. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
7 - Preencher com o nome completo do paciente (sem abreviações).
8 - Preencher com a data de nascimento do paciente (dia/mês/ano), de forma completa.
9 - Anotar a idade do paciente somente se a data de nascimento for desconhecida (Ex.
20 dias = 20; 3 meses = 3 M; 26 anos = 26 A.
OBS.: Se a data de nascimento não for preenchida, a idade será CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
10 - Preencher segundo a categoria referente ao sexo do paciente (M = masculino; F
= feminino e I = ignorado).
11 - Preencher com o código correspondente à cor ou raça declarada pela pessoa:
1) Branca; 2) Preta; 3) Amarela (compreendendo-se nesta categoria a pessoa que se
declarou de raça amarela); 4) Parda (incluindo-se nesta categoria a pessoa que se
390
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Hanseníase
declarou mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça de preto com pessoa de outra
cor ou raça); 5) Indígena (considerando-se nesta categoria a pessoa que se declarou
indígena ou índia).
12 - Preencher com o código correspondente ao número de anos de estudo concluídos. A classificação é obtida em função da série e do grau que a pessoa está freqüentando ou freqüentou, considerando a última série concluída com aprovação. A correspondência é feita de forma que cada série concluída com aprovação corresponda
a um ano de estudo. (Ex.: paciente cursou 4 anos, porém não concluiu o último ano;
portanto, deverá ser incluído na categoria de 1 a 3). Este campo não se aplica para
paciente com idade inferior a 7 anos.
13 - Preencher com o nº do cartão único do Sistema Único de Saúde – SUS.
14 - Preencher com o nome completo da mãe do paciente (sem abreviações).
6
15 - Anotar o tipo (avenida, rua, travessa, etc.), nome completo ou código correspondente do logradouro da residência do paciente. Se o paciente for indígena, anotar o
nome da aldeia.
16 - Anotar o nº do logradouro da residência do paciente (Ex.: nº 575).
17 - Anotar o complemento do logradouro (Ex.: Bloco B, Apto 402, Lote 25, Casa 14,
etc.).
18 - Anotar o ponto de referência para localização da residência do paciente (perto da
padaria do João, por exemplo).
H
19 - Anotar a sigla da unidade federada da residência do paciente (Ex.: DF).
20 - Anotar o nome do município (ou código correspondente segundo cadastro do
IBGE) da residência do paciente.
- Anotar o nome do distrito de residência do paciente.
21 - Anotar o nome do bairro (ou código correspondente segundo cadastro do Sinan)
de residência do paciente.
22 - Anotar o código de endereçamento postal do logradouro (avenida, rua, travessa)
da residência do paciente (Ex.: CEP: 70.036-030).
23 - Anotar o número do telefone do paciente.
24 - Zona de residência do paciente por ocasião da notificação (Ex.: 1 = área com
característica estritamente urbana; 2 = área com característica estritamente rural; 3 =
área rural com aglomeração populacional que se assemelha a uma área urbana).
25 - Anotar o nome do país de residência quando o paciente notificado residir em
outro país.
26 - Informar a atividade exercida pelo paciente no setor formal, informal ou autônomo ou sua última atividade exercida quando o paciente for desempregado. O ramo
de atividade econômica do paciente refere-se às atividades econômicas desenvolvidas
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
391
Hanseníase
nos processos de produção do setor primário (agricultura e extrativismo); secundário
(indústria) ou terciário (serviços e comércio).
27 - Nº DE LESÕES CUTÂNEAS – Registrar o nº de lesões de pele com alteração de
sensibilidade existentes no paciente por ocasião do diagnóstico.
28 - Nº DE TRONCOS NERVOSOS ACOMETIDOS – Registrar o nº de troncos
nervosos espessados examinados por ocasião do diagnóstico.
29 - FORMA CLÍNICA – Anotar o nº correspondente à classificação clínica, segundo
classificação de Madrid, do caso por ocasião do diagnóstico.
30 - AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE NO DIAGNÓSTICO – Anotar o nº correspondente ao grau de incapacidade física resultante da avaliação por ocasião do
diagnóstico, segundo normas técnicas vigentes.
31 - CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL – Anotar o nº correspondente da classificação operacional do caso para fins de tratamento, atribuída por ocasião do diagnóstico, segundo normas técnicas vigentes.
32 - MODO DE ENTRADA – Anotar o nº correspondente ao modo de entrada do
caso de hanseníase no registro ativo.
1) CASO NOVO – Indivíduo que apresenta uma ou mais das seguintes características, requerendo terapia e virgem de tratamento:
• lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade;
• acometimento de nervo(s) com espessamento neural;
• baciloscopia positiva.
2) TRANSFERÊNCIA DO MESMO MUNICÍPIO – Paciente que transferiu
tratamento de outra unidade de saúde do mesmo município.
3) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO MUNICÍPIO (mesma UF) – Paciente
que transferiu tratamento de outra unidade de saúde localizada em outro município
da mesma unidade federada.
4) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO ESTADO – Paciente que transferiu tratamento de outra unidade de saúde localizada em outra unidade federada.
5) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO PAÍS – Paciente que transferiu tratamento de outra unidade de saúde localizada em outro país.
6) RECIDIVA – Indivíduo que apresenta sinais de atividade clínica da doença após alta por cura.
7) OUTROS REINGRESSOS – Situações em que o paciente recebeu algum
tipo de alta e retorna requerendo tratamento específico, exceto recidiva. Ex.: casos que
receberam alta estatística (saída administrativa) em anos anteriores e reapareceram
com a doença em atividade; casos considerados equivocadamente como falecidos;
casos multibacilares tratados erroneamente como paucibacilares, que receberam alta
por cura no passado e se reapresentaram doentes à unidade de saúde.
392
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hanseníase
33 - MODO DE DETECÇÃO DO CASO NOVO – Anotar o número correspondente
ao modo de detecção do caso novo (este campo deve ser preenchido somente quando
o MODO DE ENTRADA for CASO NOVO):
1) ENCAMINHAMENTO – Caso encaminhado por outra unidade, instituições de saúde, consultório médico, agente de saúde, colaboradores voluntários,
etc. para confirmação clínica do diagnóstico e/ou início de tratamento.
2) DEMANDA ESPONTÂNEA – Caso novo que se apresentou voluntariamente à unidade de saúde devido a sinais e/ou sintomas de hanseníase.
3) EXAME DE COLETIVIDADE – Caso novo diagnosticado a partir de
exame clínico realizado para detecção de casos de hanseníase em pessoas pertencentes a grupos organizados ou não da comunidade, como escolas, fábricas, recrutas
militares, empresas, campanhas, etc.
6
4) EXAME DE CONTATOS – Caso novo diagnosticado a partir de exame
clínico dos contatos intradomiciliares de caso de hanseníase (vigilância de contatos).
5) OUTROS MODOS – Caso novo diagnosticado em outras situações, por
exemplo, achado casual em consulta médica por outros motivos, exame para fins de
atestado, exame admissional, check-up, etc.
34 - BACILOSCOPIA – Anotar o número correspondente ao resultado da baciloscopia ou a sua não realização, por ocasião do diagnóstico.
35 - DATA DO INÍCIO DO TRATAMENTO – Registrar o dia, mês e ano do início
do tratamento específico (esquema terapêutico inicial).
H
36 - ESQUEMA TERAPÊUTICO INICIAL – Anotar o número correspondente ao
esquema terapêutico inicial instituído por ocasião do diagnóstico.
37 - Nº DE CONTATOS REGISTRADOS – Registrar o número de pessoas que residem com o paciente por ocasião do diagnóstico (ou residiram nos últimos 5 anos).
38 - DOENÇA RELACIONADA AO TRABALHO – Informar se o paciente adquiriu a
doença em decorrência do processo de trabalho, determinada pelos ambientes e ou condições inadequadas de trabalho (contaminação acidental, exposição ou contato direto).
Observações: informar as observações necessárias para complementar a investigação.
39 - Informar o nome do município/unidade de saúde responsável por esta investigação.
40 - Informar o código da unidade de saúde responsável por esta investigação.
41 - Informar o nome completo do responsável por esta investigação. Ex.: Mário José
da Silva.
42 - Informar a função do responsável por esta investigação. Ex.: enfermeiro.
43 - Registrar a assinatura do responsável por esta investigação.
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393
Hanseníase
Educação em saúde
O processo educativo nas ações de controle da hanseníase deve contar com a participação do paciente (ou de seus representantes), familiares e comunidade nas decisões que
lhes digam respeito, bem como na busca ativa de casos e no diagnóstico precoce, prevenção
e tratamento de incapacidades físicas, combate ao eventual estigma e manutenção do paciente no meio social. Esse processo deve ter como referência as experiências municipais
de controle social.
Na assistência ao paciente com hanseníase, deve-se discutir, sempre que necessário,
todas as questões inerentes à sua doença, que o seu tratamento regular levará a cura,
estimulando-o sempre, na prática do auto-cuidado.
No momento da cura, deve-se orientar o paciente sobre a possibilidade do surgimento
de episódios reacionais, mesmo após essa alta, quando deve procurar imediatamente
a atenção do serviço de saúde para evitar seqüelas. Orientar, sempre, o paciente na
prática do auto-cuidado.
O Ministério da Saúde coordenará, dando apoio às demais instituições, um programa
nacional, sistematizado e contínuo, de divulgação de massa (extensiva e intensiva), garantindo informação e esclarecimentos à população sobre a hanseníase, dentro de um programa global de saúde, cabendo a cada unidade federada e municípios desenvolver o seu
próprio processo de educação e comunicação.
O Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase e as secretarias estaduais e municipais da saúde encaminharão documentos informativos sobre a hanseníase, para as diversas entidades e meios de comunicação de massa, visando maximizar os conhecimentos
científicos atuais sobre a doença, de modo a evitar o uso de informações equivocadas e/ou
termos inadequados. Deve-se também estimular a produção de materiais de apoio no nível
local, com a participação dos usuários e das organizações comunitárias, que subsidiem o
processo educativo nas ações de controle da hanseníase.
Sempre que se fizer necessário, visando à construção e reconstrução do conhecimento
e devida compreensão do que é hanseníase, poderá ser feita sua relação com os termos existentes na terminologia popular, adequando-a à clientela.
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Hantaviroses
HANTAVIROSES
CID 10: A98.5
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A hantavirose é uma doença emergente que se manifesta sob diferentes formas, desde
doença febril aguda, cuja suspeita diagnóstica é baseada fundamentalmente em informações epidemiológicas, até quadros pulmonares e cardiovasculares mais característicos ou,
eventualmente, como uma febre hemorrágica com comprometimento renal.
Inicialmente, a hantavirose do Novo Mundo foi descrita, apenas com o grande comprometimento pulmonar, recebendo o nome de síndrome pulmonar por hantavírus (SPH).
Posteriormente, foi relatado um comprometimento cardíaco importante, a partir da publicação dos primeiros casos da América do Sul, passando a ser denominada síndrome cardiopulmonar por hantavírus (SCPH), a qual tem sido, até o momento, a única forma grave
prevalente nas Américas.
6
Agente etiológico
Vírus do gênero Hantavirus da família Bunyaviridae, sendo o único bunyavírus que
não é um arbovírus.
Estes vírus possuem envelope de dupla capa de lipídios, sendo, portanto, susceptíveis
a muitos desinfetantes como lysol industrial, solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, lisofórmio, detergentes e álcool etílico a 70%. Sua sobrevida, depois de eliminados no meio
ambiente, ainda não é totalmente conhecida.
Dentre os hantavírus identificados em infecções humanas, temos os que causam a febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR) na Europa e na Ásia (Hantaan, Seoul, Dobrava, Puumala) e os que estão associados com a SCPH (Sin Nombre, Bayou, Black Creek
Canal, Juquitiba, Castelo dos Sonhos, Araraquara, New York, Andes, Laguna Negra, Oran,
Lechinguanas), além de outros identificados apenas em roedores silvestres.
H
Reservatório
Os roedores silvestres são os reservatórios dos hantavírus. Cada tipo de vírus parece ter
tropismo, por determinada espécie de roedor e somente a ela. Os hantavírus associados com
os quadros de SCPH têm como reservatórios roedores da subfamília Sigmodontinae. Já os
vírus responsáveis por quadros de febre hemorrágica com síndrome renal estão associados a
roedores da subfamília Arvicolinae e Murinae. Provavelmente, os hantavírus evoluíram com
os respectivos hospedeiros reservatórios, o que determinou esta especificidade.
Dada a distribuição geográfica das espécies de roedores encontradas com hantavírus,
percebe-se que Bolomys lasiurus mostra-se amplamente disseminado nos ambientes de cerrado e caatinga brasileiros. Nas áreas de Mata Atlântica as espécies Oligoryzomys nigripes
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
395
Hantaviroses
ou Akodon cursor podem desempenhar importante papel na transmissão de hantavírus,
enquanto que no estado do Maranhão foram identificados dois tipos específicos de reservatórios: Holochilus sciureus e Oligoryzomys fornesi.
No roedor, a infecção pelo hantavírus não é letal, mantendo-o como reservatório por
longo período, provavelmente por toda a vida. Os hantavírus são eliminados em grande
quantidade, principalmente na urina, saliva e fezes.
Modo de transmissão
A infecção humana ocorre mais freqüentemente pela inalação de aerossóis, formados
a partir da urina, fezes e saliva de roedores reservatórios. Outras formas de transmissão,
para a espécie humana, foram também descritas:
• percutânea, por meio de escoriações cutâneas ou mordeduras de roedores;
• contato do vírus com mucosa (conjuntival, da boca ou do nariz), por meio de mãos
contaminadas com excretas dos roedores.
A transmissão pessoa a pessoa foi descrita na Argentina, tendo sido associada ao hantavírus Andes, tratando-se, porém, de relato isolado.
Período de incubação
Em média, de 2 a 3 semanas, com variação de 4 a 55 dias.
Período de transmissibilidade
Desconhecido até o momento.
Aspectos clínicos, laboratoriais e terapêuticos
Manifestações clínicas da SCPH
Fase febril/prodrômica – observa-se febre, tosse seca, mialgia, principalmente na região dorso-lombar, dor abdominal, náusea, vômito, astenia e cefaléia. Essa fase dura em
média de 3 a 5 dias, podendo evoluir para a fase cardiopulmonar.
Fase cardiopulmonar – caracteriza-se por insuficiência respiratória aguda grave e
choque circulatório, apresentando alta taxa de letalidade.
As alterações laboratoriais mais relatadas nesta fase são: hemoconcentração (hematócrito > 45%), trombocitopenia (plaquetas < 150 mil cel/mm3), leucocitose (leucócitos >
12 mil cel/mm3) com neutrofilia acentuada e desvio à esquerda e linfopenia relativa com
presença de linfócitos atípicos. Há redução da atividade protrombínica e aumento do tempo parcial de tromboplastina, elevação dos níveis séricos de alanina aminotransferases ou
transaminase glutâmico-oxalacética (ALT-TGO) e desidrogenase lática (DHL). Observa-se
hipoproteinemia e valores de fibrinogênio dentro da normalidade. Nos casos mais graves,
pode ocorrer aumento nas concentrações da uréia e creatinina séricas, além de acentuada
acidose metabólica. A hipoxemia é um achado importante, que pode indicar o grau de gra-
396
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hantaviroses
vidade do caso; esta, desde o início do quadro, pode refletir-se na saturação de O2 inferior a
90%. Na radiografia de tórax há presença de infiltrado intersticial nos campos pulmonares,
com ou sem a presença de derrame pleural que, quando presente, pode ser uni ou bilateral.
Fase diurética – aumento da diurese espontânea define o início desta terceira fase,
que se caracteriza por eliminação rápida de líquido acumulado no espaço extravascular,
resolução da febre e do choque.
Fase de convalescença – pode durar duas semanas ou mais, com melhora progressiva
dos sinais e sintomas e lenta recuperação das alterações hemodinâmicas e da função respiratória.
Febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR)
Esta síndrome apresenta, de modo geral, quadro clínico de início insidioso com febre,
cefaléia, mialgia, dor abdominal, náuseas, vômitos, rubor facial, petéquias e hemorragia
conjuntival. Seguem-se hipotensão, taquicardia, oligúria e hemorragias severas, com evolução para poliúria que, na maioria dos casos, antecipa o início da recuperação. Este quadro
evolui, em média, por quatro semanas, do início até a convalescença.
6
Doença por hantavírus em crianças
Sinais e sintomas – início abrupto, febre elevada (38oC a 40oC), mialgias frequentes,
principalmente nas extremidades, e dor abdominal. Pode haver cefaléia e sintomas como
náuseas e vômitos. Essa sintomatologia, apesar de similar à descrita na fase prodrômica de
paciente adulto, deve ter alguns aspectos considerados como diferenciais, tais como febre
alta constante, dor abdominal muito intensa que pode ser confundida como abdome agudo
e mialgias mais comumente nas extremidades inferiores.
Achados laboratoriais – os achados mais comuns encontrados têm sido linfócitos
atípicos > 10%; plaquetas/mm3 < 130 mil e contagem de leucócitos com valores normais ou
elevados com desvio à esquerda.
H
Diagnóstico diferencial
Doenças de origem infecciosa – leptospirose influenza e parainfluenza, dengue, febre
amarela e febre do Valle Rift, doenças por vírus Coxsackies, Adenovirus e Arenavirus (febre
de Lassa), triquinelose, malária, pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias, rickettsioses, histoplasmose, pneumocistose.
Doenças não-infecciosas – abdome agudo de etiologia variada, síndrome de angústia respiratória (Sara), edema agudo de pulmão (cardiogênico), pneumonia intersticial por
colagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide); doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Diagnóstico laboratorial
Elisa-IgM – método efetivo utilizado no diagnóstico de hantanvirose. Cerca de 95%
dos pacientes com SCPH têm IgM demonstrável em amostra de soro coletada após o início
dos sintomas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
397
Hantaviroses
Elisa-IgG – método utilizado para verificar conversão sorológica em amostras pareadas, utilizado em estudos de soroprevalência.
RT-PCR – método de diagnóstico molecular, útil para definir o genotipo viral e identificação viral, utilizado nos estudos de epidemiologia molecular. É considerado diagnóstico
complementar.
Imunohistoquímica – técnica que identifica antígenos específicos para hantavírus em
fragmentos de órgãos. Particularmente utilizado para o diagnóstico nos casos de óbito, em
que não é possível a realização do diagnóstico sorológico, quando se dispõe de fragmentos
de órgãos, ou em estudos retrospectivos, em que se usam espécimes conservados em formol
ou blocos de parafina.
Em caso de óbito, é possível fazer o diagnóstico através do exame sorológico – Elisa
– IgM (sangue do coração ou venoso) ou exame imunohistoquímico.
A coleta de amostra deve ser feita logo após a suspeita do diagnóstico, pois o aparecimento de anticorpos ocorre no início dos sintomas. Os anticorpos da classe IgM podem
ser detectados até cerca de 60 dias após o início dos sintomas. Quando em amostra única,
não for possível definir o diagnóstico, uma segunda amostra deverá ser coletada. Se mesmo
assim, não houver diagnóstico conclusivo, colher uma terceira amostra duas a três semanas
(14 a 21 dias) após a primeira.
Tratamento
SCPH – a eficácia do tratamento clínico depende da instituição precoce de medidas
gerais de suporte clínico, pois até o momento não existe terapêutica antiviral comprovadamente eficaz contra a SCPH. São indicadas para manutenção das funções vitais, com ênfase
na oxigenação e monitoramento rigoroso do paciente desde o início do quadro respiratório,
inclusive com uso de ventilação assistida. A hipotensão deve ser controlada ministrando-se
expansores plasmáticos, devendo-se ter extremo cuidado na sobrecarga hídrica, evitando-se
o uso de drogas vasopressoras. Os distúrbios hidreletrolítico e ácido-básico devem ser corrigidos, inclusive com assistência em unidade de terapia intensiva-UTI, nos casos mais graves.
Recomenda-se o isolamento do paciente em condições de proteção com barreiras
(avental, luvas e máscara dotadas de filtros N95).
Se houver necessidade de transferência de um paciente para UTI, o mesmo deve ser
transportado em condições que assegurem estabilidade hemodinâmica; parâmetros ventilatórios adequados, com oxigenoterapia; acesso venoso, evitando-se a administração excessiva de líquidos por via endovenosa, e controle do estado cardiovascular. Estas medidas são
recomendadas também para crianças.
Condutas com gestantes com SCPH
As gestantes devem ser seguidas durante o período de gravidez, parto e puerpério e a
criança, após o nascimento. Todas as técnicas disponíveis (IgM, IgG, RT-PCR) devem ser
feitas em diferentes momentos para que se possa obter o maior número possível de informações.
No caso de óbito materno e/ou fetal, a realização de necrópsia completa é fundamental.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hantaviroses
No que se refere às mães com SCPH e em lactação, recomenda-se suspender a amamentação, controlar a criança com todo o suporte laboratorial e solicitar RT-PCR do leite
materno.
FHSR – recomenda-se as mesmas medidas adotadas para a SCPH, além de diálise
peritoneal ou hemodiálise para o tratamento da insuficiência renal aguda. A ribavirina
mostrou-se eficaz no tratamento da FHSR, contribuindo para a queda da mortalidade pela
doença. Supõe-se que essa droga seja mais eficaz quando empregada no início da fase prodrômica.
Aspectos epidemiológicos
A SCPH foi detectada pela primeira vez no sudoeste americano, na primavera de 1993,
causada pelo hantavírus Sin Nombre. Na América do Sul, os primeiros casos foram diagnosticados no estado de São Paulo, no município de Juquitiba, em novembro de 1993. A
SCPH ocorre desde o Canadá até o sul da Argentina, país que mais tem notificado casos.
A susceptibilidade é geral. Supõe-se que haja, em algumas regiões, um padrão de sazonalidade em função da biologia dos roedores silvestres.
No Brasil, no período de novembro de 1993 a dezembro de 2003, foram confirmados 338 casos, dos quais 96,0%, confirmados laboratorialmente. As regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste registraram 173 (51,2%), 116 (34,3%) e 36 (10,7%) casos, respectivamente,
enquanto que o Nordeste (9) e Norte (4), juntos, detectaram apenas, 3,8% dos casos. Apesar da ocorrência da doença em todas as regiões brasileiras, apenas onze estados registraram casos, dos quais 84,6% do total no Paraná (91/26,9%), Santa Catarina (49/14,5%),
Rio Grande do Sul (33/9,8%), São Paulo (59/17,5%) e Minas Gerais (54/16,0%). O Mato
Grosso detectou 33 casos (9,8%), enquanto que o Maranhão (7), Pará (4), Goiás (3), Rio
Grande do Norte (1) e Bahia (1) notificaram, em conjunto, 4,8% das hantaviroses dos últimos dez anos.
Metade dos indivíduos acometidos (51,0%) eram residentes na área rural; cerca de
65,0% exercia ocupação relacionada com atividades agrícolas e/ou de pecuária e 84,0%
eram do sexo masculino. A faixa etária mais atingida foi a de 20-39 anos (intervalo de 8
meses-66 anos), com 58,3% das ocorrências. Em 139 casos, a infecção ocorreu em ambiente de trabalho. A taxa de letalidade no período foi de 44,7% e 95,7% dos pacientes foram
internados.
6
H
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Detectar precocemente casos e/ou surtos.
• Conhecer a história natural da SCPH no Brasil.
• Identificar fatores de risco associados à doença.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
399
Hantaviroses
• Recomendar medidas de prevenção e controle.
• Estudar a tendência da doença.
Definição de caso de SCPH
Suspeito
• Paciente com doença febril, geralmente acima de 38°C, e mialgias, acompanhadas
de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: calafrio, astenia, dor abdominal,
alterações gastrointestinais, cefaléia, tosse seca, insuficiência respiratória aguda de
etiologia não determinada ou edema pulmonar não-cardiogênico na primeira semana da doença, ou
• Paciente com enfermidade aguda apresentando quadro de edema pulmonar nãocardiogênico com evolução para óbito, ou
• Paciente com doença febril e história de exposição à mesma fonte de infecção de um
ou mais casos de hantavirose, confirmado(s) laboratorialmente.
Confirmado
Critério laboratorial – caso suspeito com os seguintes resultados de exames laboratoriais:
• sorologia reagente para anticorpos séricos específicos para hantavírus da classe IgM,
ou
• soroconversão para anticorpos séricos específicos da classe IgG (aumento de quatro
vezes ou mais no título de IgG, entre a primeira e segunda amostra), ou
• imunohistoquímica de tecidos positiva (identificação de antígenos específicos contra hantavírus), ou
• PCR positivo.
Critério clínico-epidemiológico – indivíduo que tenha freqüentado áreas conhecidas
de transmissão de hantavírus ou exposição à mesma situação de risco de pacientes confirmados laboratorialmente, apresentando, obrigatoriamente, as seguintes alterações:
• raios X de tórax com infiltrado intersticial bilateral nos campos pulmonares, com ou
sem presença de derrame pleural que pode, quando presente, ser uni ou bilateral;
• hemoconcentração (hematócrito > 45%);
• trombocitopenia (plaquetas <130 mil plaquetas/mm3).
Descartado
Todo caso suspeito que durante a investigação tenha diagnóstico confirmado laboratorialmente de outra doença ou que não preencha os critérios de confirmação acima definidos.
Notificação
Doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória, visando tratamento
adequado e desencadeamento de medidas de controle.
400
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hantaviroses
Medidas a serem adotadas
Recomenda-se o isolamento do paciente em condições de proteção com barreiras
(avental, luvas e máscaras dotadas de filtros N95).
Assistência adequada ao paciente: por ser doença aguda de curso rápido, geralmente
há necessidade de internação em unidades de saúde de maior complexidade, inclusive com
unidade de terapia intensiva (UTI), pois a sobrevivência do paciente depende da instituição
precoce de medidas gerais de suporte clínico.
Material para diagnóstico laboratorial: certificar-se de que houve a coleta de material
para o diagnóstico laboratorial, de acordo com as normas técnicas apresentadas no Anexo
1, bem como o devido encaminhamento para o Lacen ou para o laboratório público de
referência.
Investigação epidemiológica – iniciar o mais precocemente a possível investigação
do caso suspeito com vistas à identificação do local provável de infecção (LPI) e os fatores
determinantes para a ocorrência da doença.
6
Roteiro da investigação epidemiológica
A hantavirose é uma doença emergente e ainda desconhecida para muitos profissionais
da rede de serviços de saúde. Em vista de seu grande potencial de infecção, é imprescindível
a adoção de medidas de segurança por parte dos profissionais responsáveis pela investigação, principalmente no que se refere à identificação dos locais prováveis de infecção.
Coleta de dados gerais e de antecedentes epidemiológicos
• Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos aos dados gerais, dados do caso e de residência, além dos dados referentes às
atividades ou situações de risco nos últimos 60 dias anteriores ao início da doença.
• Na impossibilidade de o paciente fornecer os dados, buscar as informações junto aos
familiares, vizinhos e colegas de serviço.
H
Coleta de dados clínicos, de tratamento e laboratoriais
Em geral, quando é notificada a suspeita de hantavirose, os doentes já estão hospitalizados; assim, deve-se levantar as informações do prontuário e entrevistar os profissionais
da área médica e de enfermagem para completar, na ficha epidemiológica, as informações
clínicas e os achados laboratoriais e radiológicos do paciente.
Levantar informações sobre atendimento anterior em outro serviço ou no mesmo hospital.
Busca ativa de comunicantes
Realizar busca ativa de comunicantes do paciente junto à residência e ao local de trabalho ou de lazer, incluindo todos os indivíduos com processo infeccioso inespecífico e
com sintomas respiratórios nos últimos 60 dias antes do aparecimento dos sintomas do
caso índice. Para cada caso suspeito encontrado, coletar material para sorologia e preencher
uma nova ficha de investigação epidemiológica.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
401
Hantaviroses
Identificação do local provável de infecção
Define-se por local provável de infecção (LPI) o(s) local(is) que tenha(m) sido
freqüentado(s) pelo caso suspeito ou confirmado, nas últimas oito semanas (60 dias) antes
do início dos primeiros sintomas. Esses locais devem apresentar condições favoráveis à
presença de roedores silvestres (água, abrigo ou alimento), aliadas a outros fatores, tais
como:
• desmatamento, corte de árvores, aragem, plantio ou colheita em campo;
• transporte, armazenagem e moagem de grãos;
• limpeza de celeiros ou outras construções (tulhas, paióis e silos);
• adentramento e/ou limpeza de residências ou qualquer habitação, desabitadas ou
não ocupadas por algum período, com a presença de roedores;
• roças abandonadas, faixas de capim não ocupadas;
• mudanças temporárias no perfil agrícola que alterem a disponibilidade de alimentos
(grãos) ou outros fenômenos naturais periódicos que aumentem a disponibilidade
de alimentos para os roedores silvestres, como a floração das taquaras;
• fatores ambientais que provoquem o deslocamento de roedores para dentro ou arredores de habitações humanas, tais como desmatamentos, queimadas, enchentes,
alagamentos e outras alterações climáticas.
• exposição a ambiente silvestre em atividades profissionais ou de lazer.
Recomenda-se aos profissionais de saúde que usem máscaras de pressão negativa
com filtro N95 sempre que a investigação epidemiológica exigir que freqüentem locais com suspeita de contaminação por hantavírus, sejam ambientes fechados ou não,
com sinais de infestação de roedores e seus excretas.
Encerramento da investigação epidemiológica
De acordo com as informações levantadas, o investigador deve definir o LPI, bem
como os fatores determinantes da infecção e a conclusão do caso suspeito, com sua confirmação ou descarte.
Investigação ambiental
Com a definição do LPI de qualquer caso humano, há necessidade de se conhecer a
fonte de infecção, ou seja, o roedor reservatório. Em áreas onde ele não é conhecido, deve-se
realizar as atividades de investigação ambiental/ecológica com vistas a determinar a espécie
de roedor que atua como reservatório do hantavírus.
A vigilância ambiental tem por objetivos: identificar as espécies prevalentes de roedores silvestres, determinar as espécies de roedores que podem ser os reservatórios e identificar novas variantes virais, bem como a sua distribuição geográfica .
A captura e manipulação de roedores silvestres e a coleta de amostras são atividades
consideradas de alto risco, que requerem o uso de equipamentos de proteção individual
402
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hantaviroses
NB3. Portanto, devem ser realizadas por técnicos especificamente capacitados e devidamente habilitados pelos serviços de referência da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. É
importante ressaltar que as atividades que envolvam a captura de animais silvestres requerem autorização prévia do Ibama.
Avaliação da extensão da área de transmissão
Em se confirmando o caso, deve-se determinar a magnitude da situação epidemiológica, ou seja, se é um caso isolado ou se está ocorrendo um surto.
Para tanto, deve-se realizar busca ativa de casos suspeitos no município ou, até mesmo,
na região de procedência, em um período de até 60 dias anteriores ao caso índice, identificando-se pacientes com manifestações clínicas compatíveis com a doença. A busca deve atingir
todas as unidades de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, serviço de notificação de óbito).
Para cada caso suspeito encontrado, coletar material, para diagnóstico sorológico, preencher
a ficha de investigação epidemiológica e pesquisar áreas que apresentam risco de infecção.
6
Análise dos dados e relatório final
Os dados dos pacientes (faixa etária, sexo, ocupação, etc.), da doença, do tratamento
(sinais e sintomas, achados laboratoriais, internação, evolução, etc.) e os fatores de risco
devem ser organizados em tabelas, gráficos e mapas. Taxas e estimativas de incidência, letalidade, mortalidade, dentre outras, são importantes para se conhecer a enfermidade.
Informações a respeito da data dos primeiros sintomas, freqüência e distribuição dos
principais sinais e/ou sintomas, área geográfica, forma de infecção, ocupação e evolução do
caso serão úteis nas análises que permitirão definir o perfil epidemiológico dos indivíduos
acometidos e expostos, bem como o local ou locais de ocorrência da doença, para que se
possa desenvolver as ações de prevenção e controle.
Os relatórios parcial e final sobre casos de hantavirose, elaborados a partir dessas análises, são essenciais não só para o acompanhamento da tendência da doença mas também
para se instruir os profissionais e serviços de saúde, bem como direcionar as medidas indicadas.
H
Medidas de prevenção e controle
Em relação aos roedores
A estratégia de controle será definida com base no conhecimento prévio da biologia
e do comportamento dos roedores, de acordo com seus habitats em cada área (domiciliar,
peridomiciliar ou silvestre).
Desta forma, o controle pode abranger três linhas de ação:
Anti-ratização
• Eliminar todos os resíduos, entulhos e objetos inúteis que possam servir para abrigos, tocas e ninhos de roedores, bem como reduzir suas fontes de água e alimento.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
403
Hantaviroses
• Armazenar insumos e produtos agrícolas (grãos, hortigranjeiros e frutas) em silos
ou tulhas situados a uma distância mínima de 30 metros do domicílio. O silo ou
tulha deverá estar suspenso a uma altura de 40 cm do solo, com escada removível e
ratoeiras dispostas em cada suporte.
• Os produtos armazenados no interior dos domicílios devem ser conservados em
recipientes fechados e a 40 cm do solo.
• Vedar fendas e quaisquer outras aberturas com tamanho superior a 0,5 cm, para
evitar a entrada de roedores nos domicílios.
• Remover diariamente, no período noturno, as sobras dos alimentos de animais domésticos.
• Caso não exista coleta regular, os lixos orgânico e inorgânico devem ser enterrados
separadamente, respeitando-se uma distância mínima de 30 metros do domicílio e
de fontes de água.
• Qualquer plantio deve sempre obedecer a uma distância mínima de 50 metros do
domicílio.
• O armazenamento em estabelecimentos comerciais deve seguir as mesmas orientações para o armazenamento em domicílio e em silos de maior porte.
• Em locais onde haja coleta de lixo rotineira, os lixos orgânico e inorgânico devem
ser acondicionados em latões com tampa ou em sacos plásticos e mantidos sobre
suporte de aproximadamente 1,5 metro de altura do solo.
Desratização
Em áreas rurais não é rotineiramente recomendado o controle químico de roedores,
tendo em vista que as medidas de anti-ratização geralmente são suficientes. Se necessário,
frente a uma alta infestação, a mesma só poderá ser feita nas áreas limite entre o domicílio/
peridomicílio e peridomicílio/silvestre, sempre por profissionais especializados.
Manejo ambiental
As medidas de prevenção e controle devem ser fundamentadas em manejo ambiental
através, principalmente, de práticas de higiene e medidas corretivas no meio ambiente, tais
como saneamento e melhoria nas condições de moradia, tornando as habitações e os locais
de trabalho impróprios à instalação e à proliferação de roedores (anti-ratização), associados às desratizações focais (no domicílio e/ou no peridomicílio), quando extremamente
necessário.
Em relação à população em geral
Informar os moradores da região sobre a doença, os roedores envolvidos e as vias
de transmissão. Orientá-los sobre as medidas de prevenção e controle da hantavirose e
a importância de procederem as ações de combate aos reservatórios para manter a área
livre da presença desses animais, como, por exemplo, roçar o terreno em volta da casa,
dar destino adequado aos entulhos existentes, manter alimentos estocados em recipientes
404
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Hantaviroses
fechados e à prova de roedores, além de outras medidas de efeito imediato e necessárias à
situação específica.
Em relação aos locais prováveis de infecção (LPI)
• Limpeza e descontaminação do interior de ambientes dos supostos LPI, onde tenham sido diagnosticados casos de hantavirose. Uma equipe especificamente treinada deverá orientar e realizar esta atividade, sempre munida de equipamentos de
proteção individual de nível de biossegurança 3, seguindo as normas de biossegurança.
• Abrir as portas e janelas das residências, habitações, silos paióis, etc. para serem
arejadas por, no mínimo, 30 minutos antes de ingressar no ambiente para proceder
a limpeza do local.
• Umedecer pisos, paredes e utensílios no interior dos imóveis contaminados, bem
como roedores mortos ou presença ou sinais de fezes e urina de ratos, com uma
solução de água sanitária a 10% (1 litro de água sanitária + 9 litros de água) ou de
detergente. Aguardar, pelo menos, meia hora antes de iniciar a limpeza, que deve ser
sempre feita com o piso e locais bastante úmidos.
• Os alimentos e outros materiais com evidências de contaminação devem ser eliminados em sacos plásticos resistentes, previamente molhados com desinfetante e
enterrados a uma profundidade de 60 cm.
• Utilizar luvas de borracha durante a manipulação de roedores mortos e objetos ou
alimentos contaminados. Ao término do trabalho, as luvas devem ser lavadas com
solução de desinfetante, antes de serem retiradas; e em seguida, lavar as mãos com
água e sabão.
6
H
Em relação aos laboratórios de pesquisa
Todos os roedores silvestres devem ser manipulados como fontes potenciais de infecção. Roedores de laboratório inoculados ou expostos a sangue, componentes do sangue,
tecidos e excretas de roedores silvestres também devem ser considerados potencialmente
infectados por hantavírus. Tanto com animais silvestres como de laboratório, há risco de
transmissão por aerossol de urina, fezes ou saliva, desde que estejam infectados com hantavírus.
Em relação aos profissionais de vigilância
As habitações que tenham permanecido fechadas por muito tempo deverão ser ventiladas por, pelo menos, meia hora antes que pessoas entrem nas mesmas. Os técnicos que
ingressarem em locais fechados e passíveis de contaminação com excretas de roedores devem fazê-lo, preferencialmente, com proteção respiratória usando máscara ou respiradores
com filtros de alta eficiência N95.
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405
Hantaviroses
Em relação aos ecoturistas, pesquisadores de fauna e flora,
caçadores e pescadores
Os acampamentos devem ser montados longe de locais com presença de roedores.
Ninhos, escombros, lixões, acúmulos de lenha ou produtos agrícolas, palha ou outros materiais são habitats preferenciais destes animais. Nesses acampamentos, os alimentos e resíduos devem ser mantidos em recipientes fechados e à prova de ratos. E, quando descartados, ser enterrados a uma distância maior que 30m do acampamento. A água deve estar
contida em recipientes fechados e recomenda-se que seja fervida ou clorada (duas gotas de
água sanitária para cada litro d’água. Aguardar meia hora antes de consumir).
406
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Hantaviroses
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
Uma
amostra
Sangue
venoso (soro)
Elisa IgM
Elisa IgG
OBS:coágulos
de sangue são
muito úteis
para o diagnóstico. Sangue do
coração (em
caso de óbito)
Soro, plasma,
sangue, coágulo, ou biópsia
de pulmão
Em caso de
óbito, colher
fragmentos
de pulmão,
rim, baço
e fígado
Material
de necropsia
IHC
Média
de 5ml
de sangue
ou de soro
(fragmentos de
pulmão, baço,
rim, linfonodo,
coração, pâncreas, glândula
pituitária, cérebro e fígado)
Se não
concluir
o diagnóstico,
colher até
duas a três
amostras
do paciente
vivo
ou
2ª amostra:
nos primeiros dias de
internação.
Tubo seco
(sem anticoagulante)
3ª amostra:
2-3 semanas
após o início
dos sintomas
Necropsia:
realizar
até 8 horas
após o
óbito
Uma
amostra
Recipiente
1ª amostra:
logo no
primeiro
atendimento
médico.
Uma
amostra
Mínimo
1,5 cm
por tecido
Fragmentos
de 1cm2
fixado em
formol tamponado a
10% ou em
blocos de
parafina
Período
da coleta
Colher até o
7º dia após
o início dos
sintomas
Média
de 5ml
fragmento
de tecido
PCR
Nº de
amostras
Necropsia:
realizar,
preferencialmente, até 8
horas após o
óbito
Armazenamento/
conservação
Preferencialmente
em congeladores
(freezers) a -20oC
Em geladeira, por
um tempo máximo de 24 horas
Transporte
Caixa de
isopor, com
gelo reciclável
6
Tubo
criogênico:
plástico
resistente a
baixíssimas
temperaturas
Imediatamente
após a coleta,
colocar em congeladores (freezers)
a -70oC, ou em
gelo seco ou nitrogênio líquido
Frasco
contendo
solução
de formol
tamponado
a 10%.
Não refrigerar!
Conservar em
temperatura
ambiente
Caixa apropriada
para transporte
de materiais infectantes: recipiente
de alumínio com
tampa plástica
de rosca, suporte
para o recipiente de alumínio,
algodão hidrófilo,
caixa de isopor
com gelo seco e
caixa de papelão
para proteção
externa ao isopor
H
Não refrigerar!
Transportar em
temperatura
ambiente
Bloco parafinado
Observações quanto ao encaminhamento das amostras
• As amostras de sangue e/ou coágulo e/ou soro a serem analisadas deverão ser encaminhadas para o laboratório de referência em embalagens e condições apropriadas,
constituídas basicamente de: amostra contida em tubo criogênico, com tampa de
rosca, envolto em algodão hidrófilo e plástico com bolhas de proteção; recipiente de
metal com tampa de rosca com fechamento hermético para conter os tubos com as
amostras; caixa de isopor com gelo seco, contendo suporte para o recipiente metálico. Embalagens comercialmente disponíveis.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
407
Hantaviroses
• Quando não for possível a utilização dessas embalagens, observar o mínimo de
segurança. Utilizar frascos secos, de plástico resistente (de preferência criotubos;
nunca utilizar frascos de vidro), com fechamento hermético, protegidos com papel
toalha ou gaze. Cada frasco deve estar devidamente identificado com nome do paciente e data da coleta do material. Cada amostra deverá ser acompanhada de ficha
de solicitação de exames, devidamente preenchida, contendo todas as informações
relativas ao paciente (nome completo, idade, data do início dos sintomas, data da coleta da amostra, procedência, atividade ocupacional, contato com roedores silvestres
ou seus excretas).
• O transporte deverá ser feito em caixa de isopor contendo gelo seco em quantidade suficiente para que as amostras cheguem ao laboratório ainda congeladas. Não
havendo disponibilidade de gelo seco ou nitrogênio líquido, o transporte de soro
poderá ser feito em caixa de isopor contendo gelo reciclável, sempre se observando os cuidados para evitar acidentes com o material biológico e assegurando que a
quantidade de gelo seja suficiente para manter o material refrigerado até a chegada
no laboratório. Neste caso, a amostra possivelmente não será adequada para a realização de RT-PCR.
• O envio de amostras para análise deverá ser comunicado, por telefone, ao laboratório, principalmente se a remessa for feita nos últimos dias da semana; é preciso
planejar a chegada e recepção dos materiais no laboratório em finais de semana e/ou
feriados, para não haver perda ou extravio de amostras.
• O coágulo, retirado da amostra de sangue dos casos suspeitos de hantavirose (não de
seus comunicantes), e que deve ser preservado para realização de RT-PCR, deverá
ser encaminhado juntamente com a respectiva amostra de soro sempre em gelo seco
ou botijão de nitrogênio líquido.
408
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
HEPATITES VIRAIS
CID 10: B15 (Hepatite A); B16 (Hepatite B);
B17.1 (Hepatite C); B17.8 (Hepatite D); B17.2 (Hepatite E)
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
As hepatites virais são doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos, com
tropismo primário pelo fígado, que apresentam características epidemiológicas, clínicas e
laboratoriais distintas.
A distribuição das hepatites virais é universal, sendo que a magnitude varia de região
para região, de acordo com os diferentes agentes etiológicos. No Brasil, esta variação também ocorre.
As hepatites virais têm grande importância para a saúde pública e para o individuo,
pelo número de indivíduos atingidos e pela possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas.
6
Agente etiológico
Os agentes etiológicos que causam hepatites virais mais relevantes do ponto de vista
clínico e epidemiológico são designados por letras do alfabeto (vírus A, vírus B, vírus C,
vírus D e vírus E). Estes vírus têm em comum a predileção para infectar os hepatócitos
(células hepáticas). Entretanto, divergem quanto às formas de transmissão e conseqüências
clínicas advindas da infecção. São designados rotineiramente pelas seguintes siglas: vírus
da hepatite A (HAV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), vírus da hepatite D (HDV) e vírus da hepatite E (HEV).
Existem alguns outros vírus que também podem causar hepatite (ex: TTV, vírus G,
SEV-V). Todavia, seu impacto clínico e epidemiológico é menor. No momento, a investigação destes vírus está basicamente concentrada em centros de pesquisa.
H
Reservatório
O homem é o único reservatório com importância epidemiológica. Os outros reservatórios apresentam importância como modelos experimentais para a pesquisa básica em
hepatites virais.
O HAV tem reservatório também em primatas, como chimpanzés e sagüis. Experimentalmente, a marmota, o esquilo e o pato-de-pequim podem ser reservatórios para o
HBV; já o chimpanzé, para o HBV, HCV e HEV. Relatos recentes de isolamento do HEV
em suínos, bovinos, galinhas, cães e roedores levantam a possibilidade de que esta infecção
seja uma zoonose.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
409
Hepatites Virais
Modo de transmissão
Quanto às formas de transmissão, as hepatites virais podem ser classificadas em dois
grupos: o grupo de transmissão fecal-oral (HAV e HEV) tem seu mecanismo de transmissão ligado a condições de saneamento básico, higiene pessoal, qualidade da água e dos
alimentos. A transmissão percutânea (inoculação acidental) ou parenteral (transfusão) dos
vírus A e E é muito rara, devido ao curto período de viremia dos mesmos. O segundo grupo (HBV, HCV, e HDV) possui diversos mecanismos de transmissão, como o parenteral,
sexual, compartilhamento de objetos contaminados (agulhas, seringas, lâminas de barbear,
escovas de dente, alicates de manicure), utensílios para colocação de piercing e confecção
de tatuagens e outros instrumentos usados para uso de drogas injetáveis e inaláveis. Há
também o risco de transmissão através de acidentes perfurocortantes, procedimentos cirúrgicos e odontológicos e hemodiálises sem as adequadas normas de biossegurança. Hoje,
após a triagem obrigatória nos bancos de sangue (desde 1978 para a hepatite B e 1993 para a
hepatite C), a transmissão via transfusão de sangue e hemoderivados é relativamente rara.
A transmissão por via sexual é mais comum para o HBV que para o HCV. Na hepatite
C poderá ocorrer a transmissão principalmente em pessoa com múltiplos parceiros, coinfectada com o HIV, com alguma lesão genital (DST), alta carga viral do HCV e doença
hepática avançada.
Os vírus das hepatites B, C e D possuem também a via de transmissão vertical (da
mãe para o bebê). Geralmente, a transmissão ocorre no momento do parto, sendo a via
transplacentária incomum. A transmissão vertical do HBV ocorre em 70% a 90% dos casos
de mães com replicação viral (HBeAg positivas); nos casos de mães sem replicação viral
(HBeAg negativas) a probabilidade varia entre 30% a 50% – o que não altera a conduta a
ser adotada para a criança (vacinação e imunoglobulina nas primeiras doze horas de vida).
Na hepatite C, a transmissão vertical é bem menos freqüente, podendo ocorrer em aproximadamente 6% dos casos. Entretanto, se a mãe for co-infectada com o HIV, este percentual
sobe para até 17%. A transmissão vertical não tem importância para os vírus A e E.
Período de incubação
Varia de acordo com o agente (Quadro 1).
Período de transmissibilidade
Varia de acordo com o agente (Quadro 1).
Hepatite B – a presença do HBsAg (assim como o HBV-DNA), que determina a condição de portador do HBV (sintomático ou assintomático), indica a existência de risco de
transmissão do vírus. Pacientes com HBeAg (marcador de replicação viral) reagente têm
maior risco de transmissão do HBV do que pacientes HBeAg não-reagentes.
Hepatite C – a presença do HCV-RNA, que determina a condição de viremia do HCV,
indica o risco de transmissão da hepatite C. Alguns estudos indicam que a carga viral do
HCV é diretamente proporcional ao risco de transmissão do vírus. Em gestantes co-infectadas pelo HCV e HIV, a chance de transmissão vertical é maior do que em gestantes
infectadas apenas pelo HCV.
410
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
Quadro 1. Principais características dos vírus que causam a hepatite
Agente
etiológico
Genoma
Modo de
transmissão
Período de
incubação
Período de transmissibilidade
HAV
RNA
Fecal-oral
15-45 dias
(média de 30 dias)
Desde duas semanas antes do início dos sintomas até
o final da segunda semana da doença
HBV
DNA
Sexual, parenteral,
percutânea, vertical
30-180 dias
(média de 60
a 90 dias)
Duas a três semanas antes dos primeiros sintomas,
se mantendo durante a evolução clínica da doença.
O portador crônico pode transmitir o HBV durante anos
HCV
RNA
Parenteral,
percutânea,
vertical, sexual
15-150 dias
Uma semana antes do início dos sintomas e mantém-se
enquanto o paciente apresentar HCV-RNA detectável
HDV
RNA
Sexual, parenteral,
percutânea, vertical
30-180 dias. Este
período é menor
na superinfecção
Uma semana antes do início dos sintomas da infecção
conjunta (HBV e HDV). Na superinfecção não se conhece este período
HEV
RNA
Fecal-oral
14-60 dias
(média de 42 dias)
Duas semanas antes do início dos sintomas até o final
da segunda semana da doença
6
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente e específica
para cada tipo de vírus.
A imunidade conferida pelas vacinas contra a hepatite A e hepatite B é duradoura e
específica. Os filhos de mães imunes podem apresentar imunidade passiva e transitória
durante os primeiros nove meses de vida.
Detecção de imunidade adquirida naturalmente
Para a hepatite A – a imunidade adquirida naturalmente é estabelecida pela presença
do anti-HAV IgG (ou anti-HAV total positivo com anti-HAV IgM negativo). Este padrão
sorológico é indistinguível da imunidade vacinal.
Para a hepatite B – a imunidade adquirida naturalmente é estabelecida pela presença
concomitante do anti-HBs e anti-HBc IgG ou total. Eventualmente, o anti-HBc pode ser
o único indicador da imunidade natural detectável sorologicamente, pois com o tempo o
nível de anti-HBs pode tornar-se indetectável. A ocorrência do anti-HBs como marcador
isolado de imunidade contra o HBV adquirida naturalmente é possível, embora seja muito
pouco freqüente. É aconselhável considerar a possibilidade de resultado falso-positivo nesta
situação e repetir os marcadores para esclarecimento do caso.
Para a hepatite C – a pessoa infectada pelo vírus C apresenta sorologia anti-HCV reagente por um período indefinido; porém, este padrão não distingue se houve resolução da
infecção e conseqüente cura ou se a pessoa continua portadora do vírus.
H
Detecção de imunidade pós-vacinal
Existem disponíveis, no momento, vacinas contra a hepatite A e contra a hepatite B.
Para a hepatite A – são susceptíveis à infecção pelo HAV pessoas sorologicamente
negativas para o anti-HAV IgG. A vacina contra a hepatite A induz à formação do antiHAV IgG.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
411
Hepatites Virais
Para a hepatite B – são susceptíveis pessoas com perfil sorológico HBsAg, anti-HBc
e anti-HBs negativos concomitantemente. A vacina contra a hepatite B tem como imunizante o HBsAg (produzido por técnica do DNA recombinante) induzindo, portanto, à
formação do anti-HBs, isoladamente.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Após entrar em contato com o vírus da hepatite o indivíduo pode desenvolver um
quadro de hepatite aguda, podendo apresentar formas clínicas oligo/assintomática ou sintomática. No primeiro caso, as manifestações clínicas estão ausentes ou são bastante leves
e atípicas, simulando um quadro gripal. No segundo, a apresentação é típica, com os sinais
e sintomas característicos da hepatite como febre, icterícia e colúria.
A fase aguda (hepatite aguda) tem seus aspectos clínicos e virológicos limitados aos
primeiros seis meses da infecção e a persistência do vírus após este período caracteriza a
cronificação da infecção. Apenas os vírus B, C e D têm potencial para desenvolver formas
crônicas de hepatite. O potencial para cronificação varia em função de alguns fatores ligados aos vírus e outros ligados ao hospedeiro. De modo geral, a taxa de cronificação do HBV
é de 5% a 10% dos casos em adultos. Todavia, esta taxa chega a 90% para menores de 1 ano
e 20% a 50% para crianças de 1 a 5 anos. Pessoas com qualquer tipo de imunodeficiência
também têm maior chance de cronificação após uma infecção pelo HBV. Para o vírus C, a
taxa de cronificação varia entre 60% a 90% e é maior em função de alguns fatores do hospedeiro (sexo masculino, imunodeficiências, mais de 40 anos). A taxa de cronificação do vírus
D varia em função de aspectos ligados ao tipo de infecção (co-infecção/ superinfecção) e de
taxa de cronificação do HBV.
Fase aguda (hepatite aguda)
Os vírus hepatotrópicos apresentam uma fase aguda da infecção. No nosso meio, a
maioria dos casos de hepatite aguda sintomática deve-se aos vírus A e B (na região Norte
a co-infecção HBV/HDV também é importante causa de hepatite aguda sintomática). O
vírus C costuma apresentar uma fase aguda oligo/assintomática, de modo que responde
por apenas pequena parte das hepatites agudas sintomáticas.
Período prodrômico ou pré-ictérico – é o período após a fase de incubação do agente etiológico e anterior ao aparecimento da icterícia. Os sintomas são inespecíficos como
anorexia, náuseas, vômitos, diarréia (ou raramente constipação), febre baixa, cefaléia, malestar, astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou olfato, mialgia, fotofobia, desconforto no
hipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite e exantema papular ou maculopapular.
Fase ictérica – com o aparecimento da icterícia, em geral há diminuição dos sintomas prodrômicos. Existe hepatomegalia dolorosa, com ocasional esplenomegalia. Ocorre
hiperbilirrubinemia intensa e progressiva, com aumento da dosagem de bilirrubinas totais,
principalmente à custa da fração direta. A fosfatase alcalina e a gama-glutamil-transferase
412
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
(GGT) permanecem normais ou discretamente elevadas. Há alteração das aminotransferases, podendo variar de 10 a 100 vezes o limite superior da normalidade. Este nível retorna
ao normal no prazo de algumas semanas, porém se persistirem alterados por um período
superior a seis meses, deve-se considerar a possibilidade de cronificação da infecção.
Fase de convalescença – período que se segue ao desaparecimento da icterícia, quando
retorna progressivamente a sensação de bem-estar. A recuperação completa ocorre após
algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses.
Fase crônica (hepatite crônica)
Casos nos quais o agente etiológico permanece no hospedeiro após seis meses do início da infecção. Os vírus A e E não cronificam, embora o HAV possa produzir casos que
se arrastam por vários meses. Os vírus B, C e D são aqueles que têm a possibilidade de
cronificar. Os indivíduos com infecção crônica funcionam como reservatórios do respectivo vírus, tendo importância epidemiológica por serem os principais responsáveis pela
perpetuação da transmissão.
Portador assintomático – indivíduos com infecção crônica que não apresentam manifestações clínicas, que têm replicação viral baixa ou ausente e que não apresentam evidências de alterações graves à histologia hepática. Em tais situações, a evolução tende a ser
benigna, sem maiores conseqüências para a saúde. Contudo, estes indivíduos são capazes
de transmitir hepatite e têm importância epidemiológica na perpetuação da endemia.
Hepatite crônica – indivíduos com infecção crônica que apresentam sinais histológicos de atividade da doença (inflamação, com ou sem deposição de fibrose) e que do ponto
de vista virológico caracterizam-se pela presença de marcadores de replicação viral. Podem
ou não apresentar sintomas na dependência do grau de dano hepático (deposição de fibrose) já estabelecido. Apresentam maior propensão para uma evolução desfavorável, com
desenvolvimento de cirrose e suas complicações. Eventualmente, a infecção crônica só é
diagnosticada quando a pessoa já apresenta sinais e sintomas de doença hepática avançada
(cirrose e/ou hepatocarcinoma).
6
H
Hepatite fulminante
Este termo é utilizado para designar a insuficiência hepática no curso de uma hepatite
aguda. É caracterizada por comprometimento agudo da função hepatocelular, manifestado
por diminuição dos fatores da coagulação e presença de encefalopatia hepática no período
de até 8 semanas após o início da icterícia. A mortalidade é elevada (40% e 80% dos casos).
A etiologia da hepatite fulminante varia conforme as regiões geográficas. Nos países
mediterrâneos, a maioria dos casos (45%) é de origem indeterminada e a hepatite A e B
representam 15% e 10% dos casos. Em contraste, a hepatite por paracetamol é a principal
causa na Inglaterra. Hepatite aguda C aparentemente não está associada a casos de hepatite
fulminante. A co-infecção HBV/HDV pode ser uma causa em regiões endêmicas para os
dois vírus. Na Índia, uma causa freqüente de hepatite fulminante entre mulheres grávidas
é a hepatite por vírus E.
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Hepatites Virais
Diagnóstico diferencial
O perfil epidemiológico da macrorregião e a sazonalidade orientam a lista de enfermidades que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. No período prodrômico
os principais diagnósticos diferenciais são: mononucleose infecciosa (causada pelo vírus
Epstein Barr), toxoplasmose, citomegalovírus e outras viroses. Nestas patologias, quando
há aumento de aminotransferases, geralmente são abaixo de 500UI. No período ictérico,
temos algumas doenças infecciosas como leptospirose, febre amarela, malária e, mais incomum, dengue hemorrágica; para identificação do agente etiológico existem testes diagnósticos específicos para cada patologia citada. Temos também outras causas de hepatite como
hepatite alcoólica, hepatite medicamentosa, hepatite auto-imune, hepatites reacionais ou
transinfecciosas (acompanham infecções gerais, como sepse), icterícias hemolíticas (como
anemia falciforme) e colestase extra-hepática por obstrução mecânica das vias biliares (tumores, cálculo de vias biliares, adenomegalias abdominais).
Diagnóstico laboratorial
Exames inespecíficos
Aminotransferases (transaminases – a aspartato aminotransferase (AST/TGO) e a
alanino aminotransferase (ALT/TGP) são marcadores de agressão hepatocelular. Nas formas agudas, chegam a atingir, habitualmente, valores até 25 a 100 vezes acima do normal,
embora alguns pacientes apresentem níveis bem mais baixos, principalmente na hepatite
C. Em geral, essas enzimas começam a elevar-se uma semana antes do início da icterícia
e normalizam-se em cerca de três a seis semanas de curso clínico da doença. Nas formas
crônicas, na maioria das vezes não ultrapassam 15 vezes o valor normal e, por vezes, em
indivíduos assintomáticos, é o único exame laboratorial sugestivo de doença hepática.
Bilirrubinas – elevam-se após o aumento das aminotransferases e, nas formas agudas,
podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima do normal. Apesar de haver aumento tanto
da fração não-conjugada (indireta) quanto da conjugada (direta), esta última apresenta-se
predominante. Na urina pode ser detectada precocemente, antes mesmo do surgimento da
icterícia.
Proteínas séricas – normalmente, não se alteram nas formas agudas. Nas hepatites
crônicas e cirrose, a albumina apresenta diminuição acentuada e progressiva.
Fosfatase alcalina – pouco se altera nas hepatites por vírus, exceto nas formas colestáticas, quando se apresenta em níveis elevados. Devido à presença normalmente aumentada
da fração osteoblástica dessa enzima durante o período de crescimento, esse aspecto deve
ser considerado no acompanhamento de crianças e adolescentes.
Gama-glutamiltransferase (GGT) – é a enzima mais relacionada aos fenômenos colestáticos, sejam intra e/ou extra-hepáticos. Em geral, há aumento nos níveis da GGT em
icterícias obstrutivas, hepatopatias alcoólicas, hepatites tóxico-medicamentosas, tumores
hepáticos. Ocorre elevação discreta nas hepatites virais, exceto nas formas colestáticas.
Atividade de protrombina – nas formas agudas benignas esta prova sofre pouca alteração, exceto nos quadros de hepatite fulminante. Nos casos de hepatite crônica, o alarga-
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Hepatites Virais
mento do tempo de protrombina indica a deterioração da função hepática e em associação
com alguns outros fatores clínicos e laboratoriais (encefalopatia, ascite, aumento de bilirrubina, queda da albumina) compõe a classificação de Child (um importante e prático meio
de avaliar o grau de deterioração da função hepática, além de um marcador prognóstico).
Alfafetoproteína – não tem valor clínico na avaliação das hepatites agudas. A presença de valores elevados, ou progressivamente crescentes, em pacientes portadores de hepatite
crônica, em geral indica o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, sendo por isto
utilizada no screening deste tumor do fígado em pacientes cirróticos (Obs: pacientes com
hepatite crônica pelo HBV podem desenvolver carcinoma hepatocelular mesmo sem a presença de cirrose hepática).
Hemograma – a leucopenia é habitual nas formas agudas, entretanto muitos casos
cursam sem alteração no leucograma. A presença de leucocitose sugere intensa necrose
hepatocelular ou a associação com outras patologias. Não ocorrem alterações significativas
na série vermelha. A plaquetopenia pode ocorrer na infecção crônica pelo HCV.
6
Provas específicas
Marcadores sorológicos – em caso de hepatite aguda deve-se avaliar a faixa etária do
paciente, a história pregressa de hepatites virais ou icterícia e a presença de fatores de risco,
como o uso de drogas injetáveis, prática sexual não segura, contato com pacientes portadores de hepatite. Estas informações auxiliarão na investigação. Contudo, deve-se lembrar
que não é possível determinar a etiologia de uma hepatite aguda apenas com base em dados
clínicos e epidemiológicos (exceto em surtos de hepatite aguda pelo vírus A, que tenham
vínculo epidemiológico com um caso confirmado laboratorialmente). Respeitando-se as
ressalvas já feitas, recomenda-se em caso de suspeita de hepatite aguda a pesquisa inicial
dos marcadores sorológicos: anti-HAV IgM, HBsAg , anti-HBc (total) e anti-HCV* (caso
haja justificativa com base na história clínica). A necessidade da pesquisa de marcadores adicionais poderia ser orientada pelos resultados iniciais. Faz parte das boas práticas
do laboratório manter acondicionados os espécimes já examinados por, pelo menos, duas
semanas após a emissão do laudo, tempo necessário para elucidar eventuais dúvidas ou
complementar algum exame referente à amostra.
H
Hepatite A
Anti-HAV IgM – a presença deste marcador é compatível com infecção recente pelo
HAV, confirmando o diagnóstico de hepatite aguda A. Este marcador surge precocemente
na fase aguda da doença, começa a declinar após a segunda semana e desaparece após 3
meses.
Anti-HAV IgG – os anticorpos desta classe não permitem identificar se a infecção é
aguda ou trata-se de infecção pregressa. Este marcador está presente na fase de convalescença e persiste indefinidamente. É um importante marcador epidemiológico por demonstrar a circulação do vírus em determinada população.
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Hepatites Virais
Quadro 2. Interpretação dos marcadores sorológicos da hepatite A
Anti-HAV total
Anti-HAV IgM
Interpretação
(+)
(+)
Infecção recente/hepatite aguda pelo HAV
(+)
(-)
Infecção passada ou imunizado (ver história vacinal)
(-)
(-)
Ausência de contato com o vírus, indivíduo não-imune (susceptível)
Hepatite B
São marcadores de triagem para a hepatite B: HBsAg e anti-HBc.
HBsAg (antígeno de superfície do HBV) – primeiramente denominado como antígeno Austrália. É o primeiro marcador a surgir após a infecção pelo HBV, em torno de
30 a 45 dias, podendo permanecer detectável por até 120 dias. Está presente nas infecções
agudas e crônicas.
Anti-HBc (anticorpos IgG contra o antígeno do núcleo do HBV) – é um marcador
que indica contato prévio com o vírus. Permanece detectável por toda a vida nos indivíduos
que tiveram a infecção (mesmo naqueles que não cronificaram, ou seja, eliminaram o vírus). Representa importante marcador para estudos epidemiológicos.
Quadro 3. Interpretação e conduta do screening sorológico para hepatite B
HBsAg
Anti-HBc
Interpretação/conduta
(+)
(-)
Início de fase aguda ou falso positivo/Repetir sorologia após 15 dias
(+)
(+)
Hepatite aguda ou crônica/Solicitar anti-HBc IgM
(-)
(+)
Janela imunológica ou falso-positivo ou cura/ Solicitar anti-HBs
(-)
(-)
Não infectado
Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno do núcleo do HBV) – é
um marcador de infecção recente, portanto confirma o diagnóstico de hepatite B aguda.
Pode persistir por até 6 meses após o início da infecção.
Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície do HBV) – indica imunidade
contra o HBV. É detectado geralmente entre 1 a 10 semanas após o desaparecimento do
HBsAg e indica bom prognóstico. É encontrado isoladamente em pacientes vacinados.
HBeAg (antígeno “e” do HBV) – é indicativo de replicação viral e, portanto, de alta
infectividade. Está presente na fase aguda, surge após o aparecimento do HBsAg e pode
permanecer por até 10 semanas. Na hepatite crônica pelo HBV, a presença do HBeAg indica replicação viral e atividade da doença (maior probabilidade de evolução para cirrose).
Anti-HBe (anticorpo contra o antígeno “e” do HBV) – marcador de bom prognóstico na hepatite aguda pelo HBV. A soroconversão HBeAg para anti-HBe indica alta pro-
*A solicitação do anti-HCV segue o racional de que caso se trate de uma hepatite aguda pelo HCV o primeiro teste
sorológico será negativo (janela imunológica) e o segundo, realizado 3 a 6 meses após, será positivo, o que caracteriza um quadro agudo com soroconversão.
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Hepatites Virais
babilidade de resolução da infecção nos casos agudos (ou seja, provavelmente o indivíduo
não vai se tornar um portador crônico do vírus). Na hepatite crônica pelo HBV a presença
do anti-HBe, de modo geral, indica ausência de replicação do vírus, ou seja, menor atividade da doença e, com isso, menor chance de desenvolvimento de cirrose.
Quadro 4. Resumo das definições de caso de hepatite viral por vírus B, a partir
dos resultados sorológicos
Condição de caso
HBsAg
Anti-HBc
Anti-HBc IgM
HBeAg
Anti-HBe
Anti-HBs
Susceptível
(-)
(-)
(-)
(-)
(-)
(-)
Incubação
(+/-)
(-)
(-)
(-)
(-)
(-)
Hepatite B aguda
(+)
(+)
(+)
(+/-)
(+/-)
(-)
Final da fase aguda/
janela imunológica
(-)
(+)
(-)
(-)
(+)
Hepatite B fase crônica
(+)
(+)
(-)
(+/-)
(+/-)
(-)
Hepatite B curada
(-)
(+)
(-)
(-)
(+)
(+)*
Imunizado por vacinação
(-)
(-)
(-)
(-)
(-)
(+)
(-)
6
Legenda: (+) positivo (-) negativo
*Em alguns casos de hepatite B curada, o anti-HBs não é detectado por estar em baixos títulos.
Nos casos de hepatite B (forma aguda, crônica ou fulminante) procedente de áreas
conhecidas com circulação do HDV (região amazônica), será necessário investigar
hepatite D (delta).
H
Hepatite C
Anti-HCV (anticorpos contra o vírus HCV) – é o marcador de triagem para a hepatite C. Indica contato prévio com o vírus, mas não define se a infecção é aguda, crônica ou
se já foi curada.
O diagnóstico de infecção aguda só pode ser feito com a viragem sorológica documentada, isto é, paciente inicialmente anti-HCV negativo que converte, tornando-se anti-HCV
positivo e HCV-RNA positivo, detectado por técnica de biologia molecular. A infecção
crônica deve ser confirmada pela pesquisa de HCV-RNA.
HCV-RNA (RNA do HCV) – é o primeiro marcador a aparecer entre uma a duas semanas após a infecção. É utilizado para confirmar a infecção em casos crônicos, monitorar
a resposta ao tratamento e confirmar resultados sorológicos indeterminados, em especial
em pacientes imunossuprimidos.
Hepatite D
O marcador sorológico mais usado é o anti-HDV (total).
O vírus Delta é um vírus defectivo (incompleto) que não consegue, por si só, repro-
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417
Hepatites Virais
duzir seu próprio antígeno de superfície, o qual seria indispensável para exercer sua ação
patogênica e se replicar nas células hepáticas. Desta forma, necessita da presença do vírus
B, havendo duas possibilidades para a ocorrência da infecção pelo HDV:
• Superinfecção – infecção pelo vírus delta em um portador crônico do HBV;
• Co-infecção – infecção simultânea pelo HBV e Delta em indivíduo susceptível.
Quadro 5. Interpretação sorológica da hepatite D
Formas
HBsAg
AntiHBc
Anti-HBcIgM
AntiHDV total
AntiHBs
Co-infecção
(+)
(+)
(+)
(+)*
(-)
Superinfecção
(+)
(+)
(-)
(+)*
(-)
Cura
(-)
(+)
(-)
(+)**
(+)
*O antiHDIgM e IgG em altos títulos **O antiHD-IgG positivo em baixos títulos
Hepatite E
A hepatite aguda E é sorologicamente caracterizada por eventual conversão sorológica para anti-HEV ou detecção de anti-HEV IgM.
Quadro 6. Interpretação sorológica da hepatite E
Anti-HEV total
Anti-HEV IgM
Interpretação
(+) / (-)
(+)
Infecção recente pelo HEV
(+)
(-)
Exposição prévia pelo HEV
(-)
(-)
Nunca teve contato com HEV (susceptível)
Observação: na hepatopatia crônica, deve ser considerada a possibilidade de associação das infecções
pelo HBV e HCV, inclusive por apresentarem vias de infecção semelhantes.
Detecção de portador do HBV e HCV em doadores de sangue e hemodialisados –
os marcadores realizados em banco de sangue devem ser repetidos pois, apesar de utilizar
o mesmo método dos exames para o diagnóstico clínico, o cut off empregado é mais baixo,
com o objetivo de aumentar a sensibilidade, o que proporciona a possibilidade de testes
falso-positivos. Esta estratégia visa garantir a segurança do receptor, pois objetiva evitar
que bolsas de sangue provenientes de doadores positivos para os vírus B e/ou C, mas que
tenham baixos títulos de seus marcadores sorológicos, sejam utilizadas. Contudo, propicia
o aparecimento de um número maior de resultados falso-positivos. Torna-se necessário,
por outro lado, que os indivíduos com resultados inicialmente positivos tenham investigação clínica e sorológica para definição de seu verdadeiro estado (positivo ou negativo).
Indicação de provas diagnósticas para indivíduos sem sintomatologia – além das
circunstâncias citadas, diversas outras levam à necessidade de solicitar sorologia para marcadores de infecção pelos vírus das hepatites, dentre as quais destacam-se: monitoramento
de pacientes hemofílicos e demais usuários crônicos de hemoderivados; exames de profis-
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Hepatites Virais
sionais vítimas de acidente com material biológico; exames pré-natais (hepatite B); exame
de população exposta e de contatos de casos e exames de doadores e receptores de órgãos.
Tratamento
Hepatite aguda
Não existe tratamento específico para as formas agudas. Se necessário, apenas tratamento sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se
repouso relativo até a normalização das aminotransferases. Dieta pobre em gordura e rica
em carboidratos é de uso popular, porém seu maior benefício é ser mais agradável ao paladar ao paciente anorético. De forma prática, deve ser recomendado que o próprio paciente
defina sua dieta de acordo com seu apetite e aceitação alimentar. A única restrição está
relacionada à ingestão de álcool, que deve ser suspensa por no mínimo seis meses. Medicamentos não devem ser administrados sem a recomendação médica para que não agravem o
dano hepático. As drogas consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a complexos
vitamínicos, não têm nenhum valor terapêutico.
6
Hepatite crônica
É necessária a realização de biópsia hepática para avaliar a indicação de tratamento específico. A biópsia por agulha é a preferida, pois permite a retirada de fragmentos de áreas
distantes da cápsula de Glisson (as áreas subcapsulares mostram muitas alterações inespecíficas). Além disso, a biópsia transcutânea é mais segura, dispensa anestesia geral e reduz
o custo do procedimento. O procedimento deve ser realizado com agulhas descartáveis
apropriadas. O exame anátomo-patológico avalia o grau de atividade necro-inflamatória e
de fibrose do tecido hepático.
As formas crônicas da hepatite B e C têm diretrizes clínico-terapêuticas definidas
por meio de portarias do Ministério da Saúde. Devido à alta complexidade do tratamento,
acompanhamento e manejo dos efeitos colaterais, deve ser realizado em serviços especializados (média ou alta complexidade do SUS).
O tratamento da hepatite B crônica está indicado nas seguintes situações:
• HBsAg (+) por mais de seis meses;
• HBeAg (+) ou HBV-DNA > 30 mil cópias/ml (fase de replicação);
• ALT/TGP > duas vezes o limite superior da normalidade;
• biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrose moderada a intensa (> F1), segundo critério da Sociedade Brasileira de
Patologia/Metavir.
• ausência de contra-indicação ao tratamento.
H
O tratamento da hepatite C crônica está indicado nas seguintes situações:
• anti-HCV (+) e HCV-RNA (+);
• ALT/ TGP > 1,5 vez o limite superior da normalidade;
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Hepatites Virais
• biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrose
moderada a intensa (> F1), segundo critério da Sociedade Brasileira de Patologia/
Metavir;
• ausência de contra-indicação ao tratamento.
Após a indicação do tratamento, deverá ser feito exame de genotipagem para definir o
tipo de tratamento (interferon convencional ou peguilado) e duração (6 ou 12 meses).
Quadro 7. Tratamento das hepatites B e C
Situação
Droga
Dose
Hepatite B
crônica
IFN
ou
LMV
5 MUI/dia ou 10MUI 3x/semana ou 100mg/dia
Hepatite C
crônica*
(genótipo 1)
INF peguilado
+
RBV
Interferon peguilado α2a 180 μg/sem ou
Interferon peguilado α2b 1,5μg/kg/sem
+
11-15mg/kg/dia (1 mil-1.200mg, em duas tomadas)
Hepatite C crônica
(genótipo 2 ou 3)
IFN +
RBV
Interferon α2a ou α2b 3 MUI 3x/semana +
11-15mg/kg/dia (800-1200mg em duas tomadas)
Via
Duração
SC
4 meses
VO
12 meses
SC
12 meses
VO
12 meses
SC
VO
6 meses
6 meses
IFN: interferon; LMV-lamivudina; RBV: ribavirina; MUI: milhões de unidades internacionais.
*Interferon pequilado indicado para pacientes com hepatite C – genótipo 1, virgens de tratamento e com fibrose
≥ 2.
O tratamento da hepatite delta é complexo, com resultados insatisfatórios na maioria
das vezes, e deve ser realizado por serviços de referência (alta complexidade do SUS).
Prognóstico
Hepatite A – geralmente após 3 meses o paciente já está recuperado. Apesar de não
haver forma crônica da doença, há a possibilidade de formas prolongadas e recorrentes,
com manutenção das aminotransferases em níveis elevados por vários meses. A forma fulminante, apesar de rara (menos que 1% dos casos), apresenta prognóstico ruim. O quadro
clínico é mais intenso à medida que aumenta a idade do paciente.
Hepatite B – a hepatite aguda B normalmente tem bom prognóstico: o indivíduo resolve a infecção e fica livre dos vírus em cerca de 90% a 95% dos casos. As exceções ocorrem
nos casos de hepatite fulminante (<1% dos casos), hepatite B na criança (90% de chance de
cronificação em menores de 1 ano e 20% a 50% para aquelas que se infectaram entre 1 e 5
anos de idade) e pacientes com algum tipo de imunodeficiência.
Entre os pacientes que não se livram do vírus e tornam-se portadores crônicos, o
prognóstico está ligado à presença de replicação do vírus (expressa pela presença do HBeAg e/ou HBV-DNA > 30 mil cópias/ml). A presença destes marcadores determina maior
deposição de fibrose no fígado, o que pode resultar na formação de cirrose hepática.
Hepatite C – a cronificação ocorre em 60% a 90% dos casos, dos quais, em média,
um quarto a um terço evolui para formas histológicas graves num período de 20 anos.
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Hepatites Virais
Este quadro crônico pode ter evolução para cirrose e hepatocarcinoma, fazendo com que o
HCV seja, hoje em dia, responsável pela maioria dos transplantes hepáticos no ocidente. O
uso concomitante de bebida alcoólica, em pacientes portadores do HCV, determina maior
propensão para desenvolver cirrose hepática.
Hepatite D – na superinfecção o índice de cronicidade é significativamente maior
(80%) se comparado ao que ocorre na co-infecção (3%). Na co-infecção pode haver uma
taxa maior de casos de hepatite fulminante. Já a superinfecção determina, muitas vezes,
uma evolução mais rápida para cirrose.
Hepatite E – não há relato de evolução para a cronicidade ou viremia persistente. Em
gestantes, porém, a hepatite é mais grave e pode apresentar formas fulminantes. A taxa de
mortalidade em gestantes pode chegar a 25%, especialmente no terceiro trimestre, podendo ocorrer em qualquer período da gestação. Também há referências de abortos e mortes
intra-uterinas.
6
Aspectos epidemiológicos
As hepatites virais são um importante problema de saúde pública, apresentando distribuição universal e magnitude que varia de região para região.
A hepatite A apresenta alta prevalência nos países com precárias condições sanitárias
e socioeconômicas. Para o Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima
que ocorram 130 casos novos/ano por 100 mil habitantes e que mais de 90% da população
maior de 20 anos tenha tido exposição ao vírus. Entretanto, em regiões que apresentam
melhores condições de saneamento, estudos têm demonstrado um acúmulo de susceptíveis
em adultos jovens acima desta idade.
Em relação ao HBV, alguns estudos do final da década de 80 e início de 90 sugeriram uma tendência crescente do HBV em direção às regiões Sul/Norte, descrevendo três
padrões de distribuição da hepatite B: alta endemicidade presente na região amazônica,
alguns locais do Espírito Santo e oeste de Santa Catarina; endemicidade intermediária, nas
regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e baixa endemicidade, na região Sul do país.
No entanto, este padrão vem se modificando com a política de vacinação contra o
HBV iniciada sob a forma de campanha em 1989, no estado do Amazonas, e de rotina a
partir de 1991, em uma seqüência de inclusão crescente de estados e faixas etárias maiores
em função da endemicidade local. Assim, trabalhos mais recentes mostram que na região de
Lábrea, estado do Amazonas, a taxa de portadores do HBV passou de 15,3%, em 1988, para
3,7%, em 1998. Na região de Ipixuna, no mesmo estado, esta queda foi de 18 para 7%. No
estado do Acre, estudo de base populacional em 12 de seus 24 municípios apresentou taxa
de HBsAg de 3,4%. Outros trabalhos também classificam a região Norte como de baixa ou
moderada endemicidade, permanecendo com alta endemicidade a região sudeste do Pará.
Na região Sul, a região oeste de Santa Catarina apresenta prevalência moderada e o
oeste do Paraná, alta endemicidade.
A região Sudeste como um todo apresenta baixa endemicidade, com exceção do sul do
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H
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Hepatites Virais
Espírito Santo e do nordeste de Minas Gerais, onde ainda são encontradas altas prevalências.
A região Centro-Oeste é de baixa endemicidade, com exceção do norte do Mato-Grosso, com
prevalência moderada. O Nordeste como um todo está em situação de baixa endemicidade.
Quanto à hepatite C, ainda não existem estudos capazes de estabelecer sua real prevalência no país. Com base em dados da rede de hemocentros de pré-doadores de sangue, em
2002, a distribuição variou entre as regiões brasileiras: 0,62% no Norte; 0,55% no Nordeste;
0,28% no Centro-Oeste; 0,43% no Sudeste e 0,46% no Sul. Um dos poucos estudos de base
populacional realizado na região Sudeste revelou 1,42% de portadores de anti-HCV na
cidade de São Paulo.
A hepatite delta concentra-se na Amazônia Ocidental, que apresenta uma das maiores
incidências deste agente no mundo. No Acre, a prevalência de antidelta foi de 1,3% (Viana,
2003). Nas regiões Sudeste, Nordeste e na Amazônia Oriental a infecção está ausente.
Em relação ao HEV, apesar de o país apresentar condições sanitárias deficientes em
muitas regiões, ainda não foi descrita nenhuma epidemia pelo HEV. Alguns casos isolados
têm sido notificados, demonstrando que há circulação deste vírus.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Objetivo geral
Controlar as hepatites virais no Brasil.
Objetivos específicos
• Conhecer o comportamento epidemiológico das hepatites virais quanto ao agente
etiológico, pessoa, tempo e lugar.
• Identificar os principais fatores de risco para as hepatites virais.
• Ampliar estratégias de imunização contra as hepatites virais.
• Detectar, prevenir e controlar os surtos de hepatites virais oportunamente.
• Reduzir a prevalência de infecção das hepatites virais.
• Avaliar o impacto das medidas de controle.
Definição de caso
Suspeito
Suspeita clínica/bioquímica
• Sintomático ictérico
❯ Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente (recente ou não), com ou sem sintomas como febre, mal-estar, náuseas, vômitos, mialgia, colúria e hipocolia fecal.
❯ Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente e evoluiu para óbito, sem outro
diagnóstico etiológico confirmado.
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Hepatites Virais
• Sintomático anictérico
❯ Indivíduo sem icterícia, que apresente um ou mais sintomas como febre, malestar, náuseas, vômitos, mialgia e na investigação laboratorial apresente valor
aumentado das aminotransferases.
• Assintomático
❯ Indivíduo exposto a uma fonte de infecção bem documentada (na hemodiálise,
em acidente ocupacional com exposição percutânea ou de mucosas, por transfusão de sangue ou hemoderivados, procedimentos cirúrgicos/odontológicos/colocação de “piercing”/tatuagem com material contaminado, por uso de drogas
endovenosas com compartilhamento de seringa ou agulha).
❯ Comunicante de caso confirmado de hepatite, independente da forma clínica e
evolutiva do caso índice.
❯ Indivíduo com alteração de aminotransferases no soro igual ou superior a três
vezes o valor máximo normal destas enzimas, segundo o método utilizado.
6
Suspeito com marcador sorológico reagente
• Doador de sangue
❯ Indivíduo assintomático doador de sangue, com um ou mais marcadores reagentes para hepatite. A,B, C, D ou E.
• Indivíduo assintomático com marcador reagente para hepatite viral A, B, C, D ou E.
Caso confirmado
Hepatite A
• Indivíduo que preenche as condições de caso suspeito, no qual detecta-se o anticorpo da classe IgM contra o vírus A (anti HAV–IgM) no soro.
• Indivíduo que preenche as condições de caso suspeito e apresente vínculo epidemiológico com caso confirmado de hepatite A.
H
Hepatite B
Indivíduo que preenche as condições de suspeito e que apresente os marcadores sorológicos reagentes a seguir listados e/ou exame de biologia molecular positivos para hepatite B:
• HBsAg reagente;
• HBeAg reagente;
• Anti-HBc IgM reagente;
• DNA do HBV positivo;
• DNA polimerase do HBV positiva;
• Óbito em que se detecte antígenos ou DNA do vírus B em tecido.
Hepatite C
• Indivíduo que preenche as condições de suspeito, no qual detecta-se anti-HCV reagente e PCR positivo para o HCV.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Hepatites Virais
• Óbito em que se detecte antígeno ou RNA do vírus C em tecido, quando não for
possível a coleta de soro.
Hepatite D
• Detecção de anticorpos contra o vírus D em indivíduo portador crônico do vírus da
hepatite B.
Hepatite E
• Detecção de anticorpos da classe IgM (anti-HEV IgM) contra o vírus da hepatite E,
em pacientes não-reagentes a marcadores de hepatites A e B agudas.
Descartado
• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo (desde que amostras sejam coletadas e transportadas oportuna e adequadamente);
• Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença;
• Caso notificado como hepatite viral que não cumpre os critérios de caso suspeito;
• Indivíduos com marcadores sorológicos de infecção passada, porém curados no
momento da investigação:
hepatite A – anti-HAV IgG reagente isoladamente
hepatite B – anti-HBc (total) reagente + Anti-HBs reagentes
hepatite C – anti-HCV reagente + RNA-HCV não detectável
Embora indivíduos com marcador sorológico indicando cura no momento da investigação sejam descartados no sistema de notificação, os comunicantes dos mesmos
devem ser investigados pois podem ter sido contaminados durante o curso da doença
no passado.
Casos inconclusos
São aqueles que atendem aos critérios de suspeito, dos quais não foram coletadas e/ou
transportadas amostras oportunas ou adequadas ou não foi possível a realização dos testes
para os marcadores sorológicos específicos.
Notificação
É doença incluída na lista de notificação compulsória e, portanto, todos os casos suspeitos de hepatites virais devem ser notificados na ficha do Sinan e encaminhados ao nível
hierarquicamente superior ou ao órgão responsável pela vigilância epidemiológica municipal, regional, estadual ou federal.
As principais fontes notificadoras são a comunidade, serviços de assistência médica,
hemocentros e bancos de sangue, clínicas de hemodiálise, laboratórios, escolas, creches e
outras instituições. Além disso, casos podem ser capturados no SIM, SIA/SIH e nos sistemas de informação das vigilâncias sanitária e ambiental.
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Hepatites Virais
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
O atendimento pode ser feito em nível ambulatorial, sendo indicados para internação,
de preferência em unidade de referência, apenas casos graves ou com hepatite crônica descompensada.
Qualidade da assistência
Verificar se os pacientes estão sendo orientados convenientemente, de acordo com a
via de transmissão e gravidade da doença.
Proteção individual e coletiva
Em situações de surtos de hepatite A ou E, que são de transmissão fecal-oral, logo no
primeiro caso dar alerta para os familiares e a comunidade, visando cuidados com a água
de consumo, manipulação de alimentos e vetores mecânicos.
Em situações em que se verifique, desde o início, aglomerado de casos de pacientes
atendidos em unidade de hemodiálise ou outra circunstância parecida, contatar a vigilância
sanitária para inspecionar os locais suspeitos.
6
Confirmação diagnóstica
Verificar se o médico assistente solicitou exames específicos e inespecíficos (aminotransferases); caso necessário, orientar de acordo o Anexo 1, adiante apresentado.
H
Investigação
Imediatamente após a notificação de casos de hepatites virais deve-se iniciar a investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas em
tempo oportuno. O instrumento de coleta de dados, a ficha epidemiológica do Sinan, contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos seus
campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa.
Outros itens podem ser incluídos no campo “observações”, conforme as necessidades e
peculiaridades de cada situação.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Antecedentes epidemiológicos – caso importado
• Na investigação da hepatite D deve-se registrar no campo de observações da ficha de
investigação se o paciente já esteve, principalmente, na região amazônica.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
425
Hepatites Virais
• Na investigação da hepatite E deve-se investigar se o paciente esteve no exterior no
período de dois meses antecedentes ao início dos sintomas.
❯ Para confirmar a suspeita diagnóstica – acompanhar os resultados dos exames
laboratoriais, visando fortalecer ou descartar a suspeita diagnóstica.
❯ Para identificação e definição da extensão da área de transmissão das hepatites
de transmissão oral-fecal – iniciar buscando história de contatos, comunicantes e
outros casos suspeitos e/ou confirmados de hepatite, levantando hipóteses sobre
como ocorreu a transmissão.
❯ Surtos de hepatites de transmissão pessoa a pessoa ou fecal-oral – investigar se
os pacientes se expuseram a possíveis fontes de contaminação, particularmente
de água de uso comum, refeições coletivas, uso de água de fonte não habitual
por grupo de indivíduos, etc. Fazer busca ativa de casos na comunidade e/ou no
grupo de participantes do evento coletivo, quando for o caso.
Verificar deslocamentos visando estabelecer qual o provável local de aquisição da infecção. Alertar aos demais contatos e/ou seus responsáveis sobre a possibilidade de aparecimento de novos casos nas próximas semanas, recomendando-se o pronto acompanhamento clínico destes e a imediata (quando possível) tomada de decisões referentes às medidas
de prevenção e controle.
• Para investigação de casos de hepatite de transmissão parenteral/sexual – investigar uso de sangue, hemocomponentes e hemoderivados principalmente se ocorreu
antes de 1993; uso de drogas injetáveis, hábito de compartilhar seringas, etc. Nas
situações em que se suspeite de contaminação coletiva, em unidades de hemodiálise,
serviços odontológicos, ambientes ambulatoriais e hospitalares que não estão adotando medidas de biossegurança, ou fornecedores de sangue ou hemocomponentes,
avaliar a aplicação de medidas imediatas junto aos órgãos de vigilância sanitária.
• Coleta e remessa de material para exame – verificar e/ou orientar os procedimentos de coleta e transporte de amostras para realização dos testes laboratoriais específicos, de acordo com as normas do Anexo 1.
Análise dos dados
A avaliação dos dados é necessária para compreender a situação epidemiológica e
orientar as medidas de controle e deve ser realizada sistematicamente pela equipe de vigilância epidemiológica. Consiste em descrever os casos segundo as características de pessoa
(sexo, idade, etc.), lugar (local de residência, local de exposição, etc.) e tempo (data do
início dos sintomas, data da exposição, etc.).
Encerramento de casos
As fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visando definir qual o
critério utilizado para o diagnóstico (clínico-laboratorial, clínico-epidemiológico, labora-
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
torial), forma clínica, classificação etiológica e provável fonte ou mecanismo de infecção.
Quando a exposição estiver relacionada a procedimentos de saúde, tais como transfusão de
sangue, tratamento dentário, cirúrgico, etc., agregar as informações avaliadas pela vigilância sanitária.
Instrumentos disponíveis para o controle
Em relação à fonte de infecção
Água para consumo humano – a disponibilidade de água potável, em quantidade
suficiente nos domicílios, é a medida mais eficaz para o controle das doenças de veiculação
hídrica, como as hepatites por vírus tipo A e E. Nos lugares onde não existe sistema público
de abastecimento de água potável, deve-se procurar, inicialmente, soluções alternativas junto à comunidade para o uso e acondicionamento da água em depósitos limpos e tampados.
Deve-se orientar a população quanto à utilização de produtos à base de cloro, fervura da
água e higiene domiciliar, tais como a limpeza e desinfecção da caixa d´água, em intervalos
de 6 meses ou de acordo com a necessidade. Outra importante medida preventiva, depende da existência de um sistema destinado ao escoamento e depósito de dejetos de origem
humana, que pode ser por meio de fossas sépticas adequadamente construídas e localizadas, ou de enterramento, conforme as instruções contidas no Manual de Saneamento da
Fundação Nacional de Saúde. É fundamental que se faça, concomitantemente, um trabalho
educativo na comunidade, no sentido de valorizar o saneamento e o consumo de água de
boa qualidade, para a prevenção de doenças de veiculação hídrica.
Alimentos – o cuidado no preparo dos alimentos com boas práticas de higiene é essencial, adotando-se medidas como lavagem rigorosa das mãos antes do preparo de alimentos e antes de comer, além da desinfecção de objetos, bancada e chão. Para a ingestão de
alimentos crus, como hortaliças e frutas, deve-se fazer a sanitização prévia. Pode-se utilizar
a imersão em solução de hipoclorito de sódio a 0,02% (200ppm) por 15 minutos. Alimentos
como frutos do mar, carne, aves e peixes devem ser submetidos ao cozimento adequado.
Profissionais da área da saúde – ao manipular pacientes infectados, durante exame
clínico, procedimentos invasivos, exames diversos de líquidos e secreções corporais, obedecer às normas universais de biossegurança: lavar as mãos após exame de cada paciente;
estar vacinado contra o vírus da hepatite B; usar luvas de látex, óculos de proteção e avental
descartável durante procedimentos em que haja contato com secreções e líquidos corporais
de pacientes infectados; no caso de cirurgiões (médicos e odontólogos), não realizar procedimentos cirúrgicos quando tiverem solução de continuidade nas mãos, desinfectar/esterilizar, após uso em pacientes, todo instrumental e máquinas utilizadas.
Manicures/pedicures e podólogos – devem utilizar alicates esterilizados (o ideal é
que cada cliente tenha seu próprio material). Outros instrumentos, como palitos, devem
ser descartáveis.
Portadores – em hepatites com transmissão parenteral, sexual, vertical e percutânea
(B C e D), os pacientes devem ser orientados em relação ao não compartilhamento de ob-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
H
427
Hepatites Virais
jetos de uso pessoal como lâmina de barbear, escova de dente, alicates de unha. Deve-se
utilizar “camisinha” nas relações sexuais e não compartilhar utensílios e materiais para colocação de piercing e tatuagem. Pessoas com passado de hepatite viral não são candidatos
para doação de sangue.
Comunicantes – em hepatites com transmissão fecal-oral (A e E) pode ser necessário
o isolamento/afastamento do paciente de suas atividades normais (principalmente se forem
crianças que freqüentam creches, pré-escolas ou escola) durante as primeiras duas semanas
da doença, e não mais que um mês após início da icterícia. Esta situação deve ser reavaliada
e prolongada em surtos em instituições que abriguem crianças sem o controle esfincteriano
(uso de fraldas), onde a exposição entérica é maior. Nestes casos de hepatite também se
faz necessária a disposição adequada de fezes, urina e sangue, com os devidos cuidados de
desinfecção e máxima higiene.
Os parceiros sexuais e comunicantes domiciliares susceptíveis devem ser investigados, através de marcadores sorológicos para o vírus da hepatite B, C ou D de acordo com o
caso índice, e vacinados contra a hepatite B, se indicado. Iniciar imediatamente o esquema
de vacinação contra a hepatite B nos não vacinados ou completar esquema dos que não
completaram (não aguardar o resultado dos marcadores sorológicos). Indica-se utilizar
preservativo de látex (camisinha) nas relações sexuais.
Usuário de drogas injetáveis e inaláveis – pelo risco de transmissão de hepatites e
outras doenças, é recomendável não compartilhar agulhas, seringas, canudos e cachimbos
para uso de drogas, além de realizar vacinação contra a hepatite B e usar preservativos nas
relações sexuais.
Filhos de mães HBsAg positivas – é recomendável a administração em locais diferentes de imunoglobulina contra o HBV e vacina contra a hepatite (nas primeiras 12 horas
de vida). A segunda e terceira doses da vacina devem seguir o calendário vacinal normal,
isto é, aos trinta dias e aos seis meses de idade, respectivamente.
Aleitamento materno – o HBsAg pode ser encontrado no leite materno de mães
HBsAg positivas; no entanto, a amamentação não traz riscos adicionais para os seus recém-nascidos, desde que tenham recebido a primeira dose da vacina e imunoglobulina nas
primeiras 12 horas de vida. Na hepatite C, embora o HCV tenha sido encontrado no colostro e no leite maduro, não há evidências conclusivas até o momento de que o aleitamento
acrescente risco à transmissão do HCV, exceto na ocorrência de fissuras e sangramentos
nos mamilos.
Imunização
Vacinação contra o vírus da hepatite A – está disponível nos Centros de Referência
para Imunobiológicos Especiais (Crie), estando indicada apenas para pessoas com hepatopatias crônicas susceptíveis para a hepatite A, receptores de transplantes alogênico ou
autólogos, após transplante de medula óssea, candidatos a receber transplantes autólogos
de medula óssea, antes da coleta, e doadores de transplante alogênico de medula óssea a
patologias que indicam esplectomia. A vacina só deve ser utilizada por maiores de um ano,
conforme o laboratório produtor.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
A vacina da hepatite A é clinicamente bem tolerada e altamente imunogênica. Cerca de
30 dias após a primeira dose, mais de 95% dos adultos desenvolvem anticorpos anti-HAV.
O título mínimo necessário para a prevenção é de 10UI/ml de anti-HAV, considerado como
soroprotetor.
A vacina contra a hepatite A é contra-indicada na ocorrência de hipersensibilidade
imediata (reação anafilática) após o recebimento de qualquer dose anterior ou de história
de hipersensibilidade aos componentes da vacina.
Vacinação contra o vírus da hepatite B – a vacina disponível é constituída de antígenos de superfície do vírus B, obtidos por processo de DNA-recombinante, é eficaz, segura,
e confere imunidade em cerca de 90% dos adultos e 95% das crianças e adolescentes. A
imunogenicidade é reduzida em neonatos prematuros, indivíduos com mais de 40 anos,
imunocomprometidos, obesos, fumantes, etilistas, pacientes em programas de hemodiálise
ou portadores de cardiopatia, cirrose hepática ou doença pulmonar crônica. A vacina é
administrada em três doses, com os seguintes intervalos 0, 1 e 6 meses, por via muscular,
no músculo deltóide em adultos e na região anterolateral da coxa em menores de 2 anos. A
revacinação é feita em caso de falha da imunização (títulos protetores < de 10UI/ml), que
acontece em 5% a 10% dos casos.
6
O Programa Nacional de Imunizações normatiza a vacinação universal dos recémnascidos e adolescentes (população menor que 20 anos) e também grupos populacionais
mais vulneráveis, tais como profissionais de saúde, bombeiros, policiais militares, civis e
rodoviários envolvidos em atividade de resgate, carcereiros de delegacias e penitenciárias,
usuários de drogas injetáveis e inaláveis, pessoas em regime carcerário, pacientes psiquiátricos, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, populações indígenas
(todas as faixas etárias), comunicantes domiciliares de portadores de HBsAg positivos, pacientes em hemodiálise, politransfundidos, talassêmicos, portadores de anemia falciforme,
portadores de neoplasias, portadores de HIV (sintomáticos e assintomáticos), portadores
de hepatite C e coletadores de lixo hospitalar e domiciliar. Para pacientes imunocomprometidos, com insuficiência hepática (fazendo hemodiálise) ou transplantados o volume de
cada dose deve ser dobrado.
Não há contra-indicação à sua administração na gestação e nem trabalhos demonstrando danos ao feto de mulheres vacinadas na gestação. A vacinação não contra-indica o
aleitamento materno, pois a vacina não contém partículas infecciosas do HBV.
H
Imunoglobulina humana anti-hepatite B
A imunoglobulina humana anti-hepatite tipo B (IGHAHB) é indicada para pessoas
não vacinadas após exposição ao vírus da hepatite B.
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Hepatites Virais
Quadro 8. Conduta na exposição ao HBV
Grupos
Imunobiológicos
Observações
Vítimas de abuso sexual
Aplicar o mais precocemente possível, no
máximo 14 dias após exposição
Comunicantes sexuais de caso agudo
de hepatite B
Aplicar o mais precocemente possível, no
máximo 14 dias após exposição
Recém-nascido de mãe sabidamente
HBsAg+
IGHAHB + vacina
Recém-nascido (com peso < 2000g
ou < 34 semanas de gestação) de mãe
sabidamente HBsAg positivo recémnascido de mãe simultaneamente HIV
e HBsAg positivo
Nas primeiras doze horas após o nascimento
Nas primeiras doze horas após o nascimento.
Esquema de quatro doses da vacina (0, 1, 2
e 6 meses)
Quadro 9. Recomendações para profilaxia da hepatite B após exposição ocupacional a
material biológico* (Recomendações conjuntas PNHV e PNI, pois inclui a necessidade de
testagem para conhecimento do status sorológico dos profissionais que já foram vacinados, uma vez que até 10% dos vacinados podem não soroconverter para anti-HBs positivo após o esquema vacinal completo).
Situações vacinal e
sorológica do profissional
de saúde exposto
Paciente-fonte
HBsAg positivo
HBsAg negativo
HBsAg desconhecido
ou não testado
Não vacinado
IGHAHB +
iniciar vacinação
Iniciar vacinação
Iniciar vacinação1
Com vacinação incompleta
IGHAHB +
completar vacinação
Completar vacinação
Completar vacinação1
• Com resposta vacinal
conhecida e adequada
(≥ 10mUI/ml)
Nenhuma
medida específica
Nenhuma
medida específica
Nenhuma medida
específica
• Sem resposta vacinal
após a 1a série (3 doses)
IGHAHB + 1 dose da
vacina contra hepatite B
Iniciar nova série
de vacina (3 doses)
Iniciar nova série
de vacina (3 doses)2
• Sem resposta vacinal
após 2a série (6 doses)
IGHAHB (2x) 2
Nenhuma medida
específica
IGHAHB (2x)2
• Resposta vacinal
desconhecida
Testar o profissional
de saúde
Previamente vacinado
Testar o profissional
de saúde
Se resposta vacinal
adequada: nenhuma
medida específica
Se resposta vacinal
adequada: nenhuma
medida específica
Se resposta vacinal
adequada: nenhuma
medida específica
Se resposta vacinal
inadequada: IGHAHB
+ 1 dose da vacina
contra hepatite
Se resposta vacinal
inadequada: fazer
nova série de vacinação
Se resposta vacinal
inadequada: fazer
nova série de vacinação
*Profissionais que já tiveram hepatite B estão imunes à reinfecção e não necessitam de profilaxia pós-exposição.
Tanto a vacina quanto a imunoglobulina devem ser aplicadas dentro do período de 7 dias após o acidente, idealmente, nas primeiras 24 horas.
430
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
1- Uso associado de imunoglobulina hiperimune está indicado se o paciente-fonte tiver alto risco para infecção
pelo HBV, como usuários de drogas injetáveis, pacientes em programas de diálise, contatos domiciliares e sexuais
de portadores de HBsAg positivo, homens que fazem sexo com homens, heterossexuais com vários parceiros e
relações sexuais desprotegidas, história prévia de doenças sexualmente transmissíveis, pacientes provenientes de
áreas geográficas de alta endemicidade para hepatite B, pacientes provenientes de prisões e de instituições de
atendimento a pacientes com deficiência mental.
2- IGHAHB (2x) = 2 doses de imunoglobulina hiperimune para hepatite B com intervalo de 1 mês entre as doses.
Esta opção deve ser indicada para aqueles que já fizeram 2 séries de 3 doses da vacina mas não apresentaram
resposta à vacina ou apresentem alergia grave à mesma.
OBS.: na impossibilidade de saber o resultado do teste de imediato, iniciar a profilaxia como se o paciente apresentasse resposta vacinal inadequada.
Ações de educação em saúde
É importante ressaltar que, além das medidas de controle específicas, faz-se necessário
o esclarecimento da comunidade quanto às formas de transmissão, tratamento e prevenção
das hepatites virais.
O desconhecimento, eventualmente, pode também levar à adoção de atitudes extremas e inadequadas, como queima de casas e objetos de uso pessoal, nos locais onde ocorreram casos de hepatites.
Deve-se lembrar que o uso de bebida alcoólica e outras drogas pode tornar as pessoas
mais vulneráveis em relação aos cuidados à sua saúde. O trabalho preventivo/educativo
que foca o uso de preservativos em relações sexuais, o não compartilhamento de instrumentos para o consumo de drogas, etc. deve ser intenso.
6
H
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Hepatites Virais
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
Coleta de amostras clínicas (marcadores virais)
O sangue (para a separação do soro ou plasma) deverá ser coletado assepticamente em
tubo de coleta à vácuo (preferencialmente com gel separador) ou com o auxílio de seringas
descartáveis; neste último caso, vertendo o conteúdo para um tubo seco e estéril para aguardar a coagulação. Em caso de utilização de plasma, o sangue deverá ser coletado com ACD
ou EDTA. Nunca usar heparina como anticoagulante.
Os tubos contendo o sangue deverão ser centrifugados a 2.500 rpm por 10 minutos, à
temperatura ambiente.
O soro ou plasma deve ser acondicionado em tubo de polipropileno, esterilizado e
hermeticamente fechado, devidamente identificado. No rótulo, colocar o nome completo,
número de registro laboratorial e data de coleta.
A tampa deve ser vedada e fixada com filme de parafina ou esparadrapo.
Pode ser acondicionado entre 2ºC e 8ºC por 72h. Para períodos maiores, conservar
entre -20ºC e -70ºC.
Para transporte, o material deve ser embalado dentro de saco plástico transparente
bem vedado (por um nó ou por elástico), que por sua vez será colocado em um isopor ou
caixa térmica contendo gelo reciclável ou gelo seco (a quantidade de gelo deverá corresponder a, no mínimo, 1/3 do volume da embalagem). Usar, preferencialmente, gelo seco. Se não
for possível, utilizar gelo embalado em sacos plásticos bem vedados.
Nunca congelar sangue total e não colocá-lo em contato direto com o gelo.
Coleta para procedimentos de biologia molecular
(HBV-DNA e HCV-RNA)
O sangue (para a separação do soro ou plasma) deverá ser coletado assepticamente em
tubo de coleta à vácuo (preferencialmente com gel separador) ou com auxílio de seringas
descartáveis; neste último caso, vertendo o conteúdo para um tubo seco e estéril para aguardar a coagulação. Caso se pretenda separar o plasma, este pode ser coletado com ACD ou
EDTA. Nunca usar heparina como anticoagulante. Os tubos contendo o sangue deverão ser
centrifugados a 2.500 rpm por 10 minutos, à temperatura ambiente. A amostra deverá ser
centrifugada e separada nas duas primeiras horas após a coleta.
A amostra deve ser acondicionada em frasco novo e esterilizado (fechar hermeticamente e vedar a tampa com filme de parafina ou esparadrapo). No rótulo, colocar identificação completa e data de coleta. Conservar as amostras entre -20ºC e -70ºC.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Hepatites Virais
Evitar congelamentos e descongelamentos sucessivos.
Para transporte, os frascos devem ser acondicionados em recipientes vedados (por
exemplo, dentro de um saco plástico bem vedado por um nó ou elástico) e colocados dentro
de caixa de isopor apropriada. Usar, preferencialmente, gelo seco.
Coleta de material de necropsia ou de viscerotomia
(hepatites fulminates)
Coletar, preferencialmente, nas primeiras seis horas após o óbito (este prazo pode chegar até 12 horas, porém o risco de autólise é maior nesta circunstância).
Identificar e datar adequadamente os recipientes. É indispensável o nome do paciente,
a data da coleta, a identificação do órgão/tecido. Caso, além do fígado, outros órgãos sejam
coletados, devem ser acondicionados em frascos individualizados.
Acondicionar os fragmentos em formol (preferencialmente tamponado) a 10% (utilizar solução salina para diluir o formol). Manter a proporção aproximada de 1:10 entre os
fragmentos e o volume de formol. Certificar-se de que o frasco está bem vedado. Manter a
amostra sempre em temperatura ambiente.
Em outro recipiente, rigorosamente estéril, acondicionar fragmentos para serem congelados em nitrogênio líquido (preferencialmente abaixo de -20ºC, caso não esteja disponível colocar em congelador de geladeira).
6
H
Não colocar fixador ou outro conservante junto a essa amostra.
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Influenza (Gripe)
INFLUENZA (gripe)
CID 10: J10 a J11
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema respiratório que tem distribuição global e elevada transmissibilidade. Classicamente, apresenta-se com início abrupto
de febre, mialgia e tosse seca. Em geral, tem evolução auto-limitada, de poucos dias. Sua
importância deve-se ao seu caráter epidêmico, caracterizado por disseminação rápida e
marcada morbidade nas populações atingidas.
Sinonímia
Gripe.
Agente etiológico
A doença é causada pelos vírus Influenza da família dos Ortomixovirus. São vírus RNA
de hélice única e subdividem-se em três tipos: A, B e C, de acordo com sua diversidade antigênica. Os dois primeiros, principalmente os vírus influenza A, são altamente transmissíveis e mutáveis, causando maior morbidade e mortalidade e, por isto, merecem destaque
em saúde pública.
Os vírus da influenza A são classificados de acordo com os tipos de proteína que se
localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está associada a infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se
multiplica, enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células
infectadas. Nos vírus influenza A humanos estão caracterizados três subtipos de hemaglutinina imunologicamente distintos (H1, H2 e H3) e duas neuraminidases (N1 e N2).
A nomenclatura dos vírus influenza definida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) inclui o tipo de vírus influenza, a localização geográfica onde o vírus foi isolado pela
primeira vez, o número de série que recebe no laboratório, o ano do isolamento e, entre
parênteses, a descrição dos antígenos de superfície do vírus, ou seja, da hemaglutinina e da
neuraminidase. Por exemplo, A/Sydney/5/97(H3N2).
Reservatório
Os vírus influenza do tipo B infectam exclusivamente os seres humanos e os do tipo C
infectam humanos e suínos. Os vírus influenza do tipo A são encontrados em várias espécies de animais, além dos seres humanos, tais como suínos, cavalos, mamíferos marinhos
e aves. As aves migratórias desempenham importante papel na disseminação natural da
doença entre distintos pontos do globo terrestre.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Influenza (Gripe)
Modo de transmissão
A influenza é uma doença respiratória transmitida por meio de gotículas (< 10μl)
expelidas pelo indivíduo doente ao falar, espirrar e tossir. Em surtos, há evidências de disseminação aérea por gotículas em aerossol. A transmissão também pode ocorrer por contato
direto ou indireto com secreções nasofaringeanas, destacando-se aqui a importância da
lavagem adequada das mãos no controle desta doença. Apesar da transmissão inter-humana ser a mais comum, já foi documentada a transmissão direta do vírus para o homem, a
partir de aves e suínos.
Período de incubação
Em geral, de um a quatro dias.
Período de transmissibilidade
Um indivíduo infectado pode transmitir o vírus desde dois dias antes até cinco dias
após o início dos sintomas.
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Susceptibilidade e imunidade
Acomete pessoas de todas as faixas etárias. Nos adultos sadios a recuperação geralmente é rápida. Entretanto, complicações graves podem ocorrer nos idosos e nos muito
jovens, determinando elevados níveis de morbimortalidade.
A imunidade aos vírus da influenza resulta de infecção natural ou vacinação anterior
com o vírus homólogo. Desta maneira, um hospedeiro que teve infecção com determinada
cepa do vírus influenza terá pouca ou nenhuma resistência a uma nova infecção com a cepa
variante do mesmo vírus. Isto explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causar
freqüentes epidemias nas populações atingidas.
I
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Clinicamente, a doença inicia-se com a instalação abrupta de febre alta, em geral acima de 38ºC, seguida de mialgia, dor de garganta, prostração, calafrios, dor de cabeça e tosse
seca. A febre é, sem dúvida, o sintoma mais importante e perdura em torno de três dias. Os
sintomas sistêmicos são muito intensos nos primeiros dias da doença. Com a progressão
desta, os sintomas respiratórios tornam-se mais evidentes e mantém-se em geral por três a
quatro dias após o desaparecimento da febre. É comum a queixa de garganta seca, rouquidão, tosse seca e queimação retro-esternal ao tossir. Os pacientes apresentam a pele quente
e úmida, olhos hiperemiados e lacrimejantes. Há hiperemia das mucosas, com aumento de
secreção nasal hialina.
O quadro clínico em adultos sadios pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperatura pode atingir níveis mais altos, sendo comum o achado de aumento dos linfonodos cervicais. Quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas gastrointestinais,
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
435
Influenza (Gripe)
também podem fazer parte da apresentação clínica em crianças. Os idosos quase sempre
se apresentam febris, às vezes sem outros sintomas, mas em geral a temperatura não atinge
níveis tão altos.
As complicações são mais comuns em idosos e indivíduos debilitados. As situações sabidamente de risco incluem doença crônica pulmonar (asma e doença pulmonar obstrutiva
crônica – DPOC), cardiopatias (insuficiência cardíaca crônica), doença metabólica crônica
(diabetes, por exemplo), imunodeficiência ou imunodepressão, gravidez, doença crônica
renal e hemoglobinopatias.
As complicações pulmonares mais comuns são as pneumonias bacterianas secundárias, sendo mais freqüentes as provocadas pelos seguintes agentes infecciosos: Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus e Haemophillus influenzae. Uma complicação incomum, e
muito grave, é a pneumonia viral primária pelo vírus da influenza. Nos imunocomprometidos, o quadro clínico é geralmente mais arrastado e muitas vezes mais grave. Gestantes com
quadro de influenza no segundo ou terceiro trimestres da gravidez estão mais propensas à
internação hospitalar.
Dentre as complicações não-pulmonares em crianças, destaca-se a síndrome de Reye,
que também está associada aos quadros de varicela. Esta síndrome caracteriza-se por encefalopatia e degeneração gordurosa do fígado, após o uso do ácido acetilsalicílico, na vigência de um destes dois quadros virais. Recomenda-se, portanto, que não sejam utilizados
medicamentos do tipo ácido acetilsalicílico em crianças com síndrome gripal ou varicela.
Outras complicações incluem miosite, miocardite, pericardite, síndrome do choque
tóxico, síndrome de Guillain-Barré e, mais raramente, encefalite e mielite transversa.
Diagnóstico diferencial
É importante destacar que as características clínicas da gripe não são específicas e podem ser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios que também ocorrem sob a
forma de surtos e eventualmente circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, vírus para
influenza, vírus sincicial respiratório, coronavírus ou adenovírus. Apesar de os sintomas sistêmicos serem mais intensos na influenza que nas demais infecções que cursam com quadro
clínico semelhante (daí a denominação de síndrome gripal para as infecções causadas por
estes agentes), o diagnóstico definitivo dessas infecções apenas pela clínica torna-se difícil.
Chama-se a atenção para o diagnóstico diferencial de casos de influenza grave (pneumonia primária) com possíveis casos de síndrome respiratória aguda grave (Sars).
Diagnóstico laboratorial
Os procedimentos apropriados de coleta, transporte, processamento e armazenamento de espécimes clínicos são fundamentais no diagnóstico da infecção viral.
O espécime preferencial para o diagnóstico laboratorial são as secreções da nasofaringe (SNF) obtidas por meio de aspirado de nasofaringe com auxílio de um coletor descartável ou por meio de swab combinado (oral + nasal). Estas amostras devem ser coletadas até
o quinto dia (preferencialmente até o terceiro) do início dos sintomas e transportadas em
gelo reciclável (não congelar) até o laboratório, para o devido processamento.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Influenza (Gripe)
A detecção do vírus influenza é realizada pelas técnicas de imunofluorescência (IF),
de isolamento do agente em cultivos celulares/ovos embrionados (considerado método padrão) e de detecção por reação em cadeia da polimerase (PCR). Adicionalmente, o diagnóstico pode ser estabelecido através do exame de inibição de hemaglutinação (HI). Para
isso, coletar amostras pareadas de sangue durante a fase aguda e convalescente (15 dias de
intervalo entre as duas colheitas).
A IF é realizada nos laboratórios estaduais onde a vigilância da influenza está implantada, utilizando-se um painel de soros que detecta, além da influenza, outros vírus respiratórios de interesse (vírus respiratório sincicial, parainfluenza e adenovírus). A cultura e a
PCR são realizadas nos três laboratórios de referência (Instituto Evandro Chagas/SVS/MS,
Fiocruz/MS e Instituto Adolfo Lutz/SES/SP), que também procedem à caracterização antigênica e genômica dos vírus da influenza isolados.
Uma caracterização complementar para influenza é realizada em um dos laboratórios
de referência internacional da OMS. Para o vírus da influenza A, a tipagem completa é
essencial para que o mesmo seja introduzido na composição anual da vacina do hemisfério
sul. Para efeito da vigilância epidemiológica, esse diagnóstico é realizado apenas em alguns
pacientes atendidos em unidades sentinelas.
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Tratamento
Recomenda-se repouso e hidratação adequada. Medicações antitérmicas podem ser
utilizadas, lembrando-se de evitar o uso de ácido acetil salicílico nas crianças. No caso de
complicações pulmonares graves, podem ser necessárias medidas de suporte intensivo.
Em casos de internação por complicações secundárias ou por apresentações graves da
infecção, devem ser instituídas precauções contra a transmissão do vírus influenza através
de gotículas respiratórias. Uma prática adequada de lavagem de mãos parece ser suficiente
para impedir a transmissão por contato. Precauções contra a transmissão por aerossóis
devem ser adotadas em caso de internação próxima a pacientes gravemente imunodeprimidos ou em infecções por cepas emergentes de influenza A com potencial pandêmico.
Atualmente, há duas classes de drogas utilizadas no tratamento específico da influenza.
Licenciadas há alguns anos, a amantadina e a rimantadina são drogas similares, com 70% a
90% de eficácia na prevenção da doença pelo vírus da influenza A em adultos jovens e crianças, caso sejam administradas profilaticamente durante o período de exposição ao vírus.
Também podem reduzir a intensidade e a duração do quadro, se administradas terapeuticamente. Ressalta-se, porém, que nenhuma destas drogas demonstrou ser eficaz na diminuição das complicações graves da influenza. Duas grandes limitações do uso dessa classe de
drogas são a ocorrência de efeitos colaterais no sistema nervoso central e no trato gastrointestinal (principalmente com o uso da amantadina) e a indução de resistência viral.
Já o oseltamivir e o zanamivir fazem parte de uma nova classe de drogas chamadas de
inibidoras da neuraminidase e que podem ser utilizadas contra a infecção pelos vírus da
influenza A e B. Estas drogas, se administradas até dois dias após o início dos sintomas, podem reduzir o tempo da doença não complicada. No entanto, como as do grupo anterior,
nenhuma das duas drogas desta classe foi eficaz em prevenir as complicações da influenza,
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
I
437
Influenza (Gripe)
havendo poucos dados sobre a efetividade do zanamivir em indivíduos de alto risco para
complicações da doença. Uma limitação importante para o seu uso é o custo elevado do
tratamento e a existência de restrições ainda existentes para seu uso profilático.
Aspectos epidemiológicos
A gripe ocorre em âmbito mundial, como surto localizado ou regional, em epidemias
e, também, devastadoras pandemias. O potencial pandêmico da influenza reveste-se de
grande importância. No século passado ocorreram três importantes pandemias de influenza (a Gripe Espanhola, entre 1918-20; a Gripe Asiática, entre 1957-60 e a de Hong Kong,
entre 1968-72). Destaca-se ainda a ocorrência de uma pandemia em 1977/78 (Gripe Russa),
que afetou primordialmente crianças e adolescentes.
Com os modernos meios de transporte, a propagação do vírus da influenza tornouse muito rápida e hoje o mesmo vírus pode circular ao mesmo tempo em várias partes do
mundo, causando epidemias quase simultâneas.
Em anos epidêmicos, a taxa de ataque na comunidade atinge aproximadamente 15%,
sendo ao redor de 2% em anos não-epidêmicos. Em comunidades fechadas, este número
sobe para 40% a 70%, com taxa de ataque secundário em torno de 30%. Tanto a morbidade
quanto a mortalidade, devido à influenza e suas complicações, podem variar ano a ano,
dependendo de fatores como as cepas circulantes, o grau de imunidade da população geral
e da população mais susceptível, entre outros.
Destaca-se ainda a ocorrência de transmissão direta do vírus da influenza aviária de
alta patogenicidade (H5N1) ao homem, gerando surtos de elevada mortalidade. Esse fenômeno foi detectado pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, quando 18 pessoas foram
afetadas, das quais 6 morreram (letalidade de 33,3%). Novos episódios ocorreram em períodos mais recentes, destacando-se os surtos verificados no Vietnã e na Tailândia entre dezembro de 2003 e abril de 2004, que afetaram um total de 33 pessoas. As taxas de letalidade
observadas foram de, respectivamente, 45,4% e 70%. Este processo de transmissão se deu
em meio a uma epizootia de influenza aviária de alta patogenicidade em países do sudeste
asiático em proporções e extensão geográfica inusitadas.
Também se verificaram, no período 2003/2004, episódios de transmissão direta de
influenza aviária de baixa patogenicidade para o homem, com registro de surtos pela cepa
H7 na Holanda, Canadá e Estados Unidos.
No Brasil, os dados disponíveis no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Influenza (Sivep-Gripe) demonstram, para o período 2000/2003, a ocorrência
de casos de síndrome gripal predominantemente em crianças na faixa etária de 0-4 anos
(48,2%), seguida da faixa de 5-14 anos (25,4%) e de 15-24 anos (10,2%). As demais faixas contribuíram com 16,2%. Os principais vírus respiratórios detectados pelo método de
imunofluorescência neste período foram o vírus sincicial respiratório (31%), influenza A
(30,7%), parainfluenza 1, 2 e 3 (18,5%), adenovírus (16,8%) e influenza B (3%). Em 2004,
até a semana epidemiológica nº 36 foram coletadas 1.168 amostras na rede sentinela, das
438
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Influenza (Gripe)
quais 366 (31,3%) foram positivas para vírus respiratórios pelo método da imunofluorescência. Destas, 152 foram positivas para influenza A, tendo sido possível fazer a caracterização antigênica inicial de 23 (15%) dessas amostras, assim identificadas: influenza A
H3N2 (67%), influenza B (20%) e influenza A H1N1 (13%).
No ano de 2002 foram detectados e investigados dois importantes surtos comunitários de influenza no país, nas cidades de Araraquara/SP e do extremo oeste de Santa Catarina, totalizando aproximadamente 3 mil casos confirmados (influenza B Hong Kong). Em
2003, novo surto comunitário foi detectado nas cidades de Pium e Araguacema/TO, com
a confirmação de cerca de 500 casos (influenza A Tocantins H3N2). Em 2004, foram investigados surtos de influenza em comunidades fechadas (presídios e abatedouros de aves)
nos municípios de Marília e Araçatuba/SP e Francisco Beltrão e Almirante Tamandaré/PR,
devido à infecção por influenza A Fujian H3N2 e influenza A Korea H3N2.
6
Vigilância epidemiológica
O Sistema de Vigilância da Influenza no Brasil é de implantação recente (a partir do
ano 2000) e baseia-se em uma estratégia de vigilância sentinela que tem por função monitorar a circulação das cepas e a carga de morbidade por síndrome gripal* nas cinco regiões
brasileiras.
Objetivos
•
•
•
•
•
Monitorar as cepas dos vírus da influenza que circulam nas cinco regiões brasileiras.
Avaliar o impacto da vacinação contra a doença.
Acompanhar a tendência da morbidade e da mortalidade associadas à doença.
Responder a situações inusitadas.
Produzir e disseminar informações epidemiológicas.
I
Definição de caso suspeito
Indivíduo com doença aguda (com duração máxima de 5 dias), apresentando febre
(ainda que referida) e pelo menos um sintoma respiratório (tosse ou dor de garganta), na
ausência de outros diagnósticos.
Confirmado
Caso suspeito com confirmação laboratorial e/ou caso suspeito com vínculo epidemiológico com casos laboratorialmente confirmados.
Descartado
Caso suspeito em que o resultado do exame foi negativo, em amostra adequadamente
*Para definir síndrome gripal pode-se utilizar os seguintes códigos da 10ª Revisão da Classificação Internacional
de Doenças (CID 10): J00 (todos) – Nasofaringite aguda (resfriado comum); J02.9 – Faringite aguda não especificada; J03.9 – Amigdalite aguda não especificada; J04.0 – Laringite aguda; J04.1 – Traqueíte aguda; J04.2 – Laringotraqueíte aguda; J06 (todos) – Infecção aguda das vias aéreas superiores e não especificadas; J10 (todos) –
Influenza devida a vírus influenza identificado; J11 (todos) - Influenza devida a vírus influenza não identificado.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
439
Influenza (Gripe)
colhida e transportada, ou quando for identificado laboratorialmente outro agente etiológico que não o vírus da influenza.
Notificação
A influenza não é doença de notificação compulsória. Os dados da vigilância sentinela
são informados em um sistema de informação específico, através da Web, chamado de
Sivep-Gripe.
No entanto, considerando o potencial epidêmico desta doença, qualquer suspeita de
surto comunitário ou institucional (em particular os surtos com casos graves) deve ser comunicada (por telefone, fax, e/ou e-mail) à secretaria estadual de saúde e Coordenação de
Vigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis da SVS/MS.
Investigação
Recomenda-se a investigação de surtos pelas secretarias municipais e estaduais de
saúde, se necessário com apoio do nível federal, com os seguintes objetivos:
• confirmar a ocorrência do surto de síndrome gripal;
• descrever o surto por tempo, pessoa e lugar;
• caracterizar o processo de transmissão;
• identificar e caracterizar o vírus respiratório;
• monitorar os grupos de maior risco para complicações da doença;
• avaliar o impacto do surto na morbidade e na mortalidade;
• avaliar a necessidade da adoção de medidas emergenciais de controle;
• recomendar medidas de prevenção e controle de surtos.
Sugere-se realizar busca ativa de pessoas com síndrome gripal, utilizando a definição
de caso ou os códigos das CID descritos anteriormente. Os locais-alvo para a busca ativa
são as unidades de saúde (centros de saúde, hospitais) do município, as unidades de ensino,
creches, asilos, entre outras.
Para padronizar as informações coletadas na busca ativa recomenda-se a utilização de
um formulário que permita agregar os dados por semana epidemiológica e que contenha
as seguintes variáveis: total de pessoas com síndrome gripal e total de pessoas, unidade de
saúde por faixa etária (Anexo 1).
Deve-se coletar amostras para análise laboratorial. Se o município onde estiver ocorrendo o surto de síndrome gripal não pertencer à rede de vigilância da influenza, a secretaria estadual de saúde deve entrar em contato imediatamente com a Coordenação de
Vigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis (Cover) e com a
Coordenação Geral de Laboratório (CGLAB) do Ministério da Saúde/SVS, com vistas a
possibilitar a coleta, transporte e análise laboratorial das amostras.
Sugere-se realizar estudo descritivo detalhado da população doente ou pelo menos em
uma amostra desta. Para isso, é importante a aplicação de um questionário padronizado a todas as pessoas do estudo. Este instrumento deve conter, entre outras, as seguintes variáveis:
• demográficas (idade, sexo, endereço, ocupação);
440
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Influenza (Gripe)
• sinais e sintomas (febre, tosse, dor de garganta, dor no corpo, dor de ouvido, dor nas
articulações, dor de cabeça, etc.);
• uso da vacina contra a influenza;
• participação em festas, shows (aglomerado), viagem recente;
• contato com pessoas que adoeceram com síndrome gripal;
• presença de doenças crônicas (diabetes, cardiopatas, renais crônicos, hipertensos,
pneumopatas, etc.) e doenças imunosupressoras (aids, lúpus, etc.);
• uso de medicamentos;
• presença de alergia;
• necessidade de hospitalização;
• história de exposição a aves e suínos, principalmente criadouros de aves, bem como
relato de contato com aves doentes ou mortas;
• outras variáveis consideradas importante de acordo com as características do surto.
6
Em situações de surto, orientações específicas deverão ser buscadas junto à SVS/MS.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
Desde 1999, o Ministério da Saúde implantou a vacinação contra gripe no Brasil, com
o objetivo de proteger os grupos de maior risco contra as complicações da influenza, ou
seja, os idosos e os portadores de doenças crônicas (doenças pulmonares ou cardiovasculares, imunocomprometidos, transplantados, dentre outros). É também recomendável a
vacinação de profissionais de saúde que atuam na assistência individual de casos de infecção respiratória e de trabalhadores de asilos e creches, como forma de reduzir o potencial
de transmissão da doença em comunidades fechadas e grupos mais vulneráveis à infecção.
Outro grupo de risco são os trabalhadores de avicultura, cuja vacinação visa protegê-los
contra infecção cruzada com vírus da influenza aviária.
A vacina é a melhor estratégia disponível para a prevenção da influenza e suas conseqüências, proporcionando redução da morbidade, diminuição do absenteísmo no trabalho
e dos gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias.
A vacinação ocorre na forma de campanhas prolongadas, em geral duas semanas. O
período para a realização dessas campanhas deve ser anterior ao período de maior circulação
do vírus na população das diferentes regiões do país. Este imunógeno também encontra-se
disponível nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Cries) dos estados.
A vacina é constituída por três tipos de cepas dos vírus influenza, cultivados em ovos
embrionados de galinha e posteriormente inativados e purificados. Contém ainda neomicina, gentamicina e o timerosal como conservantes. É composta por dois tipos de vírus de
influenza A e um vírus de influenza B. Para conferir proteção adequada a vacina deve ser
administrada a cada ano, já que sua composição também varia anualmente, em função das
cepas circulantes.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
I
441
Influenza (Gripe)
O esquema vacinal preconizado pelo Ministério da Saúde varia conforme a faixa etária
da pessoa a ser vacinada, demonstrado na tabela a seguir:
Idade
Dose (ml)
Nº de doses
6-35 meses
0,25ml
1-2*
3-8 anos
0,5ml
1-2*
> 9 anos e adultos
0,5ml
1
*A segunda dose com intervalo de 4 a 6 semanas.
Após a vacinação em adultos saudáveis, a detecção de anticorpos protetores ocorre
entre 1 a 2 semanas e seu pico máximo é após 4 a 6 semanas.
A imunidade obtida com a vacinação pode variar:
• em idosos, uma vez que a formação de anticorpos é modulada pela experiência
cumulativa através dos anos de estimulação repetitiva do sistema imunológico com
o vírus influenza;
• em pacientes com câncer, pois a produção de anticorpos é menor do que em controles sadios. A soroconversão é de 24% a 71%, sendo a terapia antineoplásica o
fator determinante da resposta mais baixa nesse grupo. As crianças que não estão
em quimioterapia há mais de quatro semanas e com linfócitos >1000/mm3 possuem
altas taxas de soroconversão com o uso da vacina;
• em transplantados, a imunização deve ser feita previamente à realização do procedimento. No transplante de rim a soroconversão ocorre em cerca de 50% dos casos
um mês após a vacinação;
• em portadores do HIV/aids, a vacina contra influenza produz títulos protetores de
anticorpos em pessoas infectadas por HIV pouco sintomáticas e com contagens
adequadas de linfócitos CD4. No entanto, nos pacientes com a doença avançada
e/ou contagem baixa de CD4 a vacina pode não induzir anticorpos protetores e uma
segunda dose não melhora a resposta imunológica à mesma.
A contra-indicação para esta vacina é a presença de reação de hipersensibilidade do
tipo anafilática a proteínas do ovo de galinha e indivíduos com história pregressa de síndrome de Guillain-Barré.
Os eventos adversos mais freqüentemente associados temporalmente à vacina são locais e resolvidos geralmente em 48 horas: dor leve no local da aplicação e eritema ocorrendo em 10% a 64% dos vacinados. Outras reações sistêmicas também podem estar presentes
tais como febre, astenia, mialgia e cefaléia que, geralmente se apresentam entre 6 a 12 horas
após a aplicação.
Como a vacina é composta por vírus inativados, não tem o poder de provocar doença.
“Casos de gripe” eventualmente diagnosticados em pessoas recentemente vacinadas podem
ser devidos a infecção por outras cepas não presentes na vacina, a falhas de conversão sorológica ou a infecção por outros vírus respiratórios.
442
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Influenza (Gripe)
Anexo 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Vigilância de Síndrome Gripal
6
Unidade: _______________________________________________________________
Município: ____________________________________________________ UF: ______
Responsável pela informação: _______________________________________________
Semana de ____/____/____ a ____/____/____
Faixa etária
(em anos)
Número de consultas
Consultas de síndrome gripal
Total de consultas da unidade
I
<4
5 a 14
15 a 24
25 a 59
60 a 64
> 65
Idade ignorada
Total
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
443
Leishmaniose Tegumentar Americana
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
CID 10: B55.1
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A leishmaniose tegumentar americana – LTA é uma doença infecciosa, não-contagiosa, causada por protozoário do gênero Leishmania, de transmissão vetorial, que acomete
pele e mucosas; é primariamente uma infecção zoonótica, afetando outros animais que não
o homem, o qual pode ser envolvido secundariamente.
Agente etiológico
Há diferentes subgêneros e espécies de Leishmania, sendo as mais importantes no
Brasil:
Leishmania (Leishmania) amazonensis – distribuída pelas florestas primárias e secundárias da Amazônia (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e sudoeste do Maranhão),
particularmente em áreas de igapó e de floresta tipo “várzea”. Sua presença amplia-se para o
Nordeste (Bahia), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e Centro-Oeste (Goiás).
Leishmania (Viannia) guyanensis – aparentemente limitada ao norte da Bacia Amazônica (Amapá, Roraima, Amazonas e Pará) e estendendo-se pelas Guianas, é encontrada
principalmente em florestas de terra firme – áreas que não se alagam no período de chuvas.
Leishmania (Viannia) braziliensis – tem ampla distribuição, do sul do Pará ao Nordeste, atingindo também o centro-sul do país e algumas áreas da Amazônia Oriental. Na
Amazônia, a infecção é usualmente encontrada em áreas de terra firme.
Quanto ao subgênero Viannia, existem outras espécies de Leishmania recentemente
descritas: L.(V) lainsoni, L.(V) naiffi, com poucos casos humanos no Pará; L.(V) shawi com
casos humanos encontrados no Pará e Maranhão.
Reservatório
Varia conforme a espécie da Leishmania:
Leishmania (Leishmania) amazonensis – tem como hospedeiros naturais vários marsupiais e roedores, tais como “rato-soiá” (Proechymis), além do Oryzomys que, às vezes,
apresenta o parasita na pele sem lesões cutâneas.
Leishmania (Viannia) guyanensis – vários mamíferos silvestres foram identificados
como hospedeiros naturais, tais como a preguiça (Choloepus didactilus), o tamanduá (Tamandua tetradactyla), marsupiais e roedores. A infecção animal é geralmente inaparente,
com parasitas encontrados na pele e vísceras.
Leishmania (Viannia) braziliensis – esta espécie de Leishmania foi identificada em
roedores silvestres como Bolomys lasiurus e Nectomys squamipes, no estado de Pernambu-
444
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Tegumentar Americana
co. É freqüente o encontro desta espécie em animais domésticos como o cão (CE, BA, ES, RJ
e SP), eqüinos e mulas (CE, BA e RJ), albergando em proporção expressiva o parasita.
Vetores
O vetor transmissor da LTA pode pertencer a várias espécies de flebotomíneos (conhecido como palha, cangalhinha, tatuquira, mulambinho, catuqui, etc.), de diferentes gêneros
(Psychodopigus, Lutzomyia), dependendo da localização geográfica. Assim como os reservatórios, os vetores também mudam de acordo com a espécie de Leishmania.
Leishmania (Leishmania) amazonensis – seus principais vetores são Lutzomyia flaviscutellata, Lutzomyia reducta e Lutzomyia olmeca nociva (Amazonas e Rondônia), têm
hábitos noturnos, vôo baixo e são pouco antropofílicos.
Leishmania (Viannia) guyanensis – os vetores são Lutzomyia anduzei, Lutzomyia
whitmani e Lutzomyia umbratilis, que é o principal vetor, tendo o hábito de pousar durante
o dia em troncos de árvores e atacar o homem em grande quantidade, quando perturbado.
Leishmania (Viannia) braziliensis – em área silvestre, o único vetor demonstrado
transmissor foi o Psychodopigus wellcomei, encontrado na Serra dos Carajás, altamente antropofílico, picando o homem mesmo durante o dia e com grande atividade na estação das
chuvas. Em ambientes modificados, rural e peridomiciliar, são mais freqüentemente implicadas a Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia e Lutzomyia migonei.
6
Modo de transmissão
Picada de insetos transmissores infectados. Não há transmissão de pessoa a pessoa.
Período de incubação
No homem, em média de 2 meses, podendo apresentar períodos mais curtos (duas
semanas) e mais longos (dois anos), após a picada do flebotomíneo infectado.
L
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal. A infecção e a doença não conferem imunidade ao
paciente.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Lesões cutâneas
A apresentação cutânea da LTA, as lesões de pele, podem caracterizar a forma localizada (única ou múltipla), a forma disseminada (lesões muito numerosas em várias áreas do
tegumento) e a forma difusa. Na maioria das vezes, a doença apresenta-se como uma lesão
ulcerada única.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
445
Leishmaniose Tegumentar Americana
Nas formas cutâneas localizadas e múltiplas, a lesão ulcerada franca é a mais comum
e se caracteriza por úlcera com bordas elevadas, em moldura. O fundo é granuloso, com ou
sem exsudação. Em geral, as úlceras são indolores. Observam-se também outros tipos de lesões como úlcero-crostosa, impetigóide, ectimatóide, úlcero-vegetante, verrucosa-crostosa,
tuberosa, linquenóide e outras. Nestas formas, na fase inicial, é freqüente a linfangite e/ou
adenopatia satélite que poderia preceder a lesão de pele. Às vezes, no cordão linfático podem se desenvolver nódulos que ulceram, lembrando a esporotricose. Podem ser observadas pápulas na periferia das lesões. A forma cutânea disseminada caracteriza-se por lesões
ulceradas pequenas, às vezes acneiformes, distribuídas por todo o corpo (disseminação hematogênica). A leishmaniose cutânea disseminada é rara, as lesões são eritematosas, sob a
forma de pápulas, tubérculos, nódulos e infiltrações difusas e, menos freqüentemente, sob a
forma tumoral. A infiltração pode envolver extensas áreas do tegumento e, quando presente
na face, confere ao paciente uma face típica conhecida como facieis leonina, confundindose, por isso e pela grande área de infiltração cutânea, com a hanseníase virchowiana. Seu
prognóstico é ruim, por não responder adequadamente à terapêutica.
Lesões mucosas
A apresentação mucosa da LTA é, na maioria das vezes, secundária às lesões cutâneas,
surgindo geralmente meses ou anos após a resolução das lesões de pele. Às vezes, porém,
não se identifica a porta de entrada, supondo-se que as lesões sejam originadas de infecção
subclínica.
São mais freqüentemente acometidas as cavidades nasais, seguidas da faringe, laringe
e cavidade oral. As queixas mais comuns no acometimento nasal são obstrução, epistaxes,
rinorréia e crostas; da faringe, odinofagia; da laringe, rouquidão e tosse; da cavidade oral,
ferida na boca. As lesões podem ser discretas, com poucos sintomas, daí a necessidade de
sempre se buscar a identificação de doença em mucosas, incluindo o exame rotineiro dessas
áreas.
Ao exame clínico, pode-se observar infiltração, ulceração, perfuração do septo nasal,
lesões úlcero-vegetantes, úlcero-crostosas ou úlcero-destrutivas. Poderá ocorrer destruição
parcial ou total da pirâmide nasal e outras estruturas acometidas na boca. Outras mucosas,
como língua e órgãos genitais, são raramente atingidas.
A presença de uma ou várias cicatrizes atróficas em pele ou história de úlcera cutânea com evolução prolongada, ao lado das queixas acima referidas, reforça o diagnóstico
clínico de leishmaniose mucosa. A ausência de cicatrizes não afasta a suspeita clínica de
acometimento mucoso por leishmaniose, devendo ser investigadas outras doenças com o
diagnóstico diferencial.
A lesão mucosa associada ao comprometimento cutâneo da LTA pode ser concomitante (o acometimento mucoso a distância da lesão ativa de pele) ou contígua (o comprometimento mucoso ocorre por extensão da lesão de pele situada próxima de mucosas).
O diagnóstico precoce, de qualquer lesão mucosa, é essencial para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e evitem-se as seqüelas deformantes e/ou funcionais.
446
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Tegumentar Americana
Comprometimento de linfonodos
Pode ser primário (enfartamento de cadeia linfonodal precedendo a lesão de pele) ou
secundário (enfartamento de cadeia de linfonodos na região da lesão de pele, após a identificação desta) e raramente pode apresentar-se generalizado.
A classificação clínica da LTA, envolvendo as diferentes formas e apresentações
da doença, e seus respectivos agentes etiológicos está esquematizada no Anexo 1.
Diagnóstico diferencial
Nas lesões cutâneas, devem ser excluídas as doenças que compõem o síndrome verrucoso conhecido como Plect, que são as iniciais de paracoccidioidomicose, leishmaniose,
esporotricose, cromomicose, tuberculose cutânea. Devem ainda ser afastadas as úlceras
traumáticas, úlceras de estase, úlceras tropicais, úlceras de membros inferiores por anemia
falciforme, piodermites, neoplasias cutâneas, sífilis. A hanseníase virchowiana deverá ser
incluída no diagnóstico diferencial, principalmente quando se tratar de suspeita de leishmaniose cutânea difusa.
Nas lesões mucosas, o diagnóstico diferencial deve ser feito com a paracoccidioidomicose, hanseníase virchowiana, rinoscleroma, sarcoidose, bouba, sífilis terciária, granuloma
médio facial e neoplasias.
6
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial, na rede de saúde, baseia-se principalmente em exames
parasitológicos (exame direto) e imunológicos (intradermorreação de Montenegro/IRM),
podendo-se proceder em laboratórios de referência outros exames de maior complexidade,
conforme esquema abaixo (ver normas e procedimentos no Anexo 2).
L
Exames parasitológicos
• Exame direto (esfregaço de lesão, imprint por aposição): diagnóstico de certeza pelo
encontro do parasito na sua forma amastigota.
• Histopatológico
❯ Hematoxilina eosina
❯ Imunoperoxidase
• Cultura em meios artificiais
• Inoculação em animais experimentais (hamsters)
Exames imunológicos
• Intradermorreação de Montenegro (IRM): em áreas endêmicas, a IRM deve ser avaliada de forma criteriosa considerando os achados clínicos.
• Sorologia
❯ Imunofluorescência indireta (IFI): a imunofluorescência não deve ser utilizada
como critério isolado para diagnóstico de LTA. Entretanto, pode ser considerada
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Leishmaniose Tegumentar Americana
❯
como critério adicional no diagnóstico diferencial com outras doenças, especialmente nos casos sem demonstração de qualquer agente etiológico.
Elisa: utilizado como pesquisa em centros de referência.
Caracterização das espécies de Leishmania
• Anticorpos monoclonais.
• Testes moleculares: a reação em cadeia de polimerase – PCR representa nova perspectiva para o diagnóstico da LTA. Entretanto, os seus resultados dependem de algumas variáveis envolvidas, entre elas: área endêmica, tipo de amostra; alvo do DNA
utilizado para amplificação; método de extração do DNA, cuidados de contaminação do material, etc.
Tratamento
A droga de primeira escolha é o antimonial pentavalente. Visando padronizar o esquema terapêutico, a Organização Mundial da Saúde recomenda que a dose deste antimonial
seja calculada em mg/Sb+5/kg/dia (Sb+5 significando antimônio pentavalente). Há dois tipos
de antimoniais pentavalentes que podem ser utilizados, o antimoniato N-metilglucamina e
o stibogluconato de sódio (este último não comercializado no Brasil).
O antimoniato N-metilglucamina apresenta-se comercialmente em frascos de 5ml que
contém 1,5g do antimoniato bruto, correspondente a 405mg de Sb+5. Portanto, uma ampola
com 5ml tem 405mg de Sb+5, e cada ml contém 81mg de Sb+5.
Este antimonial é indicado para o tratamento de todas as formas de LTA, embora as
formas mucosas exijam maior cuidado, podendo apresentar respostas mais lentas e maior
possibilidade de recidivas.
Não havendo resposta satisfatória com o tratamento pelo antimonial pentavalente, as
drogas de segunda escolha são a anfotericina B e o isotionato de pentamidina.
As lesões ulceradas podem sofrer contaminação secundária, razão pela qual devem ser
prescritos cuidados locais, como limpeza com água e sabão e, se possível, compressas com
permanganato de potássio (KMNO4), com diluição de 1/5 mil ml de água morna.
Antimoniato-N-metil-glucamina
Lesões cutâneas – nas formas cutânea localizada e disseminada, a dose recomendada
varia entre 10 a 20mg Sb+5/kg/dia. Sugere-se 15mg Sb+5/kg/dia, tanto para o adulto quanto
para crianças, durante 20 dias seguidos. Nunca deve ser utilizada dose superior a 3 ampolas/dia ou 15ml/dia para o adulto. Se não houver cicatrização completa no período de três
meses (12 semanas) após o término do tratamento, ou se neste mesmo período houver reativação da lesão, o esquema deverá ser repetido, prolongando-se, desta vez, a duração da série para 30 dias. Em caso de falha terapêutica, utilizar uma das drogas de segunda escolha.
Na forma difusa, a dose é de 20mg/Sb+5/kg/dia, durante 20 dias seguidos. Na fase inicial pode responder ao antimonial, porém são freqüentes as múltiplas recidivas, sendo necessário encaminhar o paciente para serviços especializados.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Tegumentar Americana
Lesões mucosas – em todas as formas de acometimento mucoso, a dose recomendada
é de 20mg/Sb+5/kg/dia, durante 30 dias seguidos, de preferência em ambiente hospitalar. Se
não houver cicatrização completa no período de três meses (12 semanas) após o término
do tratamento, ou se neste mesmo período houver reativação da lesão, o esquema deverá
ser repetido apenas uma vez. Em caso de não-resposta, utilizar uma das drogas de segunda
escolha.
Esquema terapêutico preconizado para as diversas formas clínicas de LTA,
segundo OMS e Ministério da Saúde
Forma clínica
Leishmaniose cutânea
Dose
10 - 20mg/Sb+5/kg/dia
(recomenda-se 15mg/Sb+5/kg/dia)
Tempo de duração
20 dias
Leishmaniose difusa
20mg/Sb+5/kg/dia
20 dias
Leishmaniose mucosa
20mg/Sb+5/kg/dia
30 dias
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Modo de aplicação – as aplicações devem ser feitas por via parenteral, intramuscular
ou intravenosa, com repouso após a aplicação.
A via intramuscular apresenta grande inconveniente de dor local. Sugere-se, então,
alternância dos locais de aplicação, preferindo-se a região glútea.
Por via intravenosa, não há necessidade de diluição e a aplicação, com agulha fina
(calibre 25x8) ou “scalp”, deve ser LENTA (duração de 5 minutos). Esta é a melhor via, pois
permite a aplicação de doses mais adequadas e não tem o inconveniente da dor local.
Contra-indicação – não deve ser administrado em gestantes, cujo tratamento consiste
em cuidados locais, observação clínica e sorológica (se possível). Nas formas graves, cutâneas ou mucosas, discutir a possibilidade de tratamento a partir do sexto mês, com doses
de antimônio mais baixas e controle laboratorial.
Nos casos em que exista associação com outras doenças, tais como tuberculose, malária, esquistossomose, o tratamento das mesmas deve ser efetuado primeiramente.
Há restrições para o tratamento de pacientes com idade acima de 50 anos, portadores
de cardiopatias, nefropatias, hepatopatias e doença de Chagas. Quando for necessária a
administração nos pacientes portadores de uma dessas doenças, deverá ser feita rigorosa
avaliação clínica antes do tratamento e reavaliações clínicas periódicas, com acompanhamento eletrocardiográfico (ECG), duas vezes por semana, e exame bioquímico do sangue
para avaliação das funções renal (dosagem de uréia e creatinina) e hepática (dosagem das
transaminases, bilirrubinas e fosfatase alcalina) e leucograma. Todos esses exames deverão
ser realizados semanalmente, para orientação da conduta quanto à redução da dose ou utilização de outra alternativa terapêutica.
Efeitos colaterais – podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, na seguinte ordem
de frequência: artralgia, mialgia, inapetência, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, epigastralgia, pirose, dor abdominal, prurido, febre, fraqueza, cefaléia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo, choque pirogênico, edema e insuficiência renal aguda (IRA).
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Essas queixas são, geralmente, discretas ou moderadas e raramente exigem a suspensão
do tratamento. Porém, nas doses de 20mg/Sb+5/kg/dia, o antimonial pode atingir o limiar
de toxicidade, podendo levar a alterações cardíacas ou renais que obriguem a suspensão do
tratamento. Por isso, deve-se proceder ao acompanhamento eletrocardiográfico prévio e
semanal e avaliação da função renal em todos os pacientes, especialmente naqueles acima
de 50 anos.
Algumas vezes, no início do tratamento, há uma exacerbação do quadro clínico com o
aumento do infiltrado, eritema das lesões, aumento da secreção nasal e faríngea. Presume-se
que isto decorra de uma resposta aos antígenos liberados com a morte do parasita (reação
do tipo Jarich-Herxheimer). Este quadro pode ocorrer com qualquer tratamento específico.
Em casos de lesões de laringe e faringe, podem ocorrer edema e insuficiência respiratória
aguda. Assim, é aconselhável que a medicação seja administrada por equipe especializada,
em paciente hospitalizado, e com possibilidade de realizar traqueostomia de urgência. Os
corticosteróides por via sistêmica podem ser utilizados nos quadros de hipersensibilidade.
Recomendações – é recomendável a abstinência de bebidas alcoólicas durante o período de tratamento, devido às alterações hepáticas. Também é recomendável o repouso
físico durante o tratamento.
Todas as reações adversas graves ou potencialmente graves abaixo descritas, devem
ser notificadas às autoridades sanitárias:
❯ arritmias cardíacas e/ou outras manifestações de cardiotoxicidade;
❯ insuficiência renal aguda ou elevação dos níveis séricos de uréia e creatinina e/ou
outras manifestações de nefrotoxicidade;
❯ icterícia e/ou elevação de enzimas hepáticas e/ou outras manifestações de hepatotoxicidade;
❯ pancreatite aguda e/ou hiperamilasemia;
❯ outras não citadas acima e que não tenham sido descritas anteriormente.
Não há nenhum impedimento de que se notifiquem casos que não se encaixem na
classificação acima, apenas não é imperativo que tais notificações sejam feitas. Na
dúvida, notifique.
Tratamento para crianças – emprega-se o mesmo esquema terapêutico utilizado para
o tratamento de pacientes adultos.
A via de administração (intramuscular ou intravenosa) deve ser decidida de acordo
com a apresentação clínica, o estado geral das crianças e as condições operacionais dos
serviços.
Anfotericina B
É a droga de segunda escolha, empregada quando não se obtém resposta ao tratamento com antimonial ou na impossibilidade de seu uso. A anfotericina B é também a droga de
escolha para o tratamento de pacientes grávidas.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
É importante esclarecer que a medicação deve ser feita sob vigilância, em serviços
especializados, com o paciente hospitalizado.
Dose – 1mg/kg/dia em dias alternados, sem contudo ultrapassar a dose total de 50mg
em cada aplicação. Deve ser administrada até atingir as seguintes doses totais:
❯ na forma cutânea: 1 a 1,5g;
❯ na forma mucosa: 2,5 a 3g.
Se necessário, esta dose total poderá ser elevada, desde que o paciente esteja sob vigilância clínica rigorosa, acompanhada das provas laboratoriais (uréia, creatinina e potássio)
que permitam avaliar, principalmente, a função renal. O exame ECG também deverá ser
realizado.
Realizar avaliação clínica e laboratorial e ECG ao iniciar o tratamento, com exames
bioquímicos do sangue para avaliação das funções renal (uréia e creatinina) e hepática (dosagem de bilirrubinas, transaminases e fosfatase alcalina) e hemograma, seguindo-se reavaliações semanais durante o tratamento.
Em idosos, a reavaliação da função renal e cardíaca deve ser feita duas vezes por semana.
Modo de aplicação – deve ser administrada por via intravenosa, gota a gota, lentamente (4 horas de infusão), utilizando-se equipo em “Y”, onde a anfotericina B é diluída em
250ml de soro glicosado a 5%, alternando sua administração com 250ml de soro glicosado
a 5% contendo 50 a 100mg de hidrocortisona, para a prevenção de efeitos colaterais. Aplicase em dias alternados.
Contra-indicação – é contra-indicada a administração da anfotericina B em cardiopatas, nefropatas e hepatopatas.
Efeitos colaterais – são de ocorrência muito freqüente: febre, anorexia, náuseas, vômitos e flebite, que podem ser atenuados ou evitados usando-se antipiréticos, antieméticos
ou 50 a 100mg de hidrocortisona, acrescentados ao soro. A presença dos sintomas descritos
não contra-indica a administração do medicamento.
Outros efeitos colaterais importantes que geralmente surgem no decorrer do tratamento são hipopotassemia, insuficiência renal, anemia, leucopenia e alterações cardíacas.
Recomendações – ratifica-se a necessidade de se fazer monitoramento laboratorial
semanal cardíaco (ECG), hepático (AST/ALT/FA) e renal (uréia/creatinina). Deve-se ainda
proceder à dosagem de K+ sérico, fazendo a reposição via oral quando indicada.
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Isotionato de pentamidina
É usada como medicamento alternativo, nos casos que não respondem aos antimoniais pentavalentes ou na impossibilidade de seu uso. Tem-se obtido bons resultados, com
baixas doses, na LTA causada pela L.(V.) guyanensis.
Dose e modo de aplicação – classicamente, a dose recomendada é de 4mg/kg/dia, por
via intramuscular profunda, de 2 em 2 dias, recomendando-se não ultrapassar a dose total
de 2g. Após 1g de aplicação o paciente deve ser monitorado com rigorosidade, destacando
a necessidade de realizar exame de glicose (glicemia) semanalmente.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Devido ao medicamento ter ação no metabolismo da glicose, pode haver hipoglicemia
seguida de hiperglicemia, quando do seu uso. O paciente deve ser orientado a alimentar-se
anteriormente e permanecer em repouso quinze minutos antes e após as injeções.
Apresentação comercial – sob a forma de dois sais (isotionato de pentamidina e mesilato de pentamidina). No Brasil é comercializado apenas o isotionato de pentamidina, que
se apresenta em frasco-ampola contendo 300mg/sal. O mesmo deve ser diluído em 3ml de
água destilada para uso clínico em aplicações intramusculares profundas.
Efeitos colaterais – as reações adversas mais freqüentes são dor, induração e abscessos estéreis no local da aplicação, além de náuseas, vômitos, tontura, adinamia, mialgias,
cefaléia, hipotensão, lipotimias, síncope, hipoglicemia e hiperglicemia. O diabetes mellitus
pode se manifestar a partir da administração da dose total de 1g. O efeito diabetogênico
pode ser cumulativo e dose-dependente.
Recomendações – recomenda-se o acompanhamento clínico e a reavaliação de exame
bioquímico do sangue para avaliação das funções renal (dosagem de uréia e creatinina) e
hepática (dosagem das transaminases, bilirrubinas e fosfatase alcalina), periodicamente, no
curso do tratamento, bem como dosagem da glicemia e acompanhamento eletrocardiográfico antes, durante e no final do tratamento. A glicemia deve ser acompanhada mensalmente durante um período de seis meses, quando ultrapassar a dose total de 1g.
Contra-indicações – para gestantes, portadores de diabetes, insuficiência renal, insuficiência hepática, doenças cardíacas e em crianças com peso inferior a 8kg.
Critérios de cura
O critério de cura é clínico e recomenda-se fazer o acompanhamento mensal nos três
primeiros meses e, quando curado o paciente, bimensalmente, até completar 12 meses após
o término do tratamento.
Forma cutânea – definido pelo aspecto clínico das lesões: reepitelização das lesões
ulceradas ou não, regressão total da infiltração e eritema, até 3 meses após a conclusão do
esquema terapêutico.
Forma mucosa – é também clínico, definido pela regressão de todos os sinais e comprovado pelo exame otorrinolaringológico, até 6 meses após a conclusão do esquema terapêutico. Na ausência do especialista, o clínico deve ser treinado para realizar, pelo menos,
rinoscopia anterior. Nos locais onde não há clínico, o paciente deve ser encaminhado para
serviço de referência, para avaliação de cura.
Acompanhamento regular – o paciente deve retornar mensalmente à consulta, durante três meses consecutivos após o término do esquema terapêutico, para ser avaliada
a cura clínica. Uma vez curado, o mesmo deverá ser acompanhado de 2 em 2 meses até
completar 12 meses após o tratamento.
Situações que podem ser observadas
• Tratamento regular da forma cutânea – definido como aquele caso que utilizou 10
a 20mg Sb+5/kg/dia entre 20 a 30 dias, não ocorrendo intervalo superior a 72 horas
entre as doses.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
• Tratamento regular da forma mucosa – caso que utilizou 20mg Sb+5/kg/dia entre
30 a 40 dias, não ocorrendo intervalo superior a 72 horas entre as doses.
• Tratamento irregular da forma cutânea e mucosa – caso que ultrapassou o tempo
previsto para um tratamento regular ou que tenha ocorrido um intervalo superior a
72 horas entre as doses.
• Falha terapêutica – caso que, mesmo tendo realizado dois esquemas terapêuticos
regulares, não apresentou remissão clínica.
• Recidiva reaparecimento de lesão no período inferior a um ano, após a cura clínica.
• Abandono caso que não tendo recebido alta não compareceu até 30 dias após o
terceiro agendamento para avaliação da cura. O terceiro agendamento se refere ao
3º mês após o término do esquema terapêutico, período destinado ao acompanhamento do caso e à avaliação de cura.
Condutas frente às situações que podem ser observadas
• Tratamento regular – paciente que retornar mensalmente à consulta, durante três
meses após o término do esquema terapêutico, para ser avaliado. Poderá receber alta
no transcorrer deste período ou reiniciar o tratamento, durante ou ao final dos três
meses de observação.
• Tratamento irregular – quando o paciente utilizou mais de 50% das doses preconizadas, observa-se as seguintes condutas:
❯ cura clínica: alta;
❯ melhora clínica: observação por até 3 meses, quando será reavaliado para
alta; ou ao final deste período, persistindo os sinais clínicos, dar início a
novo esquema terapêutico completo;
❯ sem melhora clínica: reiniciar de imediato o esquema terapêutico;
❯ caso o paciente tenha utilizado menos de 50% das doses prescritas, iniciar
de imediato o esquema terapêutico completo, a não ser que se apresente
clinicamente curado.
• Abandono – início do esquema terapêutico com antimonial pentavalente, a não ser
que se apresente clinicamente curado.
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Leishmaniose tegumentar e HIV/Aids
As leishmanioses podem modificar a progressão da doença pelo HIV e a imunodepressão causada por este vírus facilita a progressão das leishmanioses.
A avaliação do conjunto de manifestações clínicas das leishmanioses em pacientes
portadores de HIV indica não existir definição de um perfil clínico que possa ser indiscutivelmente associado à co-infecção.
Chamam a atenção os relatos de disseminação da doença cutânea com envolvimento
de órgãos raramente acometidos em indivíduos imunocompetentes, em um processo conhecido como visceralização da leishmaniose tegumentar.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Quadro 1. Condições em que deve ser oferecida a sorologia para o HIV em portadores de leishmaniose tegumentar
Qualquer forma clínica sem exposição recente (durante o último ano) a uma área de transmissão de LTA
Forma disseminada com ou sem acometimento mucoso concomitante
Forma mucosa com acometimento fora da cavidade nasal
Forma cutânea ou mucosa com achado de parasitas em vísceras
Forma difusa
Qualquer forma clínica associada à reação de Montenegro negativa
Achado de amastigotas no exame direto de material obtido de lesões mucosas
Isolamento em material de pele ou mucosas de espécies de leishmanias viscerotrópicas
Leishmania (Leishmania) chagasi ou não descritas como causadoras de lesões tegumentares
Falha terapêutica após o uso de antimonial pentavalente1
Recidiva tardia (mais de 6 meses após a cura clínica)
Lesões cutâneas que aparecem após o diagnóstico de lesão mucosa em atividade
1
Ausência de cura clínica após duas tentativas de tratamento com antimoniato de meglumina (10 a 20mg
SbV kg/dia por 20 a 30 dias), com período de observação de três meses após cada série de tratamento.
Quadro 2. Condição em que portadores de HIV/aids devem ser investigados para
leishmaniose tegumentar
Qualquer tipo de lesão cutânea ou mucosa de mais de duas semanas de evolução em pacientes expostos à
área de transmissão de leishmaniose tegumentar em qualquer época da vida.1
Deve ser considerado como área de transmissão, para fins de avaliação da exposição de risco, qualquer
município que tenha notificado pelo menos um caso autóctone de leishmaniose tegumentar durante o
período em que o paciente esteve exposto.
1
Aspectos terapêuticos e evolução – o critério de escolha das drogas utilizadas para a
terapêutica das leishmanioses em pacientes portadores de HIV não difere do preconizado
para os pacientes imunocompetentes. Considerando que os pacientes com LTA co-infectados com o HIV são indivíduos que podem apresentar outras doenças oportunistas que
os debilitam, a sua vulnerabilidade às reações adversas ao tratamento pode ser maior pelo
que se recomenda extremo cuidado no monitoramento adequado da toxicidade medicamentosa. Um dos aspectos mais marcantes na evolução da leishmaniose, na presença de
infecção por HIV, é a tendência a recidivas. Por isso, o paciente deverá ser acompanhado
mensalmente por 6 meses e, uma vez curado, bimensalmente, até completar 12 meses após
o término do tratamento.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Aspectos epidemiológicos
A leishmaniose tegumentar americana (LTA) apresenta-se em expansão geográfica.
Nas últimas décadas, as análises de estudos epidemiológicos da LTA têm sugerido mudanças em seu comportamento epidemiológico. Inicialmente considerada zoonose de animais
silvestres que acometia ocasionalmente pessoas em contato com florestas, a LTA começa a
ocorrer em zonas rurais já praticamente desmatadas e em regiões periurbanas. Observase a coexistência de um duplo perfil epidemiológico, expresso pela manutenção de casos
oriundos dos focos antigos ou de áreas próximas a eles, e pelo aparecimento de surtos epidêmicos associados a fatores decorrentes do surgimento de atividades econômicas como
garimpos, expansão de fronteiras agrícolas e extrativismo, em condições ambientais altamente favoráveis à transmissão da doença.
No período de 1985 a 2003, a LTA no Brasil vem apresentando coeficientes de detecção
que oscilam entre 10,45 a 21,23 por 100 mil habitantes. Ao longo desse período, observouse tendência ao crescimento da endemia, registrando-se os coeficientes mais elevados nos
anos de 1994 e 1995, quando atingiram níveis de 22,83 e 22,94 por 100 mil habitantes, respectivamente. O ano de 1998 apresentou queda significativa neste coeficiente (13,47 por 100
mil habitantes), fato que pode estar relacionado a problemas operacionais naquele ano.
Ao analisar a evolução da LTA nesse período, observa-se uma expansão geográfica,
sendo que no início da década de 1980 foram registrados casos autóctones em 19 unidades
federadas. Nos últimos anos, todos os estados registraram autoctonia da doença. A região
Nordeste vem contribuindo com o maior número de casos (cerca de 37,2% do total registrado no período) e a região Norte com os coeficientes mais elevados (93,84 por 100 mil
habitantes), seguidas pelas regiões Centro-Oeste (42,70 por 100 mil habitantes) e Nordeste
(26,50 por 100 mil habitantes).
A distribuição das densidades médias de casos de LTA por município, para os períodos de 2000-2002, permitiu a identificação de regiões de influência da LTA, caracterizando
os circuitos de produção da doença no país (Figura 1).
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Figura 1. Circuitos de produção de casos de LTA (2000-2002) e casos de LTA por
municípios. Brasil, 2003
Circuitos de LTA, 2000-2002
Casos de LTA – 2003 (1 ponto = 5 casos)
Fonte: Fiocruz/Ensp/Desp, SVS/MS
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Diagnosticar e tratar precocemente os casos, com vistas a reduzir as deformidades
provocadas pela doença.
• Em áreas de transmissão domiciliar, reduzir a incidência da doença adotando medidas de controle pertinentes, após investigação dos casos.
Definição de caso
Suspeito
Leishmaniose cutânea – todo indivíduo com presença de úlcera cutânea, com fundo
granuloso e bordas infiltradas em moldura.
Leishmaniose mucosa – todo indivíduo com presença de úlcera na mucosa nasal, com
perfuração ou perda do septo nasal, podendo atingir lábios e boca (palato e nasofaringe).
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Confirmado
Critério clínico-laboratorial de leishmaniose cutânea e/ou mucosa – a confirmação
dos casos clinicamente suspeitos deverá preencher, no mínimo, um dos seguintes critérios:
• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissão e encontro do parasito nos exames parasitológicos diretos e/ou indireto;
• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissão e intradermorreação de Montenegro (IRM) positiva;
• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissão com outros métodos de diagnóstico positivo.
Critério clínico-epidemiológico de leishmaniose cutânea e/ou mucosa – todo caso
com suspeita clínica, sem acesso a métodos de diagnóstico laboratorial e com residência,
procedência ou deslocamento em área com confirmação de transmissão. Nas formas mucosas, considerar a presença de cicatrizes cutâneas como critério complementar para confirmação do diagnóstico.
6
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo ou caso suspeito com diagnóstico
confirmado de outra doença.
Casos autóctones – são os casos confirmados de LTA com provável infecção no local
de residência.
Notificação
É doença de notificação compulsória; portanto, todo caso confirmado deve ser notificado pelos serviços públicos, privados e filantrópicos, utilizando a ficha de investigação
epidemiológica padronizada no Sinan.
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Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência ao paciente
Todo caso suspeito deve ser submetido às investigações clínica e epidemiológica e aos
métodos auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirmado, inicia-se o tratamento segundo
normas técnicas e acompanha-se mensalmente (para avaliação da cura clínica) pelos três
primeiros meses e, uma vez curado, bimensalmente, até completar 12 meses após o término
do tratamento.
Investigação
Após a detecção de casos de LTA, a investigação epidemiológica faz-se necessária para
identificar:
• se a área é endêmica ou se é um novo foco;
• se o caso é autóctone ou importado (no segundo, informar ao serviço de saúde do
local de origem);
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Leishmaniose Tegumentar Americana
• as características do caso (forma clínica, idade e sexo);
• novos casos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente.
O instrumento de coleta de dados e a ficha epidemiológica do Sinan, contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os seus campos
devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa (9- ignorado). Outros itens e observações podem ser incluídos conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan, relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Preencher os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos aos
antecedentes epidemiológicos, dados clínicos, laboratoriais e tratamento. Os dados entomológicos deverão ser preenchidos após estudo na provável área de transmissão.
• Para identificação da área de transmissão
❯ Verificar se o local de residência corresponde a uma área de provável transmissão
da leishmaniose.
❯ Investigar se houve deslocamento do caso, para áreas endêmicas, no período de 6
meses anterior ao início dos sintomas.
❯ Levantar se há conhecimento de outras pessoas com as mesmas manifestações
clínicas no local onde reside, no trabalho e outros.
Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares
ou responsáveis. Tais dados, que serão anotados na ficha de investigação, permitirão identificar o provável local de transmissão da leishmaniose.
A detecção de casos de LTA pode ocorrer por meio de:
❯ busca ativa de casos na área de foco;
❯ visitas domiciliares dos profissionais do Pacs e PSF;
❯ demanda espontânea à unidade de saúde;
❯ encaminhamento de suspeitos.
Quando o paciente residir em área reconhecidamente endêmica, a caracterização do
local de transmissão é facilitada. Entretanto, a história dos deslocamentos do paciente permitirá definir os locais prováveis de infecção. Se o local provável de transmissão é o intra ou
peridomicílio, é recomendado solicitar a realização de estudo entomológico (captura e identificação de flebotomíneos) para ajudar na investigação e adoção de medidas de controle.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importância para o processo de investigação e as medidas de controle, se indicadas.
Encerramento de caso
A ficha epidemiológica de cada caso deve ser analisada visando definir qual o critério
utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
Confirmado por critério clínico-laboratorial – encontro do parasito nos exames parasitológicos diretos e/ou indiretos ou intradermorreação de Montenegro positiva ou outros métodos diagnósticos positivo.
Confirmado por critério clínico-epidemiológico – verificar se a suspeita clínica
está associada à residência, procedência ou ao deslocamento em área com confirmação de
transmissão.
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Evolução do caso
Para a vigilância da leishmaniose tegumentar americana é de extrema importância
tratar e acompanhar os casos confirmados e conhecer a evolução clínica dos mesmos, conforme normas técnicas, visando reduzir a forma grave da doença (forma mucosa) e evitar
deformidades.
Análise dos dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude, transcendência e vulnerabilidade do problema e da indicação e/ou adequação das medidas de
controle, para reduzir o número de casos em áreas com transmissão domiciliar.
Estes dados são indispensáveis para a construção dos indicadores necessários à análise
epidemiológica da doença e ao acompanhamento e avaliação operacional das atividades de
controle, em cada nível de atuação.
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Divulgação dos dados
Após análise dos dados, os mesmos deverão ser amplamente divulgados.
Instrumentos disponíveis para controle
Atuação na cadeia de transmissão
A diversidade de agentes, reservatórios, vetores e situações epidemiológicas, aliada ao
conhecimento ainda insuficiente sobre vários desses aspectos, torna complexo o controle
desta doença.
O propósito das medidas de prevenção é a redução do contato homem-vetor, através de medidas de proteção individual, controle de reservatórios e aplicação do inseticida,
quando indicados.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
Em virtude das características epidemiológicas peculiares da LTA, as estratégias de
controle devem ser flexíveis e distintas, adequadas a cada região ou foco particular.
Para a seleção de estratégias, adequadas a cada região geográfica, deverá ser considerada a análise epidemiológica dos dados referentes a:
• registro dos casos humanos quanto à forma clínica, sexo, idade e procedência;
• estudos entomológicos para definir as espécies vetoriais, sua dispersão, graus de antropofilia e exotilia, infecção natural;
• estudos parasitológicos para definir a espécie do agente etiológico circulante no foco;
• estudos ecológicos para determinação dos reservatórios animais envolvidos; e
• caracterização de um surto epidêmico.
Proteção individual
Meios mecânicos, através do uso de mosquiteiros simples ou impregnados com deltametrina (em fase de experiência), telas finas em portas e janelas, uso de repelentes, uso
de camisas de manga comprida, calças compridas, meias e sapatos (de difícil aplicação nas
regiões de clima quente e úmido).
Em áreas de risco para assentamento de populações humanas, tem sido sugerida uma
faixa de segurança de 200 a 300 metros entre as residências e a floresta. Entretanto, uma
faixa deste tipo teria que ser muito bem planejada para evitar erosão e outros problemas
decorrentes do desequilíbrio ambiental, no caso de desmatamento.
Controle de reservatórios
Em pesquisas, a realização de inquéritos é necessária para melhor evidenciação do
papel dos reservatórios no ambiente peri e intradomiciliar. Não se considera, atualmente, a
possibilidade de controle dos reservatórios silvestres.
A identificação de lesões nos prováveis reservatórios, quando domésticos (cães e eqüídeos), demanda a realização de exames. Caso positivo, quando autorizado pelo proprietário, realizar a eutanásia do animal após avaliação.
Vale destacar que não é recomendada como rotina a realização de inquéritos sorológicos caninos em áreas com transmissão de LTA. É importante lembrar que a eutanásia em
cães e eqüinos só é indicada em situações em que estes animais apresentem exames sorológicos positivos com presença de lesão cutânea e com autorização do seu proprietário.
A geração, acondicionamento e destino inadequado do lixo orgânico pela população
favorecem a proliferação de reservatórios silvestres importantes (marsupiais e roedores) da
LTA. O lixo, portanto, deve ter destino adequado para evitar a atração dos mesmos.
Controle vetorial
O emprego de inseticidas contra os flebótomos é factível em situações de transmissão
peridomiciliar, domiciliar (caracterizada pela notificação de um ou mais casos autóctones
de LTA em menores de dez anos, residentes em áreas urbanas ou periurbanas). Ressalte-se
que a investigação epidemiológica do caso e a pesquisa entomológica indicarão o seu uso.
Nas áreas florestais, este método é impraticável.
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Leishmaniose Tegumentar Americana
A aplicação do inseticida, quando indicada pela vigilância entomológica, deve ser realizada com ação residual, sobre a superfície de paredes do domicílio e anexos domiciliares
(abrigo de animais domésticos, paióis, etc.). A aplicação espacial de inseticida não apresenta relação custo/benefício satisfatória, motivo pelo qual não é indicada.
A escolha do grupo de inseticidas que pode ser usado para tratamento residual deve
obedecer a seguinte ordem de preferência: piretróides, carbamatos e organofosforados.
A formulação do inseticida a ser utilizado e a época mais adequada para sua aplicação
deverão ser orientadas pelos estudos entomológicos sugeridos anteriormente, considerando, ainda, fatores biológicos, ambientais e climáticos.
Não é indicado o uso indiscriminado de controle químico. O serviço de entomologia
é quem deverá indicar o seu uso, após estudo e confirmação de transmissão de LTA
no peri e/ou intradomicílio.
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As normas de biossegurança, bem como as de proteção individual, como uso de máscaras, luvas e roupas especiais, devem ser rigorosamente observadas quando da utilização
de inseticidas.
Medidas educativas
As atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todos os serviços que
desenvolvem ações de controle da LTA, requerendo o envolvimento efetivo das equipes
multiprofissionais e multiinstitucionais, com vistas ao trabalho articulado nas diferentes
unidades de prestação de serviços através de:
• capacitação das equipes, englobando conhecimento técnico, aspectos psicológicos e
prática profissional em relação à doença e aos doentes;
• adoção de medidas preventivas, considerando o conhecimento da doença, atitudes
e práticas da população (clientela), relacionadas às condições de vida e trabalho das
pessoas;
• estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento do profissional e a vivência dos diferentes estratos sociais, através da compreensão global do processo
saúde/doença, no qual intervêm fatores sociais, econômicos, políticos e culturais.
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Investigação epidemiológica da leishmaniose tegumentar americana
Caso(s) suspeito(s) de leishmaniose cutânea
Coleta de dados clínicos
e epidemiológicos do paciente
Atenção médica/dados clínicos
Investigação
Caso confirmado
Exame laboratorial
Diagnóstico parasitológico
Negativo
Avaliar: clínica,
epidemiologia e IRM
Incompatível
Descartar o caso
Investigar
outros agravos
Identificar local
provável de infecção
Aplicação da IRM
Esfregaço da lesão
Positivo
Positivo
Negativo
Notificar
Avaliação da clínica
e epidemiologia
Descartar o caso
Compatível
Tratar
Compatível
Incompatível
Investigar
outros agravos
Reativação ou não
fechamento da lesão
Cura clínica
Fazer 2º esquema
Encerrar o caso
Reativação ou não
fechamento da lesão
Foco novo
Transmissão em
área silvestre
Educação em saúde
Medidas
de proteção
individual
Acompanhar – 1 a 3 meses
Regressão e
reepitelização da lesão
Foco antigo
Medidas
de proteção
coletiva
Provável transmissão no
peri e/ou intradomicílio
Pesquisa
entomológica
Busca ativa de casos
Casos suspeitos
Encaminhar
para unidade
de saúde
Positiva
Negativa
presença do
vetor no peri
e/ou intradomicílio
ausência do
vetor no peri
e/ou intradomicílio
Controle
vetorial
Encaminhar para
centro de referência
Avaliar e se necessário
iniciar droga de 2ª escolha
Controle de
reservatório
Leishmaniose Tegumentar Americana
Anexo 1
Leishmaniose tegumentar americana no Brasil – classificação
clínica e respectivos agentes etiológicos segundo Marzochi, M.
Leishmaniose tegumentar americana
Leishmaniose cutânea
Leishmaniose mucosa
(1) Forma cutânea única
(6) Forma mucosa tardia
(2) Forma cutânea múltipla
(7) Forma mucosa concomitante
(3) Forma cutânea disseminada
(8) Forma mucosa contígua
(4) Forma recidiva cútis
(9) Forma mucosa primária
(5) Forma cutânea difusa
(10) Forma mucosa indeterminada
Leishmania braziliensis
(1, 2, 3, 4)
Leishmania amazonensis
(1, 2, 3, 4, 5)
Leishmania guyanensis
(1, 2, 3)
6
Leishmania braziliensis
(6, 7, 8, 9, 10,)
Leishmania amazonensis
(8)
Leishmania guyanensis
(8)
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
L
463
Leishmaniose Tegumentar Americana
Anexo 2
Normas para procedimentos laboratoriais
O diagnóstico laboratorial do paciente com suspeita de leishmaniose tegumentar americana é da maior importância pois esta é uma doença que tem diagnóstico diferencial com
numerosas outras dermatoses e o medicamento disponível para seu tratamento pode causar
sérios efeitos colaterais. Embora a confirmação laboratorial seja imprescindível para o paciente, em determinadas áreas pode se proceder a confirmação pelo critério clínico-epidemiológico, de acordo com as orientações do tópico Definição de caso. A seguir, descrevem-se
os exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta dos espécimes.
Destaca-se que o diagnóstico laboratorial baseia-se na evidenciação do parasito e em
provas imunológicas. O material pode ser a pele, mucosa ou linfonodos acometidos.
1. Exame parasitológico
A evidenciação do parasito é feita através de exames direto e indireto. Para a pesquisa
direta, são utilizados os seguintes procedimentos: escarificação, biópsia com impressão por
aposição e punção aspirativa. O exame parasitológico direto é o procedimento de primeira
escolha, por ser mais rápido, de menor custo e fácil execução.
O sucesso no achado do parasito é inversamente proporcional ao tempo de evolução
da lesão cutânea, sendo rara após um ano. Lesões muito contaminadas também contribuem
para diminuir a sensibilidade do método. Recomenda-se a coleta do material após assepsia
local com água e sabão e, se possível, com água destilada ou soro fisiológico.
Escarificação – Pode ser realizada na borda da lesão ulcerada mais recente, sem secreção purulenta, ou na superfície da lesão não-ulcerada utilizando-se um estilete descartável,
lâmina de bisturi estéril ou palito de madeira, com extremidade em bisel, previamente esterilizado. Com o material coletado, realiza-se um esfregaço em lâmina. Na medida do possível, deve-se coletar material abundante para aumentar a possibilidade de positividade.
Impressão por aposição – É realizada através da compressão do fragmento de tecido,
obtido por biópsia, sobre uma lâmina microscópica, depois de retirada do sangue em uma
superfície absorvente (papel de filtro).
Tanto o esfregaço como a impressão devem ser realizados sobre lâmina de vidro previamente desengordurada e seca. O material coletado deve ser fixado em metanol, durante
3 minutos, e corado pelas técnicas de Giemsa ou Leishman.
A punção aspirativa pode ser realizada utilizando-se uma seringa de 5ml e agulha
25x8, com 3ml de solução salina estéril. Em centros de referência, este procedimento pode
ser realizado na investigação de comprometimento linfonodal primário.
Histopatologia – A biópsia pode ser feita com “punch” de 4mm de diâmetro, ou em
cunha, com o uso de bisturi. Nas lesões ulceradas, deve-se preferir a borda íntegra da lesão
464
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Tegumentar Americana
que, em geral, mostra aspecto tumefeito e hiperêmico. O local a ser biopsiado deve ser limpo
com água e sabão; a seguir, infiltra-se lidocaína ou xilocaína a 2%, para anestesiar o local.
O material retirado por biópsia deve ser fixado em formol a 10%, em quantidade, aproximadamente, 20 vezes maior que o volume do fragmento.
Cultivo – é um método de confirmação etiológica que permite a definição da espécie
de Leishmania envolvida.
O parasita cresce relativamente bem em meios de cultivo, como o NNN e o LIT entre
24°C e 26°C. Após o quinto dia, já podem ser encontradas formas promastigotas do parasito, devendo-se manter a cultura até um mês.
Inoculação em animais de laboratório – o animal de escolha é o hamster (Mesocricetus auratus) e os locais de preferência são as extremidades, principalmente as patas
posteriores. O inóculo deve ser obtido a partir de suspensão homogeneizada do material
de biópsia em solução salina estéril. As lesões no hamster desenvolvem-se tardiamente (a
partir de um mês), sendo este método reservado para pesquisas.
6
2. Diagnóstico imunológico
Intradermorreação de Montenegro (IRM) – traduz a resposta de hipersensibilidade
celular retardada. A reação de Montenegro é realizada através da inoculação intradérmica
de 0,1ml do antígeno padronizado em 40mg N/ml, no antebraço esquerdo, a mais ou menos 2 a 3cm abaixo da dobra do cotovelo, de modo a formar pequena elevação ou pápula. A
leitura deve ser feita após 48 a 72 horas. A reação é considerada positiva quando a induração resultante for maior ou igual a 5mm. É um teste de grande valor preditivo devido à sua
sensibilidade, sendo positivo em mais de 90% dos casos de LTA. Nas áreas onde predomina
a L.(L) amazonensis, a positividade pode ser mais baixa.
Pode apresentar-se negativa nos seguintes casos:
• nos primeiros 30 dias após o início das lesões, excepcionalmente se prolongando;
• nos casos de leishmaniose disseminada, positivando-se no decorrer do tratamento;
• na leishmaniose cutâneo-difusa;
• na leishmaniose visceral;
• em pacientes imunodeprimidos.
L
A reação de Montenegro geralmente permanece positiva após o tratamento ou cicatrização da lesão cutânea tratada ou curada espontaneamente, negativando nos indivíduos
fraco-reatores e nos precocemente tratados. Em áreas endêmicas, deve-se considerar leishmaniose anterior ou exposição ao parasito (infecção) sem doença. Nas lesões mucosas, a
resposta cutânea ao teste de Montenegro é mais intensa, podendo ocorrer até ulceração e
necrose local.
Imunofluorescência indireta (IFI) e teste imunoenzimático (Elisa) – os pacientes
com LTA geralmente apresentam títulos de anticorpos baixos. Assim, não há indicação para
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
465
Leishmaniose Tegumentar Americana
utilização dos testes que expressam os níveis de anticorpos circulantes na rotina como critério
de diagnóstico, pois não representam boa ferramenta para esse fim.
As reações sorológicas de imunofluorescência indireta (IFI) e o ensaio imunoenzimático (Elisa) podem ser utilizados em centros de referência, com fins de pesquisa, e são úteis
principalmente nos casos com lesões extensas e múltiplas e nas lesões mucosas.
Após o tratamento e cura em ambas as formas de doença, os títulos podem cair ou
desaparecer em alguns meses.
Coleta e conservação de material para diagnóstico laboratorial da leishmaniose
tegumentar americana
Tipo de
diagnóstico
Parasitológico
IRM
Tipo de
material
Secreção
da lesão
Aplicação
no antebraço
de antígeno
de Montenegro
Quantidade
Período
da coleta
Recipiente
O suficiente
para o esfregaço
e para colocar no
meio de cultura
Na presença de
úlcera cutânea
e/ou mucosa
e/ou quadro
clínico suspeito
(forma mucosa
metastásica)
Lâmina
ponta fosca
ou meio de
cultura apropriado para
transporte
Na presença de
úlcera cutânea
e/ou mucosa
e/ou quadro
clínico suspeito
(forma mucosa
metastásica)
Não se aplica
Na presença de
úlcera cutânea
e/ou mucosa
e/ou quadro
clínico suspeito
(forma mucosa
metastásica)
Tubo estéril
de plástico
ou vidro com
tampa de
rosca com
vácuo
0,1ml
intradérmico
(tipo tuberculina)
Inocular em
temperatura
ambiente
Leitura em
48 e 72 horas
Sangue
Sorologia
Obtenção
da amostra:
punção
venosa
Crianças:
2-5ml
Adultos:
10ml
Armazenamento/
conservação
Temperatura
ambiente
ou -4ºC
Transporte
Porta-lâminas ou
em material que
garanta a integridade da lâmina
Gelo seco
ou reciclável
Nitrogênio líquido
Não se aplica
-4ºC
Não se aplica
Gelo seco
ou reciclável
Nitrogênio
líquido
Observações
• Em situações em que a lesão cutânea e/ou mucosa apresente infecção secundária, a
mesma deverá ser tratada antes de se proceder a coleta para exame laboratorial.
• Lembrar que o antígeno de Montenegro deverá ser acondicionado em temperatura
de 2ºC a 8ºC.
• A necessidade de sorologia deve ser analisada criteriosamente, considerando a baixa
resposta humoral que a doença provoca.
Todo o material deverá ser enviado devidamente identificado e acompanhado de informações clínicas para orientar os técnicos do laboratório quanto aos exames. Lembrar que o perfeito acondicionamento das amostras para remessa é de fundamental
importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais.
466
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Leishmaniose Visceral
LEISHMANIOSE VISCERAL
CID 10: B55.0
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A leishmaniose visceral (LV) foi primariamente uma zoonose, caracterizada como
doença de caráter eminentemente rural. Mais recentemente, vem se expandindo para áreas
urbanas de médio e grande porte e se tornou crescente problema de saúde pública no país e
em outras áreas do continente americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica. É uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de
peso, astenia, adinamia e anemia, dentre outras manifestações. Quando não tratada, pode
evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.
6
Sinonímia
Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundun, dentre outras denominações menos
conhecidas.
Reservatórios
Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootia
canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais
prevalente que no homem. No ambiente silvestre os reservatórios são as raposas (Dusicyon
vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris).
L
Vetores
No Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da
doença, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira é considerada a principal espécie transmissora da L. (L.) chagasi mas a L. cruzi também foi incriminada como vetora
no estado do Mato Grosso do Sul. São insetos denominados flebotomíneos, conhecidos
popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros.
Em nosso país, a distribuição geográfica de L. longipalpis é ampla e parece estar em
expansão. Esta espécie é encontrada em quatro das cinco regiões geográficas: Nordeste,
Norte, Sudeste e Centro-Oeste.
A L. longipalpis adapta-se facilmente ao peridomicílio e a variadas temperaturas, podendo ser encontrada no interior dos domicílios e em abrigos de animais domésticos. Há
indício de que o período de maior transmissão da leishmaniose visceral ocorra durante e
logo após a estação chuvosa, quando há aumento da densidade populacional do inseto.
A atividade dos flebotomíneos é crepuscular e noturna. No intra e peridomicílio, a L.
longipalpis é encontrada, principalmente, próxima a uma fonte de alimento. Durante o dia,
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467
Leishmaniose Visceral
estes insetos ficam em repouso, em lugares sombreados e úmidos, protegidos do vento e de
predadores naturais.
Modo de transmissão
No Brasil, a forma de transmissão é através da picada dos vetores – L. longipalpis ou
L. cruzi – infectados pela Leishmania (L.) chagasi. A transmissão ocorre enquanto houver o
parasitismo na pele ou no sangue periférico do hospedeiro.
Alguns autores admitem a hipótese da transmissão entre a população canina através
da ingestão de carrapatos infectados e, mesmo, através de mordeduras, cópula e ingestão de
vísceras contaminadas, porém não existem evidências sobre a importância epidemiológica
destes mecanismos de transmissão para humanos ou na manutenção da enzootia.
Não ocorre transmissão direta da leishmaniose visceral de pessoa a pessoa.
Período de incubação
É bastante variável tanto para o homem como para o cão; no homem, é de 10 dias a
24 meses, com média entre 2 a 6 meses; no cão, varia de 3 meses a vários anos, com média
de 3 a 7 meses.
Susceptibilidade e imunidade
Crianças e idosos são mais susceptíveis. Existe resposta humoral detectada através
de anticorpos circulantes, que parecem ter pouca importância como defesa. A Leishmania é um parasito intracelular obrigatório de células do sistema fagocitário mononuclear e
sua presença determina uma supressão reversível e específica da imunidade mediada por
células, o que permite a disseminação e multiplicação incontrolada do parasito. Só uma
pequena parcela de indivíduos infectados desenvolve sinais e sintomas da doença. Após a
infecção, caso o indíviduo não desenvolva a doença, observa-se que os exames que pesquisam imunidade celular ou humoral permanecem reativos por longo período. Isso requer a
presença de antígenos, podendo-se concluir que a Leishmania ou alguns de seus antígenos
estão presentes no organismo infectado durante longo tempo, depois da infecção inicial.
Esta hipótese apoia-se no fato de que indivíduos que desenvolvem alguma imunossupressão podem apresentar quadro de leishmaniose visceral muito além do período habitual de
incubação.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A infecção pela L.(L) chagasi caracteriza-se por um amplo espectro clínico, que pode
variar desde manifestações clínicas discretas (oligossintomáticas) a moderadas e graves,
que se não tratadas podem levar o paciente à morte.
468
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Leishmaniose Visceral
Infecção
As infecções inaparentes ou assintomáticas são aquelas em que não há evidência de
manifestações clínicas. O diagnóstico, quando feito, é pela coleta de sangue para exames sorológicos (imunofluorescência indireta/IFI ou enzyme linked immmunosorbent assay/Elisa)
ou através da intradermorreação de Montenegro reativa. Os títulos de anticorpos em geral
são baixos e podem permanecer positivos por longo período. Vale a pena lembrar que os
pacientes que apresentam cura clínica ou aqueles com leishmaniose tegumentar (formas
cutânea e mucosa) podem apresentar reatividade nos exames sorológicos e na intradermorreação de Montenegro. É importante destacar que os pacientes com infecção inaparente não
são notificados e não devem ser tratados.
Leishmaniose visceral
A suspeita clínica da leishmaniose visceral deve ser levantada quando o paciente apresentar febre e esplenomegalia associada ou não à hepatomegalia.
Para facilitar sua compreensão e considerando a evolução clínica da doença, optou-se
em dividi-la em períodos: período inicial, período de estado e período final.
Período inicial – esta fase da doença, também chamada de “aguda” por alguns autores,
caracteriza o início da sintomatologia que pode variar de paciente para paciente, mas na
maioria dos casos inclui febre com duração inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. Em área endêmica, uma pequena proporção de indivíduos,
geralmente crianças, pode apresentar quadro clínico discreto, de curta duração, aproximadamente 15 dias, que freqüentemente evolui para cura espontânea (forma oligossintomática). A combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais que melhor parece
caracterizar a forma oligossintomática é: febre, hepatomegalia, hiperglobulinemia e velocidade de hemossedimentação alta.
Período de estado – caracteriza-se por febre irregular, geralmente associada a emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta, no mais das vezes, um quadro clínico arrastado, geralmente com mais de dois meses
de evolução, na maioria das vezes associado a comprometimento do estado geral.
Período final – caso não seja feito o diagnóstico e tratamento, a doença evolui progressivamente para o período final, com febre contínua e comprometimento mais intenso
do estado geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca)
e edema dos membros inferiores, que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestes
pacientes, o óbito geralmente é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos.
6
L
Complicações no curso evolutivo da doença
As complicações mais freqüentes da leishmaniose visceral são de natureza infecciosa
bacteriana. Dentre elas, destacam-se: otite média aguda, piodermites, infecções dos tratos
urinário e respiratório. Caso estas infecções não sejam tratadas com antimicrobianos, o
paciente poderá desenvolver um quadro séptico com evolução fatal. As hemorragias são
geralmente secundárias à plaquetopenia, sendo a epistaxe e a gengivorragia as mais comu-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
469
Leishmaniose Visceral
mente encontradas. A hemorragia digestiva e a icterícia, quando presentes, indicam gravidade do caso.
Por ser uma doença de notificação compulsória e com características clínicas de evolução grave, o diagnóstico deve ser feito de forma precisa e o mais precocemente possível. As
rotinas de diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes necessitam ser implantadas e/ou implementadas obrigatoriamente em todas as áreas com transmissão ou em risco
de transmissão. Os níveis de complexidade de atendimento dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) contemplam os três níveis de atendimento ao paciente: atendimento primário (postos de saúde), secundário (centros de saúde) e terciário (hospitais gerais e/ou de referência).
O diagnóstico e tratamento dos pacientes deve ser realizado precocemente e sempre
que possível a confirmação parasitológica da doença deve preceder o tratamento. Em situações onde o diagnóstico sorológico e/ou parasitológico não estiver disponível ou na demora
da liberação dos mesmos, o início do tratamento não deve ser postergado.
Diagnóstico diferencial
Muitas entidades clínicas podem ser confundidas com a leishmaniose visceral, destacando-se, entre elas, a enterobacteriose de curso prolongado (associação de esquistossomose com salmonela ou outra enterobactéria), cujas manifestações clínicas se superpõem
perfeitamente ao quadro da leishmaniose visceral. Em muitas situações, esse diagnóstico
diferencial só pode ser concluído por provas laboratoriais, já que as áreas endêmicas se
superpõem em grandes faixas do território brasileiro. Somam-se a essa entidade outras patologias (malária, brucelose, febre tifóide, esquistossomose hepatoesplênica, forma aguda
da doença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo, anemia falciforme, etc.).
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial, na rede básica de saúde, baseia-se principalmente em exames imunológicos e parasitológicos:
Diagnóstico imunológico – pesquisa de anticorpos contra leishmania
Imunofluorescência indireta (Rifi) – o resultado da imunofluorescência indireta é
normalmente expresso em diluições. Considera-se como positivas as amostras reagentes a
partir da diluição de 1:80. Nos títulos iguais a 1:40, com clínica sugestiva de leishmaniose
visceral, recomenda-se a solicitação de nova amostra em 30 dias.
Ensaio imunoenzimático (Elisa) – o resultado desse teste é expresso em unidades
de absorvância a um raio de luz, em uma reação com diluições fixas ou mais comumente,
apenas como reagente ou não.
IDRM – a intradermorreação de Montenegro, ou teste de leishmanina, ao contrário
do que ocorre na leishmaniose tegumentar, é geralmente negativo durante o período de
estado da doença, não sendo assim, utilizado para o diagnóstico. Na maioria dos pacientes,
torna-se positivo após a cura clínica em um período de seis meses a três anos após o término do tratamento.
470
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Leishmaniose Visceral
É importante observar que títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica.
Diagnóstico parasitológico
É o diagnóstico de certeza feito pelo encontro de formas amastigotas do parasito em
material biológico obtido preferencialmente da medula óssea, por ser um procedimento
mais seguro, do linfonodo ou do baço; no caso deste último, deve ser realizado em ambiente
hospitalar e em condições cirúrgicas. A punção aspirativa esplênica é o método que oferece
maior sensibilidade (90%-95%) para demonstração do parasito (porém apresenta restrições quanto ao procedimento), seguida pelo aspirado de medula óssea, biópsia hepática
e aspiração de linfonodos. O material aspirado deverá ser examinado segundo a seguinte
seqüência:
Exame direto – formas amastigotas do parasito podem ser visualizadas pelas colorações de Giemsa ou Wright, Leishman, Panóptico. O encontro de parasitos no material examinado depende do número de campos observados (200 campos devem ser examinados
antes de se considerar uma lâmina como negativa).
Isolamento em meio de cultura (in vitro) – formas amastigotas do parasito, inoculadas em meios de cultura especiais contendo ágar e sangue de coelho, transformam-se em
formas promastigotas. O clássico meio de NNN é o mais comumente empregado. A utilização de meio líquido sobre o NNN, como o meio LIT ou de Schneider, aumenta e acelera a
positividade da cultura. As culturas devem ser mantidas entre 24ºC-26ºC e observadas em
microscopia óptica comum ou invertida, semanalmente, até 4 semanas. Os tubos positivos
devem ser encaminhados para laboratórios de referência, para identificação da espécie.
Isolamento em animais susceptíveis (in vivo) – a inoculação experimental em hamsters (Mesocricetus spp), de amostras de tecidos de pacientes com suspeita de leishmaniose
visceral, não tem valor prático no diagnóstico da doença devido ao seu tempo de positividade (1 a 3 meses).
Novos métodos de diagnóstico – o método do PCR (amplificação do DNA do parasito) constitui uma nova perspectiva para o diagnóstico da leishmaniose visceral, pois
apresenta 94% de sensibilidade. Entretanto, seus resultados dependem de algumas variáveis
envolvidas, entre elas: área endêmica, tipo de amostra, alvo do DNA utilizado para amplificação, método de extração do DNA, etc.
6
L
Tratamento
Primeira escolha
A droga de primeira escolha é o antimonial pentavalente. Visando padronizar o esquema terapêutico, a Organização Mundial da Saúde recomenda que a dose deste antimonial
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
471
Leishmaniose Visceral
seja calculada em mg/Sb+5/kg/dia (Sb+5 significando antimônio pentavalente). Há dois tipos
de antimoniais pentavalentes que podem ser utilizados, o antimoniato N-metilglucamina e
o stibogluconato de sódio, porém este último não é comercializado no Brasil. O antimoniato de N-metil glucamina apresenta-se comercialmente em frascos de 5ml que contêm 1,5g
do antimoniato bruto, correspondente a 405mg de Sb+5. Portanto, uma ampola com 5ml
tem 405mg de Sb+5, e cada ml contém 81mg de Sb+5. A dose recomendada para o tratamento é de 20mg/kg/dia de Sb+5 durante 20 dias, podendo chegar a 30 dias e, no máximo, 40
dias, utilizando o limite máximo de 3 ampolas/dia.
Modo de aplicação – as aplicações devem ser feitas por via parenteral, intramuscular
ou endovenosa, com repouso após a aplicação. A via intramuscular apresenta o inconveniente da dor local. Sugere-se, então, alternância dos locais de aplicação, preferindo-se a
região glútea. Por via endovenosa, não há necessidade de diluição e a aplicação, com agulha
fina (calibre 25x8) ou “scalp” deve ser lenta (duração de 5 minutos). Esta é a melhor via, pois
permite a aplicação de doses mais adequadas e não tem o inconveniente da dor local.
Contra-indicação – não deve ser administrado em gestantes, cujo tratamento consiste em cuidados locais, observação clínica e sorológica, se possível. Nas formas graves,
cutâneas ou mucosas, discutir a possibilidade de tratamento a partir do sexto mês, com
doses mais baixas de antimônio e controle laboratorial. Nos casos em que exista associação
com outras doenças, tais como tuberculose, malária, esquistossomose, deve ser efetuado
o tratamento destas patologias primeiramente ou utilizar a droga de segunda escolha. Há
restrições para o tratamento de pacientes com idade acima dos 50 anos, portadores de cardiopatias, nefropatias, hepatopatias e doença de Chagas. Quando for necessária a administração nos pacientes portadores de uma dessas doenças, deverá ser feita rigorosa avaliação
clínica antes do tratamento e reavaliações clínicas periódicas, com acompanhamento eletrocardiográfico, duas vezes por semana, e exame bioquímico do sangue para avaliação
das funções renal (dosagem de uréia e creatinina) e hepática (dosagem das transaminases,
bilirrubinas e fosfatase alcalina) e leucograma. Todos esses exames deverão ser realizados
semanalmente, para orientação da conduta quanto à redução da dose ou utilização de outra
alternativa terapêutica.
Efeitos colaterais – podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, na seguinte ordem
de freqüência: artralgia, mialgia, inapetência, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, epigastralgia, pirose, dor abdominal, prurido, febre, fraqueza, cefaléia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo, choque pirogênico, edema e insuficiência renal aguda (IRA). Essas queixas
são, geralmente, discretas ou moderadas e raramente exigem a suspensão do tratamento.
Porém, nas doses de 20mg/Sb+5/kg/dia, o antimonial pode atingir o limiar de toxicidade,
podendo levar a alterações cardíacas ou renais que obriguem a suspensão do tratamento.
Por isso, deve-se proceder ao acompanhamento eletrocardiográfico prévio e semanal e avaliação da função renal, especialmente em pacientes acima de 50 anos. É aconselhável que
a medicação seja administrada por equipe especializada pois há possibilidade de realizar
procedimentos de urgência. Os corticóides por via sistêmica podem ser utilizados nos quadros de hipersensibilidade.
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Leishmaniose Visceral
Recomendações – é recomendável a abstinência de bebidas alcoólicas durante o período de tratamento, devido às alterações hepáticas. Também é recomendável o repouso
físico durante o tratamento.
Tratamento para crianças – emprega-se o mesmo esquema terapêutico utilizado para
o tratamento de pacientes adultos.
Todas as reações adversas graves ou potencialmente graves abaixo descritas devem ser
notificadas às autoridades sanitárias:
• arritmias cardíacas e/ou outras manifestações de cardiotoxicidade;
• insuficiência renal aguda ou elevação dos níveis séricos de uréia e creatinina e/ou
outras manifestações de nefrotoxicidade;
• icterícia e/ou elevação de enzimas hepáticas e/ou outras manifestações de hepatotoxicidade;
• pancreatite aguda e/ou hiperamilasemia;
• outras não citadas acima e que não tenham sido descritas anteriormente.
6
Não há nenhum impedimento de que se notifiquem casos que não se encaixem na
classificação acima, apenas não é imperativo que tais notificações sejam feitas. Na
dúvida, notifique.
Critérios de cura – os critérios de cura são essencialmente clínicos. O desaparecimento da febre é precoce e acontece por volta do 5º dia de medicação; a redução da hepatoesplenomegalia ocorre nas primeiras semanas. Ao final do tratamento o baço geralmente
apresenta redução de 40% ou mais em relação à medida inicial. A melhora dos parâmetros
hematológicos (hemoglobina e leucócitos) surgem a partir da segunda semana. As alterações vistas na eletroforese de proteínas se normalizam lentamente, podendo levar meses.
O ganho ponderal do paciente é visível, com retorno do apetite e melhora do estado geral.
Nesta situação, o controle através de exame parasitológico ao término do tratamento é dispensável. O seguimento do paciente tratado deve ser feito aos 3, 6 e 12 meses após o tratamento e na última avaliação, se permanecer estável, é considerado curado. O aparecimento
de eosinofilia ao final do tratamento ou ao longo dos seguimentos é sinal de bom prognóstico. As provas sorológicas não são indicadas para seguimento do paciente.
L
Conceitos adotados pelo Programa
de Controle da Leishmaniose Visceral
Tratamento regular – caso que utilizou 20 doses de 20mg/Sb+5 /kg/dia de antimonial
pentavalente em, no máximo, 30 dias, não ocorrendo intervalos superiores a 72 horas entre
as doses.
Tratamento irregular – caso que ultrapassou o tempo previsto para o tratamento regular ou que tenha ocorrido intervalos superiores a 72 horas entre as doses.
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Leishmaniose Visceral
Falha terapêutica – caso em que não ocorreu cura clínica após a segunda série regular
de tratamento com antimonial pentavalente.
Abandono de tratamento – caso que não completou 20 doses de tratamento com antimonial pentavalente no tempo preestabelecido, ou pacientes que não tendo recebido alta
não compareceram até 30 dias após o agendamento, para avaliação clínica.
Recidiva – recrudescimento da sintomatologia, em até 12 meses após cura clínica. É
considerado caso novo o reaparecimento de sintomatologia após 12 meses de cura clínica,
desde que não haja evidência de imunodeficiência.
Condutas diante do abandono de tratamento
Quando houver a interrupção no tratamento, deve ser considerado o número de doses, o
estado clínico atual e o tempo decorrido da última dose. Caso o paciente retorne antes de sete
dias de interrupção da droga, completar 20 doses; após sete dias, considerar o que se segue:
Retorno após 7 dias
Número de doses
Clinicamente curado
Clinicamente doente
Menos de 10
Reiniciar tratamento
Reiniciar tratamento
10 ou mais
Observar
Reiniciar tratamento
Segunda escolha
Estão incluídos nesta categoria o desoxicolato sódico de anfotericina B e suas formulações lipossomais (anfotericina-B-lipossomal e anfotericina-B-dispersão coloidal) , as pentamidinas (sulfato e mesilato) e os imunomoduladores (interferon gama e GM-CSF). Com
exceção das duas primeiras drogas, as demais encontram-se ainda em fase de investigação.
O desoxicolato sódico de anfotericina B está disponível na rede e só deve ser administrado
em hospitais de referência.
Anfotericina B
É a droga leishmanicida mais potente disponível comercialmente, atuando nas formas
promastigotas e amastigotas do parasito, tanto in vitro quanto in vivo. Seu mecanismo de ação
se dá através da ligação preferencial com esteres (ergosterol ou episterol) presentes na membrana plasmática da Leishmania. Tem sido demonstrado que doses menores do medicamento
podem ser utilizadas sem prejuízo da eficácia e com conseqüente diminuição de toxicidade.
No Brasil, a dose de 1mg/kg/dia durante 14 dias consecutivos (dose total de 14mg/kg) foi
utilizada em 80 pacientes, com idades variando de 6 meses a 19 anos, com índices de cura de
97%. Nos casos de resposta insatisfatória aos antimoniais, a anfotericina B deve ser utilizada
na dose total de 15 a 25mg/kg de peso administrada em dias alternados. Doses acima das
recomendadas podem ser usadas em casos especiais (máximo de 3g de dose total).
Em decorrência de sua baixa solubilidade, a anfotericina B mesma deve ser reconstituída em 10ml de água destilada no momento do uso, podendo ser mantida em refrigeração
(2ºC a 8ºC) por um período de até 7 dias. No momento da administração, a solução deverá
474
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Leishmaniose Visceral
ser diluída em soro glicosado a 5% na proporção de 1mg para 10ml. Devido ao risco de
precipitação, a anfotericina B não deve ser misturada a outros medicamentos ou soluções
que contenham eletrólitos. Deve ser sempre administrada por via endovenosa, em infusão
lenta (4-6 horas), com limite máximo de 50mg/dose/dia.
Efeitos colaterais – são inúmeros e freqüentes, todos dose-dependentes, sendo altamente tóxica para as células do endotélio vascular, causando flebite, considerada um paraefeito comum. Durante a infusão poderá ocorrer cefaléia, febre, calafrios, astenia, dores
musculares e articulares, vômitos e hipotensão. A infusão rápida (menos de 1 hora) é responsável pela instalação de hiperpotassemia, determinando alterações cardiovasculares, às
vezes com parada cardíaca caso a infusão seja muito rápida. Ao longo do tratamento poderão surgir sobrecarga hídrica e hipopotassemia. Alterações pulmonares, como desconforto
respiratório, dispnéia e cianose também são descritas. Em caso de efeitos colaterais com o
uso da anfotericina B o paciente pode ser medicado com uma dessas drogas (por exemplo, o
diclofenaco, que deve ser administrado 2 horas antes do início da infusão). As complicações
renais com o uso da anfotericina B são as mais importantes - graus variados de comprometimento renal ocorrem em praticamente todos os pacientes ao longo do tratamento. As alterações renais são totalmente reversíveis quando a droga é usada nas doses recomendadas.
Novas formulações – atualmente, outras formulações tornaram-se disponíveis comercialmente: anfotericina-B-lipossomal e anfotericina-B-dispersão coloidal. A experiência
acumulada com o uso da anfotericina-B-lipossomal no tratamento do calazar é maior do
que aquela com a dispersão coloidal, que parece ser mais tóxica que a anterior. A anfotericina B lipossomal é uma outra droga disponível, porém de custo elevado o que impossibilita
o seu uso na rotina do serviço. Está sendo indicada aos pacientes graves de leishmaniose
visceral, principalmente os que desenvolveram insuficiência renal ou toxicidade cardíaca
durante o uso do antimoniato de N-metil-glucamina e de outras drogas de escolha não
obtendo melhora ou cura clínica. Para o tratamento de leishmaniose visceral, a dose recomendada é de 3,0mg/kg/dia, durante 7 dias.
6
L
Situações específicas que devem ser observadas
Leishmaniose visceral em gestantes
No Brasil, a ocorrência de leishmaniose visceral durante a gravidez é considerada rara.
O tratamento em pacientes no período gestacional teria dupla indicação: tratar a gestante
e prevenir uma possível transmissão transplacentária. Devem ser feitas considerações importantes em relação às drogas disponíveis na atualidade e às possibilidades de efeitos teratogênicos e toxicidade para o concepto. Os antimoniais pentavalentes atravessam a barreira
placentária e podem impregnar tecidos nervosos no feto, levando a síndromes severas de
retardo mental. Portanto, está contra-indicada a utilização do antimonial pentavalente durante os dois primeiros trimestres da gravidez. Não há contra-indicação de seu uso durante
a amamentação. A anfotericina B é a droga de escolha para o tratamento da leishmaniose
visceral em pacientes grávidas. Recomenda-se a dose de 1mg/kg/dia, durante 14 dias consecutivos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
475
Leishmaniose Visceral
Leishmaniose visceral e HIV/Aids
A tríade clássica da leishmaniose visceral é também a manifestação mais comum na
co-infecção Leishmania/HIV: hepatoesplenomegalia, anemia, leucopenia (média de 2.300/
ml), plaquetopenia, febre, adenopatia, astenia, emagrecimento. Certamente, como conseqüência do maior número de casos de co-infecção ocorrer em pacientes com menos de 200
células CD4+/ml, outras infecções oportunistas são freqüentemente associadas. As mais relatadas são candidíase esofagiana, pneumonia por Pneumocystis carini; infecção por Mycobacterium tuberculosis, toxoplasmose do sistema nervoso central e criptococose do sistema
nervoso central. A leishmaniose visceral deve ser incluída no diagnóstico diferencial com
doenças oportunistas como tuberculose disseminada, linfomas, salmoneloses, citomegalovírus, Toxoplasma gondii, Pneumocystis carinii, histoplasmose e coccidiodomicose, entre
outras.
Diagnóstico da co-infecção Leishmania/HIV
Os testes convencionais de diagnóstico sorológico da leishmaniose visceral que oferecem sensibilidade em torno de 90% a 100% em pacientes imunocompetentes apresentam
sensibilidade de 50% a 60% em pacientes com HIV. Quando técnicas sorológicas foram
associadas, 20% dos pacientes co-infectados apresentaram resultados negativos em todas as
técnicas utilizadas (imunofluorescência indireta, Elisa, Western Blot e contra-imunoeletroforese). Devido ao grande número de parasitos em macrófagos circulantes observados nos
pacientes co-infectados, os métodos para sua detecção têm se mostrado os mais sensíveis. A
punção de medula óssea é considerado o procedimento mais simples e menos arriscado.
Aspectos terapêuticos e evolução
O critério de escolha das drogas utilizadas para a terapêutica das leishmanioses em
pacientes portadores de HIV não difere do preconizado para os pacientes imunocompetentes. Considerando que os pacientes com leishmaniose visceral co-infectados com o HIV
são indivíduos que podem apresentar outras doenças oportunistas que os debilitam, a sua
vulnerabilidade às reações adversas ao tratamento pode ser maior, pelo que se recomenda
extremo cuidado no monitoramento adequado da toxicidade medicamentosa. Um dos aspectos mais marcantes na evolução da leishmaniose na presença de infecção por HIV é a
tendência a recidivas. Sessenta por cento dos pacientes tratados apresentam recidiva após
seis a nove meses e 90%, após 12 meses.
Leishmaniose visceral e outras doenças tropicais
Com a expansão da leishmaniose visceral no Brasil, observa-se o aumento da freqüência de sua associação com outras doenças tropicais. Nas regiões Nordeste, Sudeste e Norte, poderá haver associação com quadros de esquistossomose mansônica. Recomenda-se
o tratamento inicial da esquistossomose com oxanminiquine ou praziquentel, nas doses
habituais. A seguir, procede-se o tratamento da leishmaniose visceral com a utilização de
antimonial pentavalente nas doses recomendadas anteriormente. Porém, em pacientes com
a forma grave da esquistossomose mansônica, onde há hipertensão porta e volumosa he-
476
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Leishmaniose Visceral
patoesplenomegalia, a dose do antimonial deverá ser reduzida à metade, ou seja, 10mg/
Sb+5/kg/dia, por via intramuscular ou intravenosa, durante 30 a 40 dias consecutivos. Na
região Norte, esta associação poderá ocorrer com a malária (causada pelo Plasmodium vivax ou P. falciparum). Nestas circunstâncias, procede-se da mesma maneira, iniciando-se
o tratamento com os antimaláricos em suas doses habituais e, posteriormente, o antimonial pentavalente, também nas doses habituais. Nos casos de associação da leishmaniose
visceral com tuberculose e leishmaniose visceral com hanseníase, os pacientes deverão ser
referenciados para o serviço de atendimento terciário, para melhor seguimento.
Quadro 1. Condições em que deve ser oferecida a sorologia para o HIV em
portadores de leishmaniose visceral
Qualquer forma clínica sem exposição recente (durante o último ano) a uma área de transmissão
de leishmaniose visceral
6
Uso de drogas intravenosas
Forma clássica associada a ausência de anticorpos antiLeishmania
Achado de formas amastigotas no sangue periférico
Envolvimento de órgãos raramente acometidos na leishmaniose visceral1
Falha terapêutica2 ou recidiva3 após o uso de antimonial pentavalente
Desenvolvimento de infecções sugestivas de imunodeficiência após o uso de antimonial pentavalente4
Isolamento de espécies de leishmanias dermotrópicas ou leishmanias não descritas como causadoras
de acometimento visceral
1- Acometimento de trato respiratório, esôfago, estômago, duodeno, pele, etc.; 2- Ausência de cura clínica após
duas tentativas de tratamento com antimoniato de meglumina (20mg de SbV/kg/dia por 30 dias); 3- Recrudescimento da sintomatologia, em até 12 meses após cura clínica; 4- Herpes zoster, tuberculose miliar, etc.
L
Quadro 2. Condições em que portadores de HIV/Aids devem ser investigados
para leishmaniose visceral
Febre associada à hepatomegalia, esplenomegalia ou citopenias em pacientes expostos à área de
transmissão em qualquer período
Usuários de drogas intravenosas em qualquer período
Aspectos epidemiológicos
No Brasil, a leishmaniose visceral é uma doença endêmica com registro de surtos freqüentes. Inicialmente, sua ocorrência estava limitada a áreas rurais e a pequenas localidades
urbanas mas atualmente encontra-se em franca expansão para grandes centros. A leishmaniose visceral está distribuída em 19 estados da Federação, atingindo quatro das cinco
regiões brasileiras. Nos últimos dez anos, a média anual de casos de leishmaniose visceral
foi de 3.383 casos; e a incidência, de 2,00 casos por 100 mil hab. (Figura 1).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
477
Leishmaniose Visceral
Figura 1. Número de casos de leishmaniose visceral. Brasil, 1984-2003*
5.000
4.500
4.000
3.500
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Casos
Fonte: Covev/Devep/CGDT/SVS-MS
*Dados sujeitos a revisão
A doença é mais freqüente em menores de 10 anos (54,4%), sendo 41% dos casos
registrados em menores de 5 anos. O sexo masculino é proporcionalmente o mais afetado
(60%).
A razão da maior susceptibilidade em crianças é explicada pelo estado de relativa imaturidade imunológica celular agravado pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas,
além de maior exposição ao vetor no peridomicílio. Por outro lado, o envolvimento do adulto tem repercussão significativa na epidemiologia da leishmaniose visceral, pelas formas
frustras (oligossintomáticas) ou assintomáticas, além das formas com expressão clínica.
No Brasil, em função de sua ampla distribuição geográfica, a leishmaniose visceral
apresenta aspectos geográficos, climáticos e sociais diferenciados envolvendo as regiões
Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Na década de 90, aproximadamente 90% dos casos notificados ocorreram na região Nordeste. À medida que a doença se expande para
as outras regiões e atinge áreas urbanas e periurbanas, esta situação vem se modificando:
em 2003, a região Nordeste apresenta 65% dos casos do país. Os dados epidemiológicos
dos últimos dez anos revelam a periurbanização e a urbanização da leishmaniose visceral,
destacando-se os surtos ocorridos no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Araçatuba
(SP), Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina (PI), Natal (RN), São Luís (MA), Fortaleza
(CE), Camaçari (BA) e, mais recentemente, as epidemias ocorridas nos municípios de Três
Lagoas (MS), Campo Grande (MS) e Palmas (TO). As áreas de transmissão da doença no
Brasil estão representadas na Figura 2.
478
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Figura 2. Distribuição de casos autóctones de leishmaniose visceral, por período.
Brasil, 1984-2001
1984-2001
1996-2001
1 ponto = 1 caso
1992-1995
6
Fonte: Covev/Devep/CGDT/SVS-MS
Vigilância epidemiológica
L
Objetivos
A vigilância epidemiológica da leishmaniose visceral é um dos componentes do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV), cujos objetivos são reduzir as taxas
de letalidade e grau de morbidade através do diagnóstico e tratamento precoce dos casos,
bem como diminuir os riscos de transmissão mediante controle da população de reservatórios e do agente transmissor. A vigilância da leishmaniose visceral compreende a vigilância
entomológica de casos humanos e caninos. A análise da situação epidemiológica indicará
as ações de prevenção e controle a serem adotadas.
Dentre os objetivos da vigilância, destacam-se:
• identificar as áreas vulneráveis e/ou receptivas para transmissão da leishmaniose
visceral;
• avaliar a autoctonia referente ao município de residência;
• investigar o local provável de infecção-LPI;
• conhecer a presença, a distribuição e monitorar a dispersão do vetor;
• dar condições para que os profissionais da rede de saúde possam diagnosticar e tratar precocemente os casos;
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
479
Leishmaniose Visceral
• dar condições para realização do diagnóstico e adoção de medidas preventivas, de
controle e destino adequado do reservatório canino;
• investigar todos os supostos óbitos de leishmaniose visceral;
• monitorar a tendência da endemia, considerando a distribuição no tempo e no
espaço;
• indicar as ações de prevenção de acordo com a situação epidemiológica;
• desencadear e avaliar o impacto das ações de controle;
• monitorar os eventos adversos aos medicamentos.
Critérios para classificação de áreas para
a vigilância e controle da leishmaniose visceral
A metodologia proposta pelo PCLV para a definição de recomendações de vigilância
e controle da leishmaniose visceral partiu da classificação das áreas com transmissão e das
áreas sem transmissão de leishmaniose visceral no Brasil. O novo enfoque é incorporar os
estados e municípios silenciosos, ou seja, sem ocorrência de casos humanos ou caninos da
doença, nas ações de vigilância e controle da mesma, visando, assim, evitar ou minimizar
os problemas referentes a este agravo em novas áreas.
Através da análise epidemiológica realizada em cada estado ou município, os profissionais de saúde poderão identificar e classificar as diferentes áreas aqui apresentadas e a
partir delas adotar as recomendações propostas para a vigilância, monitoramento e controle da leishmaniose visceral.
Para as áreas de transmissão foi utilizado um indicador (média de caso nos últimos 5
anos), tendo como base os dados de leishmaniose visceral enviados pelas secretarias estaduais de saúde referentes ao período de 1998 a 2002. Os pontos de cortes para estratificação
das áreas foram: média de 2,4 casos de leishmaniose visceral em 5 anos e média de 4,4 casos
de leishmaniose visceral em 5 anos.
Os municípios foram divididos em três classes de transmissão de leishmaniose visceral: municípios com média de casos menor que 2,4 estão classificados como de transmissão esporádica; municípios com média de casos > 2,4 e < 4,4 estão classificados como de
transmissão moderada; e municípios com média de casos > 4,4 estão classificados como
de transmissão intensa.
Os municípios com transmissão de leishmaniose visceral terão uma das classificações
acima referidas, porém os municípios de médio e grande porte, utilizando o mesmo indicador acima referido, poderão estratificar subáreas ou setores dentro do próprio município,
permitindo, assim, trabalhar as ações de vigilância e controle específicas para cada situação.
Destacamos que anualmente deverá ser feita uma análise para a reclassificação dos
municípios, lembrando que para a análise do número médio de casos deverão ser considerados os últimos 5 anos.
É importante evidenciar que as medidas de controle são distintas para cada situação
epidemiológica e adequadas a cada área a ser trabalhada, conforme detalhamento no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2003.
480
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Conceitos básicos para definição das
áreas de transmissão de leishmaniose visceral
Áreas de transmissão – setor, conjunto de setores ou município onde esteja ocorrendo a transmissão de leishmaniose visceral. Entende-se por setor a estratificação realizada
quando implementado o Programa de Controle de Aedes aegypti – PEAa.
Área sem casos ou silenciosas – municípios sem registro de casos autóctones de leishmaniose visceral humana ou canina.
Área com casos – municípios com registro de pelo menos um caso autóctone de leishmaniose visceral humana.
Áreas em processo de investigação
Os municípios com casos suspeitos humanos ou caninos deverão aguardar a conclusão da investigação para serem classificados em uma das definições acima. Nesta
situação, será classificado como “área em investigação”.
6
Áreas vulneráveis – municípios sem casos autóctones de leishmaniose visceral humana mas que atendem um ou mais dos seguintes critérios estabelecidos: são contíguos àqueles com casos de leishmaniose visceral; possuem fluxo migratório intenso ou fazem parte do
mesmo eixo rodoviário dos municípios com casos de leishmaniose visceral.
Áreas não-vulneráveis – municípios que não atendem nenhum dos critérios para as
áreas vulneráveis.
Áreas receptivas – municípios classificados como vulneráveis, nos quais após a realização do inquérito entomológico foi verificada a presença do L. longipalpis ou L. cruzi.
Áreas não-receptivas – municípios classificados como vulneráveis, nos quais após a
realização do inquérito entomológico foi verificada a ausência do L. longipalpis ou L. cruzi.
Áreas com registro do primeiro caso autóctone de leishmaniose visceral – municípios que registraram pela primeira vez a autoctonia da doença em humanos.
Áreas com transmissão esporádica – municípios cuja média de casos de leishmaniose
visceral nos últimos 5 anos é inferior ao Percentil 90, ou seja, <2,4.
Áreas com transmissão moderada – municípios cuja média de casos de leishmaniose
visceral nos últimos 5 anos constitui o Percentil 90, ou seja, > 2,4 e < 4,4.
Áreas com transmissão intensa – municípios cuja média de casos de leishmaniose
visceral nos últimos 5 anos está acima do Percentil 90, ou seja, > 4,4.
Áreas em situação de surto – municípios com transmissão, independente de sua classificação, que apresentem um número de casos superior ao esperado ou municípios com
transmissão recente que apresentem dois ou mais casos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
L
481
Leishmaniose Visceral
Classificação de áreas para vigilância e controle da leishmaniose visceral
Classificação de áreas
de leishmaniose visceral
Áreas com
casos de LV
Área com
registro do
primeiro caso
confirmado de
leishmaniose
visceral humana
Área silenciosa
ou sem casos de LV
Vulnerável
Áreas com
transmissão
esporádica
Áreas com
transmissão
moderada
e intensa
Áreas
com surto
Área
receptiva
Não vulnerável
Área não
receptiva
Vigilância entomológica
No PCLV, o objetivo das investigações entomológicas é levantar as informações de caráter quantitativo e qualitativo sobre os flebotomíneos transmissores da leishmaniose visceral.
Várias são as metodologias que podem ser empregadas do ponto de vista operacional,
tais como: a coleta manual com tubo de sucção tipo Castro, a coleta manual com capturador
motorizado, a coleta com armadilha adesiva, a coleta com armadilhas luminosas (modelo
CDC ou similar) e as armadilhas com animais ou com feromônios, que nada mais são que
uma otimização das metodologias anteriores. Algumas considerações sobre as técnicas para
coleta de flebotomíneos estão descritas no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose
Visceral.
Caberá as secretarias estaduais de saúde, por meio do núcleo de entomologia ou setor
afim, a responsabilidade pela capacitação de recursos humanos, assessoria técnica para definição de estratégias, definição das áreas a serem trabalhadas, acompanhamento e/ou execução das ações de investigação entomológica e avaliação do controle químico, entre outras.
As secretarias municipais de saúde deverão colaborar com a secretaria estadual de
saúde ou realizar integralmente as ações de vigilância entomológica, desde que tenham um
serviço de entomologia organizado, buscando um trabalho integrado com o estado, a fim
de otimizar os recursos e a efetividade das ações de controle do vetor.
Levantamento entomológico
O levantamento entomológico tem como objetivos:
• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios sem casos humanos de leishmaniose visceral ou municípios silenciosos.
• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios com transmissão
esporádica, moderada ou intensa e nos quais não tenham sido realizadas investigações anteriores.
482
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
• conhecer a dispersão do vetor no município, a fim de apontar nos municípios sem
casos autóctones de leishmaniose visceral as áreas receptivas para realização do inquérito amostral canino e, nos municípios com transmissão da leishmaniose visceral,
orientar as ações de controle do vetor.
Metodologia
Utiliza-se armadilha de isca luminosa. A unidade de pesquisa para a zona rural será a
localidade e para a zona urbana, os setores de zoneamento para o controle do Aedes aegypti.
A coleta de flebótomos deverá ser realizada em todos os setores/localidade do município, utilizando-se de duas até dez armadilhas em cada setor/localidade. Cada armadilha
deverá ser instalada no peridomicílio, preferencialmente em abrigos de animais. As armadilhas deverão ser expostas uma hora após o crepúsculo até o período matutino seguinte (de
preferência, retirar antes das 7h), durante três noites consecutivas. Os domicílios selecionados deverão ser, preferencialmente, aqueles sugestivos para a presença do vetor, tais como
residências com peridomicílio que possua presença de plantas (árvores, arbustos), acúmulo
de matéria orgânica e presença de animais domésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos, cabritos, aves em geral, entre outros). As condições socioeconômicas e o tipo de moradia são
critérios que podem ser levados em consideração para a seleção da unidade domiciliar.
6
Padronizou-se que a armadilha adesiva é um conjunto de cinco folhas confeccionadas com folhas de papel sulfite, tamanho ofício II ou A4, impregnadas com óleo de
rícino.
L
Investigação entomológica
A investigação entomológica terá como objetivos:
• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios com a ocorrência
de primeiro caso de leishmaniose visceral ou em situações de surto.
• confirmar a área como de transmissão autóctone.
Metodologia
Utilizam-se a coleta manual e a armadilha adesiva. A coleta manual deverá ser realizada com o auxílio de um tubo de sucção (tipo aspirador de Castro) ou aspiradores elétricos
(6 volts) e uma fonte de luz (lanterna). Deverão ser pesquisadas as paredes do intradomicílio, especialmente dos dormitórios. No peridomicílio, deverão ser pesquisados, principalmente, os anexos e os abrigos de animais. As coletas deverão ser realizadas, no mínimo,
em três noites consecutivas em cada domicílio. O período mínimo de pesquisa será estabelecido em 30 minutos/domicílio (15 minutos para a coleta no intradomicílio e 15 minutos
para o peridomicílio), tempo que poderá ser aumentado em função do tipo de habitação.
A coleta manual deverá ser iniciada uma hora após o crepúsculo e prosseguir, se possível,
até as 22h.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
483
Leishmaniose Visceral
As armadilhas adesivas para coleta deverão ser expostas de forma suspensa (tipo bandeirola) em um fio de náilon ou barbante. Deverão ser penduradas no intradomicílio, especialmente no dormitório; e no peridomicílio, preferencialmente em abrigos de animais,
protegidos da chuva. Deverá ser exposta, no mínimo, uma armadilha em cada ambiente. O
tempo de exposição deverá ser de quatro dias. O período de exposição deverá ser iniciado
uma hora após o crepúsculo, do primeiro dia até a manhã do quinto.
O monitoramento objetiva conhecer a distribuição sazonal e abundância relativa das
espécies L. longipalpis e/ou L. cruzi, visando estabelecer o período mais favorável para a
transmissão da leishmaniose visceral e direcionar as medidas de controle químico do vetor.
O monitoramento é recomendado em municípios com transmissão moderada e/ou
intensa. Deverão ser selecionados um ou mais municípios, de acordo com as regiões climáticas e/ou topográficas. Sabendo-se que a presença e a flutuação estacional das populações de flebotomíneos, em determinada região geográfica, está ligada aos fatores climáticos (temperatura, umidade relativa do ar e índice pluviométrico) e aos fatores fisiográficos
(composição do solo, altitude, relevo e tipo de vegetação).
O desenvolvimento desta atividade é de responsabilidade do nível estadual.
Metodologia
Utiliza-se a armadilha de isca luminosa. Deverão ser selecionados dez domicílios, que
serão os pontos de coleta no município. Em cada peridomicílio será instalada uma armadilha, preferencialmente disposta em abrigos de animais. As armadilhas deverão ser expostas
por 12 horas, iniciando-se uma hora a partir do crepúsculo, durante quatro noites consecutivas por mês.
O domicílio escolhido deverá ser preferencialmente aquele sugestivo para a presença
do vetor, tais como residências com peridomicílio, presença de plantas (árvores, arbustos),
acúmulo de matéria orgânica e presença de animais domésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos, cabritos, aves em geral, entre outros). As condições socioeconômicas e o tipo de moradia são critérios que podem ser levados em consideração para a seleção da unidade domiciliar. Embora as pesquisas no ambiente intradomiciliar não estejam priorizadas pelo PCLV,
sabe-se que este monitoramento também permite verificar a relação da abundância relativa
do vetor no peri e intradomicílio, com a finalidade de orientar medidas de controle nestes
ambientes. Para tanto, as pesquisas no peri e intradomicílio deverão ser concomitantes.
Vigilância no cão
Definição de caso
Caso canino suspeito – todo cão proveniente de área endêmica ou onde esteja ocorrendo surto, com manifestações clínicas compatíveis com a leishmaniose visceral canina
(LVC) (febre irregular, apatia, emagrecimento, descamação furfurácea e úlceras na pele,
em geral no focinho, orelhas e extremidades, conjuntivite, paresia do trem posterior, fezes
sanguinolentas e crescimento exagerado das unhas).
484
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Caso canino confirmado
• Critério laboratorial – cão com manifestações clínicas compatíveis de LVC e que
apresente teste sorológico reagente e/ou exame parasitológico positivo;
• Critério clínico-epidemiológico – cão proveniente de áreas endêmicas ou onde
esteja ocorrendo surto e que apresente quadro clínico compatível de LVC sem a
confirmação do diagnóstico laboratorial.
Cão infectado – todo cão assintomático com sorologia reagente e/ou parasitológico
positivo em município com transmissão confirmada.
Ações de vigilância
• Alertar os serviços e a classe médica veterinária quanto ao risco da transmissão da
leishmaniose visceral canina-LVC.
• Divulgar à população informes sobre a ocorrência da LVC na região e alertar sobre
os sinais clínicos e os serviços para o diagnóstico, bem como as medidas preventivas
para eliminação dos prováveis criadouros do vetor.
• Articular com o poder público responsável a implementação de ações de limpeza urbana em terrenos, praças públicas, jardins e logradouros, dentre outros, destinando
de maneira adequada a matéria orgânica recolhida.
• Na suspeita clínica de cão, delimitar a área para investigação do foco. Define-se como
área para investigação aquela que a partir do primeiro caso canino (suspeito ou confirmado) estiver circunscrita em um raio de, no mínimo, 100 cães a serem examinados. Nesta área deverão ser desencadeadas a busca ativa de cães sintomáticos para
coleta de exame parasitológico e confirmação da identificação da espécie de Leishmania. Uma vez confirmada a L. chagasi, coletar material sorológico em todos os
cães da área, a fim de avaliar a prevalência canina e desencadear as demais medidas.
6
L
Monitoramento
Inquérito sorológico amostral – deverá ser realizado nas seguintes situações:
• municípios silenciosos e receptivos, isto é, onde a L. longipalpis já foi detectada mas
não tenha sido confirmada a transmissão da leishmaniose visceral humana ou canina, com a finalidade de verificar ausência de enzootia;
• municípios com transmissão moderada e intensa, o que permitirá avaliar as taxas
deprevalência em cada setor, a fim de identificar as áreas prioritárias a serem trabalhadas.
O inquérito poderá ser realizado em todo ou em parte do município, dependendo do
tamanho do mesmo e da distribuição do vetor. Deverá ser utilizada amostragem estratificada por conglomerados, onde o estrato é um setor do PEAa (setorização realizada quando
for implementado o plano de erradicação do Aedes aegypti) e o conglomerado, o quarteirão.
Para cada setor deverá ser calculada a amostra de cães, considerando-se a prevalência esperada e o número de cães do setor. Para aqueles municípios que já tenham uma estimativa de
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Leishmaniose Visceral
prevalência conhecida, utilizar este valor como parâmetro. Caso contrário, utilizar a prevalência de 2%. Setores com população canina inferior a 500 cães deverão ser agrupados com
um ou mais setores contíguos, para o cálculo da amostra. Por outro lado, em municípios
com população inferior a 500 cães, deverá ser realizado inquérito canino censitário. Ver
informações mais detalhadas no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.
Inquérito sorológico censitário – deverá ser realizado nas seguintes situações:
• zona urbana de município classificado como silencioso e receptivo com população
canina menor que 500 cães;
• setores urbanos de municípios acima de 20 mil habitantes classificados como de
transmissão moderada ou intensa;
• zona rural de municípios em qualquer uma das situações de transmissão de leishmaniose visceral.
Este tipo de inquérito objetiva o controle através da identificação de cães infectados para
a realização da eutanásia, bem como avaliar a prevalência. Estes inquéritos deverão ser realizados anualmente, no período de agosto a novembro, por no mínimo 3 anos consecutivos,
independente da notificação de novos casos humanos confirmados de leishmaniose visceral.
A fim de não sobrecarregar os laboratórios de saúde pública de referência para a realização dos exames, o planejamento das ações deverá ser realizado em conjunto com as
instituições que compõem o Programa de Controle da leishmaniose visceral no estado.
Existem duas técnicas sorológicas recomendadas pelo Ministério da Saúde para avaliação da soroprevalência em inquéritos caninos amostrais ou censitários, o Elisa e a imunofluorescência indireta (IFI). Entretanto, por estar ainda em fase de implantação, o Elisa
inicialmente está sendo recomendado para a triagem de cães sorologicamente negativos e a
Rifi para a confirmação dos cães soro-reagentes ou indeterminados ao teste Elisa, ou como
técnica diagnóstica de rotina.
Os exames sorológicos poderão ser realizados nos laboratórios centrais estaduais (Lacens) ou nos laboratórios e centros de controle de zoonoses (CCZs) municipais. É importante realizar periodicamente o controle de qualidade dos exames efetuados. As amostras
de soro, a serem analisadas na referência nacional, devem ser impreterivelmente encaminhadas pelo Lacen.
É importante ressaltar que em situações nas quais o proprietário do animal exija uma
contraprova, esta deverá ser uma prova sorológica, realizada por um laboratório da rede.
O período estimado para liberação do resultado dependerá do tempo de deslocamento
da amostra até as referências, sendo a média esperada de 15 dias. Os resultados liberados
por este laboratório serão considerados oficiais para fins de diagnóstico da infecção e da
doença.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Vigilância em humanos
Definição de caso
Caso humano suspeito – todo indivíduo proveniente de área com ocorrência de transmissão, com febre e esplenomegalia, ou todo indivíduo de área sem ocorrência de transmissão, com febre e esplenomegalia, desde que descartados os diagnósticos diferenciais mais
freqüentes na região.
Caso humano confirmado:
• Critério clínico-laboratorial – a confirmação dos casos clinicamente suspeitos deverá preencher, no mínimo, um dos seguintes critérios:
❯ encontro do parasito nos exames parasitológicos direto e/ou cultura;
❯ imunofluorescência reativa com título de 1:80 ou mais, desde que excluídos outros diagnósticos diferenciais.
• Critério clínico-epidemiológico – paciente de área com transmissão de leishmaniose visceral, com suspeita clínica sem confirmação laboratorial mas com resposta
favorável ao teste terapêutico.
6
Infecção
Todo indivíduo com exame sorológico reagente e/ou parasitológico positivo, sem manifestações clínicas. Estes casos não devem ser notificados e/ou tratados.
Notificação
A leishmaniose visceral humana é uma doença de notificação compulsória, portanto
todo caso suspeito deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde através da ficha
de investigação padronizada pelo Sinan.
A detecção de casos de leishmaniose visceral pode ocorrer através de:
• demanda espontânea à unidade de saúde;
• busca ativa de casos no local de transmissão;
• visitas domiciliares dos profissionais do Pacs e PSF;
• encaminhamento de suspeitos, através da rede básica de saúde.
L
Investigação de casos humanos de leishmaniose visceral
A investigação epidemiológica faz-se necessária para:
• identificar se o caso é autóctone ou importado (caso seja importado, informar o
serviço de vigilância epidemiológica estadual ou municipal do local provável de infecção);
• verificar se a área é endêmica ou se é um novo local de transmissão;
• conhecer as características epidemiológicas do caso (idade e sexo);
• realizar busca ativa de casos novos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente;
• orientar medidas de controle, conforme a situação epidemiológica e a classificação
da área.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
487
Leishmaniose Visceral
O instrumento de coleta de dados, atualmente disponível no Sinan através da ficha de
investigação epidemiológica, contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os campos desta ficha devem ser criteriosamente preenchidos,
mesmo quando a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos,
conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Pelo fato de a ficha de investigação de casos de leishmaniose visceral não conter dados
referentes ao vetor e ao reservatório, os mesmos, quando indicados conforme critério de
classificação da área, devem ser coletados e preenchidos nas planilhas específicas. Estes dados, após análise, irão orientar a adoção de medidas de vigilância e controle. Vale ressaltar
que estas informações também devem fazer parte do relatório da investigação do caso.
Roteiro de investigação epidemiológica
Identificação do paciente – preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos – preencher os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos aos antecedentes epidemiológicos, dados clínicos, laboratoriais e tratamento.
Caracterização do local provável de infecção - LPI – estabelecer o possível local de
infecção do caso, de acordo com a história epidemiológica e conhecimento de ocorrência
de outros casos em períodos anteriores. A caracterização da área de transmissão é de fundamental importância para o processo de investigação e adoção de medidas e controle. No
processo de caracterização do LPI deve-se:
• investigar se o paciente se deslocou para áreas endêmicas no período de até 6
meses anteriores ao início dos sintomas;
• caracterizar a espécie de Leishmania, se for uma nova área de transmissão;
• realizar busca ativa de casos humanos e caninos;
• realizar levantamento entomológico, caso não tenha sido verificada a presença do
vetor;
• conhecer as características ambientais, sociais e econômicas.
Classificação dos casos humanos
Caso confirmado – caso suspeito que cumpriu um dos seguintes critérios de confirmação: critério clínico-laboratorial ou critério clínico-epidemiológico.
Caso descartado – caso suspeito com exames sorológicos e/ou parasitológicos negativos, sem resposta favorável ao teste terapêutico ou caso suspeito que após investigação
clínico-laboratorial confirma outro diagnóstico.
Evolução do caso
É de extrema importância para a vigilância da leishmaniose visceral tratar os casos
confirmados e acompanhá-los durante toda a evolução clínica, conforme normas técnicas.
Esta conduta visa reduzir a letalidade, recidiva, gravidade e outras complicações da doença
e/ou toxicidade do medicamento. Ressalta-se a necessidade de estruturar o serviço de saúde
488
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
para acompanhar os pacientes até a cura clínica. Em situações de pacientes que não comparecem às consultas agendadas durante o tratamento, faz-se necessária a busca dos faltosos,
utilizando estratégias locais.
Investigação de óbitos
As fontes de informações para a investigação e monitoramento dos óbitos podem ser
o Sinan, o Sistema de Informações sobre Mortalidade − SIM e a notificação informal do
serviço ou da comunidade.
Todos os supostos óbitos de leishmaniose visceral devem ser investigados para que
suas causas sejam determinadas. Ver informações mais detalhadas no Manual de Vigilância
e Controle da Leishmaniose Visceral. Após a coleta de dados (junto à família, comunidade,
prontuário hospitalar, prontuário da unidade de saúde, profissionais que atenderam o paciente, entre outras), as informações devem ser consolidadas e o caso discutido com todos
os profissionais envolvidos, objetivando a adoção de medidas que possam corrigir as deficiências e, conseqüentemente, reduzir a letalidade da leishmaniose visceral.
6
Atenção
Todos os supostos óbitos por leishmaniose visceral devem ser investigados.
Encerramento de casos humanos
Todos os casos devem ser encerrados no Sinan, no período máximo de 180 dias. Os
serviços de vigilância epidemiológica municipal e estadual deverão estar atentos para o
encerramento de todos os casos suspeitos de leishmaniose visceral.
L
Análise dos dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude e transcendência do problema, distribuição segundo pessoa, tempo e espaço. Assim, os dados
coletados no processo, além de permitir estabelecer a área e extensão da ocorrência do
caso, devem indicar qual a possibilidade de continuidade da transmissão, probabilidade de
continuidade de aparecimento de novos casos, população sob risco e qual a extensão que as
medidas de controle devem assumir, dentre outras.
Em áreas com transmissão, análises periódicas dos indicadores epidemiológicos, operacionais, entomológicos, entre outros, devem ser realizados para avaliar a efetividade das
medidas de controle e a progressão da situação epidemiológica, tais como redução ou elevação da incidência, da letalidade; expansão ou limitação das áreas de transmissão, intervenções ambientais que possam estar contribuindo para o agravamento do problema, etc.
(ver Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral).
Em situações de surtos, os dados devem ser analisados criteriosamente, permitindo
melhor orientação e aprimoramento tanto nas medidas de prevenção e controle quanto na
necessidade de implementação das ações de diagnóstico e assistência.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Leishmaniose Visceral
Divulgação dos dados
Após análise dos dados, os mesmos deverão ser amplamente divulgados através de
boletins epidemiológicos ou informativos, reuniões de avaliação, oficinas de trabalho, seminários, congressos e publicações científicas, por exemplo.
Medidas preventivas
Dirigidas à população humana – medidas de proteção individual.
Dirigidas ao vetor – saneamento ambiental.
Dirigidas à população canina:
• controle da população canina errante;
• doação de animais: fazer exame sorológico prévio;
• uso de telas em canis individuais ou coletivos;
• coleiras impregnadas com deltametrina a 4%.
Instrumentos disponíveis para controle
Em virtude das características epidemiológicas e do conhecimento ainda insuficiente
sobre os vários elementos que compõem a cadeia de transmissão da leishmaniose visceral,
as estratégias de controle desta endemia ainda são pouco efetivas e estão centradas no diagnóstico e tratamento precoce dos casos, redução da população de flebotomíneos, eliminação dos reservatórios e atividades de educação em saúde.
Vale destacar que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento dos casos e atividades educativas devem ocorrer em todas as situações priorizadas, lembrando que as
demais medidas de controle devem estar sempre integradas para que possam ser efetivas.
Orientações dirigidas para o diagnóstico
precoce e tratamento adequado dos casos humanos
De acordo com a política de saúde vigente em nosso país, o controle da leishmaniose
visceral é de responsabilidade do SUS. Inicialmente, a execução das ações ficavam sob a
responsabilidade do governo federal. Com o processo de descentralização das endemias,
as ações passaram a ser executadas pelos níveis estadual e/ou municipal, e para cada uma
de suas instâncias as atribuições estão estabelecidas na Portaria nº 1.399/GM, de 15/12/99,
substituída recentemente pela Portaria/GM nº 172, de 15/6/04.
As secretarias municipais de saúde, com o apoio das secretarias estaduais de saúde,
têm a responsabilidade de organizar a rede básica de saúde para suspeitar, assistir, acompanhar e/ou encaminhar para referência hospitalar os pacientes com leishmaniose visceral.
Para tanto, faz-se necessário estabelecer um fluxo de referência e contra-referência, bem
490
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
como oferecer as condições necessárias para diagnosticar e tratar precocemente os casos de
leishmaniose visceral. Este atendimento pode ser realizado pela demanda passiva, registro e
busca ativa de casos em áreas de maior risco ou quando indicadas pela vigilância epidemiológica, ou ainda onde o acesso da população à rede é dificultado por diversos fatores.
É importante que na fase de organização dos serviços de saúde para atendimento precoce dos pacientes seja viabilizado:
• identificar os profissionais e unidades de saúde de referência para o atendimento aos
pacientes, bem como para a execução dos exames laboratoriais;
• capacitar os recursos humanos que irão compor a equipe multiprofissional das unidades básicas e/ou hospitalar responsáveis pelo atendimento e realização dos exames
laboratoriais;
• sensibilizar todos os profissionais da rede para a suspeita clínica;
• suprir as unidades de saúde com materiais e insumos necessários para o diagnóstico clínico, laboratorial e tratamento, visando melhorar a resolubilidade e contribuir
para o diagnóstico e tratamento precoce e, conseqüentemente, para a redução da
letalidade;
• integrar as equipes do Pacs e PSF;
• estabelecer um fluxo de atendimento para os pacientes, integrando as ações de vigilância e assistência;
• oferecer condições necessárias para o acompanhamento dos pacientes em tratamento, evitando o abandono e as complicações da doença;
• aprimorar o sistema de informação e estar sempre divulgando, informando e atualizando os profissionais de saúde sobre a situação epidemiológica da doença, bem
como sensibilizando-os para a suspeita clínica;
• realizar atividades de educação em saúde visando a participação-ativa da comunidade para buscar o atendimento precoce, bem como contribuir de forma participativa
nas medidas de controle da doença (saneamento ambiental, controle vetorial, controle do reservatório, entre outras).
6
L
Assistência ao paciente
Todo caso suspeito deve ser submetido à investigação clínica, epidemiológica e aos
métodos auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirmado, inicia-se o tratamento segundo
procedimentos terapêuticos padronizados e acompanha-se o paciente mensalmente (para
avaliação da cura clínica).
Os casos graves de leishmaniose visceral devem ser internados e tratados em hospitais
de referência; e os leves ou intermediários devem ser assistidos no nível ambulatorial, em
unidades de saúde com profissionais capacitados.
Qualidade da assistência
É comum o diagnóstico de pacientes com leishmaniose visceral em fase avançada, o
que pode ser atribuído a demora com que procuram os serviços de saúde e, por outro lado,
a baixa capacidade de detecção dos casos pelos profissionais da rede básica de saúde. Deste
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
491
Leishmaniose Visceral
modo, o serviço de vigilância local deve estruturar as unidades de saúde promovendo a
capacitação de profissionais para suspeitar, diagnosticar e tratar precocemente os casos,
bem como organizar o serviço para agilizar o diagnóstico laboratorial e a assistência ao
paciente. Deve ser definido, estabelecido e divulgado o fluxo das unidades de referência e
contra-referência.
Na área de transmissão intensa, bem como nas áreas cobertas pelo Pacs/PSF, é recomendada a realização de busca ativa de casos, encaminhando os suspeitos para atendimento
médico. Neste momento, todos os profissionais de saúde devem ser alertados e sensibilizados para o problema e é importante que a população seja constantemente informada sobre
os serviços disponíveis, bem como da necessidade de buscar atendimento precocemente.
Atenção
Esta é uma área com transmissão de leishmaniose visceral, portanto todo paciente
com febre e esplenomegalia é um caso suspeito.
Notifique, investigue e faça o diagnóstico e tratamento do paciente o mais precocemente possível ou o encaminhe para o serviço de referência.
Atuação na cadeia de transmissão
Orientações dirigidas ao controle do vetor
A indicação das atividades voltadas para o controle vetorial dependerão das características epidemiológicas e entomológicas de cada localidade.
As recomendações propostas para cada área estão descritas conforme a classificação
epidemiológica, sendo importante salientar que as ações de controle deverão ser sempre
realizadas de forma integrada.
Controle químico
O controle químico por meio da utilização de inseticidas de ação residual é a medida
de controle vetorial recomendada no âmbito da proteção coletiva. Dirigida apenas para o
inseto adulto tem como objetivo evitar e/ou reduzir o contato entre o inseto transmissor e a
população humana, conseqüentemente, diminuir o risco de transmissão da doença.
Quando é recomendado o controle químico?
• Em áreas com registro de primeiro caso autóctone de leishmaniose visceral, imediatamente após a investigação entomológica.
• Em áreas com transmissão moderada e intensa, se a curva de sazonalidade do vetor
for conhecida, a aplicação do inseticida de ação residual deverá ser realizada no
período do ano em que se verifica aumento da densidade vetorial. Caso contrário, o
primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado após o início do período chuvoso
e o segundo, 3 a 4 meses após o primeiro ciclo.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
• Em áreas com surto de leishmaniose visceral, uma vez avaliada e delimitada a área
para o controle químico, deverá ser imediatamente realizado um ciclo de tratamento
com inseticida de ação residual. A programação de novo ciclo deverá estar de acordo
com a curva de sazonalidade do vetor. Se conhecida, a aplicação do inseticida de
ação residual deverá ser realizada no período do ano em que se verifica aumento da
densidade vetorial. Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado ao final do período chuvoso e 3 a 4 meses após o primeiro ciclo.
Ciclo de borrifação
Entende-se por ciclo de borrifação o período necessário para cobrir a área delimitada
a ser borrifada no menor espaço de tempo. Para efeito de organização da atividade,
inicialmente deverá ser considerado o período de 4 meses, tempo que pode ser reduzido de acordo com a capacidade operacional do município.
6
Onde deve ser feita a borrifação?
• Nas paredes internas e externas do domicílio, incluindo o teto, quando a altura deste
for de até 3 metros.
• Nos abrigos de animais ou anexos, quando os mesmos forem feitos com superfícies
de proteção (parede) e possuam cobertura superior (teto).
Qual produto deverá ser utilizado?
• Os produtos mais empregados no controle a esses vetores são a cipermetrina, na
formulação pó molhável (PM), e a deltametrina, em suspensão concentrada (SC),
usados, respectivamente, nas doses de 125mg. i.a./m2 e de 25mg. i.a/m2. Atualmente,
o Programa de Controle da Leishmaniose Visceral tem utilizado alfacipermetrina,
na formulação suspensão concentrada (SC), na dose de 40mg.ia/m2.
Como deverão ser os ciclos de tratamento?
• Segundo indicações obtidas em pesquisas operacionais, o efeito residual dos piretróides em superfícies de parede tem duração aproximada de três meses (excetuando as superfícies de madeira onde esse efeito poderá ser mais duradouro). Sendo
assim, é recomendado que nas áreas selecionadas para controle químico, de acordo
com a classificação epidemiológica, deverão ser realizados dois ciclos de borrifação
durante o ano, com intervalo de três a quatro meses. O início do ciclo deverá seguir
as orientações já descritas.
Que tipo de equipamento deve ser usado?
• Para este tipo de aplicação são indicados os equipamentos de compressão variável,
tipo Hudson-X-Pert ou Jacto com capacidade de 10 litros, devendo ser revisados
para evitar vazamentos e outros inconvenientes durante a aplicação.
• O bico indicado para uso em saúde pública é o Tee Jet 8002E, que proporciona uma
vazão de 757ml e deposição uniforme nas laterais do leque de aplicação. Em decorrência da erosão, os bicos que apresentarem vazão maior que 900ml/minuto devem
ser descartados.
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L
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
493
Leishmaniose Visceral
Como delimitar a área para o controle químico?
• Na zona rural, o controle químico será realizado em todos os domicílios da localidade onde ocorreu a transmissão.
• Na zona urbana, para o controle deverá ser considerada a área de transmissão previamente delimitada.
Quais são os procedimentos de segurança?
• Os cuidados no manuseio, transporte e aplicação de praguicidas no controle de vetores, bem como os equipamentos de proteção individual-EPI, estão descritos no
Manual de Controle de Vetores – Procedimentos de Segurança, 2001.
• Os agentes, deverão usar os EPI indicados para cada tipo de atividade envolvendo
aplicações de praguicidas.
Avaliação do controle químico
A avaliação das ações de operação de inseticidas para o controle do flebotomíneo é
de fundamental importância, para verificar o impacto das ações realizadas, a persistência
do inseticida nas superfícies tratadas e a efetividade do produto em relação a mortalidade
do vetor. O método utilizado para este tipo de avaliação foi padronizado pela Organização
Mundial da Saúde (WHO, 1970). No entanto, por se tratar de uma atividade específica, esta
atribuição deve ser de competência do estado, quando este reunir as condições necessárias.
Orientações dirigidas ao controle do reservatório canino
Eutanásia de cães
A prática da eutanásia canina é recomendada a todos os animais com sorologia positiva e/ou parasitológico positivo.
Para a realização da eutanásia, deve-se ter como base a Resolução nº 714, de 20 de
junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que dispõe sobre os procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências, dentre as quais
merecem destaque:
• Os procedimentos de eutanásia são de exclusiva responsabilidade do médico veterinário, que dependendo da necessidade pode delegar esta prática a terceiros, que a
realizará sob sua supervisão. Na localidade ou município onde não existir médico
veterinário, a responsabilidade será da autoridade sanitária local;
• Os animais deverão ser submetidos à eutanásia em ambiente tranqüilo e adequado,
longe de outros animais e do alojamento dos mesmos;
• A eutanásia deverá ser realizada segundo a legislação municipal, estadual e federal
no que se refere a compra e armazenamento de drogas, saúde ocupacional e eliminação de cadáveres e carcaças;
• Para a realização da eutanásia são recomendados os barbitúricos, anestésicos inaláveis, dióxido de carbono – CO2, monóxido de carbono – CO e cloreto de potássio
– KCl; para este último, será necessária anestesia geral prévia;
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
• Os procedimentos de eutanásia, se mal empregados, estão sujeitos à legislação federal de crimes ambientais.
Destino de cadáveres
Os cadáveres de animais submetidos à eutanásia ou que tiveram morte devido à leishmaniose deverão ser considerados como resíduos de serviços de saúde. Portanto, o destino
de seus cadáveres deverá obedecer o previsto na Resolução RDC nº 33, de 25 de fevereiro
de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.
Segundo a resolução, os cadáveres de animais errantes ou domésticos são considerados do Grupo D (resíduos comuns), que são os gerados nos serviços de saúde e que, por
suas características, não necessitam de procedimentos diferenciados. O destino do cadáver
destes animais deverá ser valas comuns de aterros sanitários.
6
Orientações dirigidas às atividades de educação em saúde
As atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todos os serviços que
desenvolvem ações de controle da leishmaniose visceral, requerendo o envolvimento efetivo das equipes multiprofissionais e multiinstitucionais com vistas ao trabalho articulado
nas diferentes unidades de prestação de serviços, através de:
• divulgação à população sobre a ocorrência da leishmaniose visceral na região, alertando sobre os sinais clínicos e os serviços para o diagnóstico e tratamento;
• capacitação das equipes, englobando o conhecimento técnico, os aspectos psicológicos e a prática profissional em relação à doença e aos doentes;
• adoção de medidas preventivas considerando o conhecimento da doença, atitudes
e práticas da população (clientela) relacionadas às condições de vida e trabalho das
pessoas;
• estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento do profissional e a vivência dos diferentes estratos sociais através da compreensão global do processo
saúde/doença, no qual intervêm fatores sociais, ambientais, econômicos, políticos e
culturais;
• incorporação das atividades de educação em saúde voltadas à leishmaniose visceral
dentro de um processo de educação continuada;
• desenvolvimento de atividades de educação em saúde junto à comunidade;
• estabelecimento de parcerias buscando a integração institucional.
L
Recomendações específicas para cada uma das classificações
das áreas para vigilância e controle da leishmaniose visceral
Serão apresentados fluxogramas relativos às recomendações específicas para cada uma
das áreas, referentes as ações de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Para maiores
detalhamentos, ver Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
495
Leishmaniose Visceral
Áreas sem casos de leishmaniose visceral
As áreas sem casos de leishmaniose visceral humana ou canina podem apresentar uma
das seguintes situações:
Áreas sem casos de LV
Vulnerável
Receptiva
Não-vulnerável
Não-receptiva
A definição de cada uma das áreas acima está descrita no tópico Vigilância epidemiológica.
Os municípios sem casos humano e canino de leishmaniose visceral são classificados
em vulnerável ou não-vulnerável. Assim, deve-se considerar como vulnerável o que apresentar qualquer uma das seguintes situações:
• municípios contíguos aos de casos humanos;
• municípios que fazem parte do mesmo eixo rodoviário dos casos humanos;
• municípios com fluxo migratório intenso.
A confirmação do exame parasitológico é obrigatória apenas nas áreas sem casos humanos.
496
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Vigilância e controle em áreas sem casos autóctones de leishmaniose visceral
Área sem casos autóctones ou silenciosa
Vulnerável
Não-vulnerável
Levantamento entomológico
Não programada ação
Ação não-receptiva
Saneamento ambiental
Controle da população canina errante
Busca ativa
de cães com
suspeita
clínica
Repetir estudo
entomológico
no máximo a
cada 2 anos
Desenvolver
atividades
de educação
e saúde
Realizar inquérito amostral
canino para verificar a
presença de epizootia canina
Inquérito canino positivo
Inquérito canino negativo
Confirmar parasitológico e espécie
de leishmania circulando na área
Treinar
profissionais para
diagnóstico
precoce e
tratamento
Eutanásia
nos cães
positivos
Vigilância
e monitoramento
Ação receptiva
Vigilância e
monitoramento
Parasitológico com pelo
menos uma amostra positiva
Parasitológico negativo ou
outra espécie de leishmania
Investigar autoctonia
Vigilância e monitoramento
Cão autóctone
Cão importado
6
Eutanásia nos cães positivos
Vigilância e monitoramento
Prevalência
canina <2%
Busca ativa
de cães com
suspeita clínica
Prevalência
canina >2%
Implementação das
ações de vigilância
epidemiológica
Realizar
inquérito
censitário
Treinar profissionais
para diagnóstico
precoce e tratamento
Desenvolver
atividades de educação em saúde
Eutanásia nos
cães positivos
L
Seguir as recomendações
conforme resultado do
inquérito censitário
Áreas com casos de leishmaniose visceral
As áreas com casos de leishmaniose visceral humana podem apresentar uma das seguintes situações:
• ser um município com registro de primeiro caso autóctone;
• ser um município com transmissão esporádica;
• ser um município com transmissão moderada;
• Ser um município com transmissão intensa;
• ser um município com surto.
A definição de cada uma das áreas referidas está descrita no tópico Vigilância Epidemiológica.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Leishmaniose Visceral
Áreas com casos de LV
Áreas com
primeiro caso de LV
Transmissão
moderada e intensa
Transmissão esporádica
Áreas com surto
A partir da classificação dos municípios, são recomendadas as seguintes ações:
Áreas com registro do primeiro caso autóctone de leishmaniose visceral
Vigilância e controle em áreas com registro do primeiro caso autóctone de
leishmaniose visceral
Registro do primeiro caso
autóctone de leishmaniose visceral
Ações referentes
ao caso humano
Notificação e
investigação
Implementar
as ações para
diagnóstico,
tratamento e
acompanhamento
dos pacientes
Busca ativa de
casos suspeitos
no local de
transmissão
Ações referentes
ao reservatório canino
Ações referentes ao vetor
Realizar investigação
entomológica no local
de transmissão
Saneamento
ambiental
Presença
de vetor
Ausência
de vetor
Busca ativa de cães
com suspeita clínica
Indicação imediata de controle
químico no local
de transmissão
Avaliar
mensalmente
até o encontro
do vetor
Realizar sorologia
Programar dois
novos ciclos
de borrifação
Investigar a
causa do óbito,
se for o caso
Desenvolver atividades
de educação e saúde
Sorologia
positiva
Sorologia
negativa
Eutanásia
Vigilância e
monitoramento
Inquérito censitário
canino anual no
local de transmissão
Controle da população canina errante
Cães com
sorologia positiva
Cães com
sorologia negativa
Eutanásia
Vigilância e
monitoramento
Observação: a confirmação do exame parasitológico canino é obrigatória apenas nas
áreas sem casos humanos.
Áreas com transmissão esporádica de leishmaniose visceral
Ações específicas referentes ao vetor – nos municípios com transmissão esporádica,
as ações referentes ao vetor estão restritas ao conhecimento da espécie e a dispersão da população do vetor no município, que orientará a delimitação da área para a realização do inquérito canino. Cabe salientar que nenhuma ação de controle químico deverá ser realizada.
498
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Vigilância e controle em áreas com transmissão esporádica de leishmaniose visceral
Áreas com transmissão esporádica
Ações referentes
a casos humanos
Notificação
e investigação
Implementar
as ações para
diagnóstico,
tratamento e
acompanhamento
dos pacientes
Busca ativa de
casos suspeitos
Monitorar
e investigar
óbitos de LV
Ações referentes ao
reservatório canino
Ações referentes ao vetor
Realizar levantamento
entomológico no
local de transmissão
Desenvolver atividades
de educação em saúde
Saneamento
ambiental
Busca ativa de cães
com suspeita clínica
Realizar sorologia
Sorologia
positiva
Sorologia
negativa
Eutanásia
Vigilância e
monitoramento
Inquérito censitário
canino anual no
local de transmissão
Cães com
sorologia
positiva
Cães com
sorologia
negativa
Eutanásia
Vigilância e
monitoramento
Controle da população canina errante
6
Observação: a confirmação do exame parasitológico canino não será obrigatória em
áreas com transmissão esporádica, moderada ou intensa.
Áreas com transmissão moderada/intensa de leishmaniose visceral
Ações específicas referentes ao vetor – nos municípios com transmissão moderada/
intensa, a presença do vetor e a dispersão da população do vetor no município devem ser
conhecidas, o que permite melhor direcionamento das ações de controle (vetor e reservatório).
Caso estas informações não sejam possíveis, é indicado priorizar o levantamento entomológico.
Destaque-se que o controle químico nestas áreas deverá ser programado para o período propício do aumento do vetor.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
L
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Leishmaniose Visceral
Vigilância e controle em áreas com transmissão
moderada e intensa de leishmaniose visceral
Áreas com transmissão moderada e intensa
Ações referentes
a casos humanos
Notificação
e investigação
Implementar
as ações para
diagnóstico,
tratamento e
acompanhamento
dos pacientes
Busca ativa de
casos suspeitos
Ações
referentes ao vetor
Realizar levantamento
entomológico no
local de transmissão
Ações referentes
ao reservatório canino
Indicação de
controle químico na
área de transmissão
Saneamento
ambiental
Área sem casos humanos:
realizar inquérito amostral
canino anualmente
Área com casos humanos:
inquérito censitário anual
Eutanásia de
cães positivos
Controle da
população canina errante
Vigilância e
monitoramento
Prevalência canina >2%
Monitorar e
investigar óbitos
de leishmaniose
visceral
Desenvolver atividades
de educação em saúde
Eutanásia de
cães positivos
Prevalência canina <2%
Vigilância e
monitoramento
Manter
vigilância
Inquérito canino
censitário e
anualmente
Eutanásia de
cães positivos
Eutanásia de
cães positivos
Observação: a confirmação do exame parasitológico canino não será obrigatória em
áreas com transmissão esporádica, moderada ou intensa.
Áreas em situação de surto de leishmaniose visceral
Vigilância e controle em áreas com surto de leishmaniose visceral
Áreas em situação de surto
Municípios com transmissão conhecida
Seguir as orientações previstas para as áreas com
transmissão moderada/intensa, acrescendo um
ciclo de borrifação imediato na área do surto
Municípios com transmissão recente
Seguir as orientações previstas para as áreas com
registro do primeiro caso de LV humana, acrescendo
um ciclo de borrifação imediato na área do surto
Observação: a confirmação do exame parasitológico canino não será obrigatória em
áreas com transmissão esporádica, moderada ou intensa.
500
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leishmaniose Visceral
Anexo 1
Coleta e conservação de material para
diagnóstico da leishmaniose visceral humana e canina
Tipo de
diagnóstico
Tipo de material
Sorológico
(humano
ou canino)
Parasitológico
Quantidade
5-10ml
Sangue
(mínimo 2ml
de soro)
Aspirado de medula,
linfonodo ou baço
Método
Recipiente
Tubo de vidro ou
Imunofluoresde plástico estéril
cência indireta/
e com tampa (meIFI ou Elisa
lhor se Ependorf®)
Esfregaço fino
-
Transporte
Sangue total
2ºC a 8ºC
Gelo seco
ou reciclável.
Soro -20ºC
Nitrogênio líquido
Duas lâminas
para esfregaço
Lâminas fixadas e coradas pelos métodos
de Giemsa ou Wright,
Leishman, Panóptico
Após a secagem,
anexar e embrulhar
a lâmina junto com o
papel identificatório
Tubo de vidro ou
de plástico estéril
e com tampa
Meio de NNN
a 24-26ºC
Caixa para transporte
de material biológico
Aspirado de medula,
linfonodo ou baço
ou biópsia de fígado
Armazenamento/
conservação
6
Observação: para inquéritos sorológicos caninos pode ainda ser utilizada, em situações excepcionais, a coleta de sangue em papel de filtro (eluato) desde que seja criteriosamente adotada a metodologia abaixo descrita. É fundamental que cada amostra seja identificada, para evitar sua troca acidental.
Material
• Microlanceta descartável
• Papel de filtro tipo qualitativo, 80 gramas
• Papel celofane hidrófobo
• Algodão
• Solução antisséptica (álcool a 70%, álcool iodado, etc.)
L
Método
Colher a amostra de sangue através de punção da veia marginal auricular do cão, utilizando microlancetas descartáveis e transferindo o material obtido por capilaridade para
lâminas de papel de filtro. A área embebida deve ser de aproximadamente 3×3 centímetros
com distribuição homogênea no papel. Após secarem, cada folha de papel de filtro deve ser
separada por lâminas de papel celofane, para evitar a contaminação das amostras de sangue
que devem estar devidamente identificadas.
Após a coleta do material descrito, o mesmo deve ser embalado em saco plástico e
conservado à temperatura ambiente durante uma semana ou refrigerado a 4°C e enviado
para o laboratório central do estado ou município. Todo material enviado para o laboratório deve estar devidamente identificado, constando os seguintes dados: identificação do
animal (nome, idade e sexo), nome e endereço completo do proprietário e identificação do
responsável pela colheita do material.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
501
Leptospirose
LEPTOSPIROSE
CID 10: A27
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
É uma doença infecciosa febril de início abrupto, cujo espectro pode variar desde um
processo inaparente até formas graves. Trata-se de zoonose de grande importância social e
econômica por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalar
e perdas de dias de trabalho, bem como por sua letalidade, que pode chegar a até 40% dos
casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infra-estrutura
sanitária e alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação
e a persistência do agente causal no ambiente, facilitando a eclosão de surtos.
Sinonímia
Doença de Weil, síndrome de Weil, febre dos pântanos, febre dos arrozais, febre outonal, doença dos porqueiros, tifo canino e outras. Atualmente, evita-se a utilização desses
termos, pois são potencialmente passíveis de confusão.
Agente etiológico
Bactéria helicoidal (espiroqueta) aeróbica obrigatória do gênero Leptospira, do qual se
conhecem atualmente sete espécies patogênicas, sendo a mais importante a L. interrogans.
A unidade taxonômica básica é o sorovar (sorotipo). Mais de 200 sorovares já foram identificados e cada um tem o(s) seu(s) hospedeiro(s) preferencial(ais), ainda que uma espécie
animal possa albergar um ou mais sorovares. Qualquer sorovar pode determinar as diversas
formas de apresentação clínica no homem; em nosso meio, os sorovares Icterohaemorrhagiae e Copenhagen freqüentemente estão relacionados aos casos mais graves.
Dentre os fatores ligados ao agente etiológico, favorecendo a persistência dos focos de
leptospirose, especial destaque deve ser dado ao elevado grau de variação antigênica, à capacidade de sobrevivência no meio ambiente (até 180 dias) e à ampla variedade de animais
susceptíveis que podem hospedar o microrganismo.
Reservatórios
Os animais sinantrópicos, domésticos e selvagens são os reservatórios essenciais para
a persistência dos focos da infecção. Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e
terminais dentro da cadeia de transmissão.
O principal reservatório é constituído pelos roedores sinantrópicos (domésticos) das
espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou
rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita). Ao se infectarem, não desenvolvem
a doença e tornam-se portadores, albergando a leptospira nos rins e eliminando-a viva no
502
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
meio ambiente, contaminando, desta forma, água, solo e alimentos. O Rattus norvegicus é
o principal portador da Leptospira icterohaemorraghiae, uma das mais patogênicas para o
homem. Outros reservatórios de importância são caninos, suínos, bovinos, eqüinos, ovinos
e caprinos.
Modo de transmissão
A infecção humana resulta da exposição direta ou indireta à urina de animais infectados. A penetração do microrganismo dá-se através da pele lesada ou das mucosas da boca,
narinas e olhos. Pode também ocorrer através da pele íntegra quando imersa em água por
longo tempo. O contato com água e lama contaminadas demonstra a importância do elo hídrico na transmissão da doença ao homem. Outras modalidades de transmissão relatadas,
porém com pouca freqüência: contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados,
transmissão acidental em laboratórios e ingestão de água ou alimentos contaminados.
6
Período de incubação
Varia de 1 a 30 dias (média entre 7 e 14 dias).
Período de transmissibilidade
Os animais infectados podem eliminar a leptospira através da urina durante meses,
anos ou por toda a vida, segundo a espécie animal e o sorovar envolvido. A transmissão
inter-humana é muito rara, podendo ocorrer pelo contato com urina, sangue, secreções e
tecidos de pessoas infectadas.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade no homem é geral. A imunidade adquirida pós-infecção é sorovarespecífica, podendo um mesmo indivíduo apresentar a doença mais de uma vez, sendo que
o agente causal de cada episódio pertencerá a um sorovar diferente do(s) anterior(es).
L
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A leptospirose humana apresenta manifestações clínicas muito variáveis, com diferentes graus de severidade. A infecção pode ser assintomática, subclínica ou ocasionar quadros
clínicos leves, moderados ou graves com alta letalidade.
Clinicamente, a leptospirose apresenta-se sob duas formas:
Forma anictérica (leve, moderada ou grave)
Responsável por 90% a 95% dos casos, mas devido às dificuldades inerentes à suspeita
e à confirmação, não ultrapassam 45% nos registros oficiais.
A doença pode ser discreta, de início súbito com febre, cefaléia, dores musculares,
anorexia, náuseas e vômitos. Tende a ser autolimitada e cura em poucos dias sem deixar
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
503
Leptospirose
seqüelas. É freqüentemente rotulada como “síndrome gripal”, “virose” ou outras doenças
que ocorrem na mesma época, como dengue ou influenza. Uma história de exposição direta
ou indireta a coleções hídricas (incluídas água ou lama de enchentes) ou a outros materiais
passíveis de contaminação por leptospiras pode servir como alerta para o médico suspeitar
desse diagnóstico.
Infecção mais grave pode ocorrer, apresentando-se classicamente como uma doença
febril bifásica. A primeira fase, “septicêmica” ou “leptospirêmica”, inicia-se abruptamente com febre alta, calafrios, cefaléia intensa, dores musculares e prostração. As mialgias
envolvem caracteristicamente os músculos das panturrilhas, mas podem afetar também
coxas, regiões paravertebrais e abdome, podendo até mesmo simular um abdome agudo
cirúrgico.
Podem ocorrer anorexia, náuseas, vômitos, obstipação ou diarréia, artralgias, hiperemia ou hemorragia conjuntival, fotofobia e dor ocular, bem como hepatomegalia e, mais
raramente, hemorragia digestiva (melena, enterorragia), esplenomegalia e pancreatite. Podem ser também observados: epistaxe, dor torácica, tosse seca ou com expectoração hemoptóica, dispnéia e cianose. A hemoptise franca denota extrema gravidade e pode ocorrer
de forma súbita, levando ao óbito por asfixia. Distúrbios neurológicos como confusão, delírio e alucinações, sinais de irritação meníngea e outros podem estar presentes.
A “fase septicêmica” dura de 4 a 7 dias, após a qual o paciente pode curar-se ou evoluir
com recrudescimento da febre e sintomas gerais, com ou sem agravamento.
As manifestações clínicas da “fase imune” iniciam-se geralmente na segunda semana da doença e desaparecem em 1 a 3 semanas. Nesta fase, as manifestações neurológicas
freqüentemente apresentam um quadro de meningite, com cefaléia intensa, vômitos e sinais de irritação meníngea. Menos freqüentemente ocorrem encefalite, paralisias focais,
espasticidade, nistagmo, convulsões, distúrbios visuais de origem central, neurite periférica, paralisia de nervos cranianos, radiculite, síndrome de Guillain-Barré e mielite. Podem
ocorrer acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos ou meníngeos, com quadros graves de
hipertensão intracraniana e coma.
As manifestações mais comuns do envolvimento cardíaco (miocardite) são alterações
eletrocardiográficas e arritmias. Pode ocorrer comprometimento ocular com hiperemia ou
hemorragia das conjuntivas, hemorragia intra-ocular e, mais tardiamente, uveíte. Alguns
pacientes apresentam alterações do volume e do sedimento urinário, porém a insuficiência
renal aguda é rara na leptospirose anictérica.
As lesões cutâneas são pouco freqüentes, ainda que bastante variadas: exantemas maculares, maculopapulares, eritematosos, urticariformes, petequiais ou hemorrágicos.
Forma ictérica (moderada ou grave)
Em alguns pacientes a “fase septicêmica” evolui como uma doença ictérica grave com
disfunção renal, fenômenos hemorrágicos, alterações hemodinâmicas, cardíacas, pulmonares e de consciência (doença de Weil), com taxas de letalidade entre 10% e 40%. O curso
bifásico é raro e os sintomas e sinais que precedem a icterícia são mais intensos, destacando-se as mialgias, sobretudo nas panturrilhas. A icterícia, de tonalidade alaranjada (icterí-
504
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
cia rubínica), bastante intensa e característica, tem início entre o 3º e 7º dia da doença. A
disfunção hepática é associada a maior incidência de complicações e a maior mortalidade,
embora a insuficiência hepática não constitua importante causa de morte, diferentemente
do que ocorre com a febre amarela.
A insuficiência renal aguda (IRA) e a desidratação acometem na maioria dos pacientes. A forma oligúrica é menos freqüente que a forma não-oligúrica, mas está associada a
pior prognóstico. Diferentemente de outras formas de IRA, os níveis de potássio plasmático
estão normais ou diminuídos, raramente elevados.
Os fenômenos hemorrágicos são freqüentes, podendo ocorrer na pele, nas mucosas ou
nos órgãos internos, sob a forma de petéquias, equimoses e sangramento nos locais de venopunção, e também em qualquer estrutura orgânica, inclusive no sistema nervoso central.
As hemorragias gastrointestinais e pulmonares são os principais mecanismos implicados
com o óbito dos pacientes.
O envolvimento cardíaco mais comum é a miocardite, com alterações eletrocardiográficas, arritmias e insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico. Ao exame do abdome,
com freqüência há dor à palpação; constata-se hepatomegalia em aproximadamente 70%
dos casos. A esplenomegalia é rara.
6
Nos últimos anos, têm sido descritos casos da forma pulmonar grave da leptospirose,
com quadros respiratórios evoluindo para insuficiência respiratória aguda, com hemorragia pulmonar maciça ou síndrome de angústia respiratória do adulto. Muitas
vezes precede o quadro de icterícia e insuficiência renal. O óbito pode ocorrer nas
primeiras 24 horas de internação.
L
Convalescença e seqüelas
Atrofia muscular e anemia são freqüentemente observadas por ocasião da alta do paciente. A convalescença dura de 1 a 2 meses, período no qual podem persistir a febre, a cefaléia, as mialgias e mal-estar geral por alguns dias. A leptospirúria pode continuar por uma
semana ou eventualmente até vários meses após o desaparecimento dos sintomas. Os níveis
de anticorpos, detectados pelos testes sorológicos, diminuem progressivamente mas em
alguns casos podem permanecer elevados por vários meses, fato que não deve ser interpretado como uma infecção prolongada, situação não descrita para a leptospirose humana.
Diagnóstico diferencial
Forma anictérica – “virose”, dengue, influenza, hantavirose, arboviroses, apendicite
aguda, sepse, febre tifóide, pneumonias da comunidade, malária, pielonefrite aguda, riquetsioses, toxoplasmose, meningites e outras.
Forma ictérica – sepse com icterícia, hepatites virais agudas, febre tifóide com icterícia, febre amarela, malária grave (principalmente por P. falciparum), riquetsioses, colangite,
colecistite aguda, coledocolitíase, síndrome hemolítico-urêmico grave com icterícia, síndrome hepatorrenal, esteatose aguda da gravidez e outras.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
505
Leptospirose
Diagnóstico laboratorial
Exames específicos
O método laboratorial de escolha depende da fase evolutiva em que se encontra o
paciente. Na fase aguda ou septicêmica, durante o período febril, as leptospiras podem ser
visualizadas no sangue através de exame direto, de cultura em meios apropriados ou a partir
de inoculação em animais de laboratório. A cultura somente se finaliza (positiva ou negativa) após algumas semanas, o que garante apenas um diagnóstico retrospectivo.
Na fase imune, as leptospiras podem ser encontradas na urina, cultivadas ou inoculadas.
Pelas dificuldades inerentes à realização dos exames anteriormente citados, os métodos sorológicos são consagradamente eleitos para o diagnóstico da leptospirose. Os mais
utilizados em nosso meio são o teste Elisa-IgM, a macroaglutinação e a microaglutinação.
Vide normas de coleta e interpretação dos resultados no Anexo I.
Exames inespecíficos
São relevantes para o diagnóstico e acompanhamento clínico da leptospirose: hemograma, coagulograma, transaminases, bilirrubinas, uréia, creatinina e eletrólitos, gasometria, elementos anormais e sedimentos no exame sumário de urina, raios X de tórax e eletrocardiograma. As alterações mais comuns são:
• leucocitose, neutrofilia e desvio para a esquerda;
• anemia hipocrômica;
• aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS);
• plaquetopenia;
• elevação das bilirrubinas, principalmente da fração direta que pode atingir com freqüência níveis elevados acima de 15mg/dl;
• transaminases normais ou com aumentos de 3 a 5 vezes o valor da referência (geralmente não ultrapassam 500 UI/dl), estando a TGO (AST) usualmente mais elevada
que a TGP (ALT);
• fosfatase alcalina e gama glutamiltransferase (Gama GT) elevadas;
• atividade de protrombina diminuída ou tempo de protrombina aumentado;
• potássio sérico normal ou abaixo do normal, mesmo na vigência de insuficiência
renal aguda;
• uréia e creatinina elevadas;
• baixa densidade urinária, proteinúria, hematúria microscópica e leucocitúria são
achados freqüentes no exame sumário de urina;
• líquor com xantocromia (nos casos ictéricos), pleocitose moderada (abaixo de 1 mil
células/mm3) linfomonocitária ou neutrofílica, comum na segunda semana da doença, mesmo na ausência clínica da evidência de envolvimento meníngeo. Pode haver
predomínio de neutrófilos, gerando confusão com meningite bacteriana inespecífica;
• CK (creatinoquinase) e fração MB (CK-MB) poderão estar elevadas;
• gasometria arterial mostrando acidose metabólica e hipoxemia.
506
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
Tratamento
Antibioticoterapia
Publicações anteriores têm enfatizado seu efeito benéfico quando iniciada até o 5º dia
do início dos sintomas; porém, estudos mais recentes sugerem sua eficácia, mesmo quando
iniciada mais tarde, no curso dos casos graves.
A droga de escolha é a penicilina G cristalina (adultos: de 6 a 12 milhões de unidades/dia, divididas em 4 a 6 tomadas diárias, durante 7 a 10 dias; crianças: 50 mil a 100 mil
unidades/kg/dia pelo mesmo período).
Como alternativas podem ser utilizadas a ampicilina (4 g/dia para adultos e 50 a 100
mg/kg/dia para crianças), a tetraciclina (2 g/dia) ou a doxiciclina (100mg de 12/12horas)
por igual período.
Para os pacientes alérgicos à penicilina ou que apresentem lesão renal e icterícia, sugerese o uso do cloranfenicol (2g/dia para adultos e 50 a 100 mg/kg/dia para crianças).
6
Observação: a tetraciclina e a doxiciclina são contra-indicadas em gestantes, menores
de 9 anos e pacientes com insuficiência renal aguda ou insuficiência hepática.
Medidas terapêuticas de suporte
Constituem aspectos da maior relevância no atendimento de casos moderados e graves
e devem ser iniciadas precocemente na tentativa de evitar complicações da doença, principalmente as renais: reposição hidreletrolítica, assistência cardiorrespiratória, transfusões
de sangue e derivados, nutrição enteral ou parenteral, proteção gástrica, etc. O acompanhamento do volume urinário e da função renal são fundamentais para se indicar a instalação
de diálise peritoneal precoce, o que reduz o dano renal e a letalidade da doença.
L
Aspectos epidemiológicos
A leptospirose apresenta distribuição universal. No Brasil, é uma doença endêmica,
tornando-se epidêmica em períodos chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, devido às enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda em
condições inadequadas de saneamento e à alta infestação de roedores infectados.
Algumas profissões facilitam o contato com as leptospiras, como trabalhadores em limpeza e desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários, tratadores de animais, pescadores, magarefes, laboratoristas, militares e bombeiros, dentre outras.
Contudo, em nosso meio, a maior parte dos casos ainda ocorre entre pessoas que habitam
ou trabalham em locais com más condições de saneamento e expostos à urina de roedores.
Em análise realizada para o período 2001 a 2003, no Brasil, o local provável de infecção (LPI)
de 55% dos casos era o domicílio; de 32%, o ambiente de trabalho e de 13%, as situações de
lazer. Ao se observar apenas o meio rural/silvestre como LPI, observou-se que 54% dos casos
ocorreram no ambiente de trabalho, 28% no domicílio e 17% em situações de lazer.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
507
Leptospirose
No período de 1999 a 2003, foram confirmados 14.334 casos de leptospirose, com uma
média anual de 2.866 casos, variando entre 2.415 (2003) e 3.532 casos (2001). Nesse mesmo
período foram informados 1.683 óbitos, numa média de 336 óbitos/ano. A taxa de letalidade foi de 12% e o coeficiente médio de incidência de 1,7/100 mil hab. Entre os casos notificados, as maiores freqüências têm sido encontradas entre indivíduos do sexo masculino
(81%) e na faixa etária de 20 a 49 anos, ainda que não exista uma predisposição de gênero
ou idade para contrair a infecção.
Do total de casos confirmados, 77% foram hospitalizados, o que claramente demonstra
que o sistema de vigilância sofre um importante grau de subnotificação, captando principalmente os casos moderados e graves. A média de permanência no hospital foi de 7,5 dias.
Casos confirmados e coeficientes de incidência de leptospirose. Brasil, 1991-2003
4
6.000
Número de casos
3
4.000
2,5
3.000
2
1,5
2.000
CI p / 100 mil hab.
3,5
5.000
1
1.000
0,5
0
0
1991
Casos
C.I.
3.014
2
1992
1993
1994
1995
1996
2.094
1.728
2.893
4.293
5.579
1,4
1,1
1,8
2,7
3,5
1997
1998
3.298
3.449
2
2,1
1999
2.436
2
2000
3.493
2
2001
3.532
2
2002
2003
2.455
2.415
1,4
1,4
Fonte: SVS/MS
Os sintomas mais freqüentemente relatados foram febre (92%), mialgia (87%), cefaléia
(82%), icterícia (73%), náusea ou vômitos (70%), alterações respiratórias (37%), diarréia
(34%), conjuntivite (26%), insuficiência renal (27%), hemorragia (17%), alterações cardíacas (11%) e meningismo (8,5%).
As situações mais freqüentes de exposição foram aquelas relacionadas à ocorrência de
enchentes, seguidas por contato com córregos ou cursos d’água, lavoura, lixo, esgoto e, em
menor escala, com limpeza de caixas d’água e outras situações.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Monitorar a ocorrência de casos e surtos e determinar a sua distribuição espacial e
temporal.
508
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
• Reduzir a letalidade da doença, mediante a garantia de diagnóstico e tratamento
precoce e adequado.
• Identificar os sorovares circulantes em cada área.
• Direcionar as medidas preventivas e de controle destinadas à população, ao meio
ambiente e aos reservatórios animais.
Definição de caso
Suspeito
• Indivíduo com febre de início súbito, mialgias, cefaléia, mal-estar e/ou prostração,
associados a um ou mais dos seguintes sinais e/ou sintomas: sufusão conjuntival ou
conjuntivite, náuseas e/ou vômitos, calafrios, alterações do volume urinário, icterícia, fenômeno hemorrágico e/ou alterações hepáticas, renais e vasculares compatíveis com leptospirose ictérica (síndrome de Weil) ou anictérica grave.
• Indivíduo que apresente sinais e sintomas de processo infeccioso inespecífico com
antecedentes epidemiológicos sugestivos nos últimos 30 dias anteriores à data de
início dos primeiros sintomas.
6
São considerados como antecedentes epidemiológicos sugestivos:
• exposição a enchentes, lama ou coleções hídricas potencialmente contaminadas;
• exposição a esgoto e fossas;
• atividades que envolvam risco ocupacional, como coleta de lixo, limpeza de córregos, trabalho em água ou esgoto, manejo de animais e agricultura em áreas alagadas,
dentre outras;
• presença de animais infectados (roedores, cães, bovinos, etc.) nos locais freqüentados pelo paciente.
L
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – presença de sinais e sintomas clínicos compatíveis, associados a um ou mais dos seguintes resultados de exames laboratoriais:
• teste Elisa-IgM reagente (ou reação de macroaglutinação reagente, se disponível);
• soroconversão na reação de microaglutinação, entendida como uma primeira amostra (fase aguda) não-reagente e uma segunda amostra (14-21 dias após, máximo até
60 dias) com título maior ou igual a 1:200;
• aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de microaglutinação entre duas amostras
sangüíneas coletadas com um intervalo de 14 a 21 dias (máximo de 60 dias);
• quando não houver disponibilidade de duas ou mais amostras, um título maior ou
igual a 1:800 na microaglutinação confirma o diagnóstico;
• isolamento da Leptospira (em sangue, líquor, urina ou tecidos) ou detecção de DNA
de leptospira patogênica por PCR;
• imunohistoquímica positiva para leptospirose em pacientes suspeitos que evoluíram
para óbito.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
509
Leptospirose
Critério clínico-epidemiológico – todo caso suspeito que apresente sinais e/ou sintomas inespecíficos associados com alterações nas funções hepáticas e/ou renais e/ou vasculares e antecedentes epidemiológicos (descritos nos critérios de definição de caso suspeito)
que, por algum motivo, não tenha colhido material para exames laboratoriais específicos ou
estes tenham resultado não-reagente com amostra única coletada antes do 7º dia de doença.
O resultado negativo (não-reagente) de qualquer exame sorológico específico para a
leptospirose (macroaglutinação, microaglutinação, Elisa-IgM, ou outros), com amostra sangüínea coletada antes do 7º dia do início dos sintomas, não descarta o caso
suspeito. Outra amostra sangüínea deverá ser coletada a partir do 7º dia do início dos
sintomas, para auxiliar na interpretação do diagnóstico, conforme referido anteriormente (lembrar que o pico de produção de anticorpos ocorre a partir do 14º dia do
início dos sintomas).
Todo caso suspeito com o mesmo vínculo epidemiológico (mesmos fatores de risco)
de um caso já confirmado por critério clínico-laboratorial que, por algum motivo, não tenha colhido material para exames laboratoriais específicos ou estes tenham resultado nãoreagente com amostra única coletada antes do 7º dia de doença.
Descartado
• Teste Elisa-IgM não-reagente, em amostra sangüínea coletada a partir do 7º dia de
início dos sintomas.
• Reação de macroaglutinação não-reagente, em amostra sangüínea coletada a partir
do 7º dia de início dos sintomas.
• Duas reações de microaglutinação não-reagentes (ou reagentes sem apresentar soroconversão nem aumento de 4 vezes ou mais nos títulos), com amostras sangüíneas
coletadas a partir do primeiro atendimento do paciente e com intervalo de 2 a 3
semanas entre elas.
Notificação
A leptospirose é uma doença de notificação compulsória no Brasil. Tanto a ocorrência
de casos suspeitos isolados como a de surtos devem ser notificadas, o mais rapidamente
possível, para o desencadeamento das ações de vigilância epidemiológica e controle.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata dos casos graves, visando evitar complicações e diminuir a
letalidade. Nos casos leves, o atendimento é ambulatorial.
Qualidade da assistência
Os casos deverão ser atendidos em unidade de saúde com capacidade para prestar
atendimento adequado e oportuno. Aqueles que apresentarem complicações, principal-
510
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
mente metabólicas, renais, respiratórias e hemorrágicas, deverão ser encaminhados para
internação em hospitais de maior complexidade, que disponham de capacidade para realizar procedimentos de diálise e cuidados de terapia intensiva, se necessários.
Proteção individual
A transmissão pessoa a pessoa é rara e sem importância epidemiológica. Em geral, adotam-se medidas de precaução universal no manejo dos casos suspeitos e confirmados. O destino adequado das excretas evitará o contato da urina de doentes com pessoas susceptíveis.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial específico de todos os casos suspeitos,
sempre que possível, de acordo com as orientações do Anexo 1. Acompanhar os resultados
dos exames inespecíficos que auxiliam no esclarecimento do diagnóstico.
6
Proteção da população
Orientar e adotar as medidas de prevenção da doença, particularmente antes e durante
o período das grandes chuvas. Alertar a população para que realize as medidas de desinfecção de domicílios após as enchentes e evite entrar ou permanecer desnecessariamente em
áreas alagadas ou enlameadas sem a devida proteção individual. Descartar os alimentos que
entraram em contato com águas contaminadas, bem como verificar se o tratamento da água
de uso doméstico está adequado.
Medidas de anti-ratização são indicadas, principalmente em áreas endêmicas sujeitas
a inundações.
Ações continuadas de informação, comunicação e educação em saúde deverão ser empreendidas no sentido de repassar à população informações relativas às formas de transmissão, reservatórios animais envolvidos e situações de risco.
L
Investigação
A investigação epidemiológica de cada caso suspeito e/ou confirmado deverá ser realizada com base no preenchimento da ficha específica de investigação, visando determinar a
forma e local provável de infecção (LPI), o que irá orientar a adoção de medidas adequadas
de controle.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos
aos dados gerais, dados do caso e de residência do paciente.
Coleta de dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais
Coletar dados referentes aos antecedentes epidemiológicos, com especial atenção para
a ocupação e situação de risco ocorrida nos 30 dias que antecederam os primeiros sintomas
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
511
Leptospirose
do paciente, registrando a data e endereço do local provável de infecção (LPI) e a ocorrência
de casos anteriores de leptospirose humana ou animal no mesmo.
Registrar a data do atendimento e os sinais e sintomas apresentados pelo paciente
desde o início do quadro clínico, a ocorrência de hospitalização, datas de internação e alta
e o endereço do hospital.
Levantar dados referentes à coleta e encaminhamento de amostra(s) para diagnóstico
laboratorial, técnicas utilizadas (Elisa, microaglutinação, etc.), datas de coleta e respectivos
resultados. Os exames inespecíficos (níveis de uréia, creatinina, bilirrubinas, transaminases, plaquetas e potássio) poderão ser sugestivos para confirmação ou descarte do caso, na
dependência da evolução clínica e dos exames sorológicos específicos.
Para confirmar a suspeita diagnóstica – seguir os critérios de definição e de confirmação de casos.
Para identificação da área de risco – determinar forma e local provável de infecção
(LPI), sendo importante pesquisar:
• contato com água, solo ou alimentos que possam estar contaminados pela urina de
roedores infectados;
• contato direto com roedores ou outros reservatórios animais;
• condições propícias à proliferação ou presença de roedores nos locais de trabalho ou
moradia;
• ocorrência de enchentes, níveis de precipitações pluviométricas, atividades de lazer
em áreas potencialmente contaminadas, dentre outras.
O mapeamento de todos os casos deverá ser feito para se conhecer a distribuição espacial da doença, possibilitando a identificação de áreas de aglomeração de casos humanos.
Para determinação da extensão da área de risco – as áreas de risco são definidas após
o mapeamento dos locais prováveis de infecção de cada caso, associando-as:
• às áreas com antecedentes de ocorrência da doença em humanos e/ou animais;
• aos fatores ambientais predisponentes: topografia, hidrografia, temperatura, umidade, precipitações pluviométricas, pontos críticos de enchente, pH do solo, condições
de saneamento básico, disposição, coleta e destino do lixo;
• aos fatores socioeconômicos e culturais: classes sociais predominantes, níveis de
renda, aglomerações populacionais, condições de higiene e habitação, hábitos e costumes da população, proteção aos trabalhadores sob risco;
• aos níveis de infestação de roedores na área em questão.
Coleta e remessa de material para exames
Verificar se a equipe de assistência adotou as providências para realizar o exame específico, cujo material deve ser coletado e conservado de acordo com as orientações do Anexo 1.
Por tratar-se de patologia freqüentemente confundida com outras doenças febris, ictéricas ou não, e em algumas situações ocorrerem surtos concomitantes de hepatite, dengue e
outras doenças, deve-se atentar para o fato de que os exames inespecíficos são valiosos para
512
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
Roteiro de investigação epidemiológica da leptospirose
Caso suspeito
Investigação epidemiológica
Atenção médica/
dados clínicos
Caso
Ambiental
Coleta de
dados clínicos/
epidemiológicos
do paciente
Identificação
do local provável de
infecção (LPI) e áreas
de transmissão
6
Acionar medidas
de controle e manejo
integrado de roedores
Exame laboratorial
Coleta e remessa
de material
Anti-ratização
Não
Sim
Diagnóstico
descartado
Educação
em saúde
Diagnóstico
confirmado
L
Acompanhar
evolução
Avaliar critérios
clínicoepidemiológicos
Cura
Descarte
Desratização
Óbito
Confirmação
Acionar medidas de controle
Manejo integrado de roedores
fortalecer ou afastar a suspeita diagnóstica. A unidade de atendimento deverá estar orientada para solicitar os exames inespecíficos de rotina para os casos suspeitos, bem como
exames específicos para outras doenças caso o diagnóstico diferencial assim o exija.
Análise dos dados
A distribuição dos casos notificados e confirmados deve ser apresentada em gráficos
e tabelas agregados segundo faixa etária, sexo, ocupação, data dos primeiros sintomas, fre-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
513
Leptospirose
qüência e distribuição dos sinais ou sintomas, área geográfica de ocorrência, etc. Também
devem ser considerados os dados referentes a hospitalizações, estimativas de incidência e
de mortalidade, taxa de letalidade, etc. Percentuais e critérios de confirmação de casos devem ser explicitados. Quando possível, relacionar os sorovares infectantes de acordo com
os sinais e/ou sintomas dos pacientes (gravidade) e a respectiva distribuição geográfica. A
forma de contágio da doença e a evolução do evento serão úteis na determinação do perfil
epidemiológico dos indivíduos afetados.
A construção do diagrama de controle permite a comparação da incidência atual da
doença com a de anos anteriores, evidencia mais claramente o comportamento da doença
em cada área – endêmico ou epidêmico – e permite melhor direcionar as medidas de controle, bem como avaliar sua efetividade.
Encerramento de casos
Seguir os critérios de confirmação e descarte de casos, descritos no tópico Definição
de caso.
Relatórios
Por tratar-se de doença endêmica, a elaboração e a divulgação de relatórios periódicos
será de essencial importância para se obter um perfil epidemiológico da doença no tempo
e no espaço, de modo a direcionar as medidas de prevenção e controle a médio e longo
prazos. Nas situações de surtos e/ou epidemias, deverão ser elaborados relatórios parciais
e finais, visando orientar as medidas imediatas e mediatas para a redução da transmissão e
da morbimortalidade.
Instrumentos disponíveis para controle
Vários fatores interagem na ocorrência de um caso de leptospirose; portanto, as medidas de prevenção e/ou controle deverão ser direcionadas não-somente aos reservatórios
como também à melhoria das condições de proteção dos trabalhadores expostos, das condições higiênico-sanitárias da população e às medidas corretivas no meio ambiente.
Imunização
No Brasil, não existe uma vacina disponível para uso humano contra a leptospirose.
A vacinação de animais domésticos (cães, bovinos e suínos) evita que adoeçam mas não
impede que se infectem. Neste caso, podem apresentar leptospirúria, tornando-se fontes
de infecção, ainda que em grau mais leve e por um período menor do que ocorre com a
infecção em animais não-vacinados.
Controle de reservatórios
A efetividade das ações de prevenção e controle voltadas aos animais (sinantrópicos,
domésticos ou de criação) e a conseqüente diminuição do nível de contaminação ambiental
514
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
levarão à redução do número de casos humanos de leptospirose. As principais medidas
voltadas aos reservatórios são:
• controle da população de roedores
❯ anti-ratização – visa modificar as características ambientais que favorecem a penetração, instalação e livre proliferação de roedores, por meio da eliminação dos
fatores que propiciem o acesso desses animais a alimento, água e abrigo;
❯ desratização – visa a eliminação direta dos roedores através de métodos mecânicos (ratoeiras) e químicos (raticidas). Estas atividades devem ser planejadas e
executadas por equipes devidamente capacitadas. Os métodos biológicos (predadores) não são aplicáveis na prática;
• segregação e tratamento de animais domésticos infectados e/ou doentes e proteção
das áreas humanas de moradia, trabalho e lazer contra a contaminação pela urina
destes animais;
• imunização de animais domésticos e de produção (caninos, bovinos e suínos) através do uso de vacinas preparadas com os sorovares prevalentes na região;
• cuidados com a higiene, remoção e destino adequado de excretas de animais e desinfecção permanente dos canis ou locais de criação.
6
Ações de educação em saúde
• Alertar a população sobre a distribuição da doença, formas de transmissão, manifestações clínicas e medidas de prevenção.
• Esclarecer sobre o problema, visando a busca conjunta de soluções, as medidas que
os órgãos de saúde estão desenvolvendo, os locais para encaminhamento dos casos
suspeitos, etc.
• Definir formas de participação da população nas ações de controle da doença, considerando as estratégias propostas a seguir.
L
Estratégias de prevenção
Dentre as principais medidas de prevenção e/ou controle da leptospirose, destacam-se:
Relativas às fontes de infecção
• Controle da população de roedores (anti-ratização e desratização);
• Segregação e tratamento de animais de produção e companhia;
• Vigilância epidemiológica dos doadores de sêmen animal e dos comunicantes, controle sanitário da inseminação artificial;
• Cuidados com a higiene animal: remoção e destino adequado de resíduos alimentares, excretas, cadáveres e restos de animais; limpeza e desinfecção permanente dos
canis ou locais de criação;
• Armazenamento apropriado dos alimentos em locais inacessíveis a roedores;
• Coleta, condicionamento e destino adequado do lixo, principal fonte de alimento
para roedores;
• Manutenção de terrenos baldios, públicos ou privados, murados e livres de mato e
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
515
Leptospirose
entulhos, evitando condições à instalação de roedores.
• Eliminar entulho, materiais de construção ou objetos em desuso que possam oferecer abrigo a roedores.
Observação: para a viabilização das medidas de anti-ratização faz-se necessário agilizar e conscientizar a população e os órgãos competentes sobre a importância dos serviços
integrados de coleta de lixo, aprimoramento do uso de aterros sanitários e limpeza pública,
aperfeiçoamento da legislação sanitária e promoção do envolvimento e participação da comunidade.
Relativas às vias de transmissão
Cuidados com a água para consumo humano direto
Deve-se garantir a utilização de água potável, filtrada, fervida ou clorada para consumo humano. Se o domicílio for abastecido por sistema público e, no ponto de consumo
(torneira, jarra, pote, etc.), não for verificada a presença de cloro na quantidade recomendada (maior que 0,5 mg/l) ou se a água utilizada for proveniente de poço, cacimba, fonte,
rio, riacho, açude, barreira, etc., deve-se proceder à cloração no local utilizado para armazenamento (reservatório, tanque, tonel, jarra, etc.). Indica-se o uso de hipoclorito de sódio
a 2,5% ou água sanitária, numa das seguintes diluições:
Volume
de água
Hipoclorito de sódio a 2,5% (ou água sanitária)
Dosagem
Medida prática
1 mil litros
100ml
2 copinhos de café (descartáveis)
200 litros
15ml
1 colher de sopa
20 litros
2ml
1 colher de chá
1 litro
0,0045ml
2 gotas
Tempo
de contato
30 minutos
Obs.: aguardar 30 minutos para consumir
Limpeza da lama residual das enchentes
A lama das enchentes tem alto poder infectante e nestas ocasiões fica aderida a móveis,
paredes e chão. Recomenda-se retirar essa lama (sempre se protegendo com luvas e botas de
borracha) e lavar o local, desinfetando-o a seguir com solução de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) na seguinte proporção:
Para um balde de 20 litros de água: adicionar 1 copo (200 ml) de água sanitária.
Limpeza de reservatórios domésticos de água (caixa d’água)
Nas enchentes, o sistema doméstico de armazenamento de água pode ser contaminado, mesmo quando não diretamente atingido pela água da enchente, pois a rede de distribuição pode apresentar vazamentos que permitem a entrada de água poluída. Para limpar e
desinfetar o reservatório (caixa d’água), recomenda-se:
516
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
• esvaziar a caixa d’água completamente e lavá-la esfregando bem as paredes e o fundo, retirando toda a sujeira utilizando pá, balde e panos. Não esquecer de usar botas
e luvas de borracha;
• após concluída a limpeza, colocar 1 litro de água sanitária (hipoclorito de sódio a
2,5%) para cada 1 mil litros de água do reservatório;
• abrir a entrada (registro ou torneira) para encher a caixa com água limpa;
• após 30 minutos, abrir as torneiras da casa por alguns segundos, com vistas à entrada da água clorada na tubulação doméstica;
• aguardar 1 hora e 30 minutos para que ocorra a desinfecção do reservatório e das
canalizações;
• abrir as torneiras, podendo aproveitar a água para limpeza em geral de chão e paredes.
Cuidados com os alimentos
É fundamental que as ações de vigilância sanitária relativas à produção, armazenamento, transporte e conservação dos alimentos sejam continuadas. Os alimentos que entraram
em contato com as águas de enchentes deverão ser descartados, pois é perigosa qualquer
tentativa de reaproveitamento. O ideal, como prevenção, é armazená-los em locais elevados,
acima do nível das águas.
6
Alimentos enlatados
Latas amassadas, enferrujadas ou semi-abertas deverão ser inutilizadas, porém as que
permanecerem em bom estado e nas quais se tenha certeza de que não houve contato das
águas com os alimentos nela contidos poderão ser lavadas com solução de água sanitária na
proporção de 1/100, preparada do seguinte modo:
1 litro de água sanitária para 100 litros de água; ou
1/2 litro de água sanitária para 50 litros de água; ou
1/4 litro de água sanitária para 25 litros de água.
L
Águas superficiais e esgotos
• desassoreamento, limpeza e canalização de córregos;
• emprego de técnicas de drenagem de águas livres supostamente contaminadas;
• construção e manutenção permanente das galerias de águas pluviais e esgoto em
áreas urbanas.
Relativas ao susceptível
• Medidas de proteção individual para trabalhadores ou indivíduos expostos ao risco,
através do uso de equipamentos de proteção individual como luvas e botas.
• Redução do risco de exposição de ferimentos às águas/lama de enchentes ou outra
situação de risco.
• Imunização de animais domésticos (cães, bovinos e suínos) com vacinas preparadas
com sorovares prevalentes na região.
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517
Leptospirose
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
Coleta e conservação de material para diagnóstico de leptospirose
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
Cultura
Sangue
1, 2 e 3 gotas
por tubo*
(total=3
tubos por
paciente)
Microaglutinação
Soro
(sem
hemólise)
Elisa-IgM
Soro
(sem
hemólise)
Macroaglutinação
Soro
(sem
hemólise)
3,0ml
3,0ml
3,0ml
Nº de
amostras
Recipiente
Transporte
Estocagem
longo prazo
1
Fase aguda, preferencialmente antes de tratamento antibiótico. Ideal
até o 7º dia do início dos
sintomas
Meio de
cultura EMJH
ou Fletcher
Temperatura
ambiente
Não se aplica
2
Amostras pareadas nas fases aguda e convalescente:
a primeira, no primeiro
atendimento; a segunda,
após um intervalo de 14
a 21 dias (máx. 60)
Frasco adequado para congelamento (tubo
de ensaio) sem
anticoagulante
No gelo
(4oC)
Congelado
(-20ºC
a -70ºC)
1 ou 2
Fase aguda (no primeiro
atendimento); se for negativo, coletar uma segunda
amostra em 5-7 dias
Frasco adequado para congelamento (tubo
de ensaio) sem
anticoagulante
No gelo
(4oC)
Congelado
(-20ºC
a -70ºC)
1 ou 2
Fase aguda (no primeiro
atendimento); se for negativo, repetir em 5-7 dias
Frasco adequado para congelamento (tubo
de ensaio) sem
anticoagulante
No gelo
(4oC)
Congelado
(-20ºC
a -70ºC)
Período da coleta
*O sangue para o isolamento das leptospiras deverá ser semeado em três tubos contendo o meio de cultura específico. No primeiro tubo, deverá ser colocada uma gota de sangue; no segundo, duas e no terceiro, três gotas.
Volumes de sangue maiores que os recomendados podem acarretar o insucesso diagnóstico.
Teste de Elisa-IgM
O teste imunoenzimático Elisa-IgM é um método sensível e específico, implantado
desde 2003 em todos os laboratórios centrais das unidades federadas, que permite a detecção de anticorpos a partir da primeira semana da doença até 1 ou 2 meses após. Para
facilidade operacional, a coleta deve ser feita a partir do 7º dia do início dos sintomas: o
resultado “reagente” confirma o caso e o resultado “não-reagente” descarta o caso. No entanto, em muitas ocasiões, este teste é solicitado no primeiro atendimento ao paciente, antes
de decorrido o período referido; apresentará conseqüentemente, resultado não-reagente.
Por isso, aconselha-se a coleta de uma segunda amostra, apenas nestes casos, uma semana
depois (ver fluxograma em seguida).
518
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Leptospirose
Fluxograma para Elisa ou macroaglutinação
Caso suspeito
Elisa ou macro
Amostra de sangue antes do 7º dia de sintomas
Não-reagente
Repetir com outra amostra
colhida após o 7º dia
Amostra de sangue após o 7º dia de sintomas
Reagente
Reagente
Confirma o caso
Não-reagente
Descarta o caso
6
Reação de macroaglutinação
Trata-se de um exame acessível e de fácil execução, podendo ser realizado até por
pequenos laboratórios em hospitais gerais e/ou unidades de saúde. Por detectar, principalmente, anticorpos antileptospira da classe IgM, é um exame bastante útil na fase aguda da
doença. O período ideal de coleta de amostra sangüínea é a partir do 7º dia de início dos
sintomas. No entanto, em muitas ocasiões este teste é solicitado no primeiro atendimento
ao paciente, antes de decorrido este período, apresentando conseqüentemente resultado
não-reagente. Por isso, aconselha-se a coleta de uma segunda amostra, apenas nestes casos,
uma semana depois (ver fluxograma anterior).
L
Reação de microaglutinação
• A prova de aglutinação microscópica (microaglutinação) realizada a partir de antígenos vivos é considerada como o exame laboratorial “padrão-ouro” para a confirmação do diagnóstico da leptospirose. Além de detectar anticorpos específicos, é
usada na identificação e classificação dos sorovares isolados e deve ser realizada em
laboratórios especializados ou de referência.
• Geralmente, os anticorpos começam a surgir na primeira semana da doença e alcançam títulos máximos em torno da terceira e quarta semanas. Os títulos decaem
progressivamente e persistem baixos durante meses e até anos. Este fato dificulta a
avaliação, no sentido de se concluir, diante de um exame reagente, se estamos diante de uma infecção em atividade ou de uma infecção passada (cicatriz sorológica).
Por esta razão, recomenda-se comparar duas amostras de soro, a primeira colhida
na fase aguda da doença e a segunda, duas a três semanas após. O aumento de 4
vezes ou mais (2 ou mais diluições) no título de anticorpos da 1ª para a 2ª amostra
confirma o diagnóstico de infecção aguda. Se houver um resultado não-reagente
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
519
Leptospirose
na primeira amostra e um resultado reagente com título maior ou igual a 1:200 na
segunda amostra, teremos o que se conhece como soroconversão, o que também
confirma o caso.
• Deve-se ressaltar que o uso precoce de antibióticos pode interferir na resposta imunológica, alterando os títulos de anticorpos. Por esta razão, muitos pacientes não
chegam a apresentar soroconversão ou o aumento de 4 vezes ou mais nos títulos entre a primeira e a segunda amostra, o que impediria a sua confirmação se não fossem
realizados outros exames laboratoriais confirmatórios (isolamento, PCR e outros).
• Excepcionalmente, quando se conta apenas com uma amostra sangüínea com teste de
microaglutinação reagente, com título igual ou maior que 1:800, confirma-se o caso.
Exames laboratoriais em caso de óbito por síndrome febril
• Em caso de óbito de pacientes com síndrome febril, febril-ictérica ou febril-hemorrágica, sem diagnóstico nosológico definitivo, recomenda-se colher imediatamente
após o óbito uma amostra de 10ml de sangue para sorologia de leptospirose (pesquisa de anticorpos IgM), mesmo que tenham sido colhidas amostras anteriormente.
• A amostra de soro deve ser identificada, mantida refrigerada e enviada ao Lacen
juntamente com a ficha de notificação devidamente preenchida.
A coleta para sorologia servirá para diagnóstico laboratorial de leptospirose e outras
patologias que cursem com um quadro semelhante, como hepatite viral, febre amarela, dengue, hantavirose.
• Para meningococcemia e septicemia, sugere-se também colher sangue para hemocultura.
• Estes procedimentos são particularmente importantes em casos de óbito de pacientes internados (UTI ou enfermaria) cuja etiologia ainda não foi esclarecida.
• Recomenda-se também a coleta de tecidos, conforme descrito a seguir.
Amostras de tecidos para histopatologia
e imunohistoquímica após o óbito
• É importante coletar amostras de tecidos (fragmentos de aproximadamente 1 cm)
de diversos órgãos, incluindo o cérebro, pulmão, rim, fígado, pâncreas, coração e
músculo esquelético (panturrilha). As amostras devem ser coletadas o mais rápido
possível, no máximo até 8 horas após a morte. Devem ser identificadas e conservadas em solução de formalina tamponada ou embebidas em parafina e transportadas
em temperatura ambiente. A ficha de notificação e um resumo dos achados macroscópicos devem ser encaminhados juntamente com as amostras.
• Cada Lacen deverá orientar os serviços de vigilância e assistência de sua unidade federada acerca da melhor maneira de proceder a coleta e encaminhamento de amostras nestes casos, bem como estabelecer os fluxos com os laboratórios de referência
para a realização dos exames, se necessários.
• Outros exames, como o PCR, cultura e isolamento de leptospiras, podem ser realizados por laboratórios de referência (amostras criopreservadas).
520
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
MALÁRIA
CID 10: B50 a B54
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos por vetores.
Reveste-se de importância epidemiológica por sua gravidade clínica e elevado potencial de
disseminação em áreas com densidade vetorial que favoreça a transmissão. Causa consideráveis perdas sociais e econômicas na população sob risco, concentrada na região amazônica.
6
Agente etiológico
Protozoários do gênero Plasmodium. No Brasil, três espécies causam a malária em
seres humanos: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Uma quarta espécie, o P. ovale, só é
encontrado em áreas restritas do continente africano.
Reservatório
O homem é o único reservatório com importância epidemiológica para a malária.
Vetor
Mosquito pertencente à ordem dos dípteros, família Culicidae, gênero Anopheles. Este
gênero compreende mais de 400 espécies. Em nosso país, as principais espécies transmissoras
da malária, tanto na zona rural quanto na urbana, são: Anopheles darlingi, Anopheles aquasalis, Anopheles albitarsis s.l., Anopheles cruzii e Anopheles bellator. A espécie Anopheles darlingi
é o principal vetor no Brasil, destacando-se na transmissão da doença pela distribuição geográfica, antropofilia e capacidade de ser infectado por diferentes espécies de plasmódios.
Popularmente, os vetores da malária são conhecidos por “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mosquito-prego” e “bicuda”.
M
Modo de transmissão
Através da picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium.
Os vetores são mais abundantes nos horários crepusculares, ao entardecer e ao amanhecer. Todavia, são encontrados picando durante todo o período noturno, porém em menor quantidade em algumas horas da noite.
Não há transmissão direta da doença de pessoa a pessoa. Pode ocorrer a transmissão
induzida, por meio de transfusão de sangue contaminado ou do uso compartilhado de seringas contaminadas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
521
Malária
Período de incubação
O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio. Para
P. falciparum, de 8 a 12 dias; P. vivax, 13 a 17; e P. malariae, 18 a 30 dias.
Período de transmissibilidade
O mosquito é infectado ao sugar o sangue de uma pessoa com gametócitos circulantes.
Os gametócitos surgem na corrente sangüínea, em período que varia de poucas horas para
o P. vivax e de 7 a 12 dias para o P. falciparum. Para malária causada por P. falciparum, o
indivíduo pode ser fonte de infecção por até 1 ano; P. vivax, até 3 anos; e P. malariae, por
mais de 3 anos, desde que não seja adequadamente tratado.
Susceptibilidade e imunidade
Em geral, toda pessoa é susceptível à infecção por malária. Os indivíduos que desenvolvem atividades em assentamentos na região amazônica e outras, relacionadas ao desmatamento, exploração mineral, extrativismo vegetal, estão mais expostos à doença.
Indivíduos que tiveram vários episódios de malária podem atingir um estado de imunidade parcial, apresentando quadro subclínico ou assintomático.
Em regiões não-endêmicas, as áreas de risco são determinadas pelo potencial malarígeno, relacionado com a receptividade e vulnerabilidade da área. A receptividade se
mantém pela presença, densidade e longevidade do mosquito Anopheles. A vulnerabilidade
é causada pela chegada de portadores de malária, oriundos da região amazônica e de outros
países. Com exceção do Rio Grande do Sul e Distrito Federal, todos os estados são ainda
total ou parcialmente receptivos para a malária.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
O quadro clínico típico é caracterizado por febre alta, acompanhada de calafrios, sudorese profusa e cefaléia, que ocorrem em padrões cíclicos, dependendo da espécie de plasmódio infectante. Em alguns pacientes, aparecem sintomas prodrômicos, vários dias antes
dos paroxismos da doença, a exemplo de náuseas, vômitos, astenia, fadiga, anorexia.
Período de infecção – a fase sintomática inicial caracteriza-se por mal-estar, cansaço e
mialgia. O ataque paroxístico inicia-se com calafrio, acompanhado de tremor generalizado,
com duração de 15 minutos a 1 hora. Na fase febril, a temperatura pode atingir 41oC. Esta
fase pode ser acompanhada de cefaléia, náuseas e vômitos.
Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura (fase de apirexia). A diminuição dos sintomas causa sensação de melhora no paciente. Esta fase pode durar 48 horas
para P. falciparum e P. vivax (febre terçã) e 72 horas para P. malariae (febre quartã).
Período toxêmico – se o paciente não recebe terapêutica específica, adequada e oportuna os sinais e sintomas podem evoluir para formas graves e complicadas, relacionadas à
resposta imunológica do organismo, aumento da parasitemia e espécie de plasmódio.
522
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Hipoglicemia, convulsões, vômitos repetidos, hiperpirexia, icterícia e distúrbios da
consciência são indicadores de mau prognóstico. Esses sintomas podem preceder as formas
clínicas da malária grave e complicada, tais como malária cerebral, insuficiência renal aguda, edema pulmonar agudo, disfunção hepática e hemoglobinúria.
Dignóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifóide, febre amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, calazar e outros processos febris. Na fase inicial, principalmente
na criança, a malária confunde-se com outras doenças infecciosas dos tratos respiratório,
urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. No período de febre intermitente, as principais doenças que se confundem com a malária são as infecções urinárias,
tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, calazar, endocardite bacteriana e as leucoses.
Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e
hepatomegalia.
6
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial específico de rotina é realizado mediante demonstração
de parasitos, através do método da gota espessa (usado preferencialmente) ou esfregaço
ou testes imunocromatográficos (testes rápidos) em áreas de baixa endemicidade ou difícil
acesso. Existem ainda os testes de imunodiagnóstico, como a imunofluorescência indireta
(IFI), imunoabsorção enzimática (Elisa), aglutinação, precipitação e radiodiagnóstico, não
utilizados na prática diária. Dentre os métodos de imunodiagnóstico, o IFI e o Elisa são
mais factíveis operacionalmente.
Gota espessa – sua técnica baseia-se na visualização das formas do parasito através de
microscopia óptica, após coloração pelo método de Walker ou Giemsa. Permite a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise de sua coloração, morfologia e estágios de
desenvolvimento no sangue periférico, devido à sua alta concentração.
Esfregaço – é o método mais utilizado para a identificação das espécies de plasmódios,
porém a sensibilidade do diagnóstico é menor que o da gota espessa, em virtude da menor
concentração do sangue. A preparação é corada pelos métodos de Giemsa ou Wright.
Imunotestes rápidos – nova metodologia diagnóstica representada pelos testes imunocromatográficos de diagnóstico rápido da malária. Esses testes são realizados em fitas de
nitrocelulose contendo anticorpo monoclonal contra antígenos específicos do parasito. Os
testes hoje disponíveis discriminam especificamente o P. falciparum e as demais espécies
simultaneamente, não sendo capazes, portanto, de diagnosticar a malária mista. Pela sua
praticidade e facilidade de realização, esses métodos têm sido considerados úteis principalmente em situações onde é complicado processar o exame da gota espessa, como áreas de
difícil acesso ao serviço de saúde.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
M
523
Malária
Tratamento
A quimioterapia da malária tem como objetivos: interromper a esquizogonia sangüínea responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção; proporcionar a erradicação de formas latentes do parasito (hipnozoítas) das espécies P. vivax e P. ovale no ciclo
tecidual, evitando as recaídas; e reduzir as fontes de infecção para os mosquitos, eliminando
as formas sexuadas dos parasitos.
O tratamento adequado e oportuno da malária previne o sofrimento humano, a ocorrência do caso grave, o óbito e elimina a fonte de infecção.
As principais drogas antimaláricas são assim classificadas:
• pelo grupo químico – quinolinometanóis (quinina e mefloquina); 4-aminoquinolinas (cloroquina); 8-aminoquinolinas (primaquina); peróxido de lactona sesquiterpênica (derivados da artemisinina); antibióticos (tetraciclina, doxiciclina e clindamicina);
• pelo alvo de ação no ciclo biológico do parasito – esquizonticidas teciduais ou
hipnozoiticidas (cura radical do P. vivax e P. ovale); esquizonticidas sangüíneos (promovem a cura clínica); gametocitocidas (bloqueiam a transmissão).
A decisão de como tratar o paciente com malária deve estar de acordo com o Manual
de Terapêutica da Malária e ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos:
• gravidade da doença – pela necessidade de drogas injetáveis de ação mais rápida
sobre os parasitos, visando reduzir a letalidade;
• espécie de plasmódio – deve ser diferenciada, em face do perfil variado de resposta
do P. falciparum aos antimaláricos. Caso não seja possível determinar a espécie do
parasito, deve-se optar pelo tratamento do P. falciparum, pelo risco de evolução grave, devido à alta parasitemia;
• idade do paciente – pelo pior prognóstico na criança e no idoso;
• história de exposição anterior à infecção – indivíduos não-imunes (primoinfectados) tendem a apresentar formas clínicas mais graves.
• susceptibilidade dos parasitos aos antimaláricos convencionais – para indicar tratamento com drogas sabidamente eficazes para área de ocorrência do caso, evitando
atraso no efeito terapêutico e agravamento do quadro clínico;
• gravidez – a gravidez aumenta o risco de gravidade da malária e de morte. As gestantes não-imunes correm risco de aborto, parto prematuro e natimortalidade. Estão
mais propensas à malária cerebral, a hipoglicemia e edema agudo do pulmão.
524
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Esquemas de tratamento para a malária recomendados
pelo Ministério da Saúde
Nas tabelas a seguir, encontram-se os tratamentos preconizados pelo Ministério
da Saúde, relativos aos esquemas. Caso surjam dúvidas, recorrer ao texto do Manual de
Terapêutica da Malária, editado pelo Ministério da Saúde.
Quadro 1. Equivalência entre grupo etário e peso corporal aproximado
Grupos etários
Peso corporal
Menor de 6 meses
Menos de 5kg
6 a 11 meses
5 a 9kg
1 a 2 anos
10 a 14kg
3 a 6 anos
15 a 19kg
7 a 11 anos
20 a 29kg
12 a 14 anos
30 a 49kg
15 ou mais anos
50kg ou mais
6
Observação
Todos os profissionais de saúde envolvidos no tratamento da malária, desde o auxiliar de saúde da comunidade até o médico, devem orientar adequadamente, com linguagem compreensível, os pacientes quanto ao tipo de medicamento que está sendo
oferecido, a forma de ingeri-lo e os respectivos horários. Muitas vezes, os pacientes
sequer dispõem de relógio para verificar as horas.
M
O uso de expressões locais para a indicação do momento da ingestão do remédio é
recomendável. As expressões de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas muitas vezes não
ajudam os pacientes a saber quando devem ingerir os medicamentos. Por outro lado,
sempre que possível, deve-se também orientar os acompanhantes ou responsáveis,
além dos próprios pacientes, que, geralmente, além de humildes, encontram-se desatentos como conseqüência da febre, das dores e do mal-estar causados pela doença.
O tratamento da malária, mesmo em nível periférico, é muito complexo. Dificilmente, apenas um medicamento é utilizado. Em geral, são duas ou três diferentes drogas
associadas. É muito fácil haver confusão e troca de medicamentos. Em vários lugares,
as pessoas que distribuem os remédios e orientam o seu uso utilizam envelopes de
cores diferentes para cada medicamento. O importante é evitar a ingestão incorreta
dos remédios, pois as conseqüências podem ser graves.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
525
Malária
Esquemas de primeira escolha
Tabela 1. Esquema recomendado para tratamento das infecções por Plasmodium vivax
com cloroquina em 3 dias e primaquina em 7 dias
Drogas e doses
1o dia
Grupos etários
Cloroquina
(comp.)
2o e 3o dias
Primaquina
(comp.)
Adulto
Cloroquina
(comp.)
Infantil
4o ao 7o dias
Primaquina
(comp.)
Adulto
Primaquina
(comp.)
Infantil
Adulto
Infantil
Menor de 6 meses
1/4
-
-
1/4
-
-
-
-
6 a 11 meses
1/2
-
1
1/2
-
1
-
1
1 a 2 anos
1
-
1
1/2
-
1
-
1
3 a 6 anos
1
-
2
1
-
2
-
2
7 a 11 anos
2
1
1
1 e 1/2
1
1
1
1
12 a 14 anos
3
1 e 1/2
-
2
1 e 1/2
-
1 e 1/2
-
15 ou mais anos
4
2
-
3
2
-
2
-
Primaquina: comprimidos para adultos com 15mg da base e para crianças com 5mg da base. A cloroquina e a
primaquina deverão ser ingeridas preferencialmente às refeições. Não administrar primaquina para gestantes e
crianças até 6 meses de idade. Ver Tabela 10. Se surgir icterícia, suspender a primaquina.
Tabela 2. Esquema recomendado para tratamento das infecções por Plasmodium falciparum com quinina em 3 dias + doxiciclina em cinco dias + primaquina no 6o dia
Drogas e doses
1º, 2º e 3º dias
Grupos etários
Quinina (comp.)
Doxiciclina (comp.)
4º e 5º dias
6º dia
Doxiciclina (comp.)
Primaquina (comp.)
8 a 11 anos
1 e 1/2
1
1
1
12 a 14 anos
2 e 1/2
1 e 1/2
1 e 1/2
2
4
2
2
3
15 ou mais anos
As doses diárias de quinina e doxiciclina devem ser divididas em duas tomadas, de 12/12 horas. A doxiciclina e
a primaquina não devem ser dadas a gestantes. Neste caso, ver Tabela 7. Para menores de 8 anos e maiores de
6 meses de idade, ver a Tabela 6.
526
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Tabela 3. Esquema recomendado para tratamento das infecções mistas por Plasmodium
vivax + Plasmodium falciparum com mefloquina em dose única e primaquina em 7 dias
Drogas e doses
1 dia
2o ao 7o dias
o
Grupos etários
Primaquina (comp.)
Mefloquina
(comp.)
dose única
Adulto
Menor de 6 meses
Primaquina (comp.)
Infantil
Adulto
Infantil
*
-
-
-
-
6 a 11 meses
1/4
-
1
-
1
1 a 2 anos
1/2
-
1
-
1
3 a 4 anos
1
-
2
-
2
5 a 6 anos
1 e 1/4
-
2
-
2
7 a 8 anos
1 e 1/2
1
1
1
1
9 a 10 anos
2
1
1
1
1
11 a 12 anos
2 e 1/2
1 e 1/2
-
1 e 1/2
-
13 a 14 anos
3
1 e 1/2
-
1 e 1/2
-
15 ou mais
4
2
-
2
-
6
*Calcular 15 a 20mg/kg de peso.
A dose diária de mefloquina pode ser dividida em duas tomadas com intervalo de até 12 horas. Não usar primaquina em gestantes e menores de 6 meses. Ver Tabela 10.
Tabela 4. Esquema recomendado para tratamento das infecções por
Plasmodium malariae com cloroquina em 3 dias
Drogas e doses
Grupos etários
Cloroquina (comp.)
M
1o dia
2o dia
3o dia
Menor de 6 meses
1/4
1/4
1/4
6 a 11 meses
1/2
1/2
1/2
1 a 2 anos
1
1/2
1/2
3 a 6 anos
1
1
1
7 a 11 anos
2
1 e 1/2
1 e 1/2
12 a 14 anos
3
2
2
15 ou mais anos
4
3
3
Obs. Diferentemente do P. vivax, não se usa primaquina para o P. malariae.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
527
Malária
Esquemas alternativos
Tabela 5. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium vivax em
crianças apresentando vômitos, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias e primaquina em 7 dias
Drogas e doses
1 , 2 e 3 dias
o
o
4o dia
o
5o ao 11o dias
Grupos etários
Artesunato
cápsula retal
Artesunato
cápsula retal
1 a 2 anos
1
3 a 5 anos
2 (A)
6 a 9 anos
3 (B)
10 a 12 anos
3 (B)
Primaquina (comp.)
Adulto
Infantil
1
-
1
1
1/2
-
1
-
2
3 (B)
1
-
Cápsula retal com 50mg. A cápsula retal pode ser conservada em temperatura ambiente. Primaquina infantil e
adulto com 5mg e 15mg de primaquina-base, respectivamente. A dose de primaquina é de 0,50mg/kg de peso e
deve ser ingerida, preferencialmente, às refeições.
(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas;
(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.
Para menores de um ano e maiores de 12 anos, ver a Tabela 1. Obs.: não usar este esquema para crianças com
diarréia.
Tabela 6. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium
falciparum com mefloquina em dose diária e primaquina no 2o dia
Drogas e doses
1o dia
2o dia
Grupos etários
Primaquina (comp.)
Mefloquina (comp.)
Menor de 6 meses
*
Adulto
Infantil
-
-
6 a 11 meses
1/4
-
1
1 a 2 anos
1/2
1/2
-
3 a 4 anos
1
1
-
5 a 6 anos
1 e 1/4
1
-
7 a 8 anos
1 e 1/2
1 e 1/2
-
9 a 10 anos
2
1 e 1/2
-
11 a 12 anos
2 e 1/2
1 e 1/2
-
13 a 14 anos
3
2
-
15 ou mais
4
3
-
*Calcular 15 a 20mg/kg de peso.
A dose diária de mefloquina pode ser dada em duas tomadas, com intervalo máximo de 12 horas.
Não usar mefloquina se tiver usado quinina nas últimas 24 horas. Não usar mefloquina em gestantes no primeiro trimestre. Não usar primaquina em gestantes e menores de 6 meses.
528
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Tabela 7. Tratamento alternativo das infecções por Plasmodium falciparum
com quinina em 7 dias
Drogas e doses
Grupos etários
Quinina (comp.) (dose diária durante 7 dias)
Menor de 6 meses
1/4
6 a 11 meses
1/2
1 a 2 anos
3/4
3 a 6 anos
1
7 a 11 anos
1 e 1/2
12 a 14 anos
2
15 anos ou mais
3
A dose diária de quinina deve ser fracionada em 3 tomadas, de 8 em 8 horas.
Tabela 8. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium falciparum
de crianças, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias e dose única de mefloquina no
3o dia e primaquina no 5o dia
6
Drogas e doses
Grupos etários
1ºoe 2ºodias
3º dia
Artesunato
cápsula retal
4º dia
5º dia
Artesunato
cápsula retal
Mefloquina
(comp.)
Artesunato
cápsula retal
Primaquina
(adulto)
1/2
1 a 2 anos
1
1
1/2
1
3 a 5 anos
2 (A)
2 (A)
1
1
1
6 a 9 anos
3 (B)
3 (B)
1 e 1/2
1
1 e 1/2
10 a 12 anos
3 (B)
3 (B)
2 e 1/2
3 (B)
2
A cápsula retal pode ser conservada em temperatura ambiente. A mefloquina pode ser administrada na dose de
15-20mg/kg, dividida em duas tomadas, com intervalo de 12 horas.
M
(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas;
(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.
Para menores de um ano, ver a Tabela 7; e maiores de 12 anos, as Tabelas 2 ou 6. Obs.: não usar este esquema
para crianças com diarréia.
Tabela 9. Esquema alternativo para tratamento das infecções mistas por Plasmodium
vivax + Plasmodium falciparum com quinina em 3 dias, doxiciclina em 5 dias e
primaquina em 7 dias
Drogas e doses
Grupos etários
1º, 2º e 3º dias
Quinina
(comp.)
Doxiciclina
(comp.)
4º dia
Doxiciclina
(comp.)
5º dia
Doxiciclina
(comp.)
6º ao 11º dias
Primaquina
(comp.) (adulto)
Primaquina
(comp.) (adulto)
8 a 11 anos
1 e 1/2
1
1
1
1
1
12 a 14 anos
2 e 1/2
1 e 1/2
1 e 1/2
1 e 1/2
1 e 1/2
1 e 1/2
4
2
2
2
2
2
15 ou mais anos
A dose diária de quinina e de doxiciclina deve ser fracionada em duas tomadas, de 12 em 12 horas. Não usar
doxiciclina e primaquina em gestantes. Nesses casos, ver as Tabelas 7 e 10.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
529
Malária
Tabela 10. Esquema de prevenção de recaída da malária por Plasmodium
vivax, com cloroquina em dose única semanal, durante 3 meses*
Peso (Kg)
Idade
Número de comprimidos (150mg/base) por semana
5-6
< 4 meses
1/4
7 - 14
4 meses a 2 anos
1/2
15 - 18
3 - 4 anos
3/4
19 - 35
5 - 10 anos
1
36 e mais
11 e + anos
2
*Esquema recomendado para pacientes que apresentam recaídas após tratamento correto; e para gestantes e menores de 1 ano. Só deve ser iniciado após o término do tratamento com cloroquina em três dias.
Tratamento da malária grave e complicada
Quadro 2. Esquema recomendado para malária grave por P. falciparum
Droga
Observações importantes
1. Primeira escolha
Derivados da artemisinina
A. Artesunato endovenoso: 2,4mg/kg como dose
de ataque e 1,2mg/kg nos momentos 4, 24 e 48 horas.
Diluir cada dose em 50ml de solução isotônica (de
preferência glicosada a 5% ou 10%), via endovenosa
em uma hora ou,
B. Artemeter intramuscular: aplicar 3,2mg/kg
de peso em dose única no 1o dia. Após 24 horas,
aplicar 1,6mg/kg de peso a cada 24 horas, por
4 dias, totalizando 5 dias de tratamento
Completar o tratamento com clindamicina,
20mg/kg de peso/dia, por 5 dias, dividida em
duas tomadas (12 em 12 horas), via oral; ou
doxiciclina, 3,3mg/kg de peso/dia, dividida em
duas tomadas (12 em 12 horas), por 5 dias, via
oral; ou mefloquina, 15-20mg/kg de peso, em
dose única, via oral. Estes medicamentos devem
ser administrados ao final do tratamento com
os derivados da artemisinina. A doxiciclina não
deve ser administrada a gestantes e menores
de 8 anos. A mefloquina não deve ser usada
em gestantes do primeiro trimestre
2. Segunda escolha
Quinina endovenosa
Infusão de 20-30mg do sal de dicloridrato de quinina/kg/
dia, diluída em solução isotônica, de preferência glicosada,
a 5% ou 10% (máximo de 500ml), a cada 8 horas.
Importante: esta infusão deve ser administrada lentamente,
durante 4 horas
Quando o paciente estiver em condições de
ingestão oral e a parasitemia em declínio,
utiliza-se a apresentação oral de sulfato de
quinina, na mesma dosagem, a cada 8 horas.
Manter o tratamento até 48 horas após a
negativação da gota espessa (em geral, 7 dias)
3. Terceira escolha
Quinina endovenosa associada
à clindamicina endovenosa
A quinina na mesma dosagem da segunda escolha
até 3 dias. Simultaneamente, administrar a clindamicina,
20mg/kg de peso, dividida em 2 doses, uma a cada
12 horas, diluída em solução glicosada a 5% ou 10%
(15ml/kg de peso), infundida, gota-a-gota, em uma hora,
por 7 dias
Esquema indicado para gestantes
Observação: os derivados da artemisinina têm se mostrado muito eficazes e de ação muito rápida na redução e
eliminação da parasitemia. Assim, é necessário que estes medicamentos sejam protegidos de seu uso abusivo e
indicados fundamentalmente para casos graves e complicados. Em gestantes, o esquema terapêutico específico
preferencial é a associação quinina e clindamicina endovenosa, pela sua eficácia e inocuidade para a mãe e para
o feto.
530
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Aspectos epidemiológicos
A malária é reconhecida como grave problema de saúde pública no mundo, ocorrendo
em mais de 40% da população de mais de 100 países e territórios. Sua estimativa é de 300 a
500 milhões de novos casos e 1 milhão de mortes por ano.
No Brasil, aproximadamente 99% dos casos de malária se concentram na região amazônica, composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins. A região é considerada a área endêmica do país para malária. A maioria dos casos ocorre em áreas rurais, mas há registro da doença também em áreas
urbanas. Mesmo na área endêmica, o risco de contrair a doença não é uniforme. Este risco
é medido pelo índice parasitário anual (IPA), que classifica as áreas de transmissão em alto,
médio e baixo risco, de acordo com o número de casos por 1 mil habitantes (Figura 1).
Figura 1. Classificação das áreas de risco para malária, segundo o índice parasitário
anual (IPA). Amazônia Legal, 2003
6
M
Índice parasitário anual (IPA)
Por 1 mil habitantes
Estados da Amazônia Legal, 2003
0 (227 municípios)
> 0,1 a 9,9 (Baixo risco: 391 municípios)
> 10 a 49,9 (Médio risco: 111 municípios)
> 49,9 (Alto risco: 76 municípios)
Fonte: CGPNCM/Diges/SVS/MS
Na série temporal, a partir dos anos 60 pode ser observado que até 1976 foram registrados menos de 100 mil casos de malária por ano. A partir daquele ano, houve forte tendência na elevação da doença em função da ocupação desordenada da região amazônica.
Este incremento deveu-se também à implantação, na região, de projetos de colonização e
mineração.
Em 1983, registrou-se 300 mil casos. No período de 1984 a 1986, a malária se manteve
na faixa dos 400 mil casos. De 1987 a 1995, foram registrados 500 mil casos em média. Em
1996 e 1997 houve redução importante nos registros da doença, 21,3% e 28,1%, respecti-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
531
Malária
vamente, se comparados a 1995. Nos anos de 1998 e 1999, a malária aumentou de forma
preocupante, atingindo seu limite, em 1999, com 637.472 casos. Em 2000, a doença volta
a apresentar nova queda, para 615.245 casos. Em 2001, foi observado o maior declínio na
ocorrência da malária nos últimos 40 anos. Neste ano, registrou-se 389.775 casos, o que representou 38,5% de queda em relação a 2000. Em 2003 registrou-se um aumento de 15,8%
em relação ao número de casos de 2002 (348.259 casos).
Até a década de 80, houve relativa equivalência entre as espécies parasitárias (P. vivax
e P. falciparum). A partir de então, nota-se um distanciamento no número de registro das
duas espécies, que culminou com a predominância do P. vivax, responsável por cerca de
78% dos casos notificados em 2003 (Figura 2).
Figura 2. Registro de casos de malária e espécies parasitárias (P.falciparum e P. vivax).
Brasil, 1961-2003
700
600
500
400
300
200
100
0
61
63 65
67 69 71
73
75
77
79 81
P. falciparum
83
85
P. vivax
87
89 91
93
95
97 99 01 03
Casos
Fonte: CGPNCM/Diges/SVS/MS
Na região extra-amazônica, 92% dos casos registrados são importados dos estados
pertencentes à área endêmica e da África. Casos autóctones esporádicos ocorrem em áreas
focais restritas desta região. Destacam-se os municípios localizados às margens do lago
da usina hidrelétrica de Itaipu, áreas cobertas pela Mata Atlântica nos estados do Espírito
Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia; a região Centro-Oeste, nos estados
de Goiás e Mato Grosso do Sul, e a região Nordeste, nos estados do Piauí, Pernambuco e
Ceará.
532
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Vigilância epidemiológica
Objetivos
•
•
•
•
•
Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade da malária.
Identificar tendências, grupos e fatores de risco.
Detectar surtos e epidemias.
Evitar o restabelecimento da endemia, nas áreas onde a transmissão foi interrompida;
Recomendar as medidas necessárias para prevenir ou controlar a ocorrência da
doença.
• Avaliar o impacto das medidas de controle.
Definição de caso
Suspeito
Área endêmica – toda pessoa que apresente quadro febril, seja residente ou tenha se
deslocado para área onde haja transmissão de malária no período de 8 a 30 dias anteriores
à data dos primeiros sintomas.
Área não-endêmica – toda pessoa procedente de área onde haja transmissão de malária, no período de 8 a 30 dias anteriores à data dos primeiros sintomas, e apresente quadro
de paroxismo febril com os seguintes sintomas: calafrios, tremores generalizados, cansaço,
mialgia.
6
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – toda pessoa cuja presença de parasito no sangue, sua
espécie e parasitemia tenham sido identificadas através de exame laboratorial.
M
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo para malária.
Recaída (P. vivax, P. ovale) ou recrudescência (P. falciparum, P. malariae)
Lâmina de verificação de cura (LVC) – classifica-se como LVC o exame de microscopia (gota espessa e esfregaço) realizado durante e após tratamento recente, em paciente
previamente diagnosticado para malária, por busca ativa ou passiva.
Objetivos da realização de LVC
• No que diz respeito à atenção clínica (individual) – acompanhar o paciente para
verificar se o tratamento foi eficaz.
• No que diz respeito à vigilância epidemiológica (coletivo) – a LVC constitui importante indicador para a detecção de deficiências dos serviços de saúde na vigilância de fontes de infecção, atenção e tratamento do doente com malária. Além disso, é
útil para diferenciar uma nova infecção (caso novo) de uma recidiva (recrudescência
ou recaída).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
533
Malária
Critérios para a aplicação de LVC
Para a Amazônia Legal – não há obrigatoriedade na realização dos controles periódicos pela LVC durante o tratamento. Desta forma, todo paciente que demandar o diagnóstico de malária deverá ser assim classificado:
• resultado do exame atual = P. vivax
Se o paciente realizou tratamento para P. vivax dentro dos últimos 60 dias do diagnóstico atual, deverá ser classificado como LVC.
• resultado do exame atual = P. falciparum
Se o paciente realizou tratamento para P. falciparum dentro dos últimos 40 dias do
diagnóstico atual, deverá ser classificado como LVC.
• para a região extra-amazônica – a realização dos controles periódicos pela LVC
durante os primeiros 40 (P. falciparum) e 60 dias (P. vivax) após o início do tratamento deve constituir-se na conduta regular na atenção a todos os pacientes maláricos nessa região. Desta forma, a LVC deverá ser realizada:
❯ nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28, 40 e 60 após o início do tratamento de pacientes
com malária causada pelo P. vivax;
❯ nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28 e 40 após o início do tratamento de pacientes com
malária causada pelo P. falciparum.
Em caso de lâmina positiva após os limites máximos acima especificados, o paciente
deverá ser classificado como caso novo e deve-se considerar a investigação epidemiológica
para confirmar ou afastar autoctonia. Caso seja afastada a possibilidade de autoctonia, classificar o exame como LVC.
Notificação
Todo caso de malária deve ser notificado às autoridades de saúde, tanto na área endêmica quanto na área não-endêmica. A notificação deverá ser feita através da ficha de notificação de caso de malária, conforme fluxo e modelo adiante apresentados.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência ao paciente
Atendimento ambulatorial ao paciente suspeito, para coleta da amostra de sangue e
exame parasitoscópico. O caso confirmado recebe tratamento em regime ambulatorial. O
caso grave deverá ser hospitalizado de imediato. No paciente com resultado negativo para
malária, outras doenças deverão ser pesquisadas.
Qualidade da assistência
Um dos indicadores para se avaliar a qualidade da assistência é o tempo verificado entre
a coleta da amostra de sangue para exame e o início do tratamento, que não deve ser superior a
24 horas. Outra forma de garantir boa assistência é o monitoramento do tratamento, por meio
de visitas domiciliares ou de idas do paciente à unidade de saúde, para assegurar a cura.
534
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações técnicas.
Proteção da população
Como medidas utilizadas para o controle da malária na população, podemos destacar:
• tratamento imediato dos casos diagnosticados;
• busca de casos junto aos comunicantes;
• investigação epidemiológica;
• orientação à população quanto à doença, uso de repelentes, mosquiteiros impregnados, roupas protetoras, telas em portas e janelas;
• investigação entomológica com determinação dos hábitos hematofágicos, infectividade natural nos vetores e paridade;
• borrifação residual em todas as casas da localidade acometida, com periodicidade
determinada por provas biológicas para residualidade, sazonalidade do vetor ou verificação do aumento da taxa de paridade;
• aplicação espacial de inseticidas nos horários de maior densidade vetorial, com intervalos de, no máximo, sete dias;
❯ aplicação de larvicidas em criadouros do vetor; e pequenas obras de saneamento, para eliminação de criadouros do vetor.
6
Investigação
Após a notificação de um ou mais casos de malária, deve-se iniciar a investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas. O instrumento
de coleta de dados é a ficha de notificação de caso de malária, que contém os elementos
essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os seus campos devem
ser criteriosamente preenchidos. As informações sobre “dados preliminares da notificação”,
“dados do paciente”, “local provável da infecção” e os campos, “sintomas”, “data dos primeiros sintomas” e “paciente é gestante?” devem ser preenchidos no primeiro atendimento ao
paciente.
M
Roteiro de investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de notificação de casos de malária relativos aos
“dados preliminares da notificação”, “dados do paciente” e “paciente é gestante?”
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Anotar na ficha de notificação de caso de malária
• Se o paciente está com ou sem sintomas.
• Data dos primeiros sintomas.
• Coletar amostra de sangue, anotando a data da notificação e, posteriormente, verificar o resultado do exame laboratorial.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
535
Malária
Para identificação da área de transmissão (local provável da infecção)
• Identificar se o local de residência corresponde a uma área de transmissão da malária.
• Verificar se o paciente esteve em área de transmissão de malária no período de 8 a
30 dias anteriores à data dos primeiros sintomas e se os mesmos ocorreram à noite.
• Verificar a principal atividade exercida pelo paciente no período de 8 a 30 dias anteriores à data dos primeiros sintomas, e se os mesmos ocorreram em horários de
hábitos alimentares dos vetores.
Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares,
responsáveis ou pessoas da comunidade. Os dados serão anotados na ficha de notificação,
permitindo identificar o local de infecção da malária.
Quando o paciente residir em área endêmica, a caracterização do local de transmissão
é facilitada. Entretanto, a história dos deslocamentos de todos os casos suspeitos permitirá
definir, com maior certeza, o local provável de infecção.
Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental
importância para nortear a extensão das medidas de controle.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Em áreas rurais e urbanas – após a identificação do local provável de infecção, faz-se
a busca ativa de outros casos, delimitando a área de transmissão. Uma equipe treinada em
pesquisa de vetores deve ser deslocada para esta área, para a captura dos prováveis mosquitos vetores. Os espécimes coletados devem ser enviados ao laboratório de entomologia,
para identificação e verificação de infectividade e paridade.
Coleta e remessa de material para exames
A coleta e remessa da amostra de sangue para exame de malária devem ser feitas por
técnicos devidamente preparados pelo serviço de saúde, de acordo com os procedimentos
abaixo:
• coleta da amostra de sangue e preparação da lâmina;
• identificação da lâmina;
• coloração da lâmina: gota espessa, pelo método de Walker; esfregaço, pelos métodos
de Giemsa ou Wright;
• exame da lâmina e registro do resultado.
Em locais que somente coletam amostras de sangue, após preparação e identificação
da lâmina, estas devem ser enviadas ao laboratório de referência, juntamente com a ficha
de notificação de caso. O resultado do exame deverá ser enviado, posteriormente, ao local
da coleta.
536
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
Fluxograma do Sistema de Vigilância da Malária
Caso suspeito
Unidade de saúde, agente de saúde
(coleta de sangue, início da notificação)
Laboratório
(exame e registro de resultado)
Resultado do exame
(positivo)
Resultado do exame
(negativo)
Unidade de saúde,
agente de saúde
(tratamento)
Unidade de saúde
(notificação)
Análise de
informações
Secretaria municipal
de saúde (digitação)
Análise de
informações
Regional estadual de
saúde (consolidação
dos dados)
Divulgação
de informações
Análise de
informações
Secretaria estadual de
saúde (consolidação
dos dados)
Divulgação
de informações
6
Unidade de saúde
(pesquisar outros agravos)
Divulgação
de informações
M
Lacen
(controle de qualidade)
Análise de
informações
CGPNCM/SVS/MS
(consolidação dos dados)
Divulgação de
informações
Análise dos dados
A análise dos dados da notificação deve permitir a avaliação da magnitude, segundo as
características de pessoa, tempo e lugar. O nível local deverá fazer as primeiras avaliações,
de forma que se possa adotar as ações adequadas e oportunas ao controle da malária. Estas
ações serão constantemente reavaliadas para medição do impacto sobre a transmissão da
doença e redirecionamento, caso necessário.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
537
Malária
Encerramento de casos
Confirmado o diagnóstico laboratorial e iniciado o tratamento, encerra-se o caso de
malária.
Caso descartado – caso suspeito notificado, cujo resultado do exame laboratorial foi
negativo.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões, das quais destacam-se:
• distribuição da doença, por sexo e faixa etária;
• identificação do local provável da infecção e período da ocorrência;
• descrição dos fatores de risco envolvidos na transmissão;
• descrição das espécies de plasmódios causadoras da doença;
• análise da situação da doença, segundo os indicadores de risco de transmissão e de
gravidade (IPA, percentagem de falciparum, coeficiente de internação, mortalidade
e letalidade);
• descrição dos criadouros potenciais de Anopheles e respectivas espécies vetoras, responsáveis pela transmissão.
Instrumentos disponíveis para coleta
Imunização
Vários antígenos plasmodiais foram identificados nas últimas décadas. Ensaios de
campo foram realizados para avaliar a eficácia de algumas vacinas, porém os resultados
destes estudos ainda não são satisfatórios para a implantação da vacinação.
Controle vetorial
O controle vetorial da malária deve ser desenvolvido, preferencialmente, ao nível
municipal, com o objetivo de reduzir o risco de transmissão, prevenindo a ocorrência de
epidemias, com a conseqüente diminuição da morbimortalidade. Os principais métodos
empregados são o controle dos mosquitos adultos e, quando viável, de larvas.
Para o controle larvário, o ordenamento do meio por drenagem, aterro, modificação
do fluxo da água e controle da vegetação aquática e limpeza das margens é o método mais
indicado. Larvicidas químicos não são indicados devido ao impacto ambiental que podem
causar. O controle biológico, com utilização de biolarvicidas, peixes larvófagos e outros, é
indicado para pequenas coleções de água, em criadouros limitados em número e com baixo
fluxo de água.
Para o controle de mosquitos adultos, utiliza-se o controle químico por meio da aplicação intradomiciliar de inseticida de efeito residual e pulverização espacial de inseticida.
A partir de 1999, vem ocorrendo na região amazônica a implantação do controle seletivo de vetores. Esse novo direcionamento para as ações de controle origina-se da neces-
538
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Malária
sidade de implantar estratégias criativas para o enfrentamento do problema. O controle
seletivo pode ser entendido como a seleção de medidas de controle mais efetivas, seguras,
de baixo custo, que causem menor impacto ambiental e sejam adaptadas à realidade local.
Ações de educação em saúde
A população deve ser informada sobre a doença, da necessidade de se procurar a unidade de saúde aos primeiros sintomas, a importância do tratamento, os cuidados com a
proteção individual e coletiva. Várias técnicas pedagógicas podem ser utilizadas, tanto para
educação em saúde coletiva (teatro, música, imprensa falada, escrita, entre outras) quanto
individual (cartilhas, “folders” e outros).
Tendo em vista que os determinantes da ocorrência de malária não são exclusivos do
setor saúde, é necessário que a comunidade esteja mobilizada para se articular junto aos
demais setores envolvidos com o controle da endemia.
6
Estratégia de prevenção
Além de evitar freqüentar os locais de transmissão à noite, utilizam-se como medidas
de prevenção individual: uso de mosquiteiros impregnados ou não com inseticidas, roupas
que protejam pernas e braços, telas em portas e janelas, uso de repelentes.
As medidas de prevenção coletiva utilizadas são: drenagem, pequenas obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor, aterro, limpeza das margens dos criadouros,
modificação do fluxo da água, controle da vegetação aquática, melhoramento da moradia e
das condições de trabalho, uso racional da terra.
Programas coletivos de quimioprofilaxia não têm sido adotados devido à resistência
do P. falciparum à cloroquina e outros antimaláricos, à toxicidade e custo mais elevado de
novas drogas. Porém, em situações especiais, como missões militares, religiosas, diplomáticas e outras, em que haja deslocamento para áreas maláricas dos continentes africano e asiático, recomenda-se entrar em contato com os setores responsáveis pelo controle da malária
nas secretarias municipais e estaduais de saúde, e do Ministério da Saúde.
No Brasil, a política adotada atualmente centra-se no diagnóstico e tratamento oportuno e adequado, pois existe estrutura na rede pública de saúde para diagnóstico e tratamento da malária.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
M
539
Malária
540
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
MENINGITES
CID 10: A17.0 (M. tuberculosa); A39.0 (M. meningocócica);
A87 (M. virais); G00.0 (M. haemophilus); G00.1 (M. pneumocócica)
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
O termo meningite expressa a ocorrência de um processo inflamatório das meninges,
membranas que envolvem o cérebro.
Agente etiológico
A meningite pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, vírus
e fungos, dentre outros, e agentes não-infecciosos (ex: traumatismo).
As meningites de origem infecciosa, principalmente as causadas por bactérias e vírus,
são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública, pela magnitude de sua ocorrência e potencial de produzir surtos. Dentre elas, destacam-se:
6
Meningites bacterianas
Os principais agentes bacterianos causadores de meningite são:
Neisseria meningitidis (meningococo)
Bactéria gram-negativa em forma de coco. Possui diversos sorogrupos, de acordo com
o antígeno polissacarídeo da cápsula. Os mais freqüentes são os sorogrupos A, B, C, W135
e Y. Podem também ser classificados em sorotipos e subtipos, de acordo com os antígenos
protéicos da parede externa do meningococo.
M
Mycobacterium tuberculosis
Bacilo não formador de esporos, sem flagelos e que não produz toxinas. É uma espécie
aeróbica estrita, necessitando de oxigênio para crescer e se multiplicar. Tem a forma de
bastonete, medindo de 1 a 4 micra. Quando corado pelo método de Ziehl-Neelsen, fixa a
fucsina, não se descorando depois de tratado pelos álcoois (álcool-ácido resistente).
Haemophilus influenzae
Bactéria gram-negativa que pode ser classificada, atualmente, em 6 sorotipos (a, b, c,
d, e, f), a partir da diferença antigênica da cápsula polissacarídica. O Haemophilus influenzae, desprovido de cápsula, se encontra nas vias respiratórias de forma saprófita, podendo
causar infecções assintomáticas ou doenças não-invasivas tais como bronquite, sinusites e
otites, tanto em crianças como em adultos. A forma capsulada do Haemophilus influenzae
do tipo b, antes da introdução da vacina Hib, era responsável por 95% das doenças invasivas (meningite, septicemia, pneumonia, epiglotite, celulite, artrite séptica, osteomielite e
pericardite).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
541
Meningites
Streptococcus pneumoniae
Bactéria gram-positiva com característica morfológica esférica (cocos), disposta aos
pares. É alfa-hemolítico e não-agrupável, possuindo mais de 90 sorotipos capsulares.
Meningites virais
São representadas principalmente pelos enterovírus. Neste grupo estão incluídas as
três cepas dos poliovírus, 28 cepas de echovírus, 23 cepas do vírus coxsackie A, 6 do vírus
coxsackie B e 5 outros enterovírus.
O Quadro 1 apresenta a lista com os principais agentes etiológicos de meningite:
Quadro 1
Bactérias
Vírus
Outros
Neisseria meningitidis
RNA Vírus
Fungos
Haemophilus influenzae
• Enterovírus
• Cryptococcus neoformans
Streptococcus pneumoniae
• Arbovírus
• Candida albicans e C. tropicalis
Mycobacterium tuberculosis
• Vírus do sarampo
Staphylococcus aureus
• Vírus da caxumba
Protozoários
Pseudomona aeruginosa
• Arenavírus – coriomeningite linfocitária
• Toxoplasma gondii
Escherichia coli
• HIV 1
• Trypanosoma cruzi
Klebsiella sp
DNA vírus
• Plasmodium sp
Enterobacter sp
• Adenovírus
Salmonella sp
• Vírus do grupo Herpes
Helmintos
Proteus sp
• Varicela zoster
• Infecção larvária da Taenia solium
Listeria monocytogenes
• Epstein Barr
• Cysticercus cellulosae (cisticercose)
Leptospira sp
• Citomegalovírus
Reservatório
O principal reservatório é o homem. No caso da meningite tuberculosa, outros animais, em especial o gado bovino, podem ser reservatórios da doença. No entanto, o homem
com a forma pulmonar bacilífera é o reservatório de maior importância epidemiológica.
Modo de transmissão
Em geral, a transmissão é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe, havendo necessidade de contato íntimo (residentes na
mesma casa, colega de dormitório ou alojamento, namorado) ou contato direto com as
secreções respiratórias do paciente.
A transmissão fecal-oral é de grande importância em infecções por enterovírus. A
meningite tuberculosa é uma complicação da infecção tuberculosa. Os casos de tuberculose pulmonar com escarro positivo à baciloscopia constituem a principal fonte de infecção,
542
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
pois eliminam grande número de bacilos, podendo provocar uma infecção maciça dos contatos, com maior probabilidade de desenvolvimento de formas graves da doença, como a
meningite.
Período de incubação
Em geral, de 2 a 10 dias; em média, 3 a 4 dias. Pode haver alguma variação em função
do agente etiológico responsável.
A meningite tuberculosa, em geral, ocorre nos primeiros seis meses após a infecção.
Período de transmissibilidade
É variável, dependendo do agente infeccioso e da instituição do diagnóstico e tratamento precoces.
No caso da doença meningocócica, a transmissibilidade persiste até que o meningococo
desapareça da nasofaringe. O que geralmente ocorre após 24 horas de antibioticoterapia.
Aproximadamente, 10% da população pode apresentar-se como portador assintomático.
6
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral, mas o risco de adoecer declina com a idade. O grupo de
menores de 5 anos é o mais vulnerável.
Os neonatos raramente adoecem, em virtude da proteção conferida pelos anticorpos
maternos. Esta imunidade vai declinando até os 3 meses de idade, com o conseqüente aumento da susceptibilidade.
Em relação à meningite pneumocócica, idosos e indivíduos portadores de quadros
crônicos ou de doenças imunossupressoras apresentam maior risco de adoecimento. São
exemplos de doenças imunossupressoras: síndrome nefrótica, asplenia anatômica ou funcional, insuficiência renal crônica, diabetes mellitus, infecção pelo HIV. Nos primeiros meses de vida os lactentes estão protegidos por anticorpos específicos da classe IgG.
M
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A meningite é uma síndrome que se caracteriza por febre, cefaléia intensa, vômitos e
sinais de irritação meníngea, acompanhadas de alterações do líquido cefalorraquidiano.
A irritação meníngea associa-se aos sinais descritos a seguir:
Sinal de Kernig – resposta em flexão da articulação do joelho, quando a coxa é colocada em certo grau de flexão, relativamente ao tronco. Há duas formas de se pesquisar esse
sinal:
• paciente em decúbito dorsal: eleva-se o tronco, fletindo-o sobre a bacia; há flexão da
perna sobre a coxa e desta sobre a bacia; e
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
543
Meningites
• paciente em decúbito dorsal: eleva-se o membro inferior em extensão, fletindo-o sobre a bacia; após pequena angulação, há flexão da perna sobre a coxa. Essa variante
chama-se, também, manobra de Laségue.
Sinal de Brudzinski – flexão involuntária da perna sobre a coxa e desta sobre a bacia,
ao se tentar fletir a cabeça do paciente.
Crianças de até nove meses poderão não apresentar os sinais clássicos de irritação
meníngea. Outros sinais e sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais como febre, irritabilidade ou agitação, choro persistente, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada,
principalmente quando se flete as pernas para trocar a fralda) e recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos, convulsões e abaulamento da fontanela.
Meningites bacterianas
As infecções causadas pelas bactérias Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae
e Streptococcus pneumoniae podem limitar-se à nasofaringe ou evoluir para septicemia ou
meningite. Em geral, o quadro clínico da meningite bacteriana é grave e caracteriza-se por
febre, cefaléia intensa, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostração e confusão mental.
No curso da doença podem surgir delírio e coma. Dependendo do grau de comprometimento encefálico, o paciente poderá também apresentar convulsões, paralisias, tremores,
transtornos pupilares, hipoacusia, ptose palpebral e nistagmo. Casos fulminantes com sinais de choque também podem ocorrer.
As principais complicações das meningites bacterianas são perda da audição, distúrbio
de linguagem, retardo mental, anormalidade motora e distúrbios visuais.
A presença de alguns sinais clínicos pode sugerir a suspeita etiológica. É o caso da
Neisseria meningitidis que, em alguns casos, é responsável pelos quadros de meningococcemia com ou sem meningite, caracterizada por um exantema (“rash”) principalmente nas
extremidades do corpo. Este exantema apresenta-se tipicamente eritematoso e macular no
início da doença, evoluindo rapidamente para exantema petequial. A infecção pela Neisseria meningitidis pode provocar meningite, meningococcemia e as duas formas clínicas
associadas (meningite meningocócica com meningococcemia), ao que se denomina doença meningocócica. A vigilância da doença meningocócica é de grande importância para a
saúde pública em virtude de sua magnitude e gravidade, bem como do potencial de causar
epidemias.
Diferentemente das demais meningites, as meningites tuberculosa e fúngica podem
apresentar uma evolução mais lenta, de semanas ou meses, tornando difícil o diagnóstico
de suspeição.
Na meningite tuberculosa não tratada, classicamente o curso da doença é dividido em
três estágios:
Estágio I – em geral, tem duração de 1 a 2 semanas, caracterizando-se pela inespecificidade dos sintomas, podendo ocorrer febre, mialgias, sonolência, apatia, irritabilidade,
cefaléia, anorexia, vômitos, dor abdominal e mudanças súbitas do humor, sintomas comuns
544
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
a qualquer processo inespecífico. Nessa fase, o paciente pode encontrar-se lúcido e o diagnóstico geralmente é estabelecido pelos achados liquóricos.
Estágio II – caracteriza-se pela persistência dos sintomas sistêmicos e pelo surgimento
de evidências de dano cerebral (sinais de lesão de nervos cranianos, exteriorizando-se por
paresias, plegias, estrabismo, ptose palpebral, irritação meníngea e hipertensão endocraniana). Nessa fase, alguns pacientes apresentam manifestações de encefalite, com tremores
periféricos, distúrbios da fala, trejeitos e movimentos atetóides.
Estágio III ou período terminal – ocorre quando surge o déficit neurológico focal,
opistótono, rigidez de nuca, alterações do ritmo cardíaco e da respiração e graus variados
de perturbação da consciência, incluindo o coma. Em qualquer estágio clínico da doença
pode-se observar convulsões focais ou generalizadas.
Na maioria dos casos de meningite tuberculosa observa-se alterações radiológicas
pulmonares. O teste tuberculínico pode ou não ser reator. É importante lembrar que este
teste somente tem valor nos pacientes não vacinados com BCG e que poderá apresentar
resultados negativos nos indivíduos anérgicos, pacientes em fase terminal, pacientes com
tuberculose disseminada, na desnutrição grave e nos pacientes com Aids (síndrome da
imunodeficiência adquirida).
6
Meningites virais
O quadro clínico é semelhante ao das demais meningites agudas. Entretanto, ao exame físico chama a atenção o bom estado geral associado à presença de sinais de irritação
meníngea. Em geral, o restabelecimento do paciente é completo mas em alguns casos pode
permanecer alguma debilidade, como espasmos musculares, insônia e mudanças de personalidade. A duração do quadro é geralmente inferior a uma semana. Em geral, as meningites virais não estão associadas a complicações, a não ser que o indivíduo seja portador de
alguma imunodeficiência.
Quando se trata de enterovírus, é importante destacar que os sinais e sintomas inespecíficos que mais antecedem e/ou acompanham o quadro da meningite são: manifestações
gastrointestinais (vômitos, anorexia e diarréia), respiratórias (tosse, faringite), mialgia e
erupção cutânea.
M
As características do líquor nas diferentes etiologias estão descritas no Quadro 1 do
Anexo 1).
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com as doenças febris hemorrágicas, tais como septicemias, febre purpúrica brasileira e ricketsioses.
Com relação à meningite viral, o diagnóstico diferencial deve ser feito também com
outras encefalites.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
545
Meningites
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial das meningites é realizado através do estudo do líquido
cefalorraquidiano, podendo também ser utilizada a hemocultura, o raspado de lesões petequiais, urina e fezes. A punção liquórica é freqüentemente realizada na região lombar,
entre as vértebras L1 e S1, sendo mais indicados os espaços L3-L4, L4-L5 ou L5-S1. Uma
das contra-indicações para a punção lombar é a existência de infecção no local da punção
(piodermite). No caso de haver hipertensão endocraniana grave, é aconselhável solicitar
um especialista para a retirada mais cuidadosa do líquor, ou aguardar a melhora do quadro,
priorizando-se a análise de outros espécimes clínicos.
O líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. O volume normal é de 80 a
150ml. O aumento de elementos figurados (células) causa turvação, cuja intensidade varia
de acordo com a quantidade e o tipo desses elementos.
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite são:
• exame quimiocitológico do líquor;
• bacterioscopia direta (líquor ou soro);
• cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes);
• contra-imuneletroforese cruzada (CIE) (líquor ou soro);
• aglutinação pelo látex (líquor ou soro).
Obs.: ver rotina laboratorial para diagnóstico das meningites (Anexos 1 e 2).
Tratamento
Em se tratando de meningite bacteriana, o tratamento com antibiótico deve ser instituído tão logo seja possível, preferencialmente logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura. O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento
de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência.
Observações:
• Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e em qualquer
outra localização, usar o esquema II.
• Nos casos de tuberculose meningoencefálica em qualquer idade, recomenda-se o
uso de corticosteróides (prednisona, dexametasona ou outros) por um período de 1
a 4 meses, no início do tratamento.
• Na criança, a prednisona é administrada na dose de 1 a 2mg/kg de peso corporal, até
a dose máxima de 30mg/dia. No caso de se utilizar outro corticosteróide, aplicar a
tabela de equivalência entre eles.
• A fisioterapia na tuberculose meningoencefálica deverá ser iniciada o mais cedo
possível.
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Meningites
Recomendação de antibioticoterapia nos casos de meningite bacteriana
sem etiologia determinada
Faixa etária
Antibiótico (1ª escolha)
Antibiótico (2ª escolha)
Ampicilina + aminoglicosídeo
Cefalosporina 3ª geração
(gentamicina ou amicacina)
(cefataxina ou ceftriaxone) + ampicilina
2 meses a 5 anos
Ampicilina + cloranfenicol
Ceftriaxone
> 5 anos
Penicilina G. cristalina + ampicilina
Cloranfenicol ou ceftriaxone
< 2 meses
Recomendação de antibioticoterapia, segundo etiologia
Agentes
Antibióticos
Dose (EV)
300 a 500 milUI/kg/dia
Neisseria
meningitidis
Penicilina G.
cristalina
até
Duração
24.000.000UI/dia
200 a 400mg/kg/dia
até 15g/dia
Cloranfenicol
ou ceftriaxone
75 a 100mg/kg/dia
até 6g/dia
100mg/kg/dia até 4g/dia
6
3/3h ou 4/4h
7 dias
ou
ampicilina
Haemophilus
influenzae
Intervalo
4/4h ou 6/6h
6/6 h
12/12h ou 24/24h)
7 a 10 dias
300 a 500 milUI/kg/dia
até
Streptococcus
pneumoniae
Penicilina G.
cristalina*
24.000.000UI/dia
200 a 400mg/kg/dia
3/3h ou 4/4h
10 - 14 dias
M
4/4h ou 6/6h
até 15g/dia
Staphilococcus
Oxacilina ou
vancomicina
Ceftriaxone ou
Enterobactérias
sulfametaxazol
+ trimetropim
200mg/kg/dia até 12g/dia
4/4hs ou 6/6h
300 a 400mg/kg/dia até 2g/dia
6/6h
100mg/kg/dia até 8g/dia
12/12h ou 24/24h
100mg/kg/dia
8/8h ou 12/12h
21 dias
14 a 21 dias
100mg/kg/dia até 8g/dia
Pseudomonas
Ceftaridima +
amicacina ou
carbenicilina +
amicacina
20 a 30mg/kg/dia até 1,5g/dia
8/8h
3/3h
21 dias
400 a 600mg/kg/dia até 30g/dia
O tratamento da meningite tuberculosa é feito com o esquema II, padronizado pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose.
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547
Meningites
Esquema II: 2 RHZ/7RH* − Indicado na meningite tuberculosa
Peso do doente
Fases do
tratamento
Drogas
Até 20kg
Mais de 20kg
e até 35kg
Mais de 35kg
e até 45kg
Mais de 45kg
mg/kg/dia
mg/dia
mg/dia
mg/dia
600
R
10
300
450
H
10
200
300
400
Z
35
1 mil
1.500
2 mil
2ª fase
R
10
300
450
600
(4 meses - RH)
H
10
200
300
400
1ª fase
(2 meses - RHZ)
*2RHZ – 1ª fase (2 meses), 7RH (7 meses).
Obs: R – Rifampicina; H – Isoniazida; Z – Pirazinamida. Siglas utilizadas pela Organização Mundial da Saúde
De modo geral, a antibioticoterapia é administrada por via venosa por um período de
7 a 14 dias ou até mais, dependendo da evolução clínica e do agente etiológico.
A adoção imediata do tratamento adequado não impede a coleta de material para o
diagnóstico etiológico, seja líquor, sangue ou outros.
O prognóstico está relacionado a vários fatores, tais como agente etiológico, condições
clínicas e a faixa etária do paciente. Entretanto, apesar destes fatores o prognóstico será tanto melhor na medida em que for realizado o diagnóstico e o tratamento precoces.
O uso de corticóide nas situações de choque é discutível, existindo controvérsias sobre
a influência favorável ao prognóstico. Há evidências de que poderia agir favoravelmente na
prevenção de seqüelas nos casos de meningite originada pelo Haemophilus influenzae tipo
b. Contudo, sua eficácia para meningites por outras bactérias ainda permanece em fase de
estudos.
A emergência de cepas bacterianas com diferentes graus de resistência antimicrobiana
é o aspecto mais alarmante na terapia das doenças infecciosas. O principal fator que leva a
níveis elevados de resistência é o uso empírico abusivo dos antibióticos.
Nos casos de meningite viral, o tratamento antiviral específico não tem sido amplamente utilizado. Em geral, utiliza-se o tratamento de suporte, com criteriosa avaliação e
acompanhamento clínicos. Tratamentos específicos somente estão preconizados para a
meningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV) com acyclovir endovenoso. Na caxumba, a globulina específica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém não melhora a
síndrome neurológica.
Aspectos epidemiológicos
As meningites têm distribuição mundial e sua expressão epidemiológica depende de
fatores como o agente infeccioso, existência de aglomerados populacionais e características
socioeconômicas dos grupos populacionais e do meio ambiente (clima).
548
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Meningites
De modo geral, a sazonalidade da doença caracteriza-se pelo predomínio das meningites bacterianas no inverno e das meningites virais no verão.
A Neisseria meningitidis é a principal bactéria causadora de meningite. Tem distribuição mundial e potencial de ocasionar epidemias. O “cinturão africano” – região ao norte da
África – é freqüentemente acometido por epidemias causadas por este agente. No Brasil, na
década de 70 e 80 ocorreram epidemias em várias cidades devido aos sorogrupos A e C e,
posteriormente, o B. A partir da década de 90, houve diminuição proporcional do sorogrupo B e aumento progressivo do sorogrupo C. Desde então, surtos isolados do sorogrupo C
têm sido identificados e controlados no país.
Até 1999, as meningites causadas pelo Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) representavam a 2ª causa de meningite bacteriana depois da doença meningocócica. A partir do
ano 2000, após a introdução da vacina conjugada contra a Hib, houve uma queda de 90%
na incidência de meningites por este agente e a 2ª maior causa de meningites bacterianas
passou a ser representada pelo Streptococcus pneumoniae.
A meningite tuberculosa não sofre variações sazonais e sua distribuição não é igual em
todos os continentes. A doença guarda íntima relação com as características socioeconômicas, principalmente naqueles países onde a população está sujeita à desnutrição e condições
precárias de habitação. Com relação à faixa etária, o risco de adoecimento é elevado nos
primeiros anos de vida e muito baixo na idade escolar, voltando a se elevar na adolescência
e início da idade adulta. Os indivíduos HIV (+) também têm maior risco de adoecimento.
A meningite viral tem distribuição universal e potencial de ocasionar epidemias, principalmente relacionadas a enterovírus. O aumento de casos também pode estar relacionado
a epidemias de varicela, sarampo, caxumba e também a eventos adversos pós-vacinais.
A partir de 2004, foi desencadeada a implementação do diagnóstico laboratorial de
meningite viral, com o intuito de conhecer melhor os agentes virais causadores desse tipo
de meningite no país. A implementação da vigilância das meningites virais, juntamente
com as ações de vigilância vetorial, permitirá a detecção precoce de casos da febre do
Nilo Ocidental, doença em expansão no mundo a partir dos focos existentes nos Estados
Unidos.
6
M
Vigilância epidemiológica
O Sistema de Vigilância das Meningites (SVE/Meningites) compreende todas as atividades e atores envolvidos desde a identificação de um caso suspeito até a adoção das
medidas de prevenção e controle da doença na comunidade. Desta forma, a operação deste
Sistema pressupõe uma boa integração técnica entre as atividades de assistência aos casos,
de identificação e estudo das características do agente etiológico e de análise epidemiológica do comportamento da doença na população. O SVE/Meningites teve sua implantação
em 1975, quando tinha como objetivo principal o controle da doença meningocócica, em
virtude dos surtos então verificados no país. Ao longo dos anos, foi incorporada a este Sistema a vigilância de outras meningites de interesse para a saúde pública, como a meningite
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
549
Meningites
tuberculosa, a meningite por Haemophilus influenzae, a meningite por Streptococcus pneumoniae e as meningites virais.
Objetivos gerais
• Monitorar a situação epidemiológica das meningites no país.
• Orientar a utilização das medidas de prevenção e controle disponíveis e avaliar a
efetividade do uso dessas tecnologias.
• Avaliar o desempenho operacional do SVE/Meningites.
• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.
Objetivos específicos
• Detectar surtos de doença meningocócica e de meningite viral.
• Monitorar a prevalência dos sorogrupos e sorotipos de Neisseria meningitidis, dos sorotipos de Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae circulantes no país.
• Monitorar o perfil da resistência bacteriana das cepas de Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae.
Definição de caso
Suspeito
• Crianças acima de 1 ano e adultos com febre, cefaléia intensa, vômitos em jato, rigidez da nuca, sinais de irritação meníngea (Kernig, Brudzinski), convulsões e/ou
manchas vermelhas no corpo.
• Em crianças abaixo de um ano de idade, os sintomas clássicos acima referidos podem não ser tão evidentes. É importante considerar para a suspeita diagnóstica sinais de irritabilidade, como choro persistente, e verificar a existência de abaulamento de fontanela.
Confirmado
• Todo caso suspeito confirmado através dos seguintes exames laboratoriais específicos: cultura, CIE e látex, ou
• Todo caso suspeito de meningite com história de vínculo epidemiológico com caso
confirmado laboratorialmente por um dos exames especificados acima, ou
• Todo caso suspeito com exames laboratoriais inespecíficos (bacterioscopia, quimiocitológico ou outro) ou com evolução clínica compatível, ou
• Todo caso suspeito de meningite tuberculosa com história de vínculo epidemiológico com casos de tuberculose.
Obs.: vide Anexo 3 ‒ Tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico.
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
550
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Meningites
Notificação
A meningite faz parte da Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória, de
acordo com a Portaria GM nº 2.325, de 8 de dezembro de 2003. É de responsabilidade do
serviço de saúde notificar todo caso suspeito às autoridades municipais de saúde, que deverão providenciar, de forma imediata, a investigação epidemiológica e avaliar a necessidade
de adoção das medidas de controle pertinentes.
Todos os profissionais de saúde de unidades de saúde públicas e privadas, bem como
de laboratórios públicos e privados, são responsáveis pela notificação. O funcionamento
de unidades de vigilância epidemiológica (UVE) nos hospitais é fundamental para a busca
ativa de casos dentro dos mesmos.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente – hospitalização imediata dos casos suspeitos, coleta
de líquor cefalorraquidiano e de sangue para o esclarecimento diagnóstico, medidas de suporte geral e instituição de terapêutica específica, conforme a suspeita clínica.
Qualidade da assistência – o tratamento precoce e adequado dos casos reduz significativamente a letalidade da doença. Para o bom desempenho no atendimento ao paciente
grave toda a equipe de assistência deve estar familiarizada com as técnicas de suporte cardiorrespiratório e contar com a infra-estrutura necessária. A abordagem inicial, o rápido
reconhecimento da falência respiratória e do choque, a identificação e realização de drenagem de abcessos, dentre outros procedimentos de suporte ao paciente, são de fundamental importância na diminuição da morbimortalidade. O transporte dos casos para outra
unidade de saúde, quando necessário, deve ser efetuado após a estabilização da ventilação,
oxigenação e perfusão orgânica e com acesso venoso com antibioticoterapia.
Proteção individual e da população – o isolamento do paciente está indicado apenas
durante as primeiras 24 horas do tratamento com o antibiótico adequado. Deve-se proceder
à desinfecção concorrente em relação às secreções nasofaríngeas e aos objetos contaminados por elas. Nos casos de doença meningocócica ou meningite por Haemophilus influenzae está indicada a quimioprofilaxia do caso e dos contatos íntimos (ver tópico Instrumentos disponíveis para prevenção e controle). É importante a vigilância destes contatos por um
período mínimo de 10 dias, orientando a população sobre os sinais e sintomas da doença e
indicando os serviços de saúde a que devem recorrer frente a uma suspeita diagnóstica de
meningite.
6
M
Contato íntimo: moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o
mesmo dormitório, comunicantes de creches e pessoas diretamente expostas às secreções do paciente.
A quimioprofilaxia não está indicada para pessoal médico ou de enfermagem que
tenha atendido pacientes com meningites bacterianas, a menos que tenha havido exposição às secreções respiratórias durante procedimentos como respiração boca a boca e/ou
entubação.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
551
Meningites
Confirmação diagnóstica – é imprescindível a coleta de espécimes clínicos do paciente para a confirmação do diagnóstico etiológico (Anexo 1).
Investigação – deve-se proceder à investigação epidemiológica frente à notificação de
qualquer caso suspeito de meningite, para que se obtenha informações quanto à caracterização clínica do caso (incluindo a análise dos exames laboratoriais) e as possíveis fontes de
transmissão da doença. Além disso, verificar a necessidade de identificação de contatos e a
implementação das medidas de controle cabíveis em cada situação.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do caso
Preencher todos os campos da ficha de investigação do Sinan referentes à notificação
(dados gerais, do caso e de residência).
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
O instrumento de coleta de dados é a ficha de investigação do Sinan, que contém as
informações essenciais a serem coletadas em uma investigação de rotina. Todos os seus
campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo que a informação seja negativa.
Outras informações podem ser incluídas, conforme a necessidade.
As fontes de coleta de dados são: entrevista com o médico ou outro profissional de saúde que atendeu ao caso, dados do prontuário e entrevista de familiares e pacientes (quando
possível).
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Verificar se preenche a definição de caso.
• Verificar a coleta e resultados de exames de líquor, sangue/soro e fezes encaminhados ao laboratório.
• Verificar a evolução do(s) paciente(s).
Para identificação e determinação da extensão da área de transmissão
• Coletar informações na residência e nos locais usualmente freqüentados pelos indivíduos acometidos (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, discotecas, etc.),
para identificar possíveis fontes de infecção.
• Identificar todos os contatos íntimos.
• Investigar a existência de casos secundários e co-primários.
• Verificar histórico vacinal do paciente.
Coleta e remessa de material para exames
A punção lombar para coleta de líquor e a coleta de sangue e/ou fezes para o diagnóstico laboratorial devem ser realizadas logo após a suspeita clínica de meningite, preferencialmente antes do início do tratamento com antibiótico. O material coletado em meio estéril
deve ser processado no laboratório local para orientação da conduta médica. Posteriormente, deve ser encaminhado para o laboratório central de saúde pública (Lacen), para os
552
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
Roteiro de investigação epidemiológica das meningites (parte 1)
Caso suspeito
Notificação imediata
Investigação imediata
Coleta de dados clínico-epidemiológicos
Suspeita clínica de viral
Suspeita clínica de bacteriana
6
Caso isolado
Surto
Orientações
individuais
Coleta
de material
Medidas
de controle
DM
MHi
Identificar
contatos íntimos
Outras bacterianas
Orientações
gerais
Busca ativa
de casos
Quimioprofilaxia
Encerramento
Surto
Atualização
do Sinan
Medidas
adicionais
de controle
Imunização
se necessário
Orientações
gerais
M
Encerramento
Atualização
do Sinan
Legenda
DM – Doença meningocócica; MHi – Meningite por Haemophilus influenzae
procedimentos de identificação etiológica, de acordo com as normas técnicas apresentadas
nos Anexos 1 e 2.
Análise de dados
Esta é uma etapa fundamental da investigação epidemiológica e corresponde à interpretação dos dados coletados em seu conjunto. Esta análise deverá ser orientada por
algumas perguntas, tais como: quais foram as fontes de infecção? O caso atual, sob investi-
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553
Meningites
Roteiro de investigação epidemiológica das meningites (parte 2)
Caso suspeito
Notificação imediata
Investigação imediata
Coleta de dados clínico-epidemiológicos
Suspeita clínica de viral
Suspeita clínica de bacteriana
Coleta
Sangue
Líquor
Surto
Até 20 amostras
Caso isolado
Laboratório local
Bacterioscopia
Citoquímica
Coleta
Sangue
Líquor
Fezes
Laboratório local
Citoquímica
Lacen
Cultura
CIE
Látex
Lacen
Preparo das amostras
LRN
IAL
CGLAB
LRN
Fiocruz
IEC
Legenda
CGLAB – Coordenação Geral de Laboratórios; Lacen – Laboratório de Saúde Pública; LRN – Laboratório de Referência Nacional; IAL – Instituto Adolfo Lutz; Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz; IEC – Instituto Evandro Chagas.
gação, transmitiu a doença para outras pessoas? Trata-se de casos isolados ou de um surto?
Existem medidas de controle a serem executadas?
Isto significa que a investigação epidemiológica não se esgota no preenchimento da ficha de investigação do Sinan. A análise do prontuário, a realização de estudos adicionais e a
pesquisa em diferentes fontes de dados (busca ativa de novos casos) são atividades inerentes
554
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
para o alcance do objetivo final da vigilância epidemiológica: o controle das doenças. Para
esta análise, é importante:
• acompanhamento semanal do número de casos de doença meningocócica e meningite viral por município, para detectar surtos;
• revisão dos dados da ficha de investigação de casos;
• acompanhamento da situação epidemiológica das meningites (incidência e letalidade por etiologia, sazonalidade, sorogrupo predominante de Neisseria meningitidis,
etc.);
• análise de indicadores operacionais da vigilância (oportunidade de realização da
quimioprofilaxia, oportunidade de encerramento dos casos, percentual de meningites bacterianas confirmadas por cultura e critério laboratorial, etc.), conforme descrito no Caderno de Análise do Sinan.
Encerramento de caso
Deve ser realizado após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão do caso. A ficha de investigação deve ter sido devidamente preenchida para possibilitar a revisão e discussão do caso para o encerramento. O encerramento deverá ser feito
com base na tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico (Anexo 3), no
prazo máximo de 60 dias e posterior atualização dos dados no Sinan.
6
Instrumentos disponíveis para prevenção e controle
A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos.
Para alguns destes, é possível dispor de medidas de prevenção primária, tais como vacinas
e quimioprofilaxia. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para um bom
prognóstico da doença.
M
Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia, muito embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado,
tem sido adotada como eficaz medida na prevenção de casos secundários. Está indicada
para os contatos íntimos de casos de doença meningocócica e meningite por Haemophilus
influenzae e também para o paciente, no momento da alta, no mesmo esquema preconizado para os contatos, exceto se o tratamento foi com ceftriaxona, pois há evidências de que
esta droga é capaz de eliminar o meningococo da orofaringe.
A droga de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada
em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos íntimos, no prazo de 48 horas da
exposição à fonte de infecção. Considerar o período de transmissibilidade da doença. O uso
restrito da droga visa evitar a seleção de estirpes resistentes de meningococos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
555
Meningites
Esquema de rifampicina indicado por etiologia
Agente etiológico
Dose
Adultos - 600mg/dose
Intervalo
Duração
12/12h
2 dias
12/12h (dose máxima de 600mg)
2 dias
12/12h (dose máxima de 600mg)
2 dias
Crianças
Neisseria meningitidis
> 1 mês até 10 anos
dose - 10mg/kg/dose
< 1 mês
Dose - 5mg/kg/dose
Adultos - 600mg/dose
Crianças
Haemophilus influenzae
> 1 mês até 10 anos
dose - 20mg/kg/dose
< 1 mês
Dose - 10mg/kg/dose
4 dias
24/24h
24//24h (dose máxima de 600mg)
4 dias
24/24h (dose máxima de 600mg)
4 dias
Observação: criança com o esquema vacinal completo contra Haemophilus influenzae tipo b não precisa receber
quimioprofilaxia, exceto nos casos de ser imunocomprometida.
Imunização
As vacinas contra meningite são específicas para determinados agentes etiológicos.
Algumas fazem parte do calendário básico de vacinação da criança e outras estão indicadas
apenas em situações de surto.
Vacina contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib) ou tetravalente
Esta vacina previne contra as infecções invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae do tipo b, como meningite, pneumonia, septicemia, otite, etc. Faz parte do calendário
básico de vacinação infantil e está recomendada para menores de um ano no esquema de
três doses com intervalo de 60 dias entre as doses (esquema: 2, 4 e 6 meses de idade). É
utilizada juntamente com a vacina DPT, compondo a vacina tetravalente.
Suas contra-indicações são as gerais, relacionadas à hipersensibilidade. As reações adversas são raras e, quando ocorrem, são locais (dor, eritema e enduração) e surgem nas primeiras 24 a 48 horas após a administração. Esta vacina também está indicada em casos de:
• crianças e adolescentes até 18 anos, com asplenia anatômica ou funcional ou com
imunodeficiência congênita ou adquirida;
• menores de cinco anos, com doença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave;
• transplantados de medula óssea de qualquer idade.
Vacina contra o bacilo de Koch
A vacina BCG (bacilo de Calmette-Guérin, estirpe Moreau Rio de Janeiro) previne
contra as formas graves de tuberculose (miliar e meníngea). É uma vacina composta de
556
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
cepas atenuadas do bacilo Mycobacterium bovis. O esquema recomendado é uma dose ao
nascer, devendo ser administrada o mais precocemente possível, na própria maternidade
ou na sala de vacinação da rede pública de saúde. A utilização de uma dose de reforço entre
6 e 10 anos de idade, já introduzida em alguns estados, é recomendada. Em criança que
recebeu BCG há seis meses ou mais, na qual esteja ausente a cicatriz vacinal, indica-se a
revacinação, sem necessidade de realização prévia do teste tuberculínico (PPD).
A vacina é contra-indicada nas seguintes situações:
• em portador HIV positivo, sintomático ou assintomático;
• em menores de 13 anos infectados pelo HIV, considerar a Tabela 1 e avaliar os parâmetros clínicos e risco epidemiológico para a tomada de decisão;
• nos trabalhadores de saúde reatores à prova tuberculínica (reator forte/acima de
10mm);
• nos portadores de imunodeficiências congênitas.
6
Em recém-nascidos com peso inferior a 2kg, devido à escassez do tecido cutâneo e em
presença de afecções dermatológicas extensas em atividade, doenças graves, ou nos casos
de uso de drogas imunossupressoras, recomenda-se o adiamento até que a criança esteja
clinicamente bem.
Os eventos adversos mais comuns são: formação de abscesso subcutâneo frio ou quente, ulceração com diâmetro maior que 1cm no local da aplicação, linfadenite regional supurada, cicatriz quelóide, reação lupóide e outras lesões localizadas ou generalizadas (maiores
detalhes, ver Manual de Vigilância Epidemiológica dos Eventos Adversos, disponível no site
www.saude.gov.br/svs/publicações).
Vacinas contra Neisseria meningitidis
As vacinas antimeningocócicas podem ser polissacarídicas ou conjugadas.
M
Tabela 1. Categoria imunológica da classificação da infecção pelo HIV na criança
(menores de 13 anos)
Contagem de LT CD4+ em células/mm3
Idade
Alteração imunológica
<12 meses
1 a 5 anos
6 a 12 anos
Ausente (1)
≥1.500 (≥25%)
≥1 mil (≥25%)
≥500 (≥25%)
Moderada
750-1.499 (15-24%)
500-999 (15-24%)
200-499 (15-24%)
Grave (3)
<750 (<15%)
<500 (<15%)
<200 (<15%)
Fonte: BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV.
-Brasília: Ministério da saúde, 2002.
As vacinas polissacarídicas têm por base a reação imunogênica do hospedeiro ao polissacarídeo capsular do meningococo e, portanto, são sorogrupo específicas (A, C, W135,
Y) ou sorosubtipo específicas (B:4,7 P1, 15).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
557
Meningites
Vacina polissacarídica contra o meningococo dos sorogrupos A e C – é constituída
por polissacarídeos capsulares purificados de Neisseria meningitidis (isolados ou combinados) que foram quimicamente identificados, induzindo uma resposta imunológica de
célula T independente. A eficácia em adultos é alta, mas no grupo de menores de 2 anos é
baixa. Além disso, produzem imunidade de curta duração (12 a 24 meses).
Os eventos adversos pós-vacinação são leves e pouco freqüentes, consistindo, principalmente, de manifestações locais como dor, edema e eritema local com duração de 1 a 2
dias. As manifestações sistêmicas são leves e pouco freqüentes, consistindo principalmente
de febre baixa, com início até 48 horas após a aplicação da vacina e persistindo por 24 a 48
horas.
No Brasil, estas vacinas estão indicadas no controle de surtos, não estando disponíveis
na rotina dos serviços de saúde.
Vacina polissacarídica contra o meningococo do sorogrupo B – existe uma vacina
disponível cujos resultados dos estudos realizados no Brasil indicam baixa efetividade em
menores de 2 anos. A vacina contra o meningococo B possui baixa eficácia porque o polissacarídeo da cápsula desse meningococo é fracamente imunogênico, devido à sua semelhança estrutural com tecidos corporais humanos.
Os eventos adversos pós-vacinação mais observados são a dor no local da aplicação e
tumefação. A febre é a mais comum das manifestações gerais, ocorrendo na maioria das vezes nas primeiras 48 horas após a vacinação. A síndrome de reação sistêmica precoce pode
manifestar-se dentro de 3 horas após a aplicação da vacina com um ou mais dos seguintes
sintomas: tremores, calafrios, febre, cefaléia intensa, vômitos, sonolência, prostração, cianose perioral ou de dedos.
Vacina conjugada contra o meningococo do sorogrupo C – a vacina antimeningocócica conjugada do sorogrupo C é constituída por polissacarídeo meningocócico do
grupo C, conjugado ao toxóide tetânico. Está indicada na prevenção da infecção invasiva
pelo meningococo C em crianças acima de 2 meses de idade. Esta vacina está disponível
nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) sendo recomendada nas
seguintes situações:
• crianças e adolescentes com asplenia anatômica ou funcional ou com imunodeficiência congênita ou adquirida;
• menores de cinco anos, com doença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave;
• transplantados de medula óssea.
Os eventos adversos mais freqüentes são dor, vermelhidão e inchaço no local da aplicação. Em crianças que começam a andar e em bebês, observa-se choro, irritabilidade, sonolência, insônia. Febre, vômito, náusea, perda de apetite e diarréia ocorrem em menor
freqüência.
558
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
Vacina contra Streptococcus pneumoniae
Esta vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais
(Crie) em duas apresentações, sendo indicada nas seguintes situações:
23 Valente
• Adultos a partir de 60 anos de idade, quando hospitalizados, institucionalizados ou
acamados;
• Crianças com dois anos e mais, adolescentes e adultos com imunodeficiência adquirida ou congênita, síndrome nefrótica, disfunção anatômica e funcional do baço,
doença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave, insuficiência renal crônica, diabetes mellitus insulino-dependente, cirrose hepática, fístula liquórica e transplantados de medula óssea de qualquer idade.
7 Valente
A partir dos dois meses de idade até 23 meses: menores de dois anos de idade imunocompetentes, com doença pulmonar ou cardiovascular crônicas graves, insuficiência renal
crônica, síndrome nefrótica, diabetes mellitus, cirrose hepática, fístula liquórica, asplenia
congênita ou adquirida, hemoglobinopatias, imunodeficiência congênita ou adquirida,
crianças HIV positivo assintomáticas e com aids.
6
Observação: a vacina deve ser administrada 15 dias antes de esplenectomia eletiva e
quimioterapia imunossupressora.
Vacinação para bloqueio de surto
Recomendações
A vacinação para bloqueio está indicada nas situações em que haja a caracterização de
um surto de doença meningocócica para o qual seja conhecido o sorogrupo responsável e
exista vacina eficaz disponível.
Estas vacinas somente serão utilizadas a partir de decisão conjunta das três esferas de
gestão: secretaria municipal de saúde, secretaria estadual de saúde e a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS, após comprovação do sorogrupo responsável pelo surto.
A estratégia de vacinação (campanha indiscriminada ou discriminada) será definida
considerando a análise epidemiológica, as características da população (faixa etária, etc.) e
a área geográfica de ocorrência dos casos.
Todos os procedimentos relacionados com o desencadeamento de campanha de vacinação deverão estar de acordo com as normas técnicas preconizadas pelo Programa Nacional de Imunização.
Após a vacinação, são necessários 7 a 10 dias para a obtenção de títulos protetores de
anticorpos. Casos ocorridos em pessoas, no período de até 10 dias após a vacinação não
devem ser considerados falhas da vacinação. Estes casos são passíveis de ocorrência, haja
vista que o indivíduo pode ainda não ter produzido imunidade ou estar em período de
incubação da doença, que varia de 2 a 10 dias.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
M
559
Meningites
As orientações técnicas para a administração de vacinas estão descritas no Manual de
Procedimentos do Programa Nacional de Imunizações.
Ações de educação em saúde
A população deve ser orientada sobre os sinais e sintomas da doença, bem como os
hábitos, condições de higiene e disponibilidade de outras medidas de controle e prevenção,
tais como quimioprofilaxia e vacinas, alertando para a procura imediata do serviço de saúde frente a suspeita da doença.
A divulgação de informações é fundamental para diminuir a ansiedade e evitar o pânico.
Resumo das estratégias de prevenção e controle
• Orientar a população sobre a importância da higiene corporal e ambiental, bem
como a manutenção de ambientes domiciliares e ocupacionais ventilados, e evitar
aglomerados em ambientes fechados.
• Informar sobre os mecanismos de transmissão da doença.
• Capacitar os profissionais de saúde para o diagnóstico e tratamento precoces.
• Notificar todos os casos suspeitos às autoridades de saúde.
• Investigar imediatamente todos os casos notificados como meningite.
• Realizar, de forma adequada e em tempo hábil, a quimioprofilaxia dos contatos íntimos, quando indicada.
• Manter alta cobertura vacinal contra BCG e Hib, observando a importância da cobertura homogênea nos municípios.
• Detectar precocemente e investigar rapidamente os surtos.
• Realizar a vacinação para bloqueio de surtos, quando indicada.
560
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
Anexo 1
O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite é de extrema importância
para a vigilância epidemiológica, tanto na situação endêmica da doença quanto em situações de surto.
Para todo caso suspeito de meningite bacteriana, utilizar o kit de coleta para o diagnóstico laboratorial, distribuído pelos Lacens em todo o território nacional, composto de:
• 1 frasco para hemocultura (com caldo TSB ou BHI acrescido do anticoagulante
SPS);
• 1 frasco com meio de cultura ágar chocolate base Müller Hinton ou similar, para
líquor;
• 1 frasco estéril para coleta de soro, para realizar CIE e látex;
• 1 frasco estéril para coleta de líquor, para citoquímica, CIE e látex;
• 2 lâminas sem uso prévio, perfeitamente limpas e desengorduradas, para bacterioscopia (uma é corada e processada no laboratório do hospital; a outra, enviada para o
Lacen).
6
Kit para colheita e transporte do líquido cefalorraquidiano/sangue/soro
Ágar chocolate base
Müeller Hinton
Caldo TSB frasco
hemocultura
M
2 lâminas de microscopia
Frasco vazio para LCR
Frasco vazio para soro
As culturas positivas devem ser sempre encaminhadas ao Lacen, que a seguir as enviará para o Instituto Adolfo Lutz (IAL/SP), que é o laboratório de referência nacional para as
meningites bacterianas, onde serão realizados os seguintes estudos complementares: confirmação de espécie, sorogrupo, sorotipo e sorosubtipo, caracterização molecular e controle
da resistência antimicrobiana da cepa.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
561
Meningites
Quadro 1. Alteração do LCR em algumas patologias (exames laboratoriais)
Exames
laboratoriais
Meningites
Encefalites
Bacteriana
Tuberculosa
Viral
Neurocisticercose
Meningoencefalia
por fungos
Normal
Aspecto
Turvo
Límpido ou
ligeiramente
turvo
(opalescente)
Límpido
Límpido
Límpido ou
ligeiramente
turvo
Límpido
Límpido
Cor
Branca-leitosa
ou ligeiramente xantocrômica
Incolor ou
xantocrômica
Incolor ou
opalescente
Incolor
Incolor
Incolor
Incolor, cristalino (“água
de rocha”)
Coágulo
Presença ou
ausência
(fibrina
delicada)
ou ausência
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Cloretos
Diminuídos
Diminuídos
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Glicose
Diminuída
Diminuída
Normal
Normal
Normal
Normal
45 a 100mg/dl
Proteínas
totais
Aumentadas
Aumentadas
Levemente
aumentadas
Discretamente
aumentadas
Discretamente
aumentadas
Discretamente
aumentadas
15 a 50mg/dl
Globulinas
Positiva
(gama-globulina)
Positiva
(alta e gamaglobulinas)
Negativa
ou positiva
Aumento
discreto (gamaglobulina)
Normal
200 a milhares
25 a 500
5 a 500
1 a 100
1 a 100
(neutrófilos)
(linfócitos)
(linfócitos)
(linfócitos)
(linfócitos)
Presença
Leucócitos
VDRL
-
Aumento
(gamaglobulina)
-
1 a 100
(linfócitos
ou eosinófilos)
0 a 5 mm3
-
-
-
-
-
-
Contraimunoeletroforese
(CIE)
Reagente (1)
-
-
-
-
-
-
Látex
Reagente (5)
-
-
-
-
-
-
Microscopia
Positiva para
DGN, BGN,
CGP, BGP (2)
ou não
Gramnegativa
(4)
Cultura
Crescimento
em ágar
chocolate (3)
Crescimento
em meio
LowesteinJansen
Gramnegativa
-
Gramnegativa
-
Positiva (tinta
nanquim p/ C.
neoformans ou
para Candida sp
Crescimento em
meio Sabouraud
e ágar sangue
Gramnegativa
-
-
-
Observação:
(1) Contra-imunoeletroforese (CIE) reagente para N. meningitidis, H. influenzae tipo b.
(2) DGN = Diplococo gram-negativo; BGN = Bacilo gram-negativo; CGP = Cocos gram-positivo; BGP = Bacilo
gram-positivo.
(3) Quando sem uso prévio de antibióticos e condições adequadas de coletas e semeadura do LCR.
(4) Exame baciloscópico é de valor relativo porque a presença de BAAR é sempre pequena no LCR (paucibacilar).
A baciloscopia é feita com coloração de Ziehl-Nielsen.
(5) Látex = reagente para S. pneumoniae (grupos A e B), H. influenzae e N. meningitidis A, B, C, Y, W135 ou outros
agentes, dependendo do produto disponível.
562
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
Exames laboratoriais
A seguir, descrevem-se os exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta dos espécimes clínicos. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no
ato da entrada do paciente na unidade de saúde, no primeiro atendimento, preferencialmente antes da utilização da primeira dose do antibiótico.
• Cultura – exame de alto grau de especificidade, podendo ser realizado com diversos
tipos de fluidos corporais, mais comumente líquor e sangue. O seu objetivo é identificar a espécie da bactéria.
• Contra-imunoeletroforese cruzada (CIE) – os polissacarídeos de Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae tipo b apresentam carga negativa e, quando submetidos a um campo elétrico sob determinadas condições de pH e força iônica, migram
em sentido contrário ao do anticorpo. Assim, tanto o antígeno quanto o anticorpo
dirigem-se para um determinado ponto e, ao se encontrarem, formam uma linha de
precipitação que indica a positividade da reação. A contra-imunoeletroforese fornece uma sensibilidade de aproximadamente 70% na identificação de Neisseria meningitidis e de 90% na identificação de H. influenzae, e uma especificidade da reação de
98%. O material indicado para o ensaio é o LCR, soro e outros fluidos.
• Aglutinação pelo látex – partículas de látex, sensibilizadas com anti-soros específicos permitem, por técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectar
o antígeno bacteriano em líquor, soro e outros fluidos biológicos. Pode ocorrer resultado falso-positivo em indivíduos portadores do fator reumático ou em reações
cruzadas com outros agentes. A sensibilidade do teste de látex é da ordem de 90%
para H. influenzae, 94,4% para S. pneumoniae e 80% para N. meningitidis. A especificidade da reação é de 97%.
• Bacterioscopia – pela técnica de coloração de Gram, caracteriza-se morfológica e
tintorialmente os agentes bacterianos, permitindo sua classificação com pequeno
grau de especificidade. Pode ser realizada a partir do líquor e outros fluidos corpóreos normalmente estéreis.
• Quimiocitológico – permite a leitura citológica do líquor e a dosagem de glicose,
proteínas e cloretos. Traduz a intensidade do processo infeccioso e orienta a suspeita
clínica, mas não deve ser utilizado para conclusão do diagnóstico final, por seu baixo
grau de especificidade.
• Outros exames – alguns métodos vêm sendo utilizados, principalmente nos laboratórios de pesquisa, como PCR, Elisa e imunofluorescência, cujos resultados ainda se
encontram em avaliação e, portanto, não são preconizados na rotina diagnóstica.
• Reação em cadeia pela polimerase (PCR) – a detecção do DNA bacteriano pode
ser obtida por amplificação da cadeia de DNA pela enzima polimerase, que permite
a identificação do agente utilizando oligonucleotídeos específicos. Possui alta sensibilidade e especificidade; entretanto, a técnica para o diagnóstico de meningite ainda
não está validada, não sendo utilizada como rotina diagnóstica.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
M
563
Meningites
• Método da imunofluorescência – este método consiste na marcação de anticorpos específicos com substâncias fluorescentes para a identificação de H. influenzae,
S.pneumoniae e N. meningitidis, em esfregaços de materiais clínicos. A sensibilidade
dos resultados foi comparável à dos métodos convencionais, como exame direto,
através da coloração de Gram e cultura atingindo 70% a 93%. O material indicado
para o ensaio é o LCR e o soro.
• Método imunoenzimático (Elisa) – o método fundamenta-se na capacidade do
anticorpo ou antígeno ligar-se a uma enzima, resultando em conjugado, com a atividade imunológica inalterada e, portanto, possível de detectar tanto antígeno como
anticorpo. O material indicado é o LCR e o soro.
Além dos métodos supracitados, há outros inespecíficos que são utilizados de forma
complementar: tomografia computadorizada, raios X, ultra-sonografia, angiografia cerebral e ressonância magnética.
• Os exames realizados pelos Lacens são cultura e antibiograma, CIE, látex e bacterioscopia.
• Todo material deverá ser enviado ao Lacen devidamente identificado e acompanhado de cópia da ficha de investigação do Sinan, que servirá de orientação quanto aos
exames indicados.
• O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais.
564
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Meningites
Quadro 2. Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite bacteriana
Tipo de
diagnóstico
Cultura
Cultura
Tipo de
material
Sangue
Líquor
Quantidade
10% a 20%
do volume
total do frasco
5 a 10 gotas
Armazenamento/
conservação
Nº de
amostras
Período
da coleta
Recipiente
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
Frasco adequado
para hemocultura (caldo BHI
ou TSB acrescido
de SPS)
Colocar imediatamente em
estufa entre 35o e 37oC, logo
após a semeadura, até o envio
ao laboratório. Fazer subculturas
em ágar chocolate após 8 horas
Frasco com meio
de cultura ágar
chocolate base
Müller-Hinton
ou similar
Incubar a 35ºC-37ºC em
atmosfera de CO2 (chama de
vela), úmido após a semeadura,
até o envio ao laboratório
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento.
Semear imediatamente ou até 3h
após a punção
Transporte
Nunca refrigerar.
Manter o frasco em
temperatura ambiente
e encaminhar o mais
rápido possível para
o laboratório
Nunca refrigerar.
Manter o frasco em
temperatura ambiente
e encaminhar o mais
rápido possível para
o laboratório
Em temperatura ambiente,
em até 1 hora
CIE
Líquor
ou soro
1ml
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
Frasco estéril
Tempo superior a 1 hora,
conservar a 4ºC
Pode ser congelado, se o exame não
for realizado nas primeiras 24 horas.
Estocar o restante para a necessidade
de realizar outros procedimentos
Enviar imediatamente
ao laboratório,
conservado em gelo
6
Em temperatura ambiente,
em até 1 hora
Látex
Soro
2ml
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
Frasco estéril
Sangue colhido sem anticoagulante
Tempo superior a 1 hora, conservar
a 4ºC
Pode ser congelado, se o exame não
for realizado nas primeiras 24 horas
Após separar o soro,
enviar imediatamente
ao laboratório ou
conservar
Estocar o restante para a necessidade
de realizar outros procedimentos
Em temperatura ambiente,
em até 1 hora
Látex
Líquor
1 a 2ml
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
Frasco estéril
Tempo superior a 1 hora, conservar
a 4ºC
Pode ser congelado, se o exame não
for realizado nas primeiras 24 horas
Enviar imediatamente
ao laboratório,
conservado em gelo
Estocar o restante para a necessidade
de realizar outros procedimentos
Bacterioscopia
Líquor
1 gota a partir
do sedimento
do material
quimiocitológico
Quimiocitológico
Líquor
2ml
2
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
2 lâminas de
microcospia
virgens
1
Preferencialmente
no ato do 1º
atendimento
Frasco estéril
Em temperatura ambiente,
em até 3 horas
Tempo superior a 3 horas,
conservar a 4ºC
M
Enviar
imediatamente
ao laboratório
Observações:
• Nenhum dos exames citados substitui a cultura de líquor e/ou sangue. A recuperação do agente etiológico viável é
de extrema importância para a sua caracterização e para o monitoramento da resistência bacteriana aos diferentes
agentes microbianos.
• Sempre colher o líquor em recipiente estéril, de preferência com tampa de borracha. Se o paciente for transferido
de hospital, deve ser encaminhado juntamente com o líquor e com o resultado dos exames obtidos.
• Os frascos contendo material biológico para exames devem ser rotulados e identificados com: material biológico,
suspeita clínica, nome completo, idade, município de residência, data e hora da coleta.
• Proceder a antissepsia no local da punção com solução de iodo a 2%. Após a punção, remover o resíduo de iodo
com álcool a 70%, visando evitar queimadura ou reação alérgica.
• Na suspeita de meningite por agente bacteriano anaeróbico, a eliminação do ar residual deve ser realizada após
a coleta do material. Transportar na própria seringa da coleta, com agulha obstruída, em tubo seco e estéril ou
inoculada direto nos meios de cultura. Em temperatura ambiente, o tempo ótimo para transporte de material ao
laboratório é de 15 minutos para menos de 1ml e 30 minutos para volume superior.
• O exame de látex deve ser processado com muito cuidado, para que não ocorram reações inespecíficas. Observar,
portanto, as orientações do manual do kit, uma vez que a sensibilidade do teste varia de acordo com o produtor.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
565
Meningites
Fluxo de encaminhamento de amostras (meningites virais)
Hospital
Punção lombar
• Coletar em um tubo 1ml de LCR
• Coletar em um tubo 1,5 a 2ml de LCR
• Fazer o quimiocitológico do LCR utilizando a amostra de 1ml
• Congelar imediatamente a amostra de 1,5 a 2ml de LCR
Laboratório
do hospital
• Coletar de 4 a 8g de fezes em frasco coletor universal e acondicionar imediatamente sob refrigeração
• Coletar duas amostras de 5ml de sangue sem anticoagulante,
com intervalo de 15 a 20 dias. Separar o soro e acondicionar
imediatamente a -20o
• Caso o quimiocitológico seja sugestivo de MV, enviar ao Lacen
as amostras de LCR, fezes e soro
Lacen
Laboratório
de referência
regional
Laboratório
de referência
nacional
• Acondicionar imediatamente as amostras de LCR, fezes e soro
a -70o e enviar, o mais rápido possível, em gelo seco, ao LRR
• Processar as amostras de LCR e fezes para isolamento viral
• Processar a RT-PCR em caso de isolamento positivo
• Enviar as amostras de soro ao LRN
• Identificar o sorotipo viral por sequenciamento
• Pesquisar anticorpos no soro
Observação: os relatórios contendo os resultados devem ser encaminhados trimestralmente dos Lacen aos laboratórios hierarquicamente superiores, bem como à CGLAB. Da mesma forma, o laboratório de referência nacional
(LRN) deverá encaminhar relatório trimestral dos exames realizados aos laboratórios de referência Regional (LRR),
Lacen e CGLAB.
566
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Meningites
Anexo 2
O diagnóstico laboratorial específico das meningites virais, em situações de surtos e
em alguns casos isolados, é de extrema importância para a vigilância epidemiológica.
A seguir, estão descritas as normas de coleta dos espécimes, os exames laboratoriais
disponíveis e suas interpretações. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato da
entrada do caso suspeito na unidade de saúde, no primeiro atendimento.
Para casos suspeitos de meningite viral deve ser utilizado o kit completo de coleta,
distribuído pelos Lacen em todo o território nacional, constituído de:
• 1 frasco de polipropileno com tampa de rosca para líquor;
• 2 frascos de polipropileno com tampa de rosca para soro;
• 1 coletor universal para fezes.
6
Exames laboratoriais
Isolamento viral em cultura celular – pode ser realizado com diversos tipos de fluidos corporais, mais comumente líquor e fezes. São utilizados cultivos celulares sensíveis
para o isolamento da maioria dos vírus associados às meningites assépticas: RD (rabdomiosarcoma embrionário humano), Hep-2 (carcinoma epidermóide de laringe) e Vero (rim de
macaco verde africano).
Reação de soroneutralização e de imunofluorescência – técnicas imunológicas para
identificação do vírus isolado; serão utilizados conjuntos de anti-soros específicos para a
identificação dos sorotipos.
Reação em cadeia pela polimerase (PCR e RT-PCR) – técnica baseada na amplificação de seqüências nucleotídicas definidas presentes no DNA ou RNA viral. Possui alto grau
de especificidade quanto à identificação do agente etiológico, sendo utilizada para detecção
direta ou identificação de diferentes grupos de vírus associados às meningites virais.
Pesquisa de anticorpos no soro do paciente – serão utilizados testes de soroneutralização, em amostras pareadas de soro, para a pesquisa de anticorpos para enterovírus; para
os demais vírus, serão utilizados ensaios imunoenzimáticos com a finalidade de se detectar
anticorpos da classe IgG e IgM.
M
Observações:
• Estes exames são realizados a partir de contato com a secretaria estadual de saúde e
Lacen. No caso de ocorrência de surto, serão analisadas amostras clínicas coletadas
de, no máximo, 20 pacientes.
• As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório com as seguintes informações:
nome do paciente, estado e cidade de notificação, cidade, estado e país de residência
do paciente, tipo de amostra (líquor e/ou fezes), data de início dos sintomas, data de
coleta da amostra, data de envio da amostra para o laboratório, história de vacinação
recente e história de viagem recente.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
567
Meningites
• As amostras devem ser individualmente acondicionadas em sacos plásticos e enviadas ao laboratório, em condições adequadas de transporte (caixas isotérmicas com
gelo reciclável e, preferencialmente, em gelo seco para o transporte de líquor).
• O material deve chegar ao Lacen no prazo de 12 a 24 horas após a coleta.
• O tempo de procedimento técnico para o isolamento de vírus e sua identificação é
de 30 dias contados a partir da entrada da amostra no laboratório de referência para
o diagnóstico de meningite viral.
Todo material deverá ser enviado ao laboratório, devidamente identificado e acompanhado de cópia da ficha de investigação do Sinan, que servirá de orientação quanto aos
exames indicados.
O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais.
Quadro 3. Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite viral
Tipo de
diagnóstico
Isolamento e
identificação
Isolamento e
identificação
Detecção
direta
Pesquisa de
anticorpos
da classe IgG
Pesquisa de
anticorpos
da classe
IgM
568
Tipo de
material
Quantidade
Líquor
1,5 a 2ml
Fezes
4 a 8g,
aproximadamente 1/3
do coletor
Líquor
1,5 a 2ml
Soro
5ml de
sangue em
frasco sem
anticoagulante para
obter o soro
Soro
5ml de
sangue em
frasco sem
anticoagulante para obter
o soro
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Nº de
amostras
Período
da coleta
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda
da doença)
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Acondicionar
imediatamente
em banho de gelo
e conservar a
-70oC ou a -20oC
até 24 horas
Enviar imediatamente ao laboratório em banho
de gelo ou em
gelo seco em
caixas isotérmicas
1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda
da doença)
1 coletor
universal
Conservar em
geladeira por
até 72 horas
Sob refrigeração,
em caixas isotérmicas, com gelo
reciclável
1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda
da doença)
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Acondicionar
imediatamente
em banho
de gelo
Enviar imediatamente ao laboratório em banho
de gelo ou em
gelo seco em
caixas isotérmicas
2 frascos
de polipropileno com
tampa rosqueada
Após a
retração
do coágulo,
separar o soro
e conservar
a -20oC
Sob refrigeração,
em caixas isotérmicas, com gelo
reciclável
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Após a retração do
coágulo, separar
o soro e conservar
a -20oC
Sob refrigeração,
em caixas isotérmicas, com gelo
reciclável
2
(só serão
processadas
as amostras
pareadas)
1
1ª amostra
no ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda
da doença);
2ª amostra
15 a 20 dias
após a 1ª (fase
convalescente)
1 amostra
no ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda
da doença)
Anexo 3. Tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico*
Etiologia
Critério diagnóstico
1
MM
2
MM+MCC
3
Meningite tuberculosa
4
Meningite por
outras bactérias
5
Meningite
não especificada
6
Meningite viral
7
Meningite por
outra etiologia
8
Meningite por
Haemophilus influenzae
9
Meningite
pneumocócica
10
DOENÇA
MENINGOCÓCICA
MCC
1
2
3
4
CULTURA
CIE
LÁTEX
CLÍNICO
5
7
6
VÍNC.
BACTERIOSCOPIA QUIMIOCITOLÓGICO
EPIDEMIOLÓGICO
8
9
ISOLAMENTO
VIRAL
OUTRA TÉCNICA
LABORATORIAL
*O critério de PCR ainda não está validado para confirmação de caso.
569
Meningites
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
DIAGNÓSTICO INCONSISTENTE COM CRITÉRIO
6
M
Parotidite Infecciosa
PAROTIDITE INFECCIOSA
CID 10: B26
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença viral aguda, caracterizada por febre e aumento do volume de uma ou mais
glândulas salivares, geralmente a parótida e, às vezes, glândulas sublinguais ou submandibulares. Antes da instituição da imunização em massa, esta virose era muito comum na
infância, apresentando-se sob a forma de surtos sazonais.
Sinonímia
Papeira, caxumba.
Agente etiológico
Vírus da família Paramyxoviridae, gênero Paramyxovirus.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Vias aéreas, através da disseminação de gotículas ou por contato direto com saliva de
pessoas infectadas.
Período de incubação
De 12 a 25 dias, sendo, em média, de 16 a 18 dias.
Período de transmissibilidade
Varia entre 6 e 7 dias antes das manifestações clínicas até 9 dias após o surgimento dos
sintomas. O vírus pode ser encontrado na urina até 14 dias após o início da doença.
Susceptibilidade e imunidade
A imunidade é de caráter permanente, sendo adquirida após infecções inaparentes,
aparentes ou após imunização ativa.
570
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Parotidite Infecciosa
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A principal e mais comum manifestação desta doença é o aumento das glândulas salivares, principalmente a parótida, acometendo também as glândulas sublinguais e submaxilares, acompanhada de febre. Aproximadamente, 30% das infecções podem não apresentar
hipertrofia aparente dessas glândulas. Cerca de 20% a 30% dos homens adultos acometidos
apresentam orquite. Mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproximadamente 15% dos casos).
Em menores de 5 anos de idade, são comuns sintomas das vias respiratórias e perda neurossensorial da audição. O vírus também apresenta tropismo pelo sistema nervoso
central, observando-se com certa freqüência meningite asséptica de curso benigno, que na
maioria das vezes não deixa seqüelas. Outras complicações são encefalite e pancreatite.
Não há relato de óbitos relacionados à parotidite. Sua ocorrência durante o primeiro
trimestre da gestação pode ocasionar aborto espontâneo.
6
Diagnóstico diferencial
Cálculo de dutos parotidianos, reação à iodetos, ingestão de amidos, sarcoidose, cirrose, diabetes, bulimia, parotidite de etiologia piogênica, inflamação de linfonodos.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico da doença é eminentemente clínico-epidemiológico. Existem testes sorológicos (Elisa, inibição da hemaglutinação e fixação do complemento) ou de cultura para
vírus, porém não utilizados como rotina.
Tratamento
Não existe tratamento específico, indicando-se apenas repouso, analgesia e observação
cuidadosa quanto à possibilidade de aparecimento de complicações. Nos casos que cursam
com meningite asséptica, o tratamento também é sintomático. Nas encefalites, tratar o edema cerebral e manter as funções vitais.
P
Tratamento de apoio para a orquite
• Suspensão da bolsa escrotal, através de suspensório, aplicação de bolsas de gelo e
analgesia, quando necessárias.
• Redução da resposta inflamatória: prednisona, 1ml/kg/dia, via oral, com redução
gradual, semanal.
Aspectos epidemiológicos
A parotidite infecciosa costuma apresentar-se sob a forma de surtos, que acometem
mais as crianças. Estima-se que, na ausência de imunização, 85% dos adultos poderão ter a
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
571
Parotidite Infecciosa
doença, sendo que 1/3 dos infectados não apresentarão sintomas. A doença é mais grave em
adultos. As estações com maior ocorrência de casos são o inverno e a primavera.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Investigar surtos para a adoção de medidas de controle.
Definição de caso
Suspeito
Paciente com febre e aumento de glândulas salivares, principalmente parótidas.
Confirmado
Caso suspeito com história de contato com indivíduos doentes por caxumba nos 15
dias anteriores ao surgimento dos primeiros sintomas.
Descartado
Caso suspeito em que se confirma outra doença.
Notificação
Não é doença de notificação compulsória. A ocorrência de surtos deverá ser notificada.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
O atendimento é ambulatorial e o tratamento é feito no domicílio. A hospitalização
dos pacientes só é indicada para os casos que apresentem complicações graves, como meningites e encefalites.
Confirmação diagnóstica
Em geral, não se indica a realização de exames laboratoriais. A grande maioria dos
casos tem diagnóstico clínico-epidemiológico.
Proteção da população
A administração da vacina está indicada antes da exposição. Assim, diante da ocorrência de surtos, deve-se verificar a cobertura vacinal da área, para avaliar a indicação de
vacinação dos indivíduos susceptíveis.
572
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Parotidite Infecciosa
Investigação
Não é doença de investigação obrigatória. Em situação de surto, avaliar a necessidade
de bloqueio vacinal.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
Esquema vacinal básico
Vacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba), aos 12 meses de idade. O reforço
deve ser administrado entre 4 e 6 anos de idade. Para detalhes operacionais sobre a organização das atividades de vacinação de rotina, consultar o site www.saude.gov.br/svs/imunizacoes.
6
Eventos adversos
Os eventos adversos são raros, consistindo predominantemente em manifestações locais. As reações sistêmicas mais associadas ao componente caxumba, são febre, parotidite,
orquite, meningite e, mais raramente, meningoencefalite, encefalite, surdez e reação anafilática.
Contra-indicações
Uso recente de imunoglobulinas ou de transfusão sangüínea nos últimos 3 meses,
pacientes com imunodeficiência (leucemia e linfoma), uso de corticosteróide e gravidez.
Pacientes com infecção sintomática HIV mas que não estejam gravemente imunocomprometidos devem ser vacinados.
P
Ações de educação em saúde
A população deve ser informada quanto às características da parotidite infecciosa e a
possibilidade de complicações, devendo ser orientada quanto a busca de assistência médica
adequada, quando necessária (orquites, mastites, meningite, encefalite), e a importância de
vacinar as crianças.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
573
Peste
PESTE
CID 10: A20
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa aguda, transmitida principalmente por picada de pulgas infectadas,
que se manifesta sob três formas clínicas principais: bubônica, septicêmica e pneumônica.
Constitui perigo potencial para as populações, devido a persistência da infecção em roedores silvestres e ao seu importante potencial epidêmico.
Agente etiológico
Yersinia pestis, bactéria que se apresenta sob a forma de bacilo gram-negativo, com
coloração mais acentuada nos pólos (bipolar).
Reservatório
A peste é primordialmente uma zoonose de roedores que pode, em determinadas condições, infectar outros mamíferos (coelhos, camelos, cães, gatos), inclusive o homem. Os
roedores mais freqüentemente encontrados infectados nos focos do Nordeste do Brasil são:
Bolomys, Calomys, Oligoryzomys, Oryzomys, R. rattus, Galea, Trychomys. Alguns marsupiais (carnívoros) são também freqüentemente envolvidos durante epizootias em roedores,
principalmente Monodelphis domestica.
Vetores
A Xenopsylla cheopis, X. brasiliensis e X. astia têm grande capacidade vetora; Nosopsyllus fasciatus e Leptosylla segnis são menos eficientes; Ctenocephalides canis e C. felis podem transmitir peste de animais domésticos para o homem; Pulex irritans também é um
provável vetor; Polygenis bolhsi jordani e P. tripus são parasitos de roedores silvestres e têm
grande importância na epizootização da peste entre os roedores nos campos e nas casas,
bem como na gênese da peste humana no Nordeste do Brasil.
Modo de transmissão
O principal modo de transmissão da peste bubônica ao homem é a picada de pulgas
infectadas. No caso da peste pneumônica, as gotículas transportadas pelo ar e os fômites de
pacientes são a forma de transmissão mais freqüente de pessoa a pessoa. Tecidos de animais
infectados, fezes de pulgas e culturas de laboratório também são fontes de contaminação
para quem os manipula sem obedecer as regras de biossegurança.
Período de incubação
Dois a seis dias para a peste bubônica e um a três dias para a peste pneumônica.
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Peste
Período de transmissibilidade
A peste bubônica não é transmitida diretamente de uma pessoa a outra, exceto se
existir contato com o pus de bubões supurados. No caso da peste pneumônica o período de
transmissibilidade começa com o início da expectoração, permanecendo enquanto houver
bacilos no trato respiratório.
As pulgas podem permanecer infectadas durante meses, se existirem condições propícias de temperatura e umidade.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral e a imunidade temporária e relativa, não protegendo contra
grandes inóculos.
Aspectos clínicos e laboratoriais
6
Manifestações clínicas
Peste bubônica
É a mais comum no Brasil. O quadro clínico pode apresentar os seguintes sinais e
sintomas, em intensidades variáveis: cefaléia, febre, dores generalizadas, mialgias, anorexia,
náuseas, vômitos, confusão mental, congestão das conjuntivas, pulso rápido e irregular,
taquicardia, hipotensão arterial, prostração e mal-estar geral. Os casos da forma bubônica
podem, com certa freqüência, apresentar sintomatologia moderada ou mesmo benigna.
No segundo ou terceiro dia de doença, aparecem as manifestações de inflamação aguda e
dolorosa dos linfonodos da região, ponto de entrada da Y. pestis. Este é o chamado bubão
pestoso, formado pela conglomeração de vários linfonodos inflamados. O tamanho varia
de 1 a 10 cm. A pele do bubão é brilhante, distendida e de coloração vermelho-escura; é,
de regra, extremamente doloroso e freqüentemente se fistuliza, com drenagem de material
purulento. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas e necróticas em virtude da ação da
endotoxina bacteriana sobre os vasos.
P
Peste septicêmica primária
É uma forma muito rara, na qual não há reações ganglionares visíveis. É caracterizada
pela presença permanente do bacilo no sangue. O início é fulminante, com febre elevada,
pulso rápido, hipotensão arterial, grande prostração, dispnéia, fácies de estupor, dificuldade
de falar e hemorragias cutâneas, às vezes serosas e mucosas e até nos órgãos internos. De
modo geral, a peste septicêmica aparece na fase terminal da peste bubônica não tratada.
Peste pneumônica
Pode ser secundária à peste bubônica ou septicêmica por disseminação hematógena.
É a forma mais grave e perigosa da doença, por seu quadro clínico e alta contagiosidade,
podendo provocar epidemias explosivas. Inicia-se com quadro infeccioso grave, de evolu-
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575
Peste
ção rápida, com abrupta elevação térmica, calafrios, arritmia, hipotensão, náuseas, vômitos,
astenia, obnubilação mental. A princípio, os sinais e sintomas pulmonares são discretos e
ausentes. Depois, surge dor no tórax, respiração curta e rápida, cianose, expectoração sangüinolenta ou rósea, fluida, muito rica em germes. Surgem fenômenos de toxemia, delírio,
coma e morte, se não houver instituição do tratamento precoce e adequado.
• Período de infecção – cerca de 5 dias após, os microrganismos inoculados difundem-se pelos vasos linfáticos até os linfonodos regionais que passarão a apresentar
inflamação, edema, trombose e necrose hemorrágica, constituindo os característicos
bubões pestosos. Quando se institui tratamento correto, este período se reduz para
1 ou 2 dias.
• Período toxêmico – dura de 3 a 5 dias, correspondendo ao período de bacteremia.
A ação da toxina nas arteríolas e capilares determina hemorragias e necrose. Petéquias e equimose são encontradas quase sempre na pele e mucosas. Há hemorragias
nas cavidades serosas, nos aparelhos respiratórios, digestivos e urinário. Nos casos
graves, estas manifestações conferirão à pele um aspecto escuro.
• Remissão – em geral, se inicia por volta do oitavo dia e caracteriza-se por uma regressão dos sintomas, com a febre caindo em lise e os bubões reabsorvidos ou fistulados. Quando o quadro é de peste bubônica, pode haver remissão mesmo sem tratamento em percentual considerável dos casos; entretanto, nos casos de peste pneumônica se não for instituída a terapia adequada o óbito ocorre em poucos dias.
Diagnóstico diferencial
A peste bubônica deve ser diferenciada de adenites regionais supurativas, linfogranuloma venéreo, cancro mole, tularemia e sífilis. Em alguns focos brasileiros, a peste bubônica
pode, inclusive, ser confundida com a leishmaniose tegumentar americana, na sua forma
bubônica. A forma septicêmica deve ser diferenciada de septicemias bacterianas das mais
diversas naturezas e de doenças infecciosas de início agudo e de curso rápido e grave. Nas
áreas endêmicas de tifo exantemático, tifo murino e febre maculosa, pode haver dificuldade
diagnóstica com a septicemia pestosa. A peste pulmonar, pela sua gravidade, deve ser diferenciada de outras pneumonias, broncopneumonias e estados sépticos graves.
A suspeita diagnóstica pode ser difícil no início de uma epidemia ou quando é ignorada a existência da doença em uma localidade, já que suas primeiras manifestações são
semelhantes a muitas outras infecções bacterianas. A história epidemiológica compatível facilita a suspeição do caso.
Diagnóstico laboratorial
É realizado mediante o isolamento e a identificação da Y. pestis, em amostras de aspirado de bubão, escarro e sangue. Pode-se realizar imunofluorescência e também sorologia
por meio das técnicas de hemaglutinação/inibição da hemaglutinação (PHA/PHI), Elisa,
Dot-Elisa) e diagnóstico bacteriológico por meio de cultura e hemocultura.
576
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Peste
Tratamento
O tratamento com antibióticos ou quimioterápicos deve ser instituído precoce e intensivamente, não se devendo, em hipótese alguma, aguardar os resultados de exames laboratoriais, devido à gravidade e rapidez da instalação do quadro clínico. Amostras para exame
devem ser colhidas antes do início do tratamento. O ideal é que se institua a terapêutica
específica nas primeiras 15 horas após o início dos sintomas.
Estreptomicina – é o antibiótico mais eficaz contra a Y. pestis, particularmente na forma
pneumônica. Entretanto, atualmente, seu uso está bastante restrito devido às suas manifestações tóxicas. A dose pode ser de 30mg/kg/dia (não ultrapassando o total de 2g/dia), por via
intramuscular, durante 10 dias ou até 3 dias depois da temperatura ter voltado ao normal.
Cloranfenicol – é a droga de eleição para as complicações que envolvem espaços tissulares (peste meníngea), onde outros medicamentos penetram com dificuldade. A via de
administração pode ser oral ou venosa. A dosagem é de 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadas diárias (6 em 6 horas), durante 10 dias.
Tetraciclinas – este grupo de antibiótico é bastante efetivo no tratamento primário de
pacientes com peste sem complicações. Aplicar uma dose inicial de15 mg/kg (não devendo
exceder 1g total) e continuar com 25-50 mg/kg/dia (não ultrapassar 2g/dia) por 10 dias. As
tetraciclinas podem também ser usadas combinadas com outros antibióticos.
Sulfamidas – têm sido usadas extensivamente em prevenção e tratamento da peste.
Entretanto, alguns estudos têm mostrado serem bem menos efetivas do que os antibióticos
anteriormente referidos. A sulfadiazina é usada em doses de 2-4g, seguida de dose de 1g, de
4-6 horas, por um período de 10 dias. Em crianças, a dose oral é de 75mg/kg, seguida de 150
mg/kg/dia, dividida em 6 doses. A combinação das drogas sulfametoxazol + trimetoprima
tem sido usada na prevenção e tratamento da peste.
6
Atenção: os antibióticos das classes das penicilinas, cefalosporinas e macrolídeos não
são eficazes no tratamento da peste.
P
Tratamento da peste em grávidas e crianças – é importante atentar para a escolha do
antibiótico durante a gravidez, devido aos efeitos adversos. Experiências têm mostrado que
os aminoglicosídeos administrados de forma cuidadosa são eficazes e seguros para mãe,
feto e crianças. A gentamicina é o antibiótico preferencial para tratamento da peste em
mulheres grávidas.
Tratamento de suporte – deve-se buscar controlar os sintomas à medida que forem
aparecendo. Como medidas gerais e de tratamento sintomático, recomenda-se desde o
princípio observar o estado da circulação, da pressão arterial e da função cardíaca. Se necessário, empregar analépticos cardiovasculares para contrabalançar os efeitos da toxina
sobre o coração, sedativos para combater a agitação e o delírio e anti-hemorrágicos para as
manifestações hemorrágicas. Fazer reidratação e reposição dos eventuais distúrbios hidreletrolíticos. Manter cuidados com as mucosas e a mobilização do paciente. O bubão tende à
reabsorção sob a ação dos antibióticos, dispensando qualquer tratamento local, devendo-se
fazer a drenagem unicamente nos casos de bubões supurados.
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577
Peste
Aspectos epidemiológicos
A peste continua sendo potencialmente perigosa em diversas partes do mundo, devido à persistência da infecção em roedores silvestres e ao seu contato com ratos comensais.
Focos naturais de peste persistem na África, Ásia, sudeste da Europa, América do Norte e
América do Sul. Na América do Norte, tem sido comprovada a existência da peste na região
ocidental dos Estados Unidos. Na América do Sul, a peste tem sido notificada pelos seguintes países: Brasil, Bolívia, Equador e Peru.
No Brasil, existem duas áreas principais de focos naturais: o Nordeste e Teresópolis.
O foco do Nordeste está localizado na região semi-árida do Polígono das Secas, em vários
estados (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia), e nordeste de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha), além de outra zona pestosa no estado de
Minas Gerais fora do Polígono das Secas (Vale do Rio Doce). O foco de Teresópolis fica
localizado na Serra dos Órgãos, nos limites dos municípios de Teresópolis, Sumidouro e
Nova Friburgo (Figura 1).
Figura 1. Regiões pestígenas. Brasil, 1983-2000
Fonte: SVS/MS
De 1983 a 2000, foram notificados 487 casos humanos no país. Estes registros foram
procedentes dos focos do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia e Minas Gerais (Figura 2). Além do potencial epidêmico, outro aspecto epidemiológico que se destaca é o potencial letal da peste. A forma bubônica quando não tratada pode chegar a 50% e a pneumônica
e septicêmica, próximas a 100% de letalidade.
578
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Peste
Figura 2. Casos de peste humana por UF. Brasil, 1983-2000
350
300
250
200
150
100
50
0
CE
125
RN
1
PB
54
BA
302
MG
6
6
Unidade federada
Fonte: SVS/MS
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Impedir a transmissão para humanos mediante controle dos focos naturais (prevenção primária).
• Realizar diagnóstico precoce de casos humanos (prevenção secundária) visando diminuir a letalidade da doença.
• Impedir a reintrodução da peste urbana através de portos e aeroportos.
P
Definição de caso
Suspeito
• Paciente que apresentar quadro agudo de febre em área pertencente a um foco natural de peste, que evolua com adenite (“sintomático ganglionar”).
• Paciente proveniente de área com ocorrências de peste pneumônica (de 1 a 10 dias)
e que apresente febre e/ou outras manifestações clínicas da doença, especialmente
sintomatologia respiratória.
Confirmado
Critério clínico-laboratorial
Todo caso com quadro clínico de peste e diagnóstico laboratorial confirmado (positivo
classe I).
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Peste
Critério clínico-epidemiológico
Todo caso com quadro clínico sugestivo de peste e história epidemiológica, em área
onde tenha sido confirmada laboratorialmente a ocorrência de peste humana ou animal
(positivo classe II).
Descartado
• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo.
• Caso suspeito com história epidemiológica não compatível.
• Caso com história epidemiológica porém sem nenhuma confirmação anterior de
caso confirmado laboratorialmente.
Notificação
A peste é uma doença de notificação compulsória, sujeita ao Regulamento Sanitário
Internacional. Todos os casos suspeitos devem ser imediatamente notificados por telefone,
fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores. A rapidez nas notificações visa à prevenção de novos casos e até mesmo de um surto.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Tratar precoce e adequadamente o paciente.
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos de acordo com as orientações pertinentes.
Proteção individual
Manter em isolamento restrito os casos de peste pneumônica, com precauções contra
a disseminação aérea até se tenha completado 48 horas de esquema de tratamento com
antibiótico apropriado.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial de acordo com as orientações constantes do Anexo 1.
Proteção da população
Proteção de contatos – logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de peste é indicada a quimioprofilaxia para contatos de pacientes com peste pneumônica e para
indivíduos suspeitos de terem tido contato com pulgas infectadas.
Devem ser intensificadas ações de esclarecimento à população sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade e situação de risco, utilizando-se os meios comunicação de
massa, bem como visitas domiciliares e palestras.
580
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Peste
Investigação
Todos os casos de peste devem ser cuidadosamente investigados, não só para o correto diagnóstico dos pacientes como também para orientar as medidas de controle a serem
adotadas. O instrumento de coleta de dados, a ficha epidemiológica disponível no Sinan,
contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos
os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for
negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
6
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica – anotar na ficha de investigação dados sobre
critério de confirmação, classificação da forma clínica e gravidade.
Para identificação da área de transmissão – verificar se o local de residência corresponde a uma área de provável transmissão da doença (focos naturais da doença). A identificação da área onde se deu a transmissão é de suma importância para a condução das
medidas de controle.
Para determinação da extensão da área de transmissão
• Busca ativa de caso humano: após a identificação do possível local de transmissão iniciar imediatamente a busca ativa de outros casos humanos na localidade.
• Captura, identificação e exames de reservatórios e vetores: a morte de roedores
na área é sugestiva da circulação da Y. pestis, daí a importância de capturar roedores para identificação. Proceder também à captura, identificação e exame das
pulgas existentes no local, para pesquisa da Y. pestis. Esse trabalho deve ser executado por equipes treinadas, com observância dos cuidados de biossegurança.
P
Coleta e remessa de material para exames
Logo após a suspeita clínica de peste, coletar material para exame, antes de iniciar o
tratamento (conforme o Anexo 1).
Atenção
Em vista da gravidade e rapidez da instalação do quadro clínico da doença, não se deve
em hipótese alguma aguardar os resultados de exames laboratoriais para instituir o
tratamento.
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Peste
Roteiro de investigação epidemiológica da peste
Ocorrência de caso suspeito de peste
Atendimento clínico
Avaliação criteriosa da
história clínica e do exame físico
1a instância de investigação
Interrogatório meticuloso sobre
dados de caráter epidemiológico
De acordo com dados clínico-epidemiológicos
confirmar ou descartar a suspeita do(s) caso(s)
2a instância de investigação
Nos casos em que se mantiver a suspeita diagnóstica
coletar material para testes laboratoriais de acordo
com procedimentos do Anexo 1
Realizar investigação epidemiológica de campo
Busca ativa
de outros
casos suspeitos
3a instância de investigação
Busca ativa
de indícios de
outros roedores
Testagem laboratorial das amostras
coletadas visando a identificação da Y. pestis
Bacteriológico
4a instância de investigação
Coleta de
espécimes para
testes laboratoriais
tanto dos casos
humanos como
dos animais
suspeitos
Sorológico
De posse de todos os dados, fazer uma
reavaliação do(s) caso(s) classificando-os em
conformidade com o resultado da investigação
Observação: da mesma forma que os eventos envolvendo pessoas, as denúncias sobre
epizootias de roedores devem ser objeto de investigação.
582
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Peste
Análise dos dados
O profissional deve interpretar passo a passo os dados coletados, englobando o surgimento de casos humanos de peste (confirmados e suspeitos); comprovação de peste animal
em roedores, pulgas, carnívoros ou outros mamíferos e descoberta de roedores mortos na
localidade com causa atribuível à peste, para orientar e desencadear as medidas de controle.
Encerramento de casos
A ficha epidemiológica de cada caso deve ser analisada visando definir qual o critério
utilizado para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
Confirmado por critério clínico-laboratorial
Caso o objeto de investigação seja confirmado por um ou mais testes de laboratório
(Classe I).
6
Confirmado por critério clínico-epidemiológico
Caso não confirmado por teste laboratorial, mas que se enquadra em critérios clínicos
e epidemiológicos bem estabelecidos, os quais caracterizam, com boa margem de segurança, a nosologia pestosa (Classe II).
Situações abrangidas:
• caso humano com quadro clínico compatível com nosologia pestosa, claramente associado com peste comprovada em roedores, pulgas ou carnívoros;
• caso com quadro clínico sugestivo, bastante compatível com peste, de ocorrência em
região pestígena reconhecida como tal e associado a indício de peste animal;
• caso com quadro clínico não característico, porém ainda assim considerado compatível com peste, ocorrido em região pestígena conhecida e aliado a indícios seguros
de peste animal.
P
Óbito
Caso investigado, com evolução para óbito.
Caso descartado
Caso investigado, cujo resultado dos testes laboratoriais foram negativos, com isolamento de outro agente patogênico; caso não submetido a testes laboratoriais, com quadro clínico-epidemiológico considerado suficiente para excluir com segurança a hipótese de peste.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões, das quais destacam-se:
• área de transmissão dos casos. Distribuição dos casos segundo espaço, pessoa e
tempo;
• situação atual do foco e medidas de controle adotadas para impedir a transmissão
para humanos;
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Peste
• situação de risco para a ocorrência de novos casos ou surtos;
• critérios de confirmação e descarte dos casos.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
A vacina disponível é muito pouco utilizada, pois é de baixa tolerabilidade e a proteção
conferida é de curta duração (alguns meses), após a administração de duas ou três doses e
mais uma de reforço.
Controle vetorial
O ambiente onde vivem os contatos deve ser desinfestado (despulizado) de pulgas
através do uso de inseticidas. Caso se suspeite que outras habitações possam estar com pulgas contaminadas, deve-se estender essa medida. Se houver indicação de desratização ou
anti-ratização, a eliminação das pulgas deve anteceder a eliminação dos roedores.
Vários tipos de inseticidas podem ser empregados com sucesso para o controle das
pulgas, destacando-se o grupo dos carbamatos e piretróides.
Ações de educação em saúde
A prática educativa nas ações de controle é tão mais efetiva quanto mais se contar com
a compreensão e participação ativa da comunidade. Orientações devem ser dadas quanto
a necessidade de se evitar que roedores disponham de abrigo e alimento próximos às habitações humanas e as formas de eliminá-los quando presentes – precedendo com o cuidado de eliminação das pulgas; caso contrário, sem seu alimento habitual, elas terão como
alternativa invadir o ambiente doméstico. Evitar que os roedores entrem em contato com
grãos armazenados pelo homem, mesmo em anexos fora do domicílio. Evitar contato com
roedores silvestres em áreas de foco pestoso.
Estratégias de prevenção
• Monitoramento da atividade pestosa em roedores e pulgas.
• Busca de outras situações que indiquem aumento do risco de contágio (índices de
roedores e pulgas acima do usual, infestação murina domiciliar).
• Identificação precoce de casos para pronta intervenção da vigilância epidemiológica.
• Vigilância nas áreas portuárias e aeroportuárias (incluindo naves e aeronaves): estado de alerta para a possibilidade de importação da peste.
Vigilância epidemiológica – de acordo com o período de incubação da peste, preconiza-se que todo indivíduo que tenha contato com paciente de peste pneumônica deva
ficar sob vigilância durante sete dias, visando diagnóstico precoce e adoção de medidas de
prevenção. Os contatos devem ser informados a respeito dos sinais, sintomas e gravidade da
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Peste
doença, para buscar assistência médica imediata caso haja alteração no seu estado de saúde,
informando ao médico o fato de ter tido contato com paciente de peste.
Proteção de contatos
Quimioprofilaxia
Indicada para contatos de pacientes com peste pneumônica e para indivíduos suspeitos de terem tido contato com pulgas infectadas nos focos da doença.
Drogas indicadas
Sulfadiazina: 2 a 3 gramas por dia (divididas em 4 ou 6 tomadas, durante 6 dias)
Sulfametoxazol + trimetoprima: 400mg e 80mg, respectivamente, de 12 em 12 horas,
durante 6 dias.
Tetraciclina: 1 grama ao dia, durante 6 dias.
6
Atenção
É importante lembrar que os menores de 7 anos não podem fazer uso de tetraciclinas.
P
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Peste
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
O diagnóstico específico da peste é de extrema importância para a vigilância epidemiológica. O diagnóstico laboratorial compreende o isolamento e identificação da Y. pestis,
bem como a detecção de anticorpos em material coletado. Pode ser realizado por técnicas
bacteriológicas e sorológicas. No quadro abaixo, consta o tipo de material que deve ser coletado dependendo da forma clínica da doença.
Coleta e conservação de material para diagnóstico de peste
Forma
da doença
Tipo de material
Acondicionamento
das amostras para
transporte e diagnóstico
bacteriológico
Análises bacteriológicas
Exame de esfregaço corado
(azul de metileno ou gram)
Bubônica
Aspirado de bubão
Cary-Blair
Semeio em duas placas de gelose
(Blood ágar base), colocar o fago
antipestoso em 1 placa
Exame de esfregaço corado
(azul de metileno ou gram)
Pneumônica
Septicêmica
Esputo
Cary-Blair
Hemocultura
2ml de sangue em
20ml de caldo (BHI)
Digitotomia (falange)
Óbito
Morte recente:
Sangue
Aspirado de bubão
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In natura
(em frasco estanque)
Cary-Blair
Cary-Blair
Semeio em duas placas de
gelose (Blood ágar base), colocar o
fago antipestoso em 1 placa
Subcultivo em gelose e teste
de bacteriófago
Enquanto perdurar a ausência de
crescimento, repetir os subcultivos
a cada 48 horas, até 8 dias
Aspirar a medula óssea, fazer
esfregaços e semeio em duas
placas de gelose (uma com fago)
Exame de esfregaço corado
(azul de metileno ou gram);
semeio em duas placas de gelose
(uma com o fago)
Exame de esfregaço corado (azul de
metileno ou gram); semeio em duas
placas de gelose (um com o fago)
Poliomielite
POLIOMIELITE
CID 10: A80
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A poliomielite ou “paralisia infantil” é uma doença infecto-contagiosa viral aguda, caracterizada por quadro de paralisia flácida, de início súbito. O déficit motor instala-se subitamente e a evolução desta manifestação, freqüentemente, não ultrapassa três dias. Acomete em
geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principais características a flacidez muscular, com sensibilidade conservada e arreflexia no segmento atingido. Esta doença
encontra-se erradicada no país desde o início dos anos 90, em virtude do êxito da política de
prevenção, vigilância e controle desenvolvida pelos três níveis do Sistema Único de Saúde.
6
Agente etiológico
Os poliovírus pertencem ao gênero enterovírus, da família Picornaviridae, e apresentam três sorotipos: I, II e III.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
A transmissão ocorre principalmente por contato direto pessoa a pessoa, fazendo-se
a transmissão pelas vias fecal-oral ou oral-oral, esta última através de gotículas de muco da
orofaringe (ao falar, tossir ou espirrar). As más condições habitacionais, a higiene pessoal
precária e o elevado número de crianças numa mesma habitação constituem fatores que
favorecem a transmissão do poliovírus.
P
Período de incubação
O período de incubação é, geralmente, de 7 a 12 dias, podendo variar de 2 a 30 dias.
Período de transmissibilidade
O período de transmissibilidade pode iniciar-se antes do surgimento das manifestações clínicas. Em indivíduos susceptíveis, a eliminação do vírus se faz pela orofaringe, por
um período de cerca de uma semana, e pelas fezes, por cerca de seis semanas, enquanto nos
indivíduos reinfectados a eliminação do vírus se faz por períodos mais reduzidos.
Período de susceptibilidade e imunidade
Todas as pessoas não imunizadas são susceptíveis de contrair a doença. A infecção
natural ou a vacinação conferem imunidade duradoura, tipo-específica (ou seja, de acordo
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
587
Poliomielite
com o poliovírus responsável pelo estímulo antigênico). Contudo, embora não desenvolvendo a doença, as pessoas imunes podem reinfectar-se e eliminar o poliovírus, ainda que
em menor quantidade e por um período menor de tempo. Esta reinfecção é mais comum
pelos tipos 1 e 3.
O recém-nascido é provido de anticorpos séricos maternos da classe IgG transferidos,
da mãe sensibilizada, para o feto por via placentária, que conferem proteção transitória à
criança nos primeiros meses de vida extra-uterina.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas devidas à infecção pelo poliovírus são, em sua maioria, infecções inaparentes (90% a 95%). No entanto, em 1%-1,6% dos casos a doença pode manifestar-se clinicamente por quadros de paralisia grave, levando à morte. Apenas as formas
paralíticas possuem características clínicas típicas que permitem sugerir o diagnóstico de
poliomielite, quais sejam:
• instalação súbita da deficiência motora, acompanhada de febre;
• assimetria, acometendo sobretudo a musculatura dos membros, com mais freqüência os inferiores;
• flacidez muscular, com diminuição ou abolição de reflexos profundos na área paralisada;
• sensibilidade conservada;
• persistência de alguma paralisia residual (seqüela), após 60 dias do início da doença.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da poliomielite deve ser feito com polineurite pós-infecciosa
e outras infecções que causam paralisia flácida aguda. As principais doenças a serem consideradas no diagnóstico diferencial são: síndrome de Guillain-Barré (SGB), mielite transversa, meningite viral, meningoencefalite e outras enteroviroses (Echo tipo 71 e coxsackie,
especialmente do grupo A tipo 7). Para o adequado esclarecimento diagnóstico, a investigação epidemiológica e a análise dos exames complementares são essenciais.
Diagnóstico laboratorial
Exames específicos
Isolamento do vírus – é feito a partir de amostras de fezes do caso ou de seus contatos.
O isolamento de poliovírus selvagem nessas amostras permite a confirmação diagnóstica.
A identificação do agente viral isolado pode ser realizada através de testes de soroneutralização com o uso de soros imunes específicos ou através da técnica de PCR. Esta técnica, que amplifica seqüências nucleotídicas específicas presentes no genoma viral, permite
reconhecer o vírus isolado como pertencente ao gênero dos enterovírus, além de propiciar
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Poliomielite
Elementos para o diagnóstico diferencial entre Poliomielite, síndrome de Guillain-Barré
e mielite transversa
Especificação
Poliomielite
Síndrome de Guillain-Barré
Mielite transversa
Instalação da paralisia
24 a 28 horas
Desde horas até 10 dias
Desde horas até 4 dias
Febre ao início
Alta. Sempre presente
no início da paralisia,
desaparece no dia seguinte
Não é freqüente
Raramente presente
Paralisia
Aguda, assimétrica,
principalmente proximal
Geralmente aguda.
Simétrica e distal
Aguda, simétrica em
membros inferiores
Reflexos
osteotendinosos profundos
Diminuídos ou ausentes
Globalmente ausentes
Ausentes em
membros inferiores
Sinal de Babinsky
Ausente
Ausente
Presente
Sensibilidade
Grave mialgia
Parestesia, hipoestesia
Anestesia de MMII
com nível sensitivo
Sinais de irritação meníngea
Geralmente presentes
Geralmente ausentes
Ausentes
Comprometimento
de nervos cranianos
Somente nas
formas bulbares
Pode estar presente
Ausente
Insuficiência respiratória
Somente nas
formas bulbares
Em casos graves, exarcebada
por pneumonia bacteriana
Em geral torácica,
com nível sensorial
Líquido cefalorraquidiano
Inflamatório
Dissociação
proteíno-citológica
Células normais ou
elevadas; aumento
moderado ou
acentuado de proteínas
Disfunção vesical
Ausente
Às vezes transitória
Presente
Velocidade de
condução nervosa
Normal ou pode-se detectar
apenas redução na amplitude
do potencial da unidade motora
Redução da velocidade de
condução motora e sensitiva
Dentro dos limites
da normalidade
Presença ou não de fibrilações
e pontas positivas. Potencial
da unidade motora pode ser
normal ou neurogênico
Dentro dos limites
da normalidade
Presença ou não de fibrilações
Eletromiografia (EMG)
Potencial da unidade motora
com longa duração e aumento
da amplitude
6
P
identificação do sorotipo de poliovírus isolado, bem como a sua origem, se vacinal ou selvagem. O isolamento viral a partir do líquor, quando disponível, pode ser realizado pois a
presença de vírus no líquor permite também a confirmação diagnóstica.
O seqüenciamento nucleotídico identifica o número de mutações e as possíveis recombinações que possam ter ocorrido no genoma do poliovírus vacinal isolado, em relação
à sequência do vírus Sabin padrão correspondente. O vírus é considerado como sendo semelhante ao vírus vacinal se o número de mutações for de até 0,9%. A partir de 1%, o vírus
é considerado como poliovírus vacinal derivado. Os vírus derivados readquirem as características biológicas dos poliovírus selvagens, tais como neurovirulência e capacidade de
circulação por tempo prolongado na comunidade. Para a vigilância epidemiológica, estes
vírus devem ser considerados como selvagens.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
589
Poliomielite
Os poliovírus, selvagem e vacinal, também podem ser isolados a partir de amostras de
água de esgoto. As mesmas técnicas anteriormente descritas, podem ser utilizadas para a
identificação do enterovírus detectado.
Os laboratórios nacionais de referência para o diagnóstico laboratorial dos poliovírus
e demais enterovírus de interesse em saúde pública são o Instituto Evandro Chagas/SVS/
MS, o Laboratório Central de Saúde Pública da secretaria de saúde do estado de Pernambuco e a Fundação Oswaldo Cruz/MS.
Sorologia – no Brasil, a sorologia deixou de ser utilizada como apoio para o diagnóstico
de poliomielite a partir de maio de 1990, devido à grande quantidade de vacina oral contra
a poliomielite (VOP) administrada no país, que resultou em elevados títulos de anticorpos
para os três tipos de poliovírus na população, dificultando a interpretação dos resultados.
Exames complementares (inespecíficos)
Líquor – permite o diagnóstico diferencial com a síndrome de Guillain-Barré e com as
meningites que evoluem com deficiência motora. Na poliomielite, observa-se discreto aumento do número de células, podendo haver discreto aumento de proteínas. Na síndrome
de Guillain-Barré observa-se uma dissociação proteíno-citológica (aumento acentuado de
proteínas sem elevação da celularidade) e nas meningites observa-se aumento do número
de células, com alterações bioquímicas.
Eletromiografia – os achados e o padrão eletromiográfico da poliomielite são comuns
a um determinado grupo de doenças que afetam o neurônio motor inferior. Este exame
pode contribuir para descartar a hipótese diagnóstica de poliomielite quando seus achados
são analisados conjuntamente com os resultados do isolamento viral e da evolução clínica.
Anatomopatologia – o exame anatomopatológico do sistema nervoso não permite o
diagnóstico de certeza, pois não há alterações patognomônicas. Entretanto, dada a predileção do parasitismo do poliovírus pelas células motoras do corno anterior da medula e de
alguns núcleos motores dos nervos cranianos, as alterações histológicas podem ser extremamente sugestivas e possibilitam fechar o diagnóstico diante de um quadro clínico suspeito. As alterações consistem em atividade inflamatória, perivasculite linfocitária, nódulos
ou atividade microglial difusa e figuras de neuronofagia (neurônios sendo fagocitados por
células da microglia). Essas alterações são comuns a quaisquer encefalomielites virais, sendo que nos casos de poliomielite predominam nitidamente no corno anterior da medula e
no tronco cerebral.
Coleta, conservação e transporte de amostras clínicas
Coleta de amostras de fezes dos casos
A amostra de fezes constitui o material mais adequado para o isolamento do poliovírus. Embora os pacientes com poliomielite eliminem poliovírus durante semanas, os melhores resultados de isolamento são alcançados com amostras fecais coletadas na fase aguda
da doença.
• Todo caso conhecido tardiamente deverá ter uma amostra de fezes, coletada até 60
dias após o início da deficiência motora.
590
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
• O swab retal somente é recomendado naqueles casos de paralisia flácida aguda (PFA)
que foram a óbito antes da coleta adequada de fezes. Em crianças que apresentam
obstipação intestinal, dificultando a coleta de amostras de fezes, pode-se utilizar supositório de glicerina.
Coleta de amostras de fezes de contatos
Deverão ser coletadas exclusivamente nas seguintes situações:
• contatos de caso com clínica compatível com poliomielite, quando houver suspeita
de reintrodução da circulação do poliovírus selvagem.
• contato de caso em que haja confirmação do vírus derivado vacinal.
Observações
Outras situações que requeiram coleta de contatos, não previstas neste Guia, deverão
ser previamente discutidas com a Coordenação Nacional da Vigilância das PFA/Pólio.
Lembrar-se de que os contatos não são necessariamente intradomiciliares (embora,
quando presentes, devam ser priorizados para coleta de amostras de fezes).
Não coletar amostras de contato que recebeu a vacina contra a poliomielite (VOP) nos
últimos 30 dias.
6
Conservação e transporte de amostras de fezes
• Colocar cada amostra em um recipiente limpo e seco (de preferência nos coletores
distribuídos para esse fim) e vedar bem. A quantidade de fezes recomendada deve
equivaler ao tamanho de dois dedos polegares de adulto.
• Os recipientes contendo amostras fecais devem ser conservados em freezer a -20°C,
até o momento do envio. Na impossibilidade da utilização de freezer, colocar em
geladeira comum (4º-8ºC) por até, no máximo, 3 dias, não devendo jamais ser colocados em congelador comum.
• O transporte deve ser feito em caixa térmica com gelo seco. Os recipientes das amostras devem estar acondicionados em saco plástico bem vedado, para que, em caso de
descongelamento, não haja risco de molhar o material.
• A caixa térmica deve conter gelo suficiente para resistir ao transporte para entrega
ao laboratório. Deve ser fechada por fora, com fita adesiva, e ser acondicionada em
outra caixa de papelão de acordo com as especificações do Departamento de Aviação
Civil ou Agência Nacional de Transporte Terrestre.
• Deve ser enviada ao laboratório, acompanhando as amostras de fezes, uma cópia da
ficha de envio de amostras devidamente preenchida e acondicionada em saco plástico para evitar que seja molhada, prejudicando as informações.
P
Líquor (LCR) – se disponível e coletado na fase aguda do quadro clínico, deve ser enviado ao laboratório de referência em tubo estéril, em volume de aproximadamente 2ml. O
LCR deve ser conservado em freezer e transportado congelado em caixas térmicas contendo
gelo seco ou gelo reciclável.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
591
Poliomielite
Tratamento
Não há tratamento específico. Todos os casos devem ser hospitalizados, fazendo-se o
tratamento de suporte de acordo com o quadro clínico do paciente.
Aspectos epidemiológicos
Até a primeira metade da década de 80, a poliomielite foi de alta incidência no Brasil,
contribuindo de forma significativa para a elevada prevalência anual de seqüelas físicas
observada naquele período. Em 1994, a Organização Pan-Americana da Saúde/OMS certificou a erradicação da transmissão autóctone do poliovírus selvagem nas Américas, após
3 anos sem circulação deste vírus neste continente. Desde então, todos os países da região
assumiram o compromisso de manter altas e homogêneas coberturas vacinais, bem como
uma vigilância epidemiológica ativa e sensível para identificar imediatamente a reintrodução do poliovírus selvagem em cada território nacional e adotar medidas de controle
capazes de impedir sua disseminação.
No Brasil, o último caso de infecção pelo poliovírus selvagem ocorreu em 1989, na
cidade de Souza/PB. A estratégia adotada para a erradicação no país foi centrada na realização de campanhas de vacinação em massa com a vacina oral contra a pólio (VOP), que,
além de propiciar imunidade individual, aumenta a imunidade de grupo na população em
geral através da disseminação do poliovírus vacinal no meio ambiente em curto espaço de
tempo. O número de casos de paralisia flácida aguda e poliomielite, no período 1980-2003,
encontram-se representados no gráfico a seguir.
Dois fatores foram decisivos para a erradicação da poliomielite no Brasil: os elevados
níveis de cobertura vacinal obtidos nas campanhas nacionais a partir de 1988 e o aumento
do poder imunogênico da vacina utilizada no país, pela substituição do componente P3 até
então utilizado.
Observa-se que no período imediatamente após a certificação da erradicação do poliovírus selvagem das Américas houve redução na sensibilidade do Sistema de Vigilância Epidemiológica, que foi recuperada somente na década atual como resultado de intenso esforço
institucional para aprimorar a vigilância da poliomielite junto às unidade da Federação.
No momento atual, chama-se a atenção para um fenômeno já observado em algumas
ocasiões em países com coberturas vacinais insuficientes e/ou heterogêneas: a emergência
de cepas de vírus derivados da vacina, que passam a readquirir neurovirulência e patogenicidade, provocando surtos de poliomielite em países que já tinham a doença sob controle
parcial ou total. O surto mais importante desta doença devido a vírus derivado vacinal
(PVDV) ocorreu na ilha de Hispaniola (que pertence ao Haiti e à República Dominicana),
em 2000/01, quando foram registrados 22 casos (50% na faixa de 1-4 anos). Outros surtos
de menor magnitude, ocorridos no período 1988/2002, foram registrados no Egito, em
Guizhou/China, nas Filipinas e em Madagascar. O fator chave para o controle do poliovírus
derivado da vacina é o mesmo daquele necessário para controlar a circulação de poliovírus
selvagem: alcançar e manter altas e homogêneas coberturas vacinais.
592
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
Chama-se também a atenção para o risco de importações de casos de países onde
ainda há circulação endêmica do poliovírus selvagem, o que demanda ações permanentes e
efetivas de vigilância da doença e níveis adequados de proteção imunológica da população.
Número de casos notificados de paralisia flácida aguda e confirmados de poliomielite.
Brasil, 1980-2003
1.400
1.200
1.000
800
6
600
400
200
0
80
81
82
1.290 122 69
0
0
0
83
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
45 130 329 612 196 106 35
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Poliomielite
84
85
0
86
0
0
87
0
88
0
0
517 538 419 453 432 369 437 528 678 637 654
PFA
Fonte: Cover/CGDEP/Devep/SVS/MS
P
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Geral
Manter erradicada a poliomielite no Brasil.
Específicos
• Monitorar a ocorrência de casos de paralisia flácida aguda (PFA) em menores de 15
anos de idade.
• Acompanhar e avaliar o desempenho operacional do Sistema de Vigilância Epidemiológica das PFAs no país.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
593
Poliomielite
• Assessorar tecnicamente os demais níveis do Sistema Único de Saúde.
• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.
A suspeita de poliomielite em indivíduos de qualquer idade e as PFAs em menores de
15 anos são de notificação e investigação obrigatórias. Para a detecção de casos de poliomielite em tempo hábil, o Sistema de Vigilância Epidemiológica deve ser suficientemente
sensível e ágil para:
• identificar, notificar e investigar imediatamente todo caso de deficiência motora flácida, de início súbito, em menores de 15 anos, independente da hipótese diagnóstica, e
em pessoas de qualquer idade que apresentem suspeita diagnóstica de poliomielite;
• analisar e detectar oportunamente os surtos de PFA/Pólio, para que as medidas de
controle possam ser rapidamente reforçadas;
• acompanhar e avaliar as tendências das paralisias flácidas agudas;
• identificar e investigar todo caso de evento adverso da vacina oral contra a poliomielite;
• estimular pesquisas de casos associados à vacina e ao comportamento de outras síndromes paralíticas.
Definição de caso
Suspeito
• Todo caso de deficiência motora flácida, de início súbito, em menores de 15 anos,
independente da hipótese diagnóstica de poliomielite.
• Toda hipótese diagnóstica de poliomielite, em pessoas de qualquer idade.
Nota: os casos de paralisia ocular isolada e paralisia facial periférica não devem ser
investigados.
Confirmado
Caso de paralisia flácida aguda em que houve isolamento de poliovírus selvagem na(s)
amostra(s) de fezes do caso ou de um de seus comunicantes, independente de haver ou não
seqüela, após 60 dias do início da deficiência motora.
Poliomielite compatível
Caso de PFA que não teve coleta adequada de amostra de fezes e que apresentou seqüela aos 60 dias ou evoluiu para óbito ou teve evolução clínica ignorada.
Descartado (não-poliomielite)
Caso de paralisia flácida aguda no qual não houve isolamento de poliovírus selvagem
em amostra(s) adequada(s) de fezes, ou seja, amostra (s) coletada(s) até 14 dias do início da
deficiência motora.
594
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
Poliomielite associada à vacina
Casos de PFA em que há isolamento de vírus vacinal na(s) amostra(s) de fezes e presença de seqüela compatível com poliomielite, 60 dias após o início da deficiência motora.
Há dois tipos de poliomielite relacionados com a vacina:
• paralisia flácida aguda, que se inicia entre 4 e 45 dias após o recebimento da VOP
e que apresenta seqüela neurológica, compatível com poliomielite, 60 dias após o
início do déficit motor;
• caso de poliomielite associado à vacina administrada em contatos: PFA que surge
após contato com criança que tenha recebido VOP até 40 dias antes. A paralisia
surge de 4 a 85 dias após a exposição ao contato vacinado e o indivíduo apresenta
seqüela neurológica compatível com poliomielite 60 dias após o déficit motor.
Em qualquer das situações acima, o isolamento de poliovírus vacinal nas fezes é condição imprescindível para que o caso seja considerado como associado à vacina. Insiste-se
na necessidade de coletar as fezes adequadamente, nos primeiros 14 dias após o início do
déficit motor. Caso a coleta seja tardia, entre 15 e 40 dias após o início do déficit motor, e
haja isolamento de vírus vacinal, o caso será classificado como associado à vacina.
6
Poliovírus derivado vacinal (PVDV)
Poliovírus que apresenta mais de 1% de diferença genética em relação ao vírus vacinal
correspondente.
Notificação
Diante da definição adotada para caso suspeito, todas as afecções neurológicas agudas,
em menores de 15 anos, que cursam com paralisia flácida devem entrar no sistema de vigilância, isto é, devem ser notificadas e investigadas para afastar possíveis associações com
o poliovírus.
P
Primeiras medidas a serem adotadas
Em virtude das características de transmissão do poliovírus, silenciosa e rápida, e da
ocorrência de grande número de infecções sem manifestações clínicas, a vigilância deve ser
intensificada com a finalidade de detectar a ocorrência de outros casos de PFA e de caracterizar o processo de transmissão. A manutenção dessa vigilância deve abranger, além do local
de residência do doente, as localidades visitadas nos 30 dias anteriores ao início da paralisia,
em caso de viagem, bem como os locais de residência das visitas recebidas no mesmo período, onde pode estar a provável fonte de infecção. Ao lado da intensificação da vigilância,
também recomenda-se: avaliação da cobertura vacinal específica da área, visita às unidades
de saúde, busca ativa de outros casos na área e contato com profissionais de saúde.
Assistência médica ao paciente
O repouso completo no leito e o tratamento sintomático são fundamentais. A internação em unidade de terapia intensiva é indicada nas formas graves da doença.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
595
Poliomielite
Qualidade da assistência
O atendimento dos casos de PFA deve ser realizado em unidade com adequado suporte, visando o monitoramento do paciente.
Proteção individual para evitar circulação viral
A proteção se dá através da vacina oral contra a poliomielite. Caso haja a suspeita de
infecção por poliovírus selvagem em pacientes internados, orienta-se a adoção de precauções entéricas.
Confirmação diagnóstica
Utiliza-se a pesquisa de poliovírus nas fezes, coletadas nos primeiros 14 dias da deficiência motora.
Proteção da população
A principal proteção ocorre pela manutenção de elevadas coberturas vacinais na rotina e nas campanhas de vacinação em massa, com a vacina VOP. Quando houver casos notificados de PFA com hipótese diagnóstica de poliomielite, recomenda-se a vacinação com
VOP indiscriminada para menores de 5 anos na área de abrangência do caso.
Investigação epidemiológica
Todo caso de paralisia flácida aguda deve ser investigado nas primeiras 48 horas após
o conhecimento. Esta medida visa subsidiar o processo de tomada de decisão quanto ao
desencadeamento, em tempo hábil, das medidas de controle indicadas em cada situação. A
ficha de investigação epidemiológica de PFA é o instrumento de coleta de dados. Todos os
seus campos devem ser rigorosamente preenchidos.
Roteiro da investigação epidemiológica
• Caracterizar clinicamente o caso, para determinar sua inclusão no sistema de investigação.
• Colher uma amostra de fezes do caso, preferencialmente até o 14º dia do início da
deficiência motora, para investigação etiológica.
• Obter informações detalhadas e uniformes para todos os casos, através do preenchimento de todos os campos da ficha do Sinan para investigação epidemiológica de
PFA, de modo a permitir a comparabilidade e análise dos dados.
• Visitar imediatamente o domicílio para complementar dados da ficha de investigação
(história vacinal, fonte de infecção, etc.) e buscar outros casos, quando necessário.
• Orientar medidas de controle pertinentes.
• Realizar a revisita do caso para avaliação de seqüela, 60 dias após o início da deficiência motora.
• Classificar o caso conforme os critérios estabelecidos.
• Retroalimentar a fonte notificadora.
596
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
Identificação do paciente
Preencher todos os itens da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos aos
dados gerais, notificação e residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Registrar na ficha de investigação dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais
da doença. Os dados são coletados através das informações obtidas dos profissionais que
prestaram assistência, das contidas no prontuário e das coletadas por ocasião da visita
domiciliar.
Coleta e remessa de material para exames
Verificar o tópico Diagnóstico laboratorial.
Análise dos dados
Os dados devem ser analisados sistematicamente, visando produzir informações úteis
ao processo de tomada de decisão sobre as ações de vigilância e controle da doença.
6
Encerramento de casos
Os casos de PFA devem ser encerrados após 60 dias da notificação, quando se realiza a
avaliação neurológica; faz-se necessário que todos os achados da investigação epidemiológica sejam minuciosamente avaliados. A classificação final dos casos deverá seguir as definições constantes do tópico Definição de casos.
Relatório final
A elaboração de relatório final não faz parte da rotina de investigação de caso de PFA;
a ficha de notificação constitui o instrumento que fornece todas as informações necessárias
para a inclusão, avaliação e descarte final dos casos.
P
Avaliação
Indicadores e metas mínimas estabelecidas para acompanhamento e avaliação do sistema de vigilância epidemiológica da PFA/Pólio:
• taxa de notificação de PFA: deve ser de, no mínimo, um caso para cada 100 mil habitantes menores de 15 anos de idade;
• Proporção de casos investigados em 48 horas: pelo menos 80% dos casos notificados
devem ser investigados dentro das 48 horas após a notificação;
• Proporção de casos com coleta adequada de fezes: pelo menos 80% dos casos devem
ter uma amostra de fezes, para cultivo do vírus, coletadas dentro das duas semanas
seguintes do início da deficiência motora;
• Notificação negativa: pelo menos 80% das unidades notificantes devem notificar a
ocorrência ou não de casos de PFA, semanalmente. Este indicador é obtido a partir
das informações produzidas nas fontes notificadoras de PFA existentes nos estados.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
597
Poliomielite
Observação: o sistema de informação oficial para a vigilância das PFAs é o Sinan, e a
alimentação e o fluxo de dados obedecerá normatização específica da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.
Resumo da investigação epidemiológica da PFA/Poliomielite
Caso suspeito
Notificação
Investigar em 48 horas
Coletar dados clínicos
e epidemiológicos
Coletar uma amostra de
fezes até o 14o dia do início
do déficit motor
Fazer a avaliação neurológica
após 60 dias do déficit motor
Verificar a ocorrência
de outros casos na área
Analisar a cobertura vacinal
contra a poliomielite na área
Reforçar, se necessário, as
atividades de vacinação na área
Complementar a
investigação epidemiológica
Encerrar o(s) caso(s), atualizar
os sistemas de informações e
retroalimentar as fontes notificadoras
Instrumentos disponíveis para controle
Juntamente com uma vigilância epidemiológica efetiva das PFAs, a vacinação constitui
a principal medida para manter erradicada a circulação do poliovírus selvagem nas Américas. Portanto, deverão ser mantidas a vacinação de rotina nos serviços de saúde, além das
campanhas nacionais de vacinação. Há dois tipos de vacinas: a vacina de vírus vivos atenuados para uso oral (VOP ou Sabin) e a vacina de vivos inativados (VIP ou Salk).
598
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
Vacinação de rotina
Compreende as atividades realizadas de forma contínua, através dos serviços permanentes de saúde, visando assegurar, o mais precocemente possível, a imunização adequada das
crianças nascidas, para evitar a formação de bolsões populacionais susceptíveis à doença.
O esquema vacinal preconizado consiste na administração de três doses de vacina antipólio oral (VOP), com intervalo de no mínimo 30 dias (iniciando-se aos dois meses de
vida), com a administração de uma dose de reforço um ano após a 3ª dose.
Esta vacina confere imunidade individual contra os três tipos de vírus, como também
impede a multiplicação e eliminação do poliovírus selvagem no meio ambiente. Esta característica deve-se ao estímulo à produção de IgA secretória, que permite a competição
dos vírus vacinais com o poliovírus selvagem nos sítios de acoplamento do mesmo na luz
intestinal.
Definição de criança adequadamente vacinada – é aquela que recebeu três ou mais
doses de vacina oral contra poliomielite, com um intervalo mínimo de 30 dias entre cada
dose.
A VOP contém vírus atenuados nas seguintes concentrações de partículas antigênicas:
• poliovírus tipo I – 1 milhão Dict 50 (dose infectante em cultura de tecido);
• poliovírus tipo II – 100 mil Dict 50;
• poliovírus tipo III – 600 mil Dict 50.
6
Outras substâncias estão presentes na vacina, como o cloreto de magnésio, a sacarose,
a neomicina, a estreptomicina ou a eritromicina (estabilizantes) e o vermelho de amarante
ou roxo de fenol (corante indicador de Ph).
A vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC. Cada dose, em geral, corresponde
a duas gotas, podendo variar conforme especificações do laboratório produtor. A eficácia
situa-se em torno de 90% a 95% após a aplicação da 3ª dose.
P
Campanhas de vacinação
As campanhas constituem ação complementar para a vacinação de rotina, quando
a rede de serviços de saúde for insuficiente para assegurar satisfatória cobertura vacinal.
É importante salientar que a vacina oral contra a poliomielite, aplicada em campanhas,
produz extensa disseminação do vírus vacinal, capaz de competir com a circulação do vírus selvagem, interrompendo abruptamente a cadeia de transmissão da doença. Por ser
de administração oral, apresenta facilidade operacional de aplicação e pelas características
já descritas, aliadas às condições de saneamento básico, proporciona maior disseminação
das partículas dos vírus vacinais, que podem, direta ou indiretamente, imunizar um maior
número de crianças nas campanhas e bloqueios.
As atividades de rotina e campanhas devem alcançar coberturas vacinais altas (95%) e
uniformes em todos os municípios.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
599
Poliomielite
Riscos de índices inadequados de cobertura vacinal
Os baixos índices de coberturas vacinais e/ou sua heterogeneidade numa certa região
geográfica favorecem a reintrodução do poliovírus, de duas maneiras:
• através da importação do poliovírus, por intermédio de um indivíduo infectado que chegue ao país – o poliovírus é altamente infeccioso. Pelo menos 99% das
infecções por poliovírus selvagem são assintomáticas, mas podem proporcionar a
eliminação de grande quantidade do agente infeccioso através das fezes e secreções
respiratórias;
• através de mutações genéticas – a dispersão persistente de poliovírus derivado da
vacina oral por imunodeficientes com insuficiência de linfócitos B pode conduzir a
uma contínua circulação deste agente entre indivíduos mal vacinados numa comunidade e, conseqüentemente, a sua alteração genética, adquirindo neurovirulência e
transmissibilidade, à semelhança do poliovírus selvagem. Observações demonstram
que uma margem de diferenciação genética de 1% a 15% é característica das cepas responsáveis por surtos de poliovírus derivados vacinais compatíveis com uma
transmissão extensa e capacidade de causar doença paralítica em uma comunidade.
Utilização da vacina inativada de poliomielite (VIP)
A VIP é utilizada no Brasil nas seguintes situações especiais:
• em crianças imunodeprimidas ou que tenham contato freqüente ou familiar com
crianças ou adultos imunocomprometidos;
• em adultos e gestantes não-imunes, nos casos de epidemias.
A vacina inativada estimula a presença de anticorpos protetores circulantes mas a proteção intestinal é transitória e de baixo nível. Desse modo, apesar de sua eficácia na proteção
individual contra a doença, é incompleta contra a infecção pelo poliovírus selvagem, que
mantém a capacidade de multiplicar-se nas células intestinais e de ser eliminado pelas fezes
de pessoas vacinadas com a VIP. O seu emprego é eficaz em países com bons níveis de saneamento e altas e homogêneas coberturas vacinais.
Ações de educação em saúde
A educação em saúde compreende as atividades desenvolvidas pelas equipes de saúde
e outras organizações governamentais e não-governamentais tendo em vista não apenas a
difusão de informações para apoiar o trabalho específico – campanhas de vacinação, por
exemplo – mas, também, a participação das pessoas nas ações de saúde, atuando, inclusive,
em áreas tradicionalmente consideradas como exclusivas dos técnicos de saúde, tais como
a vigilância e controle de doenças.
Nas atividades de manutenção da erradicação da poliomielite devem ser levados em
consideração os seguintes aspectos:
• a necessidade de informar às pessoas a importância do seu papel no esforço de manter a erradicação da doença;
600
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Poliomielite
• a necessidade de que as pessoas conheçam as causas e as conseqüências dessa doença, bem como as ações individuais e coletivas que podem contribuir para manter sua
erradicação.
Funções da educação em saúde
• Identificação e análise de fatores inerentes à equipe de saúde e à população, que interfiram nos propósitos de manutenção da erradicação da poliomielite.
• Articulação com as organizações existentes na comunidade (governamentais e nãogovernamentais), tendo em vista o engajamento de seus representantes no programa
de manutenção da erradicação da poliomielite.
• Capacitação de pessoas da comunidade, principalmente aquelas ligadas às organizações comunitárias, para atuarem junto às equipes de saúde na notificação, investigação e controle de casos de paralisia flácida aguda, tendo em vista a manutenção da
erradicação da poliomielite.
• Capacitação das equipes de saúde para atuarem, de forma conjunta, com pessoas,
grupos e organizações da comunidade.
• Divulgação de informações sobre poliomielite, vacina, notificação, investigação e
medidas de controle adotadas.
6
P
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
601
Poliomielite
Anexo 1
Fluxograma do envio de fezes para
pesquisa de enterovírus e liberação de resultados
Unidade de saúde
Secretaria
estadual de saúde
Lacen/SES
Laboratórios de referência
Cover/CGDT/Devep/SVS/MS
Resultados
CGLAB/Devep/SVS/MS
602
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Fiocruz/RJ
Evandro Chagas
Lacen-PE
Raiva
RAIVA
CID 10: A82
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Encefalite viral aguda, transmitida por mamíferos, que apresenta dois ciclos principais de transmissão: urbano e silvestre. Reveste-se da maior importância epidemiológica
por apresentar letalidade de 100%, além de ser doença passível de eliminação no seu ciclo
urbano, por se dispor de medidas eficientes de prevenção tanto em relação ao ser humano
quanto à fonte de infecção.
6
Agente etiológico
O vírus rábico pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae. Possui aspecto
de um projétil e seu genoma é constituído por RNA. Apresenta dois antígenos principais:
um de superfície, constituído por uma glicoproteína, responsável pela formação de anticorpos neutralizantes e adsorção vírus-célula, e outro interno, constituído por uma nucleoproteína, que é grupo específico.
Reservatório
No ciclo urbano, as principais fontes de infecção são o cão e o gato. No Brasil, o morcego é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre. Outros reservatórios silvestres são: macaco, raposa, coiote, chacal, gato-do-mato, jaritataca, guaxinim e mangusto.
Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva
R
Ciclo aéreo
Ciclo silvestre
Ciclo rural
Ciclo urbano
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Raiva
Modo de transmissão
A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura
de mucosas. O vírus penetra no organismo, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o
sistema nervoso periférico e, posteriormente, o sistema nervoso central. A partir daí, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado pela
saliva das pessoas ou animais enfermos.
Existem relatos de casos de transmissão inter-humana na literatura, que ocorreram
através de transplante de córnea. A via respiratória, transmissão sexual, via digestiva (em
animais) e transmissão vertical também são aventadas, mas com possibilidade remota.
Período de incubação
É extremamente variável, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no homem
e de 10 dias a 2 meses no cão. Em crianças, existe tendência para um período de incubação
menor que no indivíduo adulto. O período de incubação está diretamente ligado a:
• localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou
contato com a saliva de animais infectados;
• distância entre o local do ferimento, o cérebro e troncos nervosos;
• concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.
Período de transmissibilidade
Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo durante toda a evolução da doença. A morte do
animal acontece, em média, entre 5 a 7 dias após a apresentação dos sintomas. Em relação
aos animais silvestres, há poucos estudos sobre o período de transmissão, sabendo-se que
varia de espécie para espécie. Por exemplo, especificamente os quirópteros podem albergar
o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente.
Susceptibilidade e imunidade
Todos os mamíferos são susceptíveis à infecção pelo vírus da raiva. Não há relato de
casos de imunidade natural no homem. A imunidade é conferida através de vacinação,
acompanhada ou não por soro.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Após um período variável de incubação, aparecem os pródromos que duram de 2 a 4
dias e são inespecíficos. O paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. Podem ocorrer hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos
periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento. A infecção
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Raiva
progride, surgindo manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários, generalizados e/ou convulsões. Espasmos dos
músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido,
apresentando sialorréia intensa. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal.
O paciente se mantém consciente, com período de alucinações, até à instalação de quadro
comatoso e evolução para óbito. Observa-se ainda a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia, fotofobia. O período de evolução do quadro clínico, após instalados os sinais e
sintomas até o óbito, é em geral de 5 a 7 dias.
Diagnóstico diferencial
Não existem dificuldades para estabelecer o diagnóstico quando o quadro clínico vier
acompanhado de sinais e sintomas característicos da raiva, precedidos por mordedura, arranhadura ou lambedura de mucosas provocadas por animal raivoso. Este quadro clínico
típico ocorre em cerca de 80% dos pacientes.
No caso da raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, cuja forma é predominantemente paralítica, o diagnóstico é incerto e a suspeita recai em outros agravos que
podem ser confundidos com raiva humana. Nestes casos, o diagnóstico diferencial deve
ser realizado com: tétano; pasteurelose, por mordedura de gato e de cão; infecção por vírus
B (Herpesvirus simiae), por mordedura de macaco; botulismo e febre por mordida de rato
(Sodóku); febre por arranhadura de gato (linforreticulose benigna de inoculação); encefalite pós-vacinal; quadros psiquiátricos; outras encefalites virais, especialmente as causadas
por outros rabdovírus; e tularemia. Cabe salientar a ocorrência de outras encefalites por
arbovírus e intoxicações por mercúrio, principalmente na região amazônica, apresentando
quadro de encefalite compatível com o da raiva.
É importante ressaltar que a anamnese do paciente deve ser realizada junto ao acompanhante e ser bem documentada, com destaque para sintomas prodrômicos, antecedentes
epidemiológicos e vacinais. No exame físico, frente à suspeita clínica, observar atentamente
o fácies, presença de hiperacusia, hiperosmia, fotofobia, aerofobia, hidrofobia e alterações
do comportamento.
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R
Diagnóstico laboratorial
A confirmação laboratorial em vida, dos casos de raiva humana, pode ser realizada
pelo método de imunofluorescência direta (IFD) em impressão de córnea, raspado de mucosa lingual (swab) ou tecido bulbar de folículos pilosos, obtidos por biópsia de pele da
região cervical (procedimento que deve ser feito por profissional habilitado mediante o uso
de equipamento de proteção individual/EPI).
A sensibilidade dessas provas é limitada e, quando negativas, não se pode excluir a
possibilidade de infecção. A realização da autópsia é de extrema importância para a confirmação diagnóstica. O sistema nervoso central (cérebro, cerebelo e medula) deverá ser encaminhado para o laboratório, conservado preferencialmente refrigerado em até 24 horas,
e congelado após este prazo. Na falta de condições adequadas de refrigeração, conservar
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Raiva
em solução salina com glicerina a 50%, em recipientes de paredes rígidas, hermeticamente
fechados, com identificação de material de risco biológico e cópia da ficha de notificação ou
de investigação. Não usar formol. O diagnóstico laboratorial é realizado com fragmentos do
sistema nervoso central através das técnicas de IFD e inoculação em camundongos recémnascidos ou de 21 dias.
Tratamento
Independente do ciclo, não existe tratamento específico para a doença. Por isso, a profilaxia pré ou pós-exposição ao vírus rábico deve ser adequadamente executada. O paciente
deve ser atendido na unidade hospitalar de saúde mais próxima, sendo evitada sua remoção. Quando imprescindível, tem que ser cuidadosamente planejada. Manter o enfermo
em isolamento, em quarto com pouca luminosidade, evitar ruídos e formação de correntes
de ar, proibir visitas e somente permitir a entrada de pessoal da equipe de atendimento. As
equipes de enfermagem, higiene e limpeza devem estar devidamente capacitadas para lidar
com o paciente e com o seu ambiente e usar equipamentos de proteção individual, bem
como estarem pré-imunizados.
Recomenda-se como tratamento de suporte: dieta por sonda nasogástrica e hidratação
para manutenção do balanço hídrico e eletrolítico; na medida do possível, usar sonda vesical para reduzir a manipulação do paciente; controle da febre e vômito; betabloqueadores
na vigência de hiperatividade simpática; uso de antiácidos, para prevenção de úlcera de estresse; realizar os procedimentos para aferição da pressão venosa central (PVC) e correção
da volemia na vigência de choque; tratamento das arritmias cardíacas. Sedação de acordo
com o quadro clínico, não devendo ser contínua.
Aspectos epidemiológicos
A raiva é uma antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico
contido na saliva do animal infectado, principalmente através da mordedura. Apesar de ser
conhecida desde a antiguidade, continua sendo problema de saúde pública nos países em
desenvolvimento, principalmente a transmitida por cães e gatos, em áreas urbanas, mantendo-se a cadeia de transmissão animal doméstico/homem.
Esta doença ocorre em todos os continentes, com exceção da Oceania. Alguns países
das Américas (Uruguai, Barbados, Jamaica e Ilhas do Caribe), da Europa (Portugal, Espanha, Irlanda, Grã-Bretanha, Países Baixos e Bulgária) e da Ásia (Japão) encontram-se livres
da infecção no seu ciclo urbano. Entretanto, alguns países da Europa (França, Inglaterra) e
da América do Norte (EUA e Canadá) ainda enfrentam problemas quanto ao ciclo silvestre
da doença.
A raiva apresenta dois ciclos básicos de transmissão: o urbano, que ocorre principalmente entre cães e gatos e é de grande importância nos países do terceiro mundo, e o silvestre, que ocorre principalmente entre morcegos, macacos e raposas. Na zona rural, a doença
afeta animais de produção como bovinos, eqüinos e outros.
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Raiva
A distribuição da raiva não é obrigatoriamente uniforme, podendo existir áreas livres e outras de baixa ou alta endemicidade, apresentando, em alguns momentos, formas
epizoóticas. No Brasil, a raiva é endêmica, em grau diferenciado de acordo com a região
geopolítica. A região Nordeste responde por 54,2% dos casos humanos registrados de 1980
a 2003; seguida da região Norte, com 17,5%; Sudeste, com 10,8%; Centro-Oeste, com 10,4%
e Sul, com 0,4%. Desde 1987 não há registro de casos nos estados do Sul, sendo o último no
Paraná, cuja fonte de infecção foi um morcego hematófago. No período de 1991 a 2003, cães
e gatos foram responsáveis por transmitir 80% dos casos humanos de raiva; os morcegos,
por 10,6% e outros animais (raposas, sagüis, gato selvagem, bovinos, eqüinos, caititus, gambás, suínos e caprinos), 4,8%. Casos cuja fonte de infecção foi desconhecida representaram
4,6%. O coeficiente de morbimortalidade de raiva humana nos últimos anos vem diminuindo de forma gradativa: de 0,05/100 mil habitantes, em 1990, para 0,01/100 mil habitantes,
atualmente. A taxa de letalidade é de 100%.
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Vigilância epidemiológica
Há muitas interfaces entre a raiva humana e a animal. Na vigilância da raiva, os dados
epidemiológicos são essenciais tanto para os médicos, para que seja tomada a decisão de
tratamento pós-exposição, como para os veterinários, que devem adotar medidas relativas
ao animal envolvido. Sem dúvida, um caso de raiva humana representa falência do sistema
de saúde local, além de ser um indicador para avaliação da qualidade dos serviços.
Objetivos
• Detectar precocemente a circulação do vírus em animais (urbanos e silvestres), visando impedir a ocorrência de casos humanos.
• Propor e avaliar as medidas de prevenção e controle.
• Identificar a fonte de infecção de cada caso humano ou animal.
• Determinar a magnitude da raiva humana e as áreas de risco, para intervenção.
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Definição de caso
Suspeito
Todo paciente com quadro clínico sugestivo de encefalite rábica, com antecedentes ou
não de exposição à infecção pelo vírus rábico.
Confirmado
Todo caso suspeito comprovado laboratorialmente ou todo indivíduo com quadro clínico compatível de encefalite rábica associado a antecedentes de agressão ou contato com
animal suspeito (associação epidemiológica), com evolução para óbito.
Critério clínico-laboratorial – detecção de anticorpos específicos, pela técnica de soroneutralização em cultura celular, em pacientes sem antecedentes de vacinação contra a
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Raiva
raiva; demonstração do antígeno pela técnica de imunofluorescência direta, e isolamento
do vírus através da prova biológica (PB) em camundongos ou células, ou por meio da reação de cadeia pela polimerase (PCR).
Atualmente, um importante instrumento de vigilância epidemiológica é a tipificação
antigênica através da imunofluorescência indireta com anticorpos monoclonais, que é uma
técnica específica e rápida, e da caracterização genética. É importante destacar que o uso
das técnicas de biologia molecular deve estar sempre associado à investigação epidemiológica de campo, visto que somente assim se atingirá o maior poder discriminatório. Recomenda-se, também, a realização do estudo antigênico e genético em 100% das amostras
isoladas de humanos, cães e gatos de áreas livres ou controladas, e de animais silvestres.
Critério clínico-epidemiológico – paciente com quadro neurológico agudo (encefalite), que apresente formas de hiperatividade, seguido de síndrome paralítica com progressão para coma e morte, geralmente por insuficiência respiratória, sem possibilidade de
diagnóstico laboratorial mas com antecedente de exposição a provável fonte de infecção em
região com comprovada circulação de vírus rábico. Mesmo nos casos nos quais a suspeita
foi aventada após o óbito, a possibilidade de exumação deve ser considerada, visto que
atualmente se dispõe de técnicas laboratoriais que, no seu conjunto, apresentam grande
sensibilidade e especificidade.
Caso descartado
Todo caso suspeito com IFD e PB negativa ou que durante a investigação teve seu
diagnóstico confirmado laboratorialmente por outra etiologia, ou todo caso suspeito que
não tenha evoluído para óbito.
Notificação
Todo caso humano suspeito de raiva é de notificação individual, compulsória e imediata aos níveis municipal, estadual e federal.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Toda pessoa com histórico de exposição deve procurar assistência médica e, conforme avaliação, receber vacinação ou soro-vacinação ou, ainda, acompanhamento durante o
período de observação animal.
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde com capacidade para
prestar atendimento adequado e oportuno. Deve-se ficar atento para evitar o abandono,
garantindo o esquema de vacinação completo e a obrigatoriedade da busca ativa pelos profissionais da rede dos serviços de saúde.
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Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações constantes no tópico Diagnóstico laboratorial dos diferentes animais.
Proteção da população
Logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso de raiva, deve-se organizar um
bloqueio vacinal em cães e gatos em até 72 horas após a notificação, em um raio de 5km ou
mais, dependendo da zona de abrangência (zona urbana ou rural) onde o paciente foi agredido, não sendo necessário aguardar resultados de exames laboratoriais para confirmação
do caso suspeito. É necessária, ainda, a captura e o envio de amostras de animais da área de
atuação para o diagnóstico laboratorial e/ou comprovação da circulação viral.
As informações sobre as coberturas vacinais dos animais da área endêmica, quando
disponíveis, são importantes para o processo de decisão quanto à extensão inicial e seletividade do bloqueio.
Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizando-se meios de
comunicação de massa, visitas domiciliares e palestras. É também importante a veiculação
de conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade e esclarecimentos da
situação de risco e ações envolvendo a participação efetiva da comunidade.
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Investigação
Imediatamente ou até 72 horas após a notificação de um caso de raiva, deve-se iniciar
a investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas. O instrumento de coleta de dados, a ficha epidemiológica disponível no Sinan, contém
os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação de rotina. Todos os seus
campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa.
Outros itens e observações podem ser incluídos em relatório anexo, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Casos de raiva em animais de produção (bovinos, eqüinos e outros), notificar imediatamente às autoridades da agricultura para o desencadeamento das ações de controle: indicação de vacinação nos rebanhos, captura e combate aos morcegos hematófagos e educação
sanitária.
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Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica, relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica – anotar na ficha de investigação dados da história, manifestações clínicas e antecedentes de exposição às prováveis fontes de infecção.
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Raiva
• Como, em geral, quando se suspeita de raiva humana os doentes são hospitalizados,
impõe-se a consulta do prontuário e a entrevista ao médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir
se o quadro apresentado é compatível com a doença;
• Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução do doente, com
vistas ao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumento de aprendizagem dos profissionais do nível local;
• Verificar data, local e modo de ocorrência da exposição, tipo e localização, história
de tratamento profilático anterior e atual, data de início dos sintomas, coleta e envio
de material para diagnóstico laboratorial, critério de confirmação de caso, observação do animal, espécie, história de vacinação e outras informações de acordo com a
situação de cada caso. Se não houve tratamento atual, identificar as razões;
• Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da área de transmissão – no local de ocorrência da exposição,
identificar fatores de risco como baixa cobertura vacinal canina, presença de cães errantes,
regime de criação de cães (com proprietário restrito, parcialmente restrito, com mais de um
proprietário), presença de casos suspeitos ou confirmados de raiva animal e outros elementos que possam determinar o grau de risco de disseminação. Avaliar o acidente quanto às
causas que o motivaram, métodos de manutenção para a observação do animal no domicílio, cuidados e prevenção de doenças com o animal e riscos de contaminação a que foi
exposto em períodos de até 180 dias antes.
Providências necessárias:
• buscar, no provável local de infecção e em um raio de até 5km, pessoas e outros
animais que foram expostos ao mesmo animal agressor ou a outros suspeitos;
• verificar o acesso dos expostos aos serviços de saúde e realizar busca ativa dos faltosos e/ou abandonos de tratamento profilático anti-rábico humano;
• notificar os casos positivos em animais ao serviço de controle de raiva (vigilância
epidemiológica, centros de controle de zoonozes e agricultura), para controle de
focos e outras ações pertinentes;
• analisar a situação epidemiológica da área de abrangência, visando impedir a ocorrência de novos casos.
Nos casos de suspeita de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, recomenda-se observar os seguintes fatores:
• presença de mordeduras em animais e humanos;
• existência de circulação viral;
• aparecimento de casos humanos de encefalite;
• existência de pequena população de animais de criação (bovinos, equídeos, etc.);
• presença de áreas de desmatamento ou reflorestamento;
• presença de moradias sem proteção adequada;
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Raiva
• novos assentamentos urbanos e rurais, regiões de garimpo, áreas com projetos de
exploração de madeira e outras culturas;
• proximidade de povoados com matas florestais;
• ocorrência de baixos indicadores socioeconômicos.
Para determinação da extensão da área de risco
• Em áreas silvestres – sendo a fonte de infecção da espécie quiróptera (morcegos),
determinar a extensão da ação de bloqueio em um raio de até 12km.
• Em áreas urbanas – para cães e gatos, determinar a extensão da ação de bloqueio
em um raio de até 5km.
Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importância para nortear a continuidade do processo de investigação e a extensão das
medidas de controle imediatas.
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Coleta e remessa de amostra para diagnóstico
• Logo após a suspeita clínica de raiva, deve-se orientar sobre a coleta de amostra para
laboratório. Quando do óbito, é imprescindível coletar e enviar amostras do cérebro,
cerebelo, tronco encefálico e medula ao laboratório, para confirmação do caso, de
acordo com as normas técnicas apresentadas no tópico Definição de caso, observando-se criteriosamente todas as recomendações.
• É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas.
Não se deve aguardar os resultados dos testes laboratoriais para desencadear as medidas de controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis
para a confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações.
R
Análise dos dados
Identificar as falhas da vigilância epidemiológica, assistência e dos serviços de saúde
que propiciaram a ocorrência de caso humano e em animais domésticos. Observar a distribuição temporal e geográfica dos casos, localização e data das ocorrências, sexo, idade,
ocupação, zona urbana ou rural, natureza da agressão, espécie agressora, história de vacinação e outros dados de interesse para cada localidade. A análise destes dados deverá orientar
o desencadeamento, duração e extensão das ações de controle desenvolvidas e posterior
avaliação de sua adequação.
Encerramento de casos
Confirmado por critério clínico-laboratorial (isolamento viral, sorologia ou histopatologia) – pacientes com sintomatologia compatível, na qual a imunofluorescência ou
exame histopatológico ou a inoculação em camundongos foi positiva para raiva.
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Raiva
Confirmado por critério clínico-epidemiológico – paciente com sintomatologia
compatível, cujo histórico permite realizar vínculo epidemiológico entre o caso suspeito e a
região de ocorrência, com comprovada circulação do vírus rábico, que selaria o diagnóstico
de raiva.
Caso descartado – caso notificado cujos resultados de exames laboratoriais foram negativos, afastando a hipótese de raiva, ou pacientes com evolução incompatível com raiva.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser consolidados em um relatório com as principais
conclusões, das quais destacam-se:
• intervenção sobre a fonte de infecção: dados de cobertura vacinal animal, bloqueios
de foco, número de animais capturados, animais submetidos à eutanásia, envio de
amostras ao laboratório, ações educativas e mobilização comunitária;
• dados pessoais: sexo, idade, ocupação, zona urbana ou rural;
• antecedentes epidemiológicos: tipo da exposição (arranhadura, mordedura, lambedura, contato indireto), localização (mucosa, cabeça/pescoço, mãos/pés, tronco,
membros superiores/inferiores), tipo de ferimento (único, múltiplo, superficial, profundo, dilacerante), espécie do animal agressor e data da exposição;
• dados de atendimento: hospitalização (avaliação da qualidade do atendimento ao
paciente), vacinação e/ou sorovacinação, número de doses aplicadas e data de início
de tratamento;
• exames laboratoriais: tipo de exame realizado e resultados;
• encerramento de caso.
Instrumentos disponíveis para controle
A prevenção de raiva humana é direcionada para o tratamento profilático anti-rábico
toda vez que houver suspeita de exposição ao vírus rábico. Após o início do quadro
clínico não existe tratamento que forneça resultados satisfatórios.
Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raiva
Em caso de possível exposição ao vírus da raiva é imprescindível a limpeza do ferimento com água corrente abundante e sabão, ou outro detergente, pois essa conduta diminui, comprovadamente, o risco de infecção. Deve ser realizada o mais rápido possível após
a agressão e repetida na unidade de saúde, independentemente do tempo transcorrido. A
limpeza deve ser cuidadosa, visando eliminar as sujidades sem agravar o ferimento e, em
seguida, devem ser utilizados antissépticos que inativem o vírus da raiva (como o livinilpirrolidona-iodo, por exemplo, o polvidine ou gluconato de clorexidine ou álcool-iodado).
Lembrar que essas substâncias deverão ser utilizadas uma única vez, na primeira consulta,
e sempre que possível, posteriormente, a região deve ser lavada com solução fisiológica.
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Roteiro de investigação epidemiológica da raiva humana
Notificação de Caso Humano Suspeito
Investigação
Após o óbito,
coletar material
Resultado
dos exames
Negativo
Descartar
o caso
Outro caso
Iniciar
investigação
Sem caso
Antecedentes
epidemiológicos
Histórico
de vacinação
Urbano
Clínicos
Encerrar
investigação
Busca ativa de
pessoas e animais agredidos
Vacinação
de cães e gatos
casa a casa
Silvestre
Outras
espécies
Quirópteros
Bloqueio
(raio de até 5km)
Positivo
Confirma
o caso
Determinar ciclo de
transmissão e local
provável de infecção
Coleta de dados
Busca ativa de casos
em outros animais
Dados clínicos e
epidemiológicos
Captura
e eutanásia
de animais
Encerrar
o caso
Notificar unidade local de DSA*
Vigilância
laboratorial
(6 meses
no mínimo)
Educação sanitária,
Vigilância laboratorial
Busca ativa de
pessoas expostas
Mobilização
comunitária
Educação
em saúde
Atender em
conjunto com a DSA
Avaliar**
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Busca ativa
de pessoas
agredidas
*DSA: Defesa Sanitária Animal.
Vacinação
do animal
de bloqueio
Identificação
de abrigos e
controle da
população de
morcegos
Educação
em saúde
**Avaliar se as estratégias de prevenção, vigilância e controle adotadas são suficientes.
Avaliar**
Raiva
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Raiva
Deve-se fazer anamnese completa, utilizando-se a ficha de atendimento anti-rábico
humano, visando à indicação correta do tratamento profilático.
Classificar o acidente de acordo com as seguintes características do ferimento e do
animal envolvido no acidente:
Características do ferimento
Em relação à transmissão do vírus da raiva, os acidentes causados por animais devem
ser avaliados quanto ao:
Local do acidente – acidentes que ocorrem em regiões próximas ao sistema nervoso
central (cabeça, face ou pescoço) ou em locais muito inervados (mãos, polpas digitais e
planta dos pés) são graves porque facilitam a exposição do sistema nervoso ao vírus. A
lambedura da pele íntegra não oferece risco, mas a lambedura de mucosas também é grave
porque as mesmas são permeáveis ao vírus, mesmo quando intactas, e também porque as
lambeduras, geralmente, abrangem áreas mais extensas.
Profundidade do acidente – os acidentes devem ser classificados como superficiais
(sem presença de sangramento) ou profundos (apresentam sangramento, ou seja, ultrapassam a derme). Os ferimentos profundos, além de aumentar o risco de exposição do sistema
nervoso, oferecem dificuldades à assepsia. Mas vale ressaltar que os ferimentos puntiformes
são considerados como profundos e algumas vezes não apresentam sangramento.
Extensão e número de lesões – deve-se observar a extensão da lesão e se ocorreu apenas uma única lesão ou múltiplas, ou seja, uma porta de entrada ou várias.
De acordo com os critérios acima estabelecidos, as exposições podem ser assim classificadas:
Acidentes leves
• ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos, em tronco e membros
(exceto mãos, polpas digitais e planta dos pés); podem acontecer em decorrência de
mordeduras ou arranhaduras causadas por unha ou dente;
• lambedura de pele com lesões superficiais.
Acidentes graves
• ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé;
• ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo;
• lambeduras de mucosas;
• lambeduras de pele onde já existe lesão grave;
• ferimentos profundos causados por unha de gato;
• quaisquer ferimentos causados por morcego.
Atenção
O contato indireto, como a manipulação de utensílios potencialmente contaminados,
e a lambedura na pele íntegra não são considerados acidentes de risco e não exigem
tratamento profilático.
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Raiva
Características do animal envolvido no acidente
Cão e gato – as características da doença em cães e gatos, como período de incubação,
transmissão e quadro clínico, são bem conhecidas e semelhantes. Por esta razão estes animais são analisados em conjunto, nos seguintes elementos:
• estado de saúde do animal no momento da agressão – avaliar se o animal estava
sadio ou apresentava sinais sugestivos de raiva. A maneira como ocorreu o acidente
pode fornecer informações sobre seu estado de saúde. O acidente provocado (por
exemplo, o animal que reage em defesa própria, a estímulos dolorosos ou outras provocações) geralmente indica uma reação normal do animal, enquanto que a agressão
espontânea (sem causa aparente) pode indicar alteração do comportamento e sugere
que o animal pode estar acometido de raiva. Lembrar que o animal também pode
agredir devido à sua índole ou adestramento;
• possibilidade de observação do animal por 10 dias – mesmo se o animal estiver
sadio no momento do acidente, é importante que seja mantido em observação por
10 dias. Nos cães e gatos, o período de incubação da doença pode variar de alguns
dias a anos, mas em geral é de cerca de 60 dias. No entanto, a excreção de vírus pela
saliva, ou seja, o período em que o animal pode transmitir a doença, só ocorre a
partir do final do período de incubação, variando entre dois e cinco dias antes do
aparecimento dos sinais clínicos, persistindo até sua morte, que pode ocorrer em até
cinco dias após o início dos sintomas. Portanto, o animal deve ser observado por 10
dias; se em todo esse período permanecer vivo e saudável, não há risco de transmissão do vírus;
• procedência do animal – é necessário saber se a região de procedência do animal é
área de raiva controlada ou não controlada;
• hábitos de vida do animal – o animal deve ser classificado como domiciliado ou
não-domiciliado. Animal domiciliado é o que vive exclusivamente dentro do domicílio, não tem contato com outros animais desconhecidos e só sai à rua acompanhado do seu dono. Desse modo, esses animais podem ser classificados como de baixo
risco em relação à transmissão da raiva. Ao contrário, aqueles animais que passam
longos períodos fora do domicílio, sem controle, devem ser considerados como animais de risco, mesmo que tenham proprietário e recebam vacinas, o que geralmente
só ocorre nas campanhas de vacinação.
6
R
Animais silvestres – morcego de qualquer espécie, micos (sagüi e “soin”), macaco,
raposa, guaxinim, quati, gambá, roedores silvestres, etc. devem ser classificados como animais de risco, mesmo que domiciliados e/ou domesticados, haja vista que nesses animais a
patogenia da raiva não é bem conhecida.
Relatos recentes mostram que o risco de transmissão do vírus pelo morcego é sempre elevado, independentemente da espécie e gravidade do ferimento. Por isso, toda
agressão por morcego deve ser classificada como grave.
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Raiva
Animais domésticos de interesse econômico ou de produção – bovinos, bubalinos,
eqüídeos, caprinos, ovinos, suínos e outros também são animais de risco. É importante
conhecer o tipo, freqüência e grau do contato ou exposição que os tratadores e outros profissionais têm com estes animais, e a incidência da raiva na região, para avaliar a indicação
de tratamento pré ou pós-exposição.
Animais de baixo risco – os seguintes roedores e lagomorfos (áreas urbanas ou de
criação) são considerados como de baixo risco para a transmissão da raiva e, por isto, não
é necessário indicar tratamento profilático da raiva em caso de acidentes causados pelos
mesmos:
• ratazana-de-esgoto (Rattus norvegicus);
• rato-de-telhado (Rattus rattus);
• camundongo (Mus musculus);
• cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus);
• hamster (Mesocricetus auratus);
• coelho (Oryetolagus cuniculus).
Observação válida para todos os animais de risco: sempre que possível, coletar amostra de tecido cerebral e enviar para o laboratório de diagnóstico. O diagnóstico laboratorial
é importante tanto para definir a conduta em relação ao paciente como para se conhecer o
risco de transmissão da doença na área de procedência do animal. Se o resultado for negativo, o tratamento não precisa ser indicado ou, caso tenha sido iniciado, pode ser suspenso.
Todas as características acima são fundamentais para determinar a indicação ou não
da profilaxia anti-rábica de acordo com os esquema descrito no Quadro 1 da vacina
de cultivo celular.
Conduta em caso de possível reexposição ao vírus da raiva
Pessoas com risco de reexposição ao vírus da raiva, que já tenham recebido tratamento
pós-exposição anteriormente, devem ser tratadas novamente de acordo com as indicações
do Quadro 2. Para estas pessoas, quando possível, também é recomendável a pesquisa de
anticorpos.
Observações: em caso de reexposição, com história de tratamento anterior completo,
não é necessário administrar o soro anti-rábico (homólogo ou heterólogo). No entanto, o
soro poderá ser indicado se houver dúvidas ou conforme a análise de cada caso, especialmente nos pacientes imunodeprimidos que devem receber sistematicamente soro e vacina.
Recomenda-se que, ao final do tratamento, seja realizada a avaliação sorológica após o 14º
dia da aplicação da última dose.
Devem ser avaliados, individualmente, os pacientes que receberam muitas doses de
vacina, como, por exemplo, os que receberam mais de uma vez o esquema completo de
616
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Raiva
pós-exposição e vários esquemas de re-exposição. O risco de reações adversas às vacinas
aumenta proporcionalmente ao número de doses aplicadas. Nestes casos, se possível, solicitar a avaliação sorológica do paciente. Se o título de anticorpos neutralizantes (AcN) for
igual ou maior a 0,5UI/ml, não é necessário indicar tratamento ou, caso tenha sido iniciado,
pode ser suspenso.
Importante
Em caso de reexposição com histórico de tratamento anterior completo e se o animal
agressor, cão ou gato, for passível de observação, considerar a hipótese de somente
observar o animal.
Quando o paciente tiver o esquema de pré-exposição, em qualquer momento, adotar
conduta conforme o Quadro 3.
6
Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raiva
em pacientes que receberam esquema de pré-exposição
O Quadro 3 indica os procedimentos a serem adotados para pacientes que, acidentalmente, se expuseram ao risco de infecção pelo vírus da raiva e que tenham recebido tratamento pré-exposição anteriormente.
Considerar as notas de rodapé do Quadro 2, caso o esquema recebido anteriormente
tenha sido incompleto.
Profilaxia pré-exposição
É indicada para pessoas que, por força de suas atividades profissionais ou de lazer,
estejam expostas permanentemente ao risco de infecção pelo vírus da raiva, tais como profissionais e estudantes das áreas de medicina veterinária e de biologia e profissionais e auxiliares de laboratórios de virologia e/ou anatomia patológica para raiva. É indicada, também,
para aqueles que atuam no campo na captura, vacinação, identificação e classificação de
mamíferos passíveis de portarem o vírus, bem como funcionários de zoológicos.
R
Com a vacina de cultivo celular
Esquema: 3 doses.
Dias de aplicação: 0, 7, 28.
Via de administração e dose: intramuscular profunda, utilizando dose completa; ou
havendo capacitação técnica, por via intradérmica, utilizando a dose de 0,1ml.
Local de aplicação: músculo deltóide ou vasto lateral da coxa (não aplicar em glúteo).
Controle sorológico: a partir do 14º dia após a última dose do esquema.
Resultados:
• insatisfatório – se o título de anticorpos for menor do que 0,5 UI/ml. Nesse caso,
aplicar uma dose de reforço e reavaliar a partir do 14º dia após o reforço;
• satisfatório – se o título de anticorpos for maior ou igual a 0,5 UI/ml.
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Raiva
Quadro 1. Esquema para tratamento profilático anti-rábico humano com a vacina
de cultivo celular
Condições do
animal agressor1
Cão ou gato sem
suspeita de raiva no
momento da agressão
Cão ou gato clinicamente
suspeito de raiva no
momento da agressão
Cão ou gato raivoso,
desaparecido ou morto;
Animais silvestres
(inclusive os domiciliados)2
Animais domésticos de interesse econômico ou de produção
Tipo de exposição
Lavar com água e sabão
Lavar com água e sabão
Lavar com água e sabão
Não tratar
Não tratar
Não tratar
Acidentes leves
Lavar com água e sabão
Lavar com água e sabão.
Lavar com água e sabão.
Ferimentos superficiais,
pouco extensos, geralmente únicos, em tronco
e membros (exceto
mãos, polpas digitais e
planta dos pés);
Observar o animal durante
10 dias após a exposição
Iniciar tratamento com duas
doses, uma no dia 0 e outra
no dia 3
Iniciar imediatamente o
tratamento com 5 (cinco)
doses de vacina administradas nos dias 0, 3, 7, 14 e 28
Contato indireto
Se o animal permanecer
sadio no período de observação,
encerrar o caso
Observar o animal durante
10 dias após a exposição
Se o animal morrer,
desaparecer ou se tornar raivoso,
administrar
5 doses de vacina
(dias 0, 3, 7, 14 e 28)
Se a suspeita de raiva for
descartada após o 10º dia de
observação, suspender o tratamento e encerrar o caso
Acidentes graves
Lavar com água e sabão
Lavar com água e sabão.
Lavar com água e sabão
Ferimentos na cabeça,
face, pescoço, mão,
polpa digital e/ou
planta do pé;
Observar o animal durante
10 dias após exposição
Iniciar o tratamento com soro3
e 5 doses de vacina nos dias 0,
3, 7, 14 e 28
Iniciar imediatamente o
tratamento com soro3 e 5
doses de vacina nos dias 0,
3, 7, 14 e 28
Podem acontecer em
decorrência de mordeduras ou arranhaduras
causadas por unha ou
dente;
Lambedura de pele com
lesões superficiais
Ferimentos profundos,
múltiplos ou extensos,
em qualquer região do
corpo;
Lambedura de mucosas;
Lambedura de pele onde
já existe lesão grave;
Ferimento profundo
causado por unha
de gato.
Iniciar tratamento com duas
doses: uma no dia 0 e outra no
dia 3.
Se o animal permanecer sadio no
período de observação, encerrar
o caso
Se o animal morrer, desaparecer
ou se tornar raivoso, dar continuidade ao tratamento, administrando o soro3 e completando o esquema até 5 (cinco) doses. Aplicar
uma dose entre o 7º e o 10º dia e
uma dose nos dias 14 e 28
Se o animal morrer, desaparecer
ou se tornar raivoso, completar
o esquema até 5 doses. Aplicar
uma dose entre o 7º e o 10º dia
e uma dose nos dias 14 e 28
Observar o animal durante
10 dias após a exposição
Se a suspeita de raiva for
descartada após o 10º dia de
observação, suspender o tratamento e encerrar o caso
1. É preciso sempre avaliar os hábitos e cuidados recebidos pelo cão e gato. Podem ser dispensadas do tratamento
as pessoas agredidas por cão ou gato que, com certeza, não têm risco de contrair a infecção rábica. Por exemplo,
animais que vivem dentro do domicílio (exclusivamente), não têm contato com outros animais desconhecidos e
que somente saem às ruas acompanhados de seus donos, que não circulem em área com a presença de morcegos
hematófagos.
Em caso de dúvida, iniciar o esquema de profilaxia indicado. Se o animal for procedente de área de raiva controlada, não é necessário iniciar o tratamento. Manter o animal sob observação e só indicar o tratamento (soro + vacina)
se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso.
2. Nas agressões por morcegos, deve-se indicar a soro-vacinação independente da gravidade da lesão, ou indicar
conduta de reexposição.
3. Aplicação do soro perifocal na(s) porta(s) de entrada. Quando não for possível infiltrar toda a dose, a quantidade
restante deve ser aplicada pela via intramuscular, podendo ser utilizada a região glútea. Sempre aplicar em local
anatômico diferente do que aplicou a vacina.
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Raiva
Quadro 2. Esquemas de reexposição, conforme o esquema e vacina prévios e a vacina
a ser utilizada por ocasião da reexposição
Tipo de esquema
Esquema de reexposição
Vacina
Completo
Cultivo celular
Incompleto2
Cultivo celular1
Cultivo celular
a) até 90 dias: não tratar
b) após 90 dias: duas doses, uma no dia 0 e outra no dia 3
a) até 90 dias: completar o número de doses
b) após 90 dias: ver esquema de pós-exposição (conforme
o caso)
1. Pelo menos duas doses de vacina de cultivo celular em dias alternados;
2. Não considerar o esquema anterior se o paciente recebeu número menor de doses do que aqueles referidos
nas notas acima.
Quadro 3. Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raiva em pacientes que
receberam esquema de pré-exposição
Sorologia comprovada (titulação)
6
Vacina
Cultivo celular
Com comprovação sorológica
(título maior ou igual a 0,5UI/ml).
Duas doses: uma no dia 0 e outra no dia 3
Sem comprovação sorológica
ou titulo inferior a 0,5UI/ml
Verificar o Quadro 2, em caso de esquema vacinal incompleto
Observação: o controle sorológico é exigência básica para a correta avaliação da pessoa vacinada.
Importante
Deve-se fazer o controle sorológico anual dos profissionais que se expõem permanentemente ao risco de infecção ao vírus da raiva, administrando-se uma dose de reforço
sempre que os títulos forem inferiores a 0,5 UI/ml. Repetir a sorologia a partir do 14º
dia, após a dose de reforço.
R
Vacina
Vacina de cultivo celular
São vacinas mais potentes, seguras e isentas de risco. São produzidas em cultura de
células (diplóides humanas, células Vero, células de embrião de galinha, etc.) com cepas de
vírus Pasteur (PV) ou Pittman-Moore (PM) inativados pela betapropiolactona. São apresentadas sob a forma liofilizada, acompanhadas de diluente; devem ser conservadas em
geladeira, fora do congelador, na temperatura entre + 2ºC a + 8ºC, até o momento de sua
aplicação, observando o prazo de validade do fabricante. A potência mínima destas vacinas
é 2,5 UI/dose.
Dose e via de aplicação – são apresentadas nas doses de 0,5ml e 1ml, dependendo do
fabricante (verificar embalagem e/ou lote). A dose indicada pelo fabricante independe da
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Raiva
idade e do peso do paciente. A via de aplicação recomendada é a intramuscular, na região
do deltóide ou vasto lateral da coxa. Em crianças até 2 anos de idade, está indicado o vasto
lateral da coxa. A vacina não deve ser aplicada na região glútea.
Contra-indicação – a vacina não tem contra-indicação (gravidez, mulheres lactantes,
doença intercorrente ou outros tratamentos). Sempre que possível, recomenda-se a interrupção do tratamento com corticóides e/ou imunossupressores ao iniciar o esquema de
vacinação. Não sendo possível, tratar a pessoa como imunodeprimida.
Eventos adversos – as manifestações adversas relatadas com maior freqüência são reação local, febre, mal-estar, náuseas e cefaléia. Não há relato de ocorrência de óbito associado
ao uso da vacina de cultivo celular.
A freqüência de reações neurológicas associadas a esta vacina, citada na literatura
científica, é baixa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até junho de
1996 haviam sido relatados seis casos de reações neurológicas temporalmente associadas à
vacina. Em cinco foram registrados quadros de fraqueza ou parestesia, sendo que em um
dos pacientes ocorreu déficit muscular permanente do músculo deltóide. O sexto paciente
apresentou quadro neurológico semelhante ao de esclerose múltipla. A incidência de manifestações neurológicas, considerando-se todos estes casos como realmente provocados pela
vacina, é de cerca de 1 para cada 500 mil pacientes tratados.
Nos EUA, a incidência de reações alérgicas notificadas à vacina de células diplóides foi
de 11 casos por 10 mil pacientes tratados (0,11%). As reações variam de urticária a anafilaxia e ocorrem principalmente após as doses de reforço; em 1/10 mil tratamentos é registrada reação anafilática do tipo I; a maioria das reações, 10/10 mil, é de hipersensibilidade do
tipo III. A evolução é boa e a maioria dos pacientes não necessita internação hospitalar.
Soros
Soro heterólogo
O soro heterólogo é uma solução concentrada e purificada de anticorpos, preparada
em eqüídeos imunizados contra o vírus da raiva. Deve ser conservado em geladeira, entre
+2º a +8ºC, observando o prazo de validade do fabricante.
A dose indicada é de 40 UI/kg de peso do paciente. Deve-se infiltrar nas lesões a maior
quantidade possível da dose do soro. Quando a lesão for extensa e múltipla, a dose pode ser
diluída em soro fisiológico, para que todas as lesões sejam infiltradas. Caso a região anatômica não permita a infiltração de toda a dose, a quantidade restante, a menor possível, deve
ser aplicada por via intramuscular, na região glútea.
Quando não se dispuser do soro ou de sua dose total, aplicar inicialmente a parte
disponível. Iniciar imediatamente a vacinação e administrar o restante da dose de soro recomendada antes da 3ª dose da vacina de cultivo celular. Após esse prazo, o soro não é mais
necessário.
O uso do soro não é necessário quando o paciente recebeu tratamento completo anteriormente. No entanto, em situações especiais, como pacientes imunodeprimidos ou dúvidas com relação ao tratamento anterior, se houver indicação o soro deve ser recomendado.
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Raiva
Eventos adversos – os soros atualmente produzidos são seguros mas podem causar
eventos adversos, como qualquer imunobiológico. As reações mais comuns são benignas,
fáceis de tratar e apresentam boa evolução. A possibilidade de ocorrência destas reações
nunca contra-indica a prescrição do soro.
Eventos adversos que podem ocorrer após a administração do soro heterólogo:
• manifestações locais – dor, edema e hiperemia e, mais raramente, presença de abscesso. São as manifestações mais comuns, normalmente de caráter benigno.
Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local, com o objetivo
de diminuir a dor, a tumefação e a vermelhidão.
• manifestações imediatas – choque anafilático. Manifestação rara que pode ocorrer
nas primeiras duas horas após a aplicação. Os sintomas mais comuns são formigamento nos lábios, palidez, dispnéia, edemas, exantemas, hipotensão e perda de
consciência.
Conduta: notificar e investigar. Substituir o soro por imunoglobulina anti-rábica.
Cuidado intensivo.
6
• manifestações tardias: ocorrem com mais freqüência até a segunda semana após a
aplicação do soro.
❯ Doença do soro – caracterizada por edema e eritema no local de aplicação do
soro, febre, mioartralgia (poliartrite serosa), astenia, cefaléia, sudorese, desidratação, exantema com máculas e pápulas pruriginosas, infartamento e inflamações
ganglionar e, mais raramente, vasculite e nefrite.
❯ Reação de Arthus – caracterizada por vasculite local acompanhada de necrose,
dor, tumefação, rubor e úlceras profundas. Também é um quadro muito raro.
Conduta: notificar e investigar. Deve ser feito acompanhamento clínico por serviço especializado.
R
Com o conhecimento existente na literatura disponível e pela experiência acumulada,
é possível inferir que o teste de sensibilidade ao soro heterólogo tem valor preditivo
baixo e por isso não é indicado. A conduta mais importante antes de sua administração é rigoroso interrogatório sobre os antecedentes do paciente, avaliando:
• ocorrência e gravidade de quadros anteriores de hipersensibilidade;
• uso prévio de imunoglobulinas de origem eqüídea;
• existência de contatos freqüentes com animais, principalmente com eqüídeos,
por exemplo, nos casos de contato profissional (veterinário) ou por lazer.
Em caso de resposta afirmativa a um dos itens anteriores, classificar o paciente como
de risco e considerar a possibilidade de substituição do soro heterólogo pelo soro homólogo (imunoglobulina humana anti-rábica), se disponível. Caso não haja disponibilidade de
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
621
Raiva
soro homólogo, aconselha-se a pré-medicação deste paciente antes da aplicação do soro
heterólogo.
Antes da administração do soro heterólogo, aconselha-se sempre a seguinte rotina,
para qualquer paciente:
• garantir bom acesso venoso, mantendo-o com soro fisiológico a 0,9% (gotejamento
lento);
• dentro das possibilidades, é conveniente deixar preparado:
❯ laringoscópio com lâminas e tubos traqueais adequados para o peso e idade;
❯ frasco de soro fisiológico e/ou solução de Ringer lactado;
❯ solução aquosa de adrenalina (preparada na diluição de 1:1 mil) e de aminofilina
(10ml = 240mg).
Após receber o soro heterólogo, o paciente deverá ser observado pelo prazo de duas
horas.
Pré-medicação – na tentativa de prevenir ou atenuar possíveis reações adversas imediatas em pacientes de risco, podem ser utilizadas drogas bloqueadoras dos receptores H1 e
H2 da histamina (anti-histamínicos) e um corticosteróide em dose anti-inflamatória:
Eventos adversos
Manifestações locais – pode provocar reações de caráter benigno com dor, edema e
hiperemia e, mais raramente, presença de abscesso.
Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local com o objetivo
de diminuir a dor, a tumefação e a vermelhidão.
Manifestações imediatas – choque anafilático. Raro, mas pode ocorrer na administração do soro anti-rábico heterólogo. Nas primeiras duas horas após a aplicação, podem
ocorrer formigamento nos lábios, palidez, dispnéia, edemas, exantemas, hipotensão e perda
da consciência.
Conduta: notificar e investigar. Substituir o soro por imunoglobulina anti-rábica.
Cuidado intensivo.
Manifestações tardias
• Doença do soro – febre, mioartralgia (poliartrite serosa), astenia, cefaléia, sudorese,
desidratação, exantema com máculas e pápulas pruriginosas, infartamento e inflamações dos linfonodos, vasculite, nefrite.
• Reação de Arthus – vasculite local acompanhada de necrose, dor, tumefação, rubor,
necrose, úlceras profundas.
Conduta: notificar e investigar. Deve ser feito acompanhamento clínico por serviço
especializado.
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Raiva
Opção 1. Via parenteral
Crianças
Adultos
Maleato de dextroclorfeniramina ou
0,08mg/kg
5mg
Prometazina
0,5mg/kg
50mg
Cimetidina ou
10mg/kg
300mg
Ranitidina
1,5mg/kg
50mg
Corticosteróide
10mg/kg
500mg
Antagonistas dos receptores H1 da histamina
Antagonistas dos receptores H2 da histamina
A aplicação do soro anti-rábico heterólogo deverá ser realizada 20 a 30 minutos após
a aplicação da pré-medicação acima (esquema parenteral).
6
Opção 2. Via oral
Posologia
Dose máxima
Antagonistas dos receptores H1
Maleato de dextroclorfeniramina oral (xarope)
0,2mg/kg
5mg
Cimetidina ou
20 a 30mg/kg
400mg
Ranitidina
1 a 2mg/kg
300mg
Hidrocortisona (via venosa) ou
10mg/kg
1000mg
Dexametasona (fosfato) intramuscular
2 ou 4mg
20mg
Antagonistas dos receptores H2
Corticosteróide
A aplicação do soro anti-rábico heterólogo deverá ser realizada aproximadamente
2 horas após a aplicação da pré-medicação acima (esquema oral).
R
Opção 3. Esquema misto
Posologia
Dose máxima
0,2mg/kg
5mg
10mg/kg
300mg
3mg/kg
100mg
Hidrocortisona – intravenosa ou
10mg/kg
1000mg
Dexametasona – intramuscular
2 ou 4mg
20mg
Antagonistas dos receptores H1 - via oral
Maleato de dextroclorfeniramina oral (xarope)
Antagonistas dos receptores H2 – parenteral
Cimetidina ou
Ranitidina
Corticosteróide
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Raiva
Imunoglobulina humana anti-rábica – Soro homólogo
A imunoglobulina humana anti-rábica, uma solução concentrada e purificada de anticorpos, preparada a partir de hemoderivados de indivíduos imunizados com antígeno
rábico, é um produto mais seguro que o soro anti-rábico porém de produção limitada e, por
isso, de baixa disponibilidade e alto custo. Deve ser conservada entre + 2° e + 8° C, protegida
da luz, observando-se o prazo de validade do fabricante.
A dose indicada é de 20 UI/kg de peso. Deve-se infiltrar a maior quantidade possível
na(s) lesão(ões). Quando a lesão for muito extensa e múltipla, a dose indicada pode ser diluída em soro fisiológico para que todas as lesões sejam infiltradas. Caso a região anatômica
não permita a infiltração de toda a dose, a quantidade restante, a menor possível, deve ser
aplicada por via intramuscular, na região glútea.
Eventos adversos
Manifestações locais – pode provocar reações de caráter benigno como dor, edema,
eritema e, mais raramente, abscesso.
Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local com o objetivo
de diminuir a dor, a tumefação e a vermelhidão.
Manifestações sistêmicas – leve estado febril. Em presença de gama-globulinemia ou
hipogamaglobulinemia pode ocorrer reação anafilática. Raramente, reação de hipersensibilidade.
Conduta: notificar e investigar.
Notas:
• A imunoglobulina humana anti-rábica (soro homólogo) está disponível nos Centros
de Referência para Imunobiológicos Especiais (Cries) do Programa de Imunizações
das secretarias de saúde dos estados e do Distrito Federal.
• Os eventos adversos ao soro anti-rábico humano (heterólogo ou homólogo) devem
ser investigados e notificados ao sistema de vigilância de eventos adversos do Programa Estadual de Imunizações da secretaria de saúde dos estados ou do Distrito
Federal.
Abandono de tratamento
O tratamento profilático anti-rábico humano deve ser garantido todos os dias, inclusive nos finais de semana e feriados, até a última dose prescrita (esquema completo).
É de responsabilidade do serviço de saúde que atende o paciente realizar busca ativa
imediata daqueles que não comparecem nas datas agendadas para a aplicação de cada dose
da vacina prescrita.
As condutas indicadas para pacientes que não comparecem na data agendada estão a
seguir descritas.
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Raiva
Paciente em uso da vacina de cultivo celular
• No esquema recomendado (dias 0, 3, 7, 14 e 28 ), as cinco doses devem ser administradas no período de 28 dias a partir do início do tratamento.
• Quando o paciente faltar para a segunda dose: aplicar no dia que comparecer e agendar a terceira dose com intervalo mínimo de 2 dias.
• Quando o paciente faltar para a terceira dose: aplicar no dia que comparecer e agendar a quarta dose com intervalo mínimo de 4 dias.
• Quando o paciente faltar para a quarta dose: aplicar no dia que comparecer e agendar a quinta dose para 14 dias após.
Bases gerais do tratamento
6
• A profilaxia contra a raiva deve ser iniciada o mais precocemente possível.
• Sempre que houver indicação, tratar o paciente em qualquer momento, independentemente do tempo transcorrido entre a exposição e o acesso à unidade de saúde.
• A história vacinal do animal agressor não constitui elemento suficiente para a dispensa da indicação do tratamento anti-rábico humano.
• Havendo interrupção do tratamento, completar as doses da vacina prescritas anteriormente e não iniciar nova série.
• Recomenda-se que o paciente evite esforços físicos excessivos e bebidas alcoólicas
durante e logo após o tratamento.
• Em caso de acidente por vacina anti-rábica de vírus vivo, o paciente deve receber
esquema completo (soro + vacina).
• Não se indica o uso de soro anti-rábico para os pacientes considerados imunizados
por tratamento anterior, exceto nos casos de paciente imunodeprimido ou em caso
de dúvidas sobre o tratamento anterior, quando deve-se indicar o soro.
• Nos casos em que só tardiamente se conhece a necessidade do uso do soro antirábico ou quando há qualquer impedimento para o seu uso, aplicar a dose de soro
recomendada antes da aplicação ou até a 3ª dose da vacina de cultivo celular. Após
esse prazo o soro não é mais necessário.
R
Sobre o ferimento
• Lavar imediatamente o ferimento com água corrente, sabão ou outro detergente.
A seguir, devem ser utilizados antissépticos que inativem o vírus da raiva (como
o polvidine, clorexidine e álcool-iodado). Essas substâncias deverão ser utilizadas
uma única vez, na primeira consulta. Posteriormente, lavar a região com solução
fisiológica.
• A mucosa ocular deve ser lavada com solução fisiológica ou água corrente.
• O contato indireto é aquele que ocorre por meio de objetos ou utensílios contaminados com secreções de animais suspeitos. Nestes casos, indica-se apenas lavar bem
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
625
Raiva
o local com água corrente e sabão.
• Em casos de lambedura na pele íntegra, por animal suspeito, recomenda-se lavar o
local com água e sabão.
• Não se recomenda a sutura dos ferimentos. Quando for absolutamente necessário,
aproximar as bordas com pontos isolados. Havendo necessidade de aproximar as bordas, o soro anti-rábico, se indicado, deverá ser infiltrado uma hora antes da sutura.
• Proceder à profilaxia do tétano segundo o esquema preconizado (caso não seja vacinado ou com esquema vacinal incompleto) e uso de antibióticos nos casos indicados, após avaliação médica.
• Havendo contaminação da mucosa, seguir o tratamento indicado para lambedura
na mucosa.
Sobre o animal
• O período de observação de 10 (dez) dias é restrito aos cães e gatos.
• Considera-se suspeito todo cão ou gato que apresentar mudança brusca de comportamento e/ou sinais e sintomas compatíveis com a raiva, tais como salivação
abundante, dificuldade para engolir, mudança nos hábitos alimentares e paralisia
das patas traseiras.
• Sempre que possível, o animal agressor, cão ou gato, deverá ser observado. Se durante o período de observação o animal morrer ou desenvolver sintomatologia compatível com raiva, amostras de seu sistema nervoso central (SNC) deverão ser enviadas
para o laboratório de diagnóstico. Se necessário, o animal deverá ser sacrificado após
o aparecimento de sintomas de paralisia. Cuidados deverão ser observados no manuseio do animal (EPIs), para evitar acidentes.
• A agressão por outros animais domésticos (bovinos, ovinos, caprinos, eqüídeos e
suínos) deverá ser avaliada e, se necessário, deverá ser indicado o tratamento profilático, lembrando que não se indica a observação desses animais com o objetivo
de definir a conduta para o ser humano. Se o animal morrer, sempre que possível
coletar amostra de tecido do SNC e enviar ao laboratório de diagnóstico.
• Está indicado tratamento, sistematicamente, para todos os casos de agressão por
animais silvestres, mesmo quando domiciliados e domesticados.
• Não é indicado tratamento nas agressões causadas pelos seguintes roedores e lagomorfos (de áreas urbanas ou de criação):
❯ ratazana-de-esgoto (Rattus norvegicus);
❯ rato-de-telhado (Rattus rattus);
❯ camundongo (Mus musculus);
❯ cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus);
❯ hamster (Mesocricetus auratus);
❯ coelho (Oryetolagus cuniculus).
• Nas agressões por morcegos, deve-se proceder a sorovacinação, independentemente
do tipo de morcego agressor, tempo decorrido e gravidade da lesão. Em caso de reexposição, seguir as orientações específicas para cada caso.
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Raiva
Importante
A imunofluorescência para raiva é um exame importante, de alta sensibilidade e especificidade. Quando o diagnóstico laboratorial do animal agressor for negativo pela
técnica de imunofluorescência, o tratamento do paciente, a critério médico, pode ser
suspenso aguardando-se o resultado da prova biológica. Isso não se aplica para eqüídeos (cavalo, burro, jumento), exceto nos casos em que os fragmentos encaminhados
para o diagnóstico desses animais tenham sido o tronco encefálico e a medula.
Medidas de controle para raiva animal
Aspectos clínicos da raiva animal
6
Raiva no cão – os animais mais jovens são mais susceptíveis à infecção, cujo período
de incubação varia de dez dias a dois meses, em média. A fase prodrômica dura, aproximadamente, 3 dias. O animal demonstra alterações sutis de comportamento, anorexia, esconde-se, parece desatento e, por vezes, nem atende ao próprio dono.
Nessa fase ocorre um ligeiro aumento de temperatura, dilatação de pupilas e reflexos
corneanos lentos. Há duas apresentações de raiva no cão:
• furiosa – angústia, inquietude, excitação, tendência à agressão (morde objetos, outros animais e o próprio dono), alterações do latido (latido rouco), dificuldade de
deglutição, sialorréia, tendência a fugir de casa, excitação das vias geniturinárias, irritação no local da agressão, incoordenação motora, crise convulsiva, paralisia, coma
e morte;
• muda ou paralítica – fase de excitação ausente, inaparente ou curta, busca de lugares escondidos ao abrigo da luz (fotofobia), sintomas predominantes paralíticos, que
se iniciam pelos músculos da cabeça e pescoço, paralisia dos membros posteriores,
estendendo-se por todo o corpo do animal, dificuldade de deglutição, sialorréia,
coma e morte. Deve-se considerar que os sinais e sintomas das diferentes apresentações não seguem, necessariamente, seqüências obrigatórias ou apresentam-se em
sua totalidade. O curso da doença dura em média dez dias e o animal pode estar
eliminando vírus na saliva desde o 5° dia, antes de apresentar os primeiros sintomas. Em conseqüência das características da doença, o animal raivoso é facilmente
atropelado em vias públicas, o que exige muito cuidado ao prestar socorro a um
animal;
• diagnóstico diferencial da raiva canina – cinomose, encefalites não especificadas,
infestação por helmintos (migração de larvas para o cérebro), intoxicação por estricnina, atropina, doença de Aujeszky, eclâmpsia, ingestão de corpos estranhos.
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R
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Raiva
Raiva no gato – geralmente, apresenta-se sob a forma furiosa, com sintomatologia
similar à do cão. A mudança de comportamento, muitas vezes, não é observada, uma
vez que os gatos são animais “semidomésticos”. Em conseqüência das próprias características dos felinos, o primeiro ataque é feito com as garras e depois com a mordida.
Devido ao hábito de se lamberem constantemente, as arranhaduras são sempre graves.
• diagnóstico diferencial da raiva felina – pode-se fazer o diagnóstico diferencial
com encefalites, intoxicação e traumatismo cranioencefálico.
Raiva em morcego – a patogenia da doença é pouco conhecida. O mais importante a considerar é o fato de que o morcego pode albergar o vírus rábico em sua saliva e ser
infectante antes de adoecer, por períodos maiores que os de outras espécies. Algumas
apresentações da doença em morcegos foram assim registradas:
• raiva furiosa típica, com paralisia e morte;
• raiva furiosa e morte sem paralisia;
• raiva paralítica típica e morte.
Obs.: Deve-se ressaltar que um morcego é considerado suspeito de estar infectado
com o vírus da raiva quando for encontrado em horário e locais não habituais.
Diagnóstico laboratorial dos diferentes animais
O diagnóstico laboratorial é essencial tanto para a eleição de estratégias e definição
de intervenção no paciente como para o conhecimento do risco da doença na região
de procedência do animal. Os materiais de eleição para exame são cérebro, cerebelo e
medula. Em se tratando de eqüídeos, enviar também o tronco encefálico e a medula.
Caso não seja possível realizar a coleta do material, pode-se enviar a cabeça ou o animal
inteiro, quando de pequeno porte. O material deverá ser coletado por profissional habilitado, de acordo com técnicas de biossegurança.
Acondicionamento, conservação e transporte – o material para diagnóstico deve
ser acondicionado em saco plástico duplo, vedado hermeticamente, identificado de forma clara e legível, não permitindo que a identificação se apague em contato com a água
ou gelo.
A amostra, devidamente embalada e identificada, deve ser colocada em caixa de
isopor, com gelo suficiente para que chegue bem conservada ao seu destino. A caixa
deve ser rotulada e bem fechada, não permitindo vazamentos que possam contaminar
quem a transporte.
O modo de conservação dependerá do tempo (estimado) decorrido entre a remessa ao laboratório e o processamento da amostra:
• até 24 horas – refrigerado;
• mais de 24 horas – congelado;
• na falta de condições adequadas de refrigeração, conservar em solução com glicerina a 50%.
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Raiva
A qualidade do resultado laboratorial dependerá do estado de conservação do material
enviado. Materiais autolisados interferem nas técnicas laboratoriais, muitas vezes tornando
impossível a emissão do laudo.
Juntamente com o material, deve ser enviada a ficha epidemiológica completa, com o
nome e endereço do solicitante, a espécie do animal e os possíveis contatos com humanos e
animais; se houve observação do animal doente e qual o período; se o animal foi sacrificado
ou morreu naturalmente, etc.
Quando enviados dois ou mais fragmentos de tecidos, especificar no pedido e identificar os mesmos.
Quadro 4. Espécie animal e fragmentos de eleição do SNC a ser coletado para diagnóstico
laboratorial da raiva
Espécie animal
Fragmentos do SNC a serem coletados (preferencialmente)
6
Humana
Cérebro, cerebelo e medula
Canina/felina
Corno de Amon e medula
Bovino
Cerebelo e medula
Eqüídeo (cavalo, jumento, burro)
Tronco encefálico e medula
Ovino, caprino e suíno
Cérebro, cerebelo e medula
Animal silvestre
Quando possível, enviar o animal inteiro, para identificação da espécie;
se não for possível, enviar o cérebro, cerebelo e medula
Observações:
Todo indivíduo que executa ou auxilia necropsias de animais com suspeita de raiva
deve se submeter ao esquema vacinal pré-exposição e ter seu soro dosado para anticorpos
anti-rábicos duas vezes ao ano, como forma de verificar a manutenção do título protetor.
Como a raiva acomete todas as espécies de mamíferos, recomenda-se que todo e qualquer animal suspeito de estar infectado com o vírus da raiva seja encaminhado para diagnóstico laboratorial.
Ressalte-se o crescente número de morcegos positivos para a raiva e os inúmeros acidentes que vêm causando aos humanos. Morcegos e outros animais silvestres pequenos devem ser encaminhados inteiros, refrigerados ou congelados, para a identificação da espécie
e orientação de ações de controle de foco em até 72 horas após a notificação, se possível.
Os procedimentos de biossegurança devem ser rigorosamente seguidos, tanto no trato
com os animais suspeitos quanto com os pacientes humanos.
R
Definição de caso suspeito e confirmado em cão e gato
Caso suspeito – todo cão ou gato que apresente sintomatologia compatível com raiva
e que possua história de agressão por outro animal suspeito ou raivoso. Todo cão ou gato
que apresente sintomatologia compatível com a raiva, mesmo sem antecedentes de contato
ou agressão conhecida por outro suspeito ou raivoso que resida ou provenha de áreas endêmicas.
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Raiva
Caso confirmado – todo cão ou gato submetido a exame laboratorial e cujo material
se revele positivo para raiva em laboratório de diagnóstico. Todo cão ou gato que tenha sido
clinicamente diagnosticado como raivoso, por médico veterinário, e tenha evoluído para
óbito, ainda que não se tenha enviado material para laboratório de diagnóstico.
Como proceder diante de 1 ou mais casos de raiva canina:
• notificar imediatamente o caso à vigilância epidemiológica municipal, centro de
controle de zoonoses (quando existir) e coordenação estadual do Programa de Profilaxia da Raiva das secretarias estaduais de saúde;
• se o animal estiver vivo, não matar; juntamente com a autoridade sanitária garantir
que seja observado com segurança e alimentação adequadas, para o acompanhamento
da evolução do quadro. Se o animal apresentar sintomatologia compatível com a raiva
e não houver possibilidades de observação em local seguro, recomenda-se o sacrifício
do mesmo, por profissional habilitado. Se o animal morrer, providenciar o envio do
encéfalo ao laboratório, devidamente conservado em gelo, jamais em formol.
Decisão/ação (agir até 72 horas após a notificação):
• investigar o caso;
• diagnosticar a situação;
• definir as intervenções.
Em caso de intervenção
Cabe ao proprietário – entregar para sacrifício todo animal que tenha sido agredido
por animal raivoso e contribuir para a execução do trabalho.
Cabe aos serviços de saúde – diante da recusa do proprietário, os profissionais de
saúde, legalmente baseados nos códigos sanitários (federal, estadual ou municipal), devem
retirar o animal do domicílio ou via pública; os animais sem vacinação prévia devem ser
sacrificados, podendo-se abrir exceção quando existir a segurança de que o animal agredido tenha sido vacinado e esteja dentro do período de imunidade previsto para esse imunobiológico (1 ano). Se não for realizado o sacrifício, o animal agredido deve ser mantido
confinado e em observação por pelo menos 6 meses. Encaminhar à unidade de saúde todos
os indivíduos que tenham sido agredidos ou tiveram contato com o animal. Prosseguir a
investigação epidemiológica, a quantificação de casos em animais e a caracterização da área
do foco, com vistas a:
• informar e envolver a comunidade para participação efetiva nas ações de controle;
• vacinar os animais susceptíveis, sob cadastramento. Essa vacinação dos susceptíveis
dentro da área de foco deve ser do tipo “casa a casa”, com o objetivo de imunizar
100% da população canina estimada, devendo ser realizada nas primeiras 72 horas
após a detecção do foco;
• apreender cães errantes;
• realizar em locais adequados a observação de animais (cães e gatos) agressores, por
um período de 10 dias;
• estimular e providenciar o envio de amostras para laboratório;
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Raiva
• proceder a revacinação, em prazo não inferior a 90 dias;
• delimitar o foco com base nos critérios estabelecidos pelo rastreamento da possível
fonte de infecção, barreiras naturais e organização do espaço urbano;
• estimular tanto a notificação negativa como a positiva.
Aspectos específicos da epidemiologia e controle da raiva animal
• Casos surgidos após 90 dias de intervenção caracterizam novos focos.
• A concomitância de casos dispersos em um município, considerando a baixa notificação, pode caracterizar uma epizootia.
• A persistência de casos animais, apesar da existência de intervenções, faz pensar na
falta de qualidade e eficácia das medidas sanitárias ou, ainda, de que se trata de um
problema crônico – endemia ou até mesmo, em uma exacerbação do comportamento da doença, epidemia.
• Sobretudo em áreas endêmicas impõe-se a necessidade da constituição de serviço
de apreensão rotineira de cães errantes. Calcula-se que se deva recolher anualmente
20% da população canina estimada aos canis públicos, onde devem permanecer por
prazo não superior a 72 horas – para serem resgatados por seus donos. Passado esse
prazo, serão doados às instituições de ensino biomédico ou submetidos à eutanásia.
O sucesso no controle da raiva canina depende de uma cobertura vacinal acima de
80% (desde que a estimativa canina seja confiável). A estratégia a ser adotada nas
campanhas de vacinação em massa pode ser do tipo casa a casa, postos fixos ou
mistos (casa a casa + postos fixos), a critério de cada município.
• O controle da raiva silvestre, sobretudo do morcego hematófago, exige uma intervenção específica. Em função da gravidade das agressões por morcegos, deve-se comunicar o caso imediatamente aos serviços de saúde e à agricultura, para o desencadeamento das ações de controle de competência de cada instituição, e reportar-se ao
Manual sobre morcegos em áreas urbanas e rurais: manejo e controle, do Ministério
da Saúde.
6
R
Ações de educação em saúde
Orientar o processo educativo no programa da raiva (urbana, rural e silvestre) tem
como ferramentas básicas a participação e a comunicação social, devendo ser necessariamente envolvidos os serviços interinstitucionais, intersetoriais e multidisciplinares (profissionais de saúde, agricultura, escolas, universidades, meio ambiente, Ongs, associações
de moradores, sindicatos rurais, proprietários de animais de estimação, proprietários de
grandes animais e a população em geral).
Estimular a posse responsável de animais.
Desmistificar a castração dos animais de estimação.
Adotar medidas de informação/comunicação que levem a população a reconhecer a
gravidade de qualquer tipo de exposição a um animal; a necessidade de atendimento imediato; as medidas auxiliares que devem ser adotadas às pessoas que foram expostas e/ou
agredidas; a identificar os sintomas de um animal suspeito.
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Raiva
Divulgar os serviços existentes, desmistificando simultaneamente o tratamento profilático anti-rábico humano e estimulando a responsabilidade do paciente com o cumprimento do esquema indicado, visando à diminuição do abandono e risco de ocorrência de
casos.
Não valorizar a proteção do cão errante.
Estimular a imunização anti-rábica animal.
Desenvolver ações educativas especificamente voltadas para o ensino fundamental.
Estratégias de prevenção
O tratamento profilático de pessoas agredidas previne a ocorrência de novos casos.
Assim, o tratamento adequado é de suma importância para a eliminação da raiva humana.
Lembrar que pessoas sob risco devem tomar a vacina para evitar a doença.
A vacinação periódica e rotineira de 80% dos cães (população real estimada) e gatos
pode quebrar o elo da cadeia epidemiológica, impedindo que o vírus alcance a população,
interrompendo, assim, o ciclo urbano da raiva.
A captura de animais e o envio de amostras ao laboratório ajudam no monitoramento
da circulação do vírus.
Já que dificilmente se consegue vacinar os cães errantes, fundamentais para a persistência da cadeia de transmissão, recomenda-se a eliminação de 20% da população canina
visando reduzir a circulação do vírus.
Com relação a morcegos, a ocorrência crescente de casos de raiva humana transmitida
pelos mesmos faz com que se conheça cada vez mais detalhadamente a raiva dos quirópteros (morcegos): seu comportamento, distribuição e maneiras de controle.
Estimular a pesquisa, juntamente com os órgãos ambientais, da raiva no ciclo silvestre
permitirá traçar o perfil epidemiológico e identificar a circulação viral.
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Rubéola
RUBÉOLA
CID 10: B06
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
É uma doença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade, acometendo principalmente crianças. Doença de curso benigno, sua importância
epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e malformações congênitas
como cardiopatias, catarata e surdez, denominada síndrome da rubéola congênita (SRC)
quando a infecção ocorre durante a gestação.
6
Agente etiológico
O agente infeccioso da rubéola é um vírus pertencente ao gênero Rubivirus, família
Togaviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Através de contato com as secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas. A infecção é
produzida por disseminação de gotículas ou contato direto com os pacientes. A transmissão indireta, mesmo pouco freqüente, ocorre mediante contato com objetos contaminados
com secreções nasofaringeanas, sangue e urina.
Período de incubação
R
Em geral, varia de 14 a 21 dias, durando, em média, 17 dias. A variação máxima observada é de 12 a 23 dias.
Período de transmissibilidade
Aproximadamente, de 5 a 7 dias antes do início do exantema até 5 a 7 dias após.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral. A imunidade ativa é adquirida através da infecção natural
ou por vacinação, permanecendo por quase toda a vida. Os filhos de mães imunes podem apresentar imunidade passiva e transitória durante 6 a 9 meses. Tem sido relatada a
ocorrência de reinfecção em pessoas previamente imunes através de vacinação ou infecção
natural, quando reexpostas ao vírus. Esta reinfecção é usualmente assintomática, detectável
apenas por métodos sorológicos.
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Rubéola
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
O quadro clínico é caracterizado por exantema máculo-papular e puntiforme difuso,
iniciando-se na face, couro cabeludo e pescoço, espalhando-se posteriormente para o tronco e membros. Além disso, apresenta febre baixa e linfadenopatia retroauricular, occipital
e cervical posterior, geralmente antecedendo ao exantema no período de 5 a 10 dias, podendo perdurar por algumas semanas. Formas inaparentes são freqüentes, principalmente
em crianças. Adolescentes e adultos podem apresentar um período prodrômico com febre
baixa, cefaléia, dores generalizadas (artralgias e mialgias), conjuntivite, coriza e tosse. A
leucopenia é comum e raramente ocorrem manifestações hemorrágicas. Apesar de raras,
complicações podem ocorrer com maior freqüência em adultos, destacando-se artrite ou artralgia, encefalites (1 para 5 mil casos) e manifestações hemorrágicas (1 para 3 mil casos).
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito com sarampo, escarlatina, dengue, exantema
súbito (crianças até 2 anos), eritema infeccioso, enteroviroses (coxsackie e echo) e, também,
com outras doenças que podem causar síndromes congênitas, como mononucleose infecciosa, toxoplasmose e infecção por citomegalovírus.
Diagnóstico laboratorial
É realizado mediante detecção de anticorpos específicos no soro (IgM e IgG) e isolamento viral (ver normas e procedimentos no Anexo 1).
Tratamento
Não há tratamento específico para a rubéola. Os sinais e sintomas apresentados devem
ser tratados de acordo com a sintomatologia e terapêutica adequada.
Aspectos epidemiológicos
A rubéola foi introduzida na lista de doenças de notificação compulsória no Brasil na
segunda metade da década de 90. Em 1997, ano em que o país enfrentou a última epidemia
de sarampo, foram notificados cerca de 30 mil casos de rubéola, sendo que no período
compreendido entre 1999 a 2001 ocorreram surtos desta doença em vários estados. Neste
período, observou-se aumento progressivo no número de casos suspeitos de SRC (de 200
para 600), o que reflete tanto o aumento da circulação do vírus (a taxa de incidência de
rubéola na população feminina, em 2001, chegou a 5/100 mil mulheres na faixa etária de
15 a 19 anos e de 6,3/100 mil mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos) como o incremento
de estratégias de vigilância para a detecção de casos. A vigilância epidemiológica dessas
doenças tem se mostrado sensível, oportuna e específica.
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Rubéola
A implementação do Plano de Erradicação do Sarampo no país, a partir de 1999, impulsionou a vigilância e o controle da rubéola. Em 2002, ocorreram 1.480 casos de rubéola
no Brasil, o que corresponde a um decréscimo de 95% quando comparados à incidência de
1997. As taxas de incidência no sexo feminino, em 2002, ficaram em 1/105 mulheres tanto
na faixa etária de 15 a 19 como de 20 a 29 anos. Em 2003, foram confirmados 561 casos de
rubéola entre os 16.036 casos suspeitos notificados, demonstrando a alta sensibilidade e
especificidade do sistema de vigilância.
Destaca-se a realização de uma campanha de vacinação em massa dirigida às mulheres
em idade fértil (MIF) durante 2001 e 2002, ao tempo em que completou-se a introdução
da vacina dupla ou tríplice viral no calendário básico de imunização, processo iniciado em
1992. O fortalecimento da vigilância do sarampo e da rubéola revelou a necessidade de
controle e prevenção da SRC.
Figura 1. Evolução da taxa de incidência de rubéola e estratégias de controle.
Brasil, 1992-2003
6
Incidência /100 mil hab.
25
Notificação
compulsória
20
MIF - RN
MIF - PR
15
MIF - 13 UFs
Implantação VTV 1 - 11 anos
10
11 UFs
5
0
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MS
Figura 2. Número de casos confirmados e taxa de incidência de rubéola
por grupos etários. Brasil, 2000-2003
4.000
R
25
3.600
3.200
20
2.800
2.400
15
2.000
1.600
10
1.200
5
800
400
0
< 1a
1-4
Casos 00
Incid 00
5-9
10 - 14
Casos 01
Incid 01
15 - 19
Casos 02
Incid 02
20 - 29
30 +
0
Casos 03
Incid 03
Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MS
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635
Rubéola
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Detectar a circulação do vírus em determinado tempo e área geográfica, identificar a
população sob risco para SRC nessas áreas e proteger a população susceptível.
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente que apresente febre e exantema máculo-papular, acompanhada de linfoadenopatia retroauricular, occipital e cervical, independente da idade e situação vacinal.
Confirmado
Laboratorial – quando a interpretação dos resultados dos exames sorológicos for positivo para rubéola.
Vínculo epidemiológico – quando o caso suspeito teve contato com um ou mais casos
de rubéola, confirmados por laboratório, e apresentou os primeiros sintomas da doença
entre 12 a 23 dias após a exposição ao(s) caso(s).
Clínico – quando há suspeita clínica de rubéola, mas as investigações epidemiológica
e laboratorial não foram realizadas ou concluídas. Como o diagnóstico de rubéola não pode
ser confirmado nem descartado com segurança, este caso representa uma falha do sistema
de vigilância epidemiológica.
Descartado
Laboratorial – quando o resultado do exame laboratorial:
• for negativo para IgM específica para rubéola;
• for positivo para outra doença;
• em duas amostras pareadas, não detectar soroconversão dos anticorpos.
Quando o resultado for IgM negativo em amostra tardia, o caso é descartado apenas
se não for gestante.
Vínculo epidemiológico – quando o caso tiver como fonte de infecção um ou mais
casos descartados pelo critério laboratorial ou quando, na localidade, estiver ocorrendo
outros casos, surtos ou epidemia de outra doença exantemática febril, confirmada por diagnóstico laboratorial.
Clínico – caso suspeito de rubéola em que não houve coleta de amostra para exame laboratorial, mas a avaliação clínica e epidemiológica detectou sinais e sintomas compatíveis
com outro diagnóstico diferente da rubéola.
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Rubéola
Critérios para o descarte de casos suspeitos
de rubéola com associação temporal à vacina
A avaliação clínica e epidemiológica indica uma associação temporal entre a data do
início dos sintomas e a data do recebimento da última dose da vacina com o componente
contra a rubéola, mesmo que não tenha sido realizada coleta de amostra. Os critérios para
descarte como associação temporal à vacina são os seguintes:
• febre com temperatura que pode chegar a 39ºC ou mais, com início entre o 5º e 12º
dias após a vacinação e duração média de um a dois dias, podendo chegar até cinco
dias;
• exantema, geralmente benigno, que dura de um a dois dias e que surge entre o 7º e
10º dias após a administração da vacina;
• cefaléia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadas
entre o 5º e 12º dias após a vacinação;
• linfadenopatias que se instalam entre 7 a 21 dias após a data de vacinação;
• resultado do exame laboratorial “reagente” ou “positivo para IgM” em amostra colhida no período de 8 a 56 dias após a data da última dose de vacina.
6
Notificação
Todos os casos suspeitos devem ser imediatamente notificados pelo nível local à secretaria municipal de saúde, seguindo o fluxo definido pelo nível estadual.
A ocorrência de um surto de rubéola deve ser notificado de imediato aos demais níveis
do sistema.
Caso suspeito de rubéola
Toda pessoa com febre e exantema maculopapular acompanhada de linfoadenopatia retroauricular, occipital e cervical, independente da idade e situação vacinal
Suspeitar de rubéola
Notificar a secretaria municipal de saúde
Investigar em até 48h
Coletar sangue para
sorologia no primeiro
contato com o paciente
R
Vacinação de bloqueio.
Vacinar os contatos
susceptíveis
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
A assistência ocorre em unidades básicas de saúde e, quando gestantes, em serviços de
pré-natal. A necessidade de hospitalização é muito rara.
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Rubéola
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos de forma adequada nas unidades básicas
de saúde, bem como se há orientação disponível sobre procedimentos frente a um caso de
rubéola, principalmente relacionados ao cuidado com as gestantes.
Proteção individual para evitar circulação viral
As crianças e adultos acometidos de rubéola devem ser afastados da escola, creche ou
local de trabalho durante o período de transmissibilidade (cinco a sete dias antes do início
do exantema e pelo menos cinco a sete dias depois).
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações constantes do Anexo 1.
Proteção da população
A principal medida de controle da rubéola é feita através da vacinação dos susceptíveis, que inclui: vacinação da rotina da rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação
e/ou campanhas de vacinação. Ressalte-se que a cada caso suspeito notificado a ação de
bloqueio vacinal deve ser desencadeada imediatamente. A faixa etária prioritária para a
realização do bloqueio vacinal é a de 6 meses a 39 anos de idade. A redução ou aumento da
idade para a realização do bloqueio vacinal deverá ser avaliada de acordo com a situação
epidemiológica local. Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e susceptíveis deve ser
realizada para um controle mais eficiente da doença.
As gestantes susceptíveis devem ser afastadas do contato com casos e comunicantes
durante o período de transmissibilidade e incubação da doença.
Se a gestante mantiver contato com um doente de rubéola deve ser avaliada sorologicamente, o mais precocemente possível, para posterior acompanhamento e orientação.
Ações de esclarecimento à população mediante visitas domiciliares, palestras nas comunidades e por meio de veículos de comunicação de massa devem ser implementadas. O
conteúdo dos esclarecimentos deve incluir conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da
doença, gravidade, situação de risco e imunização.
Investigação
Todo caso suspeito de rubéola deve ser investigado, objetivando coletar as informações necessárias para o correto diagnóstico final. Além disso, a possibilidade de detecção
de novos casos deve ser considerada e, nesse momento, devem ser adotadas medidas de
controle frente à ocorrência de um ou mais casos.
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Rubéola
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan, relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
Todo caso suspeito de rubéola deve ser investigado até 48 horas após seu conhecimento, com os seguintes objetivos:
• caracterizar clinicamente o caso para determinar sua classificação como suspeito.
Preencher a ficha de investigação epidemiológica de doenças exantemáticas febris
(sarampo/rubéola), nacionalmente padronizada pelo Sinan;
• coletar amostra de sangue para exame sorológico, a fim de confirmar o diagnóstico.
Desencadear as medidas de controle pertinentes;
• a gestante assintomática (contato/exposta a casos suspeitos ou confirmados de rubéola) com resultado IgM positivo, que foi notificada à vigilância epidemiológica, deverá ser acompanhada da mesma forma que as gestantes sintomáticas para rubéola.
6
Para identificação da área de transmissão
É importante registrar todas as informações referentes aos casos suspeitos, para identificar os grupos populacionais acometidos ou sob risco de doença, o período e a área de
transmissão (Quem? Quando? Onde?). Essas informações orientam a tomada de decisões
quanto às medidas de controle (por exemplo, quem, quando e onde vacinar?) e permitem
acompanhar adequadamente e divulgar a situação de cada município alvo de surto.
Um surto de rubéola caracteriza-se pela ocorrência de incidência acima do valor esperado, quando comparada aos anos anteriores. A ocorrência de um surto de rubéola é considerada situação de emergência epidemiológica pois, além de se tratar de doença infecciosa,
há uma real possibilidade de ocorrência da SRC.
Uma vez caracterizada a ocorrência de surto ou epidemia numa área determinada, não
é necessário coletar amostra de todos os casos que surgirem, exceto nas gestantes, desde
que a investigação comprove que estão relacionados entre si.
Em uma situação de surto, as mulheres expostas durante a gravidez devem ser acompanhadas durante a gestação e no pós-parto; e o recém-nascido, durante o primeiro ano de
vida.
Na ocorrência de um surto, a possível fonte de infecção dos casos deve ser exaustivamente investigada para identificar novas áreas de circulação viral. Quando a investigação
detecta que o caso de rubéola esteve viajando no período de 12 a 23 dias antes do início dos
sintomas, a equipe de vigilância do município de origem do caso deve informar à equipe
de vigilância do local onde o paciente esteve, a fim de que adote as medidas de investigação
e controle.
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Rubéola
Para determinação da extensão da área de transmissão
Deve ser feito um detalhado estudo para caracterizar o perfil da ocorrência e os fatores
que contribuíram para a circulação do vírus na população. Atenção especial deve ser dada à
detecção da rubéola em mulheres em idade fértil, visando identificar os futuros casos suspeitos de SRC. A obtenção de informações detalhadas e uniformes, para todos os casos, possibilita a comparação dos dados e a análise adequada da situação epidemiológica da doença.
Considerando que, com grande freqüência, se pode encontrar casos suspeitos de rubéola entre as pessoas que viajam, a identificação de um viajante nestas condições deve ser
notificada, de imediato, às autoridades sanitárias. Além disso, o viajante-paciente ou seu
acompanhante deve ser informado sobre a doença, complicações e transmissibilidade, bem
como sobre a necessidade de manter-se recolhido ao local de hospedagem (hotel ou outro)
até cinco dias após o aparecimento do exantema.
Coleta e remessa de material para exames
Todo caso suspeito de rubéola e toda gestante com história de contato com caso confirmado deverão ter uma amostra de sangue coletada para sorologia. Na ocorrência de surto,
deve-se coletar também espécimes clínicas para isolamento viral, de acordo com as normas
e procedimentos do Anexo 1.
É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar estas coletas.
Os resultados laboratoriais devem ser interpretados com base nas datas de coleta, de
aparecimento dos sintomas e da última dose de vacina.
Análise dos dados
A análise dos dados deve ser realizada rotineiramente, em todos os níveis do sistema
(local, municipal, estadual e federal), para identificar duplicidade de casos e informações
incorretas.
Deve-se buscar responder, pelo menos, às três questões: quando? (distribuição temporal), onde? (distribuição geográfica), e quem? (distribuição segundo atributos pessoais). O
cálculo do coeficiente de incidência é fundamental, principalmente para realizar comparações com períodos anteriores (análise de tendência).
Essas informações, juntamente com a cobertura vacinal, permitem a avaliação das estratégias de vacinação adotadas e orientam novas medidas, como a intensificação da vacinação em locais de baixa cobertura.
Encerramento de casos
Após análise das fichas epidemiológicas, os casos deverão ser encerrados em até 30
dias e digitados no Sinan.
Relatório final
É realizado somente em situações de surto, onde deverão estar relatadas as ações realizadas para o controle do surto.
640
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Rubéola
Roteiro de investigação epidemiológica da rubéola
Notificação de caso suspeito
Investigação
Coletar dados
clínicos e
epidemiológicos
Coletar material
para sorologia
Realizar medidas
de controle
Identificar novos
casos suspeitos
Enviar ao
laboratório
Bloqueio
vacinal
Identificar
ocorrência de surtos
Laboratório informa
o resultado à secretaria estadual de saúde/
secretaria municipal
de saúde
Operação limpeza
Realizar
educação em saúde
6
Identificar área
de transmissão
Avaliar a cobertura
vacinal da área
Secretarias municipais
e estaduais de saúde
encerram o caso,
conforme o algoritmo
(Anexos 2 e 3)
Instrumentos disponíveis para controle
R
Imunização
Recomendações gerais para a vacinação
A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência da rubéola na população. O risco
da doença para indivíduos susceptíveis permanece em função da circulação do vírus entre
a população masculina não vacinada em campanhas ou bloqueios, e porque o vírus circula
em várias regiões do mundo. É necessário, portanto, manter um alto nível de imunidade
na população por meio de coberturas vacinais elevadas, iguais ou superiores a 95%, o que
reduz a possibilidade da ocorrência da rubéola em coortes vacinadas.
Vacinação na rotina
É a atividade realizada de forma contínua na rede de serviços de saúde, em todo o
território nacional.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
641
Rubéola
No Brasil, atualmente, a vacinação de rotina contra a rubéola é realizada aos 12 meses
de vida, utilizando-se a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e cachumba), com um reforço entre os 4-6 anos. Chama-se a atenção para o fato de que quando a vacinação é iniciada
e as coberturas não são satisfatórias (<95%) pode haver deslocamento da faixa etária dos
casos, com elevados níveis de incidência em adultos e conseqüente aumento do risco da
ocorrência de casos de SRC.
A vacina tríplice viral também deverá ser aplicada em adolescentes entre 11 e 19 anos,
que não tiverem a comprovação de duas doses anteriores.
Para a prevenção da SRC faz-se necessária a vacinação de 100% das mulheres em idade
fértil. Desse modo, todas as mulheres na faixa de 12 a 39 ano,s ainda não vacinadas, deverão
receber uma dose da tríplice dupla viral (sarampo/rubéola) ou nas distintas oportunidades
de contato com os serviços de saúde (na rede básica de saúde, maternidades, pós-parto,
pós-aborto).
Estratégias de vacinação frente a casos suspeitos
Diante de uma pessoa com sinais e sintomas, é realizado o bloqueio vacinal para os
contatos sem esperar o resultado da sorologia.
Na vacinação de bloqueio, utilizar a vacina tríplice viral para a faixa etária de 6 meses a
39 anos, de forma seletiva para homens e mulheres. A dose de vacina tríplice viral aplicada
em menores de 1 ano não será considerada dose válida. Neste caso, aos 12 meses a criança
deverá ser revacinada com a vacina tríplice viral.
Não há garantia de que a vacinação dos comunicantes, após a exposição ao doente,
proteja contra a infecção. No entanto, é importante aproveitar a oportunidade da detecção
de um caso para vacinar os contatos susceptíveis, principalmente as mulheres em idade
fértil.
Medidas de controle para um surto de rubéola
Após a identificação de um surto de rubéola, atenção especial deve ser dada à detecção
da doença nas mulheres em idade fértil, para identificar casos potenciais de SRC. Quando
as medidas de controle não são efetivas, o surto de rubéola pode ser prolongado pela incapacidade de conter a propagação da doença.
A “operação limpeza”, que é a estratégia de vacinação a ser usada, terá maior ou menor
abrangência de acordo com:
• a situação epidemiológica;
• a cobertura vacinal da área;
• a estimativa do número de susceptíveis que possam residir na localidade.
A cobertura vacinal da área deve ser cuidadosamente analisada com o objetivo de
identificar as micro localidades que concentram as pessoas susceptíveis.
Na “operação limpeza”, a vacinação é feita casa a casa (incluindo os estabelecimentos
coletivos e as populações institucionalizadas), tanto na zona urbana quanto na rural, com
prioridade para as áreas de risco.
642
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Rubéola
Todos os profissionais de saúde, em especial os obstetras, neonatologistas e pediatras,
devem receber informações sistemáticas sobre:
• ocorrência de surtos;
• implicações do surto em mulheres grávidas;
• definição de casos suspeitos e condutas pertinentes a cada um;
• importância da notificação imediata frente à suspeita de rubéola.
Quando da ocorrência de um surto, a vigilância da SRC deve continuar por nove meses, no mínimo, desde a ocorrência do último caso notificado de rubéola.
Ações de educação em saúde
Esclarecer a população, principalmente da área de educação, sobre a doença e a importância de vacinação das crianças e mulheres, com vistas à prevenção da SRC.
6
Estratégias complementares de prevenção
Intensificação da vacinação extramuros
A intensificação da vacinação compreende, de maneira geral, o desenvolvimento de
atividades fora dos serviços de saúde (extramuros). O principal objetivo é eliminar bolsões
de susceptíveis, devendo ser realizada sempre que os índices de vacinação estiverem abaixo
de 95%. Com isso, assegura-se que nenhum município tenha cobertura vacinal contra o
sarampo/rubéola abaixo da meta.
A intensificação das atividades consiste, sobretudo, na realização de vacinação casa
a casa (incluindo residências e instituições em geral, como, por exemplo, escolas, creches,
orfanatos, etc.), alcançando crianças de 12 meses até menores de 12 anos de idade que não
foram vacinadas na rotina e nas campanhas de multivacinação e de seguimento, especialmente as que vivem nas áreas urbanas e rurais de difícil acesso e que, geralmente, não são
trabalhadas pelos serviços de saúde.
R
Campanhas de multivacinação
As campanhas de multivacinação (que acontecem duas vezes ao ano) são excelentes
oportunidades para aumentar as coberturas vacinais. No entanto, quando a meta é controlar a rubéola e eliminar a SRC, não se devem esperar as campanhas para vacinar os
susceptíveis.
Por ocasião das campanhas de multivacinação são vacinadas as crianças de 12 meses
até menores de 12 anos de idade que não foram atingidas pelas atividades de rotina e campanhas de seguimento.
Vacinação de grupos de risco
Mesmo considerando que as crianças são prioridade das estratégias voltadas à erradicação do sarampo e as mulheres em idade fértil para o controle da rubéola e eliminação
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
643
Rubéola
da SRC, um percentual da população permanece susceptível à doença, pois escapou tanto
da infecção natural como da vacinação. São os chamados grupos de risco, entre os quais
destacam-se:
• profissionais e estudantes da área de saúde e educação;
• populações institucionalizadas de quartéis, prisões, centros de reclusão de menores,
albergues, alojamentos, universidades, etc.;
• populações que migram de localidades onde as coberturas vacinais, anteriores e/ou
atuais, são baixas;
• adolescentes e adultos jovens que viajam para países onde o sarampo é endêmico;
• vendedores ambulantes, profissionais do sexo e trabalhadores dos setores hoteleiro e
de turismo, bem como de portos, feiras, aeroportos e rodoviárias;
Ressalte-se a importância de disponibilizar a vacina às pessoas que chegam ao país,
oriundas de locais com ocorrência de rubéola e sarampo. Para prevenir a ocorrência de
surtos de rubéola e sarampo entre os adolescentes e adultos jovens que compõem os grupos
de risco, faz-se necessário um esforço adicional para vaciná-los.
644
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Rubéola
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
Fazer o diagnóstico diferencial com base na clínica entre a rubéola e outras doenças
exantemáticas é bastante difícil, daí a importância do exame laboratorial para a confirmação do diagnóstico.
O diagnóstico laboratorial é realizado por meio do isolamento do vírus ou por métodos sorológicos para detecção de anticorpos específicos, sendo necessário assegurar a coleta
da amostra de sangue logo no primeiro atendimento. No caso da gestante que teve contato
com pessoa doente de rubéola, a primeira amostra também deve ser coletada no momento
do primeiro atendimento.
Os anticorpos específicos para o vírus da rubéola aparecem logo após o início da doença. A presença de IgM positivo significa que houve infecção recente, mas geralmente não
são mais detectados após 4 a 6 semanas do início do exantema, quando predominam os
anticorpos IgG, que usualmente persistem por toda a vida.
6
1. Tipos de exames
Ensaio imunoenzimático (EIE) – na maioria dos casos, o ensaio imunoenzimático
de captura para IgM anti-rubéola permite o diagnóstico através da realização do exame de
uma amostra, coletada durante o comparecimento ao serviço de saúde.
Inibição da hemaglutinação (HI) – mais utilizada por ser de baixo custo e simples
execução, apresentando também boa sensibilidade e especificidade. Devem ser coletadas
duas amostras: a primeira, durante o período exantemático, quando do comparecimento
do doente ao serviço de saúde; a segunda, 14 dias a partir da data da coleta da primeira
amostra.
Outros métodos que podem ser utilizados – EIE para detecção de IgG, aglutinação
passiva do látex, hemólise radial e detecção de IgM por hemoabsorção.
R
Procedimentos
Sorologia
Coleta – de acordo com o Plano de Controle da Rubéola deverá ser coletada uma
amostra de sangue para realização de exame sorológico, visando-se a detecção de anticorpos específicos, na primeira visita do paciente ao serviço de saúde.
As amostras deverão ser coletadas nos primeiros 28 dias após o início do exantema.
Aquelas coletadas após o 28o dia são consideradas tardias mas mesmo assim devem ser
aproveitadas e encaminhadas ao laboratório para realização da pesquisa de IgM. É importante ressaltar que resultados não-reagentes para IgM não descartam a possibilidade de
infecção recente pelo vírus da rubéola.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
645
Rubéola
Material – o material a ser colhido é o sangue venoso sem anticoagulante, na quantidade de 5 a 10ml. Quando se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar o
volume estabelecido, obter no mínimo 3ml.
Conservação e envio ao Lacen – após a separação do soro, conservar o tubo com o
soro sob refrigeração na temperatura de +4ºC a +8ºC, por no máximo 48 horas.
Enviar ao laboratório no prazo de dois dias, no máximo, colocando o tubo em embalagem térmica ou caixa de isopor com gelo ou gelox.
Caso o soro não possa ser encaminhado ao laboratório no prazo de dois dias (48h),
conservá-lo no freezer em uma temperatura de -20ºC até o momento do transporte para o
laboratório de referência. O prazo máximo para chegar ao Lacen é de até 5 dias.
Interpretação do resultado
Rubéola pós-natal (exceto gestantes)
Coleta da amostra
Até 28 dias
Após 28 dias
Resultado
Classificação do caso
IgM (+)
Confirmar o caso
IgM (-)
Descartar o caso
IgM (+)
Confirmar o caso
IgM (-)
Embora não se possa afirmar que não houve
infecção recente, des cartar o caso
Rubéola em gestante sintomática
Coleta da amostra
Do 1º ao 4º dia
Resultado
IgM (+)
Confirmar o caso
IgM (-)
Realizar pesquisa de IgG
IgG (+)
IgG (-)
Do 5º ao 28º dia
IgM (+)
IgM (-)
IgM (+)
Após 28 dias
646
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Classificação do caso
Descartar o caso
Colher 2ª amostra após 7 a 21 dias da 1ª
Confirmar o caso – acompanhar
Descartar o caso
Confirmar o caso
IgM (-)
Não se pode afirmar que não houve infecção, realizar
IgG
IgG (+)
Confirmar o caso
IgG (-)
Descartar o caso
Rubéola
Gestante assintomática por contato de rubéola
Coleta da amostra
Resultado
IgM (+)
Até 27 dias
Classificação do caso
Acompanhar – recém-nascido suspeito de SRC
IgM (-)
Realizar pesquisa de IgG
IgG (+)
Gestante não-susceptível
IgG (-)
Colher 2ª amostra entre a 4ª e 6ª semanas (29 a 42 dias) após o contato
2ª amostra
Entre 28 e 42 dias
Após 42 dias
IgM (+)
Acompanhar – recém-nascido suspeito de SRC
IgM (-)
Vacinar após o parto
IgM (+)
Acompanhar – recém-nascido suspeito de SRC
IgM (-)
Realizar pesquisa de IgG
IgM (+)
Acompanhar – recém-nascido suspeito de SRC
IgM (-)
Realizar pesquisa de IgG
IgG (+)
IgG (-)
6
Não se pode afirmar que houve infecção
Acompanhar – recém-nascido suspeito de SRC
Vacinar após o parto
Isolamento viral – o vírus da rubéola pode ser isolado a partir das secreções nasofaríngeas.
Este procedimento é recomendado na ocorrência de surtos ou epidemias já confirmados por laboratório. Coletar de 5 a 10 espécimes por surto, numa determinada área geográfica, não necessitando realizar a coleta de todos os casos suspeitos de rubéola.
Todo espécime clínico coletado deve ser encaminhado ao laboratório central do estado
(Lacen), para o processamento inicial da amostra. Cabe a este Lacen o encaminhamento ao
Centro de Referência Nacional para Sarampo/Rubéola, na Fiocruz/RJ.
Quanto mais perto do início do exantema a amostra for coletada e quanto mais rápido
chegar ao laboratório de referência nacional (Fiocruz/RJ), maiores serão as possibilidades
de isolamento do vírus, que tem por objetivos:
• identificar o padrão genético do vírus circulante no país;
• diferenciar, dos casos importados, os casos autóctones de rubéola;
• diferenciar o vírus selvagem do vírus vacinal.
R
Critérios para a coleta de espécimes para isolamento – a coleta dos espécimes clínicos para isolamento viral deve ser priorizada nas seguintes situações:
• em todos os municípios com ocorrência de surtos de rubéola, independente da distância do laboratório central estadual;
• obedecer ao critério de 5 a 10 casos suspeitos por área geográfica, em situações de
surtos ou epidemias.
Período para coleta dos espécimes clínicos – as amostras dos espécimes clínicos, ou
seja, de secreções nasofaríngeas, devem ser coletadas até o 5° dia a partir do aparecimento
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
647
Rubéola
do exantema (preferencialmente, nos primeiros três dias; em casos esporádicos, para que
não se perca a oportunidade de recolher amostras clínicas para o isolamento viral, o período pode ser estendido em até 7 dias após o início do exantema).
Quantidade, coleta, encaminhamento e processamento de secreção nasofaríngea
(SNF) – deve ser coletado o máximo possível de SNF, por meio da técnica de swab ou aspiração.
A SNF, o melhor material para o isolamento do vírus da rubéola, pode ser coletada:
• Com uma sonda nasal conectada a uma seringa, instilar no nariz do paciente de 3 a
5ml de solução salina:
❯ aspirar a maior quantidade possível de material;
❯ colocar em tubo contendo meio DMEM específico fornecido pelo laboratório.
❯ caso não se disponha do meio, colocar o material aspirado com a salina em um
tubo.
• Coletar com uma sonda acoplada a um equipo de soro, com ajuda de um vácuo (hospitais têm vácuo na parede). Este material pode permanecer no próprio equipo.
• Swabs:
❯ Coletar 3 amostras de swab, uma amostra de cada narina e uma da garganta, com
o uso de fricção para obter as células de mucosa, uma vez que o vírus está estreitamente associado às células. Colocar os 3 swabs em um tubo contendo 3ml de
meio (Earle, Dulbecco, Salina, etc., fornecido pelo laboratório).
❯ A SNF e os swabs no tubo com meio podem ser conservados em geladeira por 24
a 48 horas. Não devem ser congelados.
❯ Enviar em gelo reciclável ao Lacen.
❯ Para conservar e transportar a SNF devem ser adotados os seguintes cuidados:
no Lacen, colocar a SNF em freezer a -70ºC;
❯ Encaminhar a amostra para o Centro de Referência Nacional para Sarampo/Rubéola, na Fiocruz/RJ, em isopor com gelo seco.
648
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Rubéola
Anexo 2
Diagnóstico laboratorial – Rubéola pós-natal
Amostra coletada
entre o 1º e 28º
dias após o início
do exantema
IgM negativa
Caso descartado por laboratório
IgM positiva
Caso confirmado por laboratório
IgM negativa
Caso descartado por amostras
tardias com IgM negativa
IgM positiva
Caso confirmado por laboratório
Amostra coletada
após o 28º dia do
início do exantema
6
R
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
649
Rubéola
Anexo 3
Diagnóstico laboratorial – Rubéola em gestante sintomática
Amostra
coletada
entre o 1º
e o 4º dias
após o início
do exantema
Amostra
coletada
entre o 5º
e o 28º dias
após o início
do exantema
Amostra
coletada
após o
28º dia do
exantema
IgM negativa
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
IgG positiva
Caso
descartado
IgG negativa
Colher 2ª
amostra
Pesquisar IgG
IgM positiva
Caso
confirmado
IgM negativa
Caso
descartado
IgM positiva
Caso
confirmado
IgM negativa
650
Caso
confirmado
IgM positiva
IgG positiva
Caso confirmado
por amostra tardia
com IgM negativa
IgG negativa
Caso
descartado
Pesquisar IgG
Rubéola
Diagnóstico laboratorial – Gestante assintomática que
teve contato com caso confirmado ou suspeito de rubéola
1a amostra
Até 28 dias
após a exposição
Entre 29 e 42 dias
após a exposição
IgM negativa
IgM positiva
Após o 42o dia
pós-exposição
IgM negativa
IgM positiva
6
Pesquisar IgG
Pesquisar IgG
IgG positiva
IgG positiva
IgG negativa
IgG negativa**
Coletar amostra de
28 a 42 dias após exposição
para pesquisa de IgM
IgM negativa**
IgM positiva
R
Caso
confirmado*
Caso
descartado
*Se a gestante assintomática é classificada como caso confirmado, fazer a investigação do recém-nascido que
é considerado caso suspeito de síndrome da rubéola congênita.
**Se a gestante apresentar IgG negativo, sem outra evidência de infecção (IgM positiva na 2a amostra), será
necessária a vacinação pós-parto.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
651
Sarampo
SARAMPO
CID 10: B05
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmissível e
extremamente contagiosa. A viremia causada pela infecção provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas, inclusive pelas
perdas consideráveis de eletrólitos e proteínas, gerando o quadro espoliante característico
da infecção. Além disso, as complicações infecciosas contribuem para a gravidade do sarampo, particularmente em crianças desnutridas e menores de 1 ano.
Agente etiológico
O vírus do sarampo pertence ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae.
Reservatório e fonte de infecção
O homem é o único hospedeiro natural conhecido.
Modo de transmissão
É transmitido diretamente de pessoa a pessoa, através das secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. Essa forma de transmissão é responsável pela
elevada contagiosidade da doença. Tem sido também descrito o contágio por dispersão
de gotículas com partículas virais no ar, em ambientes fechados como escolas, creches e
clínicas.
Período de transmissibilidade
Ocorre entre 4 a 6 dias antes do aparecimento do exantema, e até 4 dias após. O período de maior transmissibilidade é o de 2 dias antes e 2 dias após o início do exantema. O
vírus vacinal não é transmissível.
Período de incubação
Geralmente, de 10 dias (variando de 7 a 18 dias), desde a data da exposição até o aparecimento da febre, e cerca de 14 dias até o início do exantema.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade ao vírus do sarampo é geral. Os lactentes cujas mães já tiveram sarampo ou foram vacinadas possuem, temporariamente, anticorpos transmitidos por via placentária, conferindo imunidade provisória à doença, geralmente até os 9 meses de idade, o
652
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
que interfere na resposta à vacina se administrada neste período. Chama a atenção o fato de
que a queda dos níveis desses anticorpos já se faz de maneira acentuada aos 6 meses de vida,
o que, em situação de bloqueio vacinal, justifica a vacinação de crianças a partir desta idade.
A imunidade ativa é adquirida por meio da infecção natural ou pela vacinação. Após a
infecção natural, a imunidade é duradoura. A imunidade “de grupo” é obtida com 95% de
cobertura vacinal, no mínimo.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Caracteriza-se por febre alta, acima de 38ºC, exantema maculopapular generalizado,
tosse, coriza, conjuntivite e manchas de Koplik (pequenos pontos brancos que aparecem na
mucosa bucal, antecedendo ao exantema).
6
Período de infecção – dura cerca de sete dias, iniciando com o período prodrômico,
onde surge febre acompanhada de tosse produtiva, coriza, conjuntivite e fotofobia. Do 2° ao
4° dia desse período surge o exantema, quando acentuam-se os sintomas iniciais: o paciente
fica prostrado e aparecem as lesões características do sarampo, como exantema cutâneo
máculo-papular de coloração vermelha, iniciando na região retroauricular.
Remissão – caracteriza-se pela diminuição dos sintomas, principalmente pelo declínio da febre. O exantema torna-se escurecido e, em alguns casos, surge descamação fina,
lembrando farinha, daí o nome de furfurácea.
Período toxêmico – o sarampo é uma doença que compromete a resistência do hospedeiro, facilitando a ocorrência de superinfecção viral ou bacteriana. Por isso são freqüentes
as complicações, principalmente nas crianças até dois anos de idade, em especial as desnutridas, e adultos jovens.
A ocorrência de febre por mais de três dias após o aparecimento do exantema é um
sinal de alerta, indicando o aparecimento de complicações. As mais comuns são:
• infecções respiratórias;
• desnutrição;
• doenças diarréicas;
• doenças neurológicas.
S
Geralmente, as complicações sistêmicas se instalam durante o período exantemático,
embora a encefalite possa aparecer após o 20º dia.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial do sarampo deve ser realizado com as doenças exantemáticas febris agudas. Dentre as quais destacam-se: rubéola, eritema infeccioso (parvovírus
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
653
Sarampo
B19), exantema súbito (roséola infantum – herpes vírus 6), dengue, enteroviroses e ricketioses.
Rubéola – doença de natureza viral que, em geral, apresenta-se com pródromos somente em crianças. O exantema é róseo, discreto e, excepcionalmente, confluente, com
máxima intensidade no segundo dia, desaparecendo até o sexto dia, sem descamação. Há
presença de linfadenopatia, principalmente retroauricular e occipital.
Eritema infeccioso (parvovírus B19) – caracterizado por exantema, febre, adenopatia, artralgia e dores musculares, acometendo principalmente as crianças de 4 a 14 anos
de idade, sendo moderadamente contagiosa. O exantema surge, em geral, sete dias após os
primeiros sinais e sintomas, caracterizando-se por três estágios: estágio 1: face eritematosa,
conhecida como “aparência de bochecha esbofeteada”; estágio 2: surge um a quatro dias
após o estágio 1, caracterizado como exantema maculopapular, distribuído simetricamente
no tronco e nas extremidades, podendo ser acompanhado de prurido; estágio 3: mudança
de intensidade no rash, com duração de uma ou mais semanas, exarcebado por exposição
ao sol ou fatores emocionais.
Exantema súbito (roséola infantum) – doença de natureza viral provocada pelo herpes vírus 6, acometendo principalmente os menores de 5 anos. O paciente apresenta 3 a 4
dias de febre alta e irritabilidade, podendo ocorrer convulsões. O exantema é semelhante
ao da rubéola e pode durar apenas horas. Inicia-se, caracteristicamente, no tronco, após o
desaparecimento da febre, e não há descamação.
Dengue – caracteriza-se por início súbito, com febre, cefaléia intensa, mialgias, artralgias, dor retroorbital e dor abdominal difusa. Alguns casos podem cursar também com
erupção maculopapular generalizada, que aparece freqüentemente com o declínio da febre.
É também uma doença de natureza viral.
Enteroviroses (coxsackioses e echoviroses) e ricketioses – para o diagnóstico diferencial das enteroviroses considerar, no caso de infecção pelo vírus echo, que o período
prodômico dura de três a quatro dias com a ocorrência de febre. Não existem pródromos
quando se trata de vírus coxsackie.
O exantema pode manifestar-se de várias formas, predominando o maculopapular
discreto. São mais freqüentes em crianças de baixa idade, na maioria dos casos acometendo
a região palmo-plantar e não provocando descamação.
Diagnóstico laboratorial
É realizado mediante detecção de anticorpos IgM no sangue na fase aguda da doença,
desde os primeiros dias até quatro semanas após o aparecimento do exantema. Os anticorpos específicos da classe IgG podem eventualmente aparecer na fase aguda da doença e
geralmente são detectados durante muitos anos após a infecção.
Técnicas de diagnóstico laboratorial
Para detecção de anticorpos podem ser utilizadas as seguintes técnicas:
• ensaio imunoenzimático (EIE/Elisa) para dosagem de IgM e IgG;
654
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
• inibição de hemaglutinação (HI) para dosagem de anticorpos totais;
• imunofluorescência para dosagem de IgM e IgG;
• neutralização em placas.
Todos os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85% a 98%.
No Brasil, a rede laboratorial de saúde pública de referência para o sarampo utiliza a
técnica de Elisa para a detecção de IgM e IgG.
Número de amostras
A amostra de sangue do caso suspeito deve ser colhida, sempre que possível, no primeiro atendimento ao paciente.
São consideradas amostras oportunas (S1) as coletadas entre o 1º e o 28º dias do aparecimento do exantema. Mesmo que a coleta seja tardia (após o 28º dia) ainda assim deve
ser enviada ao laboratório.
Os resultados IgM positivo ou indeterminado, independente da suspeita clínica inicial,
devem ser comunicados imediatamente à vigilância epidemiológica estadual, para a realização da reinvestigação e coleta da segunda amostra de sangue.
A realização desta segunda coleta (S2) é obrigatória e imprescindível para a classificação
final desses casos e deverá ser realizada entre 2 a 3 semanas após a data da primeira coleta.
Os procedimentos laboratoriais estão descritos no Anexo 1.
6
Isolamento viral
O vírus do sarampo pode ser isolado da urina, das secreções nasofaríngeas, do sangue,
do liquor cérebro-espinhal ou de tecidos do corpo.
Este isolamento objetiva identificar o genoma do vírus circulante no país, o que permite
diferenciar os casos autóctones dos casos importados e o vírus selvagem do vírus vacinal.
Período para coleta
As amostras dos espécimes clínicos (urina, secreções nasofaríngeas ou sangue total)
devem ser coletadas até o 5º dia a partir do início do exantema, preferencialmente nos 3
primeiros dias. Em casos esporádicos, para não se perder a oportunidade de colher amostra
de urina para o isolamento viral, o período pode ser estendido em até 7 dias após a data de
início do exantema.
S
Critérios para a coleta de espécimes para isolamento
• Em presença de surto de sarampo, independente da distância do laboratório central.
• Casos importados, independente do país de origem.
• Em todos os casos com resultado laboratorial IgM positivo ou indeterminado para
o sarampo, independente da suspeita clínica inicial, observando-se o período de
coleta adequado.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
655
Sarampo
Tratamento
Não existe tratamento específico para a infecção por sarampo. O tratamento profilático com antibiótico é contra-indicado.
É recomendável a administração da vitamina A em crianças acometidas pela doença, a
fim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais. A OMS recomenda administrar a vitamina
A para todas as crianças, no mesmo dia do diagnóstico do sarampo, nas seguintes dosagens:
Menores de seis meses de idade – 50 mil UI (unidades internacionais):
• uma dose, em aerossol, no dia do diagnóstico;
• outra dose no dia seguinte.
Entre 6 e 12 meses de idade – 100 mil UI:
• uma dose, em aerossol, no dia do diagnóstico;
• outra dose no dia seguinte.
Maiores de 12 meses de idade – 200 mil UI:
• uma dose, em aerossol ou cápsula, no dia do diagnóstico;
• outra dose no dia seguinte.
Para os casos não complicados, manter a hidratação, o suporte nutricional e diminuir
a hipertermia. Muitas crianças necessitam de quatro a oito semanas para recuperar o estado
nutricional que apresentavam antes da doença.
Complicações como diarréia, pneumonia e otite média devem ser tratadas de acordo
com normas e procedimentos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Aspectos epidemiológicos
O sarampo é uma das principais causas de morbimortalidade entre menores de cinco
anos, sobretudo os desnutridos e os que vivem nos países de menor desenvolvimento econômico.
É uma doença de distribuição universal que apresenta variação sazonal. Nos climas
temperados, observa-se aumento da incidência no período compreendido entre o final do
inverno e o início da primavera; nos climas tropicais, a transmissão parece aumentar depois
da estação chuvosa. O comportamento endêmico-epidêmico do sarampo varia de um local
para outro e depende basicamente da relação entre o grau de imunidade e a susceptibilidade
da população, bem como da circulação do vírus na área.
Nos locais onde as coberturas vacinais não são homogêneas e estão abaixo de 95%, a
doença tende a comportar-se de forma endêmica, com a ocorrência de epidemias a cada
dois ou três anos, aproximadamente. Na zona rural, a doença apresenta-se com intervalos
cíclicos mais longos.
O sarampo afeta igualmente ambos os sexos. Sua incidência, evolução clínica e letalidade são influenciadas pelas condições socioeconômicas e estado nutricional e imunitário
do doente. Elevadas densidades demográficas e condições que favorecem a aglomeração em
lugares públicos e em habitações de tamanho inadequado para o grupo familiar são fatores
656
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
que modulam o processo de transmissão da doença em situações de circulação viral e existência de grupos de susceptíveis.
Atualmente, nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, a
incidência da doença é reduzida, ocorrendo em períodos de cinco a sete anos. No entanto, quando os susceptíveis vão se acumulando e chegam a um quantitativo suficiente para
sustentar uma transmissão ampla, podem ocorrer surtos explosivos que também afetam,
escolares, adolescentes e adultos jovens.
No Brasil, o sarampo é doença de notificação compulsória desde 1968. Até 1991, o
país enfrentou nove epidemias, uma a cada dois anos, em média. O maior número de casos
notificados foi registrado em 1986 (129.942), representando um coeficiente de incidência
de 97,7 por 100 mil habitantes (Figura 1). Até o início da década de 90, a faixa etária mais
atingida foi a de menores de 15 anos.
Até o final dos anos 70 esta virose era uma das principais causas de óbito dentre as
doenças infectocontagiosas, sobretudo em menores de cinco anos, em decorrência de complicações, especialmente a pneumonia. Na década de 80, ocorreu um declínio gradativo no
registro de óbitos por esta doença, passando para 15.638 mortes. Essa redução foi atribuída
ao aumento da cobertura vacinal e à melhoria da assistência médica ofertada às crianças
com complicações pós-sarampo. Na década de 90 ocorreram 822 óbitos por sarampo, ou
seja, uma redução de cerca de 95% dos registrados na década anterior (Figura 2).
Em 1997, após um período de 4 anos de controle, o país experimentou o ressurgimento
do sarampo com um surto iniciado na cidade de S. Paulo e propagado para outras unidades
da Federação. Com a adoção do Plano de Ação Suplementar de Emergência contra o Sarampo, em 1999, foi criado um grupo tarefa para atuar junto à vigilância epidemiológica de
cada estado, o que propiciou a implementação das ações de vigilância e controle da doença,
viabilizando o alcance da meta de erradicação de sua transmissão autóctone. Em 1999,
dos 10.007 casos suspeitos de sarampo notificados, 908 (8,9%) foram confirmados, sendo
378 (42%) por laboratório. Dos 8.358 casos suspeitos de sarampo notificados em 2000, 36
(0,4%) foram confirmados, dos quais 30 (83%) por laboratório. Neste mesmo ano, 92% dos
casos descartados tiveram por base testes laboratoriais. O último surto de sarampo ocorreu
em fevereiro de 2000, com 15 casos. Nos anos de 2001 a 2003 foram confirmados quatro
casos de sarampo (dois casos importados do Japão e dois importados da Europa).
Atualmente, não existe evidência de transmissão autóctone de sarampo no Brasil, sendo importante a manutenção da sensisibilidade e especificidade atual do sistema de vigilância epidemiológica desta doença, com vistas à detecção oportuna de casos importados e a
adoção imediata de todas as medidas de controle pertinentes ao caso.
Para que a população brasileira continue efetivamente livre do sarampo, é imprescindível a manutenção de coberturas vacinais minimamente adequadas para impedir a formação de um estoque de susceptíveis. Isto significa a obtenção de níveis de cobertura de 95%
em todos os municípios do país, atentando-se para que esta homogeneidade de cobertura
também seja alcançada em todas as localidades dos mesmos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
6
S
657
Sarampo
Figura 1. Incidência de sarampo e cobertura vacinal em menores de 1 ano (até
2001) e de 1 ano (a partir de 2002), com a vacina tríplice viral. Brasil, 1980-2003
Incidência/100 mil
Cobertura (%)
100
100
90
90
80
80
70
70
60
60
50
50
40
40
30
30
20
20
10
10
0
0
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
Incidência
Cobertura
Fonte: CGDT/CGPNI/Devep/SVS/MS
Figura 2. Coeficiente de mortalidade e letalidade por sarampo. Brasil, 1977-2000
Letalidade (%)
Óbitos/100 mil hab.
3
6
2,7
5,4
2,4
4,8
2,1
4,2
1,8
3,6
1,5
3
1,2
2,4
0,9
1,8
0,6
1,2
0,3
0,6
0
77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00
Coef. mortalidade
Fonte: CGDT/Devep/SVS/MS
658
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Letalidade
0
Sarampo
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Consolidar a erradicação do sarampo através de uma vigilância epidemiológica sensível, ativa e oportuna, permitindo a identificação e notificação imediata de todo e qualquer
caso suspeito na população, para a adoção das medidas de prevenção e controle pertinentes,
bem como monitorar as demais condições de risco.
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente que, independente da idade e situação vacinal, apresentar febre e exantema maculopapular, acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse,
coriza e conjuntivite.
6
Confirmado
Todo caso suspeito comprovado como caso de sarampo a partir de, pelo menos, um
dos critérios a seguir detalhados:
Laboratorial – caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resultado “reagente”
ou “positivo para IgM”, e a análise clínica epidemiológica indica a confirmação do sarampo
(Algoritmo, Anexo 2).
Observação: tendo em vista o momento atual do processo de erradicação do sarampo,
todos os casos com IgM positivo, reagente ou indeterminado para o sarampo devem ser
analisados conjuntamente pela SES e pela Cover/CGDT/Devep/SVS/MS.
Vínculo epidemiológico – caso suspeito, contato de um ou mais casos de sarampo
confirmados pelo laboratório, que apresentou os primeiros sintomas da doença entre 7 a 18
dias da exposição ao caso confirmado.
Observação: considera-se também confirmação por vínculo epidemiológico todo
caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resultado “não-reagente” ou “negativo para
IgM” em amostra colhida entre o 1º e o 3º dia a partir do aparecimento do exantema, com
história de exposição a um ou mais casos de sarampo confirmados pelo laboratório (esta
exposição deve ter ocorrido dentro de um período de sete a 18 dias antes do aparecimento
dos sinais e sintomas).
S
Clínico – caso suspeito de sarampo que:
• pela avaliação clínica apresente sinais e sintomas compatíveis com a definição de
caso suspeito, porém sem a obtenção de amostras de sangue para a realização de
sorologia;
• não foi investigado;
• evoluiu para óbito sem a realização de qualquer exame laboratorial.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
659
Sarampo
A confirmação de casos de sarampo pelo critério clínico representa falha do sistema
de vigilância epidemiológica.
Descartado
Todo paciente considerado como caso suspeito e que não foi comprovado como caso
de sarampo, de acordo com os critérios assim definidos:
Laboratorial
• Caso suspeito de sarampo cujo exame laboratorial teve como resultado “não-reao
gente” ou “negativo para IgM”, em amostra oportuna, ou seja, colhida até o 28 dia
do aparecimento do exantema.
• Caso suspeito de sarampo cujo exame laboratorial teve como resultado outra doença
(Anexo 2).
• Caso suspeito de sarampo cuja análise dos resultados da sorologia em duas amostras
pareadas não evidencia soroconversão dos anticorpos IgG.
Vínculo epidemiológico
• Caso suspeito de sarampo que tiver como fonte de infecção um ou mais casos descartados pelo critério laboratorial.
• Quando na localidade estiver ocorrendo surto ou epidemia de outras doenças exantemáticas febris, comprovadas pelo diagnóstico laboratorial; nessa situação, os casos
devem ser criteriosamente analisados antes de serem descartados e a provável fonte
de infecção deve ser especificada.
Clínico
Caso suspeito de sarampo em que não houve coleta de amostra para exame laboratorial mas a avaliação clínica e epidemiológica detectou sinais e sintomas compatíveis com
diagnóstico diferente do sarampo.
O descarte clínico do sarampo representa falha do sistema de vigilância epidemiológica.
Critérios para o descarte de casos suspeitos de sarampo associados
temporalmente a eventos adversos à vacina
Sem coleta de amostra – quando a avaliação clínica e epidemiológica indicou associação temporal entre a data do início dos sintomas e a data do recebimento da última dose da
vacina com o componente contra o sarampo, que se enquadre nas especificações abaixo:
• febre com temperatura que pode chegar a 39ºC ou mais, com início entre o 5º e 12º
dias após a vacinação e duração média de um a dois dias, podendo chegar até cinco
dias;
• exantema – cerca de 5% das pessoas que recebem a vacina pela primeira vez poderão
apresentar exantema com início no 7º ao 10º dia após a vacinação, que dura de dois
a quatro dias;
660
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
• cefaléia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadas
entre o 5º e o 12º dia após a vacinação.
Com coleta de amostra – IgM positivo associado temporalmente à vacina, cuja coleta de sangue ocorreu entre 8 a 56 dias após a vacinação.
Classificação dos casos confirmados de sarampo, de acordo
com a fonte de infecção
Caso importado – caso cuja exposição ocorreu fora do continente americano durante
os 14 a 23 dias prévios ao surgimento do exantema, de acordo com a análise dos dados
epidemiológicos e/ou virológicos. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes clínicas (urina ou secreção de nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no
primeiro contato com o paciente.
Caso relacionado com importação – infecção contraída localmente, que ocorre como
parte de uma cadeia de transmissão originada por um caso importado, de acordo com a
análise dos dados epidemiológicos e/ou virológicos.
Caso com origem de infeçcção desconhecida – caso em que não foi possível estabelecer a origem da fonte de infecção, após investigação epidemiológica minuciosa.
Caso índice – primeiro caso ocorrido entre os vários casos de natureza similar e epidemiologicamente relacionados, sendo a fonte de infecção no território nacional.
A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes clínicos (urina ou swab de
nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente.
Caso secundário – caso novo de sarampo surgido a partir do contato com o caso
índice. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes clínicas (urina ou secreção de nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeiro contato com o
paciente.
Caso autóctone – caso novo ou contato de um caso secundário de sarampo, após a
introdução do vírus no país. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes
clínicas (urina ou secreção de nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente.
6
S
Notificação
A notificação do sarampo é obrigatória e imediata. Deve ser realizada por telefone à
secretaria municipal de saúde, dentro das primeiras 24 horas a partir do atendimento do
paciente. O caso deve ser notificado à secretaria estadual de saúde por telefone, fax ou email, para acompanhamento junto ao município.
Considerando a alta infectividade e contagiosidade da doença, todos os profissionais dos
serviços públicos e privados, principalmente os médicos pediatras, clínicos, infectologistas,
enfermeiros e laboratoristas, devem notificar, de imediato, todo caso suspeito de sarampo.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
661
Sarampo
Observação: para efeito de acompanhamento pelo nível nacional, todos os casos suspeitos provenientes de áreas com circulação endêmica ou epidêmica do vírus do sarampo
devem também ser imediatamente comunicados à Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Geralmente ocorre em unidades básicas de saúde. A hospitalização é necessária quando há infecção bacteriana (complicações) e em indivíduos imunocomprometidos, principalmente crianças desnutridas.
Definição de caso suspeito
Toda pessoa com febre e exantema,
acompanhadas de tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite,
independemente da idade ou situação vacinal
Suspeitar de sarampo
Notificar à secretaria
municipal de saúde
Investigar em até 48 horas
Coletar sangue para sorologia no
primeiro contato com o paciente
Notificar a Secretaria
de Vigilância em Saúde
se proveniente de área
de circulação endêmica
ou epidêmica do vírus
Vacinação de bloqueio
Vacinar os contatos susceptíveis
Qualidade da assistência
Os casos deverão ser atendidos na rede de serviços de saúde. Os profissionais devem
ser orientados sobre os procedimentos frente a um caso de sarampo. A hospitalização só se
faz necessária em situações graves.
Proteção individual para evitar circulação viral
No plano individual, o isolamento domiciliar ou hospitalar dos casos consegue diminuir a intensidade da transmissão. Deve-se evitar, principalmente, a freqüência às escolas
ou creches, agrupamentos ou qualquer contato com pessoas susceptíveis, até 4 dias após o
início do período exantemático. O impacto do isolamento dos doentes é relativo porque o
período prodrômico da doença já apresenta elevada transmissibilidade do vírus e, em geral,
não é possível isolar os doentes a não ser no período exantemático. Portanto, a vigilância
dos contatos deve ser necessariamente realizada por um período de 21 dias.
662
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
Como o risco de transmissão intra-hospitalar é muito alto, deve ser feita a vacinação
seletiva de todos os pacientes e profissionais do setor de internação do caso suspeito de sarampo e, dependendo da situação, de todos os profissionais do hospital. Pacientes internados devem ser submetidos a isolamento respiratório, até 4 dias após o início do exantema.
Confirmação diagnóstica
De acordo com as orientações constantes do tópico Diagnóstico diferencial e dos Anexos 1 e 2.
Proteção da população
A principal medida de controle do sarampo é a vacinação dos susceptíveis, que inclui
vacinação de rotina na rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação e campanhas
de vacinação de seguimento. Ressalte-se que a cada caso suspeito notificado a ação de bloqueio vacinal deve ser desencadeada imediatamente e uma extensa busca ativa de novos
casos suspeitos e susceptíveis deve ser realizada. A faixa etária prioritária para as ações de
bloqueio vacinal é a de 6 meses a 39 anos, mas sua redução ou ampliação deve ser avaliada
de acordo com a situação epidemiológica apresentada na localidade. A investigação epidemiológica, principalmente através da busca ativa de casos, leva a um melhor controle da
doença.
Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizando os meios de
comunicação de massa, visitas domiciliares e palestras nas comunidades, bem como conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da doença, gravidade, vacinação e esclarecimentos da
situação de risco veiculados.
6
Investigação
A investigação do caso suspeito de sarampo deve ser realizada pela equipe municipal,
objetivando de adotar medidas de controle frente a um ou mais casos, surtos e epidemias,
e coleta dos dados que permitirão analisar a situação epidemiológica. As informações obtidas na investigação epidemiológica deverão responder às perguntas básicas da análise epidemiológica, ou seja: quem foi afetado, quando ocorreram os casos e onde se localizam.
A partir dessas informações serão desencadeadas as condutas adequadas. Todos os casos
suspeitos de sarampo devem ser investigados no prazo máximo de 48 horas após a notificação.
S
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de notificação individual e investigação epidemiológica do Sinan relativos aos dados gerais, individuais e de residência.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
663
Sarampo
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
Na investigação, todas as informações necessárias à verificação do diagnóstico do caso
devem ser coletadas, especialmente os dados sobre a situação clínica e epidemiológica do
caso suspeito.
A investigação, de forma geral, é iniciada no domicílio do caso suspeito de sarampo,
por meio da visita domiciliar feita especialmente para:
• completar as informações sobre o quadro clínico apresentado pelo caso suspeito;
• confirmar a situação vacinal do caso suspeito e seus contatos familiares, sociais e
profissionais, mediante verificação do cartão de vacinação;
• estabelecer um prazo entre sete e 18 dias para realizar a revisita, a fim de detectar a
ocorrência de complicações e/ou o surgimento de novos casos;
• acompanhar a evolução do caso;
• confirmar ou descartar o caso.
Para identificar a área de transmissão
A investigação na comunidade visa verificar a ocorrência de outros casos suspeitos não
notificados. Essa investigação é realizada, principalmente, em torno da área de residência e
convivência do caso suspeito, ou seja, na vizinhança, local de trabalho, escola, creche, igrejas, e outros locais também freqüentados pelo paciente, nos últimos sete a 18 dias.
Na investigação deve-se:
• coletar dados que permitam analisar a situação epidemiológica, respondendo às
perguntas básicas: quem foi afetado? quando e como ocorreram os casos? onde se
localizam?;
• preencher a ficha de investigação individual específica para o sarampo e rubéola,
registrando corretamente todos os dados e colocando o mesmo número da ficha de
notificação individual;
• colher uma amostra de sangue para o diagnóstico laboratorial. Caso a amostra não
tenha sido colhida no serviço de saúde que fez a notificação, identificar a provável
fonte de infecção;
• avaliar a cobertura vacinal da área;
• verificar se estão ocorrendo surtos em outras áreas;
• tomar decisões quanto às medidas de controle da doença, ou seja, definir e orientar
a equipe do serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser adotada;
• orientar a comunidade sobre a necessidade de comunicar aos serviços de saúde o
surgimento de pessoas com sinais e sintomas de sarampo.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Busca ativa dos casos: a partir da notificação de um caso suspeito de sarampo, fazer a
busca ativa durante a atividade de investigação do caso, numa determinada área geográfica,
a fim de detectar outros possíveis casos, mediante:
664
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
• visitas às residências, creches, colégios, centros de saúde, hospitais, farmácias, quartéis, etc.;
• contatos com médicos, líderes comunitários e pessoas que exercem práticas alternativas de saúde (curandeiros, benzedeiras);
• visitas periódicas aos serviços de saúde que atendam doenças exantemáticas febris
na área, particularmente se os mesmos não vêm notificando casos suspeitos;
• visitas a laboratórios da rede pública ou privada, objetivando verificar se foram realizados exames para a detecção de sarampo, rubéola ou outro quadro semelhante e
que não tenham sido notificados.
Coleta e remessa de material para exames
Em todo caso suspeito de sarampo, deverão ser colhidos espécimes clínicos para sorologia, de acordo com o constante no tópico Diagnóstico diferencial e Anexo 2.
6
Análise de dados
Em cada nível do SUS (municipal, estadual e federal) devem ser realizadas análises periódicas dos dados epidemiológicos coletados, da forma mais padronizada possível, abrangendo, conforme já referido, a distribuição temporal, a localização espacial e a distribuição
segundo atributos pessoais.
Distribuição temporal (quando?) – a análise temporal considera a distribuição do
número de casos notificados e confirmados (segundo critério laboratorial, vínculo epidemiológico e clínico) de acordo com o intervalo de tempo como, por exemplo, semana epidemiológica, mês ou ano. Também devem ser calculados os coeficientes de incidência e
mortalidade mensais e anuais, conforme a situação epidemiológica vigente, para verificação
da tendência da doença na população. A distribuição no tempo é um dado essencial para o
adequado acompanhamento do aumento ou redução da ocorrência de casos na população
e para o estabelecimento da variação sazonal da doença.
S
Localização espacial (onde?) – a análise da situação, segundo a localização dos casos,
permite o conhecimento da área geográfica de ocorrência que pode ser melhor visualizada,
assinalando-os com cores diferentes em um mapa, destacando:
• local de residência dos casos (rua, bairro, distrito, município, estado, país);
• local onde o caso permaneceu por mais tempo (escola, creche, alojamento, canteiro
de obra, quartéis, entre outros);
• zona de residência/permanência (urbana, rural);
• as áreas que concentram elevado número de susceptíveis.
Distribuição segundo atributos pessoais (quem?) – a análise da distribuição segundo
atributos pessoais permite conhecer o perfil da população que está sendo acometida e se o
comportamento da doença apresenta fatores distintos que indicam mudanças em seu perfil,
como, por exemplo, o deslocamento da faixa etária. Para isso, é importante considerar:
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
665
Sarampo
•
•
•
•
a distribuição dos casos confirmados por faixa etária;
a história vacinal dos casos confirmados, segundo número de doses recebidas;
histórias de deslocamento;
outros atributos, tais como: ocupação, escolaridade, etc.
Encerramento de casos
Por se tratar de doença em processo de erradicação, os casos deverão ser encerrados
no Sinan, no prazo de até 30 dias após a notificação.
Roteiro de investigação epidemiológica do sarampo
Notificação de caso suspeito
Investigação
Coleta de dados clínicos
e epidemiológicos
Coleta de material
para sorologia
Realiza medidas de controle
Identificar novos
casos suspeitos
Enviar ao laboratório
Bloqueio vacinal
Identificar
ocorrência de surtos
Identificar área
de transmissão
Laboratório informa o
resultado à secretaria
estadual de saúde/secretaria
municipal de saúde
Ações de educação
em saúde
Operação limpeza
Secretarias municipais
e estaduais de saúde
encerram o caso, conforme
o algoritmo (Anexo 1)
Avaliar a cobertura
vacinal da área
Relatório final
Os dados das fichas de notificação individual e de investigação deverão estar adequadamente processados e digitados no Sinan, até 30 dias após a notificação. O encerramento
oportuno dos casos possibilitará a análise epidemiológica necessária à tomada de decisão.
Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controle adotadas, bem como caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuíram
para a circulação do vírus na população.
666
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
Recomendações gerais para a vacinação
A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência do sarampo.
O risco da doença para indivíduos susceptíveis permanece, em função da circulação
do vírus do sarampo em várias regiões do mundo e de sua facilidade de propagação. É necessário, portanto, manter um alto nível de imunidade na população, por meio de coberturas vacinais elevadas (iguais ou superiores a 95%), o que reduz a possibilidade da ocorrência
do sarampo, permitindo a erradicação da transmissão do vírus na população.
Vacinação na rotina
É a atividade realizada de forma contínua na rede de serviços de saúde, em todo o
território nacional. O objetivo é vacinar todas as crianças aos 12 meses, a fim de manter
alta imunidade de grupo, sendo necessário alcançar e manter coberturas vacinais iguais ou
superiores a 95%, em todas as localidades e municípios. Recomenda-se, ainda, uma dose de
reforço para as crianças entre 4 e 6 anos de idade, para corrigir possível falha vacinal primária e vacinar aqueles que porventura não tenham sido vacinados anteriormente.
Para detalhes operacionais sobre a organização das atividades de vacinação de rotina,
ver www.saude.gov.br/imunizações.
Observação: a vacina contra o sarampo pode ser aplicada simultaneamente com qualquer outra vacina do calendário de imunizações.
6
Eventos adversos
Esta vacina é pouco reatogênica. Os eventos adversos apresentam boa evolução, sendo
que os mais observados são febre e cefaléia. As reações de hipersensibilidade são raras.
Estratégia de vacinação frente a ocorrência de casos suspeitos
S
Vacinação de bloqueio limitada aos contatos – diante de uma pessoa com sinais e
sintomas do sarampo, deve ser realizado o bloqueio vacinal dirigido aos contatos do caso
suspeito.
A vacinação de bloqueio fundamenta-se no fato de que a vacina consegue imunizar
o susceptível em prazo menor que o período de incubação da doença. Em função disso, a
vacina deve ser administrada, de preferência, dentro de 72 horas após a exposição. A vacinação de bloqueio deve abranger as pessoas do mesmo domicílio do caso suspeito, vizinhos
próximos, creches ou, quando for o caso, pessoas da mesma sala de aula, mesmo quarto de
alojamento, sala de trabalho, etc. Utilizar a vacina tríplice viral para a faixa etária de 6 meses
a 39 anos, de forma seletiva. Se aplicada em crianças menores de 1 ano, esta vacina não será
considerada como dose válida. Aos 12 meses, a criança deverá ser revacinada com a vacina
tríplice viral.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Sarampo
A inclusão de pessoas acima de 40 anos na vacinação de bloqueio só será indicada com
base na análise da situação epidemiológica.
Estratégia de vacinação frente a um caso confirmado ou surto
Operação limpeza – o objetivo desta estratégia é interromper a cadeia de transmissão do vírus do sarampo numa área geográfica determinada, através da busca exaustiva de
todos os susceptíveis. A operação limpeza também é utilizada de forma seletiva, devendo
abranger:
• os locais habitualmente freqüentados pelo caso confirmado;
• todo o quarteirão, área residencial ou bairro, se necessário;
• a escola, creche, cursinhos, faculdade, alojamento, local de trabalho e outros estabelecimentos coletivos freqüentados pelo caso;
• todo o município, quando indicado.
A faixa etária a ser vacinada é a mesma referida para o bloqueio vacinal.
Estratégias complementares de prevenção
Vacinação indiscriminada em campanhas de seguimento – esta atividade é realizada
periodicamente, em nível nacional, com o objetivo de alcançar crianças susceptíveis não
vacinadas e revacinar as demais, principalmente as em idade pré-escolar. Esta estratégia
é recomendada sempre que o número de susceptíveis, em nível nacional, se aproximar de
uma coorte de nascimentos.
O intervalo entre uma campanha de seguimento e outra depende da cobertura vacinal
alcançada na rotina, nesse período.
Intensificação da vacinação extramuros – o principal objetivo é eliminar bolsões de
susceptíveis, devendo ser realizada sempre que os índices de vacinação estiverem abaixo de
95%. Com isso, fica assegurado que nenhum município tenha cobertura vacinal contra o
sarampo/rubéola abaixo do mínimo necessário para obter um nível seguro de imunidade
de grupo.
A intensificação das atividades consiste, sobretudo, na realização de vacinação casa
a casa (incluindo residências e instituições em geral, como, por exemplo, escolas, creches,
orfanatos, etc.), alcançando crianças de 12 meses até menores de 12 anos, não vacinadas na
rotina e nas campanhas de multivacinação e de seguimento, especialmente as que vivem nas
áreas urbanas e rurais de difícil acesso e que, geralmente, não são trabalhadas pelos serviços
de saúde.
Campanhas de multivacinação – as campanhas de multivacinação, que acontecem
duas vezes ao ano, são excelentes oportunidades para aumentar as coberturas vacinais. No
entanto, quando a meta é erradicar o sarampo, não se deve esperar as campanhas para vacinar os susceptíveis.
668
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sarampo
Por ocasião das campanhas de multivacinação são vacinadas as crianças na faixa de 12
meses a menores de 12 anos que não foram atingidas pelas atividades de rotina e campanhas
de seguimento.
Vacinação de grupos de risco – considera-se que um determinado percentual de adolescentes e adultos jovens permanece susceptível à doença, devido ao fato de não terem sido
expostos nem à infecção natural e nem à vacinação. Devido às características das atividades
que os indivíduos pertencentes a esse grupo etário desenvolvem, há um risco aumentado de
contrair a infecção pelo vírus do sarampo. Dentre essas atividades, destacam-se:
• profissionais e estudantes da área de saúde e educação;
• populações institucionalizadas de quartéis, prisões, centros de reclusão de menores,
albergues, alojamentos, universidades, etc.;
• populações que migram de localidades onde as coberturas vacinais, anteriores e/ou
atuais, são baixas;
• adolescentes e adultos jovens que viajam para países onde o sarampo é endêmico;
• trabalhadores dos setores hoteleiro, turismo e portuário, bem como de feiras, aeroportos, vendedores ambulantes, profissionais do sexo e rodoviárias;
6
Para prevenir a ocorrência de surtos de sarampo nesses grupos de risco faz-se necessário um esforço adicional de vacinação, mesmo em locais com elevadas coberturas vacinais.
Ações de educação em saúde
O melhor modo é desenvolver atividades de forma integrada com a área de educação.
Na escola, deverão ser trabalhados a doença e os meios de prevenção. No momento da
investigação deve-se orientar as pessoas sobre a importância da prevenção do sarampo e o
dever de cada cidadão de informar ao serviço de saúde mais próximo de sua casa a existência de um caso suspeito.
S
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
669
Sarampo
Anexo 1
Classificação de caso suspeito de sarampo
Coleta de sangue no primeiro contato com o paciente
+
investigação epidemiológica
IgM
negativo
IgM
positivo
Considerar a última dose de vacina contra sarampo
(mono ou polivalente)
Data de início dos sintomas entre
5 e 12 dias após a aplicação da vacina
ou
Coleta de sangue entre 8 e 56
dias após a aplicação da vacina
SIM
NÃO
Reinvestigação
epidemiológica*
Sem 2ª amostra para
sorologia: avaliar IgG
na 1ª amostra
Colher urina para
isolamento viral
IgM
positivo
Com 2ª amostra
para sorologia:
há soroconversão IgG?
IgM
negativo
SIM
Vírus selvagem detectado?
NÃO
Até o 5o dia
do início do
exantema
SIM
Após o 5o dia
do início do
exantema
Protocolo
diagnóstico
diferencial
DESCARTAR
CONFIRMAR
*Ver roteiro de investigação epidemiológica
670
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
NÃO
Sarampo
Anexo 2
Na situação epidemiológica atual, em que não há circulação autóctone do vírus do
sarampo no país e frente ao aumento da disseminação de vacinas contra a doença na população, espera-se que ocorram, com relativa frequência, “casos” que na verdade representam
eventos adversos à vacina, bem como o aparecimento de resultados laboratoriais falso-positivos – o que significa que o diagnóstico etiológico e sua interpretação devem ser feitos de
forma bastante criteriosa.
O diagnóstico laboratorial de rotina é realizado por meio da sorologia para detecção
de anticorpos específicos. Para tanto, é imprescindível assegurar a coleta de amostras de
sangue para análise, no primeiro contato com o paciente.
Na infecção primária, os anticorpos IgM e IgG anti-sarampo podem ser detectados no
sangue nos primeiros dias após o início do exantema. O IgM pode permanecer elevado por
4 a 6 semanas após o aparecimento do exantema, enquanto o IgG pode ser detectado por
toda a vida, após a infecção. Para a detecção desses anticorpos, nos indivíduos vacinados ou
que tiveram a doença, utiliza-se a técnica de ensaio imunoenzimático (Elisa).
Em situações específicas, será também necessária a coleta de espécimes clínicos para
o isolamento viral, com o objetivo de se conhecer o genótipo do vírus que está circulando.
A urina é o material clínico de escolha para o isolamento viral, por ser de mais fácil coleta
nos ambulatórios.
6
Procedimentos
Sorologia
• Coleta oportuna – a amostra de sangue do caso suspeito deve ser colhida, sempre
que possível, no primeiro atendimento do paciente ou, no máximo, em até 28 dias
após o aparecimento do exantema.
• Material – sangue venoso sem anticoagulante, na quantidade de 5 a 10ml. Quando
tratar-se de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabelecido,
colher pelo menos 3ml. A separação do soro pode ser feita por meio de centrifugação ou após retração do coágulo, em temperatura ambiente ou a 37ºC.
• Conservação e envio ao Lacen – após a separação do soro, conservar o tubo com o
soro sob refrigeração na temperatura de +4ºC a + 8ºC, por no máximo 48 horas.
• Remessa – enviar ao laboratório no prazo máximo de dois dias, colocando o tubo
em embalagem térmica ou caixa de isopor com gelo ou gelox. Caso o soro não possa
ser encaminhado ao laboratório neste prazo, conservá-lo no freezer na temperatura
de -20ºC até o momento do transporte para o laboratório de referência.
S
Observação: todas as amostras com resultado sorológico IgM+ ou inconclusivo deverão ser enviadas ao laboratório de referência nacional (Fiocruz/RJ) para reteste. É importante o envio dos soros da 1ª e 2ª amostras.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
671
Sarampo
Diagnóstico diferencial
A realização de testes diagnósticos para a detecção de outras doenças exantemáticas febris em amostras negativas de casos suspeitos de sarampo, bem como a realização
de sorologia para o sarampo em amostras negativas de casos suspeitos de outras doenças
exantemáticas febris, dependerá da situação epidemiológica que está sendo considerada
(surtos, casos isolados, áreas de baixa cobertura vacinal, resultados sorológicos IgM+ para
o sarampo, etc.). Como esta situação é dinâmica, a indicação e interpretação dos exames
laboratoriais para o diagnóstico diferencial de doenças exantemáticas febris deverão ser
discutidas conjuntamente pelos técnicos responsáveis das secretarias estaduais de saúde (vigilância epidemiológica e laboratório), ouvido o Ministério da Saúde (através do endereço
exantematicas@saude.gov.br).
Isolamento viral
O isolamento viral tem por objetivos identificar o padrão genotípico do vírus circulante e diferenciar casos autóctones de casos importados e o vírus selvagem do vacinal.
Espécimes clínicos – urina ou secreções nasofaríngeas. Devem ser coletadas até o 5°
dia a partir do aparecimento do exantema, preferencialmente nos primeiros três dias.
Excepcionalmente, em casos com IgM positivo para sarampo, este período poderá ser
estendido para que não se perca a oportunidade de colher amostras de urina para o isolamento viral.
Quantidade e cuidados com os espécimes clínicos:
• coletar de 15 a 100ml de urina, em frasco estéril;
• colher, de preferência, a primeira urina da manhã, após higiene íntima, desprezando
o primeiro jato e coletando o jato médio; não sendo possível obter a primeira urina
do dia, colher em outra hora;
• logo após a coleta, colocar a urina em caixa de isopor com gelo reciclável e enviar
ao Lacen, dentro de 24 a 48 horas, no máximo, para evitar que o crescimento de
bactérias diminua a possibilidade de isolamento do vírus. A urina não deve ser congelada;
• processar a amostra no Lacen ou no laboratório municipal, se houver, adotando os
seguintes procedimentos:
❯ centrifugar a amostra de urina a 1.500 rpm, a +4ºC (se possível);
❯ ressuspender o sedimento em 2ml de meio de transporte de vírus ou em solução
salina estéril com adição de antibióticos;
❯ congelar (preferencialmente) os espécimes centrifugados a -70ºC e enviá-los ao
Centro de Referência Nacional para o Sarampo, na Fiocruz/RJ, em gelo seco, dentro de, no máximo, 72 horas.
Para orientação geral e interpretação dos resultados dos exames laboratoriais frente a
um caso suspeito de sarampo, ver Anexo 1.
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Sífilis Congênita
SÍFILIS CONGÊNITA
CID 10: A50
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A sífilis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência. A sífilis congênita é conseqüente à infecção do
feto pelo Treponema pallidum, por via placentária, em qualquer momento da gestação. Sua
ocorrência evidencia falhas dos serviços de saúde, particularmente da atenção ao pré-natal,
pois o diagnóstico precoce e tratamento da gestante são medidas relativamente simples e
bastante eficazes na prevenção desta forma da doença. A taxa de óbito (aborto, natimorto,
óbito neonatal precoce) é elevada, estimada de 25% a 40% dos casos.
6
Agente etiológico
O Treponema pallidum tem forma de espiral e motilidade em “saca-rolhas”. Não é
cultivável, mas a inoculação em cobaia permite seu isolamento e confirmação laboratorial.
Pode ser visualizado sob microscopia de campo escuro, coloração pela prata ou imunofluorescência direta.
Reservatório
O homem é o único reservatório. Infecções experimentais em cobaias não repetem a
evolução humana, não contaminando outros animais e findando espontaneamente.
Modo de transmissão
A sífilis adquirida é uma doença de transmissão predominantemente sexual e aproximadamente um terço dos indivíduos expostos a um parceiro sexual com sífilis adquirirá a
doença. O Treponema pallidum, quando presente na corrente sangüínea da gestante, atravessa a barreira placentária e penetra na corrente sangüínea do feto. A transmissão pode
ocorrer em qualquer fase da gestação, estando, entretanto, na dependência do estado da
infecção na gestante, ou seja, quanto mais recente a infecção, mais treponemas estarão circulantes e, portanto, mais gravemente o feto será atingido. Inversamente, infecção antiga
leva à formação progressiva de anticorpos pela mãe, o que atenuará a infecção ao concepto,
produzindo lesões mais tardias na criança. Sabe-se que a taxa de transmissão vertical da
sífilis, em mulheres não tratadas, é superior a 70% quando estas encontram-se nas fases primária e secundária da doença, reduzindo-se para 10% a 30% nas fases latente ou terciária.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
S
673
Sífilis Congênita
Período de incubação
Na sífilis adquirida, é de cerca de 21 dias a partir do contato sexual infectante. A criança com sífilis congênita ao nascimento pode já se encontrar gravemente enferma ou com
manifestações clínicas menos intensas, ou até aparentemente saudável, vindo a manifestar
sinais da doença mais tardiamente, meses ou anos depois, quando seqüelas graves e irreversíveis ter-se-ão instalado.
Período de transmissibilidade
A transmissão vertical pode ocorrer por todo o período gestacional. Acreditava-se
que a infecção fetal não ocorresse antes do 4º mês de gestação. Entretanto, já se constatou a
presença de T. pallidum em fetos abortados, ainda no primeiro trimestre da gravidez.
Susceptibilidade e imunidade
A resposta imune, celular e humoral, que se desenvolve não impede a implantação do
agente no local de inoculação nem previne sua disseminação, com o conseqüente aparecimento de manifestações determinadas pela reação do hospedeiro à presença de antígenos
treponêmicos nos tecidos corporais. A susceptibilidade à doença é universal e infecções
anteriores não determinam imunidade frente a novas exposições ao treponema.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
O quadro clínico da sífilis congênita é variável, de acordo com alguns fatores: o tempo
de exposição fetal ao treponema (duração da gestação com sífilis sem tratamento), a carga
treponêmica materna, a virulência do treponema, o tratamento da infecção materna, a coinfecção materna pelo HIV ou outra causa de imunodeficiência.
Esses fatores poderão acarretar aborto, natimorto ou óbito neonatal, bem como sífilis
congênita “sintomática” ou “assintomática” ao nascimento.
Didaticamente, a sífilis congênita é classificada em recente e tardia.
Sífilis congênita recente
Sinais e sintomas surgem nos primeiros dois anos de vida mas tornam-se evidentes
entre o nascimento e o terceiro mês (comumente, nas cinco primeiras semanas). Os principais sinais são baixo peso, rinite com coriza serossanguinolenta, obstrução nasal, prematuridade, osteocondrite, periostite ou osteíte, choro ao manuseio, hepatoesplenomegalia,
alterações respiratórias ou pneumonia, hidropsia, pseudoparalisia dos membros, fissura
orificial, condiloma plano, pênfigo palmoplantar e outras lesões cutâneas, icterícia e anemia. Quando ocorre invasão maciça de treponemas e/ou estes são muito virulentos, a evolução do quadro é grave e a letalidade, alta. A placenta encontra-se volumosa, com lesões e
manchas amareladas ou esbranquiçadas.
674
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sífilis Congênita
Sífilis congênita tardia
Os sinais e sintomas são observados a partir do segundo ano de vida, geralmente devido à infecção por treponemas menos virulentos ou infecção de longa evolução materna:
tíbia em lâmina de sabre, fronte olímpica, nariz em sela, dentes deformados (dentes de Hutchinson), mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite intersticial com cegueira, surdez
neurológica, dificuldade no aprendizado, hidrocefalia e retardo mental.
Período de infecção – o tempo de evolução é extremamente variável, geralmente interrompido com o tratamento. A remissão espontânea da doença é improvável. A evolução
da infecção treponêmica determinará lesões deformantes, com destruição tecidual em tecido ósseo e cutâneo-mucoso, além das graves seqüelas neurológicas. Pode ocorrer contágio involuntário quando do manuseio inadequado/desprotegido das crianças com sífilis
congênita, por parte dos familiares e profissionais de saúde, quando estão presentes lesões
cutâneas e mucosas, ricas em treponemas.
Período toxêmico – o quadro clínico é variável. Manifestações gerais e sinais de comprometimento simultâneo de múltiplos órgãos, como febre, icterícia, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia generalizada, anemia, entre outros sinais, podem ser observadas isoladas
ou simultaneamente. Manifestações graves ao nascimento, tais como pneumonia intersticial e insuficiência respiratória, com risco de vida, requerem especial atenção. O óbito
perinatal pode chegar a taxas expressivas.
Remissão – o tratamento adequado dos casos diagnosticados promove a remissão
dos sintomas em poucos dias. As lesões tardias já instaladas, a despeito da interrupção da
evolução da infecção, não serão revertidas com a antibioticoterapia.
6
Diagnóstico diferencial
O múltiplo comprometimento de órgãos e sistemas impõe o diagnóstico diferencial
com septicemia e outras infecções congênitas, tais como rubéola, toxoplasmose, citomegalovirose, infecção generalizada pelo vírus do herpes simples e malária. Lesões mais tardias
poderão ser confundidas com sarampo, catapora, escarlatina e até escabiose.
S
Diagnóstico laboratorial
Baseia-se na execução de um conjunto de exames, quais sejam:
Microscopia – a pesquisa do T. pallidum em material coletado de lesão cutâneo-mucosa, de biópsia ou autópsia, assim como de placenta e cordão umbilical, é um procedimento que apresenta sensibilidade de 70% a 80% . A preparação e a observação em campo
escuro imediatamente após a coleta do espécime permite visualizar os treponemas móveis;
quando a observação não pode ser realizada logo após a coleta, a imunofluorescência direta
está indicada. Os fatores que diminuem a sensibilidade do teste são: coleta inadequada dos
espécimes, tratamento prévio e coleta nas fases finais da evolução das lesões, quando a população de T. pallidum estará muito reduzida;
Sorologia não-treponêmica (VDRL) – indicada para o diagnóstico e seguimento terapêutico, devido à propriedade de ser passível de titulação. A sensibilidade do teste na
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
675
Sífilis Congênita
fase primária é de 78%, elevando-se nas fases secundária (100%) e latente (cerca de 96%).
Com mais de um ano de evolução, a sensibilidade cai progressivamente, fixando-se, em
média, em 70%. A especificidade do teste é de 98%. O teste pode resultar reagente por longos períodos, mesmo após a cura da infecção (cicatriz sorológica), porém, após instituído
o tratamento, apresenta queda progressiva nas titulações, até que se torna não reagente.
Recém-nascidos de mães com sífilis, mesmo os não infectados, podem apresentar anticorpos maternos transferidos passivamente pela placenta. Nesses casos, em geral, o teste será
reagente até o sexto mês de vida. A coleta de sangue de cordão umbilical para a realização
do teste está contra-indicada pela baixa sensibilidade. Deve-se coletar sangue periférico do
RN, cuja mãe apresentar resultado reagente no momento do parto;
Sorologia treponêmica (FTA-abs, MHA-Tp) – são testes específicos, úteis na exclusão de resultados de VDRL falso-positivos em adultos mas de uso limitado quando para
o diagnóstico de recém-nascidos, pois os anticorpos IgG maternos ultrapassam a barreira
placentária. O FTA-abs/IgM, por sua baixa sensibilidade, também pode apresentar desempenho inadequado para a definição diagnóstica do recém-nascido. Assim, a realização de
testes treponêmicos em recém-nascidos não auxiliam na confirmação do caso, recomendando-se, então, a análise clínico-epidemiológica de cada caso, especialmente o histórico
da doença materna, para aplicação das condutas clínicas. Já em maiores de 18 meses, um
resultado reagente de teste treponêmico confirma a infecção, pois os anticorpos maternos
transferidos passivamente já terão desaparecido. A sensibilidade dos testes treponêmicos
na sífilis adquirida é de 84% na fase primária, de 100% nas fases secundária e latente e de
cerca de 96% na sífilis terciária;
Raios X de ossos longos – o achado de anormalidades em radiografias de ossos longos
é comum na sífilis congênita sintomática (70% a 90%). A sensibilidade das alterações radiológicas para diagnóstico de sífilis congênita, em crianças assintomáticas, é desconhecida
– estima-se em 4% a 20% dos recém-nascidos assintomáticos infectados. A única alteração
é o achado radiográfico, o que justifica a realização deste exame nos casos suspeitos de sífilis
congênita;
Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) – recomenda-se realizar a análise do
LCR em todos os recém-nascidos que se enquadrem na definição de caso . A presença de
leucocitose (>25 leucócitos/mm3) e o elevado conteúdo protéico (>150 mg/dl) no LCR de
um recém-nascido (antes de 28 dias), suspeito de ser portador de sífilis congênita, devem
ser considerados como evidências adicionais para o diagnóstico. Uma criança com VDRL
positivo no LCR deve ser diagnosticada como portadora de neurossífilis, independente
da existência de alterações na celularidade e/ou na proteinorraquia, porém um resultado
negativo não afasta o diagnóstico da afecção do sistema nervoso central. A ocorrência de
alterações no LCR é muito mais freqüente nas crianças com outras evidências clínicas de
sífilis congênita do que nas crianças assintomáticas (86% versus 8%, respectivamente). Se a
criança for identificada após o período neonatal (>28 dias de vida), as anormalidades liquóricas incluem teste VDRL positivo e/ou leucócitos >5/mm3 e/ou proteínas >40 mg/dl.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sífilis Congênita
Tratamento
No período neonatal (antes de 28 dias)
A penicilina é a droga de escolha para todas as apresentações da sífilis. Não há relatos
consistentes na literatura de casos de resistência treponêmica à droga. A análise clínica do
caso indicará o melhor esquema terapêutico.
A. Nos recém-nascidos de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada,
independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido, realizar hemograma, radiografia de ossos longos, punção lombar e outros exames, quando clinicamente indicados. De
acordo com a avaliação clínica e de exames complementares:
• A1 – se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas, o tratamento deverá ser feito com penicilina G cristalina na dose de 50 mil
UI/kg/dose, via intravenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8
horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias; ou penicilina G procaína 50 mil UI/kg,
dose única diária, via intramuscular, durante 10 dias;
• A2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito com penicilina G
cristalina1, na dose de 50 mil UI/kg/dose, via intravenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias;
• A3 – se não houver alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas,
e a sorologia for negativa, proceder ao tratamento com penicilina G benzatina, via
intramuscular, na dose única de 50 mil UI/kg. O acompanhamento é obrigatório,
incluindo o seguimento com VDRL sérico após conclusão do tratamento (ver Seguimento, adiante). Sendo impossível garantir o acompanhamento, o recém-nascido
deverá ser tratado com o esquema A1.
6
B. Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recém-nascido; se for reagente com titulação maior do que a
materna e/ou na presença de alterações clínicas, realizar hemograma, radiografia de ossos
longos e análise do LCR:
• B1 – se houver alterações clínicas e/ou radiológicas e/ou hematológica sem alterações liquóricas, o tratamento deverá ser feito como em A1;
• B2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito como em A2;
S
C. Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recém-nascido:
• C1 – se for assintomático e o VDRL não for reagente, proceder apenas ao seguimento clínico-laboratorial. Na impossibilidade de garantir o seguimento, realizar o
tratamento com penicilina G benzatina, via intramuscular, na dose única de 50 mil
UI/kg;
O tratamento com penicilina G procaína por 10 dias em pacientes assintomáticos e com exames complementares
normais não mostrou nenhum benefício adicional quando comparado ao esquema de penicilina G benzatina.
1
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Sífilis Congênita
• C2 – se for assintomático e tiver VDRL reagente com título igual ou menor que
o materno, acompanhar clinicamente. Na impossibilidade do seguimento clínico,
tratar como A1 e, se houver alterações no LCR, tratar como A2.
No período pós-natal (após o 28º dia)
Crianças com quadro clínico sugestivo de sífilis congênita devem ser cuidadosamente
investigadas, obedecendo-se à rotina acima referida. Confirmando-se o diagnóstico, proceder ao tratamento conforme preconizado, observando-se o intervalo das aplicações que,
para a penicilina G cristalina, deve ser de 4 em 4 horas, e para a penicilina G procaína, de 12
em 12 horas, mantendo-se os mesmos esquemas de doses anteriormente preconizados.
Seguimento
• Consultas ambulatoriais mensais no primeiro ano de vida.
• Realizar VDRL com 1, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento
com dois exames de VDRL negativos consecutivos.
• Diante de elevação do título sorológico ou da sua não-negativação até os 18 meses
de idade, reinvestigar o paciente e proceder o tratamento.
• Recomenda-se o acompanhamento oftalmológico, neurológico e audiológico semestral por dois anos.
• Nos casos em que o LCR mostrou-se alterado, deve ser realizada uma reavaliação
liquórica a cada 6 meses, até a normalização do mesmo; alterações persistentes indicam avaliação clínico-laboratorial completa e retratamento.
• Nos casos de crianças tratadas de forma inadequada, na dose e/ou tempo do tratamento preconizado, deve-se convocar a mesma para reavaliação clínico-laboratorial e reiniciar o tratamento, obedecendo aos esquemas anteriormente descritos.
Observações
• No caso de interrupção do tratamento por mais de 1 dia, o mesmo deverá ser reiniciado.
• Em relação à biossegurança hospitalar, são recomendadas precauções de contato
para todos os casos de sífilis congênita até 24 horas do início do tratamento com
penicilina.
• O uso de outro antimicrobiano não é adequado. O curso de 10 dias de penicilina
deve ser realizado mesmo quando a ampicilina é inicialmente prescrita para possível sepse neonatal.
Atenção
Na impossibilidade de realizar a punção lombar, considerar o caso, para efeito de
tratamento, como neurossífilis.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sífilis Congênita
Tratamento inadequado para sífilis materna
• tratamento realizado com qualquer medicamento que não seja a penicilina; ou
• tratamento incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina; ou
• tratamento inadequado para a fase clínica da doença; ou
• instituição de tratamento dentro do prazo dos 30 dias anteriores ao parto; ou
• ausência de documentação de tratamento anterior; ou
• ausência de queda dos títulos (sorologia não-treponêmica) após tratamento adequado; ou
• parceiro não tratado ou tratado inadequadamente ou quando não se tem a informação disponível sobre o seu tratamento.
Obs.: realizar exames neurológico, oftalmológico (fundo de olho) e audiológico em
todas as crianças incluídas como caso de sífilis congênita.
6
Aspectos epidemiológicos
A sífilis congênita é doença de notificação compulsória, com compromisso internacional de eliminação enquanto problema de saúde pública. Estudo nacional realizado em
2000 mostra prevalência de 1,7%2 de sífilis em parturientes. O subdiagnóstico e a subnotificação da sífilis congênita ainda são elevados, porém observa-se um incremento de casos
notificados nos últimos oito anos, passando de pouco mais de 200, em 1995, para mais de 3
mil, nos últimos 4 anos. Nos últimos 5 anos, foram registrados 16.119 internamentos.
No período de 1998 a 2003, os dados nacionais de sífilis congênita mostram uma incidência média de 1,15/1 mil nascidos vivos. Maiores coeficientes são encontrados na região
Sudeste, principalmente nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, o que pode estar
refletindo não uma realidade mais desfavorável que a de outros estados, mas a intensidade
dos esforços para detectar e notificar a doença3.
No que tange às características maternas, 74% estão na faixa etária de 20 a 39 anos;
mais de 40% dos casos com escolaridade informada têm de 1 a 3 anos de estudo; aproximadamente 70% dos casos notificados fizeram pré-natal e cerca de 50% realizaram 4 ou mais
consultas e tiveram diagnóstico de sífilis durante a gravidez. Os dados do Sinan mostram
que mais de 54% dos parceiros não foram tratados. As crianças se apresentavam assintomáticas ao nascimento em 75% das notificações onde consta a informação.
S
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/Aids. Estudo Sentinela
Parturiente Corte Nacional – outubro de 2000.
2
Fonte dos dados: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)/MS/SVS/PN-DST/Aids – casos notificados até 8/1/2004.
3
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Sífilis Congênita
Vigilância epidemiológica
Objetivo
• Identificar os casos de sífilis congênita para subsidiar as ações de prevenção e controle desse agravo, intensificando-as no pré-natal.
• Conhecer o perfil epidemiológico da sífilis congênita no Brasil e suas tendências.
Definição de caso
Para fins de vigilância epidemiológica, será considerado caso de sífilis congênita e assim deverá ser notificado:
• toda criança ou aborto4 ou natimorto5 de mãe com evidência clínica6 para sífilis e/ou
com sorologia não-treponêmica reagente para sífilis com qualquer titulação, na ausência de teste confirmatório treponêmico, realizada no pré-natal ou no momento
do parto ou curetagem que não tenha sido tratada ou recebido tratamento inadequado;
• todo indivíduo com menos de 13 anos com as seguintes evidências sorológicas:
❯ titulações ascendentes (testes não-treponêmicos); e/ou
❯ testes não-treponêmicos reagentes após 6 meses de idade (exceto em situação de seguimento terapêutico); e/ou
❯ testes treponêmicos reagentes após 18 meses de idade; e/ou títulos em teste
não-treponêmico maiores que os da mãe.
Obs.: Em caso de evidência sorológica apenas, deve ser afastada a possibilidade de
sífilis adquirida.
• todo indivíduo com menos de 13 anos com teste não-treponêmico reagente e evidência clínica ou liquórica ou radiológica de sífilis congênita;
• toda situação de evidência de T. pallidum em placenta ou cordão umbilical e/ou
amostra de lesão, biópsia ou autópsia de criança, aborto ou natimorto.
Notificação e investigação
É doença de notificação compulsória e todo caso definido como sífilis congênita, segundo os critérios descritos na definição de caso, deve ser notificado à vigilância epidemiológica. A notificação é feita pelo preenchimento e envio da ficha de notificação e investigação epidemiológica de caso de sífilis congênita, que deve ser preenchida pelo médico ou
outro profissional de saúde no exercício de sua função.
A investigação de sífilis congênita será desencadeada nas seguintes situações:
4
Aborto é toda perda gestacional até 22 semanas de gestação ou com peso menor ou igual a 500g.
5
Natimorto é todo feto morto após 22 semanas de gestação ou com peso maior que 500g.
Evidência clínica para sífilis na gestação: sífilis primária – cancro duro; sífilis secundária – lesões cutâneo-mucosas (roséolas sifilíticas, sifílides papulosas, condiloma plano sifilítico, alopecia e lesões palmoplantares); sífilis terciária – lesões cutâneo-mucosas (tubérculos ou gomas); alterações neurológicas (tabes dorsalis, demência); alterações
cardiovasculares (aneurisma aórtico); alterações articulares (artropatia de Charcot).
6
680
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sífilis Congênita
• todas as crianças nascidas de mãe com sífilis (evidência clínica e/ou laboratorial),
diagnosticadas durante a gestação, parto ou puerpério;
• todo indivíduo com menos de 13 anos com suspeita clínica e/ou epidemiológica de
sífilis congênita.
Primeiras medidas a serem adotadas frente
a um caso identificado
Assistência médica ao paciente
Tendo em vista o projeto de eliminação da sífilis congênita, toda gestante deverá ser
testada para sífilis na primeira consulta, no início do terceiro trimestre do pré-natal e na
admissão para o parto. As mulheres reagentes serão tratadas segundo o esquema abaixo:
• sífilis primária (cancro duro): penicilina benzatina 2.400.000 UI, via intramuscular,
em dose única (administrar metade em cada glúteo);
• sífilis secundária e sífilis latente recente (com menos de um ano de evolução): penicilina benzatina 2.400.000 UI, via intramuscular, repetindo a mesma dose uma
semana depois; dose total: 4.800.000 UI;
• sífilis terciária ou sífilis com mais de um ano de evolução ou duração ignorada: penicilina benzatina 2.400.000 UI, via intramuscular, em 3 aplicações, com intervalo
de uma semana entre cada aplicação; dose total: 7.200.000 UI;
6
Atenção
Na sífilis primária o parceiro deve também ser tratado, com a mesma dose, independentemente de apresentar manifestação clínica. Nas sífilis secundária e terciária
o tratamento do parceiro só deve ser feito após avaliação clínica e laboratorial, e só
deverão ser tratados aqueles com sífilis confirmada.
• em caso de alergia referida, realizar testes cutâneos padronizados e dessensibilizar
quando confirmada a atopia;
• alternativamente, em caso de alergia comprovada à penicilina, pode ser utilizada a
eritromicina (estearato) 500mg – 1 comp., 6/6 h, via oral, por 15 dias (sífilis recente)
ou 30 dias (sífilis tardia).
S
Observações
A eritromicina tem um perfil de eficácia menor, múltiplas doses diárias e maior incidência de efeitos colaterais (o que diminui a adesão). Assim, requer acompanhamento
mais atento.
Deve-se proporcionar a todos os portadores de DST a realização de testes anti-HIV,
mediante aconselhamento.
Fazer controle de cura trimestral com a realização do VDRL.
Tratar novamente em caso de interrupção do tratamento ou quadruplicação dos títulos (ex.: de 1/2 para 1/8).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
681
Sífilis Congênita
Assistência médica ao recém-nascido e criança com sífilis congênita
Todas as crianças que se enquadrem na definição de caso devem ser submetidas ao
tratamento e seguimento clínico e laboratorial preconizados. É fundamental evitar a perda de oportunidades de diagnóstico e tratamento, tanto da infecção materna quanto da
criança, reduzindo-se, assim, as elevadas taxas de morbi-mortalidade determinadas pela
infecção, incluindo-se as lesões do sistema nervoso central.
Qualidade da assistência
A sífilis congênita é uma doença prevenível, bastando que a gestante infectada seja
detectada e prontamente tratada, assim como o(s) seu(s) parceiro(s) sexual(is). Portanto,
a medida mais efetiva de controle da sífilis congênita consiste em oferecer, a toda gestante,
uma assistência pré-natal adequada. No entanto, as medidas de controle devem abranger
outros momentos: antes da gravidez e na admissão à maternidade, seja no momento do
parto, seja na curetagem por abortamento ou durante qualquer outra intercorrência na
gravidez. Mesmo o diagnóstico tardio da infecção materna, realizado na admissão para o
parto, é valido, pois, a despeito de não se evitar a doença na criança, haverá condições de
tratar a mulher e o concepto, reduzindo as complicações advindas da infecção.
Confirmação diagnóstica
O teste sorológico de imunofluorescência, o FTA-abs/IgM-19S, realizado em sangue
periférico de recém-natos, pode definir a infecção; no entanto, sua disponibilidade é limitada aos centros laboratoriais de referência ou de pesquisa. Um teste não-treponêmico
reagente após o sexto mês de vida, ou um teste treponêmico após o 18º mês, é definidor da
infecção. A realização de exames microbiológicos em amostras de tecidos da criança ou de
placenta ou cordão umbilical são definitivos para a confirmação do caso.
Instrumentos disponíveis para controle
Antes da gravidez
• Diagnóstico precoce em mulheres em idade reprodutiva e seus parceiros.
• Realização do teste VDRL em mulheres que manifestem a intenção de engravidar.
• Tratamento imediato dos casos diagnosticados em mulheres e seus parceiros.
Durante a gravidez
Realizar o teste VDRL no primeiro trimestre da gravidez, ou na primeira consulta, e
outro no início do terceiro trimestre. Na ausência de teste confirmatório, considerar para o
diagnóstico as gestantes com VDRL reagente, em qualquer titulação, desde que não tratadas anteriormente de forma adequada ou que a documentação deste tratamento não esteja
disponível.
682
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Sífilis Congênita
Ações de educação em saúde
A adoção de práticas sexuais seguras, associada ao bom desempenho na execução do
pré-natal, são peças-chave para o controle do agravo. A população-alvo deverá receber
informações sobre a prevenção das DST e o direito a uma assistência médica humanizada
e de qualidade.
Estratégias de prevenção
As ações de prevenção da sífilis congênita baseiam-se em três pontos estratégicos,
abaixo visualizados:
Oportunidades estratégicas para o controle da sífilis congênita e suas complicações
Período de atuação
Anterior
à gestação
Gestação
Parto ou
curetagem
Objetivos gerais
Prevenir DST
em mulheres
em idade fértil
Evitar a transmissão
para o concepto
Reduzir a
morbimortalidade
Grupos-alvo
População
geral
Gestantes
no pré-natal
Recém-nascido
Principais atividades
Diagnóstico e
tratamento precoce
da sífilis adquirida;
incentivo ao
uso regular de
preservativos
VDRL no
1º e 3º trimestres
da gestação.
Tratamento da gestante e parceiro
6
VDRL em
parturientes: se
positivo, investigar
récem-nascido
S
Tratamento
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
683
Síndrome da Rubéola Congênita
SÍNDROME DA RUBÉOLA CONGÊNITA
CID 10: P35.0
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A síndrome da rubéola congênita (SRC) constitui importante complicação da infecção
pelo vírus da rubéola durante a gestação, principalmente no primeiro trimestre, podendo
comprometer o desenvolvimento do feto e causar aborto, morte fetal, natimorto e anomalias congênitas. Suas manifestações clínicas podem ser transitórias (púrpura, trombocitopenia, hepatoesplenomegalia, icterícia, meningoencefalite, osteopatia radioluscente),
permanentes (deficiência auditiva, malformações cardíacas, catarata, glaucoma, retinopatia
pigmentar) ou tardias (retardo do desenvolvimento, diabetes mellitus). As crianças com
SRC freqüentemente apresentam mais de um sinal ou sintoma, mas podem ter apenas uma
malformação, sendo a deficiência auditiva a mais comum.
Agente etiológico
O vírus da rubéola é um vírus RNA, pertencente ao gênero Rubivirus, família Togaviridae.
Reservatório
O homem é o único reservatório conhecido.
Modo de transmissão
A SRC é transmitida pela via transplacentária, após a viremia materna.
Período de transmissibilidade
Recém-nascidos com SRC podem excretar o vírus da rubéola nas secreções naso-faríngeas, sangue, urina e fezes por longos períodos. O vírus pode ser encontrado em 80% das
crianças no primeiro mês de vida; 62% do primeiro ao quarto mês; 33% do quinto ao oitavo
mês; 11% entre nove e doze meses e apenas 3% no segundo ano de vida.
Susceptibilidade e imunidade
A infecção natural pelo vírus da rubéola ou pela imunização confere, em geral, imunidade permanente. No entanto, o nível de imunidade coletiva atingido não é suficientemente
alto para interromper a transmissão do vírus.
Diferentes estratégias de vacinação contra a rubéola têm sido adotadas para a prevenção da SRC. A vacinação de mulheres em idade fértil (MIF) tem efeito direto na prevenção
ao reduzir a susceptibilidade entre gestantes sem que ocorra a eliminação do vírus na comunidade. A longo prazo, a vacinação de rotina na infância tem impacto na prevenção da
684
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Síndrome da Rubéola Congênita
SRC pois interrompe a transmissão do vírus entre as crianças, o que reduz o risco de exposição de gestantes susceptíveis. Além disso, reduz a susceptibilidade nas futuras coortes de
mulheres em idade fértil.
A incidência da SRC depende, portanto, do número de susceptíveis, da circulação do
vírus na comunidade e do uso de vacina específica.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
A infecção pelo vírus da rubéola na fase intra-uterina pode resultar no nascimento de
criança sem nenhuma anomalia, mas pode provocar abortamento espontâneo, natimortalidade ou nascimento de crianças com anomalias simples ou combinadas. As principais
manifestações clínicas da SRC são catarata, glaucoma, microftalmia, retinopatia, cardiopatia congênita (persistência do canal arterial, estenose aórtica, estenose pulmonar), surdez, microcefalia e retardo mental. Outras manifestações clínicas podem ocorrer, mas são
transitórias, como hepatoesplenomegalia, hepatite, icterícia, anemia hemolítica, purpura
trombocitopênica, adenopatia, meningoencefalite, miocardite, osteopatia de ossos longos
(rarefações lineares nas metáfises) e exantema crônico. A prematuridade e o baixo peso ao
nascer estão também associados à rubéola congênita.
6
Diagnóstico diferencial
Várias patologias congênitas ou adquiridas, que ocorrem após o nascimento, têm manifestações clínicas semelhantes entre si. O diagnóstico diferencial da SRC inclui: infecções congênitas por citomegalovírus, varicela-zoster, Coxsackievirus, Echovirus, herpes simples, HIV,
hepatite B, parvovírus B19, Toxoplasma gondii, Treponema pallidum, malária e Tripanosoma
cruzi. As principais manifestações clínicas dessas patologias são descritas no Quadro 1.
Diagnóstico laboratorial
S
O feto infectado é capaz de produzir anticorpos específicos IgM e IgG para rubéola,
antes mesmo do nascimento.
A presença de anticorpos IgM específicos para rubéola, no sangue do recém-nascido,
é evidência de infecção congênita, uma vez que os anticorpos IgM maternos não ultrapassam a barreira placentária. Os anticorpos IgM podem ser detectados em 100% das crianças
com SRC até o 5º mês; em 60% de 6 a 12 meses e em 40% de 12 a 18 meses. Raramente são
detectados após o 18º mês.
Os anticorpos maternos, da classe IgG, podem ser transferidos passivamente ao feto
através da placenta, sendo também encontrados nos recém-natos normais, nascidos de
mães imunes à rubéola. Não é possível diferenciar os anticorpos IgG maternos daqueles
produzidos pelo próprio feto, quando infectados na vida intra-uterina. Como a quantidade
de anticorpos IgG maternos diminui com o tempo, desaparecendo por volta do 6º mês, a
persistência dos níveis de anticorpos IgG no sangue do recém-nascido é altamente sugestiva de infecção intra-uterina.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
685
Síndrome da Rubéola Congênita
Os exames laboratoriais são imprescindíveis para o estabelecimento do diagnóstico
definitivo. Para a investigação de casos suspeitos de SRC, deve ser colhida uma amostra de
sangue logo após o nascimento, quando há suspeita ou confirmação de infecção materna
durante a gestação, ou logo após a suspeita diagnóstica, nos menores de um ano.
Quadro 1. Principais manifestações clínicas de patologias congênita ou que ocorrem
após o nascimento
Patologia/patógeno
Rubéola
Feto
Aborto
Recém-nascido
Malformação
Seqüela
Baixo peso,
hepatoesplenomegalia,
osteíte, purpura
Cardiopatia,
microcefalia,
catarata
Surdez, retardo
mental, diabete,
autismo, cegueira,
degeneração do SNC
Citomegalovírus
-
Anemia, trombocitopenia,
hepatoesplenomegalia,
icterícia, encefalite
Microcefalia,
microftalmia,
retinopatia
Surdez,
retardo psicomotor,
calcificação cerebral
Varicela-zoster
-
Baixo peso, corioretinite,
varicela congênita ou
neonatal, encefalite
Hipoplasia de
membros, atrofia
cortical, cicatrizes
Evolução fatal por
infecção secundária
Picornavírus,
Coxsackievírus,
Echovírus
Aborto
Doença febril leve,
exantema, doença
sistêmica grave, enterite
Possível cardiopatia,
miocardite
Déficit neurológico
Herpes simples
Aborto
Doença sistêmica
grave, lesões
vesiculosas, retinopatia
Microcefalia,
retinopatia, calcificações cerebrais
Déficit motor
Vírus HIV
-
Aids (Sida)
-
Aids (Sida)
Vírus da hepatite B
-
HbsAg assintomático,
baixo peso, hepatite aguda
-
Hepatite crônica,
HbsAg+ persistente
-
Parvovírus B19
Natimorto,
hidropsia fetal
Natimorto
Toxoplasma gondii
Aborto
Baixo peso,
hepatoesplenomegalia,
icterícia, anemia
Treponema pallidum
Natimorto,
hidropsia fetal
Lesões de pele, rinite,
hepatoesplenomegalia,
icterícia, anemia
-
Malária
Aborto
Hepatoesplenomegalia,
icterícia, anemia, vômitos
-
Tripanosoma cruzi
(Chagas)
Aborto
Baixo peso, icterícia,
anemia, petéquias,
falha cardíaca, hepatoesplenomegalia, encefalite
Hidrocefalia,
microcefalia
Catarata
Corioretinite,
retardo mental
Ceratite intersticial,
bossa frontal, tíbia
em sabre, dentes
de Hutchinson
-
Miocardite, acalasia
Fonte: Gotoft/SP - Infections of newborn. In: Behrman RE, Kliegman RM: Nelson Textboook of Pediatrics, WB
Saunders Co, Philadelphia, 1992, 14th. 496.
686
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Síndrome da Rubéola Congênita
Quadro 2. Diagnóstico laboratorial de caso suspeito de SRC*
Período da coleta
Pesquisa
Logo após o nascimento ou
quando da suspeita de SRC
IgM
IgG
Após 3 meses da 1ª coleta
(realizar testes pareados)
IgG
Resultado
Conduta
Positivo
Confirmar o caso
Negativo
Realizar pesquisa de IgG com o mesmo soro
Positivo
Coletar 2ª amostra após 3 meses
Negativo
Descartar o caso
Se o IgG mantiver o título
anterior ou for maior
Confirmar o caso
Se houver queda acentuada do título de IgG, comparado com o anterior
Descartar o caso
6
*Recém-nascido cuja mãe teve diagnóstico confirmado de rubéola durante a gestação, ou lactente com suspeita
de SRC.
Observação: Quando a mãe não foi investigada anteriormente, realizar na mesma a pesquisa de IgM e IgG.
Recomendação
Isolamento viral – se a sorologia for IgM reagente (+), recomenda-se a coleta de espécime clínica (swab nasofaríngeo) para identificação do genótipo do vírus.
Tratamento
Não existe tratamento antiviral efetivo. Este será direcionado às malformações congênitas e deficiências observadas. Quanto mais precoces forem a detecção e a intervenção,
quer o tratamento seja clínico, cirúrgico ou de reabilitação, melhor será o prognóstico da
doença.
Aspectos epidemiológicos
S
A rubéola e a SRC são doenças de notificação compulsória desde 1996. No entanto,
só a partir de 1999, com a vigilância integrada do sarampo e rubéola como estratégia para
atingir a meta de erradicação do sarampo, passou-se a documentar mais sensível e representativamente a circulação do vírus da rubéola no Brasil. Assim, surtos de rubéola foram
detectados em diversos estados entre 1999 e 2001. Padrões diferenciados de ocorrência da
rubéola por faixa etária foram observados, provavelmente como consequência da introdução gradual da vacina, o que acarretou deslocamento da ocorrência da doença para adultos
jovens entre 1999 e 2000. Em 1999, a maioria dos surtos ocorreu em estados que ainda não
haviam implantado a vacinação contra a rubéola, sendo a população mais atingida a de menores de 15 anos. Em 2000, os surtos atingiram estados que já vacinavam contra a rubéola.
No período de 2000 e 2001, observou-se aumento no número de casos de SRC, como efeito
do surto, mas também refletindo a estruturação da vigilância da SRC no país (Figura 1).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
687
Síndrome da Rubéola Congênita
Os dados de vigilância da rubéola, nesses anos, possibilitaram não só a adoção de
medidas de controle frente a surtos (vacinação de bloqueio) mas também a implantação da
estratégia de controle acelerado da SRC, com a realização, em 2001 e 2002, de campanhas
de vacinação de mulheres em idade fértil em todos os estados brasileiros. Como resultado
desse intenso esforço de vacinação de grupos susceptíveis, observa-se substancial redução
do número de casos de rubéola e de SRC a partir de 2002 (Figura1).
A SRC é um evento relativamente raro, principalmente na ausência de surtos e com
elevadas coberturas vacinais. Entretanto, possui grande magnitude pelo alto custo associado ao tratamento, intervenções e educação especial, sem contar o sofrimento humano.
Estima-se que muitos casos não são diagnosticados ou permaneçam não notificados, contribuindo para o conhecimento apenas parcial do problema.
Em 2003, foi estabelecida a meta de eliminação da rubéola e da SRC nas Américas
até 2010. Para isso, é fundamental fortalecer a vigilância da SRC, em especial por meio de
vigilância ativa em unidades de referência para o atendimento de crianças com infecções
congênitas e outras malformações compatíveis com SRC. Assim, será possível detectar os
casos suspeitos, realizar exames diagnósticos e intervenções mais precocemente, o que tende a aumentar a especificidade do sistema.
120
3,5
100
3
2,5
80
2
60
1,5
40
1
20
0
0,5
1997
1998
1999
2000
Casos de SRC
2001
2002
2003
Incidência por 100 mil*
Número de casos
Figura 1. Incidência* e nº de casos confirmados e compatíveis de SRC.
Brasil, 1997-2003
0
Incidência
Fonte: Sinan
*Denominador: População <1ano, IBGE
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Conhecer a magnitude da SRC como problema de saúde pública, notificar e investigar
todos os casos suspeitos de SRC, avaliar o impacto das estratégias de vacinação e divulgar
informações para os profissionais e serviços de saúde.
688
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Síndrome da Rubéola Congênita
Definição de caso
Suspeito
Todo recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de rubéola ou contato
de caso confirmado de rubéola durante a gestação, ou toda criança, até 12 meses de idade,
que apresente sinais clínicos compatíveis com infecção congênita pelo vírus da rubéola,
independente da história materna.
Confirmado
Caso suspeito que apresenta malformações congênitas compatíveis com SRC e evidência laboratorial da infecção congênita pelo vírus da rubéola: presença de anticorpos IgM específicos ou elevação persistente dos títulos de anticorpos da classe IgG, detectados através
de ensaio imunoenzimático (Elisa) em amostras pareadas, com intervalo de 3 meses.
6
Importado
Caso cuja exposição ocorreu fora do continente americano durante os 14 a 23 dias
prévios ao surgimento do exantema, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos
e/ou virológicos.
Caso relacionado com importação – infecção contraída localmente que ocorre como
parte de uma cadeia de transmissão originada por um caso importado, de acordo com a
análise dos dados epidemiológicos e/ou virológicos.
Caso com origem de infecção desconhecida – caso em que não foi possível estabelecer a origem da fonte de infecção, após investigação epidemiológica minuciosa.
Compatível
Caso suspeito que apresente pelo menos uma manifestação clínica do Grupo 1 (sinais
maiores) associada a uma outra do Grupo 2 (sinais menores) ou à história de infecção materna comprovada por laboratório ou vínculo epidemiológico durante a gestação.
Grupo 1 – catarata/glaucoma congênitos (interpretar como uma só manifestação),
cardiopatia congênita, retinopatia pigmentar, surdez.
Grupo 2 – hepatoesplenomegalia, icterícia, microcefalia, retardo mental, meningoencefalite, púrpura trombocitopênica, radiotransparência óssea nas metáfises (osteopatia de
ossos longos).
S
Infecção congênita
Caso suspeito que apresenta evidência laboratorial de infecção congênita pelo vírus da
rubéola, sem nenhuma manifestação clínica compatível com SRC.
Descartado
O caso será classificado como descartado quando enquadrar-se em uma das seguintes
condições:
• títulos de IgM e IgG ausentes em crianças menores de 12 meses;
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
689
Síndrome da Rubéola Congênita
• títulos de IgG diminuindo, em prazo compatível com a transferência de anticorpos
maternos detectados por ensaio imunoenzimático a partir do nascimento;
• quando, por qualquer motivo, os resultados do exame sorológico do recém-nascido
não estiverem disponíveis e os dados clínicos forem insuficientes para confirmar o
caso pela clínica;
• títulos de IgG ausentes na mãe.
Notificação
A notificação deve ser feita, de imediato, para a Comissão de Infecção Hospitalar e
Serviço de Vigilância Epidemiológica da unidade de saúde. O recém-nascido pode ser fonte de infecção dentro de uma unidade de saúde, sendo necessária a adoção de medidas de
controle, como isolamento respiratório e vacinação de contactantes.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Realizar exame clínico minucioso para detectar malformações e coletar sangue para
sorologia. Todo caso que apresentar malformação deverá ser encaminhado para especialista (neurologista, cardiologista, otorrinolaringologista e/ou oftalmologista, etc.), para tratamento específico.
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde com capacidade para
prestar atendimento adequado e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitam
de cuidados permanentes e contínuos, demandando avaliação especializada (déficit auditivo, cardiopatias, malformações oculares).
Proteção individual para evitar circulação viral
É necessário realizar o isolamento dos contatos do recém-nascido, uma vez que o vírus
pode estar presente em fluidos corporais (secreção nasofaríngea e urina). A infecção pode
ser transmitida aos susceptíveis, sendo importante a vacinação dos profissionais de saúde e
contactantes. É importante evitar o contato de gestantes com a criança.
Confirmação diagnóstica
Coletar material para diagnóstico laboratorial, de acordo com as orientações do
Anexo 1.
Proteção da população
Após o conhecimento de um surto de rubéola é importante avaliar a distribuição etária
dos casos confirmados e a situação vacinal, além da cobertura vacinal na área. Se o surto
ocorrer em um grupo não vacinado, realizar a vacinação visando, principalmente, interromper a circulação viral, reduzindo o risco de exposição de gestantes susceptíveis ao vírus.
690
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Síndrome da Rubéola Congênita
Devem ser organizadas divulgação nos meios de comunicação de massa, visitas domiciliares e palestras nas comunidades para esclarecer a população sobre a doença, a gravidade da infecção intra-uterina e a importância da vacinação.
Investigação
Todo caso suspeito de SRC deve ser investigado em até 48 horas após a notificação,
com o objetivo de:
• caracterizar clinicamente o caso;
• coletar dados epidemiológicos do caso;
• coletar amostra de sangue para exame sorológico, a fim de confirmar o diagnóstico;
• desencadear as medidas de controle pertinentes;
• obter informações detalhadas e uniformes, para todos os casos, possibilitando a
comparação dos dados e a análise adequada da situação epidemiológica da doença;
• confirmar ou descartar o caso, conforme os critérios estabelecidos.
6
O instrumento de coleta de dados – ficha epidemiológica específica de SRC – disponível no Sinan contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investigação
de rotina. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando
a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme as
necessidades e peculiaridades de cada situação.
Toda gestante com resultado sorológico (IgM) positivo para rubéola ou que teve contato com casos confirmados ou suspeitos de rubéola deve ser acompanhada pelo serviço de
vigilância epidemiológica, com o objetivo de verificar a ocorrência de abortos, natimortos
ou o nascimento de crianças com ou sem malformações congênitas ou outras anomalias.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan, relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
S
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
Anotar na ficha de investigação os dados da história e manifestações clínicas:
• deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente, para completar as
informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir se o
quadro apresentado é compatível com a doença;
• sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução do doente, com
vistas ao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumento de aprendizagem dos profissionais do nível local; acompanhar a evolução
dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
691
Síndrome da Rubéola Congênita
Para identificação de novos casos de SRC
• Realizar busca ativa nos livros de registros de internação e alta de pacientes e no Sistema de Informação Hospitalar (SIH) em maternidades, unidades neonatais e livros
de registros de serviços pediátricos especializados, como cardiologia, oftalmologia,
neurologia, otorrinolaringologia e fonoaudiologia.
• Locais com ocorrência de surto: além do acompanhamento das gestantes que tiveram diagnóstico de rubéola confirmado, realizar vigilância ativa prospectiva nas
maternidades, unidades neonatais e pediátricas, por um período de pelo menos 9
meses após o término do surto.
Coleta e remessa de material para exames
• Logo após a suspeita de SRC, coletar sangue de todos os casos.
• É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar estas coletas.
Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas
de controle e outras atividades da investigação, embora eles sejam imprescindíveis para
a confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações. Se o teste de
IgM for negativo, a criança pode ser retirada do isolamento.
Análise dos dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema, a caracterização clínica da coorte, a identificação de oportunidades perdidas de vacinação, a adequação das medidas de controle adotadas e, finalmente, a avaliação do impacto
das estratégias de vacinação atuais na prevenção da SRC.
Encerramento de casos
As fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visando definir qual o
critério utilizado para o diagnóstico. Espera-se que todos os casos sejam classificados pelo
critério laboratorial.
Relatório final
Os dados da ficha de investigação deverão estar adequadamente encerrados e digitados
no Sinan, no período de até 180 dias após a notificação do caso, para as análises epidemiológicas necessárias.
Instrumentos disponíveis para controle
A vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) foi implantada no Brasil, de forma gradativa, no período de 1992 a 2000. Atualmente, a vacinação contra a rubéola está
inserida no calendário vacinal de rotina, devendo ser realizada aos 12 meses de vida. O
692
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Síndrome da Rubéola Congênita
sistema de vigilância da SRC foi implantado em 2000, objetivando conhecer a magnitude
da SRC como problema de saúde pública e avaliar as estratégias de vacinação.
Roteiro de investigação epidemiológica da síndrome da rubéola congênita
Notificação de caso(s) suspeito(s)
Investigação
Identificar
ocorrência de surtos
Atenção médica/
dados clínicos e epidemiológicos
Sim
Coleta de material
para sorologia
6
Identificar área
de transmissão
Enviar ao laboratório
Determinar a extensão
da área de transmissão
Resultado do exame
Negativo
Adotar medidas de
prevenção e controle
Positivo
Monitoramento da
área durante 9 meses
Encerrar o caso
Bloqueio
Acompanhamento
de mulheres grávidas
expostas e recém-nascido
Educação
em saúde
Imunização
Recomendações para a vacinação – a vacinação é uma estratégia para o controle da
rubéola e prevenção da SRC.
A medida de controle, quando da detecção de um caso de SRC, é a vacinação de bloqueio, que deve ocorrer no hospital de atendimento do caso, no domicílio e na creche que a
criança irá freqüentar, uma vez que o vírus pode ser excretado pelas secreções nasofaríngeas
e urina, em até 1 ano de idade. Administrar a vacina tríplice viral (sarampo/rubéola/caxumba) no grupo etário de 1 a 39 anos de idade, na rotina, e nos bloqueios de 6 meses a 39 anos
de idade. É necessário que as crianças de 6 a 11 meses sejam revacinadas aos 12 meses de
idade na rotina, quando a vacina tem maior eficácia, sendo esta a dose considerada válida.
S
Ações de educação em saúde
• Esclarecer a população, principalmente da área da educação e creches, sobre a doença, a importância de notificar a secretaria municipal de saúde e a vacinação de crianças e mulheres para a prevenção da SRC.
• Orientar os profissionais de creches quanto aos cuidados com a criança portadora de
SRC.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Síndrome da Rubéola Congênita
Anexo 1
Normas para procedimentos laboratoriais
O diagnóstico específico de cada paciente com suspeita de síndrome da rubéola congênita é da maior importância para a vigilância epidemiológica. A seguir, são descritos os
exames laboratoriais disponíveis, suas interpretações e as normas de coleta dos espécimes.
Testes sorológicos
• MAC-Elisa – é bastante sensível e detecta anticorpos específicos da classe IgM, que
indica infecção ativa. Esses anticorpos, na infecção congênita, aparecem desde o
nascimento e perduram, em geral, até os 180 dias de vida. É um teste sensível, de
eleição para a triagem de casos.
• PCR – detecta material genético do vírus em amostra clínica (urina e secreção nasofaríngea).
• Isolamento viral em cultura de células – útil para identificar o genótipo do vírus,
possibilitando conhecer a origem do vírus, em casos importados, e também diferenciar o vírus selvagem do vacinal.
• Diagnóstico histopatológico – realizado a partir de coleta de material post-mortem.
Coleta e conservação de material para diagnóstico da síndrome da rubéola congênita
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
Nº de
amostras
1ª ao nascer;
Sangue
Sorológico
Isolamento
viral
Obtenção
da amostra:
punção
venosa
Crianças:
Secreções
nasofaringeas
através
de swab
Uma amostra de cada
narina e uma
da garganta
Urina
2-5ml
2-5ml
Até 3*
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
2ª no terceiro
mês de vida;
3ª no sexto
mês de vida
1
1
*Conforme resultado da primeira amostra.
694
Período
da coleta
Após o resultado
de IgM positivo
na 1ª amostra,
até 12 meses
de vida
Recipiente
Tubo plástico
ou vidro,
com tampa
de rosca
ou frasco
com vácuo
Frasco estéril
de plástico
com meio
específico
Após o resultado
de IgM positivo
Frasco estéril
na 1ª amostra,
de plástico
até 12 meses
de vida
Armazenamento/
conservação
Geladeira local:
4ºC a 8ºC
até 48 horas
Lacen: -20ºC
Em geladeira
até 48 horas
(sem congelar)
Lacen:
freezer a -70ºC
Em geladeira
até 48 horas
(sem congelar)
Lacen:
freezer a -70ºC
Transporte
Gelo reciclável
em até 48
horas após
a coleta
Gelo reciclável
em até 48
horas após
a coleta
Gelo reciclável
em até 48
horas após
a coleta
Síndrome da Rubéola Congênita
Todo material deverá ser enviado devidamente identificado e acompanhado de cópia
da ficha de acompanhamento sorológico, que servirá para orientar os técnicos do laboratório quanto aos exames indicados, de acordo com o período que antecedeu a suspeita da
infecção.
A informação sobre a história vacinal dos casos suspeitos é muito importante para
subsidiar a análise adequada dos resultados de testes sorológicos.
Conduta frente a um caso suspeito
Recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de
rubéola durante a gestação, ou criança de até 12 meses que
apresente sinais clínicos compatíveis com infecção congênita
pelo vírus da rubéola, independente da história materna
6
Suspeito de síndrome da rubéola congênita
Notificar
Colher amostra de sangue para
sorologia logo após o nascimento
ou suspeita de SRC
Vacinação de bloqueio
IgM +
IgM IgG -
IgM IgG +
Confirmar o caso
Descartar o caso
Coletar 2ª amostra
após 3 meses da coleta
da 1ª amostra
Se o IgG mantiver
o título anterior
ou for maior
Se houver queda
acentuada do título
de IgG, comparado
ao anterior
Confirmar o caso
Descartar o caso
S
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695
Tétano Acidental
TÉTANO ACIDENTAL
CID 10: A35
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa aguda não-contagiosa, causada pela ação de exotoxinas produzidas
pelo Clostridium tetani, que provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central. Clinicamente, a doença manifesta-se por febre baixa ou ausente, hipertonia
muscular mantida, hiperreflexia e espasmos ou contraturas paroxísticas espontâneas ou
ocasionados por vários estímulos, tais como sons, luminosidade, injeções, toque ou manuseio. Em geral, o paciente mantém-se consciente e lúcido.
Agente etiológico
O Clostridium tetani, bacilo gram-positivo esporulado, anaeróbico, morfologicamente
semelhante a um alfinete de cabeça, com 4 a 10μ de comprimento. Produz esporos que lhe
permitem sobreviver no meio ambiente por vários anos.
Reservatório
O Clostridium tetani é comumente encontrado na natureza, sob a forma de esporo,
nos seguintes meios: pele, trato intestinal dos animais (especialmente do cavalo e do homem, sem causar doença), fezes, terra, reino vegetal, águas putrefatas, instrumentos perfurocortantes enferrujados, poeira das ruas, etc.
Modo de transmissão
Não há transmissão direta ou indireta. A infecção ocorre pela introdução dos esporos
em solução de continuidade da pele ou mucosas (ferimentos superficiais ou profundos de
qualquer natureza). Em meio a condições favoráveis de anaerobiose, os esporos transformam-se em formas vegetativas, que são as responsáveis pela produção de tetanospasminas.
A presença de tecidos desvitalizados, corpos estranhos, isquemia e infecção contribuem
para diminuir o potencial de oxirredução.
Período de incubação
É o período requerido pelo esporo para germinar, elaborar as toxinas e permitir que
estas atinjam o sistema nervoso central, gerando alterações funcionais com aumento da
excitabilidade. Varia de um dia a alguns meses, mas comumente é de três a 21 dias.
Período de transmissibilidade
Não há.
696
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal, independente de sexo ou idade. A imunidade permanente é conferida pela vacina com 3 doses e reforço a cada 5 ou 10 anos A doença não confere imunidade. Os filhos de mães imunes apresentam imunidade passiva e transitória até
4 meses. Recomenda-se um reforço em caso de nova gravidez, se esta distar mais de 5 anos
da última dose. A imunidade através do soro antitetânico (SAT) dura até 14 dias, em média
1 semana, e a conferida pela imunoglobulina humana antitetânica dura de 2 a 4 semanas,
em média 14 dias.
Aspectos clínicos
Manifestações clínicas
O tétano é uma toxiinfecção causada pela toxina do bacilo tetânico, introduzido no
organismo através de ferimentos ou lesões de pele ou mucosa. Clinicamente, o tétano acidental se manifesta por:
Hipertonia dos músculos – masseteres (trismo e riso sardônico), pescoço (rigidez de
nuca), faringe (ocasionando dificuldade de deglutição-disfagia), contratura muscular progressiva e generalizada dos membros superiores e inferiores (hiperextensão de membros),
reto-abdominais (abdome em tábua), paravertebrais (opistótono) e diafragma, levando à
insuficiência respiratória; os espasmos são desencadeados ao menor estímulo (luminoso,
sonoro ou manipulação do paciente) ou surgem espontaneamente;
Período de infecção – em média, de dois a cinco dias;
Remissão – não apresenta período de remissão;
Período toxêmico – ocorre sudorese pronunciada e pode haver retenção urinária por
bexiga neurogênica. Inicialmente, as contrações tônico-clônicas ocorrem sob estímulos externos. Com a evolução da doença, passam a ocorrer espontaneamente. É característica
da doença o enfermo manter-se lúcido e apirético ou com febre baixa. A presença de febre
acima de 38°C é indicativa de infecção secundária ou de maior gravidade do tétano.
6
T
Diagnóstico diferencial
Em relação às formas generalizadas do tétano, incluem-se os seguintes diagnósticos
diferenciais:
• intoxicação pela estricnina – há ausência de trismos e de hipertonia generalizada
durante os intervalos dos espasmos;
• meningites – há febre alta desde o início, ausência de trismos, presença dos sinais de
Kerning e Brudzinsky, cefaléia e vômito;
• tetania – os espasmos são principalmente nas extremidades, com sinais de Trousseau
e Chvostek presentes, hipocalcemia e relaxamento muscular entre os paroxismos;
• raiva – história de mordedura, arranhadura ou lambedura por animais, convulsão,
ausência de trismos, hipersensibilidade cutânea e alterações de comportamento;
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
697
Tétano Acidental
• histeria – ausência de ferimentos e de espasmos intensos. Quando o paciente se
distrai, desaparecem os sintomas;
• intoxicação pela metoclopramida e por neurolépticos – podem levar ao trismo e
hipertonia muscular;
• processos inflamatórios da boca e faringe, acompanhados de trismo – dentre os
principais, citam-se: abscesso dentário, periodontite alvéolo-dentária, erupção viciosa do dente do siso, fratura e/ou osteomielite de mandíbula, abscesso amigdaliano e/ou retrofaríngeo;
• doença do soro – pode cursar com trismo, que é decorrente da artrite têmporomandibular que se instala após uso do soro heterólogo. Ficam evidenciadas lesões
maculopapulares cutâneas, hipertrofia ganglionar, comprometimento renal e outras
artrites.
É importante chamar a atenção para as condições que, mesmo excepcionalmente, podem figurar no diagnóstico diferencial do tétano, tais como:
❯ osteoartrite cervical aguda com rigidez de nuca;
❯ espondilite septicêmica;
❯ hemorragia retroperitonial;
❯ úlcera péptica perfurada;
❯ outras causas de abdome agudo;
❯ epilepsia;
❯ outras causas de convulsões.
Diagnóstico laboratorial e exames complementares
O diagnóstico do tétano é eminentemente clínico-epidemiológico, não dependendo
de confirmação laboratorial. O laboratório auxilia no controle das complicações e tratamento do paciente. O hemograma habitualmente é normal, exceto quando há infecção
inespecífica associada. As transaminases e uréia sangüíneas podem elevar-se nas formas
graves. A dosagem de gases e eletrólitos é importante nos casos de insuficiência respiratória.
As radiografias de tórax e da coluna vertebral devem ser realizadas para o diagnóstico de
infecções pneumônicas e de fraturas de vértebras, respectivamente. Hemoculturas, culturas
de secreções e de urina são indicadas nos casos de infecção secundária.
Tratamento
O doente deve ser internado em unidade apropriada com temperatura estável e agradável e o mínimo de ruído e luminosidade. Casos graves têm indicação de terapia intensiva,
onde haja suporte necessário para o manejo de complicações e conseqüente redução das
seqüelas e letalidade. São de fundamental importância os cuidados dispensados por equipes
médica e de enfermagem, experientes no atendimento a esse tipo de enfermidade.
Os princípios básicos do tratamento são:
• sedação do paciente – através do uso de benzodiazepínicos e miorrelaxantes;
• neutralização da toxina tetânica – utiliza-se o soro antitetânico (SAT), cuja indi-
698
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
cação terapêutica é de 10 mil a 20 mil UI para crianças e adultos, via intramuscular,
distribuída em duas massas musculares, ou via endovenosa, diluído para 100 ml de
soro fisiológico e infundido em uma hora. Atentar para a possibilidade do surgimento de reação anafilática. A realização prévia de testes oculares e intradérmicos
é de grande importância para avaliar a existência de hipersensibilidade, porém não
são inteiramente seguros. Desse modo, tanto a avaliação de hipersensibilidade quanto a administração do SAT devem ser feitas em ambiente hospitalar, garantindo-se
medidas imediatas de suporte de vida frente a ocorrência de reação anafilática. A
imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT ou TIG) é disponível no Brasil apenas
para uso intramuscular, em duas ou mais massas musculares, na dosagem, a critério
médico, de 1 mil a 3 mil UI. A administração da TIG pela via intratecal, ainda é controversa na literatura e, no Brasil, seu uso está limitado a protocolos de pesquisas;
• debridamento do foco – limpar o ferimento suspeito com soro fisiológico ou água e
sabão e retirar o tecido desvitalizado e corpos estranhos. Após a remoção de todas as
áreas suspeitas, fazer limpeza com água oxigenada ou solução de permanganato de
potássio a 1:5000. Ferimentos puntiformes e profundos devem ser abertos em cruz e
lavados com soluções oxidantes. Não há comprovação de eficácia do uso de penicilina benzatina como profilático do tétano acidental, nas infecções cutâneas. Além de
tratamento sintomático, caso haja indicação para o uso de antibióticos proceder de
acordo com os esquemas terapêuticos indicados pela situação clínica.
6
Aspectos epidemiológicos
O tétano ainda constitui problema de saúde pública nas áreas onde os níveis de desenvolvimento humano e de cobertura vacinal são inadequados.
No Brasil, verifica-se tendência de declínio das taxas médias de incidência no período
de 1982 a 2003 (vide gráfico a seguir), com uma redução de 72% no número absoluto de
casos confirmados. A região Sudeste apresentou a maior redução no coeficiente de incidência deste período, decrescendo de 1,00 para 0,01 por 100 mil habitantes. Esta situação pode
ser atribuída ao maior desenvolvimento socioeconômico e educacional e ao maior acesso
a serviços de saúde, inclusive da população que migrou da zona rural para a urbana como
conseqüência da mecanização da agricultura.
A doença tem acometido todas as faixas etárias mas, atualmente, 46,2% dos casos estão
concentrados no grupo de 20 a 49 anos de idade, seguido do de 50 anos e mais, que acumula
um percentual de 35,3%. A faixa etária predominante varia conforme a região: as regiões
Centro-Oeste, Sul e Sudeste têm apresentado baixas incidências no grupo dos menores de
15 anos de idade, ao contrário das regiões Norte e Nordeste.
Outras características da situação epidemiológica do tétano acidental, para o país
como um todo: tem acometido com mais freqüência o sexo masculino; a partir dos anos
90, a zona urbana passou a responder pelo maior número de casos (62,2%); a letalidade está
acima de 30%, afetando principalmente os menores de cinco anos e os idosos, sendo con-
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
T
699
Tétano Acidental
siderada elevada quando comparada com os países de maior desenvolvimento econômico,
que apresentam taxas entre 10% a 17%.
Tétano acidental: distribuição dos coeficientes de incidência. Brasil, 1982-2003
2,0
Coeficiente de incidência /100 mil hab.
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0
82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
Ano
Fonte: Devep/CGVEP/SVS/MS
*Dados sujeitos a revisão
Vigilância epidemiológica
Objetivos
•
•
•
•
•
•
Monitorar o comportamento epidemiológico da doença.
Avaliar a efetividade das medidas de prevenção e controle.
Investigar, com qualidade, 100% dos casos suspeitos.
Identificar grupos de risco.
Analisar dados e adotar medidas de controle pertinentes.
Produzir e disseminar informações epidemiológicas
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente com dificuldade para deglutir, trismo, contraturas musculares localizadas
ou generalizadas progressivas, com ou sem espasmos, apresentando ou não solução de continuidade de pele ou mucosa, independente de história vacinal e doença prévia de tétano.
700
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
Confirmado
Todo caso suspeito cujos sinais/sintomas não se justifiquem por outras etiologias e
apresente hipertonia dos masseteres (trismo), disfagia, contratura dos músculos da mímica facial (riso sardônico, acentuação dos sulcos naturais da face, pregueamento frontal, diminuição da fenda palpebral), rigidez abdominal (abdome em tábua), contraturas da
musculatura paravertebral (opistótono), da região cervical (rigidez de nuca), de membros
(dificuldade para deambular), independente da situação vacinal, história prévia de tétano
e de detecção de solução de continuidade da pele ou mucosa. A lucidez do paciente reforça
o diagnóstico.
Descartado
Todo caso suspeito que, após investigação clínica e epidemiológica, não preencha os
critérios de confirmação.
6
Notificação
A notificação de casos suspeitos de tétano acidental deverá ser feita às autoridades e
instâncias superiores por profissionais da saúde ou por qualquer pessoa da comunidade.
Após a notificação, deve-se proceder a investigação epidemiológica.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata.
Qualidade da assistência
A internação deve ser imediata, em unidades específicas ou de terapia intensiva de
maior complexidade; os pacientes devem ser assistidos por profissionais médicos e de enfermagem qualificados e com experiência com esta doença, visando diminuir a letalidade e
as seqüelas. Alguns cuidados são necessários com relação à internação (unidades especiais
com pouca iluminação, diminuição de ruídos, temperaturas estáveis e mais baixas que a
temperatura corporal e manipulação restrita apenas ao necessário), devido a possibilidade
do desencadeamento das crises de contraturas. O isolamento é feito em virtude da necessidade de cuidados especiais e não pela infecção, pois a doença não é transmissível.
T
Proteção individual
Não é necessária, já que não há transmissão de pessoa a pessoa.
Confirmação diagnóstica
Mediante dados clínicos e epidemiológicos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Tétano Acidental
Proteção da população
O tétano acidental é uma doença para a qual há um meio eficaz de proteção. Portanto,
frente ao conhecimento da ocorrência de caso(s), deve-se avaliar a situação das ações de
prevenção do tétano na área e implementar medidas que as reforcem. Além da vacinação
de rotina, de acordo com os calendários de vacinação da criança, do adolescente e do adulto
e do idoso, destaca-se, em particular, a identificação e vacinação de grupos de risco, como
trabalhadores da construção civil e da agricultura, catadores de lixo, trabalhadores de oficinas mecânicas, etc.
Destaca-se, ainda, a importância da atualização dos profissionais de saúde quanto ao
tratamento adequado de ferimentos e esquemas de prevenção da doença.
Investigação
Imediatamente após a notificação de um caso suspeito, iniciar a investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas em tempo oportuno. O instrumento de coleta de dados é a ficha de investigação epidemiológica do Sinan,
que contém as variáveis de interesse a serem analisadas em uma investigação de rotina. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação
for negativa. É importantíssima a revisão do preenchimento, ou seja, verificar a completude
e consistência das informações antes da digitação no Sinan. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação. Observar o
prazo máximo para o encerramento dos casos.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
• Anotar na ficha de investigação os dados da história clínica.
• Consultar a ficha de atendimento e/ou prontuário, entrevistar o médico assistente
ou alguém da família ou acompanhante e realizar visita domiciliar e/ou no local de
trabalho para completar as informações sobre a manifestação da doença e possíveis
fatores de exposição no meio ambiente.
• Acompanhar a evolução do caso, as medidas implementadas e encerrar a investigação epidemiológica no sistema de informação.
Para identificar as áreas ou grupos de risco
• Verificar a ocorrência de outros casos no município, levantar os possíveis fatores
determinantes, identificar a população de risco e traçar estratégias para a implementação das ações de prevenção para o tétano.
702
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
Observação: casos de tétano em conseqüência de aborto podem às vezes ser mascarados quanto ao diagnóstico final.
Análise da situação
A qualidade da investigação é fundamental para uma análise adequada dos dados coletados, permitindo a caracterização do problema segundo pessoa, tempo e lugar e o levantamento de hipóteses e/ou explicações que vão subsidiar o planejamento das ações para
solucionar ou minimizar os problemas detectados. Permite também melhor conhecimento
acerca da magnitude do problema e adoção oportuna das medidas de prevenção e controle.
Encerramento de casos
Após a coleta e análise de todas as informações necessárias à investigação do caso,
definir o diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, SIHSUS e SIM).
6
Relatório final
Após análise, os dados deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões, das quais destacam-se:
• se o caso foi decorrente de falhas de vacinação ou devido a baixa cobertura vacinal
na área ou em grupos de risco, ou ainda se houve conservação inadequada da vacina,
o que implica a adoção de medidas de aprimoramento desses serviços;
• se a ocorrência dos casos pode estar atribuída à falta de conhecimento quanto às
formas de prevenção, desconhecimento da existência da vacina eficaz e gratuita nos
serviços de saúde ou problemas de acesso a estes serviços;
• importância do uso de equipamentos de proteção individual em atividades de risco
para esta doença.
Algumas estratégias recomendadas
• Garantir a vacina em estoque suficiente para a demanda nas unidades de saúde.
• Garantir o funcionamento das salas de vacina nos horários comerciais.
• Sensibilizar a população em geral acerca da importância da vacina e de manter o
esquema vacinal atualizado.
• Reforçar a importância das parcerias, principalmente com outros órgãos, como Ministério do Trabalho, sociedades de infectologia, CRM, Coren, serviços de atenção
básica, serviços de atuação à saúde do trabalhador, ONGs, saúde indígena, educação,
etc.
• Divulgar, na mídia, a importância e a necessidade da prevenção.
• No âmbito da atenção à saúde, aplicar as medidas terapêuticas e profiláticas indicadas de acordo com a classificação do ferimento, assegurando as doses subseqüentes
após a alta hospitalar, se necessário.
• implementar todas as ações em parceria com os diversos atores envolvidos, atentando para as questões político-gerenciais pertinentes à situação.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
T
703
Tétano Acidental
Roteiro de investigação do tétano acidental
Caso suspeito
Notificação
Investigação
Coletar dados clínicos e epidemiológicos
Identificação preliminar da (s) área (s) e/ou grupos de risco
Verificar a existência de outros
casos através de busca ativa
Analisar a cobertura vacinal
contra o tétano em crianças,
adolescentes e adultos
Complementar a
investigação epidemiológica
Reforçar as atividades de vacinação,
com ênfase nos grupos de maior
risco para a doença
Encerrar o (s) caso (s) e
atualizar os sistemas de informação
Meios disponíveis para prevenção
Vacinação
Atualmente, a vacinação contra o tétano é realizada concomitantemente à vacinação
contra a difteria, coqueluche e contra a meningite pelo Haemophilus influenza tipo b ou
associada somente ao componente antidiftérico, infantil ou do adulto (ver quadro abaixo).
Os eventos adversos são raros, comumente apresentando-se sob a forma de dor local, hiperemia, edema e induração e febrícula com sensação de mal-estar de intensidade variável
e passageira.
Recomendações para a vacinação
Recomenda-se o esquema vacinal completo contra o tétano a todas as pessoas ainda
não vacinadas ou àquelas com esquema incompleto, independente da idade e sexo. Deve-
704
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
se considerar como dose válida apenas as que podem ser comprovadas por caderneta de
vacinação. Como o bacilo encontra-se no meio ambiente, a exposição acidental ao mesmo
através de um ferimento é universal. A manutenção de altas taxas de cobertura vacinal torna-se prioritária, tendo em vista a gravidade do quadro clínico, a elevada taxa de letalidade
e as seqüelas decorrentes das complicações.
A prevenção do tétano poderá ser iniciada com as vacinas abaixo indicadas:
Esquemas e orientações para vacinação
Vacina
Tetravalente
(DTP + Hib)
Protege contra
Eficácia
Difteria, tétano,
coqueluche e
doença invasiva
por Haemohilus
influenzae tipo b
Difteria: 80%
Tétano: 99%
Coqueluche:
75% a 80%
Início da
vacinação
(idade)
2 meses
de idade
Dose/dosagem/via de
administração/intervalo
entre as doses
Aos 15 meses
(1o reforço)
e entre 4-6 anos
(2o reforço)
3 doses/0,5ml/IM/
30-60 dias
Difteria e tétano
(adolescente
e adulto)
Difteria: 80%
Tétano: 99%
6
Ambos devem ser feitos com a vacina DTP
Sete anos de idade
e MIF.
dT
Reforços
Para pessoas que
não tenham recebido o esquema
básico completo
e os dois reforços
Três doses/0,5ml/IM/
60 dias entre as doses,
mínimo de 30 dias
Uma dose a cada
10 anos, exceto em
caso de gravidez e
ferimento grave.
Antecipar o reforço
se a última dose foi
há mais de cinco anos
A vacina deve ser conservada entre +2°C e +8°C. O seu congelamento provoca a desnaturação protéica e a desagregação do adjuvante, com perda de potência e aumento
dos eventos adversos.
Recomendações para a soroterapia
O soro antitetânico (SAT) é indicado para a prevenção e o tratamento do tétano. A
sua indicação depende do tipo e das condições do ferimento, bem como das informações
relativas ao uso do próprio SAT e do número de doses da vacina contra o tétano recebido
anteriormente. O SAT é composto a partir do soro de eqüinos hiperimunizados com toxóide tetânico e apresenta-se sob forma líquida, em ampolas de 5 ml (5000 UI).
A dose e o volume do SAT dependem do motivo que justificou sua indicação. A dose
profilática é de 5000 UI (para crianças e adultos) e a dose terapêutica de 20 mil UI.
A administração do SAT é por via intramuscular, podendo ser na região deltóide, na
face externa superior do braço, no vasto lateral da coxa ou no quadrante superior do glúteo.
Quando o volume a ser administrado for grande, a dose deve ser dividida entre os membros superiores e a região glútea. Ao administrar o SAT juntamente com a vacina contra o
tétano, utilizar regiões musculares diferentes. A pessoa que fez uso do SAT deve ser alertada
para procurar o serviço de saúde caso apresente febre, urticária, dores musculares e aumento de gânglios, dentre outros sintomas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
T
705
Tétano Acidental
A imunoglobulina humana hiperimune antitetânica (IGHAT) é indicada para o tratamento de casos de tétano, em substituição ao SAT, nas seguintes situações: hipersensibilidade ao soro heterólogo, história pregressa de alergia ou hipersensibilidade ao uso de outros
soros heterólogos.
A IGHAT é constituída por imunoglobulinas da classe IgG que neutralizam a toxina
produzida pelo Clostridium tetani, obtida do plasma humano. Apresenta-se sob forma líquida ou liofilizada em frasco-ampola de 1ml ou 2ml contendo 250 UI e sua conservação
deverá ser feita entre +2ºC e +8ºC, não podendo ser congelada.
Sua administração é por via intramuscular, podendo ser aplicada na região deltóide, na
face externa superior do braço. Em menores de dois anos, utilizar o vastolateral da coxa. A
dose e volume dependem da justificativa utilizada para seu uso (profilático ou terapêutico).
Conduta frente a ferimentos suspeitos
Esquema de condutas profiláticas de acordo com o tipo de ferimento e situação vacinal
História de vacinação
prévia contra tétano
Ferimentos com risco
mínimo de tétano*
Vacina
Incerta
ou menos
de 3 doses
Sim*
SAT/IGHAT
Não
Outras condutas
Limpeza e desinfecção, lavar com
soro fisiológico
e substâncias
oxidantes ou
antissépticas e
debridar o foco
de infecção
3 doses ou mais,
sendo a última dose
há menos de 5 anos
Não
Não
-
3 ou mais doses,
sendo a última dose
há mais de 5 anos
e menos de 10 anos
Não
Não
-
3 ou mais doses,
sendo a última dose
há 10 ou mais anos
Sim
Não
-
Ferimentos com alto risco de tétano**
Vacina
Sim***
SAT/IGHAT
sim
Outras condutas
Desinfecção, lavar com
soro fisiológico e substâncias oxidantes ou
antissépticas e remover
corpos estranhos e tecidos
desvitalizados.
Debridar o ferimento e
lavar com água oxigenada
Não
Sim
(1 reforço)
Sim
(1 reforço)
Não
-
Não****
-
Não****
-
*Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados.
**Ferimentos profundos ou superficiais sujos, com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras;
feridas puntiformes ou por armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas.
***Vacinar e aprazar as próximas doses, para complementar o esquema básico. Esta vacinação visa proteger contra o risco de tétano por outros ferimentos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os
cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a indicação de imunização passiva
com SAT ou IGHAT. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados
em locais diferentes.
****Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, além do reforço com a vacina está também indicada IGHAT ou SAT.
706
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tétano Acidental
Ações de educação em saúde
A educação em saúde é uma prática social que tem por objetivo promover a consciência sanitária dos cidadãos. Estimula a luta pela melhoria da qualidade de vida, conquista à
saúde, responsabilidade comunitária, aquisição, apreensão, socialização de conhecimentos
e opção por um estilo de vida saudável. Preconiza a utilização de métodos pedagógicos
participativos (criatividade, problematização e criticidade) e dialógicos, respeitando as especificidades locais, o universo cultural da comunidade e suas formas de organização.
As ações de educação em saúde devem envolver os empresários, gestores, gerentes,
professores, etc., articulando-os em torno de um pacto com seus empregados, funcionários
e alunos para manter o esquema vacinal em dia. Um importante grupo para a conscientização quanto à necessidade de vacinação são as gestantes, pela sua importância na prevenção
do tétano neonatal.
Os processos de educação continuada dos profissionais de saúde devem ser estimulados para que os mesmos se mantenham atualizados quanto aos esquemas de prevenção e
tratamento.
6
Ações de comunicação
Atentar para a adequação dos meios de divulgação e comunicação aos cenários socioculturais e de organização dos serviços em que são produzidos os casos de tétano acidental.
Lembrar que a vacinação e conservação do cartão não é só para crianças.
T
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Tétano Neonatal
TÉTANO NEONATAL
CID 10: A33
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Doença infecciosa aguda, grave, não-contagiosa, que acomete o recém-nascido nos
primeiros dias de vida, tendo como manifestação clínica inicial a dificuldade de sucção do
seio, mamadeira ou chupetas.
Sinonímia
Tétano umbilical e “mal de sete dias”, como é popularmente conhecido.
Agente etiológico
Clostridium tetani, bacilo gram-positivo esporulado anaeróbico, morfologicamente
semelhante a um alfinete de cabeça, com 4 a 10μ de comprimento. Produz esporos que lhe
permitem sobreviver no meio ambiente.
Reservatório
O Clostridium tetani é comumente encontrado na natureza, sob a forma de esporo, nos
seguintes meios: pele, trato intestinal dos animais (especialmente do cavalo e do homem,
sem causar doença), fezes, terra, reino vegetal, águas putrefatas, instrumentos perfurocortantes, poeira das ruas, etc.
Modo de transmissão
Não há transmissão de pessoa a pessoa. A infecção ocorre por contaminação, quando
são utilizados instrumentos cortantes contaminados para secção do cordão umbilical, ou
através do uso de substâncias contaminadas na ferida umbilical, como teia de aranha, pó
de café, esterco, etc.
Período de incubação
Em média, sete dias, podendo variar de 2 a 28 dias.
Período de transmissibilidade
Como não é doença contagiosa, não existe transmissão de pessoa a pessoa.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal, afetando recém-nascidos de ambos os sexos e todas as
raças. A doença não confere imunidade, a qual só é conferida pela vacinação adequada da
mãe, com três doses (mínimo de duas). Os filhos de mães adequadamente vacinadas nos
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Tétano Neonatal
últimos 5 anos apresentam imunidade passiva e transitória até os 4 meses de vida extrauterina. A imunidade ativa obtida através da vacina dura em torno de 10 anos. No entanto,
recomenda-se um reforço em caso de nova gravidez, se esta ocorrer há mais de 5 anos da
última dose; a imunidade passiva através do soro antitetânico (SAT) e da imunoglobulina
humana antitetânica (IGHAT) dura em média uma semana e 14 dias, respectivamente.
Aspectos clínicos
Manifestações clínicas
Recém-nascido normal que passa a apresentar:
• irritação;
• choro constante, sem motivo;
• recusa à amamentação;
• contraturas paroxísticas, geralmente confundidas com cólica intestinal.
6
Clinicamente, o recém-nascido apresenta-se com choro constante, irritabilidade, dificuldade em abrir a boca decorrente de trismo (contratura dolorosa da musculatura da mandíbula), seguida de rigidez de nuca, tronco e abdome, sudorese e taquicardia. Evolui com
hipertonia generalizada, hiperextensão dos membros inferiores e hiperflexão dos membros
superiores, com as mãos em flexão, chamada de “atitude de boxeador”. Crises de contraturas
e rigidez da musculatura dorsal (opistótono) e intercostal, causando problemas respiratórios. A contração da musculatura da mímica facial leva ao cerramento dos olhos, fronte pregueada e contratura da musculatura dos lábios, como se o recém-nascido fosse pronunciar a
letra U. Quando há presença de febre, ela é baixa, exceto se houver infecção secundária.
Os espasmos são desencadeados ao menor estímulo (toque, luminosidade, ruídos) ou
surgem espontaneamente. Com a piora do quadro clínico, o recém-nascido deixa de chorar,
respira com dificuldade e passam a ser constantes as crises de apnéia, que podem levar a
óbito.
Período de infecção – em média, de dois a cinco dias; o coto umbilical pode apresentar características de infecção ou encontrar-se normal.
Período toxêmico – ocorre taquicardia com pulso filiforme, taquipnéia e presença de
febre nos casos com infecção secundária.
T
Diagnóstico diferencial
Septicemia – nas sepses do recém-nascido pode haver hipertonia muscular, porém o
estado geral da criança é grave, com hipertermia ou hipotermia, alterações do sensório e
evidências do foco séptico (diarréia, onfalite). O trismo não é freqüente, nem ocorrem os
paroxismos;
Encefalopatias – podem cursar com hipertonia e o quadro clínico geralmente é evidente logo após o nascimento, havendo alterações do sensório e crises convulsivas. O trismo não é manifestação freqüente;
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Tétano Neonatal
Distúrbios metabólicos – como a hipoglicemia, hipocalcemia e alcalose;
Outros diagnósticos diferenciais – principalmente com a epilepsia, lesão intracraniana secundária ao parto, peritonites, onfalites e meningites bacterianas.
Diagnóstico laboratorial
A confirmação dos casos é eminentemente clínica e/ou a partir de vínculo clínico-epidemiológico. Os exames laboratoriais são realizados apenas para controle das complicações,
orientando o tratamento do recém-nascido. O hemograma apresenta-se normal, podendo
evidenciar discreta leucocitose ou linfopenia. As transaminases e a uréia sangüíneas podem
elevar-se nas formas graves. A dosagem de gases e eletrólitos é importante na ocorrência
de insuficiência respiratória. As radiografias de tórax e coluna vertebral torácica devem ser
realizadas para o diagnóstico de infecções pneumônicas e possíveis fraturas de vértebras.
Culturas de secreções, urina e sangue são indicadas nos casos de infecção secundária.
Tratamento
O paciente deve ser internado em unidade de terapia intensiva ou enfermaria apropriada, o que reduz as complicações e a letalidade, devendo ser acompanhado por equipe
médica e de enfermagem experiente no atendimento a esse tipo de enfermidade. A unidade ou enfermaria deve dispor de isolamento acústico, com redução da luminosidade e
temperatura ambiente. A atenção da enfermagem deve ser contínua, vigilante quanto às
emergências respiratórias decorrentes dos espasmos, realizando pronto-atendimento com
assistência ventilatória nos casos de dispnéia ou apnéia.
Os princípios básicos do tratamento são:
Sedação do paciente – usar sedativos e miorrelaxantes de ação central ou periférica:
• diazepan – 0,3 a 2mg/kg/dose, repetidas até o controle das contraturas (monitorar a função pulmonar, devido ao risco de depressão respiratória);
• clorpromazina – 0,5mg/kg/dose, de 6/6 horas, alternado com o diazepan;
• fenobarbital – 10mg/kg/dia, de 12/12 horas, via intramuscular;
• mefenesina – miorrelaxante metabolizado em 5 minutos, podendo ser feito em
infusão contínua. Dose máxima: 1 ampola com 50ml (10ml/kg).
Curare – utilizado como último recurso para os casos muito graves que não responderam ao tratamento anterior (reduz a letalidade de 100% para 30%). O paciente deve estar
sedado e em ventilação mecânica, sob vigilância rigorosa. O nível sérico do curare dura
1 hora. Efeitos colaterais: taquicardia e liberação de histamina. Dose: 0,1mg/kg/dose, podendo fazer até 1/1 hora, se necessário. Apresentação: 1 ampola contém 2ml com 2mg/ml.
Diluir 1 ampola em 8ml de água destilada (1ml da diluição contém 0,4mg).
Hidrato de cloral a 10% – 50mg/kg/dose em 5ml de soro fisiológico, com seringa
adaptada em sonda retal, injetando pequenas e repetidas frações, de 4 em 4 horas, até a
cessação dos espasmos (1ml de hidrato de cloral a 10% = 100mg).
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Tétano Neonatal
Observação: só usar o hidrato de cloral quando não houver cessação dos espasmos
com a administração de diazepan ou com outras medidas.
Cuidados com o coto umbilical – realizar limpeza com água oxigenada a 10% ou
com permanganato de potássio a 1/5.000 (1 comprimido diluído em meio litro de água).
A indicação de debridamento no coto umbilical deve ser cuidadosamente avaliada pela
equipe médica.
Hidratação intravenosa adequada
Antibioticoterapia – o uso de substâncias antimicrobianas visa o combate ao Clostridium tetani presente no foco de infecção. Emprega-se a penicilina G cristalina ou o metronidazol por 7 a 10 dias.
A penicilina G cristalina é utilizada por via intravenosa na dose de 50 mil a 100 mil
UI/kg/dia, fracionada de 6/6 horas. O metronidazol pode ser utilizado em dose única de
30mg/kg/dia ou fracionada de 8/8 horas, por via intravenosa. Alternativamente, poderá ser
utilizada a cefalexina por sonda nasogástrica, na dose de 25 a 30mg/kg/dia, fracionada de
6/6 horas.
Outros antimicrobianos poderão ser necessários nos casos de infecção secundária
(onfalites, pneumonia, infecção urinária e sepse).
Neutralização da toxina, realizada através do:
• soro antitetânico heterólogo (SAT) – realizar previamente teste intradérmico para
verificar a hipersensibilidade. Caso seja negativo, administrar dose de 10 mil a 20
mil Unidades Internacionais (UI), por via endovenosa diluída em soro glicosado a
5%, em gotejamento lento. Sua vida média é inferior a duas semanas;
• imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT ou TIG) – disponível no Brasil
apenas para uso intramuscular, poderá ser utilizada em substituição ao SAT, nas
situações em que houver risco de apresentar reações de hipersensibilidade. A dose é
de 1 mil UI a 3 mil UI, distribuída em duas massas musculares. A vida média é em
torno de duas semanas.
6
T
Como a administração da TIG pela via intratecal ainda é controversa, seu uso no Brasil
está limitado a protocolos de pesquisas.
Tratamento sintomático
• Utilizar analgésicos, se necessário. Evitar a obstipação intestinal com o uso de laxativo suave e administrar antiespasmódico para prevenir cólicas.
• Evitar sondagem vesical e manter coletor urinário para medir a diurese.
• Manter o equilíbrio hidreletrolítico.
• Manter hidratação venosa contínua.
• Manter o aporte de glicose e aminoácidos.
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Tétano Neonatal
Aspectos epidemiológicos
No final dos anos 90 registraram-se 289.250 casos de tétano neonatal em todo o mundo, dos quais 215 mil foram a óbito (taxa de letalidade de 74,3%), assim distribuídos: 124
mil na África; 91 mil no sudeste da Ásia; 55 mil no Oriente Médio; 18 mil no oeste do Pacífico; 1 mil nas Américas e 250 na Europa.
Atualmente, esta doença continua existindo como problema de saúde pública apenas
nos países de menor desenvolvimento econômico e social, principalmente no continente
africano e sudeste asiático.
Com a implementação de uma política de eliminação do tétano neonatal como problema de saúde pública no mundo, sua incidência tem sido reduzida sensivelmente, principalmente nas Américas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta meta
equivale a alcançar uma taxa de incidência máxima de 1 caso/1 mil nascidos vivos (NV),
por distrito ou município, internamente a cada país.
No Brasil, em 2002 ocorreram 33 casos de tétano neonatal, sendo nove na região Norte
(27,3%), 18 na região Nordeste (54,5%), 3 na região Sudeste (9,1%), 1 na região Sul (3,0%) e
2 casos na região Centro-Oeste (6,1%). Em 2003, ocorreu uma redução de 54,6% no número de casos em relação ao ano anterior, chamando-se a atenção para o surgimento de casos
em municípios até então considerados fora das áreas geográficas definidas como prioritárias para a implementação das ações de vigilância e controle. Para o país como um todo,
os níveis de incidência estão abaixo do preconizado pela OMS, porém há municípios que
ainda estão aquém desta meta.
Casos confirmados de tétano neonatal. Brasil, 1982-2003
800
Número de casos
700
600
500
400
300
200
100
0
82
83 84
85 86
87
88
89
90
91
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93
Ano
Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MS
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96 97
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01 02
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Fatores de risco para o tétano neonatal
• Baixas coberturas vacinais com a vacina dT em mulheres em idade fértil.
• Partos domiciliares assistidos por parteiras tradicionais sem capacitação e sem instrumentos de trabalho adequados.
• Não realização do pré-natal ou realização de pré-natal sem qualidade.
• Alta hospitalar precoce e sem conhecimento adequado quanto aos cuidados com o
coto umbilical.
• Baixo nível de escolaridade das mães.
• Baixo nível socioeconômico.
• Dificuldades de acesso geográfico a serviços de saúde.
• Partos ocorridos em condições sépticas, em mulheres sem esquema vacinal atualizado contra o tétano.
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Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Conhecer todos os casos suspeitos de tétano neonatal.
• Investigar, com qualidade, 100% dos casos suspeitos.
• Mapear as áreas de risco.
• Analisar os dados e adotar as medidas de controle pertinentes.
• Implementar ações para atingir a meta de eliminação da doença.
• Avaliar a efetividade das medidas de prevenção e controle.
• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.
Definição de caso
Suspeito
• Todo recém-nascido que nasceu bem e sugou normalmente nas primeiras 24 ou 48
horas e passe a apresentar, entre o segundo e o 28º dia de vida extra-uterina, dificuldade de mamar, independente do estado vacinal da mãe, do local e das condições do
parto.
• Todo recém-nascido que nasceu bem e sugou normalmente mas foi a óbito no período de 2 a 28 dias de vida extra-uterina, cujo diagnóstico foi constatado como
indefinido ou caracterizado como quadro de tétano por seus familiares.
T
Confirmado
• Todo caso suspeito que apresentou um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: trismo, crises de contraturas musculares, contração permanente dos músculos da mímica facial e lábios contraídos (como se fosse pronunciar a letra U), olhos cerrados,
pele da região frontal pregueada, hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax
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Tétano Neonatal
(mão fechada em posição de boxeador) e membros inferiores em hiperextensão,
com ou sem inflamação do coto umbilical.
• Todo caso de óbito neonatal cuja investigação evidencia características clínicas e
epidemiológicas da doença.
Descartado
Todo caso suspeito de tétano neonatal em que a investigação evidencia características
clínicas e epidemiológicas de outra doença.
Notificação
A ocorrência de casos suspeitos de tétano neonatal requer notificação imediata às autoridades sanitárias superiores, por se tratar de um evento para o qual se dispõe de medidas
de prevenção altamente eficazes. Esta notificação pode ser feita através de telefone, fax ou
e-mail, de acordo com as normas definidas pelos níveis federal e estadual do SUS.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata do recém-nato.
Qualidade da assistência
Praticamente, todos os casos necessitam de internação em unidades de terapia intensiva, de maior complexidade ou unidades especiais com atendimento por profissionais médicos e de enfermagem qualificados. Alguns cuidados são necessários com relação à internação (unidades com pouca iluminação, diminuição de ruídos, temperaturas estáveis e mais
baixas que a temperatura corporal e manipulação restrita apenas ao necessário), devido a
possibilidade do desencadeamento das crises de contraturas.
Proteção individual
Não é necessária, já que a infecção não se transmite de pessoa a pessoa.
Confirmação diagnóstica
Mediante dados clínicos e epidemiológicos.
Proteção da população
Apesar de não ser doença transmissível, logo que se tenha conhecimento da suspeita
ou confirmação de caso(s) de tétano neonatal deve-se intensificar as ações de vigilância,
prevenção e controle da doença, com o objetivo de detectar casos ainda não notificados e
prevenir a ocorrência de novos. Destaca-se em particular a avaliação da cobertura vacinal
com a vacina dT das mulheres em idade fértil na área de ocorrência do(s) caso(s) e a avaliação da assistência ao pré-natal, parto e puerpério. Ou seja, a suspeita ou confirmação de
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Tétano Neonatal
casos deve ser tomada, no nível local, como um evento sentinela, implicando na adoção
imediata de medidas para verificar a existência e a correção de possíveis falhas nos serviços
de saúde. É importante garantir à população um pré-natal e um parto seguros, bem como
uma assistência perinatal minimamente qualificada, onde se inclui o tratamento adequado
do coto umbilical e o acompanhamento dos primeiros 28 dias de vida extra-uterina.
Investigação
Deve ser feita imediatamente após a notificação de um caso suspeito. Lembrar que a
investigação não deve restringir-se ao âmbito hospitalar, buscando-se informações complementares no domicílio, com familiares, especialmente a mãe do recém-nascido.
Roteiro da investigação epidemiológica
6
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação epidemiológica do Sinan relativos
aos dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
Anotar na ficha de investigação os dados da história e as manifestações clínicas
• Em geral, deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. Estas informações são importantes
para análise e para definir se o quadro apresentado é compatível com a doença.
• Se necessário, fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução do doente, com
vistas ao enriquecimento das análises e recomendações a serem feitas para a melhoria dos serviços de saúde.
• Verificar a história vacinal da mãe contra o tétano e registrar a(s) data(s) da vacinação, caso haja comprovante. Lembrar de pesquisar a vacinação na infância, principalmente no caso de mulheres mais jovens.
• Acompanhar a evolução dos casos e as medidas implementadas para a resolução dos
problemas identificados durante a investigação epidemiológica.
T
Roteiro de notificação e investigação do tétano neonatal
Para identificação das áreas de risco
Considerar que existem duas situações a ser avaliadas
• O local onde ocorreu a contaminação do coto umbilical, seja devido a parto séptico
e/ou ao tratamento inadequado do coto umbilical;
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Tétano Neonatal
• O local onde a gestante passou a maior parte da gravidez, ou seja, onde deveria
lhe ter sido provido um pré-natal de qualidade, particularmente no que se refere às
ações de prevenção primária e secundária de doenças transmissíveis e/ou infecciosas, como no caso do tétano neonatal.
Obviamente, essas áreas podem se superpor. Portanto, deve-se verificar a existência de
fatores ou situações de risco que possam estar associados à ocorrência de casos, tais como:
baixas coberturas vacinais em mulheres em idade fértil, ocorrência de partos domiciliares,
cobertura e qualidade do pré-natal, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, capacitação técnica específica dos profissionais de saúde, etc.
Investigar minuciosamente
• História de migração da família, de forma a identificar os possíveis locais em que
houve falhas na oferta dos serviços de saúde.
• Relatos ou rumores de óbitos de recém-nascidos até 28 dias de vida, cuja suspeita foi
“mal de sete dias” ou causa ignorada.
Existência de outros casos não notificados, através da realização de busca ativa em
localidades onde existem casos e fatores ou situações de risco para a ocorrência da
doença. Várias estratégias podem ser utilizadas com este objetivo, dependendo do
tamanho da localidade: casa a casa, em unidades de saúde, cartórios (verificar as declarações de óbito emitidas), registros de cemitérios, entrevistas com líderes comunitários, benzedeiras, parteiras, agentes comunitários de saúde, serviços de verificação de óbito, serviço social da prefeitura, entre outras. Confrontar as informações
levantadas sobre a morbimortalidade por tétano neonatal com os dados disponíveis
no SIM e no SIH-SUS, tomando como base as doenças que figuram como diagnóstico diferencial para a doença.
• A situação da organização dos serviços e do processo de trabalho: infra-estrutura
mínima para a atenção materno-infantil, capacitação dos recursos humanos existentes, funcionamento das salas de vacina e da rede de frio, oportunidades perdidas de
vacinação, atividades extramuros, nível de integração de trabalho intra-setorial, etc.
Encerramento da investigação de casos
Após a coleta e análise de todas as informações necessárias ao esclarecimento do caso,
definir o diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, SIM
e SIH-SUS).
Análise da situação
A qualidade da investigação é fundamental para uma análise adequada dos dados coletados, permitindo a caracterização do problema segundo pessoa, tempo e lugar e o levantamento de hipóteses e/ou explicações que vão subsidiar o planejamento das ações para
solucionar ou minimizar os problemas detectados.
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Tétano Neonatal
Roteiro de investigação do tétano neonatal
Caso suspeito
Notificação
Investigação
Coletar dados clínicos e epidemiológicos
Identificação preliminar da (s) área (s) de risco: local de ocorrência
do caso de tétano neonatal e local de realização do pré-natal
Verificar a existência de outros
casos através de busca ativa
Complementar a
investigação epidemiológica
Analisar a cobertura vacinal
de mulheres em idade fértil
Reforçar as atividades de
vacinação contra o tétano em
mulheres em idade fértil
Encerrar o (s) caso (s) e atualizar
os sistemas de informação
6
Analisar a situação da
oferta e da organização
dos serviços de saúde
Identificar os principais problemas da atenção à saúde da mulher e da criança, da imunização
e da vigilância epidemiológica
Relatório com resumo dos problemas
identificados e das proposições acordadas,
com os respectivos prazos e responsáveis
Relatório final
Após análise dos dados da investigação, estes deverão ser sumarizados em um relatório com as principais conclusões, encaminhamento e recomendações, bem como os respectivos prazos e responsáveis.
T
Conclusões
• A ocorrência do caso foi decorrente da falta de conhecimento da gestante sobre a
importância do pré-natal ou por problema de acesso ao serviço de saúde?
• Havia desconhecimento, por parte da mulher, da existência de uma vacina eficaz e
gratuita nos serviços de saúde?
• Havia desconhecimento da necessidade de prevenção, através de um esquema de
vacinação adequado, e da importância do parto asséptico ou limpo?
• Havia problemas de gerenciamento das unidades de saúde que resultaram em desa-
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Tétano Neonatal
bastecimento de vacinas ou em seu armazenamento de forma inadequada ou outra
ordem de problemas que prejudicou o funcionamento normal da unidade de saúde?
• Houve oportunidades perdidas de vacinação: quando a mulher compareceu aos serviços de saúde, por qualquer motivo, seja para consulta, quando conduziu seu filho
para receber a vacina, quando foi como acompanhante ou outra causa?
Encaminhamentos
Minimamente, pode-se elencar os seguintes pontos que merecem maior atenção nesta
discussão, ressalvando-se, obviamente, que variarão de acordo com cada situação concreta:
• capacitar e/ou atualizar os profissionais de saúde quanto à orientação e acompanhamento das mulheres em idade fértil;
• implementar processos de acompanhamento e avaliação dos serviços de saúde;
• manter as parteiras atuantes capacitadas e integrá-las aos serviços de saúde para
reposição ou substituição de materiais usados por esterilizados. Mantê-las como
parceiras e aliadas, em decorrência do poder de liderança e confiabilidade que usufruem entre as mulheres. É necessário supervisionar o serviço dessas parteiras, verificando, na prática, a aplicação dos conhecimentos adquiridos;
• fazer parcerias com todos os que trabalham com a saúde da mulher e da criança,
Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia, infectologia; atenção básica; órgãos internacionais; ONGs; saúde indígena; educação em saúde; todos os profissionais da área
da saúde, conselho tutelar e promotoria pública, quando necessário, lideranças comunitárias e comunidade em geral, etc.;
• divulgação, na mídia, sobre a importância e necessidade da prevenção;
• organização do trabalho em parceria com as unidades assistenciais;
• sensibilização dos gestores e comunidade em geral.
Instrumentos disponíveis para prevenção
Pré-natal
A realização do pré-natal é extremamente importante não só para acompanhar o desenvolvimento do feto como também para prevenir muitas doenças factíveis de serem evitadas, como o tétano neonatal. Destaca-se aqui, além dos processos de estabelecimento ou
reforço dos vínculos da usuária com a unidade de saúde, a importância da atualização do
esquema vacinal, do parto asséptico, da amamentação, do planejamento familiar e dos cuidados de higiene do recém-nascido, em especial do coto umbilical.
Vacinação
A principal forma de prevenção do tétano neonatal é a vacinação de todas as mulheres
em idade fértil (entre 12 e 49 anos) com o esquema completo da vacina dupla tipo adulto
(dT). Mulheres grávidas que ainda não iniciaram este esquema devem fazê-lo o mais pre-
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Tétano Neonatal
cocemente possível. Caso o façam tardiamente, a 2ª dose da vacina dT deverá ser administrada até 20 dias antes da data provável do parto, para que haja tempo suficiente para a
formação de anticorpos que possibilitem a imunização passiva do feto. Nesta situação, a 3ª
dose deverá ser agendada após o parto (ver Quadro 1).
O reforço é preconizado a cada 10 anos, exceto em casos de lesões graves (ver o capítulo Tétano acidental) e quando há nova gravidez num período superior a cinco anos da
exposição à última dose de reforço, para possibilitar a reativação da produção de anticorpos
e potencialização da passagem de anticorpos protetores ao recém-nascido.
A vacina é composta de associações de toxóides diftérico e tetânico, tendo o hidróxido
ou fosfato de alumínio como adjuvante e o timerosal como preservativo, sendo apresentada
sob forma líquida e em frasco multidoses. Quanto à dose e volume, aplica-se 0,5ml por via
intramuscular profunda. Atualmente, a vacina utilizada no Brasil é a dupla adulto – dT
(contra a difteria e o tétano). Esta vacina é indicada a partir dos sete anos de idade, para pessoas que não tenham recebido as vacinas tetravalente, DPTa e DT ou que tenham esquema
incompleto ou por ocasião dos reforços do esquema básico.
6
Quadro 1. Esquema de vacinação contra o
tétano neonatal para as mulheres em idade fértil
História de vacinação
contra o tétano
Mulheres em idade fértil
Gestante
Não-gestante
Negativa
(nenhuma dose comprovada)
3 doses, com intervalo entre 30-60 dias.
Se iniciar o esquema tardiamente, garantir
pelo menos 2 doses (programar a 2a dose
para no máximo 20 dias antes do parto
e completar o esquema no puerpério)
Esquema vacinal com
3 doses, intervalo de
30-60 dias + reforços
Menos de 3 doses registradas
Completar o esquema
Completar o esquema
3 doses ou mais + 1 reforço
há menos de 5 anos da última dose
Não é necessário vacinar
Não é necessário vacinar
3 doses ou mais + 1 reforço
entre 5 a 10 anos da última dose
1 dose de reforço
Não é necessário vacinar
3 doses ou mais + 1 reforço
há mais de 10 anos da última dose
1 dose de reforço
1 dose de reforço
T
Observação: ao indicar a vacinação, considerar as doses administradas anteriormente
da tríplice bacteriana (DTP) ou do toxóide tetânico (TT).
A vacina é conservada entre +2°C e +8°C, não podendo ser congelada pois isto poderá provocar a desnaturação protéica, desagregação do adjuvante e perda de potência. Os
eventos adversos comumente observados se restringem ao local da aplicação sob a forma
de dor, hiperemia, edema, induração e febre alta. Em nível sistêmico, pode ocorrer reação
anafilática, neuropatia periférica e síndrome de Guillan-Barré.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Tétano Neonatal
O monitoramento rápido da cobertura vacinal é uma estratégia que objetiva subsidiar
as ações desenvolvidas na população-alvo. Através dele pode-se avaliar se as coberturas
vacinais administrativas da área onde está sendo aplicada são reais, visando subsidiar a
tomada de decisão sobre a implementação das atividades de imunização.
Ações de educação em saúde
A educação em saúde é uma prática social que objetiva promover o aumento da consciência sanitária da população e dos profissionais de saúde. Estimula a luta pela melhoria da
qualidade de vida, conquista à saúde, responsabilidade comunitária, aquisição, apreensão,
socialização de conhecimentos e opção por um estilo de vida saudável. Preconiza a utilização de métodos pedagógicos participativos (criatividade, problematização e criticidade) e
dialógicos, respeitando as especificidades locais, o universo cultural da comunidade e suas
formas de organização.
Processos de educação continuada, atualização e/ou aperfeiçoamento devem ser estimulados no sentido de melhorar a prática das ações dos profissionais das áreas de saúde e
educação.
Ações de comunicação
A informação sobre a doença e suas formas de prevenção e controle é um dos aspectos
importantes das ações de vigilância epidemiológica. Deve-se atentar para a adequação dos
meios de divulgação e comunicação aos cenários socioculturais e de organização dos serviços em que são produzidos os casos de tétano neonatal.
Nas ações de educação e informação pode-se utilizar os vários meios de comunicação
de massa, as visitas domiciliares e palestras (nas escolas, nos locais de trabalho, nas igrejas,
etc.) sobre a doença e suas formas de prevenção e controle. É importante que as parteiras
sejam consideradas como aliadas nesse processo.
Conduta frente a ocorrência de um caso de tétano neonatal
• Atualizar o esquema vacinal da mãe.
• Informar aos profissionais de saúde e líderes comunitários a ocorrência do caso e
envolvê-los na vigilância e prevenção permanente da doença.
• Analisar a cobertura vacinal e, se for baixa, promover vacinação discriminada em
mulheres em idade fértil, visando a atualização do esquema vacinal.
• Cadastrar e treinar as parteiras tradicionais.
• Fazer busca ativa de outros casos, incluindo a investigação de todos os óbitos ocorridos em recém-nascidos menores de 28 dias de vida sem causa básica definida.
• Informar e discutir os resultados da investigação com as autoridades sanitárias dos
locais de ocorrência do caso (onde se deu a contaminação do coto umbilical) e do
local de residência da mãe (onde se deu a falha da prevenção), com o objetivo de
tomar as medidas cabíveis visando evitar a ocorrência de novos casos.
720
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
TRACOMA
CID 10: A71
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
É uma afecção inflamatória ocular, uma ceratoconjuntivite crônica recidivante que,
em decorrência de infecções repetidas, produz cicatrizes na conjuntiva palpebral superior,
podendo levar à formação de entrópio (pálpebra com a margem virada para dentro do
olho) e triquíase (cílios em posição defeituosa nas bordas da pálpebra, tocando o globo
ocular). O atrito poderá ocasionar alterações da córnea, provocando graus variados de opacificação, que podem evoluir para a redução da acuidade visual, até a cegueira. A Organização Mundial da Saúde estima, mundialmente, a existência de 150 milhões de pessoas com
tracoma, das quais cerca de 6 milhões estão cegas.
6
Agente etiológico
A Chlamydia trachomatis, bactéria gram-negativa, dos sorotipos A, B, Ba e C.
Reservatório
O homem, com infecção ativa na conjuntiva ou outras mucosas. Crianças com até
10 anos de idade, com infecção ativa, são o principal reservatório do agente etiológico nas
populações onde o tracoma é endêmico.
Vetores
Alguns insetos, como a mosca doméstica (Musca domestica) e/ou a lambe-olhos
(Hippelates sp.), podem atuar como vetores mecânicos.
Modo de transmissão
T
A principal forma de transmissão é a direta, de pessoa a pessoa, ou indireta, através de
objetos contaminados (toalhas, lenços, fronhas). As moscas podem contribuir para a disseminação da doença, por transmissão mecânica. A transmissão só é possível na presença
de lesões ativas.
Período de incubação
De cinco a doze dias, após contato direto ou indireto.
Período de transmissibilidade
A transmissão ocorre enquanto houver lesões ativas nas conjuntivas, o que pode durar anos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
721
Tracoma
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal, sendo as crianças as mais susceptíveis, inclusive às reinfecções. Embora a clamídia seja de baixa infectividade, sua distribuição no mundo é ampla.
Não se observa imunidade natural ou adquirida à infecção pela Chlamydia trachomatis.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
O tracoma inicia-se sob a forma de uma conjuntivite folicular, com hipertrofia papilar
e infiltrado inflamatório difuso que se estende por toda a conjuntiva, especialmente na
tarsal superior. Nos casos mais brandos, os folículos podem regredir espontaneamente.
Nos casos mais severos, eles crescem, evoluindo para necrose, com formação de pequenos
pontos cicatriciais na conjuntiva. Após repetidas reinfecções, forma-se um número cada
vez maior de pontos cicatriciais, levando à formação de cicatrizes mais extensas. Essas cicatrizes podem tracionar, principalmente, a pálpebra superior, levando à sua distorção, o
entrópio, fazendo com que os cílios invertidos toquem no globo ocular. Esta alteração pode
provocar ulcerações corneanas, com conseqüente opacificação, que pode levar a graus variados de diminuição da acuidade visual e cegueira.
A sintomatologia associada ao tracoma inflamatório inclui lacrimejamento, sensação
de corpo estranho, fotofobia discreta e prurido. Uma grande proporção de casos de tracoma, principalmente entre as crianças mais jovens, é assintomática.
Os doentes que apresentam entrópio, triquíase e aqueles com ulcerações corneanas,
referem dor constante e intensa fotofobia. Infecções bacterianas secundárias podem estar
associadas ao quadro, contribuindo para a disseminação da doença.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial do tracoma deve ser realizado com as outras conjuntivites
foliculares (como foliculoses, conjuntivite folicular tóxica), e conjuntivites foliculares agudas e crônicas de qualquer etiologia (ex.: herpes simples, adenovírus, molusco contagioso,
conjuntivite de inclusão do adulto).
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico do tracoma é essencialmente clínico e, geralmente, realizado por meio
de exame ocular externo, utilizando lupa binocular de 2,5 vezes de aumento.
O diagnóstico laboratorial do tracoma deve ser utilizado para a constatação da circulação do agente etiológico na comunidade e não para a confirmação de cada caso, individualmente.
A cultura é uma técnica laboratorial com alta sensibilidade e especificidade para a Chlamydia trachomatis. A clamídia é um microrganismo de vida obrigatoriamente intracelular,
portanto só cresce em cultura de células. Por tratar-se de procedimento complexo e caro,
não está disponível para uso na rotina das ações de vigilância epidemiológica do tracoma.
722
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
A partir da segunda metade da década de 80 vem sendo utilizada uma outra técnica
para o diagnóstico laboratorial das infecções por Chlamydia trachomatis: a imunofluorescência direta, com anticorpos monoclonais. Consiste na observação, ao microscópio, de
campo escuro, de lâminas contendo raspado de células da conjuntiva tarsal superior, coradas com anticorpos monoclonais antiChlamydia trachomatis fluorescentes. Esta técnica é
mais simples e está disponível nos laboratórios da rede pública. Apesar de sua alta especificidade, sua sensibilidade é baixa para o tracoma, sendo mais adequada para o estabelecimento de focos endêmicos.
Ultimamente, as técnicas de amplificação do ácido nucléico – reação da polimerase em
cadeia (PCR) – apresentam maior sensibilidade para a detecção da clamídia, mas também
não se encontram disponíveis para uso na rotina das ações de vigilância epidemiológica do
tracoma.
Tratamento
6
O objetivo do tratamento é a cura da infecção e a conseqüente interrupção da cadeia
de transmissão da doença.
As condutas a seguir relacionadas são recomendadas pela Organização Mundial da
Saúde e utilizadas no Brasil.
Tratamento tópico
• Tetraciclina a 1% – pomada oftálmica usada duas vezes ao dia, durante seis semanas;
• Sulfa – colírio usado quatro vezes ao dia, durante seis semanas, na ausência de tetraciclina ou por hipersensibilidade à mesma.
Tratamento sistêmico
Tratamento seletivo, com antibiótico sistêmico via oral, indicado para pacientes com
tracoma intenso (TI) ou casos de tracoma folicular (TF) e/ou associação das duas formas
(TF/TI) que não responda bem ao medicamento tópico. Deve ser usado com critério e
acompanhamento médico, devido às possíveis reações adversas.
• Azitromicina – 20mg/kg de peso, para menores de 14 anos de idade, e 1g para adultos, em dose única oral. Este medicamento vem sendo testado com bons resultados
em termos de efetividade para o tratamento e sua utilização vem sendo ampliada
para o controle desta endemia no mundo;
• Eritromicina – 250mg quatro vezes ao dia, durante três semanas (50mg/kg de peso
ao dia);
• Tetraciclina – 250mg quatro vezes ao dia, durante três semanas (somente para
maiores de 10 anos);
• Doxaciclina – 100mg/dia duas vezes ao dia, durante três semanas (somente para
maiores de 10 anos);
• Sulfa – dois tabletes ao dia, durante três semanas.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
T
723
Tracoma
Todos os casos de entrópio palpebral e triquíase tracomatosa (TT) devem ser encaminhados para avaliação e cirurgia corretiva das pálpebras. Todos os casos de opacidade
corneana (CO) devem ser encaminhados a um serviço de referência oftalmológica, que
medirá a acuidade visual.
Em áreas onde a proporção de crianças com tracoma folicular (TF) seja maior ou igual
a 20% e/ou a proporção de tracoma intenso (TI) seja maior ou igual a 5%, recomenda-se o
tratamento em massa de toda a população, utilizando-se a tetraciclina 1% tópica.
Além do tratamento medicamentoso, são fundamentais as medidas de promoção da
higiene pessoal e familiar, tais como a limpeza do rosto, o destino adequado do lixo e a
disponibilidade de água e saneamento.
Estratégia de tratamento indicada segundo a proporção de crianças
(de 1 a 10 anos) com tracoma inflamatório na comunidade a ser trabalhada
Proporção de crianças com tracoma
Tratamento tópico com tetraciclina
>20% de tracoma folicular (TF) ou >5% de tracoma intenso (TI)
Em massa
5% a 20% de tracoma folicular (TF)
Individual, familiar ou em massa*
<5% de tracoma folicular (TF)
Individual
*Se a proporção de crianças com tracoma inflamatório (TF e/ou TI) estiver mais próxima dos 5%, optar pelo tratamento individual. Quando esta proporção aproximar-se dos 20%, optar pelo tratamento em massa.
Controle do tratamento
Todos os casos de tracoma inflamatório (TF ou TI) devem ser examinados depois de 3
meses do início do tratamento e revistos a cada três meses, para o controle da cura, por um
período total de 9 meses.
Critérios de alta
• A alta clínica será dada após 3 meses do início do tratamento, desde que não existam
mais sinais de tracoma inflamatório ativo (TF ou TI), ou seja, folículos, edema, hiperemia da conjuntiva, mesmo havendo cicatrizes (TS).
• A alta por cura sem cicatrizes será dada após o terceiro retorno, aproximadamente
nove meses após o início do tratamento, sem que tenha havido reinfecção ou presença de cicatrizes tracomatosas na conjuntiva.
• A alta por cura com cicatrizes será dada após o terceiro retorno, aproximadamente
nove meses após o início do tratamento, quando não houver mais manifestação de
tracoma ativo (TF e/ou TI), nem reinfecção, porém com a presença de cicatrizes
tracomatosas na conjuntiva.
• O critério para encerramento de caso é o da alta por cura sem cicatrizes, devendo o
paciente sair do sistema de controle. No caso de alta por cura com cicatrizes, deverá
ser feito controle anual, sem que o indivíduo seja retirado do registro de controle,
a fim de detectar precocemente possíveis alterações palpebrais (entrópio e/ou tri-
724
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
quíase). Em caso de entrópio e/ou triquíase, o paciente deve ser encaminhado para
correção cirúrgica.
Após um ano do diagnóstico confirmado de tracoma, nova busca ativa deve ser realizada em toda a comunidade, garantindo a cobertura e adesão adequadas ao tratamento,
iniciando-se novo registro dos pacientes diagnosticados.
Aspectos epidemiológicos
O tracoma não existia entre as populações nativas do continente americano. A doença
foi trazida pela colonização e imigração européias. Relata-se que teria sido introduzida no
Brasil a partir do século XVIII, no Nordeste, com a deportação dos ciganos, estabelecendose o “foco do Cariri” e, a partir da segunda metade do século XIX, os “focos de São Paulo
e Rio Grande do Sul”, que teriam se iniciado com a intensificação da imigração européia
para esses dois estados.
Com a expansão da fronteira agrícola para o oeste, o tracoma disseminou-se e tornou-se endêmico em praticamente todo o Brasil, sendo hoje encontrado em todo o território nacional, onde são desenvolvidas ações de busca ativa de casos. Apesar da diminuição
acentuada na prevalência do tracoma, a doença continua a existir, acometendo as populações mais carentes e desassistidas, inclusive na periferia das grandes metrópoles.
6
Vigilância epidemiológica
Objetivos
• Controlar a ocorrência de tracoma mediante a realização regular de busca ativa de
casos e visita domiciliar dos contatos.
• Acompanhar os focos da doença, para verificar a tendência de expansão da infecção.
• Realizar diagnóstico e tratar os casos com infecção ativa, adotando as medidas de
controle pertinentes.
T
Definição de caso
Suspeito
Indíviduos que apresentam história de “conjuntivite prolongada” ou referem sintomatologia ocular de longa duração (ardor, prurido, sensação de corpo estranho, fotofobia,
lacrimejamento e secreção ocular), especialmente na faixa etária de 1 a 10 anos.
Os comunicantes de casos confirmados de tracoma também devem ser considerados
casos suspeitos.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
725
Tracoma
Confirmado
Considera-se caso confirmado de tracoma qualquer indivíduo que, por meio de exame ocular externo, apresentar um ou mais dos seguintes sinais:
• inflamação tracomatosa folicular (TF) – quando se verifica a presença de folículos
de, no mínimo, 0,5mm de diâmetro na conjuntiva tarsal superior;
• inflamação tracomatosa intensa (TI) – quando se verifica a presença de espessamento da conjuntiva tarsal superior com mais de 50% dos vasos tarsais profundos
não visualizados;
• cicatrização conjuntival tracomatosa (TS) – presença de cicatrizes na conjuntiva
tarsal superior com aparência esbranquiçada, fibrosa, com bordas retas, angulares
ou estreladas;
• triquíase tracomatosa (TT) – quando pelo menos um dos cílios atrita o globo ocular ou há evidência de recente remoção de cílios, associado à presença de cicatrizes
na conjuntiva tarsal superior (TS) sugestivas de tracoma;
• opacificação corneana (CO) – caracteriza-se por sua nítida visualização sobre a pupila com intensidade suficiente para obscurecer pelo menos uma parte da margem
pupilar.
A confirmação do caso é essencialmente clínica, através da verificação dos sinais-chave, ao exame ocular externo. O caso inicial confirmado deve ser tomado como caso índice,
a partir do qual serão desencadeadas medidas de investigação epidemiológica para a detecção de casos a ele associados. Só após a investigação epidemiológica, com a detecção de
outros casos, é que se terá a confirmação clínico-epidemiológica definitiva do caso índice,
pois não existem casos isolados de tracoma. Mesmo que o caso índice tenha confirmação
laboratorial de C. trachomatis, se não houver caso associado a ele o seu diagnóstico é de
conjuntivite de inclusão. A exceção é feita aos casos de tracoma cicatricial, que indicariam
uma infecção no passado, ou cicatrizes tracomatosas associadas a formas inflamatórias (TF
e/ou TI) que indicariam que o caso índice tem a doença há muito tempo.
Descartado
Considera-se caso descartado de tracoma qualquer indivíduo que, por meio de exame
ocular externo, não apresente sinais clínicos de tracoma.
Notificação
O tracoma não é doença de notificação compulsória nacional, sendo de notificação
obrigatória em algumas unidades federadas.
No entanto, é uma doença sob vigilância epidemiológica, sendo recomendável fazer
registros sistemáticos dos casos detectados e tratados, de forma a proporcionar informações sobre a situação epidemiológica do agravo na região, permitindo avaliar tanto a sua
evolução como o impacto das ações de controle desenvolvidas.
726
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
Medidas a serem adotadas
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos por profissionais capacitados para realizar
o diagnóstico clínico e se estão sendo seguidas as recomendações quanto ao diagnóstico,
tratamento e controle.
Confirmação diagnóstica
Quando houver indicação de coleta de material para diagnóstico laboratorial, deverá
ser colhido o raspado conjuntival da pálpebra superior, de acordo com as orientações do
Anexo. O material colhido deve ser examinado pelo método de imunofluorescência direta
com anticorpos monoclonais.
Investigação
A investigação epidemiológica deve dirigir-se, prioritariamente, às instituições educacionais e/ou assistenciais e domicílios dos casos que constituem locais com maior probabilidade de transmissão da doença.
Desde que haja a confirmação da existência de um ou vários casos na comunidade (escola, creche, bairro, povoado, etc.), deverão ser desencadeadas medidas visando a detecção
de casos associados.
A investigação epidemiológica dos casos é importante não só para elucidar a situação
epidemiológica do caso índice como para fornecer subsídios para o conhecimento do quadro epidemiológico da doença no país, possibilitando o desenho de estratégias de intervenção mais amplas e adequadas às realidades regionais.
6
Investigação em instituições educacionais
A busca ativa em escolas e creches deve ser sistemática nos locais onde haja suspeita da
ocorrência de casos de tracoma. Deve ser ressaltada a importância das medidas de educação
em saúde envolvendo pais, professores, funcionários e crianças, para o sucesso das medidas
de controle do tracoma.
Por tratar-se de doença crônica e endêmica, não há necessidade de isolamento dos
casos. Os indivíduos com tracoma devem receber tratamento e continuar a freqüentar a
instituição, pois a doença está ocorrendo no local onde as pessoas já foram expostas ao
agente etiológico e o contágio, se houve, já ocorreu. E, certamente, haverá casos no período
de incubação, sem sinais e sintomas, que não serão detectados na visita inicial. Daí a importância do trabalho permanente nessas instituições.
T
Investigação domiciliar
Deve ser realizada para todos os casos novos de tracoma inflamatório, de forma a identificar casos associados ao caso índice.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
727
Tracoma
Investigação na comunidade
O sistema de informações poderá revelar grupos populacionais com maior concentração de casos. Deve-se realizar inquéritos epidemiológicos populacionais, visando melhor
conhecimento da situação nas localidades identificadas.
Roteiro de investigação epidemiológica
Identificação do paciente
A partir da busca ativa de casos realizados em escolas e locais com suspeita de ocorrência de tracoma, todos os dados de identificação dos casos diagnosticados devem ser
preenchidos em formulário padrão do Ministério da Saúde (ficha de acompanhamento e
controle dos casos). Deve ser realizada busca de casos domiciliares dos comunicantes dos
casos índices verificados.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
• Para orientar o diagnóstico e tratamento e demais medidas de prevenção.
• Para caracterizar a existência do foco: o tracoma é uma situação clínico-epidemiológica na qual o agente etiológico encontra-se amplamente disseminado na população,
de forma a propiciar a contínua reinfecção da conjuntiva.
É incomum a existência de casos de tracoma isolados. A constatação de um caso isolado na comunidade requer investigação epidemiológica de seus comunicantes. Caso não se
identifique relação com os comunicantes, provavelmente é um caso importado, que contraiu a doença em outro local.
A constatação de uma criança com diagnóstico de conjuntivite por C. trachomatis
deve ser acompanhada pela investigação epidemiológica dos seus comunicantes.
Em áreas onde não existe registro da ocorrência, ao ser detectado um caso novo de tracoma ativo (TF e/ou TI) em uma comunidade, escola, creche, povoado ou áreas periféricas
das metrópoles recomenda-se colher raspado conjuntival da pálpebra superior de alguns
indivíduos, do mesmo local, que apresentem sinais de tracoma, para confirmação do foco.
O material colhido deve ser examinado pelo método de imunofluorescência direta com
anticorpos monoclonais (Anexo). Se o resultado do exame de uma das lâminas for positivo,
fica estabelecido o foco. A partir da caracterização do foco, deve-se proceder as ações de
vigilância epidemiológica e controle do agravo.
Análise dos dados
A análise dos dados obtidos através da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema, distribuição e ocorrência do agravo e conhecimento das populações sob
risco, que devem ser incluídas nas medidas de controle, objetivando a adequação das medidas
adotadas e a priorização das ações de prevenção e controle que devem ser mantidas na área.
728
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
Deverá ser estabelecido um fluxo de informações por meio de formulários específicos, que deverão ser coletados, consolidados e analisados em nível municipal, devendo ser
transmitidos para o nível estadual que, por sua vez, deverá analisar a situação epidemiológica no estado e repassar as informações para o nível federal.
A periodicidade deste fluxo deverá ser estabelecida pelas condições regionais e regulamentada pelo Ministério da Saúde. Os relatórios devem conter o número de pessoas
examinadas e de casos detectados de tracoma, bem como sua distribuição por idade, sexo
e forma clínica.
Propõe-se a realização de fluxo trimestral, do município para o estado, e semestral, do
estado para o nível federal.
Os municípios devem realizar avaliações das atividades de vigilância epidemiológica e
controle do tracoma, com as seguintes sugestões de acompanhamento:
• número de instituições (escolas, creches, etc.) e locais onde foi feita a busca ativa;
• número de casos de tracoma inflamatório que recebeu visitar domiciliar para exame
de comunicantes;
• prevalência de tracoma no município, por faixa etária, forma clínica e localidade
(bairros);
• taxa de detecção de tracoma por instituições;
• taxa de tracoma por formas clínicas;
• ações educativas desenvolvidas.
6
Instrumentos disponíveis para controle
Medidas de controle
Medidas relativas à fonte de infecção
• Tratamento individual: todo caso de tracoma inflamatório (TF e/ou TI) deve ser
tratado de acordo com as orientações descritas.
• Tratamento em massa: havendo indicação epidemiológica, indicada anteriormente,
o tratamento em massa deverá ser adotado.
• Busca ativa: a busca ativa de novos casos deverá ser procedida, visando o tratamento
e conscientização da população.
T
Medidas referentes às vias de transmissão
As áreas endêmicas do tracoma, em sua maioria, apresentam precárias condições de
saneamento e higiene, fatores determinantes na manutenção de elevados níveis endêmicos.
Assim, a melhoria sanitária domiciliar, o destino adequado do lixo e o acesso ao abastecimento de água representam importantes ações no controle da doença.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
729
Tracoma
Ações de educação em saúde
O desenvolvimento de ações educativas em saúde tem importante impacto no trabalho de prevenção e controle da doença, mobilizando a comunidade para criar recursos e
participar ativamente do processo. Recomenda-se:
• planejar as ações educativas antes do início do projeto: organizando a equipe de
saúde com profissionais aptos não só para detectar e tratar casos de tracoma como
assumir a responsabilidade de transmissão do conhecimento, envolvendo professores e toda a comunidade;
• contar com material de apoio suficiente para o desenvolvimento das ações educativas, organizando, junto com o grupo envolvido, dramatizações, histórias, criação de
cartazes e folhetos;
• buscar apoio dos meios de comunicação de massa, para divulgação e prevenção da
doença, como reforço às práticas propostas.
A ação educativa constitui importante estratégia para o controle do tracoma, buscando a conscientização da população sobre a necessidade e adoção de hábitos de higiene,
como a necessidade de lavar regularmente o rosto das crianças, além de enfatizar a importância do uso individual de objetos pessoais como toalhas, fronhas, lençóis, entre outros.
A abordagem da população quanto aos aspectos relacionados à higiene deverá ser
tratada com cuidado, para que não ocorra entendimento errôneo quanto à transmissão da
doença ou discriminação do paciente quanto a maus hábitos de higiene.
Ainda em relação ao tratamento, compete à equipe de saúde orientar o uso correto
da medicação, a observação dos prazos do tratamento e comparecimento aos retornos de
avaliação clínica, para garantir a efetividade do tratamento.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tracoma
Anexo
Procedimentos para a coleta de material para exame laboratorial
Para a realização de exame laboratorial pela técnica de imunofluorescência direta com
anticorpos monoclonais deve-se colher raspado da conjuntiva tarsal superior dos indivíduos.
Material necessário
• Livro de registro dos indivíduos a serem submetidos à coleta.
• Kits de coleta de exames – lâminas apropriadas e swabs.
• Frasco com metanol.
• Lápis e caneta para identificação.
• Isopor com gelo reciclável.
• Saco de lixo.
• Gaze.
• Solução salina isotônica.
6
Orientações para a coleta
• Anotar, com lápis, na lâmina, o nome do indivíduo de quem foi feita a coleta e a
data.
• Anotar o mesmo nome no livro apropriado.
• Remover, com gaze, as lágrimas e secreções; se necessário, limpar com soro fisiológico. Após o uso, a gaze deve ser jogada no lixo apropriado.
• Everter a pálpebra superior.
• Para assegurar a adequada coleta, esfregar o swab firmemente sobre a placa tarsal superior do canto externo para o interno e vice-versa (por dez vezes), rolando o swab.
• Colocar o swab sobre a metade inferior do círculo da lâmina rolando-o numa direção.
• Levantar o swab em relação à lâmina sem mudar sua posição na mão; girar a lâmina
por 180º. Rolar o swab na mesma direção anterior, usando, agora, a metade restante
do círculo.
• Atentar para que toda a superfície do swab tenha estado em contato com o círculo.
• Esperar secar o raspado por cinco minutos e, então, fixar a lâmina com duas gotas do
metanol. Usar como suporte superfícies que não sejam danificadas pelo metanol.
• Após a lâmina estar seca, colocá-la na caixa de lâminas, que, por sua vez, deve ser
acondicionada no isopor com gelo. Ao final de cada dia de trabalho, as caixas com as
lâminas devem ser guardadas dentro de um freezer a -20ºC.
• Retirar todo o material utilizado e jogar o material contaminado no lixo que deve ser
descartado em local apropriado.
T
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Tuberculose
TUBERCULOSE
CID 10: A15 a A19
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil que, juntamente com outros 21 países em desenvolvimento, alberga 80% dos casos mundiais da doença.
Estima-se que cerca de um terço da população mundial está infectada com o Mycobacterium tuberculosis, sob risco, portanto, de desenvolver a enfermidade.
Anualmente, ocorrem em torno de oito milhões de casos novos e quase 3 milhões de
mortes por tuberculose. Nos países desenvolvidos é mais freqüente entre as pessoas idosas,
nas minorias étnicas e imigrantes estrangeiros. Nos países em desenvolvimento, estima-se
que ocorram 95% dos casos e 98% das mortes causadas pela doença, ou seja, mais de 2,8
milhões de mortes por tuberculose e 7,5 milhões de casos novos, atingindo a todos os grupos etários, com maior predomínio nos indivíduos economicamente ativos (15-54 anos).
Os homens adoecem duas vezes mais que as mulheres.
O Brasil apresenta aproximadamente 85 mil casos novos por ano e cerca de 5-6 mil
mortes pela doença.
Com o surgimento, em 1981, da síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida/Aids),
vem-se observando, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, crescente número de casos notificados de tuberculose em pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Esta associação (HIV/TB) constitui, nos dias atuais, um sério
problema de saúde pública, podendo levar ao aumento da morbidade e mortalidade pela
tuberculose em muitos países.
Agente etiológico
Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch. O complexo
Mycobacterium tuberculosis é constituído de várias espécies: M. tuberculosis, M. bovis, M.
africanum e M. microti. Outras espécies de micobactérias podem produzir quadro clínico
semelhante ao da tuberculose, sendo necessárias para o diagnóstico diferencial a cultura e
a identificação das mesmas, pelos laboratórios de referência.
Reservatório
O reservatório principal é o homem. Em algumas regiões, o gado bovino doente. Em
raras ocasiões, os primatas, aves e outros mamíferos. Em geral, a fonte de infecção é o indivíduo com a forma pulmonar da doença, que elimina bacilos para o exterior (bacilífero).
Calcula-se que durante um ano, numa comunidade, um indivíduo bacilífero poderá infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
Não existem estimativas da proporção de pacientes com tuberculose causada pelo M.
Bovis, no entanto é importante que o sistema de saúde esteja atento à possibilidade de ocorrência deste agente. Em alguns locais, ele assume o papel de principal agente etiológico
causador da doença, apresentando-se de forma idêntica ao M. tuberculosis mas com maior
incidência da forma ganglionar e outras extrapulmonares. Sua ocorrência é mais freqüente
em comunidades que consomem leite e produtos derivados (não pasteurizados ou fervidos)
de rebanho bovino infectado, em pacientes provenientes de áreas rurais e em profissionais
(veterinários, ordenhadores, funcionários de matadouros, entre outros). Uma vez confirmada a contaminação humana, os serviços sanitários devem ser informados para atuar na
imediata identificação das fontes de infecção e tomar as medidas de controle adequadas,
prevenindo, assim, a ocorrência de novos casos.
Modo de transmissão
A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente através do ar. A fala,
o espirro e, principalmente, a tosse de um doente de tuberculose pulmonar bacilífera lança
no ar gotículas, de tamanhos variados, contendo no seu interior o bacilo. As gotículas mais
pesadas depositam-se rapidamente no solo, enquanto que as mais leves podem permanecer
em suspensão por diversas horas. Somente os núcleos secos das gotículas (núcleo de Wells),
com diâmetro de até 5µ e com 1 a 2 bacilos em suspensão, podem atingir os bronquíolos e
alvéolos e aí iniciar sua multiplicação. Em sua maioria, as gotículas médias são retidas pela
mucosa do trato respiratório superior e removidas dos brônquios através do mecanismo
mucociliar. Os bacilos assim removidos são deglutidos, inativados pelo suco gástrico e eliminados nas fezes. Os bacilos que se depositam nas roupas, lençóis, copos e outros objetos
dificilmente se dispersarão em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importante
na transmissão da doença.
6
Período de incubação
Após a infecção pelo M. tuberculosis, transcorrem, em média, 4 a 12 semanas para a
detecção das lesões primárias. A maioria dos novos casos de doença pulmonar ocorre em
torno de 12 meses após a infecção inicial. A probabilidade de o indivíduo vir a ser infectado,
e de que essa infecção evolua para a doença, depende de múltiplas causas, destacando-se,
dentre estas, as condições socioeconômicas e algumas condições médicas (diabetes mellitus,
silicose, uso prolongado de corticosteróide ou outros imunossupressores, neoplasias, uso de
drogas e infecção pelo HIV). A evolução do quadro clínico dependerá de o indivíduo estar
sendo infectado pela primeira vez (primo-infecção) ou reinfectado (reinfecção exógena). A
primo-infecção pode causar a doença dependendo da virulência do bacilo, da fonte infectante e das características genéticas dos indivíduos infectados. Em novo contato, após uma
infecção natural ou induzida pela BCG, a resistência dependerá da resposta imunológica.
T
Período de transmissibilidade
A transmissão é plena enquanto o doente com a forma clínica de tuberculose pulmonar bacilífera eliminar bacilos e não tiver iniciado o tratamento. Com o esquema terapêu-
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Tuberculose
tico recomendado, a transmissão é reduzida, gradativamente, a níveis insignificantes, ao
fim de poucos dias ou semanas. As crianças com tuberculose pulmonar geralmente não são
infectantes.
Susceptibilidade e imunidade
A infecção pelo bacilo da tuberculose pode ocorrer em qualquer idade, mas no Brasil
geralmente acontece na infância. Nem todas as pessoas expostas ao bacilo da tuberculose
se tornam infectadas. A infecção tuberculosa, sem doença, significa que os bacilos estão
presentes no organismo mas o sistema imune está mantendo-os sob controle. Entre os infectados, a probabilidade de adoecer aumenta na presença de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e outras formas de imunodepressão, na presença de desnutrição,
silicose, diabetes e em usuários de drogas endovenosas. As reativações de infecções antigas
e latentes explicam grande parte dos casos de doença em idosos. A imunidade natural pode
ser explicada por diferenças fisiológicas que existem nas várias espécies. No entanto, não
existem diferenças fisiológicas que expliquem os diversos graus de imunidade, aparentemente natural, observados em uma mesma espécie animal. A maior ou menor imunidade
natural parece estar relacionada com a maior ou menor velocidade com que o hospedeiro é
capaz de adquirir imunidade. Assim, não haveria propriamente uma imunidade “natural”,
mas uma imunidade adquirida mais rápida e eficaz e, portanto, capaz de propiciar o controle da infecção, em uma fase precoce. Essa competência imunológica é controlada geneticamente, embora fatores como a desnutrição, possam suprimi-la. Na imunidade adquirida, a
resposta imunológica humoral não tem importância, já que a imunidade para a tuberculose
é, fundamentalmente, mediada pelo sistema imunológico celular, timodependente, através
da interação entre linfócitos T ativados e macrófagos.
Aspectos clínicos e laboratorias
Manifestações clínicas
Período de infecção – um indivíduo que receba uma carga infecciosa de bacilos da
tuberculose, pela primeira vez (primo-infecção), da qual um ou mais bacilos alcancem o
pulmão, vencendo as defesas da árvore respiratória e localizando-se nos alvéolos da periferia pulmonar, apresentará reação inflamatória e exsudativa de tipo inespecífica. Aproximadamente, em 15 dias os bacilos podem multiplicar-se livremente, porque ainda não existe
imunidade adquirida. Nesse período, os bacilos podem, a partir da lesão pulmonar, atingir
a via linfo-hematogênica, comprometendo os linfonodos e órgãos dos diversos sistemas
e aparelhos, principalmente o fígado, o baço, a medula óssea, os rins e o sistema nervoso.
Essa disseminação, de poucos bacilos, é considerada “benigna”: os bacilos ficarão latentes
ou serão destruídos pela ação da imunidade que se instalará. No início da 3ª semana, o
organismo normal, reconhecendo a presença de elemento estranho, é capaz de mobilizar
seu sistema de defesa imunológico específico visando a destruição ou inativação do agente
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Tuberculose
agressor. Passa a haver, então, no pulmão, no local da inoculação inicial, um foco pequeno,
arredondado, de 1 a 2 mm, esbranquiçado, de consistência amolecida e constituído, principalmente, por material caseoso. Esse foco é circundado por afluxo celular de linfócitos,
células epitelióides (macrófagos ativados e modificados) e macrófagos (foco primário), localizado principalmente no terço médio, compreendendo a parte inferior do lobo superior,
lobo médio e, particularmente, o ápice do lobo inferior. Normalmente, esse nódulo é único
e com as dimensões mencionadas, mas há relatos da existência de múltiplos focos primários
e de focos de maiores dimensões. À associação do foco primário aos gânglios satélites da
sua região dá-se o nome de complexo primário de Ranke. O foco pulmonar regressivo, que
pode ser visto nas radiografias, chama-se foco de Gohn. Cerca de 90% da população infectada consegue bloquear o avanço do processo, a partir da formação do complexo primário
de Ranke, permanecendo apenas como infectados.
Tuberculose primária – ocorre durante uma primo-infecção, pode evoluir tanto a
partir do foco pulmonar quanto do foco ganglionar ou, então, em conseqüência da disseminação hematogênica. Isso acontece em 5% dos primo-infectados.
6
Tuberculose pós-primária – ocorre no organismo que tem sua imunidade desenvolvida tanto pela infecção natural quanto pela BCG. Dos primo-infectados, 5% adoecerão
tardiamente em conseqüência do recrudescimento de algum foco já existente em seu organismo (reativação endógena). Também pode ocorrer a reinfecção exógena, ou seja, o
paciente adoecer por receber nova carga bacilar do exterior. O quadro clínico não apresenta
nenhum sinal ou sintoma característico. Observa-se, normalmente, comprometimento do
estado geral, febre baixa vespertina com sudorese, inapetência e emagrecimento. Quando a doença atinge os pulmões, o indivíduo pode apresentar dor torácica e tosse produtiva, acompanhada ou não de escarros hemoptóicos. A tosse produtiva é o sintoma mais
freqüente da forma pulmonar. Nas crianças, também é comum o comprometimento ganglionar mediastínico e cervical (forma primária), que se caracteriza por lesões bipolares:
parênquima e gânglios. Nos pacientes adultos, maiores de 15 anos, a tuberculose atinge os
pulmões em cerca de 90% dos casos. Nos menores de 15 anos, este percentual é de 75%,
podendo, entretanto, localizar-se em outras partes do organismo: rins, ossos e meninges,
dentre outras, em função das quais se expressará clinicamente. Uma das formas clínicas
mais graves é a tuberculose miliar, decorrente de disseminação hematogênica com acometimento sistêmico, quadro tóxico infeccioso importante e grande risco de meningite.
Os pulmões se apresentam difusamente ocupados por pequenas lesões. Os demais órgãos
também podem ser acometidos por lesões idênticas.
T
Na criança e no adolescente com suspeita de tuberculose as manifestações clínicas podem ser variadas. A maioria dos casos apresenta febre, habitualmente moderada, persistente
por mais de 15 dias e freqüentemente vespertina. São comuns irritabilidade, tosse, perda de
peso e sudorese noturna, às vezes profusa. Muitas vezes, a suspeita de tuberculose é feita
em casos de pneumonia de evolução lenta, que não vem apresentando melhora com o uso
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735
Tuberculose
de antimicrobianos para bactérias comuns. Em crianças e adolescentes, há predomínio da
localização pulmonar sobre as formas de tuberculose extrapulmonares. A suspeita deve ser
realizada na presença de linfadenopatia cervical ou axilar, após excluir adenite infecciosa
aguda, com evidentes sinais flogísticos. Na presença de reação forte ao PPD, está indicado o
tratamento. Os achados radiográficos mais sugestivos de tuberculose, nessa faixa etária, são:
adenomegalias hilares e/ou paratraqueais (gânglios mediastínicos aumentados de volume),
pneumonias com qualquer aspecto radiológico (de evolução lenta, às vezes associadas a
adenomegalias mediastínicas, ou que cavitam durante a evolução) e o infiltrado nodular
difuso (padrão miliar). Deve-se sempre investigar se houve contato prolongado com adulto
doente de tuberculose pulmonar bacilífera ou com história de tosse por três semanas ou
mais. Os casos suspeitos de tuberculose em crianças e adolescentes devem ser encaminhados para a unidade de referência, para investigação e confirmação do diagnóstico. Após
definição do diagnóstico e estabelecido o tratamento, a criança deverá voltar para acompanhamento na unidade básica de saúde.
Remissão – apesar de ocorrer a cura espontânea, em alguns casos, a remissão dos sintomas e a respectiva cura do paciente só ocorre após o tratamento apropriado.
Devido à remissão dos sintomas, alguns pacientes abandonam o tratamento no início.
O agente então persiste no organismo, que fica exposto a recidivas e a resistência a drogas.
Dependendo da extensão das lesões pulmonares, várias seqüelas podem permanecer,
apesar da cura bacteriológica, resultantes da destruição do parênquima pulmonar e da arquitetura brônquica. As mais importantes complicações, clinicamente, são:
• distúrbio ventilatório obstrutivo e/ou restritivo;
• infecções respiratórias de repetição;
• formação de bronquiectasias;
• atelectasias;
• hemoptise;
• empiemas.
Diagnóstico diferencial
Pneumonias, micoses pulmonares (paracoccidioidomicose, histoplasmose), sarcoidose e carcinoma brônquico, dentre outras enfermidades.
Diagnóstico laboratorial
É fundamentado nos seguintes métodos:
• bacterioscópico: baciloscopia e cultura;
• radiológico; tomografia computadorizada do tórax;
• broncoscopia;
• outros: prova tuberculínica cutânea (PPD); anátomo-patológico (histológico e citológico);
• sorológico, bioquímico, biologia molecular.
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Tuberculose
Exames bacteriológicos
Baciloscopia direta do escarro – é o método prioritário, porque permite descobrir
a fonte mais importante de infecção: o doente bacilífero. Executado corretamente permite
detectar de 70% a 80% dos casos de tuberculose pulmonar em uma comunidade. O método
de coloração adotado no Brasil e de custo mais barato é o Ziehl-Neelsen), que, por simples
e seguro, pode ser realizado por todos os laboratórios. A baciloscopia direta é indicada para
todos os sintomáticos respiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três semanas
e mais). Deverá ser dada ênfase para a realização deste exame nos pacientes que apresentem alterações pulmonares na radiografia de tórax e nos contatos de tuberculose pulmonar
bacilíferos. Também é utilizada para acompanhar, mensalmente, a evolução bacteriológica
do paciente pulmonar, inicialmente positivo, durante o tratamento. Recomenda-se, para o
diagnóstico, a coleta de duas amostras de escarro: uma por ocasião da primeira consulta e a
segunda na manhã do dia seguinte, em jejum, ao despertar.
6
Cultura de escarro ou de outras secreções – é indicada para suspeitos de tuberculose
pulmonar e negativos ao exame direto do escarro, bem como para o diagnóstico de formas
extrapulmonares (como meníngea, renal, pleural, óssea e ganglionar) e diagnóstico de tuberculose em paciente soropositivo para o HIV/Aids. Este exame está indicado nos casos de
retratamento após falência bacteriológica ao esquema de tratamento padrão – RHZ ou recidiva da doença ou reinício após abandono, com teste de sensibilidade. A cultura é também
indicada nos casos de suspeita de resistência bacteriana às drogas, acompanhada do teste
de sensibilidade. Nos casos de suspeita de infecção por micobactérias não-tuberculosas,
notadamente nos doentes HIV positivos ou com aids, além da cultura deverá ser realizada
a tipificação do bacilo.
Exame radiológico
A evolução da tuberculose é acompanhada de anormalidades radiográficas na maioria
dos casos. Por isso, a radiografia do tórax é importante auxiliar no diagnóstico, justificandose sua utilização, quando possível, nos casos suspeitos. É sempre importante realizar o exame radiológico para um diagnóstico correto. Este exame permite a identificação de pessoas
portadoras de imagens sugestivas de tuberculose devendo ser consideradas duas situações
distintas: a tuberculose primária e a tuberculose secundária – que se manifestam clínica e
radiologicamente de forma distinta. O exame radiológico, em pacientes com baciloscopia
positiva, tem como função principal a exclusão de outra doença pulmonar associada, que
necessite de tratamento concomitante, além de permitir avaliação da evolução radiológica
dos pacientes, sobretudo daqueles que não responderam à quimioterapia.
O exame radiológico não substitui a realização da investigação bacterioscópica, sendo
sugerida uma padronização para a descrição dos resultados:
• normal – ausência de imagens patológicas nos campos pulmonares;
• seqüela – apresentam imagens sugestivas de lesões cicatriciais;
• suspeito – apresentam imagens sugestivas de processo tuberculoso ativo;
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T
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Tuberculose
• outras doenças – apresentam imagens sugestivas de pneumopatias não-tuberculosas (infecções bacterianas, micoses, abcessos ou neoplasias).
A abreugrafia indiscriminada, em pessoas aparentemente sadias, não está indicada por
ter baixo rendimento e por expor, de forma desnecessária, a população à radiação.
Tomografia computadorizada do tórax – método diagnóstico útil, notadamente a
tomografia computadorizada de alta resolução, em alguns casos em que a radiografia do
tórax apresenta resultados imprecisos, por alterações parenquimatosas mínimas ou por não
permitir distinguir lesões antigas das lesões da tuberculose ativa. No entanto, é método de
maior custo e menor oferta, restrito aos centros de referência. Deve ser usado de forma
individualizada, levando em consideração os recursos disponíveis e o custo-benefício, especialmente nos casos com baciloscopia negativa que exigem melhor diagnóstico diferencial
com outras doenças.
Broncoscopia
A broncoscopia e os procedimentos a ela associados, a exemplo de lavado brônquico,
lavado broncoalveolar, escovado brônquico, biópsia brônquica, biópsia transbrônquica e
punção aspirativa com agulha podem ser úteis no diagnóstico da tuberculose nas seguintes
situações: formas negativas à baciloscopia, suspeita de outra doença pulmonar que não a
tuberculose, presença de doença que acomete difusamente o parênquima pulmonar, suspeita de tuberculose endobrônquica ou em pacientes imunodeprimidos, particularmente
os infectados pelo HIV.
Prova tuberculínica
A prova tuberculínica cutânea está indicada como método auxiliar, no diagnóstico da
tuberculose, em pessoas não vacinadas com BCG. A prova tem por base a reação celular
desenvolvida após a inoculação intradérmica de um derivado protéico do M. tuberculosis.
O resultado positivo evidencia apenas a infecção por micobactérias, não caracterizando a
presença de doença.
No Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23, aplicada por via intradérmica, no terço
médio da face anterior do antebraço esquerdo, na dose de 0,1ml, equivalente a 2UT (unidades de tuberculina). Quando conservada em temperatura entre 4ºC e 8°C, a tuberculina
mantém-se ativa por seis meses. Não deve, entretanto, ser congelada, nem exposta à luz
solar direta.
A técnica de aplicação (a mais empregada é a de Mantoux) e o material utilizado são
padronizados pela Organização Mundial da Saúde e têm especificações semelhantes às usadas para a vacinação BCG. A injeção do líquido faz aparecer uma pequena área de limites
precisos, pálida e de aspecto pontilhado, como casca de laranja.
A leitura da prova tuberculínica é realizada de 72 a 96 horas após a aplicação, medindo-se com régua milimetrada o maior diâmetro transverso da área de endurecimento palpável. O resultado, registrado em milímetros, define a classificação e interpretação clínica:
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Tuberculose
• 0 a 4mm – não-reator: indivíduo não infectado pelo M. tuberculosis ou por outra
micobactéria; ou infectado pelo M. tuberculosis há menos de duas semanas (em fase
de viragem tuberculínica) ou, ainda e excepcionalmente, em infectados ou doentes
imunodeprimidos;
• 5 a 9mm – reator fraco: indivíduo vacinado com BCG ou infectado pelo M. tuberculosis ou por outras micobactérias;
• 10mm ou mais – reator forte: indivíduo infectado pelo M. tuberculosis, que pode
estar doente ou não, e indivíduos recentemente vacinados com BCG.
Observações em relação à prova tuberculínica:
• algumas circunstâncias podem interferir no resultado da prova tuberculínica como,
por exemplo, desnutrição, aids, sarcoidose, neoplasias, doenças linfoproliferativas,
tratamentos com corticosteróide e outras drogas imunodepressoras, gravidez, etc.;
• todos os indivíduos infectados pelo HIV devem ser submetidos ao teste tuberculínico. Nesses casos, considera-se reator aquele que apresenta endurecimento de
5mm ou mais e não reator aquele com endurecimento entre 0 e 4mm. Para pacientes não reatores, e em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se fazer o teste seis
meses após o início da terapia, devido à possibilidade de restauração da resposta
tuberculínica;
• nos indivíduos vacinados com BCG, sobretudo entre aqueles imunizados há até
dois anos, a prova tuberculínica deve ser interpretada com cautela porque, em geral,
apresenta reações de tamanho médio, podendo alcançar 10mm ou mais;
• recomenda-se realizar o teste tuberculínico em todos os profissionais dos serviços
de saúde, por ocasião de sua admissão.
6
Em áreas de elevada prevalência de infecção tuberculosa, a taxa de positividade para
a prova tuberculínica pode oscilar entre 25% e 55% da população geral. Nos locais onde há
incidências significativas de HIV aumenta a probabilidade de resultados falso-negativos. A
prova tuberculínica deve, portanto, ser utilizada com cautela, tendo em vista suas limitações na decisão diagnóstica e sempre levando em consideração os indicadores epidemiológicos regionais.
T
Outros exames
Anátomo-patológico (histológico e citológico) – sempre que possível, deve-se realizar a biópsia nas formas extrapulmonares. No material colhido será feito o exame direto,
a cultura e o exame anátomo-patológico, para identificar o M. tuberculosis ou o processo
inflamatório granulomatoso compatível com a tuberculose.
Bioquímico – são mais utilizados em casos de tuberculose extrapulmonar, principalmente no derrame pleural, derrame pericárdico e meningoencefalite tuberculosa.
Sorológico e de biologia molecular – são métodos diagnósticos recentes, de custo
elevado e valores preditivos variáveis, muitos ainda não definitivamente testados ou aprovados. Apesar das perspectivas futuras quanto à sua utilidade no diagnóstico precoce, não são
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739
Tuberculose
recomendados para a rotina diagnóstica de tuberculose no Brasil, ficando seu uso restrito a
alguns centros de referência e pesquisa onde podem ser utilizados para casos que demandem diagnóstico rápido.
Observação
O exame sorológico anti-HIV deve ser oferecido a todos aqueles com diagnóstico de
tuberculose confirmado. O profissional de saúde deve conversar com o doente sobre a
possibilidade de associação das duas infecções e os benefícios do diagnóstico precoce
e tratamento da infecção pelo HIV. O doente deve assinar o termo de consentimento,
para realização do exame. Caso o exame seja positivo, deve ser encaminhado para a
unidade de referência para Aids mais próxima de sua residência, capacitada a tratar
das duas infecções.
Tratamento
A tuberculose é uma doença grave, porém curável em praticamente 100% dos casos
novos, desde que os princípios da quimioterapia sejam seguidos. O tratamento dos bacilíferos é a atividade prioritária de controle da tuberculose, uma vez que permite anular rapidamente as maiores fontes de infecção. Poucos dias após o início da quimioterapia, os bacilos
da tuberculose praticamente perdem seu poder infectante. Assim, os doentes “pulmonares
positivos” não precisam, nem devem, ser segregados do convívio familiar e comunitário.
A associação medicamentosa adequada, doses corretas, uso por tempo suficiente, com supervisão da tomada dos medicamentos, são os meios utilizados para evitar a persistência
bacteriana e o desenvolvimento de resistência às drogas, assegurando a cura do paciente.
O tratamento da tuberculose deve ser feito em regime ambulatorial, supervisionado,
no serviço de saúde mais próximo, na residência ou no trabalho do doente.
Antes de iniciar a quimioterapia, faz-se necessário orientar o paciente quanto ao tratamento. Para isso, deve-se explicar, na entrevista inicial e em linguagem acessível, as características da doença e o esquema de tratamento que será seguido – drogas, duração, benefícios do uso regular da medicação, conseqüências advindas do abandono do tratamento e
possíveis efeitos adversos dos medicamentos.
O tratamento diretamente observado de curta duração (DOTS) é fator essencial para
se promover o real e efetivo controle da tuberculose. Define-se como uma estratégia*, re-
*Os cinco elementos da estratégia DOTS são:
• Compromisso político com a implementação e sustentabilidade do programa de controle da tuberculose;
• Detecção de casos, por meio de baciloscopia de escarro, entre sintomáticos respiratórios da demanda dos serviços
gerais de saúde;
• Tratamento padronizado, de curta duração, diretamente observado e monitorado quanto à sua evolução, para
todos os casos com baciloscopia de escarro positiva;
• Provisão regular de medicamentos tuberculostáticos;
• Sistema de informação que permita avaliar a detecção de casos, o resultado do tratamento de casos individuais
e o desempenho do programa.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
comendada pela Organização Mundial da Saúde, que tem como principal sustentáculo a
observação direta da tomada de medicamento para tuberculose em pelo menos três observações semanais, nos primeiros dois meses, e uma observação por semana, até o seu final.
Além disso, o DOTS visa ao aumento da adesão dos pacientes, a maior descoberta das
fontes de infecção (pacientes pulmonares bacilíferos) e ao aumento da cura, reduzindo-se o
risco de transmissão da doença na comunidade.
Esta estratégia contínua é uma das prioridades para que o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), do Ministério da Saúde, atinja a meta de curar pelo menos
85% dos doentes, diminua a taxa de abandono do tratamento, evite o surgimento de bacilo
resistentes e possibilite um efetivo controle da tuberculose no país.
Além da adoção da estratégia DOTS, o PNCT reconhece a importância de horizontalizar o combate à tuberculose, estendendo-o para todos os serviços de saúde do Sistema
Único de Saúde (SUS). Portanto, visa a efetiva descentralização do controle da tuberculose
e sua integração no processo de trabalho da atenção básica, incluindo o Programa Saúde da
Família (PSF) para garantir a efetiva ampliação do acesso ao diagnóstico e tratamento.
O tratamento supervisionado deve ser priorizado para todos os casos de tuberculose
bacilífera. A supervisão da ingestão dos medicamentos deve ser realizada em local de escolha do paciente (unidade de saúde, residência), podendo ser administrada por um trabalhador de saúde (agente comunitário de saúde, membro da equipe do PSF ou da unidade
básica de saúde) ou familiar devidamente orientado para essa atividade.
6
Tratamento supervisionado
Atenção especial deve ser dada para os doentes que se enquadrem nas seguintes situações: etilistas, casos de retratamento após abandono, mendigos, presidiários e doentes
institucionalizados (asilos, manicômios). Compete aos serviços de saúde prover os meios
necessários para garantir que todo indivíduo com diagnóstico de tuberculose possa, sem
atraso, ser adequadamente tratado.
A hospitalização é indicada apenas para as seguintes circunstâncias: meningite tuberculosa, indicações cirúrgicas em decorrência da doença, complicações graves, intolerância medicamentosa incontrolável em ambulatório, intercorrências clínicas e/ou cirúrgicas
graves, estado geral que não permita tratamento em ambulatório, em casos sociais, como
ausência de residência fixa, ou grupos especiais, com maior possibilidade de abandono,
especialmente se for caso de retratamento ou falência. O período de internação deve ser reduzido ao mínimo necessário, independentemente do resultado do exame bacteriológico.
T
Importante
• Instituir tratamento supervisionado para todos os casos com baciloscopia positiva
• Realizar baciloscopia de controle
• Realizar consultas de acompanhamento
• Realizar visita domiciliar
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741
Tuberculose
As drogas utilizadas nos esquemas padronizados pelo Ministério de Saúde são: Isoniazida – H; Rifampicina – R; Pirazinamida – Z; Estreptomicina – S; Etambutol – E; Etionamida – Et.
Em menores de cinco anos, que apresentem dificuldade para ingerir os comprimidos,
recomenda-se o uso das drogas na forma de xarope ou suspensão.
Esquema I (esquema básico) – 2RHZ/4RH
Casos novos* de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar**
Peso do doente
Fases do
tratamento
Drogas
Até 20kg
Mais de 20kg
e até 35 kg
Mais de 35 kg
e até 45 kg
Mais de 45 kg
Mg/kg/dia
Mg/dia
Mg/dia
Mg/dia
R
10
300
450
600
H
10
200
300
400
Z
35
1.000
1.500
2.000
2ª fase
R
10
300
450
600
(4 meses – RH)
H
10
200
300
400
1ª fase
(2 meses – RHZ)
R = Rifampicina; H = Isoniazida; Z = Pirazinamida
*Sem tratamento anterior, tratamento por menos de 30 dias ou tratamento anterior há mais de 5 anos.
**Exceto meningite
A eficácia deste esquema de tratamento no Brasil é elevada (98%). Considerando-se a
ocorrência de óbitos e taxa de abandono de 12%, a efetividade cai para 83% mas continua
adequada. De acordo com o inquérito nacional de resistência realizado pelo Ministérioi da
Saúde (1997), a resistência primária aos medicamentos antituberculose é baixa, definindo
que este esquema deve ser mantido sem a necessidade de acréscimo de um quarto medicamento na fase de ataque, como adotado em outros países. Ressalte-se que o abandono do
tratamento é o principal problema para melhor efetividade do tratamento demonstrando a
importância da estratégia proposta pelo PNCT para o controle da tuberculose no país.
Observações
a) As drogas deverão ser administradas preferencialmente em jejum, em uma única
tomada, ou, em caso de intolerância digestiva, junto com uma refeição.
b) Em casos individualizados, cuja evolução clínica inicial não tenha sido satisfatória,
ou ainda nos casos de tuberculose extrapulmonar, com a orientação de especialistas,
o tempo de tratamento poderá ser prolongado, na sua 2ª fase, por mais três meses
(2RHZ/7RH).
c) Os casos de tuberculose associados ao HIV devem ser encaminhados para unidades
de referência, em seu município ou em municípios vizinhos, para serem tratados
para os dois agravos (TB/HIV).
742
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
Esquema I IR (esquema básico + etambutol) – 2RHZE/4RHE
Casos de recidiva após cura* ou retorno após abandono do esquema I
Peso do doente
Fases do
tratamento
Drogas
Até 20kg
Mais de 20kg
e até 35 Kg
Mais de 35 kg
e até 45 kg
Mais de 45 kg
Mg/kg/dia
Mg/dia
Mg/dia
Mg/dia
600
R
10
300
450
1ª fase
H
10
200
300
400
(2 meses – RHZE)
Z
35
1.000
1.500
2.000
E
25
600
800
1.200
600
2ª fase
(4 meses – RHE)
R
10
300
450
H
10
200
300
400
E
25
600
800
1.200
Siglas: Rifampicina = R; Isoniazida = H; Pirazinamida = Z; Etambutol = E
6
*Considera-se retratamento a prescrição de um esquema de drogas para o doente já tratado por mais de 30 dias,
que venha a necessitar de nova terapia por recidiva após cura,retorno após abandono ou falência do esquema I
ou esquema IR (esquema básico + etambutol).
Esquema II (esquema para tuberculose meningoencefálica) – 2RHZ/(7RH)
Peso do doente
Fases do
tratamento
Drogas
Até 20Kg
Mais de 20kg
e até 35kg
Mais de 35kg
e até 45kg
Mais de 45kg
Mg/kg/dia
Mg/dia
Mg/dia
Mg/dia
600
R
10
300
450
H
10
200
300
400
Z
35
1.000
1.500
2.000
2ª fase
R
10
300
450
600
(7 meses – RH)
H
10
200
300
400
1ª fase
(2 meses – RHZ)
Siglas: Rifampicina = R; Isoniazida = H; Pirazinamida = Z
Observações
• Levar em consideração as indicações de retratamento, discutidas anteriormente.
• Os casos de recidiva de esquemas alternativos, por toxicidade ao esquema I, devem ser
avaliados em unidades de referência, para prescrição de esquema individualizado.
• O paciente que apresentar alteração da visão deverá ser encaminhado para unidade
de referência, com o objetivo de avaliar o uso do etambutol.
• Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e qualquer outra
localização, usar o esquema II.
• A internação é mandatória, sempre que se suspeitar do diagnóstico de tuberculose
meningoencefálica.
• Nos casos de tuberculose meningoencefálica, em qualquer idade, recomenda-se o
uso de corticosteróide (prednisona, dexametasona ou outros), por um período de 1
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T
743
Tuberculose
a 4 meses, no início do tratamento.
• Na criança, a prednisona é administrada na dose de 1 a 2mg/kg de peso corporal,
até a dose máxima de 30mg/dia. No caso de se utilizar outro corticosteróide, aplicar
a tabela de equivalência entre eles.
• Na tuberculose meningoencefálica, a fisioterapia deverá ser iniciada o mais cedo
possível.
Esquema III (esquema para falência) – 3SZEEt/9Eet
Casos de falência de tratamento do E-I e E-IR (esquema I reforçado)
Peso do doente
Fases do
tratamento
Drogas
Até 20Kg
Mais de 20kg
e até 35kg
Mais de 35kg
e até 45kg
Mais de 45kg
Mg/kg/dia
Mg/dia
Mg/dia
Mg/dia
S
20
500
1.000
1.000
1ª fase
Z
35
1.000
1.500
2.000
(3 meses – SZEEt)
E
25
600
800
1.200
Et
12
250
500
750
E
25
Et
12
600
800
1.200
250
500
750
2ª fase
(9 meses – EEt)
Siglas: Estreptomicina = S; Pirazinamida = Z; Etambutol = E; Etionamida = Et
A falência ao esquema I (E-I) ou ao E-IR define a obrigatoriedade da realização de
cultura com identificação e teste de sensibilidade, no início do tratamento, para definir claramente a possibilidade de sucesso desse esquema ou sua modificação. Portanto, recomenda-se que o esquema III deva ser acompanhado por uma unidade de
maior resolubilidade, sempre que possível.
Observações
• Os casos de suspeita de falência aos esquemas E-I ou E-IR devem ser encaminhados
à unidade de referência para avaliação e acompanhamento.
• A estreptomicina deve ser usada por via intramuscular. Em situações especiais, pode
ser aplicada por via endovenosa, diluída a 50 ou 100ml de soro fisiológico, correndo
por um mínimo de 1/2 hora.
• Em casos especiais, com dificuldades de aceitação de droga injetável ou para facilitar
seu uso supervisionado na unidade de saúde, o regime de uso da estreptomicina
pode ser alterado para aplicações de 2ª a 6ª feira, por dois meses, e duas vezes semanais, por mais 4 meses.
• Em maiores de 60 anos, a estreptomicina deve ser administrada na dose de 500mg/
dia.
744
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
• Havendo alteração visual durante o tratamento, o paciente deverá ser encaminhado
para serviço de referência, com o objetivo de avaliar o uso do etambutol.
• É importante que o paciente tratado com o esquema III realize seu tratamento de
forma supervisionada.
O paciente deverá ser encaminhado para tratamento em uma unidade de referência
de tuberculose quando houver antecedentes ou evidências clínicas de hepatopatia aguda
(hepatite) ou crônica (cirrose, hepatopatia alcoólica); ser portador de aids ou soro positivo
para o HIV; tiver antecedentes ou evidências clínicas de nefropatias (insuficiência renal crônica, pacientes em regime de diálise). Em todos os esquemas, a medicação é de uso diário
e deverá ser administrada, de preferência, em uma única tomada em jejum ou, em caso de
intolerância digestiva, junto com uma refeição.
Atenção especial deve ser dada ao tratamento dos grupos considerados de alto risco de
intoxicação, como pessoas com mais de 60 anos, em mau estado geral e etilistas.
A rifampicina interfere na ação dos contraceptivos orais, devendo as mulheres, em uso
desse medicamento, receber orientação para utilizar outros métodos anticoncepcionais.
6
O esquema E-I (básico) e o esquema E-IR (básico + etambutol) podem ser usados
pelas gestantes em qualquer período da gestação.
Tratamento da tuberculose multirresistente – se o teste de sensibilidade às drogas,
quando realizado, apresentar resistência a apenas um dos medicamentos em uso, com o
paciente apresentando boa evolução clínica e laboratorial, isto indica que o regime não deve
ser alterado. A associação medicamentosa de três drogas é proposta, entre outras razões,
justamente para contemplar essa possibilidade.
Os pacientes que não se curam após tratamento com os esquemas padronizados pelo
Ministério da Saúde, portadores de bacilos resistentes a mais de duas drogas, dentre as quais
a rifampicina e a isoniazida, constituem um grupo de doentes classificados no Consenso
Brasileiro de Tuberculose (de 1997/2004) como portadores de tuberculose multirresistente.
A este grupo, são agregados os pacientes que apresentam resistência primária à rifampicina,
isoniazida e a outras drogas utilizadas, geralmente a estreptomicina e/ou etambutol.
Estes pacientes e seus familiares serão atendidos por equipe multiprofissional especializada, em centros de referência que cumpram as normas de biossegurança e estejam
credenciados pelas coordenadorias municipais e estaduais do programa de tuberculose.
T
Reações adversas ao uso de drogas antituberculose
A maioria dos pacientes submetidos ao tratamento de tuberculose consegue completar
o tempo recomendado sem sentir qualquer efeito colateral relevante. Os fatores relacionados às reações são diversos. Todavia, os maiores determinantes dessas reações se referem
à dose, horários de administração da medicação, idade do doente, seu estado nutricional,
alcoolismo, condições da função hepática e renal e co-infecção pelo HIV.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
745
Tuberculose
A conduta adequada está apresentada, de forma esquemática, nos quadros a seguir,
conforme a classificação: efeitos menores e efeitos maiores. Os efeitos menores ocorrem
entre 5% a 20% dos casos e são assim classificados porque não implicam em modificação
imediata do esquema padronizado; os efeitos maiores são aqueles que implicam interrupção ou alteração do tratamento e são menos freqüentes, ocorrendo em torno de 2% dos
casos, podendo chegar a 8% em serviços especializados.
Efeitos menores
Efeito
Droga
Conduta
Irritação gástrica (náusea, vômito),
epigastralgia e dor abdominal
Rifampicina, Isoniazida
Pirazinamida
Reformular os horários de administração
da medicação e avaliar a função hepática
Artralgia ou artrite
Pirazinamida, Isoniazida
Medicar com ácido acetilsalicílico
Neuropatia periférica
(queimação das extremidades)
Isoniazida, Etambutol
Medicar com piridoxina (vit. B6)
Cefaléia e mudança de comportamento
(euforia, insônia, ansiedade e sonolência)
Isoniazida
Orientar
Suor e urina cor de laranja
Rifampicina
Orientar
Prurido cutâneo
Isoniazida, Rifampicina
Medicar com anti-histamínico
Hiperuricemia (com ou sem sintomas)
Pirazinamida, Etambutol
Orientação dietética (dieta hipopurínica)
Febre
Rifampicina, Isoniazida
Orientar
Efeitos maiores
Efeito
Exantemas
746
Droga
Estreptomicina
Rifampicina
Conduta
Suspender o tratamento
Reintroduzir o tratamento droga a droga após resolução
Substituir o esquema nos casos graves ou reincidentes
Hipoacusia
Estreptomicina
Suspender a droga e substituí-la pela melhor opção
Vertigem e nistagmo
Estreptomicina
Suspender a droga e substituí-la pela melhor opção
Psicose, crise convulsiva,
encefalopatia tóxica e coma
Isoniazida
Substituir por estreptomicina + etambutol
Neurite ótica
Etambutol, Isoniazida
Substituir
Hepatotoxicidade (vômitos, hepatite,
alteração das provas de função hepática)
Todas as drogas
Suspender o tratamento temporariamente até resolução
Trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia,
anemia hemolítica, agranulocitose, vasculite
Rifampicina
Isoniazida
Dependendo da gravidade, suspender o tratamento
e reavaliar o esquema de tratamento
Nefrite intersticial
Rifampicina, principalmente intermitente
Suspender o tratamento
Rabdomiólise com mioglobinúria
e insuficiência renal
Pirazinamida
Suspender o tratamento
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
Aspectos epidemiológicos
A tuberculose não apresenta variações cíclicas ou sazonais de importância prática. A
prevalência observada é maior em áreas de grande concentração populacional e precárias
condições socioeconômicas e sanitárias. A distribuição da doença é mundial, com tendência decrescente da morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos. Nas áreas com elevada prevalência de infecção pelo HIV vem ocorrendo estabilização ou aumento do número
de casos e óbitos por tuberculose. Estão mais sujeitos à doença os indivíduos que convivam
(contatos) com doente bacilífero, determinados grupos com redução da imunidade, como
os diabéticos ou silicóticos, e pessoas em uso de corticosteróides ou infectados pelo HIV.
No Brasil, no ano de 2001 foram notificados 81.432 casos novos, correspondendo ao
coeficiente de incidência de 47,2/100 mil habitantes, dos quais 43.085 foram formas pulmonares bacilíferas (coeficiente de incidência de 24,9/100 mil habitantes). Com pertinência
ao encerramento do tratamento, 72,2% receberam alta por cura, 11,7% abandonaram o
tratamento, 7,0% representam os óbitos e 9,1% referem-se à transferência de serviços e domicílios. Com a tuberculose é uma doença com profundas raízes sociais, relacionada a má
distribuição de renda e à pobreza, estas taxas variam de acordo com as regiões e, inclusive,
dentro das mesmas regiões.
Antes do advento da moderna quimioterapia, a mortalidade era o indicador utilizado
tanto para avaliar a tendência da endemia como para fazer estimativas de morbidade – a
prevalência era o dobro da incidência, que por sua vez era o dobro da mortalidade. Na era
quimioterápica essas equivalências romperam-se: atualmente, a mortalidade representa o
desempenho do programa, uma vez que praticamente todos teriam a chance de se curar, mediante diagnóstico precoce e tratamento corretamente administrado. A análise da mortalidade deve considerar a distribuição geográfica, os grupos etários e a associação com o HIV.
6
Vigilância epidemiológica
O propósito do Programa Nacional de Controle da Tuberculose é reduzir a transmissão do bacilo da tuberculose na população, através das ações de diagnóstico precoce
e tratamento adequado dos casos. As metas internacionais estabelecidas pela Organização
Mundial da Saúde e pactuadas pelo governo brasileiros são a descoberta de 70% dos casos
de tuberculose estimados e o tratamento e a cura de 85% dos mesmos.
T
Objetivos
O principal objetivo da vigilância epidemiológica é identificar as possíveis fontes de infecção. Para tanto, deve ser realizada investigação epidemiológica entre os contatos de todo
caso novo de tuberculose e, prioritariamente, nos que convivam com doentes bacilíferos,
devido ao maior risco de infecção e adoecimento que esse grupo apresenta. No caso de uma
criança doente, a provável fonte de infecção será o adulto que com ela convive. No caso deste
não comparecer à unidade de saúde para exame, torna-se obrigatória a visita domiciliar.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
747
Tuberculose
O PNCT se propõe ainda a intensificar a identificação de sintomáticos respiratórios,
examiná-los com a baciloscopia e implementar o registro dos mesmos na rede laboratorial
do SUS.
Definição de caso
Suspeito
• Todo indivíduo com sintomatologia clínica sugestiva de tuberculose pulmonar: tosse com expectoração por três ou mais semanas, febre, perda de peso e apetite – o
chamado sintomático respiratório.
• Paciente com imagem radiológica compatível com tuberculose.
Confirmado
Critério clínico-laboratorial
Tuberculose pulmonar bacilífera – paciente com duas baciloscopias diretas positivas
ou uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva ou uma baciloscopia direta positiva e
imagem radiológica sugestiva de tuberculose.
Tuberculose pulmonar escarro negativo (BK-) – paciente com duas baciloscopias
negativas, com imagem radiológica sugestiva e achados clínicos ou outros exames complementares que permitam ao médico efetuar um diagnóstico de tuberculose.
Tuberculose extrapulmonar – paciente com evidências clínicas e achados laboratoriais, inclusive histopatológicos, compatíveis com tuberculose extrapulmonar ativa, em que
o médico toma a decisão de tratar com esquema específico; ou paciente com, pelo menos,
uma cultura positiva para M.tuberculosis, de material proveniente de uma localização extrapulmonar.
Critério clínico-epidemiológico
O raciocínio diagnóstico deve desenvolver-se a partir do exame clínico, dos dados epidemiológicos e da interpretação dos resultados dos exames solicitados. Apesar de indispensável, em situações em que o diagnóstico laboratorial não pode ser realizado o clínico pode
confirmar o caso pelo critério clínico-epidemiológico, principalmente quando de história
de contato com doentes de tuberculose, fator de importância primordial para a suspeição
diagnóstica.
Descartado
Casos suspeitos que, apesar de sintomatologia compatível, apresentaram resultados
negativos nos exames laboratoriais, principalmente quando, na busca de diagnóstico diferencial, se confirma outra patologia.
Notificação
A unidade de saúde que descobre e inicia o tratamento dos casos novos torna-se responsável pela notificação compulsória dos mesmos. Outras fontes de notificação são os
748
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
hospitais, os laboratórios e outros serviços de assistência médica, quer governamental ou
particular.
A base do sistema de informação da tuberculose é o prontuário do doente, a partir
do qual são colhidos os dados necessários para o preenchimento da ficha individual de
investigação do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan). As unidades
assistenciais enviarão às secretarias estaduais de saúde, através dos níveis intermediários
(municípios e regionais de saúde, entre outros), os dados de descoberta de casos e resultados do tratamento, que após consolidação serão enviados ao nível central nacional. Devem
ser notificados todos os casos, independente do tipo de entrada:
Caso novo ou sem tratamento anterior – são os pacientes que nunca se submeteram
à quimioterapia antituberculosa ou fizeram-na por menos de 30 dias ou há mais de cinco
anos. Verificar insistentemente com o paciente e seus familiares se não houve tratamento
antituberculoso prévio, superior a 30 dias.
Retratamento – prescrição de um esquema de drogas para o doente já tratado por
mais de 30 dias e que venha a necessitar de nova terapia por recidiva após cura (RC), retorno após abandono (RA) ou por falência do esquema básico.
Abandono – o doente que, após iniciado o tratamento para tuberculose, deixou de
comparecer à unidade de saúde por mais de 30 dias consecutivos, a partir da data aprazada
para seu retorno.
Recidiva – o doente com tuberculose em atividade, que já se tratou anteriormente
e recebeu alta por cura, desde que a data da cura e a data do diagnóstico de recidiva não
ultrapassem cinco anos. Se esse intervalo exceder cinco anos, o caso é considerado como
“caso novo” e o tratamento preconizado é o esquema básico.
Falência – a persistência da positividade do escarro ao final do 4º ou 5º meses de
tratamento, tendo havido ou não negativação anterior do exame. São aqueles doentes que,
no início do tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação até
o 4º mês, ou aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividade
por dois meses consecutivos, a partir do 4º mês de tratamento com comprovação através de
cultura de escarro. O aparecimento de poucos bacilos no exame direto do escarro, na altura
do 5º ou 6º meses, isoladamente, não significa, necessariamente, falência do esquema, em
especial se acompanhado de melhora clínico-radiológica. Nesse caso, o paciente será seguido com exames bacteriológicos.
Transferência – refere-se àquele paciente que comparece à unidade de saúde para
dar continuidade ao tratamento iniciado em outra unidade de saúde, desde que não tenha
havido interrupção do uso da medicação por mais de 30 dias. Neste último caso, o tipo de
entrada deve ser “reingresso após abandono”.
6
T
Medidas a serem adotadas
Conduta frente a um caso suspeito de tuberculose pulmonar:
• identificação e confirmação do caso;
• baciloscopia direta do escarro no momento da consulta e solicitação de outra amostra a ser colhida no dia seguinte;
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
749
Tuberculose
• raios X de tórax e realização de prova tuberculínica, nos casos negativos à baciloscopia;
• cultura do escarro nos casos negativos à baciloscopia.
Roteiro para investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Diversas informações referentes ao paciente, ao lugar, ao caso e ao tempo são fornecidas durante o preenchimento da ficha de notificação. Por meio delas pode-se avaliar a
situação e tendência da doença:
• referentes ao lugar – unidade de saúde (ou outra fonte notificadora), logradouro,
bairro, distrito, zona (urbana ou rural), município de notificação e residência, unidade federada e país;
• referentes ao paciente – nome, sexo, idade, escolaridade, etnia (no caso de população indígena), critério diagnóstico, raça/cor, número do cartão SUS, nome da mãe,
telefone, ocupação;
• referentes ao tempo – data de notificação, data do diagnóstico, data de nascimento,
data de início do tratamento atual;
• referentes ao caso – número do prontuário, tipo de entrada, raios X (tórax), teste
tuberculínico, forma clínica, agravos associados, baciloscopia de escarro, baciloscopia de outro material, cultura de escarro, cultura de outro material, teste HIV (soropositividade), histopatologia, drogas (esquema terapêutico utilizado), tratamento
supervisionado, doença relacionada ao trabalho.
Coleta e análise de dados clínicos e epidemiológicos
Os dados deverão ser registrados, consolidados e analisados pela unidade de saúde e
pelas esferas municipal, estadual e federal do sistema de saúde. A análise dos dados permite
a tomada de decisões nas diferentes instâncias do sistema de vigilância. A distribuição esperada dos casos, por grupos etários e formas clínicas, pode ser observada na Figura 1. Deve
ser investigado, junto à fonte notificadora, aumento importante de determinada forma
clínica, para avaliação da qualidade do diagnóstico. A alteração do perfil epidemiológico
esperado precisa ser analisada quanto à possível variação da história natural da doença. As
unidades de saúde que têm ações de controle de diagnóstico e tratamento devem inscrever
o paciente no Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose, para
possibilitar a análise por coortes da distribuição dos casos por grupo etário, forma clínica,
qualidade diagnóstica e resultado do tratamento. O registro de óbitos por tuberculose também deve ser analisado, comparando-se com os dados de morbidade.
Acompanhamento do caso
Por ser enfermidade de características crônicas, a evolução do caso de tuberculose
deve ser acompanhada e registrada em notificação, para que possa ser encerrado de acordo
com os seguintes critérios:
750
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
Alta por cura – pulmonares inicialmente positivos: a alta por cura será dada quando,
ao completar o tratamento, o paciente apresentar duas baciloscopias negativas: uma na fase
de acompanhamento e outra no final do tratamento (cura);
Alta por completar o tratamento – será dada com base em critérios clínicos e radiológicos quando o paciente não tiver realizado o exame de escarro por ausência de expectoração e tiver alta com base em dados clínicos e exames complementares; e nos casos de
tuberculose pulmonar inicialmente negativos e casos de tuberculose extrapulmonar;
Alta por abandono de tratamento – será dada ao doente que deixou de comparecer
à unidade por mais de 30 dias consecutivos, após a data prevista para seu retorno. Nos casos de tratamento supervisionado, o prazo de 30 dias é contado a partir da data da última
tomada da droga. A visita domiciliar, realizada pela equipe de saúde, tem como um dos
objetivos evitar que o doente abandone o tratamento;
Alta por mudança de diagnóstico – será dada quando for constatado erro no diagnóstico;
Alta por óbito – será dada por ocasião do conhecimento da morte do paciente, durante o tratamento e independentemente da causa;
Alta por falência – será dada quando houver persistência da positividade do escarro
ao final do 4º ou 5º meses de tratamento. Os doentes que no início do tratamento são fortemente positivos (+ + ou + + +) e mantêm essa situação até o 4º mês ou os que apresentam
positividade inicial seguida de negativação e nova positividade por dois meses consecutivos,
a partir do 4º mês de tratamento, são classificados como caso de falência. O aparecimento
de poucos bacilos no exame direto do escarro, por volta do 5º ou 6º meses de tratamento,
isoladamente, não necessariamente significa a falência do tratamento. O paciente deverá ser
acompanhado com exames bacteriológicos para melhor definição.
Observação: quando o caso for encerrado por falência e o paciente iniciar novo tratamento, deverá ser registrado como caso de retratamento no Livro de Registro e Controle de
Tratamento dos Casos de Tuberculose;
Alta por transferência – será dada quando o doente for transferido para outro serviço de saúde. A transferência deve ser processada através de documento que informará o
diagnóstico e o tratamento realizado até o momento. Deve-se, no momento da avaliação da
coorte, buscar a confirmação de que o paciente compareceu à unidade para a qual foi transferido, bem como o resultado do tratamento. Só serão considerados transferidos aqueles
pacientes cujo resultado do tratamento for desconhecido.
6
T
Controle pós-cura
A maioria dos casos curados não necessita de controle pós-tratamento, devendo-se
orientar o paciente a retornar à unidade apenas se surgirem sintomas semelhantes aos do
início da doença. Após alta do tratamento por tuberculose multirresistente, o paciente deve
ser acompanhado pelo menos a cada semestre, por três anos subseqüentes.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
751
Tuberculose
Figura 1. Distribuição da tuberculose no Brasil, segundo grupos etários
e formas clínicas
70%
Baciloscopia positiva
90%
Formas
pulmonares
30%
85%
Sem confirmação
baciloscópica
Maiores de 15 anos
Formas
extrapulmonares
10%
Doentes
20%
75%
Formas
pulmonares
80%
15%
Baciloscopia positiva
Sem confirmação
baciloscócpica
Menores de 15 anos
25%
Formas
extrapulmonares
Instrumentos disponíveis para controle
Diagnóstico e tratamento
Prioritariamente, a procura de casos de tuberculose deve ser efetuada nos sintomáticos
respiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três ou mais semanas), que deverão
submeter-se à rotina prevista para o diagnóstico de tuberculose. Os sintomáticos respiratórios deverão realizar radiografia de tórax, quando houver disponibilidade desse recurso.
A anulação das fontes de infecção, através do tratamento dos doentes, é um dos aspectos mais importantes no controle da tuberculose. Deve-se avaliar mensalmente o doente
e a evolução do tratamento, realizando-se, nos casos novos pulmonares com baciloscopia
positiva (BK +), o controle bacteriológico, de preferência mensal e, obrigatoriamente, ao
término do segundo, quarto e sexto meses de tratamento. Quando houver indicação de
internação de pacientes com tuberculose, deve-se procurar adotar medidas de isolamento
respiratório, especialmente tratando-se de pacientes bacilíferos e crônicos com multirresistência. Deve-se internar o doente em hospitais que tenham poder de resolução para
os motivos que determinaram sua internação, não sendo obrigatória a especialização em
pneumologia. O controle de contatos é prioritariamente indicado para os contatos que
752
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
convivam com doentes bacilíferos, especialmente os intradomiciliares, por apresentarem
maior probabilidade de adoecimento, e nos adultos que convivam com doentes menores de
5 anos, para identificação da possível fonte de infecção. O fluxograma abaixo traz as condutas a serem adotadas com relação aos contatos, de acordo com o resultado dos exames.
Avaliação dos contatos de casos de tuberculose pulmonar com baciloscopia positiva
Adultos
Adultos
Assintomáticos
Sintomáticos
Orientação
Exames de escarro
6
Positivo
Negativo
Tratamento
Orientação/
encaminhamento
Adultos
Crianças
até 15 anos
Não vacinadas
Vacinadas
PPD
Não-reator
BCG
Reator
Raios X de tórax
Sugestivo de TB +
sintomas clínicos
Normal e sem
sintomas clínicos
Assintomáticos
Sintomáticos (II)
Orientação
Raios X de tórax
Sugestivo de TB +
sintomas clínicos
Normal e sem
sintomas clínicos
Tratamento
Tratamento
T
Medicação
sintomática
Tratamento
Quimioprofilaxia
Acompanhamento
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
753
Tuberculose
Imunização
A vacina BCG, sigla decorrente da expressão bacilo de Calmette-Guérin, é preparada
a partir de uma cepa derivada do Mycobacterium bovis, atenuada por sucessivas passagens
através de meio de cultura. Confere poder protetor às formas graves de tuberculose, decorrentes da primo-infecção. No Brasil, é prioritariamente indicada para as crianças de 0 a 4
anos de idade, sendo obrigatória para menores de um ano, como dispõe a Portaria nº 452,
de 6/12/76, do Ministério da Saúde. Recomenda-se a revacinação com BCG nas crianças
com 10 anos de idade, dose que pode ser antecipada para os seis anos, independente de ter
ou não cicatriz vacinal. Não há necessidade de revacinação caso a primeira vacinação por
BCG tenha ocorrido aos seis anos de idade ou mais. Há contra-indicação relativa ou temporária definindo o adiamento da aplicação da vacina, nos seguintes casos: peso ao nascer
inferior a 2kg; reações dermatológicas na área de aplicação; doenças graves e uso de drogas
imunossupressoras. Há contra-indicação absoluta para aplicar a vacina BCG nos portadores de imunodeficiências congênitas ou adquiridas.
Os recém-nascidos e crianças soropositivas para HIV, ou filhos de mães com aids,
desde que não apresentem os sintomas da doença, deverão ser vacinados. Pacientes adultos
sintomáticos ou assintomáticos não deverão ser vacinados.
Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administração de isoniazida em pessoas
infectadas pelo bacilo (quimioprofilaxia secundária) ou não (quimioprofilaxia primária),
na dosagem de 10mg/kg/dia (até 300mg), diariamente, por um período de 6 meses.
Está recomendada nas seguintes situações:
Contactantes de bacilífero, menores de 15 anos, não vacinados com BCG, reatores
à prova tuberculínica, com 10mm ou mais, com exame radiológico normal e sem sintomatologia clínica compatível com tuberculose. Na eventualidade de contágio recente, a sensibilidade à tuberculina pode não estar exteriorizada, sendo negativa a resposta. Neste caso,
deve-se repetir a prova em 40 a 60 dias. Se a resposta for positiva, indica-se a quimioprofilaxia; se negativa, vacina-se com BCG;
Recém-nascidos coabitantes de foco bacilífero – administra-se a quimioprofilaxia
por três meses e, após esse período, faz-se a prova tuberculínica na criança. Se reatora, mantém-se a isoniazida até completar 6 meses; se não reatora, suspende-se a droga e aplica-se
a vacina BCG;
Indivíduos com viragem tuberculínica recente (até 12 meses), isto é, que tiveram
um aumento na resposta tuberculínica de, no mínimo, 10mm;
População indígena – neste grupo, a quimioprofilaxia está indicada em todo o contato de tuberculose bacilífera, reator forte ao PPD, independente da idade e estado vacinal,
após avaliação e, através de baciloscopia e exame radiológico, afastada a possibilidade de
tuberculose;
Imunodeprimidos por uso de drogas ou por doenças imunodepressoras e contatos
intradomiciliares de tuberculosos, sob criteriosa decisão médica;
754
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Tuberculose
Reatores fortes à tuberculina, sem sinais de tuberculose ativa mas com condições
clínicas associadas a alto risco de desenvolvê-la, como: alcoolismo, diabetes insulinodependente, silicose, nefropatias graves, sarcoidose, linfomas, uso prolongado de corticosteróides
em dose de imunossupressão, pacientes submetidos à quimioterapia antineoplásica ou a tratamento com imunossupressores, portadores de imagens radiológicas compatíveis com tuberculose ativa, sem história de quimioterapia prévia. Estes casos deverão ser encaminhados
a uma unidade de referência para a tuberculose;
Coinfectados HIV e M. tuberculosis – este grupo deve ser submetido à prova tuberculínica. Para considerar-se uma pessoa infectada pelo M. tuberculosis, o limite da reação
ao PPD será de 5mm, ao invés de 10mm. A quimioprofilaxia para tuberculose em pacientes
HIV+ será aplicada segundo as seguintes indicações:
Indivíduo sem sinais ou sintomas sugestivos de tuberculose
Indicações
1, 2
A. Com radiografia de tórax normal e reação ao PPD maior ou igual a 5mm3 ou contatos
intradomiciliares ou institucionais de tuberculose bacilífera ou PPD não-reator ou com enduração
entre 0-4mm, com registro documental de ter sido reator ao teste tuberculínico e não submetido a
tratamento ou quimioprofilaxia na ocasião
6
B. Com radiografia de tórax anormal: presença de cicatriz radiológica de tuberculose sem tratamento anterior (afastada a possibilidade de tuberculose ativa, através de exames de escarro
e radiografias anteriores), independentemente do resultado do teste tuberculínico
Esquema4
Isoniazida, VO, 5 – 10 mg/kg/dia (dose máxima: 300mg/dia) por seis meses consecutivos
1. O teste tuberculínico deve ser sempre realizado na avaliação inicial do paciente HIV+, independentemente do
seu estado clínico ou laboratorial (contagem de células CD4+ e carga viral), devendo ser repetido anualmente nos
indivíduos não-reatores. Nos pacientes não-reatores e em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se fazer o teste
a cada seis meses no primeiro ano de tratamento, devido à possibilidade de restauração da resposta tuberculínica.
2. A quimioprofilaxia com isoniazida reduz o risco de adoecimento a partir da reativação endógena do bacilo, mas
não protege contra exposição exógena após sua suspensão. Portanto, em situações de possível reexposição ao bacilo da tuberculose, o paciente deverá ser reavaliado quanto à necessidade de prolongamento da quimioprofilaxia
(caso esteja em uso de isoniazida) ou de instauração de nova quimioprofilaxia (caso esta já tenha sido suspensa).
3. Para pacientes com imunodeficiência moderada/grave e reação ao PPD >10mm, sugere-se investigar cuidadosamente tuberculose ativa (pulmonar ou extrapulmonar), antes de iniciar a quimioprofilaxia.
4. Indivíduos HIV+, contatos de pacientes bacilíferos com tuberculose isoniazida-resistente documentada, deverão
ser encaminhados a uma unidade de referência para realizar quimioprofilaxia com rifampicina.
Observações
• Não se recomenda a quimioprofilaxia nos HIV positivos, não-reatores à tuberculina, com ou sem evidências de imunodeficiência avançada. Deve-se repetir a prova
tuberculínica a cada seis meses.
• Em pacientes com raios X normal, reatores à tuberculina, deve-se investigar outras
patologias ligadas à infecção pelo HIV antes de iniciar a quimioprofilaxia, devido à
concomitância de agentes oportunistas/manifestações atípicas de tuberculose freqüentes nessas coortes.
• Nos indivíduos HIV positivos e tuberculino-positivos com raios X normal, sem sinais e sintomas de tuberculose, devem-se destacar (investigar) os contatos institucionais (casas de apoio, presídios, abrigos, asilos, etc.).
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
T
755
Tuberculose
• Recomenda-se suspender imediatamente a quimioprofilaxia no surgimento de qualquer sinal de tuberculose ativa, monitorá-la nos casos de hepatotoxidade e administrá-la com cautela nos alcoólicos.
Controle de infecção em unidades de saúde
Um efetivo programa de controle de infecção da tuberculose, qualquer que seja a unidade de saúde, tem início com a detecção precoce, isolamento e tratamento de pessoas
com tuberculose infectante (principalmente pacientes bacilíferos). Atenção especial deve
ser dada àqueles que apresentam alguma forma de resistência às drogas. Pessoas com tuberculose extrapulmonar são usualmente não-infectantes; no entanto, a doença pode ser
transmitida por contato com tecidos contendo o bacilo. Pacientes imunodeprimidos e,
principalmente, com HIV positivo são os que apresentam maior susceptibilidade, exigindo
medidas mais severas para o controle da infecção.
O controle de infecção deve ser realizado com ênfase em três aspectos:
• diminuição do risco de exposição dos pacientes a pessoas com tuberculose infectante;
• controle da expansão e redução da concentração de partículas infectantes em suspensão (por exemplo: sistemas de ventilação, salas de isolamento de pacientes com
maior risco de infecção);
• uso de proteção respiratória individual (máscaras) em áreas com maior risco de exposição ao M. tuberculosis.
Ações de educação em saúde
Além das medidas descritas acima, faz-se necessário esclarecer a comunidade quanto
aos aspectos importantes da doença, sua transmissão, prevenção e tratamento. O desconhecimento leva à discriminação do doente nos âmbitos familiar e profissional. O afastamento
compulsório do trabalho contribui para o agravamento do sofrimento do paciente.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varicela/Herpes Zoster
VARICELA/HERPES ZOSTER
CID 10: B01 a B02
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
Varicela
É uma infecção viral primária, aguda, caracterizada por surgimento de exantema de
aspecto máculo-papular, de distribuição centrípeta, que, após algumas horas, adquire aspecto vesicular, evoluindo rapidamente para pústulas e, posteriormente, formando crostas
em 3 a 4 dias. Pode ocorrer febre moderada e sintomas sistêmicos. A principal característica
clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas que se apresentam nas diversas formas evolutivas, acompanhadas de prurido. Em crianças, geralmente, é doença benigna e autolimitada.
6
Herpes zoster
Geralmente, é decorrente da reativação do vírus da varicela que permanece em latência após a infecção primária. Ocorre principalmente em adultos e pacientes imunocomprometidos, como portadores de doenças crônicas, neoplasias, aids e outras. O herpes zoster
tem quadro pleomórfico, causando desde doença benigna até outras formas graves, com
êxito letal. Após a fase de disseminação hematogênica do vírus v-z, em que atinge a pele,
difunde-se centripetamente pelos nervos periféricos até os gânglios nervosos, onde poderá
permanecer, em latência, por toda a vida.
Diversos fatores podem levar a uma reativação do vírus, causando a característica
erupção do herpes zoster. Excepcionalmente, há pacientes que desenvolvem herpes zoster
após contato com doentes de varicela e, até mesmo, com outro doente de zoster, o que indica a possibilidade de uma reinfecção em paciente já previamente imunizado. É também
possível uma criança adquirir varicela por contato com doente de zoster.
O quadro clínico do herpes zoster é, quase sempre, típico. A maioria dos doentes refere, antecedendo às lesões cutâneas, dores nevrálgicas, além de parestesias, ardor e prurido locais, acompanhados de febre, cefaléia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesícula
sobre base eritematosa. A erupção é unilateral, raramente ultrapassando a linha mediana,
seguindo o trajeto de um nervo. Surgem de modo gradual, levando de 2 a 4 dias para se
estabelecerem. Quando não ocorre infecção secundária, as vesículas evoluem para crostas
e o quadro regride para a cura em 2 a 4 semanas. As regiões mais comprometidas são a torácica (53% dos casos), cervical (20%), trigêmeo (15%) e lombossacra (11%). Em pacientes
imunossuprimidos, as lesões surgem em localizações atípicas e, geralmente, disseminadas.
O envolvimento do VII par craniano leva a uma combinação de paralisia facial periférica
e rash no pavilhão auditivo, denominado síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de
recuperação pouco provável. O acometimento do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
V
757
Varicela/Herpes Zoster
a característica de distorção da face. Lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento
do ramo oftálmico do trigêmio com possível comprometimento ocular. Nos pacientes com
herpes zoster disseminado e/ou recidivante, é aconselhável fazer sorologia para HIV, além
de pesquisar neoplasias malignas.
Sinonímia
Catapora, “tatapora”, fogo que salta (varicela); cobreiro (herpes zoster).
Agente etiológico
É um vírus RNA. Vírus Varicella-zoster, da família Herpesviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Pessoa a pessoa, através de contato direto ou secreções respiratórias e, raramente, através de contato com lesões. Transmitida indiretamente através de objetos contaminados com
secreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infectados.
Período de incubação
Entre 14 a 16 dias, podendo variar entre 10 a 20 dias após o contato. Pode ser mais
curto em pacientes imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva.
Período de transmissibilidade
Varia de 1 a 2 dias antes da erupção até 5 dias após o surgimento do primeiro grupo de
vesículas. Enquanto houver vesículas, a infecção é possível.
Susceptibilidade e imunidade
A susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras.
A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, na
maioria das vezes, proteção até 4 a 6 meses de vida extra-uterina.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Período prodrômico – tem início com febre baixa, cefaléia, anorexia e vômito, podendo durar de horas até três dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer,
sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes a varicela
é geralmente benigna, com início repentino, apresentando febre moderada de 2 a 3 dias,
758
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varicela/Herpes Zoster
sintomas generalizados inespecíficos e uma erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia
na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta).
Período exantemático – as lesões comumente aparecem em surtos sucessivos de máculas que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas
partes cobertas do corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas
e nas membranas mucosas da boca e vias aéreas superiores.
O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem à doença o polimorfismo regional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas,
pápulas, vesículas, pústulas e crostas) em uma mesma região do corpo.
Nos adultos imunocompetentes a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de ser bem menos freqüente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais freqüentes, podendo levar a óbito, principalmente devido a pneumonia primária.
A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças
e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalicílico durante a fase aguda e caracteriza-se
por um quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e
diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é o resultado de um comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Portanto, está contra-indicado o uso de ácido acetilsalicílico por pacientes
com varicela.
6
Varicela e gravidez
A infecção materna no primeiro ou segundo trimestre da gestação pode resultar em
embriopatia. Nas primeiras 16 semanas de gestação há maior risco de lesões graves ao feto,
resultando em baixo peso ao nascer, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e retardo
mental.
Gestantes que tiverem contato com casos de varicela e herpes-zoster devem receber a
imunoglobulina humana contra este vírus.
V
Diagnóstico
Principalmente através do quadro clínico-epidemiológico. O vírus pode ser isolado
das lesões vesiculares durante os primeiros 3 a 4 dias de erupção.
Diagnóstico laboratorial
Os exames laboratoriais não são utilizados para confirmação ou descarte dos casos de
varicela mas podem ser utilizados para o diagnóstico diferencial em casos graves.
Os testes mais utilizados são o ensaio imunoenzimático (EIE), aglutinação pelo látex
(AL) e a imunofluorescência indireta (IFI). A identificação do vírus Varicella-zoster pode
ser realizada através da cultura do líquido vesicular.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
759
Varicela/Herpes Zoster
Diagnóstico diferencial
Varíola (erradicada), coxsackioses, infecções cutâneas, dermatite herpetiforme de During Brocq, impetigo, erupção variceliforme de Kaposi, riquetsioses, etc.
Em caso de dúvida, encaminhar o paciente para uma unidade de referência.
Complicações
Infecção bacteriana secundária de pele: impetigo, abcesso, celulite e erisipela, causadas
por S. aureus, Streptococcus pyogenes, que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, com
artrite, pneumonia, endocardite. Encefalite ou meningite e glomerulonefrite. Pode ocorrer
síndrome de Reye, caracterizada por quadro neurológico de rápida progressão e disfunção
hepática, associado ao uso de ácido acetilsalicílico principalmente em crianças. Infecção
fetal, durante a gestação, pode levar à embriopatia, com síndrome da varicela congênita (varicela neonatal, em recém-nascidos expostos, com microoftalmia, catarata, atrofia óptica e
do sistema nervoso central). Imunodeprimidos podem ter a forma de varicela disseminada
ou varicela hemorrágica. Nevralgia pós-herpética: definida como dor persistente por 4 a 6
semanas após a erupção cutânea. Sua incidência é claramente associada à idade, atingindo
cerca de 40% dos indivíduos acima de 50 anos. É mais freqüente em mulheres e após comprometimento do trigêmeo.
Tratamento
Sintomático – anti-histamínicos sistêmicos para atenuar o prurido e banhos de permanganato de potássio na diluição de 1:40 mil. Havendo infecção secundária, recomendase o uso de antibióticos sistêmicos. Varicela em crianças é uma doença benigna, não sendo
necessário, em geral, tratamento específico.
Tópico – compressas de permanganato de potássio (1:40 mil) ou água boricada a 2%,
várias vezes ao dia.
Específico – antivirais: aciclovir – em crianças, quando indicado, 20mg/kg/dose, via
oral, 4 vezes ao dia, dose máxima 800mg/dia, durante 5 dias. Adultos: aciclovir, em altas doses, 800mg, via oral, 5 vezes ao dia, durante 7 dias. Seu uso está indicado apenas para casos
de varicela de evolução moderada ou grave em maiores de 12 anos, com doença cutânea ou
pulmonar crônica. Não está indicado seu uso em casos de varicela não complicada, sendo
discutível a utilização em gestantes. Crianças imunocomprometidas não devem fazer uso
de aciclovir oral. Aciclovir intravenoso é recomendado em pacientes imunocomprometidos
ou em casos graves, na dosagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundido durante uma hora,
durante 7 a 14 dias. Seu uso está indicado, com restrições, em gestantes com complicações
graves de varicela. Outros antivirais têm sido indicados. A nevralgia pós-herpética (NPH) é
uma complicação freqüente (até 20% dos casos) da infecção pelo herpes zoster, que se caracteriza pela refratariedade ao tratamento. A terapia antiviral específica, iniciada dentro de 72
horas após o surgimento do rash, reduz a ocorrência da NPH. O uso de corticosteróides, na
fase aguda da doença, não altera a incidência e a gravidade da NPH, porém reduz a neurite
760
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varicela/Herpes Zoster
aguda, devendo ser adotada em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada
a NPH, o arsenal terapêutico é enorme, porém não há uma droga eficaz para seu controle.
São utilizados: creme de capsaicina, 0,025% a 0,075%; lidocaína gel, a 5%; amitriplina, em
doses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em doses de 100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos; rizotomia, termocoagulação e simpatectomia.
Aspectos epidemiológicos
A varicela é uma doença benigna mas altamente contagiosa, que ocorre principalmente em menores de 15 anos. É mais freqüente no final do inverno e início da primavera.
Indivíduos imunocomprometidos, quando adquirem varicela primária ou recorrente, possuem maior risco de doença grave. Em recém-nascidos de mães com varicela no primeiro
semestre de gravidez, a taxa de ataque para síndrome de varicela congênita é 1,2%; quando
a infecção ocorreu entre a 13ª e 20ª semanas de gestação, de 2%. Recém-nascidos que adquirem varicela entre 5 e 10 dias de vida, cujas mães infectaram-se no período situado entre
cinco dias antes do parto e dois dias após o mesmo, estão mais expostos à varicela grave,
cuja letalidade pode atingir 30%.
Herpes zoster e aids – a partir de 1981, o herpes zoster passou a ser reconhecido
como uma infecção freqüente em pacientes portadores de HIV. Posteriormente, observações epidemiológicas demonstraram tratar-se de uma manifestação inicial de infecção pelo
HIV, cuja ocorrência é preditiva de soropositividade para HIV em populações de risco. A
incidência de herpes zoster é significativamente maior entre indivíduos HIV positivos que
entre os soro negativos (15 vezes mais freqüente nos primeiros). A incidência cumulativa
de zoster por 12 anos após a infecção pelo HIV foi de 30%, ocorrendo segundo uma taxa
relativamente constante, podendo ser manifestação precoce ou tardia da infecção pelo HIV.
Complicações, como retinite, necrose aguda de retina e encefalite progressiva fatal, têm
sido relatadas com mais freqüência em pacientes HIV positivos.
6
Situação epidemiológica da varicela no Brasil
No Brasil, a varicela não é uma doença de notificação compulsória, embora os surtos devam ser notificados às secretarias municipais e estaduais de saúde. A seguir, são apresentados
os principais achados de dois estudos de soroprevalência da varicela, bem como uma análise
preliminar dos dados de morbidade e mortalidade a partir dos dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Um estudo realizado em 1997 avaliou a prevalência da infecção pelo vírus Varicellazoster em 975 amostras de soro de adultos jovens de 20-29 anos, doadores de sangue de cinco capitais brasileiras (Fortaleza, Salvador, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). A soroprevalência global de anticorpos antivaricela zoster foi de 94% e a soroprevalência nas regiões
de clima tropical (Fortaleza e Salvador, 89%) foi significativamente menor que nas regiões
de clima temperado (97%). Outro estudo, conduzido no período de 1992 a 1994 em escolas públicas do município de São Paulo, indica que o contato com o vírus Varicella-zoster
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
V
761
Varicela/Herpes Zoster
ocorre nos primeiros anos da infância. Cerca de 40% das crianças com 1 ano apresentaram
anticorpos antivaricela zoster, proporção que aumentou rapidamente até o 3º ano, mantevese ascendente e alcançou 90% aos 10 anos.
No período de 1998 a 2002, foram registradas no SIH-SUS 6.558 internações por varicela, com média anual de 1.312 casos (desvio padrão=546) (Figura 1). O maior número
de hospitalizações concentra-se na faixa etária de 1 a 4 anos, seguido dos menores de 1 ano
e de 5-9 anos. Embora o maior número absoluto de hospitalizações seja observado entre
crianças, grupo em que se espera o maior número de casos da doença, proporcionalmente
os adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito,
como demonstrado na Figura 2, na qual vê-se que a taxa de letalidade entre os casos hospitalizados aumenta com a idade, chegando a 5% na faixa etária de 50 anos ou mais e 3% na
faixa etária de 15 a 49 anos.
De 1998 a 2002, ocorreram 1.464 óbitos cuja causa básica foi varicela, de acordo com
o SIM (Figura 1). Excetuando 1999, ano em que foi registrado o maior número de óbitos
por varicela nesse período (n=212), a média anual foi de 104 óbitos (desvio padrão=25).
Os óbitos concentram-se nas faixas etárias de 1 a 4 anos, seguidos de menores de 1 ano e
maiores de 30 anos.
Figura 1. Hospitalizações, óbitos e taxa de letalidade por ano de ocorrência
de varicela. Brasil, 1998-2002
250
10.000
200
1.000
150
100
100
10
50
0
1
1998
Hospitalizações
Fonte: SIH-SUS e SIM
762
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
1999
2000
Óbitos SIH
2001
Letalidade
2002
Óbitos SIM
Varicela/Herpes Zoster
Figura 2. Hospitalizações por varicela e taxa de letalidade acumuladas por
faixa etária. Brasil, 1998-2002
3.500
6
3.000
5
2.500
4
2.000
3
1.500
2
1.000
1
500
0
0
<1
5 - 14
1-4
15 - 49
6
> 50
Faixa etária
Hospitalizações
Letalidade
Fonte: SIH-SUS e SIM
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Conhecer os padrões de ocorrência da doença (sazonalidade e distribuição por faixa
etária) e detectar surtos em sua fase inicial.
A vigilância de casos graves de varicela visa monitorar a intensidade da circulação
viral e fatores associados à gravidade e óbito, que possam, inclusive, reorientar as atuais
recomendações de vacinação.
Definição de caso
V
Suspeito
Varicela – paciente com quadro de febre moderada, de início súbito, que dura de 2
a 3 dias, e sintomas generalizados inespecíficos (mal-estar, adinamia, anorexia, cefaléia e
outros) e erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco
(distribuição centrípeta: cabeça e tronco).
Surtos de varicela – considerar como surto de varicela a ocorrência de um número
de casos acima do limite esperado, com base nos anos anteriores, ou casos agregados em
instituições, como creches, escolas e hospitais pediátricos.
Varicela grave – paciente com febre alta (>38ºC) e lesões cutâneas polimorfas (pápulas, vesículas, pústulas, crostas) que tenha sido hospitalizado ou evoluiu com complicações
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
763
Varicela/Herpes Zoster
ou óbito e pertença a um dos seguintes grupos: recém-nascidos, adolescentes, adultos, pacientes imunodeprimidos, gestantes.
Confirmado
Critério clínico – manifestações clínicas características da varicela. Paciente com febre
moderada de 2 a 3 dias, de início repentino, sintomas generalizados inespecíficos (mal-estar,
adinamia, anorexia, cefaléia e outros) e erupção cutânea pápulo-vesicular.
Critério clínico-epidemiológico – todo caso suspeito de varicela que teve contato
com caso de varicela até 8 dias antes do início do exantema.
Descartado
Caso suspeito de varicela não grave cuja avaliação clínico-epidemiológica conclua ser
outra doença.
Caso suspeito de varicela grave com diagnóstico laboratorial negativo para varicela ou
confirmado como outra doença.
Notificação
Não é doença de notificação compulsória. Portanto, a ocorrência de casos suspeitos de
varicela não requer imediata notificação e investigação. Na situação de surto, a notificação
deve ser realizada através do módulo de notificação de surtos do Sinan-W.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Tratamento sintomático em nível ambulatorial. Hospitalização imediata dos pacientes
com varicela grave ou zoster disseminado, em regime de isolamento.
Proteção da população
Afastar os acometidos das atividades desenvolvidas na escola, creche, trabalho, etc.,
por um período de 10 dias, contados a partir da data de aparecimento do exantema. Vacinar os indivíduos sob risco de desenvolver formas graves, de acordo com as orientações
pertinentes à imunização.
Investigação
Recomenda-se investigar os casos graves.
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de notificação.
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varicela/Herpes Zoster
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
• É necessário consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar
as informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir se
o quadro apresentado é compatível com a varicela grave.
• Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução do doente, com
vistas ao enriquecimento da análise.
• Verificar se o paciente foi vacinado previamente contra a varicela, se entrou em contato com casos de varicela ou herpes zoster ou se já teve varicela em algum momento
de sua vida. Registrar a data da vacinação para saber se o mesmo encontrava-se
protegido. Esta informação é também utilizada como subsídio para a escolha dos
exames laboratoriais.
• Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
• Verificar, na residência, se estão ocorrendo outros casos. Investigar minuciosamente: deslocamentos do caso, de familiares e/ou de amigos (considerar todos os deslocamentos que antecederam 10 dias do início do exantema, inclusive os de curta
duração), para identificar a ocorrência de outros casos.
6
Análise dos dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema e a adequação das medidas adotadas. Esta análise deve ser orientada para a identificação
do local de transmissão, fonte de infecção, dimensionamento da real magnitude do episódio, extensão do surto, etc. Consolidar os dados considerando as características de pessoa,
tempo e área geográfica.
Encerramento de casos
Os casos notificados serão classificados de acordo com os critérios mencionados na
definição de caso.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões.
V
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
As vacinas contra a varicela, administradas por via subcutânea a partir dos 12 meses
de idade, são de vírus vivo atenuado provenientes da cepa OKA. Cada dose deve conter, no
mínimo, 1.350 unidades formadoras de placa UFP de vírus Varicella-zoster em cultura de
células contendo traços de neomicina e gelatina.
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765
Varicela/Herpes Zoster
Até o momento, a vacinação universal contra a varicela não é realizada no Brasil, exceto nas populações indígenas. A vacina é recomendada em caso de surto nas populações
indígenas a partir dos 6 meses e para a prevenção da doença em indivíduo susceptível de
qualquer idade, até 96 horas após a exposição a uma fonte de infecção, desde que seja integrante de grupo de risco para as formas graves da doença.
Situações especiais em que deve ser indicada a vacina contra a varicela, de acordo com
as orientações dos Centros de Referências de Imunobiológicos Especiais (CRIEs):
• pacientes com leucemia linfocítica aguda e com tumores sólidos em remissão (há
pelo menos 12 meses), desde que apresentem 1.200 linfócitos/mm3 ou mais, sem
radioterapia; caso estejam em quimioterapia, suspendê-la por sete dias antes e sete
dias após a vacinação;
• pessoas susceptíveis à doença, candidatos a transplante de órgãos (fígado, rim, coração, pulmão e outros orgãos sólidos), pelo menos três semanas antes do ato cirúrgico;
• profissionais de saúde susceptíveis à doença;
• familiares de pacientes imunodeprimidos, susceptíveis à doença;
• demais pessoas susceptíveis, além dos profissionais de saúde e familiares, que estejam em convívio hospitalar ou domiciliar com pacientes imunodeprimidos;
• HIV positivo, assintomático e oligossintomático.
Contra-indicações da vacina
• Gestantes (mulheres em idade fértil devem evitar a gravidez durante 30 dias após a
administração).
• Imunodeprimidos, exceto os casos previstos nas indicações acima (pacientes em
uso de terapia imunossupressora só deverão fazer uso da vacina após três meses de
suspensão da medicação).
• Anafilaxia à dose anterior da vacina ou a qualquer um dos seus componentes.
Eventos adversos – dor transitória, hiperestesia, rubor no local da aplicação. Um mês
após a vacinação, pode ocorrer exantema maculopapular ou variceliforme, de pequena intensidade, em cerca de 7% a 8% dos indivíduos.
O risco de herpes zoster é mais baixo após a vacinação do que após a doença natural.
Imunoglobulina humana antivaricela–zoster – é obtida de plasma humano contendo títulos altos de IgG contra o vírus da varicela. Contém de 10% a 18% de globulina e
timerosol como preservativo.
É administrada por via intramuscular em qualquer idade.
Indicação – indivíduo imunodeprimido que tenha tido contato com doente de varicela em fase contagiosa.
766
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varicela/Herpes Zoster
Ações de educação em saúde
Em situações de surto, desenvolver atividades de educação em saúde, principalmente
em escolas e creches, visando orientar os professores e pais para que os indivíduos com suspeita da doença permaneçam em casa. Alertar para a necessidade de vacinar os indivíduos
conforme as situações apontadas no tópico Imunização e evitar que mantenham contato
com pessoas que tenham a doença.
6
V
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Varíola
VARÍOLA
CID 10: B03
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A varíola é uma doença viral, exclusiva de humanos. Desde seu último caso registrado,
em 26 de outubro de 1977, na Somália, encontra-se erradicada no mundo. Contudo, apresenta-se como potencial ameaça contra todos os países, principalmente pela possibilidade
de seu uso em atos terroristas.
É considerada uma das mais sérias de todas as doenças infecciosas, matando de 25% a
30% das pessoas infectadas não imunizadas. Em 1980, após a interrupção de sua circulação
viral, a vacinação foi interrompida, exceto em trabalhadores de laboratório que manipulavam o agente em pesquisas. Oficialmente, apenas dois laboratórios conservam estoques do
vírus: um nos Estados Unidos da América e outro na Rússia. Entretanto, após o atentado de
11 de setembro de 2001, cogitou-se a possibilidade de que outros estoques estejam conservados em locais desconhecidos.
Sinonímia
Bexiga, alastrim.
Agente etiológico
Vírus DNA, do gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chordopoxvirinae da família Poxviridae. É um dos vírus mais resistentes, em particular, aos agentes físicos.
Reservatório
Não há reservatório animal e os seres humanos não são portadores. Desta forma, presume-se que o vírus tenha emergido de um reservatório animal, no passado, após o primeiro assentamento de agricultores, cerca de 10 mil anos a.C., quando os aglomerados populacionais tornaram-se grandes o suficiente para manter a transmissão de pessoa a pessoa.
Modo de transmissão
De pessoa a pessoa, através de gotículas de saliva e aerossóis.
Período de incubação
De 10 a 14 dias (variando de 7 a 19 dias) após a exposição.
Período de transmissibilidade
Em média, três semanas, prazo que vai desde o momento em que aparecem as primeiras lesões até o desprendimento de todas as crostas. A fase de maior contaminação é o
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Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varíola
período anterior ao surgimento das erupções, por meio de gotículas de aerossóis que levam
o vírus às lesões orofaríngeas.
Susceptibilidade e imunidade
Aspectos como idade, sexo, raça e clima não evitam nem favorecem a transmissão da
varíola.
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Paciente com doença sistêmica, que apresenta pródromos com duração média de dois
a quatro dias, iniciada com sintomas inespecíficos, tais como febre alta, mal-estar intenso,
cefaléia, dores musculares, náuseas e prostração, podendo apresentar dores abdominais intensas e delírio. A doença progride com o aparecimento de lesões cutâneas (mácula, pápula,
vesícula, pústula e formação de crostas) em surto único, de duração média entre um e dois
dias, com distribuição centrífuga, atingindo mais a face e membros. Observa-se o mesmo
estágio evolutivo das lesões em determinada área.
6
Diagnóstico diferencial
O principal diagnóstico diferencial é com a varicela, sendo quase impossível distinguilas clinicamente nos primeiros 2 a 3 dias de aparecimento das máculas.
Varíola
Varicela
Alastrim – Bexiga
Catapora
Início entre 7 e 17 dias após contato
com doente de varíola
Início de 14 a 21 dias após contato com doente de varicela
O paciente apresenta febre e mal-estar,
2 a 4 dias antes de aparecerem as lesões
O paciente não apresenta sintomas até o aparecimento das lesões
As lesões duram de 1 a 2 dias. Não
aparecem lesões novas após este período
As lesões aparecem em diversas fases, durante vários dias até
uma semana
As lesões são mais numerosas na face,
braços e pernas, inclusive nas palmas
das mãos e plantas dos pés
As lesões são mais numerosas no tronco, sendo raras nas palmas
das mãos ou planta dos pés
Em um mesmo segmento do corpo,
as lesões encontram-se em um mesmo
estágio de evolução (Ex.: não são observadas crostas e vesículas ao mesmo tempo)
As lesões apresentam estágios diferentes de evolução, em um
mesmo segmento do corpo. Máculas, vesículas, pústulas e crostas
podem ser encontradas simultaneamente
As crostas se formam de 10 a 14 dias
após o início da erupção, e caem entre
o 14° ao 28° dia após o início das lesões
As crostas se formam de 4 a 7 dias após o início da erupção,
e caem dentro dos 14 dias após o aparecimento das lesões
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V
769
Varíola
Outros diagnósticos diferenciais – impetigo, eczema infectado, sífilis secundária,
escabiose, picadas de insetos, erupções medicamentosas, eritema multiforme. Quando se
apresenta sob a forma hemorrágica, a varíola pode ser confundida com a leucemia aguda,
meningococcemia e púrpura trombocitopênica idiopática.
Diagnóstico laboratorial
Existem vários métodos para a confirmação diagnóstica da varíola; alguns são específicos na identificação do vírus da varíola; outros, para identificação de Orthopoxvirus em
geral. Podem ser submetidos a exame, raspado de lesões de pele (pápulas, vesículas, pústulas e crostas) e amostras de sangue, colhidos por profissional de saúde vacinado contra a varíola e devidamente protegido com equipamentos de proteção individual (avental, máscara,
óculos e luvas) e manipulados em ambiente de contenção de risco biológico.
As amostras podem ser examinadas diretamente por microscopia eletrônica, para a
identificação de vírions, e o antígeno viral pode ser identificado por imunohistoquímica. A
reação em cadeia da polimerase (PCR) para o gênero Orthopoxvirus pode detectar o vírus
variólico antes do início dos sintomas.
As provas sorológicas (Elisa, IFA) não identificaram a espécie do vírus e o pareamento
das amostras está indicado para diferenciar uma infecção recente de uma vacinação no passado. Os métodos sorológicos, com detecção de IgM específica, estão sendo aprimorados de
forma a aumentar a sensibilidade e especificidade. O isolamento viral em cultivo celular ou
em membranas corioalantóicas são considerados padrão-ouro na identificação do vírus.
Tratamento
Não há tratamento específico para a varíola. A terapia é de suporte, mantendo-se o
balanço hidroeletrolítico e cuidados de enfermagem. A antibioticoterapia é indicada para o
tratamento de infecções bacterianas secundárias, que são freqüentes.
Aspectos epidemiológicos
A varíola foi uma doença de grande impacto na saúde pública mundial. Em 1967, 33
países ainda eram considerados endêmicos, com cerca de 10-15 milhões de casos notificados por ano. Como a mortalidade média atingia a casa dos 30% em pessoas não vacinadas,
cerca de 3 milhões de mortes ocorriam anualmente.
Estudos demonstraram que no hemisfério norte a varíola era mais freqüente no inverno e na primavera, estações coincidentes, no hemisfério sul, com o verão e outono, onde
parecia também aumentar a incidência da varíola, quando esta era endêmica.
A introdução da varíola no território brasileiro ocorreu com os primeiros colonizadores e escravos no século XVI e a primeira epidemia registrada data de 1563, na ilha de
Itaparica na Bahia, de onde se disseminou para o resto do país.
Em 1804, foi introduzida a vacina jeneriana no país, dando-se início às campanhas de
combate à virose. Em 1962, o Ministério da Saúde criou a Campanha Nacional Contra a Va-
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Varíola
ríola, com resultados inexpressivos, e a média anual de casos mantinha-se elevada, em torno
de 3 mil, atingindo principalmente a faixa etária de menores de 15 anos (80% dos casos).
Em agosto de 1966, foi instituída a Campanha de Erradicação da Varíola e só durante
a fase de ataque, encerrada em 16 de outubro de 1971, cerca de 88% da população brasileira
havia sido vacinada.
A notificação mensal de casos diminuiu e a vigilância ativa da doença permitiu reduzir
a ocorrência de casos e notificação, o que aumentava a efetividade dos bloqueios vacinais.
Em 1971, com o prosseguimento dos trabalhos de vacinação, foi-se interrompendo
a transmissão no país, registrando-se apenas 19 casos de varíola, todos no estado do Rio
de Janeiro. A última notificação da doença foi em abril daquele ano e desde então não há
registro de casos de varíola no Brasil.
Atualmente, considera-se importante estar preparado para responder a um possível
ataque com o vírus da varíola como arma biológica, por se saber que este agente é relativamente estável, de fácil disseminação (aerossolização) e alta transmissibilidade.
6
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Manter erradicada a varíola, mediante a detecção precoce de casos suspeitos e adoção
das medidas de controle pertinentes.
Definição de caso
Suspeito
Todos os pacientes provenientes de países ou regiões com suspeita de disseminação
acidental ou intencional do vírus da varíola, com sinais clínicos inespecíficos e que, até 4
dias do início dos sintomas, apresentem lesões cutâneas.
Confirmado
Critério clínico-laboratorial – todo caso suspeito que apresente isolamento do vírus
da varíola.
Critério clínico-epidemiológico – todo caso suspeito de varíola, proveniente de países ou regiões em que outros casos tenham sido confirmados laboratorialmente, ou casos
que tenham relato de manifestação clínica característica de varíola e que tenham evoluído
para óbito.
V
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo, desde que se comprove que as
amostras foram coletadas e transportadas adequadamente; ou caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
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Varíola
Notificação
A ocorrência de casos suspeitos de varíola requer imediata notificação e investigação,
por se tratar de doença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o que impõe a adoção imediata de medidas de controle. Por ser doença de notificação compulsória
internacional, todo caso suspeito deve ser prontamente comunicado por telefone, fax ou
e-mail às autoridades sanitárias superiores.
Primeiras medidas a serem adotadas
Assistência médica ao paciente
Hospitalização imediata dos pacientes em hospitais de referência, para isolamento e
tratamento, tendo-se o cuidado de verificar se todos os profissionais foram imunizados previamente (interrogar sobre história vacinal e inspecionar a marca da vacina “pega”).
Qualidade da assistência
Verificar se os casos estão sendo atendidos em unidade de saúde de referência com
atendimento adequado e oportuno.
Proteção individual para evitar a circulação viral
Todos os profissionais do hospital de referência deverão estar previamente imunizados
e devem utilizar equipamento de proteção padrão e máscara tipo N-95. Roupas íntimas e de
cama deverão ser acondicionadas em sacos para transporte de material biológico e, posteriormente, autoclavados e incinerados. O local deverá ser descontaminado, de acordo com
as normas do programa de infecção hospitalar.
Proteção da população
Logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de varíola, deve-se organizar
um bloqueio vacinal nas áreas onde o paciente esteve no período de viremia, privilegiando
as populações expostas ao risco de transmissão, não sendo necessário aguardar os resultados dos exames laboratoriais para confirmação dos casos suspeitos.
Utilizar os meios de comunicação de massa para esclarecimentos à população. Organizar visitas domiciliares e palestras nas comunidades. Veicular informações sobre o ciclo de
transmissão da doença, sua gravidade e esclarecimentos sobre a situação de risco.
Investigação
Imediatamente após a notificação de um ou mais casos de varíola, deve-se iniciar a
investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser adotadas
em tempo oportuno.
É imprescindível que os profissionais que irão participar das investigações tenham sido
vacinados previamente, antes de se deslocarem para a provável área de transmissão.
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Varíola
Roteiro da investigação epidemiológica
Identificação do paciente
Deverão ser preenchidos todos os itens da ficha de notificação do Sinan relativos aos
dados gerais, notificação individual e dados de residência.
Não se dispõe de ficha epidemiológica de investigação no Sinan, devendo-se elaborar
uma específica para este fim, que contenha campos que coletem os dados das principais
características clínicas e epidemiológicas da doença.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Por se tratar de doença erradicada, com pouca probabilidade de ocorrência, a história
epidemiológica é importantíssima para fundamentar a suspeita diagnóstica de varíola. Assim, torna-se da maior importância entrevistar o médico que atendeu o paciente e pesquisar se existe alguma evidência (nacional ou internacional) de transmissão intencional e se o
paciente é procedente de alguma região com reativação de “foco da doença”.
Como, em geral, quando da suspeita de varíola os doentes são hospitalizados, devese consultar o prontuário, além da entrevista ao médico assistente, visando completar as
informações clínicas e epidemiológicas sobre o paciente – as quais servirão para definir
se o quadro apresentado é compatível com a doença. Cuidar para que a identificação e o
endereço do paciente sejam preservados.
Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução do doente, com vistas
ao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumento de
aprendizagem dos profissionais do nível local.
Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
6
Para identificação da área de transmissão
Investigar minuciosamente
• Procedência e deslocamentos do caso, de familiares e/ou amigos (considerar todos
os deslocamentos anteriores aos dias do início dos sintomas, inclusive os de curta
duração), para caracterizar se houve permanência em local de provável circulação
viral;
• Notícias de casos de varicela naquele período, para estabelecer o diagnóstico diferencial, bem como averiguar esta ocorrência em anos anteriores.
V
Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares
ou responsáveis e líderes da comunidade. Tais dados, que serão anotados na ficha de investigação e folhas anexas, permitirão identificar o provável local de transmissão do vírus.
Por se tratar de doença com alto poder de disseminação, caso se fundamente a suspeita
diagnóstica cabe verificar, rápida e imediatamente a história dos deslocamentos de todos
os casos suspeitos. Deste modo, serão definidos com maior grau de certeza o(s) local(is)
provável(eis) de infecção, bem como a abrangência da circulação do vírus. Importante ob-
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Varíola
servar que mesmo a permanência de poucas horas com pacientes com suspeita de varíola
ou em locais com fômites de doentes podem resultar em infecção.
Lembrar que a identificação da área onde ocorreu a transmissão é de fundamental importância para nortear a continuidade do processo de investigação e a extensão das
medidas de controle imediatas.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Busca ativa de casos humanos
• Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca
ativa de outros casos humanos, casa a casa, e em unidades de saúde. Além daqueles com sinais e sintomas evidentes de varíola/varicela, deve-se considerar os óbitos
com quadro sugestivo da doença, ocorridos nos dias anteriores na comunidade, e os
oligossintomáticos, inclusive todos os indivíduos, na área, que apresentarem febre
(vigilância de casos exantemáticos), com ou sem outras manifestações clínicas, pois
os resultados dos exames laboratoriais irão esclarecer o diagnóstico.
• Tanto em área urbana como rural, o procedimento é o mesmo e a delimitação da
busca baseia-se nos resultados da busca ativa e história epidemiológica dos primeiros casos.
Coleta e remessa de material para exames
Logo após a suspeita clínica de varíola, coletar material de todos os casos (óbitos, formas graves ou oligossintomáticas), de acordo com as normas técnicas, observando-se criteriosamente todas as recomendações.
É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar as coletas.
Caso haja forte suspeita clínica e vínculo epidemiológico claramente estabelecido, não
se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas de controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para confirmar e
nortear o encerramento dos casos.
Atentar para a interpretação dos resultados de sorologias quando não se utilizar exame
de detecção de IgM, considerando as datas de coleta e dias de aparecimento dos sintomas,
necessidade de amostras pareadas e o estado vacinal do paciente, que pode levar a resultados falso-positivos.
Análise dos dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema e a adequação das medidas adotadas, visando impedir a propagação da doença e indicar
se as ações de prevenção e alerta às autoridades e comunidades devem ser mantidas a curto
e médio prazos.
Desde o início, o investigador deve analisar os dados coletados para alimentar o processo de decisão das atividades de investigação e ações de controle. Esta análise, como referido
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Varíola
anteriormente, deve ser orientada para identificação da procedência do vírus, se este permanece circulando ou se foi exportado para outras áreas por meio de migração ou fluxo turístico; dimensionamento da real magnitude do episódio (incidência e letalidade); extensão da
área onde o vírus circulou e se outras áreas estão sob risco de introdução do vírus, etc.
Para isso, o profissional deve interpretar, passo a passo, os dados coletados, de modo a
definir a extensão do bloqueio vacinal, as atividades para continuidade da investigação e a
ampliação, redução ou interrupção das medidas adotadas, de acordo com as evoluções do
evento e da investigação.
A consolidação dos dados, considerando as características de pessoa, tempo e, principalmente, área geográfica, permitirá uma caracterização detalhada do episódio.
Encerramento de caso
Os dados de cada caso devem ser analisados visando definir qual o critério utilizado
para o diagnóstico, considerando as seguintes alternativas:
• confirmado por critério clínico-laboratorial – isolamento viral, sorologia e histopatologia;
• confirmado por critério clínico-epidemiológico – verificar se existe vínculo epidemiológico entre o caso suspeito e outros casos confirmados de varíola;
• óbitos – também serão considerados confirmados os óbitos de paciente com vínculo
epidemiológico e manifestações clínicas de varíola;
• caso descartado – caso notificado cujos resultados de exames laboratoriais adequadamente coletados e transportados foram negativos ou tiveram como diagnóstico
outra doença.
6
Observar se todos os dados necessários ao encerramento dos casos e do evento (epidemia ou caso isolado) foram coletados durante a investigação, devendo estar criteriosamente
registrados e analisados.
Relatório final
Os dados da investigação deverão ser sumarizados em um relatório com as principais
conclusões.
V
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
O Brasil recebeu o Certificado Internacional de Erradicação da Varíola em 1973. Com
a erradicação da doença, a vacinação foi excluída da rotina dos serviços de saúde pública.
As pessoas vacinadas no passado não estão necessariamente protegidas, pois o nível de
imunidade é incerto, portanto, são consideradas susceptíveis. A maioria dos estudos sugere
que a imunidade permanece por três a cinco anos, mas pode ser estimulada em uma simples revacinação. A infecção prévia pelo vírus selvagem confere imunidade permanente.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
775
Varíola
A vacina é constituída por vírus vivo atenuado (vaccinia), que se multiplica nas camadas superficiais da pele.
A administração da vacina é realizada com a técnica de múltipla punção, com agulha
bifurcada de uso único, acondicionada com a vacina reconstituída.O sucesso da vacinação
é considerado quando acontece a “pega”.
Recomendações para a vacinação
Estratégia a primária
A vacinação dos contatos deve ser baseada na identificação de um caso de varíola e na
vacinação das pessoas que tiveram contato com um caso de varíola, ou muito provavelmente tiveram este contato, pois são as que apresentam grande chance de desenvolver a doença.
Se os contatos forem vacinados em até quatro dias após o contato com o caso de varíola,
poderão estar protegidos contra o desenvolvimento da doença ou desenvolver uma doença
menos severa. À medida que ocorre a transmissão da varíola, usualmente através do contato
íntimo, exceto em circunstâncias especiais, as pessoas que mantêm contato íntimo domiciliar com um doente são as que apresentam maior risco de desenvolver a doença. Por isso, a
vacinação das mesmas deve ser priorizada.
Indivíduos que, muito provavelmente, entraram em contato com um contato assintomático de um caso de varíola (membros do mesmo domicílio) também devem ser vacinados para prevenir a infecção, pois podem desenvolver a doença posteriormente. Some-se
a isso a possibilidade de isolamento dos indivíduos contagiosos (aqueles que apresentam
exantema), para prevenir o contato com os não-vacinados, ou indivíduos susceptíveis, durante o período de infecciosidade (do início do rash até que todas as crostas tenham caído),
limitando a posterior oportunidade de transmissão da doença. A vigilância intensiva dos
outros contatos e casos potenciais na área ajudará a identificar outros grupos para a vacinação focal e o isolamento.
As estratégias de vacinação contra a varíola em um surto devem estar baseadas em:
• identificação e vacinação dos contatos íntimos dos casos;
• monitoramento dos contatos vacinados e isolamento daqueles que desenvolverem
febre;
• vacinação dos membros do domicílio que não tiverem contra-indicação para a vacinação, a fim de protegê-los, se o contato desenvolver varíola. Os membros do domicílio de um contato que não podem ser vacinados, devido a contra-indicações,
devem ficar fora da casa para evitar o contato até o final do período de incubação (18
dias) ou até 14 dias após a vacinação do contato;
• vacinação dos trabalhadores da assistência e da saúde pública (médicos e enfermeiros, dentre outros profissionais) que estarão diretamente envolvidos na avaliação,
tratamento, transporte ou entrevistas com casos potenciais de varíola;
• vacinação de outros recursos humanos que apresentem probabilidade razoável de
ter contato com pacientes de varíola ou materiais infectados (ex.: pessoal militar,
emergência, grupos especiais de secretarias de segurança pública, entre outros).
776
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Varíola
No momento da vacinação deve ser fornecida uma caderneta de vacinação a todos os
vacinados – que servirá para registrar os procedimentos de seguimento da vacinação, ou
seja, a confirmação de que a vacina foi recebida e o reconhecimento das reações locais.
Se os recursos humanos forem suficientes a “pega” vacinal, deve ser confirmada e registrada sete dias após a vacinação. Se o quantitativo de recursos humanos não permitirem
seguimento direto, deve-se instruir os profissionais dos serviços de saúde locais, onde foi
realizada a vacinação, para realizar este seguimento.
Contra-indicações da vacina:
• gravidez;
• imunodeficiência;
• doenças de pele extensas (ex. acne, queimadura, incisão recente, impetigo, dermatite
de contato);
• terapia imunossupressora (ex. radioterapia, transplantes, quimioterapia);
• doenças inflamatórias oftalmológicas;
• eczemas, dermatite atópica (presente ou “curada”);
• alergia aos componentes da vacina.
6
No caso de epidemia, a vacina deve ser oferecida às pessoas que, apesar de terem alguma contra-indicação, estejam sob risco.
Eventos adversos pós-vacinação
Em geral, reações cutâneas leves. Raramente, encefalite fatal. Existem estimativas, da
ordem de 25%, para o total de eventos adversos (leves e graves), sendo que a ocorrência da
encefalite pós-vacinal foi estimada em 3 casos para 1 milhão de doses aplicadas. Para a vacinação primária, estimou-se um óbito para 1 milhão de doses aplicadas. Para a revacinação,
estimou-se um óbito para 4 milhões de doses aplicadas.
V
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Glossário
Este glossário visa esclarecer a terminologia utilizada nesta publicação. Vale salientar que, embora alguns termos aqui incluídos possam ser encontrados com significados diferentes, as definições apresentadas são as mais freqüentemente aplicadas no contexto da vigilância e controle
de doenças transmissíveis.
ABATE: marca comercial do inseticida organofosforado Temefós.
AGENTE: entidade biológica, física ou química capaz de causar doença.
AGENTE INFECCIOSO: agente biológico, capaz de produzir infecção ou doença infecciosa.
ALADO: fase adulta do vetor, presença de asas.
ANATOXINA (toxóide): toxina tratada pelo formol ou outras substâncias, que perde sua capacidade toxigênica mas conserva sua imunogenicidade. Os toxóides são usados para induzir
imunidade ativa e específica contra doenças.
ANTICORPO: globulina encontrada em fluidos teciduais e no soro, produzida em resposta ao
estímulo de antígenos específicos, sendo capaz de se combinar com os mesmos, neutralizandoos ou destruindo-os.
ANTICORPO MONOCLONAL: anticorpo produzido pela progênie de uma única célula, fato
que o torna extremamente puro, preciso e homogêneo.
ANTIGENICIDADE: capacidade de um agente, ou de fração do mesmo, estimular a formação
de anticorpos.
ANTÍGENO: porção ou produto de um agente biológico, capaz de estimular a formação de
anticorpos específicos.
ANTISSEPSIA: conjunto de medidas empregadas para impedir a proliferação microbiana.
ANTITOXINA: anticorpos protetores que inativam proteínas solúveis tóxicas de bactérias.
ANTRÓPICO: tudo o que possa ser atribuído à atividade humana.
ANTROPONOSE: infecção com transmissão restrita aos seres humanos.
ANTROPOZOONOSE: infecção transmitida ao homem, por reservatório animal.
ARBOVIROSES: viroses transmitidas, de um hospedeiro para outro, por meio de um ou mais
tipos de artrópodes.
ÁREA ENDÊMICA: aqui considerada como área reconhecidamente de transmissão para esquistossomose, de grande extensão, contínua, dentro de um município.
ÁREA DE FOCO: área de transmissão para esquistossomose, com localização bem definida,
limitada a uma localidade ou pequeno número desta, em um município.
ÁREA INDENE VULNERÁVEL: área reconhecidamente sem transmissão para esquistossomose, mas cujas condições ambientais (presença de hospedeiros intermediários nas condições
hídricas), associadas a precárias condições socioeconômicas e de saneamento, na presença de
migrantes portadores da esquistossomose, oriundos de áreas de transmissão, tornam a área sob
risco.
ASCITE: acúmulo de líquido seroso na cavidade peritonial, causado pelo aumento da pressão
venosa ou queda da albumina no plasma. O exame revela aumento indolor do abdome, macicez
796
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS
Glossário
líquida que muda com a postura. É responsável pelo termo “barriga d’água” para a esquistossomose.
ASSEPSIA: conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetração de microrganismos (contaminação) em local que não os contenha.
ASSOCIAÇÃO MEDICAMENTOSA: administração simultânea de dois ou mais medicamentos,
seja em preparação separada, seja em uma mesma preparação.
BACTERIÓFAGO: vírus que lisa a bactéria. Capaz de infectar e destruir bactérias. É freqüentemente utilizado como vetor pela engenharia genética.
BIOCENOSE: comunidade resultante da associação de populações confinadas em determinados
ambientes, no interior de um ecossistema.
BIOGEOCENOSE (ecossistema): sistema dinâmico que inclui todas as interações entre o ambiente e as populações ali existentes.
BIOSFERA: conjunto de todos os ecossistemas.
BIOTA: reunião de várias comunidades.
CAPACIDADE VETORIAL: propriedade do vetor, mensurada por parâmetros como abundância, sobrevivência e grau de domiciliação. Relaciona-se à transmissão do agente infeccioso em
condições naturais.
CARACTERES EPIDEMIOLÓGICOS: modos de ocorrência natural das doenças em uma comunidade, em função da estrutura epidemiológica da mesma.
CARÁTER ANTIGÊNICO: combinação química dos componentes antigênicos de um agente,
cuja combinação e componentes são únicos, para cada espécie ou cepa do agente, sendo responsável pela especificidade da imunidade resultante da infecção.
CASO: pessoa ou animal infectado ou doente, apresentando características clínicas, laboratoriais
e/ou epidemiológicas específicas.
CASO AUTÓCTONE: caso contraído pelo enfermo na zona de sua residência.
CASO CONFIRMADO: pessoa de quem foi isolado e identificado o agente etiológico, ou de
quem foram obtidas outras evidências epidemiológicas e/ou laboratoriais da presença do agente
etiológico, como, por exemplo, a conversão sorológica em amostras de sangue colhidas nas fases
aguda e de convalescência. Esse indivíduo pode ou não apresentar a síndrome indicativa da
doença causada pelo agente. A confirmação do caso está sempre condicionada à observação dos
critérios estabelecidos pela definição de caso, a qual, por sua vez, está relacionada ao objetivo do
programa de controle da doença e/ou do sistema de vigilância.
CASO ESPORÁDICO: caso que, segundo informações disponíveis, não se apresenta epidemiologicamente relacionado a outros já conhecidos.
CASO ÍNDICE: primeiro, entre vários casos, de natureza similar e epidemiologicamente relacionados. O caso índice é muitas vezes identificado como fonte de contaminação ou infecção.
CASO IMPORTADO: caso contraído fora da zona onde se fez o diagnóstico. O emprego dessa
expressão dá a idéia de que é possível situar, com certeza, a origem da infecção numa zona conhecida.
CASO INDUZIDO: caso de malária que pode ser atribuído a uma transfusão de sangue ou a
outra forma de inoculação parenteral, porém não à transmissão natural pelo mosquito. A inoculação pode ser acidental ou deliberada e, neste caso, pode ter objetivos terapêuticos ou de
pesquisa.
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Glossário
CASO INTRODUZIDO: na terminologia comum, esse nome é dado aos casos sintomáticos
diretos, quando se pode provar que os mesmos constituem o primeiro elo da transmissão local
após um caso importado conhecido.
CASO PRESUNTIVO: pessoa com síndrome clínica compatível com a doença, porém sem confirmação laboratorial do agente etiológico. A classificação como caso presuntivo está condicionada à definição de caso.
CASO SUSPEITO: pessoa cuja história clínica, sintomas e possível exposição a uma fonte de
infecção sugerem que possa estar ou vir a desenvolver alguma doença infecciosa.
CEPA: população de uma mesma espécie, descendente de um único antepassado ou que tenha espécie descendente de um único antepassado ou mesma origem, conservada mediante
uma série de passagens por hospedeiros ou subculturas adequadas. As cepas de comportamento
semelhante são chamadas “homólogas” e as de comportamento diferente, “heterólogas”. Anteriormente, empregava-se o termo “cepa” de maneira imprecisa, para aludir a um grupo de organismos estreitamente relacionados entre si e que perpetuavam suas características em gerações
sucessivas. Ver também CULTURA ISOLADA.
CERCÁRIA: forma do Schistossoma mansoni, infectante para o homem (hospedeiro definitivo).
CIRCULAÇÃO COLATERAL: circulação que se instala em órgãos, ou parte deles, através de
anastomose (comunicação) dos vasos, quando o suprimento sangüíneo original está obstruído
ou abolido.
CLONE: população de organismos geneticamente idênticos, descendente de uma única célula
por reprodução assexuada. Nos parasitas da malária obtém-se o clone, em geral, a partir de formas eritrocíticas, por meio de uma técnica de diluição e cultura in vitro.
COORTE: grupo de indivíduos que têm um atributo em comum. Designa também um tipo de
estudo epidemiológico.
COLONIZAÇÃO: propagação de um microrganismo na superfície ou no organismo de um
hospedeiro, sem causar agressão celular. Um hospedeiro colonizador pode atuar como fonte de
infecção.
CONGÊNERE: na terminologia química, qualquer substância de um grupo químico cujos componentes sejam derivados da mesma substância-mãe, por exemplo, as 4-aminoquinaleínas são
congêneres uma das outras.
CONTÁGIO: sinônimo de transmissão direta.
CONTAMINAÇÃO: ato ou momento em que uma pessoa ou objeto se converte em veículo
mecânico de disseminação de determinado agente patogênico.
CONTATO: pessoa ou animal que teve contato com pessoa ou animal infectado, ou com ambiente contaminado, criando a oportunidade de adquirir o agente etiológico.
CONTATO EFICIENTE: contato entre um susceptível e uma fonte primária de infecção, em que
o agente etiológico é realmente transferido dessa para o primeiro.
CONTROLE: quando aplicado a doenças transmissíveis e não transmissíveis, significa operações ou programas desenvolvidos com o objetivo de reduzir sua incidência e/ou prevalência a
níveis muito baixos.
COPROSCOPIA: diagnóstico realizado mediante exame parasitológico de fezes.
COR-PULMONALE: comprometimento cardíaco decorrente do efeito de hipertensão pulmonar sobre o ventrículo direito.
CULTURA ISOLADA: amostra de parasitas não necessariamente homogêneos, sob a perspectiva
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genética, obtidos de um hospedeiro natural e conservados em laboratório mediante passagens
por outros hospedeiros ou cultura in vitro. Dá-se preferência a esse termo, em lugar de “cepa”, de
uso freqüente, mas um tanto impreciso. Ver também CLONE, LINHAGEM e CEPA.
CURA RADICAL: eliminação completa de parasitas que se encontram no organismo, excluída
qualquer possibilidade de recidivas.
DENSIDADE LARVÁRIA: quantidade de larvas para determinado denominador (recipiente,
concha, área, imóvel).
DENOMINAÇÕES INTERNACIONAIS COMUNS (DIC): nomes comuns de medicamentos
aceitos pela Organização Mundial da Saúde e incluídos na lista oficial rubricada por esse organismo.
DESINFECÇÃO: destruição de agentes infecciosos que se encontram fora do corpo, por meio de
exposição direta a agentes químicos ou físicos.
DESINFECÇÃO CONCORRENTE: aplicação de medidas desinfetantes o mais rápido possível,
após a expulsão de material infeccioso do organismo de uma pessoa infectada ou depois que a
mesma tenha se contaminado com o referido material. Reduz ao mínimo o contato de outros
indivíduos com esse material ou objetos.
DESINFECÇÃO TERMINAL: desinfecção feita no local em que esteve um caso clínico ou portador, ocorrendo, portanto, depois que a fonte primária de infecção deixou de existir (por morte
ou por ter se curado) ou depois que abandonou o local. A desinfecção terminal, aplicada raramente, é indicada no caso de doenças transmitidas por contato indireto.
DESINFESTAÇÃO: destruição de metazoários, especialmente artrópodes e roedores, com finalidades profiláticas.
DISPONIBILIDADE BIOLÓGICA: velocidade e grau de absorção de um medicamento, a partir
de um preparado farmacêutico, determinados por sua curva de concentração/tempo na circulação geral ou por sua excreção na urina.
DISSEMINAÇÃO POR FONTE COMUM: disseminação do agente de uma doença, a partir da
exposição de um determinado número de pessoas, num certo espaço de tempo, a um veículo
comum. Exemplo: água, alimentos, ar, seringas contaminadas.
DIMORFISMO: propriedade de existir em duas diferentes formas estruturais.
DOENÇA TRANSMISSÍVEL (doença infecciosa): doença causada por um agente infeccioso
específico ou pela toxina por ele produzida, por meio da transmissão desse agente ou de seu
produto, tóxico a partir de uma pessoa ou animal infectado, ou ainda de um reservatório para
um hospedeiro susceptível, quer direta ou indiretamente intermediado por vetor ou ambiente.
DOENÇAS QUARENTENÁRIAS: doenças de grande transmissibilidade, em geral graves, que
requerem notificação internacional imediata à Organização Mundial da Saúde, isolamento rigoroso de casos clínicos e quarentena dos comunicantes, além de outras medidas de profilaxia com
o intuito de evitar sua introdução em regiões até então indenes. Entre as doenças quarentenárias
encontram-se a cólera, febre amarela e tifo exantemático.
DOSE DE REFORÇO: quantidade de antígeno administrada com o fim de manter ou reavivar a
resistência conferida pela imunização.
ECOLOGIA: estudo das relações entre seres vivos e seu ambiente. “Ecologia humana” diz respeito ao estudo de grupos humanos, em face da influência de fatores ambientais, incluindo muitas
vezes fatores sociais e do comportamento.
ECOSSISTEMA: conjunto constituído pela biota e o ambiente não vivo, que interagem em determinada região.
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EFEITOS DELETÉRIOS DOS MEDICAMENTOS: inclui todos os efeitos não desejados apresentados nos seres humanos como resultado da administração de um medicamento. Segundo
Rasenhein (1958), em geral pode-se classificar esses efeitos em: a) efeitos tóxicos: introduzidos
por doses excessivas, quer seja por única dose grande ou pela acumulação de várias doses do
medicamento; b) efeitos colaterais: terapeuticamente inconvenientes, mas conseqüência inevitável da medicação (por exemplo, náuseas e vômitos, após ingerir cloroquina em jejum, ou queda
de pressão, após injeção endovenosa de quinina); c) efeitos secundários: surgem indiretamente
como resultado da ação de um medicamento (por exemplo, a monilíase em pacientes submetidos a tratamento prolongado com a tetraciclina); d) intolerância: diminuição do limite de sensibilidade à ação fisiológica normal de um medicamento (por exemplo, enjôo, surdez, visão embaraçada que alguns pacientes sofrem ao receber uma dose normal de quinina); e) idiossincrasia:
reação qualitativamente anormal de um medicamento (por exemplo, a hemólise que ocorre em
alguns pacientes após a administração de primaquina); f) hipersensibilidade por reação alérgica:
resposta imunológica anormal após sensibilização provocada por um medicamento (por exemplo, alergia à penicilina).
ELIMINAÇÃO: vide ERRADICAÇÃO.
ENDEMIA: presença contínua de uma enfermidade, ou agente infeccioso, em uma zona geográfica determinada; pode também expressar a prevalência usual de uma doença particular numa
zona geográfica. O termo hiperendemia significa a transmissão intensa e persistente, atingindo
todas as faixas etárias; e holoendemia, um nível elevado de infecção que começa a partir de
uma idade precoce e afeta a maior parte da população jovem, como, por exemplo, a malária em
algumas regiões do globo.
ENDOTOXINA: toxina encontrada no interior da célula bacteriana, mas não em filtrados livres
de células de bactéria. As endotoxinas são liberadas pela bactéria quando sua célula se rompe.
ENZOOTIA: presença constante, ou prevalência usual da doença ou agente infeccioso, na população animal de dada área geográfica.
EPIDEMIA: manifestação, em uma coletividade ou região, de um corpo de casos de alguma enfermidade que excede claramente a incidência prevista. O número de casos, que indica a existência de uma epidemia, varia com o agente infeccioso, o tamanho e as características da população
exposta, sua experiência prévia ou falta de exposição à enfermidade e local e época do ano em
que ocorre. Por decorrência, a epidemia guarda relação com a freqüência comum da enfermidade na mesma região, na população especificada e na mesma estação do ano. O aparecimento de
um único caso de doença transmissível, que durante um lapso de tempo prolongado não havia
afetado uma população ou que invade pela primeira vez uma região, requer notificação imediata
e uma completa investigação de campo; dois casos dessa doença, associados no tempo ou espaço, podem ser evidência suficiente de uma epidemia.
EPIDEMIA POR FONTE COMUM (epidemia maciça ou epidemia por veículo comum): epidemia em que aparecem muitos casos clínicos, dentro de um intervalo igual ao período de incubação clínica da doença, o que sugere a exposição simultânea (ou quase simultânea) de muitas
pessoas ao agente etiológico. O exemplo típico é o das epidemias de origem hídrica.
EPIDEMIA PROGRESSIVA (epidemia por fonte propagada): epidemia na qual as infecções são
transmitidas de pessoa a pessoa ou de animal, de modo que os casos identificados não podem
ser atribuídos a agentes transmitidos a partir de uma única fonte.
EPIGASTRALGIA: dor na região do epigástrio (abdome), que corresponde à localização do
estômago.
EPIZOOTIA: ocorrência de casos, de natureza similar, em população animal de uma área geográfica particular, que se apresenta claramente em excesso em relação à incidência normal.
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EQUIVALÊNCIA TERAPÊUTICA: característica de diferentes produtos farmacêuticos que,
quando administrados em um mesmo regime, apresentam resultados com o mesmo grau de
eficácia e/ou toxicidade.
ERRADICAÇÃO: cessação de toda a transmissão da infecção, pela extinção artificial da espécie
do agente em questão. A erradicação pressupõe a ausência completa de risco de reintrodução da
doença, de forma a permitir a suspensão de toda e qualquer medida de prevenção ou controle.
A erradicação regional ou eliminação é a cessação da transmissão de determinada infecção, em
ampla região geográfica ou jurisdição política.
ESPLENOMEGALIA: aumento do volume do baço.
ESTRUTURA EPIDEMIOLÓGICA: conjunto de fatores relativos ao agente etiológico, hospedeiro e meio ambiente, que influi sobre a ocorrência natural de uma doença em uma comunidade.
EXOTOXINA: toxina produzida por uma bactéria, e por ela liberada, no meio de cultura ou no
hospedeiro, conseqüentemente encontrada em filtrados livres de célula e em culturas de bactéria
intacta.
FAGÓCITO: célula que engloba e destrói partículas estranhas ou microrganismos, por digestão.
FAGOTIPAGEM: caracterização de uma bactéria, pela identificação de sua susceptibilidade a
determinados bacteriófagos. É uma técnica de caracterização de uma cepa.
FALÊNCIA: persistência da positividade do escarro ao final do tratamento. Os doentes que, no
início do tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação até o 4º mês
são também classificados como caso de falência.
FARMACODINÂMICA: estudo da variação individual e coletiva, isto é, étnica, relacionada com
fatores genéticos, da absorção e metabolismo dos medicamentos e resposta do organismo aos
mesmos.
FARMACOTÉCNICA: ramo da ciência que estuda a absorção, distribuição, metabolismo e excreção dos medicamentos.
FEBRE HEMOGLOBINÚRICA: síndrome caracterizada por hemólise intravascular aguda e hemoglobinúrica, muitas vezes acompanhada de insuficiência renal. A febre é uma das características do processo relacionado à infecção por Plasmodium falciparum.
FENÔMENO DE INTERFERÊNCIA: estado de resistência temporária a infecções por vírus.
Resistência induzida por uma infecção viral existente atribuída, em parte, ao Interferon.
FIBROSE HEPÁTICA: crescimento do tecido conjuntivo em nível hepático, decorrente de lesões
ocasionadas pela presença de ovos ou outros antígenos do Schistosoma, na vascularização do
fígado. É a lesão hepática característica da forma crônica de esquistossomose.
FITONOSE: infecção transmissível ao homem, cujo agente tem vegetais como reservatórios.
FOCO NATURAL: pequeno território, compreendendo uma ou várias paisagens, onde a circulação do agente causal estabeleceu-se numa biogecenose, por um tempo indefinidamente longo,
sem sua importação de outra região. O foco natural é uma entidade natural, cujos limites podem
ser demarcados em um mapa.
FOCO ARTIFICIAL: doença transmissível que se instala em condições propiciadas pela atividade antrópica.
FÔMITES: objetos de uso pessoal do caso clínico ou portador, que podem estar contaminados e
transmitir agentes infecciosos e cujo controle é feito por meio da desinfecção.
FONTE DE INFECÇÃO: pessoa, animal, objeto ou substância a partir do qual o agente é transmitido para o hospedeiro.
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FONTE PRIMÁRIA DE INFECÇÃO (reservatório): homem ou animal e, raramente, o solo ou
vegetais, responsável pela sobrevivência de determinada espécie de agente etiológico na natureza. No caso dos parasitas heteroxenos, o hospedeiro mais evoluído (que geralmente é também o
definitivo) é denominado fonte primária de infecção; e o hospedeiro menos evoluído (em geral
hospedeiro intermediário) é chamado vetor biológico.
FONTE SECUNDÁRIA DE INFECÇÃO: ser animado ou inanimado que transporta determinado agente etiológico, não sendo o principal responsável pela sobrevivência desse como espécie.
Esta expressão é substituída, com vantagem, pelo termo “veículo”.
FREQÜÊNCIA (ocorrência): termo genérico, utilizado em epidemiologia para descrever a freqüência de uma doença ou de outro atributo ou evento identificado na população, sem fazer
distinção entre incidência ou prevalência.
FUMIGAÇÃO: aplicação de substâncias gasosas capazes de destruir a vida animal, especialmente insetos e roedores.
GAMETÓFARO: refere-se ao indivíduo portador das formas sexuadas do parasita (gametas).
GOTÍCULAS DE FLÜGGE: secreções oronasais de mais de 100 micras de diâmetro, que transmitem agentes infecciosos de maneira direta mediata.
HEMATÊMESE: vômito no sangue.
HEPATOMEGALIA: aumento de volume do fígado.
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA: descrição que inclui as características das funções de
infecção, distribuição da doença segundo os atributos de pessoas, tempo e espaço, distribuição
e características ecológicas do(s) reservatório(s) do agente; mecanismos de transmissão e efeitos
da doença sobre o homem.
HOLOMETABÓLICO: animais que apresentam metamorfose completa (ex: ovo, larva, pulpa,
adulto).
HOSPEDEIRO: organismo simples ou complexo, incluindo o homem, capaz de ser infectado
por um agente específico.
HOSPEDEIRO DEFINITIVO: apresenta o parasita em fase de maturidade ou de atividade sexual.
HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO: apresenta o parasita em fase larvária ou assexuada.
IMUNIDADE: resistência, usualmente associada à presença de anticorpos que têm o efeito de
inibir microrganismos específicos ou suas toxinas, responsáveis por doenças infecciosas particulares.
IMUNIDADE ATIVA: imunidade adquirida naturalmente pela infecção, com ou sem manifestações clínicas, ou artificialmente pela inoculação de frações ou produtos de agentes infecciosos,
ou do próprio agente morto, modificado ou de forma variante.
IMUNIDADE DE REBANHO: resistência de um grupo ou população à introdução e disseminação de um agente infeccioso. Essa resistência é baseada na elevada proporção de indivíduos
imunes, entre os membros desse grupo ou população, e na uniforme distribuição desses indivíduos imunes.
IMUNIDADE PASSIVA: imunidade adquirida naturalmente da mãe, ou artificialmente pela
inoculação de anticorpos protetores específicos (soro imune de convalescentes ou imunoglobulina sérica). A imunidade passiva é pouco duradoura.
IMUNODEFICIÊNCIA: ausência de capacidade para produzir anticorpos em resposta a um
antígeno.
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IMUNOGLOBULINA: solução estéril de globulinas que contêm aqueles anticorpos normalmente presentes no sangue do adulto.
IMUNOPROFILAXIA: prevenção da doença através da imunidade conferida pela administração de vacinas ou soros a uma pessoa ou animal.
INCIDÊNCIA: número de casos novos de uma doença, ocorridos em uma população particular,
durante um período específico de tempo.
ÍNDICE DE BRETEAU: número de recipientes, habitados por formas imaturas de mosquitos,
em relação ao número de casas examinadas para o encontro de criadouros.
INFECÇÃO: penetração, alojamento e, em geral, multiplicação de um agente etiológico animado no organismo de um hospedeiro, produzindo-lhe danos, com ou sem aparecimento de
sintomas clinicamente reconhecíveis. Em essência, a infecção é uma competição vital entre um
agente etiológico animado (parasita “sensu latu”) e um hospedeiro; é, portanto, uma luta pela
sobrevivência entre dois seres vivos, que visam a manutenção de sua espécie.
INFECÇÃO APARENTE (doença): desenvolve-se acompanhada de sinais e sintomas clínicos.
INFECÇÃO HOSPITALAR: desenvolve-se em paciente hospitalizado ou atendido em outro
serviço de assistência, que não padecia nem estava incubando a doença no momento da hospitalização. Pode manifestar-se, também, como efeito residual de infecção adquirida durante hospitalização anterior, ou ainda manifestar-se somente após a alta hospitalar. Abrange igualmente
as infecções adquiridas no ambiente hospitalar, acometendo visitantes ou sua própria equipe.
INFECÇÃO INAPARENTE: cursa na ausência de sinais e sintomas clínicos perceptíveis.
INFECTANTE: aquele que pode causar uma infecção; aplica-se, geralmente, ao parasita (por
exemplo, o gametócito, o esporozoíto).
INFECTIVIDADE: capacidade do agente etiológico se alojar e multiplicar-se no corpo do hospedeiro.
INFESTAÇÃO: entende-se por infestação de pessoas ou animais o alojamento, desenvolvimento
e reprodução de artrópodes na superfície do corpo ou nas roupas. Os objetos ou locais infestados
são os que albergam ou servem de alojamento a animais, especialmente artrópodes e roedores.
INFLAMAÇÃO: resposta normal do tecido à agressão celular por material estranho; caracteriza-se pela dilatação de capilares e mobilização de defesas celulares (leucócitos e fagócitos).
INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO: levantamento epidemiológico feito por coleta ocasional de
dados, quase sempre por amostragem, que fornece dados sobre a prevalência de casos clínicos
ou portadores em determinada comunidade.
INTERAÇÃO FARMACOLÓGICA: alteração do efeito farmacológico de um medicamento administrado simultaneamente com outro.
INTERFERON: proteína de baixo peso molecular, produzida por células infectadas por vírus.
Tem a propriedade de bloquear as células sadias da infecção viral, suprimindo a multiplicação
viral nas células já infectadas; é ativo contra amplo espectro de vírus.
INVASIBILIDADE: capacidade de um microrganismo entrar no corpo e se disseminar através
dos tecidos. Essa disseminação pode ou não resultar em infecção ou doença.
INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CAMPO (classicamente conhecida por investigação epidemiológica): estudos efetuados a partir de casos clínicos, ou de portadores, para a identificação das fontes de infecção e modos de transmissão do agente. Pode ser realizada quando de
casos esporádicos ou surtos.
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ISOLAMENTO: segregação de um caso clínico do convívio das outras pessoas, durante o período de transmissibilidade, visando evitar que os susceptíveis sejam infectados. Em certos casos,
o isolamento pode ser domiciliar ou hospitalar; em geral, é preferível esse último, por ser mais
eficiente.
ISOMETRIA: fenômeno presente nos compostos químicos de idêntica fórmula molecular, mas
de estrutura molecular diferente. As substâncias que compartilham essas características chamam-se isômeros. Nos derivados do núcleo benzênico, a isomeria geométrica e a isomeria ótica
dependem da distribuição espacial das quatro ligações do átomo de carbono.
JANELA IMUNOLÓGICA: intervalo entre o início da infecção e a possibilidade de detecção de
anticorpos, por meio de técnicas laboratoriais.
LATÊNCIA: período, na evolução clínica de uma doença parasitária, no qual os sintomas desaparecem, apesar de o hospedeiro estar ainda infectado, e de já ter sofrido o ataque primário, ou
uma ou várias recaídas. Terminologia freqüentemente utilizada em relação à malária.
LARVITRAMPAS: recipiente com água, onde se observam as larvas dos mosquitos após a
eclosão.
LINHAGEM: população de parasitas, submetida a determinadas passagens no laboratório, em
geral de uma seleção especial (seja natural ou experimental), de acordo com uma característica
específica (por exemplo, farmacorresistência). Ver também CEPA.
MALACOLOGIA: estudo do caramujo.
MIRACÍDIO: forma do Schistosoma mansoni, infectante para o caramujo.
MONITORAMENTO ENTOMOLÓGICO: acompanhar, analisar e avaliar a condição entomológica de determinada área.
MONITORIZAÇÃO: abrange, segundo John M. Last, três campos de atividade: a) elaboração e
análise de mensurações rotineiras, visando detectar mudanças no ambiente ou estado de saúde
da comunidade. Não deve ser confundida com vigilância. Para alguns estudiosos, monitorização implica em intervenção à luz das mensurações observadas; b) contínua mensuração do
desempenho do serviço de saúde ou de profissionais de saúde, ou do grau com que os pacientes
concordam com ou aderem às suas recomendações; c) na ótica da administração, a contínua
supervisão da implementação de uma atividade com o objetivo de assegurar que a liberação dos
recursos, esquemas de trabalho, objetivos a serem atingidos e outras ações necessárias estejam
sendo processados de acordo com o planejado.
NICHO OU FOCO NATURAL: quando o agente patogênico, o vetor específico e o animal hospedeiro existirem sob condições naturais, durante muitas gerações, num tempo indefinido, independente da existência do homem.
NÚCLEO DE WELLS: secreções oronasais de menos de 100 micra de diâmetro, que transmitem agentes infecciosos de maneira indireta, por meio do ar, onde flutuam durante intervalo de
tempo mais ou menos longo.
OPORTUNISTA: organismo que, vivendo normalmente como comensal ou de vida livre, passa
a atuar como parasita, geralmente em decorrência da redução da resistência natural do hospedeiro.
ORGANOFOSFORADO: grupo de produtos químicos utilizados como inseticida.
OVIPOSIÇÃO: ato do inseto fêmea por ovos.
OVITRAMPAS: recipiente onde as fêmeas de mosquitos fazem oviposição e onde se pode observar os ovos.
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OVOS VIÁVEIS: ovos que contém o miracídio capaz de viver.
PANDEMIA: epidemia de uma doença que afeta pessoas em muitos países e continentes.
PARASITA: organismo, geralmente microrganismo, cuja existência ocorre à expensa de um hospedeiro. Entretanto, não é obrigatoriamente nocivo a seu hospedeiro. Existem parasitas obrigatórios e facultativos; os primeiros sobrevivem somente na forma parasitária e os últimos podem
ter uma existência independente.
PARASITAS HETEROXENOS: necessitam de dois tipos diferentes de hospedeiros para sua
completa evolução: o hospedeiro definitivo e o intermediário.
PARASITAS MONOXENOS: necessitam de um só hospedeiro para a sua completa evolução.
PASTEURIZAÇÃO: desinfecção do leite, feita pelo aquecimento a 63º-65ºC, durante 30 minutos
(ou a 73º-75ºC, durante 15 minutos), baixando a temperatura imediatamente para 20º a 50ºC.
PATOGENICIDADE: capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro susceptível.
PATÓGENO: agente biológico capaz de causar doenças.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO: intervalo entre a exposição efetiva do hospedeiro susceptível a
um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença no mesmo.
PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: intervalo de tempo durante o qual uma pessoa ou animal infectado elimina um agente biológico para o meio ambiente ou para o organismo de um
vetor hematófago, sendo possível, portanto, a sua transmissão a outro hospedeiro.
PERÍODO DE LATÊNCIA: intervalo entre a exposição a agentes patológicos e início dos sinais
e sintomas da doença.
PERÍODO PRODRÔMICO: lapso de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início
dos sinais ou sintomas, que baseia o estabelecimento do diagnóstico.
PESCA LARVA: coador confeccionado em tecido de filó, usado para retirar larva dos depósitos.
PIRETRÍODE: grupo de produtos químicos utilizado como inseticida.
PODER IMUNOGÊNICO (imunogenicidade): capacidade de o agente biológico estimular a
resposta imune no hospedeiro; conforme as características desse agente, a imunidade obtida
pode ser de curta ou longa duração e de grau elevado ou baixo.
PORTADOR: pessoa ou animal que não apresenta sintomas clinicamente reconhecíveis de determinada doença transmissível ao ser examinado, mas que está albergando o agente etiológico
respectivo. Em saúde pública, têm mais importância os portadores que os casos clínicos, porque, muito freqüentemente, a infecção passa despercebida nos primeiros. Os que apresentam
realmente importância são os portadores eficientes, assim, na prática, o termo “portador” quase
sempre se refere aos portadores eficientes.
PORTADOR ATIVO: portador que teve sintomas, mas que, em determinado momento, não os
apresenta.
PORTADOR ATIVO CONVALESCENTE: portador durante e após a convalescença. Tipo comum na febre tifóide e na difteria.
PORTADOR ATIVO CRÔNICO: pessoa ou animal que continua a albergar o agente etiológico,
muito tempo após ter tido a doença. O momento em que o portador ativo convalescente passa a
crônico é estabelecido arbitrariamente para cada doença. No caso da febre tifóide, por exemplo,
o portador é considerado como ativo crônico quando alberga a Salmonella typhi por mais de um
ano após ter estado doente.
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Glossário
PORTADOR ATIVO INCUBADO OU PRECOCE: portador durante o período de incubação
clínica de uma doença.
PORTADOR EFICIENTE: portador que elimina o agente etiológico para o meio exterior ou
para o organismo de um vetor hematófago, ou que possibilita a infecção de novos hospedeiros.
Essa eliminação pode ser feita de maneira contínua ou de modo intermitente.
PORTADOR INEFICIENTE: portador que não elimina o agente etiológico para o meio exterior,
não representando, portanto, perigo para a comunidade no sentido de disseminar esse microrganismo.
PORTADOR PASSIVO (portador aparentemente são): portador que nunca apresentou sintomas
de determinada doença transmissível, não os está apresentando e não os apresentará no futuro;
somente pode ser descoberto por meio de exames laboratoriais adequados.
PORTADOR PASSIVO CRÔNICO: portador passivo que alberga um agente etiológico por longo período de tempo.
PORTADOR PASSIVO TEMPORÁRIO: portador passivo que alberga um agente etiológico durante pouco tempo; a distinção entre o portador passivo crônico e o temporário é estabelecida
arbitrariamente para cada agente etiológico.
POSTULADOS DE EVANS: a expansão do conhecimento biomédico levou à revisão dos postulados de Koch. Em 1976, Alfred Evans elaborou os seguintes postulados, com base naqueles
idealizados por Koch:
• A prevalência da doença deve ser significativamente mais alta entre os expostos à causa
suspeita do que entre os controles não expostos;
• A exposição à causa suspeita deve ser mais freqüente entre os atingidos pela doença do
que o grupo de controle que não a apresenta, mantendo-se constantes os demais fatores
de risco;
• A incidência da doença deve ser significantemente mais elevada entre os expostos à causa
suspeita do que entre aqueles não expostos. Tal fato deve ser demonstrado em estudos
prospectivos;
• A exposição ao agente causal suspeito deve ser seguida de doença, enquanto a distribuição do período de incubação deve apresentar uma curva normal;
• Um espectro da resposta do hospedeiro deve seguir a exposição ao provável agente, num
gradiente biológico que vai do benigno ao grave;
• Uma resposta mensurável do hospedeiro, até então inexistente, tem alta probabilidade
de aparecer após a exposição ao provável agente, ou aumentar em magnitude se presente
anteriormente. Esse padrão de resposta deve ocorrer infreqüentemente em pessoas pouco
expostas;
• A reprodução experimental da doença deve ocorrer mais freqüentemente em animais ou
no homem, adequadamente exposta à provável causa do que naqueles não expostos. Essa
exposição pode ser deliberada em voluntários; experimentalmente induzida em laboratório, ou pode representar um parâmetro da exposição natural;
• A eliminação ou modificação da causa provável deve diminuir a incidência da doença;
• A prevenção ou modificação da resposta do hospedeiro em face da exposição à causa
provável, deve diminuir a incidência ou eliminar a doença;
• Todas as associações ou achados devem apresentar consistência com os conhecimentos
nos campos da biologia e da epidemiologia.
POSTULADOS DE KOCH: originalmente formulados por Henle e adaptados por Robert Koch,
em 1877. Koch afirmava que quatro postulados deveriam ser previamente observados para que
se pudesse aceitar uma relação causal entre um particular microrganismo ou parasita e uma
doença, a saber:
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Glossário
• O agente biológico deve ser demonstrado em todos os casos da doença, por meio de seu
isolamento em cultura pura;
• O agente biológico não deve ser encontrado em outras doenças;
• Uma vez isolado, o agente deve ser capaz de reproduzir a doença em animais de experimento;
• O agente biológico deve ser recuperado da doença experimentalmente produzida.
PREVALÊNCIA: número de casos clínicos ou de portadores existentes em um determinado
momento, em uma comunidade, dando uma idéia estática da ocorrência do fenômeno. Pode ser
expressa em números absolutos ou em coeficientes.
PRÓDROMOS: sintomas indicativos do início de uma doença.
PROFILAXIA: conjunto de medidas que têm por finalidade prevenir ou atenuar as doenças, suas
complicações e conseqüências. Quando a profilaxia basear-se no emprego de medicamentos,
trata-se da quimioprofilaxia.
PUÇÁ DE FILÓ: instrumento, na forma de grande coador, utilizado para a captura de mosquito
adulto.
QUARENTENA: isolamento de indivíduos ou animais sadios pelo período máximo de incubação da doença, contado a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador
ou da data em que esse comunicante sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de
infecção. Na prática, a quarentena é aplicada no caso das doenças quarentenárias.
QUIMIOPROFILAXIA: administração de uma droga, incluindo antibióticos, para prevenir
uma infecção ou a progressão de uma infecção com manifestações da doença.
QUIMIOTERAPIA: uso de uma droga com o objetivo de tratar uma doença clinicamente reconhecível ou de eliminar seu progresso.
RECAÍDA: reaparecimento ou recrudescimento dos sintomas de uma doença, antes do doente
apresentar-se completamente curado. No caso da malária, recaída significa nova aparição de
sintomas depois do ataque primário.
RECIDIVA: reaparecimento do processo mórbido após sua cura aparente. No caso da malária,
recidiva significa recaída na infecção malárica entre a 8ª e a 24ª semanas posteriores ao ataque
primário. Na tuberculose, significa o aparecimento de positividade no escarro, em dois exames
sucessivos, após a cura.
RECORRENTE: estado patológico que evolui através de recaídas sucessivas. No caso da malária,
recorrência significa recaída na infecção malárica depois de 24 semanas posteriores ao ataque
primário.
RECRUDESCÊNCIA: exacerbação das manifestações clínicas ou anatômicas de um processo
mórbido. No caso da malária, recrudescência é a recaída na infecção malárica nas primeiras 8
semanas posteriores ao ataque primário.
REPASTO: ato do inseto alimentar-se diretamente do animal.
RESERVATÓRIO DE AGENTES INFECCIOSOS (fonte primária de infecção): qualquer ser humano, animal, artrópode, planta, solo, matéria ou uma combinação deles, no qual normalmente
vive e se multiplica um agente infeccioso, que depende desse meio para sua sobrevivência, reproduzindo-se de modo tal que pode ser transmitido a um hospedeiro susceptível.
RESISTÊNCIA: conjunto de mecanismos específicos e inespecíficos do organismo que serve de
defesa contra a invasão ou multiplicação de agentes infecciosos ou contra os efeitos nocivos de
seus produtos tóxicos. Os mecanismos específicos constituem a imunidade; os inespecíficos, a
resistência inerente ou natural.
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Glossário
RESISTÊNCIA INERENTE (resistência natural): capacidade de resistir a uma enfermidade,
independente de anticorpos ou da resposta específica dos tecidos. Geralmente, depende das
características anatômicas ou fisiológicas do hospedeiro, podendo ser genética ou adquirida,
permanente ou temporária.
SANEAMENTO DOMICILIAR: conjunto de ações que visa à melhoria do abastecimento d’água,
esgotamento sanitário, manejo e destino adequado dos resíduos sólidos no domicílio.
SEPTICEMIA: presença de microrganismo patogênico, ou de suas toxinas, no sangue ou em
outros tecidos.
SINAL: evidência objetiva de doença.
SÍNDROME: conjunto de sintomas e sinais que tipificam uma determinada doença.
SINERGISMO: ação combinada de dois ou mais medicamentos que produzem um efeito biológico, cujo resultado pode ser simplesmente a soma dos efeitos de cada composto ou um efeito
total superior a essa soma. Quando um medicamento aumenta a ação de outro, diz-se que existe
potencialização. Esse termo é muitas vezes utilizado de forma pouco precisa para descrever o
fenômeno de sinergismo, quando dois compostos atuam sobre diferentes locais receptores do
agente patogênico. O caso oposto é representado pelo antagonismo, fenômeno pelo qual as ações
conjuntas de dois ou mais compostos resultam em diminuição do efeito farmacológico.
SINTOMA: evidência subjetiva de doença.
SOROEPIDEMIOLOGIA: estudo epidemiológico ou atividade baseada na identificação, com
base em testes sorológicos, de mudanças nos níveis de anticorpos específicos de uma população.
Esse método permite não só a identificação de casos clínicos mas também os estados de portador e as infecções latentes ou subclínicas.
SOROTIPO: caracterização de um microrganismo pela identificação de seus antígenos.
SURTO EPIDÊMICO: ocorrência de dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados.
SUSCEPTÍVEL: qualquer pessoa ou animal que supostamente não possui resistência suficiente
contra um determinado agente patogênico, que o proteja da enfermidade caso venha a entrar
em contato com o agente.
TAXA DE ATAQUE: taxa de incidência acumulada, usada freqüentemente para grupos particulares, observados por períodos limitados de tempo e em condições especiais, como em uma
epidemia. As taxas de ataque são usualmente expressas em porcentagem.
TAXA DE ATAQUE SECUNDÁRIO: medida de freqüência de casos novos de uma doença,
entre contatos próximos de casos conhecidos, ocorrendo dentro de um período de incubação
aceito, após exposição ao caso índice. Essa taxa é freqüentemente calculada para contatos domiciliares.
TAXA (OU COEFICIENTE) DE LETALIDADE: medida de freqüência de óbitos por determinada causa, entre membros de uma população atingida pela doença.
TAXA DE MORBIDADE: medida de freqüência de doença em uma população. Existem dois
grupos importantes de taxa de morbidade: os de incidência e os de prevalência.
TAXA (OU COEFICIENTE) DE MORTALIDADE: medida de freqüência de óbitos em uma
determinada população, durante um intervalo de tempo específico. Ao serem incluídos os óbitos por todas as causas, tem-se a taxa de mortalidade geral. Caso se inclua somente óbitos por
determinada causa, tem-se a taxa de mortalidade específica.
TAXA (OU COEFICIENTE) DE NATALIDADE: medida de freqüência de nascimentos, em
uma determinada população, durante um período de tempo especificado.
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Glossário
TEMEFÓS: inseticida organofosforado, adequadamente formulado para manter larvas em recipientes com água, potável ou não.
TEMPO DE SUPRESSÃO: tempo transcorrido entre a primeira porção tomada de um medicamento até o desaparecimento da parasitemia observável.
TENDÊNCIA SECULAR: comportamento da incidência de uma doença, em um longo intervalo de tempo, geralmente anos ou décadas.
TOXINA: proteínas ou substâncias protéicas conjugadas, letais para certos organismos. As toxinas são produzidas por algumas plantas superiores, por determinados animais e por bactérias
patogênicas. O alto peso molecular e a antigenicidade das toxinas diferenciam-nas de alguns
venenos químicos e alcalóides de origem vegetal.
TRANSMISSÃO: transferência de um agente etiológico animado de uma fonte primária de infecção para um novo hospedeiro. Pode ocorrer de forma direta ou indireta.
TRANSMISSÃO DIRETA (contágio): transferência do agente etiológico, sem a interferência de
veículos.
TRANSMISSÃO DIRETA IMEDIATA: transmissão direta, em que há um contato físico entre a
fonte primária de infecção e o novo hospedeiro.
TRANSMISSÃO DIRETA MEDIATA: transmissão direta, em que não há contato físico entre a
fonte primária de infecção e o novo hospedeiro; a transmissão ocorre por meio das secreções
oronasais (gotículas de Flügge).
TRANSMISSÃO INDIRETA: transferência do agente etiológico por meio de veículos animados
ou inanimados. A fim de que a transmissão indireta possa ocorrer, torna-se essencial que os
germes sejam capazes de sobreviver fora do organismo, durante um certo tempo, e que haja um
veículo que os leve de um lugar a outro.
TRATAMENTO ANTI-RECIDIVANTE: tratamento destinado a prevenir as recidivas, particularmente as que incidem a longo prazo. Sinônimo de tratamento radical.
TRATAMENTO PROFILÁTICO: tratamento de um caso clínico ou de um portador, com a
finalidade de reduzir o período de transmissibilidade.
TUBITO: pequeno tubo usado para acondicionamento de larvas, quando da remessa ao laboratório.
VACINA: preparação contendo microrganismos vivos ou mortos ou suas frações, possuidora de
propriedades antigênicas. São empregadas para induzir, em um indivíduo, a imunidade ativa e
específica contra um microrganismo.
VEÍCULO: ser animado ou inanimado que transporta um agente etiológico. Não são consideradas, como veículos, as secreções e excreções da fonte primária de infecção, que são, na realidade, um substrato no qual os microrganismos são eliminados.
VEÍCULO ANIMADO (vetor): artrópode que transfere um agente infeccioso da fonte de infecção para um hospedeiro susceptível.
VEÍCULO INANIMADO: ser inanimado que transporta um agente etiológico. Os veículos inanimados são: água, ar, alimentos, solo e fômites.
VETOR BIOLÓGICO: vetor no qual se passa, obrigatoriamente, uma fase do desenvolvimento
de determinado agente etiológico. Erradicando-se o vetor biológico, desaparece a doença que
transmite.
VETOR MECÂNICO: vetor acidental que constitui somente uma das modalidades da transmissão de um agente etiológico. Sua erradicação retira apenas um dos componentes da transmissão
da doença.
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Glossário
VIGILÂNCIA DE DOENÇA: levantamento contínuo de todos os aspectos relacionados com
a manifestação e propagação de uma doença, importantes para o seu controle eficaz. Inclui a
coleta e avaliação sistemática de :
• dados de morbidade e mortalidade;
• dados especiais de investigações de campo sobre epidemias e casos individuais;
• dados relativos a isolamento e notificação de agentes infecciosos em laboratório;
• dados relativos à disponibilidade, uso e efeitos adversos de vacinas, toxóides, imunoglobulinas, inseticidas e outras substâncias empregadas no controle de doenças;
• dados sobre níveis de imunidade em certos grupos da população.
Todos esses dados devem ser reunidos, analisados e apresentados na forma de informes que
serão distribuídos a todas as pessoas que colaboraram na sua obtenção e a outras que necessitem
conhecer os resultados das atividades da vigilância, para fins de prevenção e controle de agravos
relevantes à saúde pública. Esses procedimentos aplicam-se a todos os níveis dos serviços de
saúde pública, desde o local até o internacional.
VIGILÂNCIA DE PESSOA: observação médica rigorosa, ou outro tipo de supervisão de contatos de pacientes com doença infecciosa, que visa permitir a identificação rápida da infecção ou
doença, porém sem restringir liberdade de movimentos.
VIGILÂNCIA SANITÁRIA: observação dos comunicantes durante o período máximo de incubação da doença, a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador, ou da data
em que o comunicante abandonou o local em que se encontrava a fonte primária de infecção.
Não implica restrição da liberdade de movimentos.
VIRULÊNCIA: grau de patogenicidade de um agente infeccioso.
ZOOANTROPONOSE: infecção transmitida aos animais, a partir de reservatório humano.
ZOONOSES: infecção ou doença infecciosa transmissível, sob condições naturais, de homens a
animais e vice-versa.
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Vigilância epidemiológica das secretarias estaduais de saúde
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2º andar, Sala 209. Salvador/BA. CEP 41.750-300
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Belo Horizonte/MG. CEP 30.130-130
Tels.: (31) 3274 3470/4705/4258 Fax: (31) 3213 8503/3965
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Teresina/PI. CEP 64.018-200
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Tels.: (41) 3350 9303/9333 Fax: (41) 3350 9339/9458
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Rio de Janeiro/RJ. CEP 20.211-901
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