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RDOMEIO EIOVERD COMOOM 1 OVERDOMEIOVERD OMEIOVERDOMEI MATOQUECRESCE 2 3 DOMEIOVERDOME IOVERDOMEIOVER ENTREASPEDRASC Ministério da Cultura, Instituto Tomie Ohtake, Atlas e Souza Cruz apresentam presents CURADOR CURATOR NELSON BRISSAC FOTÓGRAFOS PHOTOGRAPHERS ARNALDO PAPPALARDO INSTITUTO TOMIE OHTAKE 28 MAIO MAY - 12 JULHO JULY 2015 4 MAURO RESTIFFE PIO FIGUEIROA ARQUITETURA BRASILEIRA IV 5 8 APRESENTAÇÃO Foreword Instituto Tomie Ohtake ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERSUMMARYSUMÁRIOVERDOMEIOVERDOMEI MEIOCOMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRAS 12 VERDOMEIO COMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRAS SEEING FROM IN BETWEEN like weeds growing between stones Nelson Brissac SEEING FROM IN BETWEEN like weeds growing between stones patrocínio sponsorship 6 apoio de mídia media support organização organization realização realization 34 36 52 70 CENTRO Center ARNALDO PAPPALARDO MAURO RESTIFFE PIO FIGUEIROA 86 88 96 110 TRÂNSITO Traffic ARNALDO PAPPALARDO MAURO RESTIFFE PIO FIGUEIROA 126 128 148 164 PERIFERIA Periphery ARNALDO PAPPALARDO MAURO RESTIFFE PIO FIGUEIROA 182 EXPOSIÇÃO Exhibition 7 Five years ago, the Instituto Tomie Ohtake designed and held the first exhibition of a series focusing Brazilian architecture, in the wake of a few major exhibitions on the subject. With this initiative, the institution aimed to assert its interest in promoting debate and provide space for displaying contemporary productions in the field of architecture. Há cinco anos, o Instituto Tomie Ohtake idealizava e realizava a primeira das exposições de seu ciclo sobre a arquitetura brasileira. Tendo já se dedicado a algumas importantes mostras sobre o tema, a iniciativa vinha reforçar seu interesse em promover discussões e propiciar espaços à exibição do que de mais contemporâneo se produzia no campo da arquitetura. The first show of this series, curated by Abilio Guerra, addressed the adaptations introduced in international modernism for it to conform to the Brazilian cultural context and climate. Up until then, so-called Brazilian modernism was represented by emblematic projects and extensive documentation, thereby setting an important start for the approach to the series. The second exhibition was also meant to address reinterpretations and adaptations of Brazilian modernism. Curated by professor and architect Julio Katinsky, the show specifically dealt with living spaces found, for example, in buildings that included Parque Guinle, Conjunto Nacional, and the Pedregulho the National Assembly and the Pedregulho Housing Complex, among others. Com curadoria de Abilio Guerra, a primeira das mostras desse ciclo tratou das adaptações que o modernismo internacional havia sofrido frente ao contexto cultural e climático brasileiro. O que denominamos modernismo brasileiro vinha representado por projetos emblemáticos, com vasta documentação, configurando um importante começo à abordagem que o ciclo pretendia. Algumas releituras e adaptações do nosso modernismo seriam também abordadas na segunda dessas mostras. Com curadoria do professor e arquiteto Julio Katinsky, a exposição tratou especificamente de nossos espaços de convivência, exemplificados em edifícios como o Parque Guinle, o Conjunto Nacional e o Conjunto Habitacional do Pedregulho, entre outros. The third show, curated by André Corrêa do Lago, focused on a relationship that would bring future developments: architecture and photography. Seen in the two previous exhibitions, this theme evolved from ordinary questions: How to show projects to viewers? How to show the context of the cities in which these projects are implemented? A terceira edição, curada por André Corrêa do Lago, foi dedicada a uma relação que teria desdobramentos futuros: arquitetura e fotografia. Uma relação que já se fazia presente nas edições anteriores e que partia de perguntas comuns: como mostrar ao público os projetos produzidos e, mais ainda, como mostrar o contexto das cidades de que faziam parte? To answer these questions and bring to our galleries the significant historical cutouts of national architectural production, the curators pointed out a key aspect in all three exhibitions: the attendance of architectural photography motivated by the building as icon and stressing its role as landmark in the city. Nelson Brissac’s proposal for the current exhibition was at once intriguing and unique. Starting from the relationship between photography and the city, the curator put forth a dissonant hypothesis that changed the course of this series of exhibitions: the city does not expose itself to viewers. Brissac’s plan, which relied on the collaboration of three contemporary photographers, originated a series of group visits to some parts of São Paulo. These visits were intended not only to present some of the curator’s research areas to photographers Arnaldo Pappalardo, Mauro Restiffe and Pio Figueiroa, but also to allow them to “go hand-to-hand or one-on-one with the metropolis, from within the metropolis”, in Brissac’s words. The team of photographers, curator and their assistants covered many miles in the city of São Paulo – from downtown to outskirts. The underlying assumption was that, in their first contact with these places, photographers would produce records that explicitly revealed their apprehension of the local contexts. Thus, their practice in pedestrian scale, akin to renowned street photography, yielded a representative sample of their respective gazes. The photos captured during these trips were carefully selected for the exhibition and now are presented in extended mode in this book. A fim de responder essas perguntas e trazer aos nossos espaços o mais substancial desses recortes históricos da produção arquitetônica nacional, as curadorias apontavam para um aspecto que se tornou determinante em todas as edições: a presença da fotografia de arquitetura, bastante pautada pelo edifício como ícone e reforçando seu papel como marco na cidade. Curiosa e singular acabou sendo a proposta de Nelson Brissac para esta edição. A partir da relação entre fotografia e cidade, o curador mudou os rumos desse ciclo de exposições, assumindo uma hipótese dissonante: a de que a cidade não se dá a ver. A proposta, que previa a participação de três fotógrafos contemporâneos, originou uma série de visitas em grupo a algumas regiões da cidade de São Paulo. Esses percursos visavam não só a apresentar aos fotógrafos Arnaldo Pappalardo, Mauro Restiffe e Pio Figueiroa algumas áreas da pesquisa do curador, mas também permitir aquilo que Brissac denomina de “corpo a corpo com a cidade”. O grupo formado pelos fotógrafos, curador e assistentes percorreu muitos quilômetros da capital paulista – de sua região central à periferia. Partia-se do pressuposto de que os artistas, muitas vezes em seu primeiro contato com esses lugares, produzissem registros que explicitassem suas apreensões desses contextos. Da escala do pedestre, muito próxima às práticas já renomadas da fotografia de rua, eles trouxeram uma amostra basilar de seus olhares. Os resultados desses percursos foram criteriosamente selecionados para a exposição e, agora, são mostrados de modo estendido para a realização deste livro. MEIOVERFOREWORDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOAPRESENTAÇÃOMEIOVERDOMEIOVERDOM The Instituto Tomie Ohtake is extremely pleased with the developments of this initiative and convinced of the substantial photographic holdings that it has spawned. We wish to acknowledge sponsors Atlas and Souza Cruz, in addition to governmental officials of the Ministry of Culture and the Department of Culture of the State of São Paulo. Finally, our heartfelt thanks also go to the curator and photographers, all of whom have made such a wealth of results possible. Extremamente satisfeito com os desdobramentos desta iniciativa e convicto da substancial produção fotográfica que se segue, o Instituto Tomie Ohtake agradece aos seus patrocinadores Atlas e Souza Cruz, além das esferas governamentais do Ministério da Cultura e da Secretaria de Estado da Cultura. Finalmente, nossos efusivos agradecimentos também ao curador e aos fotógrafos, sem os quais tal gama de resultados não seria alcançada. INSTITUTO TOMIE OHTAKE INSTITUTO TOMIE OHTAKE 8 9 FALTA LARGURA 120CM 10 11 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOCOMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRASV SEEING FROM IN BETWEEN like weeds growing between stones VERDONELSONBRISSACVERDOMEIOVERDOMEI One of the most striking features of a contemporary metropolis is that it does not A different type of perception is being asserted here. The observer is constantly in Uma das características mais marcantes da metrópole contemporânea é ela não se Outro tipo de percepção afirma-se aqui. O observador está sempre em expose itself to viewers. Nothing is amenable to an individual’s sensory experience motion and bereft of stable points of reference. Fixed scales have been lost. There dar a ver. A morfologia da paisagem, o desenho urbano, o esquema das principais deslocamento, sem referências estáveis. Ocorre uma perda das escalas fixas. Não se – not the morphology of its cityscapes or skylines, not its urban design, not the are no longer any means of measuring elements by starting from any particular artérias e mesmo a localização dos diferentes bairros escapam à experiência dos tem mais como medir os elementos a partir de uma dimensão qualquer. As layout of its major arteries – not even the locations of different neighborhoods can dimension. References have no visual model that could be used by a stationary indivíduos, não se deixam apreender pela observação ocular. Olhamos para essa referências não têm um modelo visual, que possa servir a um observador imóvel be visually apprehended or observed. Nor can one look at a compact mass of outside observer. We have ongoing routes with no destinations in non-demarcated massa compacta de edificações e não conseguimos discernir a colina, o vale ou externo. Temos percursos contínuos e sem destinação em espaços não demarcados: buildings and discern a hill, a valley or a stream that it conceals. Nor can one spaces: all that remain are differentials of velocity, hold-ups and accelerations. mesmo o 1 por ela encobertos. Tampouco somos capazes de intuir, ao andar pelas tudo o que resta são diferenciais de velocidade, retardamentos e acelerações. Difícil visually sense, while walking along a street, where the routes of expressways and Such fluid and dynamic space is hard to chart. Administrative boundaries are of no ruas, por onde passam as avenidas e as linhas de trem que articulam os pontos mais mapear esse espaço fluido e dinâmico. Os limites administrativos não servem para rail tracks interconnecting more distant areas will cross that street. use to circumvent those imperceptible flows, these non-locatable relationships. distantes da cidade. contornar esses fluxos imperceptíveis, essas relações não localizáveis. O território passa a ser a distância crítica entre diferentes situações. Territory becomes critical distance between different situations. Como cartografar a geometria variável das megacidades? O espaço demarcado por How could the variable geometry of megacities be charted? Space demarcated by monuments, radial routes or borders imply views from afar, fixed distances, Optical devices have radically altered our geographic perception by projecting the monumentos, radiais ou fronteiras implica visão de longe, distâncias fixas, Os aparelhos óticos alteraram radicalmente nossa percepção geográfica. Eles centralized perspective. However, these new territories no longer contain points of image of a world that appears to be immediately accessible, albeit being perspectiva central. Nestes novos territórios, porém, não há mais referências. Apenas projetam a imagem de um mundo que, embora desconectado de nossa experiência reference, only continuously varying guidelines, resultant from surveys in motion. disconnected from our individual experience. Aerial overviews such as Google uma variação contínua de orientações, ligadas à observação em movimento. O individual, parece ser imediatamente acessível. As perspectivas aéreas – como o Space is not visual: there is no horizon, or perspective, or limit. No outline shape, Earth have redefined visual culture with their ambition of universal rhetoric, the espaço não é visual: não há horizonte, nem perspectiva, nem limite, contorno ou Google Earth – redefiniram a cultura visual, com sua ambição a uma retórica no center. We are always inside space, in its midst, in between one thing and illusion of absolute access to the world. Bringing close together ‘far-away’ with centro. Estamos sempre no seu interior, no meio. universal, a ilusão do acesso absoluto ao mundo. A aproximação do próximo e do another. ‘near-by’ abolishes our sense or knowledge of distances and dimensions. Territory We no longer go from one location to another; we take over a whole space from longínquo abole nosso conhecimento das distâncias e das dimensões. A apreensão can only be apprehended through instruments. There is a passage from vision to Não se vai mais de ponto a outro, mas se toma todo o espaço de um ponto qualquer. do território só pode se fazer por meio de instrumentos. Ocorre uma passagem da visualization. Topographic memory is replaced by a geometrical perspective. Não se trata mais da travessia, mas de um deslocamento sem destinação no espaço e visão à visualização. A memória topográfica dá lugar a uma ótica geométrica. no tempo. Ocupar um espaço aberto, com um movimento turbilhonário cujo efeito anywhere. We no longer go on a crossing or journey; we are displaced in space and time with no specific destination. We occupy an open space with whirlwind-like The concerns at stake here are the limits of figuration and the human mind’s pode surgir de qualquer ponto. Perde importância a localização geográfica: trata-se O que está em jogo aqui são os limites da figuração, a incapacidade da mente motion having an effect that may emerge from anywhere. Geographic location has inability to represent the mighty forces of nature and the metropolis. We do not yet de se espalhar por turbulência no espaço, ocupando-o em todos os pontos.1 humana para representar as enormes forças da natureza e da metrópole. Não temos lost importance: now it’s a matter of spreading across space by means of have the perceptual apparatus required to handle these new spatial dimensions. ainda o equipamento perceptivo necessário para enfrentar essas novas dimensões turbulence, occupying it entirely. 1 These disconcerting spaces rule out any use of the old language of volumes, since espaciais. Estes espaços desconcertantes tornam impossível o uso da antiga they cannot be apprehended. This mutation of space has surpassed the human linguagem dos volumes, já que não podem ser apreendidos. Esta mutação do espaço body’s ability to locate itself, to use sensory perception to organize surrounding ultrapassou a capacidade do corpo humano de se localizar, de organizar space, and to cognitively chart its position in the outside world. perceptivamente o espaço circundante e mapear cognitivamente sua posição no mundo exterior. 12 13 14 A new experience of the city’s technology is transcending all our old habits of Trata-se de uma nova experiência da tecnologia da cidade, que transcende todos os bodily-sensory perception. Disjunction between body and urban environment velhos hábitos de percepção corporal. Uma disjunção entre o corpo e o ambiente flags our inability to understand the contemporary metropolis’ complex urbano que indica nossa incapacidade de compreender os processos complexos de restructuring processes, or chart the huge global network of de-centered reestruturação da metrópole contemporânea, de mapear a enorme rede global de production and communication in which we are trapped as individuals. produção e comunicação descentradas em que estamos presos como indivíduos. All attempts to portray the city through street-level sensory experience – Todas as tentativas de retratar a cidade por meio da experiência da rua – a deriva Benjamin’s ambling flâneur, the Situationists’ affective settings or street benjaminiana, os planos afetivos dos situacionistas ou a street photography – photography – involved the expectation of renewing sensory perception. However, implicavam a expectativa de uma renovação da percepção. Mas, no universo there is no place for such renewal in the totally built-up and developed universe of totalmente construído e elaborado do capitalismo tardio, não há lugar para essa late capitalism.2 In the conventional city, individuals did have limited and renovação.2 Se na cidade tradicional a experiência limitada e imediata dos indivíduos immediate experience that was still capable of sustaining a comprehensive era ainda capaz de sustentar uma apreensão abrangente de sua forma e dinâmicas apprehension of urban form and social dynamics, but not any longer. sociais, hoje isso não ocorre mais. The legibility of a cityscape or skyline was formerly related to its ‘imaginability’, its A legibilidade da paisagem das cidades era relacionada à imaginabilidade, à ability of evoking a powerful image for observers. It presupposed visual references, capacidade de evocar uma imagem forte no observador. Pressupunha referências a sensory mastery over space that came from visual experience and observation. visuais, um domínio sensorial do espaço, mediante experiência e observação ocular. But their current configuration inhibits any attempt to mentally chart a cityscape. Mas a configuração atual impede o mapeamento mental das paisagens urbanas. As Cities no longer make possible for people’s imaginations to store a correct location cidades não permitem mais que as pessoas tenham, em sua imaginação, uma consistently with the rest of their urban fabric. The individual subject’s localização, correta e contínua com relação ao resto do tecido urbano. A experiência phenomenological experience no longer coincides with the place in which it takes fenomenológica do sujeito individual não coincide mais com o lugar onde ela se dá. happens. These structural coordinates are no longer accessible to immediate lived Essas coordenadas estruturais não são mais acessíveis à experiência imediata do experience and people no longer respect or hold them in esteem. There is a vivido e, em geral, nem conceituadas pelas pessoas. Dá-se um colapso da collapse of sensory experience as pre-assumption for any attempt to portray a city. experiência, pressuposto de todo empreendimento de retratar a cidade. Urban space is no longer ‘situatable’ – there is no precise inscription along O espaço urbano perdeu situabilidade – uma inscrição precisa em dimensões geographical dimensions accessible to individual experience. The problem at issue geográficas, acessíveis à experiência individual. Instaura-se um problema de now is the incommensurability between that which is built and that which is incomensurabilidade entre o construído e o projeto, o edificado e o entorno, os designed, building and surroundings, the different spaces of the city. Representing diferentes espaços da cidade. Torna-se impossível representar. O espaço hoje é is no longer possible. Today space is overwhelmed by more abstract dimensions sobrecarregado por dimensões mais abstratas, que a imagem fotográfica, por mais that no photographic image can cope with, no matter how wide-ranging it may be. abrangente que seja, não dá conta. Intensive rearrangements of urban settings pose new problems for perception and Os reordenamentos intensivos da paisagem colocam novos problemas de percepção representation. Here, mere observation is not a solution. We are faced with non- e representação. Aqui, simplesmente observar não é solução. Estamos defrontados visual space. Engagement with large scales leads to the immediate cityscape being com um espaço não visual. O engajamento com as grandes escalas leva à replaced by a new abstract cityscape with time-space scales that elude individual substituição da paisagem imediata por uma nova paisagem: abstrata, dotada de sensory experience. It introduces the idea of a ‘vision’ that takes in that which no escalas de tempo-espaço que escapam à experiência individual. Introduz a ideia de one single point of view can encompass. We see ever more images of cityscapes or uma ‘visão’ que abrange o que nenhum ponto de vista pode abarcar. Vemos cada vez landscapes that cannot be directly apprehended by the eye. A non-visual mode of mais imagens de paisagens que não podem ser apreendidas diretamente pelo olho. perception. Um modo de percepção não ocular. Control of visibility by cultural institutions and media is an attempt to determine O controle da visibilidade, pelas instituições culturais e pelos meios de difusão da the image of the city and its inhabitants. To decide what will be visible and what informação, visa determinar a imagem da cidade e dos seus habitantes. Delibera will be doomed to invisibility. A division of the sensory world prescribing that sobre o que é visível e o que está condenado à invisibilidade. Uma repartição do which is shared and common to all and that which is excluded. Enunciations sensível, fixando o que é partilhado, comum a todos, e o que é excluído. Os define regimes of sensory intensity, chart maps of the visible, relations between enunciados definem regimes de intensidade sensível, traçam mapas do visível, ways of doing and ways of seeing.3 relações entre modos de fazer e modos de ver.3 15 16 17 The dread of invisibility and obscurity of anonymity has been present since the Photography that engages in a clash with matter – as if physically operating on the O terror da invisibilidade, da obscuridade do anonimato, está presente desde o A fotografia que se engaja num embate com a matéria, como uma operação física advent of crowds as products of large cities. Baudelaire describes a man walking elements – comes closer to engraving. Here the photographic gaze has the advento da multidão, produto das grandes cidades. Baudelaire descreve um homem sobre os elementos, aproxima-se da gravura. Aqui o olhar fotográfico tem o ímpeto along a street and seeing a woman coming toward him. An epiphany tells him that momentum of gesture that will cut across surface and gain relief. Vision turned que ao caminhar pela rua percebe, vindo em sua direção, uma mulher. Uma do gesto que vai cortar a superfície, conquistar o relevo. A vista voltada para a linha this unknown person might be very meaningful for him. However, while he is still toward the horizon, but feet firmly planted on the ground. The photographer acts iluminação lhe diz o quanto essa desconhecida poderá significar para ele. Mas, do horizonte, mas os pés lastreados no chão. O fotógrafo atua sobre um mundo mulling over this, the woman goes by and vanishes into the urban vortex. Not by on a solid and unyielding world. He seems to be wielding a cutting tool. 5 enquanto ainda se dá conta disso, a mulher passa por ele e desaparece no torvelinho sólido e resistente. Ele parece empunhar um buril.5 urbano. Não por acaso o flâneur, aquele que desvela nos passantes a fisionomia da coincidence, the flâneur, he who senses physiognomy of the city in the faces of people passing by him, makes his way like a swordsman fencing through the The photographer is so irreversibly immersed in the city that looking is also crowd.4 ambling, visualizing is also tactile, feeling one’s way through walls. As if the act of cidade, abre caminho como um esgrimista por entre a multidão.4 O fotógrafo encontra-se inapelavelmente mergulhado na cidade, de modo que olhar é também andar, visualizar é tatear por entre muros. Como se o ato de ver acabasse seeing always led to tactile sensory experience of an object erected in front of him A metrópole contemporânea, ao intensificar ao máximo os dispositivos de sempre pela experimentação tátil de um objeto erguido diante dele e que fosse By maximizing exhibition devices to the utmost, the contemporary metropolis that has to be circumvented. Straddling visible and tangible. This dense field exposição, exacerba essa condição. A questão hoje é: como se fazer ver na cidade? A preciso contornar. Há um encavalamento entre o visível e o tangível. Esse campo exacerbates this condition. The issue today is how to make oneself visible in the between viewer and viewed is constitutive of its visibility. The gaze touches and proliferação dos selfies é uma manifestação da vontade dos indivíduos de atestar sua denso entre aquele que vê e a coisa que é vista é constitutivo de sua visibilidade. O city? The proliferation of selfies is a manifestation of the individuals’ desire to feels things: one is in the midst of the world. The world’s fabric is closely woven presença no epicentro dos eventos. Apropriar-se do espaço público pela imagem, olhar apalpa as coisas: estamos no meio do mundo. O tecido do mundo é cerrado prove their presence at the epicenter of events. A desire to appropriate public like dense vegetation, binding color, volume, roughness or smoothness, hardness inscrevendo o próprio retrato na paisagem urbana. Como já se vinha fazendo com os como uma vegetação espessa. Enlace de cor, volume, rugosidade ou lisura, dureza ou space through image, inscribing one’s self-image on the cityscape in the same way or softness, binding us to everything around us: vision (takes place or materializes) grafites e as tatuagens: inscrições de indícios, marcas de identidade e rastros de moleza. Laço que nos ata a tudo ao redor: a visão se faz do meio das coisas. that graffiti and tattoos had been doing, i.e., inscribing signs, markers of identity in between things. presença, no corpo e na paisagem. Ver, então, não é ver a partir de um ponto de vista, mas de todos. Olhar um objeto é and traces of presence on the body and on the cityscape. Therefore, seeing is not seeing from a single point of view but from all of them. To Hoje a cidade se fotografa, ininterruptamente, de todos os ângulos possíveis. O mergulhar nele. Os objetos circundantes tornam-se horizonte, a visão é um ato dos Cities are now being photographed all the time, from all possible angles. From the look at an object is to be immersed in it. Objects around one become his horizon; retrato e a pintura de paisagens foram, desde o Renascimento, uma prerrogativa do dois lados. Ver um objeto é ir habitá-lo e dali observar todas as coisas. Mas como Renaissance onwards, portraiture and landscape painting were the prerogatives of vision is a two-sided act. Seeing an object is going there to inhabit it and observing poder e do dinheiro. Agora, ao mesmo tempo em que se vive sob a sensação de também nelas estou virtualmente situado, tomo de diferentes ângulos o objeto de the powerful and the wealthy. Today, while our lives are governed by a sensation of everything from there. Nevertheless, since I am also virtually situated in them too, I anonimato e obscuridade, o Instagram produz um fluxo contínuo e avassalador de minha observação. A visão é localizada, uma relação entre objetos situados no anonymity and obscurity, Instagram produces a continuously overwhelming flow take the object of my observation from different angles. Vision is localized, it is a imagens de rostos e paisagens. A cidade se fotografa sem parar. mundo.6 of images of faces and landscapes. The city is being photographed non-stop. relationship between objects situated in the world.6 Ocorre uma dispersão do ponto de vista, não mais centralizado no indivíduo, Essa condição se define assim: estar no meio, como o mato que cresce entre as There is dispersion of point of view, no longer centered in the individual as This condition is described as being in between like weeds growing between paradigma da perspectiva, instrumento da homogeneização do espaço. O resultado pedras. Mover-se entre as coisas e instaurar uma conexão entre um ponto qualquer paradigm for perspective, means of homogenizing space. The result is a rocks. Moving between things and instating a connection between any point and é a multiplicação dos pontos de vista. A cidade surge como um caleidoscópio, uma e outro ponto qualquer. Sem começo nem fim, mas entre. Uma zona de multiplicity of points of view. The city emerges like a kaleidoscope, a conjunction any other point. Having neither beginning nor ending, only in-between. A zone of conjunção de modos de ver, em que não existe mais um referencial dominante. Não indiscernibilidade, em que se apagam todos os limites, todas as fronteiras. O meio é of ways of seeing in which there is no longer a dominant point of reference. There indiscernibility in which all boundaries and borders are wiped out. In between is existe mais uma maneira instituída de ver a cidade, prescrita pela pintura e pela o lugar onde as coisas adquirem velocidade.7 is no longer an established way of seeing a city prescribed by painting and where things pick up speed.7 fotografia. Nesse novo contexto da produção contínua de imagens, qual o significado da fotografia? Qual é o papel, hoje, do fotógrafo? photography. In this new context of continuous production of images, what is the meaning of photography? What is the photographer’s role today? Ver do meio da cidade, por entre as coisas. Ocupar o território pelo meio, transbordar, como um rio sem margens. Os fotógrafos fizeram expedições que Seeing from within the city, from between things. Occupying territory from within, overflowing like a river that has no banks. Photographers set out on expeditions Por que, então, fotografar? Como abordar, fotograficamente, São Paulo? O trabalho partiram em todas as direções, ramificando, espraiando-se pela cidade como uma So what is the point of taking pictures? How should São Paulo be approached in that moved in all directions, branching out and sprawling across the city like a proposto aos três fotógrafos – Arnaldo Pappalardo, Mauro Restiffe e Pio Figueiroa inundação. Uma trama de percursos que se cruzavam sem parar. Na metrópole, photographic terms? Three photographers – Arnaldo Pappalardo, Mauro Restiffe flood. A network of routes constantly crisscrossing. In a metropolis, we are always – foi apreender a cidade desde suas ruas e veículos. Imersos nas situações que estamos sempre no meio. and Pio Figueiroa – were asked to apprehend the city from its streets and vehicles, in the middle, always in between. experimentam cotidianamente seus habitantes. Sem recorrer a nenhum ponto de immersed in situations that the city’s inhabitants routinely experience in their vista privilegiado, nenhum recurso técnico que permita uma visão abrangente, de Não podendo ver de longe, a que distância observar a paisagem? Como medir essa everyday life. They were not to resort to any privileged vantage point of view or Given our inability to see from afar, from what distance are we to observe longe. Em vez de fotos aéreas, um olhar da superfície, do plano da vida urbana. distância? Como o fotógrafo estabelece a distância para ver a paisagem, quando na technical device enabling comprehensive vision from afar. Instead of aerial photos, cityscape/landscape? How is this distance to be measured? How is a photographer Travar um corpo a corpo com a metrópole, de dentro dela. metrópole se está sempre no meio, sem parâmetros de escala para avaliar as they should convey gazes coming from the surface or ground level of urban living, to set the distance for seeing cityscape if the metropolis is always in the middle or dimensões? A questão do perto e do longe, da vizinhança e da distância, da latitude going hand-to-hand or one-on-one with the metropolis, from within the in between, lacking scale parameters to assess dimensions? The question of near e da longitude, se coloca em toda operação contemporânea de retratar a cidade. metropolis. and far, neighborhood and distance, latitude and longitude, is posed by every contemporary operation portraying cities. 18 19 20 How can we see from inside extensive fragmented spaces, whose design or pattern Como ver do interior de espaços muito amplos e fragmentados, cujo desenho não cannot be sensed from any of their points? One of the strategies adopted by the podemos intuir de nenhum de seus pontos? Uma das estratégias adotadas pelos photographers was to get closer to local people and portray them. To observe fotógrafos foi aproximar-se e retratar os habitantes. Observar esses personagens these characters from close up, almost extracting them from the urban bem de perto, praticamente extraídos do entorno urbano em que foram capturados. environment in which they were captured. As if those bodies, clothes and attitudes Como se aqueles corpos, vestimentas e atitudes traduzissem, neles mesmos, todo themselves translated a whole world. A city reflected in a face. um mundo. A cidade refletida num rosto. After all, we know that the face may be portrayed as outline or as scattered traits Pois sabemos que o rosto pode ser retratado ou como um contorno ou por traços and fragmentary lines that go beyond contour and shape an entire cityscape- dispersos, linhas fragmentárias que escapam ao contorno e configuram toda uma landscape. Close-ups are not cutouts; they wrench a face away from its spatial- paisagem. O close-up não é um recorte, ele arranca o rosto de suas coordenadas temporal coordinates to constitute a territory, taking along with them a fragment of espaço-temporais para constituir um território. Ele traz consigo um fragmento de sky, cityscape-landscape from which face is composed. It’s like short-circuiting céu, de paisagem, com o qual o rosto se compõe. É como um curto-circuito do near and far. 8 próximo e do longínquo.8 If a face can be apprehended in cityscape-landscape, the latter may also be Se o rosto pode ser apreendido na paisagem, a paisagem também pode ser captada captured in the human face. There is no physiognomy that does not host an no rosto humano. Pois não há fisionomia que não acolha uma paisagem unknown landscape; there is no landscape that does not develop a face. desconhecida, não há paisagem que não desenvolva um rosto. A paisagem só se Landscape reveals itself only to a photographer capable of capturing its revela ao fotógrafo que sabe captá-la em sua manifestação anônima num rosto anonymous expression on a human face. Individuals who do not intend to reach humano. Indivíduos que não pretendem chegar à posteridade pelas fotografias e, posterity through photographs and, therefore, convey their entire everyday world por isso mesmo, transportam para as imagens todo o seu mundo cotidiano. Trata-se into images. It is a matter of catching the precise instant in which the subject de flagrar esse momento em que o sujeito se inteira da fisionomia da cidade e, ao speaks to both, the city’s physiognomy and to himself. His face then mimetically mesmo tempo, de si mesmo. Seu rosto então assemelha-se mimeticamente à cidade resembles the city in which he lives. 9 que ele habita.9 The face dictates a distance to the photographer, a specific setback required to O rosto impõe uma distância ao fotógrafo, um recuo específico que se deve ter para portray its features. In the absence of parameters for localization in a city, the face retratar suas feições. Na falta de parâmetros de localização na cidade, o rosto establishes a relationship between observer and what is seen: the shortest estabelece uma relação entre o observador e aquilo que ele vê: a distância mais distance. A person photographing individuals in a crowd moves from close-up to curta. Aquele que fotografa indivíduos na multidão desloca-se de perto em perto, de close-up, from one face to another immediately next to it. um rosto a outro, imediatamente ao lado. Another approach is to focus on urban-scapes and their events. Here, built horizon Outra abordagem consiste em enfocar paisagens urbanas e seus eventos. Aqui é o is blocking all perspective, which determines the distance for observation. In wide- horizonte construído, bloqueando toda perspectiva, que determina a distância da angle views, or longer shots, there is a mass of concrete walls in downtown areas, observação. Nos planos abertos, as tomadas feitas mais de longe, ergue-se o whereas there are breezeblocks in low-income peripheral areas. The cityscape paredão de concreto da área central e o muro de blocos nas periferias. A paisagem lacking plaster that absorbs everything into its material texture. Contours are once sem reboco que absorve tudo na sua textura matérica. Os contornos são mais uma again overflown, images are granulated gray- or color fields. The built object/area vez transbordados, as imagens são campos granulados de cinza ou cor. O construído dictates where it must be seen from, if and when it will allow itself be seen. Seeing estabelece de onde ele deve ser visto, quando é que ele se deixa ver. Ver de longe é from afar is like seeing from close up. Panoramas are like close-ups. como ver de perto. A panorâmica é como o close. LARGURA 30CM 21 LARGURA 50CM 22 23 Between viewer and viewed there a relationship develops that involves moving Entre aquele que olha e aquilo que é olhado se estabelece uma relação de away into the distance and coming closer, thus creating a space in which these two distanciamento e aproximação, cria-se um espaçamento onde se articulam essas instances are articulated. A woven-fabricated interval-range of onlooker and duas instâncias. Um intervalo tramado do olhante e do olhado. A distância surge looked-at. Distance emerges as scanning or shuttling back and forth between como uma varredura ou ir e vir entre nós e as coisas. Ela emerge no meio. O poder ourselves and things. Distance emerges in the middle, in between. The power of da distância que a fotografia combate, nos aproximando de tudo. O olhar estabelece distance that photography combats by getting us closer to everything. The gaze esse jogo do próximo e do longínquo.10 establishes this game of near and far. 10 Dado que as paisagens urbanas são indeterminadas, em geral sem limites claramente Since cityscapes are indeterminate and usually lack clearly established limits, how estabelecidos, como abarcar o espaço? Como demarcar uma extensão, o seu can space be approached? How to demarcate an extension or its outline? How to contorno? Como medir um espaço desde o seu interior? Como abranger o espaço measure a space from inside? How to apprehend space in such a way that an de modo que o observador perceba a distância entre seus elementos como observer is able to perceive distances between its elements as constituting a field? constituindo um campo? Como definir um limite numa dada extensão?11 How can a limit be set to a given extension? 11 É a tentativa de duas pessoas, andando em direções opostas, de manter-se Two people are walking in opposite directions trying to keep each other in sight, mutuamente no campo de visão, apesar da curvatura do terreno, que permite uma despite the land’s curvature, which enables a topological definition of space. It is a definição topológica do espaço. Trata-se de um esquema de paralaxe. Paralaxe é a matter of parallax, the altered angular position of two stationary points relative to alteração da posição angular de dois pontos estacionários relativos um ao outro each other when viewed by an observer in motion. It is the apparent alteration of como vistos por um observador em movimento. É a alteração aparente de um objeto an object against a background due to the viewer’s motion. Vision is determined contra um fundo devido ao movimento daquele que vê. A visão é determinada pela by the moving observer’s position in relation to the other, who is also being posição do observador em movimento em relação a outro, que também está se displaced. deslocando. It is a matter of understanding how the world appears to individuals who are Trata-se de entender como o mundo se mostra aos indivíduos que se movem uns moving in relation to others. Limits are set by the maximum distance two people com relação aos outros. Os limites são determinados pela distância máxima que can be placed apart on terrain without losing sight of each other. The possibility of duas pessoas podem ocupar no terreno, sem perderem-se de vista. A possibilidade two people observing each other establishes a frame of reference; it is a way of de duas pessoas observarem-se reciprocamente estabelece um quadro de determining distances, setting limits to space. The problem of apparently referência, é um modo de determinar as distâncias, os limites do espaço. O undifferentiated cityscape/landscape is to find a way of encompassing its volume. problema da paisagem, que parece indiferenciada, é encontrar um modo de abarcar o seu volume. The result is a means of measuring and self-positioning, given the territory’s indetermination. A way of determining distances in a non-delimited area. The O resultado é um modo de medir, de se posicionar, dada a indeterminação do horizon is given by the possibility of maintaining this reciprocal perspective. This território. Estabelecer distâncias numa área não delimitada. O horizonte é dado pela notion of internal horizon created by interweaving perspectives determines possibilidade de manter esse ponto de vista recíproco. Essa noção de horizonte transitional relations as depending on one’s position relative to another person. An interno, criado pela trama de perspectivas, determina relações transitórias, observer is never presumed stationary but moving into positions that are dependentes da posição relativa ao outro. O observador não é nunca suposto continually changing in relation to the horizon. 12 estacionário, mas em movimento, em posições que mudam continuamente em relação ao horizonte.12 24 25 And then there is the issue of being in between, amid things, without a privileged The notion of distance, which requires measuring, opposes the purely topological Estar no meio, entre as coisas, sem um ponto de vista privilegiado. Não se começa A noção de distância, que exige mensuração, se opõe à de vizinhança, puramente point of view. A drawing of a geometrical figure that would subsequently be notion of neighborhood or proximity. Topological space assesses without por um plano, um desenho de uma figura geométrica que seria depois apreendida topológica. O espaço topológico é aquele que se ocupa sem medir. Esse espaço só apprehended by an aerial view from above does not start from a plane. A drawing measuring. This space has only homogeneity between infinitely close points, and por uma vista aérea, do alto. Partir não do plano, mas da elevação. O que se ergue possui homogeneidade entre pontos infinitamente próximos, e a conexão das must start from elevation rather than surface – that which is erected in front of vicinities are interconnected independently of any given route. It is a space of diante dos nossos olhos, o que obstrui a visão. Essa distinção de plano e elevação vizinhanças se faz independentemente de qualquer via determinada. É um espaço de one’s eyes and blocks one’s view. This distinction between surface and elevation small contact actions that can only be explored by gradually moving from close- corresponde à diferença entre o jardim francês e o jardim inglês. O paisagismo pequenas ações de contato, que só se pode explorar avançando progressivamente, corresponds to the difference between French and English gardens. The former near to close-near.16 francês, geométrico, permite que de qualquer ponto se apreenda o todo. Já o jardim de perto em perto.16 inglês, cortado por aleias em curvas, é dominado por árvores que impedem que um features geometric landscaping that allows the whole to be apprehended from any vantage point. The latter is cut across by curved paths and dominated by trees that Territory is taken from the local level of surface inhabitants and their measuring único ponto de vista abarque todo o terreno. Há sempre um obstáculo diante do O território é tomado a partir do nível local dos habitantes da superfície e de seus prevent one single point of view from encompassing the whole site. There is processes. Space locally has a geometry that varies from point to point. This observador, obrigando-o a se deslocar para ver. Em vez de um olhar estático, tem-se processos de medida. O espaço possui localmente uma geometria que é variável de always an obstacle in front of the viewer, forcing him to move aside so he can see. approach contrasts with the extrinsic point of view, the view from the outside, in uma visão peripatética, em que a percepção que se terá do jardim não provém de ponto a ponto. Essa abordagem contrasta com o ponto de vista extrínseco, a visão Instead of static gaze, there is peripatetic view in which sensory perception of the which curvature means the way in which space is curved within a larger space. We uma única imagem, mas será a soma, na mente do observador, de vários pontos de de fora, onde a curvatura significa a maneira como o espaço se curva num espaço garden does not come from a single image but from the sum-total of several points are always inside, in between or in the middle, with a merely local view. vista. A observação se faz em movimento. Essa paisagem é para ser “vista com os maior. Estamos sempre no seu interior, no meio, com visão apenas local. pés”. 13 of view in the observer’s mind. Observation takes place in motion. This landscape is to be appreciated “on the move.” 13 A noção de vizinhança implica outro modo de avaliar as distâncias. Trata-se de The notion of vicinity implies a different way of judging distances by determining proximity without a need for distance and quantity to measure it. Topology uses O traçado é desenhado a partir do terreno, por alguém que caminha por ele. Nos determinar a vizinhança sem precisar da distância e da quantidade para medi-la. A Layout is drawn based on terrain, by somebody walking over and around it. When inside, outside and between, orientation and direction (to, before, after), vicinity mapeamentos de territórios com grandes curvaturas, trabalha-se com medidas feitas topologia usa o dentro, o fora e o entre, a orientação e a direção (para, antes, mapping territories with large curvatures, we work from measurements made on (near, upon or over, next to), extension, size: realities that are not measured. nas próprias superfícies, sem considerar nada fora delas. A distância entre dois depois), a vizinhança (perto, sobre, a seguir), o prolongamento, a dimensão: the surfaces themselves, without considering anything outside of them. The Relations of proximity, moving away, accumulation: positions. Metric geometry pontos é definida por relações de equidistância: ou é igual à distância entre outro realidades sem medida. Relações de proximidade, de afastamento, de acumulação: distance between two points is defined by relations of equidistance: it is either establishes distances apprehended by vision while tactile topology reveals par de pontos, ou a primeira distância é maior ou menor que a outra. posições. A geometria métrica instaura as distâncias apreendidas pela visão, ao passo equal to the distance between two other points or one distance is greater or lesser vicinities or proximities. 17 14 que a topologia, baseada no tato, revela as vizinhanças.17 É um procedimento de avaliação das distâncias por medidas transitivas, próprias de than another. 14 Paradoxical as though it may seem, photographers of the metropolis proceed uma topologia de curvatura variável. Ao caminhar por entre as coisas, percebemos o O fotógrafo da metrópole procede, ainda que possa parecer paradoxal, It is a procedure of assessing distance by transitive measures corresponding to a topologically. Like surveyors, they create a field inside a city in which they can see. seu ordenamento, podemos avaliar qual está mais próxima e qual a mais distante, topologicamente. Como um topógrafo, ele cria um campo, dentro da cidade, onde variable-curvature topology. By moving amid/between things, we can sense their Establishing relations of proximity or vicinity between things. Immediately independentemente de uma grandeza exata. Uma espacialidade baseada em consegue ver. Estabelecendo relações de proximidade, de vizinhança, com as coisas. ordering and assess which are nearest and which farthest, irrespective of any proximate faces and landscapes, for which they can determine a suitable setback to relações de contiguidade, que permitem estabelecer rigorosamente que um ponto Rostos e paisagens imediatamente próximos, em relação aos quais ele pode precise magnitudes. A spatiality based on relationships of contiguity, allowing us to capture their features. They move from close to close, as if using a tactile sense or está próximo a outro, mas não exatamente por quanto, visto que essa separação determinar um recuo adequado para capturar seus traços. Ele avança de perto em rigorously determine that one point is close to another, but not exactly how close, feeling. This proximity enables them to measure distance separating things. pode ser ampliada ou reduzida. Uma operação própria a superfícies em variação perto, como que tateando. Uma proximidade que lhe permite medir a distância que contínua. o separa das coisas. encompassed? How can that which cannot be measured, due to its scale, be Relações de intervalo, em vez de distância. Porém não há um intervalo definido Como ver a metrópole? Como abarcar esse território que resiste à observação? Interval relations rather than distance relations. However, there is no defined apprehended? Vast distances are not to be assessed directly. They cannot be entre eventos distantes, só entre eventos muito próximos um do outro. O caminho Apreender o que, em razão da grande escala, não pode ser medido. Vastas distâncias interval between distant events, only between events that are very close to each encompassed by the gaze; they cannot be traveled: they are beyond sensory vai de um ponto a outro vizinho. Os pontos, independentemente do intervalo, têm não se medem diretamente. Não se pode abarcá-las pelo olhar, não podem ser other. The path from one point to another neighboring point. Whatever the experience. uma ordem. Num caminho, um ponto pode estar entre dois outros que estejam percorridas: elas escapam à experiência. since this separation may be lengthened or shortened. An appropriate operation for continuously varying surfaces. How is the metropolis to be seen? How can its territory so averse to observation be perto dele. O intervalo é uma relação entre dois eventos vizinhos, mas não é dado interval, there is an order to the points. A point on a path may be between two others that are close to it. The interval is a relationship between two neighboring If spaces are of such magnitude that they are beyond visual perception, how may de antemão que sabemos como medi-lo. Contudo, supomos que os eventos têm Apreender grandes dimensões, espaços tão extensos que escapam à percepção events, but there is no way of giving an assurance beforehand that we will know they be apprehended? This question has repeatedly been posed by scientists. Is uma ordem. Podemos dizer que certo evento está mais perto de outro que um visual, é uma questão reiteradamente colocada pela ciência. A Terra se move? Não how to measure it. However, we presume there is an order of events. We may say the earth moving? If we cannot get away from the planet to watch it spinning, this terceiro, de modo que, antes de fazer medidas precisas, pode-se falar da vizinhança podemos nos afastar da Terra para vê-la girando, essa constatação tem de ser feita that one event is closer to another than a third, so instead of taking precise observation has to be made on Earth itself. An observer on the planet cannot see de um evento. da Terra. Não é possível, para um observador situado no planeta, perceber o measurements we may speak of the proximity or neighborhood of an event. 15 the Earth rotating. Any motion attributed to Earth by its inhabitants, participating in movimento de rotação da própria Terra. Qualquer movimento que seja atribuído à the same motion, is totally invisible to them, as if it did not exist.18 It is a matter of Terra, por seus habitantes, logo participantes do mesmo movimento, é para nós apprehending that which cannot be observed directly. totalmente imperceptível, como se não existisse.18 Trata-se de apreender o que não 15 se pode observar diretamente. 26 27 FALTA LARGURA 60CM 28 29 Experiments performed on earth itself will not show whether the planet is at rest or Seeing from the ground, from the surface. This approach corresponds to the Por experiências realizadas na própria Terra não se poderia descobrir se ela está em Ver do chão, da superfície. A abordagem corresponde à percepção que tem o in constant motion. An observer on a ship or a spaceship does know whether it is perception of a city dweller. Seeing from another dimension, from outside, is repouso ou em movimento constante. O observador, num navio ou numa nave habitante da cidade. Não é possível ver de outra dimensão, de fora. É a questão que falling or accelerating. There is no way of distinguishing between acceleration and impossible. This question has always been posed when it comes to measuring espacial, não sabe se está caindo ou em movimento acelerado. Não há como sempre se colocou quando se trata de medir a distância entre as coisas, de a gravitational field.19 This issue concerns the need for an observer to locate his distances between things and apprehending the dimensions of large-scale spaces distinguir entre aceleração e um campo gravitacional. Essa questão diz respeito à apreender as dimensões do espaço, as grandes escalas, as ilimitadas extensões position (determine his motion) without referring to a larger dimension, without or the boundless extensions of metropolitan regions and landscapes. necessidade do observador em se localizar (determinar seu movimento) sem metropolitanas e da paisagem. 19 remeter a uma dimensão maior, sem ver de fora. seeing from outside. Essa é a proposta deste projeto. O desafio colocado aos fotógrafos, os Hence the proposition of this project. The challenge posed for photographers How then can formats of large tracts of land or the shape of the Earth be involved procedures that they had to (naturally) adopt to cope with flattened Como, então, apreender o formato de grandes extensões de terreno, a forma da procedimentos que tiveram (naturalmente) de adotar para enfrentar a topografia apprehended and determined from within, from our position on the planet’s metropolitan topography. Instead of relationships with external elements or a third Terra? Como determiná-lo desde o seu interior, do solo, da superfície do planeta? aplainada da metrópole. Em vez de relações com elementos externos, de uma surface? Gauss devised procedures for surveying large surface areas and terrestrial dimension, it means analyzing only flat interactions. A two-dimensional world Gauss estabelece os procedimentos para o levantamento topográfico de grandes terceira dimensão, analisar apenas interações planas. Um mundo bidimensional, feito relief. Areas must be covered by a grid of triangles with their vertices visually made only of lines. An alternative topology: continuous connections that enable territórios, para desenhar o relevo terrestre. A área deve ser coberta por uma trama só de linhas. Uma topologia alternativa: conexões contínuas que permitem a connected. The task consists of accurately establishing interconnections and local near-to-near interactions with other places. de triângulos cujos vértices são conectados visualmente. O trabalho consiste em interação local, de perto em perto, com outros lugares. estabelecer a trama e determinar os ângulos com precisão. Cada ponto de determining angles. Each point of triangulation must be visible from at least two directions. A topographical map will then be based on visually determined Keeping landscape flat and forcing the observer to stay in their local position triangulação tem de ser visível desde ao menos duas direções. O levantamento Manter a paisagem plana e obrigar o observador a ficar junto ao sítio local, em vez distances.20 instead of leaping above or over it. This is a new topographical relationship topográfico, então, seria baseado em distâncias determinadas visualmente.20 de saltar por cima dele. Trata-se de uma nova relação topográfica entre o pequeno e o grande, perto e longe. Uma mudança de topografia, conformando sítios visíveis e between large and small, near and far. A changed topography conforming visible, However, this operation meets with a number of difficulties such as flat coastal traceable sites. There is nothing that is not local. Topography consists of seeing Mas a operação se defronta com muitas dificuldades: as áreas costeiras são planas e rastreáveis. Não há nada que seja não local. A topografia consiste em considerar areas covered by forest obstructing any view from a distance. Locations for elements as local and connecting them, flattening them, and making connections. cobertas por florestas, impedindo a visão a grande distância. A fixação de marcos como locais os elementos e conectá-los: aplainar. Estabelecer conexões. A paisagem trigonometric markers cannot be equated by using a direct visualization device. To Landscape is flattened, forcing observers to move on without leaps or interruptions trigonométricos não pode ser equacionada por meio de um dispositivo de se achata, obrigando o observador a seguir sem saltos nem quebras, como num visualize a very extensive territory, the geometry of the terrain has to be explored as in two-dimensional space. Learning to navigate this flattened space, seeing it visualização direta. Para visualizar um território muito extenso deve-se explorar a espaço bidimensional. Aprender a navegar nesse espaço aplainado, a ver de dentro.22 from within it, seeing how things would appear to someone living in a two- from the inside.22 geometria do terreno desde dentro, considerando como as coisas apareceriam a alguém vivendo num espaço bidimensional. dimensional space. Mapear em grandes escalas exige apreender o que não pode ser medido diretamente. Não há como visualizar intuitivamente a forma do espaço em que Large-scale mapping involves apprehending that which cannot be measured In a metropolis, we are like the two-dimensional beings in the famous 19th-century directly. There is no way of intuitively visualizing the shape of space in which we Na metrópole somos como os seres bidimensionais de Flatland (O país plano), a estamos mergulhados. A curvatura da superfície não é perceptível para quem está English novel Flatland that portrays a flat world.21 A world in which creatures move are immersed. The curvature of a surface cannot be perceived by anyone placed on famosa novela inglesa do século XIX que retrata um mundo plano.21 Um mundo em nela. Para saber se ela é plana ou curva, é preciso fazer medições na própria freely but are unable to rise above or descend below the surface. All an inhabitant it. To find out whether it is flat or curved, you would have to make measurements que as criaturas se movem livremente na superfície, mas sem poder se elevar acima superfície. Ver do meio, de perto em perto. Explorar a paisagem plana. of this flat world can see are profiles, points and straight lines. There is no up or on the surface itself. See from inside, from in between, from close to closer. ou mergulhar abaixo dela. Na condição de habitante desse mundo plano, tudo o que down, in or out. To be apprehended, solids would have to be seen from outside. Explore flat landscape. se pode ver são perfis, pontos e linhas retas. Não existe acima ou abaixo, dentro e O fotógrafo percorre a cidade obedecendo a essa geometria, seguindo suas linhas fora. Para serem apreendidos, os sólidos precisariam ser vistos de fora. Sem poder (a geodésicas, acompanhando a curvatura do terreno. Ele avança pela metrópole como Being unable (in principle) to observe the city from outside and from above in everyday life, urban inhabitants get their bearings by looking between buildings, Photographers obey this geometry when moving across a city and following its princípio), na vida cotidiana, observar a cidade de fora, do alto, seus habitantes se o artesão segue a matéria, atento aos veios de minério na montanha, ao talhe through fissures between streets in peripheral areas. Through the small number of geodesic lines and the curvature of terrain. They move through a metropolis just as localizam olhando por entre os prédios, pelas frestas das ruelas da periferia. Pelas variável na pedra e ao comportamento do metal conforme a temperatura. O perspectives posed by expressways, riverbanks and railroad tracks. artisans track material, watching for ore-bearing veins on a mountain, seeing how poucas perspectivas abertas por avenidas, marginais de rios e ferrovias. fotógrafo segue a cidade. rock varies when carved, or how a metal behaves at different temperatures. The Is large-scale space flat? What about physical space beyond the bounds of sensory 30 photographer tracks the city. O espaço em grande escala é plano? O que ocorre no espaço físico muito além da experience? Curvature is not apparent to those who are on its surface. They would experiência? A curvatura de uma superfície não é aparente para quem está nela. É have to determine the properties of a curved surface from measurements made preciso determinar as propriedades de uma superfície curva a partir de medições entirely on the surface itself, without referring to a third dimension. Flattened feitas inteiramente na própria superfície, sem remeter a uma terceira dimensão. Os beings determine the geometry of their universe without leaving two-dimensional seres achatados determinam a geometria do seu universo sem sair do espaço de space or looking at the sky, because they do not know its height. The shortest duas dimensões, sem olhar para o céu, pois eles não conhecem a altura. No seu distance in their universe is not a straight line, which is not part of their experience, universo, a distância mais curta não é uma reta, de que não têm nenhuma but a curved line or geodesic. experiência, mas uma linha curva, uma geodésica. 31 LARGURA 50CM 32 33 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOV VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI OMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOCENTERCENTROMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO IOCOMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRASVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER `EIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM 34 35 Arnaldo Pappalardo’s photos of downtown São Paulo feature color – mostly pastel hues – organizing urban space, which is usually perceived as just a concrete-gray world. The cityscape is powerfully shaped by dashes of very subtle color, sometimes washed out or faded. Contradicting the impression these photos might immediately convey – through their orthogonal lines dominating built environment and highly precise formal composition –, their highlight feature is coloring rather than drawing. Color is the retraction of outline, of lines demarcating space and perspective. In colorful images, landscape emerges resonating like chromatic tone overflowing the line’s abruptness. The city turns into a color field. The metropolis is the paradigm of saturation. Stuck to the wall and sliding over its surface, the eye no longer sees. Gazeless vision is tactile, occupied with materials, struggling with the weight and inertia of things. Color here is a constituent component of material. Red referring to density emerges from a redness in which we are immersed. It is a momentary crystallization of color spotted between red objects. The dense field of reds is as impenetrable as dense vegetation resulting from binding color, volume, roughness and hardness.24 Thus, the photographer draws out the city’s colors and tears them away from indistinct background, weaving fabric that enables each color to emerge. Painting depicts avalanches and storms, imbalances of things falling apart. Composition disintegrates, lacking any form to conserve its integrity. The act of painting goes through catastrophe to engender color. Cézanne distinguishes three stages of painting. One of chaos and indistinctness, from which surfaces, geometry and geology will arise. The next dominated by gray, colors blending in a swamp from which no color arises. Finally, it is time for color to burst out; gray bringing green and red, a matrix of dimensions and colors.25 The city is this chaos, an indistinct mass from which color arises. Colors are modulated and eager palette restrained, its basic spectrum making color emerge under a form yet to be determined, thus solving the problem of subdued earthy colors. The grayishness of walls and floors is reconstituted by dabs of pure tones. Developing bright color through brief sequences of different hues. These photos show color protruding subtly between concrete garrets. Skyline pictures shot by a Nikon D800E with a (rather old) 560 mm Leica zoom lens are seen from afar. Arnaldo Pappalardo uses a very slow shutter speed and works from a great distance. The photographer keeps his distance but all we see is a big concrete wall, no ground or sky. A wall with endless recesses, a pictorially dense collage of shapes and tonal variations. Cézanne sought to apprehend gravity, lending visibility to its power of swaying mountains and the thermal force of landscapes. There is a catastrophe in the painting, as if a giant Sahara were introduced to disrupt the masterful optical organization – an introduction of new distances and new scale relations between figurative lines. The optical horizon, reverted on tactile ground, is replaced by soil.26 The engraver’s landscape is the outcome of struggling with the medium. Whereas painting allows light to be seen, engraving battles limits, fights against the wall. Hence the use of a burin rather than eyes: studied vision, hard-gained relief. The engraver’s landscape is plowed earth. Although usually associated with light, color here becomes an activity of the medium. Monet’s Rouen Cathedral was painted like sponge soaking up ocher twilight into its pore-stones. The painter roots color in the medium.27 The photographer here appears to be working a burin. OMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO Nas fotos de Arnaldo Pappalardo da região central de São Paulo, a cor, quase sempre pastel, organiza o espaço urbano, normalmente percebido apenas como um mundo de concreto cinza. Traços de cor, muito sutis, por vezes até esmaecidos, conformam fortemente a paisagem. Ao contrário do que essas fotos possam de imediato sugerir, dadas as linhas ortogonais que dominam a paisagem construída e a precisão da composição formal, aqui a importância é dada à cor, em detrimento do desenho. A cor é a retração do traço, das linhas que delimitam o espaço, da perspectiva. Na imagem colorida a paisagem emerge, ressoa como um timbre cromático que transborda o corte abrupto do traço. A cidade é convertida num campo de cor. A metrópole é o paradigma da saturação. O olhar não pode mais ver, colado contra o muro, deslocandose pela sua superfície. Visão sem olhar, tátil, ocupada com os materiais, debatendo-se com o peso e a inércia das coisas. Aqui a cor é constitutiva da matéria. O vermelho remete a uma espessura, emerge de uma vermelhidão na qual estamos mergulhados. É uma cristalização momentânea do colorido, uma pontuação entre as coisas vermelhas. O campo denso dos vermelhos é cerrado como uma vegetação espessa. Enlace de cor, volume, rugosidade e dureza.24 É assim que o fotógrafo extrai as cores da cidade, arrancando-as do pano de fundo indistinto, trançando o tecido que permite a cada cor emergir. A pintura retrata avalanches e tempestades, um desequilíbrio próprio de coisas que desmoronam. A composição se desagrega, nenhuma forma conserva sua integridade. O ato de pintar passa por uma catástrofe para engendrar a cor. Cézanne distingue as etapas do ato de pintar. Há um momento de caos, de indiferenciação, de onde vão sair os planos, a geometria, a geologia. O segundo momento é dominado pelo cinza, pelas cores que se misturam, um pântano do qual as cores não ascendem. Por fim, o momento da emergência da cor, o cinza que traz o verde e o vermelho, a matriz das dimensões e das cores.25 A cidade é esse caos, esse indiferenciado, do qual surge a cor. Uma modulação das cores, uma restrição da paleta intensa, do espectro básico, para fazer a cor surgir sob uma forma que ainda resta determinar. É o que permite superar o problema do terroso, das cores rebaixadas. O acinzentado dos muros e pavimentos é reconstituído por pequenos toques de tons puros. Desenvolver a cor viva por meio de breves sequências de tons diferentes. Essas fotos fazem a cor surgir, sutilmente, por entre os desvãos do concreto. As imagens do skyline, feitas com teleobjetiva – Nikon D800E, com uma teleobjetiva da Leica (bastante antiga) de 560 mm –, são visões de muito longe. Arnaldo Pappalardo abre um enorme intervalo, opera a uma grande distância. O fotógrafo se afasta, mas tudo o que se vê é um paredão de concreto, sem chão nem céu. Um muro dotado de infinitas reentrâncias, uma colagem de formas e variações de tons, de grande densidade pictórica. Para Cézanne, trata-se de apreender a força da gravidade, tornar visíveis a força de dobramento das montanhas e a força térmica das paisagens. Uma catástrofe ocorre no quadro, como se fosse introduzido um Saara, uma escala imensamente grande, quebrando o domínio da organização ótica. Uma introdução de novas distâncias, de novas relações de escala, entre as linhas figurativas. O horizonte ótico é revertido em chão tátil. O horizonte é substituído pelo solo.26 VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE RDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO A paisagem do gravador resulta de um embate com a matéria. Enquanto a pintura dá a ver a luz, a gravura luta contra limites, contra o muro. Daí o buril, em vez dos olhos: visão trabalhada, relevo duramente conquistado. A paisagem do gravador é uma terra arada. A cor, em geral associada à luz, torna-se aqui uma atividade da matéria. Monet pintou a catedral de Rouen como uma esponja de luz, absorvendo em suas pedras o ocre do sol poente. O pintor enraíza a cor na matéria.27 O fotógrafo, aqui, parece trabalhar com um buril. VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIVERDOMEIOARNALDOPAPPALARDOV 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO MEIOVERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD Mauro Restiffe’s photos show a densely occupied and built-up downtown area being converted into an urban desert or wasteland. Voids once filled by things that are no longer there. Images generally taken from the point of view of pedestrians, but never a vision that we would have, never referring to a sensory experience. The pictures show an atemporal time that is not ours, one that is devoid of past and future. These cityscapes are like clouds, nebulous images, almost weightless. Everything is made of stone, bricks and earth, but everything is fleeting, passing, on the verge of turning into dust. Granular film matching sandy soil as everything crumbles and decays. For over 20 years, Restiffe used the same analogue 35-mm Leica M6 loaded with ASA 3200 Kodak T-max black-and-white, until Kodak stopped making it and he switched to ASA 3200 Ilford Delta. Printing was analogue too, using silver-gelatin emulsion paper used in traditional black & white photography. The city as it will be when only ruins are left behind. Baudelaire considered Meryon to be the first great urban landscape artist and not accidentally a voyager of oceans and painter of cities: both experiences of immense scale. Benjamin described his Paris as majestic and decrepit.23 Narrow lanes, stonewalls, windowless walls, cloudy skies and water, all of the same ground-like texture. So striking is this city that it seems entirely made of stone and built to last forever. Yet, lasting beauty is difficult to capture in today’s ephemeral images. The enduring nature of landscape is one of the key themes for a period in which cities took over as horizon and capitalism started its process of constant destruction. Apparently immune to the passage of time, the city of stone eventually becomes as brittle as glass. Paradoxically, however, the enduring nature of these landscapes is shown precisely when their forthcoming disappearance is augured. Thus, their fate is confirmed: turning to ruins. Metropolitan grandeur together with decadence. In as far as the city is destroyed, it crops up as permanence. There is a recurring image of the city as a field covered in ruins. One has only to contemplate these closelycrammed buildings and monuments to sense their being doomed to catastrophe. The impression of things on the verge of disappearing makes the past such a key feature of the actuality of cityscape-landscape. These images are neither archaeological, nor portraits of demolition sites. Their archaic nature is revealed in presentday landscape itself. A sense of imminent collapse is a constantly constitutive feeling prompted by São Paulo. MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOMAURORESTIFFEVERDOMEIO 52 Nas fotos de Mauro Restiffe, a cidade – a área central, densamente construída e ocupada – é convertida num deserto urbano. Um vazio, cheio de coisas que não estão mais lá. As imagens são em geral feitas do ponto de vista do pedestre, mas não são nunca uma visão que teríamos, não remetem a uma experiência. Elas revelam um momento que não é o nosso, atemporal, desprovido de passado e futuro. Essas paisagens urbanas são como nuvens, imagens nebulosas, quase sem gravidade. Tudo é feito de pedra, tijolos e terra, mas tudo é fugaz, passageiro, prestes a virar pó. A granulação da película corresponde ao solo arenoso, ao esfarelamento de todas as coisas. Restiffe fotografa há mais de 20 anos com a mesma câmera analógica e com a mesma lente, uma Leica M6 e lente 35 mm. O filme, preto e branco, sempre foi o Kodak T-max ASA 3200, e recentemente, diante da interrupção na produção desse filme pela Kodak, ele passou a utilizar o Ilford Delta, também de ASA 3200. As impressões fotográficas também são produzidas de forma analógica, utilizando-se papel fotográfico com suporte em emulsão de prata, como nos moldes tradicionais da fotografia p&b. A cidade como será quando tudo tiver sido convertido em ruínas. Meryon é, para Baudelaire, o primeiro grande paisagista urbano. Não por acaso um viajante do mar e retratista das cidades: experiências da imensidão. Para Benjamin, ele apresenta ao mesmo tempo a majestade e a decrepitude de Paris.23 Ruas estreitas, paredões de pedra, muros sem janelas, o céu nebuloso e água: tudo tem a mesma textura, parece chão. A cidade é tão impressionante que parece feita inteiramente de pedra, construída para durar para sempre. Mas é difícil apreender uma beleza permanente no novo e no efêmero, imperantes nos dias atuais. A questão da perenidade da paisagem é um dos grandes temas da época em que as cidades se impunham como horizonte e o capitalismo começava seu processo de destruição permanente. A cidade de pedra, aparentemente tão imune ao decorrer do tempo, acaba se tornando tão quebradiça como o vidro. No entanto, paradoxalmente, a permanência dessas paisagens evidencia-se quando se anuncia sua próxima desaparição. Pois aí é que se confirma seu destino: tornar-se ruína. A grandeza da metrópole é acompanhada por sua decadência. É na medida que se destrói que a cidade aflora como permanência. A imagem da cidade como um campo de ruínas é recorrente. Basta contemplar esse ajuntamento de prédios e monumentos para se ter a sensação de que estão predestinados a uma catástrofe. A impressão de uma próxima desaparição das coisas é que torna tão presente o passado na atualidade da paisagem da cidade. Essas imagens não são arqueológicas, não se trata de retratos de demolições. O arcaico transparece na própria paisagem presente. O sentimento do colapso iminente é uma experiência constitutiva, permanente, provocada por São Paulo. MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOV 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 ERDOMEIOVEPIOFIGUEIROAEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD Pio Figueiroa’s photographs show cityscapes through city inhabitants to see how individuals occupy space and demarcate it. Movements, postures, gestures: the human body introducing instability, vibration in the dense space of a metropolis. Like a stone thrown into a pond and making ripples, displacing water around it. A city reflected in a face. Faces extend over their surroundings and reshape cityscape/landscape. Close-ups wrench bodies from their spatial-temporal coordinates to constitute a territory. The face attracts and concentrates all description from places, all narrative from a city. Instead of monuments, statues that stopped passers in their tracks, according to Baudelaire. We see anonymous people with their constrained gestures and everyday lives. Lonely people in nondescript spaces, experiencing silent urban dramas. Photographers in one-to-one clashes with cities. The photographer’s entire artistic history developed within a collective – Cia de Foto – in which he primarily acted as editor. The collective’s imagery was spontaneously produced, shooting photographs almost every day, thus freeing energy and time to go back to the archive itself. A procedure with careful post-editing; discursive aesthetic construction around continuous photography production. Once the collective was wound up, Figueiroa was again a photographer schooled through journalism, now on the streets composing scenes that required his presence. He revisited an approach to photography dating from the beginning of his career: a bare minimum amount of equipment, devoting almost all of his energy to the instant in which a shutter clicked. According to Pio Figueiroa, all of these photos came from the impetus of shooting street scenes using 35-mm or 85-mm fixed lens with diaphragms at f / 1.2 or f / 1.4; which makes it difficult to capture an image because there is a very specific focal point that is easily lost. If these images work, they require little or no post-production. But the basic requirement is to get close to the subject; there is no objective distance between him and the subject being photographed using short lenses that require proximity. Therefore, technical procedure coincides with the characteristic approach of photojournalism that values the instant a shutter clicks, the fact of being on the streets, the body’s performance. Nas fotografias de Pio Figueiroa vemos a paisagem urbana por meio dos seus habitantes, do modo como os indivíduos ocupam e demarcam o espaço. Os movimentos, as posturas, os gestos: o corpo humano introduz uma instabilidade, uma vibração, no espaço adensado da metrópole. Como uma pedra jogada num lago cria ondulações ao redor, deslocando a massa de água que a envolve. A cidade refletida num rosto. Os rostos se expandem sobre o entorno e configuram a paisagem. O close arranca os corpos de suas coordenadas espaço-temporais para constituir um território. O rosto é um atrator, concentrando toda a descrição dos lugares, a narrativa da cidade. Em vez dos monumentos, das estátuas que segundo Baudelaire “fazem o passante parar”, vemos pessoas anônimas, com gestos contidos e vidas cotidianas. Pessoas solitárias, em espaços anódinos, vivenciando silenciosos dramas urbanos. O fotógrafo no corpo a corpo com a cidade. Toda a história artística do fotógrafo se deu em regime de coletivo – a Cia de Foto – no qual ele cumpria sobretudo um papel de editor. A produção imagética do coletivo era espontânea, quase todos os dias se fotografava, liberando assim energia e tempo para se voltar para o próprio arquivo. Um procedimento atento à elaboração da pós-edição, uma construção estética e discursiva sobre uma produção contínua de fotografias. Dissolvido o coletivo, ele se vê novamente como um fotógrafo criado no jornalismo, na rua, na construção de cenas que obrigam a sua presença. O reencontro de uma forma de fotografar do início da carreira: mínimo de equipamento, devotando quase toda a energia ao momento do clique. Essas fotos, diz Pio Figueiroa, aparecem sempre do ímpeto de ir para rua fotografar com uma lente fixa, 35 mm ou 85 mm. Sempre com o diafragma muito aberto, f/1.2 ou f/1.4; o que gera dificuldade de captação pois o foco se coloca em um ponto muito específico da imagem, podendo ser facilmente perdido. E quando essas imagens acontecem, exigem pouca ou quase nenhuma pós-produção. Mas a necessidade básica é estar perto do assunto, não há distância objetiva entre ele e aquilo que está fotografando, com lentes curtas que exigem tal proximidade. Dessa forma, o procedimento técnico se encontra com a abordagem, própria do fotojornalismo, que valoriza o momento do clique, o estar na rua, a performance de corpo. VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEWIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 OK OK 82 83 84 85 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOCOMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRAS MEIOVERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOTRÂNSITOTRAFFICVER VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOV 86 87 VERDOMEIOVERDOMEIARNALDOPAPPALARDO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO Nesse mapeamento da cidade, o instrumento utilizado foi a máquina fotográfica. O confronto com o espaço urbano, o problema de apreender uma paisagem desorganizada, obstruída e conflitiva, se colocou também como a questão dos limites da própria fotografia. Uma reflexão sobre a condição contemporânea da fotografia. A exceção, nessa empreitada basicamente fotográfica, é o vídeo realizado por Arnaldo Pappalardo registrando um percurso sobre o Minhocão, o viaduto que corta parte da Zona Oeste da cidade. A introdução da imagem em movimento, porém, mantém o questionamento das possiblidades do olhar. Hoje em dia praticamente só vemos a cidade do interior de veículos. Mas o que se vê da janela de um automóvel? O para-brisa do automóvel se converteu numa tela, onde a paisagem desfila como uma imagem.28 O carro que registra as ruas para o Google Earth é um panóptico, gerando imagens em 360 graus. No vídeo, Pappalardo remete a essa pretensão de a janela do veículo nos descortinar a paisagem da cidade. Quatro minicâmeras Full HD, marca GoPro, foram fixadas dentro de um Fusca, de forma que elas ficaram direcionadas para o vidro dianteiro, o traseiro e os dois traseiros laterais. Um pequeno gravador Tascan captou o som. As imagens, na exposição, são mostradas sincronizadas em quatro monitores alinhados um ao lado do outro. Vemos, portanto, num só olhar, todas as direções. E o que vemos? Uma contínua sucessão de muros, janelas, vazios e carros, o indiferenciado mas também o insondável da cidade. DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER The camera was the instrument of choice for this task of mapping the city. Confrontation with urban space, the problem of apprehending a disorganized, obstructed and conflicted landscape has been posed as the question of the boundaries of photography itself, or a reflection on the contemporary condition of photography. The exception to this essentially photographic endeavor is a video made by Arnaldo Pappalardo about the Minhocão overpass that cuts across São Paulo’s western districts. The introduction of moving images, however, maintains the issue of the eye’s possibilities. Nowadays we only see cities from inside vehicles. But what do you see from a car window? Automobile windshields have become screens on which landscapes parade like images. The car filming streets for Google Earth is a panopticon producing 360° images. Pappalardo’s video refers us to the vehicle window’s ambition of unveiling the city’s landscape. Four ‘full HD GoPro mini-cameras were placed in a VW Beetle pointing toward its rear window, back and two rear wings. A small Tascan recorder captured audio. Images are displayed on four synchronized monitors aligned next to each other, and thus we see in every direction at a single glance. And what do we see? A continuous succession of walls, windows, voids and cars: the city’s undifferentiated but inscrutable traits too. 28 88 VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO 89 ALTURA 30 CM OK 90 91 92 93 94 95 96 97 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIO Em muitas fotos de Mauro Restiffe surgem viadutos, avenidas, linhas de trem. Mas esses aparatos de movimento estão, em geral, vazios. Ninguém parece passar por eles, como se fossem estradas que não levam mais a lugar nenhum. São monumentos erguidos à mobilidade perdida. Espaços de espera, não de movimento. Não há ponto de fuga, de escape. Cenas silenciosas, em que tudo está em suspensão. À beira do desastre que se aproxima. Essas imagens prenunciam o inexorável desmoronamento, permitem perceber como será a cidade depois que tudo estiver acabado. Aqui a imagem fotográfica revela sua vocação para fixar as coisas. Essas fotos mostram paisagens dotadas de permanência, como que feitas de pedra. Como antigos daguerreótipos que, em razão do longo tempo de exposição, davam o tempo que as coisas precisavam para se cristalizar. Nesses grãos instáveis, a indiscernibilidade da terra e das águas, do céu e da terra, evidencia a possibilidade da visão. Ver o invisível da paisagem: não alguma coisa que esteja para além do visível, mas simplesmente aquilo que não conseguimos ver. Several of Mauro Restiffe’s photos feature overpasses, streets and railroad tracks. However, these devices in motion are usually empty. No one seems to travel them, as if they were roads that no longer go anywhere. Memorials to lost mobility. Areas for waiting, not for moving. There is no point in flight or escape. Silent scenes in which everything is held in suspension. On the verge of imminent disaster. These images foreshadow inexorable collapse with a glimpse of what the city will look like when it’s all over. Here we see the photographic image showing its talent for making things last. Landscapes feature the permanence of stone, like old daguerreotypes with lengthy exposures that gave things the time needed to crystallize. In these unstable grains, the indiscernibility of land and water, sky and earth suggests the possibility of vision. Seeing unseen landscape: not something beyond visible, but something that we simply cannot see. VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOMAURORESTIFFEDOM 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD Uma série de fotos de Pio Figueiroa retrata indivíduos em trânsito. Rostos que não olham de volta. Gente vista dentro de veículos, fora de lugar. Em que estado os indivíduos viajam na cidade? Qual é essa condição de movimento? É um deslocamento sem sair do lugar. As imagens os capturam nesse estado de suspensão. Figuras imóveis contidas em veículos. O movimento potencial, represado, acumulando energia. Corpos prontos para transbordar daqueles contêineres, traçando linhas de fuga. Esses indivíduos, que passam horas cruzando diariamente a cidade dentro de vagões de trem ou presos em intermináveis congestionamentos, são passageiros. Ausentes, imersos em seus devaneios, parecem ter pegado carona em viagens de outras pessoas, em outras histórias, outras vidas. O metropolitano é um ser em movimento, em deslocamento, fora de lugar. Habita as estações, as avenidas. Lugares de passagem, a que não se pode pertencer. Sem chão, ele percorre a cidade como que escorregando por uma encosta. O trânsito não consiste mais em levar de um lugar a outro, mas preenche todo o espaço urbano, como uma mancha que se espraia em todas as direções. Os fluxos atravessam a cidade, transbordando para todos os lados, como uma enchente, um turbilhão. Seria a fotografia capaz de apreender esses rostos cujas feições se desfazem pelo movimento, esses corpos que aderem aos veículos, dissolvidos pela velocidade? O uso da teleobjetiva serve para introduzir movimento na imagem fotográfica. A fotografia pressupõe, tecnicamente, um observador parado, estático. Todo movimento compromete a imagem. A desfocagem, o efeito blur, resultando em imagens borradas, foi no entanto incorporada à estética fotográfica, indicando sobretudo a agitação dos elementos retratados, a fluidez do meio ambiente. Ao focar de longe, estabelecendo uma distância maior entre ele e os indivíduos na multidão, Pio Figueiroa capta as pequenas oscilações que a objetiva registra ao retratar corpos em movimento. Introduz uma instabilidade no quadro. Um descompasso, um ligeiro deslocamento, que resulta na sobreposição da figura em dois momentos muito próximos. Uma desfocagem que funde os corpos com tudo ao redor, com a paisagem. Uma massa em movimento que se expande, escapando para todos os lados. A series of Pio Figueiroa’s photos show individuals in transit. Their faces do not return the viewer’s gaze. People inside of vehicles, out of place. What is the state of these individuals traveling in the city? What sort of motion is this? It is a displacement while staying put in the same place. The photographer’s images capture this state of suspension. Still figures shut into vehicles. Potential movement, pent up energy. Bodies poised to flow out of those containers, tracing their lines of flight. These individuals spending several hours a day crossing a city packed into train cars or stuck in endless traffic jams: they are passengers. Absent-minded, immersed in their daydreams, they seem to have hitched a ride on other people’s journeys, other stories, other lives. Metropolitan people are human beings who move and shift out of place. They inhabit stations, expressways, passageways; there is no belonging to them. Groundless, they move through the city as if sliding down a slope. Traffic no longer consists of going from one place to another, but filling all urban space like a stain spreading out in all directions. Sprawling over the city, overflowing everywhere like a flood or a vortex. Could photography possibly apprehend these faces with features drawn out by movement, their bodies clinging to vehicles, dissolved by speed? The use of telephoto lens introduces movement into photographic images. Technically, photography presupposes a stationary observer. The slightest movement will spoil an image. Blurred image effects have become part of photographic aesthetics, used especially to show agitation of elements and fluidity of environment. By focusing from afar, putting longer distances between camera and people in a crowd, Pio Figueiroa captures small oscillations that a lens finds when showing moving bodies. Instability is ushered into the painting. A false move or slight shift will result in overlapping figures in two very close phases. A blur merging bodies with their surroundings and the landscape. A mobile mass expanding and escaping everywhere. VERDOMEIOVERDOME VERPIOFIGUEIROADOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD 112 VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOCOMOOMATOQUE CRESCEENTREASPEDRASDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD MEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIO ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE VERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOPERIPHERYPERIFERIAVERDOMEIOVERDOM 128 129 VERDOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERARNALDOPAPPALARDOV VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI Pappalardo fez ensaios fotográficos em favelas e ocupações na Zona Leste da cidade. Nessas incursões, ele se armou de uma câmera digital Sony RX1, a única câmera digital “point and shoot” com arquivo digital “full frame” (ou seja: mede 24 mm x 36 mm). Ela permite muita mobilidade e, ao mesmo tempo, não chama atenção. É o modelo que os street photographers escolheriam, se fossem trabalhar com uma câmera digital. As imagens da favela do Amassa Sapo, na Penha, revelam uma reutilização claramente estetizada do material industrializado (madeira compensada, restos de tapumes) recolhido para fazer os barracos. As chapas de madeira são dispostas de acordo com padrões geométricos e combinações cromáticas. Cuidado estético que indica uma busca de pertencimento, uma tentativa de construir um lugar. Predominam sempre os tons pastéis. Em vez do forte colorido que caracteriza as edificações em áreas populares, aqui se impõe uma paleta contida de cores, já impressa nos materiais reusados. Como se, tendo de reerguer essas moradias precárias depois de um incêndio devastador, as pessoas estivessem evitando alardear sua presença ali. Sem estridência, elas obedecem ao desenho dos materiais. Artesãos constrangidos a trabalhar com restos industriais, eles criam do descarte, amontoado, indiferenciado, um novo desenho, uma nova geometria. Paradoxalmente, é na ocupação Copa do Povo, em Itaquera – deliberadamente provisória, pois a tomada do terreno visa não construir moradias mas negociar um projeto público de habitação popular –, que as cores são mais fortes. As tendas são feitas de plástico, em camadas sobrepostas sem geometria, para serem logo desmontadas. O colorido serve apenas para manifestar a ação política. Não há qualquer compromisso com os materiais, nenhuma evidência de vínculo com o lugar. Essas cores plásticas exibem a transitoriedade do acampamento, essas pessoas sem moradia ainda estão ali de passagem. ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE 130 For his photos in favelas and occupied lots in São Paulo’s eastern districts, Pappalardo used a Sony RX1, the only “point and shoot” digital camera with “full frame” (24 x 36 mm) files, thus enhancing mobility but not standing out too much. This is the model that street photographers would choose if working with a digital camera. Images from the Amassa Sapo favela in the Penha district show shacks made by reusing clearly aestheticized industrial materials (plywood, siding scraps). Pieces of wood are arranged in geometrical patterns and color combinations, their aesthetic concern showing that a sense of belonging is being pursued in an attempt to build a place. Pastel tones always predominate. Instead of the gaudy coloring characterizing buildings in low-income areas, the restrained color palette here is imprinted on reclaimed materials. As if people had had to rebuild these substandard houses after a devastating fire and wished to avoid their presence there being noticed. Avoiding any strident notes, they keep to the patterns of the materials themselves. Feeling forced to work with industrial waste, artisans use undifferentiated heaped disposals to create a new pattern, a new geometry. Colors are paradoxically stronger at the ‘People’s Cup’ occupation in Itaquera – deliberately a temporary one, since the landless occupiers are not demanding the right to build houses there; they are negotiating for a public housing project. Tents are made of oddshaped overlapping layers of plastic that can be promptly removed if need be. Color is there only to express political action. There is no commitment to materials, no evidence of ties to the place. These plastic colors show the transience of the campsite, and these homeless people too are merely passing through. 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 2014 Impressão jato de tinta Inkjet print 44x65 cm 146 147 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE There is persistent tension in Mauro Restiffe’s photographs of the outskirts of cities. It is hard to tell whether a city is being built or demolished. At the same time, all these places look like construction sites with heaps of demolition rubble. Places intensely occupied by people and yet looking like vacant lots. Empty spaces crowded with people and things. We are in the eye of the storm, the epicenter of the vortex, where a city can be dissolved into ruins or be recreated. These photos are images of this threshold. These images show that all these displaced people and things may be freed for different arrangements, different urban and social configurations, thus enabling a different kind of post-catastrophe city to emerge. OMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO MEIOVERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE Uma tensão persiste nas fotos de Mauro Restiffe das periferias da cidade. Nelas não se sabe se a cidade está sendo construída ou demolida. Todos os lugares parecem, ao mesmo tempo, canteiros de construção e depósitos de rejeitos de demolições. Lugares intensamente ocupados por pessoas, mas parecendo terrenos vagos. Vazios abarrotados de gente e coisas. Estamos no olho do furacão, no epicentro do vórtice, onde a cidade pode se dissolver em ruínas ou se recriar. Essas fotos são as imagens desse limiar. Essas imagens mostram que todas essas pessoas e coisas fora de lugar podem desse modo estar liberadas para outros arranjos, outras configurações urbanas e sociais. É o que permitiria a emergência de outra forma de cidade, depois da catástrofe. 148 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMAURORESTIFFEVERDOMEIOVERDOMEIOV 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 MEIOVERDOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERPIOFIGUEIROADOMEIOVERDO In the outlying areas of the city, people always seem to be locked in dispute with aggressive environments. Brick walls and windowless rooms. Narrow alleys create perspectives lacking vanishing points. These individuals have gone so far that there is no where else to go. Paradoxically, however, they are building places for belonging, collective living and affection. In urban peripheries, individuals are almost never shown against an empty field but usually appear glued to walls, fences and vehicles, interwoven in the city’s world of concrete and uncovered brick walls. These images emphasize the superficiality of urban space, everything seems to be contained in a single foreground, demanding that the viewer’s eye moves from side to side. Bodies work to emerge from this materiality, resisting gravity that attaches them to walls, or floors. In all scenes, however, gazes transcend their frame edges, gestures point further away. Confined into in a restricted world by railroad tracks, rivers and rubble, these individuals are continually plotting escape routes. VERDOMEIOVERDOME ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOME Na periferia, as pessoas parecem estar sempre em atrito com entornos agressivos. Paredões de tijolos e quartos sem janelas. As vielas estreitas criam perspectivas sem ponto de fuga. Esses indivíduos foram tão longe que não há mais para onde ir. Mas, paradoxalmente, ali constroem lugares de pertencimento, vida coletiva e afeto. Nas periferias, os indivíduos quase nunca são retratados contra um campo vazio, em geral aparecem colados a muros, grades e veículos, imbricados no mundo de concreto e tijolos sem reboco da cidade. Essas imagens enfatizam a superficialidade do espaço urbano, tudo parece estar contido num único primeiro plano, exigindo um olhar que se desloque lateralmente. Os corpos trabalham para emergir dessa materialidade, resistindo à gravidade que os prende à parede, ao chão. Em todas as cenas, no entanto, os olhares transcendem os limites do quadro, os gestos apontam para mais longe. Contidos num mundo restrito por linhas de trem, rios e entulho, esses indivíduos estão continuamente traçando rotas de escape. 164 VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 Notas) 1 Virilio, P. L’espace critique. Paris: Christian Bourgois éd., 1984. 2 Jameson, F. Postmodernism, or The Cultural Logic of Late Capitalism. New York: Duke University Press, 1991. 3 Rancière, J. A partilha do sensível. São Paulo: EXO Experimental; Ed. 34, 2005. 4 Benjamin, W. Paris, capital do século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988. 5 Bachelard, G. Introdução à dinâmica da paisagem. In: _______. O direito de sonhar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. 6 Merleau-Ponty, M. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1980. 7 Deleuze, G.; Guattari, F. Mille Plateaux. Paris: Minuit, 1980. 8 Deleuze, G. L’image-mouvement. Paris: Minuit, 1983. 9 Deleuze, G.; Guattari, F. Mille Plateaux, op. cit. 10 Didi-Huberman, G. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998. 11 Serra, R. Sculpture: Forty Years (McShine, K.; Cooke, L., ed.). New York: The Museum of Modern Art, 2007. 12 Krauss, R. The Originality of the Avant-Garde and Other Modernist Myths. Cambridge (MA): MIT Press, 1986. 180 13 Bois, Y.-A. A Pitoresque Stroll around Clara-Clara. In: Richard Serra (Foster, H., ed.). Cambridge, MA: MIT Press, 2000. 14 Serra, R. Writings, Interviews. Chicago: The University of Chicago Press, 1994. 15 Russell, B. Análise da matéria. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 16 Deleuze, G.; Guattari, F. Mille Plateaux, op. cit. 17 Serres, M. Atlas. Paris: Flammarion, 1996. 18 Rossi, P. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru, SP: Edusc, 2001. 19 Einstein, A. A teoria da relatividade. Porto Alegre: L&PM, 2013. 20 Buhler, W. Gauss: A Biographical Study. Berlin: Springer-Verlag, 1981. 21 Abbott, E. A. Flatland (1884). London: Dover Publications, 2013. 22 Latour, B. Reassembling the Social. Oxford: Oxford University Press, 2005. 23 Benjamin, W. Paris, capital do século XIX, op. cit. 24 Merleau-Ponty, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1984. 25 Deleuze, G. Pintura: el concepto de diagrama. Buenos Aires: Cactus, 2007. 26 Deleuze, G. Francis Bacon: logique de la sensation. Paris: Ed. de la Différence, 1981. 27 Bachelard, G. O direito de sonhar, op. cit. 28 Virilio, P. L’espace critique, op. cit. Notas 1 Virilio, P. L’espace critique. Paris: Christian Bourgois, 1984. 2 Jameson, F. Postmodernism, or The Cultural Logic of Late Capitalism. New York: Duke University Press, 1991. 3 Rancière, J. The Politics of Aesthetics: The Distribution of the Sensible. Trans. and introd. Gabriel Rockhill. London and New York: Continuum, 2004. 4 Benjamin, W. “Paris, Capital of the Nineteenth Century” in The Arcades Project. Ed. Rolf Tiedermann. Trans. Howard Eiland and Kevin McLaughlin. New York: Belkmap Press, 2002. 5 Bachelard, G. “Introduction to the Dynamics of Landscape”. In: The Right to Dream. Bachelard Translation Series. Trans. J. A. Underwood. Dallas: Dallas Institute of Humanities and Cultuer, 1989. 6 Merleau-Ponty, M. Phenomenology of Perception.Routledge Series. Trans. Kegan Paul. New York: Taylor & Francis, 1980. 7 Deleuze, G.; Guattari, F. A Thousand Plateaus. London and New York: Continuum, 2003. 8 Deleuze, G. Cinema 1: The Movement-Image. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2001. 9 Deleuze, G.; Guattari, F. A Thousand Plateaus, op. cit. 10 Didi-Huberman, G. What We See Looks Back at Us. Paris: Les Editions de Minuit, 1997. 11 Serra, R. Sculpture: Forty Years (McShine, K.; Cooke, L., ed.). New York: The Museum of Modern Art, 2007. 12 Krauss, R. The Originality of the Avant-Garde and Other Modernist Myths. Cambridge (MA): MIT Press, 1986. 13 Bois, Y.-A. A Pitoresque Stroll around Clara-Clara. In: Richard Serra (Foster, H., ed.). Cambridge, MA: MIT Press, 2000. 14 Serra, R. Writings, Interviews. Chicago: The University of Chicago Press, 1994. 15 Russell, B. Analysis of Matter. New York and London: Taylor & Francis, 2001. 16 Deleuze, G.; Guattari, F. A Thousand Plateaus, op. cit. 17 Serres, M. Atlas. Paris: Flammarion, 1996. 18 Rossi, P. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru, SP: Edusc, 2001. 19 Einstein, A. Relativity: The Special and General Theory. Trans. Robert W. Lawson. New York: Henry Hold, 1920. 20 Buhler, W. Gauss: A Biographical Study. Berlin: Springer-Verlag, 1981. 21 Abbott, E. A. Flatland (1884). London: Dover Publications, 2013. 22 Latour, B. Reassembling the Social. Oxford: Oxford University Press, 2005. 23 Benjamin, W. Paris, Capital of the Nineteenth Century, op. cit. 24 Merleau-Ponty, M. The Visible and the Invisible. Trans. Alphonso Lingis. Chicago: Northwestern University Press, 1969. 25 Deleuze, G. Pintura: el concepto de diagrama. Buenos Aires: Cactus, 2007. 26 Deleuze, G. Francis Bacon: The Logic f Sensation. London and New York: Continuum, 1981. 27 Bachelard, G. The Right to Dream, op. cit. 28 Virilio, P. L’espace critique, op. cit. 181 MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOV VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEI DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD VERDOMEIOVERDOMEIOVER ERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE VERCOMOOMATOQUECRESCEENTREASPEDRASVERDOMEIOVERDOEXHIBITIONEXPOSIÇÃOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIO EIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVE DOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOM VERDOMEIOVERDOMEIO VERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOV MEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVER `EIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD OVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERDOMEIOVERD 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193