ANAIS do XXIX Congresso Brasileiro de Espeleologia
Ouro Preto MG, 07-10 de junho de 2007 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
A GRUTA DO PORTÃO DE CIMA (PR252) E
A GRUTA DO PORTÃO DE BAIXO (PR259)
Angelo SPOLADORE1; Frederico M. BISOGNI; Fernanda ARRABAL
Universidade Estadual de Londrina
1
- spolador@uel.br
Abstract
In the last few years several studies were accomplished envolving natural cavities developed in sandstone
rocks. As results, occour an increment in the number of know sandstone caves as well as, a several
discussions about the genesis and development of such cavities. Classic concepts are discussed, revalued
and, in some cases, new senses were attributed to the original meaning. A good example is the term karst
that today, is also being used for sandstones. In this way, we presented the results of the works accomplished
at the Gruta do Portão de Baixo (PR259) and Gruta do Portão de Cima (PR252), located in Sengés, Paraná
State. It is two cavities interlinked by a series of skylights, with considerable development in the sediments of
Gr. Itararé, Sedimentary Basin of Paraná. These cavities present a singular beauty and a very particular
environmental.
passagem entre estes dois grandes pacotes
geomorfológicos é caracterizada por linha de cuesta
bem marcada e definida.
Nas áreas de afloramento do arenito Furnas,
são comuns os cânions, gaps, abismos e fendas, rios
subterrâneos e outras formas típicas do carste em
arenito. O próprio rio Itararé, que serve como divisa
entre São Paulo e Paraná, apresentam vários trechos
subterrâneos originados cavernas como a Gruta da
Barreira, uma atração turística local. A principal
drenagem na área enfocada é o rio Itararé sendo que
as cavernas estão localizadas na vertente esquerda
do referido curso d’água.
No domínio do Segundo Planalto, o relevo
apresenta-se com vales bem encaixados e áreas
relativamente planas. As encostas oscilam entre
convexas e retilíneas.
No
domínio
do
Primeiro
Planalto
(embasamento da Bacia do Sedimentar do Paraná),
o relevo é mais movimentado, com elevações
bruscas e vales encaixados. Pode se observar
facilmente uma orientação marcante dos diferentes
elementos de relevo.
Geologicamente, segundo MINEROPAR
(2002), são reconhecidos metamorfitos pertencentes
ao Grupo Açungui, rochas sedimentares da Bacia
Sedimentar do Paraná (Grupo Paraná e Grupo
Itararé) bem como alguns corpos ígneos intrudidos
nas rochas do embasamento da Bacia Sedimentar do
Paraná. Também foram identificados esporádicos
diques de diabásio orientados segundo nordeste.
Introdução
Nos últimos anos, deu-se uma série de
estudos sobre as cavidades naturais desenvolvidas
em rochas não carbonáticas, em especial nas
litologias psamíticas. Como resultados tivemos um
incremento no número de cavernas areníticas
cadastradas bem como, discussões sobre a gênese e
desenvolvimento de tais cavidades.
Assim, conceitos clássicos são re-discutidos e
reavaliados e, em alguns casos, novos sentidos são
atribuídos e agregados ao significado original. Um
bom exemplo é o termo carste que hoje também está
sendo utilizado para rochas areníticas (WRAY,
2003, WRAY, 1996, SILVA, 2004; SPOLADORE,
2005, dentre outros).
Neste texto apresentamos os resultados dos
trabalhos realizados na Gruta do Portão de Baixo
(PR259) e Gruta do Portão de Cima (PR252),
localizadas no município paranaense de Sengés.
Trata-se de duas cavidades interligadas por
uma série de clarabóias, com desenvolvimento
considerável em meio aos litotipos do Grupo Itararé,
Bacia Sedimentar do Paraná. Estas cavidades
apresentam uma beleza bastante particular e com um
ambiente muito singular.
A Região Estudada
Sengés está localizado na região sul / sudeste
do Estado do Paraná, próximo a cidade paulista de
Itararé.
Aproximadamente metade do território
pertencente ao município de Sengés está situada no
Primeiro Planalto Paranaense enquanto que a outra
parte está localizada no Segundo Planalto. A
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famílias de fraturas, sendo uma delas praticamente
perpendicular ao eixo principal da caverna. A Gruta
do Portão de Baixo possui uma entrada ampla e
bastante bonita (fotografia 01).
As Grutas do Portão de Baixo e do Portão de
Cima
•
Gruta do Portão de Baixo
Estas
cavidades
foram
inicialmente
trabalhadas por Spoladore (2005) e Spoladore
(2003) sendo inclusa no Cadastro Nacional de
Cavernas em 2003. Trata-se de duas cavernas de
arenito que estão entre as mais espetaculares já
encontradas ao longo dos trabalhos até agora
realizados pelos autores. Na realizada, são duas
grutas, a Gruta do Portão de Baixo (PR259) e a
Portão de Cima (PR252) interligadas. Estas
cavidades aparentemente tiveram origem e evolução
distintas, sendo que, atualmente, encontram-se
unidas por intermédio de cinco clarabóias por onde
passa um curso d’água que cai em cachoeira do
Portão de Cima para o Portão de Baixo. Dessa
forma, a Gruta Portão de Baixo é a ressurgência,
enquanto a Gruta Portão de Cima é a sumidouro do
curso d’água. Enfatizando, estas duas cavidades se
desenvolveram em rochas areníticas.
O acesso à caverna é fácil, sendo feito por
estrada de terra e cascalho, dentro do Distrito de
Mocambo. A cavidade está localizada nas
coordenadas 22K0667022 / UTM7329828 em uma
altitude de 744 m.
A trilha que leva à caverna é pequena (cerca
de 400m) em meio ao reflorestamento de pinus e
mata nativa. No local existia uma estrada a qual
passava em cima da caverna. A referida estrada foi
interditada e desativada após contato com a direção
da fazenda e a área situada em cima da caverna foi
reflorestada e preservada.
Tanto a Gruta do Portão de Baixo como a
Gruta do Portão de Cima se desenvolveram em meio
a rochas psamíticas pertencente ao Grupo Itararé. A
coloração da rocha é amarela esbranquiçada.
Todavia, em alguns locais podem ser observadas
lentes areníticas de coloração acinzentada.
Os níveis conglomerados ocorrem somente na
porção superior da caverna, enquanto que na porção
inferior a rocha é predominantemente arenosa.
Estratificações plano-paralela e acanalada podem ser
facilmente observadas.
Os níveis conglomeráticos são de espessura
decimétrica e, aparentemente, não apresentam boa
seleção quanto à origem e tamanho. Os seixos
podem ser bem trabalhados ou não. Suas dimensões
máximas são de 10 cm de diâmetro.
A rocha apresenta-se moderadamente
fraturada, todavia, tais fraturas, juntamente com as
estratificações, condicionam o desenvolvimento da
cavidade, inclusive o abatimento de blocos e de
novas galerias. Existe no local, pelo menos duas
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Fotografia 02 – A Caverna Portão de Baixo.
Autor: Ângelo Spoladore
É marcante a quase ausência de formas
arredondadas, apesar da existência de curso d’água.
No teto e nas paredes são comuns rochas com
arestas e ângulos. A cavidade encontra-se em estado
de instabilidade, sendo possível observar várias
fraturas abertas, como também blocos se
desprendendo do teto. Localmente, o teto é plano
devido ao abatimento de grandes blocos.
Ao longo das paredes da caverna podem ser
vistas estrias resultantes do abatimento de blocos.
As paredes apresentam poucos ornamentos.
O chão é coberto por espessa camada de
sedimentos inconsolidados (areia, silte, argila e
seixos), bem como por blocos abatidos.
Normalmente, ao longo do percurso do córrego, a
rocha está aflorante.
Ainda no chão, pode se ver grande quantidade
de matéria orgânica proveniente do meio exterior.
Nota-se troncos e restos vegetais, os quais foram
transportados pelo rio.
Também foram observados e retirados
resíduos trazidos por visitantes, como plásticos e
vidros. Tal fato, aliado a outras evidências tais como
pegadas humanas, indica que esta cavidade é
conhecida pelos moradores da região.
Foi constatada também, uma série de
inscrições (nomes e datas) feita por populares que
visitaram a gruta.
A forma geral da gruta é de um amplo
corredor, sem formar grandes salões. Conforme
entramos na cavidade, identificamos três porções
distintas. A primeira delas está localizada entre a
entrada da caverna até onde o teto sofre um brusco
abaixamento. Nesta primeira porção, a luz penetra
parcialmente e podem ser visualizados grandes
depósitos sedimentares. O córrego corre em um
curso definido. Este local é bastante amplo
possuindo cerca de 3 m de altura e 30 m de largura.
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97%. O pH das águas da drenagem interna da
caverna oscilou entre 6,2 e 5,6.
Na figuras 01 e 02 vemos o mapa da Gruta do
Portão de Baixo bem como o perfil e a relação entre
as grutas do Portão de Baixo e Portão de Cima
assim como, a topografia imediatamente acima das
cavidades.
Quantidades significativas de insetos, fungos, aves e
morcegos podem ser visualizados.
No segundo setor, a principal característica é
a pequena altura do teto (em média um metro).
Neste local, pode-se avançar apenas engatinhando
ou rastejando. Os sedimentos estão ausentes e o
córrego segue por canais anastomosados, com
pequenas quedas e corredeiras localizadas.
O terceiro e último salão é o Salão da
Cachoeira. As dimensões desse salão são amplas,
sendo a altura média do teto de dois metros. No
geral, apresenta forma circular com diâmetro
aproximado de trinta metros. Ocorrem amplos
depósitos de areia circundando uma piscina formada
pela queda da água.
Nos três salões podem ser observadas galerias
secundárias em desenvolvimento, alinhadas ao
longo
de
fraturas
perpendiculares
ao
desenvolvimento principal da caverna.
Interessante notar que, ao longo das diferentes
visitas realizadas ao local, foi constatado um
aumento significativo de algumas galerias
secundárias, indicando que a cavidade se encontra
em desenvolvimento.
Apesar de pouco ornamentada, a cavidade
apresenta belos espeleotemas, especialmente os
chamados “caixa de ovos” (fotografia 02). Outros
ornamentos identificados foram casca de ovo, sino,
couve-flor, estalactite de óxido de ferro, bem como
algumas formações incomuns no solo, geradas pelo
constante gotejamento. Ainda identificou-se uma
série de clarabóias que fazem a comunicação entre
as cavernas do Portão de Baixo e Portão de Cima.
•
Gruta Portão de Cima
Localizada próxima Gruta Portão de Baixo
sendo o acesso descrito anteriormente comum a
ambas as cavidades. A Gruta do Portão de Cima está
localizada nas coordenadas 22K0666996 /
UTM7329879, a uma altitude de 738 m, no vale do
Rio Itararé. Esta caverna está situada em uma
drenagem bem marcada e com mata ciliar
preservada. Após o córrego entrar pela boca da
caverna, somem todos os vestígios da drenagem
superficial. O curso d’água continua subterrâneo,
ressurgindo na Gruta Portão de Baixo.
A entrada da Gruta do Portão de Cima
encontra-se parcialmente assoreada por sedimentos
provenientes, aparentemente, de uma estrada
localizada ao lado. Também podem ser observados
troncos de árvores obstruindo a entrada.
Sua boca possui dimensões medianas
(fotografia 03). Possivelmente era mais ampla, mas,
devido ao assoreamento, teve suas dimensões
reduzidas.
A caverna se desenvolveu em rocha arenítica,
com porções conglomeráticas conforme descrição
anterior.
A Gruta do Portão de Cima possui três salões.
O primeiro apresenta uma altura que varia conforme
se adentra a caverna entre três metros a oitenta
centímetros sendo este o mais amplo. Seu teto é em
abóbada onde podem ser visualizadas algumas
fraturas. Os depósitos de sedimento vão diminuindo
em direção ao interior da caverna.
O segundo salão também se apresenta em
formato de abóbada, todavia com altura média entre
oitenta centímetros e cinqüenta centímetros em uma
extensão de, aproximadamente, três metros e meio
com uma leve declividade no sentido do seu
interior. O teto possui aresta e o chão se caracteriza
por ondulações em decorrência da ação do curso
d’água, que corre diretamente sobre a rocha.
O terceiro salão possui declividade maior e
altura variando de aproximadamente um metro a
vinte e cinco centímetros. Neste se encontram vários
“panelões” e “marmitas”, os quais evoluem para
clara-bóias que colocam em comunicação a grutas
do Portão de Cima e Portão de Baixo. A principal
característica deste terceiro salão é a ação da água
Fotografia 02 – Ornamento tipo caixa de ovo.
Gruta do Portão de Baixo. Autor: Ângelo Spoladore
Durante os trabalhos realizados no local, a
temperatura permaneceu constante em 23ºC e a
umidade relativa do ar no interior da caverna foi de
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que despenca em cachoeira para a Gruta do Portão
de Baixo.
identificados morcegos, insetos diversos, aves e
répteis.
A temperatura no interior da caverna variou
entre 22ºC e 24ºC enquanto que a umidade relativa
do ar permaneceu em 98%. Quanto ao pH este
variou entre 6,3 e 5.7.
Na figura 03 apresentamos o mapa da Gruta
Portão de Cima
Considerações finais
As cavernas naturais desenvolvidas em
litologias areníticas das diferentes unidades litoestratigráficas da Bacia Sedimentar do Paraná são
mais comuns do que se supunha inicialmente.
As cavernas aqui estudadas (Gruta do Portão
de Cima - PR225 e Gruta do Portão de Baixo PR259) são duas cavidades naturais desenvolvidas
em meio aos litotipos areníticos e conglomeráticos
do Grupo Itararé.
A gênese e o desenvolvimento das mesmas
devem estar respectivamente relacionados com a
dissolução da sílica e com o fraturamento impresso
na rocha.
Quanto à fase de desenvolvimento, segundo
proposta adotada neste trabalho, as cavernas em
questão
encontram-se
em
uma
situação
intermediária entre a segunda e terceira fase.
Fotografia 03 – Representação parcial da entrada da
Caverna Portão de Cima.
A Gruta do Portão de Cima possui pouca
ornamentação,
sendo
identificados
apenas
espeleotemas do tipo couve-flor. Foram encontradas
evidências de que, quando ocorrem chuvas fortes, as
águas de escoamento superficial provenientes do
curso d’água existente nas cavernas, tomam por
completo o segundo e o terceiro salão da Gruta do
Portão de Cima. Com relação à fauna, foram
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vol . 42, pp: 137 – 160. Ed. Elsevier, 1996
Figura 1 – Representação cartográfica da Caverna Portão de Baixo. Desenho: Júlio H. Leite. Equipe de mapeamento:
Ângelo Spoladore, Márcia San Juan, Vera Naumes, Gesualdo B. da Silva e Júlio H. Leite
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Figura 2 – As Cavernas Portão de Baixo e Portão de Cimas vistas em planta e em perfil. Desenho: Júlio H. Leite.
Equipe de mapeamento: Ângelo Spoladore, Márcia San Juan, Vera Naumes, Gesualdo B. da Silva e Júlio H. Leite.
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Figura 3 – A Gruta do Portão de Cima. Desenho: Júlio H. Leite. Equipe de mapeamento: Ângelo Spoladore, Márcia
San Juan, Vera Naumes, Gesulado B. da Silva e Júlio H. Leite.
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