número 24 | volume 12 | julho - dezembro 2018
DOI:10.11606/issn.1982-677X.rum.2018.145932
Rádio Novo: a crítica social e a experimentação
estética no rádio ficcional brasileiro dos anos
19501
Rádio Novo: social critique and aesthetical
experimentation of Brazilian radio drama in the
1950s
Eduardo Vicente2
1
Este artigo tem como base a comunicação apresentada no I Cinemídia Intermidialidades, encontro internacional
realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) entre os dias 16 e 20 de novembro de 2015.
2
Professor Associado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Coordenador do MidiaSon – Grupo
de Estudos e Produção em Mídia Sonora, bolsista de produtividade PQ.2/CNPq. E-mail: eduvicente@usp.br.
173
Rádio Novo: a crítica social e a experimentação estética no rádio ficcional brasileiro dos anos 1950
Eduardo Vicente
Resumo
Este texto discute a produção radiofônica ficcional brasileira dos anos
1950 a partir da perspectiva da politização, do engajamento e das
preocupações estéticas expressos em trabalhos desenvolvidos por Túlio
de Lemos, Dias Gomes e Osvaldo Molles. Além de oferecer uma visão
do trabalho desses realizadores, o texto visa contextualizar as suas
obras tanto em relação ao cenário radiofônico do período como diante
do contexto mais geral da produção simbólica nacional. Além disso,
é oferecida uma reflexão sobre a relação entre os trabalhos desses
autores e as preocupações então expressas pelo Partido Comunista
Brasileiro, criado em 1922, em relação à área de cultura.
Palavras-chave
História do rádio no Brasil, radiodrama, Dias Gomes, Osvaldo Molles,
Túlio de Lemos.
Abstract
This paper discusses the production of radio drama by Brazilian stations
during the 1950s, from the perspective of politicisation, political
engagement and aesthetical concerns present in creations of Túlio de
Lemos, Dias Gomes and Oswaldo Molles. After providing an overview
on those producers’ enterprise, the article contextualises their works
within the situation of radio in the period and the more general context
of the national symbolic production. Additionally, it offers a brief
consideration on the relationship between these authors’ oeuvre and
the concerns about culture expressed by the Brazilian Communist Party
(created in 1922).
Keywords
Brazilian radio history, radiodrama, Dias Gomes, Osvaldo Molles, Tulio
de Lemos.
174
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Este texto busca demonstrar que uma produção radiofônica mais autoral e
engajada chegou a ser desenvolvida no Brasil, especialmente no rádio paulistano,
ao longo dos anos 1950. Sintonizados com a efervescência política e cultural
do período, autores como Túlio de Lemos, Dias Gomes e Osvaldo Molles, entre
outros, desenvolveram, naquela época, obras que representaram um importante
momento de renovação estética e de politização da ficção radiofônica nacional.
Com o objetivo de oferecer uma breve apresentação da produção desses
autores, dentro do que é denominado aqui como o rádio novo paulistano3, farei,
inicialmente, uma breve descrição do cenário mais conservador representado
pelas radionovelas do período, focando especialmente naquelas produzidas pela
Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A seguir, será discutido o contexto mais geral
da politização da produção cultural do Brasil dos anos 1950 e 1960 para, então,
ser discutido o papel do PCB — o Partido Comunista Brasileiro — dentro deste
processo. Finalmente, serão apresentadas algumas obras dos autores citados.
A Rádio Nacional e a “moral conservadora”
Não seria descabido afirmar que os relatos sobre a história do nosso rádio nas
décadas de 1940 e 1950, ou seja, durante o período apontado como o da “época
de ouro” do rádio brasileiro são, de um modo geral, relatos sobre a atuação da
Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Fundada em 1936 e incorporada ao patrimônio
da União em 1941 (SAROLDI; MOREIRA, 1984), a Nacional foi, sem qualquer
dúvida, a mais importante emissora de rádio da história do Brasil, determinando
por décadas os padrões que pautariam o desenvolvimento do veículo no país.
Embora a função mais explícita de instrumento propagandístico do governo
não coubesse propriamente à emissora e sim ao programa A Hora do Brasil, criado
em 1935, Miriam Goldfeder destaca que à Nacional “caberia, teoricamente, a
reprodução dos sistemas de valores dominantes enquanto emissora pertencente
3
O termo é uma forma de aproximar os programas produzidos pelos autores que serão aqui citados ao processo de
renovação artística e/ou politização das artes que seria proposto por movimentos artísticos ligados principalmente ao
cinema, ao teatro e à música do período, mas tentarei explicar melhor essa questão ao final desse artigo.
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ao Patrimônio da União, recodificando-os em termos de uma ideologia própria dos
setores médios” (GOLDFEDER, 1980, p. 41). Assim, “a emissora deveria atuar
como um mecanismo de controle social (...) destinado a manter as expectativas
sociais dentro dos limites compatíveis com o sistema como um todo” (Idem, p. 40).
Lia Calabre (2006), que se dedicou ao estudo das radionovelas produzidas
pela emissora, afirma que ela veiculou 158 produções do gênero entre 1940 e
1946. Deste total, Calabre localizou 34 roteiros, os quais classificou e analisou
em seu trabalho.
Ao discutir as principais características dessas obras, Calabre aponta
que, entre os protagonistas masculinos, eram predominantes os empresários e
profissionais liberais, enquanto grande parte das “protagonistas femininas está
na categoria ‘sem ocupação definida’, fato compreensível, pois, na maioria das
vezes, essa posição é ocupada pelas personagens jovens, que são cuidadas por
seus pais. Não é comum que o romance principal se passe com personagens
de meia-idade ou mais velhos.” (CALABRE, p. 156). Fica patente, deste modo,
o protagonismo das classes dominantes e a posição submissa da mulher, o que
coincide com as afirmações de Goldfeder acerca da função dos programas como
sendo de reforçar o sistema de valores vigente.
Calabre observa, também, que as obras são, de um modo geral, ambientadas
na contemporaneidade (anos 1940) e no cenário urbano do Rio de Janeiro (CALABRE,
2006, p. 152-153), mas esclarece que “as mazelas da cidade quase não aparecem
nas radionovelas. Quando analisamos a ocupação da maioria dos protagonistas,
verificou-se que esta é composta de profissionais liberais e empresários. A
cidade destes personagens é a das mansões, das casas confortáveis, dos bairros
urbanizados, com carros e motoristas particulares” (CALABRE, 2006, p. 189).
Além disso, entre as características das radionovelas analisadas, temos
questões caras à ideologia varguista como a valorização do trabalho, do estudo
como forma de ascensão social, das leis de proteção aos trabalhadores e das
associações de classe, com algumas das produções sendo, inclusive, ambientadas
dentro de fábricas (CALABRE, 2006, p. 162-173).
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Mas, ainda que a análise de Calabre tenda a confirmar as afirmações de
Goldfeder sobre o viés conservador da Rádio Nacional, seria importante considerar
que os trabalhos analisados por ela foram produzidos, em sua quase totalidade,
durante o primeiro Governo Vargas e, mais especialmente, sob a Ditadura do Estado
Novo (1937-1945), na qual a censura e o controle sobre a produção intelectual
e artística foram intensos (GOULART, 1990). Assim, não considero adequado
utilizarmos esses exemplos para afirmar uma pretensa tradição conservadora do
rádio carioca, que seria confrontada por um rádio paulistano mais engajado. De
toda a forma, voltarei a essa questão no final do texto.
Neste sentido, o cenário apresentado até aqui, que certamente se repetia nas
radionovelas de São Paulo, é oferecido principalmente como uma demonstração da
tradição com a qual uma vertente mais crítica e engajada da produção radiofônica
deveria se confrontar; porém, gostaria agora de discorrer brevemente sobre a
forma pela qual essa vertente se estabelece no cenário mais geral da produção
cultural brasileira do período.
O cenário da cultura brasileira dos anos 1950/1960
Ao discutir a extraordinária combinação entre criatividade artística e crítica
social que caracterizou a produção simbólica do país das décadas de 1950 e 1960,
Renato Ortiz observa que
[...] um fator a se considerar é a formação de um público que, sem se
transformar em massa, define sociologicamente o potencial de expansão
de atividades como o teatro, o cinema, a música e até mesmo a televisão
[...] uma audiência específica, mas considerável, formada pelas camadas
urbanas médias. (ORTIZ, 1994, p. 102)
Mas a simples formação de um público apto ao consumo de obras de maior
sofisticação não explica, evidentemente, a intensa politização da produção cultural
do país no período. Ortiz aprofunda essa questão a partir de uma aproximação
com o quadro proposto por Perry Anderson acerca do surgimento do modernismo
na França. Segundo Ortiz, Anderson
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percebe o surgimento dessa modernidade associada a três coordenadas
no campo social. A primeira diz respeito a um passado clássico, altamente
formalizado nas artes visuais. [...] A segunda coordenada está vinculada
às inovações tecnológicas que conhece a sociedade europeia neste período
[...]. Ao terceiro elemento Perry Anderson denomina “a proximidade
imaginativa da revolução social”. (ORTIZ, 1994, p. 104)
No caso brasileiro, no entanto,
O passado clássico nós não possuíamos. No Brasil [...] existiu uma
correspondência histórica entre o desenvolvimento de uma cultura de
mercado incipiente e a autonomização de uma esfera de cultura universal.
[...] Foi esse fenômeno que permitiu um “livre trânsito”, uma aproximação
de grupos inspirados pelas vanguardas artísticas, como os concretistas,
aos movimentos de música popular, bossa nova e tropicalismo. (ORTIZ,
1994, p. 104)
Assim, Ortiz sugere a existência, no país, de uma maior permeabilidade
entre o que Pierre Bourdieu define como os polos da “arte erudita” e da “arte
média” da produção simbólica (BOURDIEU, 1982, p. 139-140), permitindo que uma
considerável dose de sofisticação e experimentação estética estivesse presente
mesmo a produções voltadas a um consumo, em alguma medida, massificado.
Além da aproximação entre música de vanguarda e música popular citada acima,
Ortiz exemplifica esse processo também através da relação entre o teatro e o
teledrama, mas poderíamos vincular a este “livre trânsito” também as trajetórias
de dois dos autores citados no início deste texto.
Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999), por exemplo, diante da
falta de melhores perspectivas profissionais como autor teatral, transfere-se
do Rio de Janeiro para São Paulo em 1944, passando a trabalhar na Rádio
Panamericana (DIAS GOMES, 2004, p. 70). Ainda que tenha permanecido por
vinte anos trabalhando nesse veículo, Dias Gomes afirmou que “nunca encarara
o rádio senão como meio de subsistência – meus desesperados esforços para
levá-lo a sério e conferir dignidade ao meu trabalho soavam falsos para mim.”
(DIAS GOMES, 1998, p. 123).
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Também no caso de Túlio de Lemos (1909-1978), a transição para o rádio
ocorreu por razões econômicas. Segundo Irineu Guerrini Jr. (2013), Túlio se
dedicava a uma carreira como cantor lírico quando, em 1939, foi acometido por
uma doença e viu sua trajetória artística abreviada. Por essa razão, dois anos depois
passou a trabalhar com “Oduvaldo Vianna na Rádio São Paulo, tendo participado
de muitas novelas como roteirista e ator.” (GUERRINI Jr., 2013, p. 19). O próprio
Oduvaldo, primeiro empregador no rádio também de Dias Gomes (DIAS GOMES,
2004, p. 70), foi obrigado a deixar em segundo plano o teatro e o cinema, áreas
em que se destacava como autor e diretor, em favor do trabalho no rádio, que
considerava mais bem remunerado e estável (VIANNA, 1984).
Já em relação à segunda coordenada proposta por Anderson, Renato Ortiz
aponta que
O presente técnico ainda indeterminado, nós o possuímos em demasia. (...).
As novas tecnologias, rádio, televisão, cinema, disco, abriram perspectivas
para experiências as mais diversas possíveis. O experimentalismo possuía
duas faces: uma negativa, referente às dificuldades propriamente técnicas
dos profissionais; outra positiva, relativa à busca de soluções novas, às
vezes engenhosas, para se contornar os problemas enfrentados. (ORTIZ,
1994, p. 106)
Ortiz irá exemplificar essa questão através do caráter artesanal das
produções do Cinema Novo, marca de uma indústria incipiente onde tais práticas
ainda poderiam se contrapor àquelas adotadas no processo de industrialização da
produção cinematográfica. Já para o rádio brasileiro dos anos 1950, entendo que
o argumento deva ser relativizado, uma vez que este contava com uma estrutura
comercial e técnica que o colocava num patamar superior, naquele momento, à
televisão, ao cinema e à própria música popular.
Há um consenso em considerar a década de 1950 como a “Era de Ouro” do
rádio, com as emissoras contando com grandes auditórios e um expressivo corpo
de profissionais formado por roteiristas, atores, regentes, sonoplastas, técnicos
de som e músicos de orquestra (SAROLDI; MOREIRA, 1984). Isso se devia,
evidentemente, aos grandes investimentos publicitários que recebia e que tornavam
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o rádio uma atividade de grande envergadura no favorável cenário econômico
do período. Assim, o rádio certamente era menos permeável à experimentação
e a trabalhos mais autorais do que outras áreas menos visadas da produção
simbólica nacional. Talvez seja essa a razão pela qual trabalhos mais engajados e,
numa certa medida, mais experimentais, como os que veremos adiante, tenham
representado uma absoluta exceção em sua programação.
Já a terceira dimensão, a da “proximidade imaginativa da revolução social”,
Ortiz traduz como
efervescência política, que abria no horizonte a perspectiva de mudanças
substanciais da sociedade brasileira, mesmo quando reivindicadas por
grupos ideologicamente antagônicos. O período que consideramos é
marcado por toda uma utopia nacionalista que busca concretizar a saída
de uma sociedade subdesenvolvida de sua situação de estagnação.
(ORTIZ, 1994, p. 108)
No caso brasileiro, a atuação do Partido Comunista Brasileiro, o PCB,
fundado em 1922, será um importante fator a determinar os modos pelos quais
se desenvolve essa “utopia nacionalista” no período. Por isso, seria importante
nos voltarmos agora para uma breve discussão sobre a política cultural então
proposta pelo partido.
O PCB e a produção radiofônica brasileira dos anos 1950
Muniz Gonçalves Ferreira (2012) observa que a chegada do PCB à legalidade
política, em 1945, “possibilitou ao partido uma interlocução privilegiada com o
mundo das artes, da cultura e do pensamento em nosso país.” (FERREIRA, 2012,
p. 28). Para Dênis de Moraes,
A ideia de que, com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra, o futuro
imediato poderia ser repensado em bases igualitárias, identificou-se com
as propostas socialistas. A tarefa do artista consistia em produzir obras
comprometidas com as causas populares e que elevassem o nível cultural
das massas. (MORAES, 2006, p. 98)
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Neste contexto, nos anos 1950, entre filiados e simpatizantes do PCB, o
rádio contava, entre outros, com atores e roteiristas como Oduvaldo Vianna, Dias
Gomes, Mário Lago, Alberto Leal, Walter George Durst, Túlio de Lemos e Gilda
Abreu, além dos compositores Guerra Peixe e Claudio Santoro. Entre as questões
ideológicas defendidas pelo partido, destacava-se a do nacionalismo. Marco Roxo
e Igor Sacramento observam que
Ao longo de sua história, a militância comunista encontrou na produção
estética um meio de dar forma simbólica à ideologia nacionalista em
torno da qual o PCB passou a estruturar a sua política de aliança para
consolidar a “via burguesa” no país. [...] O nacionalismo se configurou,
assim, em uma espécie de pré-realização estética da utopia socialista.
(SACRAMENTO; ROXO, 2012, p. 7-8)
Porém, se por um lado a questão do nacional era fundamental para o PCB,
por outro era também uma demanda pré-existente numa nação periférica como o
Brasil, onde a necessidade de construção de uma identidade própria surgia como
uma “imposição estrutural” (ORTIZ, 1994, p. 184). É nesses termos que Marcos
Napolitano pode afirmar que
o Partido Comunista Brasileiro, desde meados dos anos 1950, não tinha,
propriamente, uma política cultural organizada e sistemática. Entretanto,
defendo a tese de que, ainda que as instâncias do Partido não tivessem
uma doutrina e uma organicidade muito impositiva, os artistas comunistas
(e simpatizantes) constituíam um núcleo pensante e criador que conseguiu
traduzir, com relativo sucesso e coerência, a linha frentista e aliancista do
partido. A opção pelo nacionalismo, a visão de povo como protoconsciência
revolucionária, o papel mediador do artista-intelectual e o realismo como
princípio da comunicação com o público (implicando no figurativismo nas
artes, na defesa da canção como convenção melódica suportando uma
mensagem poética e o realismo dramatúrgico no cinema e no teatro)
foram as bases desse projeto. (NAPOLITANO, 2012, p. 101)
Assim, a par das intenções do partido, poderíamos falar numa
confluência de visões que não apenas permitiu a materialização das propostas
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estéticas e políticas elencadas por Napolitano, mas lhes deu uma importante
legitimidade artística.
Nestes termos, a identificação com o ideário político do PCB é evidente
nas obras de Dias Gomes, Túlio de Lemos e Osvaldo Molles, autores que terão
alguns de seus trabalhos discutidos mais adiante.
Mas nem sempre é simples estabelecer a conexão entre intelectuais do
período e o PCB, já que a permanência do partido na legalidade foi bastante curta
(1945-1947):
A repercussão da guerra fria no plano interno não tardou. O PCB foi
perseguido pelo governo Eurico Gaspar Dutra e pelas forças conservadoras,
que criaram, com apoio da imprensa, atmosfera favorável à suspensão
do registro do partido em maio de 1947 e à cassação dos mandatos de
seus parlamentares em janeiro de 1948, em sequência ao rompimento
diplomático com a União Soviética. (MORAES, 2006, p. 99)
De qualquer modo, no caso dos autores analisados neste artigo, as ligações
nos parecem claras. Dias Gomes, em sua autobiografia, afirma ter-se filiado ao
PCB já em 1945 (DIAS GOMES, 1998; p. 102). Em relação a Túlio de Lemos,
Irineu Guerrini Jr., além de obter um depoimento de Bárbara Fazio4, amiga de
Túlio que confirma sua condição de simpatizante do partido, localizou fotos de
viagens deste à União Soviética e China, ainda nos anos 1950, inclusive uma na
qual ele aparece ao lado de Mao Tse-Tung (GUERRINI Jr., 2013, p. 19-20).
Já no caso de Molles os indícios são mais tênues, embora nos pareçam
decisivos. Segundo depoimento ao autor de Vladimir Sacchetta (2017), Molles
foi grande amigo de seu pai, Hermínio Sacchetta (1909-1982), um histórico
militante trotskista brasileiro. Convidado por Molles para escrever o prefácio e
a apresentação de sua coletânea de crônicas Piquenique Classe C, Sacchetta
saúda no texto o “companheiro certo das horas incertas de minha acidentada
4
Bárbara foi esposa de Walter George Durst, um importante roteirista de rádio e televisão e também simpatizante
do PCB. Segundo Bárbara, Túlio era um grande amigo da família e os visitava constantemente (Bárbara Fazio,
depoimento ao autor, 2014).
182
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carreira profissional [...] sempre respondendo presente aos meus apelos”
(SACCHETTA, s/d., p. 11). Além disso, Sacchetta afirma que o livro de Molles
legitima a “literatura ‘popular’, em suas versões formais e de conteúdo. Com
indiscutível vantagem do autor, em certos aspectos, sobre seus predecessores”
(Alcântara Machado e Mário de Andrade foram os nomes mencionados) que,
ao contrário de Molles, não conseguem “ocultar os punhos de renda do escritor
para elites” (SACCHETTA, s/d., p. 14).
Vale destacar, para uma melhor contextualização do momento em que foram
veiculadas as obras aqui citadas, ou seja, o início da década de 1950, que, apesar
da perseguição ao PCB, o cenário político permitiu uma considerável liberdade de
expressão, especialmente a partir de 1951, quando Vargas retorna à presidência
pela via eleitoral. Nesse seu segundo governo, Vargas, em uma surpreendente
guinada ideológica, acaba angariando grande simpatia da esquerda a partir de suas
convicções nacionalistas, de sua proximidade com a classe operária e por haver
retirado as restrições existentes à participação dos comunistas na organização
sindical (FAUSTO, 1995, p. 407 e 412).
Apresentarei, agora, trechos de algumas das obras desses três autores,
que ilustram a ideia de um “rádio novo” paulistano5.
O “Rádio Novo” Paulistano
A primeira delas é a série “Ópera em 1040 Quilociclos” que, criada em 1952
por Túlio de Lemos para a Rádio Tupi de São Paulo, trazia temas de óperas célebres
transplantados para a contemporaneidade de São Paulo e adaptados criticamente
ao seu contexto social e político. Irineu Guerrini Jr. (2013), a quem devemos a única
pesquisa existente sobre a obra de Túlio, aponta que, na adaptação de Lo Schiavo
(1887), de Carlos Gomes, por exemplo, a trama se desloca do Rio de Janeiro de
1801 para uma fazenda do interior de São Paulo em 1952. Em lugar da paixão
entre a índia escrava e o filho do Conde, dono da fazenda, temos a ligação entre
5
Gostaria de apontar que, embora de forma mais resumida e para a discussão de uma temática um tanto distinta,
alguns dos exemplos aqui utilizados já foram citados em texto anterior (VICENTE; SOARES, 2016).
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a trabalhadora doméstica e o filho do senhor das terras, que fala inclusive em
reforma agrária no discurso progressista com que anuncia sua candidatura a um
cargo eletivo. Na trama original, o Conde obriga a índia a se casar com um outro
índio, enquanto na adaptação de Lemos o fazendeiro força a empregada da casa
a se unir a um outro trabalhador rural da propriedade. Há, porém, uma diferença
fundamental na solução do conflito amoroso. Enquanto na trama original o índio
se suicida para deixar o caminho aberto para o amor entre a heroína e o filho do
Conde, na versão radiofônica a protagonista não volta para o filho do patrão:
[...] renegando o seu passado relativamente privilegiado de criada da
Casa Grande, diz, encerrando o programa: Me arrependi – por demais
da conta – de tê levado uma vida tão boa, enquanto o meu povo sofria
tanto. Agora não gosto mais do senhor. Só gosto dele, que é meu marido.
Eu vô com ele pro mato. (GUERRINI Jr., 2013, p. 134)
Em outro programa da série, a adaptação de La Bohème (Giacomo Puccini,
1896), que mereceu uma análise mais aprofundada de Guerrini Jr., a ação se
passa em um estúdio na Av. São João, no centro de São Paulo, onde moram
quatro jovens de poucos recursos. Já no diálogo inicial, Colline, o filósofo do
grupo, questiona Rodolfo, o pintor, por estar fazendo o retrato de uma cadela de
estimação para a sua rica proprietária:
Colline: Parece-me que você pertence à tal escola do realismo social, não é?
Rodolfo: Perfeitamente, Colline.
Colline: Há uma grande contradição entre o que você faz e o que você
pensa.
Rodolfo: Me diga uma coisa, Colline.
Colline: O que é que há?
Rodolfo: Nós não precisamos comer?
Colline: Infelizmente.
Rodolfo: Não precisamos pagar o aluguel deste estúdio que fica em plena
Avenida São João?
Colline: Sim.
Rodolfo: Logo, precisamos arranjar dinheiro em qualquer parte, de
qualquer maneira, até pintando cachorrinhas de estimação. Não é possível
praticar o socialismo integral dentro da sociedade capitalista. (GUERRINI
Jr., 2013, p. 137)
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Ao longo da versão de Túlio, Rodolfo, um jornalista que denuncia as
condições precárias da periferia de São Paulo, chega a declamar um poema de
Brecht, além de refletir, em diversos momentos, sobre o papel do intelectual na
desalienação da sociedade (GUERRINI Jr., 2005).
O segundo exemplo é o da série radiofônica Histórias das Malocas, de
Osvaldo Molles (1913-1967), certamente a mais conhecida das obras que serão
apresentadas aqui. Molles produziu a série para a Rádio Record entre 1954 e 1966.
A obra era ambientada na periferia paulistana e contava com Adoniran Barbosa
como seu principal radioator. Os trechos de seus roteiros que serão apresentados
aqui, foram transcritos e publicados por Ayrton Mugnaini Jr. (2002). Adoniran
interpretava, entre outros papéis, o protagonista Charutinho, morador da maloca,
que abria o programa com a fala:
Essa é minha maloca, manja? Mais esburacada que tamborim de escola
de samba na quarta-feira de cinza. Onde a gente enfia a mão no armário
e encontra o céu. Onde o chuveiro é o buraco da goteira. Às veis a gente
toma banho em bacia e se enxuga com a toalha do vento. E quando não
tem água a gente se enxuga antes do banho. Maloca tão pequena que a
gente dorme lá dentro e tem que vim puxa o ronco aqui fora... não cabe
os dois. Maloca tão miserável que só acende o fogo pra fazer churrasco
quando pega fogo. Maloca onde na guerra contra os mosquito os mosquito
é que ganharam a guerra. Maloca onde a riqueza é uns pedaço de fome
e um pacote de gemido. Maloca... maloca onde eu cresci de teimoso que
sô. (MUGNAINI Jr., 2002, p. 59)
É evidente, no texto, não apenas o tom crítico, mas também o investimento
lírico nos personagens da periferia. Nos programas da série, até a questão da
discriminação racial ganhava evidência, com o negro Zé Conversa, outro dos
personagens de Adoniran, afirmando em certo momento que
Num posso cum essas pestes desses brancos [...] Acha que nóis os preto
devia arranjá outro lugá para passeá nos domingo [...]. Eles vão quere
me enganá que a Rua Direita é deles! Né não! A rua é livre! Eu sô preto,
sô brasileiro e passeio na Rua Direita quando quisé, me bate ninguém
vai! (MUGNAINI Jr., 2002, p. 54)
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Ao discutir a série de Molles, Miriam Goldfeder destaca o seu caráter
crítico e a forma pela qual o autor, “superpondo os discursos cômico/trágico,
extrai resultados que, à primeira vista, conformistas, desnudavam um espaço
pouco consumido por um público de classe média.” (GOLDFEDER, 1980, p. 121).
Já de Dias Gomes podemos citar A História de Zé Caolho, minissérie radiofônica
veiculada em 1952 pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, dentro do programa
Sonho e Fantasia6.
Em Zé Caolho, o autor apresenta a história de um lavrador cearense, Zé
Zeferino, que chega à cidade de São Paulo na esperança de conseguir emprego e
uma vida melhor. Ao fracassar na tentativa de obter trabalho, Zeferino, influenciado
pelo pedinte Perneta, acaba por se tornar Zé Caolho, um mendigo que finge
ser cego de nascença. Após receber um pacote contendo uma grande soma em
dinheiro de uma bela e misteriosa mulher, o protagonista, agora rico, concorre
inclusive à Presidência da República. Ao final; porém, descobrimos que tudo não
passava de um sonho.
A contundência política da obra fica evidente logo no seu início quando,
após ouvirmos dois personagens pedindo esmolas, temos a fala do narrador:
Será crime pedir? Será crime estender a mão à caridade pública? Mãos
que deveriam estar dignificadas pelo trabalho? Não, crime não é pedir,
crime é dar esmolas. Crime é dos que depositam migalhas nas mãos dos
miseráveis em vez de lutar para destruir a podridão social que os criou7.
A minissérie traz, ainda, diversas canções populares especialmente
compostas, o que contrasta com o acompanhamento orquestral típico das
produções ficcionais do período (VICENTE, 2013). Esse procedimento denota o
interesse de Dias Gomes em incorporar elementos da cultura popular em suas
6
A análise desse programa foi realizada a partir de uma gravação do acervo do CEDOM, Centro de Documentação e
Memória da Rádio Bandeirantes, cedida ao autor por Milton Parron.
7
A gravação original do programa está disponibilizada em <http://youtu.be/JvJ4F5zGhus> (Parte 1) e <http://youtu.
be/RY4JKrFxqWw> (Parte 2). Ofereço uma descrição mais detalhada dessa obra de Dias Gomes em Radiodrama
em São Paulo: A História de Zé Caolho, de Dias Gomes. Observatorio , v. 7, n. 1, p. 173-185, 2013. Disponível em:
<http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/623/577>.
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produções – preocupação que o acompanhará ao longo de toda a sua trajetória
radiofônica (SACRAMENTO, 2012).
Além disso, tanto nessa obra como nas descritas anteriormente, temos não
só o protagonismo de membros das classes populares – mendigos, camponeses,
desempregados, etc. – como uma visão mais dura e realista da cidade de São
Paulo, bem distante das “mansões” e dos “bairros urbanizados” descritos por
Calabre em sua análise das radionovelas da Nacional.
Conclusão
Este texto buscou demonstrar que, apesar do inegável predomínio da
radionovela dentro de uma programação voltada, de um modo geral, para o
entretenimento e a afirmação de valores conservadores (GOLDFEDER: 1980),
o rádio ofereceu, ao longo dos anos 1950, espaços para uma expressão mais
politicamente engajada por parte de alguns de seus realizadores.
Neste sentido, esses trabalhos aproximaram o veículo de um processo de
crescente politização da produção artística que resultaria, nos anos seguintes em
manifestações de grande repercussão em áreas como o cinema (Cinema Novo), a
música popular (Tropicalismo, Canção de Protesto), a literatura e o teatro (Arena,
Teatro Oficina). Por essa razão, foi utilizada aqui a expressão “Rádio Novo” como
uma forma de aproximar a produção dos autores radiofônicos aqui citados ao
movimento mais amplo da produção simbólica nacional.
Embora não haja aqui nenhuma pretensão de dar às poucas iniciativas
apontadas o mesmo peso e abrangência das produções desenvolvidas nas áreas
citadas, é importante afirmar a sua existência em um veículo que no Brasil é
tido – e não sem razão, devo acrescentar – como tradicionalmente conservador.
Também é importante deixar claro o uso de “paulistano” na descrição desse
“rádio novo”. Ele se deve exclusivamente ao fato de que as produções analisadas
foram efetivamente veiculadas pelo rádio de São Paulo. Como já foi afirmado
aqui, entendo que não temos elementos, apesar das afirmações de Goldfeder ou
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Rádio Novo: a crítica social e a experimentação estética no rádio ficcional brasileiro dos anos 1950
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das análises de Lia Calabre, para considerar o cenário radiofônico de São Paulo
como radicalmente diferente do carioca.
Na análise de Herança de Ódio, de Oduvaldo Vianna, por exemplo, irradiada
pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro entre 1951 e 1952, Laura do Carmo
aponta que, através do protagonista da narrativa, Vianna “dá voz aos seus ideais
comunistas (força do operariado, direito à greve, divisão de lucros, perseguição a
políticos corruptos, etc.), estimulando o ouvinte a não se entregar ao conformismo”
(CARMO, 2007, p. 11).
Neste sentido, talvez uma análise de produções radiofônicas desenvolvidas
no Rio de Janeiro e em outros estados do país a partir da queda do Estado Novo
demonstre que, mesmo em radionovelas centradas em “uma história de amor
entre os protagonistas” (CARMO, 2007, p. 11), preocupações políticas e sociais
podem ter ocasionalmente surgido. Assim, mesmo que sem a veemência expressa
em alguns dos textos apresentados aqui, é possível que os germes de um “Rádio
Novo” tenham estado presentes em diversas das produções radiofônicas realizadas
no país durante o período.
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Gravações
Dias Gomes. Sonho e fantasia: a história de Zé Caolho. São Paulo, Rádio
Bandeirantes, 1952.
submetido em: 07 maio 2018 | aprovado em: 08 ago. 2018
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