Qualidade Sanitária e Fisiológica de Sementes de Abóbora
Variedade Menina Brasileira*
Derblai Casaroli1, Danton C. Garcia1, Marlove F. B. Muniz2 & Nilson L. de Menezes1
1
Departamento de Fitotecnia; 2Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade Federal de Santa Maria,
CEP 97105-900, Santa Maria, RS, e-mail: casaroli@esalq.usp.br
(Aceito para publicação em 19/07/2005)
Autor para correspondência: Derblai Casaroli
CASAROLI, D., GARCIA, D.C., MUNIZ, M.F.B & MENEZES, N.L. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de
abóbora variedade Menina Brasileira. Fitopatologia Brasileira 31:158-163. 2006.
RESUMO
O trabalho teve como objetivos avaliar e correlacionar a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de abóbora,
variedade Menina Brasileira (Cucurbita moschata.). Foram avaliados dois lotes de sementes de abóbora produzidas no
sistema agroecológico e quatro no sistema convencional, com e sem tratamento químico. Os lotes foram submetidos aos
testes de sanidade, seguindo a metodologia do “Blotter test”, com congelamento, germinação e vigor (primeira contagem,
índice de velocidade de germinação, envelhecimento acelerado e emergência de plântulas). Os resultados indicaram a
separação dos lotes de diferentes origens a partir da qualidade sanitária e fisiológica, onde as maiores incidências de fungos
foram observadas nos lotes agroecológicos e o maior potencial fisiológico foi observado nos lotes de origem convencional
não tratados. Foram encontrados os fungos Fusarium oxysporum, Alternaria alternata, Cladosporium cucumerinum,
Aspergillus niger, Penicillium digitatum, Rhizopus stolonifer e Phoma terrestris. A qualidade sanitária não interferiu na
qualidade fisiológica das sementes de abóbora, variedade Menina Brasileira.
Palavras-chaves adicionais: Cucurbita moschata, sistema agroecológico e convencional, potencial fisiológico,
fungos.
ABSTRACT
Health and Physiological Quality of ‘Menina Brasileira’ Squash Seeds
The objective of this work was to evaluate and correlate the health and physiological qualities of squash seeds of the
variety Menina Brasileira (Cucurbita moschata.). We evaluated two squash seed lots produced in the agroecological system
and four seed lots produced in the conventional system with and without chemical treatment. The seed lots were submitted
to health tests with freezing, germination and vigour, following Blotter test methodology (first count, germination speed,
accelerated ageing and seedling emergence tests). The results from the health and physiological tests indicated a difference
between seed lots from different origins: the agroecological lots showed the highest incidence of fungi and the conventional
lots without chemical treatment showed the highest physiological potential. The fungi Fusarium oxysporum, Alternaria
alternata, Cladosporium cucumerinum, Aspergillus niger, Penicillium digitatum, Rhizopus stolonifer and Phoma terrestris
were found to be associated with seeds. The health quality did not interfere with the physiological quality of the ‘Menina
Brasileira’ squash seeds.
Additional keywords: Cucurbita moschata, agroecological system, physiological potential, fungi.
INTRODUÇÃO
A presença de patógenos nas sementes,
independentemente de sua transmissibilidade, pode afetar o
vigor e o rendimento em campo (Zorato & Henning, 2001;
Luz, 2003). Esse efeito é mais pronunciado quando se trata
de organismos que colonizam os tecidos das sementes. Por
outro lado, a redução do vigor decorrente de fatores não
infecciosos pode predispor essas estruturas à ação mais
severa de patógenos (Machado, 1994; Menten, 1995).
Assim, o uso de sementes com menor vigor pode ter reflexos
*Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor. Universidade
Federal de Santa Maria. 2005.
158
negativos dos mais variáveis, considerando-se não somente
um menor desempenho das plantas em termos de estande
como, também, a maior vulnerabilidade dessas sementes ao
ataque de patógenos. Por tudo isto, tem-se recomendado uma
integração entre os testes de sanidade e qualidade fisiológica
de sementes (Neergaard, 1979; Menten, 1995).
Machado (1994) relatou que danos decorrentes da
associação dos patógenos com as sementes não se limitam a
perdas diretas da população em campo, mas envolvem outras
implicações que podem provocar sérios danos em todo o
sistema de produção. Para um grande número de doenças, as
sementes portadoras de seus agentes causais constituem sua
única forma de perpetuação e disseminação na natureza.
Ao avaliar a qualidade sanitária e fisiológica de
Fitopatol. Bras. 31(2), mar - abr 2006
Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de abóbora variedade...
sementes, pode-se obter reflexos positivos ou negativos
quanto à produção. O conhecimento do potencial fisiológico
das sementes permite, principalmente, para espécies onde
ocorre transplante de mudas, que estas sejam de tamanho
e qualidade uniformes, com reflexos no desenvolvimento
das plantas e, possivelmente, na produção final. Portanto, a
produção de mudas e de plantas sadias depende em grande
parte da utilização de sementes de boa qualidade (Marcos
Filho, 2001).
Assim, o tratamento de sementes com produtos
químicos, principalmente fungicidas, é considerado uma
prática usual e eficiente para aumento da produção (Reis
& Forcelini, 1994). Porém, quando se busca a produção de
alimentos sem a utilização de produtos químicos, como é o
caso do sistema de produção agroecológica, deve-se incluir
as sementes neste contexto, por serem o insumo básico de
qualquer atividade de cultivo.
São poucos os relatos de pesquisas realizadas no
Brasil sobre a avaliação da qualidade de sementes de
abóbora, especialmente, com sementes produzidas em
sistemas agroecológicos, as quais têm demonstrado boa
qualidade fisiológica, com uma grande vantagem, não são
utilizados produtos químicos em seu sistema produtivo
(Nascimento, 2004). Sendo assim, a realização de trabalhos
visando primeiramente qualificar e quantificar problemas
fitossanitários é de grande importância, principalmente,
quando se pensa em produção de hortaliças sem o uso de
produtos químicos.
O objetivo do trabalho foi avaliar e correlacionar
a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de abóbora
(Cucurbita moschata Duch.), produzidas em três sistemas.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de
Patologia de Sementes do Departamento de Defesa
Fitossanitária, no Núcleo de Pesquisa em Ecofisiologia e
Hidroponia e no Laboratório Didático e de Pesquisa em
Sementes do Departamento de Fitotecnia da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria RS.
Foram utilizados dois lotes de sementes de abóbora
variedade Menina Brasileira, produzidos em sistema
Agroecológico, sem qualquer utilização de substâncias
consideradas tóxicas para seres humanos, animais e meio
ambiente e quatro lotes produzidos em sistema Convencional,
sendo dois lotes tratados com fungicidas Thiram 45% (5 ml
Kg-1) e Captan-75 a 0,2% e dois não tratados.
As sementes foram submetidas as seguintes análises:
a) determinação do teor de água (TAS) - conduzido em estufa
a 105±3 °C por 24 horas, utilizando-se duas subamostras por
lote com aproximadamente 5 g de sementes, conforme as
Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992); b) teste
de sanidade – utilizou-se a metodologia do papel filtro ou
“Blotter test” com congelamento. Foram utilizadas oito
repetições de 25 sementes, colocadas em caixas plásticas do
tipo “gerbox” contendo três folhas de papel filtro umedecidos
Fitopatol. Bras. 31(2), mar - abr 2006
com água destilada em uma proporção de 2,5 vezes o peso
do papel seco. As sementes foram incubadas à temperatura
de 25 ºC por sete dias, sob fotoperíodo de 12 horas de
regime de luz e 12 horas de escuro. Após o período de
incubação as sementes foram examinadas individualmente
sob microscópio estereoscópio e microscópio óptico,
computando-se a percentagem de incidência, sendo
realizada a identificação dos patógenos com base em suas
características morfológicas (Barnett & Hunter, 1972); c)
teste de germinação (TG) - realizado com oito repetições
de 50 sementes, sobre papel filtro umedecido com água
destilada na proporção de 2,5 vezes o peso do papel seco.
As sementes foram colocadas em germinador a 25 ºC e as
contagens de plântulas normais foram efetuadas aos quatro
e oito dias após a semeadura (Brasil, 1992); d) primeira
contagem (PC) - realizada conjuntamente com o teste de
germinação, constituindo o registro da percentagem de
plântulas normais verificadas na primeira contagem do teste
de germinação (Brasil, 1992), realizada no quarto dia após
a semeadura; e) índice de velocidade de germinação (IVG)
– seguiu-se a mesma metodologia do teste de germinação.
As sementes foram colocadas em germinador a 25 ºC, onde
foram realizadas avaliações diárias, à mesma hora, a partir
do dia em que surgiram as primeiras sementes consideradas
germinadas (raiz primária visível) permanecendo até a
estabilização. Ao fim do teste, com os dados diários do
número de sementes germinadas por repetição, calculou-se
o índice de velocidade de germinação, conforme Maguire
(1962); f) envelhecimento acelerado (EA) - conduzido
em caixas plásticas do tipo “gerbox” (AOSA, 1983).
Utilizaram-se amostras de aproximadamente 20 g divididas
em duas subamostras. Cada subamostra foi distribuída
uniformemente de maneira a formar uma camada simples
sobre a superfície de tela metálica suspensa no interior da
caixa, as quais continham 40 ml de água destilada ao fundo.
As caixas tampadas foram levadas à incubadora, onde
permaneceram à temperatura de 41 °C, por 48 horas. Ao
término desse período as sementes foram colocadas para
germinar, conforme a metodologia do teste de germinação
descrita anteriormente, efetuando-se uma única contagem
no sexto dia após a semeadura; g) emergência de plântulas
(EM) - foram utilizadas quatro repetições de 50 sementes,
com semeadura em bandejas de isopor com 128 células,
contendo substrato organo-mineral e mantidas em condições
de ambiente parcialmente controlado (estufa plástica), em
piscina hidropônica sobre solução nutritiva diluída a 50%,
conforme Castellane & Araujo (1994). As análises foram
realizadas aos sete dias após a semeadura.
O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, onde os tratamentos constituíramse em número de três, representando as origens das sementes,
com quatro repetições. Foi realizada a análise da variância
e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de
5% de probabilidade. Entre as médias dos lotes de mesma
origem, utilizou-se o teste t (student) a 5% de probabilidade.
Os dados também foram submetidos ao teste de correlação
159
D. Casaroli et al.
simples de Pearson (r), exceto para os fungos Aspergillus
niger Tiegh., Cladosporium cucumerinum Ellis & Arthur
e Phoma terrestris H.N. Hansen. Os dados expressos em
percentagem foram transformados para arco seno (x/100)1/2
e as variáveis com algum valor igual a zero tiveram seus
dados transformados para y = x + 0,01.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Qualidade Sanitária
Conforme apresentado na Tabela 1, são observadas
diferenças significativas, para o total de fungos e,
individualmente, para a maioria dos fungos detectados na
avaliação da qualidade sanitária das sementes de abóbora
quanto aos sistemas e entre lotes dentro de um mesmo
sistema. As maiores incidências de fungos ocorreram nas
sementes dos sistemas agroecológico e convencional não
tratadas, mostrando diferenças significativas em relação
aos lotes provenientes de sistema convencional tratados,
comprovando assim, a eficácia dos produtos químicos
utilizados. O uso de produtos químicos tem por objetivo o
controle de microorganismos associados às sementes e a proteção
das mesmas e das plântulas contra a ação de microorganismos
do solo, contribuindo para a redução da transmissão de
patógenos para a parte aérea das plantas (Luz, 2003).
As sementes provenientes do sistema agroecológico
apresentaram as maiores incidências para a maioria dos
fungos encontrados. Desta forma, entende-se, que sementes
dessa origem devem receber algum tratamento alternativo,
como controle biológico (Vidhyasekaran & Muthamilan,
1995). Sementes produzidas em sistemas agroecológico
e orgânicos, os quais não utilizam produtos químicos em
nenhuma das etapas de produção, são facilmente infestadas
por fungos, tornando a qualidade sanitária um motivo de
preocupação durante toda a fase de produção (Nascimento,
2004). Devido à infestação nas sementes agroecológicas,
Casaroli et al. (2003) observaram a interferência negativa na
germinação e emergência de plântulas de abóbora, variedade
Menina Brasileira.
Para o fungo Fusarium oxysporum, as diferenças
significativas foram observadas apenas entre lotes com
e sem tratamento químico e entre os lotes do sistema
agroecológico, portanto, demonstrando uma variação entre
lotes provenientes do mesmo sistema de produção. Esse
fungo é um importante patógeno das culturas do melão e
melancia, por causar murchas vasculares e tombamento de
plântulas em suas formas Fusarium oxysporum f. sp. melonis
e Fusarium oxysporum f. sp. niveum, respectivamente (Rego,
1995; Zitter et al., 1996). Também podem atacar raízes e
colo das plantas, causando apodrecimento dos tecidos,
em melancia e melão, sendo mais severo em abóbora e
abobrinha, na forma de Fusarium solani f. sp. cucurbitae
(Rego, 1995; Zitter et al., 1996), tendo nas sementes seu
principal veículo de disseminação e sobrevivência.
Também para os fungos Alternaria alternata e
Cladosporium cucumerinum, os lotes dos três sistemas
apresentaram diferenças significativas quanto a incidência
desses patógenos. As maiores médias de A. alternata foram
observadas nos lotes do sistema convencional não tratados,
enquanto para C. cucumerinum foram detectadas diferenças
TABELA 1. Percentagens médias referentes a incidência de Fusarium oxysporum (FUS), Alternaria alternata (ALT), Cladosporium
cucumerinum (CLAD), Aspergillus niger (ASP), Penicillium digitatum (PEN), Rhizopus stolonifer (RHIZ) e Phoma terrestris (PHO) e total
de fungos presentes (TF), em lotes de sementes de abóbora, variedade Menina Brasileira, provenientes de três sistemas.
1
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade;
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha, não diferem entre si pelo teste t (student), ao nível de 5% de probabilidade;
3
AGR. = Sistema Agroecológico; SCT = Sistema convencional tratado; SCNT = Sistema convencional não tratado;
*Não houve interação significativa entre os lotes oriundos do mesmo sistema de produção.
2
160
Fitopatol. Bras. 31(2), mar - abr 2006
Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de abóbora variedade...
apenas entre os lotes de origem agroecológico e convencional
tratados, onde, novamente, os lotes do sistema agroecológico
mostraram as maiores percentagens de infestação. Manchas
foliares causadas por C. cucumerina são comuns em plantas
de melão, ocorrendo com menor severidade em abóbora,
melancia, pepino e chuchu, podendo sobreviver nas
sementes (Rego, 1995; Zitter et al., 1996). Também pode-se
encontrar manchas necróticas nas folhas de pepino, melão e
melancia, causadas por A. alternata f. sp. cucurbitae (Zitter
et al., 1996). O fungo C. cucumerinum é o agente causal
da Sarna, importante doença das Cucurbitáceas, causando
lesões nas folhas, pecíolos, caules e frutos de plantas de
abóbora, abobrinha, melão e melancia, sendo mais severo
em pepino (Rego, 1995; Zitter et al., 1996).
Com relação à incidência de Aspergillus niger, fungo
de armazenamento, causador de podridões em sementes
(Menten, 1995; Zitter et al., 1996), não foram observadas
interações significativas entre lotes do mesmo sistema
produtivo, nem entre as médias dos diferentes sistemas.
Por outro lado, com referência ao Penicillium digitatum
(Pers.) Sacc. observaram-se diferenças significativas entre
os sistemas quanto à presença desse fungo, o qual foi mais
freqüente nas sementes produzidas no sistema agroecológico,
havendo também, diferenças entre os lotes dessas sementes.
Nos lotes de sementes produzidos em sistema convencional
não tratados, as incidências foram significativamente
menores em relação aos lotes agroecológicos, enquanto nos
lotes do sistema convencional tratados, a incidência foi zero.
As espécies desse gênero são considerados fungos típicos
de armazenamento, podendo ocasionar apodrecimento das
sementes, não sendo, porém, transmitido para as plântulas
e plantas (Zitter et al., 1996). Penicillium digitatum Sacc.
pode promover podridões em frutos (Rego, 1995).
A espécie Rhizopus stolonifer (Ehrenb.) Vuill.
mostrou a maior média de incidência nos lotes do sistema
agroecológico e a menor nos lotes do sistema convencional
tratados. Essa espécie pode causar podridões de sementes e
plântulas de algodão, atacando os cotilédones, apodrecendoos antes da emergência, quando apenas o sistema radicular
foi emitido, progredindo posteriormente, para toda
plântula (Menten, 1995). Podridões moles nos tecidos de
Cucurbitáceas também podem ser causadas pelo fungo
R. stolonifer (Fr.) Lind., afetando geralmente os frutos
(Rego, 1995; Zitter et al., 1996). Entretanto, ao tratar-se de
sementes, o gênero Rhizopus é considerado, geralmente,
um contaminante (Rego, 1995). O fungo P. terrestris foi
detectado em sementes oriundas dos três sistemas, porém
com baixa incidência, observando-se o menor percentual
no sistema convencional tratado. Essa espécie pode causar
lesões de coloração rosa tendendo ao vermelho, encontradas
nas raízes das Cucurbitáceas, facilitando a entrada de outros
organismos (Zitter et al., 1996).
Diferenças significativas também foram observadas
para o total de fungos infestando as sementes, verificando-se
a separação das origens em três grupos de acordo com a sua
qualidade sanitária, onde as maiores médias foram obtidas
nos lotes do sistema agroecológico apresentando a menor
qualidade sanitária, seguidos pelos lotes provenientes dos
sistemas convencionais não tratados e tratados (Tabela 1).
Qualidade Fisiológica
Na avaliação da qualidade fisiológica, por meio dos
testes de germinação e vigor (Tabela 2), os maiores valores
de potencial fisiológico foram obtidos nas sementes dos
lotes provenientes do sistema convencional não tratados.
No teste de germinação detectaram-se diferenças quanto
aos sistemas, mas não entre lotes do mesmo sistema.
Alguns autores também observaram a estratificação de lotes
de sementes de abobrinha (Cucurbita pepo) e abobrinha
cv. Piramoita, respectivamente, em diferentes níveis de
qualidade fisiológica a partir do teste de germinação (Barros
et al., 2002; Cardoso, 2003).
Nos testes de vigor avaliados detectaram-se diferenças
significativas entre lotes de diferentes sistemas, observandose maior sensibilidade para a estratificação dos lotes em
função do potencial fisiológico, nos testes de primeira
contagem e envelhecimento acelerado, onde ocorreram níveis
maiores, menores e intermediários de vigor das sementes
TABELA 2. Dados médios dos testes de germinação (TG), primeira contagem (PC), índice de velocidade de
germinação (IVG), envelhecimento acelerado (EA) e emergência de plântulas (EM), de lotes de sementes de
abóbora, variedade Menina Brasileira, provenientes de três diferentes sistemas. Santa Maria, RS, 2004
1
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de
probabilidade.
2
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de t (student), ao nível de 5% de
probabilidade.
3
AGR. = Sistema Agroecológico; SCT = Sistema convencional tratado; SCNT = Sistema convencional não tratado.
*Não houve interação significativa entre os lotes oriundos do mesmo sistema de produção.
Fitopatol. Bras. 31(2), mar - abr 2006
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D. Casaroli et al.
(Tabela 2). O teste de primeira contagem pode ser utilizado
rotineiramente para se obter informações complementares
sobre o vigor de lotes de sementes de pepino e alface,
respectivamente (Bhering et al., 2000; Franzin, 2003). Esse
teste avalia indiretamente a velocidade de germinação das
sementes Nakagawa (1999) indica que a primeira contagem,
muitas vezes, expressa melhor as diferenças de velocidade
de germinação entre lotes, que os índices de velocidade de
germinação (IVG).
O teste de envelhecimento acelerado mostrou
eficiência também, para detecção de diferentes potenciais
fisiológico das sementes entre lotes de mesmo sistema.
Bhering et al. (2000) e Barros et al. (2002) também
comprovaram a eficiência do período de 48 horas de exposição
ao estresse à temperatura de 41 °C, para estratificação de
lotes de sementes de pepino e abobrinha, respectivamente.
Para Cardoso (2003), os dados de emergência das
sementes de abobrinha cv. Piramoita apontaram apenas o
lote de maior vigor, sendo que os outros lotes avaliados não
diferiram e foram considerados de menor vigor. Entretanto,
esse autor avaliou a emergência aos 21 dias após a semeadura,
não observando diferenças entre lotes.
As espécies encontradas no presente trabalho podem
ser divididas em fungos que são transmitidos às plântulas e
plantas via semente, como Fusarium oxysporum, Alternaria
alternata e Cladosporium cucumerinum, e fungos de
armazenamento, onde se enquadram as demais espécies
detectadas nas sementes de abóbora, exceto Rhizopus,
tratado como um contaminante.
As médias obtidas pelos gêneros de fungos de
campo, com potencial de transmissão, foram maiores que
as médias dos fungos de armazenamento (Tabela 1). Talvez
por isso, os lotes provenientes de sistema convencional não
tratados expressaram seu vigor sem interferências negativas
em função da presença de fungos. As maiores incidências
nesses lotes foram dos fungos que são transmitidos via
semente, ocasionando, principalmente, “damping-off”
ou tombamento de plântulas (Machado, 1988; Menten,
1995), o mesmo não foi observado na emergência de
plântulas (Tabela 2), os quais apresentaram as maiores
médias, diferindo significativamente dos lotes de menor
percentagem de emergência. Isso pode ser explicado, devido
às plântulas terem sido produzidas em sistema hidropônico,
em condições mais favoráveis de nutrição, favorecendo o
seu desenvolvimento e diminuindo a ação de organismos
patogênicos.
Considerando que a maioria das espécies de fungos
patogênicas necessitam de alta temperatura e umidade
para seu melhor desenvolvimento (Neergaard, 1979),
observaram-se coeficientes de correlação positivos e
significativos a 1%, para os fungos Fusarium oxysporum
(r = 0,86), Alternaria alternata (r = 0,48) e Penicillium
digitatum (r = 0,61) e total de incidência de fungos (r =
0,88) em relação ao teor de água das sementes, proveniente
das análises de caracterização dos lotes, a qual apresentou
variações de 6,6%, 8,2% e 8,4%, para os lotes convencionais
162
tratados, não tratados e agroecológicos, respectivamente.
As mesmas espécies foram correlacionadas com os testes,
as quais avaliaram a qualidade fisiológica das sementes,
observando-se, no entanto, que os coeficientes de correlação
entre a presença das diferentes espécies fúngicas e os testes
de qualidade fisiológica foram, de modo geral, positivos e
não significativos. Deve-se observar, principalmente, os
coeficientes negativos e significativos, pois estes podem
mostrar a interferência negativa da presença de patógenos
sobre a qualidade fisiológica das sementes, o que não ocorreu
no presente estudo.
Alguns autores verificaram que certos fungos,
ao infectarem as sementes, danificam suas estruturas
celulares de modo a prejudicar sua viabilidade, podendo
até ocasionar a morte da mesma (Wetzel, 1987; Machado,
1988; Menten, 1995). Pesquisas relacionando o nível de
incidência de fungos e qualidade fisiológica das sementes de
hortaliças mostraram interferência negativa, como exemplo,
Alternaria sp. em sementes de cenoura (Muniz & Porto,
1999). Entretanto, outros autores observaram que a presença
de fungos e bactérias não afetaram de forma negativa a
qualidade fisiológica de sementes de tomate (Torres et al.,
1999). Por outro lado, Dias & Toledo (1993) constataram que
a incidência de fungos em sementes de braquiária reduziu
a sua germinação, porém Bevilaqua & Pierobom (1995)
observaram, que sementes de aveia preta apresentaram alto
vigor mesmo estando infestadas com fungos dos gêneros
Fusarium, Alternaria e Phoma. Portanto, muitas vezes os
resultados são divergentes, pois trabalha-se com organismos
vivos, os quais dependem da associação de fatores intrínsecos
e extrínsecos na expressão do efeito causado.
Neste trabalho foi evidenciado que os fungos
detectados nas sementes de abóbora variedade Menina
Brasileira, não interferiram na sua qualidade fisiológica,
como pode ser observado também pela análise de correlação.
Entretanto, o potencial fisiológico foi afetado por fatores tais
como o sistema, o tratamento químico e a qualidade inicial
dos lotes. Os lotes de sistema agroecológico mostraram a
menor qualidade sanitária e os lotes de sistema convencional
não tratados apresentaram o maior vigor.
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