A DIVERSIDADE DA COSMOVISAO VODU
MONIZ, SUMAYA G.
RU: 600889
Licenciatura em Ciência das Religiões
Centro Universitário Internacional Uninter
RESUMO
O tema escolhido para pesquisa é “A DIVERSIDADE DA COSMOVISÃO VODU” onde
pretendo realizar uma pesquisa sobre a história do Vodu e seu nascimento trazido
pela diáspora africana principalmente dos povos iorubás do antigo reino de Daomé
para a América Central e região estadunidense da Louisiana, essencialmente em
New Orleans.
Diversas são as expressões do vodu, embora alguns estudiosos tenham atribuído o
vodu como religião, há de se explorar o tema face as idiossincrasias dentro das
famílias vodu , as expressões locais no Haiti, República Dominicana e New Orleans.
Outra questão a ser estudada e observada é a prática sincrética e suas nuances
-----------------The theme chosen for research is “THE DIVERSITY OF THE VODUO COSMOVISION”
where I intend to carry out a research on the history of Voodoo and its birth
brought by the African diaspora mainly from the Yoruba peoples of the ancient
kingdom of Dahomey to Central America and the American region of Louisiana,
essentially in New Orleans.
There are several expressions of voodoo, although some scholars have attributed
voodoo as a religion, the theme should be explored in face of the idiosyncrasies
within the voodoo fanmi or voodoo families, the local expressions in Haiti,
Dominican Republic and New Orleans. Another issue to be studied and observed is
the syncretic practice and its nuances
PALAVRAS CHAVE
VODU- VODOU – RELIGIOSIDADES DO CARIBE – VOODOO – VAUDOU
INTRODUÇÃO
O vodu devido as suas diversas nuances acaba tendo concepções muito diferentes
de uma região para outra, algumas com práticas sincréticas agregadas de diversas
naturezas e outras não, dependendo do parâmetro utilizado poderá até ser
caracterizado como religiões diferentes . Há muitas discrepâncias e dogmas no
Vodu haitiano, já no Vodu da Louisiana ou New Orleans há mais liberdade, também
há de se explorar a questão da forma de visão henoteísta, monoteísta ou politeísta
bem como a prática sincrética . Com a exploração através do estudo das origens
históricas se pretende neste trabalho levantar tais questões com embasamento
histórico e sociológico.
Há muita confusão em se estabelecer a origem dessa religião e suas nuances que
são variáveis de acordo com os povos ao qual foram associadas e com as culturas
agregadas, pretendo gerar documentação para pesquisa no campo desta
religiosidade com foco acadêmico e uma visão ampla da religião como manifestação
cultural e preservação da cultura dos povos envolvidos.
O culto Vodu ou religião Vodu povoa o imaginário coletivo de fantasias criadas pela
indústria cinematográfica, todavia este vodu não existe e acaba sendo um desfavor
aos praticantes dessa crença dado que a incompreensão de seus princípios é difícil á
primeira vista.
A religião Vodu tem várias expressões que se distribuíram inicialmente em vários
povos no Caribe e na Louisianna nos Estados Unidos principalmente em New
orleans e em cada um desses povos o vodu foi se moldando através de um processo
sincrético com divindades locais e absorvendo as religiosidades cultuadas na
localidade que o recebeu, como é o caso do culto dos índios arawaks, taínos e do
cristianismo.
METODOLOGIA
A abordagem será através de pesquisas em artigos e livros e a conclusão baseada
em análise.
A metodologia segundo manual apresentado será qualitativa e bibliográfica.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA/ESTADO DA ARTE
Povos originários de Hispaniola/Saint Domingue
Os índios arawaks chamados de taínos ou arawaks das Antilhas falantes da língua
arawak ou arauaque eram predominantemente os povos originários que habitavam
a ilha de Hispaniola antes da chegada dos europeus e possuíam uma crença
sofisticada e organizada que irá integrar o panteão vodu .
Cabe ressaltar que embora esses indígenas tenham sido declarados extintos no
papel , seus descendentes ainda estão vivos e integram a sociedade.
Os taínos possuíam uma organização social complexa e um elaborado sistema de
crenças baseado na adoração dos espíritos zemi e sua crença de acordo com a Dra
Lynne A. Guitar em sua obra “ Los Taínos Y Sus Cerimonias, Mitos, rituales Y Zemís”os
taínos tinham um sistemas de crenças que a vida e a morte são um ciclo circular
interconectado e perpetuam uma visão dualista da criação . Há a crença panteísta
nos espíritos zemis como essência de tudo e nos opias que são os espíritos de
humanos que morreram”
Muitos espíritos zemis foram incorporados em sociedades vodu como Atabey,
Mabuya ou Guabancex.
Embora haja um entendimento de que os taínos estejam extintos por questões de
um “genocídio em papel”, este povo tem descendentes vivos que lutam por
conseguir o reconhecimento de sua existência.
África
Os povos africanos de onde o conceito de voduns migrou via diáspora são muitos e
essencialmente da África atlântica , congo e atual Benin de onde vieram os voduns,
segundo Andreia Camargo: “o Benin é considerado o berço do Vodum uma
religião africana dedicada ao culto dos antepassados, sendo este local
fragmentado em um mosaico de etnias. A etnia fon e adjas, duas comunidades
estreitamente, sendo os maiores grupos do Sul, mas Bariba são mais
numerosos no norte. O iorubá, que representa 10% da população, predominam
no sudeste”.
Dentro do conceito de voduns há diversos princípios éticos e formas de pensar
advindas do pensamento africano de muitas etnias e será muito acentuado a
presença dos voduns ( famílias espirituais ) como o Ji-Vodun ou “vodun do Alto” , o
Ayi-vodun (vodun chefiado por Sakpata , tô vodun ( voduns locais ), vodun Loko
,henu-vodun, só-voduns ( voduns do raio),os zùn-voduns ( espíritos das águas ),
atinmè-voduns ( voduns do interior das árvores), os jono- voduns ( voduns dos
espíritos estrangeiros), voduns Mawu , vodun Ayzan, vodun Dagbé , vodun Dan,
vodun Kposu ( chamados também de Ji Vodun, as divindades que habitam o céu) e
a família Davice formada pelos voduns nobres da antiga corte de Daomé como a
divindade Agassou assim como muitos outros ancestrais divinizados e o vodun
Legba.
Dentro da complexa ótica dos voduns africanos e suas famílias espirituais iremos
observar a origem de muitas divindades do vodu e suas concepções animistas ou
ancestrais que estão presentes entre os voduns assim como Papa Legba a
divindade africana filho de Mawu e Lisa cuja função no vodu é abrir as portas do
mundo espiritual, sendo este uma das divindades mais importantes do culto vodu
em qualquer de suas expressões
Hispaniola
De acordo com C.LR.James na introdução da obra Os jacobinos negros:
“Cristovão Colombo pisou pela primeira vez em Terras do Novo mundo
na ilha de São Salvador e, após louvar a Deus, saiu á procura de ouro.
Os nativos, índios de pele vermelha, eram pacíficos e amistosos e
indicaram-lhe o Haiti, a grande ilha (aproximadamente do tamanho da
Irlanda), rica, diziam, do metal amarelo. Ele navegou para o Haiti.
Quando um de seus navios naufragou. Os índios dali ajudaram-no tão
de boa vontade que muito pouco foi perdido e, dos artigos que levaram
até a praia, nenhum foi roubado.
Os espanhóis, o povo mais adiantado da europa daqueles dias,
anexaram a ilha, a qual chamaram de Hispaniola, e tomaram os seus
primitivos habitantes sob a sua proteção. Introduziram o cristianismo, o
trabalho forçado nas minas, o assassinato, o estupro, os cães de
guarda, doenças desconhecidas e a fome forjada ( pela destruição dos
cultivos para matar os rebeldes de fome). Esses e outros atributos das
civilizações desenvolvidas reduziram a população nativa de
estimadamente meio milhão, ou talvez um milhão, para sessenta mil em
quinze anos.”
Com a quase dizimação dos indígenas no prazo de uma geração foi sugerido por um
padre dominicano Las casas que seria melhor recorrer a importação de negros da
África, dando assim surgimento a vinda de africanos para as Américas.
Diáspora africana para Hispaniola
A diáspora africana para a ilha de Hispaniola tem um papel histórico
importantíssimo para formação da religião Vodu que se tornará ao longo de sua
história um símbolo de resistência social, cultural e religiosa dos indivíduos
descendentes de divindades (a visão vodun), comercializados como escravos para a
ilha de Hispaniola atual Haiti e República Dominicana.
Os povos africanos que foram trazidos para Hispaniola derivaram de várias áreas,
abrangendo do Senegal ao Congo. A maioria das quais foram trazidas da África
Ocidental, com um número considerável também trazido da África Central. Alguns
desses grupos incluem os do antigo reino kongo (Kongo), Igbo Benin (Ewe e
Yoruba) e terras togos.
Os escravagistas atuavam de maneira predatória nas costas da Guiné, Níger, Angola
e inclusive chegando até Moçambique com suas expedições de caça a humanos que
seriam embarcados em barcos e armazenados de forma desumana para serem
escravizados nas Américas.
A chegada a Hispaniola dos povos africanos terá uma marca de sofrimento,
desprovidos de dignidade e muitos desprovidos de sua fé nativa e batizados
segundo o cristianismo.
Ao longo de todo o processo histórico de escravidão sua cultura será mesclada as
crenças indígenas e posteriormente ao cristianismo.
Bois Caiman
Em 1791 eclodiu a revolução haitiana pela independência e o Vodu terá grande
importância como um pano de fundo nesse processo quer como um culto e um
símbolo mitológico da memória popular do povo haitiano. No artigo da revista
African Studies Paul C. Mocombe esclarece essa questão confrontando o fato
histórico e o mito.
O mito religioso recorrente sobre Bois Caiman consiste na cerimônia petwo vodu
que ficou popularmente conhecida como o marco do início da revolução haitiana e
perpetuado entre praticantes teria sido que nesta cerimônia vodu a sacerdotisa a
Mambo Cecilie Fatiman teria incorporado a Loa Erzulie Dantor, se sacrificado em
uma fogueira a divindade e fornecido a força para o povo se revoltar e fundar uma
terra independente. Há algumas versões desse mito vodu diferentes mas, Paul C.
Mocombe sociólogo e filosofo haitiano refutou esse mito demonstrando a
historicidade do fato conforme consta em seu artigo:
“Em outras palavras, sociologicamente falando, duas visões de mundo
ou ethos (forma de sistema e integração social) para organizar a
estrutura de recursos materiais surgiram no Haiti durante e após a
Revolução. Ambas as visões de mundo, a Ética Vodu e o jogo de
linguagem de classe social do espírito do comunismo, por um lado, e a
Ética Católica/ Protestante e o jogo de linguagem de classe social do
espírito do capitalismo, por outro, são distintas uma da outra, e a
primeira não é nem uma consciência prática estruturalmente
diferenciada, nem emerge do desdobramento dialético da visão de
mundo ocidental. Ela emana da metafísica, psicologia e sociologia Vodu
dos africanos que buscaram recursivamente reorganizar e reproduzi-la
em seu novo ambiente. Essa estrutura estruturante haitiana/africana
(forma de sistema e integração social) permaneceu na ilha, como
discurso e prática discursiva dominante, até a morte de Jean-Jacques
Dessalines quando as elites mulatas e os negros e pequeno-burgueses
o assassinaram e fizeram dominante a ordem católica, aristocrática e
feudal (republicana) da França e, posteriormente, a ética protestante e o
espírito do capitalismo. Este último viria a substituir dialeticamente o
primeiro, pois se opunha à Ética Vodu e ao espírito de comunismo das
massas haitianas, que eles (os Afranchis) procuraram apagar/'eliminar'
cooptando-o e incorporando-o no objetos do pensamento como
irracionais, retrógrados, malditos e informais. Embora a Ética Vodu e o
espírito do comunismo não tenham sido erradicados ou convertidos em
africanismos como encontrados entre outros negros na África e na
diáspora. Em vez disso, permanecia nas províncias, montanhas e
favelas urbanas reinadas (através de sua ideologia, aparatos ideológicos
e modo de produção, que eram usados para interpelar e organizar
homemboii as massas) como o discurso dominante e a prática
discursiva, ou seja, a consciência prática , da maioria dos haitianos
contra a consciência prática dos Afranchis, que tentaram e tentam
replicar as consciências práticas franco-americanas através dos
aparatos do Estado haitiano e seus aparatos ideológicos.
Contemporaneamente, eles, os Afranchis, tentam sua incorporação (a
Ética Vodu e o espírito do comunismo) ao Estado através da lógica pósmoderna, pós-estrutural e pós-colonial da créolité, hibridismo etc. em
seu desejo contínuo de igualdade de oportunidades, reconhecimento e
distribuição com os brancos, não como uma ontologia de
enquadramento pela qual interpelar e constituir os atores humanos do
Estado. Ou seja, a Ética Vodu e o espírito de comunismo das massas é
cooptado e incorporado nos modos de produção, linguagem, ideologia,
aparatos ideológicos e discurso comunicativo do Estado burguês como
meio de lucro no mundo capitalista . sistema sob hegemonia americana,
onde é usado para entreter turistas”
Partindo da leitura da obra de João Luiz Carneiro, Repensando o sincretismo a
dualidade apresentada na sociedade haitiana à época de sua independência é criado
um paralelismo sincrético para que assim aquele quilombola possa ser aceito
socialmente na sociedade criada pelos afrancis havendo uma sobreposição da
cultura branca naquela época em detrimento da herança cultural africana. O
sincretismo das divindades africanas e dos santos católicos é algo bastante
debatido principalmente quanto a questão de paralelismo ou de fusão entre as
divindades mas penso muito em uma sobreposição posto que essas divindades
acabam não se alinhando com a história daqueles santos católicos . Quando falamos
em religiosidades de matriz africanas um ponto importantíssimo é a questão da
identidade étnica e filosófica agregada ao culto e que se torna tão orgânica ao
praticante se tornando uma forma de pensamento.
Em 1804 a ilha de Hispaniola já sob domínio francês com o nome de Saint Domingue
se tornará o Haiti um país independente pós uma longa caminhada revolucionária,
nesta época muitos indivíduos migraram para o território da Louisiana onde haveria
uma outra nuance do culto Vodu.
Essencialmente nos dias atuais temos três formas de Vodu mais conhecidas, o vodu
haitiano, o vodu dominicano e o vodu de nova orleans, cada um desses vodus será
carregado da historicidade do povo de Hispaniola, porém com muitas características
diferenciadas que serão ainda subdivididos em sociedades vodus ou famílias vodus
com pontos em comum e dependendo do local inclusive com divindades diferentes.
A organização do culto vodu em sua essência é quase a mesma em suas diversas
sociedades com sacerdote chefe, iniciados e seus seguidores ; todavia as regras,
formas litúrgicas, nomes de divindades e organização dessas divindades irá variar
muitíssimo entre cada uma. Outra questão são as divindades que integram cada
sociedade vodu que possuem uma hierarquia dentro da casa vodu e muitas vezes o
panteão de uma casa é diferente de outra .
A Cosmologia vodu
Segundo Max. G.Beavoir no livro Vodou Haitiano, Espírito , Mito e realidade
descreve constituição da alma e a estrutura espiritual do ser humano dentro do
vodu:
“ O conceito de alma humano no vodu haitiano é complexo. Não
há um termo sintético para designar o seu todo, já que sua
manipulação é altamente especializada. A palavra “nann”, que se
refere a uma parte específica desse conjunto, é , às vezes,
utilizada, em uma tradução grosseira, como o equivalente da
“alma” . O nann é compreendido como o assento de diversas
entidades espirituais: um ti bom anj, um gran bon anj, um namm,
uma loa met tét, os wonsiyon e um conjunto de loas rasin
(maternais e paternais) que é também chamado loa eritaj. Uma
entidade, a zetwal , não está nem mesmo localizada no corpo
físico, ela reside em uma estrela. Ancestrais do clã também
pertencem a essas forças influentes; eles são honrados e
reconhecidos por suas interações contínuas com a atividade
humana e pelo impacto que causam no cotidiano das pessoas.
Todas essas entidades atuam como forças e energias que
funcionam ao nível do indivíduo, e que conferem um sendo
específico de apreciação dos fundamentos da existência.
Entretanto, elas são apenas uma fração das forças motivadoras e
inibidoras do indivíduo. Existem outras forças eletromagnéticas
definidas como externas ao ser humano: elas são as 401 loas.
Mesmo que essas loas sejam comprendidos como formas
antropomorfizadas do sagrado, elas ás vezes atuam em grupos
conhecidos ou comboios....
O namm, a alma, que não possui realidade física nem material, é
considerada a parte imortal e espiritual da pessoa, que sobrevive
da morte física. Atuando como um verdadeiro eixo da vida, o
namm é então definido como algo em perpétuo movimento.
O vodu identifica sete entidades, partículas de energia ou forças
espirituais internas
A primeira é o gran bon anj, que significa o grande anjo bom. Na
língua haitiana é chamado sé medo, da mesma forma que para o
povo fon da República do Benin, na África. Indiferenciado de uma
pessoa para outra, o sé medo é a partícula divina que existe em
cada pessoa. Essencialmente, a função do sè medo é manter a
pessoa viva; ele é entendido d=como o sopro da vida que todos
possuem.
O segundo componente é o ti-bo-anj, que traduzido significa
“pequeno anjo”. Também conhecido como sè-lido, no oeste da
África e no Haiti. Imortal e indestrutível, esse é o princípio
espiritual de uma pessoa que pode ser identificado como o
intelecto. Sua função é permitir que a pessoa conheça, entenda e
reforce sua atenção e que desenvolva suas aptidões. Esse
sistema inclui a crença em dezesseis reencarnações e a crença
de que as experiências vividas pela pessoa em vidas anteriores
ficam guardadas no inconsciente. O sè lido é a morada da
inteligência, do conhecimento, da reflexão, da memória e da
vontade. Ele permite que o indivíduo faça comparações e
julgamentos em busca de um estado de equilíbrio. Muito
autônomo, esse espírito é capaz de deixar o corpo a qualquer
momento, para se desprender temporariamente e agir com
liberdade. Em momentos de transe, o ti-bom-anj se retira e abre
caminho para a intercessão dos espíritos vodoun.
O terceiro, o namm em geral chamado de “nyam”, “djam” ou “
djanm”, pode ser traduzido para o português , como almo
propriamente dita. É aquela energia vital da pessoa, cujas forças
estão localizadas em cada célula da estrutura anatômica e nos
vários órgãos da subestrutura do corpo. Como um perfeito cão de
guarda, ele controla o funcionamento dessas células e estruturas.
Pode ser também entendido como a morada da nenética e, a
partir dele, a herança biológica é transmitida.
O quarto, o zetwal, cuja tradução em português é a “estrela” de
uma pessoa, também é conhecido na África como “sè-kpoli”. Em
contraste com outro sè resida fora do corpo, em uma estrela. È
por causa da crença que geralmente se diz que alguém nasceu
com uma boa estrela ou uma estrela brilhante ou com uma luz
fraca ou uma má estrela. Uma estrela cadente indica a morte de
alguém ou o fato de alguém deixou seu corpo para trás,
transformando sua condição espiritual. O papel do zetwal é servir
como guardião da “cabaça espiritual”, Isso significa que todos os
muitos acontecimentos, bons ou maus, que servem para
enriquecer a sabedoria de uma pessoa se originam dele, como de
uma casca espiritual invertida. Atuando de maneira análoga ao
que as pessoas do mundo ocidental chamam de destino, o zetwal
fornece à pessoa aquilo que a ajudará em seu processo espiritual.
O quinto a loa mét tét, ou “ o espírito mestre da cabeça de uma
pessoa, é uma das forças espirituais que vibram em harmonia
com uma das 401 formas pulsantes que sustentam o universo,
geralmente chamas loa.
Todas as pessoas agem sob a influência desse conjunto de loa, e
um em particular, chamado loa mét tét, vibra em frequencias que
são características da pessoa. Como um arquétipo, ele fornece ao
indivíduo seus mais determinados traços de caráter, tornando
algumas pessoas calmas e pacíficas e outras exaltadas e
combativas. Outros podem ter uma disposição inconstante e
tempestuosa, ou tendências básicas completamente diferentes,
que os fazem suaves e sentimentais ou cheios de paixão. A loa
mét tet dá a algumas pessoas um grande senso de humor e, a
outras, um traço de generosidade.
O sexto, a loa rasin, ou loa eritaj, liga o indivíduo a seus
ancestrais, aqueles que estão próximos no tempo e os que estão
longe no tempo, garantindo, dessa forma a linhagem. Eles
influenciam o comportamento do indivíduo, estabelecendo a
ligação, estabelecendo a ligação com os ancestrais distantes e
próximos que entram no caminho do inconsciente para falar com
a pessoa em sonhos, para avisar de perigos e intervir em vários
níveis da sua vida.
O sétimo, os wonsiyon ( também chamado escolta) são uma
espécie de espíritos que acompanham a loa mét tét e modificam,
de alguma forma, a amplitude e a frequencia de sua vibração ou
presença. Percebidos coo energias de vibrações muito próximas,
eles acrescentam suas próprias frequencais a frequencia da loa
met tet com o intuito de gerar novas vibrações e frequencias,
Consequentemente sua presença modifica a amplitude ou o
caráter dos indivíduos de acordo com sua presença. É graças a
contribuição dos wonsiyon que todos alcançam , no final o que é
chamado de “personalidade irredutível”, a característica que torna
cada indivíduo único.
O vodu pode ser definido como o universo que permitia que os africanos se
reconectassem com a terra que deixaram para trás, tradições, cultura, divindades e
ancestrais. O panteão das loas chegará na cabeça e nos ombros dos africanos
escravizados, adaptando-se a realidade do novo mundo.
Essa visão vodu permeia entre o Haiti Colonial e um retorno a terra ancestral ou
Ginen. A cosmologia vodu é marcada pela possibilidade desse retorno; o ti bon anj (
alma) retornará para Em-ba-dlo ( ginen, a terra sob o mar), os ancestrais ( loas) que
“retornam” por meio de incorporação aos crentes. Há uma coleção dos mitos com a
recriação do passado mítico levando em conta que o universo vodu é algo
construído através da história do povo haitiano.
A religião retrata os ideias quilombolas da revolução haitiana que não foram
concretizados , em vez disso o estado haitiano comtempla o modelo francês.
Embora haja esta visão enraizada em um passado mítico, a mesma visão olha
simultaneamente para o futuro será expressada nas duas principais divisões de
espíritos dentro da religião os rada ( frios ) e de inspiração africana e os congopetwo ( quentes) derivados dos criolos. Embora pareça dualista a visão é que nada
é essencialmente mau ou essencialmente bom, fato esse díspar frente as crenças
católicas.
O vodu tem uma trindade que explica os mistérios entre a vida e a morte e está
enraizados entre os guedés ( espíritos da morte) , os marassa ( espíritos da
dualidade )e as loas. Papa Legba guarda as encruzilhadas da vida, Papa Loko é
aquele que vê o futuro e a alma dos seres e guarda o ounfó. Erzulie Freda simboliza
o útero cósmico do Ginen no qual o gran-bon-anj , as almas dos ancestrais são
recuperadas.
As nuances do vodu
Vodu poderia ser considerado uma prática religiosa e não uma religião única visto a
quantidade e diversidade de cultos com o mesmo nome em diversas localidades
como Haiti, República Dominicana, New Orleans e ainda haverá o vodu de templo e
o vodu das populações rurais e as sociedades secretas.
Vodu Dominicano
O Haiti e a República dominicana embora estejam na mesma ilha tiveram destinos
muito diferentes face a condução histórica.
O vodu dominicano é uma religião de natureza aparentemente monoteísta, com um
culto sincrético de paralelismo e sua organização está centrada em 21 divisões
espirituais e esse número é muito simbólico para os praticantes uma vez que foram
trazidos 21 formas espirituais da África para Hispaniola. Essas divisões são Divisão
Legba , 2) Divisão dos Oguns , uma divisão guerreira , 3) Rodas, 4) Locos, 5) Divisão
Guede, 6) Divisão Petwo , 7) Simbis, 8) Locomis, 9) Zumbis, 10) Divisão indígena,
11)Divisão dos Nagos, 12) Divisão dos Congos, 13) Guines, 14)Niñillos,
15)Caes,16)Dangueles, 17)Shuques, 18)Piues, 19)Difemayos,20)Petifones, e
21)Divisão dos Marrasas
Por exemplo no vodu haitiano a loa Belie Belcan corresponde a Ogou Shango e no
vodu dominicano a São Miguel Arcanjo.
Ou seja as divindades não são as mesmas embora haja um número muito grande de
correlações sincréticas , lembrando que o vodu dominicano se formou
posteriormente aos conceitos primevos do vodu haitiano.
O vodu da Louisianna e New orleans
A região onde se encontra New Orleans devido a suas formações naturais e seu
porto sempre foi um encontro de povos e idiomas; com a chegada dos inúmeros
imigrantes provenientes da ilha de Saint Domingue face a revolução que se
instaurou naquele país e os negros oriundos de Bamba e Congo vindos através da
diáspora atlântica.
Após o início da revolução em Saint Domingue houve uma migração grande para a
cidade de New Orleans que juntamente com os indivíduos já ambientados nas
plantações de Nem orleans e região da Lousiana iriam sincretizar o vodu trazido de
Saint Domingue com as crenças locais através da convivência e integração .
Muitos dos elementos do Vodu haitiano praticado nos dias de hoje não são vistos
em Nova Orleans sendo essa comparação pode ser até enganosa. Tanto o vodu
haitiano quanto o vodu New orleans foram transformados pelo passar do tempo e
símbolos associados visualmente ao vodu haitiano de hoje como o chocalho e as
bandeiras somente foram incorporados ao culto na década de 1920.
O vodu haitiano original era praticado essencialmente pelos negros escravizados e
em new orleans a população sofreria muitíssimo com o “Code Noir” ou “Códigos
Negros”, estabelecido e implementado em 1724 que regulava o tratamento e os
assuntos dos escravos. Sob o Code Noir, era “ilegal que os escravos praticassem
abertamente suas religiões africanas”sendo isso um reflexo do terror dos
proprietários de escravos da região e nessa etapa haverá uma resposta social
fortíssima que permanece até hoje como uma característica fundamental deste
vodu que é o cristianismo com a religião católica e os santos.
Durante o controle francês e espanhol de Nova Orleans, o Code Noir, ou “Códigos
Negros”, estabelecido e implementado em 1724, regulava o tratamento e os
assuntos dos escravos. Sob o Code Noir, era “ilegal que os escravos praticassem
abertamente suas religiões africanas”
Esse encontro sincrético subproduto da escravização e subjulgação daqueles que
aportaram nas terras de new orleans produziu divindades novas advindas de
culturas indígenas da região, práticas totalmente diferentes e uma nova ritualística.
Alguns estudiosos defendem que as práticas de new orleans estariam mais
próximas das religiões dos povos do Congo do que dos Daomeanos que sãio as
fontes africanas do vodu haitiano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração as diferenças de formato, com cosmologias similares e
apresentação diferente entre o vodu haitiano, dominicano e nova orleans entendo
serem práticas espirituais similares e com raízes aparentadas, porém diferentes em
suas apresentações, hierarquias podendo caracterizar expressões religiosas
diferentes.
As nuances da cultura vodu são imensas e altamente complexas dado que há muitos
graus e fórmulas sincréticas para chegar em seu formato atual . Sendo o vodu uma
religião viva ela irá sincretizar com outras culturas no futuro para onde for levada,
pois sua estrutura religiosa principal amparada nos voduns lhe permitirá absorver
divindades locais e divindades ancestrais de uma forma altamente organizada.
Quanto a sua natureza teológica entendo que o vodu não seja uma religião só, pois
não existem as características de unidade litúrgica e sim diferenças díspares
conceituais ao ponto de a localidade alterar visões dentro da própria religião com
práticas espirituais diferentes. Isto posto concluo que há várias religiões vodu com
uma raíz africana no culto dos voduns e que hoje representam um universo onde de
religiões diferentes entre si.
Referências
- Lynne A. Guitar, phd.D, Los Taínos Y Sus Cerimonias, Mitos, rituales Y Zemís
- C. R. L. James (Autor), Afonso Teixeira Filho (Tradutor) Os jacobinos negros:
Toussaint L'Ouverture e a revolução de São Domingos Capa comum – 31 dezembro
2000 -Edição Português
- Paul C. Mocombe (2016): The anti-dialectical signification of Erzulie Danthor and
Bois
Caiman
of
the
Haitian
Revolution,
African
Identities,
DOI:10.1080/14725843.2016.1143803
- João Luiz Carneiro , Repensando o Sincretismo, EDUSP
- Andreia Camargo, O livro dos Deuses Vodum os mistérios revelados Editora Clube
de autores
- Patrick Bellegarde-Smith & Claudine Michel Ed Pallas 2011 , Vodu Haitiano, espírito
Mito e Realidade