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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0624 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP As estimativas dos parâmetros resistência à compressão uniaxial e alterabilidade na Classificação Geomecânica RMR-2014 João Paulo Monticelli Geólogo, MSc pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, jpmonticeli@gmail.com Rogério Pinto Ribeiro Prof. Dr., Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil, rogerioprx@sc.usp.br Marcos Massao Futai Prof. Assoc., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br RESUMO: Neste estudo seções hipotéticas de túneis foram definidas a partir de modelos geológicos e classificadas pelo sistema RMR2014, sendo investigada a estimativa do parâmetro alterabilidade obtido pelo ensaio slake durability test (recentemente incorporado nesta classificação) e sua influência para a classe do maciço rochoso. Alguns parâmetros, como grau de fraturamento e rugosidade das juntas, entre outros, foram fixados e especial atenção foi dada à variação das notas de parâmetros relacionados à rocha intacta, resistência à compressão uniaxial (RCU) e alterabilidade (Id 2,4). Para tanto, valores de RCU e Id2,4 de gnaisses e granitos ao longo dos graus de alteração (I, III e V) foram compilados da literatura e utilizados na classificação. Os resultados mostraram que a heterogeneidade das rochas influencia sensivelmente a classificação geomecânica bem como os procedimentos para estimativa dos seus parâmetros, sendo que em maciços gnáissicos, porções de baixa qualidade podem ser esperados devido à variação mineralógica do bandamento gnáissico. A atualização de procedimentos para a classificação RMR 2014 tem importância significativa para túneis em maciços cristalinos heterogêneos e intemperizados. PALAVRAS-CHAVE: Durabilidade, resistência, classificação, RMR, graus de alteração. ABSTRACT: In this study, hypothetical sections of tunnels were defined from geological models and classified by the RMR2014 system. The estimation of the alterability parameter obtained by the slake durability test, recently incorporated in this classification, and its influence on the rock mass classification was investigated. The parameters, such as fracturing grade and joint roughness, among others, were fixed and special attention was given to the variation of the parameter scores related to intact rock, uniaxial compression strength (RCU) and alterability (Id2,4). To this end, UCS and Id2,4 values of gneiss and granite rocks along with the weathering grades (I, III e V) were compiled from the literature and used in the classification. The results showed that the rock heterogeneity slightly influenced the geomechanical classification, and in gneiss rock masses, portions of low quality can be expected due to the mineralogical variation of the banding. The updating of procedures for the RMR2014 classification is significant for tunnels in heterogeneous and weathered crystalline massifs. KEYWORDS: Durability, strength, classification, RMR, weathering grades 1 Introdução As classificações geomecânicas (RMR e Sistema Q, principalmente) são amplamente aplicadas na engenharia brasileira devido à facilidade na previsão de tratamentos das escavações em maciços rochosos. No entanto, essas classificações foram elaboradas em contextos geológicos e climáticos diferentes do observado no Brasil (ABGE, 2017), necessitando, portanto, modificações e correções para distinguir corretamente o comportamento do maciço intemperizado (Santos et al. 2012; Amaral Junior et al. 2016). 4953 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP Há atualizações recentes, como a do RMR2014 (Celada et al. 2014) que propõe modificações relacionadas ao uso do grau de fraturamento, ao rearranjo dos valores das condições das juntas e a incorporação do parâmetro alterabilidade. Este último parâmetro, escolhido como novo critério para diferenciar as classes geomecânicas II e III, é estimado pelo índice de durabilidade (Id 2) proveniente do ensaio slake durability test (SDT). Entretanto, os procedimentos apresentados em Celada et al. (2014) podem gerar notas descontinuas ao longo dos graus de alteração se comparada à estimativa por meio de funções contínuas (Monticelli et al. 2019; Zhang et al. 2019). Neste presente trabalho, compartimentos dos túneis da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) investigados pelo grupo de pesquisa GeoInfraUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) foram definidos a partir de mapas geológicos, de mapeamentos geotécnicos e dados da literatura. Os compartimentos foram classificados levando-se em conta a heterogeneidade dos maciços rochosos estudados e sua influência nos procedimentos preconizados na classificação geomecânica, sistema RMR 2014 (Celada et al. 2014). 2 Contextualização: EFVM e o Modelo Geológico-Estrutural A EFVM liga Belo Horizonte e o Quadrilátero Ferrífero (MG) à região portuária de Vitória (ES). Inaugurada em 1904, hoje possui 905 km de extensão e 44 túneis, sendo grande parte destes escavados em rocha e, exceto nos seus emboques, sem revestimento. Nos últimos anos, a equipe de manutenção da VALE S.A, administradora da ferrovia, reportou o problema de eventuais quedas de blocos em alguns tuneis desta ferrovia. Apesar de não se tratar de rupturas generalizadas, as quedas de blocos indicam o processo de degradação dos parâmetros geológico-geotécnicos do maciço escavacado (circundante) e o comprometimento da estabilidade pós-construtiva. Esse tema motivou o GeoInfraUSP a desenvolver vários trabalhos para avaliação do comportamento geomecânico desses túneis (Cacciari et al. 2013; Monticeli et al. 2015; Monticeli et al. 2016; Cacciari e Futai, 2017 e 2018; Monticelli, 2019; Monticelli et al. 2019). Os túneis investigados inicialmente pela equipe GeoInfraUSP foram o Naque, o Monte Seco e o Ana Matos, escavados em gnaisses e migmatitos, o Engenheiro Guilman e o Colatina escavados em granitos e o túnel Sabará escavado em filitos/xistos. Essas rochas compõem basicamente a maioria dos tuneis da EFVM, como ilustrado para o Túnel Monte Seco estudado em detalhe pelo GeoInfraUSP (Figura 1A). Neste túnel, os ensaios de laboratório apontaram que a rocha intacta gnáissica migmatítica, reconhecidamente bandada (heterogênea) e anisotrópica, caracterizada em fácies petrográficas (B1, B2 e B3), apresenta valores de durabilidades e de resistências particulares que conduziram a readequação dos graus de alteração (Figura 1B). Além disso, por meio de mapeamentos geológico-geotécnicos e de investigações diretas e indiretas foi observado que o maciço rochoso do Túnel Monte Seco apresenta trechos com baixo número de fraturas e alta resistividade, seco e sem alteração, em contraste com trechos com elevado fraturamento, baixa resistividade, percolação de água, e descontinuidades apresentando estrias de fricção ou alteradas (Monticelli, 2019). De forma geral, os túneis da EFVM, como o Túnel Monte Seco, foram escavados em maciços gnáissicos migmatíticos associados a granitos sin ou pós-colisionais, normalmente limitados por contatos geológicos gradacionais ou abruptos, estes de pior condição geomecânica e relacionados a estruturas tectônicas como falhas e zonas de cisalhamento. A interpretação dos dados permitiu propor um modelo geológico estrutural constituído por três compartimentos: um maciço competente e fraturado (seções A e E), um maciço intermediário (seções B e D) e um maciço intensamente fraturado com evidências de alteração e percolação de água, isto é, uma possível zona de falha (seção C), conforme ilustrado na Figura 2. Os litotipos foram considerados em cada compartimento uma vez que as características das rochas, como a composição mineral, a granulometria, a estrutura, a textura (Gupta e Rao, 2001), os poros e as fissuras (Arel e Tugrul, 2001) e os tipos e as quantidades de minerais secundários (Momeni et al. 2017) são os principais aspectos que influenciam na resistência e na durabilidade ao longo dos graus de alteração. E, desse modo, conferindo propriedades físico-mecânicas particulares para cada tipo de rocha, as quais podem gerar notas diferentes na estimativa dos parâmetros da classificação geomecânica. O modelo formulado para os três compartimentos exemplifica a importância da geologia estrutural aplicada em obras civis (Hasui et al. 2019). 4954 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP Figura 1. (A) Mapa de localização do túnel Monte Seco e (B) fácies petrográficas gnáissicas caracterizadas laboratorialmente. Modificado de Viera et al. (2014) e Monticelli et al. (2019). Figura 2. Modelo elaborado para a classificação e investigação da influência dos parâmetros relacionados à rocha intacta, à resistência e à durabilidade, nas classes geomecânicas RMR 2014. Ilustração dos litotipos 4955 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP utilizados para cada modelo (Marques et al. 2010, Khanlari et al. 2012, Cacciari e Futai, 2018; Monticelli, 2019). 3 Materiais e Métodos A classificação RMR2014 é obtida pela equação (1) (Celada et al. 2014), que relaciona o RMR b básico do maciço (Tabela 1), sem escavação, com os seguintes fatores de ajuste: F0, eixo do túnel e direção da principal família de descontinuidade; Fe, método de escavação e o Fs, comportamento tensão versus deformação. Para a classificação dos compartimentos, os fatores de ajustes foram definidos em F0 = -5, fraturas e zona de falha perpendicular ao eixo do túnel; F e = 1, escavação por drill-blast e Fs =1. RMR2014=(RMRb+F0)*Fe*Fs (1) O RMRb é obtido pelo somatório das notas dos parâmetros: (i) resistência à compressão uniaxial, (ii) grau de fraturamento, (iii) condições das descontinuidades (persistência-p, rugosidade-r, preenchimento-pr e alteração-a), (iv) presença de água e (v) alterabilidade; e seus valores obtidos por meio de ábacos e tabelas em Celada et al. (2014) os quais, por sua vez, possuem intervalos definidos e/ou fornecem dados para elaboração de funções contínuas, como, por exemplo, para o grau de fraturamento (ii) e persistência (iiip) (Figura 3 B, C). Com base em análises numéricas e resultados de laboratório, respectivamente, Zhang et al. (2019) e Monticelli et al. (2019), propõem funções contínuas para a estimativa dos parâmetros resistência (i) e alterabilidade (v) (Figura 3 A, D). Figura 3. Comparação entre as estimativas das notas dos parâmetros (i-resistência, ii-grau de fraturamento, iiip-persistência e v-alterabilidade) da classificação RMR2014. Naturalmente, algumas relações ainda podem ser propostas para diminuir a subjetividade dos procedimentos classificatórios, como no caso do parâmetro “alteração das descontinuidades”. A relação entre o repique do esclerômetro (RL) e a resistência à compressão uniaxial (RCU) ao longo dos graus de alteração por si só é a estimativa do joint compressive strength (JCS) de Barton e Choubey (1977), simplificadamente 4956 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP apresentado na Figura 4A, da mesma forma que poderia ser para a estimativa deste parâmetro (Figura 4B). Na campanha de esclerometria da rocha gnáissica do Túnel Monte Seco, os repiques que causaram a ruptura dos corpos de prova no grau completamente alterado (V) variam entre 20 a 25. Esse limite marca a possível resposta de uma superfície de descontinuidade decomposta ou uma resposta inelástica do martelo de Schmidt, isto é, RL = 0 (sem repique, “choco”). Desse modo a nota do parâmetro atinge zero, a pior condição da superfície da descontinuidade (Figura 4). Figura 4. (A) Relação entre dados médios de RCU e repique (R L) ao longo dos graus de alteração e (B) estimativa da nota da alteração das descontinuidades para o gnaisse do Túnel Monte Seco. Modificado de Monticelli (2019). Tabela 1 - Notas dos parâmetros RMR 2014 (posterior a Celada et al. 2014 e Zhang et al. 2019) i ii Resistência à compressão uniaxial (MPa) > 250 15 Preenchimento, pr Alteração, a iv Presença de água v Alterabilidade 5a1 1 <1 0 Nota (ii) = 40 - 2,0995f + 0,0505f - 0,0005f Nota (iiip) = -0,32*p+5 5 4 2 <1m 1a3m 3 a 10 m Muito rugoso Rugoso 5 3 Duro > 5 mm < 5 mm 5 2 Sã (I) M oder. alterado (III) 5 3 Seco 15 Id2 > 85% 10 Celada et al. (2014) Zhang et al. (2019) 2 Persistência, p (m) iii 25 a 5 2 Nota (i) = 0,42*RCU0,65 Grau de fraturamento (f/m) Rugosidade, r 250 a 100 100 a 50 50 a 25 12 7 4 3 Adotado 0 > 10 m Slickenside 0 Suave 1 Adotado Mole < 5 mm 2 > 5 mm 0 M uito alterado (IV) Decomposta (V) 1 0 Nota (iiia) = 0,10*RL - 2,2 Úmido Molhado Gotejando Fluxo 10 7 4 0 85> Id2 > 60 60> Id2 > 30 Id2 <30 8 4 0 Nota (v) = 0,1*Id2 Celada et al. (2014) Esse estudo Celada et al. (2014) Celada et al. (2014) Zhang et al. (2019) Monticelli et al. (2019) Nota (v) = 0.009 [exp(0.07 Id2-4)-1] Obs: parâmetros da classificação: i, ii, iii, iv e v; graus de alteração, sã I, moder. alterado III, muito alterado IV e compl. alterado V. Para esse estudo, dados de RCU e do índice de durabilidade (Id 2,4) de litotipos gnáissicos (Marques et al. 2010; Monticelli et al. 2019) e graníticos (Gupta e Rao, 2001; Khanlari et al. 2012) foram coletados nos graus de alteração extremos e intermediário conforme definidos pela ISRM (2015), I-sã, III-moderadamente alterado, e V-completamente alterado. Apesar da influência da foliação na RCU dos gnaisses, a 4957 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP heterogeneidade do bandamento pode ser tão influente quanto à anisotropia (Monticelli et al. 2019). Desse modo, as médias da RCU, β:0 a 90°, foram calculadas em cada grau de alteração para efeitos comparativos. Com os valores de RCU e Id2,4, as notas dos parâmetros resistência (i) e alterabilidade (v) foram estimadas de acordo com Celada et al. (2014), Zhang et al. (2019) e Monticelli et al. (2019). As notas dos parâmetros classificatórios e as equações para a estimativa dos seus valores foram reunidas na Tabela 1. Os parâmetros (ii) grau de fraturamento, (iii) condições das descontinuidades e (iv) presença de água foram definidos hipoteticamente para as seções A a E (Figura 2III e Tabela 2). Esses parâmetros foram fixados visando o estudo da influência da heterogeneidade da rocha intacta e a aplicabilidade das funções contínuas nos procedimentos preconizados no sistema RMR 2014. Seções / Compartimentos 4 Tabela 2 - Parâmetros fixados para o modelo Fraturas por metro Persistência Rugosidade Preenchimento f/m Nota m Nota AeE Maciço fraturado 1 38,0 <1 5 BeD Maciço intermediário 5 30,7 1a3 4 C Zona intensamente fraturada 15 18,2 3 a 10 2 Ad. Muito rugoso Muito rugoso Muito rugoso Nota 5 5 5 Ad. Duro < 5mm Duro < 5mm Mole < 5mm Alteração Presença de água Nota RL Nota Ad. Nota 5 72 5 Seco 15 5 56 3,4 Seco 15 2 28 0,6 Molhado 7 Resultados e Discussão Nas rochas estudadas, a RCU apresenta maior variação no estado sã, diminuindo com o aumento do grau de alteração, enquanto o Id2,4 apresenta maior variação a partir do grau de alteração III (Tabelas 3 e 4). A influência da heterogeneidade na RCU e no Id2,4 é notável tanto entre as rochas selecionadas como pode ser observada em um mesmo litotipo. Comparativamente à fácies petrográficas B1 (gnaisse bandado e foliado), a fácies petrográficas B3 (gnaisse sem foliação dada por micas) apresenta menor RCU, menor durabilidade e elevada formação de fragmentos com o aumento dos graus de alteração (Tabelas 3 e 4, Figura 5). Se há a influência da heterogeneidade na variação da RCU e da durabilidade ao longo dos graus de alteração, esperara-se o mesmo dos parâmetros vinculados em uma classificação geomecânica. No entanto, observa-se o agrupamento das rochas em notas iguais (Tabelas 3 e 4). Por exemplo, no grau I a variação da RCU entre os litotipos é superior a 50 MPa e as notas são classificadas com o valor 12, enquanto só no grau III há uma diferenciação das notas de resistência e alterabilidade entre as rochas. Nota-se, portanto, que o uso de tabelas e intervalos fixos distingue os valores das notas conforme a variação observada dos dados brutos com o aumento do intemperismo, mas essa distinção é abrupta devido ao intervalo de valores, bem como dúbia quando os dados bordejam os seus limites. Figura 5. Ensaios SDT: aspectos das amostras observados para as fácies petrográficas B1 e B3 ao longo dos graus de alteração (I-W1, III-W2 e V-W3) do gnaisse do Túnel Monte Seco. Fonte: Monticelli et al. (2019). 4958 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP Tabela 3 - Estimativa do parâmetro resistência à compressão uniaxial I III (II*) Litotipos/Graus de Alteração MPa Nota 1 Nota 2 MPa Nota 1 V (III*) Nota 2 MPa Nota 1 Nota 2 Gnaisse B1 164 12 11,56 76,9 7 7,06 13,2 2 2,25 (Monticelli B3 104,4 12 8,62 32,5 4 4,04 4,6 1 1,13 et al. 2019) Kinzigito (Marques et 92,3 12 7,95 39,5 2 4,58 14,9 2 2,43 al. 2010)* Granito (Gupta e Rao, 132,8 12 10,08 53,1 7 5,55 2,54 1 0,77 2001) Granodiorito (Khanlari 117,3 12 9,29 50,6 7 5,38 9,3 2,0 1,78 et al.2012) Obs: rocha sã (I), moderadamente alterada (III) e completamente alterada (V). B1 e B3: fácies petrográficas do gnaisse Nova Venécia. Estimativa da nota: 1 - Celada et al., 2014 e 2 - Zhang et al. 2019. Tabela 4 - Estimativa do parâmetro alterabilidade I Litotipos/Graus de Alteração Id Gnaisse B1 97,1 (Monticelli et al. B3 94,3 2019)(Id4) Kinzigito (Marques et 99,2 al. 2010) (Id2) Granito (Gupta e Rao, 99,2 2001)(Id2) Granod. (Khanlari et 99,73 al.2012) (Id2) III Nota 1 Nota 2 Nota 3 Id V Nota 1 Nota 2 Nota 3 Id Nota 1 Nota 2 Nota 3 10 9,7 8,0 80,7 8 8,1 2,5 52 4 5,2 0,3 10 9,4 6,6 69,1 8 6,9 1,1 48,1 4 4,8 0,3 10 9,9 9,3 95,8 10 9,6 7,3 81,6 10 8,2 2,7 10 9,9 9,3 90,1 10 9,0 4,9 39,4 4 3,9 0,1 10 10,0 9,7 97,93 10 9,8 8,5 38,77 4 3,9 0,1 Obs: rocha sã (I), moderadamente alterada (III) e completamente alterada (V). B1 e B3: fácies petrográficas do gnaisse Nova Venécia. Estimativa da nota: 1 - Celada et al., 2014, 2 - Zhang et al. 2019 e 3 - Monticelli et al. 2019. Por outro lado, as funções propostas por Zhang et al. (2019) diferenciam continuamente os valores das notas dos parâmetros conforme ocorre com os dados brutos de RCU e Id2,4 (Tabelas 3 e 4), as quais podem evidenciar sutis diferenças no comportamento geomecânico de cada litotipo. Segundo esses pesquisadores, a função para estimativa da nota referente a RCU é simplesmente baseada no ábaco de Celada op cit. (Figura 3A) e a função para alterabilidade é derivada de relações entre RCU e Id 2, mas limitada pelo intervalo de resistência entre 10 a 100 MPa. A função para a estimativa da nota do parâmetro alterabilidade por Monticelli et al. (2019) é baseada na relação entre os índices de alteração, razão de resistência de Gupta e Rao (2001) e de durabilidade de Franklin e Chandra (1972), com valores de RCU variando de 205 a 4,6 MPa e do Id do primeiro ao quinto ciclo, onde o Id4 apresentou melhor relação com a RCU do que os outros ciclos (Figura 1B). A função exponencial elaborada penaliza o parâmetro alterabilidade nos graus de alteração sã a moderadamente alterado, aumentando a diferença entre os litotipos conforme ocorre sutilmente com os dados brutos das rochas, no entanto, gera valores similares em condições muito a completamente alterado (Tabela 4). Em relação à classificação geomecânica dos compartimentos do maciço: fraturado (A e E), intermediário (B e D) e intensamente fraturado (C) (Tabela 2), foram agrupadas conforme os métodos para estimativa dos parâmetros RCU e alterabilidade que poderiam ser aplicados no sistema RMR 2014 (Tabela 5). Celada et al. (2014) introduziram o parâmetro alterabilidade no sistema RMR para poder distribuir e diferenciar o comportamento dos maciços rochosos ao longo das classes II e III. Segundo os procedimentos preconizados 4959 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP por esses autores, a distribuição das classes pode ser observada para as seções dos maciços intermediário e intensamente fraturado, respectivamente classes II e IV (Tabela 5), mas não pode ser atribuído unicamente ao parâmetro alterabilidade. A variação dos valores brutos de RCU também fornecem notas diferentes para as rochas correlacionadas (Tabelas 3). O uso de funções contínuas para as estimativas das notas do RCU e da alterabilidade em B e C diferenciam sensivelmente as seções, maciço fraturado, intermediário e intensamente fraturado, bem como distribuem as classes geomecânicas conforme a variação dos valores observada da rocha intacta. No entanto, a distribuição e a diferença das classes são mais significativas segundo o método empregado em C (Tabela 5). Comparativamente, a estimativa da alterabilidade por Celada et al. (2014) e Zhang et al. (2019) (Figura 3D), a função exponencial é a que melhor distribui geometricamente os valores das notas do parâmetro conforme a perda da durabilidade dos litotipos ao longo dos graus de alteração. Interessante notar que a seção na condição intensamente fraturada ou zona de falha, o maciço rochoso com a pior classe geomecânica, IV - 30,7, seria a formada pela rocha granítica completamente alterada. Por outro lado, a melhor classificação, nessa condição hipotética, seria com o gnaisse kinzigito (IV – 38,7). Além disso, observa-se que em maciços gnáissicos é possível ter classes geomecânicas diferentes conforme a resistência e durabilidade do bandamento gnáissico, por exemplo a diferença entre as classes geomecânicas formadas pela rocha das fácies petrográficas B1 e B3 (Tabela 5). Tabela 5 - Classificação geomecânica das seções hipotéticas (A) Estimativa dos parâmetros RCU (i) e alterabilidade (v) segundo Celada et al. (2014) Seções Classe* Granito (Gupta e Granodiorito Rao, 2001) (Khanlari et al.2012) Gnaisse - Kinzigito (Marques et al. 2010) Gnaisse (Monticelli et al. 2019) B1 B3 Média Desvio Padrão Maciço fraturado 68 90 90 90 90 90 90,0 0,00 Maciço intermediário 58,1 75,1 75,1 70,1 73,1 70,1 72,7 2,24 Zona intensamente fraturada 29,8 34,8 35,8 41,8 35,8 34,8 36,6 2,64 Média Desvio Padrão (B) Estimativa dos parâmetros RCU (i) e alterabilidade (v) segundo Zhang et al. (2019) Granito (Gupta e Granodiorito Rao, 2001) (Khanlari et al.2012) Gnaisse - Kinzigito (Marques et al. 2010) Gnaisse (Monticelli et al. 2019) B1 B3 Seções Classe* Maciço fraturado 68 88,0 87,3 86,8 89,3 86,0 87,5 1,10 Maciço intermediário 58,1 72,7 73,3 71,3 73,2 69,0 71,9 1,60 Zona intensamente 29,8 34,5 35,5 41,2 37,2 35,7 36,8 fraturada (C) Estimativa dos parâmetros RCU (i) e alterabilidade (v) segundo Zhang et al. (2019) e Monticelli et al. (2019) Seções Classe* Granito (Gupta e Granodiorito Rao, 2001) (Khanlari et al.2012) Gnaisse - Kinzigito (Marques et al. 2010) Gnaisse (Monticelli et al. 2019) B1 B3 2,35 Média Desvio Padrão Maciço fraturado 68 87,4 87,0 86,2 87,6 83,2 86,3 1,60 Maciço intermediário 58,1 68,6 72,0 70,3 67,7 63,3 68,4 2,95 31,7 38,7 32,4 31,2 32,9 2,92 Zona intensamente 29,8 30,7 fraturada Obs: (*) soma dos parâmetros fixados da Tabela 2 5 Conclusões No presente trabalho foram elaborados modelos dos túneis da EFVM em diferentes condições geológicas (gnaisses e granitos) e estruturais (maciços: fraturado, intermediário e intensamente fraturado, zona 4960 ISBN: 978-65-89463-30-6 XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens 15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP de falha). Desse modo, alguns parâmetros da classificação geomecânica RMR 2014 foram fixados para os compartimentos, enfatizando os parâmetros relacionados a rocha intacta (RCU e alterabilidade) e os procedimentos preconizados para as estimativas de suas notas. A heterogeneidade e os graus de alteração influenciam a variação dos dados brutos de RCU e de durabilidade das rochas selecionadas na literatura, e esperara-se o mesmo das notas dos parâmetros vinculados em uma classificação geomecânica. Conforme a estimativa por Celada et al. (2014), o uso de tabelas e intervalos fixos agrupa os litotipos em notas iguais no grau I, mas distingue seus comportamentos nos graus III e V. No entanto, essa distinção é abrupta devido aos intervalos propostos na classificação, bem como dúbia quando os dados bordejam os seus limites. Por outro lado, a estimativa das notas dos parâmetros RCU e alterabilidade por meio de funções (Zhang et al. 2019 e Monticelli et al. 2019), fornecem valores contínuos ao longo dos graus de alteração (I, III e V) e que diferem uns dos outros conforme os dados brutos de cada litotipo, podendo dessa forma retratar detalhadamente a heterogeneidade das rochas levando-se em conta as solicitações intempéricas típicas de ambiente tropical. Celada et al. (2014) introduziram o parâmetro alterabilidade no sistema RMR para distribuir e diferenciar o comportamento dos maciços rochosos ao longo das classes II e III. De fato, isso é observado para os litotipos correlacionados na condição de maciço intermediário (classe II), mas não pode ser atribuído unicamente ao parâmetro alterabilidade, uma vez que a variação dos valores brutos de RCU também fornecem notas diferentes para as rochas correlacionadas. Por outro lado, quando as funções contínuas são utilizadas para as estimativas dos parâmetros RCU e da alterabilidade, as notas obtidas conseguem diferenciar particularmente todas os compartimentos, maciço fraturado, intermediário e intensamente fraturado, bem como melhora a distribuição das classes geomecânicas particularizando cada litotipo no ambiente tropical. Além disso, em maciços gnáissicos porções de baixa qualidade geomecânica podem ser esperadas devido a variação mineralógica do bandamento gnáissico. A atualização dos procedimentos para o RMR em regiões tropicais é significativa para o estudo e classificação de maciços rochosos heterogêneos e intemperizados, escavados para túneis, uma vez que dois de cinco parâmetros são relacionados a rocha intacta. O uso de funções contínuas para a estimativa desses parâmetros é mais sensível, podendo ser mais preciso que os procedimentos tradicionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABGE (2017). Geologia de Engenharia e Ambiental. A. M. S. 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