FICHA TÉCNICA
Editor:
Universidade dos Açores
Rua da Mãe de Deus, 13-A
9501-801 PONTA DELGADA
São Miguel - Açores
Título:
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - PICO 2005
Colecção:
Relatórios e Comunicações do Departamento de Biologia, nº 34
Introdução, coordenação e edição:
João António Cândido Tavares & Duarte Soares Furtado
Data: 2006
Depósito Legal: 243587/06
ISBN: 972-8612-29-X
Capa:
Duarte Soares Furtado
Execução Gráfica:
Tipografia Aníbal
Tiragem:
400 exemplares
RELATÓRIOS E COMUNICAÇÕES DO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
34
XII Expedição Científica
do
Departamento de Biologia
PICO 2005
por
JOÃO ANTÓNIO CÂNDIDO TAVARES
&
DUARTE SOARES FURTADO
(introdução, coordenação e edição)
PONTA DELGADA
2006
Índice
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 7
FOTO DE GRUPO ................................................................................................................ 9
PARTICIPANTES ................................................................................................................ 11
Estudos
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E GEOLÓGICA DA FAJÃ LÁVICA DAS
LAJES DO PICO (AÇORES). CONDICIONANTES E VULNERABILIDADES ASSOCIADAS À ARRIBA FÓSSIL, por JOÃO C. NUNES, EVA A. LIMA & JOÃO FONTIELA ..... 15
SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ZONAS BALNEARES DA ILHA
DO PICO (AÇORES), por JOÃO PORTEIRO, HELENA CALADO, PEDRO MONTEIRO,
ANTÓNIO MEDEIROS, ANDREA BOTELHO, LUZ PARAMIO, SUSANA LACERDA,
MARCO SANTOS, JOANA CADETE & ANA MOREIRA ................................................... 21
DOENÇA DE MACHADO-JOSEPH NA ILHA DO PICO (AÇORES), por MANUELA
LIMA, MERCÊS MACIEL, TERESA KAY, CONCEIÇÃO BETTENCOURT & JOÃO
VASCONCELOS ................................................................................................................ 37
PESQUISA DE AGENTES ENTOMOPATOGÉNICOS NA ILHA DO PICO (AÇORES),
por JOSÉ S. ROSA ............................................................................................................. 39
RECOLHA DE AMOSTRAS DE SOLO NAS ILHAS DO PICO E FAIAL PARA ISOLAMENTO DE BACTÉRIAS E NEMÁTODES ENTOMOPATOGÉNICOS, por RAFAEL
MONTIEL, GISELA NASCIMENTO & RICARDO FERREIRA ............................................ 43
DISTRIBUIÇÃO DOS MOLUSCOS TERRESTRES DA ILHA DO PICO (AÇORES) E
VARIABILIDADE DE OXYCHILUS (DROUETIA) MINOR (MORELET, 1860), por
ANTÓNIO M. DE FRIAS MARTINS, REGINA TRISTÃO DA CUNHA, MARIA HELENA
SOUSA & PAULO JORGE MELO ...................................................................................... 53
CONSERVAÇÃO DA AVIFAUNA DA ILHA DO PICO, por FÁTIMA M. MEDEIROS,
RITA MELO, CARINA CARDOSO, NATÉRCIA VITÓRIA & DONZÍLIA NUNES ................. 69
NOVOS DADOS SOBRE LEPIDOPTERA E HYMENOPTERA (INSECTA) DA ILHA
DO PICO, AÇORES, por JOÃO TAVARES, LUÍSA OLIVEIRA, VIRGÍLIO VIEIRA,
JEREMY MCNEIL & ROSA MARTINS ................................................................................ 77
NEW RECORDS OF COCCINELLIDAE (COLEOPTERA) TO THE AZORES ISLANDS,
por ANTÓNIO O. SOARES, ISABEL BORGES, SUSANA CABRAL, HELENA
FIGUEIREDO & ROBERTO RESENDES .......................................................................... 87
CONTRIBUIÇÃO PARA A CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS INTERIORES DE
SUPERFÍCIE DA ILHA DO PICO, por VITOR GONÇALVES, PEDRO M. RAPOSEIRO,
ANA I. COUTO, RUI M. COSTA, FILIPA ROCHA, XAVIER WATTIEZ, DAVID
CAMMAERTS & JOSÉ M. N. AZEVEDO ............................................................................ 93
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 6
BREVE CARACTERIZAÇÃO DA FLORA VASCULAR PICOENSE, por MARIA JOÃO
PEREIRA, DUARTE FURTADO, SANDRA GOMES, CARLOS MEDEIROS, HELENA
CÂMARA, MATHIAS OGONOVSKY, RAFAEL ARRUDA, ADRIANO CORDEIRO,
ELISA TELHADO & DAVID COELHO .............................................................................. 107
CATÁLOGO DAS PLANTAS VASCULARES DA ILHA PICO, por MARIA JOÃO
PEREIRA, DUARTE FURTADO, SANDRA GOMES, NATÁLIA CABRAL, CARLOS
MEDEIROS, HELENA CÂMARA, MATHIAS OGONOVSKY, RAFAEL ARRUDA,
ADRIANO CORDEIRO, ELISA TELHADO & DAVID COELHO ........................................ 121
AMOSTRAGEM ALTITUDINAL DA FLORA VASCULAR E DA VEGETAÇÃO NA
MONTANHA DO PICO, por LUÍS SILVA, NUNO CORDEIRO, XÈNIA ILLAS &
ASUNCIÓN MARTINEZ .................................................................................................... 211
CARACTERIZAÇÃO DO HABITAT DE LOTUS AZORICUS P. W. BALL NA ILHA DO
PICO, por LUÍS SILVA, NUNO CORDEIRO, XÈNIA ILLAS & ASUNCIÓN MARTINEZ ... 219
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DO FETO COMUM PTERIDIUM AQUILINUM, NA
ILHA DO PICO, por XÈNIA ILLAS, LUÍS SILVA, NUNO CORDEIRO, ASUNCIÓN
MARTÍNEZ & CARLOS PINTO ........................................................................................ 227
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE PITTOSPORUM UNDULATUM VENTENAT NA
ILHA DO PICO (AÇORES), por NUNO CORDEIRO, LUÍS SILVA, XÈNIA ILLAS &
ASUNCIÓN MARTINEZ ................................................................................................... 235
LEVANTAMENTO DA FLORA VASCULAR EM DIFERENTES HABITATS DA ILHA
DO PICO (AÇORES), por CARLOS MEDEIROS, HELENA GAGO DA CÂMARA,
MARIA JOÃO PEREIRA, DUARTE FURTADO, SANDRA GOMES, MATHIAS
OGONOVSKY, RAFAEL ARRUDA, ADRIANO CORDEIRO, ELISA TELHADO &
DAVID COELHO ............................................................................................................... 245
ACTIVIDADES REALIZADAS PELO CCPA NO DECORRER DA XII EXPEDIÇÃO
CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA - PICO/2005, por MARIA A.
VENTURA, REGINA T. CUNHA, MARIA H. S. SOUSA, JOAQUIM TEODÓSIO,
CARLOS LEAL, ADRIANO QUINTELA, BRUNO SIMÕES, SARA D. PERES, BEATRIZ
LÁZARO, ROBERTO RESENDES, SANDRA MONTEIRO & SANDRA FERREIRA ... 263
APRESENTAÇÃO
Prosseguindo com os objectivos estatutários da Universidade dos Açores, no que
respeita à criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência e da tecnologia na Região
Autónoma dos Açores, o Departamento de Biologia realizou entre 6 e 15 de Junho de 2005
a XII EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA/PICO 2005, à
segunda maior ilha em área territorial do Arquipélago dos Açores e que no passado foi
objecto da I e VII Expedições (1977 e 1991, respectivamente).
O Departamento de Biologia desenvolve actividades de ensino, investigação e
prestação de serviços à comunidade em diversas áreas especializadas da Biologia e da
Geografia, fundamentalmente na sua sede no Campus Universitário de Ponta Delgada,
mas a sua actividade exige que se ultrapasse o limite da sede e ilha, ao serviço da
comunidade e da ciência.
Sendo desejável que esta actividade não fique somente consignada àquele espaço,
mas abranja sempre que possível as restantes ilhas do arquipélago dos Açores, torna-se
necessário ultrapassar diversas condicionantes de natureza financeira e logística, que
viabilizem a continuação da actividade nas outras ilhas. Daí a importância do projecto
“Expedições Científicas do Departamento de Biologia”, de interesse público, e um dos mais
antigos da Universidade dos Açores, que existe desde o início da actividade do
Departamento, e que é um dos projectos mais acarinhados pela sociedade açoriana, tendo
em conta que tem reunido os mais diversos apoios a nível institucional, quer no domínio
público, quer no privado.
Ao deslocar-se para uma outra ilha do arquipélago dos Açores durante alguns dias,
uma parte dos recursos humanos e materiais, assim como cientistas e técnicos de outras
instituições, internacionais, nacionais e regionais, que ao longo dos últimos anos têm
colaborado com a instituição, o seu corpo de cientistas pretende desenvolver uma série de
estudos, baseados no aprofundar do saber e do conhecimento sobre a vida que nos acolhe
e rodeia nesta parcela do mundo. Também é nossa missão como docentes e
investigadores, após um complexo processo de transmissão de saber, participar em
trabalhos de campo com os nossos alunos dos diferentes graus, desde a licenciatura ao
doutoramento, partilhando aí experiências, praticando interacções com outras áreas
científicas e aprofundando as colaborações com outras instituições.
Neste contexto, o projecto XII Expedição Científica do Departamento de Biologia à
ilha PICO, em 2005, foi desenvolvido no campo por um corpo de 86 expedicionários,
repartidos por 12 equipas, cada uma com plano de trabalhos nas seguintes áreas:
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 8
Conservação e Ambiente; Biologia dos Vertebrados; Botânica; Geografia Física e Humana;
Ecologia Animal; Ecologia Vegetal; Ecologia Aquática; Entomologia e Luta
Biológica; Genética Humana, Geologia/Vulcanologia; Malacologia; Nematologia. Como apoio
logístico a expedição contou com a presença de diversos motoristas e técnicos de
áudio-visuais. De salientar que 6 das viaturas que foram utilizadas foram cedidas por
diferentes serviços públicos da Ilha do Pico. Pela dimensão dos recursos envolvidos, esta
foi a maior expedição científica até agora organizada pelo Departamento de Biologia.
A XII Expedição Científica do Departamento de Biologia à ilha do Pico ficou sedeada
no Parque de Campismo das Furnas de Santo António, cedido pela Câmara Municipal de
São Roque do Pico, ficando os expedicionários instalados em 25 tendas de campismo do
Serviço Regional da Protecção Civil da Região Autónoma dos Açores. Esta expedição
contou com apoio das três Câmaras Municipais do Pico: Lajes, Madalena e São Roque do
Pico; dos Serviços Agrícolas e Florestais do Pico; e das delegações dos Serviços Regionais
do Ambiente, da Economia, do Equipamento Social, sedeadas naquela ilha.
A par das actividades de campo e como extensão da investigação científica, tiveram
lugar diversas “Acções de Sensibilização Ambiental”, promovidas pelo CCPA (Centro de
Conservação e Protecção do Ambiente) e pela Ecoteca da ilha do Pico, um “Ciclo de
Conferências” organizadas por esta expedição e pelas 3 Câmaras Municipais da ilha do
Pico, onde foram proferidas 14 conferências sobre o ambiente, a fauna e a flora, destinadas
aos estudantes do ensino secundário, aos agricultores e aos técnicos da agricultura,
ambiente e florestas. Realizou-se ainda um Workshop sobre “preparação de colecções de
coleópteros coccinelídeos”, promovido pela Secção de Ecologia do Departamento de
Biologia. Salienta-se que qualquer uma destas actividades esteve aberta à participação da
população em geral.
São os primeiros resultados da actividade desenvolvida durante esta expedição, à
semelhança das anteriores expedições, que mais uma vez apresentámos num número
especial da série Relatórios e Comunicações do Departamento de Biologia.
A todos, que participaram ou apoiaram o evento, o nosso reconhecido agradecimento.
Ponta Delgada, 5 de Maio de 2006.
O Presidente da Comissão Organizadora,
JOÃO TAVARES
Investigador Coordenador
Director do Departamento de Biologia
Grupo de docentes, investigadores, técnicos e auxiliares, participantes na XII Espedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005
PARTICIPANTES
Membros da Universidade dos Açores
Docentes/Investigadores
Prof. Catedrático ANTÓNIO FRIAS MARTINS
Investigador Coordenador JOÃO TAVARES
Prof a Auxiliar FÁTIMA MEDEIROS
Prof a Auxiliar MANUELA LIMA
Investigadora Auxiliar LUÍSA OLIVEIRA
Prof a Auxiliar REGINA TRISTÃO DA CUNHA
Prof a Auxiliar MARIA JOÃO PEREIRA
Prof. Auxiliar LUÍS DIAS E SILVA
Prof. Auxiliar ANTÓNIO ONOFRE SOARES
Prof a Auxiliar HELENA CALADO
Prof. Auxiliar JOÃO MORA PORTEIRO
Prof. Auxiliar JOSÉ SILVINO ROSA
Prof a Auxiliar ANUNCIAÇÃO VENTURA
Prof. Auxiliar JOÃO CARLOS NUNES
Prof a Auxiliar ZILDA FRANÇA
Licenciado VITOR COSTA GONÇALVES
Doutor RAFAEL MONTIEL DUARTE
Funcionários/Agentes
Doutor VIRGÍLIO VIEIRA
Engenheiro Técnico DUARTE SOARES FURTADO
Licenciada ANA ISABEL COUTO
Licenciada ANDREA ZITA BOTELHO
Licenciado ADRIANO QUINTELA
Licenciada ASUNCIÓN GONZÁLEZ MARTINEZ
Licenciada JOANA CADETE
Licenciada MARIA LUZ MARTIN
Licenciado NUNO CIPRIANO CORDEIRO
Licenciada PAULA CRISTINA LOURENÇO
Licenciado PEDRO RAPOSEIRO
Licenciado RUI SOARES COSTA
Licenciada SANDRA ALMEIDA GOMES
Licenciada SUSANA CABRAL
Licenciada SUSANA LACERDA
Licenciada XENIA ILLAS LINARES
Técnica Profissional HELENA FIGUEIREDO
Técnico Profissional PAULO JORGE MELO
Técnico Profissional ROBERTO RESENDES
Técnico CARLOS LEAL
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 12
Técnica SANDRA MONTEIRO
Operador de Meios Audiovisuais EMANUEL PACHECO
Operador de Reprografia TOMAZ CARVALHO DE SOUSA
Assistente Administrativa Especialista MARIA C. VIEIRA
Motorista JOSÉ MANUEL TAVARES
Motorista JOSÉ VIVEIROS
Carpinteiro Principal RICARDO MACEDO
Pintor Principal PEDRO SOUSA
Alunos
Aluno ADRIANO CORDEIRO
Aluno BRUNO TEIXEIRA
Aluno DAVID VIEGAS COELHO
Aluno MARCO ANTÓNIO SANTOS
Aluno PEDRO SOARES MONTEIRO
Aluno RAFAEL SOUSA ARRUDA
Aluna CARINA SOUSA CARDOSO
Aluna NATÉRCIA VARGAS VITÓRIA
Aluna DONZÍLIA NUNES
Aluna ELIZA TELHADO
Aluna MARIA HELENA COSTA SOUSA
Aluna RITA SOUSA MELO
Licenciada ANA MOREIRA
Licenciado BRUNO SIMÕES
Licenciada EVA ALMEIDA LIMA
Licenciada FILIPA SOARES ROCHA
Licenciada GISELA NASCIMENTO
Licenciada ISABEL MATEUS BORGES
Licenciado JOÃO GUILHERME FIGUEIREDO
Licenciado JOÃO MIRANDA NEIVA
Licenciada HELENA MACHADO PRISCA
Licenciada PATRÍCIA GOMES MADEIRA
Licenciado PAULO RUI LARANJEIRA
Licenciada SARA DUARTE PERES
Licenciado RICARDO DUARTE FERREIRA
Membros de outras instituições
Professeur Titulaire JEREMY McNEIL
Mestre BEATRIZ BERNARD LÁZARO
Licenciado CARLOS RODRIGUES MEDEIROS
Licenciado CAMMAERTS DAVID
Licenciada DÁLIA CRISTINA LEAL
Licenciado JOAQUIM MANUEL TEODÓSIO
Licenciada HELENA GAGO DA CÂMARA
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 13
Licenciada ROSA LOBATO MARTINS
Licenciado MANUEL SOARES COSTA
Licenciada MARIA CAROLINA ARRUDA MEDEIROS
Licenciada MARIA HELENA SOARES DE SOUSA
Licenciada MARIA JOSÉ BETTENCOURT
Licenciada MARIA MANUELA MARTINS
Licenciado WATTIEZ XAVIER
Vigilante da Natureza FILIPE CORREIA
Foto-jornalista PEDRO MIGUEL MONTEIRO
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E GEOLÓGICA
DA FAJÃ LÁVICA DAS LAJES DO PICO (AÇORES).
CONDICIONANTES E VULNERABILIDADES ASSOCIADAS
À ARRIBA FÓSSIL
JOÃO C. NUNES, EVA A. LIMA & JOÃO FONTIELA
Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
INTRODUÇÃO
Do ponto de vista morfo-vulcânico, a ilha do Pico compreende três zonas distintas:
1) um imponente estratovulcão que domina todo o sector ocidental da ilha, a Montanha do
Pico; 2) um segundo edifício vulcânico central, do tipo vulcão em escudo, o vulcão do Topo
e 3) uma extensa cordilheira vulcânica com 29 km de comprimento e orientação geral
WNW-ESSE, o Planalto da Achada, que se desenvolve entre a zona central da ilha e o seu
extremo oriental e que inclui cerca de 170 cones de escórias e escoadas lávicas associadas
(Nunes, 1999 e França, 2000).
Na zona centro-meridional da ilha do Pico, nas proximidades das Lajes,
localizam-se os restos de um edifício vulcânico do tipo central, de declives suaves e em
geral muito degradado: o vulcão do Topo. Este vulcão (1022 m de altitude máxima)
apresenta, relativamente aos fundos marinhos envolventes, alturas na ordem dos 2500 m e
corresponde a um vulcão em escudo, constituído quase exclusivamente por escoadas lávicas
muito fluidas, onde o volume de materiais piroclásticos é muito reduzido (<5%).
A área aflorante do vulcão do Topo está actualmente restrita sensivelmente entre a
Ribeira do Meio e Arrife, a que corresponde uma área total de cerca de 18 km2 e um volume
subaéreo inferido de aproximadamente 8 km3 (Nunes, 1999). No entanto, tomando-se uma
altitude máxima para este vulcão de cerca de 1000 m (e.g. região da Caldeira de Santa
Bárbara), poderá deduzir-se um diâmetro da base de cerca de 6 km para o respectivo cone
vulcânico, a que corresponderia uma área estimada em cerca de 120 km2, na sua grande
maioria coberta por produtos vulcânicos mais recentes emitidos dos centros eruptivos que
integram o Planalto da Achada.
Apesar da sua reduzida representação topográfica e do grau de erosão e alteração
evidenciado pelas suas formações geológicas, é possível identificar a presença de 8 cones
de escórias e de um cone de spatter nos flancos do vulcão do Topo, na sua maioria
implantados em estruturas tectónicas radiais ao edifício vulcânico. Estão entre estes
vulcões monogenéticos o Cabeço Geraldo e o cone de spatter responsável pela emissão
das lavas que originaram o delta lávico (ou fajã lávica) das Lajes do Pico: o “cone 405”.
Com o presente trabalho pretende-se apresentar as principais características
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 16
genéticas e evolutivas desta fajã lávica e da arriba fóssil que lhe está associada. Na medida
em que esta arriba evidencia alguns troços de elevado declive e, simultaneamente, alguma
instabilidade, passam-se em revista algumas das condicionantes que coloca,
designadamente, no que diz respeito ao ordenamento do espaço físico na sua envolvente.
Para tal, elaborou-se um Modelo Digital de Terreno da zona em apreço e, a partir duma
análise in situ e de ortofotomapas da zona, faz-se a análise sumária de vulnerabilidades
associadas.
GEOLOGIA E VULCANOLOGIA DA FAJÃ LÁVICA DAS LAJES DO PICO
O spatter cone “405” está localizado a SW do Cabeço Geraldo, possui fraca
expressão morfológica e constitui o centro eruptivo das lavas muito fluidas (do tipo pahoehoe)
que constituem a zona mais recente da fajã lávica da vila das Lajes. Com efeito, esta
escoada lávica (porfírica, com numerosos fenocristais de plagioclase), cuja caracterização
e quantificação estão resumidas na Tabela 1, corresponde à erupção mais recente do vulcão
do Topo, de idade holocénica e terá ocorrido há cerca de 5 000 a 10 000 anos.
Tabela 1. Parâmetros físicos da escoada lávica do delta lávico das Lajes do Pico (in: Nunes, 1999).
A escoada emitida do cone “405” movimentou-se ao longo das encostas SW do
vulcão do Topo, galgou a falésia costeira e avançou mar dentro, dando origem à plataforma
lávica onde se desenvolve a grande maioria do edificado da Vila das Lajes do Pico
(Figura 1.), bem como à arriba fóssil associada.
Figura 1. Vista aérea do delta lávico (ou fajã lávica) das Lajes do Pico (LP) e arriba fóssil associada.
Notar o troço muito declivoso da arriba fóssil (A) e a fajã, mais antiga e parcialmente submersa,
do Castelo (F). Foto cedida pela CMLP.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 17
No entanto, a evolução do litoral nesta zona do vulcão do Topo apresenta-se
bastante mais complexa. Com efeito, para além da escoada emitida do “cone 405”,
escoadas mais antigas, afíricas e igualmente muito fluídas, galgaram a falésia costeira na
zona da Ribeira da Burra, suavizando-a e, espraiando-se para Sul, permitiram a formação
do troço Norte da arriba fóssil das Lajes do Pico (mais escarpado) e o desenvolvimento de
uma fajã lávica, a qual está actualmente melhor expressa a Sul do Castelo e na zona fronteiriça
ao Convento de São Francisco (edifício dos Paços do Concelho).
Aquando da preia-mar, esta fajã mais antiga fica quase totalmente submersa
(Figura 1), onde se desenvolveram plataformas de abrasão marinha. Note-se que a
existência desta plataforma lávica mais antiga, justifica a natureza subaérea da erupção
responsável pelo cone de escórias de Santa Catarina, existente junto ao edifício dos
Bombeiros Voluntários.
Para além das lavas que formam a “fajã das Lajes do Pico” propriamente dita e das
lavas pahoehoe afíricas da “fajã do Castelo”, a arriba fóssil nesta zona do vulcão do Topo foi
galgada, ainda, por outras escoadas lávicas, designadamente por lavas do Cabeço do
Geraldo e pelas lavas emitidas do cone, sem nome, localizado a NNW da Queimada.
Contudo, tais escoadas lávicas não originaram deltas com as dimensões dos anteriormente
referidos.
A fajã lávica das Lajes do Pico está coberta, na sua parte frontal, por depósitos de
temporal resultantes de uma intensa acção erosiva marinha e que se distribuem de um
modo heterogéneo sobre a fajã. São compostos por sedimentos de dimensões muito
variáveis, desde seixos muito finos a blocos de grandes dimensões, assemelhando-se por
vezes a uma praia de cascalho.
A ARRIBA FÓSSIL DAS LAJES DO PICO: CONDICIONANTES E
VULNERABILIDADES
São numerosas as arribas fósseis existentes na ilha do Pico, que retratam um
processo evolutivo da linha de costa, de entre as quais se destaca, pelas suas dimensões,
as arribas fósseis do Mistério da Praínha (altura média de 120 m e cerca de 3200m de
comprimento), a arriba fóssil de Santo Amaro-Terra Alta (com um desnível variável e
comprimento máximo de 2500 m), do delta das Ribeiras (altura média de 60 m e
comprimento aproximado de 2200 m) e, ainda, a arriba fóssil de São Roque do Pico, com
desnível inferior a 10 m e cerca de 1800 m de comprimento.
No caso das Lajes do Pico, a arriba fóssil possui uma altura máxima de 130 m, um
comprimento de 1500 m e, como referido anteriormente, evidencia uma génese múltipla e
uma evolução complexa. No seu extremo Norte, nas proximidades do Convento de São
Francisco (Figuras 1 e 2), apresenta-se sob a forma de uma escarpa muito declivosa,
constituída por uma sequência de escoadas lávicas compostas, de espessura métrica e
com fraco declive (5 a 10º). Na carta hipsométrica da Figura 3 pode verificar-se que a arriba
fóssil perde assinatura topográfica para Norte do vale, muito encaixado, da Ribeira
da Burra.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 18
A arriba fóssil das Lajes do Pico representa uma vulnerabilidade elevada, dada a
instabilidade patente nalguns troços desta escarpa e a sua proximidade relativamente a
alguns edifícios e à Estrada Regional 1-2. O importante depósito de vertente aí cartografado
(“dv” na Figura 2) atesta bem da potencial ocorrência de movimentos de massa (e.g.
deslizamentos/desabamentos) nesta escarpa e dos perigos associados (Nunes et al., 2004).
NOTAS FINAIS
A concentração demográfica associada à vila das Lajes do Pico e o facto de uma
parte significativa do edificado estar implantado na fajã lávica, onde se acede actualmente
apenas por duas vias rodoviárias (Figura 4), impõem condicionantes a esta zona da ilha do
Pico. Por outro lado, deverão existir cuidados acrescidos em todas as intervenções que se
venham a equacionar nos taludes que bordejam, a Leste, a vila das Lajes (incluindo ao nível
da Estrada Regional 1-2), pelo facto de poderem vir a induzir importantes escorregamentos
e desmoronamentos, pondo em risco parte daquela zona urbana.
Neste contexto, afigura-se importante salientar que a ponderação destas acções e
intervenções se estende ao topo dos taludes, dada a existência, nesta zona, de diversos
terrenos agrícolas e de caminhos de acesso (Figura 4). Assim, a impermeabilização de
terrenos (e.g. pavimentações betuminosas), a construção de valetas para águas pluviais e
alterações na topografia e coberto vegetal deverão ser devidamente ponderadas, projectadas
e monitorizadas.
Figura 2. Enquadramento geológico da fajã lávica das Lajes do Pico. â- escoadas lávicas basálticas
s.l.; Piâ- piroclastos basálticos s.l.; ps- piroclastos submarinos; dv- dep. de vertente (in: Nunes, 2002).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 19
Figura 3. Modelo hipsométrico para a arriba fóssil das Lajes do Pico e zonas adjacentes.
Estão em curso estudos visando a avaliação do risco sísmico e vulnerabilidades
associadas da vila das Lajes do Pico, para o que se realizou uma caracterização
pormenorizada do edificado deste núcleo urbano (Nunes, 2002), bem como da natureza
dos terrenos de fundação dos edifícios. Adicionalmente, pretende-se analisar a
vulnerabilidade da Vila das Lajes do Pico no que diz respeito à possibilidade de ocorrência
de deslizamentos e outros movimentos de massa de vertente, para o que os MDT agora
obtidos e as observações in situ realizadas nos terrenos que constituem a arriba fóssil,
constituem factores importantes.
AGRADECIMENTOS
Para a implementação dos trabalhos de campo levados a cabo na Ilha do Pico,
contámos com a colaboração do OVGA – Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos
Açores, a quem se agradece a deferência. À Câmara Municipal das Lajes do Pico
agradece-se a cedência de viatura e demais apoio logístico.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 20
Figura 4. Ortofotomapa para a Vila das Lajes do Pico (esquerda) e Modelo Digital de Terreno (direita)
para a arriba fóssil das Lajes do Pico e zonas adjacentes. Ortofotomapa cedido pela CMLP.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANÇA, Z., 2000. Origem e Evolução Petrológica e Geoquímica do Vulcanismo da ilha do
Pico, Tese de Doutoramento, Departamento de Geociências, Universidade dos
Açores, Ponta Delgada, 372 p.
NUNES, J.C., 1999. A Actividade Vulcânica na Ilha do Pico do Plistocénico Superior ao
Holocénico: Mecanismo Eruptivo e Hazard Vulcânico, Tese de Doutoramento,
Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 357 p.
NUNES, J.C., 2002. Caracterização do Parque Habitacional das Lajes do Pico (Açores):
Condicionantes Geológico-geotécnicas e Vulnerabilidades Associadas. Livro de
Resumos Alargados – “2as Jornadas Internacionais de Vulcanologia da Ilha do Pico”.
Abril. Lajes do Pico, 53-55.
NUNES, J.C., Z. FRANÇA & P.A. BORGES, 2004. Plano Municipal de Emergência das Lajes
do Pico. Análise de Riscos e Vulnerabilidades. Relatório Técnico-Científico.
Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 59 p.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ZONAS
BALNEARES DA ILHA DO PICO (AÇORES)
JOÃO PORTEIRO, HELENA CALADO, PEDRO MONTEIRO,
ANTÓNIO MEDEIROS, ANDREA BOTELHO, LUZ PARAMIO,
SUSANA LACERDA, MARCO SANTOS, JOANA CADETE & ANA MOREIRA
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
INTRODUÇÃO
Os trabalhos promovidos pela Secção de Geografia, no decorrer da “Expedição
Cientifica – Pico 2005”, incidiram na recolha e sistematização de dados para a implementação
de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) das Zonas Balneares (ZB) da ilha do Pico.
O estudo enquadra-se numa linha de investigação em curso que visa a gestão integrada da
orla costeira dos Açores. Os levantamentos de campo foram realizados por uma equipa
composta por nove elementos com formações multidisciplinares. Os dados coligidos,
concluídos que estão os procedimentos de integração em ambiente SIG, não se destinam
apenas à comunidade científica, mas sobretudo aos agentes e instituições com
competências na promoção do turismo, conservação da natureza e gestão da orla costeira,
incluindo os diferentes níveis de administração (local e regional).
A metodologia de recolha de informação baseia-se na adaptação da proposta
desenvolvida por Rita Norberto (Zonas Balneares Costeiras da Ilha de São Miguel. Contributos
para o seu conhecimento, 2004). Os resultados obtidos permitem, desde logo, constatar o
enorme potencial lúdico e conservacionista da costa do Pico, atendendo à quantidade e
diversidade das zonas balneares inventariadas (44) e à presença de elementos naturais
singulares. Por sua vez, o SIG revelou-se uma ferramenta de análise espacial
extremamente eficaz na visualização dos elementos registados na base de dados geográfica.
ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO
O Pico, com 448,4 km2, é a maior das cinco ilhas que constituem o Grupo Central,
representando 19,2 % da área do Arquipélago dos Açores. Localiza-se entre as coordenadas
38o 22' 57'' e 38o 33' 44'' de Latitude Norte e 28o 01' 39'' e 28o 32' 33'' de Longitude Oeste. A linha
de costa, com cerca de 126 km, apresenta-se ligeiramente recortada, ao longo da qual pontuam
alguns ilhéus e enseadas geralmente pouco abrigadas. O acesso ao mar não coloca sérias
dificuldades, com excepção dos troços onde dominam imponentes arribas (costas Nordeste e
Sudeste). As aves marinhas encontram nestes habitats condições favoráveis à nidificação,
particularmente as espécies de Garajau (Sterna hirundo e Sterna dougallii) e o Cagarro
(Calonectris diomedea borealis). Os substratos rochosos prevalecem em todo o litoral (lajes
alternadas com calhau rolado), não existindo praias de areia, havendo, contudo, numerosas
poças e pequenas enseadas naturais, desde longa data, utilizadas para uso balnear.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 22
Os condicionalismos geológicos, geomorfológicos e climáticos da ilha do Pico
assumem um papel determinante no dinamismo das actividades económicas e na situação
dos aglomerados populacionais. Os principais centros urbanos, sedes de concelho, estão
localizados junto ao mar, onde as condições climáticas são menos adversas. Nos censos
de 2001, o Pico contava com 14.806 habitantes, sendo notórios sinais de envelhecimento. À
semelhança do que sucede nas restantes ilhas do arquipélago, o turismo é um sector
emergente, encarado como um pilar da diversificação económica. Nos anos mais recentes,
multiplicaram-se os serviços de apoio aos visitantes, como estabelecimentos de
restauração, hotelaria, aluguer de viaturas, animação turística, entre outros complementares.
Como principal centro de baleação da região, os agentes económicos souberam transformar
a observação de cetáceos (“whale watching”) num negócio florescente, reactivando uma
actividade ancestral dotada de um património de inegável interesse histórico e etnográfico
(lanchas, botes baleeiros, vigias e antigas indústrias transformadoras). A cultura da vinha,
que ocupa extensos campos de lava em toda a fronteira ocidental da ilha (“lajidos”), foi
classificada Património Cultural da Humanidade pela UNESCO em 2004, devido ao
carácter único da matriz paisagística e ao importante património edificado.
METODOLOGIA
O SIG das Zonas Balneares da ilha do Pico foi implementado em ArcGIS 9 (Produto
ESRI). A informação alfanumérica foi carregada numa base de dados FileMaker desenhada
especificamente para o efeito. A metodologia e o conteúdo das fichas de campo foram
adaptados da proposta de Norberto (2004). O estudo envolveu as seguintes fases
sequenciais:
1.
2.
3.
Trabalhos Preparatórios – Pesquisa bibliográfica (roteiros turísticos, estatísticas,
legislação, relatórios técnicos); contactos institucionais (entidades com competências
na orla costeira); edição das bases cartográficas (Cartas Militares de Portugal do
IGeoE, Ortofotomapas, Coberturas do Plano Regional de Ordenamento do
Território); desenho da base de dados alfanumérica; elaboração das fichas de
levantamento de campo; definição de protocolos de trabalho.
Trabalhos de Campo – Registo sistemático das zonas balneares durante a
expedição científica; preenchimento das fichas de campo; realização de entrevistas
com agentes locais (câmaras municipais, departamentos da administração
regional; associações, outros organismos públicos e empresas privadas); recolha
de imagens fotográficas; identificação de valores ecológicos a preservar.
Implementação do SIG e Exploração dos Dados – Carregamento, em gabinete,
da Base de Dados FileMaker com a informação obtida no campo; exportação das
tabelas em formato Data Base File (BF); digitalização das zonas balneares do Pico
no Projecto ArcGIS (criação de temas); ligação das tabelas DBF exportadas com
os temas geográficos.
SIG DAS ZONAS BALNEARES DO PICO
A concepção e a implementação do Sistema de Informação Geográfica das Zonas
Balneares da ilha do Pico obedeceram aos mesmos critérios estabelecidos para a “Expedição
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 23
Científica Graciosa – 2004”. Na Tabela 1 identificam-se os grandes domínios de informação
contemplados no SIG. Os elementos de base constituem as coberturas de suporte à
representação dos restantes temas do SIG (planimetria, altimetria, divisão administrativa e
toponímia).
Tabela 1 – Sistema de Informação Geográfica das Zonas Balneares da ilha do Pico.
Estrutura e Conteúdo Temático.
Os elementos temáticos reúnem as coberturas geradas através da digitalização dos
levantamentos de campo (geoposicionamento das zonas balneares). Incluem-se temas
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 24
complementares de proveniência diversa, maioritariamente do Plano Regional de
Ordenamento do Território dos Açores (PROT-A).
Visando uma ágil integração dos dados geográficos provenientes de fontes
diversas, adoptou-se o sistema de projecção Universal Tranverse Mercator (UTM), Fuso
26, com a Elipsóide Internacional de Hayford (1924) fixada no datum local Graciosa Base
Sudoeste, pois é neste sistema de georeferenciação que assenta a generalidade da
cartografia disponível.
A representação das coberturas geográficas reporta-se à Carta Militar de Portugal
do Instituto Geográfico do Exército (Edição 2000, escala 1:25.000). A opção pela plataforma
ArcGIS 9 deve-se, sobretudo, ao grande número de produtos que esta oferece,
nomeadamente quanto a operações de geoprocessamento, conversão e armazenamento
de dados, bem como de soluções que permitem um elevado grau de interoperabilidade.
Concluído o carregamento da informação, o SIG das Zonas Balneares da ilha do
Pico encontra-se apto a realizar uma multiplicidade de tarefas de análise e/ou consulta
espacial. Para demonstrar as suas potencialidades, sugerem-se alguns exemplos de
análises possíveis.
Exemplo 1 – Produção de Cartografia Temática
A grande maioria do software SIG permite a fácil integração de dados geográficos
provenientes de fontes diversas. As funções de inserção de elementos dinâmicos,
como as barras de escala, legendas, quadrículas cartográficas, entre outras, vão
reflectindo sincronamente as alterações efectuadas nos elementos geográficos.
Ex.: Representação das Zonas Balneares das Lajes do Pico e Rede Natura 2000
(Figura 1).
Exemplo 2 – Consulta por Atributos
O SIG possibilita consultas segundo atributos, através da linguagem SQL
(Structured Query Language). Ex.: Quais zonas balneares do concelho da
Madalena que dispõem mais de 15 lugares de estacionamento “SELECT
Designação FROM ZonasBalneares WHERE Concelho = ‘Madalena’ AND
Estacionamento > ‘15’” (Figura 2).
Exemplo 3 – Consulta Espacial
O SIG permite efectuar consultas a partir da posição relativa do objecto geográfico,
utilizando funções pré-definidas “Select by Location”. Ex.: Quais as zonas balneares
que se encontram a menos de 500 metros de uma estrada regional?
(Figura3).
Exemplo 4 – Ligação com Bases de Dados Externas
A conexão dinâmica do software SIG com um DBMS (Database Manager System)
externo revela-se de grande utilidade, pois faculta a consulta aos atributos de
determinada Zona Balnear, através da interface do software FileMaker.
Ex: Consulta dinâmica Projecto ArcGis Base de Dados FileMaker (Figura 4).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 25
CONCLUSÕES E RESULTADOS
Concluída a explicitação da estrutura e das potencialidades do SIG das Zonas
Balneares da ilha do Pico, resta apresentar os resultados mais significativos (Tabela 2), na
certeza de que as potencialidades de exploração dos dados ultrapassam o âmbito deste
artigo, cabendo aos utilizadores desta ferramenta realizarem análises espaciais de acordo
com as suas necessidades de informação.
Tabela 2 – Principais resultados do levantamento das Zonas Balneares da ilha do Pico
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 26
O estudo incidiu no inventário e caracterização dos aspectos físicos das zonas
balneares, infra-estruturas de apoio, potencialidades lúdicas e conservacionistas da orla
costeira da ilha do Pico, para além de outra informação relevante. Foram identificadas 44
zonas balneares (Figura 5), 32 das quais com actividade balnear explicita. Não se regista
qualquer praia de areia no Pico, existindo, contudo, 21 acessos ao mar, 19 piscinas, 17
portinhos e 6 praias de calhau rolado. Por sua vez, importa destacar a elevada aptidão das
zonas balneares para actividades de lazer ligadas ao mar, nomeadamente mergulho/
snorkeling e pesca desportiva. Apesar de existirem 6 zonas balneares classificadas,
note-se que destas apenas duas têm nadador salvador: as Piscinas das Furnas de Santo
António e da Madalena. Quanto aos serviços e infra-estruturas de apoio, identificam-se
grandes carências: a larga maioria das zonas balneares é mal servida, sendo de destacar a
falta de postos de primeiros socorros e, no que respeita aos serviços, apenas 3 de 44 são
servidas por um café/snack-bar.
Conclui-se que a ilha do Pico é dotada de um conjunto assinalável de zonas
balneares, assumindo uma situação destacada ao nível do arquipélago, conjuntamente com
São Miguel. A qualidade das zonas balneares é, contudo, afectada pela quase ausência de
equipamentos de apoio, situação que deverá merecer a atenção das entidades
competentes. A elaboração de um roteiro de descoberta da orla costeira da ilha do Pico, à
semelhança da publicação realizada para a ilha de São Miguel (Universidade dos
Açores – Centro de Informação Geográfica e Planeamento Territorial – Secção de
Geografia), seria certamente uma oportunidade de divulgar as potencialidades lúdicas e
conservacionistas junto da população residente e dos turistas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem às entidades que colaboraram no estudo, nomeadamente
às Câmaras Municipais das Lajes, Madalena e São Roque do Pico. Reconhecem os
trabalhos incansáveis do nosso motorista de serviço, Pedro Sousa. Nos momentos mais
descontraídos, saudamos a partilha de experiências e o convívio que marcou a “Expedição
Científica Pico – 2005”.
BIBLIOGRAFIA
NORBERTO, R. & H. CALADO, 2004. Orla Costeira da ilha de S. Miguel - Roteiro de
Descoberta. Secretaria Regional do Ambiente, Direcção Regional do Ambiente - Universidade dos Açores, Centro de Informação Geográfica e Planeamento
Territorial, 68 pp.
PORTEIRO, J., H. CALADO, J. CADETE, A. BOTELHO, S. LACERDA, L. PARAMIO,
M. SANTOS, P. MONTEIRO, J. XAVIER & A. MEDEIROS, 2005. Sistema de
Informação Geográfica da Orla Costeira da Ilha Graciosa. Relatórios e
Comunicações do Departamento de Biologia, 32: 15-23.
Figura 1 – Representação Cartográfica das Zonas Balneares do Pico e Rede Natura 2000 (Lajes do Pico)
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 27
Figura 2 – Consulta por atributos ao SIG das Zonas Balneares do Pico
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 29
Figura 3 – Consulta por localização ao SIG das Zonas Balneares do Pico
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 31
Figura 4 – Ligação ArcGis 9.1/FileMaker
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 33
Figura 5 – Representação Cartográfica do Levantamento das Zonas Balneares da Ilha do Pico
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 35
DOENÇA DE MACHADO-JOSEPH NA ILHA DO PICO (AÇORES)
MANUELA LIMA1, MERCÊS MACIEL2, TERESA KAY3,
CONCEIÇÃO BETTENCOURT1 & JOÃO VASCONCELOS4
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
2
Centro de Saúde de São Roque do Pico. 9940 São Roque do Pico
3
Serviço de Genética Médica, Hospital de D. Estefânia. 1000 Lisboa
4
Serviço de Neurologia do Hospital do Divino Espírito Santo. 9500 Ponta Delgada
1
INTRODUÇÃO
A doença de Machado-Joseph (DMJ) é uma doença neurodegenerativa, de
transmissão autossómica dominante e de início tardio (média de 40 anos) (Coutinho, 1992),
causada pela expansão do tripleto CAG, num gene localizado em 14q32.1 (Kawaguchi et
al., 1994).
A DMJ constitui nos Açores, dada a sua elevada prevalência, um problema de
Saúde Pública. As famílias afectadas dos Açores são originárias das ilhas das Flores, S.
Miguel, Terceira e Graciosa, sendo nas ilhas das Flores (1 em cada 106 habitantes é
doente) e em S. Miguel (1 em cada 3148 é doente) que se encontra a maior concentração
de doentes (Lima et al., 1997). Existem, contudo elementos das referidas famílias em
praticamente todas as ihas açorianas, nomeadamente na ilha do Pico.
Um conhecimento detalhado da epidemiologia da DMJ nos Açores assume a maior
importância, por permitir uma melhor intervenção assistencial, que inclui não só o apoio aos
doentes, como se estende aos indivíduos em risco (filhos de um doente DMJ), através da
disponibilização do Programa de Aconselhamento Genético e Teste Preditivo.
OBJECTIVOS
1. Actualizar, no contexto do Programa de Aconselhamento Genético da DMJ nos
Açores, a informação familiar sobre os doentes DMJ actualmente residentes no Pico;
2. Fornecer aos familiares em risco informação acerca da existência do Teste
Preditivo para a DMJ, sua disponibilização nos Açores e possibilidade de
realização de eventual Diagnóstico Pré-Natal (DPN).
ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS
Os doentes DMJ residentes na ilha do Pico foram previamente contactados pelo
Centro de Saúde de S. Roque do Pico, no sentido de serem convocados para entrevistas
familiares. Durante as entrevistas procedeu-se à actualização dos heredogramas (como
exemplo, ver Figura 1), registando-se toda a informação clínica e familiar pertinente. Os
familiares dos doentes DMJ foram previamente informados de que se iria realizar uma sessão
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 38
de esclarecimento sobre a disponibilidade do Teste Preditivo.
Figura 1. Exemplo de heredograma construído a partir de informação oral fornecida pelos doentes.
Actualizou-se a história familiar de dois doentes de uma família DMJ originária da
ilha Terceira e de um doente de uma família das Flores. A informação obtida é da maior
pertinência, quer no contexto assistencial da DMJ, quer no contexto específico do
Aconselhamento Genético. Assistiram à Sessão de esclarecimento sobre a DMJ cinco
indivíduos familiares dos doentes residentes no Pico.
REFERÊNCIAS
COUTINHO, P., 1992. Doença de Machado-Joseph: Tentativa de definição. Dissertação de
Doutoramento, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Porto, 247 pp.
KAWAGUCHI Y., T. OKAMOTO, M. TANIWAKI, M. AIZAWA, M. INOUE, S. KATAYAMA,
H. KAWAKAMI, S. NAKAMURA, M. NISHIMURA, I. AKIGUCHI, J. KIMURA,
S. NARUMIYA & A. KAKIZUKA, 1994. CAG expansions in a novel gene for
Machado-Joseph disease at chromosome 14q32.1. Nature Genetics, 8:221-228.
LIMA M., F.M. MAYER, P. COUTINHO & A. ABADE, 1997. Prevalence, geographic
distribution, and genealogical investigation of Machado-Joseph disease in the Azores
(Portugal). Human Biology, 69: 383-391.
PESQUISA DE AGENTES ENTOMOPATOGÉNICOS
NA ILHA DO PICO (AÇORES)
JOSÉ S. ROSA
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
RESUMO
Durante a “Expedição Científica Pico 2005” efectuou-se a recolha de amostras de
solo para pesquisar nemátodes entomopatogénicos. Com o designado “Galleria trap method”
e pela técnica de flutuação-centrifugação re-isolou-se um nemátode do género Steinernema.
Esse nemátode, Steinernema carpocapse, isolado Az27 foi pela primeira vez isolado na ilha
do Pico no ano de 1991.
ABSTRACT
A survey for entomopathogens in soil samples was carried during the “Scientific
Expedition Pico 2005” as a part of a project of survey and characterization of insect
parasites in the Azores. One steinernematid was re-isolated with the “Galleria trap method”
and flotation centrifugation techniques.
INTRODUÇÃO
A prospecção de agentes parasitas de insectos que se levou a cabo na ilha do Pico
inscreve-se num projecto de colecção e caracterização da variabilidade genética destes
microrganismos nos Açores, na perspectiva da sua conservação e utilização.
O trabalho realizado consistiu na i) recolha de amostras de solo para pesquisa de
novos microrganismos parasitas de insectos, ii) tentativa de re-isolamento dos isolados Az26
(Piedade) e Az27 (S.João), iii) conservação dos microrganismos recolhidos em
condições de viabilidade.
Neste relatório referem-se os trabalhos de recolha e de caracterização
sistemática de nemátodes entomopatogénicos recolhidos durante a “Expedição
Científica Pico 2005”.
MATERIAL E MÉTODOS
Recolha das amostras de solo
Entre 6 e 15 de Junho de 2005 recolheram-se na Ilha do Pico amostras de solo em 43
estações escolhidas ao acaso (Figura 1). Os locais de recolha representam vários tipos de
solo e com diverso tipo de ocupação, campo cultivado (milho e outras culturas anuais), pasto
e vinha. Cada estação de recolha foi representada por uma área de cerca de 10x10 m
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 40
com uma distribuição homogénea da vegetação. Em cada estação fizeram-se entre 10 e 15
amostras parcelares de solo que foram homogeneizadas recuperando-se cerca de 1 kg de
solo em sacos de plástico devidamente identificados e transportados ao laboratório para
análise.
Madalena
27
+
28
+
29 30
+ +
26
+
+ +
42 43
+
41
+
+ + 35 +
34
33 +32
+
+
40 36
37
N
38+
39+ +
1
20+
E
W
S
S. Roque
+
2
3+
4+
31+
25
+
24
+
23
+
22
+ 16 21
+ +
17
+
Lajes
19
+
18 15
+ +
14
+
6+
13
+
5+ 7+
8+
+ 10
12 11
9 +
+
+
Esc.: 1.300000
Figura 1. Distribuição das 43 estações de recolha de solo na Ilha do Pico.
Tratamento das amostras para isolamento de nemátodes
Utilizou-se no tratamento das amostras recolhidas a técnica da flutuação-centrifugação (Dalmasso, 1966) e o método da “Galleria trap” (Bedding e Akhurst, 1975),
no qual 6 larvas de um insecto, Galleria mellonella, eram colocadas numa caixa contendo
1 kg de solo e se incubava 8 dias a 22°C, findos os quais os insectos eram recuperados e
analisados para identificação de doenças.
As larvas com sintomas de parasitismo causado por nemátodes eram colocadas
numa armadilha de White verificando-se diariamente a saída de nemátodes do interior do
insecto. Os insectos que apresentavam outros sintomas eram preparados para observação
microscópica. Os insectos saudáveis eram deixados a incubar durante 8 dias a 22°C em
caixas de Petri individuais com alimento para pesquisa de doenças com revelação tardia.
Identificação dos nemátodes parasitas de insectos
Os isolados de nemátodes parasitas de insectos foram identificados recorrendo
à morfologia externa e morfometria do estado infeccioso e do macho adulto. Dos estados
infecciosos recuperados procedeu-se à tentativa de obtenção da bactéria simbionte pelo
método da gota pendente.
Conservação do material biológico
O material biológico isolado foi conservado segundo técnicas adequadas, os
nemátodes foram mantidos em água estéril com arejamento permanente sob temperatura
controlada (10°C).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 41
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostragem obtida no Pico considera-se satisfatória para o tipo de pesquisa
em causa. As amostras distribuem-se por toda a ilha (Figura 1). Das amostras de solo
recolhidas 72% apresentavam nemátodes. As amostras positivas estão distribuídas pelos
solos com diferentes ocupações (Quadro 1). A maioria dos nemátodes encontrados eram
nemátodes de vida livre e fitoparasitas que, como é óbvio, estão fora do alcance deste
trabalho.
Quadro 1. Caracterização das estações e recolhas de nemátodes efectuadas.
Amostras positivas (+) e negativas (—).
a) Az 27
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 42
No tocante a nemátodes entomoparasitas obtivemos um isolado, num campo de
vinha situado em S. João (estação Pico 16) a 10 m de altitude (Quadros 1 e 2). Com base na
combinação das características morfométricas do estado infeccioso e morfológicas do macho
este nemátode foi identificado como pertencendo ao género Steinernema, espécie
S. carpocapsae. A ausência de bactéria simbionte associado a um processo infeccioso muito
peculiar (Rosa et al., 1994; Simões et al., 2000) leva-nos a considerar que se trata do
isolado Az27. Recolhido durante a Expedição Científica Pico 1991 (Martins et al., 1992), o
isolado Az27 foi re-isolado pela primeira vez em 1994 (dados não publicados).
Quadro 2. Presença de Nemata no solo, segundo o habitat.
Amostras
O material biológico recolhido faz parte da Colecção de Entomopatógenos dos
Açores CEA (DB/UA).
REFERÊNCIAS
BEDDING, R.A. & R.J. AKHURST, 1975. A simple technique for the detection of insect
parasitic rhabditid nematodes in soil. Nematologica, 21: 109-116.
DALMASSO, A., 1966. Méthode simple d’extraction des nématodes du sol. Revue
d’Ecologie et de Biologie du Sol, 3: 473-478.
MARTINS, A., C. MENDES, C. RIBEIRO, J.S. ROSA & N. SIMÕES, 1992. Pesquisa de
agentes entomopatogénicos na ilha do Pico (Açores). Relatórios e Comunicações
do Departamento de Biologia, 20: 69-73.
ROSA, J.S., E. BONIFASSI, N. SIMÕES & C. LAUMOND, 1994. Pathogenicity of an isolate
of steinernema carpocapsae from the Azores apparently free of Xenorhabdus. VI
Int. Colloquium on Invertebr. Pathol. and Microb. Control (XXVIIth SIP Ann.
Meeting). Montpellier, França (poster).
SIMÕES, N., C. CALDAS, J.S. ROSA, E. BONIFASSI & C. LAUMOND, 2000. Pathogenicity
caused by high virulent and low virulent strains of Steinernema carpocapsae to
Galleria mellonella. Journal of Invertebrate Pathology, 75: 47-54.
RECOLHA DE AMOSTRAS DE SOLO NAS ILHAS DO PICO
E FAIAL PARA ISOLAMENTO DE BACTÉRIAS
E NEMÁTODES ENTOMOPATOGÉNICOS
RAFAEL MONTIEL, GISELA NASCIMENTO & RICARDO FERREIRA *
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
* Participaram no isolamento e caracterização dos microrganismos a Técnica Helena Resendes e os
Profs. Doutores Carla Mendes Cabral e Nelson Simões
RESUMO
Durante a Expedição Científica PICO 2005 recolheram-se oitenta e sete amostras
de solo na Ilha do Pico e dezassete no Faial a diferentes altitudes e com diversos cobertos
vegetais que foram transportadas para o laboratório de Entomopatologia para isolamento
de bactérias e nemátodes entomopatogénicos. Todas as amostras já foram analisadas pelo
método da Galleria trap para nemátodes não se tendo identificado nenhuma positiva. Para
bactérias entomopatogénicas analisámos 55 amostras de onde obtivemos 108 isolados
puros, 16 deles pertencentes ao Grupo I de Bacillus. Estes isolados estão neste momento a
ser identificados a nível da espécie por métodos bioquímicos e moleculares. Todos os
isolados estão depositados no BEA/CIRN.
ABSTRACT
During the Scientific Expedition to PICO Island 2005 we performed eighty seven
soil samples in Pico and seventeen in Faial at different altitudes and with diverse vegetation.
Samples were analysed in the laboratory of Entomopathology to isolate entomopathogenic
bacteria and nematodes. Soil samples had been tested for the presence of nematodes by
the Galleria trap. No entomopathogenic nematodes were isolated. For the presence of
bacteria we have now tested 55 samples from which we obtained 108 isolates with 16
identified as belonging to Group I of Bacillus. These isolates are being now analysed for
species through biochemical and molecular methods. All the isolates were deposited in
BEA/CIRN.
INTRODUÇÃO
As bactérias e os nemátodes entomopatogénicos são produzidos e comercializados
para o controlo de insectos pragas no mundo inteiro. Em anteriores expedições científicas
do Departamento de Biologia recolhemos amostras de solo nas diversas Ilhas dos Açores e
na Madeira e Porto Santo, de onde se isolaram nemátodes entomopatogénicos, que
depois de identificados têm sido usados no controlo de diversas pragas agrícolas com
resultados muito positivos (Rosa, et al., 2004).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 44
O isolamento de Bacillus entomopatogénicos foi experimentado por nós em solos
da Graciosa e em algumas amostras de S. Miguel. Também estes isolados mostraram ser
activos contra insectos que presentemente são importantes pragas no Arquipélago (Leite,
et al., 2004), (Dias, et al., 2005).
Por outro lado, estes patógenos estão a ser modelos de investigação no nosso
laboratório quer na investigação de diversidade genética nas ilhas quer na pesquisa de
mecanismos de patogenicidade com identificação, purificação e caracterização das
moléculas bioactivas, muitas delas com potencial interesse em saúde. De um isolado de um
nemátode entomopatogénico caracterizámos e expressámos uma serino-protease que tem
actividade fibrinolítica e que está em testes para avaliar a sua viabilidade no tratamento de
coágulos no sangue, que estão na origem da maioria das doenças cardiovasculares (Lucena,
et al., 2004). Também a bactéria entomopatogénica B. thuringiensis para além de ser
patogénica para um grande número de insectos, produz citotoxinas que têm actividade
contra células cancerígenas (Okumura, et al., 2004) (Ito et al., 2004) e por isso há interesse
em procurar novos isolados produtores de citotoxinas que tenham as propriedades desejadas.
Com a recolha de amostras de solo no Pico e no Faial pretendemos isolar Bacillus
e nemátodes entomopatogénicos que vão ser usados como agentes de controlo biológico e
analisados para a produção de citotoxinas e de enzimas.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostragem. Fizeram-se recolhas de solo em locais seleccionados ao acaso nas
ilhas do Pico e do Faial (Fig. 1, Fig. 2). Em cada local recolheu-se 10 sub-amostras de solo
de cerca de 100 g, obtido até uma profundidade de cerca de 15 cm. As sub-amostras foram
homogeneizadas num saco plástico, etiquetadas e transportadas para o laboratório.
Registou-se o local de amostragem, a altitude e coberto vegetal.
Pesquisa de nemátodes entomopatogénicos. Usou-se o método da “Galleria trap”
para pesquisar nemátodes entomopatogénicos. No laboratório cada amostra de solo foi
passada por um tamis de malha grossa (2x2 mm) para eliminar as partículas grosseiras e
transferido para um vaso de 1000 ml. Sobre o solo colocaram-se 10 larvas de Galleria
mellonella (Insecta: Lepidoptera). Os vasos foram colocados numa câmara com
temperatura controlada (25/2 oC). Diariamente os vasos foram invertidos para que os
insectos fossem sucessivamente expostos a diferentes camadas de solo. Ao fim de sete
dias, o solo foi de novo peneirado para retirar os insectos, que foram passados por água
estéril e transferidos para caixas de Petri estéreis e incubados a 25 oC. Passados 10 dias
todos os insectos foram dissecados para pesquisa de nemátodes parasitas.
Pesquisa de Bacillus. De cada amostra de solo homogeneizada retirou-se 4 g que
foram suspensos em 10 ml de água peptonada. Esta suspensão foi tratada a 80 oC durante
10 minutos para eliminar formas vegetativas bacterianas. Fizeram-se diluições decimais
seriadas até 10-3. Espalharam-se 0,1 ml das diluições 10-2 e 10-3 em caixa de Petri com UG
agarizado. Incubou-se a 30 oC durante 24 horas. Isolaram-se as colónias até obter culturas
puras. A caracterização dos isolados puros fez-se por análise morfológica, enzimática e molecular
por métodos já anteriormente usados (Leite, et al., 2004), (Santiago-Alvarez, et al., 1998).
Figura 1 - Localização das amostras recolhidas na Ilha do Pico.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 45
Figura 2 - Localização das amostras recolhidas na Ilha do Faial.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 47
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 49
Conservação dos isolados. Das culturas puras de cada um dos isolados
retiraram-se alíquotas que foram conservadas em meio UG suplementado com glicerol a
15% e guardadas a -80 oC no Banco de BACTÉRIAS ENTOMOPATOGÉNICAS DOS
AÇORES do CIRN (BEA/CIRN). Para cada isolado foi aberta uma folha de registo na
respectiva base de dados (Fig. 3).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a expedição recolheram-se 87 amostras no Pico, a maioria delas abaixo
dos 100 m onde habitualmente existe a maior densidade de insectos e no Faial fizeram-se
17 amostragens a maior parte delas também abaixo dos 100 (Quadro 1). Recolheram-se
amostras em sítios com diferentes coberturas vegetais de modo a obter uma amostragem
representativa (Quadro 2).
As amostras de solo recolhidas foram sujeitas no laboratório a tratamento para
isolamento de nemátodes entomopatogénicos pelo método de Galleria trap. Por este
método não obtivemos amostras positivas pelo que iremos utilizar outros métodos de
extracção ainda a decidir (Quadro 3). Numa anterior amostragem feita no Pico tínhamos
recolhido duas amostras positivas e cinco no Faial (7).
Quadro 1 - Número de amostras recolhidas nas ilhas do Pico e do Faial por classes de altitude.
Até à presente data tratámos 55 amostras de terra do Pico para a presença de
Bacillus (Quadro 3), tendo sido positivas todas as amostras (Fig. 4). Destas 55 amostras
obtiveram-se 108 isolados puros dos quais baseados em caracteres morfológicos das
colónias e em testes enzimáticos se identificaram 16 como pertencentes ao Grupo I de
Bacillus. Dez destes isolados já foram sujeitos a análise molecular por RAPDs, não se
tendo revelado nenhuma diferença significativa com os primers usados. Numa amostragem
de solo da Graciosa obtiveram-se 3 novos serovares de B. thuringiensis, o que sugere que
há isolados com características específicas nos Açores (Santiago-Alvarez, et al., 1998), (IEBC).
Todos os isolados puros obtidos durante a Expedição Científica PICO 2005, fazem
parte do BEA/CIRN e aí estão registados (Fig. 3).
AGRADECIMENTOS
As cartas digitais do Pico e do Faial foram cedidas pela Secção de Geografia e
tratadas pela Dra. Susana Lacerda, a quem agradecemos.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 50
Figura 3 - Folha de registo da base de dados “Bactérias Entomopatogénicas dos Açores” do CIRN.
Figura 4 - Isolados Bacillus de amostras da Ilha do Pico em caixas de Petri com meio UG agarizado.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 51
Quadro2 - Número de amostras recolhidas em cada coberto vegetal nas ilhas do Pico e do Faial.
Quadro 3 - Pesquisa de entomopatógenos
REFERÊNCIAS
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against Phyllocnistis citrella (Lepidoptera: Phyllocnistidae). J. Econ. Entomol. 98:
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T. AKKAO & M. OHBA, 2004. A Bacillus thuringiensis Crystal Protein with Selective
Cytocidal Action to Human Cells. J. Biol. Chem., Vol. 279 (20): 21282-21286.
LEITE, F., 2004. Pesquisa de Bacillus thuringiensis e de nemátodes entomopatogénicos em
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2004. Bacillus thuringiensis serovar shandongiensis strain 89-T-34-22 produces
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Heterorhabditis) in the Azores. J. Nematol. 32 (2): 215-222.
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SANTIAGO-ALVAREZ, C., C.E. BULLEJOS, J.S. ROSA, N. SIMÕES & H. K. ALDEBIS, 1998.
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Fauna e Flora das Ilhas Atlânticas. 21-25 Setembro de 1998, Ponta Delgada.
DISTRIBUIÇÃO DOS MOLUSCOS TERRESTRES
DA ILHA DO PICO (AÇORES) E VARIABILIDADE DE OXYCHILUS
(DROUETIA) MINOR (MORELET, 1860)
ANTÓNIO M. DE FRIAS MARTINS, REGINA TRISTÃO DA CUNHA,
MARIA HELENA SOUSA & PAULO JORGE MELO
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
INTRODUÇÃO
Os moluscos terrestres da ilha do Pico têm sido objecto de estudos vários, mas
sobre eles de facto pouco se tem publicado. Arthur Morelet, na sua expedição aos Açores
em companhia de Henri Drouët, visitou a ilha em 1857 e, em 1860, naquela que foi a
primeira grande obra sobre a malacologia açoriana, elencou as espécies encontradas
naquela visita. Ali Morelet (1860) descreveu Pupa [= Leiostyla] rugulosa com base num
único indivíduo encontrado no Pico, tornando-se esta a primeira espécie endémica de
moluscos terrestres adstrita àquela ilha. Se bem que trabalhos posteriores hajam registado
esta espécie em outras ilhas (veja Cunha et al., 2005), impõe-se uma revisão deste grupo
com base não apenas em caracteres conquiológicos mas sobretudo anatómicos e
moleculares no intuito de serem compreendidas as posições taxonómicas e relações
filogenéticas destes taxa nas várias ilhas. Para além desta espécie, aquele naturalista
francês menciona para o Pico uma variedade â de Limax rufus [Arion lusitanicus], espécie
espalhada por outras ilhas açorianas. Morelet (1860) serviu-se ainda das suas observações
no Pico para a descrição de outras espécies que reconheceu estarem distribuídas pelas
restantes ilhas; tal foi o caso dos ellobiídeos halofílicos Auricula [=Ovatella] vulcani,
endemismo açórico, e Auricula bicolor e Auricula vespertina que são consideradas
sinónimos de Myosotella myosotis. Para além do que acima foi indicado, apenas mais
quatro espécies terrestres mereceram para Morelet menção expressa da ilha do Pico: Helix
[= Caracollina] lenticula, uma introdução da Europa então ainda raramente observada nos
Açores, Helix [= Heterostoma] paupercula, uma introdução da Madeira igualmente rara, e
Bulimus [= Macaronapaeus] forbesianus, um endemismo circunscrito ao Grupo Central. No
início do século XX, o barão W. Rothschild realizou uma expedição aos Açores cujas
recolhas depositou no Natural History Museum, Londres; entre o material recolhido, mas
nunca trabalhado, figuram sete exemplares de Macaronapaeus imaculadamente brancos
(BMNH 1903-10-8.175-181), que se crê relacionados com o endemismo terceirense
Macaronapaeus alabastrinus, mas cuja decisão aguarda revisão taxonómica apropriada.
Nobre (1924) recolheu esta espécie nos arredores do Cais do Pico e menciona-a como
Bulimus pruninus mas Backhuys (1975), ciente embora da lista de Nobre, nem se lhe refere;
estes autores, porém, se bem que hajam contribuído imensamente para o conhecimento da
malacofauna açórica, pouco acrescentaram à lista de Morelet em matéria de novidade
endémica para a ilha do Pico.
As investigações da equipa de Malacologia do Departamento de Biologia da
Universidade dos Açores, sobretudo as resultantes dos projectos STRIDE/CEN/508/92 e
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 54
PRAXIS/2/2.1/BIA/169/94, trouxeram a actualização do registo malacológico do Pico, com
algumas espécies novas, mas os resultados dos respectivos relatórios, se bem que parcialmente
incluídos em Cunha et al., (2005), aguardam tratamento e publicação apropriados.
A expedição do Departamento de Biologia à ilha do Pico, em 2005, proporcionou
ocasião para se tentar resolver alguns aspectos de distribuição dos moluscos terrestres da
ilha. Em especial, procurou-se efectuar recolhas que permitissem estudos anatómicos para
indagar a variabilidade populacional do zonitídeo Oxychilus (Drouetia) minor, tido como
conspecífico das populações da ilha do Faial (Cunha et al., 2005). De modo particular
insistiu-se na recolha de exemplares representados por um único espécimen recolhido em
1997 na área de Santa Luzia e registado na colecção de referência dos moluscos terrestres,
do Departamento de Biologia, sob o número “1093”, por se tratar de um indivíduo
visivelmente maior que todos os outros até então recolhidos. O presente relatório inclui,
assim, a listagem e distribuição das espécies recolhidas nas 16 estações investigadas, e
bem assim uma análise preliminar à variabilidade morfológica e anatómica de Oxychilus
(Drouetia) minor.
MATERIAIS E MÉTODOS
Materiais
Os materiais constantes do presente estudo referem-se às recolhas feitas em 16
estações entre 06 e 14 de Junho de 2005. Para o estudo da variabilidade anatómica de
Oxychilus (Drouetia) minor utilizaram-se ainda animais recolhidos em outras ocasiões quer
no Pico (estações a-d) quer no Faial (estação e) (ver Fig. 1 para as estações da ilha do
Pico). Abaixo listam-se as estações:
Estação 1. Transversal antes do cruzamento para a Prainha, Cais do Pico, alt. 550 m. Mata
secundária de incenso, algumas acácias e criptomérias, subcrescimento de fetos;
pequenas pedras espalhadas no solo. 06-06-2005.
Estação 2. Cabeço do Caminho Escuro, Piedade, alt. 450 m. Mata secundária de incenso e
urze, denso subcrescimento de conteira. 07-06-2005.
Estação 3. Piedade, alt. 200 m. Mata secundária de incenso, acácia e faia, subcrescimento
esparso de conteira; muros de pedra. 07-06-2005.
Estação 4. Ossada, Caminho de Cima, Santa Luzia, alt. 340 m. Mata secundária de incenso
e acácia; muros de pedra interiores. 08-06-2005.
Estação 5. Rua da Cruz, Santa Luzia, alt. 120 m. Mata secundária de incenso; pedras.
08-06-2005.
Estação 6. Mata do Hospital, Madalena, alt. 30 m. Mata secundária de incenso,
subcrescimento de fetos e Tradescantia; muros de pedra solta. 08-05-2005.
Estação 7. Cabeço da Bola, caminho da montanha, alt. 1050 m. Vegetação endémica.
09-06-2005.
Estação 8. Ribeira da Mariquinhas, Ribeiras, alt. 150 m. Mata secundária de incenso em
pomar; muros de pedra. 09-06-2005.
Estação 9. Rua da Cruz, Santa Luzia, alt. 300 m. Mata secundária de incenso, louro e
acácia; pedras soltas. 10-06-2005.
Estação 10. Santa Luzia, junto ao marco geodésico 9, alt. 130 m. Muros de pedra, junto a
casas. 10-06-2005.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 55
Estação 11. Casas, caminho para Cais do Mourato, alt. 30 m. Muros de pedra caídos e
algum incenso. 10-06-2005.
Estação 12. Furnas, Santo António, alt 20 m. Mata secundária de acácia e incenso,
subcrescimento de conteira, fetos e Selaginella; pedras soltas. 10-06-2005.
Estação 13. Oiteirão, Prainha, alt. 220 m. Mata de criptoméria, vinhático, acácia e incenso,
subcrescimento de conteira e feto. 13-06-2005.
Estação 14. Portinho, Santo Amaro, alt. 10 m. Incenso e faia; muito pedregoso. 13-06-2005.
Estação 15. Estrada Regional, Santo Amaro, alt. 170 m. Mata de faia e incenso,
subcrescimento de conteira, Selaginella e hera; pedras soltas. 13-06-2005.
Estação 16. Rua da Cruz (Caminho de Cima), Santa Luzia, alt. 270 m. Mata secundária de
incenso, castanheiros e nogueiras, subcrescimento de conteira; muros e pedras
soltas. 14-06-2005.
Estação a. Estrada longitudinal, N do Cabeço do Silvado, alt. 750 m. Floresta endémica.
28-06-1991.
Estação b. Reserva florestal da Lagoa do Caiado, alt. 800 m. Floresta endémica. 13-02-1995.
Estação c. Lagoa do Peixinho, alt. 850 m. Entre a Selaginella nos muros de terra circundantes.
14-02-1995.
Estação d. Caminho de Cima, Santa Luzia, alt. 535 m. Mata secundária de incenso e acácia;
pedras soltas. 06-10-1997.
Estação e. Ribeirinha, Faial, alt. 120 m. Mata secundária de incenso e faia, algum
subcrescimento de hera; pedras soltas. 06-02-1990.
Métodos
Os animais foram preservados em álcool a 70 % depois de relaxados em água
durante cerca de 24 horas. Foram depois extraídos da concha, dissecados à lupa (Wild M8)
e tanto a concha como os órgãos dissecados foram desenhados com o auxílio de câmara
clara. Microscopia electrónica (Jeol JSM 5410) foi utilizada para o estudo da morfologia
interna do aparelho reprodutor; as amostras foram secas ao ponto crítico utilizando
hexamethyldisilane (15 min em cada um dos seguintes passos: álcool a 95%; álcool
absoluto; 1:1 álcool absoluto/acetona; acetona; hexamethyldisilane), tendo sido previamente
cobertas com carvão e depois com ouro/paládio 40/60 num evaporador de vácuo Jeol
JEE 400.
Abreviaturas utilizadas na figura 30
agl
br
brd
dpe
ep
hd
od
og
per
pes
ppe
pr
glândula do albúmen
bolsa
ducto da bolsa
porção distal do pénis
epifalo
ducto hermafrodítico
oviducto livre
orifício genital
músculo retractor do pénis
bainha do pénis
porção proximal do pénis
próstata
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 56
pvg
sod
v
vd
glândula perivaginal
espermoviducto
vagina
ducto deferente
RESULTADOS
Distribuição da malacofauna do Pico
As espécies recolhidas nas 16 estações atrás referidas estão organizadas
sistematicamente, segundo Backhuys (1975) com actualização de Cunha et al. (2005), na
lista que se segue:
Lista Sistemática
Filo
MOLLUSCA
Classe GASTROPODA
Subclasse PROSOBRANCHIA
Ordem
MESOGASTROPODA
Família Hydrocenidae
Hydrocena gutta Shuttleworth, 1852
Subclasse PULMONATA
Ordem
ARCHAEOPULMONATA
Família
Ellobiidae
Carychium ibazoricum Bank & Gittenberger, 1985
Ordem
STYLOMMATOPHORA
Família
Cochlicopidae
Cochlicopa lubrica (Müller, 1774)
Família
Vertiginidae
Columella microscopora (Lowe, 1852)
Vertigo pygmaea (Draparnaud, 1801)
Família
Pupillidae
Leiostyla fuscidula (Morelet, 1860)
Leiostla rugulosa (Morelet, 1860)
Lauria fasciolata (Morelet, 1860)
Lauria aff. fasciolata (Morelet, 1860)
Lauria anconostoma (Lowe, 1831)
Família
Valloniidae
Vallonia costata (Müller, 1774)
Vallonia pulchella (Müller, 1774)
Acanthinula azorica Pilsbry, 1926
Spermodea monas (Morelet, 1860)
Família
Enidae
Macaronapaeus cf. alabastrinus (Morelet, 1860)
Macaronapaeus cf. vulgaris (Morelet, 1860)
Macaronapaeus cf. delibutus (Morelet, 1860)
Macaronapaeus forbesianus (Morelet, 1860)
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 57
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Família
Macaronapaeus aff. forbesianus (Morelet, 1860)
Endodontidae
Toltecia pusilla (Lowe, 1831)
Discidae
Discus rotundatus (Müller, 1774)
Arionidae
Arion intermedius Normand, 1852
Vitrinidae
Phenacolimax brumalis
Plutonia atlantica (Morelet, 1860)
Zonitidae
Vitrea contracta (Westerlund, 1871)
Nesovitrea hammonis (Ström, 1765)
Aegopinella nitidula (Draparnaud, 1805)
Oxychilus (Oxychilus) draparnaudi (Beck, 1837)
Oxychilus (Drouetia) minor (Morelet, 1860)
Limacidae
Limax maximus Linnaeus, 1758
Lehmannia valentiana (Férussac, 1823)
Deroceras caruanae (Pollonera, 1891)
Deroceras reticulatum (Müller, 1774)
Euconulidae
Euconulus fulvus (Müller, 1774)
Clausiliidae
Balea heydeni Maltzan, 1881
Testacellidae
Testacella maugei Férussac, 1819
Hygromiidae
Microxeromagna armillata (Lowe, 1852)
Leptaxis drouetiana (Morelet, 1860)
Moreletina vespertina (Morelet, 1860)
Moreletina sp.
Cochlicella barbara (Linnaeus, 1758)
Helicidae
Oestophora barbula (Rossmässler, 1838)
Helix aspersa Müller, 1774
Na Tabela 1 apresenta-se a distribuição das espécies recolhidas nas várias estações
amostradas.
Sobre a variabilidade de Oxychilus (Drouetia) minor
Análise do aspecto do animal de Oxychilus (D.) minor evidenciou variabilidade de
coloração (Figs. 3-9); na maior parte das populações o animal apresenta uma coloração
esbranquiçada com tons azulados, por vezes levemente rosados, à excepção dos exemplares
da população da Ossada, Santa Luzia (estação 4, donde proveio o “1093”), que mostram
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 58
uma coloração fortemente alaranjada. A coloração do bordo do manto exibe alguma
variabilidade, destacando-se neste aspecto a população do Cabeço da Bola (estação 7)
que mostra uma conspícua mancha escura à volta do pneumostómio.
A concha, se bem que de diferentes dimensões, apresenta um perfil bastante
homogéneo em todas as estações (figs. 11-21). Importa, todavia, ter em conta que os
exemplares desenhados foram aqueles dos quais se utilizou os animais para fotografia e/ou
dissecção; se bem que hajam sido seleccionados os maiores espécimens e, na maioria,
estivessem maturos, o grau de maturidade poderá não corresponder em todas as estações,
pelo que um tratamento quantitativo se torna aqui injustificável (veja, e.g. a fig. 16); serve,
todavia, como registo qualitativo de variabilidade de tamanho.
As várias populações picoenses de O. (D.) minor mostram elevada diversidade na
anatomia do aparelho reprodutor (figs. 23-33; para terminologia, confira fig. 30), sendo, o
tamanho do ducto da bolsa (brd) a característica mais constante; devido à sua dependência
do grau de maturidade, o aspecto da glândula perivaginal não é aqui tomado em
consideração. Na porção feminina regista-se, e.g., o comprimento diferente do oviducto
livre, desde quase inexistente (fig. 24) até bastante desenvolvido (fig. 29); ou ainda o
comprimento da vagina, muito curta em algumas populações (figs. 23, 29, 32) mas
variadamente longa noutras. O complexo penial varia igualmente em algumas características,
nomeadamente: a extensão da bainha penial (pes), extremamente desenvolvida nos
exemplares da Madalena (fig. 23), apresenta-se bastante curta nos exemplares de Ossada
(fig. 30). Finalmente, nas proporções do pénis no respeitante às porções proximal e distal
(separadas pelo ponto de entrada do epifalo), também se verifica variabilidade acentuada,
podendo destacar-se as populações de Santo António e Prainha (figs. 32 e 33) por possuírem
uma parte proximal excessivamente curta. Esta diferença nas proporções do pénis torna-se
mais visível ao observar a sua morfologia interna, sobretudo a morfologia do poro do epifalo
(figs. 35-43). Podem aqui encontrar-se até três tipos morfológicos básicos, se bem que com
algumas variantes: o primeiro, exemplificado nas populações de Madalena, Cabeço do
Silvado, Lagoa do Caiado, Cais do Pico e, talvez, Piedade (figs. 35, 37-40), apresenta a
secção proximal alongada e o poro do epifalo praticamente destituído de ornamentação; o
segundo, evidente na população da proveniência do “1093” (figs. 41-42), com a parte
proximal relativamente longa e com o poro do epifalo alongado e conspicuamente provido
de sulcos radiais; o terceiro, exemplificado nas populações de Santo António (fig. 43) e
Prainha, com a parte proximal muito curta e o poro do epifalo retraído e provido de fortes
sulcos radiais; o exemplar do Cabeço da Bola (fig. 28) mostra uma situação intermédia
entre o primeiro e segundo tipos, com o poro do epifalo evidente mas desprovido de sulcos
radiais acentuados.
DISCUSSÃO
Os resultados aqui apresentados referentes à distribuição dos moluscos terrestres
do Pico não podem ser tomados como típicos para a ilha, atendendo à escassez de pontos
amostrados e à representatividade de habitats investigados. Tal fica-se a dever ao facto do
objectivo primário da missão se haver centrado na recolha de exemplares de Drouetia em
pontos da ilha distanciados, de modo a se conseguir uma noção aproximada da variabilidade
morfológica e anatómica de Oxychilus (D.) minor. Neste sentido, embora tal não haja
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 59
transparecido nos resultados apresentados, acentuou-se nesta missão a convicção de que
esta espécie não habita a encosta oeste da ilha. Investigações anteriores desde São Mateus
às Ribeiras, incluindo a presente estação 8, não produziram qualquer exemplar desta espécie,
não obstante os habitats parecerem bastante favoráveis e em tudo idênticos aos da costa
leste, bem como o elevado esforço de amostragem. As dimensões da ilha exigem uma
disponibilidade maior de tempo e a multiplicação de pontos de amostragem para que se
confirme esta convicção. No entanto, recolheram-se quase todas as espécies assinaladas
na última listagem (Cunha et al., 2005).
A variabilidade de espécies do subgénero Drouetia Gude tem suscitado interesse
pelo carácter fortemente démico da sua expressão (Martins, 1991, 2005) e as investigações
aqui relatadas confirmam que, também no Pico, esse modelo se mantém. A fim de se
indagar da conspecificidade com as populações do Faial, incluiu-se no presente estudo a
análise de um exemplar da Ribeirinha, uma zona que, para além de ser a mais antiga da ilha
(França et al., 2003), muito provavelmente estabeleceu a ligação com o Pico durante as
várias regressões, através do curto e baixo canal que agora as separa. O exemplar faialense
possui uma cor rosada forte, não só na parte do corpo exposta mas ainda naquela que, por
transparência, se vê por debaixo da concha (fig. 2). Os exemplares do Pico são em geral
muito mais claros, excepção feita à população de origem do “1093” (est. 4; fig. 7); os
exemplares desta estação possuem, ainda, uma concha comparável em tamanho com os
faialenses (figs. 10, 17-18), enquanto que na maioria das populações picoenses a concha é
geralmente menor. No entanto, por virtude da utilização de apenas um exemplar ilustrativo,
estas observações assumem carácter meramente qualitativo embora resultem de
inspecção de uma amostragem maior. A anatomia do aparelho reprodutor é de igual modo
variada, mantendo todavia certa homogeneidade intra-démica. Note-se, todavia, a
semelhança superficial entre o exemplar faialense (fig. 22) e os de altitude do Pico
(figs. 24-27). Resultados mais consistentes decorreram da observação da morfologia
interna do pénis. O tipo 1, o mais vulgar, corresponde à morfologia observada no exemplar
faialense; foi esta peculiaridade que justificou a decisão de conspecificidade em Cunha et
al. (2005). Os outros dois tipos picoenses são bastante característicos e justificam uma
amostragem mais alargada de modo a inquirir da morfologia em zonas de interface démica.
Os exemplares de Ossada (est. 4), do tipo 2, parecem estar relativamente circunscritos. No
entanto o mesmo não se pode afirmar dos exemplares do tipo 3 que foram encontrados em
Santo António (est. 12; fig. 43) e na Prainha (estação 13), distanciados 12 km, tendo por
meio o deme do Cais do Pico (est. 1; fig. 41), morfologicamente bastante diferente. Esta
distribuição disjunta do tipo 3 pode indiciar alguma peculiaridade taxonómica, todavia não
justificável apenas com a presente investigação. Digno de nota, ainda, é o facto dos muitos
exemplares recolhidos na Piedade (est. 3) estarem ainda imaturos quando nas restantes
estações não havia sido difícil encontrar animais maturos. Tal dessincronia vem acrescentar
uma característica comportamental à já tão diversa variabilidade morfológica e anatómica;
de novo, o presente estudo, pelos condicionalismos que se impôs, não se permite daí tirar
outras conclusões.
Em suma, a variabilidade démica assinalada por Martins (2005) para Oxychilus (D.)
atlanticus, endémico de São Miguel, acontece também com não menos intensidade no Pico. Tal
facto aponta para a existência talvez de algum condicionalismo genético inerente a ambos os
taxa, provavelmente relacionado com origem comum relativamente recente. A
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 60
compreensão do alcance de tal diversidade só poderá ser viável mediante estudo similar
em todas as ilhas do Grupo Central e em São Miguel, não apenas recorrendo à metodologia
tradicional aqui empregue, mas utilizando conjuntamente uma abordagem molecular, de
maior resolução para a identificação da variabilidade populacional e para o estabelecimento
de relações filogenéticas entre os vários taxa.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos Serviços Florestais do Pico o apoio logístico concedido.
O Dr. Jorge Ricardo Medeiros diligentemente se encarregou da fotografia em microscópio
electrónico.
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XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 61
Tabela 1. Moluscos recolhidos na ilha do Pico durante a expedição de 2005; para as estações, ver texto.
.
Presença
- Ausência
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 62
Figura 1. Localização das estações de recolha em 2005 (est. 1-16) e de outras das quais foram utilizados exemplares para este estudo (est.
a-d). As estações marcadas a fundo preto assinalam aquelas onde se recolheram exemplares de Drouetia.
Ver texto para explicação. (Imagem adaptada de França et al., 2003).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 63
Figuras 2-9. Animal de Oxychilus (Drouetia) minor. 2, Ribeirinha, Faial (est. e). 3, Madalena
(est. 6). 4, Cabeço da Bola (est. 7). 5, Cabeço do Silvado (est. a). 6, Piedade (est. 3).
7, Ossada (est. 4).8, Cais do Pico (est. 1). 9, Santo António (est. 12).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 65
Figuras 10-21. Concha de Oxychilus (Drouetia) minor. 10, Ribeirinha, Faial (est. e).
11, Madalena (est. 6). 12, Cabeço da Bola (est. 7). 13, Cabeço do Silvado (est. a).
14, Lagoa do Caiado (est. b). 15, Lagoa do Peixinho (est. c). 16, Piedade (est. 3).
17, “1093”, Santa Luzia (est. d). 18, Ossada (est. 4). 19, Cais do Pico (est. 1).
20, Santo António (est. 12). 21, Prainha (est. 13). Escala = 1 mm.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 66
Figuras 22-33. Aparelho reprodutor de Oxychilus (Drouetia) minor. 22, Ribeirinha, Faial (est. e).
23, Madalena (est. 6). 24, Cabeço da Bola (est. 7). 25, Cabeço do Silvado (est. a).
26, Lagoa do Caiado (est. b). 27, Lagoa do Peixinho (est. c). 28, Piedade (est. 3). 29, “1093”, Santa
Luzia (est. d). 30, Ossada (est. 4). 31, Cais do Pico (est. 1). 32, Santo António (est. 12).
33, Prainha (est. 13). Escala = 1 mm. Ver texto para descodificação das abreviaturas.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 67
Figuras 34-43. Morfologia interna do pénis de Oxychilus (Drouetia) minor. 34, Ribeirinha, Faial (est.e).
35, Madalena (est. 6); a, pormenor do poro do epifalo. 36, Cabeço da Bola (est. 7);
a, pormenor do poro do epifalo. 37, Cabeço do Silvado (est. a). 38, Lagoa do Caiado (est. b).
39, Piedade (est. 3); a, pormenor do poro do epifalo. 40, Cais do Pico (est. 1). 41, Ossada (est. 4).
42, “1093”, Santa Luzia (est. d); a, pormenor do poro do epifalo. 43, Santo António (est. 12);
a, pormenor do poro do epifalo. Escalas = 400 ìm.
CONSERVAÇÃO DA AVIFAUNA DA ILHA DO PICO
FÁTIMA M. MEDEIROS, RITA MELO, CARINA CARDOSO,
NATÉRCIA VITÓRIA & DONZÍLIA NUNES
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
INTRODUÇÃO
A orla costeira do Pico erigida sobre pedra basáltica parece, numa primeira
abordagem, ser inóspita para a sobrevivência da avifauna. No entanto os interstícios, que
se formam no substrato rochoso, o solo e a vegetação que lhes estão associados conferem
locais excelentes de abrigo e nidificação para muitas aves, principalmente em zonas
íngremes como as que se situam entre São Roque e a Prainha do Norte.
Desde que o homem colonizou a ilha do Pico que esta parte da ilha constitui um
oásis para a reprodução de várias espécies de aves marinhas (Gaspar Frutuoso, 1998).
Actualmente alberga, principalmente, uma colónia de cagarro (Calonectris diomedea borealis).
Apesar de se tratar de uma espécie muito comum, neste local, e em muitos outros das
diferentes ilhas do arquipélago dos Açores, tem uma distribuição mundial muito restrita,
razão pela qual há que ter em conta o elevado valor patrimonial desta parte da ilha do Pico.
Assim há que envidar todos os esforços para a manutenção deste valor por
intermédio das acções seguintes: 1 – impedir modificações paisagísticas que possam ter
efeitos nefastos para as populações de aves nidificantes no local referido; 2 – restringir o
trânsito de viaturas, durante a noite, nas proximidades da colónia mencionada; 3 – evitar a
pesca excessiva de cefalópodes, de peixes e de crustáceos (elementos principais da dieta
de várias espécies de aves marinhas); 4 – contribuir para a diminuição do uso de pesticidas
e fertilizantes por parte dos agricultores; 5 – incentivar a utilização de combustíveis menos
poluentes nos transportes marítimos.
O homem, ao povoar a ilha do Pico, introduziu muitas espécies vegetais e animais
a julgar pelas grandes extensões de vinhas e pelas inúmeras criações de gado (vacas,
ovelhas e cabras) referidas por Gaspar Frutuoso (1998). Apesar dos ecossistemas da ilha
do Pico terem sido rapidamente modificados pelo homem, desde que este a colonizou, esta
ilha contém maior biodiversidade de plantas endémicas e nativas (Borges et al., 2005)
comparativamente a outras ilhas do arquipélago, onde se tem verificado uma maior acção
antrópica. A avifauna residente ter-se-à adaptado àquelas plantas muito antes da vinda do
homem.
Nesta ilha registam-se efectivos populacionais mais elevados de algumas espécies de
aves residentes, como a galinhola (Scolopax rusticula) e a narceja (Gallinago gallinago).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 70
As populações destas duas espécies apresentam hábitos mais sedentários, no
arquipélago dos Açores, do que na maioria das populações conspecíficas que ocorrem em
meios continentais (Cramp e Simmons, 1983). Trata-se de uma característica que foi legada
pelos indivíduos que outrora chegaram a estas ilhas, os quais possuíam características
diferentes dos da maioria da população original, nomeadamente um menor ímpeto para
migrar, que é determinado geneticamente (Berthold e Querner, 1981; Berthold, 1999), e que
terá sido legado às populações descendentes. Assim, apesar destas duas espécies não
constituírem subespécies particulares dos Açores e serem cinegéticas, desenvolveram
características insulares específicas que urge manter.
O último Check List das aves do Arquipélago dos Açores (Le Grand, 1983) refere
para a ilha do Pico a nidificação das espécies seguintes: C. d. borealis (cagarro); Buteo
buteo rothschildi (milhafre ou queimado); Alectoris rufa (perdiz); Coturnix coturnix conturbans
(codorniz); Charadrius alexandrinus (borrelho-de-coleira-interrompida); G. gallinago (narceja);
S. rusticola (galinhola); Larus cachinnans atlantis (gaivota); Sterna hirundo (garajau-comum);
Sterna dougallii (garajau-rosado); Columba livia (pombo-das-rochas); Columba palumbus
azorica (pombo-torcaz); Asio otus (mocho); Motacilla cinerea patriciae (alvéola); Erithacus
rubecula (pisco-de-peito-ruivo); Turdus merula azorensis (melro-negro); Sylvia atricapilla
atlantis (toutinegra); Regulus regulus inermis (estrelinha); Carduelis carduelis parva
(pintassilgo); Serinus canaria (canário-da-terra); Fringilla coelebs moreletti (tentilhão); Passer
domesticus (pardal-comum); Sturnus vulgaris granti (estorninho).
Os trabalhos mais aprofundados sobre aves marinhas que se iniciaram em 1989
no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, em colaboração com a Royal
Society for Protection of Birds (Del Nevo et al., 1990; Avery et al., 1995) e que continuaram
no Departamento de Oceanografia e Pescas (Monteiro et al., 1996) permitiram continuar a
considerar o garajau-rosado (Sterna dougallii) como espécie nidificante.
O garajau-rosado reproduz-se nos Açores, após ter realizado uma viagem de cerca
de 5000 Km desde o Oeste de África. Em Portugal também nidifica nas Selvagens e na
Madeira. Na restante Europa reproduz-se no Reino Unido, no Norte de França, na Irlanda e
em Espanha (Canárias).
Os efectivos desta espécie têm diminuído drasticamente, em todo o mundo, pelo
menos, desde 1970. Os Açores assumem elevada importância a nível internacional, pois
albergam cerca de 60% dos indivíduos da população europeia, apesar do número de casais
nidificantes variar bastante de ano para ano (Avery et al., 1995).
O garajau-rosado consta da lista mundial de aves ameaçadas da ICBP
(International Council for Bird Preservation), do anexo I da Directiva de Aves, do apêndice II
da Convenção de Berna e do Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (Serviço Nacional
de Parques e dos Recursos Naturais, 1990).
O Pico possui habitats propícios para a nidificação de outros Procellariformes, para
além do cagarro, nomeadamente o pintainho (Puffinus assimilis baroli), cujos efectivos
populacionais no arquipélago dos Açores são muito reduzidos (Monteiro et al., 1966). De
facto o Museu Carlos Machado de Ponta Delgada contém um espécime adulto pertencente
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 71
a esta espécie, que foi capturado no Pico, na primeira metade do século XX, durante a
época de reprodução. No entanto não há dados recentes que permitam confirmar a sua
nidificação nesta ilha.
A galinha-de-água (Gallinula chloropus correiana) nidificou no passado nas ilhas
de São Miguel, Terceira e Faial (Murphy e Chapin, 1929; Murphy, 1931; Mayaud, 1937) e
continua a reproduzir-se nestas ilhas. No Pico ainda não foi registada a residência desta
espécie, apesar desta ilha conter habitats propícios para a sua nidificação, designadamente
as lagoas e zonas húmidas, principalmente as mais protegidas pelo vento, que possuem
nas proximidades árvores, arbustos e/ou herbáceas altas.
A orla costeira das Lages do Pico constitui um dos locais do arquipélago dos Açores
onde se regista maior diversidade de aves migratórias (Costa et al., 2003; Elias et al., 2004;
Elias et al., 2005), principalmente durante o Outono e o Inverno. As características particulares
do substrato rochoso e arenoso, a presença temporária de água doce em pequenas poças,
formam microhabitats propícios para a ocorrência de elevada biodiversidade de organismos
vegetais e animais, muitos dos quais constituem a dieta das aves migratórias.
Foram referidas algumas razões que justificam a selecção de zonas delimitadas
com vista à protecção das aves selvagens. Estas razões e muitas outras permitiram criar 15
Zonas de Protecção Especial nos Açores, com o mesmo objectivo, 4 das quais se situam na
ilha do Pico (ZPE 26 – Furnas – Stº António; ZPE 27 – Zona Central do Pico; ZPE 24 – Lages
do Pico e ZPE 25 - Ponta da ilha). Estas 4 zonas são de extrema importância para a
conservação de muitas espécies de aves que residem ou ocorrem no Pico, bem como para
a protecção dos seus habitats.
Pelo exposto torna-se pertinente verificar, periodicamente, a presença das diferentes
espécies de aves que nidificam regularmente na ilha do Pico, visitar habitats propícios à
sobrevivência de espécies de aves não residentes, registar a presença de aves migratórias
de passagem e detectar eventuais ameaças que possam impedir a sua sobrevivência e/ou
permanência nesta ilha.
No decurso da Expedição Científica ao Pico os trabalhos da equipa de ornitologia
tiveram dois objectivos:
1 – identificar eventuais alterações no número e/ou tipo de espécies de aves que
terão ocorrido, nesta ilha, nos últimos anos;
2 – quantificar variáveis dos habitats seleccionadas pelas aves.
O presente relatório diz respeito, essencialmente, ao primeiro objectivo. Neste
contexto pretendeu-se : I – registar a presença de espécies comuns; II – verificar a
presença de espécies raras; III – detectar a eventual ocorrência de espécies que apesar de
não terem sido, ainda, registadas nesta ilha, têm grande probabilidade de aqui ocorrer,
dada à presença de habitats propícios à sua sobrevivência, como por exemplo várias
espécies de Procelariformes ameaçadas a nível mundial. Trata-se de espécies
características de zonas tropicais que apresentam efectivos populacionais muito reduzidos
nos Açores, provavelmente, por se encontrarem no limite da sua área de distribuição.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 72
Actualmente estão referidas para o Pico 23 espécies de aves nidificantes. Algumas
destas espécies são raras, como por exemplo a perdiz (A. Rufa). A monitorização de espécies
raras requer um elevado investimento em termos de tempo. Assim, os dados que foram
recolhidos, ao longo da presente expedição, constituem um complemento de outros, do
mesmo tipo, que já tinham sido compilados, em anos anteriores, pela signatária e por equipas
de colaboradores.
METODOLOGIA
No que se refere às aves residentes de ocorrência rara a comum efectuaram-se
visitas a diversos locais costeiros e do interior da ilha do Pico, escolhidos ao acaso, e
procedeu-se ao registo das espécies observadas ou ouvidas.
No que diz respeito a aves que foram registadas, nesta ilha, no passado e não têm
sido observadas, nos últimos anos, bem como a aves que poderiam nidificar no Pico, dada
a presença de habitats propícios para tal, foram emitidos os seus sons específicos em
paragens previamente estabelecidas.
Realizaram-se, pelo menos, duas voltas à ilha que incluíram paragens em todos os
locais costeiros com acesso, a pé, ao mar. Visitou-se uma vez o sopé da ilha do Pico (a
1400 metros de altitude). Efectuaram-se, pelo menos, duas visitas às Lagoas seguintes:
Capitão, Landroal, Caiado, Negra, Paúl, Peixinho, Rosada e Ilhéu.
Em todos os locais, durante o dia ou nas primeiras quatro horas da noite, foram
emitidos os sons das espécies seguintes, de acordo com os seus hábitos: Bulweria bulwerii
(alma-negra), Puffinus puffinus (estapagado), Puffinus assimilis baroli (pintainho),
Pelagodroma marina (calca-mar), Hydrobates pelagicus (painho-de-cauda-quadrada),
Oceanodroma castro (angelito), Gallinula chloropus correiana (galinha-de-água), Charadrius
alexandrinus (borrelho-de-coleira-interrompida) e Carduelis chloris (verdilhão).
Em cada paragem, após o motor da viatura parar, esperava-se silêncio durante
2 minutos, emitia-se o som de cada espécie durante 1 minuto, aguardava-se pela resposta,
durante mais 2 minutos, e anotavam-se os dados obtidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhos de campo efectuados no Pico (nos anos de 1989, 1990, 1991, 1996,
1997, 1998, 1999 e 2000), bem como os trabalhos efectuados ao longo da presente expedição
científica permitiram confirmar a nidificação, nesta ilha, de 22 espécies de aves. Estas são
as que se encontram referidas no Check list, com excepção do borrelho-de-coleira-interrompida (C. alexandrinus) e da galinha-de-água (G. c. correiana).
A primeira espécie é considerada comum no Check list (Le Grand, 1983) em todas
as ilhas do arquipélago com excepção de São Jorge, Flores e Corvo. No entanto nunca foi
registada como nidificante no Pico nas visitas referidas. Estas visitas foram efectuadas
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 73
durante a época de reprodução a todas as ilhas, na maioria dos anos acima referidos e
duraram cerca de 3 a 7 dias, em cada ilha, por ano. As mesmas permitiram verificar que não
se trata de uma espécie comum. Os habitats propícios para a sua nidificação são raros em
todo o arquipélago, com excepção da ilha de Santa Maria.
Quanto à galinha-de-água (G. c. correiana), no Check list vem referida a necessidade
de confirmação da sua nidificação. Apesar do grande esforço de procura nos habitats propícios
para tal, que ocorreu na maior parte dos anos mencionados, e ao longo da presente expedição,
não foram encontrados quaisquer indícios de nidificação desta espécie.
Esta tem-se reproduzido noutras ilhas do arquipélago, já mencionadas, em zonas
húmidas. A destruição destas zonas tem ocorrido frequentemente, designadamente o seu
soterramento, sem se ter em conta os possíveis impactes sobre a flora e a fauna.
A maioria das espécies referidas no Check list citado são comuns no Pico à excepção
de G. gallinago (narceja), S. rusticola (galinhola) e de C. p. azorica (pombo-torcaz) que são
consideradas, respectivamente, em perigo, rara e vulnerável. O observador de aves mais
atento ou até um caçador discordará de tais estatutos.
Apesar das duas primeiras espécies serem cinegéticas há que restringir bastante
a sua caça, dado que é necessário ter em conta os efectivos reduzidos que estas exibem na
maioria das ilhas do arquipélago e uma vez que são espécies residentes, em ilhas, sendo
consequentemente bastante vulneráveis a acções antrópicas.
No que diz respeito a C. p. azorica também é necessário ter em conta a sua
abundância nas restantes ilhas dos Açores, bem como o facto de ser uma subespécie
endémica que adquiriu caracteres particulares nestas ilhas, antes do homem aqui chegar, o
que lhe confere também elevada vulnerabilidade.
Ao longo desta expedição o número de casais de garajau-rosado (S. dougallii)
registado foi reduzido relativamente às outras ilhas dos Açores (Santa Maria, Graciosa e
Flores, por exemplo), o que está de acordo com os trabalhos que foram efectuados em anos
anteriores - Del Nevo et al., 1990.
O Pico, geralmente, alberga um número reduzido de casais, pertencentes à última
espécie devido à elevada acessibilidade dos locais de nidificação, que os tornam vulneráveis
a actividades antrópicas, bem como à perturbação de predadores terrestres introduzidos:
as três espécies de ratos (Mus musculus, Rattus rattus e R. norvegicus), o furão (Mustela
furo) e o gato doméstico (Felis domesticus).
Apesar das colónias de nidificação do garajau-rosado (S. dougallii), detectadas nesta
expedição, se encontrarem salvaguardadas pelas Zonas de Protecção Especial, existentes no
Pico, há que criar condições para que possa haver um número crescente de casais a nidificar,
desta espécie ameaçada a nível mundial, por intermédio de acções empreendidas no campo,
por guardas da natureza, no sentido de mitigar os factores que conduzem a um reduzido sucesso
reprodutivo.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 74
Das nove espécies de aves que potencialmente poderiam nidificar no Pico ocorreram
respostas positivas, durante a primeira visita, apenas de uma delas - C. chloris (verdilhão),
em três locais diferentes. No entanto na segunda visita a cada um destes locais não foi
possível obter a confirmação residência desta espécie no Pico.
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NOVOS DADOS SOBRE LEPIDOPTERA E HYMENOPTERA
(INSECTA) DA ILHA DO PICO, AÇORES
JOÃO TAVARES1, LUÍSA OLIVEIRA1, VIRGÍLIO VIEIRA1, JEREMY MCNEIL2
& ROSA MARTINS3
1
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
2
Department of Biology, University of Western Ontario
London, ON - N6A 5B7- Canada
3
Lugar de Golães - Paderne. 4960-240 Melgaço
RESUMO
Apresenta-se a lista das borboletas diurnas e nocturnas (Lepidoptera) recolhidas
entre 6 e 15 de Junho de 2005 na ilha do Pico (Açores). O número de lepidópteros conhecidos
desta ilha é actualmente de 95 espécies, resultando da literatura e da observação de 23
espécies (24,2 %), especialmente Macrolepidópteros. À excepção de Homoeosoma picoensis
Meyer, Nuss & Speidel, 1997 (Crambidae), presente unicamente nesta ilha, todos os
endemismos citados (26,32%) são comuns a outras ilhas do arquipélago. Em relação aos
Himenópteros do Pico, observou-se a existência de Glyptapanteles militaris (Walsh)
(Hymenoptera: Braconidae) e de Lisibia nana (Gravenhorst) (Hymenoptera: Ichneumonidae),
respectivamente, um parasitóide larvar e um hiperparasitóide da “lagarta das pastagens”
Pseudaletia (=Mythimna) unipuncta (Haworth) (Lepidoptera: Noctuidae). Entre os parasitóides
oófagos foi observado Telenomus sp. (Hymenoptera: Scelionidae), um parasitóide de
Lepidópteros, e Trissolcus sp. (Hymenoptera: Scelionidae), um parasitóide de Hemípteros.
Estes parasitóides são importantes no controlo biológico de diversas pragas agrícolas.
ABSTRACT
This work provides a list of 95 butterflies and moths that inhabit on Pico Island
(Azores), of which 23 (24,2%) species were recorded during June 6-15, 2005. With the
exception of Homoeosoma picoensis Meyer, Nuss & Speidel, 1997 (Crambidae), the
endemic species cited to Pico (26,32%) are common to other Azorean islands. Regarding
the Hymenoptera, we recorded the presence of Glyptapanteles militaris (Walsh)
(Hymenoptera: Braconidae) a larval parasitoid of Pseudaletia (=Mythimna) unipuncta
(Haworth) (Lepidoptera: Noctuidae), as well, Lisibia nana (Gravenhorst) (Hymenoptera:
Ichneumonidae) a hiperparasitoid of the same pest. The egg parasitoid Telenomus sp.
(Hymenoptera: Scelionidae), was detected in an egg of Lepidoptera and Trissolcus sp.
(Hymenoptera: Scelionidae) was observed in eggs of Hemiptera. These parasitoid species
have a high value as biological control agents of agricultural pests usually found in Pico Island.
INTRODUÇÃO
O Pico é a segunda maior ilha (445 Km2) do arquipélago dos Açores, tendo em
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 78
média 45 km de comprimento e 13 km de largura. Situa-se no oceano Atlântico, entre as
coordenadas 38° 22' e 38° 36' de Latitude Norte e 28°00' e 28° 34' de Longitude Oeste de
Greenwich. Tem o seu ponto mais alto na montanha que lhe dá o nome com 2.351m de
altitude. Os registos sobre a fauna entomológica do Pico são ainda incompletos e fornecem,
por vezes, informações vagas sobre algumas espécies, estando geralmente inseridos em
trabalhos científicos de carácter generalista. No entanto, a obra de Borges et al. (2005a)
constitui já um grande contributo para o conhecimento da biodiversidade terrestre dos Açores,
incluindo a entomofauna das nove ilhas (Borges et al., 2005b).
Neste contexto, a nossa participação na “Expedição Científica Pico 2005”, levada a
efeito naquela ilha pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, entre 06 e
15 de Junho de 2005, teve como objectivo geral contribuir para um conhecimento mais
aprofundado dos artrópodes do Pico. Em particular, pretendeu-se atingir os seguintes
objectivos específicos: (i) contribuir para a inventariação dos Lepidópteros (em particular, as
espécies nocturnas endémicas) e Himenópteros da ilha do Pico; (ii) estudar os níveis de
infestação e dispersão da praga “lagarta das pastagens”, Pseudaletia unipuncta
(Lepidoptera: Noctuidae); (iii) conhecer os inimigos naturais de P. unipuncta, especialmente
Glyptapanteles militaris (Hymenoptera: Braconidae); (iv) conhecer os parasitóides oófagos
que desempenham um papel fundamental no controlo biológico de pragas agrícolas nesta
ilha.
MATERIAL E MÉTODOS
INVENTARIAÇÃO DE LEPIDÓPTEROS DO PICO
Na captura de espécimens de Lepidópteros foram usadas principalmente duas
técnicas: (i) uma armadilha luminosa do tipo “Pennsylvania”, com uma lâmpada TLD 15 W/
05, alimentada por uma bateria de 12 V acoplada a um transformador, para o caso dos
Noctuidae; (ii) uma rede entomológica, para a captura de adultos. Também se recorreu à
observação directa de várias plantas hospedeiras, para o caso dos estados larvares. A
armadilha foi instalada a cerca de 600 m de altitude no lugar dos Três Caminhos (Bandeiras),
em zonas de vegetação mista (plantas endémicas e exóticas), durante três noites entre as
21:00 e a 01:00 horas.
Assim, a lista dos lepidópteros actualmente conhecida para a ilha do Pico é resultante
daquela publicada por Karsholt & Vieira (2005), bem como das prospecções feitas durante
a “Expedição Científica Pico 2005”. Relativamente à taxonomia e ao estatuto de colonização
dos taxa adoptou-se o critério de Karsholt & Vieira (2005).
PROSPECÇÃO DAS LARVAS E DOS PARASITÓIDES LARVARES DE P. UNIPUNCTA
Procedeu-se à prospecção dos parasitóides larvares de P. unipuncta, recolhendo todos
os grupos de casulos de G. militaris encontrados nas pastagens em várias localidades da ilha
(ver Tabela 3), assim como de todas as larvas de P. unipuncta. Posteriormente, as larvas e os
casulos foram trazidos para o laboratório e colocados em caixas de plástico (2.000 ml), sendo as
larvas alimentadas com dieta natural (erva). Diariamente, a mortalidade larvar de P. unipuncta
era avaliada, e foi registada a percentagem de larvas parasitadas por G.
militaris, o número médio de casulos por larva, a percentagem de emergência e o
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 79
“sex-ratio” dos adultos obtidos em laboratório.
PROSPECÇÃO DE OUTROS PARASITÓIDES
A prospecção de parasitóides foi realizada através de uma amostragem directa e
aleatória de ovos de Lepidópteros e de Hemíptero, recolhidos sobre diversas espécies
vegetais, em vários biótopos. Os ovos foram recolhidos com a parte da folha da planta que
lhes servia de suporte. Em laboratório, os ovos foram isolados em tubos de vidro
(70x8 mm), fechados com um pouco de algodão e identificados com uma etiqueta, na qual
se registou a data e a planta hospedeira. Diariamente, procedeu-se à observação do
parasitismo, registando-se então o número de indivíduos parasitados e não parasitados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
LISTA DOS LEPIDÓPTEROS DO PICO
A lista dos lepidópteros da ilha do Pico é actualmente constituída por 95 espécies
e subespécies (Tabela 1), representando 66,76% das 149 actualmente conhecidas para o
Arquipélago dos Açores (ver Karsholt & Vieira, 2005). As Tabelas 1 e 2 mostram o estatuto
de colonização dos taxa do Pico em relação às outras ilhas dos Açores. À excepção de
Homoeosoma picoensis Meyer, Nuss & Speidel (Crambidae), espécie recentemente descrita
para esta ilha (em 1997), todos os endemismos citados (26,32%) são comuns a outras ilhas
do arquipélago. Por outro lado, três espécies nativas dos Açores Lantanophaga pusillidactylus,
Stenoptilia zophodactylus (Pterophoridae) e Herpetogramma licarsisalis (Pyralidae) estão
presentes exclusivamente no Pico (7,15%), enquanto Trichophaga tapetzella (Tineidae) e
Caloptilia schinella (Gracillariidae) são consideradas como introduzidas unicamente
nesta mesma ilha, correspondendo a 8,33% de 24 introduzidas comuns a outras ilhas
(Tabelas 1 e 2).
Durante a Expedição Científica Pico 2005, apenas foram observadas 23 (24,2 %)
das espécies que constituem a actual lista, sugerindo que o esforço de amostragem deve
ser mais dirigido para a captura desta ordem de insectos, dando particular ênfase aos
Microlepidópteros, deve ser padronizado e ainda extensivo a outras épocas do ano.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 80
Tabela 1: Lista actualizada das espécies e subespécies de Lepidópteros da ilha do Pico, segundo
Karsholt & Vieira (2005), incluindo os dados registados durante a “Expedição Científica Pico 2005”,
efectuada entre 06 e 15 de Junho de 2005.
EC=Estatuto de colonização, M=Macaronésia, EA=Endémica dos Açores, EP=Endémica do Pico,
n=Nativa, i=Introduzida.
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Tabela 2: Estatuto de colonização das espécies e subespécies de Lepidópteros do Pico.
PROSPECÇÃO DAS LARVAS E DOS PARASITÓIDES LARVARES DE P. UNIPUNCTA
O número de parcelas amostradas foi variável, dependendo do tipo de pasto
existente e da altitude em que elas se encontravam. Nem todas as parcelas continham
larvas de P. unipuncta, e só em algumas foi possível encontrar larvas parasitadas (Tabela 3). O
número de larvas recolhidas nestas parcelas foi baixo e a percentagem de larvas parasitadas
ainda foi mais diminuta, inferior a 10% (Tabela 3).
Tabela 3: Número de parcelas amostradas com larvas de P. unipuncta, número de larvas capturadas
e percentagem de larvas parasitadas, recolhidas na ilha do Pico, em Junho de 2005.
O número de larvas de P. unipuncta trazidas para o laboratório foi de 90 (Tabela 3),
muito inferior ao recolhido na mesma ilha em 1991 e na ilha Graciosa em 2004. No entanto,
a percentagem de larvas parasitadas por G. militaris foi superior tanto em relação ao observado
no Pico em 1991 como na Graciosa em 2004 (i.e. 10,36% em 2005 e 1,80% em 1991 no
Pico e 1,82% na Graciosa) (Tavares et al., 1992; Tavares et al., 2005). O número médio de
casulos de G. militaris por larva, obtido em laboratório, foi muito reduzido, tal como a
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 84
percentagem de emergência (Tabela 4). O “sex-ratio” dos adultos foi semelhante ao observado
em estudos anteriores (Oliveira, 1996; Tavares et al., 2005).
Em relação aos casulos de G. militaris recolhidos no campo, verificou-se que estes
se encontravam parasitados por Lisibia nana (Hymenoptera: Ichneumonidae), um
hiperparasitóide de P. unipuncta (Tabela 5), tal como já tinha sido observado nesta ilha em
1992, na ilha de Santa Maria e na Ilha da Madeira (Tavares et al., 1991; Tavares et al., 1992;
Garcia et al., 1999).
Tabela 4: Número de casulos, casulos por larva, percentagem de emergência e número total e
“sex-ratio” dos adultos de G. militaris obtidos em laboratório, através de larvas recolhidas
na ilha do Pico em Junho de 2005.
Comparando as percentagens de emergência dos adultos, obtidos dos casulos
encontrados no campo e recolhidos em laboratório, verifica-se que neste último caso o valor
foi muito inferior (Tabelas 4 e 5), tal como foi anteriormente observado na Graciosa e em
S. Miguel (Oliveira, 1996; Tavares et al., 2005).
Tabela 5: Número de casulos, percentagem de emergência e número total e sex-ratio dos adultos de
G. militaris e de L. nana, obtidos em laboratório através dos casulos de G. militaris, recolhidos
na ilha do Pico em Junho de 2005.
PROSPECÇÃO DE OUTROS PARASITÓIDES
Durante a expedição foram recolhidos 2.764 ovos de Lepidópteros e 324 de
Hemípteros, em diversas espécies vegetais. Os ovos de Lepidópteros pertenciam a diferentes
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espécies, sendo 94,46% de P. saucia (ovos em ooplacas) e os restantes 5,54% de outras
espécies (ovos isolados). Os ovos de P. saucia não se encontravam parasitados, enquanto
que 23% dos ovos isolados estavam parasitados por Telenomus sp. (Hymenoptera:
Scelionidae) (Tabela 6). Em relação aos ovos de Hemíptero (Nezara viridula), verificou-se
que apenas 1,2% estavam parasitados por Trissolcus sp. (Hymenoptera: Scelionidae).
Resultados semelhantes foram observados na 1ª Expedição do Departamento de
Biologia ao Pico (Tavares et al., 1992), assim como nos estudos efectuados noutras ilhas
dos Açores (Tavares et al., 1991; Tavares et al., 1993; Tavares et al., 1994; Vieira et al.,
1996). É de salientar que, contrariamente ao observado na 1ª Expedição à ilha do Pico,
não foi detectada a presença do parasitóide oófago Trichograma cordubensis
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) (Tavares et al., 1992).
Tabela 6: Número total de ovos de Lepidópteros recolhidos na Ilha do Pico, em diferentes
espécies vegetais e percentagem de ovos parasitados por Telenomus sp..
* Ovos de P. saucia em ooplaca.
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NEW RECORDS OF COCCINELLIDAE (COLEOPTERA)
TO THE AZORES ISLANDS
ANTÓNIO O. SOARES, ISABEL BORGES, SUSANA CABRAL,
HELENA FIGUEIREDO & ROBERTO RESENDES
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
ABSTRACT
In order to record new Coccinellidae species to the Azores, forty one samplings
were made in S. Miguel, Graciosa and Pico islands. Graciosa and Pico islands surveys were
performed during the scientific expeditions organised by the Department of Biology from the
University of the Azores, between the 7th and 15th of June, 2004 and the 6th and 15th of June,
2005, respectively. A total of eleven species were collected. The presence of two new
species was noticed: one Scymnini species to Pico island, Clitosthetus arcuatus (Rossi) and
one Coccinellini species to S. Miguel island, Myrrha octodecimguttata (Linnaeus).
INTRODUCTION
The knowledge of Coccinellidae faunal composition in the ecosystems, including
agro-ecosystems, is very important because species richness is one of the parameters used
to measure the biodiversity (Magurran, 1991) and this family includes many predators used
as natural enemies on biological control (Dixon, 2000). Of the predatory species most feed
on either aphids or coccids, with few feeding on both types of prey. Some species feed on
others species as mites, aleyrodids, ants, chrysomelid larvae, cicadellids, pentatomids, fungi
and psyllids (Dixon, 2000; Hodek & Honek, 1996). Thus the food of ladybirds in a particular
region is likely to reflect the faunal composition of the potential prey in that area (Dixon,
2000). The aim of this work is to contribute to the knowledge of the biological control agents
of the Coccinellidae family, in the Azores archipelago.
MATERIAL AND METHODS
Thirty sampling sites in S. Miguel, Graciosa and Pico islands were selected. A total
of forty one samplings were made [S. MIGUEL: Ponta Delgada (1); GRACIOSA: Terreiros
(1), Negro (1), Porto Afonso (1), João Gomes (1), Serra Branca (2), Folga (1), Alto do Sul (2),
Fenais (1), Pinheiro (1), Lagoa (2), Facho (1), Caldeira do Enxofre (1), Pico Timão (1),
Guadalupe (1), Luz (1) and Pico Machado (1); PICO: Terras (2), Manhenha (2), Sta. Luzia
(3), Cabrito (1), Madalena (2), Candelária (1), S. Mateus (2), S. João (1), Lajes (1), Prainha
(1), Piedade (1), S. Roque do Pico (2) and Cais do Mourato (1)].
Depending on the type of vegetal cover, we used direct observation, beating and
sweeping methods, cromotropic and Malaise traps, collecting ladybeetle adults or larvae
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 88
with a suction tube aspirator or a forceps, respectively. We never took more than one hour in
each sampling site. Larvae were reared until adult emergence. The collected specimens
were preserved in 70% alcohol and afterwards mounted and classified. The specimens
collected were deposited on the Ecology Section of the Department of Biology from the
University of the Azores.
The names of species provided on Table I. are according to the accepted names of
the Fauna Europaea database (Canepari, 2004).
RESULTS AND DISCUSSON
On overall samples a total of 11 species of ladybird beetles were collected. In S.
Miguel island, we collected the following species: Chilocorus bipustulatus (Linnaeus), Scymnus
subvillosus (Goeze), Adalia decempunctata (Linnaeus), Myrrha octodecimguttata (Linnaeus),
Rhyzobius lophanthae (Blaisdell) and R. chrysomeloides (Herbst.). In Graciosa island, the
collected species were R. lophanthae and R. litura (Herbst.). Finally, in Pico island we
collected 3 species: Clitosthetus arcuatus (Rossi), S. interruptus (Goeze) and S. nubilus
Mulsant. M. octodecimguttata and C. arcuatus, were, for the first time recorded to S. Miguel
and Pico islands, respectively. Species richness for the Azorean island is now updated to 18
species for S. Miguel, 18 species for Sta. Maria, 12 species for Terceira, 9 species for Graciosa,
11 species for S. Jorge, 6 species for Pico, 8 species for Faial, 7 species for Flores and 6
species for Corvo (Table I).
The following species S. mimulus, P. decemplagiatus (Borges et al., 2005a), H.
variegata and H. undecimnotata need further taxonomic work for confirmation of their
presence in the Azores.
ACKNOWLEDGEMENTS
We would like to thank to Dr. Armando Raimundo, for identifying the ladybeetles.
Thanks are also due to Professor Paulo A. V. Borges from the University of the Azores for his
helpful comments.
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9 Serrano (1982); 10 Israelson (1984); 11 Israelson (1985); 12 Raimundo & Alves (1986); 13 Gillerfors (1986); 14 Fürsch (1987);
15 Serrano & Borges (1987); 16 Borges & Serrano (1989); 17 Borges (1990b); 18 Soares et al. (1999); 19 Borges (1990a; pers. comm.);
20 Soares et al. (2003); 21 Borges et al. (2005b); 22 Present survey. Legend: # Synonymy of Stethorus wollastoni Kapur,
* Synonymy of Scymnus levaillanti Mulsant, + Synonymy of Lindorus lophanthae Blaisdell.
CONTRIBUIÇÃO PARA A CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS
INTERIORES DE SUPERFÍCIE DA ILHA DO PICO
VITOR GONÇALVES, PEDRO M. RAPOSEIRO, ANA I. COUTO, RUI M. COSTA,
FILIPA ROCHA, XAVIER WATTIEZ, DAVID CAMMAERTS & JOSÉ M. N. AZEVEDO
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
RESUMO
Com o objectivo de proceder à sua caracterização hidromorfológica, físico-química
e biológica visitaram-se, entre 7 e 14 de Junho de 2005, 24 lagoas situadas na ilha do Pico
(Açores). Todas as lagoas foram fotografadas e geo-referenciadas. Neste relatório são
apresentados os resultados relativos à hidromorfologia, aos parâmetros físico-químicos da
água, bem como parte dos elementos para a caracterização biológica, nomeadamente os
que se referem aos peixes e às plantas vasculares.
INTRODUÇÃO
A Ilha do Pico, devido à sua geomorfologia, possui grande abundância de águas
lênticas com dimensões variáveis, desde pequenos charcos até lagoas de dimensões
consideráveis. Ao longo de toda a ilha, especialmente na região do Planalto da Achada,
encontram-se numerosos cones de escórias, formas vulcânicas predominantes na ilha, cujo
topo se encontra normalmente truncado por uma cratera de explosão (Nunes, 1999), que
alberga frequentemente uma lagoa no seu interior. Nunes (1999) identificou nesta ilha cerca
de 30 lagoas, 66% das quais ocupam crateras de explosão em cones de escórias, 23%
surgem em áreas topograficamente deprimidas, 7% ocorrem em depressões tectónicas e
uma está associada a uma cratera de colapso.
Embora numa escala nacional ou europeia as lagoas da ilha do Pico possam ser
consideradas de dimensões pouco significativas [ver critérios de classificação da Directiva
Quadro da Água - DQA (European Parliament and The Council of the European Union,
2000)], a nível regional algumas delas, nomeadamente as lagoas do Caiado e Capitão, pela
sua representatividade enquanto reserva hídrica, valor paisagístico, riqueza ou singularidade
ecológica e risco de eutrofização, são consideradas importantes para a Região Autónoma
dos Açores (DROTRH/INAG, 2001). Para a conservação dos ecossistemas aquáticos, o
quadro normativo da DQA impõe a classificação e monitorização do “estado ecológico” das
águas superficiais, definido com base em parâmetros biológicos, hidromorfológicos e
físico-químicos. A determinação dos elementos biológicos envolve a análise da composição
e abundância do fitoplâncton e fitobentos, da flora aquática, dos invertebrados bentónicos e
dos peixes (European Parliament and The Council of the European Union, 2000).
Diversas pressões são exercidas sobre as lagoas da ilha do Pico que colocam
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 94
algumas delas em risco. As maiores ameaças à sua conservação advêm da exploração
agro-pecuária, com as consequentes alterações no coberto vegetal, da introdução de
espécies exóticas, e da captação de água para abastecimento à agro-pecuária e à produção
de água para consumo humano. A captação de água na lagoa do Caiado para abastecimento
à população do concelho de São Roque foi contabilizada em 3060 m3/mês (Cruz, 1997).
O conhecimento das águas interiores de superfície da ilha do Pico é muito reduzido,
especialmente no que se refere às suas comunidades biológicas e particularmente nas
lagoas de menores dimensões. Entre os trabalhos que abordam esta temática destacam-se
os realizados pelo Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores e pela Universidade dos
Açores (INOVA, 1996, 1999), e os trabalhos de Cruz (1997), Nunes (1999), Porteiro (2000),
Sousa (2000) e Gonçalves et al. (2006).
O presente trabalho teve como objectivo principal a inventariação do maior número
possível de massas de água interiores de superfície da ilha do Pico e fazer a respectiva
caracterização hidromorfológica, físico-química e biológica.
METODOLOGIA
Recorrendo à cartografia militar e aos dados publicados por Nunes (1999) e Sousa
(2000), realizaram-se campanhas de amostragem no maior número possível de lagoas da
ilha do Pico, durante a Expedição Científica do Departamento de Biologia da Universidade
dos Açores, realizada entre 7 e 14 de Junho de 2005. As condições atmosféricas adversas
e a limitação temporal imposta pela duração da expedição científica impediram uma
inventariação exaustiva das lagoas existentes. Para além disso, o difícil acesso a algumas
lagoas, quer pela orografia da sua bacia hidrográfica quer pela densidade da vegetação que
a cobre, limitaram o estudo dessas lagoas à sua inventariação e fotografia. Nas restantes
lagoas, para além do registo fotográfico, determinaram-se as respectivas coordenadas UTM,
efectuou-se o contorno das lagoas com GPS, sempre que possível determinou-se a
profundidade máxima da coluna de água, a sua temperatura, pH, condutividade e
transparência, e recolheram-se ainda amostras de fitoplâncton, fitobentos, zooplâncton,
zoobentos, plantas vasculares e peixes.
Nas lagoas de maior profundidade (lagoas do Capitão, Peixinho, Paúl e Rosada)
efectuou-se o estudo da batimetria. Para tal, idealizou-se uma quadrícula constituída por
pontos distanciados entre si cerca de 30 metros onde se registaram a profundidade da
coluna de água e as respectivas coordenadas. Estes dados foram introduzidos no programa
ArcGIS 9.1 para a obtenção dos mapas batimétricos.
A transparência da água foi medida com um disco de Secchi de 20 cm de diâmetro.
A temperatura, a condutividade e o pH foram determinados no local utilizando o medidor
Hanna HI 98129.
As amostras de fitoplâncton foram colhidas com uma rede de porosidade de 20
μm, com a qual se efectuaram vários arrastos e, sempre que possível, com a garrafa de
colheita tipo Van Dorn. O zooplâncton foi colhido com recurso a uma armadilha de Schindler
com uma rede de porosidade de 100 ì m. As amostras de fitobentos foram recolhidas
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maioritariamente por espremedura de macrófitas. Para a captura dos macroinvertebrados
recorreu-se à ajuda de um camaroeiro cuja porosidade da rede era de 500 ì m. Foram
efectuados arrastos com o camaroeiro pela margem procurando amostrar todos os habitats
presentes. Quando existiam substratos rochosos procedeu-se à sua escovagem para
remoção das algas e dos macroinvertebrados bentónicos. Todas as amostras recolhidas
foram colocadas em recipientes apropriados, devidamente etiquetados, e conservadas de
acordo com o tipo de amostra [formol neutralizado a 5 % para o fitobentos e zooplâncton (a
estas adicionou-se posteriormente açúcar), álcool a 96% para os macroinvertebrados
bentónicos, e Lugol a 1% para o fitoplâncton].
Relativamente às plantas vasculares, identificaram-se as espécies presentes dentro
de cada uma das lagoas, e recolheram-se e herborizaram-se pelo menos dois exemplares
de cada um dos taxa identificados de modo a constituir duas colecções de referência, uma
para o Herbário do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e outra para o
Herbário da Ecoteca do Pico.
Os peixes foram amostrados através de arrastos para a margem utilizando uma
rede de emalhar com malha de 18 mm e 50 m comprimento. Fixaram-se os animais em
formalina a 15%, neutralizada com borato de sódio à saturação. Quatro a seis semanas
após a colheita lavaram-se as amostras com água corrente para retirar o excesso de formalina,
que foi substituída por álcool a 70%.
RESULTADOS
Neste trabalho foram visitadas e amostradas 24 lagoas (Pranchetas I e II), cujas
designações e principais características são apresentadas na Tabela 1. A maioria das lagoas
estudadas situa-se a uma altitude elevada, entre 700 e 1000 metros, no interior de depressões
formadas por cones de escórias. As lagoas com este tipo de enquadramento geomorfológico
possuem dimensões muito reduzidas (menor que 0,012 Km2). As lagoas com maiores
dimensões (entre 0,025 e 0,054 Km2) são as que ocupam depressões com origem topográfica
(Caiado e Peixinho) ou tectónica (Paúl e Capitão). A Figura 1 mostra a localização geográfica
das lagoas inventariadas.
Os mapas batimétricos das lagoas do Capitão, Peixinho, Rosada e Paúl são
apresentados nas Figuras 2, 3, 4 e 5, respectivamente. Apesar destas lagoas serem as
mais profundas da ilha do Pico, a sua profundidade máxima não ultrapassa os 9 metros
(lagoa do Peixinho). Como se pode verificar pelos mapas batimétricos, a forma do leito das
lagoas é aproximadamente cónica com predomínio das zonas com baixa profundidade, o
que favorece o desenvolvimento de macrófitas.
Relativamente às características físico-químicas analisadas (Tabela 2), verifica-se
que se tratam de lagoas com águas ácidas (pH entre 4,16 e 6,53) e com baixa mineralização
(condutividade média de 30,4 μS/cm), o que pode indicar uma boa qualidade da água da
maioria destes ecossistemas. No entanto, a transparência da água registada nas lagoas do
Capitão e Peixinho (0,8 e 1,1 m, respectivamente) evidencia alguma degradação da qualidade
da água nestas massas de água. No mesmo sentido apontam os valores de concentração
da clorofila a.
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Figura 1. Lagoas visitadas na expedição à ilha do Pico.
Figura 2. Batimetria da lagoa do Capitão.
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Figura 3. Batimetria da lagoa do Peixinho.
Figura 4. Batimetria da lagoa da Rosada.
Na Tabela 3 indicam-se todas as espécies de plantas vasculares aquáticas
observadas e recolhidas durante a expedição. No conjunto das 24 lagoas identificaram-se
32 espécies de plantas. As espécies mais frequentes são Hydrocotyle vulgare, Callitriche
stagnalis, Scirpus sp., Galium palustre, Potentilla anglica, Potamogeton polygonifolius e
Juncus effusus, que ocorrem em dez ou mais lagoas. As lagoas com maior diversidade de
plantas vasculares são as lagoas da Rosada e do Caiado (Tabela 3), com 18 e 16 espécies
cada, respectivamente.
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Figura 5. Batimetria da lagoa do Paul.
As espécies de vertebrados aquáticos observadas no seguimento do presente
trabalho encontram-se listadas na Tabela 4. Foram capturadas 4 espécies de
peixes (truta arco-íris - Oncorhynchus mykiss, peixinho dourado - Carassius auratus,
ruivaca - Chondrostoma oligolepis e achigã - Micropterus salmoides).
Os resultados relativos às restantes comunidades biológicas (fitoplâncton,
zooplâncton, fitobentos e macrozoobentos) serão apresentados em futuras publicações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do esforço empregue, pelas razões já anteriormente apontadas, o número
de lagoas inventariadas e caracterizadas está longe de corresponder à totalidade das
existentes na ilha. O total de 24 lagoas agora observado é bastante inferior ao indicado em
trabalhos anteriores: cerca de 30 em Nunes (1999), 39 em Sousa (2000) e 28 em Porteiro
(2000). Para este menor número de lagoas observadas também contribuiu o facto de algumas
delas secaram durante o período estival, facto que foi observado nas lagoas do Ilheú, do
Cabeço Escalvado e José Inácio.
Como seria de esperar, dada a reduzida profundidade das lagoas da ilha do Pico,
a abundância de macrófitos é elevada em praticamente todas elas. As espécies presentes
são, na sua grande maioria, nativas dos Açores. Entre as espécies observadas salienta-se
a presença de Isoetes azorica, uma espécie endémica considerada em risco crítico e protegida
pela Convenção de Berna (Decreto-Lei nº 95/81) e pela Directiva Habitat – 92/43/EEC
(European Council, 1992), e cuja distribuição está restrita a este tipo de ecossistemas.
Quanto aos peixes, todos os exemplares capturados pertencem a espécies
introduzidas. Segundo informações recolhidas junto das autoridades locais responsáveis
pela introdução de peixes, foi a partir dos anos 60 que se começaram a introduzir nas
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lagoas trutas, achigãs e posteriormente ruivacas e carpas (Cyprinus carpio). Esta última
espécie não foi observada nos inventários agora efectuados.
Apesar de a maioria das lagoas apresentar uma boa qualidade ecológica, foram
detectados alguns factores de riscos que poderão afectar essa qualidade. As principais
ameaças encontradas foram: i) excessiva ocupação pecuária; ii) alteração do coberto
vegetal; iii) extracção de água; iv) facilidade de acesso a algumas lagoas de pessoas e
máquinas; v) introdução de peixes e vi) elevada densidade populacional de patos (Cairina
moschata). Estas ameaças contribuem para o assoreamento, eutrofização, desequilibrio
hídrico e trófico e redução da biodiversidade destes ecossistemas.
Estes ecossistemas, pela sua singularidade, quer em termos biológicos quer em
termos paisagísticos, e por constituirem uma reserva estratégica de água, deverão merecer
uma atenção especial das autoridades locais e regionais, bem como da população em geral.
A adopção de medidas conducentes à mitigação ou eliminação das ameaças presentes
contribuirá para uma melhoria significativa da qualidade destes sistemas aquáticos.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer ao Senhor João Alves (Secretaria Regional do Ambiente
e do Mar) pelo apoio e colaboração na árdua procura das lagoas. Também agradecemos a
todos os elementos da Expedição Pico 2005 que contribuíram para a elaboração do presente
estudo, nomeadamente à Dra. Carolina Arruda, à Dra. Pascalle, ao Thiago Nunes.
Agradecemos ainda o apoio da Doutora Maria João Pereira e do Doutor Luís Silva na
identificação das plantas e do Doutor João Carlos Nunes na identificação do enquadramento
geomorfológico das lagoas.
REFERÊNCIAS
CRUZ, J.V., 1997. Estudo hidrogeológico da ilha do Pico (Açores-Portugal). Tese de
doutoramento. Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, Ponta
Delgada, XXIII+443p.
EUROPEAN COUNCIL, 1992. Council Directive 92/43/EEC of 21 May 1992 on the
conservation of natural habitats and of wild fauna and flora, Official Journal of the
European Communities, 1-57.
EUROPEAN PARLIAMENT, THE COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION, 2000. Directive
2000/60/EC of the European Parliament and of the Council establishing a
framework for the Community action in the field of water policy. Official Journal of
the European Communities, 327: 1-72.
NUNES, J.C., 1999. Actividade vulcânica na ilha do Pico do Plistocénio Superior ao Holocénio:
mecanismo eruptivo e hazard vulcânico. Tese de doutoramento. Departamento de
Geociências, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, XLVIII+357p.
PORTEIRO, J., 2000. Lagoas dos Açores. Elementos de Suporte ao Planeamento Integrado.
Tese de Doutoramento, Departamento de Biologia, Universidade dos Açores,
Ponta Delgada, 344pp.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 100
DROTRH/INAG, 2001. Plano Regional da Água. Relatório Técnico. Versão para Consulta
Pública. Direcção Regional do Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos
e Instituto da Água, Ponta Delgada.
SOUSA, S.R.A., 2000. Lagoas e lagoeiros da ilha do Pico – Identificação e Caracterização.
Pico. 60p.
GONÇALVES, V., A.C. COSTA, P. RAPOSEIRO, H. MARQUES & V. MALHÃO, 2006.
Caracterização biológica das massas de água superficiais das ilhas das Flores e
da ilha do Pico, Universidade dos Açores - Ponta Delgada.
Tabela 1. Lista das lagoas estudadas com indicação das suas coordenadas geográficas (UTM),
profundidade máxima (Zmax), área (A) e altitude (Alt.) a que se encontram.
Tabela 4. Lista das espécies de peixes observados nas lagoas da ilha do Pico.
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Tabela 2. Parâmetros físico-químicos determinados nas lagoas da ilha do Pico.
TSS – sólidos suspensos totais; ZSD – profundidade do disco de Secchi (transparência)
Tabela 3. Plantas vasculares observadas nas lagoas da ilha do Pico com indicação
do número de referência da(s) respectiva(s) folha(s) de herbário.
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Prancheta I. Zonas húmidas da ilha do Pico: Lagoa do Capitão (1); Lagoínha do Cabeço da Rocha
Este (4); Lagoa Seca (5); Lagoa do Cabeço dos Grotões Este (6); Lagoa do Cabeço do Caveiro (7);
Lagoa da Rosada (8); Lagoa do Peixinho (9); Lagoa Funda Oeste (10a);
Lagoa Funda Este (10b); Lagoa do Gato (10c).
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Prancheta II. Zonas húmidas da ilha do Pico: Lagoa do Cabeço Verde (10d); Lagoínha do Cabeço do
Padre Glória (11); Lagoínha do Paul (12); Lagoínha do Cabeço do Leitão (13); Lagoínha do Cabeço
da Palhinha (14); Lagoa do Alto da Rosada (15); Lagoa do Paul (16); Lagoa do Cabeço dos Grotões
Oeste (17); Lagoa do Caiado (18); Lagoa do Landroal (19); Lagoínha do Cabeço do Coiro (20).
BREVE CARACTERIZAÇÃO DA FLORA VASCULAR PICOENSE
MARIA JOÃO PEREIRA1, DUARTE FURTADO1, SANDRA GOMES1,
CARLOS MEDEIROS2, HELENA CÂMARA2, MATHIAS OGONOVSKY3,
RAFAEL ARRUDA1, ADRIANO CORDEIRO1,
ELISA TELHADO1 & DAVID COELHO1
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
2
Serviços de Ambiente de São Miguel. Rua João Moreira, 20, PT - 9500-075 Ponta Delgada
3
Associação de Desenvolvimento Local Norte Crescente. Santo António.
PT - 9545-450 Ponta Delgada
1
RESUMO
Uma breve caracterização da flora vascular da ilha do Pico é feita a partir da análise
do seu catálogo de plantas vasculares (Pereira et al., 2006). A flora vascular Picoense fora
de cultivo compreende no momento 642 unidades taxonómicas diferentes (taxa)
representadas por 634 espécies, 375 géneros e 118 famílias. O número de taxa introduzidos
representa 70,5% do total dos taxa presentes, enquanto a percentagem de taxa nativos se
cifra apenas pelos 26,0%. No entanto 43,1% dos taxa nativos que ocorrem no Pico são
endémicos dos Açores ou da Macaronésia. A distribuição das espécies nos grandes grupos
taxonómicos (Pteridophyta, Gymnospermae, Dicotyledoneae e Monocotyledoneae) difere
com significado estatístico entre as espécies nativas e introduzidas. A contribuição das
espécies introduzidas é maior a nível das dicotiledóneas e menor a nível dos pteridófitos
quando comparada com a distribuição das espécies nativas.
ABSTRACT
A short characterization of the vascular flora of Pico Island is made from the
analysis of it’s checklist of vascular plants (Pereira et al., 2006). The flora of Pico Island is at
the moment represented by 642 different taxa, 634 species, 375 genera and 118 families.
The number of introduced species represents 70,5% of the total species while the native
species correspond only to 26,2 %. About 43,1% of the native taxa are endemic to Azores or
Macaronesia. The species distribution on the main taxonomic groups (Pteridophyta,
Gymnospermae, Dicotyledoneae e Monocotyledoneae) is significantly different between native
and introduced species. The contribution of introduced species is superior in the
Dicotyledoneae and inferior in the Pteridophyta when compared with the native species.
BREVE CARACTERIZAÇÃO DA FLORA VASCULAR ESPONTÂNEA DA ILHA
DO PICO (AÇORES)
É a montanha a característica mais imediata que distingue esta das outras
ilhas dos Açores e que lhe confere correspondentemente algumas das mais
interessantes singularidades botânicas. É aqui na ilha montanha, que conseguimos
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de forma clara rever a clássica sucessão de comunidades vegetais com o aumento da
altitude, constituindo a excepção ao modelo teórico apresentado por Dias (1996) para o
conjunto das ilhas açorianas, onde as principais forças modeladoras das comunidades
naturais são o grau de exposição ao vento e o grau de encharcamento. Foi também a
montanha que conseguiu melhor proteger a sua vegetação e os seus tesouros botânicos ao
apresentar-se como uma área considerável sem interesse para a ocupação Humana.
A recente expedição à ilha do Pico constituiu o pretexto catalizador para a constituição
de um catálogo actualizado das plantas vasculares fora de cultivo registadas para aquela
ilha (Pereira et al., 2006) (Figura 1). A Figura 2 evidencia sobretudo o natural aumento do
número de espécies introduzidas que com o tempo adquirem carácter espontâneo. O número
de taxa nativos registados (incluindo os endemismos) permanece relativamente estável em
virtude da ilha do Pico, apesar das dificuldades de alojamento e transportes há dois séculos
atrás, ter sido desde cedo, quer por motivos geológicos, quer por motivos botânicos, apetecível
às expedições científicas.
Figura 1. Número de registos de espécies vasculares citadas para a ilha do Pico
em 7 catálogos (de 1897 a 2006).
Assim, dos actuais registos da flora vascular fora de cultivo para a ilha do Pico constam
642 unidades taxonómicas diferentes, pertencentes a 634 espécies, 375 géneros e 118
famílias. A maior parte das famílias, géneros e espécies (cerca de 70%) inserem-se
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 109
no grupo das dicotiledóneas e, apesar do número de famílias pteridofíticas ser superior ao
número de famílias monocotiledóneas, estas possuem duas vezes mais espécies (Tabela I).
Figura 2. Evolução no número registos relativos aos taxa Introduzidos, Nativos, Endémicos
(sensu lato), Híbridos e de origem Incerta para a ilha do Pico, em 7 catálogos da flora
vascular fora de cultivo.
Tabela I. Distribuição dos registos das plantas vasculares nas diversas categorias taxonómicas.
*Contabiliza as categorias infra-específicas.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 110
A análise das tabelas II e III explica esta distribuição já que a maioria das espécies
introduzidas são dicotiledóneas (77,4%) e monocotiledóneas (19,7%).
Tabela II. Distribuição dos registos das plantas vasculares de acordo com a sua origem nos Açores.
Tabela III. Distribuição dos taxa Endémicos (sensu lato), Nativos (incluindo os endemismos)
e Introduzidos nos grandes grupos taxonómicos Pteridophyta,
Gymnospermae, Dicotyledoneae e Monocotyledoneae.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 111
A distribuição das espécies nos grandes grupos taxonómicos (Pteridophyta,
Gymnospermae, Dicotyledoneae e Monocotyledoneae) difere com significado estatístico
entre as espécies nativas e introduzidas (teste do χ2). A proporção de espécies introduzidas
é significativamente maior no grupo das dicotiledóneas e menor no grupo dos pteridófitos
(teste do χ2).
A maior capacidade de dispersão dos pteridófitos (Smith, 1972) explica a sua elevada
representatividade no conjunto das espécies nativas da ilha do Pico o que, associado à
profusão de habitat propícios ao seu desenvolvimento pode ter tornado mais competitiva a
sua ocupação por novos taxa Pteridofíticos. Pelo contrário o grupo das dicotiledóneas nativas
(com diásporos mais pesados e menor capacidade de dispersão em relação aos pteridófitos)
encontra-se subrepresentado, em número e em estratégias biológicas de desenvolvimento
e dispersão, deixando livres mais nichos ecológicos susceptíveis de serem colonizados.
A par da aparente maior susceptibilidade da ilha à invasão por dicotiledóneas, a
verdade é que a maior parte das espécies introduzidas (77,4%) foram dicotiledóneas (Tabela
III). Enquanto a maioria dos pteridófitos introduzidos são espécies ornamentais, as duas
gimnospérmicas introduzidas são espécies exploradas na silvicultura. Nas angiospérmicas
as introduções repartem-se entre espécies ornamentais, agrícolas e acidentais onde figuram
muitas espécies tipicamente antropocóricas e infestantes de culturas (Silva & Smith, 2004).
Para a ilha do Pico a percentagem obtida para os taxa introduzidos - 70,5%
(Tabela II) - é superior aos 59,7%, anteriormente citados por Silva & Smith (2004). Quanto
às espécies nativas, Silva & Smith (2004) referem uma percentagem média para o conjunto
das ilhas Açorianas de 20.5%. No último catálogo da ilha Pico (Pereira et al., 2006) as
espécies nativas representam 26,0% do total das espécies existentes. Embora a ilha do
Pico possua ainda áreas consideráveis de vegetação nativa bem conservada - ao contrário
da ilha Graciosa - a percentagem de taxa introduzidos é semelhante nestas duas ilhas
(70,5% para a ilha do Pico e 67,3% para a ilha Graciosa) (Pereira et al., 2005).
No que se refere aos endemismos (sensu lato), apesar de no conjunto total dos taxa
estes não ultrapassarem os 11,2%, eles correspondem a 43,1% dos taxa nativos presentes.
Paralelamente dados recentes quer da morfologia, quer da biologia reprodutora, quer da
análise da diversidade genética apontam o grupo central e em particular o Pico, como o
centro de máxima diferenciação e diversidade para alguns endemismos com diásporos
endozoocóricos (Pereira, 1999; Moura, 2006).
Da ilha do Pico podemos dizer assim que será das mais importantes (se não a mais
importante) a nível da vegetação nativa dos Açores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A última expedição da Universidade dos Açores a esta ilha contou com o problema da
limitação do tempo e por isso o terreno não foi todo coberto. Muitas espécies não se
encontravam ainda em floração o que impossibilitou a sua completa identificação.
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Apesar do esforço de compilação e actualização deste catálogo para ilha do Pico,
exortamos as entidades locais a iniciarem o levantamento da flora existente através da
realização de um herbário na ilha, bem como o levantamento dos nomes vulgares utilizados
no Pico. Mais do que um catálogo, um herbário é um documento pedagógico, uma referência,
um documento histórico e a mais relevante prova que valida todos os documentos escritos,
incluindo os recentes catálogos publicados.
Nunca é demais recordar que nas ilhas grande parte da água é captada pelas plantas
que a condensam nas suas folhas quando intersectam os nevoeiros (as pequenas e inúmeras
folhas da urze, do queiró são exímias nessa tarefa) (Pereira et al., 2000), pelo que o plantio
e a manutenção arbustos e árvores nativas nas zonas mais altas quase despidas de
vegetação, em terrenos não agrícolas e abandonados, devem ser consideradas uma medida
de gestão para a manutenção dos recursos hídricos daquela ilha.
Numa das ilhas mais importantes do ponto de vista da flora e vegetação nativas dos
Açores revestem-se de especial importância as acções de vigilância, detecção e erradicação
de espécies introduzidas de reconhecido carácter invasor. Nesta expedição foram
encontradas novas espécies em franca expansão, todas elas consideradas plantas
ornamentais (Figura 3) e por isso passíveis de ser comercializadas (para o exterior do
arquipélago) através por exemplo de uma página electrónica. Novas espécies constituindo
um factor de risco mas ainda com uma área de distribuição pequena podem assim ser
erradicadas pelas entidades competentes servindo o produto da sua venda para suportar
os custos da sua própria erradicação ou acções de produção de plantio e substituição de
espécies. Outras espécies ornamentais introduzidas de carácter invasor e que apresentam
uma distribuição muito vasta (e.g. incenso, conteira), podem ser exploradas em indústria
com custo de produção zero (desde que a sua colheita esteja autorizada nas áreas a explorar
e não seja nefastamente perturbadora para outras que interessa proteger).
Gostaríamos ainda de salientar que a flora nativa dos Açores representa um forte
potencial económico para a região Açores (Figura 4), que está já a ser aproveitado por
empresas estrangeiras nos seus países, através da produção e venda na Internet das
espécies endémicas dos Açores, como se pode verificar mais adiante e a título de exemplo
nos endereços electrónicos apresentados no final deste trabalho (última consulta a 9 de
Março de 2006).
A protecção destas espécies também passa pela fiscalização das saídas de
material vegetal, e da regulamentação da sua produção a nível das ilhas gerando trabalho e
receitas. A produção de plantas nativas dos Açores com interesse económico pode ser feita
através da constituição em cada ilha de populações de segurança formadas por indivíduos
seleccionados na própria ilha e dadoras de semente e material de plantio - nunca através da
colheita directa em campo, como é largamente reconhecido. A título de exemplo fazemos
duas sugestões:
a) A produção de Folhado por semente para ornamentação da ilha a baixa e média
altitude e a selecção, produção e registo de um cultivar de Folhado (Viburnum trileasei
Gand.) para comercialização para o exterior do arquipélago (Figura 4 C).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 113
b) A produção de uva-da-serra (o mirtilo dos Açores), através da reconversão de
pastagens de grande altitude em campos de produção e do plantio e manutenção de sebes
de uva-da-serra a média e grande altitude (Figura 4 D, E). Este fruto constituiria também
matéria-prima para a transformação em doce, polpa congelada ou fruta seca em fábrica
apropriada por exemplo para o processamento dos excessos de produção também de outras
culturas (maracujá, banana, tomate-de-capucho, etc…). A produção desta fruta fora de época
- como é possível nos Açores devido ao seu clima mais ameno - eleva também o seu valor
comercial. Esta é de facto uma cultura de interesse e valor a nível regional, uma vez que
associa a utilização agrícola de solos localizados a altitudes maiores e inadequados para
culturas mais exigentes, à efectiva protecção de uma das espécies endémicas dos Açores.
Nesta matéria e ao abrigo de um Protocolo celebrado entre a Universidade dos Açores e a
Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário, em Janeiro de 2006, encontra-se em
desenvolvimento um projecto liderado pela Direcção dos Serviços de Protecção das Culturas
que visa a introdução em cultura em São Miguel desta espécie, associando os conhecimentos
entretanto adquiridos na área da biologia reprodutora, germinação, estacaria e
micropropagação da espécie açoriana (Pereira, 1999, 2006) em associação com a experiência
no maneio das culturas das espécies americanas de Vaccinium (blueberries).
Finalmente não queremos deixar de frisar a importância que a realização destas
expedições científicas assumem na vida académica universitária melhorando e conferindo
um carácter único à docência e investigação na Universidade dos Açores (Figura 4 F e G),
funcionando como estímulo à investigação dos futuros licenciados em Biologia pela
Universidade dos Açores ao permitir a sua participação nas expedições (Figura 4 H),
constituindo espaços de cooperação construtiva entre a Universidade e outras Instituições,
como revela a origem dos elementos que constituíram esta equipa de trabalho durante a
expedição.
ALGUMAS PÁGINAS ELECTRÓNICAS COM ENDEMISMOS AÇORIANOS:
[1] http://www.botanicgarden.ox.ac.uk/Garden/Walled%20Garden%20Sub/nccpg.html
Some visitors come to Oxford Botanic Garden specifically to look at this part of the
collection. Euphorbias are a large group of 2,000 species many of which are fine garden
plants. It may come as a surprise to learn that the majority of euphorbias are not hardy in this
country and some of these tender species can be seen in the Cactus House. There are more
than 600 NCCPG national collections spread over Britain. Collection holders are expected to
propagate and distribute the rare and endangered species in their care and in the summer
you may be able to buy the rare Euphorbia stygiana from our sales area near to the
Danby Arch.
[2] http://www.rhs.org.uk/rhsplantfinder/plantlist.asp?code=CSam+
Comercializa Euphorbia stygiana.
[3] http://www.anniesannuals.com/signs/B%20%20C/Campanula_vidallii.htm
Comercializa Azorina vidalii.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 114
[4] http://www.shrublandparknurseries.co.uk/Conservatory1.htm
AZORINA VIDALII £4.75
A shrubby member of the Campanula family, with pretty pale pink bell-shaped flowers in
summer. Lives on sea cliffs in the Azores. Avoid cold wet conditions in winter. Not long-lived
but will produce seed. Ht to 60cm Min. 0°C.
[5] http://www.ubcbotanicalgarden.org/forums/showthread.php?t=938
AGRADECIMENTOS
Desejamos agradecer a valiosa colaboração prestada por todos os elementos das
entidades Picoenses, pelo acompanhamento prestado e ainda pelas excelentes condições
trabalho que proporcionaram durante a expedição àquela ilha. Desejamos ainda agradecer
a simpatia e a compreensão manifestada por todos os Picoenses durante a expedição.
REFERÊNCIAS
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Naturais. Universidade dos Açores, Angra do Heroísmo. Tese de Doutoramento.
302 pp.
HANSEN, A & P. SUNDING, 1993. Flora of Macaronesia. Checklist of vascularplants.
4. revised edition. Sommerfeltia, 17: 1-295.
MOURA, M., 2006. Desenvolvimento de estratégias para a conservação de Viburnum tinus
ssp. subcordatum (Trel.) P. Silva. Multiplicação por via seminal e vegetativa e estudo
da variabilidade genética das suas populações. Tese de Doutoramento. Universidade
dos Açores, Ponta Delgada, 312pp.
PALHINHA, R.T., 1966. Catálogo das plantas vasculares dos Açores. Sociedade de Estudos
Açorianos Afonso Chaves (Ed.), Lisboa, 186 pp.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 115
PEREIRA, M.J., 1999. Contribuição para o estudo e conservação de Vaccinium cylindraceum
Smith, uma espécie endémica da flora Açoriana. Tese de Doutoramento. Universidade
dos Açores, Ponta Delgada, 276 pp.
PEREIRA, M.J., 2006. Conservation of Vaccinium cylindraceum Smith (Ericaceae) by
micropropagation using seedling nodal explants. In vitro Cellular & Developmental
Biology – Plant, 42 (1): 65-68.
PEREIRA, M.J., R. CUNHA, A.O. SOARES, M.A. VENTURA, V. GONÇALVES, M. LOPES &
R. FURTADO, 2000. Plano Regional da Água – Açores: qualidade e uso da água;
conservação da Natureza; ecossistemas e biocenoses; qualidade ecológica. Relatório
da 1ª Fase do PRA-A referente à Caracterização e diagnóstico da situação actual.
Direcção Regional do Ambiente, Direcção Regional do Ordenamento do Território e
Recursos Hídricos.
PEREIRA, M.J., D. FURTADO, S. GOMES, N. CABRAL, C. MEDEIROS, H. CÂMARA, M.
OGONOVSKY, R. ARRUDA, A. CORDEIRO, E. TELHADO & D. COELHO, 2006.
Catálogo das plantas vasculares da ilha do Pico. Relatórios e Comunicações do
Departamento de Biologia, 34: (In press).
PEREIRA, M.J., H.M. PRISCA, D.S. FURTADO & V. GONÇALVES, 2005. Catálogo das plantas
vasculares da Ilha Graciosa. Relatórios e Comunicações do Departamento de Biologia,
32: 69-92.
SCHÄFER, H., 2003. Chorology and Diversity of the Azorean Flora Part II Commented
Checklist of the Azorean Flora Distribution Atlas of Flores, Faial and Santa Maria.
Tese de Doutoramento. Universidade de Regensburg, Regensburg, 536 pp.
SCHÄFER, H., 2005. Flora of the Azores, a field guide. Second edition. Margraf Publishers
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SILVA, L., N. PINTO, B. PRESS, F. RUMSEY, M. CARINE, S. HENDERSON & E. SJÖGREN,
2005. List of Vascular Plants (Pteridophyta and Spermatophyta). In: Borges, P.A.V., R.
Cunha, R. Gabriel, A.F. Martins, L. Silva and V. Vieira (Eds.) A list of the terrestrial
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evolutionary interpretations for ferns. Biotropica, 4 (1): 4-9.
TRELEASE, W., 1897. Botanical observations on the Azores. Annual Report of the Missouri
Botanical Garden, 220 pp. 66 plates.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 117
B
A
C
C
C
Figura 3 – Três espécies ornamentais introduzidas na ilha do Pico e reproduzindo-se por semente fora
de cultivo. A. Talinum paniculatum, associado a áreas de cultivo (foto: cortesia de Isabel Borges).
B. Aloe sp. e C. Echium simplex espécies detectadas no Calhau Miúdo - Areia Larga (Pico). A venda
para o exterior do arquipélago (através de uma página de rede electrónica), de plantas ornamentais
escapadas de cultura e com características invasoras, pode suportar os custos da sua erradicação
que deve ser realizada pelas entidades competentes.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 119
Figura 4 – A utilização de plantas nativas dos Açores na criação de produtos regionais:
A. Provando folhas de perrechil-do-mar (Crithmum maritimum) em vinagre.
B. O apreciado licor de néveda (Calamintha sylvatica). (foto: cortesia do casal Cardosa).
C. Folhado (Viburnum trileasei) uma espécie a utilizar na ornamentação das estradas.
D e E. Uva-da-serra ou mirtilo (Vaccinium cylindraceum) uma espécie a explorar como
ornamental e na produção de frutos.
F. Micropropagação de Bellis azorica na disciplina de Projectos de Biotecnologia Vegetal.
G. Produção de Lotus azoricus por semente.
H. Participação de futuros licenciados em Biologia pela Universidade dos Açores na
expedição à ilha do Pico.
CATÁLOGO DAS PLANTAS VASCULARES DA ILHA PICO
MARIA JOÃO PEREIRA1, DUARTE FURTADO1, SANDRA GOMES1,
NATÁLIA CABRAL1, CARLOS MEDEIROS2, HELENA CÂMARA2,
MATHIAS OGONOVSKY3, RAFAEL ARRUDA1, ADRIANO CORDEIRO 1,
ELISA TELHADO1 & DAVID COELHO1
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
2
Serviços de Ambiente de São Miguel. Rua João Moreira, 20, PT - 9500-075 Ponta Delgada
3
Associação de Desenvolvimento Local Norte Crescente. Santo António
PT - 9545-450 Ponta Delgada
1
RESUMO
Foi construído um catálogo das plantas vasculares fora de cultivo citadas para a ilha
do Pico, com base nas obras de síntese de Trelease (1897), Palhinha (1966), Franco (1971,
1984), Franco & Afonso (1994, 1998, 2003), Hansen & Sunding (1993), Silva et al. (2005),
Schäfer (2003, 2005) e nos relatórios das expedições efectuadas àquela ilha em 1991 e
2005 pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores. Nesta compilação
utilizou-se a nomenclatura presente na Flora Europaea (Tutin et al., 2001), com indicação
das alterações nomenclaturais publicadas e referência a outras nomenclaturas utilizadas
para os mesmos taxa em catálogos publicados em data posterior a 2000. O presente
catálogo regista 642 taxa distribuídos por 118 famílias e acrescenta 11 novos registos para
a ilha do Pico.
ABSTRACT
A vascular plant checklist of Pico Island is presented based on the published
accounts of Trelease (1897), Palhinha (1966), Franco (1971, 1984), Franco & Afonso (1994,
1998, 2003), Hansen & Sunding (1993), Silva et al. (2005), Schäfer (2003, 2005) and on the
reports of the expeditions to that Island, made by the Biology Department of Azores
University at 1991 and 2005. In this checklist we used the Flora Europaea (Tutin et al., 2001)
current names, with the corresponding published nomenclatural changes or other names
used for the same taxa in recent checklists (after 2000). The present checklist updates the
vascular plants to 642 taxa distributed by 118 families, and adds 11 new records to that
Island.
INTRODUÇÃO
Este trabalho teve como objectivo construir uma ferramenta de trabalho prática,
actualizada e de referência para quem no decurso das suas actividades profissionais necessita
identificar as plantas fora de cultivo na ilha do Pico. O Catálogo refere-se a todas as plantas
vasculares cuja ocorrência na ilha do Pico foi verificada pelo menos uma vez e não refere
espécies cuja distribuição é apenas indicada para os Açores de uma forma geral. Apesar
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 122
deste catálogo se referir a espécies fora de cultivo, algumas começam por ser referidas
apenas como espécies cultivadas, que posteriormente se tornam espontâneas.
Não constituiu objectivo deste trabalho indicar o nome correcto de um taxon em
consequência das publicações existentes, ou indicar a forma correcta da apresentação dos
nomes científicos e suas autoridades de acordo com as regras já estabelecidas pelo Código
Internacional de Nomenclatura Botânica (CINB), mas sim fornecer a informação necessária
para o reconhecimento das diferentes unidades taxonómicas registadas para a ilha do Pico.
CONVENÇÕES ADOPTADAS E INTERPRETAÇÃO DO CATÁLOGO
Seguindo a recomendação indicada no prefácio do CINB (Greuter et al., 2000) os
nomes científicos sob a jurisdição do Código são aqui impressos em itálico
independentemente da sua categoria taxonómica. A nomenclatura e grafia das famílias,
espécies e categorias infra-específicas (incluindo os nomes dos autores) segue a Flora
Europaea (Tutin et al., 2001), a nomenclatura e grafia dos taxa que não constam da Flora
Europaea foi retirada do índice internacional de nomenclatura botânica (The International
Plant Names Index – IPNI, 2005).
A decisão de utilizar como nomenclatura de referência a constante na Flora Europaea
(Tutin et al., 2001), prende-se com o pressuposto que esta é a obra utilizada na identificação
dos especímenes permitindo encontrar a maior parte das descrições morfológicas dos taxa
presentes na ilha. No entanto, são indicadas as alterações nomenclaturais entretanto
ocorridas com indicação das publicações que apresentam essa alteração, o modo como a
referência bibliográfica é citada apoia-se na base de dados IPNI (2005):
e.g: Na Flora Europaea o nome Senecio malvifolius (L’Hér.) DC. (nº186 do catálogo) possui
o status ‘aceite’, no entanto no catálogo é também é indicada a alteração nomenclatural que
este taxon sofreu, bem como referência à publicação que pode ser consultada: Pericallis
malvifolia (L’Hér.) B. Nord., Op. Bot., 44: 20 (1978).
Para os taxa não abrangidos pelas chaves dicotómicas da Flora Europaea (Tutin et
al., 2001), são apontadas as publicações onde podem ser consultadas as suas descrições
morfológicas:
e.g.: Ficus pumila L. (nº 343 do catálogo) não é descrito na Flora Europaea, mas é indicada
a publicação onde a descrição original pode ser consultada: Sp. Pl.: 1060 (1753).
De forma a facilitar a utilização de catálogos mais recentes é também indicada a
correspondência com outros nomes aí empregados:
e.g. Na listagem da flora apresentada por Silva et al. (2005), é apresentada a distribuição de
duas espécies distintas Capsella rubella Reut. e Capsella bursa-pastoris (L.) Medik.,
trata-se no entanto de uma dupla entrada, a espécie presente nos Açores é Capsella rubella
Reut. (nº 215 do catálogo) pelo que na sinonímia do taxon Capsella rubella Reut. deve
constar Capsella bursa-pastoris auct. non (L.) Medik. (Schäfer, 2003b).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 123
No Catálogo apresentado primeiro surge a lista dos Pteridófitos, logo seguida das
listas das Gimnospérmicas, Dicotiledóneas e Monocotiledóneas. Dentro de cada um destes
quatro grupos as famílias, as espécies e as categorias infra-específicas são apresentadas
por ordem alfabética.
O catálogo encontra-se organizado em 14 colunas. A primeira coluna contabiliza, de
forma independente, o número total de famílias e o número total das diferentes unidades
taxonómicas. A segunda coluna refere a origem do taxon nos Açores (Quadro I). Para a
atribuição dos códigos aos taxa foi consultada em primeiro lugar a Flora Europaea; para os
taxa cuja origem esta obra não esclareceu, recorreu-se primeiro à ‘checklist’ realizada para
os Açores de Schäfer (2003b) e finalmente à restante bibliografia utilizada na construção do
catálogo. A terceira coluna indica de forma codificada a fonte bibliográfica onde foi retirada
a informação sobre a origem do taxon (Quadro II).
A quarta coluna indica o nome do taxon e sua autoridade de acordo com o status
‘aceite’ ou o status ‘nome provisório’ na Flora Europaea. A Flora Europaea escolhe o status
‘provisório’ para os seguintes nomes do catálogo: Polypodium azoricum (Vasc.) R. Fern.,
Diphasiastrum madeirense (Wilce) J. Holub; Lysimachia nemorum L. subsp. azorica (Hook.),
Fagopyrum dibotrys (D.Don) H.Hara, Myosotis maritima Hochst., Platanthera azorica Schltr.,
Setaria adhaerens (Forssk.) Chiov. e Tolpis umbellata Bertol. Ainda nesta coluna os taxa
citados para os Açores que não constam na Flora Europaea são assinalados com um
asterisco, alinhamento à direita e referência à publicação daqueles nomes.
As oito colunas seguintes correspondem às principais obras de síntese distribuídas
ao longo do tempo sobre a flora dos Açores e também aos relatórios das expedições
realizadas pelo Departamento de Biologia àquela ilha. Em cada uma destas colunas é
codificada a informação relativa à presença do taxon na ilha Pico (Quadro III).
Quadro I – Codificação utilizada para a origem dos taxa relativamente aos Açores.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 124
Quadro II – Codificação das fontes bibliográficas referidas no catálogo.
Quadro III. Codificação utilizada relativa à informação das obras sobre a
presença da espécie na ilha do Pico.
Na décima terceira coluna com alinhamento à esquerda são indicadas as alterações
nomenclaturais com referência à publicação do nome e, outros nomes presentes em
catálogos publicados em data posterior a 2000. Finalmente na décima quarta coluna e com
alinhamento à direita registam-se os nomes vernáculos conhecidos para os taxa
independentemente das ilhas onde são utilizados. À frente de um conjunto de nomes
vulgares é citada a sua fonte bibliográfica cuja codificação consta do Quadro II. Foram
também utilizados nomes vulgares presentes na ‘checklist’ de Schäfer (2003b) apesar de
esta não esclarecer se se tratam de nomes insulares ou de nomes utilizados na
generalidade do território Português, foram ainda acrescentados outros nomes vulgares
para os quais não dispomos de momento qualquer referência bibliográfica.
Consideramos ser da maior importância cultural que a recolha dos nomes vulgares
utilizados nas ilhas Açorianas a que Palhinha (1951) deu a sua devida importância, prossiga
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 125
em instituições de diversa natureza e que seja acreditada através da sua publicação, com a
discriminação dos diferentes nomes que as plantas tomam nas diferentes ilhas.
Relativamente ao taxon número 107 do catálogo, registamos aqui que à luz do CINB
(Greuter et al., 2000) se trata de um nome ilegítimo a nova combinação Viburnum subcordatum
(Trel.) Rivas Mart., Lousã, Fern. Prieto, E. Días, J. C. Costa & C. Aguiar [Itinera Geobotanica
15 (1-2): 5-922, 2002] para o basiónimo: Viburnum tinus var. subcordatum Trel. (Rep. Mo.
Bot. Gard. 8: 118, tb. 28. 1897). Ao elevar a categoria do taxon à espécie o nome legítimo é
Viburnum trileasei Gand. (Bull. Soc. Bot. Fr. XLVI: 255, 1899) (IPNI, 2005). Estudos
preliminares realizados por Moura (2006) a nível da morfologia e análise da diversidade
genética das populações também suportam a elevação da categoria taxonómica ao nível da
espécie.
Finalmente apontamos os novos registos para a ilha do Pico aqui publicados:
Carecem ainda de identificação duas unidades taxonómicas pertencentes aos
géneros Aloe (nº 631) e Opuntia (nº 99).
A seguir apresenta-se o catálogo das plantas vasculares da ilha Pico.
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XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 154
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XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 157
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 158
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 159
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 160
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 161
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 162
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 163
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XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 170
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 171
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 172
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 173
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 174
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 175
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 176
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 177
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 178
7XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 179
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 180
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 181
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 182
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 183
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 184
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 185
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 186
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AGRADECIMENTOS
Desejamos agradecer a valiosa colaboração prestada por todos os elementos das
entidades públicas e privadas Picoenses, pelo acompanhamento prestado e ainda pelas
excelentes condições trabalho que nos proporcionaram durante a expedição àquela ilha.
Igualmente, desejamos agradecer a contribuição prestada pelos nossos colegas de
expedição da equipa de Ecologia Aquática pela cooperação prestada nas colheitas de
plantas vasculares nas lagoas da ilha e em especial ao Dr. Vítor Gonçalves pelas
identificações realizadas, e da equipa de Ecologia Animal, em especial ao Técnico Roberto
Resendes (responsável pela primeira colheita que permitiu a identificação de mais um novo
registo para a ilha do Pico) e Drª. Isabel Borges (pela cedência de uma foto desse registo).
Por último, agradecemos a simpatia e a compreensão manifestada por todos os
Picoenses durante o decorrer da expedição.
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AM O S T R AG E M AL T I T U D I N AL D A F L O R A V AS C U L AR E D A
V E G E T AÇ Ã O N A M O N T AN H A D O P I C O
LUÍS SILVA, NUNO CORDEIRO, XÈNIA ILLAS & ASUNCIÓN MARTINEZ
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
RESUMO
A ilha do Pico, a mais jovem do Arquipélago dos Açores, é uma das mais ricas em
flora e vegetação. Apresenta-se o resultado de uma amostragem altitudinal da flora vascular
ao longo de um gradiente altitudinal na Montanha do Pico.
Realizaram-se 14 amostragens a intervalos de 100 m de altitude, entre os 1250 e
os 2350 m, duas das quais no interior de hornitos. O número de taxa por local variou entre
2 e 16. O tipo de vegetação presente nas charnecas variou com a altitude, incluindo Mato de
Vassoura e Mato de Rapa, com elementos característicos da zona de montanha (Daboecia
azorica e Thymus caespititius). A vegetação no interior dos hornitos incluía taxa com alguma
raridade (Bellis azorica, Cardamine caldeirarum, Daphne laureola e Ranunculus cortusifolius)
constituindo um autêntico enclave. De salientar a presença de Silene uniflora ssp. cratericola,
apenas na zona da caldeira. O número de plantas introduzidas, observadas ao longo da
subida, foi relativamente reduzido. A partir dos 1400 m, eram comuns vastas áreas de rocha
nua ou com coberturas de líquenes e briófitos. Ficou patente o efeito da altitude e do grau de
exposição aos agentes climatéricos, como se verificou pelas diferenças entre a vegetação
das charnecas (maior exposição), da caldeira (exposição intermédia) e dos hornitos (menor
exposição). A preservação dos enclaves na zona de Montanha é assim fundamental.
A acção dos visitantes, através do pisoteio e da dispersão acidental de plantas introduzidas,
poderá facilitar a instalação dessas espécies. Assim, será fundamental a implementação de
medidas de monitorização dos trilhos e de contenção das plantas introduzidas.
INTRODUÇÃO
A ilha do Pico, com idade não superior a 300.000 anos, é a mais jovem do
Arquipélago dos Açores. Apresenta uma superfície emersa de 444,9 km2, sendo a maior das
cinco ilhas que constituem o Grupo Central. Situa-se entre as coordenadas 38o 33' 57'' e
38o 33' 44'' de Latitude Norte e 28o 01' 39'' e 28o 32' 33'' de Longitude Oeste (França et al.,
2003). É a ilha onde se encontra o ponto mais elevado do país (2351 metros) e a orografia
mais acidentada dos Açores, com 16% da sua área acima dos 800 metros de altitude. A sua
população ultrapassa os 25.000 habitantes (Porteiro et al., 2005).
A flora vascular (Pteridophyta e Spermatophyta) da ilha do Pico inclui um total de
580 taxa, entre os quais 370 correspondem a espécies não-indígenas, consideradas como
introduzidas, ou seja, frequentemente escapadas de cultura ou naturalizadas (Silva et al.,
2005; Borges et al., 2005).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 3 4 : 212
Numa recente caracterização da flora não-indígena do Arquipélago dos Açores,
verificou-se que, de um total de 1000 plantas vasculares, não menos de 60% foram
introduzidas pelas actividades humanas, sendo agora consideradas como naturalizadas ou
frequentemente escapadas de cultura (Silva, 2001; Silva & Smith, 2004). Muitas serão
plantas escapadas de cultura ou introduções ocasionais, algumas serão plantas
naturalizadas, já com populações auto-sustentadas.
No entanto, a ilha do Pico é uma das que apresenta uma das taxas de introduções
mais baixa, ao nível da flora vascular (Silva & Smith, 2004). Mais especificamente, a zona
da Montanha do Pico, está incluída no Sítio de Interesse Comunitário (SIC) “Montanha do
Pico, Prainha e Caveiro” (código: PTPIC0009). A Montanha do Pico é um cone vulcânico,
com uma altitude de 2351 m e declives médios de 65%, chegando mesmo a 100%,
terminando numa caldeira, da qual emerge o Piquinho com uma elevação de 60 m. Em
termos ecológicos, a Montanha do Pico alberga as únicas comunidades alpinas do
Arquipélago (código: 4060 - Charnecas alpinas, sub-alpinas e boreais), destacando-se
assim pela sua unicidade no contexto do património natural dos Açores (SRA, 2005).
Neste relatório, apresentam-se os resultados de uma amostragem realizada na
zona da Montanha do Pico, aquando da XII Expedição Científica do Departamento de
Biologia em 2005, que teve como objectivo analisar o efeito de um gradiente de altitude, ao
nível da flora vascular e da vegetação. Especificamente, analisou-se a presença de plantas
endémicas, nativas e introduzidas, ao longo de um gradiente de altitude na Montanha do
Pico.
MATERIAL E MÉTODOS
As estações de amostragem foram estabelecidas a partir dos 1250 m, a intervalos
de 100 m de altitude, ao longo do trilho que permite o acesso ao ponto mais elevado do
edifício vulcânico que constitui a Montanha do Pico, recorrendo a um GPS portátil (Magellan
Color Track).
Realizaram-se também duas amostragens no interior de estruturas vulcânicas,
encontradas ao longo da subida e designadas por “hornitos”, onde se verifica uma redução
do grau de exposição da vegetação aos agentes climatéricos.
Em cada estação foram recolhidos dados relativos à altitude, ao tipo de vegetação,
e à composição florística. A abundância foi atribuída com base numa escala ordinal (Kershaw
& Looney, 1985): 0, ausente; 1, planta isolada; 2, plantas dispersas; 3, grupos de plantas; 4,
mancha mista; e 5, mancha pura.
Utilizando o programa Arcview 3.2 (ESRI, 1992-1999), produziu-se um mapa onde
se localizaram as estações de amostragem visitadas durante a expedição científica. Foi
também editada uma tabela com a caracterização dos pontos de amostragem e a lista dos
taxa amostrados. Produziu-se ainda um gráfico que ilustra a variação altitudinal da
abundância dos vários taxa.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 213
RESULTADOS
Foram realizadas 14 amostragens, duas das quais no interior de estruturas
geológicas denominadas de “hornitos”, encontradas ao longo da subida (Fig. 1). Foram
amostrados 26 taxa, tendo o número de taxa por local variado entre 2 e 16, verificando-se
uma tendência para uma redução da riqueza específica com o aumento de altitude (Tab. 1).
O tipo de vegetação presente nas charnecas encontradas ao longo da subida variou de
acordo com a espécie fisionomicamente dominante, incluindo Mato de Vassoura (Erica
azorica) e Mato de Rapa (Calluna vulgaris) (Tab. 2), com presença de elementos
característicos da zona de montanha, nomeadamente Daboecia azorica e Thymus caespititius
(Tab. 2). Por contraste com a vegetação existente nas zonas mais expostas aos agentes
climatéricos, a vegetação encontrada no interior dos hornitos, incluía elementos nativos e
endémicos com alguma raridade, constituindo autênticos enclaves, onde se encontraram
espécies como Bellis azorica, Cardamine caldeirarum, Daphne laureola e Ranunculus
cortusifolius (Tab. 2).
Em geral, o nível de abundância da maioria das espécies foi diminuindo com a
altitude (Tab. 2, Fig. 2). No entanto, Calluna vulgaris, Thymus caespititius e, em menor grau,
Daboecia azorica, mantiveram-se mais ou menos constantes.
De salientar a presença de Silene uniflora ssp. cratericola, apenas na zona da
caldeira (Tab. 2, Fig. 2).
.
Figura 1. Amostragem altitudinal da flora vascular na Montanha do Pico ( ), entre os
1257 e os 2351 m de altitude, ao longo do trilho de acesso ao Piquinho.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 214
Tabela 1. Estações de amostragem na Montanha do Pico. Caracterização de cada local
relativamente à altitude, à localização (coordenadas UTM), ao tipo de vegetação,
e à riqueza específica [plantas vasculares].
O número de plantas introduzidas, observadas ao longo da subida foi
relativamente reduzido, salientando-se a presença de Anthoxanthum odoratum, Fragaria
vesca e Galactites tomentosa (Tab. 2, Fig. 2).
Salienta-se ainda o facto de, a partir do 1400 m, serem comuns vastas áreas
ocupadas por rocha nua, ou por rocha coberta por líquenes ou briófitos. Na zona da
caldeira, em condições de menor exposição, observaram-se extensas coberturas de briófitos.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 215
Tabela 2. Amostragem da flora vascular num gradiente de altitude ao longo do caminho de acesso ao Piquinho (Montanha do Pico).
Listagem dos taxa encontrados. Classificação quanto à origem e respectivos valores de abundância. Níveis de abundância:
1 (planta isolada); 2 (plantas dispersas); 3 (grupos de plantas); 4 (manchas mistas); 5 (manchas puras). * Origem dos taxa: e,
endémico dos Açores; mac, endémico da Macaronésia; n, nativo; i, introduzido; d, de origem duvidosa.
# Amostras realizadas no interior de estruturas geológicas designadas como “hornitos”.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 216
DISCUSSÃO
A ilha do Pico, sendo a segunda maior do Arquipélago dos Açores apresenta, no
entanto, uma densidades populacional relativamente baixa. Para além disso, 16% da
superfície da ilha situa-se acima dos 800 metros de altitude, o que, juntamente com outros
factores, nomeadamente a abundância de solos pedregosos, condicionou o tipo de
utilização do território que se verificou na ilha do Pico.
De facto, podemos assumir que o tipo de utilização dos recursos naturais, menos
intensiva, praticada ao longo da história do povoamento na ilha do Pico (Dias, 1996), foi um
dos factores determinantes na preservação de extensas áreas naturais, que se encontram
ainda bem preservadas naquela ilha (SRA, 2005).
Acreditamos que os taxa vasculares encontrados neste trabalho reflictam,
somente, uma fracção da realidade das extensas formações vegetais da ilha do Pico, que
para serem devidamente avaliadas necessitariam de uma amostragem muito mais
exaustiva e demorada. Por exemplo, em amostragens anteriores foi possível encontrar
espécies endémicas do género Agrostis ao longo da subida para a Montanha (Silva, 2001),
provavelmente não amostradas nesta ocasião por motivos ligados ao seu ciclo fenológico.
Ficou, no entanto, bem patente, o efeito da altitude, limitando a riqueza específica
em plantas vasculares, existente na Montanha do Pico. O grau de exposição aos agentes
climatéricos mostrou também funcionar como um factor decisivo, como se verificou pela
comparação entre as amostras realizadas no habitat mais comum, correspondente às
charnecas existentes ao longo da subida para a Montanha, e a vegetação encontrada em
zonas sujeitas a menor exposição aos agentes climatéricos, nomeadamente o interior da
caldeira e dos hornitos.
No caso da caldeira, há a referir a presença de uma forma única, Silene uniflora
ssp. cratericola, e no caso dos hornitos verificou-se a existência de uma flora própria,
diferente da encontrada nas charnecas e muito rica em endemismos.
Estes factos revelam a importância da existência de uma variedade de estruturas
geológicas como base para uma maior diversidade ao nível da flora. Em termos de
conservação, a preservação desses enclaves na Montanha é fundamental, uma vez que
albergam espécies endémicas dos Açores e da Macaronésia, relativamente raras.
Embora a ilha do Pico permaneça como um dos maiores e últimos redutos para a
vegetação natural nos Açores, incluindo várias espécies características da flora açoriana, a
invasão por plantas introduzidas é possível, especialmente naquelas zonas onde a
presença humana se intensifique. A zona da Montanha do Pico é muito frequentada por
visitantes o que, através do pisoteio da vegetação natural, abrindo clareiras, e do transporte
acidental dos diásporos de plantas introduzidas existentes a menor altitude, poderá facilitar
a instalação dessas espécies. Assim, será de grande importância reunir esforços para evitar
a invasão da Montanha do Pico por elementos da flora introduzida, sendo, para tal,
essencial a monitorização dos trilhos de acesso ao Piquinho, e a implementação de
medidas de contenção das invasões biológicas no respectivo SIC.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 217
Figura 2. Amostragem da flora vascular ao longo de um gradiente de altitude no caminho de acesso ao Piquinho (Montanha do Pico).
Abundância dos taxa encontrados em função da altitude. Níveis de abundância: 0 (ausência); 1 (planta isolada); 2 (plantas dispersas);
(grupos de plantas); 4 (manchas mistas); 5 (manchas puras).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 218
AGRADECIMENTOS
O nosso agradecimento à Secção de Geografia do Departamento de Biologia,
Universidade dos Açores, pelo apoio ao nível cartográfico e do sistema de informação
geográfica. Agradecemos ao Eng.º Duarte Furtado o trabalho desenvolvido na organização
logística da expedição. O nosso agradecimento aos Serviços de Desenvolvimento Agrário
da ilha Pico, pela cedência de viatura e condutor.
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CARACTERIZAÇÃO DO HABITAT DE
LOTUS AZORICUS P. W. BALL NA ILHA DO PICO
LUÍS SILVA, NUNO CORDEIRO, XÈNIA ILLAS & ASUNCIÓN MARTINEZ
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
RESUMO
A ilha do Pico, a mais jovem do Arquipélago dos Açores, é uma das mais ricas em
flora e vegetação. Apresenta-se o resultado de uma amostragem da flora vascular na zona
da Manhanha, incluída no SIC e na ZPE da Ponta da Ilha (Pico). Especificamente,
pretendeu-se analisar a flora e a vegetação existente na zona de implantação de uma
população de Lotus azoricus, uma leguminosa endémica dos Açores. A zona de estudo
estendeu-se desde o nível do mar até aos 20 m de altitude e incluiu diferentes substratos
geológicos (fluxos de lava, lavas escoriáceas e gravilha). O número total de taxa foi de 25,
sendo 10 endémicos e 8 nativos dos Açores. O tipo de vegetação presente variou com a
distância ao mar e o tipo de substrato, incluindo Mato Costeiro de Vassoura com Camarinha
e Zimbro, bem como vários tipos de Prados Costeiros: Prado Costeiro de Festuca, Prado
Costeiro de Myosotis e Prado Costeiro de Lotus. A zona colonizada por L. azoricus
correspondia a um fluxo de lavas compactas mas também com alguma lava escoriácea. As
plantas apresentavam 1 ou 2 vagens por ramificação do caule, e apenas entre 1 e 3 flores
por indivíduo. A análise das percentagens de cobertura na zona de implantação de L. azoricus
indicou que apenas uma percentagem relativamente pequena da área era ocupada por
aquela espécie (15%). Uma grande parte da área correspondia a rocha sem cobertura
vegetal. Festuca jubata e Erica azorica eram as espécies com as maiores percentagens de
cobertura. A área ocupada pela população em estudo era muito restrita. A preservação
desta população residual está dependente da sua monitorização, do estudo da sua
variabilidade genética, da utilização de técnicas de propagação vegetal e da implementação
de medidas de gestão do SIC e da ZPE.
INTRODUÇÃO
A ilha do Pico, com uma idade geológica da parte emersa não superior a 300.000
anos, é a mais jovem do Arquipélago dos Açores. Apresenta uma superfície emersa de
444,9 km2, sendo a maior das cinco ilhas que constituem o Grupo Central. Situa-se entre as
coordenadas 38o 33' 57'' e 38o 33' 44'' de Latitude Norte e 28o 01' 39'' e 28o 32' 33'' de
Longitude Oeste (França et al., 2003). É a ilha onde se encontra o ponto mais elevado do
país (2351 metros) e a orografia mais acidentada dos Açores, com 16% da sua área acima dos
800 metros de altitude. A sua população ultrapassa os 25.000 habitantes (Porteiro et al., 2005).
A flora vascular (Pteridophyta e Spermatophyta) da ilha do Pico inclui um total de 580
taxa, entre os quais 370 correspondem a espécies não-indígenas, consideradas como
introduzidas, ou seja, frequentemente escapadas de cultura ou naturalizadas
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 220
(Silva et al., 2005; Borges et al., 2005). Numa recente caracterização da flora não-indígena
do Arquipélago dos Açores, verificou-se que, de um total de 1000 plantas vasculares, não
menos de 60% foram introduzidas pelas actividades humanas, sendo agora consideradas
como naturalizadas ou frequentemente escapadas de cultura (Silva, 2001; Silva & Smith,
2004). Muitas serão plantas escapadas de cultura ou introduções ocasionais, algumas
serão plantas naturalizadas, já com populações auto-sustentadas.
No entanto, a ilha do Pico é uma das que apresenta uma das taxas de introduções
mais baixa, ao nível da flora vascular (Silva & Smith, 2004). Mais especificamente, a zona
em estudo neste trabalho, nomeadamente aquela onde subsiste uma população de Lotus
azoricus, insere-se quer na ZPE da Ponta da Ilha do Pico (Código: PTZPE0025) quer no SIC
da Ponta da Ilha do Pico (Código: PTPIC0010) e situa-se no extremo Este da ilha. É
constituída por uma zona costeira, com correntes lávicas muito irregulares, formando um
espaço diverso em termos geomorfológicos. É uma zona que se estende para o interior da
ilha, atingindo a zona mais alta aos 220 metros, correspondente ao topo do Pico da Hera.
A nível costeiro, esta zona inclui várias baías pouco profundas, ilhéus e baixios. A costa
apresenta uma zonação de comunidades naturais de elevada singularidade e interesse em
conservação. Destacam-se os Matos Mistos Costeiros, com presença de taxa pouco
comuns nestas formações, como Juniperus brevifolia e Corema album ssp. azorica, e os
prados costeiros onde surgem algumas espécies muito raras, como Lotus azoricus e Myosotis
maritima (SRA, 2005). Sendo uma área costeira, grande parte do seu território pertence ao
Domínio Público Marítimo, incluindo ainda uma pequena parte respeitante a um farol.
L. azoricus é uma das leguminosas endémicas dos Açores, a par de Vicia dennesiana
H. C. Watson, considerada como extinta. L. azoricus está referido para as seguintes ilhas
(Silva et al., 2005): Flores, Faial, Pico, São Jorge, São Miguel e Santa Maria. No entanto, a
sua presença em algumas dessas ilhas não foi recentemente confirmada, como é o caso da
ilha de São Miguel. Espécie típica da zona costeira, embora a sua frequência e abundância
varie de ilha para ilha (Schäfer, 2002), é, em geral, considerado como um taxon ameaçado.
Encontra-se protegido pela Convenção de Berna e é considerado como espécie prioritária
no Anexo II da Directiva Habitats.
Neste relatório, apresentam-se os resultados de uma amostragem realizada na zona
da Manhanha, aquando da XII Expedição Científica do Departamento de Biologia em 2005,
que teve como objectivo analisar o estado da população de L. azoricus. Especificamente,
amostrou-se a flora e a vegetação existente no local, e registou-se a existência de possíveis
factores de ameaça.
MATERIAL E MÉTODOS
A amostragem foi realizada na zona da Manhanha (Ilha do Pico), desde o nível do
mar até cerca de 20 m de altitude, tendo-se registado a área ocupada pela população de
L. azoricus com um GPS portátil (Magellan Color Track). Amostrou-se também a flora e a
vegetação na área envolvente à mancha de L. azoricus, no sentido de efectuar a sua
caracterização e detectar possíveis factores de ameaça (plantas invasoras).
Foram recolhidos dados relativos à altitude, ao tipo de vegetação, e à composição
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 221
florística. A abundância foi atribuída com base numa escala ordinal (Kershaw & Looney,
1985): 0, ausente; 1, planta isolada; 2, plantas dispersas; 3, grupos de plantas; 4, mancha
mista; e 5, mancha pura.
Na zona correspondente à mancha de L. azoricus definiu-se um quadrado com 5
metros de lado onde se avaliou a percentagem de cobertura dos vários taxa.
Foi editada uma tabela com a caracterização dos pontos de amostragem e a lista dos
taxa amostrados.
RESULTADOS
O ecossistema amostrado encontrava-se implantado numa zona dominada por
fluxos de lava, existindo igualmente lavas escoriáceas e gravilha, sendo o solo
praticamente inexistente.
Foram amostrados 25 taxa (Tab. 1), na sua maioria, nativos ou endémicos dos
Açores. Salienta-se a presença de 10 plantas endémicas dos Açores e de 8 plantas
consideradas como nativas (Tab. 1). O número de plantas introduzidas (7), observadas na
zona em estudo, foi relativamente baixo, salientando-se a presença de Cyrtomium falcatum,
Lotus subbiflorus, Matthiola incana, Metrosideros excelsa e Tetragonia tetragonioides
(Tab. 1), plantas relativamente comuns na zona costeira, no Arquipélago dos Açores.
A zona colonizada pela leguminosa endémica correspondia a um fluxo de lavas
compactas, incluindo também lavas escoriáceas.
A vegetação presente na zona em estudo constituía um mosaico composto por
diferentes comunidades, de acordo com a distância ao mar e o tipo de substrato. Em níveis
superiores observou-se um Mato Costeiro de Vassoura com Camarinha e Zimbro, onde
dominavam Erica azorica, Corema album ssp. azorica e Juniperus brevifolia. Mais próximo
do mar, observaram-se vários tipos de Prados Costeiros, de acordo com o taxon
fisionomicamente dominante. Assim, foi possível registar a presença de Prados Costeiros
de Festuca, Prados Costeiros de Myosotis e Prados Costeiros de Lotus, bem como
vegetação costeira sob a forma de tufos dispersos de várias espécies (Tab. 1).
Na zona mais restrita, onde se localizava o tapete de L. azoricus, as espécies
encontradas incluíam plantas jovens de Erica azorica e de Juniperus brevifolia, e tufos de
Festuca petraea, Silene uniflora ssp. uniflora, Lotus subbiflorus e Tetragonia tetragonioides.
As plantas de Lotus azoricus apresentavam 1 ou 2 vagens por ramificação do caule,
e apenas entre 1 e 3 flores por indivíduo, no entanto, a maioria já não apresentava flores.
A análise das percentagens de cobertura (Fig. 1) na zona de implantação de L. azoricus
indicou que, na realidade, apenas uma percentagem relativamente pequena da área era
ocupada por aquela espécie (15%). De facto, uma grande parte da área correspondia a
rocha exposta, sem cobertura vegetal. Festuca jubata e Erica azorica eram, nessa zona, as
espécies com as maiores percentagens de cobertura.
Uma estimativa da área ocupada pela população de L. azoricus, utilizando um GPS
portátil, levou a um valor de apenas 17 m2.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 222
Tabela 1. Amostragem da flora e da vegetação na ilha do Pico na zona da Manhanha, junto a uma
população de Lotus azoricus. Listagem dos taxa e dos tipos de vegetação. Origem dos taxa:
End, endémicos; Na, nativos; Int, introduzidos. Nível de abundância: 1, planta isolada;
plantas dispersas; 3, plantas formando grupos; 4, plantas formando manchas mistas;
5, plantas formando manchas puras. Tipo de substrato geológico, altitude (m) e tipo
de vegetação. + Presença de flor/fruto. * Taxa associados a Lotus azoricus.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 223
Figura 1. Taxa associados a Lotus azoricus na zona da Manhanha, Ilha do Pico. Percentagem de
cobertura, com base num quadrado de 5x5 m (a soma das coberturas é superior a 100%,
uma vez que há sobreposição de várias espécies). Pela sua importância, apresenta-se
também o valor correspondente à área de rocha sem cobertura vegetal.
DISCUSSÃO
A ilha do Pico, sendo a segunda maior do Arquipélago dos Açores apresenta, no
entanto, uma densidade populacional relativamente baixa. Para além disso, 16% da
superfície da ilha situa-se acima dos 800 metros de altitude, o que, juntamente com outros
factores, nomeadamente a abundância de solos pedregosos, condicionou o tipo de
utilização do território que se verificou na ilha do Pico.
De facto, podemos assumir que o tipo de utilização dos recursos naturais, menos
intensiva, praticada ao longo da história do povoamento na ilha do Pico (Dias, 1996), foi um
dos factores determinantes na preservação de extensas áreas naturais, que se encontram
ainda bem preservadas naquela ilha (SRA, 2005).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 224
Acreditamos que os taxa vasculares encontrados neste trabalho reflictam, somente,
uma fracção da realidade das extensas formações vegetais da ilha do Pico, que para serem
devidamente avaliadas necessitariam de uma amostragem muito mais exaustiva e
demorada.
Por exemplo, em amostragens anteriores realizadas no SIC e na ZPE, foi possível
encontrar outras espécies endémicas, como Azorina vidalii (Wats.) Feer (SRA, 2005),
provavelmente não amostradas nesta ocasião por se encontrarem noutros pontos dessas
áreas protegidas. Ficou, no entanto, bem patente, a riqueza específica existente na zona
amostrada, com uma grande abundância ao nível das plantas endémicas e nativas.
No que respeita a L. azoricus, a população estudada encontra-se confinada a uma
área muito restrita, e corresponde a uma percentagem de cobertura baixa. Em comparação
com observações realizadas em outros pontos do Arquipélago, nomeadamente na Ilha de
Santa Maria, onde existe uma população mais extensa, trata-se, no caso da Ilha do Pico, de
uma população de dimensão muito reduzida. Apesar disso, a ameaça por plantas invasoras
não parece ser maior do que em Santa Maria, onde a população se encontra sujeita a
invasoras como Carpobrotus edulis (L.) L. Bolus e Agave americana L. No entanto, a
deposição de alguns resíduos sólidos, resultantes de acções de reparação na estrutura
edificada adjacente (Farol), indica que deverá ser prestada informação aos utentes do local,
de modo a minimizar os impactes negativos nesta população residual.
A preservação desta população e L. azoricus na ilha do Pico está dependente da sua
monitorização, bem como da implementação de medidas de gestão do SIC e da ZPE,
nomeadamente a contenção de espécies invasoras e a minimização dos impactes
provenientes das actividades humanas. Por outro lado, o estudo da variabilidade genética
desta população e a sua comparação com as restantes populações de L. azoricus
existentes no Arquipélago dos Açores, poderá dar pistas quanto à possibilidade da sua
preservação a longo prazo, através do reforço das populações naturais, recorrendo a
técnicas de propagação vegetal em laboratório (germinação, micropropagação).
AGRADECIMENTOS
O nosso agradecimento à Secção de Geografia do Departamento de Biologia,
Universidade dos Açores, pelo apoio ao nível cartográfico e do sistema de informação
geográfica. Agradecemos ao Eng.º Duarte Furtado o trabalho desenvolvido na organização
logística da expedição. O nosso agradecimento aos Serviços de Desenvolvimento Agrário
da ilha Pico, pela cedência de viatura e condutor.
BIBLIOGRAFIA
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Açores, Angra do Heroísmo, 302 pp.
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(Mollusca and Arthropoda) and flora (Bryophyta, Pteridophyta and Spermatophyta) from
the Azores. pp.131-156, Direcção Regional do Ambiente and Universidade dos Açores,
Horta, Angra do Heroísmo and Ponta Delgada.
SRA, 2005. Áreas ambientais dos Açores. (CD-ROM). Secretaria Regional do Ambiente,
Horta.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DO FETO COMUM
PTERIDIUM AQUILINUM, NA ILHA DO PICO
XÈNIA ILLAS1, LUÍS SILVA1, NUNO CORDEIRO1,
ASUNCIÓN MARTÍNEZ1 & CARLOS PINTO2
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
2
Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel. PT - 9504-541 Ponta Delgada, Porugal
1
RESUMO
O nosso trabalho centrou-se na observação e quantificação da distribuição de
Pteridium aquilinum, frequentemente conhecido como feto comum, na ilha do Pico. Esta
espécie é rica em compostos químicos tóxicos, sendo conhecida a relação entre a ingestão
do feto comum e o desenvolvimento da Hematúria Enzoótica Bovina (HEB), doença crónica
associada ao desenvolvimento de tumores vesicais e à perda de sangue pela urina, em
bovinos. Assim, é importante avaliar o seu nível de abundância e a distribuição de P. aquilinum
na ilha do Pico. Foram amostrados 11 pontos repartidos ao longo da ilha, tendo-se registado
a abundância do feto comum e as espécies associadas. Em geral, o feto foi encontrado nos
diferentes habitats que a ilha apresenta, sem distinção, sendo mais abundante nas
beiras-de-estrada, nas margens dos campos agrícolas, e em terrenos abandonados. Foi
feita uma comparação entre os dados obtidos por Silva em 2001 e os dados obtidos na
presente expedição, sem encontrar diferenças significativas. Embora sejam conhecidas
algumas utilizações agrícolas do feto comum na ilha do Pico, a existência de casos de HEB
e de intoxicações agudas devidas à ingestão de P. aquilinum, poderá exigir a implementação
de medidas que levem à redução das suas populações, em especial ao nível das
pastagens.
INTRODUÇÃO
O feto comum, Pteridium aquilinum (L.) Kuhn (Hypolepidaceae) é uma espécie
cosmopolita. Segundo Marrs (2000), o sucesso do P. aquilinum é devido a vários factores: i)
a grande quantidade de hidratos de carbono armazenados nos rizomas; o seu rápido
crescimento; ii) a dimensão das frondes e os compostos tóxicos que libertam, evitando o
crescimento de possíveis competidores.
No Arquipélago dos Açores as condições edafo-climáticas permitem o
desenvolvimento de P. aquilinum que é, em geral, considerado como um taxon nativo (Silva,
2001). Encontra-se principalmente em habitats marginais, nomeadamente ao longo das
margens das pastagens e das matas de exóticas, nas beiras-de-estrada e em terrenos com
alguma inclinação. Por vezes está associado à vegetação natural, nomeadamente em
Matos de Vassoura (Erica azorica) e em Matos de Rapa (Calluna vulgaris) sujeitos a algum
tipo de distúrbio. Ocorre também com alguma frequência em pastagens, a diferentes
altitudes. Podemos encontrá-lo formando manchas densas, associado a espécies
introduzidas, e mais raramente formando manchas monoespecíficas.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 228
O interesse desta espécie advém do seu efeito nocivo ao nível da saúde animal,
principalmente nos bovinos. Trata-se, provavelmente, da única planta vascular que causa
neoplasias em animais (Smith, 1997; Shanin et al., 1999). Os tumores surgem como uma
consequência retardada de uma ingestão prolongada, de qualquer parte da planta, em
especial as porções mais jovens das frondes.
Estudos desenvolvidos pelos Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha de São
Miguel, confirmam uma ocorrência relativamente elevada de casos de Hematúria Enzoótica
Bovina (HEB) (Pinto et al., 2004). A HEB é uma doença de evolução crónica que provoca o
desenvolvimento de tumores e hemorragias ao nível da bexiga. No entanto, a ingestão do
feto comum pode também levar a casos de intoxicação aguda, susceptíveis de causar a
morte dos animais (Pinto et al., 2001).
É importante, por isso, conhecer a distribuição e a abundância do feto comum no
Arquipélago dos Açores, e definir zonas onde a sua eliminação será prioritária, em especial
ao nível das zonas de pastagem, de modo a que se verifique uma redução na incidência da
HEB.
O objectivo traçado para a expedição à ilha do Pico foi o de avaliar a distribuição e
abundância de P. aquilinum, através da análise de dados anteriormente recolhidos, e da
realização de novas amostragens em diferentes locais, em especial em zonas de
pastagem.
MATERIAL E MÉTODOS
As estações de amostragem foram seleccionadas com base na carta geográfica
da ilha do Pico (Carta Militar 1:25.000, Serviços Cartográficos do Exército), após
confirmação da existência de feto comum no local. As estações foram localizadas usando a
respectiva carta com auxílio de um aparelho de GPS portátil (Magellan Color Track). Em
cada estação foram recolhidos dados relativos ao habitat, à altitude e à composição florística.
A abundância dos taxa foi atribuída com base numa escala ordinal (Kershaw & Looney,
1985): 0, ausente; 1, planta isolada; 2, plantas dispersas; 3, grupos de plantas; 4, mancha
mista; e 5, mancha pura. Determinou-se também o número total de taxa e as percentagens
de plantas endémicas, nativas e introduzidas.
No que se refere aos dados já existentes, correspondiam a uma amostragem
aleatória realizada em toda a ilha do Pico, que incluía registos de abundância dos taxa,
obtidos de um modo semelhante por Silva (2001).
Utilizando o programa Arcview 3.2 (ESRI, 1992-1999), produziram-se dois mapas
onde se localizam as estações de amostragem visitadas durante a expedição científica, e
os dados de Silva (2001), com os respectivos níveis de abundância de P. aquilinum.
RESULTADOS
Em geral, o feto comum encontra-se distribuído por toda a ilha do Pico, não sendo
aparente qualquer padrão de distribuição particular (Fig. 1). É muito comum a sua
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 229
ocorrência em grupos ou formando manchas. Trata-se de uma planta muito comum na ilha
do Pico.
Os resultados obtidos durante a expedição científica em 2005, mostraram-se muito
semelhantes, embora com a ocorrência predominante de P. aquilinum sob a forma de
pequenos grupos (Fig. 2, Tab. 1).
As espécies associadas a P. aquilinum na ilha do Pico incluem elementos endémicos,
nativos e introduzidos (Tab. 2). Não parece pois existir um tipo de vegetação ou de
comunidade vegetal que seja claramente preferida pelo feto comum.
DISCUSSÃO
A distribuição de P. aquilinum é algo heterogénea, o que se exemplifica pelo facto
de, a uma mesma altitude (700 m), existirem pastagens com níveis de infestação muito
variáveis, desde a quase inexistência até à existências de manchas extensas. Há também a
hipótese de que algumas pastagens sejam tratadas com herbicida, facto relatado por
alguns agricultores. No entanto, e de salientar que se trata de uma planta muito comum na
ilha do Pico, encontrando-se até cerca dos 1350 m de altitude.
Figura 1. Distribuição e abundância de Pteridium aquilinum na ilha do Pico (dados de Silva, 2001).
Níveis de abundância: 0 (ausente); 1 (isolado); 2 (plantas dispersas); 3 (grupos de plantas);
4 (manchas mistas); e 5 (manchas puras).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 230
Figura 2. Distribuição e abundância de Pteridium aquilinum na ilha do Pico (dados da
expedição de 2005). Estações de amostragem:1-11. Níveis de abundância: 0 (ausente);
1 (isolado); 2 (plantas dispersas); 3 (grupos de plantas); 4 (manchas mistas); e 5 (manchas puras).
Alguns agricultores referem algumas utilizações para o feto comum. As frondes
são utilizadas na ilha do Pico na cultura do inhame (Colocasia esculenta) e na da
batata-doce (Ipomoea batatas), por diferentes razões. Na cultura do inhame, dificulta o
desenvolvimento de plantas infestantes e mantém a humidade do solo no Verão. Na cultura
da batata-doce, é usado como fertilizante, melhorando a qualidade do produto final.
No entanto, conhecem-se vários casos de HEB e de intoxicações agudas em
bovinos, associados à ingestão das frondes de P. aquilinum por bovinos na ilha do Pico
(Carlos Pinto, comunicação pessoal, Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel).
Deste modo, dada a frequência com que ocorre em toda a ilha, será necessário assegurar
que as populações do feto comum são mantidas a um nível mais baixo, em especial nas
pastagens utilizadas para apascentamento de gado bovino leiteiro. Para tal, existe já um
conhecimento alargado sobre os métodos de gestão das formações de P. aquilinum (Brown
& Robinson, 1995), alguns dos quais têm sido aplicados pelo Serviço de Desenvolvimento
Agrário da ilha de São Miguel em conjunto com a Associação de Jovens Agricultores.
Tabela 1. Caracterização das estações de amostragem de Pteridium aquilinum na ilha do Pico (dados da expedição de 2005).
Densidade das frondes (*não foi possível calcular a densidade das frondes), nível de abundância e número de taxa.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 231
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 232
Tabela 2. Taxa associados a Pteridium aquilinum na ilha do Pico.
(*Origem: i, introduzido; n, nativo; e, endémico)
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 233
AGRADECIMENTOS
O nosso agradecimento à Secção de Geografia do Departamento de Biologia,
Universidade dos Açores, pelo apoio ao nível cartográfico e do sistema de informação
geográfica. Agradecemos ao Eng.º Duarte Furtado o trabalho desenvolvido na organização
logística da expedição. O nosso agradecimento aos Serviços de Desenvolvimento Agrário
da ilha Pico, pela cedência de viatura e condutor.
BIBLIOGRAFIA
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management: a guide to best practice. Rhône-Poulenc Ltd., 46 pp.
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DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE PITTOSPORUM
UNDULATUM VENTENAT NA ILHA DO PICO (AÇORES)
NUNO CORDEIRO, LUÍS SILVA, XÈNIA ILLAS & ASUNCIÓN MARTINEZ
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
RESUMO
Neste relatório, apresentam-se os resultados acerca da distribuição de
P. undulatum em algumas formações vegetais da ilha do Pico, bem como a inventariação
das principais espécies vegetais associadas. P. undulatum distribui-se, de uma maneira
geral, por todo o perímetro da ilha do Pico, verificando-se que a generalidade dos locais
amostrados apresenta níveis de abundância de 3 e 4, situando-se estes na faixa costeira e
no interior a altitudes não superiores a 600 metros. As altitudes amostradas abrangeram
uma faixa dos 38 aos 744 metros, estando P. undulatum presente até aos 577 metros.
Quanto à abundância de P. undulatum, encontraram-se valores médios de entre 2 (plantas
dispersas) e 3 (grupos de plantas), e percentagens médias de cobertura entre 25 – 50%.
Tendo em conta o tipo de habitat predominante em cada local de amostragem,
verificou-se uma divisão entre mata de exóticas e mato nativo, havendo, no entanto,
preponderância de mata de exóticas. Relativamente aos dados referentes às espécies
associadas a P. undulatum, convém realçar que, no total dos 10 locais amostrados, se
obteve um total de 75 taxa. Quanto à origem dos taxa, é de salientar que em todos os locais
foram encontrados taxa endémicos, nativos e introduzidos, sendo que os locais com mato
nativo foram os que apresentaram maior número de taxa endémicos e nativos. No que diz
respeito ao número total de taxa encontrados, verificou-se que o local com maior número de
taxa foi o do Mistério da Prainha (35) e o com menor foi o da Terra Alta (8). O local com maior
número de taxa endémicos foi o Mistério da Prainha (15) e o com maior número de
introduzidos foi o Sul Sta. Luzia (11). Entre as espécies associadas, há a registar a
ocorrência de Pinus pinaster, uma situação menos comum noutras ilhas. Embora,
praticamente, toda a região central da ilha, dotada de características naturais singulares,
esteja reconhecida e protegida pela Rede Natura 2000 (SIC e ZPE), é de extrema
importância a monitorização pontual e contínua, com o objectivo de delimitar e eliminar
focos de dispersão de P. undulatum, particularmente nas zonas mais baixas e abrigadas.
INTRODUÇÃO
A ilha do Pico, com idade não superior a 300 000 anos, é a mais jovem do
Arquipélago dos Açores. Apresenta uma superfície de 444,9 km2, sendo a maior das cinco
ilhas que constituem o Grupo Central. Situa-se entre as coordenadas 38o 33' 57'' e
38o 33' 44'' de Latitude Norte e 28o 01' 39" e 28o 32' 33" de Longitude Oeste (França et al.,
2003). É a ilha com o ponto mais alto de Portugal (2351 metros) e a orografia mais
acidentada dos Açores, com 16% da sua área acima dos 800 metros de altitude. A sua
população é de 25328 habitantes (Porteiro et al., 2005).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 236
A flora vascular da ilha do Pico inclui um total de 580 taxa, entre os quais 370
correspondem a espécies não-indígenas, consideradas como introduzidas, ou seja,
frequentemente escapadas de cultura e as naturalizadas (Borges et al., 2005). Numa
recente caracterização da flora exótica do Arquipélago dos Açores, verificou-se que, de um
total de 1000 taxa de plantas vasculares, não menos de 60% foram introduzidas pelas
actividades humanas, sendo agora consideradas como naturalizadas ou frequentemente
escapadas (Silva et al., 2000; Silva 2001; Silva & Smith, 2004). Muitas serão plantas
escapadas de cultura ou introduções ocasionais, algumas serão plantas naturalizadas, já
com populações auto-sustentadas. Além disso, para uma mesma planta, a situação em que
se encontra poderá variar de uma ilha para a outra. Estas são informações importantes, no
sentido de melhor compreender o impacte das espécies introduzidas ao nível da flora e da
vegetação no Arquipélago dos Açores. É que, a distribuição e a abundância de uma
invasora são consideradas como uma importante componente do seu impacte, juntamente
com os possíveis efeitos que origine no novo ecossistema (Parker et al., 1999).
Neste relatório, apresentam-se os resultados de uma amostragem realizada em
algumas formações florestais da ilha do Pico, aquando da XII Expedição Científica do
Departamento de Biologia em 2005. Do mesmo modo, apresentam-se dados relativos a
uma amostragem levada a cabo por Silva (2001). O principal objectivo do trabalho foi a
recolha de informação acerca da distribuição de P. undulatum em algumas formações
vegetais da ilha do Pico, bem como a inventariação das principais espécies vegetais
associadas. Foi igualmente intenção comparar, de uma forma muito geral, os dados da
distribuição de P. undulatum referentes às duas épocas de amostragem.
MATERIAL E MÉTODOS
As estações de amostragem foram seleccionadas de acordo com as manchas
florestais referenciadas na carta geográfica da ilha do Pico (Carta Militar 1:25000, Serviços
Cartográficos do Exército), após confirmação da sua existência no local. As estações foram
localizadas usando a respectiva carta com auxílio de um aparelho de GPS portátil (Magellan
Color Track). Para cada estação eram recolhidos dados quanto ao habitat, à altitude e à
respectiva composição de taxa, registando-se para cada mancha florestal a abundância e a
percentagem de cobertura respectivas. A abundância foi atribuída com base numa escala
ordinal (Kershaw & Looney, 1985): 0, ausente; 1, planta isolada; 2, plantas dispersas; 3,
grupos de plantas; 4, mancha mista; e 5, mancha pura. As percentagens de cobertura foram
atribuídas numa escala de 1 a 4 a intervalos de 25%. Para cada estação, registaram-se as
frequências e coberturas dos respectivos taxa.
No que se refere aos dados de Silva (2001), correspondiam a uma amostragem
aleatória realizada em toda a ilha do Pico, que incluía registos de abundância dos taxa,
obtidos de um modo semelhante.
Utilizando o programa Arcview, produziram-se dois mapas onde se localizam as
estações de amostragem visitadas durante a expedição científica, e os dados de Silva (2001),
com os respectivos níveis de abundância de P. undulatum.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 237
RESULTADOS
Tendo em conta a amostragem levada a cabo por Silva (2001), verifica-se que
P. undulatum distribui-se, de uma maneira geral, por todo o perímetro da ilha do Pico numa
faixa que se estende desde a zona costeira até ao interior num limite, aproximado, de 600
metros de altitude. Nessa faixa, os níveis de abundância encontrados são maioritariamente
elevados (superiores ao nível 3), evidenciando a existência de formações vegetais
altamente invadidas por P. undulatum (nível 4 – 5). Por outro lado, verifica-se, igualmente de
forma evidente, a predominância do nível de abundância mais baixo (0), que corresponde à
ausência de P. undulatum nas zonas interiores da ilha, caracterizadas por altitudes mais
elevadas (Figura 1).
Figura 1. Locais de amostragem na ilha do Pico. Níveis de abundância segundo a escala de
Looney – Kershaw (1985): 0 (ausente); 1 (isolado); 2 (dispersos); 3 (grupos);
4 (manchas mistas) e 5 (manchas puras).
No que respeita à amostragem realizada aquando da Expedição Científica, as
altitudes amostradas abrangeram uma faixa dos 38 aos 744 metros (Tabela 1). Verificou-se
que a generalidade dos locais amostrados apresentava níveis de abundância de 3 e 4,
situando-se estes na faixa costeira e no interior a altitudes não superiores a 600 metros
(Figura 2) De salientar, ainda, que todos os locais apresentaram valores médios de
abundância entre 2 – 3 e percentagens médias de cobertura entre 25 – 50% (1 – 2).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 238
Tabela 1. Locais de amostragem na ilha do Pico. Caracterização de cada local relativamente ao
habitat e altitude e respectivo número e origem dos taxa encontrados. Número de taxa:
“S” total; “End.” endémicos; “Int.” introduzidos. “Mac.” macaronésicos; “Nat.” nativo;
Valores respeitantes às frequências absolutas de cada local de amostragem.
O local “A” (Mistério da Prainha, 744 m) foi o único onde não se amostrou
P. undulatum (Tabela 1), sendo aqui incluído, de modo a evidenciar o limite de distribuição
altitudinal da espécie em estudo. De facto, na mesma zona da ilha, mas a menor altitude
(Mistério da Prainha de Baixo, 577 metros; (Tabela 1), verificou-se a presença de indivíduos
dispersos de P. undulatum nível de abundância 2; Figura 2). Relativamente aos dados
referentes às espécies associadas a P. undulatum, convém realçar que, no total dos 10
locais amostrados, se obteve um total de 75 taxa com diferentes origens.
Figura 2. Amostragem de 10 locais na ilha do Pico. Níveis de abundância segundo a escala de
Looney – Kershaw (1985): 0 (ausente); 2 (dispersos); 3 (grupos); 4 (manchas mistas).
Níveis ausentes não representados.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 239
Tendo em conta o tipo de habitat predominante em cada local de amostragem, há
uma divisão entre mata de exóticas e mato nativo, havendo, no entanto, preponderância de
mata de exóticas. No que diz respeito ao nº total de taxa encontrados, verifica-se que o local
com o maior número de taxa foi o do Mistério da Prainha (35 taxa) e aquele com o menor foi
o da Terra Alta (8 taxa). Relativamente à origem dos taxa, é de salientar que em todos os
locais foram encontrados taxa endémicos bem como nativos e introduzidos (Tabelas 1 e 2).
De referir, ainda, que os locais de mato nativo foram os que apresentaram maior número de
taxa endémicos e nativos.
DISCUSSÃO
A ilha do Pico, sendo a segunda maior do Arquipélago dos Açores apresenta, no
entanto, uma das menores densidades populacionais dos Açores. Para além disso, 16% da
superfície da ilha situa-se acima dos 800 metros de altitude, o que, juntamente com outros
factores de ordem diversa contribuíram para travar a intensa expansão populacional, como
aconteceu na maioria das restantes ilhas.
De facto, podemos assumir com confiança, que o baixo índice populacional da ilha
do Pico foi um dos factores determinantes na preservação de extensas áreas florestais,
especialmente dos matos nativos, que se encontram ainda bem preservados nessa ilha.
No entanto, mesmo nessas condições, verifica-se a existência de um número
considerável de plantas introduzidas, algumas das quais, consideradas como invasoras.
Entre as espécies invasoras mais problemáticas, encontra-se, sem dúvida,
P. undulatum. De facto, os resultados das duas amostragens efectuadas indicam,
claramente, que P. undulatum está distribuído na ilha do Pico, numa ampla faixa que se
estende desde o nível do mar até uma altitude máxima de 600 metros. Dos vários pontos
amostrados realça-se o facto de, praticamente todos os locais apresentarem taxa introduzidos,
havendo, no entanto, locais com presença de taxa indígenas em número apreciável.
No que se refere às espécies introduzidas, é de referir a presença de P. undulatum
em zonas de Pinhal, com Pinus pinaster, uma associação ainda não documentada noutras
ilhas já estudadas. Por outro lado, não foi observada a presença de Eucalyptus globulus,
espécie frequentemente associada a P. undulatum, por exemplo na ilha de São Miguel.
Outras espécies, nomeadamente Acacia melanoxylon e a nativa Myrica faya, foram
frequentemente associadas a P. undulatum na ilha do Pico, o que se verifica também em
outras ilhas.
Do conjunto dos locais, aqueles cuja preocupação em preservar e proteger, são
“Mistério da Praínha”, “Mistério Praìnha de Baixo”, “Ponta do Mistério” e “Mistério da Silveira”
precisamente aqueles formados por formações arborescentes de Urze, Faia e Louro.
Acreditamos que os taxa vasculares encontrados reflictam, somente, uma fracção
da realidade das extensas formações vegetais da ilha do Pico, que para serem devidamente
avaliadas necessitariam de uma amostragem muito mais exaustiva e demorada.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 240
Tabela 2. Amostragem de 10 manchas florestais da ilha do Pico. Listagem dos taxa encontrados. Classificação quanto
à origem e respectivos valores de abundância e cobertura. Origem dos taxa: “End.” endémico, “Int.” introduzido,
“Duv.” duvidoso, “Mac.” macaronésico, e “Nat.” nativo. Locais: Mistério da Prainha (A); Sta. Luzia (B); Mistério Prainha de
Baixo (C); Sul Sta. Luzia (D); Ponta do Mistério (E); Sul Pta. do Mistério (F); Mistério de S. João (G); Terra Alta (H);
Norte Terra do Pão (I); Mistério da Silveira (J). Total/Média é o número total de taxa identificados e valores médios de
abundância e cobertura, respectivamente.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 241
Não obstante o facto, é de salientar, que comparativamente à amostragem
realizada na ilha Graciosa em 2004, o número de taxa foi muito superior (76 contra 48),
sendo que praticamente todas as formações vegetais da ilha Graciosa foram amostradas, o
que revela que aquela ilha está seriamente afectada pelo problema das invasoras,
nomeadamente P. undulatum (Cordeiro & Silva, 2005).
Apesar do avançado estado da invasão por P. undulatum e por outras invasoras
em alguns dos locais amostrados, levar a acreditar que a recuperação dos habitats nativos
seja uma tarefa muito difícil, é de referir a importância de alguns taxa nativos, tal como Erica
azorica, Euphorbia azorica, Laurus azorica e Myrica faia, que ainda subsistem em número
razoável para se justificar o desenvolvimento de acções de erradicação e controlo das
invasoras, pelo menos nos locais situados na faixa de altitude propícia à invasão por
P. undulatum.
Segundo Dias (1996), a invasão por P. undulatum é frequente em Matos
Recolonizadores de Faia e em Matos Costeiros, mesmo em costas remotas nas ilhas do
Corvo, Flores e São Jorge, e no Pico, excepto nas zonas de franca exposição a ventos
salgados e de stress hídrico. Nas zonas mais abrigadas esta espécie ultrapassa em altura a
copa das espécies autóctones, provocando, por ensombramento, a morte dessas espécies
e originando um povoamento puro (Dias, 1996). Em trabalhos mais recentes,
P. undulatum foi considerada como uma das plantas invasoras mais importantes
relativamente à flora do Arquipélago dos Açores (Silva, 2001; Silva & Smith, 2004). Trelease
(1897), referindo-se a P. undulatum afirmava que este encontrava-se escapado, mas não
totalmente naturalizado, sendo pois admissível que a grande expansão desta árvore tenha
ocorrido nos últimos 100 anos (Sjögren, 1973).
Palhinha et al. (1942), Palhinha (1944), Machado (1946) e Ricardo et al., 1977
referiram que M. faya era acompanhada, e em parte substituída, por P. undulatum.
E, segundo Sjögren (1973), a transição entre diferentes tipos de comunidades vegetais dos
Açores foi alterada, entre os 300 e os 600 m de altitude, pela invasão por P. undulatum.
No caso específico da ilha do Pico, a alteração provocada pela invasão por
P. undulatum, foi possivelmente, mais acentuada, nas zonas de baixa a media altitude e
pouco expostas. O facto da ilha apresentar grandes formações de vegetação nativa acima
dos 550 metros, é um trunfo valioso no que diz respeito à ameaça de P. undulatum. Será,
precisamente, nos locais mais altos e expostos que a diversidade florística da ilha do Pico
permanecerá fora do alcance de P. undulatum.
Sendo, praticamente, toda a região central da ilha, dotada de características
naturais singulares, esteja reconhecida e protegida pela Rede Natura 2000 (SIC e ZPE), é
de extrema importância a monitorização pontual e contínua, com o objectivo de delimitar e
eliminar focos de dispersão de P. undulatum, particularmente nas zonas mais baixas e
abrigadas.
As comunidades nativas invadidas, de várias regiões, face a uma planta invasora
com grande plasticidade adaptativa e altamente competitiva, vêm a sua riqueza e
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 242
diversidade florísticas seriamente ameaçadas (Gleadow, 1982; Dias, 1996; Sjögren, 1973;
Goodland & Healey, 1996).
Na Austrália, o seu país de origem, P. undulatum está a alargar a sua dispersão
para além dos limites originais da sua distribuição, sendo que os novos habitats
encontram-se em zonas costeiras ou próximo da costa, a baixas altitudes e com florestas de
vários tipos, onde a sua dispersão é assegurada pela acção do melro (Gleadow & Ashton,
1981; Gleadow, 1982). Também nos Açores, a dispersão está assegurada pelo
melro-negro, Turdus merula L. azorensis Hart., enquanto que a polinização é assegurada
pela presença da abelha (Apis mellifera L.).
No que respeita à possível utilização para exploração, convém referir que na
Jamaica, P. undulatum foi considerado como uma boa fonte de combustível e como fonte de
madeira (Goodland & Healey, 1996). Nos Açores P. undulatum é utilizado na formação de
sebes em pomares e bananais, como alimento para o gado, quando há escassez de
alimento (Novembro-Janeiro), e nas camas quentes na cultura do ananás, sendo
considerado como importante para a produção de mel (Moreira, 1987). Foi também
investigada a possibilidade de transformar, por compostagem, a biomassa de P. undulatum,
num material para o enraizamento de plantas. Nesse processo, foi introduzida a cultura de
cogumelos, como forma de acelerar o processo, aproveitando uma parte da energia
(Medeiros, 1998).
Embora P. undulatum possa ser utilizado para vários fins, a sua grande abundância
em determinadas zonas, leva a acreditar na importância de se criar medidas de controlo
para a gestão dessa importante invasora. Por exemplo, na Austrália, no sentido de conter
essa invasora, tem sido utilizada a remoção manual das plântulas e das árvores jovens, e a
aplicação de herbicidas sistémicos para controlar árvores de grande porte, mas em
terrenos declivosos não foi possível eliminar P. undulatum (Rose, 1997). Em São Miguel
obtiveram-se resultados semelhantes no que respeita ao controlo químico (Silva et al., 1999),
mas surgirão problemas semelhantes no que respeita ao controlo da invasora em zonas
declivosas e de difícil acesso.
Embora a ilha do Pico permaneça como um dos maiores e últimos redutos de
vegetação nativa, característica da flora açoriana, a invasão por P. undulatum, devido à
singularidade da ilha, não constitui séria ameaça ao desaparecimento da mesma. No
entanto, será de grande importância reunir esforços para evitar a invasão dos locais a
baixa – média altitude, que apresentem interesse preservar, bem como controlar a
expansão da actual área de distribuição.
AGRADECIMENTOS
O nosso agradecimento à Secção de Geografia do Departamento de Biologia,
Universidade dos Açores, pelo apoio ao nível cartográfico e do sistema de informação
geográfica. Agradecemos ao Engenheiro Duarte Furtado o trabalho desenvolvido na
organização logística da expedição. O nosso agradecimento aos Serviços de
Desenvolvimento Agrário da ilha Pico, pela cedência de viatura e condutor.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 243
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LEVANTAMENTO DA FLORA VASCULAR EM DIFERENTES
HABITATS DA ILHA DO PICO (AÇORES)
CARLOS MEDEIROS1, HELENA GAGO DA CÂMARA1, MARIA JOÃO PEREIRA2,
DUARTE FURTADO2, SANDRA GOMES2, MATHIAS OGONOVSKY3,
RAFAEL ARRUDA2, ADRIANO CORDEIRO2,
ELISA TELHADO2 & DAVID COELHO2
Serviços de Ambiente de São Miguel. Rua João Moreira, 20. 9500-075 Ponta Delgada
2
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
3
Associação de Desenvolvimento Local Norte Crescente. Santo António. 9545-450 Ponta Delgada
1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho constituiu a vertente prática de amostragem realizada na ilha
do Pico durante a Expedição Científica do Departamento de Biologia da Universidade dos
Açores, em Junho de 2005 e forneceu nova informação que foi integrada no catálogo das
plantas vasculares citadas para a ilha do Pico também publicado neste volume.
A flora vascular do arquipélago dos Açores tem sofrido, desde a colonização, um
aumento considerável no número de espécies, fruto da sua introdução intencional, para os
mais variados fins, ou simplesmente de forma acidental. Das espécies introduzidas, muitas
naturalizaram-se, disseminando-se também para outras ilhas, e algumas assumiram um
carácter invasor preocupante, competindo directamente com a vegetação nativa e cultivada.
Uma vez que a actividade humana tem proporcionado a chegada de novas
espécies ao arquipélago e a sua dispersão destas espécies inter-ilhas, é importante fazer
avaliações regulares das ocorrências em cada ilha (acções de vigilância preventiva),
permitindo detectar espécies que, tendo sido introduzidas noutras ilhas, aí se naturalizaram
ou adquiriram carácter invasor. Neste sentido, o presente trabalho teve como principal
objectivo detectar a ocorrência de novas espécies introduzidas que possam constituir
ameaça às valiosas comunidades naturais da ilha.
METODOLOGIA
Após uma prévia e pragmática definição de diferentes tipos de habitat, foram
seleccionados alguns locais para realização das amostragens. Foi dado especial ênfase a
zonas antropomorfizadas por representarem zonas de risco elevado no estabelecimento de
novas espécies. Na Figura 1, é ilustrada a distribuição espacial do esforço de amostragem.
Dependendo das características de cada local de amostragem, foram amostrados um ou
mais habitats (Tabela I).
As amostras consistiram em listagens das espécies identificadas no local com
auxílio de guias de campo e no laboratório com auxílio de chaves dicotómicas. Foi registada
também a fenologia das espécies, sendo distinguidos os estádios de floração ou frutificação.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 246
Os habitats amostrados foram os seguintes: Costeiro rochoso - Costa; Costeiro com
acumulação de areia - Psamófito; Áreas urbanizadas - Urbano;
Bermas de estradas e
caminhos (a diversas altitudes) - Berma; Muros de pedra - Muro; Incultos; Hortas; Pastagens
(naturais ou semi-naturais, a diversas altitudes); Ribeiras (leito de linhas de água de regime
torrencial); Lagoas (margem); Mata (com espécies introduzidas e cultivadas); Bosque
(dominada por espécies exóticas); Mato (dominada por vegetação nativa); Montanha (transecto
realizado ao longo do trilho de escalada da montanha do Pico).
Tabela I. Locais onde foram realizados os levantamentos da flora vascular da Ilha do Pico.
Além dos habitats correspondentes a cada amostra, são indicadas as Áreas Protegidas
(AP) abrangidas em cada caso.
1,4,8
* AP - Áreas Protegidas: 1. PP Cultura da Vinha; 2. Reserva Natural da Montanha da Ilha do Pico;
3. SIC Montanha do Pico, Prainha e Caveiro (PTPIC0009); 4. SIC Ponta da Ilha (PTPIC0010);
5. SIC Lajes do Pico (PTPIC0011); 6. SIC Ilhéus da Madalena (PTPIC0012); 7. ZPE Lajes do Pico
(PTZPE0024); 8. ZPE Ponta da Ilha (PTZPE0025); 9. ZPE Zona Central do Pico (PTZPE0027).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 247
Figura 1. Distribuição espacial do esforço de amostragem. Alguns pontos
correspondem a duas
ou três amostras, referentes a habitats diferentes mas situados em áreas muito próximas.
RESULTADOS
Na Tabela II encontram-se os registos referentes aos taxa, à sua identificação
(sempre que tal foi possível) e respectivo estado fenológico. As amostras encontram-se
agrupadas por habitat e, dentro destes, ordenadas por ordem crescente de altitude.
Adicionalmente, e para cada espécie, é indicada a sua classificação quanto à origem
geográfica (endémicas dos Açores ou da Macaronésia, nativas, introduzidas, ou de estatuto
duvidoso ou desconhecido), o número e percentagem de amostras, e o número e
percentagem dos habitats onde a espécie foi registada.
Na Figura 2 representa-se a distribuição das espécies em cada habitat, de acordo
com a sua origem geográfica, verificando-se a presença de um maior número de espécies
endémicas e nativas nas zonas com menor grau de alteração antropomórfica, como a
montanha e os matos. A situação inversa verifica-se relativamente às espécies introduzidas,
mais comuns nas áreas mais humanizadas ou alteradas. Neste último aspecto, há a
salientar a grande dominância de espécies introduzidas nos habitats de ribeiras e bermas
das estradas, que constituirão meios de dispersão para estas espécies, quer devido à
circulação de veículos, quer devido às correntes de água.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 248
Figura 2. Distribuição das espécies em cada habitat, de acordo com a sua origem geográfica.
É indicado o número de amostras correspondentes a cada habitat.
Cerca de 50% das amostras correspondem a locais abrangidos por áreas
protegidas (SIC, ZPE, Reserva Natural e/ou Paisagem Protegida, Tabela III). Embora o
número médio de registos seja igual entre as amostras localizadas em áreas protegidas e
aquelas localizadas em áreas sem protecção, verifica-se que as primeiras têm geralmente
maior número de espécies da vegetação natural (cerca de metade), enquanto as segundas
apresentam uma maioria de espécies introduzidas (cerca de dois terços). Estes valores
médios, embora indicativos, não são completamente representativos, havendo grande
influência dos habitats em questão.
Salienta-se igualmente a menor proporção de espécies introduzidas nos SIC e na
Reserva Natural, que constituem as áreas protegidas directamente mais vocacionadas à
conservação da flora. No caso das ZPE, estas encontram-se mais vocacionadas à
conservação da fauna, embora envolvam a conservação dos respectivos habitats, pelo que
as espécies introduzidas assumem uma maior expressão, o que é igualmente associado ao
facto de envolver muitas zonas costeiras. Nos locais seleccionados pertencentes à
Paisagem Protegida da Cultura da Vinha - uma área bastante humanizada, os valores
médios obtidos nas diferentes categorias são semelhantes aos obtidos para as áreas sem
qualquer protecção. Assim apenas as amostras correspondentes à Paisagem Protegida da
Cultura da Vinha contribuem negativamente para os valores observados para as áreas
protegidas em geral, quer diminuindo o número médio de espécies endémicas e nativas em
cerca de 22%, quer aumentado o número médio de espécies introduzidas em cerca de 18%.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 249
Tabela II. Valores médios de espécies registadas em pontos localizados no interior ou no exterior
(Ex) de áreas protegidas. São representados os valores médios das áreas protegidas em geral e para
cada tipo de área protegida. O número de amostras correspondentes encontra-se representado entre
parêntesis (vários pontos encontravam-se inseridos em mais do que
uma área protegida, até ao máximo de três).
Apenas duas das espécies endémicas registadas não foram encontradas nos
locais seleccionados pertencentes às áreas protegidas (Corema azorica e Isoetes azorica).
Entre as espécies com estatuto de protecção (Directiva Habitats e/ou Convenção de Berna),
para todas existem registos em áreas protegidas.
Para a ilha foram ainda considerados os seguintes novos registos de plantas
introduzidas e existentes fora de cultivo: Aloe vera (L.) Burm. f., Agave americana L., Ascyrum
hypericoides L., Buxus sempervirens L., Echium simplex DC., Talinum paniculatum (Jacq.)
Gaertn., Tetrapanax papyriferus (Hook.) C. Koch, Tritonia x crocosmiflora (Lemoine)
G. Nicholson. Carecem ainda de identificação duas unidades taxonómicas registadas
pertencentes aos géneros Opuntia e Aloe.
Pela capacidade de propagação vegetativa e seminal observada e pelo tipo de
substrato colonizado consideramos como ameaças reais: Echium simplex DC. e, no mesmo
local, um cultivar ornamental do género Aloé. De referir que estas espécies possuem valor
comercial, podendo os dividendos da sua venda para fora do Arquipélago dos Açores
suportar os custos da sua remoção.
CONCLUSÕES
Da análise da generalidade dos resultados, verifica-se que as áreas protegidas
existentes constituem redutos importantes da vegetação natural, sendo claramente
distintas das áreas não abrangidas por qualquer tipo de protecção.
As zonas com maior intervenção humana constituem aquelas com maior número
de espécies introduzidas, pelo que as zonas urbanas constituirão um importante foco de
dispersão de novas espécies.
As vias de comunicação e terrenos abandonados constituem bons locais para
instalação e propagação das novas espécies. Tal como as vias de comunicação, as ribeiras
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 250
serão bons veículos de propagação, não só devido ao transporte pelas águas, que se faz no
sentido da menor altitude, mas por criar zonas de depósito de materiais arrastados e
remover outra vegetação, criando oportunidades de fixação.
O número de habitats amostrados não reflecte directamente a sua expressão na
área da ilha. No entanto, quinze espécies foram registadas em pelo menos metade das
amostras, constituindo indicação de se encontrarem entre as mais comuns da ilha. Entre
estas espécies, um terço faz parte da vegetação natural dos Açores, com duas endémicas
(Erica azorica e Holcus rigidus), e três nativas (Myrica faya, Plantago coronopus e Pteridium
aquilinum). Entre as dez espécies introduzidas, destacam-se Pittosporum undulatum e
Persicaria capitata, que apresentam tendência a formar manchas consideráveis, sendo
portanto grandes competidores pela ocupação do espaço. Na generalidade, estes dados
encontram-se de acordo com Silva (2001), uma vez que dez destas espécies constam da
lista das trinta espécies mais comuns na ilha do Pico, apresentadas por este autor.
Finalmente esta acção de vigilância detectou 10 novos registos para plantas
introduzidas e permitiu identificar duas ameaças reais às comunidades nativas junto à costa
Echium simplex e Aloe sp. requerendo atenção imediata para o sucesso da sua erradicação.
BIBLIOGRAFIA
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LEGISLAÇÃO CITADA
DIRECTIVA HABITATS: Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro; Directiva n.º 92/43/CEE do Conselho, de 21 de
Maio de 1992.
CONVENÇÃO DE BERNA: Decreto-Lei n.º 316/89, de 22 de Setembro, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 196/90, de 18 de Junho.
Tabela II – Distribuição das espécies pelas amostras e habitats (p – presença; f – floração; u – fruto;
? – identificação carece confirmação; * - espécie protegida).
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ACTIVIDADES REALIZADAS PELO CCPA NO DECORRER
DA XII EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA DO
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA - PICO/2005
MARIA A.VENTURA1, REGINA T. CUNHA1, MARIA H. S. SOUSA2, JOAQUIM
TEODÓSIO3, CARLOS LEAL1, ADRIANO QUINTELA1, BRUNO SIMÕES1,
SARA D. PERES1, BEATRIZ LÁZARO1, ROBERTO RESENDES1,
SANDRA MONTEIRO1 & SANDRA FERREIRA4
Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua da Mãe de Deus, 13-A
PT - 9500-801 Ponta Delgada, Portugal
Escola Básica 3/ Secundária da Ribeira Grande, Rua dos Condes da Ribeira Grande
9600 Ribeira Grande
3
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. 9630 Nordeste
4
Ecoteca da Madalena do Pico. 9950 Madalena
1
2
PROGRAMA DE ACTIVIDADES
O Centro de Conservação e Protecção do Ambiente (CCPA) do Departamento de
Biologia (DB) promove acções de Educação Ambiental junto das populações. Neste âmbito,
a nossa deslocação à ilha do Pico teve como principal objectivo realizar acções de
sensibilização e promoção da melhoria do estado de conservação do meio ambiente. As
nossas acções tiveram como público-alvo sobretudo crianças e jovens, e como tal
pretendeu-se que as mesmas tivessem lugar na Ecoteca do Pico e nas Escolas Básicas e
Secundárias locais.
ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS
08/Junho/05 – Aula prática sobre “Sons Reciclados”, realizada na Ecoteca da
Madalena do Pico para alunos dos 8 aos 14 anos. Elementos envolvidos na acção: Sandra
Ferreira (Ecoteca do Pico), Maria Helena S. Sousa, Adriano Quintela, Beatriz Lázaro, Carlos
Leal, Sara Peres e Sandra Monteiro.
A acção iniciou-se com uma breve explicação sobre o problema que os resíduos
sólidos urbanos têm criado nas últimas décadas, e a necessidade de se adoptar a política
dos 3 R’s (Reduzir, Reutilizar, Reciclar). Os alunos aderiram à acção de forma entusiástica.
De seguida procedeu-se à recolha de resíduos, à classificação e separação dos mesmos,
e finalmente à construção de instrumentos musicais com os resíduos recolhidos (figura 1).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 264
Figura 1. Construção de instrumentos musicais com os resíduos recolhidos; na foto alguns
dos alunos que participaram na acção, na Ecoteca da Madalena do Pico.
Os Instrumentos musicais construídos foram os seguintes:
1) Adufe; Material necessário - caixa de pizza, caricas, papel decorativo;
2) Muge-muge; Material necessário - rolo de papel de cozinha, celofane, elástico;
3) Chincalho; Material necessário - ripa de madeira, caricas, pregos;
4) Maraca; Material necessário - lata de refrigerante, areia/cascalho;
5) Reque-reque; Material necessário - tubos de canetas, garrafão de água de 5 litros, rolha;
6) Diabo da Floresta – copo de iogurte, carrinho de linhas, fio de nylon, cartão (figura 2).
Figura 2. Instrumentos reciclados.
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Após a construção dos Instrumentos formou-se uma pequena Orquestra Reciclada,
e as crianças presentes cantaram várias canções (figura 3).
Figura 3. Orquestra reciclada.
9/Junho/05 – Aula prática sobre o processo de “Reciclagem de papel”, que teve
lugar na Ecoteca da Madalena do Pico com alunos dos 8 aos 14 anos. Elementos envolvidos na acção: Sandra Ferreira (Ecoteca da Madalena do Pico), Regina Cunha, Anunciação
Ventura, Carlos Leal, Bruno Simões e Sandra Monteiro (figura 4).
Figura 4. Fabrico do papel reciclado; na imagem, Sandra Monteiro a preparar a pasta de papel.
Antes do início da acção procedeu-se a uma breve explicação sobre o “ciclo do
papel” e a importância da sua reciclagem para a preservação do nosso património florestal,
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 266
bem como todos os serviços úteis que ele nos presta. Após esta breve palestra,
passou-se então ao fabrico de papel reciclado com o auxílio de jornais velhos que haviam
sido postos em água na véspera, e a entusiástica colaboração de todas as crianças
presentes e suas educadoras.
10/Junho/05 – Mergulho junto ao Porto da Madalena com a finalidade de averiguar
o estado de conservação da zona costeira. Elementos envolvidos na acção: Adriano Quintela
e Sara Peres; skipper: Norberto Serpa do Departamento de Oceanografia e Pescas da
Universidade dos Açores.
Apesar do mar não se encontrar nas melhores condições para a prática do
mergulho, tendo a agitação impedido uma boa visibilidade e a recolha de imagens, ainda
assim permitiu constatar, com alguma satisfação, a existência de um bom estado de
conservação dos fundos marinhos nesta região costeira da ilha do Pico. Num passeio ao
longo da zona intertidal, também não encontrámos grande deposição de resíduos como é
comum na zona costeira de S. Miguel, o que nos leva a louvar a atitude cívica da população
Picoense. Esperemos que assim continuem a dar um bom exemplo!
11/Junho/05 – Subida à montanha do Pico. Elementos envolvidos na acção:
Anunciação Ventura, Joaquim Teodósio, Carlos Leal e Beatriz Lázaro.
13/Junho/05 – Apresentação na Ecoteca da Madalena de uma pequena palestra
sobre o processo de salvamento de aves feridas, intitulada “Aves e acidentes”, e de uma
peça de “teatro ecológico”. Elementos envolvidos na acção: Joaquim Teodósio (palestrante),
Anunciação Ventura, Adriano Quintela, Bruno Simões, Maria Helena S. Sousa [teatro], Carlos
Leal, Sandra Ferreira (Ecoteca da Madalena), Sara Peres, Sandra Monteiro e Thiago Nunes
[nosso convidado e organizador do teatro].
Joaquim Teodósio explicou às crianças presentes a importância de tratar bem as
aves, por estas serem animais particularmente vulneráveis a maus-tratos, ou mesmo a toques
e “apertos” excessivos. Explicou de seguida quais os cuidados a ter quando se encontra
uma ave ferida ou debilitada, e onde a entregar.
De seguida procedeu-se à elaboração de fantoches com os quais se montou uma
pequena peça de teatro, onde se abordaram temas ecológicos como por exemplo a
preservação da floresta da Amazónia, entre outros aspectos relevantes para a preservação
do meio ambiente. O intuito era o de aprender brincando!
14/Junho/05 – Deslocação à Escola Secundária da Madalena do Pico, para a
realização de duas palestras intituladas, “Serviço de Urgência (tratamento de aves petroleadas)”;
e “Resíduos e Poluição - Um problema de resolução prioritária nos nossos dias” Elementos
envolvidos na acção: Joaquim Teodósio, Carlos Leal, Anunciação Ventura, Maria Helena S.
Sousa, Bruno Simões, Adriano Quintela, Sara Peres e Sandra Monteiro (figura 5).
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 267
Figura 5. Palestrantes na Escola Secundária da Madalena: à esquerda, Joaquim Teodósio (Sociedade
Portuguesa para o Estudo das Aves - SPEA); à direita, Carlos Leal (CCPA).
“Serviço de Urgência – O Centro de Acolhimento e Recuperação de Espécies (CARE)”
Joaquim Teodósio (SPEA)
Em meados de Novembro de 2002
junto à costa galega afundou o malfadado
Prestige. As influências nefastas desse
acontecimento atingiram de forma
impressionante quase toda a costa galega
estendendo-se até às praias bascas.
A Portugal, o crude não chegou,
afastado por ventos e correntes, no entanto,
em pouco tempo começaram a dar à costa
várias aves petroleadas. O Instituto de
Conservação da Natureza decidiu montar o
Centro de Acolhimento e Recuperação de Espécies (CARE), sob a responsabilidade da
Área de Paisagem Protegida do Litoral de Esposende.
Durante aproximadamente 3 meses
o CARE recebeu mais de 400 aves (algumas
de espécies raras como as Mobelhas Gavia
spp). Lidar com as dezenas de aves
recebidas apenas foi possível pela
participação de mais de 70 voluntários em
colaboração com diversas ONG’s (SPEA,
LPN, GEOTA, QUERCUS, AMIGOS DO MAR,
FAPAS, etc). Em qualquer situação de emergência o voluntariado é indispensável. É o
próprio International Fund for Animal
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 268
Welfare (IFAW), “líder” mundial na recuperação de animais petroleados, com mais de 30
anos de experiência, que destaca a importante e necessária colaboração dos voluntários.
O funcionamento deste centro veio trazer um tipo de experiência praticamente
inexistente em Portugal, podendo vir a ser muito importante na forma de actuar em
situações futuras… que esperemos nunca ocorram.
“Resíduos & Poluição – um problema dos
nossos dias” – Carlos Leal (CCPA)
Esta palestra de sensibilização
ambiental focou-se essencialmente na
questão dos resíduos, tendo sido abordadas
várias facetas desta matéria,
nomeadamente: a sua identificação e
classificação; os destinos para onde
actualmente são enviados os resíduos na
região e, particularmente, no caso da ilha do
Pico; os principais impactes sobre o meio
ambiente, derivados do seu abandono em lixeiras a céu aberto ou para os mais diversos
componentes ambientais.
Relativamente à identificação e classificação, foi colocado ênfase nos tipos
fundamentais de resíduos, sem recorrer a uma linguagem muito técnica: sólidos, líquidos,
resíduos de óleos, sucatas (equipamentos eléctricos e electrónicos), pneus, madeiras
resíduos biodegradáveis, etc.
A questão da separação e reciclagem é fundamental, tendo sido referidos alguns
cuidados a ter com os resíduos e os deveres e vantagens dos cidadãos em adoptarem as
práticas de reciclagem, sendo de reforçar o facto de viverem em ilhas e não existir grande
disponibilidade de espaços disponíveis para a construção de futuros aterros, aquando do
encerramento dos presentes.
XII Expedição Científica do Departamento de Biologia - Pico 2005. Rel. Com. Dep. Biol., 34: 269
Um dos objectivos principais desta palestra foi certamente a transmissão de
informação válida, apresentada de forma simples mas sistemática, sobre as substanciais
diferenças entre um aterro sanitário (correctamente construído) e uma lixeira a céu aberto.
Para tal, apostou-se bastante nas imagens, particularmente na secção referente aos
destinos para resíduos locais (Pico), nomeadamente o aterro sanitário da Silveira, concelho
das Lajes do Pico.
Finalmente, a apresentação contou ainda com uma abordagem a nível de
poluição, com o intuito de consciencializar cada um para a necessidade urgente de alterar
os nossos hábitos, no que toca a resíduos, temos todos uma palavra a dizer e uma
obrigação cívica e ambiental.
Os objectivos foram cumpridos no que toca à transmissão da mensagem proposta,
nomeadamente a consciencialização da necessidade de alterarmos os nossos hábitos
quotidianos no que toca a resíduos. Os alunos revelaram atenção e demonstraram
interesse, visto a participação dos mesmos ter sido francamente positiva, embora se
tratassem de vários anos, a participação foi equitativa.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar um grande bem-haja às crianças e jovens do Pico, para as quais
preparámos estas actividades, e que corresponderam da melhor forma possível. Em
segundo lugar queremos deixar uma palavra especial de apreço ao Doutor João Gonçalves
do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP – Horta), pela cedência de uma
embarcação e de um skipper, para a realização das actividades sub-aquáticas.