POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL
DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Experiências e recomendações
Brasília-DF
2ªEdição•2009
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POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL
DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Experiências e recomendações
Elaborado:
Luiz Roberto Santos Moraes
Patrícia Campos Borja
Brasília-DF
2ªEdição•2009
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29.11.09 16:14:32
Presidência da República Federativa do Brasil
Presidente – Luiz Inácio Lula da Silva
Ministério das Cidades
Ministro das Cidades – Márcio Fortes de Almeida
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental – Leodegar da Cunha Tiscoski
Diretor do Departamento de Água e Esgotos – Márcio Galvão Fonseca
Diretor de Desenvolvimento e Cooperação Técnica – Manoel Renato Machado Filho
Diretor do Departamento de Articulação Institucional – Sergio Antonio Gonçalves
Gerentes de Projetos do Departamento de Articulação Institucional – Ernani Ciríaco de
Miranda e Norma Lúcia de Carvalho
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Ministério das Cidades
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental
Ministério das Cidades
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental
Departamento de Articulação Institucional
SAUS, Quadra 01, Lote 1/6, Bloco H, 9°Andar
Edifício Telemundi II, 70070-010 - Brasília/DF
(61) 2108-1966 e 2108-1488
www.cidades.gov.br
Organização Pan Americana da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, Lote 19
70800-400, Brasília/DF
(61) 3251-9595
Tiragem: x exemplares. Impresso do Brasil
CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte.
Ficha catalográfica elaborada xxxxxxxxx, CRB xxxxx/DF
Brasil. Ministério das Cidades. Organização Pan-Americana da Saúde.
Política e plano de saneamento ambiental: experiências e recomendações. Organização
Pan-Americana da Saúde; Ministério das Cidades, Programa de Modernização do Setor
Saneamento. Brasília: OPAS, 200xx. 2ª edição
148 p.: il.
Bibliografia: p. 131
ISBN 85-87943-52-9
I. Política. II. Planejamento. III. Saneamento.
IV Publicações oficiais. V. Título.
CDU 33.021:628(061)(81)
Índices para catálogo sistemático:
1. Política. Planejamento 332.021
2. Saneamento. 628
3. Publicações oficiais (061)
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SUMÁRIO
PREFÁCIO...................................................................................................................13
APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO........ ..........................................................................15
APRESENTAÇÃO DA 2ª EDIÇÃO..................................................................................18
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................21
2. POLÍTICA DE SANEAMENTO AMBIENTAL COMO UMA POLÍTICA SOCIAL...............29
2.1 Políticas Sociais – uma breve abordagem conceitual..............................................29
2.2 Saneamento Ambiental como uma Política Social...................................................35
3. A POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO..................................................41
4. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS
E ELABORAÇÃO DE PLANOS DE SANEAMENTO AMBIENTAL.....................................47
4.1 Alagoinhas: Conferência Municipal de Saneamento Ambiental como Experiência de
Planejamento Participativo e Controle Social...............................................................47
4.1.1 Introdução.........................................................................................................47
4.1.2 A Organização da Conferência...........................................................................50
4.1.3 As Pré-Conferências Regionais...........................................................................51
4.1.4 As Pré-Conferências Temáticas...........................................................................52
4.1.5 A 1ª Conferência Municipal de Saneamento Ambiental
de Alagoinhas(CMSA-A)...............................................................................................52
4.1.6 O Resultado da Conferência................................................................................54
4.1.7 Conclusão...........................................................................................................55
4.2 O Plano de Saneamento da cidade de Salvador: uma Experiência de Planejamento em
uma Metrópole.............................................................................................................56
4.2.1 Antecedentes ......................................................................................................56
4.2.2 Metodologia para Elaboração do Plano................................................................58
4.2.3 O Plano Enfatiza a Necessidade da Articulação Institucional................................59
4.2.4 Conclusão e Passos Seguintes.............................................................................60
4.3 Vitória da conquista: uma experiência de planejamento participativo de ações de
saneamento ambiental em nível local...........................................................................6
4.3.1 Considerações Iniciais.........................................................................................62
4.3.2 Metodologia Aplicada para a Elaboração do Plano...............................................63
4.3.3 Princípios Gerais do Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da Conquista..66
4.3.4 As Propostas do Plano.........................................................................................70
4.3.5 Projeto Local de Saneamento Ambiental..............................................................73
4.3.6 Conclusão...........................................................................................................78
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4.4 Barra do Choça: um pequeno município definindo as alternativas para o Saneamento
com Participação Popular.............................................................................................79
4.4.1 Considerações Iniciais.........................................................................................79
4.4.2 A Situação de Saneamento de Barra do Choça.....................................................80
4.4.3 Procedimentos Metodológicos.............................................................................81
4.4.4 Propostas Elaboradas..........................................................................................82
4.5 Pintadas: plano de saneamento ambiental e educação ambiental em um município de
pequeno porte..............................................................................................................84
4.5.1 Considerações Iniciais........................................................................................84
4.5.2 Pintadas: Situação do Saneamento e Propostas.................................................85
4.5.3 Conclusão...........................................................................................................90
5. PENÁPOLIS: PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL...........................91
5.1 Introdução..............................................................................................................91
5.2 A Política de Saneamento do Município..................................................................91
5.3 O Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Penápolis....................................92
5.3.1 Antecedentes ......................................................................................................92
5.3.2 Medodologia........................................................................................................93
6. BELO HORIZONTE: PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO......................................99
6. 1 Introdução..............................................................................................................99
6.2 A Política de Saneamento do Município de Belo Horizonte.......................................99
6.3 O Plano Municipal de Saneamento de Belo Horizonte..............................................101
6.3.1 Objetivos do Plano...............................................................................................101
6.3.2 Metodologia.......................................................................................................101
6.4 Propostas do Plano Municipal de Saneamento de Belo Horizonte – 2004-2007....108
7. POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL...........................113
7.1 Recomendações gerais para a formulação de Política Municipal de Saneamento
Ambiental..................................................................................................................113
7.1.1 Princípios e Diretrizes.......................................................................................113
7.1.2. Objetivos de uma Política Municipal de Saneamento Ambiental........................122
7.1.3 Sistema Municipal de Saneamento Ambiental...................................................124
7.2 Recomendações gerais para a elaboração de Plano Municipal e projetos locais de
Saneamento Ambiental..............................................................................................127
7.2.1. Elaboração de Plano Municipal de Saneamento Ambiental...............................127
7.2.2. Elaboração de Projetos Locais de Saneamento Ambiental.................................129
8. REFERÊNCIAS.......................................................................................................131
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Proporção da População com Abastecimento de Água e IDH em Países da
América Latina.
Figura 2: Proporção da População com Abastecimento de Água e PIB per capita em
Países da América Latina.
Figura 3: Proporção da População com Esgotamento Sanitário e IDH em Países da
América Latina.
Figura 4: Proporção da População com Esgotamento Sanitário e PIB per capita em Países
da América Latina.
Figura 5: Crianças expostas a ambiente insalubre em assentamento periurbano de
Salvador.
Figura 6: Definição de saneamento básico segundo a Lei nº 11.445/2007.
Figura 7: Funções de Gestão dos Serviços de Saneamento Básico, segundo a Lei nº
11.445/2007.
Figura 8: 1a Conferência Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas (CMSA-A),
julho de 2001.
Figura 9: Canal de drenagem de águas pluviais transportando esgotos sanitários e
resíduos sólidos em assentamento periurbano de Salvador.
Figura 10: Precariedade de diferentes componentes do saneamento em assentamento
periurbano de Salvador.
Figura 11: Reunião do Comitê Consultivo do Plano na UESB, em Vitória da Conquista.
Figura 12: Apresentação e discussão do projeto de esgotamento sanitário em reunião do
Conselho Local de Saneamento Ambiental de Inhobim, em Vitória da Conquista.
Figura 13: Cisterna domiciliar para armazenar água de chuva implantada no meio rural
de Pintadas.
Figura 14: Oficina de trabalho sobre manejo de resíduos sólidos realizada em Pintadas.
Figura 15: Atividade de capacitação para o Plano Municipal de Saneamento Ambiental.
Figura 16: Trabalho de grupo do Curso de Políticas Públicas.
Figura 17: Reunião do Grupo de Voluntários.
Figura 18: Discussão do diagnóstico da situação de saneamento com a população.
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LISTA DE TABELAS
SIGLAS E ABREVIATURAS
Tabela 1: Etapas e Atividades para o Desenvolvimento do Plano de Saneamento Ambiental
para Vitória da Conquista.
Tabela 2: Variação do ISA.
Tabela 3: Notas do critério de priorização “existência de programas de saneamento”.
Tabela 4: Ações e investimentos previstos no Plano Municipal de Belo Horizonte (20042007).
Tabela 5: Etapas e Atividades para o Desenvolvimento de Plano Municipal de Saneamento
Ambiental.
ACS: Agente Comunitário de Saúde
AR: Administração Regional
ASSEMAE: Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento
BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD: Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento ou Banco Mundial
CEPAL: Comisión Económica para America Latina
CERB: Companhia de Engenharia Rural da Bahia
CLSA: Conselho Local de Saneamento Ambiental
CMSA: Conferência Municipal de Saneamento Ambiental
CNS: Conselho Nacional de Saúde
COMUSA: Conselho Municipal de Saneamento de Belo Horizonte
CRA: Centro de Recursos Ambientais
CREA: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CUT: Central Única dos Trabalhadores
DAFA: Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente
DIRES: Diretoria Regional de Saúde
EMBASA: Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A.
ETA: Estação de Tratamento de Água
FA: Fossa Absorvente
FMI: Fundo Monetário Internacional
FMS: Fundo Municipal de Saneamento de Belo Horizonte
FNSA: Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental
FNU: Federação Nacional dos Urbanitários
FSESP: Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública
FSV: Fossa Seca Ventilada
FUNASA: Fundação Nacional de Saúde
GGPD: Grupo Gerencial do Plano Diretor de Drenagem
GGSAN: Grupo Gerencial de Saneamento
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
OAB: Ordem dos Advogados do Brasil
OMS: Organizaçión Mundial de la Salud
ONU: Organização das Nações Unidas
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As condições de saúde ambiental na maioria dos municípios da América Latina são
muito precárias devido à deficiência ou ausência de serviços públicos de saneamento
ambiental, agravado pela falta de planejamento no nível municipal em muitos casos, o
que tem contribuído para o desenvolvimento de ações fragmentadas e/ou descontínuas,
que por sua vez conduzem a um desperdício de recursos e baixa eficiência, resultando
em grandes cargas socioambientais.
Uma das formas encontrada para fortalecer os municípios é através do planejamento por
meio do processo de elaboração de uma Política Municipal de Saneamento Ambiental,
de forma participativa e democrática e que considere os princípios de universalidade,
equidade, integridade e controle social.
É uma oportunidade também para o município que não presta diretamente os serviços,
ainda que responsável pelos serviços de saneamento, iniciar uma nova forma de diálogo
e relação com a empresa concessionária dos serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário exercendo seu poder concedente.
A situação da saúde ambiental no âmbito local e o fato de que o município é o responsável,
em última instância, pela qualidade dos serviços de saneamento ambiental prestados aos
cidadãos, é uma base válida para priorizar e desenvolver esforços no planejamento das
ações de saneamento, de forma descentralizada, para, com o apoio de universidades e
centros de referências, desenvolver e utilizar metodologias para a elaboração de políticas
descentralizadas de saneamento ambiental.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em consonância com o mandato
outorgado pelos países da região e entendendo que as ações de saneamento é parte
fundamental das estratégias de promoção e proteção da saúde, espera contribuir para a
promoção da saúde das populações das Américas, tem contribuído no desenvolvimento
de metodologias e instrumentos que possibilitem aos países o alcance de suas metas
nacionais de saúde.
Assim, foi esta a motivação e orientação da OPAS por meio da área técnica de
desenvolvimento sustentável e saúde ambiental, ao convidar os Professores Luiz Roberto
Experiências e recomendações
PLANASA: Plano Nacional de Saneamento
PLSA: Projeto Local de Saneamento Ambiental
PMS: Prefeitura Municipal de Salvador
PMVC: Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista
PPP: Parceria Público-Privada
SAA: Sistema de Abastecimento de Água
SAAE: Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SES: Sistema de Esgotamento Sanitário
SINDAE: Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto no Estado da Bahia
SLU: Superintendência de Limpeza Urbana
SMEU: Secretaria Municipal de Estrutura Urbana
SMHAB: Secretaria Municipal de Habitação
SMLU: Secretaria Municipal de Limpeza Urbana
SMMAS: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano
SMPL: Secretaria Municipal de Planejamento
SMRU: Secretaria Municipal de Regulação Urbana
SMSA: Sistema Municipal de Saneamento Ambiental
SMSA: Secretaria Municipal de Saúde
SRS: Sistema de Resíduos Sólidos
SUDECAP: Superintendência de Desenvolvimento da Capital
SUS: Sistema Único de Saúde
UESB: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UFBA: Universidade Federal da Bahia
URBEL: Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte S/A
VDR: Vaso Sanitário de Descarga Reduzida
PREFÁCIO
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
OP: Orçamento Participativo
OPAS: Organização Pan-Americana da Saúde
OPS: Organización Panamericana de la Salud
PGISRS: Plano de Gestão Integrada e Sustentável de Resíduos Sólidos
PIB: Produto Interno Bruto
Moraes e Patrícia Campos Borja a elaborarem um documento guia para orientar as
municipalidades da região na elaboração de suas políticas municipais de saneamento
ambiental com diretrizes participativas, considerando a experiência desenvolvida.
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Esta publicação é resultado de uma parceria entre a Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS) e do Ministério das Cidades, com o propósito de estimular a sociedade
brasileira e o setor saneamento em particular a participar do debate para a melhoria
dos serviços de saneamento, de forma a superar o grande déficit e as desigualdades
observadas no acesso à prestação dos serviços.
A pergunta sobre como melhor planejar a prestação dos serviços de saneamento insiste
em desafiar a capacidade de reflexão e de formulação de políticas públicas dos órgãos
e especialistas do setor saneamento. Erros de toda natureza – como a inadequação das
soluções propostas e os conflitos com as condições objetivas e as reais necessidades das
populações a serem beneficiadas pelos serviços de saneamento – marcam fortemente os
empreendimentos e os processos de gestão no setor.
Por esse motivo, cada vez mais somos convencidos da importância de tratar o saneamento
em toda a sua complexidade. Ou seja, é importante pensar e desenhar adequadamente
as soluções tecnológicas, os empreendimentos industriais e em infraestrutura. Também
é fundamental considerar todas as variáveis socioculturais e ambientais envolvidas
na formulação das soluções de saneamento, desde a adequação às necessidades, o
atendimento às expectativas e aos valores culturais da população, até as vocações
econômicas e as preocupações ambientais das cidades.
Nos últimos anos, as políticas públicas do Ministério das Cidades para o Saneamento e o
Desenvolvimento Urbano têm se pautado, como preocupação central, pela concepção de
soluções e por diretrizes do saneamento que levem em conta as condições necessárias à
consolidação e à sustentabilidade dos sistemas na prestação de serviços, e a uma melhor
relação com as necessidades e as condições sociais das populações interessadas. Fruto
dessa determinação vale destacar o conteúdo da proposta do governo federal para o
marco regulatório do saneamento básico e as diretrizes dos programas e dos projetos de
investimento coordenados pelo Ministério das Cidades. O Projeto da Lei nº 5.296/2005,
encaminhado pelo governo federal ao Congresso Nacional, que define as diretrizes para
os serviços de saneamento básico e institui a Política Nacional de Saneamento Básico,
elege o planejamento, a regulação, a fiscalização e o controle social como fundamentais
para a execução das ações de saneamento. Além de estimular a solidariedade e a
cooperação entre os entes federados, incentivar os estados a criar legislação própria
que promova a integração dos serviços, e a orientar-se pelos princípios básicos da
universalidade, da integralidade e da equidade, sempre privilegiando o interesse público.
Experiências e recomendações
Luiz Augusto Cassanha Galvão
Gerente da Área de Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiental
Organização Pan-Americana da Saúde
APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Este documento aborda os componentes de abastecimento de água, saneamento,
manejo e gerenciamento dos resíduos, em uma perspectiva integrada, sustentada na
equidade e universalidade dos serviços, considerando o saneamento parte intrínseca das
estratégias de cooperação da OPAS com os países para atingir a meta de saúde para
todos na região.
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básico, particularmente para as parcelas mais carentes da população. Espera-se, ainda,
contribuir para a formulação das políticas urbanas com uma visão sistêmica – requisito
essencial na busca de soluções integradas para os graves problemas das cidades
brasileiras e condição necessária para o acesso aos serviços que garantam a saúde e a
qualidade de vida das populações.
Abelardo de Oliveira Filho
Experiências e recomendações
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Já os programas de crédito e de transferência de recursos não onerosos trazem diversos
critérios e requisitos pautados pela valorização e pelo reconhecimento de que os meios
de institucionalização, formulação de planos e participação social, de regularização e
definição dos mecanismos e dos instrumentos de concessão e regulação devam estar
intrinsecamente comprometidos com a qualidade e com os resultados de ampliação e
melhoria da prestação de serviços.
Trata-se, portanto, do governo federal, diante da situação do saneamento ambiental no
país, assumindo o papel de formulador e articulador das políticas públicas para o setor,
de forma a desenhar e implementar soluções reais para a redução dos enormes déficits
na prestação e na qualidade dos serviços de saneamento. Esse tem sido o esforço do
Ministério das Cidades por intermédio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.
Superar as carências em abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de
resíduos sólidos e limpeza pública e manejo das águas pluviais e drenagem urbanas é
um requisito fundamental para a saúde pública e a qualidade de vida e, portanto, para a
inclusão social e dignidade das pessoas e das comunidades.
A retomada nos financiamentos, suspensos em 1998, a transparência na seleção dos
investimentos, privilegiando as propostas pautadas pela eficiência, autossuficiência e
atendimento às áreas mais necessitadas, foram decisões tomadas visando contribuir
com o avanço do setor.
Essa publicação insere-se no propósito de o governo federal capacitar e apoiar os
municípios brasileiros em relação aos modernos conceitos de participação social e
planejamento.
A experiência tem demonstrado que é preciso proporcionar à sociedade o protagonismo
na definição das prioridades para as soluções de saneamento.
Assim, julgamos da maior importância compartilhar as reflexões dos professores Luiz
Roberto Santos Moraes e Patrícia Campos Borja. Trata-se de um estudo que, ao caracterizar
a importância do saneamento para a saúde e qualidade de vida das pessoas e analisar os
desafios para a universalização do acesso aos serviços, propõe o saneamento ambiental
como uma política pública de caráter social e apresenta algumas experiências municipais
que definiram suas ações de saneamento com essa diretriz. O estudo ressalta também
a relação e a necessidade de integração entre os elementos constituintes das políticas
e planos municipais de saneamento e as políticas urbanas e os planos diretores das
cidades.
Esperamos, portanto, promover a sensibilização dos diversos segmentos da sociedade
quanto à importância e aos benefícios do planejamento participativo do saneamento
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rarem os seus Planos Municipais de Saneamento Básico. A este instrumento de planejamento é dada grande importância na nova organização e estruturação da gestão dos
serviços de saneamento. A revisão deste livro considerou as novas orientações da Política
Federal de Saneamento Básico no Brasil e se apresenta como uma ferramenta para orientar os municípios no cumprimento da nova norma legal.
É importante ressaltar que o conceito de saneamento básico apresentado pela lei engloba o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos, e a drenagem e manejo de águas pluviais urbanas.
E já nesta publicação, os autores abordam o conceito de saneamento ambiental, que
considera de forma mais abrangente a definição da lei, trazendo experiências de planos
onde o saneamento foi observado de forma mais completa, inserindo outros aspectos do
saneamento, como: o controle ambiental de vetores e reservatórios de doenças; a promoção sanitária e o controle ambiental do uso e ocupação do solo; a prevenção e controle
de Saneamento Ambiental – SNSA está publicando: Guia para Elaboração de Planos de
Saneamento Básico Participativos, Conjunto de Peças Técnicas sobre a Elaboração de
Políticas e Planos de Saneamento Básico, Cartilha Planos de Saneamento Básico Participativos.
Todas estas publicações serão utilizadas pela Campanha Nacional Planos de Saneamento
Básico Participativos, recomendada na Resolução nº 32/2007 do Conselho das Cidades,
e coordenada pela SNSA. Já na Resolução nº 75/2009, anexa a este livro, o Conselho
das Cidades recomenda o conteúdo mínimo para as políticas e para os planos de saneamento.
Frente a todas estas demandas trazidas pela nova lei e por essas resoluções a SNSA está
estruturando um programa de cooperação técnica, com o objetivo de apoiar de forma
mais sistemática e mais presente os municípios de alguns estados da federação.
Este conjunto de ações ilustra a preocupação da SNSA e do Ministério das Cidades em
contribuir e apoiar os municípios brasileiros no processo de reorganização do saneamento básico no país, orientado pela nova lei do saneamento.
do excesso de ruídos, tendo a finalidade de promover e melhorar as condições de vida
urbana e rural, entre outros.
O foco central deste livro é apresentar experiências de alguns municípios pioneiros no
processo de elaboração de seus planos de saneamento, mas ao mesmo tempo traz as
orientações apontadas pela lei do saneamento e também recomendações aos municípios
que irão elaborar os seus planos. Nesta edição foi inserido o Capítulo 3 – Política Nacional
de Saneamento Básico, que tratou de sistematizar as novas orientações trazidas pela lei
para os municípios implementarem suas políticas e planos de saneamento básico, este é
o grande diferencial com relação à primeira edição.
As experiências relatadas nos capítulos 4, 5 e 6 foram concebidas antes da aprovação do marco legal. Porém, são importantes experiências da elaboração de planos de
Leodegar da Cunha Tiscoski
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental
Experiências e recomendações
A Lei nº 11.445/2007 orienta os municípios a implementarem suas políticas e a elabo-
Esta publicação faz parte do conjunto de materiais técnicos que a Secretaria Nacional
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
APRESENTAÇÃO DA 2ª EDIÇÃO
saneamento em municípios brasileiros. Portanto, podem servir como referência para a
elaboração de planos naqueles municípios que ainda vão iniciar o seu processo de elaboração, naqueles que já iniciaram, ou até mesmo para os que irão revisar os seus planos,
conforme recomenda a lei.
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19
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1Saneamento ambiental envolve o conjunto de ações técnicas e socioeconômicas, entendidas fundamentalmente como de
saúde pública, tendo por objetivo alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental, compreendendo o abastecimento de
água em quantidade e dentro dos padrões de potabilidade vigentes; o manejo de esgotos sanitários, de águas pluviais, de
resíduos sólidos e de emissões atmosféricas; o controle ambiental de vetores e reservatórios de doenças; a promoção sanitária
e o controle ambiental do uso e ocupação do solo; e a prevenção e o controle do excesso de ruídos, tendo como finalidade
promover e melhorar as condições de vida urbana e rural. Entretanto, neste documento, saneamento ambiental contempla
apenas as componentes do abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais e manejo de resíduos
sólidos, aproximando-se da definição de saneamento básico da Lei no 11.445/2007, que estabelece o marco legal para o
saneamento básico.
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Experiências e recomendações
O quadro sanitário da maioria da população da América Latina e Caribe ainda é muito
precário em virtude da carência de recursos para investimento e da deficiência ou da
ausência de políticas públicas de saneamento ambiental1, o que tem contribuído para
a proliferação de uma série de enfermidades evitáveis por medidas de saneamento. De
forma geral, as intervenções têm sido fragmentadas e/ou descontínuas, com desperdício
de recursos e baixa efetividade das ações implantadas.
As tecnologias adotadas muitas vezes não são compatíveis com as condições
socioeconômicas e culturais das populações-alvo das intervenções e os processos de
decisão quanto às políticas, aos programas e aos projetos têm se dado na maior parte
dos países, segundo uma lógica tecno-burocrática, sem a participação das populações e
da sociedade civil organizada.
A precariedade do abastecimento de água na Região pode ser ilustrada pelos dados de
alguns países. A proporção da população total com ligação domiciliar aos sistemas de
abastecimento de água varia de 20% no Haiti, a 100% nos Estados Unidos, revelando o
alto nível de desigualdade no acesso a esse serviço fundamental à vida.
Na Figura 1, entre os países selecionados, pode-se perceber que México, Uruguai, Chile,
Panamá e Venezuela atingiram uma cobertura da população acima de 80%. Os Estados
Unidos já atingiram a universalização do atendimento com cobertura de 100%.
A figura citada indica que a cobertura com esse serviço decresce com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Ou seja, onde existe baixo desenvolvimento humano,
existe também precariedade no abastecimento de água.
Essa relação também ocorre com o Produto Interno Bruto (PIB) per capita (Figura 2). O
Haiti, onde esse indicador é o menor, possui também a menor cobertura da população
com abastecimento de água (OPS/OMS, 2004). Entre os países das Américas, apenas
70% da população tem acesso à água tratada, embora essa situação já tenha sido mais
dramática há dez anos.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
1. INTRODUÇÃO
21
29.11.09 16:15:03
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EUA
Experiências e recomendações
Chile
Colombia
México
Peru
Venezuela
Argentina
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
EUA
Chile
México
Colombia
Peru
Venezuela
Brasil
Argentina
Cuba
Uruguai
Panamá
Nicaragua
República
Dominicana
Bolívia
Esgotamento sanitário
Brasil
A situação do esgotamento sanitário ainda é mais grave nos países da América Latina e
Caribe. A cobertura da população total com esse serviço varia de 0% no Haiti a 76,8%
nos Estados Unidos.
Entre os países selecionados, apenas Colômbia, Estados Unidos e Chile possuem cobertura
acima de 60% da população. O acesso ao esgotamento sanitário é extremamente desigual
e varia em função do IDH e do PIB per capita. À medida que o IDH decresce, também
decresce a proporção da população com esgotamento sanitário (Figura 3).
Esse comportamento também é verificado em relação ao PIB per capita (Figura 4). Apenas
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Uruguai
Fonte: OPS/OMS, 2004.
* Com ligação domiciliar em 2000.
** Em 2001.
Figura 4 – Proporção da População com Esgotamento Sanitário* e PIB** per capita
em Países da América Latina.
Cuba
PIB Per capita (US$)
IDH - 1997
Fonte: OPS/OMS, 2004.
* Com ligação domiciliar em 2000.
** Em 1997.
Panamá
EUA
México
Uruguai
Chile
Panamá
Venezuela
Brasil
Colombia
Cuba
Argentina
Bolívia
Peru
Nicaragua
Paraguai
República
Dominicana
Haiti
Abastecimento de água
Esgotamento sanitário
Paraguai
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
1,000
0,900
0,800
0,700
0,600
0,500
0,400
0,300
0,200
0,100
0,000
Nicaragua
República
Dominicana
Bolívia
Figura 2 – Proporção da População com Abastecimento de Água* e PIB** per capita
(US$) em Países da América Latina.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Haiti
Abastecimento de água
Fonte: OPS/OMS, 2004.
* Com ligação domiciliar em 2000.
** Em 1997.
Figura 3 – Proporção da População com Esgotamento Sanitário* e IDH em Países
da América Latina.
Paraguai
EUA
México
Uruguai
Chile
Panamá
Brasil
Venezuela
Cuba
IDH - 1997
Colombia
Bolívia
Argentina
Peru
Nicaragua
República
Dominicana
Haiti
1,000
0,900
0,800
0,700
0,600
0,500
0,400
0,300
0,200
0,100
0,000
Paraguai
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
o Chile apresentou cobertura acima de 60% com um PIB mais baixo, embora seja um dos
maiores entre os países selecionados.
Um outro problema relacionado ao esgotamento sanitário diz respeito ao baixo nível
de tratamento das águas residuárias. Estima-se que apenas 10% das águas coletadas
por rede de esgotamento sanitário recebem algum tipo de tratamento antes de serem
encaminhadas ao destino final.
Haiti
Figura 1 Sequência cronológica das etapas de elaboração de um PMS.
PIB Per capita (US$) - 2001
23
Fonte: OPS/OMS, 2004.
* Com ligação domiciliar em 2000.
** Em 2001.
29.11.09 16:15:11
24
Livro de experiências_15x21.indd 24-25
o abastecimento de água e o esgotamento sanitário. As enfermidades associadas à
deficiência ou à inexistência de saneamento ambiental e a consequente melhoria da
saúde decorrente da implantação de tais medidas têm sido objeto de diversos estudos.
Entre essas enfermidades, a diarréia e as doenças parasitárias, em particular as
verminoses, e mais recentemente, o estado nutricional, têm merecido a atenção de
estudiosos e das autoridades sanitárias em todo o mundo (MORAES, 1994a – Figura 5).
Os riscos de infecção de uma população estão relacionados à sua densidade populacional,
às condições de habitabilidade, à concentração e ao tipo de agentes patogênicos ingeridos,
e à sua suscetibilidade, que depende de exposições anteriores ao agente, além do estado
geral de saúde da população (MORAES, 1994a).
Benefícios específicos de intervenções de saneamento ambiental abrangem a diminuição
da morbidade resultante de doenças diarréicas e parasitárias e a melhoria do estado
nutricional das crianças (ESREY et al., 1990). Costa et al. (1985), estudando o padrão
de mortalidade nas crianças da faixa etária de 1 a 4 anos, em 1980, em Salvador (BA),
estimaram a taxa de mortalidade e as principais causas como sendo doenças diarréicas
e doenças parasitárias. Os autores concluíram que a maioria dessas mortes poderia ser
facilmente evitada com algumas ações de saúde, tais como cuidados primários de saúde,
intervenções de saneamento e vacinações.
Experiências e recomendações
Figura 5 - Crianças expostas a ambiente insalubre em assentamento periurbano
de Salvador.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Outros problemas ambientais têm atingido os países da Região, a exemplo da contaminação
dos alimentos, a disposição inadequada dos resíduos sólidos e a precariedade das
moradias, muitas delas sem instalações hidráulico-sanitárias.
As figuras também indicam que, no Brasil, a situação dos serviços de saneamento também
é bastante precária. Embora as populações urbanas tenham atingido níveis satisfatórios
de cobertura com abastecimento de água, o esgotamento sanitário e o manejo ambiental
adequado das águas pluviais e de resíduos sólidos ainda representam um grande desafio.
Os níveis de atendimento dos serviços seguem um padrão de desigualdade.
As populações das regiões Sul/Sudeste têm melhor padrão de atendimento que as
do Norte/Nordeste e, nas cidades, a periferia sofre com a falta de água, com esgotos
correndo a céu aberto in natura e com resíduos sólidos acumulados.
A qualidade e quantidade dos serviços prestados decrescem dos ricos para os pobres,
tanto no meio urbano como no rural. A deficiência dos serviços de saneamento ambiental
tem gerado impactos negativos nas condições de vida e de bem-estar da população. Tal
situação foi o reflexo da atuação do Estado Brasileiro no campo do saneamento, marcada
por investimentos e ações focalizadas que privilegiaram estados, regiões e segmentos
da população. Além disso, no período de 1986 a 2003, o país vivenciou a retração dos
investimentos públicos e um vazio institucional e legal.
Nas pequenas localidades no interior dos estados do Nordeste brasileiro a situação ainda
é mais grave. Geralmente, essas localidades não dispõem de sistemas de saneamento
ambiental, ou, quando dispõem, não atendem toda a população e/ou não funcionam.
Na maioria das vezes, não funcionam porque foram planejados, projetados e implantados
sem a participação da comunidade, utilizando tecnologias não condizentes com a
realidade socioeconômica, cultural e ambiental local, e/ou porque não dispõem de uma
estrutura organizacional que garanta a administração, a operação, a manutenção e a
expansão dos sistemas. Todos devem ter o direito às ações e aos serviços de saneamento
ambiental.
A água é um direito humano fundamental já reconhecido pelo Comitê sobre Direitos
Econômicos, Culturais e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU).
As ações de saneamento devem ser entendidas, fundamentalmente, como de saúde
pública, compreendendo o conjunto de ações que visam melhorar a salubridade ambiental
– aí incluídos o abastecimento de água em quantidade e qualidade; o manejo sustentável
dos resíduos líquidos e sólidos; o manejo e o destino adequado das águas pluviais;
o controle ambiental de vetores de doenças transmissíveis; e demais serviços e obras
que visem promover a saúde e qualidade de vida.
A ONU, quando estabeleceu as Metas de Desenvolvimento do Milênio, contemplou
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2Nota dos editores: a partir de 2005, com a aprovação de Lei nº 11.107, de 05 de abril de 2005, da gestão associada de serviços
públicos, além das formas já consagradas mencionadas, instituiu a possibilidade de formação de consórcio público para a
gestão e prestação dos serviços de saneamento básico.
Experiências e recomendações
bacteriana têm sido associadas ao abastecimento de água, entre as quais algumas de
caráter epidêmico, como o cólera e a febre tifóide, que dizimaram populações em épocas
passadas (BRANCO, 1978). Pode-se citar também a febre paratifóide, as disenterias –
amebianas e bacilar –, hepatites infecciosas, gastroenterites, a esquistossomose e a
poliomielite.
São muito conhecidas as doenças diarréicas bacterianas, cujos parasitas causadores são
frequentemente veiculados por águas que recebem contaminação fecal. Essa doença
é adquirida por via digestiva, sendo as bactérias eliminadas, em grande número, pelo
doente juntamente com as suas fezes que são conduzidas pelo esgoto até às águas
superficiais e subterrâneas (CETESB, 1974).
Os vírus são os causadores de várias doenças no ser humano, como: hepatite infecciosa
e a doença de Coxsackie (pleurodinia). Algumas formas de protozoários parasitas e, entre
estes, algumas que se localizam no trato intestinal, podem veicular doenças, sendo
as mais comuns: Entamoeba histolystica, causadora da amebíase; a Giardia lamblia,
causadora da giardíase; e o Balantidium coli, produtor da balantidiose.
Quanto aos vermes, muitos deles são parasitas do homem, causando as chamadas
verminoses intestinais e podem, eventualmente, ser transmitidas sob a forma de ovos ou
larvas por meio das águas.
Assim sendo, alimentos ou águas que tenham contato com fezes humanas são os veículos
naturais de doenças. Se os esgotos contendo dejetos ou das águas residuárias não forem
tratados corretamente, as águas superficiais e subterrâneas podem contaminar-se, pondo
em perigo o abastecimento de água e a saúde pública.
Embora a relação entre as medidas de saneamento ambiental e a melhoria da saúde
pública seja das mais ponderáveis e reconhecidas no meio técnico-científico, persiste a
existência de populações que não têm acesso à água potável e meios para a disposição
adequada dos excretas e águas servidas.
Na América Latina e Caribe, os governos não dispõem de políticas de saneamento
ambiental com arcabouço jurídico-institucional e programas de investimentos para fazer
frente ao grande déficit dos serviços. As ações de saneamento ambiental, além de se
caracterizarem por um serviço público essencial, sendo a sua promoção um dever do
Estado, são essencialmente um serviço de caráter local e, portanto, de responsabilidade
municipal (MORAES e GOMES, 1997). A gestão dos serviços pode dar-se de forma direta
ou por regime de concessão ou permissão2.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Eles também enfatizaram que os casos de morte foram mais frequentes em áreas
periféricas da cidade do que nas áreas com melhores condições socioeconômicas,
sugerindo que os fatores determinantes das mortes tinham uma distribuição desigual na
área de estudo.
Estudos realizados por Moraes (1996) mostraram, com alguma evidência, que as melhorias
de saneamento ambiental, especialmente a disposição de excretas humanos/esgotos
sanitários no ambiente de domínio público, podem ter gerado um impacto positivo sobre
a morbidade de diarréia e o estado nutricional em crianças menores de 5 anos residentes
em áreas periurbanas de Salvador (BA) e sobre as infecções intestinais por helmintos em
crianças entre 5 e 14 anos de idade, mesmo quando outros fatores socioeconômicos,
culturais e demográficos foram considerados. Os resultados dos estudos de Moraes
(1996) também encaminham para implicações de ordem política.
A transmissão de doenças no ambiente de domínio público é um problema público,
requerendo, para preveni-la, investimentos públicos em sistemas de disposição de
excretas humanos/esgotos sanitários, sistemas de drenagem de águas pluviais e de
resíduos sólidos, ou regulação, por meio de normas e padrões de qualidade da água
e proibição, por lei, de descargas ou lançamentos de resíduos. Os governos federal,
estaduais e municipais não podem se eximir de suas responsabilidades de promover a
saúde, protegendo os indivíduos de esgotos que escoam a céu aberto ou extravasam nas
ruas, bem como evitando lançamentos de resíduos sólidos nos sistemas de drenagem e
de esgotamento sanitário (CAIRNCROSS et al., 1996).
Moraes (1998), estudando o impacto dos resíduos sólidos domiciliares urbanos na
saúde, sugere que o tipo de acondicionamento domiciliar e a prestação do serviço de
coleta contribuíram para controlar a transmissão das doenças diarréicas e parasitárias
estudadas, deixando um residual que depende de outros fatores de risco.
Desse modo, a universalização do serviço regular de coleta de resíduos sólidos
domiciliares urbanos, e também a mudança de comportamento das pessoas quanto ao
uso de acondicionador domiciliar, são medidas que contribuem para a redução do quadro
de morbidade das crianças residentes em áreas não atendidas por esse importante
serviço de saneamento ambiental.
No que diz respeito ao abastecimento de água, a literatura tem indicado que diversas
características físicas, químicas, biológicas e hidrobiológicas da água podem afetar a
saúde humana. Essas características podem ser determinadas por condições naturais ou
pela ação do homem.
Essa última está relacionada a atividades produtivas, a exemplo do lançamento de dejetos
domésticos ou resíduos industriais nas coleções de água. Várias moléstias de origem
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2. POLÍTICA DE SANEAMENTO AMBIENTAL COMO
UMA POLÍTICA SOCIAL
A compreensão da constituição e conteúdo de uma política de saneamento ambiental
passa, necessariamente, pelo entendimento dos fatores políticos, sociais, econômicos,
entre outros, que determinam a atuação do Estado no campo das políticas públicas e
sociais em cada contexto histórico. As visões de mundo de cada época, a correlação
de poder entre as nações, a situação econômica, o nível de organização e poder de
influência da sociedade civil e, no campo epistemológico, o caráter e conteúdo do saber
produzido, formam uma malha complexa que influenciam a ação do Estado.
No campo epistemológico, a história tem demonstrado o quanto a ciência tem assumido
um papel importante, e cada vez mais, para dar legitimidade à adoção desta ou daquela
política. As transformações ocorridas nos anos 1970 colocaram em evidência essa
questão e, principalmente, provocaram grandes questionamentos sobre a produção do
saber, sobre teses e teorias antes amplamente aceitas.
A discussão epistemológica e filosófica dos anos 1970 abriu espaço para várias ideias
como a indeterminação dos fenômenos políticos, sociais e econômicos e o significado de
verdade; trás o fim da referência ao universal; coloca na ordem do dia a discussão sobre
a diferença e apresenta um forte questionamento sobre a noção de totalidade.
A ideia de início, apogeu e declínio das civilizações é posta em questão, assim como as
metateorias e a interpretação marxista do real. Não só a racionalidade científica passa
a ser revista como a filosófica. Diversas vertentes teóricas passam a ser vistas como
ultrapassadas, enquanto outras ressurgem com nova roupagem.
Por seu turno, a neutralidade da ciência é posta em questão e a filosofia adquire nova
força. Assim, as novas questões do mundo contemporâneo e os avanços do último século
no campo das ciências e da filosofia colocaram em evidência a necessidade da revisão
dos grandes paradigmas conceituais que nortearam a produção do conhecimento no
Ocidente.
A teoria da relatividade e a física quântica passam a influenciar diversos pensadores
(Bachelard, Derrida, Foucault, Lyotard e Bourdieu).
As teorias liberais, gestadas no interior da academia européia e norte americana logo após
a 2ª Guerra Mundial, aliada a outros fatores, entre os quais a crise do capitalismo de modelo
keynesiano-fordista em 1973 e o fracasso da experiência do socialismo real, fazem emergir
na Inglaterra dos anos 1980, e disseminar no resto do mundo, as ideias neoliberais.
Experiências e recomendações
2.1 POLÍTICAS SOCIAIS – UMA BREVE ABORDAGEM CONCEITUAL
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Porém, cabe ao poder local a responsabilidade de acompanhar, fiscalizar e definir as
políticas e programas a serem implementados. Por sua vez, os usuários dos serviços
de saneamento ambiental não são apenas consumidores de um serviço ofertado no
mercado; são cidadãos aos quais o poder público deve prestar serviços, atendendo aos
princípios de universalidade (o acesso é um direito de todos), equidade (os cidadãos têm
direito aos serviços de qualidade), integralidade (acesso aos serviços de acordo com a
necessidade dos cidadãos) e com participação e controle social.
Diversas experiências têm sido realizadas no Brasil com o propósito de fortalecer a ação
municipal com vista à retomada do planejamento, por meio de formulação de políticas e
da elaboração de planos municipais de saneamento ambiental.
Visando contribuir com as Metas de Desenvolvimento do Milênio estabelecidas pela
ONU, fortalecer o desenvolvimento local e ampliar o acesso das ações de saneamento
ambiental a todos, o presente documento tem como objetivo apresentar algumas dessas
experiências e realizar recomendações gerais para a formulação de políticas e elaboração
de planos municipais de saneamento ambiental.
Inicialmente, o item 2 trata de aspectos teóricos e conceituais sobre políticas públicas
e sociais, para, posteriormente, situar as políticas de saneamento ambiental no âmbito
destas políticas. O item 3 aborda a Política Nacional de Saneamento Básico instituída pela
Lei nº 11.445/2007.
Essa lei aprovou a política federal e determinou a elaboração do Plano Nacional de
Saneamento Básico, e das Políticas e dos Planos Municipais de Saneamento Básico.
Nos itens 4, 5 e 6 são apresentadas algumas experiências brasileiras na formulação de
políticas municipais e na elaboração de planos municipais de saneamento ambiental; já
no item 7, são feitas recomendações gerais para a formulação de uma política municipal
de saneamento ambiental e a elaboração de plano municipal e de projetos locais de
saneamento ambiental.
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3Segundo Serpa (2000), na nova ciência busca-se a unidade homem-natureza e a percepção como categoria. Esta percepção
é desenvolvida na historicidade, na vivência do processo, na práxis. Não se apoia no sujeito nem no objeto e sim na unidade.
A vivência desenvolve a percepção e envolve o sentir. A profundidade parece não estar relacionada com a lógica e sim com a
percepção que pode desenvolver a sincronicidade de coisas que são diacrônicas.
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Experiências e recomendações
Para Harvey (1994), as teses do pós-modernismo conduziram a uma descrença no
pensamento iluminista de que era possível a emancipação humana universal pela
mobilização das forças tecnológicas, da ciência e da razão.
Esse autor destaca que, desde 1972, vem ocorrendo uma mudança nas práticas culturais
e político-econômicas vinculadas à emergência de novas maneiras de experimentar o
tempo e o espaço. Segundo esse autor; existe “uma relação entre a ascensão de formas
culturais pós-modernas, a emergência de modos mais flexíveis de acumulação do capital
e um novo ciclo de compreensão do tempo e do espaço na organização do capitalismo”
(HARVEY, 1994, p.65).
Segundo Jameson (1997), o pós-modernismo não é senão a lógica cultural do capitalismo
avançado. A fragmentação e a instabilidade da linguagem e dos discursos no pósmodernismo produzem uma desordem linguística, uma ruptura na cadeia significativa de
sentido, que cria frases simples como “produzindo um agregado de significantes distintos
e não relacionados entre si” (JAMESON, 1997). Harvey (1994) observa que essa nova
lógica cultural retira a possibilidade da busca modernista de um futuro melhor, uma vez
que a perda do “sentido centrado de identidade” (HARVEY, 1994, p. 57) impossibilita os
indivíduos de se dedicarem a projetos que se estendam no tempo ou ter um pensamento
coerente para a produção desse futuro.
Nos campos da sociologia e da ciência política, alguns autores têm apontado para o reflexo
do debate epistemológico nas interpretações contemporâneas das políticas públicas e
sociais. Hirsch (1998), em suas reflexões sobre o Estado, o capital e a globalização, tem
ressaltado que as teorias têm sido insuficientes para explicar a realidade contemporânea.
Para ele, as transformações econômicas e sociais ocorridas após a crise do capitalismo
de 1973 provocaram uma desordem no campo epistemológico.
Behring (2002), ao analisar a política social no capitalismo tardio e o caso brasileiro,
concluiu que na segunda metade dos anos 1980, ocorreu uma ruptura dos enfoques
teóricos das análises das políticas sociais no Brasil.
Para a autora, se, por um lado, ocorre a negação de abordagens pautadas no determinismo
econômico e a interpretação do papel do Estado como sendo exclusivamente aparelhos
ideológicos de reprodução político-econômica do capitalismo, por outro, ocorre uma
reaproximação dos aportes teóricos da tradição marxista.
No entanto, para a autora, ainda persiste uma subestimação das determinações
econômicas da política social.
Para Fiori (1998), as teorias que têm influenciado mais recentemente a discussão sobre
políticas públicas, como a teoria dos jogos, da escolha pública e expectativas racionais,
forjadas nos anos 1960/70 no interior da academia americana, apresentam-se como um
suporte científico para dar legitimidade às políticas neoliberais, tendo fortes influências
da teoria econômica neoclássica. Atualmente, podem-se identificar diversas matrizes
teóricas interpretativas das políticas sociais.
Faleiros (1991) aponta pelo menos cinco vertentes de interpretação: a) as que consideram
as políticas sociais como mecanismos de manutenção da força de trabalho; b) como
conquista dos trabalhadores; c) como arranjos do bloco do poder; d) como doações
das elites dominantes; e e) como instrumento de garantia dos direitos dos cidadãos.
Na perceptiva do autor, se, por um lado, não se podem reduzir as políticas sociais a um
único esquema interpretativo, por outro, não se pode adotar o ecletismo teórico típico das
concepções pós-modernas.
Behring (2002) indica pelo menos quatro abordagens teóricas das políticas sociais: o
policismo, o redistributismo, o estatismo e o ecletismo.
No policismo a política social é automizada do processo de produção, sendo reduzida à
vontade política dos sujeitos. O redistributivo tem como ideal o Welfare State, entendendo
a política social como solução das desigualdades, desconsiderando, portanto, a natureza
contraditória do modo de produção capitalista.
Segundo essa perspectiva, a luta política travada em torno da gestão do Estado e a
ocupação de espaços de poder poderia redirecionar as políticas e a distribuição dos
recursos com vista à promoção da universalização do acesso aos direitos sociais e à
ampliação da cidadania.
O estatismo busca explicar a política social por meio do papel do Estado, que é tratado
como uma instância acima das relações sociais, não estando, portanto, sujeito às
demandas sociais.
O ecletismo filia-se a categorias marxianas embora também incorpore o enfoque
redistributivista keynesiano. Para Behring (2002), o papel do Estado seria o de articular
acumulação e legitimação, estando aí seu o caráter político.
O Estado, portanto, não estaria acima da sociedade, nem seria politicamente autônomo.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
É neste contexto que surgem diversas vertentes teóricas entre elas a chamada “nova
ciência”3 e a noção de pós-modernidade. As ideias da chamada pós-modernidade não só
influenciaram, e ainda influenciam, a produção de conhecimento nos diversos campos do
saber, como também a visão de mundo contemporânea.
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Experiências e recomendações
(1994), ao realizar uma análise das características das políticas públicas e sociais defende
a sua multideterminação.
Para a autora, a política social seria a resultante possível e necessária das relações que
historicamente se estabeleceram no desenvolvimento das contradições entre capital
e trabalho, mediadas pela intervenção do Estado, e envolvem pelo menos três atores
principais: a burocracia estatal, a burguesia industrial e os trabalhadores urbanos.
Essas políticas tornam-se cada vez mais multideterminadas em face dos interesses de
setores capitalistas e da classe trabalhadora, tornando-as ora subordinadas aos interesses
de consumo e lucratividade, em detrimento das necessidades da população, ora estejam
articuladas a interesses coletivos. Para Fleury (1994), a gestão estatal contribui para a
acumulação capitalista, tanto na reprodução da força de trabalho como na circulação e
no consumo de mercadorias pelos setores sociais.
No campo da reprodução da força de trabalho, as políticas e práticas sociais contribuem
para a acumulação capitalista sempre que: 1) favorecem a subordinação do trabalho
ao capital por meio de práticas médicas e educativas que possibilitam criar normas
para a disciplina laboral; 2) viabilizam as condições de reprodução por meio de políticas
educacionais, sanitárias, de nutrição, habitação e transporte que participam do aumento
do valor da força de trabalho; 3) aumentam a produtividade do trabalho incrementando a
mais-valia relativa; e 4) atuam como contratendência a baixa tendencial da taxa de lucro,
com a participação estatal na socialização dos custos da produção e, assim: repassando
a mais-valia dos setores mais rentáveis para os demais; assumindo as perdas da
desvalorização de capitais; operando setores de mais baixa lucratividade indispensáveis
à produção; ou assumindo a reprodução da força de trabalho.
No campo da circulação e consumo de mercadoria, a gestão estatal contribui para a
acumulação capitalista por meio da chamada capitalização dos setores sociais, ou seja,
a mercantilização dos serviços sociais que passam a ser parte do ciclo de expansão e
circulação do capital, uma vez que esta seria a única maneira de viabilizar o consumo de
mercadorias que a população trabalhadora não teria condições de comprar.
A crescente sofisticação e o encarecimento dos custos de práticas sociais determinadas
pelo uso de tecnologias mais complexas e onerosas contribuem para agravar a crise fiscal
do Estado (FLEURY, 1994). Para Fleury (1994), a intervenção estatal via políticas sociais
é uma função intrínseca ao Estado Moderno, regulando e proporcionando condições de
manutenção e reprodução de uma parcela da população. O Estado, por meio de políticas
sociais, atua na perspectiva de atenuar os efeitos destrutivos da ordem capitalista.
A intervenção estatal por meio de políticas sociais é em si a manifestação da natureza
contraditória do capitalismo. As políticas públicas teriam o papel de mediar a relação
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Segundo esta perspectiva, o entendimento das políticas sociais deve passar pela análise
da simbiose entre o estatal e o privado.
Assim, o locus onde as políticas sociais são agenciadas estaria para além das instituições
estatais, havendo uma complexa relação entre estatal/público/privado. A configuração
das políticas sociais se daria por iniciativas do Estado, empresas, sindicatos, organizações
não governamentais ou instituições mistas.
Aqui, a autora se articula com o conceito de Estado ampliado de Gramsci, essencial para
o entendimento da relação Estado e sociedade civil. Para Mandel (apud BEHRING, 2002),
o Estado tem o papel de mediar a produção material, uma vez que a economia não
consegue reproduzir e proteger a estrutura social. Assim, o Estado teria as funções de
garantir as condições de produção, reprimir as ameaças e integrar as classes dominadas.
As condições de produção incluem transporte, comunicação, leis, ordens estáveis, um
mercado nacional e um estado territorial, um sistema monetário e reprodução da forma
de trabalho intelectual indispensáveis à produção econômica.
Assim, no capitalismo tardio, o Estado amplia suas funções, assumindo um papel decisivo,
por meio do aumento dos instrumentos de planejamento econômico e a socialização dos
custos (riscos e perdas) com vistas a subsidiar a acumulação de capital.
O Estado passa a assumir o papel de administrador das crises por meio de medidas
anticíclicas e anticrises.
O Estado assume o duplo papel de evitar as crises sociais, que podem ameaçar o sistema,
e garantir o processo de valorização e acumulação no capitalismo tardio. Essa realidade
aumenta o empenho dos capitalistas em influenciar as decisões. Nesse momento,
segundo Mandel, ocorre um deslocamento das instâncias clássicas de decisão, no caso
o Parlamento, para a administração governamental.
Seguindo a concepção mandeliana do capitalismo tardio, as políticas sociais multiplicamse no final do longo período depressivo (1914–1939), generalizam-se no início do período
de expansão e seguem até o final da década de 1960. O período depressivo vai conduzir a
burguesia a modificar a sua atitude quanto à sua confiança na “mão invisível do mercado”,
e as teses keynesianas tomam fôlego.
Nesse momento, a política social assume importância como estratégia anticíclica
pós 1929. Há um crescimento de seguros sociais também em face das pressões dos
movimentos sociais. Para Behring (2002), o conceito de seguridade social ultrapassa o
sistema previdenciário. Trata-se, na verdade, de um conjunto de medidas econômicas e
políticas que visam subsidiar a iniciativa privada, a exemplo da compra de equipamentos
de consumo coletivo, garantia estatal dos preços da cesta básica, dentre outros. Fleury
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34
Nos anos 1990, o contexto de disputa de fundos públicos e os argumentos da escassez
de recursos, além da necessidade de conter o déficit público, fazem surgir as fórmulas
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2.2 SANEAMENTO AMBIENTAL COMO UMA POLÍTICA SOCIAL
As ações de saneamento ambiental ao longo da história da humanidade têm sido tratadas
com conteúdos diferenciados, conforme os contextos social, político, econômico, cultural
de cada época e nação. Por vezes, o saneamento ambiental tem sido tratado como uma
política social; por outras, como apenas uma política pública. Essa ambiguidade traduzse não só no campo teórico como na ação governamental.
Nos países centrais, onde as questões básicas de saneamento já foram superadas há
muitas décadas, as ações de saneamento ambiental são tratadas no bojo das intervenções
de infraestrutura das cidades.
Nos países ditos em desenvolvimento e nos subdesenvolvidos, onde os serviços de
saneamento ambiental são extremamente deficientes ou inexistentes, conduzindo a
disseminação de enfermidades e óbitos, notadamente da população infantil, as ações
de saneamento ambiental deveriam ser encaradas como uma medida básica de saúde
pública.
Essa abordagem aproximaria as políticas de saneamento ambiental às políticas sociais.
No entanto, essa concepção não é unânime (BORJA, 2004). Uma rápida inserção na
história do saneamento (ROSEN, 1994) permite concluir que desde os primórdios as
ações de saneamento sempre estiveram articuladas às de saúde pública.
Experiências e recomendações
O significado da política social não pode ser apanhado nem exclusivamente
pela sua inserção objetiva no mundo do capital, nem apenas pela luta
de interesses dos sujeitos que se movem na definição de tal ou qual
política, mas, historicamente, na relação desses processos na totalidade.
A generalizada associação entre redistribuição de renda, cidadania e
democracia nas condições específicas do capitalismo mundial (central
e periférico) em fins deste século é, no mínimo, discutível. Assim, esse
discurso cerca de enfeites ações compensatórias, muitas vezes mínima,
considerada a extensão das demandas reais da população, particularmente
no Terceiro Mundo (BEHRING, 2002, p. 174).
de corte dos gastos estatais para a garantia do equilíbrio das contas públicas. A política
social do Walfare State passa a ser vista como uma ação paternalista do Estado, geradora
de desequilíbrio, e como algo a que se pode ter acesso via mercado, não se constituindo,
portanto, como um direito social.
Surge então a noção de Estado mínimo para os trabalhadores e Estado máximo para o
capital (BEHRING, 2002).
É nesse contexto que as teses neoliberais tomam força, promovendo o desmonte das
políticas do Welfare State. Os países da periferia capitalista são compelidos a adotar
o tripé neoliberal (desregulamentação, privatização e abertura comercial) para obter
a credibilidade junto dos novos protagonistas do mundo globalizado: os mercados
financeiros. As instituições financeiras internacionais como Fundo Monetário Internacional
(FMI), Banco Mundial (BIRD) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) passam a
ser protagonistas de propostas de reformas do papel do Estado no âmbito das políticas
sociais nos países em desenvolvimento.
As privatizações de estatais e de serviços públicos passam compor o receituário dessas
instituições com o aceite dos Estados-Nação.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
entre Estado e sociedade, assim como se constitui no meio pelo qual as elites constroem
a sua hegemonia.
As políticas sociais como “estratégias de hegemonia, fazem parte do processo de
expansão de uma classe, de tal forma que seus interesses econômico-corporativos são
suplantados, e ela alça tal grau de consciência e organicidade que se capacita a formular
um projeto nacional para a globalidade da sociedade” (FLEURY, 1994, p.49). Hirsch (2002)
recentemente realizou uma reflexão sobre o Estado, globalização e políticas sociais,
indicando as novas determinações das políticas governamentais frente à globalização.
Para ele, em virtude da tendência de baixa da taxa de lucro, o capital é continuamente
forçado a inverter essa tendência.
O autor argumenta que a dinâmica da mais-valia relativa na produção do valor é essencial
para a manutenção da exploração.
Como o desenvolvimento avançado de capital dissolve e destrói as condições naturais
pré-capitalistas (população rural como reserva para o trabalho, a família como seguridade
social, a natureza como força livre de produção), as condições básicas de produção do
homem e da natureza passam a ser assunto de regulação social organizada, por meio
de sistemas de seguridade social, pensões, hospitais, escolas, serviços burocráticos e
sociais e também a regulação estatal dos recursos naturais, como água e ar.
Assim, tanto o processo imediato de realização do capital tem que ser regulado, como
também tem de sê-lo o processo de reprodução da força de trabalho. Ou seja, o sistema
de seguridade social é uma necessidade estrutural por causa das modificações das
condições de socialização. O Estado do Bem-Estar Social não é só o resultado da luta de
classe, mas também é constituinte estrutural da forma fordista de socialização.
Para Behring (2002), a política social está no centro do embate econômico e político dos
últimos tempos. Para a autora, os aportes teórico-metodológicos da maioria dos autores
que tratam a política social como direito de cidadania ou como elemento redistributivo
são insuficientes. Segundo ela, os ciclos econômicos balizam as possibilidades e limites
das políticas sociais, e
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36
A problemática ambiental, que começa a se ampliar na década de 1970 e passa a ser
foco de atenção e debate de instituições governamentais e da sociedade civil, não só
por causa do impacto no ambiente, mas também na saúde humana, faz que o campo
do saneamento passe a incorporar, além das questões de ordem sanitária, as de ordem
ambiental.
Certamente por isso surge o conceito de saneamento ambiental, que busca contemplar o
saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos
sólidos e manejo de águas pluviais), bem como os aspectos relacionados à poluição do
ar, poluição sonora, entre outros.
Embora tenha havido avanços do ponto de vista conceitual, ao longo do tempo, ocorre
o enfraquecimento da noção de saneamento ambiental como medida fundamental de
saúde pública e, em contrapartida, é fortalecida a noção do saneamento ambiental como
uma componente da infraestrutura das cidades.
Esse tipo de intervenção segue uma lógica de implantação institucional, financeira e
administrativa distinta de uma ação relacionada a uma política social. Para ilustrar, é
sempre bom lembrar que o BIRD e o BID tratam a área de saneamento para os países em
desenvolvimento no âmbito da “pasta” de infraestrutura.
O afastamento das ações de saneamento ambiental do campo da saúde pública repercute
na desvinculação do saneamento ambiental como uma política social na qual o dever do
Estado perante a sua provisão e promoção seria mais amplo (BORJA, 2004). Observando
a atuação do Estado Brasileiro no tratamento das ações de saneamento, nota-se uma
ambiguidade.
Segundo Rezende e Heller (2002), a história do saneamento no país pode ser dividida em
três fases entre os séculos XVI e XX: na primeira, o Estado estava ausente das questões
sanitárias (século XVI até meados do século XIX); na segunda, o Estado assume as ações
sanitárias, havendo uma relação entre a melhoria da saúde e à produtividade do trabalho
(meados do século XIX até o final de 1950); e na terceira (a partir da década de 1960),
Livro de experiências_15x21.indd 36-37
Experiências e recomendações
Saúde pública é a ciência e a arte de prevenir doença, prolongar a
vida e promover saúde e eficiência física e mental, através esforços
organizados da comunidade para o saneamento do meio, o controle das
doenças infecto-contagiosas, a educação do indivíduo em princípios de
higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de enfermagem
para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças e o
desenvolvimento da maquinaria social de modo a assegurar a cada
indivíduo da comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da
saúde (WINSLOW, 1920 apud MENEZES, 1984)
ocorre uma bipolarização entre as ações de saúde e as de saneamento.
A saúde passa a ter cada vez mais um caráter assistencialista e o saneamento passa a ser
tratado como medida de infraestrutura. Com o advento do Plano Nacional de Saneamento
(Planasa), as ações de saneamento passam a ser tratadas segundo a lógica empresarial
do retorno do capital investido.
Mas, nesse mesmo período, as prefeituras continuam realizando as obras de drenagem,
e, mesmo de forma precária, a coleta e destinação dos resíduos sólidos. O Ministério da
Saúde, por meio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), realizava diversas ações de
saneamento ambiental vinculadas à saúde pública. No período do governo do Presidente
Fernando Henrique Cardoso (1995–2003) houve uma forte pressão para a privatização
dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no país, tendo como
modelo de concessão dos serviços a PPP – Parceria Público-Privada.
O saneamento ambiental é alvo de interesse de diversas instituições governamentais e
empresariais, em diversos níveis de governo, determinado o distanciamento do seu fim
maior, que seria a promoção da saúde pública. Nos países do “Terceiro Mundo” essa
situação contribui para o desarranjo institucional e a pulverização dos parcos recursos.
O déficit da área e a falta de recursos para lhe fazer frente têm apresentado crescentes
desafios aos governos desses países no sentido da alteração desse quadro que, ademais,
foi agravado com a globalização da economia em face do processo de ampliação da
pobreza das nações e de seus povos. Como visto, as visões de mundo predominante em
cada época influenciam na forma com que os governos tratam as questões sociais e,
consequentemente, as questões de saneamento ambiental.
Ultimamente, no mínimo três visões foram marcantes: a do liberalismo, a da social
democracia e a do socialismo.
A Revolução Francesa foi o marco em conquistas sociais no plano dos direitos humanos.
Suas teses se contrapunham à visão liberal. Após a Segunda Guerra Mundial, o modelo
de desenvolvimento pautado nas ideias fordistas e keynesianas, aliado às reivindicações
de um forte movimento social, fez emergir um pacto social em torno do Estado do BemEstar Social. Nesse período, a ação do Estado no campo das políticas públicas e sociais
foi fortalecida.
Apesar de poucos países, como a Alemanha, terem experimentado de forma mais
completa o Welfare State, suas teses influenciaram vários países do mundo no século XX.
Porém, com as mudanças políticas, econômicas e sociais que começam a ser operadas
na década de 1970, após a grande crise do capitalismo, e ao longo da década de 1980,
com a queda do muro de Berlin e a ascensão das teses neoliberais, somadas, ainda, à
ampliação do processo de reestruturação econômica e política com a globalização, o
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Com a chegada da cidade industrial, as preocupações sanitárias ampliaram-se, criando
uma forte relação entre a produção da cidade, as condições de saneamento e o nível de
saúde da população. A relação entre saneamento e saúde está explicitada na definição
clássica de saúde pública, a seguir apresentada:
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Livro de experiências_15x21.indd 38-39
as ações de saneamento ambiental se constituem em uma meta social diante de
sua essencialidade à vida humana e à proteção ambiental, o que evidencia o seu
caráter público e o dever do Estado na sua promoção, constituindo-se em ações
integrantes de políticas sociais.
Experiências e recomendações
pública para a prestação dos serviços.
É importante ressaltar, contudo, que a natureza das ações de saneamento ambiental
a coloca como essencial à vida humana e à proteção ambiental, sendo uma ação
eminentemente coletiva, em face da repercussão da sua ausência, constituindo-se,
portanto, em uma meta social.
Como meta social, situa-se no plano coletivo, no qual os indivíduos, a comunidade e
o Estado têm papéis a desempenhar. Considerada a sua natureza, isto é, seu caráter
de monopólio natural, o esforço para a sua promoção deve-se dar em vários níveis,
envolvendo diversos atores.
As ações de saneamento ambiental, além de serem fundamentalmente de saúde pública,
contribuem para a proteção ambiental, representando também bens de consumo coletivo,
serviços essenciais, direito do cidadão e dever do Estado. Os serviços de saneamento
ambiental devem estar submetidos a uma política pública de saneamento ambiental,
formulada com a participação social, entendida como o conjunto de princípios que
conformam as aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação
do planejamento, da execução, da operação, da regulação e da avaliação desses serviços
públicos (MORAES, 1994b).
A União, os estados e os municípios devem assumir como prioridade a formulação de
um arcabouço jurídico-institucional para a área de saneamento ambiental que venha a
fortalecer a função social dos serviços de saneamento ambiental, seu caráter público,
devendo contemplar os princípios de atendimento universal, de equidade, integralidade,
participação e controle social, gestão pública e responsabilidade municipal. Além disso,
cabe aos governos dar prioridade a investimentos nessa área, visando ampliar a cobertura
dos serviços, contribuindo, dessa forma, para reduzir a dívida social nessa área. Desse
modo, as ações de saneamento ambiental estão compatíveis com as políticas sociais,
ou seja,
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
papel do Estado e a condução das políticas públicas e socais se alteram.
Renova-se e fortalece-se a concepção de que a própria natureza do mercado permitiria
uma ação mais eficaz e eficiente que o Estado no campo das políticas públicas e socais.
Nos países em desenvolvimento, as agências multilaterais de financiamento, como
o Banco Mundial, passam a ter mais influência na definição de políticas sociais e no
estabelecimento de diretrizes para a reforma do Estado.
Assim, já na década de 1980, o papel do Estado na promoção de políticas sociais é
reduzido, inclusive no bojo dos ajustes fiscais imprimido aos países devedores.
Segundo Hirsch (1996), a noção de Estado Provedor, do Bem-Estar Social, dá lugar ao
Estado de Competência, ou competitivo, o qual privilegia a regulação da relação capitaltrabalho e limita a ação direta do Estado no campo social. Essa noção vincula-se à visão
liberal clássica, na qual a liberdade ou as condições de vida dependem das capacidades
individuais. Na visão neoliberal, o mercado é capaz de oferecer as condições para que os
próprios indivíduos conquistem a sua condição de vida.
Daí surge a noção de produtividade individual, competitividade entre cidades,
competitividade do Estado. Dessa forma, o espaço público, o coletivo, esvai-se, dando
lugar ao indivíduo, ao privado, ao mercado.
É no âmbito dessa concepção que surgem orientações para as políticas públicas e
sociais nos países em desenvolvimento, amplamente disseminadas pelos organismos
internacionais.
Ao apostar na proclamada capacidade criadora dos indivíduos, surgem diretrizes para a
participação da comunidade em projetos, nos programa de ajuda mútua para construção
de moradias (MEDINA, 1997), na operação de sistemas de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário, principalmente de áreas rurais, e, mais recentemente, o
voluntariado e a parceria. No plano do mercado, surge a proposta da privatização de
serviços que antes tinham um caráter público e social.
Ou seja, as responsabilidades que antes eram do Estado são transferidas para a iniciativa
privada – indivíduos e/ou mercado.
A área de saneamento ambiental recebeu, evidentemente, influências desse momento
político, com suas ações afastadas do campo da saúde pública e/ou da infraestrutura e
passando a ser encaradas como um serviço que, como tal, pode ser submetido às leis do
mercado, e, portanto, à lei do lucro.
Essas teses influenciaram a privatização dos serviços de saneamento ambiental em
alguns países em desenvolvimento, solução que tem sido defendida tanto por instituições
financeiras internacionais, como FMI, BIRD e BID, como por governos locais que apoiam
os ideais neoliberais.
Contraditoriamente, a tese da privatização dos serviços de saneamento ambiental no
mundo dito desenvolvido não prosperou, mantendo-se, na maioria dos países, a matriz
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Figura 6 - Definição de saneamento básico segundo a Lei nº 11.445/2007.
Atividades, infraestr utura s e instalações necessária s
ao abasteci mento público de águ a potá vel, desde a
captação até as li
gações prediais e respecti vos
instr umentos de medição.
A bastec im ento de águ a
Atividades, infraestr utura s e instalações operacio nais de
coleta, tra nsporte, trata mento e disposição
final
adeq uados dos esgotos sanitários, desde as ligaçõe s
prediais até o se u la nçamento final no meio ambie nte.
Es gota m ent o sa ni tár io
Atividades, infraestr uturas e instalações operacio nais de
coleta, tra nspor te, transbor do, trata mento e desti no final
do lixo doméstico e do lix o ori ginário da varrição e
limpeza de lograd ouros e vias públicas.
Experiências e recomendações
A aprovação da Lei Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007), em 5 de janeiro
de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais e a política federal para o saneamento
básico, inaugurou uma nova fase na história do saneamento no Brasil. Ao definir os
princípios fundamentais da prestação dos serviços públicos de saneamento básico; as
competências do titular dos serviços; as funções de gestão; as características da prestação
regionalizada de serviços; os aspectos econômicos, sociais e técnicos da prestação dos
serviços e os mecanismos de participação e controle social, a lei estabelece os elementos
essenciais e imprescindíveis para a formulação e implementação da política municipal de
saneamento básico. A Lei nº 11.445/2007, juntamente com a Lei dos Consórcios Públicos
(Lei nº 11.107/2005) e seu decreto regulamentador (Decreto nº 6.017/2007), e, ainda, a
Lei no 8.987/1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação
de serviços públicos; as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e
a Resolução nº 518/2004 do Ministério da Saúde, que estabelece as normas e padrões de
potabilidade da água de consumo humano, no seu conjunto, formam, hoje, o marco legal
do setor de saneamento no Brasil.
A lei definiu o saneamento básico como o conjunto de serviços, infraestrutura e instalações
operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitários, limpeza pública e
manejo dos resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais (Figura 6):
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
3. A POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO
Li m peza pública e m anejo
dos res íduos só lidos
Atividades, infraestr utura s e instalações operacio nais de
dre nagem urb ana de águ as pluv iais, de tra nsporte ,
dete nção ou rete nção para o amorteci mento de vazõe s
de cheias, trata mento e disposição final das ág uas
pluv iais dre nadas nas áreas urba nas.
40
Dre nagem e m anejo
das á gu as pluvi ais
41
urbanas
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•Aintervençãoeretornodaoperaçãodosserviçosdelegados,porindicaçãodaentidade
reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos documentos contratuais.
Ao regular a prestação dos serviços, a lei define quatro funções de gestão: o planejamento,
ação indelegável a outro ente; a prestação dos serviços, a regulação e a fiscalização,
estas últimas passível de delegação (art. 8º). Em todas as funções de gestão deve haver
o controle social, de forma a atender ao princípio fundamental estabelecido no inciso X,
do art. 2º da lei (BRASIL, 2007 – Figura 6).
Figura 7 – Funções de Gestão dos Serviços de Saneamento Básico, segundo a Lei
nº 11.445/2007.
A formulação da política pública de saneamento, de acordo com a lei, é competência do
titular dos serviços, sendo, então, reafirmado4 o preceito constitucional estabelecido no
art. 30, a saber:
Art. 30. Compete aos Municípios:
...................................................................................................
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os
serviços públicos de interesse local, incluído o transporte coletivo, que tem caráter
essencial [...] (BRASIL, 1988, s/p).
42
A lei estabelece a competência do titular dos serviços na formulação da política pública
de saneamento básico, que deverá envolver:
•Aelaboraçãodoplanodesaneamentobásico.
•Aprestaçãodiretaoupormeiodeautorizaçãodadelegaçãodosserviços.
•A definição do ente responsável pela sua regulação e fiscalização, bem como os
procedimentos de sua atuação.
•Aadoçãodeparâmetrosparaagarantiadoatendimentoessencialàsaúdepública,
inclusive quanto ao volume mínimo per capita de água para abastecimento público,
observadas as normas nacionais relativas à potabilidade da água.
•Afixaçãodosdireitosedeveresdosusuários.
•Oestabelecimentodemecanismosdecontrolesocial.
•Oestabelecimentodesistemadeinformaçõessobreosserviços,articuladocomo
Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico.
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Fiscalização
Gestão do
Saneamento
Básico
Prestação
dos
Serviços
Regulação
4Como a Constituição também prevê, no parágrafo 3 do art. s/p., que os Estados, mediante lei complementar, podem fixar
normas para a integração das funções públicas de interesse comum, instituindo regiões metropolitanas e outras figuras, passou
haver um conflito na interpretação da titularidade dos serviços em áreas metropolitanas, aglomerados urbanos e microrregiões.
Atualmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) está analisando três Ações de Inconstitucionalidade que deverá dirimir tal conflito
de interpretação. Uma vez que a referida ação ainda não tinha sido votada no STF, a estratégia colocada na Lei nº 11.445/07 foi
tratar apenas do titular, que pode ser lido como município, estado ou Distrito Federal.
Experiências e recomendações
Planejamento
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A Lei Nacional de Saneamento Básico define como princípios fundamentais da prestação
dos serviços (art. 2º, da Lei nº 11.445/07):
•Universalizaçãodoacesso(incisoI),comintegralidadedasações(incisoII),segurança,
qualidade e regularidade (inciso XI) na prestação dos serviços.
•Promoçãodasaúdepública(incisosIIIeIV),segurançadavidaedopatrimônio(inciso
IV), proteção do meio ambiente (inciso III).
• Articulação com as políticas de desenvolvimento urbano, proteção ambiental e
interesse social (inciso VI).
•Adoçãodetecnologiasapropriadasàspeculiaridadeslocaiseregionais(incisoV),uso
de soluções graduais e progressivas (inciso VIII) e integração com a gestão eficiente
de recursos hídricos (inciso XII).
•Gestãocomtransparênciabaseadaemsistemasdeinformações,processosdecisórios
institucionalizados (inciso IX) e controle social (inciso X).
•Promoçãodaeficiênciaesustentabilidadeeconômica(incisoVII),comconsideração
à capacidade de pagamento dos usuários (inciso VIII).
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A prestação dos serviços públicos de saneamento básico deve ter sustentabilidade
econômico-financeira assegurada, sempre que possível, mediante remuneração pela
cobrança dos serviços (art. 29). A remuneração dos serviços de abastecimento de água
e esgotamento sanitário pode ser realizada na forma de tarifas e outros preços públicos,
para cada um dos serviços ou para ambos, conjuntamente. Os serviços de limpeza urbana
e manejo de resíduos sólidos urbanos podem ser remunerados por taxas ou tarifas e
outros preços públicos. Os serviços de manejo de águas pluviais urbanas, na forma de
tributos, inclusive taxas (inciso I, II e III, art. 29). Segundo o art. 23, da Lei Nacional de
Saneamento Básico, a entidade reguladora deve editar normas relativas às dimensões
técnica, econômica e social de prestação dos serviços, que abrangerão, pelo menos, os
Experiências e recomendações
Segundo a Lei nº 11.445/2007, os planos de saneamento básico deverão ser revistos
periodicamente a cada quatro anos, antes da elaboração do Plano Plurianual, devendo
englobar integralmente o território do ente da Federação que o elaborou, exceto quando
o mesmo for regional.
Os planos deverão ser editados pelos titulares, podendo ser elaborados com base em
estudos fornecidos pelos prestadores de cada serviço. No caso da elaboração de planos
específicos das componentes do saneamento, a consolidação e compatibilização devem
ser efetuadas pelo titular. Mesmo com a delegação dos serviços de saneamento básico, o
prestador deverá cumprir o plano de saneamento básico em vigor. Além disso, os planos
deverão estar compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estiverem
inseridos.
Em consonância com o princípio da transparência das ações e do controle social as
propostas dos planos e os estudos que os fundamentam devem ser amplamente
divulgados, inclusive com a realização de audiências ou consultas públicas (parágrafo
5º, do art. 19, do capítulo IV). O art. 51, da referida lei, determina que nas consultas
ou audiências públicas deverá estar previsto o recebimento de sugestões e críticas e a
análise e opinião de órgão colegiado quando da sua existência. A divulgação do plano
e dos estudos deve se dar por meio da disponibilização integral de seu teor a todos os
interessados, inclusive por meio da internet.
Cabe à entidade reguladora e fiscalizadora dos serviços, a responsabilidade da verificação
do cumprimento dos planos de saneamento por parte dos prestadores de serviços, na
forma das disposições legais, regulamentares e contratuais. Nos serviços regionalizados,
ou seja, com apenas um prestador do serviço para vários municípios, contíguos ou não,
deverá haver compatibilidade de planejamento. Poderá ser elaborado, caso necessário,
um Plano para o conjunto de municípios atendidos (art. 17, do Capítulo III).
A validade dos contratos de prestação de serviços públicos de saneamento básico passa
a ser condicionada:
•Àexistênciadeplanodesaneamentobásico.
•Àexistênciadeestudocomprovandoaviabilidadetécnicaeeconômico-financeira
da prestação universal e integral dos serviços, nos termos do respectivo plano de
saneamento básico.
•Àexistênciadenormasderegulaçãoqueprevejamosmeiosparaocumprimento
das diretrizes desta lei, incluindo a designação da entidade de regulação e de
fiscalização.
•Àrealizaçãopréviadeaudiênciaedeconsultapúblicassobreoeditaldelicitação,no
caso de concessão, e sobre a minuta do contrato (art. 11).
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
O Plano de Saneamento Básico (art. 9º, do Capítulo II), assume um caráter central para
a prestação dos serviços, sendo necessário para a validade dos contratos de prestação
dos serviços (inciso I, do art. 11); para os planos de investimentos e projetos dos
prestadores, que devem estar compatíveis com as diretrizes do Plano (§ 1º, do art. 11);
para as atividades da entidade reguladora e fiscalizadora cuja competência é verificar o
cumprimento do Plano (parágrafo único, do art. 20). Por outro lado, a alocação de recursos
públicos federais e os financiamentos com recursos da União ou geridos por órgãos ou
entidades da União foram condicionados pela Lei nº 11.445/2007 à existência do Plano
(art. 50, do Capítulo IX).
Como observado, a lei define que o planejamento para a prestação dos serviços de
saneamento básico será realizado por meio da elaboração de um Plano de Saneamento
Básico, de competência do titular do serviço, devendo conter no mínimo:
• Diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida, utilizando
sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e
apontando as causas das deficiências detectadas.
•Objetivosemetasdecurto,médioelongoprazosparaauniversalização,admitidas
soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais
planos setoriais.
• Programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas,
de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com outros planos
governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento.
•Açõesparaemergênciasecontingências.
•Mecanismoseprocedimentosparaaavaliaçãosistemáticadaeficiênciaeeficácia
das ações programadas.
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4.1 ALAGOINHAS: CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL COMO EXPERIÊNCIA DE PLANEJAMENTO
PARTICIPATIVO E CONTROLE SOCIAL
4.1.1 INTRODUÇÃO
A necessidade de uma política de saneamento ambiental no Município de Alagoinhas,
localizado no estado da Bahia, com população de 130.095 habitantes (IBGE, 2000), aliada
à precariedade das condições sanitárias e, principalmente, à decisão política da Prefeitura
Municipal de Alagoinhas de ampliar o acesso e melhorar a qualidade dos serviços de
saneamento ambiental, motivaram o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e outros
órgãos governamentais e não governamentais, além da população do município, a darem
início a um processo de discussão, de forma organizada, participativa e democrática,
para formular e implementar uma política de saneamento ambiental para o município.
A estratégia adotada para atingir esse objetivo foi a realização da 1ª Conferência Municipal
de Saneamento Ambiental de Alagoinhas (CMSA-A) (MORAES et al., 2003).
No Brasil, a realização de Conferências de Saneamento Ambiental é uma das
reivindicações principais da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental (FNSA), que
reúne diversas entidades de âmbito nacional das áreas de saneamento ambiental, de
defesa do consumidor, de reforma urbana, entre outras.
A realização de conferências, em todos os níveis de governo (federal, estadual e
municipal), tem sido sugerida e estimulada por essa Frente por acreditar que esta é uma
forma democrática e eficaz para a formulação de políticas públicas sociais.
Alguns municípios e estados no Brasil já realizaram conferências municipais,
metropolitanas e estaduais de saneamento, sendo que, no período de 20 a 22/10/1999,
realizou-se, em Brasília, a 1ª Conferência Nacional de Saneamento, promovida pela
Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara Federal, contando com
863 delegados, e, mais recentemente, no período de 23 a 26/10/2003, realizou-se, em
Brasília, a 1ª Conferência Nacional das Cidades, promovida pelo Ministério das Cidades.
Essa Conferência contou com 2.510 delegados, representando diversos segmentos da
Experiências e recomendações
O ente regulador deve ter independência decisória, autonomia administrativa,
orçamentária e financeira, devendo ser assegurada a transparência, tecnicidade,
celeridade e objetividade das decisões (BRASIL, 2007b). Além disso, devem ser instituídas
regras e critérios de estruturação de sistema contábil e do respectivo plano de contas, de
modo a garantir que a apropriação e a distribuição de custos dos serviços estejam em
conformidade as diretrizes da Lei nº 11.445/2007.
Diante do exposto, nota-se que o grande protagonista do cenário atual do saneamento
básico no Brasil é o poder local, o município, que com a Lei nº 11.445/2007 passa a contar
com o suporte legal para exercer a titularidade na prestação dos serviços, conforme
preconizou a Constituição Federal, há 20 anos, ao definir a competência municipal no
campo do saneamento básico.
4. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS NA
FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS E
ELABORAÇÃO DE PLANOS DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
seguintes aspectos:
•Padrõeseindicadoresdequalidadedaprestaçãodosserviços.
•Requisitosoperacionaisedemanutençãodossistemas.
•Asmetasprogressivasdeexpansãoedequalidadedosserviçoseosrespectivos
prazos.
•Regime,estruturaeníveistarifários,bemcomoosprocedimentoseprazosdesua
fixação, reajuste e revisão.
•Medição,faturamentoecobrançadeserviços.
•Monitoramentodoscustos.
•Avaliaçãodaeficiênciaeeficáciadosserviçosprestados.
•Planodecontasemecanismosdeinformação,auditoriaecertificação.
•Subsídiostarifáriosenãotarifários.
•Padrõesdeatendimentoaopúblicoemecanismosdeparticipaçãoeinformação.
•Medidasdecontingênciasedeemergências,inclusiveracionamento.
47
29.11.09 16:16:41
48
6O Orçamento Participativo é um processo democrático e popular em que a administração municipal discute o orçamento do
município, definindo as ações e prioridades, sendo uma prática utilizada em diversas administrações municipais de governos
progressistas desde o final da década de 1980.
Livro de experiências_15x21.indd 48-49
Experiências e recomendações
reprimidas; as fragilidades financeiras e administrativas; e, também, de conhecer o
real compromisso de um governo democrático de alterar a realidade, abre um caminho
promissor na busca de políticas públicas mais conseqentes do ponto de vista social.
O envolvimento da sociedade civil e órgãos do governo municipal na comissão organizadora
da Conferência estimula a real mobilização popular, facilitando o alcance dos objetivos
pretendidos. Quando o governo assume o compromisso de realizar a Conferência, tornase mais fácil implementar suas deliberações.
Assim, não se pode perder de vista a importância do governo municipal de fazer parte do
processo em todas as etapas. Ele deve ser o principal interessado em ter como produto
final uma política formulada com participação direta da sociedade.
O envolvimento da sociedade em todas as etapas – na organização, na participação
das pré-conferências regionais e temáticas, na elaboração do diagnóstico participativo,
na participação da Conferência e na elaboração do projeto de lei de política pública –
representa o firme propósito do governo municipal em alterar a prática tradicional de
formular políticas e indica o compromisso de buscar a prestação de serviços públicos
com qualidade para todos.
Com o conhecimento da realidade de saneamento ambiental do município, o governo
municipal pode e deve planejar suas ações atendendo ao que foi aprovado na Conferência.
Após a realização da Conferência, espera-se que o poder público municipal elabore projeto
de lei da política de saneamento ambiental para o município, com encaminhamento à
Câmara de Vereadores para sua aprovação. Por seu turno, no caso de o poder público
se eximir dessa tarefa, cabe à sociedade reivindicar a implementação dos resultados da
Conferência, especialmente a elaboração do projeto de lei já citado. Dessa forma, fica
claro que o exercício da cidadania não se finda na Conferência, devendo as organizações
sociais continuarem a defender seus direitos com relação aos serviços públicos de
saneamento ambiental.
A participação popular e o controle social continuado são peças fundamentais para se ter
uma política pública de saneamento ambiental e serviços de qualidade.
A 1ª CMSA-A foi organizada e realizada considerando-se esses pressupostos e teve como
objetivos:
•Conhecerarealidadedosaneamentoambientalnomunicípio,tantonaperspectiva
da comunidade (por meio de diagnóstico participativo) como na do Poder Executivo
Municipal.
•Debatertemascomocontrolesocial,planejamento,prestaçãodosserviços,regulação,
fiscalização, financiamento e privatização dos serviços de saneamento ambiental.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
sociedade brasileira, sendo oriundos de diversas regiões do país.
Essas conferências geraram subsídios importantes para a formulação de políticas públicas
de saneamento ambiental. O processo da 1ª CMSA-A ocorreu no período de maio a julho
de 2001, com a participação de 5.000 munícipes.
Foram realizadas 17 pré-conferências regionais, sendo 15 em conjunto com as
assembléias do Orçamento Participativo (OP)5, e quatro pré-conferências temáticas, que
se constituíram em etapa preparatória e de amplo exercício de cidadania quando da
escolha de delegados, do levantamento dos problemas e da identificação de propostas
para os serviços públicos de saneamento ambiental. A Conferência foi realizada no mês
de julho.
A Conferência, além de abrir mais um espaço para a população reivindicar os seus
direitos, propicia a interlocução entre sociedade e poder público e, consequentemente,
o exercício da cidadania. Ao despertar o interesse comum, incentivar a participação da
população e das lideranças, a Conferência passa a se constituir em um instrumento
eficaz de participação popular e controle social, e, principalmente, em um importante
instrumento para a formulação da política municipal de saneamento ambiental.
A Conferência pressupõe a ampla participação dos cidadãos, independente do nível de
escolaridade, religião, partido político a que pertençam e da capacidade de liderança,
exigindo apenas a vontade política do indivíduo de participar e exercer o seu direito de
cidadão.
As condições sanitárias de Alagoinhas e a consciência da necessidade de agir
conjuntamente – sociedade e poder público – para transformar esta realidade,
despertaram o interesse de todos em participar do processo.
O envolvimento da sociedade civil organizada e dos representantes da administração
municipal foi o elemento fundamental para o êxito de tal experiência.
A Conferência, ao mobilizar a população das zonas urbana e rural, permite identificar as
reivindicações históricas dos movimentos sociais e da população em geral e desperta
anseios antes adormecidos.
O espaço democrático da Conferência concretiza o desejo da população de opinar
livremente, de participar, e propicia o debate aberto na busca de soluções.
A possibilidade de discutir as diversas visões sobre a realidade; as necessidades
emergentes; os limites e as possibilidades do poder público em atender às demandas
49
29.11.09 16:16:48
50
A 1ª CMSA-A foi fruto de um amplo processo de construção com representantes das
instituições governamentais e da sociedade civil organizada.
Optou-se pela criação de uma Comissão Organizadora, que teria o papel de coordenar,
planejar, organizar, definir o número de pré-conferências, estabelecer critérios para
escolha de delegados, elaborar regimento interno, sistematizar diagnósticos e propostas,
elaborar o caderno da conferência e criar todas as condições para a sua realização.
Para que a Conferência obtivesse êxito, foi fundamental a montagem de uma equipe
coesa, dedicada e consciente da importância de seu papel de catalisadora de um amplo
processo de participação democrática.
A partir da iniciativa do SAAE de Alagoinhas foram distribuídos 88 convites a representantes
da sociedade civil, de partidos políticos, de igrejas, representantes dos três níveis de
governo, trabalhadores, universidades e sociedade em geral, visando formar a Comissão
Organizadora.
Assim, iniciou-se o processo de organização da 1ª Conferência Municipal de Saneamento
Ambiental de Alagoinhas. Por conta da restrição de tempo da parte de algumas entidades
para a dedicação requerida, optou-se pela criação de duas equipes: uma de organização
e outra de apoio.
Dessa última, participavam aquelas pessoas com pouca disponibilidade de tempo, mas
que poderiam contribuir para mobilizar a comunidade, pesquisar orçamentos e participar
das discussões preparatórias da Conferência.
A Comissão Organizadora foi composta por representantes do: SAAE, Secretaria Municipal
de Saúde, 3ª Diretoria Regional de Saúde do Estado da Bahia, Universidade Estadual da
Bahia, Secretaria Municipal da Agricultura, Secretaria Municipal de Serviços Públicos,
Secretaria Municipal de Obras, Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto no Estado
da Bahia, Fórum Alagoinhense de Desenvolvimento Sustentável, Secretaria Municipal
de Educação, Conselho Municipal de Segurança, sendo que a Comissão de Apoio teve
representantes da: União das Associações de Moradores da Zona Rural, União das
Associações do Município de Alagoinhas, Associação de Moradores do Jardim Petrolar,
Pastoral do Menor, Rotary Clube e imprensa local.
A Comissão Organizadora definiu o calendário de reuniões preparatórias, o lançamento
Livro de experiências_15x21.indd 50-51
4.1.3 AS PRÉ-CONFERÊNCIAS REGIONAIS
O município de Alagoinhas está dividido em 17 regiões que representam a base territorial
de realização do processo do Orçamento Participativo. Como o período de realização
das assembleias do OP e das pré-conferências regionais foi quase coincidente, do total
de 17 pré-conferências, 15 foram realizadas conjuntamente, no mês de maio de 2001.
Na abertura de cada Assembleia do OP/Pré-Conferência de Saneamento Ambiental, um
membro da Comissão Organizadora realizava uma breve exposição sobre os objetivos
da 1ª CMSA-A, o papel dos delegados a serem eleitos e o significado do diagnóstico
participativo.
Em um segundo momento, dois membros da Comissão Organizadora passavam nos
grupos de trabalho do OP e detalhavam as informações dadas no início e procediam à
eleição de delegados que deveriam representar as comunidades daquela regional. Os
delegados eram eleitos em número proporcional à população de cada região. Todos os
delegados eleitos, titulares e suplentes, tinham a atribuição de elaborar, junto com suas
comunidades, um diagnóstico participativo em um prazo de 10 dias.
Antes de cada pré-conferência regional, a Comissão Organizadora indicava a equipe que
nela deveria atuar, a qual era formada por duplas iguais ao número de grupos de trabalho,
definidos pela equipe do OP. Em cada dupla, uma pessoa ficava responsável pelo registro
dos problemas levantados e/ou propostas do grupo, enquanto a outra, dos nomes dos
delegados eleitos.
Os delegados receberam um roteiro com orientações para a realização do diagnóstico/
levantamento de problemas relativos à saneamento ambiental, indicação de soluções e
Experiências e recomendações
4.1.2 A ORGANIZAÇÃO DA CONFERÊNCIA
da conferência em sessão especial na Câmara de Vereadores e a data da Conferência.
A definição das datas das pré-conferências regionais foi discutida com a equipe
coordenadora do OP que estava organizando a realização de Assembléias Regionais. A
Comissão Organizadora decidiu realizar as pré-conferências regionais juntamente com
as Assembléias do OP, apesar da existência de dúvidas se esse seria o melhor caminho.
Essa experiência seria a primeira e a metodologia teria que ser construída.
Para auxiliar na definição da metodologia e organização, a comissão contou com o apoio
de representantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Federação Nacional dos
Urbanitários (FNU/CUT). As despesas para a realização da 1ª CMSA-A chegaram a R$
13.000,00 (treze mil reais), tendo o município desembolsado, aproximadamente, 65%
desse valor e contado com patrocínios, para os 35% restantes, de bancos, colégio, clubes
e empresas privadas do município, numa demonstração de apoio às ações do governo
municipal.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
•Identificarmodelosviáveiseeficientesdeintervenção,demodoqueaparticipação
da comunidade contribua para a formulação e implementação de uma política
municipal de saneamento ambiental.
51
29.11.09 16:16:55
Para promover discussões sobre as diferentes componentes do saneamento ambiental,
optou-se pela realização de quatro pré-conferências temáticas, que aconteceram no mês
de junho de 2001. Em três das pré-conferências temáticas – que trataram dos temas
recursos hídricos e abastecimento de água; manejo de resíduos sólidos e controle de
vetores; e gestão do saneamento ambiental –, ocorreram palestras de especialistas,
exposição de videoteipe e/ou apresentação de transparências seguidas de debates, que
suscitaram problemas e propostas de soluções.
Na quarta conferência sobre o tema esgotamento sanitário e manejo de águas pluviais,
foi realizada uma dinâmica de grupo, com o objetivo de levantar problemas e propostas
de soluções, e uma exposição de especialista sobre as diversas tecnologias.
Em todas as quatro pré-conferências temáticas, foram também eleitos delegados.
Os problemas diagnosticados e propostas de soluções levantadas também subsidiaram a
elaboração do Caderno da 1ª CMSA-A.
4.1.5 A 1ª CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL DE ALAGOINHAS (CMSA-A)
52
De um total de vinte e uma pré-conferências, participaram das discussões 5.000 pessoas
e 131 delegados foram eleitos. Estes últimos tiveram a responsabilidade de elaborar
o diagnóstico participativo junto com a comunidade que representavam, a partir de
condução autônoma, sem tutela da administração municipal.
Esse processo permitiu a produção de trabalhos relevantes, criativos e bem elaborados
como o do bairro do Jardim Petrolar – um diagnóstico encadernado com fotos – e o
da comunidade Mangalô, que apresentou, em fita de videoteipe, informações sobre as
condições de saneamento ambiental da localidade. Outras localidades desenharam mapas,
elaboraram painéis com fotos, etc. Coube à Comissão Organizadora a sistematização dos
diagnósticos participativos para elaboração do Caderno para discussão na 1ª CMSA-A.
Também foi acrescentado a esse Caderno um diagnóstico dos serviços públicos de
saneamento ambiental, elaborado pelos órgãos da administração municipal, sendo que
cada órgão colaborou com propostas para discussão na Conferência.
Livro de experiências_15x21.indd 52-53
Figura 8 - 1ª. - Conferência Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas
(CMSA-A), julho de 2001.
Experiências e recomendações
4.1.4 AS PRÉ-CONFERÊNCIAS TEMÁTICAS
A 1ª CMSA-A foi realizada no período de 6 a 8 de julho de 2001, com a participação
de um total de 166 delegados, sendo 35 natos (representantes do governo municipal e
comissão organizadora). O seu programa contou com abertura, painel com debatedores,
discussões em grupo e plenária final. A solenidade de abertura ocorreu no primeiro
dia à noite e contou com a participação de diversas autoridades dos poderes públicos
municipal, estadual e federal, entidades da sociedade civil local e especialistas da área de
saneamento ambiental. Posteriormente, foi apresentada uma performance de um corpo
de dança sobre a vida dos catadores de materiais recicláveis.
Nessa solenidade, foi exposto, em painéis fixos, o Diagnóstico Participativo produzido
pela população de cada região. No segundo dia, pela manhã, foi realizado um painel sobre
“Saneamento Ambiental, Regulação e Controle Social” com especialistas da Associação
Nacional de Serviços Municipais de Saneamento (ASSEMAE), FNU/CUT e UFBA.
À tarde, ocorreram os trabalhos de grupo com discussão de propostas segundo as
temáticas previamente definidas. As discussões foram subsidiadas pelas propostas
contidas no Caderno.
No dia seguinte, houve uma grande plenária para discussão e aprovação das propostas
que não obtiveram apoio da maioria nos grupos. Foram, ainda, apresentadas e aprovadas
moções e uma carta final. Aprovou-se a criação de uma comissão com o objetivo de
elaborar um projeto de lei de política municipal de saneamento, a partir das propostas
aprovadas pela Conferência, em um prazo de sessenta dias.
Coube à Comissão Organizadora a sistematização das discussões e elaboração do
Caderno Final da 1ª CMSA-A, contendo todas as propostas aprovadas (Figura 7).
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
de como o poder público e a população poderiam equacionar os problemas levantados.
Como dito, os delegados tiveram dez dias para a realização de tal tarefa.
Com os diversos diagnósticos participativos, a Comissão Organizadora elaborou um
Caderno da Conferência que objetivou orientar as discussões na 1ª CMSA-A.
53
29.11.09 16:17:03
54
O poder público municipal e a sociedade em geral deram um passo muito importante para
o município com realização da 1ª CMSA-A, ao promoverem a construção da política e a
aprovação da lei municipal – que define diretrizes e organiza o sistema de saneamento
ambiental em Alagoinhas. Todo o processo foi uma demonstração de participação
democrática e popular.
Garantiu-se, por meio da política pública aprovada, a criação de instrumentos de
participação e controle social. Reafirmou-se o conceito de saneamento ambiental, a
necessidade de se atender as populações urbana e rural, além de ter sido reforçada a
titularidade municipal dos serviços, entre outras conquistas.
Com a realização da 1ª CMSA-A, o governo municipal também conquistou aliados na
sociedade no questionamento das teses neoliberais de gestão dos serviços públicos,
obteve apoio para implementação de políticas democráticas e conseguiu avanços na
construção da cidadania.
Durante todo o processo da 1ª CMSA-A, a comunidade deu respostas muito satisfatórias
e apresentou um bom nível de organização. Novas lideranças surgiram no processo e foi
despertada a vontade de participação, trunfo maior de uma sociedade.
A experiência da participação levou, necessariamente, ao diálogo de saberes: o saber dos
técnicos, dos dirigentes e da comunidade, seu conhecimento da realidade local, do seu
contexto cultural, das suas vivências e anseios.
O processo foi essencialmente educacional, inserido no conjunto de práticas e ações
desenvolvidas.
Um processo contínuo de aprendizado recíproco, de exercício e conquista da cidadania
(MORAES e GUIMARÃES, 1997). A 1ª CMSA-A mostrou que o instrumento Conferência
é viável e eficiente para a formulação, de forma participativa e democrática, de política
pública de saneamento ambiental.
Alagoinhas passou a ser o primeiro município do estado da Bahia a ter realizado com
sucesso uma Conferência Municipal de Saneamento Ambiental e a instituir uma lei sobre
Política Municipal de Saneamento Ambiental.
O Poder Executivo Municipal honrou o compromisso assumido publicamente na 1ª CMSA-A
de encaminhar, para a Câmara de Vereadores, a proposta elaborada pela comissão como
o seu projeto de lei, o que veio acontecer em novembro de 2001.
Antes da realização da sessão que discutiria o Projeto de Lei, houve uma audiência pública
na Câmara de Vereadores para sua apresentação e discussão com a sociedade, ocasião
em que estiveram presentes as organizações da sociedade civil e a população local.
A Câmara de Vereadores apreciou e aprovou o projeto de lei, resultando na Lei nº
1.460/2001, que dispõe sobre a Política Municipal de Saneamento Ambiental sancionada
em, 03/12/2001, pelo Prefeito Municipal.
Alagoinhas passou a ser o primeiro município brasileiro a ter sua política de saneamento
ambiental construída com participação da sociedade, por meio de um processo de
Conferência.
Um dos mais importantes artigos da referida lei é o art. 4º, que, no seu parágrafo segundo,
estabelece que a concessão dos serviços de saneamento para a iniciativa privada só
ocorrerá após lei autorizativa e referendo popular, por meio de plebiscito, com aprovação
de 2/3 dos votantes.
Livro de experiências_15x21.indd 54-55
Experiências e recomendações
4.1.7 CONCLUSÃO
Como dito anteriormente, na plenária final da Conferência foi eleita uma comissão
composta por representantes da Sociedade Civil e do poder público, com a atribuição
de elaborar e encaminhar ao Poder Executivo uma proposta de Política Municipal de
Saneamento Ambiental, contemplando pontos discutidos e deliberados na 1ª CMSA-A.
Entre esses pontos pode-se destacar:
•Universalidade–acessoatodosaosserviçosdesaneamentoambiental.
•Equidade–todososcidadãostêmdireitoaserviçosdequalidade.
•Integralidade–acessoatodasascomponentesdosaneamentoambiental,deacordo
com a necessidade dos cidadãos.
•Controlesocial–capacidadequeoscidadãostêmdeinterferirnagestãopública,
colocando as ações do Estado na direção dos interesses da comunidade quanto à
prestação dos serviços de saneamento ambiental.
•EstabelecimentodeumSistemaMunicipaldeSaneamentoAmbiental,tendocomo
instrumentos de controle social a Conferência e o Conselho de Saneamento,
este último com 75% da sua composição sendo ocupada com representantes da
sociedade civil, além de outros instrumentos, como o Plano, o Fundo e o Sistema de
Informações em Saneamento Ambiental.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
4.1.6 O RESULTADO DA CONFERÊNCIA
55
29.11.09 16:17:10
56
A cidade de Salvador, primeira capital do Brasil, é a terceira metrópole brasileira, com
uma população de três milhões de habitantes.
Se, por um lado, a imagem da cidade relaciona-se com a beleza natural e atributos
culturais, por outro, suas vielas e encostas da periferia urbana revelam a intensa
desigualdade social.
Salvador é uma típica cidade latino-americana, abrigando uma série de problemas
socioambientais decorrentes do desenvolvimento econômico desigual, da urbanização
caótica e da falta de políticas públicas adequadas, o que gerou um grave déficit social. As
condições de saneamento ambiental sempre se constituíram em um grande desafio para
a administração municipal.
Em 1995, a Prefeitura Municipal de Salvador, na época conduzida por um governo mais
alinhado com as questões sociais, adotou como uma das prioridades da administração
municipal a questão do saneamento ambiental.
Tal opção abriu espaço para a realização de um convênio com a Universidade Federal
da Bahia (UFBA), que teve como objetivo elaborar o Plano de Saneamento para a Cidade
de Salvador, atendendo as diretrizes estabelecidas na Lei Orgânica do Município (PMS e
UFBA, 1995).
Naquela época, a área de saneamento vivia um novo momento histórico. Com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, a gestão municipal dos serviços públicos
foi fortalecida. O saneamento passou a ser encarado como serviço público de caráter
local e, portanto, de responsabilidade municipal.
A gestão dos serviços deixou de contemplar apenas a operação direta, mas também e,
principalmente, o gerenciamento pelos municípios dos serviços prestados pelas empresas
concessionárias, abrindo espaço para o exercício pleno das responsabilidades e direitos
de poder municipal, titular e concedente dos serviços de interesse local (PEIXOTO, 1994).
Naquele momento, a então rígida política de saneamento, centralizada no governo federal
em torno do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), mostrou-se ineficaz para alterar
o quadro sanitário do país.
O avanço da democracia e o crescimento da participação popular nas questões e decisões
políticas proporcionaram o surgimento, em todo o país, de propostas alternativas para a
gestão local do saneamento.
Livro de experiências_15x21.indd 56-57
Experiências e recomendações
4.2.1 ANTECEDENTES
A necessidade do resgate da autonomia do poder local e o reconhecimento de que
a responsabilidade pela prestação dos serviços de saneamento era municipal, se
constituíram as mais lógicas e legítimas manifestações da vontade de mudanças. O
pleno exercício do poder local se faz necessário para a adoção de soluções para a área
de saneamento, uma vez que o município é o responsável, em última instância, pela
qualidade dos serviços prestados a seus cidadãos.
O município, dispondo de eficiente equipe técnica e utilizando-se de democrático processo
decisório e apoio técnico estadual ou até mesmo federal, é que deve gerir e decidir sobre
a política local de saneamento em todos os níveis: planejamento, investimentos, soluções
técnicas, política tarifária, etc., inclusive, na decisão quanto à autossuficiência financeira
do serviço ou no subsídio com recursos do orçamento municipal, decisão que se deve
respaldar na realidade social de cada município (PEIXOTO, 1994).
A Prefeitura Municipal de Salvador, ao firmar convênio com a Universidade Federal da
Bahia, deu, após décadas, um primeiro passo para que o município passasse a exercer
o seu poder de titular dos serviços, influenciando nos rumos do saneamento ambiental
da cidade.
A elaboração do Plano de Saneamento para a Cidade de Salvador poderia deflagrar um
processo de negociação para reformulação do antigo Termo de Acordo da concessão
dos serviços, modificando, dessa forma, a relação entre a prefeitura e a concessionária
estadual dos serviços, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. (EMBASA). A Lei nº
1.611 e o respectivo Termo de Acordo que concedem a administração e a prestação dos
Serviços de Águas e Esgotos de Salvador ao estado da Bahia datam de julho e agosto de
1925, respectivamente (BAHIA, 1925a,b). Em junho de 1929, um novo Termo de Acordo
foi firmado dilatando o período de vigência de 20 anos para indefinidamente, bem como
confirmando todas as demais cláusulas (BAHIA, 1929).
A partir daí, nenhuma nova alteração legal foi processada, embora a relação de “respeito”
estabelecida pela lei e Termo de Acordo de 1925 entre o estado e o poder concedente
tenha mudado muito, principalmente, nos últimos 30 anos, chegando, nos dias de hoje, à
inobservância do estabelecido nos documentos legais. Assim, o referido Plano teve como
objetivos definir estratégias de ações integradas para o saneamento, ordenar atividades,
identificar serviços necessários e estabelecer prioridades.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
4.2 O PLANO DE SANEAMENTO DA CIDADE DE SALVADOR: UMA
EXPERIÊNCIA DE PLANEJAMENTO EM UMA METRÓPOLE
57
29.11.09 16:17:18
Figura 9 - Canal de drenagem de águas pluviais transportando esgotos sanitários
e resíduos sólidos em assentamento periurbano de Salvador.
civil (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Seção Bahia, Conselho
Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Sindicato dos Trabalhadores em Água
e Esgoto no Estado da Bahia, Federação de Associações de Bairros de Salvador e Fórum
Bahia de ONG). Tal procedimento pretendeu realizar uma discussão ampla e democrática
do Plano em elaboração.
58
A metodologia utilizada para a elaboração do Plano foi a formação de um Grupo Executivo
com responsabilidade de desenvolver os trabalhos de avaliação dos Planos Diretores de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem das águas pluviais e limpeza
pública do município, bem como de elaborar propostas mais adequadas à realidade local,
dispondo de consultoria quando necessário.
A prefeitura designou, para compor o Grupo Executivo, técnicos da Secretaria de
Saneamento e Infraestrutura Urbana, da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador, da
Secretaria de Meio Ambiente, do Centro de Planejamento Municipal e da Coordenadoria
de Administrações Regionais, buscando imprimir ao processo de discussão uma visão
mais integrada de saneamento.
O produto gerado pelo referido grupo era periodicamente apresentado e avaliado por
um Comitê Consultivo composto por oito órgãos municipais (Secretaria de Saneamento
e Infraestrutura Urbana, de Saúde, de Meio Ambiente e de Terras e Habitação, Empresa
de Limpeza Urbana de Salvador, Centro de Planejamento Municipal, Coordenadoria de
Administrações Regionais e Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo),
quatro estaduais (Secretaria de Recursos, Hídricos, Saneamento e Habitação, Empresa
Baiana de Águas e Saneamento S.A., Centro de Recursos Ambientais e Companhia de
Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador) e dois federais (Caixa Econômica
Federal e Universidade Federal da Bahia), além de cinco organizações da sociedade
Livro de experiências_15x21.indd 58-59
Experiências e recomendações
4.2.2 METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO
Um dos elementos conceituais mais discutidos no âmbito da equipe técnica do Plano foi a
necessidade de integração técnica e gerencial dos diversos componentes que constituem
a área de saneamento ambiental, visando à obtenção de racionalidade e otimização dos
serviços.
Historicamente, a responsabilidade institucional da gestão dos serviços de saneamento
ambiental no Brasil deu-se de forma fragmentada, atendendo as demandas geradas com
o crescimento dos núcleos urbanos. Inicialmente, a demanda mais frequente era de água
potável. A coleta e destinação adequada dos esgotos sanitários, bem como a drenagem
das águas pluviais, vieram logo em seguida.
Por último, quando as cidades começaram a gerar resíduos sólidos em quantidade e
composição incompatíveis com destinações aleatórias, os serviços de limpeza pública
foram se organizando. Devido à orientação do governo federal e do extinto Banco Nacional
de Habitação, a maioria dos serviços de águas e de esgotos no país foram se organizando
sob administração de empresas estaduais, enquanto os serviços de drenagem e limpeza
pública continuaram no âmbito municipal.
O conflito de interesses e de esferas gerenciais e a complexidade crescente dos problemas
ocasionaram grandes dificuldades, na medida em que as vilas se tornaram cidades e as
cidades se tornaram metrópoles.
Interseções de redes de serviços gerenciadas por esferas de poder diferentes e muito
distantes; falta de coordenação; planos e projetos elaborados isoladamente; construção e
operação de sistemas sem a devida integração; e, principalmente, a falta de um sistema
de informações com banco de dados e um cadastro completo, tudo isso contribuiu para
impedir a racionalização e otimização, além de onerar e dificultar a operação dos serviços
públicos.
Assim, o Plano enfatizou a necessidade de a Prefeitura empreender esforços para a
adoção de ações articuladas e integradas entre os diversos órgãos municipais, estaduais
e federais que atuavam na área de saneamento ambiental no município.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
4.2.3 O PLANO ENFATIZA A NECESSIDADE DA ARTICULAÇÃO
INSTITUCIONAL
59
29.11.09 16:17:25
A partir dos estudos desenvolvidos, do estágio organizacional das instituições envolvidas
na área de saneamento e com base em visão estratégica, foram estabelecidas metas que
sintetizam o Plano de Saneamento para a Cidade de Salvador.
Essas metas, precedidas dos condicionantes que necessitam de resolução prévia, foram
agrupadas em três níveis e são apresentadas a seguir (PMS e UFBA, 1995):
60
Metas de curto prazo
• Revisão dos Termos de Concessão para a exploração dos serviços de água e
esgotos.
•Apresentação,discussãoeaprovaçãodeleidispondosobreapolíticamunicipalde
saneamento.
•CriaçãoeinstauraçãodeFórumPermanentedeSaneamentoAmbiental,comoetapa
inicial para a criação do Conselho Municipal de Saneamento.
•Inclusãoenormatizaçãodoitemsaneamentonoprocessodeanálise,avaliaçãoe
aprovação de empreendimentos imobiliários e outros, para fins de licenciamento.
•Planejamento,execuçãoeavaliaçãodeformaintegradaasaçõesdesaneamento
(manejo de resíduos sólidos, manejo de águas pluviais, abastecimento de água e
esgotamento sanitário).
•Promoçãodacapacitaçãoeformaçãoderecursoshumanos,capazesdeatuarem
áreas periféricas da cidade.
Livro de experiências_15x21.indd 60-61
Como passo seguinte, previu-se uma ampla discussão do Plano com os diferentes
segmentos da sociedade local e o seu encaminhamento para apreciação e aprovação
pela Câmara de Vereadores, visando atender ao dispositivo previsto na Lei Orgânica do
Município.
Experiências e recomendações
O rico processo de discussão das questões de saneamento ambiental em Salvador e
de elaboração de propostas quer seja no Grupo Executivo ou no Comitê Consultivo,
contribuíram para o Plano de Saneamento para a Cidade de Salvador, contemplando
princípios, diretrizes, diagnóstico, avaliação dos Planos Diretores existentes das
componentes água, esgoto, manejo de águas pluviais e de resíduos sólidos. A seguir são
destacadas as proposições oriundas desse processo:
• Projeto de lei de política municipal de saneamento, estabelecendo princípios,
diretrizes e sistema municipal de saneamento, contemplando o Plano, Conferência,
Conselho e Fundo.
•Projetodeleidispondosobreoregimedeconcessãodeprestaçãodosserviçosde
abastecimento de água e esgotamento sanitário de Salvador pela concessionária
estadual.
•TermodeReferênciaparaelaboraçãodeprojetosdesaneamento,dentreoutras(PMS
e UFBA, 1995).
Metas de médio prazo
•ConsolidaçãopelaPrefeituraMunicipaldeSalvador(PMS)doexercício,comopoder
concedente, dos serviços de água e esgotos, por meio de: revisão do programa de
intervenções, estabelecendo prioridades comuns à PMS e à Concessionária Estadual
dos serviços.
•Revisãodaformaderelacionamentoentrepoderpúblicoecomunidade.
•Revisãodapolíticatarifária,objetivandotorná-lamaisjustadopontodevistasocial.
•RealizaçãodesemináriosparaaintegraçãodasaçõesdesaneamentodaPMSeda
concessionária estadual.
•ElaboraçãoeimplementaçãodoCódigoMunicipaldeSaneamento,contemplando:
caderno de encargos contendo termos de referências para elaboração de projetos de
saneamento e especificações gerais dos serviços de saneamento.
•Implantaçãodebasedecustosparaobraseserviçosdesaneamento.
• Implantação de uma sistemática de diagnóstico das condições de saneamento
ambiental da cidade.
• Implementação de um sistema de avaliação democrática e permanente das
tecnologias que se pretenda implantar em escala na cidade.
• Descentralização das ações de limpeza urbana e conservação e manutenção dos
dispositivos de saneamento para as 16 Administrações Regionais (AR) da cidade.
•Realizaçãodeestudosvisandoconhecereavaliarasbaciashidrográficasdacidade
de Salvador, de forma a contribuir na definição de diretrizes de planejamento.
Metas de longo prazo
•Implantaçãodeumsistemadeinformaçõesemsaneamento,incluindoumcadastro
geral dos serviços e das redes existentes seguindo a base espacial das AR.
•Desenvolvimentoeimplantaçãodecritériosdesociais,epidemiológicoseambientais
para o estabelecimento de prioridades de intervenção por bacias hidrográficas na
cidade de Salvador.
•Implantaçãodeumbancodeprojetosparaaviabilizaçãodecaptaçãoderecursos
para as ações de saneamento.
•Atualizaçãopermanentedeplanos,programaseprojetosdesaneamento.
• Desenvolvimento e implantação de um sistema para monitorizar e avaliar o
comportamento dos sistemas de saneamento, artificiais ou naturais.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
4.2.4 CONCLUSÃO E PASSOS SEGUINTES
61
29.11.09 16:17:32
O Plano foi elaborado no período de um ano (julho de 1997 a julho de 1998).
4.3
VITÓRIA DA CONQUISTA: UMA EXPERIÊNCIA DE
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO DE AÇÕES DE SANEAMENTO
AMBIENTAL EM NÍVEL LOCAL
4.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
62
O município de Vitória da Conquista está localizado na região sudoeste do estado da
Bahia. A sede dista 509 km de Salvador, capital do estado. A área do município é de 3.743
km2, distribuída em onze distritos. Segundo o IBGE, em 1991 o município tinha 224.896
habitantes, com uma taxa de urbanização de 83,7% e, em 1996, 241.776 habitantes,
atingindo, em 2000, 262.494 habitantes. A situação de salubridade ambiental da sede
do município e das localidades induziu a administração da Prefeitura Municipal de Vitória
da Conquista, do período de 1997–2000, a destacar o saneamento ambiental como
prioridade de governo, motivo pelo qual dedicou esforços para retomar o planejamento das
Livro de experiências_15x21.indd 62-63
4.3.2 METODOLOGIA APLICADA PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO
Para a elaboração do Plano, a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC) firmou
convênio com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo como interveniente a
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), com campus na sede do município.
A metodologia utilizada para a elaboração do Plano envolveu a formação de duas
instâncias (MORAES e CASTRO, 2000):
•GrupoExecutivo,compostoporconsultoresetécnicosdasSecretariasdeServiços
Públicos, de Obras e Urbanismo, de Saúde Pública, de Meio Ambiente e de Assuntos
Distritais e da Empresa de Urbanização da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista,
órgãos responsáveis pelo saneamento ambiental no município, como também por
professores, pesquisadores e estudantes das Universidades conveniadas.
•ComitêConsultivo,instânciaformadaporrepresentantes(autoridadesoutécnicos)
das instituições do poder público municipal, estadual – Embasa, Companhia de
Experiências e recomendações
Figura 10 - Precariedade de diferentes componentes do saneamento em
assentamento periurbano de Salvador.
ações e dos serviços de saneamento ambiental. Dessa forma, o poder público municipal
passou a exercer o seu papel de poder concedente, em conformidade com o disposto
na Constituição Federal que estabelece a competência do município na organização e
prestação dos serviços de interesse local. Buscando retomar as ações de planejamento
de forma mais qualificada, a prefeitura buscou parceria com a Universidade Federal da
Bahia e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia para, conjuntamente, elaborarem o
Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da Conquista (MORAES e CASTRO, 2000).
O objetivo do Plano foi definir estratégias para a realização de ações integradas para
o saneamento ambiental, superando, desta forma, a tradicional e limitada abordagem
fragmentada das ações. Além disso, o Plano visou ordenar atividades, identificar serviços
necessários e estabelecer prioridades. Os produtos esperados do Plano eram dois:
• O Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da Conquista, propriamente dito,
contendo os princípios, as diretrizes, as metas e a proposta de um Sistema Municipal
de Saneamento Ambiental, envolvendo as componentes abastecimento de água,
esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais e de resíduos sólidos (MORAES et
al., 1999a).
• O Projeto Local de Saneamento Ambiental de dez localidades da área rural do
município, envolvendo ações de abastecimento de água, disposição de excretas
humanos/esgotos sanitários e manejo de resíduos sólidos (MORAES et al., 1999b).
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Urge, numa cidade do porte e complexidade de Salvador, o planejamento das componentes
do saneamento ambiental de forma integrada entre si e com outros setores. O Plano de
Saneamento para a Cidade de Salvador representou um esforço nesse sentido, porém
ainda não encaminhado pelo Poder Executivo Municipal ao Poder Legislativo para sua
discussão, e aprovação, para posterior implementação.
63
29.11.09 16:17:40
O Comitê Consultivo teve como atribuições:
•Discutireavaliar,acadadoismeses,otrabalhoproduzidopeloGrupoExecutivo.
• Criticar e sugerir alternativas, caso necessário, auxiliando o trabalho do Grupo
Executivo na elaboração do Plano.
• Avaliar o andamento dos trabalhos do ponto de vista da viabilidade técnica,
operacional, financeira, ambiental, buscando promover as ações integradas de
saneamento ambiental (Figura 10).
64
Livro de experiências_15x21.indd 64-65
As etapas e atividades previstas para a elaboração, a aprovação, a institucionalização e
a implementação do Plano estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Etapas e Atividades para o Desenvolvimento do Plano de Saneamento
Ambiental para Vitória da Conquista.
Etapa
Atividades
1ª Etapa
Fundamentos
•Definirdiretrizeseconceitosbásicos,comorientaçõesgerais
e específicas para cada órgão relacionado com o saneamento
ambiental.
•DiscutirasdiretrizesdoPlanoemreuniãopúblicadoComitê
Consultivo, com participação dos diversos setores da sociedade.
•Complementaredetalharodiagnósticocomlevantamento
da situação atual, identificando as carências e determinando a
demanda reprimida.
•Realizarprognósticocomavaliaçãodascondiçõesatuaise
projeção para o horizonte proposto pelo Plano, considerado o
Plano Diretor Urbano existente.
Experiências e recomendações
O Grupo Executivo teve como atribuições:
•Realizardiagnósticodasituaçãodosaneamentoambientaledeseusserviçosno
município.
•Avaliarosestudos,projetosedosplanosexistentesdasdiferentescomponentesdo
saneamento ambiental.
•Proporaçõesparaimplementaçãooumelhoriadosserviçosdesaneamentoambiental
do ponto de vista técnico e institucional.
Figura 11 - Reunião do Comitê Consultivo do Plano na UESB, em Vitória da
Conquista.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Engenharia Rural da Bahia (Cerb), Centro de Recursos Ambientais (CRA), Secretaria
de Saúde do Estado da Bahia – 20ª Dires, Ministério Público do Estado da Bahia
e Uesb –; federal – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Funasa e
UFBA – e instituições relacionadas com o saneamento ambiental. O Comitê também
contou com representantes de organizações da sociedade civil (Conselhos Locais de
Saneamento, CREA/BA – Inspetoria de Vitória da Conquista, Loja Maçônica Caminho
do Oriente, Movimento Contra a Morte Prematura, OAB – Subseção de Vitória da
Conquista, Sebrae e Sindae – Regional de Vitória da Conquista).
65
29.11.09 16:17:48
•ApresentarasconclusõesdaprimeiraetapaaoComitê
Consultivo, em reunião pública, para crítica e encaminhamento de
propostas.
•Realizarproposiçõessobreosseguintesitens:
- diretrizes para a ação municipal (obras, serviços e
gestão dos serviços de saneamento ambiental);
- estrutura administrativa para a gestão do Plano e
definição de competências;
- sistema de avaliação de cunho permanente e
integrado ao sistema de planejamento;
- prioridades de investimentos com orientação para
o cronograma de implantação.
•DiscutirasproposiçõesemreuniõespúblicasdoComitê
Consultivo.
•RealizarSeminárioFinalorganizadopeloComitêConsultivo
para discussão do relatório e encaminhamento do Plano à
Câmara de Vereadores.
3ª Etapa
Aprovação
•DiscussãonaCâmaradeVereadores.
•AprovaçãopelaCâmaradeVereadoresesançãopeloprefeito
municipal.
4ª Etapa
Institucionalização
•Elaborarosdecretosregulamentadores.
•Realizarasalteraçõesadministrativasnecessáriaspara
implementar o Plano.
•Realizarprevisõesorçamentárias.
5ª Etapa
Implementação
•ImplementaçãodasaçõespropostasnoPlano.
4.3.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO PLANO DE SANEAMENTO AMBIENTAL
PARA VITÓRIA DA CONQUISTA
O Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da Conquista fundamentou-se em princípios
que deveriam imprimir o caráter da política a ser implementada no município, a saber:
66
a) Integração;
b) Participação Popular;
c) Saúde Pública;
d) Educação Sanitária e Ambiental;
e) Bacia Hidrográfica; e
f) Política de Recursos, adaptados de PMPA (1992).
Livro de experiências_15x21.indd 66-67
b) Participação Popular
A participação popular é um processo político de construção da consciência coletiva
sobre a possibilidade e a necessidade de interferência em questões que envolvam a vida
da comunidade.
Essa participação efetiva-se por meio da democratização da gestão do serviço público,
pela criação de canais de acesso à informação e à participação, assim como por ações
e movimentos que reforcem e/ou estimulem a mobilização própria e a auto-organização
da população.
A participação popular passa a acontecer com o acesso às informações que possibilitam à
população construir os próprios mecanismos de pressão e controle. Estabelece-se ainda
pela organização de canais alternativos, importantes também para o assessoramento das
intervenções nas diversas instâncias de decisão.
Experiências e recomendações
2ª Etapa
Propostas
Atividades
a) Integração
As ações dos diferentes componentes e das instituições da área de saneamento ambiental
são geralmente tratadas de forma isolada, gerando, na maioria das vezes, pulverização
de recursos financeiros, materiais e humanos.
No Brasil, essa realidade é facilmente percebida, a exemplo das ações de operação e
manutenção do sistema de drenagem de águas pluviais que são conduzidas de forma
desarticulada com as atividades de limpeza pública e de esgotamento sanitário, as quais
são executadas por órgãos específicos.
A forma setorial com que as instituições são organizadas, bem como a formação dada aos
profissionais e a falta de políticas que estimulem o processo de integração, são fatores
que têm limitado o desenvolvimento de ações integradas de saneamento ambiental.
A concepção de que cada problema social deve ser enfrentado pela instituição a que
está ligado e pelo profissional “competente” está sedimentada na organização do Estado,
sendo necessário grande esforço para sua superação.
A integração entre áreas de atuação é um elemento de compatibilização (horizontal) de
diversas ações, planos e projetos, reduzindo os custos dos serviços públicos.
A área de saneamento ambiental interage com as de saúde pública, desenvolvimento
urbano, habitação, meio ambiente e recursos hídricos, entre outros, com grande potencial
para a melhoria da qualidade de vida da população quando da conjugação de esforços.
Portanto, a integração entre as componentes do saneamento ambiental, bem como
a integração intra e interinstitucional devem ser estimuladas. Devem-se identificar
as superposições de ações e de funções, bem como mecanismos que permitam sua
coordenação harmônica.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Tabela 1 - Continuação
Etapa
67
29.11.09 16:17:55
68
d) Educação Sanitária e Ambiental
Educação ambiental é um processo de transformação cultural em todas as escalas da
vida social, objetivando a construção de uma consciência individual e coletiva.
Essa ação permite o desenvolvimento de uma nova perspectiva cultural, ao propiciar a
apropriação dos cidadãos de sua própria cultura e a percepção dos seus vínculos com
o meio ambiente, contribuindo, dessa forma, para o estabelecimento de relações mais
justas entre a sociedade e a natureza.
A educação ambiental efetiva-se quando seus projetos e ações vão ao encontro das
necessidades da população e do meio ambiente em que se vive, numa troca construtiva
a partir da cultura da população.
A educação ambiental tem uma relação intrínseca com a participação popular, na medida
em que esta contribui para a construção de uma consciência coletiva de integração com
o meio, e de responsabilidade de cada um para com o bem-estar de todos.
Em um Plano de Saneamento Ambiental deve-se buscar com a Educação Sanitária e
Livro de experiências_15x21.indd 68-69
e) Bacia Hidrográfica
A opção de utilizar a bacia hidrográfica como referência para o planejamento possibilita
uma visão não fragmentada das inter-relações do homem com o meio e deste consigo
mesmo. Permite, ainda, compreender como uma ação, em qualquer ponto da bacia,
reflete no todo, seja de forma positiva ou negativa, sendo o corpo hídrico o condutor dos
dejetos resultantes da ação antrópica.
O conceito de bacia hidrográfica se mostra interessante para os seguintes objetivos:
•Comoreferênciaparaoplanejamentodomunicípio,emdoisaspectos;
•possibilitaadequarousoeocupaçãodosoloaoscondicionantesepotenciaisdosítio,
visando ao uso racional dos recursos naturais no atendimento das necessidades
humanas e uma melhor adequação do ambiente construído ao ambiente natural;
•permiteindicaromacrozoneamentourbanoemfunçãodasclassesdequalidadedo
corpo d’água principal, as quais determinam as cargas poluidoras admissíveis.
• Como base para implantação de infraestrutura sanitária, notadamente as redes de
esgotos sanitários e de águas pluviais, não apenas por permitir projetar as alternativas
dos sistemas a serem implantados em função dos desníveis topográficos, mas,
também, por possibilitar definir a localização e tipos de equipamentos desses sistemas
em função da qualidade da água do corpo receptor.
• Como referencial no estudo de implantação de atividades poluidoras, como por
exemplo, o destino final de resíduos sólidos.
•Comoelementoauxiliarparaodesenvolvimentodeprogramasdeeducaçãoambiental,
possibilitando um vínculo entre as práticas individuais em relação ao meio ambiente.
•Comocritérioaserconsideradoparaumapropostadedescentralizaçãoadministrativa,
o que pode permitir compatibilizar as diversas regionalizações de serviços municipais
a uma perspectiva ambiental.
No que diz respeito às águas subterrâneas, as bacias hidrogeológicas deverão ser
devidamente identificadas e consideradas, desde que pertinente, visto que a sua extensão
e delimitação não necessariamente são coincidentes com as bacias hidrográficas.
Experiências e recomendações
c) Saúde Pública
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação,
a moradia, o saneamento ambiental, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
É, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais
podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
A saúde é direito de todos e dever do poder público, cabendo ao poder local, com a
cooperação de outros níveis de governo, empreender as condições necessárias e
indispensáveis para a sua promoção, proteção e recuperação. No Plano de Saneamento
Ambiental, a saúde pública não poderia deixar de ser um item relevante a ser
considerado.
Ambiental os seguintes objetivos específicos:
•Conservaroambienteantrópico.
•Estimularatransformaçãodecomportamentoseatitudesvisandoaodesenvolvimento
de uma cultura ecológica.
• Reduzir progressivamente os investimentos nas ações corretivas à medida que as
ações preventivas mostrarem resultados.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A participação popular intervém diretamente num governo democrático para definir
demandas e prioridades da população. No caso do Plano de Saneamento Ambiental,
incide sobre o seu processo de elaboração, assim como sobre o controle, a fiscalização e
a monitorização de sua implementação.
A proposta da participação popular na elaboração do Plano de Saneamento Ambiental,
permeando todas as ações, deve estimular uma mudança na postura ética do homem,
em vários aspectos (ambientais, produtivos, políticos, sociais, culturais, etc.), visando
desenvolver uma consciência ambiental crítica voltada para a melhoria da qualidade de
vida.
69
29.11.09 16:18:03
4.3.4 AS PROPOSTAS DO PLANO
70
A ausência de planejamento, com a fragmentação e a desarticulação das ações de
saneamento ambiental, trouxe graves consequências para a população do município
de Vitória da Conquista, como desperdício de recursos e degradação da salubridade
ambiental, tanto na sede municipal, como nas vilas e povoados.
Essa realidade impõe mudanças profundas no modelo gestão do saneamento ambiental
do município.
A superação desse problema não depende apenas da proposição de um Plano concebido
como produto rígido e detalhista que, pela inflexibilidade e burocratização, é inaplicável
em realidades permanentemente dinâmicas, em função da enorme pluralidade de agentes
e de interesses. Por isso, foi necessário conceber, para Vitória da Conquista, um modelo
de gestão que contemplasse a complexidade da realidade urbana e rural e a participação
e o controle social.
Assim, o Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da Conquista propôs a constituição
de um Sistema Municipal de Saneamento composto de: Plano de Saneamento Ambiental
para Vitória da Conquista, Conferência Municipal de Saneamento, Conselho Municipal
de Saneamento e Fundo Municipal de Saneamento. Esse novo modelo de gestão exige
mudanças institucionais, organizacionais e operacionais. Como contribuição ao modelo
Livro de experiências_15x21.indd 70-71
Metas de curto prazo
•Acompanhamento e fiscalização do Contrato de Concessão para a exploração dos
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário da sede municipal.
•Apresentação,discussãoeaprovaçãodoprojetodeleipropostopeloPlanoquedispõe
sobre a Política Municipal de Saneamento Ambiental.
•CriaçãoeinstauraçãodoConselhoMunicipaldeSaneamentoAmbiental.
• Realização de estudos de disponibilidade hídrica visando ao suprimento a médio e
longo prazos do sistema de abastecimento de água da sede municipal.
• Inclusão e normatização do item saneamento no processo de análise, avaliação e
aprovação de empreendimentos, para fins de licenciamento.
•Integraçãonoplanejamento,naexecuçãoenaavaliaçãodasaçõesdesaneamento
ambiental (manejo de resíduos sólidos, manejo de águas pluviais, abastecimento de
água e esgotamento sanitário) da sede municipal e demais localidades do município.
•Ampliação do quadro funcional, promoção da capacitação e formação de recursos
humanos capazes de atuar nas áreas urbanas e rurais do município.
•ConsolidaçãopelaPrefeituraMunicipaldeVitóriadaConquista(PMVC)doexercício
enquanto poder concedente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento
sanitário da sede municipal, por meio de:
- revisão do programa de intervenções, estabelecendo prioridades comuns à PMVC
e à Embasa;
Experiências e recomendações
f) Recursos
Os recursos humanos, materiais, financeiros e outros necessários à efetivação do Plano
devem ser garantidos por meio de uma política permanente e orientada neste sentido.
A aplicação de quaisquer recursos na efetivação do Plano deve ocorrer sempre
acompanhada de instrumentos que garantam a transparência, a probidade, a eficiência
e a racionalidade.
A política tarifária deve estipular uma justa remuneração, que considere a integralidade
dos serviços e os aspectos sociais. Deve também estabelecer um percentual definido para
os investimentos em obras de expansão e de garantia de boas condições de operação e
manutenção dos serviços.
O poder público Municipal deve, permanentemente, prever recursos sem retorno
financeiro para a área de saneamento ambiental, especialmente, que considerem o seu
caráter social, visando à universalização dos serviços; deve, ainda, obter recursos em
outros níveis de governo, também sem retorno financeiro.
institucional para a área de saneamento ambiental local, o Plano propõe minuta de
projeto de lei que dispõe sobre a Política Municipal de Saneamento Ambiental, contendo
definições, princípios e diretrizes, além de sugerir o Sistema Municipal de Saneamento
Ambiental.
Visando contribuir com um importante serviço público específico de saneamento
ambiental, o Plano também propõe uma minuta de projeto de lei que dispõe sobre o
Serviço de Limpeza Pública. Entre as medidas sugeridas, pode-se destacar a mudança
de relacionamento entre o poder público Municipal e a empresa concessionária estadual
de águas e esgotos, bem como quanto ao acompanhamento e à fiscalização do contrato
de concessão.
A régua e compasso sugeridas pelo Plano foram apresentadas em um momento de
amadurecimento da sociedade brasileira, que tem pleiteado mudanças na administração
pública, exigindo maiores transparência e controle social. As metas estabelecidas pelo
Plano foram as seguintes:
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Tais bacias hidrogeológicas são dependentes das estruturas e formações geolitológicas,
em vez do relevo de superfície que define as bacias hidrográficas.
71
29.11.09 16:18:10
- realização de seminários objetivando a integração das ações de saneamento da
PMVC e da Embasa.
•ElaboraçãoeimplementaçãodoCódigoMunicipaldeSaneamento,complementando
caderno de encargos e especificações gerais dos serviços.
•Implantaçãodebasedecustosparaasobraseserviçosdesaneamentonoâmbito
municipal.
•Implantaçãodeumasistemáticadediagnósticodesaneamentoconsubstanciadoem
pesquisa de campo.
• Implementação de um sistema de avaliação permanente dos dispositivos de
saneamento que se pretenda implementar em escala no município, a exemplo de
audiências públicas.
• Elaboração, programação e avaliação das demandas financeiras relativas aos
Programas do Plano.
•Definiçãodascompetênciasinstitucionaisquedevemserassumidaspelasdiversas
entidades do poder público municipal na área de saneamento ambiental.
•Apresentaçãodeumasistemáticapermanentedemonitorizaçãodaimplementação,
reavaliação e reprogramação do Plano.
•ImplementaçãodoSistemaIntegradodeGerenciamentodeResíduosSólidosdasede
municipal.
•Apresentação,discussãoeaprovaçãodoProjetodeLeipropostopeloPlanoquedispõe
sobre o Serviço de Limpeza Pública.
•Realizaçãodeestudosvisandoconhecereavaliarasbaciashidrográficasdomunicípio
de Vitória da Conquista, de forma a contribuir na definição de diretrizes de uso e
preservação dos recursos hídricos.
72
Metas de médio prazo
•Implantaçãodeumsistemadeinformaçõesemsaneamentoambiental,incluindoum
cadastro geral dos serviços e redes existentes.
•Desenvolvimentoeimplantaçãodecritériosparaoestabelecimentodeprioridadesde
intervenções por sub-bacias hidrográficas na cidade de Vitória da Conquista.
Livro de experiências_15x21.indd 72-73
4.3.5 PROJETO LOCAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A) CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A situação do saneamento ambiental nas pequenas localidades brasileiras, particularmente
da região Nordeste, é lamentável. A formulação de política de saneamento e a elaboração de
instrumento de planejamento no âmbito municipal e local, e sua posterior implementação,
tornam-se necessárias e urgentes, visando reduzir a elevada dívida da sociedade para
com as populações que aí residem.
A decisão política da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista de implementar ações
de saneamento ambiental em pequenas localidades deveu-se tanto pela precariedade
das condições de salubridade ambiental como também pelo nível de interlocução entre
a administração municipal e as comunidades que já vinham reivindicando melhorias no
saneamento de suas localidades.
Assim, no âmbito do Plano, nasceu o Projeto Local de Saneamento Ambiental (PLSA)
visando modificar o quadro sanitário e melhorar os níveis de saúde da população dessas
localidades (MORAES et al., 1999b).
B) METODOLOGIA APLICADA PARA A ELABORAÇÃO DO PLSA
A elaboração do PLSA foi realizada pelo Grupo Executivo do Plano. Periodicamente, os
trabalhos deste grupo eram apresentados e criticados pelo Comitê Consultivo (PMVC e
UFBA, 1998). A
s dez localidades foram selecionadas pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista,
levando em consideração fatores tais como: tamanho da população; reivindicação da
comunidade de ações de saneamento ambiental; importância econômica da localidade;
existência na localidade de escola/ginásio público; e compromisso político de campanha.
A população das localidades variava entre 500 e 2.500 habitantes.
A participação da comunidade de cada localidade nos processos de planejamento
e elaboração dos projetos foi condição fundamental para a elaboração do PLSA nos
Experiências e recomendações
- revisão da política tarifária;
• Implantação de um banco de projetos na Prefeitura, objetivando a viabilização de
captação de recursos para as ações de saneamento ambiental.
•Atualização permanente dos planos, dos programas e dos projetos de saneamento
ambiental.
O projeto de lei do Plano encontra-se na Câmara de Vereadores do município, para sua
apreciação e aprovação.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
- revisão da forma de relacionamento entre poder público e comunidade.
73
29.11.09 16:18:17
74
De posse das informações existentes na prefeitura, em órgãos estaduais, as obtidas nas
inspeções de campo realizadas pelo Grupo Executivo e com os resultados do levantamento
realizado pela comunidade local, foi dado início a um trabalho de análise para as futuras
proposições.
As comunidades locais participaram ativamente de todas as atividades, assumindo o
papel de sujeito do processo, tendo o apoio do Grupo Executivo.
Com isso, foi iniciada a elaboração dos projetos dos Sistemas de Abastecimento de Água
(SAA), dos Sistemas de Esgotamento Sanitário (SES) e dos Sistemas de Resíduos Sólidos
(SRS), tendo como meta o atendimento universal da população.
Diversas reuniões foram realizadas em cada localidade para a apresentação e a discussão
da concepção e do desenvolvimento dos projetos. Tomou-se o cuidado de deixar todas
as informações de posse do CLSA para permitir novas discussões com a comunidade e
encaminhamento de propostas de alterações.
Livro de experiências_15x21.indd 74-75
Participação Comunitária
Seguindo a metodologia de elaboração do Plano de Saneamento Ambiental para Vitória da
Conquista, os projetos dos sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário
e de resíduos sólidos foram desenvolvidos com a participação da população, na tentativa
de integrar o conhecimento técnico ao saber da comunidade local. Essa abordagem
resultou, surpreendentemente, em redefinições da concepção dos sistemas propostos,
de forma a torná-los mais condizentes com a realidade local.
Foram realizadas visitas de campo para levantamentos gerais, seguidas – ou antecedidas
– de reuniões com a comunidade, as quais propiciaram um exercício de cidadania. Além
da coleta de informações, essa vivência permitiu não só a exposição de aspectos técnicos,
como também o envolvimento dos participantes em produtivas discussões.
Para dar suporte ao processo de discussão dos projetos, os moradores escolheram um
grupo de, pelo menos, cinco pessoas, para formar o CLSA, constituído, em geral, de
membros da associação de moradores, quando esta existia, e/ou dos moradores mais
antigos ou envolvidos com os problemas de saneamento ambiental e de saúde do local;
representantes das áreas de saúde (agentes de saúde) e educação (professores); e de
lideranças religiosas (Figura 11).
Figura 12 - Apresentação e discussão do projeto de esgotamento sanitário em
reunião do Conselho Local de Saneamento Ambiental de Inhobim, em Vitória da
Conquista.
Experiências e recomendações
Foram atribuições do Conselho Local de Saneamento Ambiental (CLSA):
•Mobilizarosmoradoresparaadiscussãodasquestõeselevantamentodeinformações
sobre saneamento ambiental e saúde.
• Aplicar questionário em todas as residências para obtenção das informações, e
posterior tabulação, análise e divulgação das informações obtidas.
• Elaborar ou atualizar mapa cadastral da localidade para subsidiar os projetos de
engenharia.
•OrganizareconduzirasreuniõessobreoPLSA.
•ParticipardasreuniõesdoComitêConsultivodoPlanoedivulgarparaosmoradoreso
desenvolvimento dos trabalhos.
C) O DESENVOLVIMENTO DO PLSA SEGUNDO OS EIXOS
NORTEADORES
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
processos de viabilização do financiamento, definição do modelo de prestação dos
serviços, execução, avaliação e êxito dos projetos. Além da participação da comunidade,
o PLSA teve como eixos norteadores a sustentabilidade social, administrativa, financeira,
operacional e ambiental dos serviços; uso de tecnologias apropriadas; e abordagem
integrada das componentes abastecimento de água, coleta, tratamento e disposição
adequada dos esgotos sanitários e manejo de resíduos sólidos.
Após inspeção de campo em cada localidade pelo Grupo Executivo foi realizada uma
primeira reunião com a comunidade para discutir o desenvolvimento do PLSA, tendo
sido instaurado o Conselho Local de Saneamento Ambiental (CLSA), composto, em geral,
por cinco membros: o agente de saúde local, um representante do ginásio local, um da
associação de moradores, um das igrejas e um morador identificado com os problemas
de saneamento ambiental e saúde.
75
29.11.09 16:18:24
76
Livro de experiências_15x21.indd 76-77
Uso de Tecnologias Apropriadas
Existem muitas alternativas tecnológicas que permitem equacionar os problemas de
saneamento da população.
Entretanto, a pouca prioridade dada e a contínua escassez de recursos financeiros
para o saneamento ambiental, o ambiente sociocultural e as condições econômicas da
população, têm sido limitadores do acesso da população aos serviços de saneamento
ambiental.
As tecnologias de saneamento ambiental adotadas devem ser apropriadas às condições
socioculturais, econômicas, administrativas e do meio físico-natural, tanto nas áreas
urbanas das metrópoles e suas periferias, como nas pequenas localidades rurais. Nestas,
as considerações culturais, a adequação da tecnologia a capacidade de pagamento da
população e a estrutura institucional necessária para a prestação dos serviços devem ser
cuidadosamente consideradas.
A tecnologia apropriada para o saneamento ambiental em pequenas localidades deve
conciliar objetivos de simplicidade, baixo custo, eficiência técnica, facilidade operacional
Experiências e recomendações
Sustentabilidade
Desde a primeira reunião em cada localidade, estimulou-se a comunidade local a realizar,
continuamente, discussões visando identificar a melhor forma de organização para a
administração, operação e manutenção dos sistemas a serem implantados. Objetivavase, com isso, garantir a efetividade, eficácia e eficiência dos sistemas, de forma a tornálos justos do ponto de vista social e ambiental.
Pretendia-se assegurar a continuidade do funcionamento dos sistemas e a qualidade dos
serviços prestados, para que cumprissem o seu objetivo maior, a melhoria da salubridade
do meio e, consequentemente, da saúde da população.
A prestação de serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e de
resíduos sólidos, para ser adequada às necessidades da comunidade, carecem de
segurança quanto à continuidade do funcionamento e quanto à qualidade dos serviços
oferecidos.
Isso só se obtém com o manejo adequado das componentes dos sistemas – tanto na
sua operação quanto na sua manutenção –, para que cumpram sua finalidade e não se
deteriorem prematuramente (BRASIL, 1990).
Essa condição implica na necessidade de uma organização simples, porém, eficaz para a
administração, a operação e a manutenção dos serviços.
Além da indispensável capacitação de pessoal para as atividades operacionais e
administrativas, pressupõe-se a existência de uma instância municipal de apoio financeiro,
técnico e administrativo que se disponha a cooperar com eficiência e presteza em tudo o
que for necessário para a prestação contínua e sustentável dos serviços de saneamento
ambiental à comunidade. Desde a fase de estudos e projetos, essa questão foi discutida
com a comunidade local.
Durante a fase de construção e implantação dos sistemas, o debate deve ser intensificado
para que se chegue à definição do modelo preferido de gestão para os sistemas de
abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos, até a conclusão das
obras.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Uma das principais finalidades do CLSA, a de constituir um elo entre o Grupo Executivo
do Plano de Saneamento Ambiental e a comunidade, foi plenamente cumprida, em todos
os casos.
Esse conselho, efetivamente, providenciou as informações solicitadas, possibilitando o
aprofundamento das discussões sobre saneamento ambiental e saúde de cada localidade.
Além disso, o CLSA funcionou como uma entidade disseminadora de informações à
comunidade. Foram realizadas três reuniões públicas em cada comunidade com o Grupo
Executivo do Plano de Saneamento Ambiental.
A primeira, para apresentação dos objetivos do trabalho do PLSA, a coleta de informações
e a discussão das primeiras propostas para solução dos problemas de saneamento
ambiental na localidade; a segunda, para a exposição das alternativas técnicas/
anteprojetos elaborados pelo Grupo Executivo, seguida de discussão para críticas
e sugestões; a terceira, para a apresentação e a entrega dos projetos à comunidade,
simbolizando o compromisso da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista com todas
as ações necessárias à obtenção dos recursos financeiros, à execução das obras, à
definição do modelo de administração e de operação dos sistemas implantados e ao
programa de capacitação de pessoal.
Os resultados dos estudos de engenharia apresentados pelo Grupo Executivo do Plano
de Saneamento Ambiental à população, em reunião pública convocada pelo CLSA, com
apoio da Secretaria de Assuntos Distritais da PMVC, teve como objetivos analisar e
discutir as vantagens e desvantagens das alternativas técnicas e as possíveis atribuições
e compromissos que cada uma representava para os órgãos governamentais e para a
comunidade.
Em especial, foram dadas informações sobre suas implicações, especialmente quanto
a custos e assistência técnica necessária para sua operação e manutenção. Visando
contribuir com a economia local, bem como gerar trabalho, emprego e renda, os projetos
previram a produção de materiais e o aproveitamento da mão de obra local.
77
29.11.09 16:18:32
Abastecimento de Água
Os projetos dos sistemas de abastecimento de água visaram ao suprimento e à distribuição
de água em quantidade (100-120L/hab.dia) e qualidade adequadas à totalidade da
população de cada localidade.
Os sistemas de abastecimento de água projetados utilizaram tanto mananciais superficiais
como subterrâneos, com adução por gravidade ou recalque. No caso do uso de manancial
superficial, se projetou estações de tratamento com filtros lentos. Todos os sistemas
previram reservatórios, desinfecção da água e rede de distribuição.
Esgotamento Sanitário
Os projetos dos sistemas de esgotamento sanitário previram a coleta, o afastamento dos
esgotos e o tratamento. As soluções projetadas incluíram sistema condominial de esgotos
com tratamento e disposição adequada e fossas sépticas com disposição subsuperficial
no solo. Para o tratamento dos esgotos provenientes do sistema condominial previuse uma etapa preliminar para remoção de sólidos grosseiros e areia, seguida por um
Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente (DAFA) e por uma lagoa de estabilização.
Nos locais que não foi viável a implantação da rede coletora de esgoto, propôsse a utilização de fossas sépticas uni e pluridomiciliares, com os efluentes lançados
subsuperficialmente no solo por meio de valas de infiltração.
Resíduos Sólidos
Tomando como base a geração per capita diária de resíduos sólidos de 300g/hab.dia e
o tipo de pavimento das vias, foi proposta para cada localidade a varrição manual dos
resíduos, a separação dos resíduos na origem e a coleta diferenciada por meio de carroça
com tração animal. Projetou-se aterro sanitário manual como solução para a disposição
do rejeito dos resíduos sólidos.
4.3.6 Conclusão
78
O esforço da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista no exercício da sua competência
garantida pela Constituição Brasileira de organizar, planejar e prestar os serviços de
Livro de experiências_15x21.indd 78-79
4.4 BARRA DO CHOÇA: UM PEQUENO MUNICÍPIO DEFININDO
AS ALTERNATIVAS PARA O SANEAMENTO COM PARTICIPAÇÃO
POPULAR
4.4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A situação precária do município de Barra do Choça, situado na região Sudoeste do
estado da Bahia e com população, em 1985, de 27.351 habitantes, quanto aos serviços
de saneamento vinha resultando em sérios problemas de saúde pública.
Em face dessa problemática, a Prefeitura Municipal de Barra do Choça, ciente dos trabalhos
de extensão universitária que a UFBA vinha desenvolvendo, buscou uma parceria com a
mesma no sentido de identificar soluções para a problemática de saneamento da sede
municipal e de seu principal povoado.
Assim, foi firmado convênio entre a UFBA e a Prefeitura para a elaboração do Plano de
Saneamento para a Cidade de Barra do Choça e Povoado de Barra Nova.
O Plano foi conduzido partindo-se do pressuposto de que as soluções técnicas deveriam
ser adequadas à realidade socioeconômica e cultural e às condições físicas e naturais
do local.
As soluções também deveriam ser de baixo custo de implantação, operação e
manutenção.
Experiências e recomendações
D) AS SOLUÇÕES PROPOSTAS NO PLSA
saneamento ambiental, contando com a participação das comunidades locais, mostrou
que com vontade política e criatividade é viável a elaboração de um Plano Municipal de
Saneamento Ambiental, incluindo Projetos Locais de Saneamento Ambiental, o que resultou
também no início da implementação de uma Política Municipal de Saneamento Ambiental.
A metodologia para elaboração do Plano foi simples, podendo ser adaptada à realidade
técnico-institucional de cada município.
O custo para sua elaboração não foi elevado, dependendo apenas de vontade e decisão
política do poder público municipal.
O processo de elaboração, envolvendo a mobilização e participação de técnicos do poder
público municipal e de instituições estadual e federal pode representar oportunidade
inicial para a integração intra e interinstitucional, bem como para o diálogo e engajamento
da sociedade civil local organizada.
O produto, materializado pelo relatório do Plano, pode ser de grande utilidade para o
planejamento e gestão dos serviços locais de saneamento ambiental e para servir de
norteador das ações a serem implementadas.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
e compatibilidade das soluções com as características da área, proporcionando segurança
e boa qualidade dos serviços, devendo, principalmente, ser aceita pela população usuária
(MORAES, 1997).
79
29.11.09 16:18:39
As condições de saneamento de Barra do Choça, segundo levantamento e inspeções
realizadas, eram bastante precárias, principalmente, em relação ao destino dos dejetos/
águas servidas e à coleta e destino dos resíduos sólidos.
O sistema de abastecimento de água da cidade de Barra do Choça, operado pela empresa
concessionária estadual, abastecia uma população de 6.917 habitantes, atendendo
cerca de 74% da população, com 1.351 ligações em operação. Portanto, o sistema não
proporcionava o acesso universal à água.
A cidade não possuía solução coletiva para os esgotos sanitários. Porém, grande parte da
população dispunha de soluções individuais, que nem sempre eram adequadas.
O diagnóstico realizado em 1.322 domicílios sobre o esgotamento sanitário revelou que:
•46%dosdomicíliospossuíamfossassecascomlançamentodaságuasservidasno
fundo do quintal e na rua;
•44,5%dosdomicíliospossuíamfossasabsorventes,com27%desteslançandoas
águas servidas no fundo do quintal;
•0,4%dosdomicílioslançavamseusesgotosdomésticosemfossassépticas;
•9,1%destinavamseusdejetosparaofundodoquintal,lançandoaságuasservidas
em terrenos baldios.
80
Com isso, pôde-se perceber que a situação do destino dos dejetos e águas servidas
na cidade era precária, o que, certamente, contribuía para a incidência de doenças
relacionadas com a falta de saneamento. O serviço de limpeza pública de Barra do Choça
era realizado pela própria prefeitura municipal. A coleta e varrição eram realizadas por
17 funcionários, um caminhão aberto e um trator, sendo que estes últimos também eram
usados para outros fins.
Livro de experiências_15x21.indd 80-81
Verificou-se também que o sistema de coleta da prefeitura atingia apenas 17,9% da
população, sendo que 52,3% lançavam os resíduos sólidos na rua e 29,8% em terreno
baldio e quintal. Essa situação era de fácil observação pela presença de vários pontos de
resíduos sólidos na cidade.
Em relação ao destino final, a prática utilizada era lançar o lixo a céu aberto na área
periférica da cidade ou entregar a fazendeiros para utilização como entulho.
4.4.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O Plano de Saneamento foi elaborado em três fases, entre agosto de 1985 e julho de
1986:
a) A primeira fase envolveu o conhecimento da realidade física de Barra do Choça,
principalmente suas condições sanitárias, por meio de um cadastro das soluções
existentes de abastecimento de água, do destino dos dejetos/águas servidas e do
acondicionamento e destino dos resíduos sólidos.
b) Na segunda fase foram previstas reuniões comunitárias para discussão dos aspectos
relacionados ao abastecimento de água, ao destino dos dejetos e dos resíduos
sólidos, objetivando identificar as soluções adequadas à realidade socioambiental.
Ficou a cargo do Centro Comunitário, o planejamento e organização de quando
e como seriam as discussões com a população. Foi decidido que a cidade seria
dividida em onze áreas, que foram reunidas para formar três grandes grupos de
discussão. As reuniões contaram com a participação da população das áreas, do
prefeito, secretários do município e vereadores.
Os participantes das reuniões, após discussão, definiam a solução que lhes parecia mais
viável e se comprometiam em participar – de formas diferenciadas – do processo de
implantação e acompanhamento da operação e manutenção dos sistemas. Durante
as reuniões, a equipe da UFBA, em interação dinâmica com a comunidade, também
Experiências e recomendações
4.4.2 A SITUAÇÃO DE SANEAMENTO DE BARRA DO CHOÇA
O diagnóstico da prestação desse serviço revelou que:
•52,7%dapopulaçãoacondicionavamosresíduossólidosemsacoplástico(usados
na colheita do café);
•35,4%nãoacondicionavamosresíduossólidosemrecipientealgum;
• 11,9% acondicionavam os resíduos sólidos em latas, caixas de papelão, cestas,
balde plástico e saco de papel.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A participação comunitária deveria ser promovida nas diversas fases de elaboração do Plano,
desde a definição das etapas, a seleção de tecnologias, até as indicações de caráter institucionais
para captação de recursos financeiros e futura operação e manutenção dos sistemas.
O Plano teve por objetivo propor a definição e implantação de ações adequadas de
saneamento, este entendido como abastecimento de água, destino dos dejetos humanos
e águas servidas e coleta e destino dos resíduos sólidos da sede do município de Barra
do Choça e do povoado de Barra Nova, com população, em 1985, de 9.283 habitantes
e 1.650 habitantes, respectivamente, visando reduzir os inúmeros casos de doenças
evitáveis por medidas de saneamento.
81
29.11.09 16:18:46
4.4.4 PROPOSTAS ELABORADAS
A) ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O cálculo da demanda futura de água da população da cidade de Barra do Choça deveria ser
realizado a partir dos dados da prefeitura municipal, os quais se mostraram mais confiáveis
que a projeção feita pela empresa concessionária estadual.
A prefeitura municipal e a empresa concessionária estadual deveriam promover a proteção
da bacia de contribuição da “Fonte da Biquinha”, em face da possível contaminação da água
do manancial por agrotóxicos, os quais eram aplicados nas culturas de café da região.
Em face da demanda futura de água, foi sugerida a realização de um estudo para
identificar um novo manancial para o reforço do sistema, tendo sido indicado o uso do
rio Água Fria.
Um estudo deveria definir os equipamentos elevatórios, a capacidade da adutora e projeto
de outro reservatório para atendimento da nova demanda e também da zona alta da
cidade. Em face da qualidade da água, das condições de proteção da área de captação na
barragem, do tipo de desinfecção realizada, recomendou-se a implantação de uma Estação
de Tratamento de Água (ETA), tendo sido recomendada uma unidade de tratamento com
filtros lentos, capaz de fornecer água dentro dos padrões de potabilidade.
A rede de distribuição de água deveria ser avaliada de forma que passasse a atender a
toda a população da cidade.
Para que as melhorias sugeridas pudessem ser implementadas, indicou-se que a
prefeitura municipal realizasse gestões junto à empresa concessionária estadual,
responsável pela operação do SAA de Barra do Choça, de forma que a mesma viesse a
adotar as providências necessária para a melhoria das condições de abastecimento de
água da população.
82
Livro de experiências_15x21.indd 82-83
A definição da solução para o destino dos dejetos de Barra do Choça se deu a partir de
reuniões realizadas com a população. Esse tipo de abordagem permitiu a seleção de
tecnologia apropriada à realidade socioeconômica e cultural da população e às condições
físico-naturais locais. Após a realização de algumas reuniões, a comunidade, contando
com o apoio técnico da equipe da UFBA, optou pela implantação de privadas higiênicas
com Fossas Secas Ventiladas (FSV), para os domicílios que não dispunham de instalações
de água, e casinhas com Vaso Sanitário de Descarga Reduzida (VDR) e Fossas Absorventes
(FA) para os outros domicílios.
Foram realizados três ensaios para determinação do coeficiente de absorção do solo,
em áreas diferentes da cidade e nas profundidades de 2 m, 4 m e 6 m, obtendo-se
um coeficiente na faixa de 70 a 80L/m2 dia. Foram realizados, também, ensaios de
granulometria por peneiramento e sedimentação, limite de liquidez e plasticidade. Os
resultados indicaram a viabilidade da implantação das fossas absorventes.
Sugeriu-se o desenvolvimento de ações conjuntas entre a prefeitura e o centro comunitário
local para a realização de Programas de Educação Sanitária e Ambiental.
O trabalho iniciado pela prefeitura por meio de divulgação e discussão das cartilhas
“Trabalhando com a Comunidade” e “Saneamento Básico” significou um primeiro passo.
Identificou-se a necessidade da implantação de 710 fossas secas ventiladas e 692 fossas
absorventes, das quais, 325 sem casinha.
C) LIMPEZA PÚBLICA
Uma vez que Barra do Choça é uma cidade de pequeno a médio porte e de topografia
plana, propôs-se que a coleta dos resíduos sólidos fosse realizada, diariamente, por meio
de duas carroças de tração animal, contando cada uma com dois agentes de limpeza.
Essa alternativa eliminaria, portanto, a dispendiosa coleta mecanizada realizada pela
prefeitura.
Quanto à varrição, propôs-se sua realização por dois carrinhos manuais, cada um com
dois agentes de limpeza.
A solução proposta para o destino final foi a utilização de uma área da prefeitura para
implantação de uma unidade de compostagem (608 m2), feita em leiras a céu aberto com
revolvimento manual.
Os materiais triados seriam comercializados na própria cidade ou em municípios próximos.
O composto produzido poderia ser utilizado pela prefeitura para arborização da cidade ou
comercializado com fazendeiros da região.
Experiências e recomendações
c) A terceira e última fase foi destinada à elaboração dos projetos técnicos, reunidas as
informações da primeira fase e as opiniões e definições da segunda fase.
B) DESTINO DOS DEJETOS
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
apresentava suas ideias e opiniões técnicas. Porém, a definição final das soluções
– discutidos os aspectos relacionados com viabilidade e aceitabilidade cultural –
ficava sempre a cargo dos próprios moradores.
83
29.11.09 16:18:53
Diante da situação dos serviços de saneamento do povoado de Barra Nova, a solução
proposta para o abastecimento de água foi aproveitar o manancial existente e construir
adutora, Estação de Tratamento de Água (ETA) com filtros lentos e rede de distribuição,
com aproveitamento do reservatório existente.
Quanto ao destino de excretas, a solução proposta e discutida com a população local foi
a privada higiênica com FSV.
Quanto à coleta dos resíduos sólidos foi decidido que seria realizada com carroça de
tração animal e agente de limpeza, sendo que devido à baixa quantidade de resíduos
sólidos gerados a disposição final dos mesmos seria o enterramento em local definido.
84
4.5 PINTADAS: PLANO DE SANEAMENTO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
4.5.2 PINTADAS: SITUAÇÃO DO SANEAMENTO E PROPOSTAS
4.5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A) ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Pintadas é um pequeno município do semiárido, localizado a 255 km de Salvador, capital
do estado da Bahia. Sua população é de pouco mais de 11 mil habitantes, sendo que 64%
reside na zona rural.
O baixo nível de escolaridade da sua população não impede que esta se destaque pela
sua mobilização social, solidariedade e consciência política.
Pintadas enfrenta muitos problemas com a seca. Em função disso, a emigração tem
assumido grande relevância socioeconômica, já que a economia do município está,
principalmente, vinculada à produção agrícola.
A água é um bem extremamente escasso e objeto de troca e de dominação política. O
problema de abastecimento de água para consumo humano vem sendo enfrentado pelas
organizações comunitárias de Pintadas desde 1988.
O movimento popular de Pintadas percorreu um longo caminho de lutas por direitos
fundamentais como terra, água, saúde, trabalho e educação até conseguir eleger um
prefeito comprometido com as lutas populares.
A administração eleita implantou novos métodos de governo, caracterizados por:
construção de canais de participação democrática; formação de parcerias com a rede local
Livro de experiências_15x21.indd 84-85
O município de Pintadas está localizado no polígono das secas e, consequentemente, em
uma região de escassez hídrica. As soluções para o abastecimento de água deveriam ser
compatíveis com essa realidade.
O abastecimento de água na sede municipal é realizado por um Sistema de Abastecimento
de Água (SAA) operado pela empresa concessionária estadual, cuja água é captada em
reservatório formado por uma barragem. Após tratamento, a água é encaminhada a
Pintadas.
Devido à qualidade da água do rio Jacuípe e ao represamento, a água chega à sede
do município com alto teor de salinidade, sendo recusada pela população para beber.
Análises físico-químicas da água, realizada em laboratório da UFBA, revelaram que
a concentração de sais dissolvidos na água era superior ao permitido por portaria do
Ministério da Saúde que estabelece as normas e o padrão de potabilidade da água para
consumo humano no país.
Experiências e recomendações
D) BARRA NOVA
de organizações não governamentais para descentralizar e potencializar as realizações;
concentração de investimentos e esforços nas políticas sociais, especialmente, as de
saúde, educação, habitação e saneamento. A prioridade dada às demandas da maioria da
população, certamente, contribuiu para a aprovação da administração, que foi reconduzida
pela população na eleição seguinte.
O Projeto contemplou ações de abastecimento de água, de disposição de excretas/
esgotos sanitários, de manejo dos resíduos sólidos e de educação ambiental, tendo como
um dos seus principais objetivos a participação da população e do poder público local
desde a fase do planejamento até a avaliação das ações. Para tanto, foi promovido um
processo de reflexão/reeducação dos dirigentes, servidores municipais, da população,
professores e estudantes.
Assim, a componente educação ambiental foi o carro chefe do Projeto, sendo esta atividade
entendida como um processo continuado, permeando todas as ações desenvolvidas.
Pretendeu-se com esta prática, ampliar a consciência ambiental de todos envolvidos e
contribuir para o exercício da cidadania e para a melhoria da salubridade ambiental.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A solução do destino final dos resíduos sólidos dentro do perímetro urbano reforçou o tipo
do equipamento de coleta proposto.
Em relação a recursos humanos, os funcionários existentes eram em número suficiente.
85
29.11.09 16:19:01
C) A LIMPEZA PÚBLICA E O MANEJO AMBIENTAL DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS
B) Disposição dos Excretas/Esgotamento Sanitário
86
A sede municipal não conta com sistema de esgotamento sanitário, sendo que algumas
residências têm seus esgotos ligados em tubulações implantadas ao longo dos anos pela
prefeitura municipal, e outras dispõem de fossas absorventes ou sépticas.
Projetou-se um Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) contemplando a tecnologia do
sistema condominial de esgotos.
Livro de experiências_15x21.indd 86-87
Na sede municipal, a limpeza das vias públicas era precária, embora existisse serviço de
varrição e coleta dos resíduos sólidos.
Verificou-se que o problema tinha maior relação com os hábitos da população do que
com a ineficiência do serviço, embora existissem algumas deficiências. A problemática
dos resíduos sólidos passou a incomodar boa parte da população, que se mobilizou para
resolvê-la. O passo inicial foi dado pelo Movimento de Mulheres.
Diante disso, a equipe da UFBA promoveu oficinas de trabalho para discutir a questão dos
Experiências e recomendações
Figura 13 - Cisterna domiciliar para armazenar água de Chuva implantada no meio
rural de Pintadas.
Esse sistema mostrou-se adequado já que apresenta menor custo de implantação,
operação e manutenção, exige como pressuposto básico a participação dos moradores
e a cooperação entre os condôminos. No caso de Pintadas, o trabalho de educação
sanitária e ambiental e a tradição de participação da população em trabalhos comunitários
diversos, indicavam a possibilidade de êxito na implantação dessa tecnologia. Além disso,
as residências localizam-se em lotes com área suficiente para a fácil passagem dos
ramais condominiais.
O SES projetado é composto de rede coletora de esgotos – estação de tratamento –
composta de Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente (DAFA) e wetland (leito filtrante) e
disposição final do efluente tratado no rio.
Essa solução mostrou-se adequada, já que o DAFA apresenta eficiência de remoção de
matéria orgânica em torno de 80% e o wetland contribui para melhorar a qualidade do
efluente, reduzindo o impacto do seu lançamento no rio do Peixe, além da sua simplicidade
e baixo custo de operação.
A zona rural, com residências esparsas, possuía melhor atendimento com soluções
individuais. Além disso, a escassez de água fazia com que as pessoas relutassem em
gastar água na descarga dos excretas humanos.
Assim, a Fossa Seca Ventilada (FSV) mostrou-se a solução adequada à realidade
socioambiental local. Essa alternativa, indicada pela equipe da UFBA, foi escolhida, dentre
outras discutidas, por meio de trabalho realizado pelos ACS junto às 1.637 famílias do
meio rural. Destas, 1.031 mostraram-se desejosas em dispor desse tipo de instalação
sanitária.
A introdução de melhorias no projeto dessas fossas, como o tubo de ventilação com tela
de malha fina, aliado ao trabalho educativo contínuo dos ACS quanto ao uso adequado e
à manutenção da fossa, contribuem para minimizar ou impedir os problemas decorrentes
da má operação dessa solução de destino de dejetos.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
As soluções de suprimento de água diferenciam-se para a sede municipal e para a zona
rural.
Na sede municipal, que já conta com SAA, a universalização do atendimento foi colocada
como meta.
Quanto ao relacionamento entre a empresa concessionária do serviço de água e o
poder público municipal, poder concedente do serviço, foi indicada a necessidade de
mudanças no sentido de garantir a prestação de um serviço de qualidade à população,
principalmente, quanto à regularidade no fornecimento e qualidade da água distribuída.
Na zona rural, a solução indicada, já utilizada, e que se mostrou mais condizente com a
realidade socioambiental da região, foi a adoção de cisternas individuais ou coletivas que
armazenam a água da chuva captada pelos telhados.
Essas têm se mostrado eficazes quando utilizadas para o fornecimento de água de beber
e para o preparo de alimentos. Uma cisterna de 15.000 m3 atende, em média, a uma
família por até oito meses de seca.
87
29.11.09 16:19:09
88
Uma proposta discutida e acordada foi a realização da separação domiciliar dos resíduos
sólidos, além da seleção dos resíduos gerados na feira-livre da cidade.
Livro de experiências_15x21.indd 88-89
D) FORMULAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICA PARTICIPATIVA
Partindo do pressuposto de que a participação social na formulação de políticas públicas
é uma necessidade da democracia, pois, desta forma, sociedade e governo podem
pactuar o compromisso de sua implementação; a elaboração da política de saneamento
de Pintadas orientou-se por essa perspectiva. A educação ambiental foi instrumento
importante para estabelecer as bases da formulação da política pública de saneamento e
da gestão participativa do Plano de Resíduos Sólidos do município.
Voltada para a mobilização social e preparação dos cidadãos para a gestão do ambiente
onde vivem, a educação ambiental trata a questão do saneamento e da sua componente
resíduos sólidos como parte de um projeto maior de melhoria da salubridade ambiental.
Além disso, permite um processo intenso de escuta da população e participação na
tomada de decisões.
Assim, a elaboração de plano específico para os resíduos sólidos deu-se por meio de um
processo contínuo de interação e negociação entre os setores sociais representativos da
população, e destes com a equipe da UFBA.
O trabalho constou de atividades de sensibilização, pesquisa, eventos e seminários de
socialização.
As pesquisas apontaram as representações e demandas da população e potencialidades
locais por elas percebidas. Os momentos de socialização tiveram como função a troca de
conhecimentos e a identificação das soluções para os problemas.
A Rádio Comunitária, importante meio de comunicação local, foi também utilizada durante
todo o processo, alimentando os debates e intensificando a participação (LIMA et al.,
2001).
O resultado do trabalho se expressou no desenho do Plano de Resíduos Sólidos que
pudesse, de fato, ser adotado pela população, fazendo sentido para o conjunto das suas
práticas e influenciando comportamentos e iniciativas positivas com relação ao sistema
integrado e sustentável de resíduos sólidos acordado por todos.
Experiências e recomendações
Figura 14 - Oficina de trabalho sobre manejo de resíduos sólidos realizada em
Pintadas.
A proposta acordada foi que a prefeitura municipal realizaria a coleta separadamente dos
resíduos úmidos e dos resíduos secos.
Os resíduos úmidos seriam utilizados, com apoio da escola familiar agrícola local, para
produzir um composto recondicionador de solos, a ser utilizado na própria arborização da
cidade e pelos agricultores da região.
Os resíduos secos, seriam comercializados e reciclados no mercado da região. Dessa
forma, haveria uma significativa redução da quantidade de resíduos sólidos a ser disposta
em um aterro sanitário manual projetado de pequeno porte.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
resíduos sólidos, realizou determinações de composição gravimétrica, peso específico e
taxa de geração per capita dos resíduos. Essas atividades forneceram subsídio técnico
para o planejamento das ações e para a elaboração do projeto do sistema integrado e
sustentável de resíduos sólidos.
As oficinas de trabalho foram realizadas segundo a técnica de “grupos focais” (GONDIM,
2002), envolvendo os seguintes participantes: Movimento de Mulheres; Grupo de Jovens;
moradores de uma mesma rua; grupo de professores que se interessaram pela questão;
feirantes; agentes comunitários de saúde; Sindicato de Trabalhadores Rurais; agentes de
limpeza, etc. De forma a promover uma discussão mais ampla, outra ação importante foi
trazer para o debate a população de uma forma geral, o que aconteceu via “assembleias
populares”.
Assim, foi possível envolver os diversos segmentos da população na discussão
da problemática dos resíduos sólidos, contribuindo para que houvesse uma maior
conscientização do papel de cada um e das ações coletivas que deveriam ser
implementadas. Aos poucos, pôde-se sentir o reflexo destas ações nas ruas da cidade
(Figura 13).
89
29.11.09 16:19:17
90
Livro de experiências_15x21.indd 90-91
5.1 INTRODUÇÃO
Localizado da região Sudeste, o município de Penápolis possui uma população 56.681
habitantes (IBGE, 2009). A economia local vincula-se ao cultivo da cana-de-açúcar. O PIB
per capita é de 13.398 reais (IBGE, 2008), o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH é
0,863 e a mortalidade infantil, em 2002, era de 11,32 por mil nascidos vivos, menor que
a média registrada no estado de São Paulo (COSTA e outros, 2006.).
5.2 A POLÍTICA DE SANEAMENTO DO MUNICÍPIO
O planejamento das ações da autarquia é definido pelo Conselho Deliberativo, composto
por dez membros, sendo um representante da Associação Comercial, Industrial e Rural,
três do Executivo e das secretarias municipais, um membro das entidades assistenciais,
dois representantes do O Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Penápolis –
DAEP e três da comunidade, todos eleitos no Fórum de Saneamento e Meio Ambiente de
Penápolis (COSTA e outros, 2006).
Hoje o DAEP, autarquia municipal, é responsável pela prestação dos serviços de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo dos resíduos sólidos, e tem
começado a atuar no campo da drenagem das águas pluviais.
Além de financiamentos do Governo do Estado de São Paulo, já em 1988, e mais
recentemente via Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – Fehidro,
a autarquia municipal vem cada vez mais realizando investimentos com recursos
próprios. Os projetos são realizados pelos próprios técnicos da autarquia, não havendo
terceirização de serviços (NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008).
O abastecimento público de água de Penápolis atende a 100% da população urbana e
99,3% da total. O esgotamento sanitário atinge a 100% da população urbana e 98,5%
da total. A coleta dos resíduos sólidos atende a 99,3% da população. O município conta
com um aterro sanitário com vida útil prevista para 2024. Em 2000, o DAEP implantou a
coleta seletiva em 100% da área urbana, tendo parceria com uma cooperativa formada
a partir do projeto socioambiental com ex-catadores de lixo do aterro sanitário. Além da
operação “bota-fora” para o controle de ratos e baratas, desde 1990 existe um programa
de limpeza de caixa d’água que hoje atinge 100% da área urbana.
No campo da preservação ambiental o município vem desenvolvendo ações de manejo
do solo e recomposição da mata ciliar na bacia de Ribeirão Lajeado em parceria com o
Experiências e recomendações
O envolvimento da população local no Projeto, desde a fase de definição das soluções,
se constitui em uma importante prática na implantação das ações de saneamento, pois
assegura maior satisfação dos cidadãos, usuários finais dos serviços, amplia o nível
de informação e consciência, e contribui para o resgate dos valores éticos, estéticos,
democráticos e humanistas.
Assim, com a participação e mobilização social, a comunidade contribuiu, efetivamente,
para a formulação de anteprojeto de lei propondo uma política pública de saneamento:
para a definição das soluções de abastecimento de água e de disposição de excretas
para as localidades e população dispersa no meio rural; para a elaboração do projeto do
Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) e do Plano de Gestão Integrada e Sustentável
de Resíduos Sólidos (PGISRS) da sede do município, cabendo ao poder público as
providências necessárias visando à transformação do anteprojeto em projeto de lei e
seu encaminhamento à Câmara de Vereadores para apreciação e aprovação, bem como
a implantação do SES e a implementação do PGISRS, com o acompanhamento da
comunidade local.
5. PENÁPOLIS: PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
4.5.3 CONCLUSÃO
91
29.11.09 16:19:24
5.3.1 ANTECEDENTES
92
A necessidade de manter as conquistas no campo do saneamento ambiental do
município e planejar as ações para os próximos 20 anos, motivou o executivo municipal
a promover a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Penápolis
– PMSA – Penápolis (NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008). Por outro lado, a necessidade do
Plano foi reconhecida pela população local na realização do VII Fórum de Saneamento de
Penápolis, em 2006, que deliberou pela sua elaboração.
Nessa perspectiva, em 2005, foi constituído, via decreto municipal, o Grupo Executivo,
visando à elaboração do PMSA-Penápolis. Para dar suporte técnico a esse processo, o
município de Penápolis, por meio da Lei nº 1.350/2005, celebrou acordo de cooperação
técnica com a União, por meio do Ministério das Cidades. Além disso, o município contou
com o apoio da Fundação Nacional de Saúde – Funasa e da Universidade de Brasília – UnB.
A área de abrangência do PMSA-Penápolis envolveu todo o território do município, área
Livro de experiências_15x21.indd 92-93
5.3.2 MEDODOLOGIA
A) CRIAÇÃO DO GRUPO EXECUTIVO
Pelo Decreto Municipal nº 2.327/2005, foi criado o Grupo Executivo com a seguinte
composição:
•TrêsrepresentantesdoDAEP.
•UmrepresentantedaFunasa.
•SecretárioMunicipaldeObraseServiços.
•SecretárioMunicipaldeSaúde.
•SecretárioMunicipaldeEducação.
• Coordenador do Núcleo de Planejamento e Gestão Estratégica da Secretaria de
Governo.
•SecretariaMunicipaldeAgriculturaeMeioAmbiente.
O Grupo Executivo teve as seguintes atribuições:
•Elaborarocalendáriodeatividadesparapropiciaraparticipaçãodacomunidadena
construção do PMSA-Penápolis.
•Elaborarodiagnósticodasituaçãodosaneamentoambientaledeseusserviçosno
município.
• Avaliar estudos, projetos e planos existentes dos diferentes componentes do
saneamento ambiental, bem como de outros que tenha relação com esses
componentes.
B) PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Visando garantir um processo de planejamento com a participação ativa da população
foram realizadas diversas ações, a saber (NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008):
•Realizaçãodeatividadesdecapacitaçãojuntoàsociedadecivilorganizada,comos
109 membros do Conselho das Cidades e com os segmentos técnicos tais como:
Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo – CREA, Sincomércio, Conselho de
Desenvolvimento Urbano, empreendedores, setor imobiliário, entre outros.
Experiências e recomendações
5.3 O PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL DE
PENÁPOLIS
urbana e rural. O objetivo definido para o Plano foi a promoção e melhoria das condições
de vida do meio urbano e rural, como um direito do cidadão para o seu completo bemestar, físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, conforme
definição de saúde da Organização Mundial de Saúde – OMS (NOGUEIRA e BACHIEGA,
2008).
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Consórcio Intermunicipal de Ribeirão Lajado (NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008).
O êxito das ações municipais no campo do saneamento básico tem fortes vínculos com a
continuidade administrativa vivenciada pelo DAEP.
Desde 1993, o DAEP possui na sua estrutura organizacional o Centro de Educação
Ambiental – CEA, que vem realizando diversas ações com objetivo da preservação,
conservação e recuperação dos recursos naturais, o que envolve o desenvolvimento
de atividades para despertar a consciência da população para os graves problemas
relacionados à degradação do meio ambiente e má utilização dos recursos naturais
(SANTOS e NOGUEIRA, 2008).
A participação e o controle social nas ações de saneamento no município de Penápolis é
realidade desde 1994. Os sete Fóruns de Saneamento e Meio Ambiente têm se constituído
no espaço democrático de discussão das questões de saneamento do município. A
administração municipal, por meio do DAEP, tem realizado os fóruns no entendimento da
sua importância para promover a participação da comunidade na formulação da política
pública de saneamento do município (NOGUEIRA, 2007). Assim, desde 1994, o fórum tem
sido responsável pela a definição das metas de atuação na área de saneamento durante
o biênio e a eleição de três pessoas da comunidade para compor o Conselho Deliberativo
do DAEP também durante o biênio (SANTOS e NOGUEIRA, 2008).
93
29.11.09 16:19:32
•Atividadesdecapacitaçãocomosseguimentosorganizados,asociedadeemgerale
os governantes. O conteúdo abordado nessa capacitação envolvia: esclarecimentos
sobre o que seria um plano municipal de saneamento ambiental, sobre políticas
públicas, políticas de saneamento, saneamento ambiental, salubridade ambiental,
gestão dos serviços de saneamento e, ainda, discussões sobre a realidade de
saneamento do município (Figura 14).
Figura 15 – Atividade de capacitação para o Plano Municipal de Saneamento
Ambiental.
• Realização de palestras para todos os segmentos da sociedade local, onde foi
apresentada a proposta do Guia de Elaboração de Planos Municipais de Saneamento,
do Ministério das Cidades, pelo prof. Ricardo Bernardes – UnB, e, ainda a experiência
do município de Alagoinhas na elaboração de seu Plano Municipal de Saneamento
Ambiental, pela engenheira sanitarista e diretora do Serviço Autônomo e Água e
Esgoto de Alagoinhas.
• Realizaçãodeplanejamentoestratégico,comduraçãode11dias,comaparticipação
de um grupo de voluntários já capacitados. Em reuniões noturnas o grupo levantava
os pontos fortes, fracos, riscos, oportunidades e discutia o diagnóstico. Essas
discussões contribuíram para ampliar a visão dos participantes quanto à necessidade
da promoção da participação na formulação de políticas públicas.
• RealizaçãodoCursodePolíticasPúblicasjuntoaogrupodevoluntários(Figura15).
94
a) Regularizar o recebimento de efluente industrial no sistema de tratamento de esgotos.
b) Ampliar a reservação, pois a existente era para um dia.
c) Estudar as alternativas para outras fontes de captação de água para os próximos 20 anos.
d) Ampliar a unidade de destino final dos resíduos sólidos.
e) Realizar o tratamento e disposição final dos resíduos sólidos da construção civil.
f) Realizar a destinação final das embalagens agrotóxicas, pneus.
g) Agilizar os serviços de manejo de solo e recomposição da mata ciliar para a
preservação da bacia do Ribeirão Lajeado.
h) Promover programa integrado de controle de endemias.
Livro de experiências_15x21.indd 94-95
• Realização de discussões com o grupo de voluntários sobre o saneamento no
município, começando com o Plano Diretor elaborado em 1984, que não tratava
desta temática (Figura 16).
Experiências e recomendações
Durante essas atividades foram indicadas as principais necessidades do município, a
saber:
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Figura 16 – Trabalho de grupo do Curso de Políticas Públicas.
95
29.11.09 16:19:42
Figura 18. Discussão do diagnóstico da situação de saneamento com a população.
No 7º Fórum Municipal de Saneamento e Meio Ambiente foi discutido o diagnóstico sobre
a situação do saneamento ambiental do município, além das metas e ações a serem
desenvolvidas nas seguintes áreas:
•Água–captação,tratamento,reservaçãoedistribuição:metasdeexpansãoeações
e legislação.
•EsgotoDoméstico–coleta,tratamento:metasdeexpansãoeaçõeselegislação.
•EfluentesIndustriais–produção,coleta,tratamento:metasdeaçõeselegislação.
•ResíduosSólidos(lixoelimpeza)–coletaetratamento:metasdeexpansãoeações
e legislação.
• Drenagem Urbana – macro e microdrenagem de águas pluviais: diretrizes gerais,
ações e legislação.
•MeioAmbiente–manejodesolo/recursosnaturais/educaçãoambiental:diretrizes
gerais, ações e legislação.
•Financiamento–tarifas,taxasefundomunicipal:diretrizeselegislação.
• Planejamento, gestão e controle social do sistema – Prefeitura/DAEP/Consórcio/
Fóruns/Conferências: Diretrizes (NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008).
Ao final do 7º Fórum foram aprovadas 106 propostas, incluídas posteriormente no PMSAPenápolis.
D) CONSOLIDAÇÃO DO PMSA-PENÁPOLIS
96
Livro de experiências_15x21.indd 96-97
Após a realização das atividades de participação social, da elaboração do diagnóstico, das
discussões no âmbito do grupo de voluntários e da realização do 7º Fórum de Saneamento
e Meio Ambiente, procederam-se as atividades para a consolidação do Plano, a saber:
•1ªAção–ConsolidaçãodaspropostasdosseteFórunsnostemasrelacionadosao
abastecimento de água, ao esgotamento sanitário, aos resíduos sólidos, à drenagem
das águas pluviais, ao meio ambiente, ao financiamento das ações, à gestão e ao
controle social e, ainda, as propostas existentes no Plano Diretor Municipal.
• 2ª Ação – Elaboração de Relatório do Diagnóstico do Saneamento Ambiental do
município (em texto, imagens e gráficos), segundo a visão técnica das diferentes
componentes do saneamento, com aprofundamento na drenagem urbana e
nos efluentes industriais. Nesse momento também foi realizada uma Oficina
de Planejamento com o grupo do Conselho da Cidade que estava envolvido em
atividades do Plano.
Experiências e recomendações
• Realização de discussões sobre o diagnóstico da situação de saneamento no
município nos oito bairros da sede municipal, conforme divisão do Orçamento
Participativo – OP, com identificação de propostas (Figura 17).
C) REALIZAÇÃO DO 7º FÓRUM MUNICIPAL DE SANEAMENTO E
MEIO AMBIENTE
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Figura 17 – Reunião do Grupo de Voluntários.
97
29.11.09 16:19:52
6.1 INTRODUÇÃO
O município de Belo Horizonte, situado na Região Sudeste, possui 2.412.937 habitantes
com PIB per capita de R$ 13.636 (IBGE, 2009), um dos maiores do Brasil.
A economia local é baseada nos setores industriais e de serviços. O município abriga a
capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, primeira cidade planejada do Brasil e
símbolo da modernidade e racionalidade do traçado urbano do movimento moderno.
Em mais de um século de história, Belo Horizonte é uma das principais metrópoles do
país.
Nos anos 1970 o município experimentou um crescimento urbano intenso e desordenado,
principalmente da população urbana situada nas proximidades da cidade de Belo
Horizonte.
Nos anos 1980, as demandas sociais crescem e os movimentos sociais urbanos
organizam-se para reivindicarem direitos como a melhoria da infraestrutura urbana,
da moradia, do transporte público, do atendimento médico e do acesso à educação de
qualidade.
Nos anos 1990, o município passa a vivenciar experiências inovadoras de gestão pública
com a implementação de programas e projetos voltados para melhorias urbanas e sociais,
onde a participação popular era garantida, tendo como grande exemplo o Orçamento
Participativo (IBGE, 2009).
6.2 A POLÍTICA DE SANEAMENTO DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE
98
Livro de experiências_15x21.indd 98-99
No âmbito da estruturação de políticas públicas, em 1993, a administração municipal de
Belo Horizonte começou a estruturar sua atuação no campo do saneamento ambiental.
Inicialmente, a administração investiu na formação de quadros, na sua capacitação e na
abertura do debate democrático de ideias. Mas, o maior legado desse período fértil foi a
instituição da Política Municipal de Saneamento, estabelecida na Lei nº 8.260/2001, que
tem por finalidade “assegurar a proteção da saúde da população e a salubridade do meio
ambiente urbano, além de disciplinar o planejamento e a execução das ações, obras e
dos serviços de saneamento do Município” (BELO HORIZONTE, 2001, p. 1).
Outra importante frente de atuação foi a mudança da relação do município com a
Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa, por meio de convênio firmado em
2002, entre o Município, o Governo do Estado de Minas Gerais, a Superintendência de
Experiências e recomendações
Em março de 2008 a administração municipal convocou o 8º Fórum de Saneamento
e Meio Ambiente onde o Plano de Saneamento Ambiental de Penápolis foi validado.
Assim, o Projeto de Lei do Plano poderá ser encaminhado para aprovação pelo legislativo
municipal
6. BELO HORIZONTE: PLANO MUNICIPAL DE
SANEAMENTO
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
•3ªAção–Análisedomarcolegalexistentesobreotema.
•4ªAção–AnáliseconjuntadaspropostasdosFóruns,doDiagnósticoedomarco
legal e formulação de diretrizes gerais para o saneamento ambiental do município.
•5ªAção–ElaboraçãodeminutadeprojetodeleidoPMSA-Penápolis.
•6ªAção–Realizaçãodeaudiênciapúblicaparadiscutirdaminutadoprojetodelei
(NOGUEIRA e BACHIEGA, 2008).
99
29.11.09 16:20:00
100
Livro de experiências_15x21.indd 100-101
Em 2004, a prefeitura municipal, atendendo ao estabelecido na Lei nº 8.260/2001,
elaborou o primeiro Plano Municipal de Saneamento de Belo Horizonte (20042007), cujos objetivos, metodologias e principais propostas serão abordados no item
seguinte.
Quando da elaboração do Plano Municipal de Saneamento, embora Belo Horizonte
contasse com indicadores superiores aos da média brasileira, ainda existiam, e existem,
desafios que deveriam ser enfrentados para a universalização do saneamento básico de
qualidade no município. Naquele momento, cerca de 10 mil pessoas ainda não recebiam
água tratada; mais de 300 mil não tinham seus esgotos coletados; mais de 100 mil não
eram atendidas por coleta de lixo e 45 mil pessoas viviam em áreas sujeitas a riscos de
deslizamentos de terra ou de inundação (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE,
2004).
Os maiores déficits encontravam-se nas áreas com populações de renda mais baixa,
moradoras dos loteamentos clandestinos e das vilas e favelas. Segundo a administração
municipal
[...] a alteração dessa realidade perversa depende de um planejamento único, que
incorpore o conceito de gestão por bacias hidrográficas, que promova intervenções
simultâneas e complementares, que só se viabilizará com a disponibilização integral
de recursos, cujo poder de priorização está nas mãos do poder local, assegurados
a participação e o controle popular efetivos (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO
HORIZONTE, 2004, p. 6).
6.3.1 OBJETIVOS DO PLANO
Articular, integrar e coordenar recursos tecnológicos, humanos, econômicos e financeiros,
com vistas ao alcance de níveis crescentes de salubridade ambiental (PREFEITURA
MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004, p. 3).
6.3.2 METODOLOGIA
A metodologia buscou diagnosticar o quadro do saneamento ambiental de Belo Horizonte
e propor ações a serem implementadas para a solução gradual e global das carências
dos serviços (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004).
Experiências e recomendações
6.3 O PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO DE BELO HORIZONTE
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Desenvolvimento da Capital – Sudecap e a essa Companhia, onde se buscou um arranjo
de gestão compartilhada dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário
(PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004).
Na Política Municipal de Saneamento de Belo Horizonte, cabe à administração municipal
a responsabilidade de implementar um modelo de gestão público e integrado que garanta
a prestação de serviços de qualidade, a democratização e a transparência dos processos
decisórios, por meio do controle social e da participação popular, e, ainda, a “subordinação
das ações de saneamento ao interesse público”.
Por outro lado, o poder público local tem a compreensão de que a universalização dos
serviços está condicionada ao planejamento das ações e a viabilização de recursos para
a solução integrada e integral das carências em urbanização e saneamento ambiental
(PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004).
A Lei nº 8.260/2001 institui como um dos instrumentos do Sistema Municipal de
Saneamento, o Plano Municipal de Saneamento – PMS, que segundo o art. 20 é destinado a
articular, integrar e coordenar recursos tecnológicos, humanos, econômicos e financeiros,
com vistas ao alcance de níveis crescentes de salubridade ambiental. O Plano, quadrienal
e a ser atualizado a cada dois anos, deve conter, dentre outros, os seguintes elementos:
• AvaliaçãoecaracterizaçãodasituaçãodasalubridadeambientaldoMunicípiopor
meio de indicadores sanitários, epidemiológicos e ambientais.
• Objetivos e diretrizes gerais definidos mediante planejamento integrado que
considere outros planos setoriais e regionais.
• Estabelecimentodemetasdecurtoemédioprazos.
• Identificação dos obstáculos de natureza político-institucional, legal, econômicofinanceira, administrativa e tecnológica que se interponham à consecução dos
objetivos e das metas propostos.
• Formulação de estratégias e diretrizes para a superação dos obstáculos
identificados;
• Caracterização e quantificação dos recursos humanos, materiais, tecnológicos,
institucionais e administrativos necessários à execução das ações propostas.
• Cronogramadeexecuçãodasaçõesformuladas.
• Definiçãodosrecursosfinanceirosnecessários,desuaorigemedocronogramade
aplicação.
• Programa de investimentos em obras e outras medidas relativas à utilização,
recuperação, conservação e proteção dos sistemas de saneamento, em consonância
com o Plano Plurianual de Ação Governamental (BELO HORIZONTE, 2001).
A) FORMAÇÃO DE GRUPO DE TRABALHO
Cientes da necessidade de unir esforços e compor uma equipe que contemplasse os
diversos segmentos da administração municipal relacionados com o saneamento e,
101
29.11.09 16:20:07
É importante observar que o Plano foi elaborado pelos próprios técnicos da prefeitura,
fruto de um processo anterior de fortalecimento da atuação do poder local, com formação
e capacitação de pessoal.
B) UNIDADES DE ANÁLISE
O Plano foi elaborado a partir de três unidades territoriais de análise:
• Baciaselementares,conformeestabelecidasnoPlanoDiretordeDrenagemdeBelo
Horizonte.
• Áreas de planejamento, resultantes da compatibilização dos limites das regiões
administrativas com o limite mais próximo de um divisor de águas ou um talvegue.
• TerritórioMunicipal(áreaurbanaerural).
102
Cabe observar que a Política Municipal de Saneamento estabelece a “bacia ou sub-bacia
hidrográfica como unidade de planejamento das ações e dos serviços de saneamento”
(inciso XIII, art. 5º, BELO HORIZONTE, 2001, p. 3).
Livro de experiências_15x21.indd 102-103
Diagnóstico
Para subsidiar o conhecimento da situação dos serviços de saneamento no município
foram elaborados diagnósticos setoriais sobre o abastecimento de água, o esgotamento
sanitário, a drenagem urbana, os resíduos sólidos e o controle de vetores.
Os diagnósticos foram produzidos com base nos dados e informações disponíveis nos
diversos órgãos da administração municipal.
Análise documental
Visando conhecer e analisar a atuação do município em saneamento foi realizada uma
análise documental dos planos e programas do Executivo Municipal relacionados ao
saneamento, tendo sido produzida uma síntese.
D) CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO DE INVESTIMENTOS
A priorização de investimentos, segundo bacias elementares, atendeu a três critérios:
•OÍndicedeSalubridadeAmbiental–ISA,quequantificaacoberturaporserviçosde
saneamento nas diversas unidades territoriais.
• A densidade populacional em cada bacia elementar, objetivando obter-se maior
abrangência do benefício em termos populacionais.
•A existência de programas de saneamento previstos e/ou em implementação por
bacia elementar, inclusive com a identificação da disponibilidade de recursos para
esses investimentos (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004, p. 5).
O ISA foi construído a partir do somatório ponderado de índices setoriais referentes
a cinco componentes do saneamento, a saber: abastecimento de água, esgotamento
sanitário, resíduos sólidos, drenagem urbana e controle de vetores.
Para cada índice setorial foi atribuído um peso em função do nível de carência de
atendimento ou da fragilidade dos indicadores utilizados para o cálculo. Os indicadores e
índices setoriais e o próprio ISA variam de zero a um, sendo que, quanto mais próximo da
unidade, melhor é a realidade do atendimento por determinada ação ou serviço.
O ISA foi calculado a partir da seguinte expressão:
ISA = [Iab] x 0,05 + [Ies] x 0,45 + [Irs] x 0,35 + [Idr] x 0,05 + [Icv] x 0,10
Onde:
Iab – Índice de abastecimento de água
Ies – Índice de esgotamento sanitário
Experiências e recomendações
O grupo foi composto por técnicos das seguintes secretarias e órgãos municipais:
• Superintendência de Desenvolvimento da Capital – Sudecap (representantes do
Grupo Gerencial de Saneamento – GGSAN e do Grupo Gerencial do Plano Diretor de
Drenagem – GGPD).
•SecretariaMunicipaldeEstruturaUrbana–SMEU.
•SecretariaMunicipaldeHabitação–SMHAB.
•SecretariaMunicipaldeLimpezaUrbana–SMLU.
•SecretariaMunicipaldeMeioAmbienteeSaneamentoUrbano–SMMAS.
•SecretariaMunicipaldePlanejamento–SMPL.
•SecretariaMunicipaldeRegulaçãoUrbana–SMRU.
•SecretariaMunicipaldeSaúde–SMSA.
•CompanhiaUrbanizadoradeBeloHorizonteS/A–Urbel.
•SuperintendênciadeLimpezaUrbana–SLU.
C) PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DO PLANO
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
cientes da necessidade de elaborar um Plano com uma visão integrada da problemática
socioambiental, a administração municipal instituiu um grupo de trabalho composto por
representantes dos órgãos da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte afetos ao saneamento,
sob coordenação do Grupo Gerencial de Saneamento da Sudecap – GGSAN.
103
29.11.09 16:20:14
Irs – Índice de resíduos sólidos
Idr – Índice de drenagem urbana
Icv – Índice de controle de vetores
a) Índice de abastecimento de água (Iab)
Pcl: população atendida com coleta, porta a porta, de resíduos sólidos na área
considerada.
Pt: população total da área considerada.
d) Índice de drenagem urbana (Idr)
Em função da carência dos serviços de esgotamento sanitário esse índice recebeu o peso
0,45, sendo calculado por dois indicadores:
Ies = 0,65 Ice + 0,35Iie, onde:
•Indicadordeatendimentoporcoletadeesgoto(Ice)
Ice = Pa/Pt
Pa: população atendida com coleta de esgoto da área considerada
Pt: população total da área considerada
•Indicadordeatendimentoporinterceptaçãodeesgotos(Iie)
Iie = Lie/Lti
Lie: extensão dos interceptores existentes na área considerada Lti:
extensão total de interceptores necessários (existentes + projetados) na área
considerada
O maior peso atribuído ao indicador de coleta pela maior urgência na implantação das
redes coletoras, com o consequente saneamento peridomiciliar.
ev: número de eventos de inundação na bacia.
Ev: número total de eventos de inundação na cidade.
O peso de 0,05 do Idr foi estabelecido pela precariedade das informações.
e) Índice de controle de vetores (Icv) – (Dados de 2005)
O Icv foi calculado a partir do Indicador de Dengue (Idg), obtido por meio da seguinte
expressão:
No casos de dengue/Mil.Hab.Mun. = (No. de casos X 1.000)/(população do município).
Para cada área de planejamento e bacia elementar tem-se:
No casos de dengue/Mil.Hab.Área.Consid.= (No de casos na área consid.) X 1.000/
(população total da área considerada)
Com isso, calculou-se o percentual do afastamento do número de casos de cada área e
bacia em relação à média do município:
Afast. (%) = ((NoCasos p/Mil.Hab.Área.Consid./NoCasos/MilHab.Mun.) – 1) X 100
Para a Área/Bacia com o maior afastamento foi atribuída nota 0 (zero) para o Idg; para o
menor afastamento foi atribuída nota 1 (um), sendo as demais notas variando entre 0 e 1
e atribuídas proporcionalmente aos afastamentos calculados.
Experiências e recomendações
b) Índice de esgotamento sanitário (Ies)
Calculado pela expressão:
Iev = 1 - (ev/Ev)
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Para esse índice adotou-se o valor de 1, por se considerar que o abastecimento de água
em quantidade e qualidade é quase universal no município de Belo Horizonte. O peso
0,05 foi adotado pelo mesmo motivo.
c) Índice de resíduos sólidos (Irs)
104
Calculado pela expressão:
Irs = Pcl/Pt
Livro de experiências_15x21.indd 104-105
105
29.11.09 16:20:21
Foram adotadas faixas de variação para o ISA conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Variação do ISA
Faixa do ISA
0,41 a 0,50
0,51 a 0,60
0,61 a 0,70
0,71 a 0,80
0,81 a 0,90
0,91 a 1,00
Nota
40
36
32
28
22
16
Sendo:
NOTISA: Nota do ISA
NOTPGE: Nota para existência de PGE elaborado ou em elaboração
NOTDREPAM: Nota para ocorrência de áreas prioritárias de intervenções de Drenurbs ou
do Propam
NOTOP: Nota para ocorrência de empreendimentos aprovados e ainda não executados
do OP
NOTDENS: Nota para densidade demográfica
NOTRA: Nota para a ocorrência de empreendimento com recurso assegurado
NOTRN: Nota para a ocorrência de empreendimento com recurso em negociação
Tabela 3 – Notas do critério de priorização “existência de programas de
saneamento”.
Critério
Planos Globais Específicos – PGE
Drenurbs/Propam
OP Regional (Infraestrutura)
Empreendimento com recurso definido em
dotação orçamentária
Empreendimento com recurso em negociação
Nota
20
08
08
04
02
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, 2004.
Para a priorização final foi realizada a soma de todas as notas obtidas em cada critério de
priorização, que pode assumir o valor máximo de 100.
PRIORIDADE = (NOTISA) + (NOTPGE) + (NOTDREPAM) + (NOTOP) + (NOTDENS) +
[(NOTRA) ou (NOTRN)
106
Livro de experiências_15x21.indd 106-107
Na atualização do Plano, realizada em 2006, além de se estabelecer uma análise
comparativa entre as 98 bacias elementares que compõem o município de Belo Horizonte,
foi calculado o ISA para cada uma das 256 sub-bacias. Para a definição de prioridades
de investimentos, o ISA de cada bacia elementar recebeu um peso de 50%, sendo que o
menor ISA, entre todas as bacias, recebeu nota 5; o maior a nota 50 e os intermediários
receberam notas proporcionais. Quanto maior o ISA, menor a carência dos serviços de
saneamento (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2006).
Nessa atualização do Plano, o critério de priorização de investimentos foi alterado. Foram
mantidos os critérios do ISA, da densidade populacional, porém o Grupo de Trabalho
responsável pela atualização do Plano avaliou que seria necessário considerar em cada
bacia elementar e sub-bacia o contingente populacional exposto ao risco determinado
pela falta de salubridade ambiental. Assim, foi incorporado o percentual da população da
bacia residente em vila e favela (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2006).
Para a definição de prioridades de investimentos foi dado um peso de 25% à densidade
da bacia assumindo-se a nota 25 para a bacia com maior densidade demográfica e
notas proporcionais para as demais. Mesmo procedimento foi adotado para o critério de
priorização “proporção da população da bacia residente em vila e favela”.
Os critérios de priorização de áreas que deveriam ser contemplados no Plano Municipal
de Saneamento – PMS foram, portanto, os seguintes:
•MenornotadoISA.
•Maiordensidadedemográfica.
•Maiorpercentualdepopulaçãoresidenteemvilaefavela.
A nota final correspondeu à soma de todas as notas, podendo assumir o valor máximo de 100.
Experiências e recomendações
Para o critério de priorização densidade populacional foi adotada a nota 20 para a bacia
elementar com maior densidade, e as notas das demais foram definidas a partir de uma
proporcionalidade simples.
Para o terceiro critério de priorização existência de programas de saneamento foram
adotados pesos de acordo o tipo de programa e a existência ou possibilidade de obtenção
de recursos. As notas correspondentes a cada plano e programa estão explicitadas na
Tabela 3.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, 2004.
107
29.11.09 16:20:28
Nessa atualização do Plano, após o processamento e a sistematização dos dados das
bacias elementares foram definidas sete faixas de priorização para a aplicação de
recursos financeiros do Fundo Municipal de Saneamento, a saber:
1ª Faixa: Nota de Prioridade superior a 70
2ª Faixa: Nota de Prioridade entre 70 e 60
3ª Faixa: Nota de Prioridade entre 60 e 50
4ª Faixa: Nota de Prioridade entre 50 e 40
5ª Faixa: Nota de Prioridade entre 40 e 30
6ª Faixa: Nota de Prioridade entre 30 e 20
7ª Faixa: Nota de Prioridade inferior a 20
6.4 PROPOSTAS DO PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO DE
BELO HORIZONTE – 2004-2007
108
Após o processamento e a sistematização dos dados foi possível definir as dez bacias
elementares mais prioritárias para a aplicação de recursos financeiros do Fundo Municipal
de Saneamento, a saber:
1. Córrego Cardoso (Av. Mem de Sá).
2. Córrego Freitas (Av. Santa Terezinha).
3. Ribeirão Arrudas (Av. dos Andradas).
4. Córrego Olaria (Taquaril).
5. Córrego Piteiras (Av. Silva Lobo).
6. Córrego Lagoinha (Av. Antônio Carlos).
7. Córrego Engenho Nogueira.
8. Córrego Ressaca.
9. Córrego Bonsucesso.
10. Córrego Fazenda Velha (Jardim Felicidade).
Definidas as bacias elementares prioritárias foram identificadas as intervenções que
deveriam ser implementadas para alterar o quadro sanitário e o montante de recursos
Livro de experiências_15x21.indd 108-109
Bacia
elementar
Ações
Valor em
1000,00 (R$)
Córrego
Cardoso
Plano Global Específico em vilas do
Aglomerado da Serra, Cônego Pinheiro A,
Cônego Pinheiro C e Conjunto João Pio de
Souza (Urbel).
Extensão de rede de drenagem e esgoto,
sistema viário e pavimentação, remoção de
famílias, reassentamento, desapropriação
(Drenurbs).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Rede coletora e interceptor de esgoto (Sanear
– BH).
137.330,00
Córrego
Freitas (Santa
Terezinha)
Implantação de via de tráfego local;
Implantação de parque linear ao longo
da margem direita do córrego Freitas e
recuperação da nascente; redes coletoras
e interceptores de esgotos; Adequação/
complementação do sistema viário local
(Sudecap).
Plano Global Específico para a Vila Alto Vera
Cruz (Urbel).
10.500,00
Ribeirão
Arrudas (Av.
Andradas –
Vera Cruz)
Plano Global Específico (PGE) para a Vila Alto
Vera Cruz e Vila Caetano Furquim (Urbel).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
8.300,00
Experiências e recomendações
Sendo:
NOTISA – Nota do ISA
NOTDENS – Nota para densidade demográfica
NOTPOPVILAS – Nota para o percentual da população residente em vila e favela
necessários para tais implementações (Tabela 4).
Tabela 4 – Ações e investimentos previstos no Plano Municipal de Belo Horizonte
(2004-2007).
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
PRIORIDADE = (NOTISA) +(NOTDENS) + (NOTPOPVILAS)
109
29.11.09 16:20:35
Tabela 4 - Continuação
Valor em
1000,00 (R$)
Córrego
Olaria
(Taquaril)
Plano Diretor do Conjunto Taquaril e
complementar os sistemas de esgotamento
sanitário da Vila Flamengo e do Conjunto
Granja de Freitas (Urbel).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Córrego
Piteiras
Extensão de rede de drenagem e esgoto,
sistema viário e pavimentação, remoção de
famílias, reassentamento, desapropriação
(Drenurbs).
Plano Global Específico (PGE) para o
Aglomerado Morro das Pedras, BH de Melo,
Ventosa e Conj. Sta. Maria (Urbel).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Rede coletora e interceptor de esgoto.
103.950,00
Córrego
Lagoinha
Plano Global Específico (PGE) para a Pedreira
Prado Lopes (Urbel).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Rede coletora e interceptor de esgoto.
19.230,00
Córrego
Engenho
Nogueira
Plano Global Específico (PGE) para o
Aglomerado Jardim, Montanhês, São
Francisco, Inestan Humaitá, Santa Rosa, Vila
Real, Sumaré (Urbel).
Extensão de rede de drenagem e esgoto,
sistema viário e pavimentação, remoção de
famílias, reassentamento, desapropriação
(Drenurbs).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Rede coletora e interceptor de esgoto.
Bacia
elementar
Ações
Valor em
1000,00 (R$)
Córrego da
Ressaca
Plano Global Específico (PGE) do Aglomerado
Jardim Montanhês, Vila Califórnia, Vila
Coqueiral, Vila Novo Ouro Preto, Conj. Jardim
Filadélfia, Vila 31 de Março, Vila Paquetá, Vila
Santo Antônio (Urbel).
Obras de infraestrutura urbana e remoção
e reassentamento de toda a Vila São José
(Viurbs).
Implantação de infraestrutura de saneamento
no âmbito do Programa de Recuperação
e Desenvolvimento da Bacia da Pampulha
(Propam).
Obras de infraestrutura urbana e
reassentamento (Drenurbs).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Rede coletora e interceptor de esgoto (Sanear
– BH)
155.400,00
Córrego
Bonsucesso
Plano Global Específico (PGE) para a Vila
Cemig, Vila Alta Tensão, Vila Nova Paraíso, Vila
São João, Vila Olhos d’Água/ Buracão (Urbel).
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Extensão de rede de drenagem e esgoto,
sistema viário e pavimentação, remoção de
famílias, reassentamento, desapropriação
(Drenurbs).
Rede coletora e interceptor de esgoto (Sanear
– BH).
127.000,00
Córrego
Fazenda
Velha
Plano Global Específico (PGE) para o Conjunto
Jardim Felicidade e Conjunto Floramar.
Infraestrutura e saneamento (Orçamento
Participativo).
Sistema de Esgotamento Sanitário e
Drenagem, recuperação de taludes e
pavimentação e desapropriação.
38.830,00
64.620,00
53.300,00
110
Total
718.460,00
Experiências e recomendações
Ações
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Bacia
elementar
Tabela 4 - Continuação
111
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, 2004.
Livro de experiências_15x21.indd 110-111
29.11.09 16:20:42
7. POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
Uma política municipal de saneamento ambiental deve ser formulada considerando o
conceito adotado de saneamento ambiental6 ; seus princípios e diretrizes; suas interfaces
com as políticas de saúde, meio ambiente, recursos hídricos e desenvolvimento urbano
e rural, entre outras; seu arranjo institucional, as formas de alocação de recursos e de
participação e controle social.
Em termos conceituais, o saneamento ambiental envolve o conjunto de ações técnicas
e socioeconômicas, entendidas, fundamentalmente, como de saúde pública, tendo
por objetivo alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental, compreendendo o
abastecimento de água em quantidade e dentro dos padrões de potabilidade vigentes; o
manejo, o tratamento e a disposição adequada dos esgotos, dos resíduos sólidos e das
emissões atmosféricas; o manejo de águas pluviais; o controle ambiental de vetores e
reservatórios de doenças; a promoção sanitária e o controle ambiental do uso e ocupação
do solo; a prevenção e controle do excesso de ruídos, tendo a finalidade de promover e
melhorar as condições de vida urbana e rural (SNSA, 2003; FNSA, 2003).
No plano institucional, em nível municipal, uma política de saneamento ambiental deve
contemplar as populações urbanas e rurais, promovendo ações de abastecimento de
água em quantidade e dentro dos padrões de potabilidade vigentes; o manejo sustentável
dos esgotos sanitários e dos resíduos sólidos, exceto o industrial; o manejo das águas
pluviais urbanas; e o controle ambiental de vetores e reservatórios transmissores de
doenças. As demais ações devem ser tratadas no âmbito das políticas específicas das
respectivas áreas.
7.1.1 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
112
Livro de experiências_15x21.indd 112-113
Um dos passos fundamentais para a formulação de uma política pública de saneamento
ambiental é definir sob que princípios e diretrizes esta política deve se pautar para que a
mesma atinja seu objetivo maior que é promover a justiça social.
São princípios fundamentais de uma política municipal de saneamento ambiental: a
universalidade, a integralidade das ações e a equidade (BRASIL, 1999; BORJA e MORAES,
2001; FNSA, 2003).
Experiências e recomendações
7.1 RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICA
MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Na atualização do Plano, realizada em 2006, identificou-se que a universalização do
saneamento em Belo Horizonte depende de investimentos em áreas de vilas e favelas e
tratamentos de fundos de vale.
Diante disso, o COMUSA deliberou a utilização de cerca de 180 milhões de reais em
recursos do Fundo Municipal de Saneamento – FMS, em sua maior parte, destinados
às dez bacias priorizadas pelo PMS em 2004. Para 2007, foi previsto o repasse de 44
milhões de reais para serem utilizados em ações de saneamento (PREFEITURA MUNICIPAL
DE BELO HORIZONTE, 2004).
113
29.11.09 16:20:50
Na Lei nº 11.445/2007, a universalização do acesso ao saneamento básico passou a
ser um dos princípios fundamentais da prestação dos serviços de saneamento básico
(inciso I, do art. 2º), sendo entendida como a ampliação progressiva do acesso de todos
os domicílios ocupados ao saneamento básico (inciso III, do art. 3º).
atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico,
propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando
a eficácia das ações e resultados (inciso II, do art. 2º, da Lei nº 11.445/2007).
Equidade7
A equidade diz respeito a direitos iguais, independente de raça, credo, situação
socioeconômica, ou seja, considera que todos os cidadãos têm direitos iguais no acesso
a serviços de saneamento ambiental de boa qualidade. As taxas ou tarifas cobradas pelos
serviços devem ser criteriosamente e democraticamente definidas, constituindo-se em
mais um instrumento de justiça social e não fator de exclusão de acesso aos serviços.
São também princípios de uma Política de Saneamento Ambiental:
114
6Na Lei no 11.445 de 2007, que institui a Política Nacional de Saneamento Básico, foi utilizado o conceito de saneamento básico
visando atender ao estabelecido na Constituição Federal. Cabe ao município optar em elaborar uma política de saneamento
ambiental mais ampla e que engloba o saneamento básico; ou uma política mais direcionada ao saneamento básico, quer seja:
abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo
das águas pluviais urbanas.
Livro de experiências_15x21.indd 114-115
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Integralidade das Ações
As ações e serviços de saneamento ambiental devem ser promovidas de forma integral,
em face da grande inter-relação entre as diversas componentes (abastecimento de água,
esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais, manejo de resíduos sólidos, controle
ambiental de vetores e reservatórios de doenças).
Muitas vezes, a efetividade, eficácia e eficiência de uma ação de saneamento ambiental
dependem da existência de suas outras componentes. O exemplo clássico refere-se à
execução de um sistema de abastecimento de água em uma localidade, sem equacionar
o destino dos esgotos sanitários gerados. Tal procedimento promove a insalubridade do
meio e, consequentemente, problemas de saúde pública.
Os sistemas também devem ser implantados contemplando todas as suas fases, de
forma que atinja o seu objetivo de promover a saúde da população. Assim, no caso de um
sistema de esgotamento sanitário, o serviço a ser implantado deve contemplar desde o
manejo/coleta até o destino final adequado dos dejetos e das águas servidas, mesmo que
este sistema venha a ser executado de forma gradual.
Deve-se, então, garantir a oferta e prestação de serviços de saneamento ambiental de
forma a abranger todas as suas fases e componentes, visando garantir a efetividade,
eficácia e eficiência das ações.
Segundo a Lei Nacional de Saneamento Básico, a integralidade é um princípio fundamental
da Política Nacional de Saneamento, sendo compreendida como o conjunto de todas as
7Fonseca (1998) ao fazer uma reflexão sobre o termo equidade, observa que ocorreu uma substituição gradativa do termo
igualdade pelo de equidade. Segundo a autora, no modelo neoliberal a equidade adquiriu a noção mais relacionada à
capacidade individual de agir diante das circunstâncias adversas, ou seja, a desigualdade seria o resultado dos efeitos naturais
das circunstâncias em que os indivíduos estão inseridos. Desta forma, a garantia dos direitos sociais passaria pela ação
individual, debilitando, assim, a ação do Estado como provedor de políticas que deveriam garantir a equidade. Nesse texto, o
termo equidade deve ser entendido como igualdade, estando relacionado a um dever do Estado.
Experiências e recomendações
Universalidade
As ações e serviços de saneamento ambiental, além de serem, fundamentalmente, de
saúde pública e de proteção ambiental, são também bens de consumo coletivo, essenciais
à vida, direito social básico e dever do Estado.
Assim, o acesso aos serviços de saneamento ambiental deve ser garantido a todos
os cidadãos mediante tecnologias apropriadas à realidade socioeconômica, cultural e
ambiental.
115
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Experiências e recomendações
recursos públicos devem ser gastos para que tais serviços tenham maior qualidade,
sejam eficientes e atendam aos interesses da maioria da população, não ficando à mercê
dos grupos clientelistas e privatistas. Barros (1992, p.15) conceitua controle social como
“capacidade que a sociedade tem de influir sobre a gestão pública com o objetivo de banir
as práticas fisiológicas e clientelísticas que conduziram à privatização da ação estatal no
Brasil”. Para Silva (1992, p.4), com o controle social se deseja a “permanente prestação
de contas dos gastos públicos à sociedade e o envolvimento desta, de forma sistemática,
e não apenas conjuntural, com o trato da administração de bens e serviços públicos”.
O controle social sobre as ações e os recursos do Estado tem como um dos requisitos
fundamentais o estabelecimento de relações entre Estado e sociedade por meio de canais
democráticos de participação social.
No Brasil, após a ditadura militar, uma das expressões do restabelecimento dessa relação
foi a institucionalização de canais de participação social em conselhos setoriais, como os
conselhos de saúde (CORREIA, 2000). Atualmente, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) é
um espaço de participação social na administração do Sistema Público e atua no controle
da execução da política de saúde, estabelecendo estratégias de coordenação e gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS). É uma atividade não remunerada e aberta à participação
da sociedade.
Baseado na Constituição Federal de 1988, na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990)
e na Lei nº 8.142/1990, o CNS consolida o controle social por meio dos Conselhos
Estaduais e Municipais de Saúde, que têm atribuições, por lei, de atuar na formulação de
estratégias e no controle da execução das políticas de saúde.
O CNS é uma instância coletiva, com poder de decisão. Ligado ao Poder Executivo é
composto por 50% de usuários, 25% de trabalhadores de saúde e 25% de prestadores
de serviços (BRASIL, 2000; FIOCRUZ, 2001).
Enfim, como observa Correia (2000, p.54), “os mecanismos de controle social são, ao
mesmo tempo, resultados do processo de democratização do país e pressupostos para
a consolidação dessa democracia. O fortalecimento do exercício do controle social sobre
o Estado contribuirá para o alargamento da esfera pública e para a consolidação da
democracia no Brasil”.
Tendo como objetivo garantir a transparência na gestão da coisa pública, desde a
definição das prioridades na decisão das políticas até os resultados das ações, podese considerar duas dimensões distintas de controle social dos serviços públicos de
saneamento ambiental:
• Na primeira, a dimensão de cidadão se materializa na participação dos sujeitos
políticos, com representantes de outras instâncias, em órgãos colegiados normativos
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Participação e Controle Social
A ideia de participação social impõe a presença explícita e formal no interior do aparato
estatal dos vários segmentos sociais, de modo a tornar visível a diversidade e, muitas
vezes, as contradições de interesses e projetos.
A ideia suscita e se associa à noção de controle social do Estado, por oposição ao controle
privado ou particular exercido por grupos com maior poder e influência (MORAES e
OLIVEIRA FILHO, 2000). A participação da sociedade é entendida como um processo que
visa estimular e contribuir com os indivíduos e grupos sociais no desenvolvimento do
senso de responsabilidade e de urgência quanto aos problemas sociais.
Visa, ainda, assegurar a ação apropriada e a tomada de decisão para solucionar os
problemas, sendo imprescindível para a melhoria das condições de salubridade ambiental
e dos serviços de saneamento ambiental (PORTO, 1996).
Segundo Carvalho (1995, p.9) e Correia (2000, p.53), em sociologia, a expressão controle
social é tratada por diversos autores para designar “os processos de influência da
sociedade (ou do coletivo) sobre o indivíduo”. Mannheim (1971, p.178) define controle
social como o “conjunto de métodos pelos quais a sociedade influencia o comportamento
humano, tendo em vista manter determinada ordem”. O termo é utilizado também por
diversos autores para designar o controle que o Estado exerce sobre a sociedade por meio
de suas instituições com o objetivo de amenizar, ou mesmo evitar, conflitos sociais.
As instituições do Estado interferem no “cotidiano da vida dos indivíduos, reforçando a
internalização de normas e comportamentos legitimados socialmente” (IAMAMOTO, 1988
apud CORREIA, 2000, p.53).
No Brasil, o controle social tem sido alvo das discussões e práticas recentes de diversos
segmentos da sociedade, como os movimentos popular e sindical, organizações nãogovernamentais, políticos e governos. Mas, com um significado inverso ao acima referido,
como controle que a população deve exercer sobre as ações do Estado, devido ao processo
de democratização iniciado no país nos anos 1980 (CORREIA, 2000).
Para Carvalho (1995, p.8) controle social é expressão de uso recente e corresponde a
uma moderna compreensão de relação Estado-sociedade, onde a esta cabe estabelecer
práticas de vigilância e controle sobre aquele. Para Correia (2000, p.53), o controle social
envolve a capacidade que a sociedade civil tem de interferir na gestão pública, orientando
as ações do Estado e os gastos estatais na direção dos interesses da coletividade.
Consequentemente, implica o controle social sobre o gasto público. Correia (2000,
p.53-54) ainda coloca que a lógica do controle social, nesta perspectiva democrática,
é justificada da seguinte forma: quem paga indiretamente, por meio de impostos, os
serviços públicos é a própria população; portanto, ela deve decidir onde e como os
117
29.11.09 16:21:00
118
Titularidade Municipal
Os serviços de saneamento ambiental são de interesse local e o município deve ter a
competência para organizá-los e prestá-los, sendo então o seu titular. A Política Municipal
de Saneamento Ambiental deve partir do princípio de que o município tem autonomia e
Livro de experiências_15x21.indd 118-119
Gestão Pública
Os serviços de saneamento ambiental são, por sua natureza, públicos, prestados sob
regime de monopólio, essenciais e vitais para a vida humana em face da sua capacidade
de promover a saúde pública e a proteção ambiental.
Esses serviços são indispensáveis para elevação da qualidade de vida das populações
urbanas e rurais e contribuem para o desenvolvimento social e econômico. Na América
Latina, onde tais serviços muitas vezes não existem ou atendem a uma pequena faixa
da população de maior renda, eles assumem uma dimensão coletiva, constituindo-se em
uma meta social, o que situa a ação de saneamento ambiental no âmbito de uma política
social, cabendo ao Estado a responsabilidade de sua promoção e de sua gestão.
São princípios complementares da Política:
Articulação/Integração Institucional
As ações das diferentes componentes e instituições da área de saneamento ambiental
são geralmente promovidas de forma fragmentada no âmbito da estrutura administrativa
governamental. Tal prática gera, na maioria das vezes, pulverização de recursos financeiros,
materiais e humanos. Essa realidade é facilmente percebida na área de saneamento
ambiental, podendo ser citado, por exemplo, as ações de operação e manutenção do
sistema de drenagem de águas pluviais, que desenvolvidas por um órgão específico, são
completamente desarticuladas daquelas da limpeza pública e esgotamento sanitário, fato
que influencia a eficácia e eficiência deste sistema.
A forma setorial com que as instituições estão organizadas, bem como o tipo de formação
dada aos profissionais, segundo a lógica da divisão do saber, aliado à falta de políticas
que estimulem o processo de integração, são fatores que têm limitado o desenvolvimento
de ações interinstitucionais.
Experiências e recomendações
A questão da participação e do controle social da gestão dos serviços de saneamento
ambiental vai muito além do acesso dos usuários aos órgãos de defesa do consumidor,
voltados, sobretudo, para atender aos interesses de clientes de serviços prestados.
Aos usuários/cidadãos, não interessa apenas a existência de canais de reclamação quando
os serviços não forem prestados adequadamente. A eles e aos não usuários, interessam
participar, discutir, monitorizar, intervir efetivamente na gestão e regulação dos serviços
e interagir com as instituições responsáveis pelos serviços (MORAES e BORJA, 2001).
Assim, a participação social na definição de princípios e diretrizes da política pública de
saneamento ambiental nos diversos níveis de governo, seja por meio de conferências e/
ou conselhos de saneamento ambiental, é um ponto fundamental para a definição de
uma política pública de saneamento ambiental.
Com a Lei nº 11.445/2007, o controle social passou a ser um princípio fundamental da
Política Nacional de Saneamento Básico, sendo definido como: o conjunto de mecanismos
e procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e
participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação
relacionados aos serviços públicos de saneamento básico (inciso IV, do art. 3º).
Segundo a lei, cabe ao titular dos serviços estabelecer os mecanismos de controle social
da política pública de saneamento básico (inciso V, do art. 9º).
competência para organizar, planejar, regular, fiscalizar, controlar e promover a prestação
dos serviços de saneamento ambiental em todo o seu território.
Esses serviços, de natureza local, podem ser prestados diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, associado com outros municípios ou não, respeitando as
condições gerais estabelecidas na legislação nacional sobre o assunto (BRASIL, 1999;
MORAES e BORJA, 2001; FNSA, 2003). A gestão municipal deverá ser baseada no exercício
pleno da titularidade e da competência municipal, na implementação de instâncias e
instrumentos de participação e controle social sobre a prestação dos serviços em nível
local, qualquer que seja a natureza dos prestadores, tendo como objetivo maior promover
serviços de saneamento justos do ponto de vista social.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
e/ou deliberativos da estrutura de regulação e controle. Assegura-se, assim, que os
representantes legítimos dos usuários e não usuários participem do processo de
definição de prioridades e normas; obtenham informações sobre carências locais/
regionais; bem como, tomem ciência sobre o perfil dos serviços e bens públicos
existentes.
•Asegundadimensãorelaciona-seaoscidadãos,usuáriosdeserviços,quandoestes
assumem o papel de consumidores, reconhecendo e exigindo o direito de receber
um serviço prestado dentro de padrões adequados de qualidade. Isso se articula ao
último ponto acima, pois pressupõe que os usuários tenham acesso e conheçam
quais são os equipamentos e serviços existentes, qual o patrimônio público existente
no local/região, bem como possam intervir na definição de políticas públicas de
saneamento (PEREIRA e PORTO, s.d.).
119
29.11.09 16:21:07
120
8Borja (2002) ao realizar uma reflexão sobre o conceito de sustentabilidade e sua aplicação na área de saneamento, observa
que este conceito é complexo e ambíguo, servindo para compor discursos que vão desde a perspectiva do capital, do mercado,
até a relacionada à justiça social e ambiental. Segundo a autora, muitos autores têm apontado o paradoxo entre o próprio
desenvolvimento, que pressupõe crescimento econômico, e a sustentabilidade. Contudo, esse conceito para Borja (2002) tem
sido amplamente utilizado por organismos internacionais e agências multilaterais de financiamentos, passando a ser um prérequisito para a definição de políticas e programas governamentais, inclusive da área de saneamento. A autora observa que
nos documentos do Banco Mundial, da CEPAL e de outras organizações internacionais, a sustentabilidade tem sido vinculada
à concepção neoliberal do Estado e que é no bojo desta concepção que surgem orientações para as políticas públicas nos
países em desenvolvimento, amplamente disseminadas pelos organismos internacionais. Segundo a mesma, no plano de
explorar a proclamada capacidade criadora dos indivíduos, surgem diretrizes para a participação da comunidade em projetos,
nos programa de ajuda mútua para construção de moradias, na operação de sistemas de abastecimento de água e esgoto,
principalmente de áreas rurais e, mais recentemente, o voluntariado e, no plano do mercado, surge a proposta da privatização de
serviços que antes tinham um caráter público e social. Ou seja, as responsabilidades que antes eram do Estado são transferidas
para a iniciativa privada – indivíduos e/ou mercado.
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Direito à Informação
O direito da população à informação sobre atividades públicas deve ser um direito de
qualquer cidadão. No Brasil, esse direito é garantido pela Constituição Federal. O acesso à
informação é um elemento fundamental para a participação e controle social da prestação
dos serviços de saneamento ambiental, democratizando a ação pública (FNSA, 2003).
•A Lei Nacional de Saneamento Básico, Lei nº 11.445/2007, em seu inciso IX, do
art. 2º. define com um dos princípios fundamentais para a prestação dos serviços
a transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos
decisórios institucionalizados. Em diversos trechos da lei são definidos diversos
mecanismos para a garantia desse princípio, a saber:
•NosprocessosdeelaboraçãodosPlanosdeSaneamentoBásico,aleiasseguraampla
divulgação das propostas dos planos e dos estudos que as fundamentem, inclusive
com a realização de audiências ou consultas públicas (§ 5o do art. 19).
•Nasatividadesderegulaçãoefiscalizaçãodosserviços,aleiasseguraapublicidade
dos relatórios, estudos, decisões e instrumentos equivalentes, bem como dos
direitos e deveres dos usuários e prestadores, a eles podendo ter acesso qualquer do
povo, independentemente da existência de interesse direto (art. 26). A publicidade
deve se efetivar, preferencialmente, por meio de sítio mantido na rede mundial de
computadores – internet (§ 2º do art. 26).
•Noitemrelativoaosdireitosdosusuários,aleiasseguranaformadasnormaslegais,
regulamentares e contratuais: amplo acesso às informações sobre os serviços
prestados; prévio conhecimento dos seus direitos e deveres e das penalidades a que
podem estar sujeitos; acesso ao manual de prestação do serviço e de atendimento ao
usuário, elaborado pelo prestador e aprovado pela respectiva entidade de regulação;
acesso ao relatório periódico sobre a qualidade da prestação dos serviços (art. 27).
Direito à Educação Sanitária e Ambiental
A educação sanitária e ambiental continuada incorporada na gestão dos serviços de
saneamento ambiental permite a difusão de comportamentos responsáveis em relação ao
uso dos recursos naturais e a correta utilização dos serviços, sendo direito dos cidadãos
(FNSA, 2003).
Experiências e recomendações
Sustentabilidade8
As instituições governamentais devem garantir o funcionamento continuado dos
sistemas de saneamento ambiental implantados para que sejam garantidos os benefícios
sociais pretendidos, notadamente, a saúde pública e a proteção ambiental. Para que a
sustentabilidade
seja assegurada é imprescindível a promoção de políticas de saneamento ambiental
que contemplem a participação e o controle social e que os serviços sejam eficazes e
eficientes e atinjam a sua efetividade enquanto uma política social.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A concepção de que cada problema social deve ser enfrentado pela instituição a que
está ligado e pelo profissional “competente” está sedimentada na organização do Estado,
exigindo um grande esforço para sua superação. A integração entre áreas de atuação
é um elemento de compatibilização (horizontal) de diversas ações, planos e projetos,
reduzindo os custos dos serviços públicos. A área de saneamento ambiental tem interface
com as de saúde pública, desenvolvimento urbano, habitação, meio ambiente e recursos
hídricos, entre outras.
A conjugação de esforços dos diversos organismos que atuam nessas áreas, oferece um
grande potencial para a melhoria da qualidade de vida da população.
Portanto, a integração entre as componentes do saneamento ambiental, bem como
a integração intra e interinstituições devem ser estimuladas. Devem-se identificar
as superposições de ações e de funções, bem como mecanismos que permitam a
coordenação harmônica das mesmas. A Lei nº 11.445/2007, considera a questão da
articulação ao definir no inciso VI, do art. 2º, como princípio fundamental da prestação
dos sérvios de saneamento básico a articulação com as políticas de desenvolvimento
urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção
ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a
melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante
(BRASIL, 2007).
121
29.11.09 16:21:14
122
São diretrizes de uma Política Municipal de Saneamento Ambiental:
•Promoveraçõesdesaneamentoambientalcomoumametasocial,subordinadaao
interesse público, de forma que as mesmas cumpram sua função social.
•Garantirapráticadetarifasetaxasjustasdopontodevistasocial.
•Prestarosserviçosdesaneamentoambientaldeformaquesejagarantidaamáxima
produtividade e a melhor da qualidade.
•Realizaroplanejamentodousoeocupaçãodosolodomunicípio,deformaquesejam
adotadas medidas para a proteção dos ecossistemas e dos recursos hídricos.
• Adotar indicadores e parâmetros ambientais, sanitários, epidemiológicos e
socioeconômicos para o planejamento, a execução e a avaliação das ações de
saneamento ambiental.
•Fomentaracapacitaçãotecnológicadaáreaeaformaçãoeacapacitaçãoderecursos
humanos.
•Buscaraadoçãodetecnologiasapropriadasàscondiçõessocioculturaiseambientais
de cada local.
•Aperfeiçoarosarranjosinstitucionaisegerenciais,deformaquesejamadequadosàs
condições locais em termos econômicos, sociais e culturais.
• Apoiar as ações das instituições responsáveis pela proteção e pelo controle
ambiental.
•Realizar,sistematicamente,oacompanhamentoeadivulgaçãodeinformaçõessobre
os indicadores de saneamento ambiental, saúde pública, meio ambiente, recursos
hídricos e educação sanitária e ambiental.
• Respeitar as legislações relacionadas à proteção ambiental e à saúde pública no
planejamento e na execução de ações, de obras e de serviços de saneamento,
cabendo aos órgãos e às entidades por elas responsáveis, seu licenciamento, sua
fiscalização e seu controle, nos termos de sua competência legal.
São objetivos específicos da Política:
•Atenderatodaapopulaçãourbanaeruralcomáguaemquantidadeedentrodos
padrões de potabilidade.
•Garantirofornecimentocontínuodaágua.
•Promoverousoracionaldaágua.
•Promoverocontroleeavigilânciadaqualidadedaáguadeconsumohumano.
•Manejar/coletaredisporcorretamenteosesgotossanitáriosdaspopulaçõesurbanas
e rurais.
• Manejar e dispor adequadamente os resíduos sólidos gerados pelas populações
urbana e rural.
•Promoveraampliaçãodacoberturadaspopulaçõesurbanaeruralcominstalações
intradomiciliares de água e esgoto.
•Adotarmedidasetecnologiasparaaminimizaçãodageraçãodeesgotoseresíduos
sólidos.
• Promover a proteção e recuperação das matas ciliares e a proteção do solo
de processos erosivos; adotar medidas para reduzir e controlar o processo de
impermeabilização do solo, devido à urbanização; impedir/controlar a ocupação das
áreas naturais de alagamentos dos corpos d’água, visando controlar as vazões de
cheias.
•Dotarasáreasurbanascomsistemasdedrenagemdeáguaspluviaisprojetados,
respeitando ao máximo o escoamento natural, privilegiando alternativas que
possibilitem a infiltração no solo das águas pluviais e captações mais superficiais.
•Adotarmedidasparaocombateàsenchentes.
• Realizar as atividades de operação e manutenção adequada dos sistemas de
saneamento ambiental implantados.
•Realizarasatividadesnecessáriasparaocontroleambientaldevetorestransmissores
de doenças.
•Promoveratividadesdeeducaçãosanitáriaeambiental.
• Criar instâncias de participação e controle social para o planejamento,
acompanhamento e avaliação da política de saneamento ambiental.
7.1.2. OBJETIVOS DE UMA POLÍTICA MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
Uma Política Municipal de Saneamento Ambiental deve ter como objetivos gerais:
Livro de experiências_15x21.indd 122-123
Experiências e recomendações
•Universalizaroacessoaosserviçosdesaneamentoambientaldequalidade.
•Promoveraefetividadedasaçõesdesaneamentoambiental,executandoasobrase
os serviços e realizando a gestão de forma efetiva, eficiente e eficaz para a garantia
da sua função social.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Prestação adequada dos serviços
Os serviços devem ser oferecidos à população com regularidade, continuidade, eficiência,
qualidade, segurança, atualidade tecnológica, generalidade, cortesia e modicidade nos
custos.
123
29.11.09 16:21:22
Esse Sistema pode ser composto pelos seguintes instrumentos:
•ConferênciaMunicipaldeSaneamentoAmbiental.
•ConselhoMunicipaldeSaneamentoAmbiental(ouequivalente).
•PlanoMunicipaldeSaneamentoAmbiental.
•FundoMunicipaldeSaneamentoAmbiental.
•SistemaMunicipaldeInformaçõesemSaneamentoAmbiental.
•Instrumentodedelegaçãodaprestaçãodosserviços(MORAESeOLIVEIRAFILHO,
2000; MORAES e BORJA, 2001; FNSA, 2003).
124
A prestação dos serviços de saneamento ambiental, salvo em situações particulares,
deverá ser feita diretamente, via órgão da administração direta ou indireta do município;
ou por meio de delegação, via contrato de concessão ou, ainda, por gestão associada,
conforme Lei nº 1.107/2005, via contrato de programa, realizado a partir de um convênio
de cooperação ou de um consórcio público.
Os contratos para a prestação dos serviços devem resguardar os princípios, as diretrizes
e os objetivos da Política Municipal de Saneamento Ambiental, devendo-se estabelecer
instrumentos regulatórios e normativos, independentemente da natureza do prestador dos
serviços, para que sejam asseguradas as metas de cobertura, a qualidade, a efetividade,
a eficiência e a eficácia dos serviços. (FNSA, 2003). As condições requeridas para a
prestação dos serviços deverão constar dos contratos.
Deve-se incentivar e apoiar iniciativas de associação ou cooperação entre municípios
com vistas à gestão associada dos serviços ou a execução de soluções de interesse
comum, bem como à viabilização de escalas econômicas ou operacionais adequadas
para a prestação de serviços de saneamento ambiental (FNSA, 2003), conforme a Lei nº
11.107/2005 e o Decreto no 6.017/2007 que regulamenta a Lei.
O Plano Municipal de Saneamento Ambiental deve ser aprovado pelo Conselho
Livro de experiências_15x21.indd 124-125
Experiências e recomendações
Para a execução racional e organizada das ações de saneamento ambiental em nível
municipal, uma estratégia promissora é a organização de um Sistema Municipal de
Saneamento Ambiental (SMSA). Esse Sistema é composto por instâncias, instrumentos
básicos de gestão e um conjunto de agentes institucionais que, no âmbito das respectivas
competências, atribuições, prerrogativas e funções, integram-se, de modo articulado
e cooperativo, para a formulação das políticas, definição de estratégias, execução e
avaliação das ações de saneamento ambiental.
Municipal, devendo conter os elementos básicos para a operacionalização da política e
o planejamento das ações de saneamento ambiental do município, incluindo os planos
municipais de saneamento ambiental (ou equivalentes), planos de investimentos, metas
dos serviços, definição de prioridades, recursos, entre outros.
O Plano deve ser elaborado de quatro em quatro anos, de forma articulada com as políticas
municipais de saúde, meio ambiente, recursos hídricos, desenvolvimento urbano e rural e
de habitação, entre outras.
Para sua elaboração, deve-se considerar o perfil epidemiológico da população e indicadores
socioambientais, incluindo nível de renda da população e a salubridade ambiental.
O Plano deve informar como, quando, com quem, com que recursos serão implementadas
as ações e que mecanismos de controle e avaliação serão utilizados para saber se deram
certo ou não (FIOCRUZ, 2001).
O Plano deve refletir as necessidades e anseios da população local, devendo, para tanto,
resultar de um planejamento democrático e participativo, para que o mesmo atinja sua
função social.
Para subsidiar a elaboração do Plano é importante que um Sistema de Informações sobre
as condições de salubridade ambiental e dos serviços de saneamento ambiental seja
estruturado. Esse sistema pode fornecer informações para elaboração de diagnósticos
da realidade, o planejamento das ações e a avaliação das ações. Torna-se necessário
que se garanta o acesso às informações desse sistema a todos os órgãos, entidades da
sociedade civil e população em geral, de forma que ele se constitua um instrumento de
cidadania.
Com as informações do sistema, a secretaria municipal responsável pelo saneamento
ambiental pode identificar os principais problemas, planejar as ações e, posteriormente,
avaliá-las.
O Conselho Municipal de Saneamento Ambiental deve ser uma instância colegiada de
caráter deliberativo e consultivo, composto por representantes do poder público municipal,
dos prestadores de serviço, dos usuários e de outros segmentos sociais, devendo ser
criado por lei municipal.
O Conselho tem a competência de formular as políticas públicas de saneamento ambiental,
definir estratégias e prioridades, além de acompanhar e avaliar sua implementação. Seu
regulamento e suas competências devem ser compatíveis com os princípios, as diretrizes
e os objetivos da Política Municipal de Saneamento Ambiental.
Cabe a este Conselho, e às demais instâncias municipais competentes, regular, avaliar e
realizar o controle da prestação dos serviços de saneamento ambiental, mediante apoio
técnico de instituição capacitada.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
7.1.3 SISTEMA MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
125
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126
Livro de experiências_15x21.indd 126-127
7.2 RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A ELABORAÇÃO DE PLANO
MUNICIPAL E PROJETOS LOCAIS DE SANEAMENTO AMBIENTAL
7.2.1. ELABORAÇÃO DE PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
Recomenda-se para a elaboração do Plano a formação de duas instâncias:
• Grupo Executivo, composto por técnicos e consultores das secretarias municipais
responsáveis pelos serviços de saneamento ambiental e que tenham interfaces com
eles, bem como por professores, pesquisadores e estudantes da(s) universidade(s)
conveniada(s).
•ComitêConsultivo,instânciaformadaporrepresentantes(autoridadese/outécnicos)
das instituições do poder público municipal, estadual e federal/nacional relacionadas
com o saneamento ambiental. Além dessas representações, o Comitê deverá contar
com os membros do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental, de Saúde, de
Meio Ambiente, caso existam, e de representantes de organizações da Sociedade
Civil (entidades do Movimento Popular e Social, entidades sindicais e profissionais,
grupos ambientalistas, entidades de Defesa do Consumidor, dentre outras).
O Grupo Executivo tem como atribuições, entre outras:
5. Elaborar o diagnóstico da situação do saneamento ambiental e de seus serviços no
município.
6. Avaliar estudos, projetos e planos existentes das diferentes componentes do
saneamento ambiental, bem como outros que tenham relação com o saneamento
ambiental.
7. Propor ações para implementação ou melhoria dos serviços de saneamento ambiental
do ponto de vista técnico e institucional.
O Comitê Consultivo tem como atribuições, entre outras:
• Discutir e avaliar, mensalmente ou a cada dois meses, o trabalho produzido pelo
Grupo Executivo.
Experiências e recomendações
Para elaboração do Plano, faz-se necessário que o poder público municipal tome a
decisão política de realizá-lo. Assim sendo, a prefeitura municipal deverá formar equipe
para tal, podendo firmar convênio com universidade(s) pública(s), se possível, da região,
que tenha(m) conhecimento no campo do saneamento ambiental, para auxiliar na
elaboração.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
Essa instituição pode ser municipal, resultar de associação entre municípios ou pertencer
ao governo estadual.
O Fundo Municipal de Saneamento Ambiental (ou equivalente) teria a missão de financiar
as ações públicas de saneamento ambiental, conforme a Política e o Plano Municipal de
Saneamento Ambiental. Suas fontes de recursos podem ser constituídas de dotações
orçamentárias do município e de outros níveis de governo, bem como de outros fundos,
doações e subvenções nacionais e internacionais, além de recursos financeiros de
agências de financiamentos nacionais.
O Fundo teria objetivo principal de promover a universalização dos serviços no município e,
secundariamente, de constituir uma fonte complementar e permanente do financiamento
das ações a custos subsidiados, visando garantir a permanência da universalização e a
qualidade dos serviços.
A Conferência Municipal de Saneamento Ambiental seria realizada a cada dois anos,
servindo para subsidiar a formulação da Política e a elaboração do Plano.
A Conferência é uma forma eficaz de mobilização, por permitir a democratização das
decisões e o controle social da ação pública.
Possibilita a construção de pactos sociais na busca de políticas democráticas de
saneamento ambiental e de serviços de saneamento, com atendimento universal e de
boa qualidade, contribuindo para a construção da cidadania.
Tal Conferência pode: produzir diagnósticos e planos de gestão de saneamento ambiental
do município; induzir a criação de entes locais de regulação e de controle social;
popularizar o debate sobre o saneamento ambiental; criar e reforçar os laços entre as
entidades representativas da área e da sociedade civil; propiciar maior inserção nos
meios de comunicação; e contribuir para a própria formação de quadros e revigoramento
das entidades (MORAES e BORJA, 2001).
Qualquer que seja a organização e a composição do sistema municipal de saneamento
ambiental, a articulação entre os diversos níveis de governo justifica o esforço do
município em alcançar a efetividade, eficácia e eficiência na implementação e execução
da Política Municipal de Saneamento Ambiental.
Um dos mecanismos para dar suporte às ações de saneamento ambiental no âmbito
municipal é a promulgação de lei instituindo a Política Municipal de Saneamento
Ambiental. Como contribuição, apresenta-se, no Apêndice, uma minuta de projeto de lei.
127
29.11.09 16:21:36
Etapa
Atividades
1ª Etapa
Fundamentos
Definir diretrizes e conceitos básicos, com orientações
gerais e específicas para cada órgão relacionado com o
saneamento ambiental.
Discutir as diretrizes do Plano em reunião pública do
Comitê Consultivo com participação dos diversos setores
da sociedade.
Complementar e detalhar o diagnóstico com
levantamento da situação atual, identificando as
carências e determinando a demanda reprimida.
Realizar prognóstico com avaliação das condições
atuais e projeção para o horizonte proposto pelo Plano,
considerado o Plano Diretor de Desenvolvimento
Municipal ou da Cidade, caso exista.
Etapa
2ª Etapa
Propostas
3ª Etapa
Aprovação
Atividades
Apresentar as conclusões da primeira etapa ao
Comitê Consultivo em reunião pública para crítica e
encaminhamento de propostas.
Realizar proposições contemplando os seguintes itens:
•Diretrizesparaaaçãomunicipal(obras,serviçose
gestão dos serviços de saneamento ambiental).
•Estruturaadministrativaparaaimplementaçãodo
Plano e definição de competências.
•Sistemadeavaliaçãopermanenteeintegradoao
sistema de planejamento municipal.
•Prioridadesdeinvestimentoscomorientaçãoparao
cronograma de implantação.
Discutir as proposições em reuniões públicas do Comitê
Consultivo.
Realizar Seminário Final para discussão do relatório
e encaminhamento do Plano ao Conselho Municipal
de Saneamento Ambiental, caso exista, e/ou ao Poder
Legislativo Municipal.
Discussão pelo Conselho Municipal de Saneamento
Ambiental ou pelo Poder Legislativo Municipal.
Aprovação pelo Conselho Municipal de Saneamento
Ambiental e/ou pelo Poder Legislativo Municipal e, em
caso deste, sanção da lei pelo prefeito municipal.
4ª Etapa
Institucionalização
Elaboração de resoluções do Conselho ou decretos
regulamentadores.
Realização das alterações administrativas necessárias
para implementar o Plano.
Realização de previsões orçamentárias.
5ª Etapa
Implementação
Implementação das ações propostas no Plano.
Experiências e recomendações
O tempo de duração para elaboração do Plano deverá ser de no máximo doze meses.
A Tabela 5 apresenta as etapas e atividades para a elaboração, a aprovação, a
institucionalização e a implementação do Plano.
Tabela 5 – Etapas e Atividades para o Desenvolvimento de Plano Municipal de
Saneamento Ambiental
Tabela 5 - Continuação
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
• Criticar e sugerir alternativas, caso necessário, auxiliando o trabalho do Grupo
Executivo na elaboração do Plano.
•Avaliar o andamento dos trabalhos do ponto de vista da sua viabilidade técnica,
operacional, financeira, social, ambiental e institucional, buscando promover a
integração das ações de saneamento ambiental.
7.2.2. Elaboração de Projetos Locais de Saneamento Ambiental
– PLSA
128
Livro de experiências_15x21.indd 128-129
A elaboração de PLSA é realizada pelo Grupo Executivo do Plano. Periodicamente, os
trabalhos desse Grupo são apresentados e criticados pelo Comitê Consultivo.
A participação da comunidade de cada localidade (vila, povoado, etc.) nos processos de
planejamento e elaboração dos projetos é condição fundamental para a elaboração do
129
29.11.09 16:21:43
130
Tomando por base as informações existentes na Prefeitura, em órgãos estaduais,
aquelas obtidas em inspeções de campo realizadas pelo Grupo Executivo e, ainda, com
os resultados do levantamento realizado pela comunidade local, é que se terá condições
para formular um trabalho de análise para as futuras proposições.
Reuniões devem ser realizadas em cada localidade para apresentação e discussão da
concepção e desenvolvimento dos projetos. O Grupo Executivo deve apresentar, ao CLSA
todas as informações sobre o PLSA, visando facilitar o acesso a essas informações por
parte da comunidade, estimular novas discussões e o encaminhamento de propostas de
alterações.
Por fim, o PLSA elaborado, discutido e aprovado pela comunidade de cada localidade irá
compor o Plano.
Livro de experiências_15x21.indd 130-131
BAHIA. Constituição do Estado da Bahia. Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da
Bahia, 1989.
BAHIA. Lei n° 1.611, de 27/06/1925, que cria a Sub-Secretaria de Saúde e Assistência
Social. Salvador, 1925a.
BAHIA. Termo de Acordo firmado entre o Estado da Bahia e o Município de Salvador
objetivando alterar a cláusula do Termo Aditivo firmado em 25/08/1925 sobre o prazo de
administração dos Serviços de Águas e Esgoto da capital pelo Estado, passando o mesmo
a ser indeterminado. Salvador, 1929.
BAHIA. Termo de Acordo firmado entre o Estado e o Município de Salvador objetivando a
administração dos Serviços de Águas e Esgoto da capital pelo Estado. Salvador, 1925b.
BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO. O Plano Nacional de Saneamento. Rio de Janeiro. BNH,
1983.
BARROS, Maria Elizabeth D. A política de saúde pós IX CNS. In: Seminário A Saúde que
queremos. Aracaju: CONASEMS, 1992. Não publicado.
BEHRING, Elaine Rossetti. Política Social no Capitalismo Tardio. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2002.
BELO HORIZONTE. Lei nº 8.260 de 03 de dezembro de 2001. Institui a Política Municipal
de Saneamento e dá outras providências. Belo Horizonte: Diário Oficial do Município,
2001.
Experiências e recomendações
São atribuições do CLSA, entre outras:
•Mobilizarosmoradoresparaadiscussãodasquestõeselevantamentodeinformações
sobre saneamento ambiental, saúde e meio ambiente.
• Contribuir para obtenção de informações necessárias ao PLSA, colaborando na
tabulação, análise e divulgação das informações obtidas.
• Elaborar ou atualizar mapa cadastral da localidade para subsidiar os projetos de
engenharia.
•OrganizareconduzirasreuniõessobreoPLSA.
8 Participar das reuniões do Comitê Consultivo do Plano e divulgar, aos moradores da
localidade, o desenvolvimento dos trabalhos.
8. REFERÊNCIAS
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
PLSA, sendo muito importante para a viabilização do financiamento, definição do modelo
de prestação dos serviços, execução, avaliação e êxito dos projetos.
Além da participação da comunidade, o PLSA deverá ter como eixos norteadores
a sustentabilidade social, administrativa, financeira, operacional e ambiental dos
serviços; o uso de tecnologias apropriadas; e a abordagem integrada e sustentável dos
componentes abastecimento de água, manejo de excretas humanos/águas servidas ou
esgotos sanitários, manejo de águas pluviais e manejo de resíduos sólidos.
Após inspeção de campo em cada localidade pelo Grupo Executivo, é realizada uma
primeira reunião com a comunidade para discutir o desenvolvimento do PLSA, sendo
instaurado um Conselho Local de Saneamento Ambiental (CLSA) podendo ser composto
por cinco membros: o agente de saúde local, um representante do ginásio local, um da
associação de moradores, um das igrejas e um morador identificado com os problemas
de saneamento ambiental, saúde e meio ambiente.
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•Lein°11.445/2007eodecretodesuaregulamentação.
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serviços públicos”, em 3 volumes.
Você pode acessá-los e adquiri-los em meio eletrônico em www.cidades.gov.br/
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Maiores informações podem ser adquiridas pelo endereço eletrônico:
planosdesaneamento@cidades.gov.br.
O Ministério do Meio Ambiente também dispõe de material técnico no site www.mma.gov.br.
Experiências e recomendações
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139
29.11.09 16:22:19
RESOLUÇÃO RECOMENDADA Nº 32, DE 1º DE MARÇO DE 2007
c) a promoção da sustentabilidade ambiental; e d) a participação de todos os
segmentos no planejamento e na gestão da Política de Saneamento Básico.
Recomendar a realização de uma Campanha
Nacional de sensibilização e mobilização
visando à elaboração e implementação dos
Planos de Saneamento Básico.
II - No entendimento do Conselho das Cidades a Campanha deverá atingir o seguinte
público-alvo:
considerando os planos diretores municipais elaborados e/ou revistos em 2006, pelos
municípios com mais de 20 mil habitantes;
considerando o êxito da campanha de sensibilização e mobilização dos planos
diretores municipais participativos, promovida pelo Ministério das Cidades e pelo
Conselho das Cidades, e realizada ao longo de 2005 e 2006, e
considerando a renovação das administrações municipais a partir de janeiro de
2009, resolve:
140
III - No entendimento do Conselho das Cidades os meios para atingir os objetivos da
campanha são:
a) estruturação de um núcleo coordenador nacional, composto pelo Ministério das
Cidades e por entidades e instituições integrantes do Conselho das Cidades;
b) estruturação de núcleos mobilizadores estaduais e/ou regionais coincidentes com
os Conselhos Estaduais e Municipais das Cidades e/ou com as instâncias de organização
da 3ª Conferência Nacional das Cidades;
c) recursos do Orçamento Geral da União alocados pelo Ministério das Cidades para
viabilizar a campanha e parcerias estabelecidas com instituições públicas e privadas, e
d) fortalecimento dos movimentos sociais e populares, de âmbito nacional, estadual,
regional e local, como interlocutores do processo de sensibilização e mobilização.
Art. 1º Recomendar ao Ministério das Cidades a realização de Campanha Nacional
de Sensibilização e Mobilização, visando à elaboração e implementação dos Planos
de Saneamento Básico, no âmbito estadual, regional e municipal, com o objetivo de
universalizar o acesso aos serviços de saneamento básico e construir cidades includentes,
democráticas e sustentáveis.
IV - No entendimento do Conselho das Cidades cada grupo mobilizador definirá
suas estratégias e parcerias, sendo de responsabilidade dos segmentos do Conselho
das Cidades estabelecer estratégias de capilaridade entre suas entidades. Os núcleos
mobilizadores, além de reunir os representantes dos segmentos do Conselho das
Cidades, deverão integrar atores de outros canais institucionais, tais como Ministério
Público, Comitês de Bacias Hidrográficas, Agenda 21, Associações de Prefeitos e de
outros agentes Públicos, membros de conselhos setoriais, entre outros, e
I – No entendimento do Conselho das Cidades a Campanha terá os seguintes eixos
estruturadores:
a) a universalização do acesso aos serviços de abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e
manejo de águas pluviais;
V - No entendimento do Conselho das Cidades a campanha deve ser desenvolvida
em consonância com os planos diretores municipais e articulada com a campanha pela
adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social.
b) o combate à segregação socioterritorial e a promoção do direito à cidade;
Livro de experiências_15x21.indd 140-141
Art. 2º Recomendar ao Ministério das Cidades e demais órgãos federais com interesse
no saneamento básico que apóiem materialmente as atividades dos núcleos
Experiências e recomendações
considerando as diretrizes aprovadas nas 1ª e 2ª Conferências Nacionais das
Cidades;
b) sociedade em geral, por meio de ações com ampla divulgação.
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
O Conselho das Cidades, no uso de suas atribuições estabelecidas pelo Decreto nº
5.790, de 25 de maio de 2006, por encaminhamento do Comitê Técnico de Saneamento
Ambiental, e considerando que a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece
as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a Política Federal de Saneamento
Básico, prevê a elaboração dos planos de saneamento pelos entes federados, e que
a elaboração dos mesmos é fundamental para a efetivação desta Lei, bem como do
Estatuto das Cidades, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, que define o acesso aos
serviços de saneamento básico como um dos componentes do direito à cidade;
a) governadores, prefeitos, deputados estaduais, vereadores, lideranças sociais,
populares e comunitárias, Ministério Público e Judiciário, prestadores de serviços de
saneamento básico, por meio de ações específicas, e
141
29.11.09 16:22:26
mobilizadores.
Art. 3° Esta resolução entra em vigor na data da sua publicação. Dê-se ciência aos
Governadores Estaduais e do Distrito Federal e aos Prefeitos dos municípios.
MARCIO FORTES DE ALMEIDA
RESOLUÇÃO RECOMENDADA Nº 75
MINISTÉRIO DAS CIDADES
CONSELHO DAS CIDADES
RESOLUÇÃO RECOMENDADA N° 75, DE 02 DE JULHO DE 2009
Art. 1º Recomendar ao Ministério das Cidades que faça gestão junto à Secretaria
de Relações Institucionais da Presidência da República, para levar ao conhecimento dos
Estados, Distrito Federal e municípios a posição do Conselho das Cidades no sentido
de considerar relevante e urgente a necessidade de estabelecer orientações relativas
à Política de Saneamento Básico e aos conteúdos mínimos dos Planos de Saneamento
Básico, conforme recomendações contidas nos artigos seguintes.
142
Art. 2º O Titular dos Serviços, por meio de legislação específica, deve estabelecer a
respectiva Política de Saneamento Básico, contemplando:
Experiências e recomendações
Estabelece orientações relativas à
Política de Saneamento Básico e
ao conteúdo mínimo dos Planos de
Saneamento Básico.
O Conselho das Cidades, no uso das suas atribuições estabelecidas pelo Decreto n°
5.790, de 25 de maio de 2006, e,
considerando que compete ao Conselho das Cidades, orientar e recomendar sobre a
aplicação da Lei n° 11.445 de 05 de janeiro de 2007 - Política Nacional de Saneamento, da
Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001 - Estatuto da Cidade, e dos demais atos normativos
relacionados ao Desenvolvimento Urbano e Saneamento Básico; considerando que,
de acordo com a Lei n° 8.080 de 19 de setembro de 1990, é dever do Estado prover
condições indispensáveis para o pleno exercício da saúde, e que a saúde tem como
fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a moradia, o saneamento básico e
o meio ambiente;
considerando que compete ao titular dos serviços formular a respectiva Política
Pública de Saneamento Básico e elaborar o Plano de Saneamento Básico, nos termos
dos arts. 9º e 19 da Lei n° 11.445/2007, indispensáveis na definição da prestação de
serviços;
considerando que, atendendo ao disposto no inciso I do art. 2º e no art. 19 da Lei nº
11.445/2007, é fundamental, respeitadas as diferenças e especificidades regionais e
locais, que os planos tenham conteúdos mínimos previstos, de forma a se articular com o
esforço nacional visando a universalização do acesso ao Saneamento Básico, e
considerando que a Resolução Recomendada do Conselho das Cidades nº 33, de 01
de março de 2007, recomenda a elaboração dos planos até dezembro de 2010, adota,
mediante votação, e seu Presidente torna pública, a Resolução de Plenário:
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
PRESIDENTE
143
I a definição da forma como serão prestados os serviços, se diretamente ou por
Livro de experiências_15x21.indd 142-143
29.11.09 16:22:34
III os parâmetros, as condições e responsabilidades para a garantia do atendimento
essencial para a promoção da saúde pública;
IV a garantia de condições de acesso a toda a população à água em quantidade e
qualidade que assegure a proteção à saúde, observadas as normas relativas à qualidade da
água para o consumo humano, bem como a legislação ambiental e a de recursos hídricos;
V a fixação dos direitos e deveres dos usuários, observadas a legislação nacional, em
particular a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, Código de Defesa do Consumidor,
e o Decreto nº 5.440, de 04 de maio de 2005;
VI a criação do Fundo de Universalização estabelecendo fontes de recursos, destinação
e forma de administração, conforme disposto no artigo 13 da Lei nº 11.445/2007;
VII os procedimentos para a avaliação sistemática da efetividade, eficiência e eficácia
dos serviços prestados, que incluam indicadores para aferir o cumprimento das metas;
VIII o estabelecimento dos instrumentos e mecanismos de participação e controle
social na gestão da política de saneamento básico, ou seja, nas atividades de planejamento
e regulação, fiscalização dos serviços na forma de conselhos das cidades ou similar, com
caráter deliberativo;
IX o estabelecimento do sistema de informações sobre os serviços articulado ao
Sistema Nacional de Informações em Saneamento;
X o estabelecimento de mecanismos de cooperação com outros entes federados para
implantação dos serviços de saneamento, e
XI os mecanismos capazes de promover a integração da Política de Saneamento Básico
com as políticas de saúde, de meio ambiente, de recursos hídricos, de desenvolvimento
urbano, de habitação e as demais que lhe sejam correlatas.
144
II prever a participação e o Controle Social, garantida por meio de conferências, audiências
e consultas públicas, e de órgãos de representação colegiada, tais como, o Conselho da
Cidade;
III estabelecer os mecanismos para a disseminação e o amplo acesso às informações
sobre os serviços prestados e sobre as propostas relativas ao plano de saneamento
básico e aos estudos que as fundamentam, e
IV definir os mecanismos de divulgação das etapas de discussão da política e do
plano, o bem como canais para recebimento de sugestões e críticas.
Art. 4º O Plano de Saneamento Básico deverá conter, no mínimo:
I o Diagnóstico integrado da situação local dos quatro componentes do saneamento
básico, a saber: abastecimento de água; esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo
de resíduos sólidos; drenagem e manejo de águas pluviais urbanas. O diagnóstico deve
conter dados atualizados, projeções e análise do impacto nas condições de vida da
população, abordando necessariamente:
a. a caracterização da oferta e do déficit indicando as condições de acesso e a
qualidade da prestação de cada um dos serviços considerando o perfil populacional,
com ênfase nas desigualdades sociais e territoriais, em especial nos aspectos de renda,
gênero e étnico-raciais;
b. as condições de salubridade ambiental considerando o quadro epidemiológico e
condições ambientais;
c. a estimativa da demanda e das necessidades de investimentos para a universalização
do acesso a cada um dos serviços de saneamento básico, nas diferentes divisões do
município ou região, e
d. as condições, o desempenho e a capacidade na prestação dos serviços nas suas
dimensões administrativa, político-institucional, legal e jurídica, econômico-financeira,
operacional e tecnológica.
Art. 3º A definição do processo participativo na formulação da Política e na elaboração
e revisão do Plano, bem como os mecanismos de controle social na gestão deverão:
II. A definição de Objetivos e Metas municipais ou regionais de curto, médio e longo
prazo, para a universalização do acesso aos serviços de saneamento básico no território,
com integralidade, qualidade e prestados de forma adequada à saúde pública, à proteção
do meio ambiente e à redução das desigualdades sociais, contemplando:
I estabelecer os mecanismos e procedimentos para a garantia da efetiva participação
da sociedade, tanto no processo da formulação da Política e de elaboração e revisão do
Plano de Saneamento Básico em todas as etapas, inclusive o diagnóstico, quanto no
a. o acesso à água potável e à água em condições adequadas para outros usos;
Livro de experiências_15x21.indd 144-145
Experiências e recomendações
II a definição das normas de regulação, incluindo a designação do ente responsável
pela regulação e fiscalização, bem como os meios e procedimentos para sua atuação;
Controle Social, em todas as funções de Gestão;
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
delegação, e as condições a serem observadas nos contratos, em particular a
definição de critérios de qualidade e o estabelecimento de metas de atendimento;
145
29.11.09 16:22:41
b. soluções sanitárias e ambientalmente apropriadas tecnologicamente para o
esgotamento sanitário;
i. a prevenção de situações de risco, emergência ou desastre.
IV. Ações para emergências e desastres, contendo:
e. a melhoria continua do gerenciamento, da prestação e da sustentabilidade dos
serviços.
III. O estabelecimento de mecanismos de gestão apropriados, bem como, programas,
projetos e ações, para o cumprimento dos objetivos e metas, e para assegurar a
sustentabilidade da prestação dos serviços que contemplem:
a. o desenvolvimento institucional para a prestação dos serviços de qualidade, nos
aspectos gerenciais, técnicos e operacionais, valorizando a eficiência, a sustentabilidade
socioeconômica e ambiental das ações, a utilização de tecnologias apropriadas,
considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a gestão participativa dos
serviços;
b. a visão integrada e a articulação dos quatro componentes dos serviços de
saneamento básico nos seus aspectos técnico, institucional, legal e econômico;
c. a interface cooperação e a integração com os programas de saúde, de habitação,
meio ambiente e de educação ambiental, de urbanização e regularização fundiária dos
assentamentos precários, bem como as de melhorias habitacionais e de instalações
hidráulicosanitárias;
b. diretrizes para a integração com os planos locais de contingência, e
c. regras de atendimento e funcionamento operacional para situações críticas
na prestação de serviços, inclusive para a adoção de mecanismos tarifários de
contingência;
V. O estabelecimento, no âmbito da Política, das instâncias de participação e controle
social sobre a política e ações e programas de saneamento básico contemplando:
a. a formulação, monitoramento e controle social da política, ações e programas através
dos conselhos das cidades ou similar, e
b. a definição da instância responsável pela regulação ou fiscalização.
VI. Os mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática das ações
programadas e revisão do plano, contendo:
a. conteúdo mínimo, periodicidade, e mecanismos de divulgação e acesso dos
relatórios contendo os resultados do monitoramento da implementação do plano bem
como da íntegra das informações que os fundamentaram;
d. a integração com a gestão eficiente dos recursos naturais, em particular dos
recursos hídricos;
b. o detalhamento do processo de revisão do plano com a previsão das etapas
preliminares de avaliação e discussões públicas descentralizadas no território e
temáticas, sobre cada um dos componentes; e da etapa final de análise e opinião dos
órgãos colegiados instituídos (conferência, conselho, entre outros), e
e. o atendimento da população rural dispersa, inclusive mediante a utilização de
soluções compatíveis com suas características sociais e culturais;
c. revisão periódica em prazo não superior a 4 (quatro) anos, anteriormente à
elaboração do Plano Plurianual (PPA).
f. a educação ambiental e mobilização social como estratégia de ação permanente,
para o fortalecimento da participação e controle social, respeitados as peculiaridades
locais e, assegurando-se os recursos e condições necessárias para sua viabilização;
g. a articulação com o Plano de Segurança da Água, quando implantado no município;
146
Experiências e recomendações
d. a disponibilidade de serviços de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas
adequados à segurança da vida, do meio ambiente e do patrimônio, e
a. diretrizes para os planos de racionamento e atendimento a aumentos de demanda
temporária;
POLÍTICA E PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL
c. soluções sanitárias e ambientalmente apropriadas tecnologicamente para a
limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos coletados;
Art. 5º Os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os planos das
bacias hidrográficas em que estiverem inseridos, com o Plano Diretor Municipal e com os
demais planos e políticas públicas para o desenvolvimento social e econômico, de melhoria
da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante.
147
h. a definição de parâmetros para a adoção de taxa e tarifa social, e
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29.11.09 16:22:48
Art. 6º O plano deverá ser orientador da elaboração da legislação orçamentária
subseqüente: PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA),
particularmente, na definição dos recursos necessários das prioridades de investimentos
em saneamento básico.
Art. 7º Quando envolverem serviços regionalizados, os planos de saneamento
básico devem ser editados em conformidade com o estabelecido no art. 14 da Lei nº
11.445/2007.
Art. 8º O plano de saneamento básico deverá englobar integralmente o território do
Município.
Art. 9º O Titular do Serviço poderá ampliar o conteúdo do Plano de Saneamento Básico
contemplando aspectos relacionados ao ambiente incluindo objetivos, metas, programas,
projetos e ações para o controle de vetores e agravos do ambiente que tenha repercussão
na saúde humana e outros componentes relevantes à realidade local.
Art. 10 Os planos de saneamento básico serão editados pelos titulares, podendo ser
elaborados com base em estudos fornecidos pelos prestadores de cada serviço.
Art. 11 Incumbe à entidade reguladora e fiscalizadora dos serviços a verificação do
cumprimento dos planos de saneamento por parte dos prestadores de serviços, na forma
das disposições legais, regulamentares e contratuais.
Art. 12 A União deve considerar o conteúdo desta Resolução na definição de seus
programas de investimento a título de condicionantes para o apoio à elaboração de
Planos.
Art. 13 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
MARCIO FORTES DE ALMEIDA
Presidente do Conselho
148
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29.11.09 16:22:52
APOIO
Secretaria Nacional
de Saneamento Ambiental
Ministério das Cidades
Ministério da Saúde
Ministério do Meio Ambiente
Ministério da Integração Nacional
Ministé rio do Planejamento
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