Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 15, n. 1, p. 277-288, jan.-abr. 2020
Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência
para a formação de sistematas de formigas (Hymenoptera: Formicidae)
Entomological Collection Padre Jesus Santiago Moure: a new reference center for the
formation of ant systematists (Hymenoptera: Formicidae)
Paloma L. AndradeI
I
| Rodrigo M. FeitosaI
Universidade Federal do Paraná. Curitiba, Paraná, Brasil
Resumo: Apresentamos aqui um breve histórico da Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure da Universidade Federal
do Paraná (DZUP), Curitiba, Brasil, com ênfase na origem e na representatividade de seu recém-expandido acervo
mirmecológico. Listamos os principais eventos de expansão, as instalações, os grupos de pesquisa associados e as
instituições colaboradoras, essenciais para o estabelecimento do acervo de formigas da DZUP. Finalmente, destacamos
o exponencial crescimento deste acervo mirmecológico, que passou de quatro gavetas entomológicas e cerca de 1.000
exemplares depositados, em 2013, para, atualmente, cerca de 360 gavetas e 180.000 exemplares.
Palavras-chave: Coleções entomológicas. Curadoria. Mirmecologia.
Abstract: Here we present a brief historic of the Entomological Collection Padre Jesus Santiago Moure of the Federal University of
Paraná (DZUP), Curitiba, Brazil, with emphasis on the origin and coverage of its newly expanded myrmecological collection.
We list key events of expansion, facilities descriptions, associated research groups, and collaborating institutions essential
for the establishment of the DZUP ant collection. Finally, we highlight the exponential growth of the myrmecological
collection, from four entomological drawers and about 1,000 specimens deposited in 2013 to about 360 drawers and
180,000 specimens today.
Keywords: Entomological collections. Curation. Myrmecology.
ANDRADE, P. L. & R. M. FEITOSA, 2020. Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a
formação de sistematas de formigas (Hymenoptera: Formicidae). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 15(1):
277-288. DOI: http://doi.org/10.46357/bcnaturais.v15i1.244.
Autora para correspondência: Paloma Leal Andrade. Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Entomologia.
Departamento de Zoologia. Centro Politécnico – Jardim das Américas. Caixa postal: 19020. Curitiba, PR, Brasil. CEP 81531-980
(palomaandradebio@gmail.com).
Recebido em 20/12/2019
Aprovado em 03/02/2020
Responsabilidade editorial: Lívia Pires do Prado
BY
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Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a formação de sistematas de formigas...
A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ NO
CONTEXTO DE COLEÇÕES BIOLÓGICAS
As coleções biológicas são essenciais para o desenvolvimento
da ciência e constituem-se de organismos, ou de partes
desses, que, após o exercício de coleta em trabalhos de
campo, são processados e sistematizados para que haja
um uso posterior, seja ele voltado para fins científicos,
didáticos, particulares ou patrimoniais. Uma coleção
biológica representa um banco de dados com o máximo
de informações sobre o material que abriga. O estudo
da biodiversidade está aliado ao desenvolvimento de
uma nação, sendo as coleções biológicas um patrimônio
de interesse científico, tecnológico e, até mesmo, de
segurança nacional. Os dados mantidos nesses conjuntos
fornecem informações de distribuição geográfica,
biodiversidade, exigências ecológicas, mudanças e
influências ambientais e humanas (Camargo et al., 2015
apud Camargo, 2005, 2009).
As coleções biológicas no estado do Paraná são
conhecidas internacionalmente devido aos projetos
de pesquisa embasados por elas e aos pesquisadores
renomados a elas vinculados. O mesmo se aplica à principal
coleção de insetos do estado, a Coleção Entomológica
Padre Jesus Santiago Moure (DZUP).
Jesus Santiago Moure (1912-2010), que dá nome
à DZUP, foi um dos mais importantes naturalistas
brasileiros, sendo responsável pela fundação desta
coleção, abrigada na Universidade Federal do Paraná
(UFPR), em Curitiba, Brasil (Figura 1). A UFPR, por sua
vez, é a mais antiga universidade federal do país, fundada
em 19 de dezembro de 1912. Atualmente, a DZUP é a
segunda maior coleção de insetos do Brasil, antecedida
apenas pela coleção entomológica do Museu de Zoologia
da Universidade São Paulo. Esta segunda posição foi
tragicamente herdada do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, que teve seu acervo entomológico devastado
pelo incêndio ocorrido em 2018. A DZUP apresenta,
hoje, aproximadamente oito milhões de exemplares de
todas as ordens (UFPR, 2019).
Figura 1. Entrada do setor de Ciências Biológicas da Universidade
Federal do Paraná, onde está localizada a Coleção Entomológica
Padre Jesus Santiago Moure (DZUP). Foto: Paloma Andrade (2019).
Com uma trajetória intensa e produtiva, Padre
Moure, como era conhecido, dedicou boa parte da sua
vida ao estudo das abelhas (Hymenoptera: Apidae). Em
1933, o ribeirão-pretano mudou-se para Curitiba, onde
começou sua carreira como professor e pesquisador. Pe.
Moure foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento
da Zoologia no Paraná e no Brasil, especialmente após a
fundação do Departamento de Zoologia da Universidade
Federal do Paraná, o mais antigo do país. Em 1938, foi
fundada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
UFPR, tendo o Pe. Moure como membro fundador do
corpo docente. Apesar de entomólogo, Pe. Moure teve
um extenso contato com distintas áreas da Zoologia e foi
de grande importância no marco inicial da Biologia Marinha
no estado do Paraná em 1951. Isso mostra a sua vocação
às Ciências Biológicas e à pesquisa de maneira ampla. Suas
colaborações com os professores do Museu Paulista, da
Faculdade de Medicina de São Paulo, seus intercâmbios
em instituições renomadas e seu cargo como diretor do
Museu Paranaense deram a ele todo o conhecimento
necessário para tornar-se um impulsionador da pesquisa
zoológica no país (Loyola e Silva, 1992).
O Departamento de Zoologia da UFPR é
reconhecido pelo nível de excelência em pesquisa
científica, com docentes credenciados em um ou mais
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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 15, n. 1, p. 277-288, jan.-abr. 2020
de seus programas de pós-graduação, nominalmente
os programas de Entomologia, Zoologia e Ecologia &
Conservação. Considerando-se a produção do corpo
docente e a contribuição dos discentes e dos servidores
técnico-administrativos, este departamento soma
historicamente mais de 2.000 publicações, distribuídas em
artigos em periódicos científicos, livros, capítulos de livros,
publicações técnicas, relatórios técnico-científicos, entre
outras, bem como é importante destacar o envolvimento
em projetos de extensão (UFPR, 2019).
Esse consolidado grupo apresenta grande
repercussão no cenário entomológico internacional nas
mais diversas áreas de pesquisa, sendo sua principal linha
de atuação Sistemática, Taxonomia e Biogeografia das
ordens Diptera, Hymenoptera, Coleoptera, Hemiptera,
Lepidoptera, Neuroptera e Odonata. Em adição, projetos
em áreas aplicadas com foco em Entomologia Agroflorestal
e Médico-Veterinária contribuem para inúmeros estudos
em biologia e controle de pragas agrícolas e florestais,
ecologia química, genética molecular e manejo integrado
de insetos. Já os projetos em Ecologia e Diversidade
apresentam ênfase em ecologia evolutiva e etologia das
grandes ordens de insetos, além de entomologia forense
e diversidade de insetos neotropicais (por exemplo, Rafael
et al., 2012; Carvalho & Almeida, 2011; Moure et al., 2007;
Almeida et al., 1998; Baccaro et al., 2015).
Em 2005, o Departamento de Zoologia da UFPR
tornou-se a sede do Projeto Taxonline - Rede Paranaense
de Coleções Biológicas, sob a coordenação da Dra. Luciane
Marinoni, que abrange inúmeras coleções municipais,
estaduais, federais e privadas, englobando, além de
acervos de todos os grupos zoológicos, diversas coleções
microbiológicas e botânicas (Taxonline, 2019). A Coleção
Entomológica Padre Jesus Santiago Moure é o ponto central
deste projeto, cujo objetivo é a informatização dos dados
das coleções para disponibilização online. As informações
são obtidas a partir dos rótulos dos exemplares, sendo que
esse sistema de armazenamento deverá ser digitalizado
continuamente, possibilitando, assim, o rastreamento da
origem, da distribuição e da quantidade dos exemplares,
além de responder a possíveis outras perguntas envolvendo
esses dados. O Projeto Taxonline faz parte, desde 2013,
do Sistema de Informações sobre a Biodiversidade
Brasileira (SIBBr) e do Global Biodiversity Information Facility
(GBIF), os quais são plataformas que disponibilizam dados
científicos sobre biodiversidade (Marinoni, L. & Melo, 2020).
Finalmente, além de seus três programas de pósgraduação de extensa produção e reconhecimento,
o Departamento de Zoologia da UFPR é a sede da
Sociedade Brasileira de Zoologia e da Sociedade
Brasileira de Entomologia e, consequentemente, de suas
tradicionais e internacionalmente reconhecidas revistas
científicas: a Zoologia - an International Journal for Zoology
e a Revista Brasileira de Entomologia - a Journal on Insect
Diversity and Evolution.
ORIGEM E EXPANSÃO DO ACERVO DE
FORMIGAS DA DZUP
O acervo de Hymenoptera da Coleção Padre Moure
conta com cerca de 600 mil exemplares. Em virtude da
especialidade dos renomados melitólogos Padre Moure,
Danúncia Urban, Gabriel Melo e, mais recentemente,
Rodrigo Gonçalves, membros do Departamento
de Zoologia da UFPR, o acervo de Hymenoptera é
majoritariamente representado pelas abelhas (Apidae),
que somam aproximadamente 340 mil espécimes
(SpeciesLink, 2019). Os demais espécimes correspondem
principalmente a diferentes grupos de vespas.
No entanto, estas proporções começaram a se
alterar a partir de 21 de janeiro de 2013, quando o Dr.
Rodrigo Machado Feitosa ingressou como professor
do Departamento de Zoologia da UFPR, fundando
o Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas
da UFPR (LSBF). Sendo a especialidade de Rodrigo
a sistemática de Formicidae, ampliou-se rapidamente
o estudo de formigas e o enriquecimento do acervo
mirmecológico da DZUP. Até então, este acervo contava
com algumas amostras históricas e material dos trabalhos
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Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a formação de sistematas de formigas...
desenvolvidos pelo Laboratório de Dinâmica Evolutiva
e Sistemas Complexos, coordenado pelo Dr. Marcio
Roberto Pie, membro do Departamento de Zoologia
da UFPR e, até então, único pesquisador a conduzir
estudos com formigas, na instituição, voltados para
ecologia e biologia evolutiva. De fato, a colaboração com
o laboratório do Dr. Marcio Pie foi fundamental para o
estabelecimento do LSBF, especialmente em projetos
envolvendo evolução e biologia molecular.
O material histórico referido aqui compreende o
acervo coletado e incorporado à coleção antes dos anos
2000. Vários foram os pesquisadores e coletores amadores
que depositaram exemplares ou que tiveram suas coleções
parcial ou totalmente adquiridas pela DZUP. Nesse sentido,
o Coronel Moacyr Alvarenga (1915-2010) é um dos nomes
a serem destacados, sendo a sua coleção de insetos
representada por aproximadamente 25.000 exemplares
na DZUP, principalmente da ordem Coleoptera (Marinoni,
R. et al., 1992), embora seja indiscutível sua contribuição
para outras ordens. Formigas coletadas por Alvarenga
encontram-se bem representadas na DZUP. De fato, o
estado do Espírito Santo está representado na DZUP
principalmente por espécimes coletados ao final dos anos
1960 por Alvarenga e equipe.
Na década de 1980, teve início o Programa de
Desenvolvimento Integrado para o Noroeste do Brasil,
financiado pelo Governo Federal, cujo nome abreviado é
Polonoroeste. Esse projeto propunha o desenvolvimento
econômico em vários setores da agricultura e a construção
da BR-364 no Mato Grosso, sendo que o grupo de
entomólogos da UFPR ficou responsável pelo levantamento
de insetos nas regiões afetadas (Oliveira, R., 1994). Diversas
formigas foram coletadas pelo Projeto Polonoroeste e
encontram-se hoje depositadas no acervo da DZUP.
No Paraná, as décadas de 1960, 1970 e 1980 foram as
mais prolíficas em termos de formigas coletadas no estado
e representadas no acervo da DZUP. Em pelo menos
dois rótulos da coleção consta o nome do Pe. Moure,
sendo um deles referente a uma expedição realizada
juntamente com o professor da Olaf Mielke, outro grande
nome da entomologia e que ainda está em atividade na
Universidade Federal do Paraná. A espécie coletada por
Moure e Mielke é uma operária de Dorymyrmex brunneus
Forel, 1908, capturada em Foz do Iguaçu, em fevereiro
de 1969. O segundo registro em que consta o nome
de Pe. Moure refere-se a uma operária de Camponotus
rufipes (Fabricius, 1775), coletada no município de Palmas,
no Paraná, juntamente com o professor da UFPR e
grande especialista em hemípteros Albino Sakakibara,
em novembro de 1978. Apesar da existência de diversos
eventos avulsos de coleta, a origem de grande parte das
formigas no material histórico da coleção para o estado
do Paraná é vinculada aos projetos Levantamento da
Fauna Entomológica no Estado do Paraná (PROFAUPAR) e
Levantamento da Fauna Entomológica do Parque Estadual
de Vila Velha, em Ponta Grossa (PROVIVE).
O PROFAUPAR foi realizado durante o período
de agosto de 1986 a julho de 1988 em oito localidades
do estado do Paraná, com o objetivo de inventariar a
entomofauna do estado de forma padronizada com
o uso de armadilhas de interceptação de voo do tipo
Malaise (Marinoni, R. & Dutra, 1991). O PROVIVE foi uma
iniciativa proposta em 1999 pelos professores Renato C.
Marinoni, Luciane Marinoni e Cibele S. Ribeiro-Costa,
a qual perdurou até o ano de 2002. As coletas desse
projeto foram realizadas ao longo de três anos em áreas
do parque, caracterizadas por capões de araucárias e
áreas alteradas pela antropização. No caso do PROVIVE,
além das armadilhas do tipo Malaise, foram empregadas
armadilhas de solo do tipo pitfall.
Embora extremamente importantes para a ampliação
do conhecimento entomológico no estado do Paraná, os
projetos ora mencionados não tinham como objetivo
primário a captura de insetos representantes da fauna
edáfica, de modo que formigas não estavam representadas
em grande parte das amostras. Uma exceção pode ser
feita com relação às formas sexuadas (rainhas aladas e
machos), que foram amostradas com maior abundância
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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 15, n. 1, p. 277-288, jan.-abr. 2020
por estes projetos, embora nunca tivessem sido
processadas e incluídas no acervo principal até agora.
De fato, até o ano de 2013, o acervo de formigas da
DZUP contava com apenas quatro gavetas entomológicas
completas e aproximadamente 1.000 espécimes oriundos
majoritariamente da coleção histórica.
Com o estabelecimento do LSBF, em 2013, as
primeiras expedições de coleta e os projetos tinham como
objetivo ampliar o conhecimento sobre a mirmecofauna
paranaense, um estado surpreendentemente subamostrado
para formigas, especialmente em comparação a seus
estados vizinhos, São Paulo e Santa Catarina (Kempf, 1972;
Ulysséa et al., 2011). Entre março de 2014 e janeiro de 2016,
as expedições de coleta do LSBF foram exclusivamente
realizadas no estado do Paraná, em diferentes áreas de
Mata Atlântica (incluindo campos naturais) e fragmentos
de Cerrado. As primeiras coletas foram realizadas na
Reserva Natural Rio Cachoeira, hoje Reserva Natural
Guaricica, no município de Antonina, na encosta da serra
do Mar paranaense (25° 18’ 53,24” S, 48° 41’ 46,22” O)
e no Parque Estadual do Pico do Marumbi, em Piraquara
(25° 27’ 13” S, 48° 55’ 11” O). O material obtido
alimentou o primeiro projeto de mestrado desenvolvido
no laboratório pela aluna Juliana Maria Calixto, defendido
em 2016 (Calixto, 2016).
As expedições seguintes englobaram um projeto
maior, aprovado em 2014, intitulado “Formigas e a
conservação dos Campos Gerais paranaenses: uma
abordagem ecológica e taxonômica”, financiado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), no âmbito do edital Universal.
Associado a este estudo também estava o projeto Rede
de Pesquisa Biota do Cerrado – Isoptera e Hymenoptera,
coordenado pelo Dr. Heraldo Vasconcelos, do Laboratório
de Ecologia de Insetos Sociais da Universidade Federal de
Uberlândia. As coletas para estes projetos foram realizadas
no Parque Estadual de Vila Velha, município de Ponta
Grossa (25° 14’ 46” S, 50° 01’ 13” O), no Parque Estadual
do Cerrado, em Jaguariaíva (24° 10’ 00” S, 49° 39’ 56” W),
e no Parque Estadual do Guartelá, em Tibagi (24° 34’ 06” S,
50° 16’ 02” O). Essas áreas localizam-se em uma região
de fisionomia singular entre os campos naturais brasileiros,
denominada de Campos Gerais paranaenses, que se
distribuem por 11.761,41 km² e abrangem 22 municípios
paranaenses. Por sua baixa aptidão agrícola, esses campos
ainda possuem uma vegetação reliquiar remanescente
de épocas mais secas, do período Quaternário. Segundo
Melo et al. (2007), os Campos Gerais foram definidos
como uma região fitogeográfica, ou seja, caracterizada
pela vegetação natural que compreende campos limpos
e campos de cerrados naturais, localizados na borda do
Segundo Planalto paranaense.
Os dados obtidos nessas expedições embasaram as
primeiras pesquisas de iniciação científica do laboratório,
conduzidas pelos alunos Weslly Franco e Aline Machado
de Oliveira, entre 2014 e 2015 (Franco, 2018; Oliveira,
A., 2015). Demais expedições de coleta no estado foram
realizadas no Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de
Palmas, município de Palmas (26° 31’ 40” S, 51° 36’ 17” O),
e no Parque Estadual das Lauráceas, em Adrianópolis e
Tunas do Paraná (24° 51’ 20” S, 48° 42’ 51” O). Foram
também registradas coletas feitas para fins didáticos (cursos
de campo e disciplinas) em áreas dos municípios de
Curitiba, Morretes e São José dos Pinhais.
Expedições adicionais foram conduzidas na Reserva
Natural Guaricica, no âmbito do Programa de Pesquisas
em Biodiversidade (PPBio) Mata Atlântica, coordenado pela
Dra. Márcia Marques, do Departamento de Botânica da
UFPR, e que passou a integrar o Programa de Pesquisas
Ecológicas de Longa Duração (PELD) Lagamar, em uma
iniciativa que visa à obtenção de importantes informações
para a conservação da biodiversidade e o uso sustentável
dos recursos naturais dos ecossistemas brasileiros. Criado
em 1996, o PELD tem como foco o estabelecimento
de sítios de pesquisa permanentes nos mais diversos
biomas e ecossistemas brasileiros integrados em uma
rede de colaboração que abrange as mais diversas áreas
do conhecimento. As iniciativas do PELD para a gestão
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Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a formação de sistematas de formigas...
dos recursos ecossistêmicos trazem retorno através de
indicadores de produção em subprojetos, parcerias,
recursos humanos, artigos científicos, livros, dissertações,
teses, monografias, patentes e programas de pósgraduação (CNPq, 2019).
As coletas do PELD são padronizadas de acordo
com a metodologia aplicada para cada grupo. No caso
das formigas, o protocolo aplicado foi denominado
AntPELD, proposto pelos pesquisadores Rodrigo Feitosa
e Márcio Pie, da UFPR, após consulta a colegas ecólogos
atuando em diferentes instituições. O protocolo consiste
basicamente na instalação de armadilhas de queda do tipo
pitfall em três transectos de 500 metros, afastados 1 km
uns dos outros, cada um contendo 20 pitfalls, separados
por 25 metros. Este protocolo (AntPELD) foi amplamente
divulgado e, atualmente, uma rede de pesquisadores
em todos os biomas do Brasil tem realizado coletas no
âmbito deste projeto, enviando as formigas capturadas ao
acervo da DZUP. A proposta é a realização de diferentes
trabalhos sobre a estrutura ecológica e filogenética de
comunidades de formigas em variados biomas do Brasil e
o estabelecimento de um grande banco de tecidos para
estudos envolvendo biologia molecular, sediado na DZUP.
Até a presente data, 18 localidades de todos os biomas
brasileiros já foram amostradas.
Outra fonte constante de amostras ao acervo de
formigas da DZUP é o Curso Formigas do Brasil (CFB),
idealizado em consequência da carência de um curso de
atualização imersivo em Mirmecologia no país. Coordenado
pelos pesquisadores Dr. Fernando Schmidt (Universidade
Federal do Acre), Dra. Carla Ribas (Universidade Federal
de Lavras) e Dr. Rodrigo Feitosa (UFPR), o curso tem
como objetivo proporcionar experiência teórico-prática
em distintos aspectos da Mirmecologia a estudantes e
profissionais com interesse em formigas. Nesse sentido,
o CFB inclui uma etapa intensiva de coleta, com diferentes
técnicas de amostragem, e que geram material para fins
didáticos e científicos. As edições-piloto foram realizadas
em 2012 e 2013, na Universidade Federal de Lavras e na
Universidade Federal de Belo Horizonte, respectivamente.
Desde então, o curso passou a ser bianual. Cada edição
é realizada em um bioma brasileiro, já tendo passado
pelo Cerrado, em 2014 (Uberlândia, Minas Gerais), pela
Amazônia, em 2016 (Rio Branco, Acre), e pela Mata
Atlântica, em 2018 (Santa Teresa, Espírito Santo). Como
dito, o processamento e a incorporação tanto do material
do AntPELD como o do CFB são realizados integralmente
na DZUP, o que expandiu significativamente o acervo de
formigas da coleção.
Em 2014, o LSBF teve seu primeiro projeto temático
de grande porte aprovado em âmbito internacional,
intitulado Biodiversity Conservation and Scientific Capacity
Development in the Brazilian Amazon using Ants as
Bioindicators and Ecosystem Health Indicators, com valor
global de aproximadamente R$ 500.000,00. Neste projeto,
foram conduzidas expedições em regiões de difícil acesso,
nunca ou raramente amostradas para formigas no país. Em
2016, foram realizadas coletas no Parque Nacional da Serra
das Confusões (Piauí) (9° 13’ 18” S, 43° 29’ 33” O), no
Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí) (8° 46’ 26” S,
42° 50’ 22” O), na Floresta Nacional Saracá-Taquera (Pará)
(1° 38’ 31” S, 56° 37’ 54” O) e no Parque Nacional da
Serra do Divisor (Acre) (8° 21’ 56” S, 73° 10’ 53” O). Em
2017, conduzimos expedições ao Parque Nacional das
Montanhas do Tumucumaque (Amapá) (2° 00’ 34” N,
53° 32’ 41” O) e ao Parque Nacional do Viruá (Roraima)
(1° 19’ 50” N, 61° 09’ 05” O). Finalmente, em 2018
coletamos na Reserva Particular do Patrimônio Natural
Serra Bonita (Bahia) (15° 24’ 00” S, 39° 34’ 17” O).
Um evento de importância maior na consolidação
e na expansão do grupo de pesquisas em Mirmecologia
da UFPR e, consequentemente, do acervo de formigas
da DZUP foi a contratação do Dr. John E. Lattke pelo
Departamento de Zoologia da referida universidade em
2014. John é um dos maiores nomes da sistemática de
formigas do mundo, com uma prolífica trajetória científica
e passagens profissionais frutíferas pelos Estados Unidos
(Davis), Venezuela (Maracay) e Equador (Loja). Ele ainda
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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 15, n. 1, p. 277-288, jan.-abr. 2020
incorporou à DZUP um vasto e precioso lote de formigas
em via líquida, coletadas em dezenas de países (em
especial, a Venezuela) de todas as regiões biogeográficas
do mundo. Trata-se de uma réplica da coleção de formigas
do Museo del Instituto de Zoología Agrícola de la Universidad
Central de Venezuela, Maracay, Venezuela, da qual John foi
curador no período de 1993 a 2014.
Também em 2014, o LSBF recebeu sua primeira
grande remessa de material do exterior. A doação
foi realizada pelo grupo de pesquisa francês Société
Entomologique Antilles-Guyane (SEAG), em atuação na
Guiana Francesa. Diversos lotes contendo milhares de
formigas coletadas com armadilhas de interceptação de voo
de baixa altitude foram enviados à DZUP para depósito.
As coletas foram realizadas nas comunas de Saül e Roura,
em 2011. Este material, contendo 112 espécies e 22
novos registros para a Guiana Francesa, foi a base para a
elaboração da primeira lista de espécies de formigas para
a Guiana Francesa (Franco et al., 2019).
Uma vez tendo seu grupo de mirmecólogos
estabelecido e três laboratórios em atividade, a DZUP
tornou-se muito rapidamente um grande centro de
pesquisa em Mirmecologia e uma instituição de referência
para o depósito de material-testemunho de pesquisas
realizadas com formigas no Brasil e no exterior. São
inúmeras as fontes de envio de material à DZUP, incluindo
o depósito de vouchers por parte de grupos de pesquisa em
ecologia, evolução e comportamento de formigas em mais
de 35 instituições no país e no exterior (Feitosa Lab, 2018).
Em adição, a DZUP é depositária de material de cursos
de campo internacionais, como o Ant Course e o Curso de
Hormigas Neotropicales, realizados periodicamente em
distintas regiões do mundo, além de projetos de consultoria
e de doações de coleções particulares.
O acervo de formigas da Coleção Entomológica
Padre Jesus Santiago Moure também se beneficia de
diversas colaborações com o Laboratório de Sistemática,
Evolução e Biologia de Hymenoptera do Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo (MZSP), que tem
como curador o Prof. Dr. Carlos Roberto Ferreira Brandão.
A coleção de formigas do MZSP é a mais representativa
da região Neotropical em número de espécimes-tipo e
abrangência geográfica, sendo que a sua história se mescla
com a própria história da Mirmecologia neotropical. Os
primeiros registros de depósito de material no acervo
do MZSP datam do final do século XIX, e o acervo
ainda abriga as coleções de grandes nomes históricos da
taxonomia de formigas, como os freis franciscanos Tomás
Borgmeier (1892-1975) e Walter Kempf (1920-1976)
(Klingenberg & Brandão, 2005).
Além da estreita e frutífera relação com o MZSP,
desde o início, o acervo de formigas da DZUP conta
com a colaboração do Laboratório de Mirmecologia
da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPLAC), em Ilhéus, na Bahia, sob a curadoria do Dr.
Jacques Delabie. Como suporte para o estabelecimento
e a expansão da coleção de formigas da DZUP, entre
os anos de 2013 e 2018, o Dr. Jacques Delabie doou
ao acervo da DZUP cerca de 2.320 exemplares
pertencentes a 906 espécies de formigas de todas as
regiões do mundo. Esta doação representa um divisor
de águas na história do acervo mirmecológico da DZUP,
uma vez que proporcionou independência aos estudos
de taxonomia de formigas desenvolvidos na instituição.
Além dessa valiosa doação, há uma parceria constante
com a CEPLAC por meio de inúmeras visitas para exame
de material, colaborações em trabalhos, cursos e afins.
Em 2018, em contato com o Laboratório de
Sistemática e Biologia de Formigas da UFPR, o Dr. Jorge
L. M. Diniz, da Universidade Federal de Goiás, campus
Jataí – um dos maiores nomes da taxonomia de formigas
neotropicais e curador de um acervo de formigas de
riqueza imensurável –, anunciou sua aposentadoria e, com
ela, a proposta de doar integralmente sua coleção à DZUP.
Concretizados os trâmites burocráticos, a doação envolveu
cerca de 165 gavetas entomológicas e 300 lotes líquidos
contendo cerca de 50 mil espécimes das mais diversas
regiões biogeográficas do globo, incluindo espécimes-tipo.
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Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a formação de sistematas de formigas...
Além de apresentar-se como uma volumosa coleção, o
valor científico desta doação está centrado no fato de que
este acervo inclui réplicas das coleções particulares do Frei
Walter Kempf e do Frei Tomás Borgmeier, representantes
máximos da taxonomia de formigas no Brasil e dois
dos maiores nomes da Mirmecologia mundial, cujas
coleções originais se encontram no Museu de Zoologia
da Universidade de São Paulo, como já dito. Ademais,
esta doação também envolveu o acervo bibliográfico
do laboratório do Dr. Diniz, que conta com publicações
históricas, incluindo volumes originais da revista Studia
Entomologica, além de separatas, cadernos de campo e
catálogos oriundos das bibliotecas de Kempf, Borgmeier
e Diniz. Ao todo, o material doado pela Universidade
Federal de Goiás representou um incremento de mais de
um terço do volume total de espécimes na coleção de
formigas da DZUP à época.
Em 2017, um projeto de iniciação científica
conduzido pela então graduanda Paloma Andrade
(Andrade, 2017) teve como propósito descrever a origem
e a representatividade do acervo de formigas da Coleção
Entomológica Padre Jesus Santiago Moure, com base nos
dados obtidos diretamente das etiquetas dos espécimes
e dos outros projetos que geraram o material até o início
do ano em questão. Por uma limitação de tempo, foram
levantados dados de todas as subfamílias de formigas de
ocorrência neotropical, exceto de Agroecomyrmecinae,
Martialinae e Myrmicinae. Este estudo foi o primeiro passo
para a realização de um grande projeto de informatização
do acervo de formigas da DZUP.
Em relação à cobertura geográfica da coleção, o
Brasil é, sem dúvidas, o país mais bem representado, tanto
em número de espécies quanto em indivíduos coletados,
sendo que a DZUP abriga espécimes de todas as regiões
geopolíticas e de todos os estados do país. Além do Brasil,
a coleção abriga espécimes de mais outros 25 países.
Embora em uma proporção menor do que os
estados do Sul e do Sudeste, as regiões Norte e Nordeste
são historicamente alvo de expedições científicas. As
datas de coleta para o material proveniente da região
Nordeste na DZUP variam desde os anos 1990 até
2014. No Norte, Pará e Rondônia apresentam destaque,
devido à grande representação no acervo da DZUP de
formigas provenientes destes estados, em consequência
de grandes expedições realizadas. As formigas da região
Norte depositadas nesta coleção estão representadas por
espécimes coletados principalmente a partir dos anos 1990,
com destaque para amostras que a equipe da pesquisadora
Ana Yoshi Harada obteve, a qual conduziu expedições
durante vários anos na região. Já os demais estados,
incluindo Acre, Amapá e Tocantins, estão representados
por formigas coletadas em sua grande maioria entre os anos
de 1961 e 1963 por Moacyr Alvarenga e sua equipe. As
formigas do estado do Amazonas foram majoritariamente
coletadas nos anos 1990 por vários pesquisadores.
Na região Centro-Oeste do Brasil, os estados de
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possuem o maior
número de espécimes representados na coleção. As
localidades de coletas são as mais distintas, incluindo
fazendas, reservas e outras áreas de conservação. As
expedições também variam muito em relação às equipes
e às datas, sendo que os registros de coleta para ambos os
estados ocorreram desde o início dos anos 1960 e seguem
até os dias atuais. Devido ao projeto Polonoroeste, o estado
de Mato Grosso apresenta grande representatividade no
acervo. A região Centro-Oeste também se destaca pela
Coleção Diniz, que inclui uma ampla série de espécimes
coletados em diversas regiões do estado de Goiás.
Para a região Sudeste do Brasil, o estado de Minas
Gerais é o que apresenta o maior número de espécimes
depositados na DZUP. Isso se deve principalmente ao
material-testemunho gerado pelo Curso Formigas do
Brasil. As formigas de Minas Gerais presentes na coleção
são em grande parte provenientes das edições iniciais
do curso, realizadas em diferentes regiões do estado
nos anos de 2012 a 2014. Soma-se a este material uma
grande quantidade de vouchers depositados na coleção
por diversos grupos de pesquisa em ecologia de formigas
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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 15, n. 1, p. 277-288, jan.-abr. 2020
sediados em diferentes instituições e regiões do estado de
Minas Gerais, com o maior número de laboratórios desta
especialidade no Brasil.
Em relação aos demais estados do Sudeste, São
Paulo também é diverso em relação aos coletores e às
datas de coleta. Rio de Janeiro está representado por
espécies depositadas na DZUP desde o final dos anos 1950.
Contudo, a maior parte do material foi coletada no ano de
2015, no projeto conduzido por Chaim Lasmar (Lasmar
et al., 2020), então doutorando da Universidade Federal
de Lavras, que investigou o efeito da altitude e a formação
vegetal sobre a comunidade de formigas na região do
Parque Nacional do Itatiaia e depositou os vouchers de
centenas de amostras na DZUP. Quanto ao Espírito
Santo, grande parte das espécies de formigas depositadas
na coleção é proveniente da década de 1960, coletada
por Moacyr Alvarenga e equipe, como já mencionado.
Contudo, um amplo volume de amostras provenientes
da edição de 2018 do Curso Formigas do Brasil, realizado
no município serrano de Santa Teresa, foi recentemente
incorporado à coleção.
Para o Sul do Brasil, o Paraná, como esperado,
conta com o maior número de espécimes depositado
na DZUP até o momento. A coleta mais antiga para este
estado data de 1966, sem nome de autor ou equipe de
coleta. Os exemplares históricos deste estado têm como
coletores alguns dos principais nomes da Entomologia
brasileira, como Pe. Moure, Olaf Mielke, Albino Sakakibara
e Gabriel Melo. O Rio Grande do Sul também está bem
representado no acervo, mas com número de espécimes
menor em comparação aos estados ao norte dessa
região. Santa Catarina está representada por registros
de coleta datados desde o final dos anos 1970, mas com
numerosas amostras recentes coletadas por Eduardo
Cereto (em 2008), Mônica Antunes Ulysséa (em 2009)
e Fabiano F. Albertoni (em 2009), então graduandos
e pós-graduandos da Universidade Federal de Santa
Catarina. Mais recentemente, um imenso lote de material
proveniente de Santa Catarina foi depositado na DZUP
como parte dos projetos de mestrado e doutorado da
pós-graduanda Mila Martins, orientada pelo Dr. Rodrigo
Feitosa, e que investiga a fauna subterrânea de formigas
em áreas com distintos usos de solo em Santa Catarina e
no Paraná (Martins et al., 2020).
Em razão de a coleção DZUP estar situada
na América do Sul, este é o continente com maior
destaque de material no acervo, incluindo espécimes de
praticamente todos os países sul-americanos. Em seguida,
em termos de representatividade na coleção, está a
Oceania, representada principalmente pela Austrália, por
conta de doações feitas pelos pesquisadores Alan Andersen
(Charles Darwin University) e Júlio Chaul (Universidade
Federal de Viçosa).
ESTADO ATUAL E PERSPECTIVAS PARA O
ACERVO DE FORMIGAS DA DZUP
Até o ano de 2019, o acervo de formigas da Coleção
Padre Jesus Santiago Moure contava com 15 subfamílias e,
aproximadamente, 170 gêneros de formigas, um número
significativo, considerando-se que, no mundo, há hoje
17 subfamílias e 334 gêneros válidos desses insetos
(Bolton, 2019). Isto é, o acervo da coleção já abriga
representantes de quase todas as subfamílias de formigas
conhecidas e metade dos gêneros válidos existentes no
mundo, além de parátipos e holótipos de cerca de 60
espécies em mais de dez gêneros.
Além dos mirmecólogos instalados na DZUP, o LSBF
recebe constantemente inúmeros visitantes especialistas na
taxonomia de diversos grupos de formigas, possibilitando
a identificação e a organização dos espécimes do acervo,
na maioria das vezes, até o nível específico, o que é de
extrema importância para uma coleção de referência.
Além disso, o LSBF recebe inúmeros estudantes e
pesquisadores do Brasil e do exterior para confirmação e
identificação de material de seus projetos. O laboratório é
também procurado frequentemente para a realização de
estágios para iniciantes em Mirmecologia, especialmente
visando à obtenção de prática no processamento de
285
Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure: um novo centro de referência para a formação de sistematas de formigas...
amostras e de bases para autonomia em identificação. Esse
contato amplia as colaborações e, consequentemente, a
representatividade do acervo da DZUP, visto que vouchers
de inúmeros estudos são depositados durante essas visitas.
Após sete anos da criação do LSBF, e em decorrência
do grande esforço empreendido pelos grupos de
pesquisa em Mirmecologia da UFPR, o acervo de
formigas da DZUP passou das iniciais quatro gavetas
e aproximadamente 1.000 formigas para cerca de 360
gavetas entomológicas e mais de 180.000 exemplares
(Figura 2). Sendo a sistemática a principal linha de
pesquisa nos laboratórios do Dr. Rodrigo Feitosa e do
Dr. John Lattke, diversos estudos envolvendo revisões
taxonômicas globais e regionais estão em andamento
atualmente, conduzidos por um dos maiores grupos de
taxonomistas em formação no mundo hoje, até onde
se sabe. Uma vantagem nítida deste cenário consiste no
fato de que esses taxonomistas são as autoridades na
classificação dos grupos com os quais trabalham, o que
se reflete em uma organização extremamente atualizada
e precisa do acervo da coleção.
Os trabalhos de revisão taxonômica em andamento
na DZUP envolvem cerca de 20 gêneros de formigas
e 14 pesquisadores formados ou em formação, entre
projetos de iniciação científica, dissertações de mestrado e
teses de doutorado, a saber: Prionopelta (Natalia Ladino),
Neocerapachys e Syscia (Paloma Andrade), Gnamptogenys
(Weslly Franco, Gabriela Camacho e John Lattke),
Cephalotes e Probolomyrmex (Aline Oliveira), Pheidole
(Alexandre Casadei-Ferreira), Nomamyrmex (Jaqueline
Paes), Ochetomyrmex (Tainara Jory), Kalathomyrmex (Ana
Carolina Neundorf), Dinoponera e Hypoponera (Amanda
Dias), Neoponera (Adrian Troya), Pachycondyla (Frederico
Marcineiro), Strumigenys (Thiago Silva), Leptogenys (John
Lattke) Acanthoponera, Camponotus, Centromyrmex e
Heteroponera (Rodrigo Feitosa). Não estão inclusos
projetos de revisão taxonômica conduzidos em outras
instituições, mas que têm o Dr. Rodrigo Feitosa ou o Dr.
John Lattke como coorientadores.
Figura 2. Acervo mirmecológico atual da Coleção Entomológica
Padre Jesus Santiago Moure (DZUP), situada na Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, Brasil. Foto: Paloma Andrade (2019).
Em adição, tais especialistas tendem a descrever
com frequência novas espécies que majoritariamente
terão seus tipos depositados na DZUP. Assim, embora
modesta e recente, esta coleção de formigas tende
a crescer exponencialmente em um futuro próximo,
consolidando-se como referência entre pesquisadores do
Brasil e do exterior.
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