PARA ENTENDER O
ESTOICISMO
Matthew J. Van Natta
PARA ENTENDER O
ESTOICISMO
A Arte do Bem Viver da Filosofia Estoica para Encontrar
Resiliência Emocional e Positividade
Tradução
Mário Molina
Título original: The Beginner’s Guide to Stoicism.
Copyright © 2019 Callisto Media, Inc.
Publicado pela primeira vez em Inglês por Althea Press, um selo da Callisto Media, Inc.
Copyright da edição brasileira © 2021 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
1ª edição 2021.
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Foto do autor cortesia de © Christy Radonich Van Natta.
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Preparação de originais: Danilo Di Giorgi
Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo
Editoração Eletrônica: S2 Books
Revisão: Erika Alonso
Produção de ebook: S2 Books
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Natta, Matthew J. Van
Para entender o estoicismo : a arte do bem viver da loso a estoica para encontrar : resiliência emocional e positividade /
Matthew J. Van Natta ; tradução Mário Molina. -- 1. ed. -- São Paulo, SP : Editora Cultrix, 2021.
Título original: The beginner’s guide to Stoicism.
ISBN 978-65-5736-122-1
1. Estóicos 2. Inteligência emocional 3. Resiliência (Traço de personalidade) I. Título.
21-76898
CDD-188
Índices para catálogo sistemático:
1. Filoso a estóica 188
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380
1ª Edição digital 2021
eISBN: 978-65-5736-124-5
Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade
pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a
propriedade literária desta tradução.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP — Fone: (11) 2066-9000
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E-mail: atendimento@editorapensamento.com.br
Foi feito o depósito legal.
Obrigado, Christy, por seu amor, encorajamento e por ter mais paciência do
que alguém poderia merecer. Obrigado, Freyja, por abraços, músicas e
encantamento.
E um obrigado à comunidade estoica, pelos anos de ponderação e apoio.
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Introdução
Parte I - Fundamentos
Capítulo 1 - Uma Filosofia Prática
Capítulo 2 - Uma Rápida Viagem pela História
Parte II - Seu novo kit de ferramentas emocionais
Capítulo 3 - Pensando como um Estoico
Capítulo 4 - Agindo como um Estoico
Parte III - Estoicismo para a vida
Capítulo 5 - Cultivando Positividade
Capítulo 6 - Praticando a Resiliência Emocional
Capítulo 7 - Estando a Serviço
Capítulo 8 - Continuando sua Jornada
Recursos
Referências
Agradecimentos
Respostas
INTRODUÇÃO
Dez anos atrás, descobri o estoicismo e nunca mais deixei de praticá-lo. O
modo estoico de pensar tem remodelado minha vida e me proporcionado
resiliência emocional, uma visão positiva e o desejo de mudar minha
comunidade para melhor. Conquistei isso tudo após praticar por muitos anos.
Aprendi a desenvolver habilidades estoicas lendo diversos livros, participando
de uma comunidade on-line e por meio de um processo de tentativa e erro.
Minha expectativa é que este guia ajude você a avançar em um ritmo mais
rápido que o meu, abrindo um caminho seguro para sua viagem.
Sofri com um transtorno de ansiedade desde o nal da minha adolescência. O
problema não foi tratado durante muitos anos, o que prejudicou meus
relacionamentos e minha vida pro ssional. Com trinta e poucos anos, porém,
busquei ajuda pro ssional e aprendi diversas práticas de Terapia CognitivoComportamental (TCC) que surtiram efeito e se tornaram ferramentas de uso
constante em minha vida mental. Em princípio, o estoicismo atraiu-me por
conta das muitas semelhanças entre a visão estoica e a terapia que praticava.
Mais tarde, quei sabendo que havia uma conexão histórica entre eles. A
diferença era que a TCC ajudava a acalmar meus pensamentos, enquanto o
estoicismo lhes dava direção. O estoicismo ajudou-me a de nir quem eu queria
ser e me deu os meios para me tornar essa pessoa. O processo é permanente,
recompensador e vale a pena ser compartilhado.
O estoicismo diz que é possível prosperar na vida, independentemente das
circunstâncias. Com este guia, você aprenderá a se concentrar nas coisas que
pode controlar, de forma que as suas ações sejam realmente produtivas e para
que você não perca seu tempo com coisas que não tem o poder de mudar. Você
se tornará mais aberto e receptivo aos outros e terá, ao mesmo tempo, coragem
para se defender e para defender aquilo em que acredita. Sua vida emocional
melhorará na medida em que você cultivar o pensamento positivo [a
positividade] e superar o pensamento negativo. Você vai se identi car com o que
seu caráter tem de melhor e aprender a viver uma vida de harmonia.
Tenho atuado durante a maior parte de minha vida adulta como instrutor e,
quando abracei o estoicismo, achei natural compartilhar o que estava
aprendendo. Comecei com meu blog, Immoderate Stoic [Estoico Radical]. Mais
tarde criei um podcast, Good Fortune [Sorte], em homenagem a uma das
citações de Marco Aurélio que mais aprecio: “Esta é a regra a ser lembrada no
futuro, quando algo levar você a car amargo: não diga ‘que azar’, mas sim ‘que
sorte ser capaz de enfrentar tudo isso com garra’”. Tanto o blog quanto o podcast
foram bem recebidos pela comunidade estoica e seguem ajudando aqueles que
querem levar uma vida equilibrada. Meu ensinamento foca na prática. Como o
estoicismo pode ajudá-lo aqui e agora?
Este guia funciona da mesma forma. Você não precisa conhecer loso a para
se bene ciar do que é ensinado aqui. Na época em que o estoicismo se
desenvolveu, a loso a ajudou as pessoas a terem vidas signi cativas. Os
mestres estoicos forneceram uma base ética para a ação em um mundo confuso
e cheio de desa os. O estoicismo nos ajuda a fazer o que temos de fazer. Você
vai aprender a assumir o controle de sua vida mental e emocional. Cultivará as
habilidades necessárias para dirigir suas ações de forma positiva, ajudando a
você e a todos com quem você interage. Se está interessado em obter
ferramentas para sustentar sua felicidade durante todos os altos e os baixos da
vida, você chegou ao lugar certo.
O estoicismo nos treina para uma nova maneira de pensar. Vou orientá-lo,
passo a passo, durante todo esse processo. Cada capítulo tomará por base o
capítulo anterior, permitindo que você ganhe uma base sólida antes de receber
novas informações. Os capítulos também contarão com lições práticas. Você
vai obter ferramentas mentais que serão úteis desde o início e, à medida que
continuarmos, o uso delas se tornará ainda mais evidente e convincente.
A Parte I: Fundamentos oferece uma visão geral do estoicismo como loso a
e investiga sua história. Vai nos dar o contexto necessário para entendermos o
objetivo do ensino estoico. A estrutura do estoicismo começará a car clara.
A Parte II: Seu Novo Kit de Ferramentas Emocionais lança as bases do
pensamento e da prática estoicos. Você vai aprender a usar as três disciplinas
estoicas. Examinaremos a virtude, a concepção estoica da excelência pessoal,
para que nossa prática tenha um foco claro. Também aprenderemos a
diferenciar as coisas que podemos controlar daquelas que não podemos, uma
lição fundamental para revelar a verdadeira força do estoicismo.
A Parte III: Estoicismo para a Vida vai aplicar esta nova base losó ca no seu
dia a dia. Você aprenderá a cultivar emoções positivas e liquidar as negativas.
O estoicismo vai torná-lo mais autossu ciente, procurando, ao mesmo tempo,
motivá-lo a buscar relacionamentos saudáveis com outras pessoas. Você
também ganhará coragem para contribuir para a melhoria do mundo.
É hora de começar a aprender! Primeiro, aprenderemos o que é estoicismo – e
o que ele de nitivamente não é. Aprenderemos um pouco sobre suas raízes e
como ele mudou com o tempo. Também seremos apresentados às ferramentas
básicas da loso a, que nos ajudarão a cultivar uma mente mais saudável e a
viver uma vida mais grati cante.
PARTE I
FUNDAMENTOS
CAPÍTULO 1
Uma Filosofia Prática
“Pare de falar sobre como uma boa pessoa
deve ser e seja uma delas.”
– Marco Aurélio, Meditações 10:16
C
omo podemos prosperar na vida? Este livro trata dessa questão. Aqui
você encontrará uma série de ferramentas mentais, atitudes diárias e
práticas guiadas, entre outras ferramentas que podem ser usadas para
ajudá-lo a ser sempre mais produtivo, seja qual for a situação, para o seu próprio
bem e para o benefício de todos ao seu redor. A loso a por trás dessas práticas,
o estoicismo, tem ajudado um número cada vez maior de pessoas a superar
obstáculos mentais, a serem destemidas diante dos obstáculos da vida e a
alcançar uma satisfação duradoura. Em minha própria vida, o estoicismo tem
me prestado grandes e pequenas ajudas, como permitir que eu administre um
transtorno de ansiedade permanente e manter minha paz durante o tempo em
que enfrento, diariamente, um trânsito complicado. Também tenho observado
como essa loso a mudou a vida de muita gente para melhor. Sei que o
estoicismo pode ajudá-lo a encontrar meios para crescer neste mundo e
compartilho com entusiasmo o conhecimento que tenho sobre o tema.
O Que é o Estoicismo?
Filoso a prática construída sobre a crença de que todas as pessoas podem ter
uma vida próspera, o estoicismo sustenta que é possível alcançar uma vida
bem-sucedida agora, independentemente das circunstâncias externas.
Precisamos, no entanto, estar dispostos a um esforço para cultivar a mente
saudável. O estoicismo nos ensina a focar nossos pensamentos e ações naquilo
que podemos controlar. Ao fazer isso, desenvolvemos uma perspectiva mental
saudável. O estoicismo nos instiga a avaliar o que queremos e o que
gostaríamos de evitar. Ele nos ensina a redirecionar nossa atenção para desejos
saudáveis e, quando fazemos isso, descobrimos que as emoções positivas
emergem de forma mais consistente. Ganhamos resiliência, a exibilidade
emocional que nos ajuda a superar obstáculos que se interpõem entre nós e a
nossa felicidade.
Acima de tudo, o estoicismo visa tornar a pessoa hábil para viver a vida.
Chamamos esta perícia frente a vida de virtude. A loso a estoica nos treina
em virtude: esculpe nosso caráter moral como pessoas contentes, resilientes e
capazes de agir de forma a fazer do mundo um lugar melhor.
MITOS E EQUÍVOCOS
Mesmo que você nunca tenha ouvido falar da loso a do estoicismo, é
provável que já tenha se deparado com a palavra estoico em algum momento da
sua vida. Nas línguas modernas, o termo é usado para descrever o indivíduo que
mantém pleno controle diante da adversidade. Embora isso muitas vezes seja
algo admirável, ser “estoico” tem o potencial de acabar prejudicando a saúde.
Se nos limitamos a reprimir as emoções, contendo nossa agitação interior sem
lidar de verdade com nossos problemas interiores, o resultado pode ser
devastador. A loso a do estoicismo não é isso. Já os antigos estoicos tiveram
de lidar com essa descaracterização de sua loso a; os que a criticavam viam-na
como algo glacial. Ainda que os estoicos insistissem na ideia de que ninguém
deveria ter como objetivo transformar-se numa estátua insensível. Desenvolver
uma vida virtuosa leva, na verdade, a uma riqueza emocional, uma riqueza que
nos ensina a lidar com nossas emoções – cultivando o positivo e superando
com rapidez o negativo.
Outro equívoco diz respeito à passividade. O estoicismo prega a possibilidade
de prosperar seja qual for a situação e ensina a aceitação do mundo como ele é,
o que pode ser mal interpretado como apatia. “Por que mudar”, dizem alguns,
“se podemos ser felizes mesmo durante as piores tempestades da vida?”.
Pode parecer paradoxal, mas a aceitação estoica, na realidade, nos dá a força
necessária para superar os desa os. A passividade tem origem com mais
frequência no medo que na aceitação. Quando uma pessoa rude faz exigências
de forma agressiva, quantas vezes você cede, preocupado com a possibilidade de
que tentar se defender tornaria as coisas ainda piores? O estoico aceita o fato de
que a pessoa na frente dele está sendo hostil, mas é capaz de escolher a forma
como vai responder a ela. Se as exigências da pessoa com uma atitude hostil
são injustas, o estoico vai trabalhar pela justiça. O estoicismo nos ensina a ter
uma clareza de visão que nos permite fazer as melhores escolhas possíveis.
Conforme você aprende a con ar em sua capacidade de enfrentar os desa os, a
inação e a indecisão deixam de ser obstáculos. Quando concentramos nossa
atenção no que podemos controlar, nossas ações se tornam bem direcionadas e
e cientes.
Antes de examinarmos mais a fundo as ferramentas oferecidas pelo
estoicismo, vamos dar uma rápida olhada nas origens dessas ideias.
ORIGENS
O estoicismo começou na Grécia Antiga, no ano 300
, oresceu durante
500 anos, mas depois quase desapareceu, com registros ocasionais até seu
ressurgimento, algo bastante recente, do qual agora fazemos parte. O fundador
da loso a foi Zenão de Cítio, um comerciante que perdeu tudo em um
naufrágio. Após essa perda, ele se voltou para a loso a, tentando reconstruir
sua vida. Zenão passou a acreditar que todas as pessoas nasciam para ter um
“bom uxo de vida”, que consistia em serenidade pessoal e em uma existência
em alegre harmonia com suas comunidades. Para que sua mensagem chegasse
às pessoas, Zenão dava aulas públicas, ao ar livre. Ele e seus alunos se
encontravam em uma stoa, um tipo de passagem coberta comum na época. A
escola cou conhecida como a Stoa, que foi de onde veio o nome estoicismo.
À medida que o tempo passou, o estoicismo acabou indo parar no Império
Romano, ou melhor, o Império Romano acabou indo parar na Grécia. E é com
os estoicos romanos que vamos passar boa parte do nosso tempo, porque as
obras dos estoicos gregos estão perdidas quase que por completo. Sabemos que
eles escreveram milhares de livros, mas apenas algumas páginas desses escritos
chegaram até nós. Dos estoicos romanos, as obras de três homens em particular
permaneceram relativamente intactas, salvando a sabedoria de sua loso a da
extinção:
Epicteto (50-135 ), um professor estoico, que começou a vida como
escravo e nos deixou o mais completo modelo dos ensinamentos da
loso a.
O senador romano Sêneca (4
– 65 ), que nos traz percepções
reveladoras.
Marco Aurélio (121-180 ), que, embora imperador de Roma, será o
nosso principal companheiro de jornada. Temos acesso a seu diário
losó co, o que nos permite acessar as re exões mais pessoais de
um estoico pra cante.
AEC e EC
AEC (Antes da Era Comum) e EC (Era Comum) serão usados neste livro sempre que entrar alguma
data. Essa é a convenção aceita na maioria das disciplinas acadêmicas. Se você está acostumado
às notações a.C./d.C não há problema: Antes da Era Comum subs tui com exa dão a.C. e Era
Comum é o mesmo que d.C.
ESTOICISMO MODERNO
“Eu não me vinculo a um mestre estoico
em particular. Tenho também o direito de
formar uma opinião.”
– Sêneca, Sobre a Vida Feliz
O estoicismo moderno se concentra de forma bastante marcante na questão da
ética. Os antigos estoicos, no entanto, dividiam sua instrução em três grandes
tópicos: física, lógica e ética. Embora seja intelectualmente proveitoso
conhecer as re exões estoicas sobre física e lógica, a maioria dos estoicos
querem chegar à parte em que o estoicismo os ajuda a prosperar. A abordagem
estoica sobre a forma como o ser humano vive é o que captura nossa atenção.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma prática terapêutica
moderna, foi in uenciada pelos escritos estoicos, e grande parte da abordagem
da vida emocional realizada pela TCC e muitas de suas práticas se alinham
com o estoicismo. A TCC ajuda as pessoas a pensar de um modo mais saudável,
mas não oferece um mapa com o caminho para se alcançar uma vida próspera.
A loso a estoica usa práticas mentais semelhantes, mas as combina com um
conjunto de valores que podem nos guiar em direção ao que há de melhor em
nós. É essa associação entre clareza mental e senso de objetivo que tem atraído
muita gente para o estoicismo.
O estoicismo moderno também encara de modo diferente nossa relação com
o Universo. Muitos estoicos antigos eram panteístas piedosos que percebiam o
Universo como um deus benevolente conhecido como Zeus. A prática
moderna adota um ponto de vista mais secular. Se você não é religioso, o
estoicismo conserva toda a sua utilidade. Se você é religioso e optou por adotar
o estoicismo, a loso a engrena melhor se sua teologia for deixada para trás.
SOBRE OS PANTEÍSTAS
As pessoas muitas vezes se referem aos an gos estoicos como panteístas.
Isso é um tanto anacrônico, pois o panteísmo é uma concepção moderna – o
próprio termo só surgiu em 1697 . Dito isso, a teologia estoica sem dúvida
se encaixa na de nição panteísta ao acreditar que Deus é o Universo ou que
o Universo é uma manifestação de Deus.
A maioria dos primeiros estoicos acreditavam que todo o Universo estava
interconectado como um mesmo ser, um único organismo que chamavam de
Zeus, sinônimo de Natureza e Razão. O historiador romano Diógenes Laércio
nos conta: “[Os estoicos] também dizem que Deus é um ser animal imortal,
racional, perfeito em felicidade, imune a todo mal, cuidando de forma
providencial do mundo e de tudo que está no mundo, embora não tenha
forma humana. É o criador do Universo e, por assim dizer, o Pai de todas as
coisas tomadas em conjunto, sendo que uma parte dele permeia todas as
coisas, chamadas por diferentes nomes conforme os poderes que têm...”.
A prática estoica é mais personalizada nos tempos modernos do que era no
passado. É improvável que você venha a viver em uma escola estoica, como
acontecia com os alunos de Epicteto. Isso não signi ca que a prática precise ser
solitária. Há vibrantes comunidades on-line dedicadas ao estoicismo e um
número cada vez maior de grupos em todo o mundo que se reúnem para discutir
a loso a. Há inclusive congressos sobre a prática do estoicismo. Uma visita ao
site modernstoicism.com oferece informações sobre o Stoicon, um encontro
anual aberto tanto para praticantes quanto para pessoas interessadas em
conhecer a loso a. O Stoicon coincide com a Stoic Week [Semana Estoica], um
evento dedicado a promover o bem-estar humano através da loso a estoica.
Meu objetivo com este livro é oferecer uma base sólida para que você possa se
desenvolver por conta própria, mas há todo um mundo em crescimento
esperando por sua participação.
O estoicismo está disponível para todos: prega que todos os seres humanos
formam uma família e que cada um de nós é digno de um afetuoso respeito. O
estoicismo proclama que todas as pessoas são capazes de experimentar uma vida
de sabedoria. Mesmo em tempos antigos, essa loso a alcançou uma
diversi cada gama de pessoas. Como já mencionei, o mestre estoico Epicteto
começou a vida como escravo, enquanto o praticante Marco Aurélio liderou
um império; desde sua origem, o estoicismo foi inclusivo. Embora tenha se
desenvolvido em sociedades que eram bastante patriarcais, os escritos estoicos
defendem com clareza que as mulheres são intelectualmente iguais aos homens
e que merecem ter acesso a uma formação em loso a.
Mesmo assim, encontramos principalmente homens entre os antigos estoicos
– geralmente homens abastados – que às vezes estavam encerrados nos limites
do pensamento de sua época. Felizmente não estamos amarrados pelos
costumes gregos e romanos. Nossa comunidade atual vive de acordo com o que
há de melhor no pensamento estoico e conta com uma população diversa,
dinâmica e crescente.
REFLEXÃO
Quando você es ver pronto para dar início a alguma tarefa, pare por um
minuto e re ita sobre qual é a natureza da tarefa que será realizada. Se
es ver saindo de casa para um banho público, pense no que acontece em um
banho público – lembre-se daqueles que espirram água em você, dos que lhe
dão empurrões, dos que o tratam mal e dos que o roubam. Você levará a
cabo sua tarefa com mais segurança se, antes de começá-la, disser a si
mesmo: “Quero tomar um banho e, ao mesmo tempo, quero manter meu
propósito moral em harmonia com a natureza”. E aja desse modo com todas
as suas tarefas. Pois se algo vier a incomodá-lo no banho, você estará pronto
para dizer: “Oh, bem, esta não era a única coisa que eu queria, mas eu
também queria manter meu propósito moral em harmonia com a natureza; e
não serei capaz de fazer isso se eu car irritado com o que está
acontecendo”.
–E
C E
,E
C
D
4
Uma con nua prá ca estoica reformula seu caráter moral. O foco
fundamental do estoicismo envolve esse caráter – que é o que você tem de
melhor – porque está inteiramente dentro de seu controle. Da próxima vez
que zer alguma coisa, não se esqueça: “Quero cumprir esta tarefa e, ao
mesmo tempo, quero proteger minha harmonia”.
Pergunte a si mesmo:
Na tarefa que tenho pela frente, quais são os desa os que poderiam
surgir?
Ao enfrentar esses desa os, como eu posso dar o que tenho de
melhor e con nuar em harmonia com a vida?
POR QUE O ESTOICISMO?
Temos a capacidade de prosperar. A meta estoica é a eudaimonia, uma vida
orescente. Com uma prática focada, podemos cultivar uma vida serena, alegre
e entusiástica, mesmo diante de grandes desa os. Vamos nos sentir cada vez
menos irritados, ansiosos e solitários à medida que nossa atitude estoica for
tornando cada vez menos provável que emoções negativas criem raízes.
Trabalho como instrutor de saúde e segurança. Toda manhã, dirijo meu carro
até uma empresa diferente do estado do Oregon, onde treino um grupo de
pessoas que nunca encontrei antes. O trânsito que enfrento pode fazer com que
a minha viagem dure entre 15 minutos e três horas. As pessoas que encontro
podem se mostrar atentas e curiosas, podem car olhando de soslaio para seus
celulares ou podem estar claramente muito frustradas por serem obrigadas a
participar do treinamento. Além disso tudo, posso estar enfrentando problemas
pessoais que podem impedir que eu faça uma boa apresentação. Começo meu
dia com uma meditação estoica, que me recorda que sou capaz de enfrentar
qualquer obstáculo com que venha a me deparar. Tenho ferramentas mentais
como a Dicotomia do Controle, que me ajuda a me concentrar nas coisas que
tenho o poder de alterar. O estoicismo me deu a Atitude de Festival, que
transforma todos os grupos de pessoas em uma festa e que me ajuda a apreciar
certas coisas que outros poderiam achar cansativas. À noite, faço uma Revisão
Noturna, que permite que eu me avalie de forma honesta e que me leva a
melhorar a cada dia. Logo você terá à sua disposição essas mesmas ferramentas
e muito mais. Com a prática, você conquistará a vida orescente que o
estoicismo promete.
Antes de seguirmos em frente, pare um pouco para pensar sobre a forma
como eu descrevi a vida estoica:
Ela é orescente
Ela tem um bom uxo
Ela está em harmonia com a natureza
O que essas frases signi cam para você? Se estivéssemos dispostos a atingir a
meta de viver uma vida orescente e em harmonia com a natureza, como seria
isso? Que passos poderíamos dar de imediato para nos colocarmos mais
próximos dessa visão?
ESTOICISMO PARA TODOS
A de nição de um “bom uxo de vida” é única para cada pessoa. É provável
que os desa os que você enfrenta na vida sejam totalmente diferentes dos
meus. Felizmente, cada um de nós pode aplicar as ferramentas do estoicismo
para seus objetivos particulares. Por exemplo, testemunhei minha esposa
usando a loso a durante uma gravidez difícil. Os médicos passaram todo o
período da gestação nos advertindo sobre o fato de que nossa lha poderia não
sobreviver e que a vida de Christy também estava em risco. Apesar desse futuro
incerto, ela se concentrou no presente, o que fez com que encontrasse alegria
em cada momento. Ela colocou a atenção em seus pensamentos e opiniões,
coisas que controlava, o que a impediu de ser soterrada pelas ansiedades da
vida. A atitude estoica trouxe a paz em meio à turbulência. Os praticantes
usam a loso a para participar plenamente dos relacionamentos, para
encontrar satisfação no trabalho (muitas vezes apesar do tipo de trabalho que
executam) e para administrar as batalhas do dia a dia. Tenho também
encontrado estoicos que usam a loso a para controlar vícios, dores crônicas
ou, como no meu caso, problemas emocionais. Não importa quais sejam os
desa os que surjam em nosso caminho, o estoicismo nos proporciona meios
para prosperarmos ao enfrentá-los.
Para ter acesso a todos esses benefícios, você precisará olhar com clareza para
si mesmo, estar aberto para explorar a perspectiva única que o estoicismo
oferece e disposto a praticá-la com toda atenção. Como disse Musônio Rufo,
um professor estoico romano: “A prática de cada virtude deve sempre vir após o
aprendizado das lições voltadas para ela, ou não fará sentido aprendê-las”.
Aceito isto, vamos dar uma olhada nas muitas ferramentas à nossa disposição.
NO MOMENTO
Reserve um momento para recordar uma situação em que você se sen u
sa sfeito ou feliz.
Que aspectos dessa situação você acha que mais contribuíram para
sua felicidade?
Que estado de espírito permi u que você experimentasse essas
emoções posi vas?
Como você poderia acessar esse estado de espírito em qualquer
circunstância, não apenas em um determinado momento?
O Kit de Ferramentas
De todas as ferramentas estoicas que você receberá, a Dicotomia do Controle é
a mais fundamental delas. Sua premissa: algumas coisas estão sob nosso
controle e algumas coisas estão fora do nosso controle. Os estoicos dividem
todas as situações de acordo com essa ideia e se concentram apenas naquilo que
se enquadra na primeira opção. Essa prática simples representa o núcleo de uma
orientação estoica para o mundo. Ela nos ajuda a decidir onde concentrar a
atenção para que nossas ações sejam e cientes. Todas as práticas, meditações e
ações começam com o treinamento da nossa atenção naquilo que podemos
controlar.
O treinamento estoico se concentra em três disciplinas e quatro virtudes.
As disciplinas fornecem o treinamento necessário para o
desenvolvimento de uma perspec va estoica.
As virtudes dão uma de nição de excelência, para que você tenha
uma visão da direção na qual deve trabalhar.
As três disciplinas parecem ter sido desenvolvidas por Epicteto tanto para
informar sobre a prática estoica quanto para funcionar como uma estrutura em
seu currículo escolar. Sabemos que ela foi in uente o bastante para ter
impressionado Marco Aurélio; ele faz referências claras a essa perspectiva tripla
em seus escritos.
Os estoicos herdaram as quatro virtudes de uma tradição mais antiga, que
remonta pelo menos a Platão e Sócrates, embora seja bem provável que o
esquema seja ainda mais antigo.
DISCIPLINAS
Ofereço aqui uma visão breve das três disciplinas estoicas, que veremos em
detalhe no Capítulo 3 (p. 65).
A Disciplina do Desejo envolve um realinhamento radical dos nossos
valores no sen do de um trabalho interno com o obje vo de desejar
apenas o que está dentro do nosso completo controle. Esse
redirecionamento da atenção nos liberta da necessidade de correr
atrás de coisas que não contribuem para nossa felicidade.
A Disciplina da Ação está relacionada às nossas interações com
outras pessoas. O obje vo é buscar relacionamentos posi vos e
saudáveis com todos que venhamos a encontrar, mesmo sabendo
que é possível que os outros não retribuam essa postura.
A Disciplina do Consen mento diz respeito à forma como encaramos
a vida. Aprendemos a separar nossas reações iniciais ao mundo de
nossos julgamentos nais sobre o mesmo mundo. Recusamo-nos a
trilhar caminhos mentais que levam à nega vidade e, por outro lado,
quali camos nossos pensamentos para nos alinharmos com a
sabedoria.
Em cada uma dessas disciplinas encontraremos diversas técnicas que nos
ajudam a cultivar uma vida mental saudável.
Pense no seguinte: como seria ter uma a tude mental invariavelmente posi va?
VIRTUDES
A virtude é a arte de viver em harmonia com o mundo. O estoicismo vê as
pessoas como parte da natureza assim como qualquer outra coisa o é. Prega que
podemos aprender a interagir com o mundo de uma forma que expressa melhor
nossa humanidade natural e nossa personalidade única. Dessa forma, o objetivo
do estoicismo é tornar-se nossa melhor natureza. Os antigos estoicos tendiam a
usar quatro virtudes primárias como guias para pensamentos e ações. Re ro-me
a elas como:
Sabedoria
Coragem
Jus ça
Moderação
Essa lista não contém os nomes de todas as virtudes. A justiça, por exemplo, é
com frequência dividida nas subcategorias de bondade e imparcialidade.
Veja uma maneira de imaginarmos isso: quando projetamos uma luz branca
em um prisma, todas as cores se tornam visíveis – mas todas elas têm origem na
mesma luz. Do mesmo modo, nossa virtude é uni cada, mas pode ser observada
de forma mais clara através da situação que estamos vivenciando. Por exemplo,
sabedoria é virtude aplicada ao processo de pensamento. Coragem é virtude
aplicada à vida emocional. Justiça é virtude em relação a outras pessoas.
Moderação é virtude quando aplicada às nossas opções. Todas as situações
apresentam oportunidades de praticar a virtude. Quando percebo que outra
pessoa poderia se bene ciar do meu lugar no ônibus, eu me levanto? Quando
tenho uma oportunidade de discutir francamente uma di culdade com um
colega de trabalho, eu a aproveito? A opção de agir com virtude permitirá que
você prospere e viva em harmonia.
Uma crença fundamental que separa o pensamento estoico da maioria das
outras loso as antigas – e modernas – é considerar a virtude como o único
bem. Os estoicos a rmam que só a virtude é positiva em todas as
circunstâncias. A justiça é sempre boa. A sabedoria nunca é ruim. As coisas
que muitos consideram “boas” – dinheiro, fama e até mesmo saúde – podem
trabalhar em nosso benefício, sem dúvida, mas também podem acabar
evoluindo de modo prejudicial. O estoicismo desa a você a se concentrar na
virtude porque, ao dar o melhor de si, você lidará com a vida da melhor
maneira possível.
Pense no seguinte: em sua opinião, qual seria o bem maior da vida?
Regras a Seguir na Vida
Não esqueça: sua cabeça é sua – e de mais ninguém. Se você se concentra
em pensamentos saudáveis e desenvolve opiniões equilibradas sobre sua
situação, estará cul vando emoções posi vas e despertando um
entusiasmo duradouro para viver sua vida da melhor maneira. Estará
encarando a nega vidade pelo que ela de fato é: um desperdício de
energia. Você vai aprender a não permi r mais que o medo, a raiva e
outras ansiedades cresçam dentro de você. Vai descobrir que, além de ser
capaz de enfrentar desa os, muitas vezes você vai achá-los diver dos.
Quando nos movemos nesta direção, o trabalho de sermos nós mesmos
se tornará uma alegria. Para ganhar tudo isso, você só precisa ter as
ferramentas certas e a vontade de usá-las. Vamos começar.
CRONOLOGIA DOS PENSADORES ESTOICOS
CAPÍTULO 2
Uma Rápida Viagem pela História
“Zenão costumava então discursar
andando de um lado para o outro do
conjunto de colunas pintadas, ou estoa...
Os que começaram a vir para ouvi-lo
caram conhecidos como homens da estoa
ou estoicos; e o mesmo nome foi dado a
seus seguidores originais, que de início
haviam sido conhecidos como zenonianos.”
– Diógenes Laércio, Vidas dos
Filósofos Eminentes, Livro 7
O
estoicismo tem sua origem nos gregos antigos, em 300
, mas a
loso a que agora conhecemos foi ltrada pelos romanos que vieram
mais tarde. Olhar para a vida das pessoas que desenvolveram a loso a
pode nos ajudar a compreendê-la de novas maneiras. Os estoicos eram pessoas
reais, como nós. Se puderam criar e praticar uma loso a do orescimento
humano, nós também podemos. Vamos conhecer algumas das pessoas que
estavam por trás disso!
Antes do Estoicismo
Antes de desenvolver o que se tornou conhecido como estoicismo, Zenão de
Cítio estudou muitas loso as. Sua primeira in uência veio do pensador cínico
Crates. Um dos princípios fundamentais dos cínicos vai parecer familiar: o
propósito da vida é viver com virtude. Os cínicos praticavam a virtude
rejeitando os desejos mais convencionais. Zenão também estudou o
platonismo, com Xenócrates e Polemon. Como os seguidores de Platão, Zenão
considerava Sócrates um ser humano exemplar; os estoicos se consideravam
descendentes losó cos diretos de Sócrates. Zenão também estudou os
megarianos, que podem ter in uenciado sua crença na unidade da virtude.
Dessas e de outras in uências de grande riqueza, Zenão desenvolveu algo novo,
uma loso a que prosperou durante quinhentos anos e nunca deixou
inteiramente de estar entre nós.
Os Primeiros Filósofos
As pessoas cuja in uência sobre o estoicismo perdura até hoje estão listadas a
seguir, em ordem cronológica, da primeira à mais recente.
ZENÃO (CERCA DE 334-262
)
“Felicidade é um bom uxo de vida.”
– Zenão, como citado por Estobeu
O que sabemos sobre Zenão de Cí o, fundador do estoicismo, vem de uma
biogra a escrita por Diógenes Laércio, um historiador da An guidade.
Segundo uma história sobre algo que aconteceu durante a juventude de
Zenão, “ele consultou o oráculo para saber o que devia fazer para alcançar
a felicidade na vida e a resposta do deus foi que ele devia assumir a
expressão dos mortos”. Zenão concluiu que isto signi cava que ele deveria
estudar os escritores an gos, e foi assim que brotou seu amor pela
loso a.
Segundo Diógenes Laércio, Zenão era comerciante, e certo dia uma
tempestade fez sua embarcação naufragar. Sem saber o que fazer da vida,
Zenão tomou o rumo de Atenas e foi ter com um livreiro, onde leu um
relato sobre a vida de Sócrates. Impressionado com o que aprendeu, Zenão
perguntou ao livreiro onde poderia encontrar pessoas como Sócrates.
Nesse exato momento, um famoso lósofo cínico, Crates de Tebas, estava
passando por lá. O livreiro apontou para Crates e disse: “Vá atrás dele”.
Podemos não saber exatamente como as coisas aconteceram, mas
sabemos que Zenão chegou a Atenas por volta do ano 312 AEC e, em 300
AEC, deu início à escola estoica. Sua loso a reteve a divisão tripla de lógica,
sica e é ca de seus dias platonistas, embora a sica diferisse
consideravelmente da sica de Platão. A é ca reteve muita coisa dos
cínicos, embora os estoicos fossem menos radicais em seu asce smo.
Zenão escreveu muitos livros, mas restaram apenas os tulos deles. As
primeiras obras estoicas foram perdidas em expurgos losó cos, quando os
livros eram queimados, ou devido à negligência e à ação do tempo. O que
conhecemos de Zenão vem em trechos de citações e outros fragmentos.
Sabemos que Zenão escreveu A República, um livro que descrevia um
mundo estoico perfeito. Zenão fez reivindicações ousadas para seu tempo:
insis a que todas as pessoas deviam ser vistas como cidadãos iguais, o que
incluía igualdade entre homens e mulheres. Zenão acreditava que todas as
pessoas nham o mesmo acesso à virtude, mas poucos chegavam de fato a
aproveitá-lo. Sócrates, Diógenes e o mí co Hércules eram algumas das
poucas pessoas que ele nha na conta de sábios, verdadeiramente
virtuosos. Pode ser por isso que o nome an go de seus seguidores,
zenonianos, nunca tenha se xado: Zenão jamais a rmou que era perfeito.
E a escola recebeu o nome do lugar onde o ensinamento era passado – a
Estoa – o pór co onde as lições eram franqueadas a todos.
ARÍSTON DE QUIOS (CERCA DE 300 A CERCA DE 260
)
“A virtude é a saúde da alma.”
– Aríston
Aríston foi um contemporâneo de Zenão. Sua loso a mostra a grande
diversidade do pensamento estoico desde suas origens. Aríston acreditava
que só a é ca importava. Seus pontos de vista não chegaram a prevalecer,
na medida em que as ideias de Zenão foram cristalizadas pela terceira
liderança da escola estoica, Crisipo, transformando-se no estoicismo
propriamente dito. Embora Aríston pareça ter perdido essa batalha an ga,
acho que sua opção em deixar de lado a lógica e a sica para enfa zar a
é ca prá ca se ajusta a nosso espírito moderno.
CLEANTES (CERCA DE 330 A CERCA DE 230
)
Após a morte de Zenão, o comando de sua escola passou para um de seus
alunos, Cleantes, a quem Zenão legou a con nuidade do ensinamento.
Cleantes começou a vida como boxeador, mas abandonou a carreira para se
tornar um lósofo depois de ouvir as palestras de Zenão. Cleantes
valorizava o trabalho sico e, de estudante, chegou a ser a segunda
principal liderança da escola por meio de trabalho árduo. Trabalhava à
noite como carregador de água para um jardineiro, irrigando a terra ao
caminhar entre o poço e os jardins. Cleantes manteve a Estoa por mais de
trinta anos, expandindo e solidi cando diversas doutrinas de Zenão. Zenão
mandou que seus alunos “vivessem de modo consistente”. Cleantes
acrescentou: “com a natureza”. Supõe-se que tenha escrito mais de 50
obras, das quais, mais uma vez, só temos fragmentos. Uma das obras mais
extensas ainda em nosso poder chama-se “Hino a Zeus”, o que nos dá uma
ideia da relação dos estoicos com seu deus, o Universo. A prece abaixo é
apenas uma parte do hino:
“Para onde quer que seus decretos me
indiquem,
Sigo prontamente, e mesmo que a escolha
não seja minha,
Miserável que sou, ainda devo seguir.
O destino guia os dispostos, mas arrasta os
renitentes.”
CRISIPO (CERCA DE 279 A CERCA DE 206
)
Crisipo foi aluno de Cleantes e a terceira principal liderança da escola
estoica. Sabemos que foi um lósofo brilhante e que expandiu muito os
ensinamentos de Zenão, a ponto de ser chamado de Segundo Fundador do
Estoicismo. Como disse Diógenes Laércio: “Sem Crisipo, não haveria a
Estoa”.
CICERO (106 - 43
)
Em 155 AEC, o então chefe da escola estoica foi a Roma, acompanhado por
outros lósofos. Deixaram uma impressão tão forte que, em meados dos
anos 40 AEC, um famoso estadista romano e orador, Cícero, escreveu vários
livros sobre ideias estoicas. Ele não se considerava um estoico, citando
divergências com sua sica e outras ideias, mas pra cava a é ca estoica e
suas obras transmitem informações que, não fossem elas, teriam sido
perdidas.
SÊNECA (4
- 65
)
Sêneca foi também um polí co romano, conhecido como conselheiro do
imperador Nero nos primeiros anos de seu reinado. Sêneca era um estoico
prá co e, como escritor prolí co, escreveu 124 cartas sobre moralidade e
diversos ensaios que cons tuem um dos mais importantes acervos de
pensamento estoico a que ainda temos acesso.
MUSÔNIO RUFO (CERCA DE 30 A CERCA DE 100
)
Musônio Rufo foi mestre de um estoico bem conhecido, Epicteto. Temos
uma pequena coleção de suas lições, que iluminam os pensamentos
estoicos sobre uma série de assuntos, como o que os estoicos deviam
comer, como deviam se ves r e mobiliar suas casas, como seria o
relacionamento deles com o trabalho e a família. Epicteto declara que seu
mestre não queria que os alunos louvassem suas palavras, mas que
cassem paralisados num silêncio contempla vo. Como dizia Musônio: “A
escola do lósofo é um consultório médico. Você não deve sair de lá
sa sfeito, mas a ito”.
EPICTETO (55 A 135
)
Temos informações sobre Epicteto porque um de seus alunos, Arriano,
transcreveu suas aulas nos Discursos e no Enchiridion. Epicteto começou a
vida como escravo, recebeu alforria e tornou-se um professor estoico. Seria
di cil superes mar sua in uência sobre o estoicismo moderno: foi
provavelmente ele que desenvolveu as três disciplinas. Como verdadeiro
estoico, Epicteto estava sempre focado em mudar a vida de seus alunos.
Não queria que eles confundissem memorização de textos estoicos com o
trabalho real de construir um ego melhor. “Se você está agindo com
harmonia, mostre que está”, dizia ele, “e eu lhe direi que está fazendo
progressos; mas se não existe harmonia, vá embora, e não se limite a expor
suas anotações, droga, vá e escreva você mesmo alguns livros. E o que você
vai ganhar com isso?”.
MARCO AURÉLIO (121
- 180
)
“Não se sinta exasperado, derrotado ou desanimado porque seus dias não
estão repletos de ações sábias e morais. Mas volte a se erguer quando
falha, para celebrar – ainda que precariamente – o comportamento de um
ser humano e abraçar de forma plena a busca em que embarcou.” – Marco
Aurélio, Meditações 5:9
De 161 EC a 180 EC, o imperador romano Marco Aurélio manteve um diário
losó co pessoal. Esse diário, hoje com frequência in tulado Meditações, é
uma das obras estoicas fundamentais que sobreviveram. É através de suas
re exões que entendemos a mente estoica. Seus pensamentos são muito
variados e encontramos alguém que luta com as próprias ideias, que busca
uma sabedoria prá ca e, como imperador, anseia por compreender a
jus ça. Ele também contempla sua vida à luz da imensidão do Universo em
termos de espaço e tempo. Marco Aurélio nos mostra que, a despeito da
posição social do indivíduo, todos podem encontrar a harmonia estoica.
Conheça seus Estoicos
Vamos ver se você consegue recordar a vida dos estoicos. Ligue o fato da vida
com o lósofo que ele representa.
Zenão
de Cí o
A. Começou como escravo, mas ganhou a liberdade e se tornou chefe da escola estoica.
Cleantes B. Estadista romano cujas cartas sobre moralidade cons tuem grande parte dos escritos
estoicos que chegaram até nós.
Crisipo
C. Um mercador naufragado que mudou o curso de sua vida e se tornou lósofo.
Sêneca
D. Filósofo brilhante que foi chamado “o segundo fundador do estoicismo”.
Epicteto E. Imperador romano que escreveu um diário losó co pessoal que ainda temos hoje.
Marco
Aurélio
F. Um homem que fora boxeador quando jovem e que trabalhava durante muitas horas para
sustentar seu aprendizado estoico.
Respostas na p. 214
Ainda Mais Filósofos!
Esses pensadores famosos vieram antes dos estoicos, mas todos tiveram, de um
modo ou de outro, uma in uência signi cativa sobre a loso a estoica.
PITÁGORAS (570-495
)
Se pensarmos em nossas aulas de matemá ca, vamos nos lembrar do
Teorema de Pitágoras. Se o seu professor de Matemá ca tentou tornar as
coisas interessantes, talvez você tenha aprendido que Pitágoras, o
matemá co, era também um líder religioso. Seus pensamentos polí cos e
religiosos veram grande in uência na Grécia an ga e inspiraram muitos
lósofos. Muitos textos estoicos fazem referência a Pitágoras e a seus
Versos de Ouro. Os estoicos desfrutavam, em especial, de uma prá ca
pitagórica que nos solicita uma revisão do nosso dia ao fazer a seguinte
pergunta: “O que z de errado? O que z de bom? O que deixei de fazer
que deve de ser feito amanhã?”.
SÓCRATES (470-399
)
Todos conhecem Sócrates como fundador da loso a ocidental. Os estoicos
relacionaram diretamente sua história a este homem enigmá co e lósofo
modelo, embora sua escola só tenha se desenvolvido quase cem anos
depois de sua morte. A vida de Sócrates inspirou Zenão de Cí o a se tornar
lósofo. O que sabemos sobre Sócrates vem sempre dos escritos de outras
pessoas; ele optou por nada escrever, mas por viver uma vida de diálogo
losó co com quase todos que conheceu. Muitas das opiniões de Sócrates
– que ninguém deseja fazer o mal, que ninguém comete um erro por opção
e que a virtude é su ciente para a felicidade – foram adotadas pelo
estoicismo.
DIÓGENES DE SINOPE (CERCA DE 412-323
)
“E como é possível que um homem que não
tem nada, que está nu, sem casa, sem um
fogo, esquálido, sem um servo, sem uma
cidade, possa viver uma vida que ua
facilmente? Veja, Deus mandou um
homem para nos mostrar que isso é
possível.”
– Epicteto, a respeito de Diógenes de Sinope
Diógenes de Sinope fundou a loso a cínica e, como Sócrates, foi
considerado pelos estoicos que o sucederam como um exemplo supremo
da vida losó ca. O cinismo envolve uma prá ca ascé ca mais intensa que
o estoicismo. Muitos cínicos optam por ter somente as roupas que vestem
e sacri cam seus corpos para mostrar que estão acima do desconforto. O
próprio Diógenes de Sinope dormia em um grande jarro de cerâmica que
encontrou num mercado. A ideia cínica de que tudo, com exceção da
virtude, é completamente insigni cante levava a esta pobreza intencional e
desa o às normas sociais. A nal, se as coisas não são boas nem más na sua
essência, por que inves r nelas? Os estoicos adotariam muito dessa visão,
mas acrescentariam a ideia de que há coisas que, no m das contas, vale a
pena obter. Diógenes de Sinope inspirou os estoicos com sua disposição de
incorporar plenamente suas crenças e desa ar a sociedade em busca da
sabedoria.
CINISMO MODERNO VERSUS
CINISMO ANTIGO
O termo “cínico” (ou “cinismo”) provavelmente evoca o sen do moderno
da palavra, de uma pessoa que é egoísta, descon ada e disposta a
desrespeitar normas sociais para obter vantagens pessoais. Essa visão de
cinismo está tão distante da an ga loso a cínica quanto a moderna
palavra “estoico” se encontra distante dos estoicos an gos. Os cínicos
acreditavam que o sen do da vida era ter uma vida de virtude, como os
estoicos, mas pra cavam o descarte do maior número possível de coisas
materiais para desfrutar de uma tal vida. Eles também desprezavam a
maioria das convenções sociais, não por interesse próprio, mas porque as
encaravam como obstáculos para uma vida virtuosa. Achavam que o
escândalo causado pelo comportamento deles oferecia uma
oportunidade para outras pessoas aprenderem a ques onar o mundo em
torno delas.
Lição de Grego
Conhecer os termos que os estoicos costumavam usar ajuda a entender
melhor sua escola de pensamento.
Eudaimonia, substan vo: felicidade, orescimento humano.
Os estoicos consideram o orescimento humano o objetivo da vida. De nem
isso como “viver de acordo com a natureza”.
Prosoche, substan vo: atenção.
Um aspecto fundamental da prática estoica é uma atenção concentrada no
nosso processo de pensamento.
Pathos, substan vo: um julgamento irracional; uma perturbação da mente.
Os estoicos acreditavam que as emoções negativas ocorrem devido a
julgamentos inadequados sobre o mundo. Práticas éticas estoicas nos reciclam
para que possamos fazer julgamentos fundamentados, eliminando, assim, o
pathos, que também é chamado de paixões.
Eupatheia, substan vo: um julgamento fundamentado; um estado de espírito
saudável.
Estados mentais saudáveis, como a alegria, vêm das crenças fundamentadas
acerca do mundo – e das reações a ele.
Aretê, substan vo: virtude, excelência.
O treinamento para um esforço decidido pela excelência moral pessoal permite
o acesso à eudaimonia, a vida orescente.
Adiaphora, substan vo: indiferentes.
Os estoicos colocam todas as coisas que estão fora de seu controle na categoria
de “indiferentes”, coisas que, em si mesmas, não são boas nem más. Uma parte
fundamental da formação estoica é aprender a discernir entre aquilo que é
verdadeiramente bom daquilo que é indiferente.
Oikéiosis, substan vo: a nidade, liação, afeto.
O estoicismo atua no âmbito de nossa afeição natural por parentes próximos a
m de expandi-la de forma a incluir o amor por toda a humanidade.
Aplicando a Teoria
Vamos usar a técnica de Pitágoras para rever o seu passado mais recente:
o dia de ontem. O ideal é que você pra que isso toda noite, antes de ir
dormir. Primeiro, repasse o que aconteceu no seu dia: o que você acha
que não deu certo? O que você fez bem feito? E, por m, há alguma coisa
que deixou de fazer e que poderia ser retomada amanhã? Comemore
suas vitórias. Tire lições de seus erros para avançar amanhã.
Os estoicos que você acabou de conhecer criaram uma loso a prá ca
que pode ajudá-lo a prosperar. Nos próximos dois capítulos, você
trabalhará com as ferramentas que eles usaram para vencer desa os e
encontrar harmonia em suas vidas. As disciplinas estoicas fornecerão uma
estrutura para compreender o estoicismo e as virtudes direcionarão seu
trabalho losó co.
PARTE II
SEU NOVO KIT DE
FERRAMENTAS
EMOCIONAIS
CAPÍTULO 3
Pensando como um Estoico
“Em todos os lugares, a cada momento,
você tem a opção: aceitar este
acontecimento com humildade, tratar este
indivíduo como ele deve ser tratado,
abordar este pensamento com cuidado,
para que nada irracional entre de forma
sorrateira.”
– Marco Aurélio, Meditações 7:54
Pense Estoicamente
O
estoicismo nos dá as ferramentas para prosperar na vida ao trabalhar com
a mente. Se sua vida mental é saudável, você pode encontrar
positividade e resiliência em qualquer situação. A citação que abre este
capítulo aborda as três disciplinas estoicas. A Disciplina do Desejo o ajudará a
aceitar os eventos com humildade. Novos valores vão liberá-lo para praticar a
moderação e vão ajudá-lo a encontrar coragem para enfrentar os
acontecimentos da vida. A Disciplina da Ação o ajudará a desenvolver um
amor pela justiça e a tratar as pessoas como elas devem ser tratadas. A
Disciplina do Consentimento lhe dará uma perspectiva racional para abordar
cada pensamento com cuidado.
Como um programa de exercícios para o cérebro, as disciplinas treinam sua
mente para que você possa viver uma vida que maximize a felicidade. A atitude
estoica é inabalável. Essa atitude se desenvolve com o indivíduo se envolvendo
com sua comunidade de uma forma razoável e afetuosa, não se retraindo diante
do mundo. Antes de mais nada, nosso objetivo é viver em harmonia, e a
harmonia envolve outras pessoas. Depois de aprender sobre as disciplinas, que
dão estrutura ao estoicismo, você aprenderá sobre as virtudes – as disciplinas
mostram o que fazer e as virtudes mostram a você porque fazê-lo.
Ferramentas Essenciais
As disciplinas, ao lado das virtudes, vão ajudá-lo a cultivar uma atitude
saudável que permitirá que você dê o melhor de si em todas as situações. Você
será capaz de cultivar uma vida emocional positiva e resiliente, que permite um
acesso mais sólido à serenidade e à alegria. Pense nelas como uma estrutura na
qual você pendura seus pensamentos estoicos.
A DISCIPLINA DO DESEJO: QUERENDO O QUE
VOCÊ TEM
“Se você zer aquilo que é adequado à sua natureza e aceitar o que a natureza do mundo tem
para oferecer – contanto que trabalhe para o bem dos outros, de todas as formas possíveis – o
que será capaz de machucá-lo?”
– Marco Aurélio, Meditações 11:13
Epicteto achava que a prática mais importante para um novo estoico era a
Disciplina do Desejo. Aconselhava seus alunos a se concentrarem nesta área,
porque o avanço futuro do estoicismo requeria a atitude saudável que emergiria
da prática da Disciplina do Desejo. O desejo é a expansão de sua mente para
algo que você quer; trata-se do oposto da aversão (ou medo), que é uma
contração de algo.
Epicteto explicou a questão do controle do desejo e da aversão com uma
verdade simples: se você nunca conseguir o que quer, nunca será feliz e, caso se
depare com aquilo que está tentando evitar, perderá qualquer felicidade que
tiver. Para desenvolver uma felicidade consistente, você deve treinar a si
mesmo para desejar apenas o que sempre pode ter e temer apenas o que sempre
pode evitar. A Disciplina do Desejo existe para fazê-lo adotar essa atitude, uma
atitude que se mantém impassível diante dos desa os da vida.
Imagine, por exemplo, os passageiros de um avião durante uma turbulência.
Todos estão passando por uma experiência física semelhante, mas existe toda
uma gama de estados mentais: o homem na poltrona da janela está dominado
pelo medo, a mulher na poltrona do meio está perfeitamente calma e a pessoa
ao lado do corredor está dormindo. Em termos físicos, eles estão
experimentando a mesma coisa – a sensação de turbulência – mas suas
perspectivas são diferentes. O indivíduo medroso se concentra em pensamentos
assustadores, temendo um possível acidente aéreo. A mulher calma usa sua
mente de outra maneira. Se ela for estoica, talvez esteja lembrando a si própria
que não sabe o que acontecerá no futuro e que não pode controlar a
turbulência. Pode compreender que entrar em pânico não ajuda a manter o
avião no céu e que a preocupação pode deixá-la abalada, e assim menos capaz
de ajudar a si mesma e aos outros se a situação piorar. Duas pessoas em dois
estados emocionais muito diferentes. Em qual deles você preferiria estar?
A atitude estoica envolve a compreensão do que podemos e do que não
podemos controlar. Perguntamos a nós mesmos – quais vontades posso sempre
realizar e quais coisas posso sempre evitar? A resposta estoica é que se só
desejarmos fazer o melhor que pudermos (viver uma vida virtuosa) e se só
evitarmos os erros morais (chamados de vícios), podemos ser sempre bemsucedidos, porque são coisas que somos capazes de controlar.
Para administrar nossos desejos e nossas aversões, devemos nos concentrar no
presente. As coisas que controlamos estão aqui, neste momento. Como disse
Sêneca: “Duas coisas devem ser eliminadas: o medo do futuro e a memória de
sofrimentos passados. O passado já não me diz respeito, enquanto o futuro
ainda não me diz respeito”. Muitos de nossos desejos e medos existem lá no
futuro, e ainda assim encontram uma maneira de nos incomodar por meio dos
nossos pensamentos presentes. Logo você vai aprender a “cercar” o presente
para que possa concentrar sua energia no aqui e agora (ver isolar o presente, na
p. 70).
Disciplinar o desejo também signi ca aprender a aceitar o momento presente.
Se queremos agir de forma decidida em um determinado momento, temos de
reagir ao que se encontra diante de nós. Desejar que as coisas fossem diferentes
do que são é um desperdício de energia. A expressão Amor Fati, amor ao
destino, vem de um lósofo mais moderno, Nietzsche. A ideia, no entanto,
permeia a loso a estoica. Se somos capazes de aceitar o mundo como ele é,
não desejaremos coisas que nunca acontecerão. Isso não signi ca desencorajar
a pessoa a lutar pelo melhor; a nal, como teríamos a virtude Coragem se assim
fosse? Mas se não conseguimos chegar a um acordo sobre o que está
acontecendo diante de nós, nossa felicidade será sempre descontinuada.
Colocar sua vida pessoal em um contexto mais amplo, até mesmo universal,
pode ajudar a conter o pensamento negativo, pondo seus desa os em
perspectiva. Os estoicos praticavam diversas técnicas para adotar uma
perspectiva universal, uma das quais vamos praticar daqui a pouco. Primeiro
daremos uma olhada numa série de práticas que vêm da Disciplina do Desejo.
Isole o Presente
“Então lembre-se de que nem o passado
nem o futuro têm poder sobre você.
Somente o presente tem – e mesmo isso
pode ser minimizado. Apenas marque seus
limites.”
– Marco Aurélio, Meditações 8:36
“Marque seus limites” faz referência a uma prática chamada isolar o presente. Ela
proporciona um meio de aliviar o estresse, o pensamento catastró co e outras
ansiedades. Para fazer isso, basta que você se permita habitar no presente,
distanciando-se do futuro e do passado. Respire. Foque sua atenção no
momento presente. O passado acabou. Não é possível saber o que o futuro
trará. Livre-se das ansiedades acerca do futuro; elas só existem na sua
imaginação. Só podemos agir no presente.
Você consegue lidar com este momento?
O que você pode fazer agora para ter pensamentos saudáveis e
tomar inicia vas e cientes?
Oportunidade In nita
Quando seus desejos e suas aversões são coisas ou situações, você vai
pensar em momentos que não proporcionam o que você quer ou
momentos que o confrontam com coisas que você evitaria como “ruins”.
Se parar de se concentrar em desfechos – mas desejar ser o que você tem
de melhor em cada momento – vai compreender que todas as situações
oferecem oportunidades para pra car a virtude.
Quando enfrentar um desa o, pergunte a si mesmo:
Como posso me bene ciar disso?
A que virtude posso recorrer para dar conta deste momento?
Faça uma Pausa e Compare
“Se você teve o vislumbre de algum prazer, tenha cautela e espere um pouco antes de agir.
Pense então no período durante o qual desfrutará o prazer e no período que se seguirá a isso,
quando você irá arrepender-se e car desapontado consigo mesmo. Por outro lado, imagine sua
felicidade se você resistir à tentação e passar a se elogiar pela vitória.”
– Epicteto, Enchiridion 34
Todos temos prazeres que são pouco saudáveis para nós. Pode ser di cil
resis r ao que desejamos num determinado momento. Às vezes podemos
simplesmente evitar a situação em questão, para não carmos tentados,
mas os estoicos sempre nos lembram de que não podemos entregar
nossa felicidade ao acaso. Vamos enfrentar situações em que
precisaremos tomar uma decisão. É aí que fazemos uma pausa e
comparamos. O primeiro passo é encontrar um modo de retardar nossa
escolha. Não podemos nos afastar por um momento? Não podemos dar
uma parada para respirar? Dê a si mesmo tempo para pensar. Compare,
em seguida, duas possibilidades: optar pelo prazer versus optar pela
excelência (virtude). Lembre-se de que o prazer inclui o momento durante
o qual você o desfruta mas também seus sen mentos sobre si mesmo
após o fato. Essa prá ca irá ajudá-lo a dominar os impulsos iniciais e a
tomar uma decisão mais fundamentada.
A Visão de Cima
Sente-se em um lugar confortável, feche os olhos e imagine como é ver a
si mesmo olhando de cima. Sempre olhando para si mesmo, recue e veja
seu bairro. Recue mais e veja sua cidade, seu país, o mundo, talvez até o
Universo. Enquanto faz isso, exponha, em cada estágio, seus desa os com
relação ao que vê. Repare que há outros indivíduos que também estão
enfrentando desa os. Constate que o mundo não está tão concentrado
em você a ponto de fazer que seus erros sejam vistos por todos. Deixe
que, por ora, seus problemas desapareçam na distância. Encontre paz no
mundo e em sua pequena parte dele.
Exis u algo em sua vida que você já desejou ou temeu intensamente
e com o qual agora não se importa mais?
Por que houve essa mudança?
REFLEXÃO
“Não entre em pânico diante da visão de conjunto de toda a sua vida.
Não pense nos problemas que você enfrentou ou naqueles que ainda tem
de enfrentar, mas pergunte a si mesmo, quando cada problema vier: o
que há de tão insuportável ou incontrolável nisto? Sua resposta vai
envergonhá-lo. Lembre-se então de que não é o futuro ou o passado que
pesam sobre você, mas só o presente. Sempre o presente, que se torna
uma coisa ainda menor quando é isolado dessa forma e quando a mente
é cas gada por não conseguir resis r a um objeto tão franzino.”
– MA
C
A
, MED
A
ES
8:36
Essa citação ilustra de forma direta o isolar o presente. Lembre-se de
uma época em que você estava muito preocupado com um determinado
acontecimento mas, depois que tudo acabou, você se deu conta de que a
preocupação era exagerada. Use esse acontecimento em uma nova
prá ca. Imagine como o teria enfrentado muito melhor com o emprego
dessa técnica.
As coisas não teriam sido diferentes se sua energia es vesse no
presente, em vez de perdida em elucubrações sobre o futuro?
A DISCIPLINA DA AÇÃO: O QUE VOCÊ FAZ
“Indiferença com relação aos acontecimentos provocados por causas exteriores. Justiça nas
ações provocadas pela causa que está dentro de você. Em outras palavras, deixe seu impulso
para agir e sua ação terem como objetivo o trabalho de auxílio à comunidade humana, porque
isso, para você, está em conformidade com sua natureza.”
– Marco Aurélio, Meditações 9:31
Temos de tomar decisões e assumir alguns riscos nesta vida, mas agir não
garante que venhamos a obter o que queremos. Como podemos, então, nos
sentir em harmonia se o fracasso é uma possibilidade? A Disciplina da Ação
está concentrada na virtude da Justiça, que abordaremos melhor no capítulo
seguinte. Por ora, saiba que essa disciplina pede três coisas a você:
Primeiro, aprenda a agir com uma “cláusula de reserva” (veremos
mais sobre isso em breve).
Segundo, aprenda a optar por ações que bene ciem tanto você
quanto os outros.
Terceiro, desenvolva um sistema de valores mais saudável que possa
liberá-lo para a prá ca de ações mais justas.
Epicteto usou a seguinte história como um exemplo ideal de justiça. “Que
homem entre nós não admira o dito de Licurgo, o lacedemônio? Pois quando
um de seus concidadãos cegou um de seus olhos e as pessoas lhe entregaram o
jovem para que ele se vingasse como quisesse do delinquente, em vez de se
desforrar, ele o educou, fez dele um homem e o introduziu no teatro. E quando
os lacedemônios manifestaram sua surpresa, ele disse: ‘Quando recebi esse
homem das mãos de vocês, ele era insolente e violento; agora o estou
devolvendo como uma pessoa razoável e com espírito público ’”.
Esse exemplo é o ponto culminante da justiça estoica, em que a pessoa alvo
de violência trabalha para regenerar o agressor em vez de exigir punição. Tal
senso de justiça pode estar muito longe do nosso alcance. Mas o que você pode
fazer agora para tomar medidas que bene ciem a todos?
Cláusula de Reserva
Como você pode realizar uma ação e permanecer centrado se ela não
funciona? Aprendendo a usar a cláusula de reserva estoica. “Hoje à tarde
vou rar as ervas daninhas do meu jardim, se não houver nada que
impeça isso de acontecer.” Esse nal de frase, “se não houver nada que
impeça isso de acontecer”, é poderoso. Não posso dizer com certeza que
vou rar as ervas daninhas do jardim hoje à tarde: pode chover; pode
surgir um problema mais urgente. Se eu não conseguir rar as ervas
daninhas do jardim depois de dizer que iria fazê-lo, poderia car frustrado
ao me dar conta de que as coisas não deram certo. Podemos, é claro, ser
surpreendidos por muitos projetos mais importantes que a jardinagem.
“Se não houver nada que impeça isso de acontecer” abre espaço para a
perspec va estoica. Eu quero fazer x, mas compreendo que não tenho
controle sobre a situação. Se usarmos sistema camente a cláusula de
reserva, encontraremos estabilidade até mesmo quando a vida abala um
ou dois dos nossos projetos.
Um amor pela humanidade molda todas as ações estoicas. Os primeiros
estoicos consideravam que cada um de nós faz parte de um organismo
único, como se fôssemos todos células que juntas compõem um corpo.
Marco Aurélio disse que fomos feitos para trabalhar juntos, como as
arcadas dentárias superior e inferior. Disse também que agir contra os
outros era um ato subversivo, que nos ex rpava de nossa comunidade
natural. No capítulo seguinte vamos discu r a Jus ça e nos estender
sobre nosso amor pelas pessoas.
REFLEXÃO
“Faça todo possível para convencê-los. Mas aja por conta própria, se a
jus ça assim o exigir. Se for desa ado pela força, recue num gesto de
aceitação e paci cação. Aproveite o recuo para pra car outras virtudes.
Mas não se esqueça de que nossos esforços estão sujeitos às
circunstâncias, seu obje vo não é fazer o impossível. Qual é então o
obje vo? Tentar. E ter sucesso. O que você se propõe a fazer é cumprido. ”
– MA
C
A
, MED
A
ES
6:50
Quando um estoico para? Por que abandonar um projeto quando você
vê o mundo como indiferente e tem a coragem de agir apesar dos
obstáculos? Nessa citação, Marco Aurélio destaca que há momentos em
que a resistência a nossas inicia vas forçará uma reavaliação de nossas
possibilidades. Ele apresenta duas prá cas como soluções para o dilema,
a que chamamos de oportunidade in nita e a cláusula de reserva. A
oportunidade in nita nos lembra que todo desa o apresenta uma chance
de pra car a virtude. O imperador usa sua fracassada tenta va de fazer
jus ça como uma oportunidade para pra car a aceitação e a paci cação.
Ele também usa a cláusula de reserva para mostrar que nunca fracassou
de fato. Ele esperava por um determinado resultado, mas também queria
agir de forma correta e preservar o que nha de melhor. Seu obje vo era
agir da melhor forma possível e – nisso – ele teve êxito.
Quando você tem de decidir se deve ou não abandonar um determinado
projeto, faça duas perguntas a si mesmo:
Fiz o melhor que podia fazer?
Nessa nova situação, que oportunidades tenho de mostrar o que
tenho de melhor?
Agora faça o que sabedoria lhe diz que é o melhor.
Duas Missões
Você já aprendeu a cláusula de reserva, mas essa não é a única expressão
que pode rapidamente alinhá-lo com o pensamento estoico. Chamo esta
nova prá ca de duas missões. A a tude estoica permite que você desfrute
a vida, com seus desa os e tudo o mais, e con nue feliz. Ajuda ter uma
técnica que o lembra do obje vo de levar uma vida virtuosa e
gra cante. Aqui está um exemplo.
Pense no ato de guiar um carro. Pode haver trânsito pesado, você pode levar
uma fechada ou errar numa conversão. Lembre-se de que você quer dirigir, mas
também quer continuar vivendo a vida contente.
Sempre que estiver pronto para fazer alguma coisa, pense no que vai
enfrentar e que obstáculos novos poderão surgir. Adicione, então, uma frase a
seu objetivo maior: “Também quero estar contente”, “Quero estar em harmonia
com a vida” ou “Quero proteger o que tenho de melhor”.
Duas Alças
“Tudo tem duas alças: uma pela qual pode ser carregado e outra pela qual não pode. Se seu
irmão age de maneira injusta, não tente controlar a situação usando a alça da injustiça, pois a
situação não poderá ser conduzida por ela; procure a outra alça, sabendo que ele é seu irmão,
que é parte da sua família e que você conduzirá tudo de modo satisfatório.”
– Epicteto, Enchiridion 43
A metáfora das duas alças irá lembrá-lo de que o modo de abordagem de um
desa o é uma escolha. No exemplo de Epicteto, você pode retribuir injustiça
com injustiça ou pode optar por colocar em prática o que tem de melhor. Isso é
sempre uma escolha sua. Em qualquer situação, em particular nas situações
desa adoras, lembre-se de que há duas maneiras de interagir e escolha a melhor
entre elas.
A Orientação Matinal
Chegaremos a amar as pessoas, mas, por ora, gostaria que você se
empenhasse apenas em tolerá-las. Marco Aurélio tem uma poderosa
meditação ma nal que o ajudará a pra car o estoicismo desde o
momento em que acorda. Leia a citação seguinte, de Meditações 2:1, e
adapte-a à sua própria voz. Comece sua manhã com esses pensamentos
e, quando se sen r esgotado, lembre-se novamente deles.
Quando acordar pela manhã, diga a si mesmo: as pessoas com quem vou
me relacionar no dia de hoje serão introme das, ingratas, arrogantes,
desonestas, ciumentas e mal-humoradas. Elas são assim porque não
conseguem dis nguir o bem do mal. Mas eu vi a beleza do bem e a feiura
do mal e percebi que o malfeitor tem uma natureza parecida com a minha
– não vinda do mesmo sangue e nascimento, mas da mesma mente, e
possuindo uma parcela do divino. E assim nenhum deles pode me ferir.
Nenhum pode me envolver na feiura. Nem posso eu sen r raiva desse
meu parente ou odiá-lo. Nascemos para trabalhar juntos como pés, mãos
e olhos, como as duas arcadas dentárias, a superior e a inferior. Obstruirnos uns aos outros não é natural. Sen r raiva de alguém, virar-lhe as
costas: essas coisas não são naturais.
Pense em alguém que você conhece, ou de quem apenas ouviu falar, que
parece decidir suas ações com base no bem de todos, não apenas no dele.
O que você acha que orienta as decisões dessa pessoa?
A DISCIPLINA DO CONSENTIMENTO:
ACEITANDO A SI PRÓPRIO
“As pessoas não se sentem incomodadas
com as coisas, mas, sim, com a opinião
que têm sobre elas.”
– Epicteto, Enchiridion 5
A Disciplina do Consentimento treina você para prestar atenção ao seu
processo de pensamento e cultivar uma mente saudável. Consentimento, no
estoicismo, signi ca dizer sim às informações que recebemos. O estoicismo pede
que você pare e pense sobre suas respostas à vida, em vez de permitir que o
instinto e o hábito as controlem.
Há uma história sobre um professor estoico que estava viajando de barco
quando uma enorme tempestade ameaçou virar a embarcação e afogar os
tripulantes. Um dos passageiros notou que o estoico cou pálido, assim como
todo mundo, mas, ao contrário dos demais, não mostrava medo. Depois que a
tempestade acabou, o passageiro questionou o estoico. “Parecia que você estava
assustado, vi seu rosto car pálido. Isso não vai contra o que ensina?” O estoico
explicou que nossas reações iniciais não dependem de nós, são reações naturais
a um evento repentino. O que o professor aprendera com o estoicismo fora a
aceitação do fato de que uma tempestade estava acontecendo. Ele nunca
admitia outros pensamentos, como “isso é perigoso” ou “vamos afundar”,
preferindo se concentrar em manter todos a salvo. Aprender a guiar nosso
processo de pensamento dessa maneira vai nos permitir colocar as tensões de
lado e focar nossa energia naquilo que podemos controlar.
A Disciplina do Consentimento requer sua atenção. Os estoicos veem o
consentimento como um processo de três etapas:
Primeiro, algo acontece com você (impressão inicial).
Em seguida, você reconhece o que aconteceu (representação
obje va).
Finalmente, você acrescenta sua própria visão sobre os
acontecimentos (juízo de valor).
É um processo simples, mas que, sem treinamento, muitas vezes nos
desorienta. Você já aprendeu várias técnicas, de frases curtas a meditações mais
longas, que requerem que você compreenda qual é o momento de usá-las. Se
você não percebe a tensão a que está submetendo seu corpo quando alguém diz
algo agressivo, como vai se livrar dela?
Veja este exemplo. Quando está sozinho em casa, você ouve um barulho do
lado de fora. Ouvir o barulho e perceber sua reação instintiva é a impressão
inicial. A representação objetiva é quando seu cérebro diz: “Acabei de ouvir
um barulho lá fora”. Por enquanto, tudo bem, você simplesmente reconheceu a
realidade do evento sem adicionar nada a ele. Mas e se sua próxima etapa, o
juízo de valor, levá-lo a perguntar: “Estou em perigo?”. Você adicionou este
pensamento, que não é necessariamente verdadeiro. É aqui, durante o juízo de
valor, que você pode começar a produzir ansiedade e estresse, pensando coisas
desagradáveis. A Disciplina do Consentimento pede que você faça uma pausa
na segunda etapa. Admita a representação objetiva, mas diga não a quaisquer
outros pensamentos que comecem a se construir sobre essa impressão. Dê a si
mesmo um espaço para avaliar melhor a situação.
Você é Apenas uma Aparência!
“Você é apenas uma aparência, e de modo algum é aquilo que parecer
ser.” Essa frase nos foi dada por Epicteto especi camente para ajudar com
a Disciplina do Consen mento. Sempre que um juízo de valor irresis vel
se forma em sua mente, faça uma pausa e repita essa frase. Diga não ao
juízo de valor até que o tenha examinado melhor.
Pondo entre Parênteses
Outro método de aplicação da Disciplina do Consen mento é pôr entre
parênteses a impressão inicial, o que signi ca separá-la de qualquer outra
coisa com o obje vo de suspender o julgamento. Olhe com clareza para o
evento, admita o que ele aparenta ser. Depois disso, você pode “dizer
mais alguma coisa”. Faça perguntas estoicas básicas como: “Está sob meu
controle?”. Isso permite uma orientação mais clara e um julgamento mais
fundamentado.
Isole a Si Mesmo
O exercício é similar ao isole o presente da Disciplina do Desejo. Agora
estamos trazendo à mente o que é mais importante sobre nós – nossa
capacidade de controlar nossos pensamentos, ações, desejos e aversões.
Separe mentalmente este seu aspecto do resto do mundo, lembrando-se
de que só esta parte de você está plenamente sob seu controle. Pare um
momento e pense apenas nesta parte de você; sua vontade, que
direciona seus pensamentos e ações. Liberte-se de in uências externas
para que possa escolher a melhor ação para você.
Sabedoria é a virtude associada com a Disciplina do Consen mento. À
luz do que acabou de aprender, como você vê a sabedoria relacionada a
essas prá cas?
NO MOMENTO
Reveja os exercícios anteriores. Quais deles você pode usar ao longo do
dia e quais funcionam melhor como prá cas programadas?
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CONSENTIMENTO, DESEJO E AÇÃO
No mundo real, a vida é confusa e as disciplinas não se mantêm separadas. A
maioria dos desa os exige que você faça um uso adequado do consentimento,
ponha o foco em seus desejos da maneira certa e se concentre na melhor ação
possível.
E se um estranho grita com você? Você pode se assustar ou car vermelho.
Você terá que recorrer a práticas como se você fosse apenas uma aparência e abrir
parênteses para evitar julgamentos errados. A Disciplina do Desejo lembra que
você não precisa evitar o con ito, mas deve evitar a má reação ao con ito.
Podemos lembrar a nós mesmos que essa é uma das in nitas oportunidades de
praticar a virtude. À medida que você opta por reações desse tipo, as duas
missões vão centralizá-lo e, se você praticou a meditação matinal, poderá até
mesmo dizer: “Ei, eu sabia que isso poderia acontecer e estou preparado”.
As disciplinas podem ser praticadas separadamente e podemos reservar um
tempo para trabalhar em cada uma delas, mas no dia a dia precisaremos
escolher a melhor prática para cada situação. Quanto mais você pratica, mais
suas ferramentas estarão disponíveis quando precisar delas. Essa determinação
vai ajudá-lo a superar desa os e a se conservar em harmonia no dia a dia.
“Aqui está o que basta para você: o julgamento que você está trazendo para in uenciar a
realidade neste momento, desde que seja objetivo; a ação que você está levando a cabo neste
momento, desde que seja cumprida a serviço da comunidade humana; e a disposição interna em
que você se encontra neste momento, desde que seja uma disposição de alegria em face da
conjunção de eventos provocada por uma causalidade externa.”
– Marco Aurélio, Meditações 9:6
Reserve um momento para decidir como você gostaria de praticar as
disciplinas. Que exercício você gostaria de praticar amanhã para começar a
incorporar a mentalidade estoica?
O OPOSTO DA DISCIPLINA
Técnicas losó cas são úteis, mas não são o objetivo nal. O estoicismo não é
uma checklist que devemos seguir. Você não pode simplesmente marcar as
práticas que já tentou e dizer: “É isso, conquistei o estoicismo”. Em vez disso,
investigue sua mente. Suas intenções são virtuosas? Você está ganhando
perspectivas sobre suas ações? Você está prosperando? Se sim, é porque está
exercitando as disciplinas de forma e caz.
Observe que, à medida que melhoramos, podemos ser tentados a exigir o
mesmo de outras pessoas. Reprima esse impulso. Encare o padrão que
desenvolveu para si mesmo como algo pessoal. Infelizmente, tenho visto
autoproclamados estoicos segregarem as pessoas por seu pensamento ilógico ou
inclinação para aceitar emoções negativas. Uma pessoa procurando ajuda em
um fórum estoico poderia admitir: “Estou lutando contra a ansiedade e não sei
o que fazer”. As respostas dadas às vezes são equivalentes a “simplesmente pare
de car ansioso” ou mesmo “pare de ser tão fraco”. Espero que você já seja
capaz de entender a insensibilidade dessas respostas. Epicteto disse: “Então, se
descobrirmos que somos, ao mesmo tempo, afetuosos e também atentos ao que
é racional, podemos declarar com segurança que praticamos o que é certo e
bom”. À medida que desenvolvemos nosso raciocínio, é também importante
que expandamos nossa compaixão, em vez de apontarmos os dedos para aqueles
que não seguem o mesmo caminho.
Você está prestes a deixar para trás a formalidade da disciplina pela arte da
virtude. Os exercícios que fez têm um objetivo: levá-lo à excelência pessoal,
também chamada virtude. Os estoicos consideram a virtude o único bem
absoluto, a única coisa que é sempre saudável, o único caminho que lhe
permitirá prosperar de forma contínua. Traga consigo seu conhecimento das
disciplinas enquanto damos uma olhada no verdadeiro foco dessas práticas
mentais.
CAPÍTULO 4
Agindo como um Estoico
“Nunca pare de esculpir sua própria
estátua, até que brilhe o esplendor da
virtude.”
– Plotino, Enéadas
Ações Estoicas
N
o capítulo anterior, você conheceu ferramentas úteis para ajudá-lo a
realizar o trabalho de levar a vida. Agora você vai descobrir o tipo de
trabalho que está destinado a fazer. Como é você em seus melhores
momentos? Como se sente? Que ações realiza? Como se relaciona com as outras
pessoas? Ao desvendarmos a virtude, você começará a visualizar o que signi ca
a excelência pessoal para você.
A virtude signi ca excelência, o melhor exemplo de quem você pode ser. Os
estoicos tinham muitas metáforas para descrevê-la. Uma de minhas favoritas
vem de Cícero, que disse que os estoicos se referiam à virtude como
“amadurecimento”. Frutas maduras são frutas no seu melhor momento, mas a
fruta só ca madura por pouco tempo. Amadurecimento é uma metáfora
notável para a visão estoica da virtude. A virtude moral, como o
amadurecimento, não é algo que pode ser depositado em uma conta bancária –
você não pode aplicar uma virtude na segunda-feira e retirá-la mais tarde
naquela semana. Só podemos ser virtuosos, ou excelentes, em cada momento
presente. No minuto seguinte, podemos atingir de novo a excelência ou
podemos fracassar. Temos in nitas oportunidades para exercer a virtude.
O lósofo moderno Pierre Hadot de ne as virtudes do seguinte modo:
Sabedoria, “a ciência do que deve ou não deve ser feito”.
Coragem, “a ciência do que deve ou não deve ser tolerado”.
Jus ça, “a ciência do que deve e não deve ser distribuído”.
Moderação, “a ciência do que deve ou não deve ser escolhido”.
A antiga escola estoica se referia aos seus ensinamentos como ciência, mas a
virtude não é encontrada em uma fórmula: é uma arte. O básico da virtude
pode ser ensinado, mas você tem de fazer o trabalho – tanto para melhorar
quanto para aprender a se expressar por meio desse trabalho.
Virtudes Estoicas
As práticas encontradas nas disciplinas existem para aprimorar a nossa virtude;
a estrutura delas é importante, mas só se as usarmos para reforçar nosso
potencial. Uma dançarina de balé pratica todo dia, mas sua arte é encontrada
através da combinação de habilidade técnica e expressão pessoal. Trabalhar
com a virtude nos abrirá para a arte de viver.
Os estoicos herdaram as quatro categorias de virtude – Sabedoria, Coragem,
Justiça e Moderação – de uma história mais profunda. Platão descreveu as
virtudes de um modo similar ao que zeram estoicos mais tardios, mas os
estoicos insistiram na ideia de que as virtudes não eram separadas, como
espécies diferentes, mas entrelaçadas, como um todo. As virtudes implicavam
uma à outra: a Sabedoria é necessária para a Justiça; a Justiça informa a
Moderação, e assim por diante. Contudo, pensar sobre as expressões
particulares da virtude nos ajudará a encontrar clareza no que diz respeito a
nossas opções. Vamos, então, dar uma olhada nessas virtudes e descobrir como
podemos trazê-las para nossa vida.
SABEDORIA
A Sabedoria (sophia) está mais intimamente associada à Disciplina do
Consentimento. Os estoicos consideram a Sabedoria uma arte prática e, em
função disso, ela é às vezes traduzida como prudência. Sabedoria se coloca em
oposição à inconsciência. Somos sábios quando praticamos ações re etidas,
ponderadas, que levam a um bom uxo na vida. Quando pensamos em
Sabedoria, pode ser útil observar como ela foi mais tarde subdividida em:
bom senso
boa avaliação
perspicácia
discrição
desenvoltura
O papel fundamental da Sabedoria é conduzi-lo para o bem: concentrar sua
atenção em pensamentos, opiniões, desejos saudáveis e aversões. A outra
função da Sabedoria é guiar suas decisões sobre as coisas da vida. Devo escolher
isto ou aquilo, devo fazer isto ou aquilo?
A Sabedoria requer atenção mental consistente. Você deve se esforçar para
examinar seu processo de pensamento. A prática da Sabedoria exige a
compreensão de que não precisamos aceitar a primeira reação que surge em
nossa mente: podemos criar um espaço entre nossa reação e nossos próximos
passos. Tornando a focar nossa atenção na Disciplina do Consentimento, é
possível observar como essas práticas se alinham de forma bastante próxima
com essa virtude.
Pense no seguinte: quem pode ser considerado como um exemplo de Sabedoria prá ca em sua
vida, e por que essa pessoa lhe chama a atenção?
EXERCÍCIO DE SABEDORIA:
DEFINIÇÃO FÍSICA
Este exercício tem como obje vo despi-lo de seus sen mentos pessoais –
e talvez irracionais – referentes a seus desejos. Pensar sobre algo que
queremos nos ajuda a ter uma ideia clara do exercício. Você quer esses
tênis caros? São apenas calçados: o couro se des na a proteger seus pés.
Se você comprá-los, eles vão se desgastar, vão car manchados e vão
acabar virando lixo. Vale realmente a pena se estressar por causa de um
par de tênis? Epicteto pediu que seus alunos imaginassem que nham
uma xícara favorita. E o que é essa xícara, no nível mais elementar? É
cerâmica. É usada para colocar bebidas. Não é inquebrável. Ele pediu para
que os alunos esquecessem pensamentos do po “tem uma pintura tão
bonita” ou “foi um presente de aniversário” para que fossem capazes de
vê-la apenas como uma xícara. Uma xícara pela qual não vale a pena
comprometer nosso bom uxo de vida caso ela se quebre.
Quando algo se apresenta a você, em especial se esse algo aparenta ser
arrebatador, pare e de na aquilo da forma mais básica possível. Não
acrescente juízos de valor. Afaste a mís ca em torno da coisa em questão
para ser capaz de dar os passos seguintes com a mente limpa.
CORAGEM
Coragem (andreia) é o domínio sobre seus medos. Coloca-se em oposição à
covardia. A coragem é uma das duas virtudes ligadas à Disciplina do Desejo. Se
não continuarmos concentrando nossos desejos e aversões em coisas do mundo
externo, mas batalharmos pela virtude, libertaremos nosso poder de agir contra
o intolerável. Os estoicos dividem a Coragem em:
resistência
con ança
nobreza
alegria
empenho
Pense em algumas coisas que você evita. Eu costumava evitar o con ito
emocional. Como o con ito me trazia ansiedade, eu aprendi a ngir que estava
bem ou a tentar fazer o mínimo possível para voltar ao status quo. Essa péssima
estratégia levou a resultados negativos, tanto na minha vida pessoal quanto na
minha vida pro ssional. As tensões se acumularam até fatalmente chegarem a
uma situação crítica. O estoicismo me ensinou que eu não tinha
responsabilidade direta sobre as reações de outras pessoas. Só era capaz de
controlar como eu pensava e agia; se zesse isso de forma correta, a
probabilidade de que os outros agissem melhor também aumentava. A atitude
estoica me deu Coragem. Eu não evitava mais as reações dos outros. Em vez
disso, evitava a covardia, a hesitação e o medo. Fazia isso tanto me esforçando
para dar o melhor de mim em cada situação quanto tirando o melhor proveito
de cada situação. À medida que praticamos a Disciplina do Desejo e Aversão,
ganhamos Coragem. Lembre-se, nada pode ser ruim para nós se zermos o que
é certo segundo nossa natureza e se nos esforçamos ao máximo para aceitar
nossas circunstâncias.
Pense no seguinte: lembre-se de um período na sua vida em que você demonstrou Coragem. Por
que esse momento despertou sua Coragem?
EXERCÍCIO DE CORAGEM:
PREMEDITAÇÃO DE DESAFIOS
Sêneca escreveu certa vez: “Algo que já era esperado traz um choque
menor”. Uma prá ca estoica comum consiste em visualizar o pior cenário
possível em uma determinada situação. Isso ajuda a limpar a mente.
Quando vemos o desa o de um ponto de vista estoico, se um evento
similar ocorrer no futuro, poderemos nos concentrar mais facilmente em
viver de modo virtuoso.
Visualize um evento que você gostaria de evitar. Que detalhes
especí cos tornam esse evento uma preocupação? Eles estão sob seu
controle? Se não estão, o que está sob seu controle? Qual seria o melhor
meio de enfrentar esse desa o? Quem você seria depois de sobreviver a
isso?
JUSTIÇA
Justiça (diakaiosunê) diz respeito à Disciplina de Ação. A ideia de Justiça
estoica é mais ampla do que nossa de nição comum da palavra; signi ca mais
do que apenas cumprir a lei. Às vezes é traduzida pelos estoicos como
moralidade, pois abrange todas as nossas interações com os outros. O estoicismo
ensina que todas as pessoas são valiosas e destinadas a trabalhar juntas. A
justiça estoica nos ensina a trabalhar com os outros, mesmo que eles às vezes se
oponham a isso.
Crisipo (citado por Cícero em De Of ciis) fornece parte da ideia que está por
trás do termo na seguinte citação: “Aquele que está participando de uma
corrida deve se esforçar, se empenhar com o máximo de sua capacidade para
sair vitorioso; mas é totalmente errado fazer o concorrente tropeçar ou
empurrá-lo. Na vida, portanto, não é injusto que alguém busque para si o que
possa resultar em seu benefício, mas não é certo tirá-lo de outras pessoas”.
Nesse exemplo, estamos competindo com outros, mas temos de garantir que a
competição seja justa.
Justiça equivale à cooperação. Como diz Marco Aurélio: “Somos feitos para a
cooperação, como os pés, como as mãos, como as pálpebras, como as arcadas
dentárias superior e inferior. Agirmos uns contra os outros, então, é contrário à
natureza”. Encontramos esse vínculo em algumas das palavras que os estoicos
escolheram para descrever a Justiça:
hones dade
equidade
jogo limpo
boa vontade
benevolência
gen leza
Mostrar-se correto com os amigos é natural, mas e com os inimigos? O
estoicismo diz que não devemos car irritados ou com raiva dos que agiram
errado conosco. É uma máxima estoica que ninguém é voluntariamente mau.
Quem nos insulta ou rouba está fazendo isso porque acha que está fazendo algo
bom para si mesmo. Epicteto diz que um estoico há de ser “paciente, gentil,
delicado e misericordioso, inclusive com alguém em estado de ignorância, que
cometeu um erro ao se defrontar com coisas importantes”. Ele não será duro
com ninguém, pois terá compreendido perfeitamente as palavras de Platão:
“Toda alma é privada da verdade sem querer”.
Pense no seguinte: como seriam seus relacionamentos se suas ações vessem por base a
compreensão estoica da Jus ça?
EXERCÍCIO DE JUSTIÇA:
A ARQUEIRA
Quando trabalhamos pela Jus ça, geralmente queremos um determinado
resultado. O estoicismo preconiza que suas ações devem ser justas
mesmo que você nunca alcance os resultados que espera. Uma imagem
que pode ajudar a desenvolver essa a tude é a de uma arqueira. Imagine
uma arqueira. Ela escolhe um alvo. Ela puxa o arco. Ela solta a echa. Que
parte desta situação a arqueira controla? Uma rajada de vento pode
desviar a echa do alvo. O alvo pode se mover. A arqueira tem de se
concentrar não em acertar o alvo, mas em a rar em linha reta.
Essa é uma imagem da virtude. Como você visa aos resultados apenas,
entenda que o que você controla são apenas suas intenções e as ações
derivadas delas. Concentrar-se em suas próprias ações lhe dará a melhor
oportunidade de alcançar obje vos externos.
MODERAÇÃO
Moderação (sôphrosunê) é o controle sobre os desejos e, juntamente com a
Coragem, é um resultado esperado da prática da Disciplina do Desejo. A
moderação se coloca em oposição ao excesso. Se desejamos apenas a virtude,
podemos ser razoáveis no que queremos e generosos com o que nos foi dado. A
moderação pode ser dividida em:
adequação
modés a
autocontrole
Os estoicos encaravam a vida como um banquete. Imagine-se em uma festa
onde o an trião oferece grande fartura de comida e bebida. Pense em vinhos
caros, pratos de dar água na boca e sobremesas espetaculares. Todos estão
pegando pratos e copos e avançando nervosos para enchê-los. Como você vai
agir? Vai empilhar comida no seu prato para não correr o risco de perder
alguma coisa? Vai encher o copo até a borda sabendo que a quantidade de um
determinado vinho é reduzida e que todos querem provar dele? Se você deixar
de comer a sobremesa que está cobiçando, isso vai arruinar sua noite? Se
conseguir chegar até ela a tempo, vai se servir de uma quantidade tão grande a
ponto de fazer com que não seja su ciente para todos? Epicteto diz que um
estoico não desejará essa sobremesa antes que lhe seja servida e que, portanto,
não se perturbará se isso nunca acontecer. Se, no entanto, a sobremesa vier, ele
não se servirá tanto dela a ponto de deixar que outros não consigam prová-la.
Além disso, quem realmente entende o estoicismo, poderá preferir deixar
passar a sobremesa, mesmo que a sobremesa chegue até ele. Esses estoicos,
a rma Epicteto, são dignos de governar com os deuses! A metáfora do
banquete deve ser aplicada a todas as nossas interações. Se direcionarmos nosso
desejo para sermos o que temos de melhor, não vamos nos concentrar em
conseguir coisas, mas sim em usar as coisas que já temos.
Outro meio de compreender a moderação é pensar em si mesmo como um
hóspede na casa de outra pessoa. Como você encara as coisas quando sabe que
só as está pegando emprestado? Todas as coisas são impermanentes. O que
temos hoje cará gasto, pode quebrar ou ser roubado, e não será seu para
sempre. Se você vive como se as coisas fossem permanentes, estando em um
mundo onde isso nunca é verdade, vai sofrer ao perdê-las. Essa dor tem origem
em pensamentos fantasiosos. Se presumirmos que uma boa saúde é nosso
direito, mesmo um simples resfriado vai parecer injusto e não reagiremos nada
bem a ele. Se acreditamos que nosso emprego vai durar para sempre, uma
dispensa vai nos arrasar. Mas não tem de ser assim. Se aceitarmos que as coisas
nos pertencem só por algum tempo, poderemos nos sentir felizes enquanto as
possuímos e não desmoronar quando elas se forem.
Pense no seguinte: você consegue iden
um grande impacto?
car uma área de sua vida em que a Moderação teria
EXERCÍCIO DE MODERAÇÃO: AMOR
FATI[ 01 ]
Como vimos na Disciplina do Desejo, o amor ao des no é uma a tude
fundamental para construirmos a Moderação em nossas vidas.
Pare por um momento para recordar uma época da sua vida em que as
coisas não estavam se dando da forma como você queria, mas no nal
acabaram dando certo. De que forma o desa o perturbou suas emoções
posi vas? Poderíamos, em retrospecto, aplicar uma a tude estoica à
situação? Como essa a tude afetaria nossos desejos e nossas aversões?
O OPOSTO DA VIRTUDE
À medida que vamos descobrindo o que a virtude signi ca para nós, é útil ter
algo para nos avaliarmos com relação a ela. Em uma de suas cartas, Sêneca
descreve o estoicismo da seguinte maneira: “Nenhuma escola tem mais
bondade e gentileza; nenhuma tem mais amor pelos seres humanos nem mais
atenção ao bem comum. O objetivo que nos é atribuído é o de sermos úteis,
ajudar outros e cuidar não só de nós, mas de todos em geral e de cada um em
particular”. Pode ser difícil identi car nossas próprias falhas. Não temos o
auxílio de um professor estoico que possa apontar nossos pontos fracos e nos
pressionar para sermos melhores. Voltemos, então, vez por outra, à descrição de
Sêneca. Estamos nos tornando pessoas que se enquadram na sua descrição? Se
sim, estamos fazendo um ótimo trabalho. Continuemos assim.
NO MOMENTO
Os estoicos procuravam modelos de virtude nas pessoas que conheciam,
em guras famosas do passado e até mesmo nos mitos.
Que pessoa, ou mesmo personagem c cio, melhor exempli ca para
você uma vida bem vivida?
INDIFERENTES
Quando os estoicos dizem “a virtude é o único bem”, eles estão falando sério.
Os estoicos colocam tudo, qualquer coisa que não seja uma opinião moral, um
pensamento ou ação numa categoria chamada os “indiferentes”. Não se trata de
uma categoria emocional, que possa ser confundida com “indiferença”; nunca é
sugerido que nos desliguemos da vida. Rotular tudo que foge ao nosso controle
como “indiferente” indica nosso reconhecimento de que tais coisas, em si
mesmas, não podem fornecer uma felicidade duradoura. Ainda assim, levamos
nossa vida e temos de tomar decisões sobre como vivê-la. O estoicismo nos diz
que existem coisas que, sendo tudo que há em volta igual, faria sentido preferir
sobre outras. Preferir, por exemplo, saúde e bem-estar físico em vez da doença.
Os estoicos chamam as coisas que geralmente nos bene ciam de indiferentes
preferenciais e coisas que muitas vezes são prejudiciais às pessoas de indiferentes
não preferenciais.
Aqui está uma lista de coisas indiferentes feita por Epicteto:
seu corpo
sua propriedade
sua reputação
seu trabalho
tudo o mais que não for de sua responsabilidade
Mas essas coisas não importam? É claro que sim! O valor delas, no entanto, é
bem diferente do valor da virtude. A sabedoria atua sempre em seu benefício.
A coragem sempre o ajudará. Seu trabalho? É muito bom receber um salário,
mas um emprego também pode implicar em demandas de seu tempo capazes de
prejudicar seu bem-estar. Você pode pensar que seu corpo está envolvido em
sua felicidade de forma bem direta – e de fato está! Mas você também pode
recordar momentos em que seu corpo, ou como você resolveu usá-lo, atrasou
sua vida. Os indiferentes estoicos lhe dão clareza. Reconhecer algo como
indiferente nos ajuda a olhar além da própria coisa, para o modo como a
utilizamos. Nossas opções sobre coisas indiferentes contribuem para uma vida
saudável.
Pedi muitas vezes para que você dividisse as coisas em o que está sob seu
controle e o que não está sob seu controle. Esse exercício separa você dos
indiferentes. À medida que nos desenvolvemos nessa prática,
compreenderemos que as coisas que não controlamos também não têm
controle sobre nós, mas opiniões, pensamentos e ações resultam de opções
nossas e nada nem ninguém pode in uenciá-los sem o seu consentimento. Isto
mudará seu relacionamento com indiferentes; você descobrirá que o valor que
possuem não é encontrado dentro deles, mas está baseado em como você optou
por utilizá-los.
REFLEXÃO
“Se não sabemos para que porto estamos navegando, nenhum vento é
favorável.”
–S
ECA,
CA
AS DE
M ES
C
71
Estamos tentando chamar a atenção para o que temos de melhor. Em
diferentes áreas da vida – nossos pensamentos (Consen mento), nossas
vontades (Desejo) e nossas opções (Ação) – estamos a cada momento
tentando mostrar excelência. Pode ser ú l visualizar este nosso eu
proeminente, nosso eu virtuoso.
Quem você vê quando imagina o que tem de melhor?
O que se coloca entre você e este seu “outro” eu?
Que passos você pode dar para se aproximar dessa visão? Um
lembrete nal: o estoicismo diz que seu eu virtuoso já existe; você
pode, se optar por isso, escolher agora mesmo essa versão de você
mesmo.
QUAIS SÃO OS SEUS PRINCÍPIOS?
As disciplinas e as virtudes deram a você uma compreensão da atitude estoica,
com seus princípios e suas prioridades particulares. E os seus, quais são? O que
você mais valoriza? Você está correndo atrás do quê? Quando pensa no assunto,
você acha que as ações que tem praticado são as ações corretas para levá-lo
aonde você quer ir?
Que partes do pensamento estoico mais se aproximam daquilo em que você
já acredita? Como passou a acreditar nisso?
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Que partes do pensamento estoico se chocam com seus princípios atuais? O
que você teria de mudar para ter uma atitude mais estoica?
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Avaliação das Virtudes
Reserve um momento para pensar em suas interações diárias. Em uma
escala de 1 a 5, com 1 signi cando “de forma alguma” e 5 signi cando
“regularmente”, até que ponto você manifesta cada uma das virtudes em
sua vida?
Sabedoria ______
Coragem ______
Jus ça ______
Moderação ______
Na Parte III, ao olharmos mais a fundo para a psicologia estoica, você
usará o que aprendeu para cul var o pensamento posi vo, interromper a
nega vidade e revelar o que tem de melhor. Descobrirá novos métodos
para moldar sua vida emocional. Entrará também em um campo mais
pessoal, examinando suas relações com a família, com os amigos e com o
restante do mundo. Tudo isso requer que você leve consigo as disciplinas
e as virtudes para que possa levar esses métodos para além da teoria e
transformá-los em algo impactante. Vamos mergulhar.
PARTE III
ESTOICISMO PARA A VIDA
CAPÍTULO 5
Cultivando Positividade
“A verdadeira felicidade é aproveitar o
presente, sem dependência ansiosa do
futuro, para não nos distrairmos com
esperanças ou medos, mas carmos
satisfeitos com o que temos, que é
su ciente, pois quem é assim nada quer.
As maiores bênçãos da humanidade estão
dentro de nós e ao nosso alcance. Uma
pessoa sábia está contente com sua sorte,
seja lá qual for, sem desejar o que não
tem.”
– Sêneca, Sobre a Vida Feliz
Pensamentos Positivos
T
anto os gregos quanto os romanos acreditavam na deusa Fortuna e
cultuavam essa divindade, uma mulher bela e cega que distribuía e
subtraía presentes das pessoas que encontrava. Em uma história chamada
“A Tábua de Cebes”, Fortuna é vista entre uma multidão, parte das pessoas
tristes e outra parte delas alegres. Os felizes tinham acabado de receber seus
presentes e a chamavam de “Boa Sorte”. Os que haviam perdido seus presentes
estavam desanimados e a chamavam de “Má Sorte”.[ 02 ] Os estoicos diriam
que se você constrói sua vida emocional em torno das dádivas da Fortuna, nada
haverá de constante em sua vida. Como você pode ter alguma certeza da
felicidade se ela pode lhe ser roubada a qualquer momento? Não seria melhor
encontrar uma felicidade segura? O estoicismo nos treina para afastar nosso
bem-estar emocional das dádivas indiferentes da Sorte e para centralizá-lo na
virtude e em nossos melhores esforços, que estão rmemente sob nosso
controle.
Neste capítulo, você aprenderá a tirar proveito das disciplinas e, ao
concentrar-se em sua virtude, cultivará a positividade. Vai desenvolver uma
prática mental que permite que oresçam o contentamento, a alegria e o amor.
Fará isso por meio de uma compreensão ainda mais profunda daquilo que pode
controlar, o que lhe permitirá confrontar as responsabilidades da vida sem
deixar que elas abalem suas emoções.
Foco: O Que Você Pode Controlar
“Certas coisas estão sob nosso controle e outras não. As coisas sob nosso controle são a opinião,
a busca, o desejo, a aversão, en m, tudo o que represente nossas próprias ações. As coisas que
não estão sob nosso controle são o corpo, a propriedade, a reputação, nossa posição social,
en m, tudo o que não represente nossas próprias ações.”
– Epicteto, Enchiridion 1
Abordamos extensivamente sobre as “coisas que controlamos”, mas vamos
examinar melhor esta ideia. A citação acima reproduz as primeiras linhas do
Enchiridion, um manual desenvolvido a partir dos ensinamentos de Epicteto.
Essa prática, de separar aquilo que controlamos daquilo que não controlamos, é
fundamental para a perspectiva estoica. Nós a chamamos de Dicotomia do
Controle. Todas as práticas estoicas requerem que separemos o que
controlamos de tudo o mais, e “tudo o mais” é muita coisa!
Epicteto lista quatro categorias de elementos que controlamos diretamente:
nossas opiniões sobre a vida
o que buscamos na vida
o que queremos
o que não queremos
Todas estão ligadas a uma outra expressão, que já usamos antes: juízos de
valor. Seus valores, e o que você tenta fazer devido a esses valores, permanecem
intimamente seus.
Tudo mais está fora de seu controle, na categoria dos indiferentes. Epicteto
começa sua lista de indiferentes com o próprio corpo. Seu corpo está, é claro,
relacionado de forma muito próxima com o que você controla, mas será que
você é sempre capaz de garantir sua saúde? Poderia uma doença ou ferimento
remover parte desse controle? Quando falam de controle, os estoicos se referem
a estar totalmente sob nosso controle. Portanto, até mesmo seu próprio corpo é
um indiferente, porque as circunstâncias podem alterar sua capacidade de usálo. A metade nal do primeiro capítulo do Enchiridion, escrita por Epicteto,
explica o raciocínio:
“As coisas sob nosso controle são por natureza livres, desenfreadas, desimpedidas; mas as que
não estão sob nosso controle são fracas, servis, contidas por pertencerem a outros. Lembre-se,
então, que se você acredita que as coisas que têm uma natureza subordinada também são
livres, e o que pertence a outros é seu, você será contido. Lamentará, será perturbado e
encontrará falhas tanto nos deuses quanto nos homens. Mas se você supõe que apenas seja seu
o que de fato é seu, e que o que pertence a outros é realmente deles, ninguém jamais vai forçálo ou reprimi-lo. Além disso, você não encontrará falhas em ninguém nem acusará ninguém.
Você nada fará contra a sua vontade. Ninguém o machucará, você não terá inimigos e não será
prejudicado”.
Não existe um meio-termo de “mais ou menos sob seu controle” na prática
em preto-e-branco da Dicotomia do Controle. Ou algo está cem por cento sob
seu controle ou é um indiferente. Se você depositar seu bem-estar emocional
em algo que a Fortuna possa tirar de você ou que nunca vá lhe dar, você
permanecerá sempre vulnerável aos altos e baixos da vida. Se, em vez disso,
você obtém a felicidade a partir das coisas que possui, poderá desfrutar,
enquanto as tem, da felicidade e das dádivas que a vida lhe oferece.
Tudo o que você aprendeu até agora o ajudará a se concentrar naquilo que
você controla:
A Disciplina do Desejo transfere seus afetos das coisas da vida para
sua virtude, para a forma como você caminha pela vida.
A Disciplina da Ação orienta você a parar de buscar um obje vo nal
especí co e que, em vez disso, faça, a cada etapa, seu melhor
movimento.
A Disciplina do Consen mento ajuda você a superar interpretações
erradas de suas circunstâncias para que você aborde a vida com
clareza.
À medida que você pratica as disciplinas, sua mente começará a criar espaço
para que oresçam emoções positivas. Vamos revisar mais algumas técnicas
para concentrá-lo naquilo que você controla.
NO MOMENTO
“Aprenda a perguntar, acerca de todas as ações: ‘Por que eles estão
fazendo isso?’ Começando por suas próprias ações.”
– MA
C
A
, MED
A
ES
10:37
Lembre-se: a única coisa que você controla é você mesmo. Enquanto aprende a
buscar um bom uxo de vida, olhe primeiro para suas próprias escolhas, antes
de julgar as ações dos outros.
Você Decide
A Dicotomia do Controle lhe pede para decidir o que realmente compete
a você. Em toda situação, lembre-se de que você possui seus juízos de
valor e suas decisões – você os controla. Suas opiniões, suas escolhas,
seus desejos e suas aversões permanecem com você; todo o resto cai na
categoria de indiferente. Ao aceitar isso, você se torna livre para agir com
excelência e virtude em todos os momentos. Você ainda usará as coisas
indiferentes da vida da melhor maneira possível, mas ganhá-las ou perdêlas não afetará sua harmonia. Permanecer focado nas coisas certas abre
espaço para a posi vidade e a resiliência diante dos altos e baixos da
vida.
Isso Nada Signi ca para Mim
Outra frase que os estoicos mantêm na ponta da língua é “isso nada
signi ca para mim”. Sempre que algo começa a ocupar muito espaço
mental, pense nessa frase. Por exemplo, digamos que amanhã você
saberá se conquistou ou não uma promoção no seu trabalho. Se a
expecta va quanto a isso cria em você sen mentos de preocupação ou de
ansiedade, ela está roubando as emoções posi vas que você poderia
estar experimentando neste momento. Reformule, então, a expecta va:
“Essa promoção nada signi ca para mim”. Ou seja, a promoção não
afetará sua capacidade de viver com virtude e de dar o melhor de si. A
natureza radical da ideia “isso nada signi ca para mim” é capaz de levar
seus pensamentos de volta à Dicotomia do Controle, para isolar você e o
momento presente, para disciplinar o desejo, a ação e o consen mento.
Como você não é capaz de controlar essa situação futura, não deixe que
ela afete sua felicidade atual.
Foi Devolvido
“A única posse da pessoa sábia é a virtude,
que nunca pode ser roubada dela. Tudo
mais ela só possui por empréstimo.”
– Sêneca, Sobre a Firmeza do Homem Sábio
Outra frase que o ajudará é: “Foi devolvido”. Os estoicos ensinavam que todos
os indiferentes devem ser vistos como empréstimos concedidos a nós. Tudo
muda, tudo é mortal, nada permanece para sempre. Como esses pensamentos
protegem sua positividade? Bem, o que o coloca numa encrenca é agir como se
as coisas fossem permanentes. Se você esperava que alguma de suas coisas
prediletas fosse sua para sempre, no momento que ela se quebra, é perdida ou
roubada, surge a negatividade. O estoicismo o aconselha a dizer “foi devolvido”
sempre que algo se vai ou é perdido, desaparecendo para sempre. Esta
perspectiva, uma visão da impermanência, nos protege contra o choque da
mudança e também nos ajuda a aproveitar ao máximo os dons da vida quando
eles surgem diante de nós. Aceitar que nada dura para sempre nos ajuda a nos
ocuparmos das coisas presentes no momento.
O Que Você Pode Controlar?
Partindo de um ponto de vista estoico, observe a lista abaixo e de na o que está
sob seu controle e o que está fora de seu controle.
Você está preso em um engarrafamento.
Você está com raiva porque está atrasado para o trabalho.
Seu amigo está triste por causa de uma separação recente.
Você está ansioso por causa de uma palestra que terá de fazer.
Seu lho está doente.
Ocorreu uma tragédia em sua comunidade.
Você se sente culpado por algo que fez ontem.
Seu voo está atrasado.
Você está indignado com algo que acabou de ler.
Seu braço está quebrado.
ASSUMIR RESPONSABILIDADE
Ter consciência sobre o que você controla não o livra das obrigações da vida.
Você precisa comer. Você prefere ter um teto sobre sua cabeça. Você tem
amigos e uma família que ama e que quer ajudar. Então, como você pode
interagir com os indiferentes sem car soterrado por eles? Bom, você já tem
muitas ferramentas para usar! Já aprendeu sobre a cláusula de reserva e as duas
missões, que podem ajudá-lo a seguir em frente sem se esquecer de que não pode
abrir mão do que você tem de melhor. A arqueira nos lembra como devemos
concentrar nossas ações sem carmos obcecados com o resultado. A
premeditação de desa os e a oportunidade in nita ajudam a nos manter con antes
de que, sejam quais forem os desa os que tenhamos pela frente, podemos agir
com excelência. O estoicismo nos permite agir sem nos sentirmos oprimidos
por falsas expectativas. É dessa forma que a Dicotomia do Controle é
libertadora: ela nos lembra que não podemos controlar os resultados, mas que
podemos apenas agir da melhor maneira possível. Se nos concentramos em
nossas ações, vemos que estamos fazendo todo o possível para conseguir o que
queremos e encontramos alegria nesse fato, independentemente do resultado
nal.
Trabalhei como gerente de abrigos na cidade de Nova York durante as
ocorrências relacionadas ao furacão Sandy. Em um desses locais, as doações
incluíam alimentos que nem todos os abrigados podiam comer. Havia presunto
misturado em tudo, dos ovos do desjejum às vagens da noite, e algumas das
famílias tinham objeções religiosas relacionadas a esse alimento. Solicitei para
que a comida passasse a ser adequada a todos ou que fosse mais variada, de
forma a atender às diferentes necessidades. Como isso não aconteceu, recuseime a aceitar as doações.
Para mim, tudo se resumia a uma questão de justiça. Todas as famílias do
abrigo tinham perdido suas casas e precisavam economizar dinheiro. Fornecer
refeições permitia que as pessoas economizassem, mas alguns desabrigados
estavam sendo obrigados a comprar todas as suas refeições com recursos
próprios. Meu trabalho incluía servir a todos, e eu só poderia fazer isso se
alguma coisa mudasse. Contudo, quando me recusei a aceitar doações, meu
trabalho como gerente foi ameaçado. Eu tive de decidir se tomar a providência
em que acreditava compensava a perda de meu cargo. Lembrei-me de que eu só
tinha controle sobre o fato do meu trabalho ser ou não bem executado – isto é,
executado de forma virtuosa – e que competia a outra pessoa a responsabilidade
de me manter no cargo ou me mandar embora. Decidi, então, car com minhas
convicções.
Optar pela ação correta foi profundamente satisfatório, e a convicção de ter
feito realmente o melhor que podia sem dúvida me tranquilizou. No m, as
refeições foram alteradas para atender às necessidades de todos, e eu continuei
a trabalhar como gerente. Ambos os resultados foram o que eu queria, mas eles
permaneciam fora do meu controle – o fato é que minhas ações teriam
continuado impecáveis a despeito do resultado nal.
Concentrar sua energia no que você pode controlar enquanto estiver
praticando as disciplinas estoicas o ajuda a encontrar estabilidade mental e
emocional apesar dos altos e baixos da vida. Isso o libera para se envolver com
o mundo ao seu redor amparado pelo conhecimento de que você sempre pode
prosperar, desde que permaneça el à sua virtude. Outro benefício de uma
saudável perspectiva mental é que tal atitude abre espaço para o orescimento
de estados mentais positivos. Vamos agora dar uma olhada nessa dinâmica.
NO MOMENTO
Há momentos em que as coisas “dão errado”, mas mesmo assim você se
sente feliz porque se manteve forte, perseverou e con nuou el a si
mesmo.
Você consegue se lembrar de alguma vez em que não conseguiu o
que queria, mas, ainda assim, se sen u feliz graças a quem você era
no momento?
Quais foram os elementos presentes nas suas a tudes ou ações que
lhe deixaram sa sfeito?
Cultivando Pensamentos Positivos
Se quisermos experimentar a beleza de uma or por um dia, podemos colhê-la e
colocá-la em um vaso. Se quisermos desfrutar dessa beleza durante toda a
temporada, é melhor plantar um jardim. As pessoas costumam buscar
experiências e cam excessivamente focadas em controlar tanto o ambiente
onde ocorrem essas experiências quanto das pessoas presentes em torno dele,
tudo na esperança de extrair disso tudo uma centelha de alegria. É como colher
uma or: você pode conseguir o que quer, mas não consegue conservá-lo. Mas
se quisermos felicidade duradoura, organizemos adequadamente o que está
dentro de nós – não as coisas ao nosso redor. Dessa forma poderemos não só
experimentar alegria, tranquilidade, boa vontade e tantas outras emoções
positivas, mas também experimentar esses estados de forma permanente.
O segredo é não visar diretamente à felicidade – porque ela não é um destino.
A felicidade simplesmente nos acompanha em nossa jornada quando nossas
viagens são virtuosas. Cultivamos a positividade vivendo o bom uxo de vida
que discutimos anteriormente. Ao trabalharmos em nós mesmos, criamos uma
vida na qual bons pensamentos e bons sentimentos podem prosperar. Marco
Aurélio se lembrava disso sempre que se sentia fora de sintonia com o mundo.
Em Meditações 4:3 ele escreveu: “As pessoas tentam fugir disso tudo – fugir para
o campo, para a praia, para as montanhas. Você sempre se lamenta quando não
pode fazer isso. O que é idiotice: você pode fugir de tudo na hora que quiser.
Indo para dentro. Você não poderia ir para um lugar mais pací co – mais livre
de interrupções – que sua própria alma. Em especial se puder contar com outras
coisas. Como a recordação de um instante. Aí está: completa tranquilidade. E
por tranquilidade quero dizer uma espécie de harmonia”. Marco Aurélio diz que
a paz será mais fácil se você puder “contar com outras coisas”. O que seriam
essas coisas? São as próprias ferramentas estoicas que já discutimos. Seu
primeiro passo para cultivar a positividade é lembrar-se de permanecer no
caminho estoico.
“Frente a cada desa o, lembre-se dos
recursos que você já tem dentro de você
para lidar com ele.”
– Epicteto, Enchiridion 10
Sempre que você se deparar com um obstáculo, comece com uma
autoavaliação. Prevê um desa o? Tenha coragem. Alguém é irritante? Tenha
paciência. Faça uma pausa para recorrer a suas capacidades, lembrando-se de só
aplicar essas energias no que você pode controlar. Essa atenção o mantém no
caminho virtuoso, onde reside a felicidade. Ao seguir este curso na vida, você
desfrutará da obra de ser você mesmo. Os estoicos se orgulham dos momentos
em que estão se empenhando ao máximo, pois sempre podemos optar por agir
assim. Isto coloca seus êxitos rmemente sob seu controle. Se você pode fazer
isso, nunca poderá se sentir frustrado. A tranquilidade que vem dessa atitude
cria o espaço onde oresce a positividade.
A prática estoica consistente desenvolve nosso estado de espírito, fazendo
crescer a positividade. Pensando na Disciplina do Consentimento, os estoicos
dizem que primeiro algo nos acontece (impressão inicial). Em seguida
reconhecemos o que aconteceu (representação objetiva). Finalmente
acrescentamos nossa própria visão aos eventos (um juízo de valor). Se nossos
juízos de valor forem prejudiciais, vamos experimentar estados mentais
negativos (os estoicos chamam-nos de paixões; veja mais sobre o assunto no
Capítulo 6, p. 141). Se os nossos valores estão alinhados com a sabedoria,
experimentaremos boas paixões. Os estoicos escreveram sobre três boas paixões
que uem de uma mente racional que possui juízos de valor saudáveis.
Chamaram-nas de Alegria, Desejo e Cuidado.
ALEGRIA
A alegria é uma exaltação mental moderada baseada em julgamentos
adequados relativos à vida. Alegria é deleite, bom ânimo e serenidade. A
alegria está focada no presente. Temos alegria na vida que estamos vivendo
hoje. Se con namos nossos desejos e aversões às coisas que controlamos, se
isolamos o presente para viver o momento, a alegria borbulha. Se um amigo
nos visita, aproveitamos o tempo que temos disponível com ele. Sim, ele depois
vai embora, mas não caremos tristes porque vivemos o momento e esse
momento é alegre. Quando nosso amigo vai embora, agradecemos pelo tempo
que passamos juntos e procuramos coisas novas que possam nos interessar.
DESEJO
O desejo, às vezes chamado de “vontade”, indica um esforço razoável para a
obtenção de coisas na vida. O esforço é focado no futuro e o Desejo envolve
nossas esperanças para o futuro. Esse estado de espírito está ligado à Disciplina
da Ação, onde nosso esforço é socialmente dirigido; lembre-se, o estoico
trabalha para o bem da comunidade, não dele próprio. Os estoicos
subdividiram o desejo em afeto, bondade e benevolência, palavras que
iluminam o aspecto social desta boa paixão, pois cada uma delas se apoia em
nosso relacionamento com os outros. Esse estado emocional é cultivado por
meio de práticas como a cláusula de reserva (“se nada o impedir...”/ “não
havendo impedimentos...”). Você tem desejos razoáveis para o mundo e seu
futuro, mas está voltado para como trabalha para atingir esses objetivos, e não
especi camente para os resultados.
CUIDADO
Cuidado, também traduzido como discrição, é uma forma razoável de evitar
algo. Como lições anteriores já deixaram claro, um estoico pretende apenas
evitar o vício, o oposto da virtude. Sendo um estado mental focado no futuro, o
Cuidado nos ajuda a fazer planos razoáveis, pois podemos participar de qualquer
coisa, desde que nossa virtude seja promovida e a possibilidade de vício evitada.
Imagine um grande protesto, do qual você se sentiu compelido a participar, mas
que passou a ser considerado um evento perigoso. O medo pode impedi-lo de ir
adiante. O cuidado diria que sim, seria preferível car em casa, mas o fato é que
é ainda melhor promover a justiça. Sua escolha nal se resumiria em saber que
ações permitiriam que você desse o melhor de si.
Esses estados mentais positivos ultrapassam a emoção: se invocamos, de modo
consistente, a Alegria, o Desejo e o Cuidado, a positividade brotará deles. Ao
mesmo tempo, a consistência da mente estoica torna muito mais difícil que
prosperem as emoções negativas. Se concentramos nossa mente na virtude e
nos mantemos disciplinados de forma adequada, pensamentos e sentimentos
negativos não criarão raízes com facilidade e nossa prática diária nos ajudará a
eliminar qualquer coisa que se mova sorrateiramente.
“As pessoas não se sentem incomodadas
com as coisas, mas, sim, com a opinião
que têm sobre elas.”
– Epicteto, Enchiridion 5
“Eu hoje escapei da ansiedade. Ou
melhor, eu a descartei, porque ela estava
dentro de mim, em minhas próprias
percepções – não fora.”
– Marco Aurélio, Meditações 9:13
“O que é uma vida feliz? É paz de espírito
e tranquilidade perene. Será sua se você
possuir grandeza de alma; será sua se você
possuir a rmeza que se apega, de forma
resoluta, ao bom julgamento que acabou
de alcançar.”
Sêneca, Sobre a Vida Feliz
REFLEXÃO
“Vamos dormir com alegria e felicidade; podemos dizer ‘eu vivi; o curso
que a Sorte estabeleceu para mim está terminado’. E se Deus quiser
adicionar outro dia, devemos recebê-lo com o coração feliz. É mais feliz, e
se sente tranquilo por ter domínio de si mesmo, quem pode esperar o dia
seguinte sem apreensão. O homem que, ao se levantar toda manhã, diz
“eu vivi!”, recebe uma gra cação.”
–S
ECA,
CA
AS DE
M ES
C
12
Os estoicos costumavam levar ao extremo sua loso a focada no
presente e encarar cada dia como o úl mo dia. Sêneca a rma que esta
prá ca pode nos libertar da ansiedade acerca do futuro, nos permi ndo
despertar e saudar o novo dia como uma dádiva. Experimente esta noite
a técnica de Sêneca e trate o dia de hoje como um encerramento, um
rompimento total e absoluto com o futuro.
Quando es ver pronto para dormir, diga a si mesmo: “Eu vivi; o trajeto
que a Sorte estabeleceu para mim está cumprido”. Use esse pensamento
para romper quaisquer os de ansiedade que possam ligá-lo ao amanhã.
Pensando no amanhã, o que signi caria um dia de fato renovado? Esse
dia não seria uma con nuação de projetos e desa os passados, mas uma
coisa nova, pura? Quem poderíamos ser no decorrer desse novo dia?
À medida que cultivamos a positividade, também desenvolvemos resiliência
emocional.[ 03 ] Se nos concentramos na virtude, seremos naturalmente
resistentes a pensamentos nocivos, porque a raiva, o medo, o desespero e outros
pensamentos desse tipo tem todos origem em juízos de valor incorretos. No
capítulo seguinte, vamos examinar mais de perto o lado sombrio da vida para
que você possa usar suas ferramentas para combater pensamentos negativos
quando for preciso e, em termos ideais, para que aprenda a deter esses
pensamentos e sentimentos antes que eles se manifestem.
CAPÍTULO 6
Praticando a Resiliência Emocional
“O invulnerável não é algo que nunca é
atingido, mas algo que nunca é ferido; a
partir disso, vou lhe mostrar a pessoa
sábia.”
– Sêneca, Sobre a Firmeza do Sábio
Domando Pensamentos Negativos
N
este capítulo, concentraremos nossas ferramentas – as disciplinas e as
virtudes – em algo contra o qual todos lutam: o pensamento negativo.
Você aprenderá a domesticar pensamentos negativos e até mesmo a
descartá-los por completo. E descobrirá que a resiliência emocional e o cultivo
de emoções positivas são dois lados da mesma moeda. Todos enfrentam
desa os, mas cada um de nós tem de decidir como reagir a eles. Concentrando
nossa energia no que podemos controlar e colocando nossa virtude sempre em
primeiro lugar, podemos manter uma atitude positiva até mesmo nas mais
difíceis circunstâncias. E o que fazer quando a negatividade se in ltra? Bem, aí
nos recuperamos e voltamos com rapidez ao bom uxo da vida.
Quando Coisas Ruins Acontecem
A teoria emocional estoica volta sempre aos juízos de valor. Já aprendemos
como pode ser prejudicial contar com os indiferentes. Da mesma forma, surgem
emoções negativas quando concentramos nossos desejos ou aversões nas coisas
erradas. Por exemplo, camos com raiva quando não podemos ter o que
queremos; camos tristes quando perdemos alguma coisa. O único modo de
romper este ciclo é direcionar nossa atenção para o que já possuímos e para o
que nunca poderá ser tirado de nós: a virtude. Se abordamos a vida dessa
maneira, não só tiramos proveito da resiliência emocional num mundo em
constante mudança, mas continuaremos a cultivar uma atitude positiva. Com
isso em mente, vamos lidar com a negatividade com todas as ferramentas
oferecidas pelo estoicismo.
NO MOMENTO
Certas situações – ou mesmo determinadas pessoas – parecem sempre
trazer à tona o que há de pior em você.
Neste momento da vida, que po de situação tende a levá-lo a
manifestar pensamentos nega vos?
Que ferramentas estoicas você pode aplicar nesse po de situação
para superar essas a tudes prejudiciais?
Cultivando a Resiliência Emocional
“Algumas coisas podem golpear a pessoa
sábia, como dor e fraqueza corporal, a
perda de amigos e lhos ou a ruína do país
em tempos de guerra, mas elas não vão
abalar seus princípios. Não digo que o
sábio não sinta esses golpes, pois não
atribuímos a ele a dureza da pedra ou do
ferro; não haveria nenhuma virtude se ele
não tivesse consciência do que suportou. O
que acontece então? O sábio recebe alguns
golpes, mas depois os supera, consegue
curá-los e levá-los a uma conclusão. As
coisas mais triviais ele nem mesmo sente,
nem faz uso de sua costumeira fortaleza
numa resistência letal contra elas; ele na
verdade nem toma conhecimento delas ou
julga que merecem apenas ser
ridicularizadas.”
– Sêneca, Sobre a Firmeza do Sábio
Se fôssemos perfeitamente sábios, à maneira estoica, nunca experimentaríamos
estados mentais negativos, pois nossos pensamentos seriam sempre saudáveis.
Esta pessoa, a quem os estoicos chamam “o sábio”, sente as impressões iniciais
como qualquer outra pessoa, mas faz juízos de valor saudáveis e, portanto,
jamais sucumbe a sentimentos de raiva, desânimo, medo ou coisa semelhante.
O sábio é um ideal, e nós – é claro – não somos perfeitos. Continuaremos a
cometer erros, mas, praticando o estoicismo, podemos fazer um progresso real
ao longo do tempo.
As mesmas ferramentas que cultivam a positividade também ajudam a banir a
negatividade. O medo nos diz para evitarmos uma conversa difícil com um
amigo; a Dicotomia do Controle e a Disciplina da Ação dizem a você que essas
conversas são indiferentes e que você tem de tentar ajudar as pessoas em sua
vida. A inveja faz você querer o que é de outra pessoa, mas a Disciplina do
Desejo lembra que você tem tudo de que precisa para estar satisfeito. O segredo
é a prática constante. Temos de usar continuamente nossas ferramentas para
que, em termos ideais, a negatividade nunca crie raízes. Se criar, estaremos
conscientes o bastante para reconhecê-la e saber lidar com ela.
Em uma carta intitulada “Sobre a Ira”, Sêneca diz que “o melhor plano é
rejeitar de imediato os primeiros estímulos à raiva, a resistir a ela desde seus
primeiros vestígios, a tomar cuidado para não ser instigado por ela: pois se esses
estímulos começarem a nos levar para longe, ca difícil conseguir voltar a uma
condição saudável”. Ele continua destacando que você não consegue ajustar
seu pensamento de fora, já que você é sua mente. Se você está com raiva, essa
raiva é parte de sua atitude mental; é difícil parar porque a raiva agora faz parte
do próprio processo que iria detê-la. Sua melhor alternativa é manter-se rme
na loso a estoica. Lembre-se de que os indiferentes “nada signi cam para
você” e de que ninguém tirou algo de você – “a coisa foi devolvida”. Esse
desa o é uma nova oportunidade para praticar a virtude. Se você se apoiar
nessas técnicas, manterá longe a negatividade.
Quando a negatividade consegue ultrapassar nossas defesas estoicas,
precisamos antes de mais nada reconhecer que estamos perdendo a harmonia
com a vida. A Disciplina do Consentimento vai ajudá-lo a prestar atenção aos
seus pensamentos e eliminar qualquer coisa que não seja mais útil para você. Se
um evento traz consigo sentimentos negativos, podemos dizer “você é apenas
uma aparência” e devolver nossas mentes a um estado mais pací co. Podemos
usar o exercício da De nição Física para afastar a mística de tudo que está
oprimindo nossos desejos ou aversões e voltar a um caminho saudável.
Podemos colocar entre parênteses o desa o para dar a nós mesmos espaço para
pensarmos com maior clareza. Enquanto continuamos a praticar, aproximamonos do modelo de pessoa sábia de Sêneca: exíveis a coisas que costumavam
nos incomodar. Após praticar o bastante, nem vamos mais reparar nas coisas
que antes nos irritavam!
Eu era o tipo de pessoa que dava a última palavra. Me incomodava muito o
fato de não “ganhar” uma discussão. Com o correr dos anos, o estoicismo me
ensinou a valorizar mais a maneira como me conduzo durante as conversas do
que como termina a interação. Eu disse o que queria dizer? Dei às pessoas uma
chance de entenderem meu ponto de vista? Ouvi a todos com uma atenção
honesta? Nesse caso, então, z o melhor que podia. Hoje em dia, se alguém
tenta me menosprezar, deturpar meu ponto de vista ou exigir uma atenção que
não lhe devo, eu quase nem reparo. Estou contente, e tudo mais é problema
dele. É libertador!
Imagine alguém furando uma la bem na sua frente. Como você se sentiria?
Talvez sentisse raiva antes de mais nada. A nal, aquela pessoa não estaria
agindo bem. Mas antes de desenvolver este sentimento, leve em conta suas
duas missões – você precisa permanecer na la e você também precisa manter a
harmonia. Você vai deixar que essa pessoa acabe com a sua alegria? Claro que
não. Ela não tem o poder de levar a sua alegria; só você tem, quando se entrega
a um juízo de valor equivocado. Então você opta por continuar contente. Mas
você mesmo assim pode remediar o erro da pessoa que furou a la (desde que se
sinta seguro fazendo isso). Ela não deveria ter entrado na sua frente. O
importante é, caso decida interpelar a pessoa, que faça isso com virtude,
mostrando o que tem de melhor, e não sob a in uência do que os estoicos
chamam de paixões. E por falar de paixões, vamos olhar mais de perto para o
modo como os estoicos encaram os estados mentais negativos.
REFLEXÃO
“Agarre-se com unhas e dentes à seguinte regra: não ceder à adversidade,
nunca con ar na prosperidade e prestar sempre muita atenção ao hábito
da Fortuna de se comportar da forma como ela bem quer, encarando-a
como se ela fosse realmente fazer tudo que ela tem o poder de fazer. As
coisas que você já vem há algum tempo esperando que aconteçam
causam menos choque quando acontecem de fato.”
–S
ECA,
CA
AS DE
M ES
C
78
A mudança é inevitável. Os estoicos nos dizem que tudo precisa mudar,
caso contrário nada de novo poderia surgir. Eles consideram tolas as
pessoas que cam abaladas com as mudanças. Como poderíamos não
perceber que a mudança estava a caminho? Ela, a nal, está por toda
parte. Na citação, Sêneca diz que não devemos sucumbir diante de
desa os e que também não devemos esperar que as épocas mais fáceis
durem para sempre. Devemos permanecer sempre em harmonia,
independentemente dos altos e baixos da vida.
Que ferramentas você tem para prosperar em tempos de
adversidade?
Que ferramentas você tem para aceitar com alegria as coisas boas da
vida, mesmo reconhecendo que essas coisas vão inevitavelmente
mudar?
Emoções Negativas
Os estoicos se referem aos estados mentais negativos como paixões. Consideram
que paixões são doenças da mente que precisam ser curadas. Você já foi
apresentado às boas paixões e espero que esteja claro que ninguém está pedindo
para que seja imune à paixão ou frio para a vida. Paixões, na linguagem estoica,
são estados mentais baseados em juízos de valor equivocados. As paixões estão
em desarmonia com a vida. Não podem levar à prosperidade, porque nos levam
na direção errada. Por exemplo, sentimos medo porque queremos escapar de
alguma coisa, mas o estoicismo nos diz que essa “alguma coisa” é indiferente e
não vale a pena temê-la. Sentimos angústia porque não conseguimos algo que,
da mesma forma, não vale a nossa preocupação. Paixões são sempre equívocos.
O estoicismo nos treina para que evitemos completamente os erros, se isto for
possível, ou para que nos corrijamos assim que nos dermos conta de que
estamos no caminho errado. Os estoicos listam quatro paixões principais:
Medo
Ansiedade
Prazer
Angús a
Vamos investigá-las.
Medo
Medo é a expecta va de um mal que se aproxima, é um encolhimento da
mente. Alguns dos sen mentos que uem do medo são terror, hesitação,
vergonha, choque, pânico e angús a. O medo está focado no futuro, mas
focado nas coisas erradas. A vergonha, por exemplo, é um medo da
desonra; mas quem poderia desonrá-lo? Se você age com virtude,
ninguém pode desonrá-lo e ninguém pode fazê-lo agir sem virtude. O
oposto do Medo é a boa paixão, o Cuidado, e o an doto para o Medo é a
prá ca consistente da Disciplina do Desejo. A Dicotomia do Controle
também ajuda a superar o Medo. Todos os medos são construídos a par r
de indiferentes. Se aprendermos a ver os indiferentes como coisas que
estão fora de nosso controle, caremos livres do temor a essas coisas.
Ansiedade
A ansiedade é o desejo irracional por um bem que esperamos obter. Está
concentrada no futuro. Carência, ódio, contenção, raiva, luxúria, ira e
fúria, tudo isso se enquadra nessa paixão. A ansiedade diz respeito à
insa sfação com o mundo e é uma tenta va de consertar esse sen mento
com coisas indiferentes.
Superamos a ansiedade, irmã gêmea do medo, com a aplicação da
Disciplina do Desejo. A boa paixão, o Desejo, se encontra em oposição à
Ansiedade. Podemos ver como a Dicotomia do Controle também está no
centro deste problema. Se você aprender a só desejar suas próprias ações
virtuosas na vida, você não terá uma avassaladora ansiedade por coisas
indiferentes.
Prazer
O prazer é uma euforia equivocada acerca de algo que parece ser bom
aqui e agora. Inclui regozijar-se com o infortúnio de outra pessoa,
autogra cação e uma alegria extravagante, que os estoicos mencionam
como uma dissolução da virtude. O prazer ata seu bem-estar às coisas que
você possui ou ao momento par cular que está vivendo, sendo que
ambos podem ser rados de você. O oposto do prazer é a Alegria, o
estado de espírito que gera posi vidade apesar da impermanência das
coisas.
Pode parecer estranho que uma paixão concentrada no presente possa
levar a uma experiência nega va, já que o estoicismo com frequência nos
adverte para viver o momento. Embora o estoicismo de fato peça para
nos concentrarmos no aqui e agora, devemos fazer isso da maneira certa.
Por exemplo, minha lha de 5 anos geralmente chora quando suas amigas
precisam ir embora para a casa delas. Dez minutos antes que isso
aconteça, dou-lhe um aviso de advertência ou emprego outras técnicas
paternas, mas quando chega o momento da par da das meninas, ela ca
arrasada. Ela inves u sua felicidade no estado de coisas presente, mas
essas coisas (incluindo o momento) são indiferentes. O estoico focado no
presente se concentraria nas coisas que ele controla. Não buscaria prazer
em coisas indiferentes, mas encontraria alegria na virtude. De fato,
oposto do Prazer é a Alegria, o estado de espírito que encontra a
posi vidade apesar da impermanência das coisas.
Referindo-se ao sábio, Marco Aurélio diz, em Meditações 10:11: “Quanto
ao que alguém dirá ou pensará dele, ou fará contra ele, o sábio nunca
chega sequer a pensar nisso, contentando-se com duas coisas: agir com
jus ça no que faz em cada momento e sa sfazer-se com o que agora lhe é
atribuído”. A paixão do Prazer pode ser ex rpada pela concentração na
excelência de cada ação e no Amor Fa , o amor e aceitação do momento
presente.
Angústia
Irmã gêmea do Prazer, a Angús a é uma contração irracional da mente
para longe de algo já presente. Malícia, inveja, ciúme, pena, tristeza,
preocupação, tristeza, irritação, humilhação e inquietação, tudo isso
deriva da Angús a. A angús a não tem paixão oposta. Superar a angús a
é abrir espaço para que as boas paixões possam prosperar. Uma técnica
que considero par cularmente e caz contra a angús a é uma que chamo
de “fes val”.
FESTIVAL!
“Quando estamos sozinhos, devemos chamar essa condição de
tranquilidade e liberdade, e pensar em nós mesmos como pensamos nos
deuses; e quando estamos com muitos, não devemos chamá-los de
mul dão, de problema ou de mal-estar, mas de fes val e companhia,
aceitando tudo com sa sfação.”
–E
C E
, D SC
S S
1:12
Es ve em concertos barulhentos e foi extremamente diver do. Es ve em
cafés onde uma conversa estava apenas um pouco alta demais e isso
estragou meu dia. Epicteto destaca que atribuímos muito mais encanto às
pessoas em fes vais do que em um dia normal. E sugere que
abandonemos a ideia de mul dão e transformemos cada dia num
fes val! Sempre que as pessoas ao seu redor começarem a incomodar...
dê um tempo. Respire. Diga “fes val”. Pense: “Isso é um fes val, essa
gente é a minha gente e aceito isso com sa sfação”.
De nição Física e o Irracional
O exercício de sabedoria que você já pra cou, De nição Física, é
poderoso contra o Prazer e a Ansiedade. Marco Aurélio escreveu sobre o
uso desta técnica para desmis car o sexo quando se via sob o risco de
tomar decisões por luxúria. Disse que o sexo é simplesmente fricção, um
espasmo momentâneo e um líquido pegajoso – um retrato não muito
lisonjeiro. Se quisermos desenvolver a boa e estável paixão chamada
Alegria, não podemos fazer com que nossa felicidade se apoie em coisas
que podem ser radas de nós ou em coisas futuras que podem jamais
acontecer. Como já aprendemos anteriormente, quando alguma coisa se
apresentar a você, respire e procure de ni-la na sua forma mais básica.
Não adicione juízos de valor. Se você está prestes a par cipar de algo que
você sabe que vai contra seu melhor interesse, desmonte a coisa em suas
partes componentes. Limpe sua mís ca para que você possa seguir em
frente com a cabeça limpa.
O que Há de Tão Insuportável Neste
Momento?
“Não entre em pânico diante da visão de conjunto de toda a sua vida. Não pense nos problemas
que você enfrentou ou naqueles que ainda tem de enfrentar, mas pergunte a si mesmo, quando
cada problema vier: o que há de tão insuportável ou incontrolável nisto? Sua resposta vai
envergonhá-lo. Lembre-se então de que não é o futuro ou o passado que pesam sobre você, mas
só o presente. Sempre o presente, que se torna uma coisa ainda menor quando é isolado dessa
forma e quando a mente é castigada por não conseguir resistir a um objeto tão franzino.”
– Marco Aurélio, Meditações 8:36
Muito do peso emocional de um evento é fruto da nossa imaginação. Doenças
do corpo, tristeza, ansiedade, pode parecer que todas essas coisas nunca irão
embora. “Eu sempre me sentirei assim”, poderemos dizer a nós mesmos. Isso
não é verdade, mas pode parecer ser verdade. É o que Marco Aurélio dizia a si
próprio para limitar seus problemas ao presente. Olhava para o momento em
que estava e perguntava: “Isso é realmente insuportável? Este é o momento que
vai me quebrar?”. A resposta sempre foi não. O aqui e agora representa um
momento muito pequeno comparado com o enorme futuro incognoscível.
Podemos fazer o mesmo. Sempre que estivermos oprimidos, podemos isolar o
presente e examinar o momento. O que há de difícil neste minuto? Você pode
superar o presente e dar mais um passo à frente? Sim, pode.
Avalie suas Emoções
Quais são os estados de espírito nega vos que você mais precisa
trabalhar? Numa escala de 1 a 5, sendo 1 uma vida emocional muito
saudável e 5 uma mente oprimida por uma determinada paixão, avalie:
Medo _____
Ansiedade _____
Prazer _____
Angús a _____
VISUALIZAÇÃO NEGATIVA
“É justamente em tempos de segurança que a alma deve se reforçar de antemão para ocasiões
de maior estresse, e é enquanto a Fortuna é gentil que ela deve se fortalecer contra sua
violência. Em dias de paz o soldado realiza manobras, constrói forti cações sem qualquer
inimigo à vista e se desgasta com labutas gratuitas para que possa se manter à altura do
trabalho real que tem pela frente. Se você não quer ver um homem titubear quando a crise vier,
dê-lhe treinamento antes que ela venha. É esse o trajeto que têm seguido aqueles que, em sua
imitação de modéstia, vêm todo mês se arrepender de terem recuado daquilo para que, com
tanta frequência, haviam se preparado.”
– Sêneca, Cartas 18
Os estoicos acreditavam que devemos ser treinados para os grandes desa os da
vida. Usavam técnicas de visualização e práticas físicas para se prepararem para
as inevitáveis mudanças, esperando que, quando o verdadeiro desa o se
apresentasse, pudessem continuar vivendo em harmonia. Quais são os desa os
que nos abalariam? Uma doença terminal? A morte de um ente querido? Já
compreendemos que, para o estoico, essas coisas são indiferentes, na medida em
que não podem abalar sua virtude. Ainda assim, os estoicos eram humanos e
sabiam que tais eventos atingem o coração de cada um. Desenvolveram,
portanto, o hábito de caminhar mentalmente por entre o “pior” dos desa os,
para poderem praticar uma perspectiva estoica e enfrentar quaisquer impróprios
juízos de valor que surgissem.
O ensaio mental para enfrentar os grandes desa os é chamado de
“visualização negativa”. Ele também pode ser chamado de premeditação de
adversidade ou, como já z referência, premeditação de desa os. A ideia é
visualizar os piores cenários possíveis. Imagine um enorme desa o como se ele
estivesse de fato acontecendo. Então aplique suas ferramentas, a Dicotomia do
Controle, as disciplinas e um foco na virtude, para treinar a si próprio a se
manter estoico durante o desa o.
O que está sob seu controle?
O que você deve desejar e o que deve evitar?
Você cede aos juízos de valor que borbulham ou os rejeita?
Como você deve agir?
Você consegue permanecer em harmonia, mesmo durante um
desa o? Como?
Você consegue encontrar alegria no momento, apesar de estar
vivendo o que outros considerariam uma catástrofe?
Esses exercícios ajudam a trazer paz, tanto no momento presente quanto no
futuro, quando os grandes desa os chegarem. Sêneca nos diz que os eventos
esperados não causam grande surpresa. Visualizações negativas podem, ao
menos, ajudá-lo a se imunizar contra o futuro. A grande esperança é que essas
práticas possam estabilizar nosso pensamento estoico para que, quando o
desa o vier, ele não só amorteça o golpe, mas permita que continuemos a
prosperar enquanto enfrentamos o desa o de frente. Crie uma lista com os
piores desa os que possa imaginar, o tipo de desa o que abalaria seu mundo.
Usando as diretrizes e perguntas acima, comece a praticar regulamente a
visualização negativa. Vou compartilhar duas variantes da prática que podem
ser usadas por você.
Aceitando Menos
Sêneca exortou os estoicos a reservar um tempo para se privarem das coisas
mais nas. Como um romano rico e in uente, essa prática se destinava a
lembrá-lo de que as posses são indiferentes e que, se lhe fossem tiradas, ele
deveria continuar satisfeito. Durante alguns dias, ou em determinadas semanas,
Sêneca cava em um aposento pouco mobiliado, se deitava sobre uma esteira
dura, comia alimentos básicos, sem sabor, e meditava sobre se a vida boa vinha
de coisas externas ou dele próprio.
Podemos adaptar essas práticas à nossa própria vida. Do que podemos abrir
mão durante algum tempo para que possamos ver nossos eus virtuosos como
independentes de nossas posses? Poderíamos comer todo dia, durante uma
semana, a mesma refeição básica. Muitos estoicos usam duchas frias como um
meio de aceitar o desconforto como um indiferente. Você pode, durante alguns
dias, abrir mão da TV ou da internet. Independentemente do que escolha,
lembre-se de não apenas fazer o exercício, mas de envolver sua mente numa
interrogação estoica acerca de suas reações:
O que está sob seu controle?
O que você deve desejar e o que deve evitar?
Você concorda com os juízos de valor que borbulham ou os rejeita?
Como você deve agir?
Você consegue manter-se em harmonia?
Você consegue, apesar da privação, encontrar alegria no momento
que está vivendo?
Eu Sabia que Eu Era Mortal
Quando ler os estoicos, você descobrirá que o tema morte vem à tona com
frequência. A nal, ninguém pode escapar da morte. Os estoicos sentiram que
chegar a um acordo com esse fato era essencial para o lósofo, caso contrário, o
medo da morte afastaria muitas de suas ações da sabedoria. Sócrates e Catão,
ambos considerados heróis estoicos, preferiram morrer a viver uma vida menos
virtuosa. Epicteto nos diz que sempre que um general des lava por Roma
acompanhado de escravos, era tarefa desses escravos sussurrar continuamente,
nos ouvidos do general, lembretes sobre a mortalidade. O objetivo era torná-lo
humilde. Para nós, a visualização negativa de nossa própria morte pode nos
ajudar a aceitar que a própria vida é um indiferente.
Epicteto recomenda que se diga: “Eu sabia que eu era mortal”, quando
pensamos em nossa morte. Em seus Discursos, 3:24, ele diz que ninguém deve se
espantar com a morte porque ela é inevitável. A morte também não depende
de nós; está fora de nosso controle – é um indiferente. Como parte da
harmonia da natureza, devemos aceitar a morte como algo dado. Usando esses
pensamentos, diga a si mesmo: “Hoje é meu último dia”. Pense na morte como
algo inevitável, fora de seu controle e natural. Mas como devemos reagir à
morte quando ela vier?
Uma vida mental saudável pode nos ajudar a agir muito bem no mundo. Ao
encontrar a liberdade emocional por meio de nossas ferramentas estoicas,
encontraremos Coragem para buscar a Justiça onde quer que ela esteja. No
próximo capítulo, você usará suas atitudes positivas para tomar iniciativas
poderosas a seu favor, a favor de sua comunidade e do mundo em geral.
CAPÍTULO 7
Estando a Serviço
“De manhã, quando não for nada fácil sair
da cama, diga a si mesmo: “Tenho de ir
trabalhar... como todo ser humano. O que
tenho para reclamar, se vou fazer aquilo
para o que nasci... se vou fazer as coisas
que fui trazido ao mundo para fazer? Ou
será que fui criado para outra coisa? Para
me enrolar debaixo das cobertas e car
aquecido?”
– Marco Aurélio, Meditações 5:1
O
s humanos, na visão estoica, são seres naturalmente sociais, destinados a
se envolver em relacionamentos saudáveis uns com os outros. A
Disciplina da Ação é a que melhor representa esse ponto de vista. Como
já vimos, nossas ações precisam estar focadas na comunidade. Ao nos
concentrarmos naquilo que podemos controlar, escolhemos um caminho que
bene cia a todos, não somente a nós. Nossa orientação matinal nos lembra que
as pessoas muitas vezes serão obstáculos, mas nem por isso podemos deixar de
fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudá-las. Estamos destinados a viver
uma vida de serviço à nossa comunidade. Vamos nos concentrar em sermos
estoicos nos relacionamentos. Quer se trate da família, de amigos ou de
estranhos, trabalharemos para desenvolver ações que bene ciem a eles e a nós,
usando a virtude como guia.
Como os Estoicos Tratam os Outros
“Seja como for, vamos descobrir que somos ao mesmo tempo afetuosos e coerentes com a razão, e
declaramos con antes que isto é certo e bom.”
– Epicteto, Discursos 1:11
O estoicismo é uma loso a de amor. Os lósofos estoicos não só falaram de seu
amor pela sabedoria, mas também de sua lantropia, que signi ca amor pelas
pessoas. A teoria estoica do desenvolvimento ético, chamada oikéiosis, espera
que você cresça em sua capacidade de amar até sentir afeição pelo mundo
inteiro. Oikéiosis é uma ideia complexa, mas diz, em suma, que todos os animais
nascem amando e preservando a si próprios. Os animais sociais, humanos
incluídos, expandem esse amor primeiro para cuidadores imediatos, depois para
uma família ampliada e, quando se desenvolvem de forma adequada, aprendem
a preocupar-se com toda a humanidade. O estoico Hiérocles descreveu este
crescimento usando uma série de círculos concêntricos. O primeiro círculo do
afeto é você mesmo. O próximo é a família imediata, seguida pelos parentes e
amigos. Depois disso vem sua comunidade, depois as comunidades vizinhas, seu
país e então toda a humanidade. Nós, estoicos modernos, tendemos a ampliar
os círculos para além da humanidade, para abarcar o mundo e todas as suas
criaturas vivas. Hiérocles diz que nossa tarefa é puxar os círculos externos para
mais perto de nós. Pede que cada um se abra intencionalmente para os outros e
os aproxime. O estoico abraça o mundo.
Claro, por mais afeto que mostremos ao mundo, sabemos que este sentimento
nem sempre é recíproco. O estoicismo não é ingênuo em sua aceitação dos
outros. Lembre-se das boas paixões. Você desejará o melhor para os outros, mas
terá o cuidado de se proteger se as pessoas não estiverem exibindo seu melhor
comportamento. Um grande exemplo deste cuidado está em Meditações 6:20,
onde Marco Aurélio usa o exemplo de um combate de luta livre:
“No ringue, nossos oponentes podem nos despedaçar com as unhas ou nos dar
cabeçadas deixando hematomas, mas não os condenamos por isso, nem camos
irritados com eles, nem passamos a encará-los como tipos violentos. Só camos
de olho neles. Sem ódio, nem suspeita, mas mantendo uma distância amigável.
Precisamos fazer isso em outras áreas. Precisamos desculpar o que fazem nossos
parceiros de luta, mantendo apenas uma distância – sem descon ança nem
ódio”.
Quando agem por ignorância, as pessoas praticam ações incorretas. O
estoicismo a rma que todas as ações erradas têm origem em um
desconhecimento de formas melhores de agir. Somos incitados a aceitar este
fato com naturalidade porque assim é a condição humana. Contudo, a
distância que mantivermos de outras pessoas pode ser amigável. Dar espaço
para que uma pessoa possa crescer não requer que nos coloquemos numa
posição de risco. É importante lembrar isto. A resiliência estoica e a mente
saudável que a acompanha podem nos libertar. Podemos ultrapassar a dor, o
ressentimento, o medo e ganhar uma disposição para amar e aceitar os outros.
Existem, no entanto, situações onde a Sabedoria exige que nos afastemos. A
Coragem pode nos ajudar a superar os piores desa os, mas a Coragem pode
também nos permitir sair de situações que nos oprimem.
Sempre que se deparar com uma pessoa que o desa e, tente recordar os
pensamentos das Meditações 7:26, em que Marco Aurélio diz:
“Quando as pessoas o insultam, pergunte a si mesmo que bem ou mal elas
pensaram que viria disso. Se entendermos a coisa, sentiremos mais simpatia que
raiva ou indignação. Nosso senso do bem e do mal pode ser o mesmo que o
delas, caso em que temos de desculpá-las. Mas nosso senso do bem e do mal
pode ser diferente do delas. Nesse caso, elas estão desorientadas e merecem
nossa compaixão. Será que é tão difícil agir assim?”.
Pode ser complicado, mas manter a paz de espírito diante de uma situação
difícil também é muito grati cante. A nal, porque deveríamos permitir que
outra pessoa roube a harmonia que trabalhamos tanto para alcançar?
Se Soubessem de Todos os Meus Defeitos
“Se lhe contaram que falam mal de você,
não se defenda. Basta responder: ‘Se eles
soubessem de todos os meus defeitos teriam
falado muito mais que isso’.”
– Epicteto, Enchiridion 33
Diante das outras práticas estoicas que aprendemos, o humor autodepreciativo
pode parecer deslocado. Mas os estoicos não eram contra o uso do humor,
desde que nos abstivéssemos de car zombando dos outros. Epicteto recomenda
o humor para controlar uma situação potencialmente má e como uma forma de
humildade. Quando alguém fala de você pelas costas, qual é sua reação? Muitas
pessoas esperariam uma defesa acompanhada de um contra-ataque; os
ensinamentos estoicos aconselham nenhuma resposta. Você se defende quando
é atacado, mas as palavras ditas por outra pessoa – em particular quando isso
ocorre fora do alcance do seu ouvido – caem na categoria dos indiferentes. A
opinião que outra pessoa tem de você não é capaz de macular sua virtude. E o
ataque à reputação de outra pessoa equivale a um ato não virtuoso. A sugestão
de Epicteto: desarme a situação reconhecendo que você tem defeitos e vire a
página.
É o Que Eles Acham
“Quando uma pessoa o trata mal ou fala mal de você, não esqueça que ela faz isso porque acha
que deve fazê-lo. Não é possível para ela fazer o que você acha que seria o certo, mas só o que
parece certo para ela... Se compreendermos isso teremos uma reação mais branda com aqueles
que nos injuriam, pois sempre poderemos dizer: ‘É o que eles acham’.”
– Epicteto, Enchiridion 42
É o que eles acham nos ajuda a permanecer com os pés no chão e em harmonia
quando uma pessoa se torna desa adora. Todos nós gostaríamos de jamais
sermos caluniados ou atacados, mas choques acontecem. Como podemos então
manter um bom uxo de vida? Reconhecendo a situação das outras pessoas.
Elas acreditam que algo está errado. Crenças erradas levam a pensamentos e
ações negativos – as paixões. A única maneira de sair desse padrão é mudar as
crenças, mas é provável que por ora não tenhamos condições de orientar essas
pessoas. Diga a si mesmo: “Eles estão fazendo o que acham melhor”. Dessa
forma, podemos deixar para trás quaisquer sentimentos negativos a respeito
delas e nos concentrar nas ações positivas e virtuosas que vamos empreender
no momento.
Para ser claro: esta prática não absolve ninguém de más ações. Errado é
errado. É apenas um reconhecimento de que suas crenças infundadas tornam
impossível, pelo menos nesse momento, que elas ajam melhor. Mas elas
continuam sendo responsáveis pelo modo como se comportam.
AMIGOS E FAMÍLIA
“Os sábios são autossu cientes. Mesmo
assim, querem ter amigos, vizinhos e
parceiros, por mais que essa
autossu ciência pareça completa.”
– Sêneca, Cartas de um Estoico 9
Relacionamentos próximos deveriam ser reconfortantes e trazer à tona o que
há de melhor em nós. Mas nem sempre é assim. Como se costuma dizer, a gente
não escolhe família! Até mesmo as pessoas com as quais convivemos com
frequência nos são impostas em função de onde moramos ou trabalhamos. Isso
pode afetar nossa energia e criar situações que requerem o uso de todos os itens
de nosso kit de ferramentas estoico. E, no entanto, o estoicismo pede para nos
mantermos virtuosos em qualquer circunstância, dando o melhor de nós, quer
os outros retribuam ou não o que estamos fazendo. Como podemos agir assim?
Nos Discursos 3:28, Epicteto fala com um aluno que está enfrentando
di culdades com o pai. Diz a ele que “teu pai tem uma determinada função, e se
ele não executa essa função, estará destruindo o pai dentro si próprio, o homem
que ama sua prole, o homem gentil dentro de si. Não procures fazê-lo perder
ainda mais por causa disso. Pois nunca acontece que um homem erre numa
coisa, mas seja ferido por outra. Tua função é apenas defender-te com rmeza,
de modo respeitoso, sem paixão. Caso contrário, terás destruído dentro de ti
também o lho, o homem de respeito, o homem de honra”.
Aqui, vemos um ponto de vista estoico comum. Em um relacionamento, cada
pessoa tem um papel a desempenhar. O estoico, é claro, só controla seu próprio
papel. Epicteto diz que as ações do pai são sem consequência para o estudante
estoico; o relacionamento é um indiferente. O discípulo é incitado a
concentrar a atenção em seus próprios pensamentos e ações, em vez de car
martelando as opções feitas pelo pai. É solicitado a nunca se envolver com as
paixões ruins, a ter cuidado para não se tornar desrespeitoso. Mas Epicteto
também o manda se defender com rmeza. De novo aqui, o estoicismo não nos
deixa passivos. É sempre apropriado nos defendermos, desde que o façamos com
a virtude em mente. A Dicotomia do Controle, quando aplicada aos
relacionamentos, não pretende levá-lo a investir menos nos outros, mas a
investir em si mesmo com mais sabedoria. Não podemos controlar os outros e
as ações deles não devem nos controlar. Se nos concentramos no que é nosso –
nossas opiniões, impulsos e desejos – teremos juízos de valor adequados, nossas
ações serão signi cativas e daremos o melhor de nós em cada relacionamento.
Muitas vezes, isso ajudará nossos relacionamentos a se tornarem saudáveis,
vibrantes. Às vezes seu melhor desempenho não será correspondido, mas você
admitirá que tentou e terá a capacidade de continuar em harmonia,
independentemente do resultado.
O que as disciplinas nos dizem sobre relacionamentos? A Disciplina do
Desejo nos lembra que não devemos ansiar ou temer determinadas ações das
pessoas que conhecemos. O que você quer é contribuir com o melhor de si no
relacionamento e só teme a possibilidade de tratar mal os outros. A Disciplina
do Consentimento nos dá ferramentas mentais para não tirarmos, de forma
precipitada, conclusões negativas acerca dos atos de outras pessoas. Alguém
acabou de dizer algo maldoso? Não precisa julgá-lo, basta escolher sua melhor
resposta. A Disciplina da ação concentra suas opções no que bene ciará os
dois. Ela o preserva de tomar iniciativas às custas da outra pessoa.
Estoicismo Aplicado à Vida Social
Neste exercício, encontre a técnica estoica que pode protegê-lo ou devolvêlo à harmonia que corresponde à situação.
Um amigo parece estar chateado e você não consegue deixar de pensar que
ele está com raiva de você.
A. Amor Fa
Um de seus pais tem o hábito de dizer
coisas constrangedoras e você percebe que o re exo que isso tem sobre você
não é nada bom.
B. Isole o Presente
Você está em um encontro român co e ca se distraindo com pensamentos
sobre possíveis encontros futuros.
C. Você é Apenas uma
Aparência
Seus amigos vieram de longe para
visitá-lo; foi tudo muito bom,
mas eles vão embora amanhã.
D. Isole a Si Mesmo
Respostas na p. 214
NO MOMENTO
Epicteto diz que em um relacionamento problemá co devemos evitar as
paixões, nos manter respeitosos e nos defender de forma apropriada.
Procure se lembrar de um relacionamento di cil de seu passado ou
presente. Reveja suas ações:
Como você teria lidado com o relacionamento se es vesse
pra cando o estoicismo?
Como você pode se preparar para situações semelhantes no futuro?
VIVENDO EM SOCIEDADE
“Vamos nos ater ao fato de que existem duas comunidades – aquela que é grandiosa e
verdadeiramente comum, englobando deuses e humanos, na qual olhamos não para um canto
ou outro, mas avaliamos as fronteiras de nossa cidadania pelo Sol; a outra, aquela para a qual
fomos designados pelo acidente de nosso nascimento.”
– Sêneca, Sobre o Ócio
O estoicismo faz surgir o melhor em nós para que possamos dar o melhor de nós
ao mundo à nossa volta. Por isso muitos desa os – pequenos e grandes – podem
se bene ciar da contribuição de pessoas sábias e pessoas corajosas como você.
Claro que, num mundo ideal, dispor-se a ajudar implica que todos aceitariam
essa ajuda e participariam dela, mas a comunidade é uma coisa complicada. As
pessoas trabalham com objetivos cruzados. Então, como estoicos, como
lidaríamos com isso?
“... nascemos neste mundo para trabalhar
juntos como os pés, as mãos, as pálpebras
ou as arcadas dentárias superior e
inferior.”
– Marco Aurélio, Meditações 2:1
O estoicismo encara todas as pessoas como parte de um único organismo ou de
uma grande família humana. Essas imagens estão em toda parte na escrita
estoica. Em Discursos 2:10, Epicteto diz: “O que então um cidadão respeitado
pode prometer? Não se apossar de nada visando o próprio lucro; não tomar
nenhuma decisão como se estivesse apartado da comunidade, mas agir como
fariam a mão ou o pé se fossem racionais e compreendessem a constituição da
natureza, jamais se pondo em movimento ou desejando qualquer coisa sem
referência ao todo”.
Vemos aqui que a conexão humana tem tamanha importância que cada ação
requer que o interesse dos outros, não apenas o nosso, seja levado em conta.
Isso completa a perspectiva que já tinha nos sido passada pela Disciplina da
Ação. Também pode informar as práticas aprendidas com essa disciplina. A
orientação matinal de Marco Aurélio termina com essas palavras: “Causar
di culdades para as pessoas não é natural. Sentir raiva de alguém, virar-lhe as
costas: isso não é natural”. No início de seu dia, lembre-se de que você quer
estar preparado para aceitar as pessoas não exatamente perfeitas que vai
encontrar, mas você também deveria estar disposto a ajudá-las se a ocasião
surgir. Também podemos aplicar a prática das duas missões. Você quer fazer x,
mas também quer se conservar em harmonia com a vida. A harmonia estoica
cria de fato um contentamento interno, mas também estimula compromissos
ativos e virtuosos com o mundo. Compreender isto ajuda a nos mantermos
focados no caminho virtuoso.
Claro, nem todo compromisso com a sociedade requer uma luta áspera. Por
exemplo, gosto de trabalhar como voluntário no mercado de nossos
agricultores locais. Todo domingo, quando o mercado fecha, minha família vai
ajudar a desmontar as barracas e outros equipamentos. Fazemos isso porque
valorizamos o que o mercado traz para nossa vizinhança, tanto em termos de
comida saudável quanto pelo impacto social de um local onde vizinhos
interagem uns com os outros. O estoicismo nos encoraja a investir tempo e
esforço em nossa comunidade.
O que pode motivá-lo? O que você valoriza em sua vizinhança ou o que
gostaria que fosse incrementado? Quem já está voltado para esse trabalho
provavelmente iria saudar sua contribuição. Se ainda não há ninguém nesse
caminho, talvez você pudesse iniciar alguma coisa. Seja qual for a situação,
como estas ações reforçam nossa coragem, nosso senso de justiça e nossa
disposição de trabalhar com outros, tome a iniciativa e coloque suas ideias em
prática.
NO MOMENTO
“Vou mostrar os nervos de um lósofo. ‘Que nervos são esses?’ Um desejo
nunca frustrado, uma aversão que nunca cai sobre aquilo que se teria de
evitar, uma busca adequada, um propósito zeloso, um consen mento que
não é precipitado. Estes você há de ver.”
–E
C E
, D SC
S S
2:8
Como esboçado nessa citação, o estoicismo se des na a nos tornar fortes.
À medida que pra camos a loso a, retornemos a essa ideia. Estamos
mostrando os nervos de um lósofo?
REFLEXÕES
“Deixe seu impulso de agir e sua ação terem como obje vo o serviço da
comunidade humana, porque isso, para você, está em conformidade com
sua natureza.”
– MA
C
A
, MED
A
ES
9:31
Servir nossa comunidade é saudável. Pode nos ajudar a nos sen rmos
envolvidos com um mundo que, muitas vezes, pode parecer distante e
opressor. Em par cular, atuar em nível local pode nos ajudar quando
questões maiores parecem completamente fora de nosso alcance. Se você
já se sen u individualmente desamparado em relação a um problema
mundial maior ou a um evento par cular, há um modo de superar esse
estado de espírito. Primeiro, use a Dicotomia do Controle e prá cas
similares para se concentrar no que você controla. Em se tratando de
eventos mundiais, você descobrirá que todas as no cias se encontram
fora de seu controle. Contudo, isso não o deixa passivo.
O que há neste evento que o preocupa? Será que ele afeta, por
exemplo, seu senso de jus ça?
Existe um problema semelhante em sua comunidade?
Em caso a rma vo, existem pessoas que estão trabalhando para
tratar desse assunto?
Que inicia vas virtuosas você pode tomar para lidar com o problema
em sua própria vida, em sua própria comunidade?
OS ESTOICOS PODEM CRIAR MUDANÇA?
Os estoicos romanos tinham um herói chamado Catão, um estadista que se
dedicou ao caminho estoico. Mais tarde, os estoicos consideraram-no exemplar
por várias razões. Ele cou conhecido por todos pela profunda integridade
moral e por ser imune a subornos. Permaneceu sempre intransigente em seus
valores, ganhando o respeito até mesmo de seus inimigos políticos. Mais que
tudo, os estoicos o admiravam porque ele preferiu morrer a ceder quando seu
lado foi derrotado em uma guerra civil. Foi uma prova de que valorizava mais a
virtude do que o indiferente preferido pelas pessoas, conhecido como vida.
Os heróis estoicos eram pessoas que trabalharam para superar desa os. O
mítico Hércules enfrentou provações tremendas. Sócrates desa ou sua
sociedade, o que, como no caso de Catão, acabou por levá-lo à morte. Diógenes
viveu uma vida de confronto, desa ando de forma direta os valores sociais de
seu tempo. Os estoicos consideram essas pessoas exemplares. É óbvio, então,
que se espera que pessoas virtuosas tanto enfrentem os desa os que surgem
quanto imponham resistência, se é isto que a virtude exige.
“Quando você faz algo porque decidiu que devia ser feito, nunca evite ser visto praticando o ato,
mesmo que a opinião da multidão vá condená-lo. Se sua ação não é correta, evite por completo
fazê-la, mas se ela é certa, por que temer aqueles que vão repreendê-lo injustamente?”
– Epicteto, Enchiridion 35
A coragem estoica visa a torná-lo ativo. O controle estoico visa fazer com que
nos concentremos. A indiferença estoica nunca leva à apatia; ela desenvolve a
valentia. Somos livres para buscar a excelência com toda a energia que
podemos reunir quando não estamos mais submetidos à ansiedade com relação
aos indiferentes. A mentalidade estoica nos transforma em ativistas, não
importa o modo como ela se aplica às nossas vidas.
Ao optar por um meio de trabalhar com sua comunidade, não se esqueça de
se concentrar mais no que você controla que nos possíveis resultados de um
projeto qualquer. Em Cartas de um Estoico 14, Sêneca diz: “A pessoa sábia olha
para o objetivo de todas as ações, não para suas consequências; os começos
estão em nosso poder, mas a Sorte determina o resultado”. Catão perdeu sua
guerra, mas é considerado um herói porque defendeu a justiça. Da mesma
forma, nosso sucesso é decidido pelas ações que realizamos e pelas razões que
nos levaram a empreendê-las; não podemos garantir um determinado resultado.
Os tópicos que acabamos de cobrir podem levar uma vida inteira para serem
aperfeiçoados. Você tem relações antigas e novas por onde navegar. As
necessidades de sua comunidade mudarão e as comunidades de que você é parte
provavelmente também vão mudar. Assim que tiver acabado de ler este livro,
quais serão seus próximos passos? No capítulo nal darei sugestões para uma
prática continuada e para leituras adicionais, começando com os antigos
estoicos. Você terá muitas opções à medida que avança na sua jornada estoica.
CAPÍTULO 8
Continuando sua Jornada
“Por que todo esse trabalho de
adivinhação? Você é capaz de ver o que
precisa ser feito. Se você pode ver a
estrada, comece a segui-la. Com alegria,
sem olhar para trás. Se não consegue vêla, espere e obtenha o melhor conselho que
puder. Se alguma coisa car no caminho,
vá em frente, fazendo bom uso do que tem
em mãos, mantendo-se el àquilo que lhe
parece ser o correto.”
– Marco Aurélio, Meditações 10:12
V
ocê pode prosperar nesta vida. As ferramentas deste livro estão à sua
disposição e, quando recorremos a elas de modo consistente, podemos
superar os obstáculos e atrair alegria. Neste capítulo nal, recomendarei
novos passos em sua prática e vou deixar você passear livremente entre os
velhos estoicos, para que possa aprender diretamente com eles. Esses novos
recursos podem enriquecer sua jornada estoica, mas você já tem o que precisa.
Uma prática intencional e constante o ajuda a alcançar os maiores ganhos – o
bom uxo da vida.
Prática Estoica Consistente
“Poderia alguém adquirir autocontrole instantâneo meramente ao car sabendo que não deve se
deixar conquistar pelos prazeres, mas sem treinamento para resistir a eles? Poderia alguém
tornar-se justo aprendendo que deve amar a moderação, mas sem praticar o modo de se afastar
do excesso? Poderíamos adquirir coragem compreendendo que as coisas que parecem ser
terríveis para a maioria das pessoas não devem ser temidas, mas sem ter praticado o destemor
com relação a elas?”
– Musônio Rufo, da palestra sobre a prática da loso a
Você continuará a desvendar os benefícios do estoicismo por meio da prática.
Ao treinar para se lembrar de frases estoicas como “você é apenas uma
aparência” ou “foi devolvido”, você vai descobrir que elas vão passar a vir à
mente com rapidez cada vez maior e a chegar nos momentos oportunos. Você
treinará a si mesmo para expressar com naturalidade as lições que aprendeu por
meio das disciplinas. Ter essas ferramentas de prontidão vai proteger sua
harmonia. Os altos e baixos da vida carão mais suaves, porque você será capaz
de superar os desa os que enfrenta. Para mudar sua vida para melhor, você não
pode deixar a prática entregue ao acaso, não pode achar que vai se lembrar das
coisas nos momentos difíceis. Você precisa de um plano. E para ajudá-lo em sua
jornada, eu recomendo três coisas: memorização, registro em um diário e
desenvolvimento de uma rotina diária.
REGISTRE NA MEMÓRIA
Você precisa de suas ferramentas estoicas disponíveis sempre de forma
imediata, e elas só funcionam se você puder se lembrar delas. Começando com
as práticas, técnicas ou perspectivas que o atraíram até agora, memorize uma
citação ou expressão que o ajude a se lembrar delas. Uma de minhas favoritas é
“festival”. Essa palavra simples faz com que eu me lembre do amor estoico pelas
pessoas, de minha necessidade de me desapegar das coisas e muito mais. Não
consigo contar o número de vezes que me senti melhor ao me lembrar com
rapidez de murmurar “festival”.
Torne o estoicismo parte de sua vida mental, trabalhando para incorporá-lo a
seus pensamentos.
DIÁRIO
Se quiser continuar progredindo na loso a, escreva. O registro em um diário
continua sendo um componente fundamental da prática estoica. O livro que
conhecemos com o título Meditações era um diário pessoal que o imperador
Marco Aurélio mantinha para meditar sobre loso a e enfrentar seus
problemas. Ele se desenvolveu com essa prática. Pôde comparar quem era a
quem aspirava a ser. Iniciei meu site, Immoderate Stoic, como um diário público
dez anos atrás e às vezes ainda dou uma olhada em postagens antigas para
entender quem eu era naquela época e comparar com quem sou agora. Essa
mesma prática irá bene ciá-lo. Escolha um modo de conversar consigo mesmo.
Pode ser com papel e caneta, em um aplicativo de anotações no smartphone, em
um blog – basta encontrar um meio consistente para registrar seus pensamentos.
ESTABELEÇA UMA ROTINA DIÁRIA
Por m, escolha algumas práticas para integrar em sua vida diária. Por exemplo,
você pode começar o dia com a orientação matinal e terminá-lo com a re exão
da noite. Criar uma rotina estoica é fundamental. Ela ajudará a fortalecer o uso
improvisado das ferramentas, porque sua mente já estará centrada num
horizonte estoico. Depois de escolher uma ou duas coisas para praticar
diariamente, sugiro que escolha outras técnicas para praticar em diferentes
intervalos. Talvez você reserve algum tempo todo domingo pela manhã para
meditar sobre a vista de cima ou para praticar uma visualização negativa
particularmente impactante. Criar um padrão estoico o ajudará a cultivar a
harmonia que você está buscando.
REFLEXÃO
“Nunca se autodenomine lósofo nem fale de maneira exagerada sobre
seus princípios à mul dão, mas aja de acordo com eles. Numa festa, por
exemplo, não fale sobre como as pessoas deveriam comer, mas coma
como lhe parece correto.”
–E
C E
,E
C
D
46
Epicteto lembrou, em muitas oportunidades, que seus alunos deviam
viver a vida da loso a em vez de falar sobre ela. Adver u-os para que
não falassem aos outros sobre as mudanças que deviam fazer antes de
realizar essas mudanças em si mesmos. À medida que integramos o
estoicismo em nossas vidas, podemos ser tentados a compar lhar essa
experiência com outros. Antes, no entanto, faça a si mesmo algumas
perguntas e lembre a si próprio sobre a visão estoica.
Neste momento, estou agindo como um estoico ou estou apenas
falando sobre o estoicismo?
Pediram meu conselho nesta situação? Conselho não solicitado
raramente é aceito e pode ser contraproducente.
O estoicismo trata da busca da harmonia na vida. Como posso
mostrar a vida de um estoico sem palavras?
Extremos
A prática regular compensa quando desa os de particular severidade
atravessam nosso caminho. O ideal estoico é lidar com cada momento da
mesma maneira (positiva e resiliente) enquanto permanecemos em harmonia
com o mundo. Mas quando somos confrontados com um verdadeiro desa o
(quer esse desa o resulte do indivíduo que somos ou do mero fato de sermos
seres humanos), nossa grande esperança é já estarmos preparados por meio de
uma prática zelosa. Já discutimos como a visualização negativa pode ajudar
nesses momentos. Juntamente com essa prática, acredito que lembrar as curtas
frases estoicas, assim como usar a visão de cima pode ser de especial utilidade
em tempos estressantes.
Eventos desa adores costumam se prolongar durante algum tempo; eles não
nos afetam apenas em um determinado momento. Podemos estar vivendo um
dia agradável, quando um pensamento disperso de repente traz algo de volta à
mente. Isso exige uma estratégia, como o mantra “você é apenas uma aparência
e não a coisa que a rma ser”. “Isso nada signi ca para mim” também pode
servir. Nos momentos em que não temos a liberdade de caminhar e meditar
num horizonte estoico, essas práticas rápidas e e cientes podem ajudar a nos
trazer de volta para um espaço mental melhor. Quando comecei a praticar a
sério o estoicismo, escrevi algumas frases em um pedaço de papel que levava no
bolso. Sempre que sentia o estresse aumentar, abria o papel e escolhia a frase
que precisava para me manter centrado. Encontre um método que funcione
para você e persista nele.
AUMENTAR O ZOOM AJUDA
A paz também pode ser mantida ao compararmos nossos problemas atuais com
os problemas do mundo. A vista de cima visa a expandir nossa consciência
além do domínio pessoal, alcançando uma visão mais universal. Esta prática
pode fazer com que pensamentos opressores sejam colocados em um contexto
mais administrável. Em Meditações 9:30, Marco Aurélio diz: “Baixe os olhos
para ver as incontáveis manadas de homens, para suas incontáveis solenidades,
para o perambular de in nita variedade em tempestades e calmarias, para as
diferenças entre os que nascem, convivem entre si e morrem. E considere
também a vida experimentada por outros em tempos antigos, a vida dos que
vão continuar a viver depois de nós, a vida que transcorre em nações bárbaras,
os tantos que não conhecem sequer o nosso nome e os quantos que logo o
esquecerão; considere como aqueles que talvez estejam agora nos elogiando
muito breve passarão a nos censurar, fazendo com que nem um nome póstumo,
nem uma reputação, nem qualquer outra coisa tenha qualquer importância”.
Pensamentos como esses podem nos fazer lembrar de como nossos atuais
desa os estão bem assentados na experiência humana. Nesses momentos em
que é particularmente difícil distinguir entre o que controlamos e o resto, em
que nossos desejos estão ainda extremamente concentrados nos indiferentes,
arranjar um tempinho para nossa mente dar uma recuada e descansar pode nos
proporcionar o espaço de que precisamos para acertar o passo.
Estamos nos esforçando para darmos o melhor de nós. Há momentos em que
isto será colocado em xeque. Em Discursos 3:25, Epicteto diz: “Nessa disputa,
mesmo se vacilarmos um pouco, ninguém pode nos impedir de retomar o
combate. Nem é preciso esperar mais quatro anos pelos próximos Jogos
Olímpicos para dar a volta por cima. Basta nos levantarmos, recuperando nossa
energia, para que possamos reunir o mesmo zelo de antes e voltar à luta. Se
acontecer uma nova queda, podemos nos recuperar mais uma vez e, se um belo
dia conquistarmos a vitória, será como se nunca tivéssemos caído”. Nunca se
esqueça de que você pode tentar de novo. Se tropeçar aqui ou ali, levante,
ganhe novo vigor e ponha-se em movimento novamente.
SORTE
O pensamento estoico também é útil em momentos felizes e prósperos. Como
já vimos, os dons da Fortuna são grandes, mas não são garantidos. Tirar
proveito das coisas boas sem ter em mente seu caráter efêmero nos deixa
vulneráveis a uma violenta queda quando as coisas mudarem. Evitar isso não
signi ca negar nosso direito ao prazer ou restringir, num esforço para nos
protegermos, nosso compromisso com a vida. Não. Você deve abraçar de forma
completa esses dons. Fazemos isso dando grande atenção ao momento sem
deixar de perceber que a mudança está a caminho.
Quantas pessoas já não se lamentaram por não ter dado valor ao que tinham
quando ainda tinham essas coisas? Sua visão estoica vai ajudá-lo a investir nas
coisas que você tem, evitando que um dia venha a constatar que deixou escapar
os anos dourados. Isolar o presente é uma parte essencial do processo de
manifestar amor à vida. Quando estiver junto a uma pessoa de quem você
goste, concentre sua atenção nela, no momento que estão compartilhando.
Não deixe que seus pensamentos quem perdidos em desejos ou temores do
futuro. Ao mesmo tempo, não esqueça que tudo que você tem está emprestado.
Um dia você vai devolver. O que torna o momento presente ainda mais
importante. Por que car perdendo tempo com um futuro desconhecido, se
podemos encontrar a felicidade no momento presente? Invista por completo no
aqui e agora para que você não experimente um sentimento de perda quando as
coisas mudarem, pois quando isso acontecer você não terá desperdiçado nem
um pouco do tempo que tinha à sua disposição.
Para parafrasear Marco Aurélio, se você lida de maneira correta com os
tempos difíceis, eles acabam se tornando bons tempos. Com isso em mente,
pense em como os acontecimentos são indiferentes e como você pode estar
sempre avançando.
O que “tempos di ceis” signi cam para um estoico?
O que signi ca um “bom tempo” em nossa loso a?
Quais são as vantagens de adotar o modo estoico de encarar os
acontecimentos?
Como esse ponto de vista pode nos ajudar a levar uma vida
harmoniosa?
Verdadeiro ou Falso?
A visualização negativa visa prepará-lo para os duros desa os da vida. Na lista
abaixo, decida se as a rmações sobre visualização negativa são verdadeiras ou
falsas.
Você deve visualizar uma di culdade como se isso es vesse
acontecendo a você agora. _______
A visualização nega va ajuda você a se preocupar com o problema
agora, para que mais tarde você se preocupe menos com ele.
_______
A visualização nega va ajuda você a entender os indiferentes e que
os acontecimentos não são, em si, bons nem maus. _______
Você só deve visualizar desa os pequenos; eventos como
separações, casas incendiadas ou mortes são grandes demais para
darmos conta deles. _______
A visualização nega va pode ajudá-lo a perceber que a mudança é
necessária, natural e deve ser esperada. _______
A visualização nega va visa a transformá-lo em um pessimista.
_______
A visualização nega va pode ajudar a cul var boas paixões e levá-lo
a uma compreensão melhor do Amor Fa . _______
Chave de respostas p. 214.
REFLEXÃO
Muitos estoicos lembram de suas prá cas em tempos di ceis, mas
esquecem delas em tempos prósperos. Pense nas muitas prá cas estoicas
do passado e determine quais delas o ajudariam nos tempos mais felizes:
Que estados de espírito proporcionarão o cul vo de boas paixões e
quais deles ajudarão você a manter essas boas paixões, mesmo quando
surgirem novos desa os?
Felicidade Sustentada
Comecei este livro com uma citação de Marco Aurélio, “Pare de pensar sobre
como uma boa pessoa deveria ser, seja uma delas”. Você tem tudo o que precisa
para se transformar na melhor versão de si próprio. Essa é a questão central do
estoicismo: plantar em você a ideia de que a felicidade está ao nosso alcance –
se soubermos como obtê-la. Quando decidir aplicar o estoicismo à sua vida,
preste atenção em como isso irá afetá-lo. Você está desenvolvendo mais
Sabedoria, Coragem, Moderação e Justiça em sua vida? Está encontrando mais
momentos de Alegria? Sêneca nos diz o seguinte: “Nenhuma escola tem mais
bondade e gentileza; nenhuma escola tem mais amor para com os seres
humanos nem mais atenção ao bem comum. O objetivo que ela nos indica é o
de sermos úteis, ajudar os outros e de cuidar não só de nós mesmos, mas de
todos em geral e de cada um em particular”. Você se imagina manifestando
essas qualidades? Se sim, está em um caminho de harmonia e desenvolveu um
bom uxo de vida.
Uma das melhores maneiras para progredir no seu estudo da loso a é tornarse parte de uma comunidade estoica. A maneira mais acessível para fazê-lo é
procurar fóruns estoicos on-line. Há grupos desse tipo em todas as principais
redes sociais, e neles podemos obter orientação, pedir ajuda ou pelo menos
conversar com outros que estão seguindo o mesmo caminho que nós. É também
possível que existam grupos estoicos que promovam encontros presenciais na
sua região. Um site chamado The Stoic Fellowship [A Irmandade Estoica] reúne
detalhes de diversos encontros estoicos que acontecem em todo mundo. Traz
também um guia com dicas úteis para quem deseja começar um grupo, caso não
exista nenhum na sua região. Uma vez que grupos estoicos reúnem a mesma
diversidade de pensamento que qualquer outro grupo de pessoas, pode ser
necessário praticar nosso estoicismo para nos darmos bem com parceiros
estoicos, pois é de grande utilidade contarmos com pessoas reais para conversar
sobre nossa jornada.
“Não se sentir exasperado, derrotado ou desanimado por seus dias não serem repletos de ações
sábias e morais. Mas levantar-se quando cair, comemorar por estar se comportando como um
ser humano – ainda que de forma imperfeita –e abraçar integralmente a busca que iniciou.”
– Marco Aurélio, Meditações 5:9
Pensando novamente sobre seus valores pessoais, o que vai motivá-lo a
continuar após um fracasso? Que mudanças na sua vida serão seus maiores
sinais de progresso? Entre os exercícios que você pode praticar, quais têm maior
possibilidade de trazer esse progresso pessoal?
O estoicismo lhe concedeu ferramentas, mas é você quem vai usá-las para
superar obstáculos e deixar vir à tona o que você tem de melhor. Você tem tudo
o que precisa para levar uma vida próspera. Vá a luta e mostre sua capacidade
de enfrentar desa os, de encontrar alegria e de usar sua singularidade para criar
um mundo melhor.
RECURSOS
O Cânone
Temos poucos e preciosos escritos dos antigos estoicos, e vale muito a pena
conhecê-los. A maioria desses textos teve muitas edições, traduções e
adaptações. A beleza da era moderna é que muitos também estão disponíveis
gratuitamente na internet.
Sugiro que você leia primeiro o Enchiridion. O Enchiridion, ou manual, é uma
coleção de ditos de Epicteto compilados por um de seus alunos. É como um
guia introdutório à loso a estoica, embora não seja uma obra abrangente. O
Enchiridion lhe dará muitas coisas em que pensar.
Procure, em seguida, uma edição de Meditações, de Marco Aurélio. Esse diário
dá um vislumbre de como era a cabeça de um estoico praticante, e eu considero
esse lósofo mais um companheiro que um professor. As Meditações não foram
escritas com o propósito de serem publicadas, e você vai notar que a escrita é
muitas vezes casual. A vida do imperador raramente seguia um tema; as coisas
simplesmente aconteciam e Marco Aurélio escrevia sobre elas. Ainda assim, há
muitas lições importantes para a vida nos dias de hoje nos seus 12 livros, apesar
da distância entre nós e Marco Aurélio, tanto em termos de tempo quanto de
posição social. Sugiro que comece sua leitura pelo livro 2. O livro 1 é mais
árido, e não re ete o tom geral presente no diário como um todo.
Sêneca escreveu muito, e temos acesso a uma grande parte desses escritos.
Sugiro que comece lendo as Cartas de um Estoico. Esse livro reúne 124 cartas
escritas por ele no período do nal da sua vida. Cobrem uma ampla gama de
assuntos que chamam atenção para a visão estoica da vida, da morte e de uma
série de tópicos situados entre essas duas.
Esses três livros manterão você ocupado por um bom tempo. Li as Meditações
e o Enchiridion de forma regular durante uma década. Contudo, se você quiser
ler outros escritos antigos, sugiro procurar as Palestras e Provérbios de Musônio
Rufo, assim como os Discursos de Epicteto. Musônio foi professor de Epicteto e
as poucas palavras que temos dele mostram o alcance da escola estoica. Os
Discursos expandem as lições do Enchiridion. Você compreenderá muito melhor
o pensamento por trás do estoicismo e como ele deve ser aplicado.
O site Modern Stoicism [Estoicismo Moderno] oferece artigos estoicos escritos
a partir de uma grande variedade de perspectivas. É um recurso inestimável e
um ótimo ponto de partida para quem busca penetrar no mundo dos seguidores
estoicos de uma forma mais abrangente. Há também informações sobre a Stoic
Week [Semana Estoica], um evento anual que proporciona uma excelente
oportunidade para colocarmos em prática nossos conhecimentos.
REFERÊNCIAS
Aurelius, Marcus. Medita ons. Traduzido por Gregory Hays. Londres:
Phoenix, 2003.
Epictetus. The Discourses of Epictetus; with the Enchiridion and Fragments.
Traduzido por George Long. Londres: George Bell and Sons, 1800.
Hadot, Pierre. The Inner Citadel: The Medita ons of Marcus Aurelius.
Cambridge: Harvard University Press, 1998.
Rufo, Musonius. Lectures & Sayings. Traduzido por Cynthia King.
CreateSpace, 2011.
Seneca. Le ers from a Stoic. Traduzido por Robin Campbell. Londres:
Penguin Group, 1973.
Seneca. Moral Essays Volume I. Traduzido por John Basore. Cambridge:
Harvard University Press, 1928.
Seneca. Moral Essays Volume II. Traduzido por John Basore. Cambridge:
Harvard University Press, 1932.
AGRADECIMENTOS
Meu estoicismo foi moldado por um grande número de pessoas – algumas delas
eu conheci pessoalmente, e muitas só me in uenciaram de longe. Tenho uma
dívida especial com a Modern Stoicism. O site dessa organização e os livros
editados por ela têm proporcionado a difusão de uma grande variedade de
pontos de vista de outros estoicos modernos. Também sou grato a Patrick
Ussher e a Gregory Sadler pelo convite para que eu publicasse no site da
Modern Stoicism. Muitos dos membros da equipe deles, em particular Donald
Robertson, Chris Gill, John Sellars e Massimo Pigliucci, in uenciaram minha
compreensão e minha prática.
Mark Johnston e Greg Milner me ajudaram a começar a abordar o tema no
podcast Painted Porch. O grupo Stoics in Action e a página do Facebook a eles
associada, Stoics for Justice, mantiveram minha esperança quanto ao avanço da
nossa loso a no mundo moderno. Os muitos ouvintes de meu podcast, Good
Fortune, seguem fazendo perguntas difíceis e me mantendo sincero.
Também adoro meu bairro, Montavilla. Sem a Townshend’s Teahouse, o
Bipartisan Cafe e o Beer Bunker este livro não teria sido escrito.
RESPOSTAS
Página 54: C, F, D, B, A, E
Página 176: C, D, B, A
Página 199: Verdadeiro, Falso, Verdadeiro, Falso, Verdadeiro, Falso,
Verdadeiro
[ 01 ] Amor Fati é uma expressão latina que signi ca “amor ao destino”. Indica, no estoicismo, a
aceitação integral do destino humano, mesmo se ele for implacável. (N. do T.)
[ 02 ] No original, “Bad Fortune” (“Má Sorte”) e “Good Fortune” (“Boa Sorte”). A palavra “Fortune”, o
nome dado à divindade no original em inglês (“Fortuna”, em português), é o termo mais comumente
usado em inglês para indicar a ideia de “sorte” (boa ou má). (N. do T.)
[ 03 ] Ou seja, uma exibilidade emocional, uma capacidade de reagir de modo positivo nas mais
diferentes (e difíceis) situações. (N. do T.)