CDA Portugues
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CADERNO
DE DANAS
DO ALENTEJO
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sua propriedade em termos de direitos de autor portuguesa de direitos de autor e acordos internacio-
e editoriais. A reproduo parcial do seu contedo nais pertinentes, para
exclusivamente para finalidades educacionais
e culturais permitida desde que citada a fonte. Lia Marchi, Domingos Morais, Celina da Piedade
Impresso em Portugal
Printed in Portugal
A
rquivem-se as danas. Que susto. Arqui- prolongadas em sonoridades singulares e doces.
var continua a ser, na linguagem comum, Uma outra notcia(1), talvez anterior, repes-
guardar o que j no se usa, no tem cada no acervo reunido por Paulo Lima na sua
prstimo, de pouco serve a quem tem mais que investigao sobre o fado operrio no Alentejo,
fazer do que ocupar-se com velharias. relata a passagem de D. Lus, rei de Portugal
Mas arquivar tambm entendido como o (de 1861 a 1889) pelo Castelo do Alvito, onde
cuidado de guardar o que no se quer deitar fora ter conhecido Sofia Frade (1853-1897), natural
ou destruir, mesmo que no se saiba bem o que de Messejana, que improvisava versos e era
escolher de entre os objectos, saberes e memrias conhecida nas romarias e bailhos da regio,
dos outros. Ou de ns prprios, quando queremos na Senhora da Cola, em So Joo do Deserto,
contar como somos ou ramos. na Senhora DAires, onde cantava e vencia nas
(1)
Ernesto Carvalho, s.d.,
De roda do lume dos poetas
Joo Ranita Nazar indica a data de 1886 para cantigas ao desafio os poetas populares.
populares, cit. in Paulo Lima a primeira notcia que se conhece sobre os canta- Quando duma vez o rei D. Luiz se achava hospedado
(2004), O Fado Operrio no
Alentejo. Lisboa: Ed. Tradisom,
res no Baixo Alentejo, dada por Francisco Manuel no Castelo dAlvito, onde a miude ia para caar, o Mar-
pp. 248-254. de Melo Breyner, Conde de Ficalho (1837-1903), quez, velho camarista muito dedicado ao Soberano,
em parte, categoria das religiosas, em parte, na Aleixo; na festa de Santa Luzia, em Pias; etc., etc., etc. 20-23, Serpa, 1899.
possvel ligao, no seu Por Maio: entre bailias tocadores que danavam por vezes tocando Colibri , pp. 177-191, 2000.
e baladas(3): a viola ou a concertina nas costas do par que
Dicionrio de Termos Literrios.
(4)
No fundo, essa intimidade entre a dana e a po- abraavam, para nada se perder? So Paulo: Editora Cultrix, pp.
esia que a balada expe se se lhe quiser entender Susana Bilou Russo, na sua investigao sobre 54-55. 8 ed., 1997 [1974]
a ascendncia. as Histrias e percursos da viola campania(6) (5)
Jos da Silva Pico (1983),
diz-nos que ... segundo o que parece, j em 1899, Costumes dos campnios,
E cita Massaud Moiss(4), que refora o ca- se pressente uma readaptao do contexto social in Atravs dos Campos: Usos e
Costumes Agrcolo-Alentejanos.
rcter popular destes poemas pico-lricos, de dos bailes. Dias Nunes(7), refere mesmo Lisboa: Publicaes Dom
assunto novelesco, estruturados em dsticos, Estes bailes populares, que hoje em dia se realizam
Quixote, pp. 151-224.
por vezes com refro, circulando entre povos dentro de casa, eram feitos ao ar livre e em redor de (6)
Tese de mestrado indita,
anglo-saxnicos, gregos, romenos, finlandeses, mastros; mas isto relatam os velhos h uns bons orientada pela Prof. Paula Go-
eslavos, balcnicos, espanhis e portugueses, quarenta anos, ainda no tempo em que o adufe se dinho, datada de 2003 e com
impunha como instrumento da moda. publicao prevista pelo IELT.
a distinguir da balada de circulao erudita. Para
este autor, balada e bailada possuem o mesmo e descreve-os nesse final de sculo: (7)
A Tradio, 1899, p. 124.
timo latino, ballare.
Sofia Loren ou com outro qualquer mito inacessvel revela as interdies dos poderes civis e religio- Congresso Luso-Espanhol (Lisboa,
que vssemos no cinema ou nas revistas. sos sobre as romarias portuguesas. Em Vozes do 31 de Maro a 4 de Abril de 1970).
Lamientos de cabrones, diziam os jovens em tom de Separata do tomo III da actas.
Povo: A Folclorizao em Portugal(16), de 2003,
brincadeira, dessas msicas que eram as preferidas
e em Camponeses estetas no Estado Novo: Pierre Sanchis (1983),
(15)
para danar. E eram as que afligiam mais o arame
arte popular e nao na poltica folclorista do Arraial, Festa do Povo. Lisboa:
farpado, senhoras que s ficavam felicssimas quando Publicaes Dom Quixote.
nos viam a danar o vira ou um corridinho do Algarve. Secretariado da Propaganda Nacional, de 2007,
de Vera Marques Alves(17), esclarecem-se muitos (16)
Salwa el-Shawan Castelo-Bran-
co, e Jorge Freitas Branco (orgs.),
Os boleros e canes da moda, em castelha- dos ainda visveis efeitos na dana popular e nos Vozes do Povo: A Folclorizao em
no, os sambas brasileiros e as msicas da rdio ranchos folclricos e etnogrficos. Portugal. Oeiras: Celta Editora.
dos canonetistas da poca eram os repertrios Jorge Dias faz esta referncia ao Alentejo: (17)
Tese de doutoramento, ISCTE,
que toda uma juventude das vilas e cidades do O Alentejo tinha pocas do ano, em que desciam os Departamento de Antropologia,
Alentejo e doutras regies do pas conhecia de ratinhos da Beira e subiam os algarvios para traba- Lisboa, 2007
D
ocumentar as danas tradicionais do do Alentejo, dividida em duas etapas: abril a junho
Alentejo e mostrar o esprito e o sentido de 2010 e setembro e outubro do mesmo ano.
do baile popular deste e neste especfi- Nos caminhos que se abriram muitas foram as
co territrio foi para ns estimulante desde as nossas perguntas e as perguntas que se apre-
primeiras conversas acerca do tema que, afinal, sentaram por outras vozes.
se consolidaram no desenvolvimento do projeto Sabendo que no momento no chegaramos
Arquivo das Danas do Alentejo, no ano de 2010. a todas as respostas, acreditando na longevidade
Conversas que uniram vontades e capacidades deste projeto e no comprometimento dos envol-
vindas da diversidade de experincias. vidos, optamos por tratar, neste primeiro Caderno
O processo para se chegar ao projeto e a cons- de Danas, algumas das questes centrais que
truo de seus objetivos contou com a vocao permeiam esta iniciativa, e elegemos algumas
inequvoca de danar e fazer bailes da Associao regies e repertrios pontuais dentro do vasto
PdeXumbo, com o desejo obstinado de documen- territrio alentejano.
tar e valorizar tradies populares da nossa equipe Como, porque, com quem e para quem do-
e com a percepo da importncia do acesso cumentar danas tradicionais foram indagaes
a este acervo que conduz as realizaes do IELT que nos acompanharam ao longo do trabalho.
Instituto de Estudos de Literatura Tradicional Elas nos conduziram, orientaram, nos fizeram
da Universidade Nova de Lisboa. reavaliar nossas posturas e condutas em campo.
A
memria de um baile cantado est pre- faz hoje nos grupos corais alentejanos, ou to-
sente em diversas regies do Alentejo. cado por instrumentos locais como a gaita de
Muitos ainda lembram que o cantar era beios, a viola campania, a concertina e mesmo
natural e corriqueiro. As histrias cotidianas eram o acordeo, quando disponveis.
cantadas nos casamentos, batizados, almoos, Um baile cantado moda antiga, como se fez
trabalhos rurais, matanas de porco, festas de por tantas dcadas nos montes, nas ceifas, nas
santos, entre outros. Assim, foi se formando um casas, nas ruas e volta dos mastros(2), hoje no
repertrio local, hoje entendido como tradicional. parece factvel. Entretanto, a fora das msicas
O cantar era tambm possibilidade concreta e a diverso que nos proporcionam as danas
de realizar o baile, dado que em muitas ocasies de roda sublinham a riqueza e a aceitao deste
no havia um tocador nem mesmo instrumentos. repertrio, que acreditamos encontrar novos
Por vezes, como no caso dos trabalhos rurais, espaos para a sua prtica.
seria impensvel arranjar um tocador, pelo que Muito embora em geral no se vejam estas
(1)
Os grupos corais alentejanos
so coros polifnicos compostos
era preciso cantar para danar. danas nos bailes populares das atuais festas
por homens ou mulheres ou, em Neste captulo, abordaremos algumas danas das aldeias do Alentejo, quando elas so invo-
alguns casos, so coros mistos, que compunham o vasto repertrio dos bailes cadas em ocasies como oficinas de danas,
cujo repertrio formado pelas
modas tradicionais da regio. populares na regio do Baixo Alentejo, no con- pesquisas de campo e encontros de amigos,
Estas peas so cantadas celho de Castro Verde. nota-se que tanto quem j as conhece, quanto
a duas, trs ou quatro vozes
chamadas de: Ponto, Alto, Vale dizer que este mesmo repertrio poder quem ouve (e dana) pela primeira vez passa
Segundas e Baixo. A voz ter sido cantado a vozes(1) nos bailes, como se pela experincia do baile inclusivo e da dana
MOVIMENTO
Pares marcham no sentido anti-horrio e se-
guem alternando o sentido da roda quando ter-
Outras fontes
<http://vimeo.com/15647908> Entrudanas
2 Parte. Registro da Oficina de Danas Tradi-
cionais Alentejanas realizada em Entradas. Fes-
NA CANTIGA: MOVIMENTO:
Exemplo de cantiga:
(1)
Quanto aos registros de consulta
Minha me pra meu casar A roda anda no sentido anti-horrio observamos que, no registro da
Ofereceu-me uma panela (2X) msica, a cantiga cantada uma
vez, enquanto que no registro da
Possvel variao: alternar o sentido do movimento dana repetem-se os dois primei-
Depois de me ver casada da roda uma ou mais vezes. ros versos e, a seguir, repetem-se
os dois segundos versos da canti-
Partiu-me a cara com ela (2X)(1) ga. Ressaltamos que a opo fica
a critrio dos executantes.
Dei a mo ao meu amor O par d a mo. Mo esquerda do homem se- frente do amor
Brincas tu, brincarei eu (2X)
Antes que ningum soubesse (2X) gura mo direita da mulher passando sobre os
Anda c para meus braos
braos dos integrantes da roda. Ningum te quer mais do que
eu (2X)
Se tu s o meu amor O par abraa-se passando sobre os braos dos Exemplo de cantiga
D-me c abraos teus (2X) integrantes da roda. Os coraes tambm choram
E eu ainda no sabia (2X)
Se no s o meu amor O par desfaz o abrao e despede-se acenando. Ontem noite acordei eu
Ao pranto que o meu fazia (2X)
Saudinha, adeus, adeus (2X)
NA CANTIGA: MOVIMENTO:
POSIO INICIAL
Roda simples, formada por pares agarrados,
braos voltados para o centro da roda.
Registro de consulta
<http://vimeo.com/15040534> Registro da
dana. Tocador: Pedro Mestre (viola campania).
Danadores: Ana Valadas, Antnio Guerreiro, Ce-
lina da Piedade, Domingos Morais, Dora Alexan-
dra Algarvio, Lusa Crte, Milena Lusa Martins
e Vtor Cordeiro. Gravao realizada em Castro
Verde, a 11 de setembro de 2010.
enleio
POSIO INICIAL
Par agarrado: Homem e mulher de frente um
para o outro. Mo esquerda do homem segura
mo direita da mulher. Mo direita do homem
nas costas da mulher. Mo esquerda da mulher
sobre o ombro do homem.
Ai dizem mal
Pedro Mestre. Gravao realizada em Casvel, a
10 de setembro de 2010.
Ai dizem mal
Dizem mal dos caadores
Ai por matarem
Por matarem os pardais
Ai os teus olhos
E os teus olhos meu amor
Ainda matam
Ainda matam muito mais
campo. Esta denominao a valsa ter sido tocada no instrumento dispo- de pares. O homem fica direita da mulher,
est presente no discurso dos nvel: como a guitarra(3) ou a gaita de beios. diferenciando-se da posio base do par nas
mais idosos, que se lembram
da valsa ser assim chamada. O importante era viabilizar o toque(4). rodas de muitas danas populares.
Na regio de Castro Verde A msica destas valsas somente instru- Costuma-se dizer que, ao ouvir o toque da
(Baixo Alentejo) registramos
depoimentos em que a valsa mental, porque o mandador, ou os mandado- valsa, os casais vo se formando e seguem para
mandada da Serra de Grndola res figuras centrais no desenvolvimento do o centro do salo, mantendo-se num passo de
tambm conhecida como
valsa sagorra. baile falam durante toda a msica; mandam dois tempos. Quando a roda est formada,
A
seguir, listamos procedimentos gerais para Procedimentos gerais
danar a valsa, bem como descrevemos
alguns mandos introdutrios. Nos regis- A roda inicia sempre seus mandos pelo singelo
tros de consulta referenciados, disponibilizados esquerda, considerado o passo base.
na Internet e nas recolhas de Manuel Arajo, O singelo apenas considerado mando no incio
apresentadas nas pginas 82 a 88, o leitor en- da roda, no singelo por fora e no singelo por
contrar outros mandos e poder alargar suas dentro. Nas outras situaes utilizado para
prticas neste repertrio. manter o sincronismo da roda.
Ressaltamos que as primeiras cinco figu- O usual alternar o sentido (esquerda/direita) das
ras descritas (singelo, trs corridos, passa por figuras, ou seja, preferencialmente no se manda
diante, voltinha e meia cadeia) seguem a ordem duas ou mais figuras seguidas em um mesmo
e a referncia publicada na Internet por Manuel sentido, para que os mandos sejam mais rpidos.
Arajo e Lusa Arajo em 2010. Nestes ende- Na valsa mandada, em geral, no se usa repetir
reos, listados aqui nos registros de outras uma mesma figura duas vezes para o mesmo
fontes, os danadores disponibilizaram na rede lado. Caso ele no mande uma nova figura, os
uma srie de filmes intitulados Valsa mandada pares permanecem no singelo, at que ele
iniciao, nos quais demonstram os passos mande outro passo.
isoladamente. O comando pra l indica direita e o comando
pra c indica esquerda. Em geral usa-se
mandar o pra l e raramente se diz o pra
(...)
ALPALHO
Baile de aniversrio,
Centro de Dia de Melides, 2010. 74 | CADERNO DE DANAS DO ALENTEJO MEMRIAS DOS BAILES
danar em apresentaes, a fim de representar
as tradies da terra.
Dona Maria Jos cantou versos que
aprendeu nos bailes da juventude apoiada
em suas duas bengalas, acompanhados de
alguns passitos de dana.
Dona Amlia conta da febre que eram os
bailes por l muitas vezes dirios! E ensina
que as raparigas tinham um leno para levar
ao baile. Por vezes, quando era possvel, feito
com o mesmo pano das blusas: Sim, porque
tnhamos costureiras que nos faziam as blusas
e se sobrasse pano, fazia-se com o mesmo
tecido para combinar relembra.
Os lenos eram para que os rapazes
pusessem a mo sobre ele na hora de formar
o par na dana e assim, no sujassem as
blusas. Porque no queramos as blusas
sujas observa. Se o rapaz fosse namorado
ou quisessem ambos o namoro deixava-se
que ele levasse o leno. Se quisesse ele
namorar tentava lev-lo e a rapariga, caso no
o quisesse, no deixava que ele lhe roubasse
o leno. E acrescenta ainda que as raparigas
sentavam-se no colo das mes e os rapazes
vinham tir-las do colo delas para danar.
Nesta altura, tinha ela 19 anos! Hoje tem 80.
Os tocadores sempre foram figuras espe- Deu-lhe a bicicleta e l foi Fernando Au-
ciais. Do longa vida aos bailes estes artistas. gusto com a concertina s costas por qui-
Fernando Augusto, de Melides, um afa- nhentos metros. Apeou, deixou a bicicleta
mado tocador de concertina e acordeo. e a concertina na estrada e seguiu a p. Al-
A histria da sua vida est entrelaada com gum tempo depois passava o senhor da aldeia
os bailes populares. um destes msicos que com a bicicleta e a concertina e seguia mais
nas suas narrativas contam das memrias quinhentos metros com o transporte que
do mundo. servia para aliviar o caminho aos dois. Mais
Em constantes visitas a Melides, muitos a frente, Fernando Augusto reencontrava
foram os relatos das aventuras que em suas a bicicleta e a concertina e montava por mais
dcadas de bailes pelo Alentejo viveu. quinhentos metros passando pelo seu co-
Certa vez, no Centro de Dia, Manuel Arajo lega, que seguia o mesmo tanto a p, para
e o tocador, ao p do jogo de cartas, relembra- depois encontrar frente, primeiro o veculo
ram a seguinte passagem. Fernando Augusto e depois o tocador com o qual se revezava
era tocador solicitado e costumava viajar para na caminhada. Interessante estratgia para
fazer bailes em outras localidades. Ia para facilitar a pernada at a aldeia.
atender vrias aldeias e vilas e ficava fora por Foi numa destas que Fernando Augus-
mais de quinze dias. to um dia enganou-se no caminho e tomou
Numa destas jornadas apanhou a camio- a estrada errada numa bifurcao. Nunca
nete com a concertina s costas, rumo a So mais passava por ele o colega e nunca mais
Lus, prximo de Odemira, Baixo Alentejo. chegava a aldeia. Foi preciso voltar muito
L chegando, como de costume, esperava- atrs para achar a bicicleta e a concertina...
o um senhor da aldeia Vale Ferro com uma E mais ainda para achar o caminho do baile...
bicicleta a pedal.
Antnio Nunes o atual ensaiador do de milho com seus pais e conta que acaba-
Rancho Nossa Senhora da Alegria, de Cas- da a tarefa o patro dava o lanche e seguia
telo de Vide. Sempre viveu na regio e est o baile que nunca faltava nestas ocasies.
no rancho desde 1967, desde os primeiros No havia tocadores nestas alturas. Quem
tempos do grupo. l estava ia para trabalhar, no se pagava
Antes de haver ranchos, viveu os bailes um tocador para ir at l. Se houvesse um
do campo e reviveu nas histrias dos mais na regio, o patro por vezes chamava para
velhos as memrias e realidades dos bailes fazer a festa maior. Danava-se o vira, as saias
do povo da regio. Ainda foi a desfolhadas e o que mais soubessem.
A ver quem danava melhor para animar aplaudido. Era o melhor deles nessa noite.
a festa. At havia uma medida que chamava- Era uma medida em madeira. Chamava-se
se o alqueire que serve para medir os ce- o alqueire. Voltava-se a medida para cima
reais, tanto trigo como milho. Danava-se e ficava uma tbua. Era uma caixa, um cai-
em cima de uma medida. Portanto, uma xote. Era o alqueire. E quem no casse de
medida que ter 30 ou 40cm por 30 ou 40cm. l de cima era o melhor danarino. Tentava-
Quem soubesse danar melhor em cima se... porque no era muito fcil. Lembro de
dessa medida com os pezinhos era o mais ouvir falar muito.
O
s experientes danadores que entrevis- tambm ter no corpo e na mente estas figuras,
tamos dizem que para ser um bom man- de forma que naturalmente consiga dit-las aos
dador preciso reunir certos atributos, danadores, construindo e executando no mo-
entre eles, ter uma boa voz, para que todos os mento um mando que mostre a arte desta dana.
componentes da roda escutem o que se manda, Nos dias atuais, uma das maiores dificuldades de
conhecer bem os mandos e respeitar os compas- formar uma roda para a valsa encontrar quem sai-
sos (o balano da msica). ba mandar e, desta forma, ensinar os movimentos.
Alm de saber executar cada mando, um A fim de ilustrar algumas sequncias na ex-
bom mandador deve encadear bem os passos, perincia criativa destes artistas, publicamos
ou seja, deve ser capaz de construir de improviso nas pginas a seguir recolhas de Manuel Arajo,
uma boa sequncia: bonita para quem assiste que registrou mandos e mandadores ao longo
e instigante para quem executa. de dcadas em bailes populares e apresenta-
Para compor a coreografia da valsa, no bas- es de ranchos e grupos da regio, em diversas
ta saber os mandos individualmente, preciso gravaes para sua extensa pesquisa.
Recolha Faz a meia cadeia direita Furta uma vez Para trs, tudo certo
Manuel Arajo Singelo ficou Sempre singelo Faz a meia cadeia direita
Furta a Meia cadeia de fora o homem Marca pra diante
Faz trs corridos pra l Meia cadeia esquerda Outra meia cadeia esquerda
Furta a Voltinha direita Muda a mulher e compasso
Meia cadeia esquerda, para Meia cadeia esquerda esquerda
o outro lado a mulher e furta a Dois compassos para fora Fazemos a meia cadeia, muda
Passa e dobra pra l Singelo a mulher e marca pra diante
Mulher esquerda e trs Mulher ao natural Volta direita
corridos Meia cadeia, de fora o homem Meia volta, furtou
Passo dobrado direita Trs corridos esquerda Passa e dobra
Singelo Meia cadeia esquerda Marca pra diante
Furta a Cadeia os dois Trs corridinhos direita
Passo dobrado pra l Dois compassos agora Pra trs e tudo certo
Para o outro lado a mulher Compasso direita Furtou
e furta a Volta direita
Manda adiante Passa pela frente e manda
adiante
Coordenao editorial:
Domingos Morais e Lia Marchi
Autora: Lia Marchi
Projeto Colaboradores:
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do Alentejo
Transcries musicais: Celina da Piedade
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