ARTIGO ARTICLE
Desenvolvimento e validação de indicadores de
boas práticas de segurança do paciente: Projeto
ISEP-Brasil
Development and validation of indicators for best
patient safety practices: the ISEP-Brazil Project
Desarrollo y validación de indicadores de buenas
prácticas de seguridad del paciente: Proyecto
ISEP-Brasil
Zenewton André da Silva Gama 1
Pedro Jesus Saturno-Hernández 2
Denise Nieuwenhoff Cardoso Ribeiro 1
Marise Reis de Freitas 1
Paulo José de Medeiros 1
Almária Mariz Batista 1
Analúcia Filgueira Gouveia Barreto 3
Benize Fernandes Lira 4
Carlos Alexandre de Souza Medeiros 5
Cilane Cristina Costa da Silva Vasconcelos 6
Edna Marta Mendes da Silva 6
Eduardo Dantas Baptista de Faria 1
Jane Francinete Dantas 7
José Gomes Neto Júnior 8
Luana Cristina Lins de Medeiros 9
Miguel Angel Sicolo 10
Patrícia de Cássia Bezerra Fonseca 11
Rosângela Maria Morais da Costa 7
Francisca Sueli Monte 1
Veríssimo de Melo Neto 12
Resumo
Um monitoramento eficaz da segurança do paciente precisa focar a implantação de práticas baseadas em evidências que evitem danos desnecessários ligados à assistência à saúde. O objetivo do Projeto ISEP-Brasil
foi desenvolver e validar indicadores de boas práticas de segurança do paciente para o contexto brasileiro. Tomou por base a tradução e adaptação
dos indicadores validados no Projeto ISEP-Espanha, além do documento
Safe Practices for Better Healthcare do National Quality Forum dos Estados Unidos, que possui 34 recomendações de boas práticas. Realizou-se
validação por um painel de 25 especialistas e análise da confiabilidade
e viabilidade em um estudo-piloto realizado em três hospitais com diferentes tipos de gestão (estadual, federal e privada). Aprovaram-se 75 indicadores de boas práticas (39 de estrutura; 36 de processo) para 31 das
34 recomendações. Os indicadores foram considerados válidos, confiáveis
e úteis para o monitoramento da segurança do paciente em hospitais
brasileiros.
Segurança do Paciente; Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde;
Gestão da Segurança
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00026215
Centro de Ciências da
Saúde, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte,
Natal, Brasil.
2 Centro de Investigación en
Calidad y Encuestas, Instituto
Nacional de Salud Pública,
Cuernavaca, México.
3 Setor de Vigilância
Sanitária, Secretaria
Municipal de Saúde, Natal,
Brasil.
4 Subcoordenadoria de
Vigilância Sanitária,
Secretaria da Saúde Pública,
Natal, Brasil.
5 Hospital Giselda Trigueiro,
Natal, Brasil.
6 Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel, Natal,
Brasil.
7 Hospital Papi, Natal, Brasil.
8 Liga Norte Riograndense
Contra o Câncer, Natal,
Brasil.
9 Hospital Universitário
Onofre Lopes, Universidade
Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, Brasil.
10 Natal Hospital Center,
Natal, Brasil.
11 Centro Universitário do
Rio Grande do Norte, Natal,
Brasil.
12 Hospital Unimed Natal,
Natal, Brasil.
1
Correspondência
Z. A. S. Gama
Departamento de Saúde
Coletiva, Centro de Ciências
da Saúde, Universidade
Federal do Rio Grande do
Norte.
Av. Senador Salgado Filho
3000, Natal, RN 59078-970,
Brasil.
zasgama@gmail.com
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
1
2
Gama ZAS et al.
Introdução
A avaliação é uma atividade gestora essencial
para a melhoria da qualidade dos sistemas e serviços de saúde. Esse reconhecimento tem se tornado evidente na área da segurança do paciente,
em que a mensuração da segurança e sistemas
de indicadores têm recebido atenção internacional privilegiada 1,2,3. No entanto, parece haver
um descompasso entre a evolução conceitual da
segurança do paciente nos últimos anos e as estratégias e ferramentas mais frequentes para sua
mensuração e monitoramento.
A segurança foi a última dimensão incluída
de forma explícita no conceito multidimensional
de qualidade em serviços de saúde 4. Segundo
sua primeira definição amplamente divulgada,
segurança significava “ausência de dano desnecessário associado ao cuidado em saúde” 4 (p. 39).
Oito anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um consenso sobre a taxonomia em segurança do paciente cuja definição
evoluiu para “redução do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde a um mínimo aceitável” 5 (p. 15). Diferente das dimensões
tradicionais da qualidade, centradas na tomada
de decisões certas e oportunas para alcançar resultados em saúde e satisfação dos usuários, a
segurança do paciente tem como foco principal
a redução de eventos adversos, mas também de
erros, negligências, falhas e omissões do processo assistencial que não causaram dano, mas poderiam ter causado 5.
A segurança do paciente se tornou prioridade dos sistemas de saúde de diversos países 4,6,
em decorrência da contribuição de importantes estudos epidemiológicos que evidenciaram
o impacto alarmante dos efeitos indesejados
causados por falhas de qualidade da atenção à
saúde 7,8,9. No Brasil, a percepção da magnitude dos eventos adversos ligados à assistência 10
ajudou a sensibilizar os formuladores de políticas de saúde para a instituição governamental de
um Programa Nacional de Segurança do Paciente
(PNSP) 11, que adota a mesma definição de segurança do paciente da OMS.
Vários enfoques para compreender, medir e
controlar os problemas de segurança do paciente têm sido desenvolvidos internacionalmente.
Um deles é o desenvolvimento de indicadores
para mensuração e monitoramento do nível de
segurança 1,2,3, cujo objetivo é identificar problemas ou oportunidades de melhoria, comparar instituições e controlar o efeito das eventuais
intervenções 12. Bons indicadores de segurança
do paciente precisam ser válidos, confiáveis e
úteis (apropriados) para identificar riscos assistenciais, orientar a tomada de decisão e de-
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tectar o alcance e a manutenção das melhorias
propostas.
Existem muitos tipos de indicadores de segurança do paciente 13, mas os mais utilizados são
aqueles baseados em resultados 14: (tipo 1) eventos-sentinela, propostos pela Joint Commission
on Accreditation of Healthcare Organizations 15,
que são utilizados, no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com o termo
never event, popularizado pelo National Quality
Forum (NQF); (tipo 2) indicadores de rastreamento (triggers), desenvolvidos pelo Institute of
Healthcare Improvement (IHI) 16, utilizados em
diversos estudos, inclusive reproduzidos no Brasil, na pesquisa de Mendes et al. 10; e (tipo 3) indicadores de resultado, presentes em iniciativas
importantes, como a da Agency for Healthcare
Research and Quality (AHRQ) dos Estados Unidos 2 e a da Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) 3. Todos esses
indicadores contemplam a contagem e expectativa de ausência de eventos adversos.
Um tipo de indicador complementar, porém
menos desenvolvido, é o de (tipo 4) indicadores
de boas práticas. Medem aspectos estruturais e
de processo cuja influência na segurança do paciente já foi provada cientificamente de forma
suficiente. Trata-se de uma mensuração em sintonia com a evolução conceitual da segurança do
paciente, com vistas à presença da redução do
risco (enfoque preventivo baseado em práticas
de segurança) e não a ausência de danos.
Uma referência inquestionável para a construção de indicadores de boas práticas é o documento Safe Practices for Better Healthcare, elaborado pelo NQF em 2003 17 e atualizado em 2006,
2009 e 2010 18. Nesse documento, um grupo de
trabalho com ampla participação científica e institucional resumiu as práticas assistenciais com
alta prioridade de implementação, tendo em vista as evidências da sua efetividade para diminuir
os incidentes de segurança do paciente, assim
como o seu potencial de generalização. Outra referência-chave sobre práticas baseadas em evidência científica é a revisão sistemática Making
Health Care Safer II: An Updated Critical Analysis
of the Evidence for Patient Safety Practices 19.
Trabalho pioneiro realizado no âmbito do
Plano Nacional de Qualidade do Sistema Nacional de Saúde espanhol utilizou o documento do
NQF 2003 para a construção de indicadores de
boas práticas para a segurança do paciente (Proyecto ISEP) 20. Nesse projeto, desenvolveram-se
69 indicadores (33 de estrutura e 36 de processo) relativos a 25 das 30 recomendações baseadas em evidências contidas no documento. Os
produtos foram utilizados para uma análise de
situação dos indicadores em nível nacional e
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
motivaram a medição habitual destes em sistemas de saúde de várias comunidades autônomas espanholas, como Madrid e Región de
Murcia 21. Aplicou-se uma seleção dos indicadores em hospitais da Costa Rica (participantes de
um projeto de colaboração com o Ministério da
Saúde espanhol) e também no Sistema de Saúde
do México.
O Ministério da Saúde brasileiro, a ANVISA e
o Proqualis propuseram recentemente indicadores de processo e resultado relativos às infecções
e aos protocolos assistenciais obrigatórios (quedas, úlceras de pressão, identificação do paciente, erros de medicação, cirurgia segura e higiene
das mãos) 22,23,24,25. Contudo, não dispomos, no
país, de um conjunto amplo de indicadores de
estrutura e processo validados e que mensurem
a segurança do paciente especificamente a partir
das melhores práticas fundadas em evidência.
Com base nesses antecedentes, o presente
trabalho teve por objetivo desenvolver e validar
um conjunto de indicadores de enfoque preventivo ou de boas práticas que possibilitem a mensuração do nível de segurança em hospitais brasileiros e apontem diretamente para problemas
prioritários de melhoria.
Metodologia
Contexto e desenho
O Projeto ISEP-Brasil foi realizado entre 2012 e
2014 mediante colaboração entre o Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e a Unidad de Medicina Preventiva y Salud Pública da Universidad de Murcia
(Espanha). Recebeu financiamento da Fundação
de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do
Norte (FAPERN), sendo aprovado pelo comitê de
ética e pesquisa local. Trata-se de um desdobramento e aprofundamento do projeto Indicadores
de Seguridad del Paciente (ISEP), realizado no
âmbito da Agencia Española de Calidad, do Ministério da Saúde espanhol.
O desenho metodológico de referência foi o
de validação de instrumentos de medida, pois
indicadores medem a qualidade dos serviços
de saúde. Realizaram-se tradução e adaptação
dos indicadores do Projeto ISEP-Espanha, desenvolvimento de novos indicadores, avaliação
da validade de face e conteúdo por painel de especialistas, revisão da validade de critério pelos
especialistas e avaliação da confiabilidade e viabilidade em um estudo observacional transversal
realizado em três hospitais de diferentes tipos de
gestão (federal, estadual e privado) na cidade de
Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.
Painel de especialistas
Participaram 25 profissionais da gestão e assistência à saúde: seis enfermeiros, seis médicos
(um cirurgião urologista, um cirurgião vascular,
um nefrologista, um intensivista e dois infectologistas), cinco farmacêuticos, três fisioterapeutas,
um gerente de qualidade em hospital, dois inspetores da vigilância sanitária (um do município
e um do estado) e dois especialistas em gestão
da qualidade em saúde. Havia representantes de
sete hospitais, e todos foram distribuídos por afinidade temática e experiência em cinco subgrupos denominados Gestão, Médicos, Enfermeiros,
Farmácia e Infecções.
Etapas metodológicas
• Análisecríticadasrecomendações
internacionais
Objetivou aprofundar o conhecimento dos especialistas sobre as recomendações de segurança
do paciente do NQF 2010 18 e analisar criticamente a evidência disponível e relevância para o
contexto brasileiro. Ocorreu em um evento internacional (Brasil-Espanha), com participação do
painel de especialistas e outros gestores, profissionais e estudantes da área de saúde. Aplicou-se
um questionário sobre cada recomendações do
NQF, com opções de resposta em escala de Likert de 5 pontos (de 1, discordo totalmente, até 5,
concordo totalmente).
• Construçãodosindicadorese
análise da validade
A construção dos indicadores teve duas fontes:
(1) tradução dos indicadores do Projeto ISEP-Espanha, realizada por dois pesquisadores brasileiros profissionais de saúde com proficiência em
espanhol, sendo as divergências consensuadas
com o painel de especialistas; (2) desenvolvimento de novos indicadores valendo-se das recomendações do NQF 2010, realizado pelos especialistas do Brasil.
Procurou-se abranger o maior número possível de recomendações, principalmente as não
contempladas no projeto espanhol e recém-inseridas no documento de 2010, criando pelo
menos um indicador de estrutura e outro de
processo para cada recomendação. Buscou-se
o princípio da parcimônia, construindo poucos
indicadores que representassem a conformidade
com cada recomendação.
Para todos os indicadores, preencheu-se uma
ficha com o título do indicador, medida, justificativa, tipo de dado (estrutura ou processo), fonte
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do dado (questionário aos profissionais de saúde, documentos fornecidos pelo hospital, prontuário, observação direta ou entrevista), numerador e denominador (para cálculo dos indicadores
de processo), documentação de evidências e observações. Caso necessário, construiu-se um instrumento de coleta de dados para os indicadores.
A análise da validade dos indicadores foi realizada por cada subgrupo do painel de especialistas e finalizada em consenso com a coordenação
do projeto, mediante técnica do grupo nominal.
Utilizou-se um instrumento de avaliação padrão
baseado na validade de face (Indicador claramente relevante?), validade de conteúdo (Indicador mede segurança do paciente?) e validade
de critério (Indicador avalia uma recomendação
baseada em evidência?). Também se avaliou a
redação (Indicador com linguagem clara e terminologia correta?) e a viabilidade da recomendação e da estratégia de medida (Indicador viável no contexto brasileiro? Indicador possível de
avaliar com a estratégia de medida indicada?).
No caso dos indicadores que foram traduzidos,
os especialistas tinham a oportunidade de adaptá-los à realidade brasileira durante essa avaliação (por exemplo, idosos no Brasil são aqueles
com 60 anos ou mais). O grupo atribuiu uma
pontuação de 1 a 5 para cada critério, em que 1
significa “definitivamente não” e 5, “definitivamente sim”. Após votação individual e consenso,
calculou-se a mediana para cada indicador (índice de validade). Indicadores que não atingissem
pontuação máxima passavam por nova discussão e eram aprovados somente com pontuação
mediana de 4 ou 5.
Quanto à validade de critério, os especialistas
a avaliaram com base na revisão de referências
bibliográficas que tivessem provado o impacto
da recomendação do NQF em algum parâmetro de segurança do paciente. Sistematicamente, consideraram-se os estudos referenciados no
NQF 2010 18, a revisão sistemática da AHRQ 19,
além de buscas em bases de dados. Níveis de evidência insuficientes ou contraditórios poderiam
levar à exclusão do indicador.
• Estudo-pilotoparaanáliseda
confiabilidade e viabilidade
Os 83 indicadores aprovados na análise da validade foram avaliados quanto à sua viabilidade;
18 deles, quanto à confiabilidade em três hospitais com diferentes tipos de gestão (federal, estadual e privada), para testar a utilidade em diferentes contextos. A instituição federal é um hospital geral de ensino, com 250 leitos, sem pronto
atendimento. O privado é um hospital geral com
87 leitos, pronto atendimento e possui acredita-
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ção nível 1 do Instituto Qualisa de Gestão (IQG).
O estadual é um hospital geral com 325 leitos,
pronto atendimento e referência em politrauma.
As instituições se localizavam em Natal.
Consideraram-se diferentes métodos de medida para cada conjunto de indicadores. Dez destes foram medidos com perguntas adicionadas a
um questionário eletrônico sobre a avaliação da
cultura de segurança; oito, por observação direta;
três, por entrevista a algum profissional responsável; 19, por revisão de prontuários; quatro, por
revisão de outros documentos; 39, por auditoria
(considerada a existência e conteúdo de determinados documentos, protocolos, normas e políticas institucionais). A coleta de dados realizou-se
entre fevereiro e maio de 2014.
Para facilitar a medição dos indicadores baseados em dados registrados (por exemplo, revisão de prontuários e radiografias), utilizou-se
o Lot Quality Assurance Sampling (LQAS), com
padrão de 85% e limiar de 55%. Essa metodologia utiliza os princípios da distribuição binomial
para inferência sobre aspectos problemáticos a
partir de amostras pequenas 26. Selecionaram-se
17 casos aleatórios baseados na lista da população-alvo do último ano e, para alcançar conformidade do indicador, dever-se-ia atingir um
mínimo de 12 casos favoráveis.
Dois enfermeiros externos aos hospitais
foram contratados para a coleta de dados e receberam formação e suporte da coordenação
do projeto.
Análise dos dados
Os indicadores de estrutura foram analisados
quanto à presença do aspecto avaliado, tais como existência de protocolos, normas, políticas
institucionais e observações da estrutura. A análise desses indicadores por hospital individual foi
qualitativa, atribuindo categorias “Sim”, “Parcialmente” ou “Não”, dependendo da conformidade
do indicador. Para grupos de hospitais, a análise
dos indicadores de estrutura é quantitativa, com
número absoluto ou porcentagem de hospitais
que cumprem o indicador.
Os indicadores de processo foram descritos
quanto à frequência relativa de conformidade
(porcentagem) e intervalo de 95% de confiança, ou cumprimento do padrão estabelecido no
LQAS, quando a amostra foi menor que 30 casos.
No caso dos indicadores mensurados por meio
de questionário, estes foram avaliados de acordo
com as afirmações respondidas pelos profissionais de saúde (frequência (%) de “sempre”, para
perguntas sobre aspectos positivos, e frequência
(%) de “nunca”, para perguntas sobre aspectos
negativos, em relação à segurança do paciente).
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Quanto à confiabilidade, os 16 indicadores
de revisão de prontuário, um de revisão de outros documentos e um de obsevação direta foram
avaliados individual e separadamente por dois
avaliadores enfermeiros previamente treinados.
A análise da concordância interavaliador foi realizada mediante o índice kappa.
Resultados
Análisecríticadasrecomendações
internacionais
Dentre os 108 participantes no evento internacional (Brasil-Espanha) (78% mulher; média de
idade 36 anos) para análise das recomendações
internacionais, aproximadamente a metade
(53%) exercia função técnica em hospitais, 16%
eram gestores, 6%, docentes universitários, e
13%, discentes universitários. Todas as 31 recomendações avaliadas foram consideradas relevantes, e em oito delas 100% dos participantes
concordavam totalmente.
Por outro lado, quatro tiveram frequência de
“concordo totalmente” ligeiramente abaixo de
90%: “6- Assegurar o conhecimento das preferências do paciente em situação terminal”, “7Disclosure comunicação aberta sobre incidentes
de segurança”, “16- Implementação segura de
prontuário eletrônico” e “17- Implementação
de sistemas para a conciliação medicamentosa”.
Esse achado mostra validade de face inferior e
alerta para a análise complementar nas fases seguintes do estudo.
Indicadores de boas práticas
construídosevalidados
A fase de tradução dos indicadores ISEP-Espanha gerou 69 indicadores (33 de estrutura e 36 de
processo) que contemplavam 17 das 34 boas práticas do NQF 2010. Destes, após análise baseada
em critérios e consenso, o painel de especialistas
adaptou e aprovou 57 e rejeitou 12 indicadores.
Na fase de desenvolvimento dos novos indicadores, priorizaram-se as 17 práticas até então sem
indicadores. O resultado foi 26 indicadores novos
(14 de estrutura e 12 de processo). A soma de indicadores construídos cuja validade foi aprovada
para entrada no estudo-piloto foi 83 (41 de estrutura e 42 de processo) (Figura 1).
Após o estudo-piloto, 75 dos 83 indicadores
mostraram-se confiáveis, viáveis e úteis para o
contexto dos hospitais brasileiros. Quanto ao tipo de dado, 39 indicadores são de estrutura e 36
de processo. Contemplam 31 das 34 boas práticas recomendadas pelo NQF 2010 e são medi-
dos com diferentes métodos: observação direta
(sete indicadores), revisão de prontuário (16 indicadores), revisão de outros documentos (um
indicador), entrevista com profissional de saúde responsável pelo serviço (três indicadores),
questionário autoadministrado (10 indicadores),
auditoria de protocolos, normas ou políticas (38
indicadores). A descrição detalhada do número
de indicadores por boa prática, tipo de dado e
fonte de dados está disponível na Tabela 1.
As boas práticas sem indicadores aprovados
foram: “10- Pessoal que presta cuidados diretos”;
“31- Doação de órgãos”; “32- Controle da glicemia”. Não houve consenso para a elaboração de
indicadores de estrutura e processo relativos às
práticas 10 e 31, mas os da prática 32 foram excluídos porque o grupo considerou, em sua revisão, evidências de potenciais efeitos negativos
àquela recomendação. As recomendações com
validade de face inferior na etapa de revisão crítica (recomendações 6, 7, 16 e 17) tiveram indicadores construídos após análise aprofundada pelo
painel de especialistas.
No que diz respeito à confiabilidade, conforme apresentado na segunda coluna da Tabela 1, todos os 18 indicadores testados quanto à
coordância interavaliador obtiveram resultado
aceitável (kappa > 0,60), com kappa médio de
0,92 (amplitude 0,65-1,00). A Tabela 2 apresenta os indicadores não aprovados por problemas
de viabilidade ou confiabilidade identificados
no estudo-piloto. Dentre estes, destacam-se os
indicadores que medem a adesão ao bundle de
barreiras máximas durante a inserção de cateter
venoso central e o de prevenção de pneumonia
associada à ventilação mecânica, que são fortemente recomendados.
A descrição detalhada das fases e indicadores
do Projeto ISEP-Brasil está disponível em dois relatórios técnicos, um deles sobre a construção
dos indicadores 27, contendo as fichas de cada
indicador e recomendações metodológicas para
autoavaliação ou avaliação externa dos hospitais,
e outro com detalhamento do estudo-piloto 28,
contendo o resultado da conformidade dos indicadores nos três hospitais. A Figura 1 resume os
resultados em cada fase do projeto.
Discussão
Os indicadores desenvolvidos e validados neste projeto constituem uma contribuição para
a gestão da segurança do paciente no contexto
dos hospitais brasileiros. Apresenta instrumentos aprovados quanto à validade, confiabilidade,
viabilidade e potencial utilidade para o gerenciamento dos riscos assistenciais. Em sintonia
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Figura 1
Quantidade de indicadores em cada fase do Projeto ISEP-Brasil.
com a definição atual de segurança do paciente,
informam diretamente sobre a presença de medidas para diminuição do risco de dano com o
objetivo de preveni-lo. Adicionalmente, têm potencial para incorporação nas políticas de saúde,
dado que ainda é escasso o monitoramento externo de hospitais brasileiros com a perspectiva de avaliar a implantação de práticas seguras
fundadas em evidência.
Mensurar a segurança do paciente valendose de uma perspectiva integral tem sido uma
preocupação recente 1. Isto parece ter vindo à
tona com a falta de evidências demonstrada
pela abordagem do monitoramento de eventos
adversos, uma prática de segurança comum,
porém considerada complexa (desde a identifi-
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cação do evento até a implantação de práticas
preventivas específicas), pouco efetiva e de alto
custo 19. A preocupação ocorre porque o monitoramento da segurança pode se tornar um exercício de contar casos, o que não necessariamente
leva à investigação e intervenção para a melhoria
da segurança.
O modelo de monitoramento de eventos
adversos pode ser considerado como o enfoque
epidemiológico da segurança do paciente. Direcionado a identificar a frequência de incidentes
e analisar fatores de risco (ou fatores contribuintes), foi muito útil para sensibilizar sobre o tema.
No entanto, é anterior aos enfoques preventivos
da gestão de risco (o modelo era inicialmente
centrado nas organizações e riscos financeiros) e
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Tabela 1
Características dos indicadores (tipo de dado, fonte e cálculo) incluídos na lista final do Projeto ISEP-Brasil.
Boa prática
Indicador (kappa)
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
Estrutura
Auditoria
Existência ou não de
Processo
Auditoria
Existência ou não da
Estrutura
Auditoria
Existência ou não de
Processo
Prontuário
% de pacientes
Grupo 1: criar e manter uma cultura
de segurança
1. Estruturas e sistemas de liderança
1.1 Estrutura organizacional para a
segurança do paciente **
2. Avaliação da cultura de segurança
2.1 Avaliação da cultura de
3. Treinamento para o trabalho em
3.1. Educação permanente para o
equipe e aquisição de habilidades
trabalho em equipe **
4. Identificação e redução dos riscos
4.1. Avaliação do risco de
e perigos
desnutrição em pacientes de UTI
núcleo
segurança **
avaliação
curso
avaliados
(kappa = 1,00)
4.2. Cálculo dos requerimentos
Processo
Prontuário
calórico-proteicos em pacientes de
% de pacientes com
cálculo
UTI (kappa = 1,00)
4.3. Protocolo de isquemia
Estrutura
Auditoria
controlada em intervenções
Existência ou não do
protocolo
cirúrgicas
4.4. Registro de pressão e tempo
Processo
Prontuário
durante isquemia controlada em
% de pacientes com
registro
cirurgias (kappa = 1,00)
Grupo 2: consentimento informado,
tratamentos no fim da vida,
comunicação de eventos adversos
e atenção ao profissional envolvido
em incidentes de segurança
5. Consentimento informado
5.1 Utilização de consentimento
Processo
Prontuário
informado em procedimentos
% de pacientes com
consentimento
invasivos ** (kappa = 0,95)
5.2 Assegurar a compreensão do
Processo
Questionário
% de respostas
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
consentimento informado
6. Tratamentos no fim da vida
6.1 Política institucional de atenção
“sempre”
às preferências do paciente em
política
estado terminal
6.2 Preferências dos pacientes em
Processo
Questionário
estado terminal em relação aos
% de respostas
“sempre”
procedimentos de manutenção da
vida
7. Comunicação (Disclosure) de
7.1 Política de comunicação de
eventos adversos
eventos adversos aos pacientes
8. Atenção ao cuidador envolvido em
8.1 Política institucional de atenção
eventos adversos
aos cuidadores envolvidos em dano
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
política
política
grave ao paciente **
Grupo 3: adequação da capacidade
do serviço às necessidades
9. Força de trabalho da enfermagem
9.1 Normas sobre o
Estrutura
Auditoria
dimensionamento do pessoal de
Existência ou não das
normas
enfermagem
9.2 Avaliação institucional da carga
de trabalho das atividades de
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
avaliação
enfermagem
(continua)
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7
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Tabela 1 (continuação)
Boa prática
Indicador (kappa)
10. Profissionais da assistência direta
Não há indicadores
11. Unidade de Terapia Intensiva
11.1 Equipe assistencial especialista
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
-
-
-
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
em UTI **
equipe
Grupo 4: facilitar a transferência de
informação e comunicação clara
12. Informação sobre os cuidados
12.1 Comunicação das alterações
prestados ao paciente
na medicação de forma clara e
Processo
Questionário
% de respostas
“sempre”
rápida
12.2 Comunicação das informações
Processo
Questionário
que afetam o diagnóstico do
% de respostas
“sempre”
paciente de forma clara e rápida
13. Repetições de prescrições verbais
13.1 Normas sobre prescrições
e abreviaturas
verbais
13.2 Repetição em voz alta das
Estrutura
Auditoria
Existência ou não das
Processo
Questionário
% de respostas
Processo
Questionário
% de respostas
Processo
Questionário
% de respostas
Processo
Prontuário
% de prescrições
normas
prescrições verbais recebidas
13.3 Transcrição das prescrições
“sempre”
verbais recebidas
13.4 Nunca fazer prescrições verbais
“sempre”
para a quimioterapia
13.5 Prescrições sem abreviaturas,
“nunca”
símbolos ou expressões de dose
conformes
não recomendadas (kappa = 0,65)
14. Identificação correta de exames
14.1 Protocolo para identificação de
diagnósticos
exames radiográficos
14.2 Radiografias simples
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Análise de outros
% de radiografias
documentos
conformes
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Questionário
% de respostas
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Prontuário
% de adesão
protocolo
identificadas corretamente (kappa
= 1,00)
15. Sistemas de alta
15.1 Protocolo de alta do paciente
**
15.2 Instruções de alta para o
protocolo
paciente **
16. Adoção segura de prontuário
16.1 Existência de sistema de
eletrônico
prontuário eletrônico **
16.2 Adesão à prescrição eletrônica
“sempre”
sistema
** (kappa = 0,91)
(continua)
da gestão da qualidade (centrado nas necessidades e expectativas dos usuários) 29.
O monitoramento de eventos adversos provavelmente se desenvolveu inspirado na experiência de sucesso da vigilância de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) 30, entretanto não considera uma diferença básica entre
os eventos adversos infecciosos e os não infecciosos: os primeiros têm surtos que demandam
intervenção imediata. Embora alguns eventos
adversos não infecciosos possam se configurar
como uma espécie de “surto” (erro de medicação
repetido sistematicamente em determinado ambiente), a maioria tem frequência relativamente
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
estável (na ausência de intervenções preventivas)
e fatores contribuintes conhecidos. Por exemplo,
sabe-se que pacientes idosos internados têm alto
risco de desenvolver úlceras por pressão, quedas e tromboembolismo; falta saber se estamos
prevenindo estes eventos, independente da sua
incidência local.
Um novo modelo teórico de mensuração
da segurança proposto em relatório da Health
Foundation recomenda complementar o monitoramento de eventos adversos, avaliando a
confiabilidade das estruturas e processos que
garantem a segurança, assim como determinar
a capacidade de antecipação da instituição em
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Tabela 1 (continuação)
Boa prática
Indicador (kappa)
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
Processo
Questionário
% de respostas
Grupo 5: gestão da medicação
17. Conciliação de medicamentos
17.1 Revisão de todos os
medicamentos utilizados pelo
“sempre”
paciente antes da prescrição
18. Estruturas e sistemas de liderança
18.1 Presença de farmacêutico 24
da farmácia
horas por dia
18.2 Protocolo de identificação,
Estrutura
Entrevista
Presença ou não do
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
farmacêutico
registro e comunicação de erros de
protocolo
medicação relacionados ao serviço
de farmácia
18.3 Protocolo para
Estrutura
Auditoria
armazenamento, conservação e
Existência ou não do
protocolo
reposição de medicamentos no
serviço de farmácia
18.4 Normas sobre a manutenção
Estrutura
Auditoria
Existência ou não das
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
dos carros de emergência
18.5 Protocolo para a identificação
normas
e reembalagem de medicamentos
protocolo
distribuídos em dose unitária
18.6 Armazenamento adequado
Processo
Observação direta
% de conformidade
Processo
Observação direta
% de conformidade
Processo
Observação direta
% de conformidade
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
Estrutura
Auditoria
Existência ou não das
dos medicamentos nas farmácias
satélites
18.7 Armazenamento adequado
de medicamentos e produtos nos
carros de emergência
18.8 Armazenamento adequado
dos medicamentos no serviço de
farmácia central
18.9 Lista de medicamentos
potencialmente perigosos
18.10 Normas sobre administração
lista
de medicamentos potencialmente
normas
perigosos
18.11 Normas sobre rotulagem e
Estrutura
Auditoria
armazenamento de medicamentos
Existência ou não das
normas
potencialmente perigosos
18.12 Acesso à dispensação de
Estrutura
Entrevista
medicamentos em dose unitária
% de leitos com
acesso
Grupo6:prevençãodeinfecções
relacionadas ao serviço de saúde
19. Higiene das mãos
19.1 Protocolo de higiene das mãos
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Estrutura
Observação direta
% de conformidade
Processo
Observação direta
% de contatos
Estrutura
Auditoria
Existência ou não das
Processo
Questionário
% de respostas “sim”
dos profissionais de saúde
19.2 Educação permanente sobre
protocolo
higiene das mãos
19.3 Infraestrutura para a higiene
curso
das mãos
19.4 Adesão à higiene das mãos
pelos profissionais de saúde
20. Prevenção de influenza
20.1 Normas sobre vacinação dos
conformes
profissionais contra influenza
20.2 Profissionais de saúde
normas
vacinados contra influenza
(continua)
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
9
10
Gama ZAS et al.
Tabela 1 (continuação)
Boa prática
Indicador (kappa)
21. Prevenção de infecção em
21.1 Normas sobre prevenção de
corrente sanguínea associada a
infecções associada a CVC
cateter venoso central
21.2 Manutenção segura de CVC
22. Prevenção de infecção do sítio
22.1 Protocolo para profilaxia
cirúrgico
antibiótica em cirurgias
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
Estrutura
Auditoria
Existência ou não das
Processo
Observação direta
% de CVC conformes
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Prontuário
% de cirurgias
normas
(kappa = 0,91)
22.2 Protocolo para preparo pré-
protocolo
operatório da pele e mucosas
22.3 Adequação da profilaxia
protocolo
antibiótica em cirurgias (kappa =
conformes
0,66)
22.4 Controle da normotermia em
Processo
Entrevista
Realização ou não do
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Estrutura
Auditoria
Existência ou não da
cirurgias de cólon e reto
23. Atenção ao paciente em
23.1 Protocolo para cuidados ao
ventilação mecânica
paciente em ventilação mecânica **
24. Prevenção de micro-organismos
24.1 Política de prevenção e
multirresistentes
controle de transmissão de
controle
protocolo
política
bactérias multirresistentes **
24.2 Adesão às precauções de
Processo
Observação direta
% de contatos
Processo
Prontuário
% de pacientes
contato **
24.3 Avaliação do risco de
conformes
infecção/colonização por bactérias
avaliados
multirresistentes ** (kappa = 0,94)
25. Prevenção de infecção urinária
25.1 Protocolo para prevenção
associada a cateter
de infecção urinária associada a
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
protocolo
cateter **
25.2 Educação para a inserção e
Estrutura
Auditoria
manutenção dos cateteres urinários
Existência ou não do
curso
**
25.3 Remoção do cateter vesical
Processo
Prontuário
nas primeiras 48 horas do pós-
% de pacientes com
remoção
operatório ** (kappa = 0,76)
Grupo7:práticasparacondições
específicaselocaisespecíficos
26. Prevenção de cirurgia errada, no
26.1 Protocolo para cirurgia segura
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
26.2 Utilização de lista de
Processo
Prontuário
% de utilização da lista
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Prontuário
% de pacientes
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Prontuário
% de pacientes
sítio ou paciente errado
protocolo
verificação de cirurgia segura **
(kappa = 1,00)
27. Prevenção de úlceras por pressão
27.1 Protocolo para prevenção de
úlcera por pressão
27.2 Avaliação do risco de úlcera
protocolo
por pressão (kappa = 1,00)
28. Prevenção de tromboembolismo
28.1 Protocolo para prevenção de
venoso
tromboembolismo venoso
28.2 Avaliação do risco de
tromboembolismo venoso (kappa
= 1,00)
(continua)
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
avaliados
protocolo
avaliados
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Tabela 1 (continuação)
Boa prática
29. Terapia de anticoagulante
Indicador (kappa)
29.1 Protocolo para a administração
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
segura de heparina mediante um
protocolo
nomograma
29.2 Avaliação do peso e função
Processo
Prontuário
renal antes do uso de heparina
% de pacientes
avaliados
(kappa = 1,00)
30. Prevenção de insuficiência renal
30.1 Protocolo para prevenção
induzida por contraste
de nefropatia aguda por uso de
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
protocolo
contraste iodado
30.2 Avaliação da função renal
Processo
Prontuário
prévia ao uso de contraste iodado
% de pacientes
avaliados
(kappa = 0,96)
30.3 Plano de prevenção de
Processo
Prontuário
nefropatia induzida por contraste
% de pacientes com
prevenção
iodado (kappa = 0,79)
31. Doação de órgãos
Não há indicadores
-
-
32. Controle da glicemia
Não há indicadores
-
-
-
33. Prevenção de quedas
33.1 Protocolo para prevenção de
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Processo
Prontuário
% de pacientes
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
quedas **
protocolo
33.2 Avaliação do risco de queda **
(kappa = 1,00)
34. Exame de imagem em pediatria
-
avaliados
34.1 Protocolo para ajuste da
dose em exames de tomografia
protocolo
computadorizada em pediatria **
CVC: cateter venoso central; UTI: Unidade de Terapia Intensiva.
* Os indicadores de estrutura são qualitativos em hospitais individuais (por exemplo, existência ou não de protocolo) e quantitativos em análises agregadas
(por exemplo, % de hospitais com protocolo);
** Indicador desenvolvido pela equipe técnica do Projeto ISEP-Brasil.
relação ao dano 1. Os indicadores deste projeto
atendem exatamente estas dimensões. Para cada
recomendação baseada em evidência, construíram-se indicadores de estrutura e processo. Estes
dois tipos de dados em conjunto fornecem uma
visão mais completa do nível de implantação de
boas práticas, já que a estrutura adequada facilita
o processo assistencial.
Respondendo a uma das perguntas contidas
ao final do referido relatório, sobre se existem dimensões mais importantes que outras, destacamos quatro vantagens dos indicadores desenvolvidos neste projeto, em relação aos indicadores
que medem o dano: (1) Maior utilidade para a tomada de decisão, uma vez que apontam, de forma direta, o que pode ser melhorado (intervenção gestora na estrutura e processo para interferir na sequência causal de eventos adversos); (2)
Mais simples para monitorar a evolução do nível
de segurança e comparação entre instituições,
pois, em face de não sofrerem influência do casemix de cada hospital por seu objetivo ser sempre
100%, não precisam de ajustes ao risco para sua
interpretação e comparação; (3) Mais sensíveis
e específicos para detectar problemas de segurança quando o evento é relativamente pouco
frequente. Por exemplo, o indicador do protocolo
de cirurgia segura “número de cirurgias em local
ou paciente errado” 25 pode dar resultado zero
durante milhares de procedimentos e essa ausência de desfechos adversos não significar redução do risco de dano se a “adesão ao checklist de
cirurgia segura” 31 não estiver em níveis ótimos,
um indicador que, por outro lado, pode ser avaliado em cada procedimento cirúrgico; e (4) Mais
apropriados para o desenvolvimento de recursos
humanos mediante o pagamento de incentivos à
segurança 32, visto que premiar profissionais ou
serviços de saúde baseados em baixos níveis de
eventos adversos pode incentivar a ausência de
informação, perpetuando uma cultura que não
valoriza a notificação de incidentes para a aprendizagem contínua. Deve-se incentivar o aumento
da notificação e a presença da segurança com base na implantação de práticas seguras fundadas
em evidência.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
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Gama ZAS et al.
Tabela 2
Características dos indicadores (tipo de dado, fonte e cálculo) não aprovados e motivo da exclusão.
Boa prática
Indicador
Tipo de dado
Fonte
Cálculo *
Processo
Auditoria
% de prescrições
Grupo 5: gestão da medicação
18. Estruturas e sistemas de
Validação de prescrições médicas
liderança da farmácia
pelo serviço de farmácia antes da
validadas
dispensação
Motivo de exclusão: impossível de medir nos três hospitais porque não havia registros do número de
prescrições validadas prévio à dispensação em relação ao total de prescrições dispensadas
Protocolo para armazenamento,
Estrutura
Auditoria
conservação e reposição de
Existência ou não do
protocolo
medicamentos nos postos de
enfermagem
Motivo de exclusão: impossível de medir nos três hospitais porque não se armazenavam medicamentos nos
postos de enfermagem, apenas em farmácias central e satélites. Uma possível adaptação seria aplicá-lo às
farmácias satélites
Falhas na rotulagem de medicamentos
Processo
Auditoria
% de falhas
preparados pelo serviço de farmácia
Motivo de exclusão: indicador referido pelos avaliadores como de difícil medição. A nutrição parenteral era
terceirizada nos três hospitais, não se preparavam fórmulas magistrais e os citostáticos e misturas intravenosas
eram preparados apenas em um dos hospitais
Grupo6:prevençãodeinfecções
relacionadas ao serviço de saúde
21. Prevenção de infecção em
Inserção segura de CVC
corrente sanguínea associada a
Motivo de exclusão: indicador fortemente recomendado, porém não medido devido à necessidade de ter um
Processo
Observação direta
% de falhas
cateter venoso central
avaliador à disposição do projeto para a observação prospectiva a cada inserção de cateter. Poderia ter sido
autoavaliado pela equipe dos hospitais, mas não houve esta disponibilidade
23. Atenção ao paciente em
Adesão às medidas de prevenção de
ventilação mecânica
pneumonia associada à ventilação
Processo
Prontuário
% de adesão às
medidas
mecânica
Motivo de exclusão: indicador fortemente recomendado, porém não avaliado no contexto dos três hospitais
pela impossibilidade de identificar de forma rápida e fácil uma lista de prontuários dos pacientes submetidos à
ventilação mecânica
Grupo7:práticasparacondições
específicaselocaisespecíficos
27. Prevenção de úlceras por
Mudança de decúbito conforme o risco
pressão
de úlceras por pressão
Processo
Prontuário
% de pacientes com
prevenção
Motivo de não inclusão: indicador recomendado, porém de difícil medição por ser do tipo sequencial,
necessitando a conformidade de um indicador prévio (avaliação do risco de úlceras de pressão) e ainda
dependendo do seu resultado (risco suficientemente alto), para que o caso cumprisse o critério de inclusão para
análise. O excesso de não conformidades no indicador prévio e de riscos baixos nos casos de conformidade
tornava necessárias novas seleções de amostra para a análise, inviabilizando a medida rápida e fácil do
indicador
32. Controle de glicemia
Protocolo para controle de glicemia
Estrutura
Auditoria
Existência ou não do
Avaliação da glicemia
Estrutura
Auditoria
% de pacientes
protocolo
avaliados
Motivo de não inclusão: apesar da recomendação do NQF, evidências recentes 19 demonstram que o controle
intensivo tem de moderada a alta evidência de não efetividade para prevenir morte e infecções, além de ainda
haver alto risco de dano (hipoglicemia)
CVC: cateter venoso central; NQF: National Quality Forum.
* Os indicadores de estrutura são qualitativos em hospitais individuais (por exemplo, existência ou não de protocolo) e quantitativos em análises agregadas
(por exemplo, % de hospitais com protocolo).
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
A validade dos indicadores desenvolvidos
neste projeto é um aspecto necessário para a sua
utilização como instrumentos de medida da segurança. Para medir o que se propõem, devem
estar relacionados ao conteúdo segurança do
paciente (validade de conteúdo) e ter provas de
sua relação com a prevenção de eventos adversos
(validade de critério). A validade dos indicadores
de estrutura e processo é proporcional ao nível
da evidência que sustenta as recomendações
medidas por eles.
Neste sentido, o NQF selecionou 34 boas
práticas por critérios de evidência científica de
pesquisas clínicas, dados experimentais que
mostram que a prática é “obviamente benéfica”
ou resultados de pesquisas do setor industrial
extrapoláveis para a área da saúde 18. A base para
as evidências do NQF foi a revisão sistemática da
AHRQ Making Health Care Safer: A Critical Analysis of Patient Safety Practices 33, recentemente
atualizada em 2013 19. A análise da validade de
critério dos indicadores pelo painel de especialistas limitou-se à revisão de estudos originais,
principalmente os utilizados nestas referências.
Os indicadores desenvolvidos para os três
primeiros grupos de recomendações do NQF referem-se a 11 boas práticas sobre aspectos organizacionais associados à segurança do paciente,
tais como a promoção de cultura de segurança,
uso adequado de consentimento informado,
respeito às preferências de pacientes terminais,
política de comunicação (disclosure) de eventos
adversos e atenção justa ao profissional envolvido em incidentes. A validade dessas práticas
sustenta-se por elas terem relação lógica com a
segurança e por decorrerem do aprendizado em
outros setores com tradição em segurança. Os
indicadores para as outras 23 boas práticas baseiam-se em estudos que analisaram a relação
de sua implantação com resultados em saúde 18.
Quanto às implicações práticas para os hospitais brasileiros, a medição periódica dos 75
indicadores fornecerá um panorama completo
da segurança hospitalar. Apesar de parecerem
muitos, o estudo-piloto mostrou que dois profissionais de saúde qualificados conseguem medi-los em três dias. A variedade de indicadores
abrange diversos aspectos relacionados à assistência ao paciente; em adição, a segurança não
pode ser encapsulada em uma única medida.
Tal abordagem reducionista pode levar a uma
falsa sensação de confiança 1. Segundo Vicent et
al. 1 (p. 71), uma “medida única da segurança é
uma fantasia”.
O monitoramento deve abranger os serviços
implantados, revezando periodicamente os temas avaliados, mas sempre buscando identificar
fragilidades que precisam de ciclos de avaliação
e melhoria ou intervenção direta 12,34. Este é um
desafio para o sistema de saúde brasileiro, considerando a frase de Berwick (2013) sobre a baixa
capacidade para analisar, monitorar e aprender
com as informações sobre qualidade e segurança
do paciente 35.
Os resultados também constituem uma provocação e estímulo a políticas de saúde nacionais. Em iniciativas do PNSP 11 e do Programa
Nacional de Prevenção e Controle de Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde (PNPCIRAS)
36, predomina o conceito antigo de segurança que
restringe o monitoramento aos eventos adversos,
sendo, no primeiro programa, mediante enfase
inicial às notificações de eventos e, no segundo,
mediante a implantação de sete indicadores, seis
de resultado e apenas um de processo. Essas iniciativas de monitoramento lideradas pelo Ministério da Saúde e pela ANVISA são importantes,
porém insuficientes para as urgências da segurança do paciente. Por exemplo, o documento de
referência do PNSP 37 sugere o monitoramento
de número de núcleos, implantação de protocolos básicos, entre outros, mas esta ação não foi
iniciada ou divulgada após mais de dois anos da
implantação do programa.
Em nossa revisão, identificamos indicadores
de estrutura e processo relacionados com as 34
recomendações do NQF. Internacionalmente,
foram 107 do National Quality Measures Clearinghouse (NQMC) 38, 69 do ISEP-Espanha 20
e 25 do NQF 18. Nacionalmente, foram 28 da
ANVISA 39,40, cinco do Programa Nacional de
Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS) 41 e cinco do Programa de Qualificação de Prestadores
de Serviços de Saúde (QUALISS) 42. Não há indicadores de segurança no Projeto de Avaliação de
Desempenho de Serviços de Saúde (PROADESS;
http://www.proadess.icict.fiocruz.br, acessado
em 11/Ago/2015), no Índice de Desempenho do
Sistema Único de Saúde (IDSUS; http://idsus.
saude.gov.br, acessado em 11/Ago/2015), nem
no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e
Qualidade na Atenção Básica (PMAQ-AB) 43. Recentemente, o Proqualis 25 divulgou indicadores
avaliados e selecionados por especialistas brasileiros para monitoramento da segurança do
paciente em hospitais de casos agudos, todavia
a confiabilidade e viabilidade de tais indicadores
ainda não foram verificadas em estudo-piloto.
Sessenta e sete dos indicadores são de resultado
e 33 de processo, não havendo de estrutura. Estão inclusos aqueles de gineco-obstetrícia (sete
de resultado; três de processo), de prevenção e
controle de infecções (24 de resultado; dois de
processo), clínicos (10 de resultado; 15 de processo), UTI adulto (cinco de resultado; três de
processo), anestesia (13 de resultado; três de
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13
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Gama ZAS et al.
processo) e cirurgia e medicação (oito de resultado; 17 de processo).
Alguns limites do presente projeto devem ser
destacados. A análise da validade de critério pelo
painel de especialistas foi indireta, tendo como
base os estudos que sustentam as recomendações dos indicadores, e o nível de evidência de
algumas recomendações é baixo (consenso por
“relação lógica” com a segurança do paciente).
Quanto à confiabilidade, somente 18 dos 75
indicadores foram testados, sendo necessários
futuros testes para os outros indicadores.
Além disso, a necessidade de indicadores de
boas práticas não significa abandonar outros indicadores, pois as estruturas e processos avaliados, apesar de importantes, não medem diretamente o objetivo último dos serviços de saúde,
que são os bons resultados. Também deve haver
precaução no caso das IRAS, pois a medição de
resultados por meio de vigilância constante é
fundamental para a intervenção em surtos.
Por outro lado, há inúmeros desafios em
olhar “o que está acontecendo” por intermédio
de indicadores, uma vez que medidas diferentes avaliam alguns aspectos em detrimento de
outros. Apesar das vantagens dos indicadores de
processo, estes podem ser perigosos, na medida
em que criam um engessamento de práticas particulares que, em sequência, desencadeiem uma
prática inadequada. Por exemplo, a recomendação de controle intensivo da glicose em pacientes de UTI posteriormente demonstrou-se uma
prática insegura, visto que o controle exacerbado
não impactava na mortalidade e infecções e ainda aumentava o risco de hipoglicemia por excesso de prescrição de insulina 44.
As fontes de dados também podem levar a
vieses de informação relacionados ao efeito
Hawthorne nos indicadores observacionais 45,
ao mau preenchimento de registros naqueles
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
mediante revisão de prontuário 46 e a respostas
não fidedignas nos indicadores de questionários
aos profissionais. Ademais, os indicadores sobre
aspectos estruturais, físicos ou organizacionais
(normas, protocolos, força de trabalho), apesar
de serem condições necessárias, não são suficientes para a segurança do paciente. Conforme
Donabedian 47, apenas o processo é uma medida direta da qualidade, pois a estrutura pode
não ser utilizada, e o resultado pode surgir por
múltiplos fatores.
Futuras pesquisas podem verificar o nível
de implementação das práticas seguras, estratégias para melhorar a adesão, influência do
contexto na implementação (liderança, cultura
organizacional, tamanho dos hospitais, tipo de
gestão pública ou privada, financiamento etc.)
e desenvolvimento de tecnologias que auxiliem
o monitoramento fácil e rápido de práticas para
a segurança do paciente. Descobrir estratégias
úteis para gerar informação sobre a qualidade
e segurança do paciente é um esforço que deve
ser compartilhado pela comunidade científica da
saúde coletiva brasileira.
Conclusões
Este projeto contribui para a saúde coletiva e a
gestão de sistemas e serviços de saúde no Brasil.
Os indicadores de boas práticas desenvolvidos
foram aprovados quanto à validade para medir a
segurança do paciente em hospitais brasileiros.
O processo de validação pode ser complementado com análises diretas da validade de critério e
da viabilidae e confiabilidade destes indicadores
em diferentes regiões do país.
INDICADORES DE BOAS PRÁTICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE
Colaboradores
Agradecimentos
Z. A. S. Gama participou da concepção, projeto, análise
e interpretação dos dados; redação do artigo e revisão
crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação da
versão a ser publicada. P. J. Saturno-Hernández colaborou na concepção, projeto, análise e interpretação dos
dados; revisão crítica relevante do conteúdo intelectual
e aprovação da versão a ser publicada. D. N. C. Ribeiro
contribuiu na análise e interpretação dos dados; redação do artigo e aprovação da versão a ser publicada. M.
R. Freitas, P. J. Medeiros, A. M. Batista, A. F. G. Barreto,
B. F. Lira, C. A. S. Medeiros, C. C. C. S. Vasconcelos, E.
M. M. Silva, E. D. B. Faria, J. F. Dantas, J. G. Neto Júnior,
L. C. L. Medeiros, M. A. Sicolo, P. C. B. Fonseca, R. M. M.
Costa, F. S. Monte e V. Melo Neto colaboraram na análise
e interpretação dos dados; redação do artigo e revisão
crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação da
versão a ser publicada.
Agradecimento à Fundação de Apoio à Pesquisa do
Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN), Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e CT-INFRA.
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Abstract
Resumen
Efficacious patient safety monitoring should focus on
the implementation of evidence-based practices that
avoid unnecessary harm related to healthcare. The
ISEP-Brazil project aimed to develop and validate indicators for best patient safety practices in Brazil. The
basis was the translation and adaptation of the indicators validated in the ISEP-Spain project and the
document Safe Practices for Better Healthcare (U.S.
National Quality Forum), recommending 34 best practices. A 25-member expert panel validated the indicators. Reliability and feasibility were based on a pilot
study in three hospitals with different management
formats (state, federal, and private). Seventy-five best
practice indicators were approved (39 structure; 36
process) for 31 of the 34 recommendations. The indicators were considered valid, reliable, and useful for
monitoring patient safety in Brazilian hospitals.
Un monitoreo eficaz de la seguridad del paciente necesita centrarse en la implantación de prácticas basadas
en evidencias que eviten daños innecesarios, relacionados con la asistencia a la salud. El objetivo del Proyecto ISEP-Brasil fue desarrollar y validar indicadores
de buenas prácticas de seguridad del paciente para el
contexto brasileño. Tomó como base la traducción y
adaptación de los indicadores validados en el Proyecto
ISEP-España y el documento Safe Practices for Better
Healthcare del National Quality Forum de los Estados Unidos, que posee 34 recomendaciones de buenas
prácticas. Se realizó la validación mediante una selección de 25 especialistas y análisis de confiabilidad y
viabilidad, en un estudio piloto en tres hospitales con
diferentes tipos de gestión (estatal, federal y privada).
Se aprobaron 75 indicadores de buenas prácticas (39
de estructura; 36 de proceso) para 31 de las 34 recomendaciones. Los indicadores fueron considerados
válidos, confiables y útiles para el monitoreo de la seguridad del paciente en hospitales brasileños.
Patient Safety; Health Care Quality Indicators;
Safety Management
Seguridad del Paciente; Indicadores de Calidad de la
Atención de Salud; Gestión de la Seguridad
Recebido em 20/Feb/2015
Versão final reapresentada em 07/Out/2015
Aprovado em 10/Dez/2015
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00026215, set, 2016
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