PhD Student in Sciences Religieuses na École Pratique des Hautes Études - EPHE. Master’s Degree in Sacred Theology at Union Theological Seminary. Master's Degree in Sciences of Religion Post-Graduation Program at PUC-Minas (2017-2019). Bachelor Degree in International Relations at Universidade Estácio de Sá-RJ (2003). Research fields: Intercultural and Interreligious Dialogue, Pluralism, Raimon Panikkar, Hinduism and Christianism, Religion and International Relations. Coordinator of the work group Spiritualities, Pluralism and Dialogues. Member of the Research Group REPLUDI - Religion, Pluralism and Dialogue and of the Histara Research Lab. Supervisors: Valentine Zuber and Roberlei Panasiewicz
Este artigo procura investigar de que forma a perspectiva advaita do Hinduísmo está inserida no p... more Este artigo procura investigar de que forma a perspectiva advaita do Hinduísmo está inserida no pensamento de Panikkar, como o que ele denomina de "amor advaita" e, assim, se constitui como caminho de construção do diálogo inter-religioso. Para tal, contextualizamos o advaita e a sua aplicação pelo autor em sua teoria da visão cosmoteândrica, baseada na Trindade cristã, em seu conceito de Cristofania e na sua compreensão da Teologia do Pluralismo Religioso, através de uma "atitude pluralista". Identificamos, então, o advaita em sua teoria de diálogo intra-religioso, como o encontro do outro em si mesmo através do "amor advaita", em uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, em perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasada na bibliografia de Panikkar.
O texto apresenta resultados de pesquisa sobre questões que envolvem a apreciação da diversidade ... more O texto apresenta resultados de pesquisa sobre questões que envolvem a apreciação da diversidade religiosa e cultural e as possibilidades de aproximação, cooperação e diálogo entre os distintos grupos que compõem esse quadro e como a interação de tais análises e atitudes interpela criticamente os estudos de religião. As concepções de diálogo e de interculturalidade decorrem de posturas e posicionamentos práticos e requerem formas de inserção sociocultural. Elas não são restritas ao dado prático, mas exigem sólida base analítica associada a atitudes de valorização da pluralidade, de abertura ao diálogo e de entrecruzamento de saberes. Metodologicamente, os resultados da pesquisa estão apresentados em três passos concatenados. O primeiro indica a necessidade de articulação de elementos fronteiriços das disciplinas Ciências da Religião e Teologia, em função do caráter propositivo que as perspectivas de diálogo e de interculturalidade possuem, bem como de se evitarem posições apologéticas, subjetivistas e arbitrárias em relação a elas. O segundo enfoca os aspectos críticos gerados nas teologias das religiões em relação ao centralismo do cristianismo como critério de avaliação do conjunto de experiências religiosas e de espiritualidades. Para isso, a análise propõe um olhar voltado às questões da interculturalidade, tanto a partir do movimento conceitual realizado por Raimon Panikkar em direção ao diálogo intercultural, que ultrapassa as fronteiras do religioso, quanto às teologias da religião em contexto latino-americano, base do princípio pluralista, que, entre outros aspectos, enfatiza a distinção entre interculturalidade funcional e crítica, feita por Catherine Walsh, dentro dos estudos culturais decoloniais. Por fim, o terceiro passo reúne as possibilidades de alargamento conceitual, com: (i) a crítica ao conceito moderno de religião; (ii) a valorização das dimensões transdisciplinar e transreligiosa para a compreensão da complexidade da realidade e (iii) a apresentação das possibilidades de diálogos interfés, interconvicções e interculturais, não se restringindo ao inter-religioso.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural.
HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 2019
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, f... more Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de ...
Este texto foi publicado na revista World Faith Insights 26, 1990, p. 7-16 e é a transcrição de u... more Este texto foi publicado na revista World Faith Insights 26, 1990, p. 7-16 e é a transcrição de uma palestra proferida pelo teólogo e filósofo catalão Raimon Panikkar (1918-2010). Por se tratar de uma transcrição fiel da linguagem oral, nosso desafio nesta tradução foi adequar o texto à linguagem escrita sem, no entanto, perder os traços característicos do palestrante e autor.
Originalmente publicado na revista World Faith Insights, n. 26, p. 7-16, 1990, este texto é a tra... more Originalmente publicado na revista World Faith Insights, n. 26, p. 7-16, 1990, este texto é a transcrição de uma palestra proferida pelo teólogo e filósofo catalão Raimon Panikkar (1918-2010).
A partir da perspectiva hindu, conhecida como advaita ou adualidade, Panikkar faz uma crítica à p... more A partir da perspectiva hindu, conhecida como advaita ou adualidade, Panikkar faz uma crítica à primazia do pensamento científico em detrimento de uma visão mais holística da realidade que, para ele, estaria relacionada à experiência de uma nova inocência. Tal experiência exige uma visão do terceiro olho, que integra a razão e os sentidos, que também pode ser chamada de experiência mística ou intuição advaita. Na visão panikkariana, a mística é uma relação adualista entre a ação e a contemplação, o conhecimento e o amor. Através de pesquisa bibliográfica em uma perspectiva metodológica crítico-analítica, mostraremos de que forma ele constrói sua crítica e aponta o caminho que, ao seu entender, leva a um tipo de conhecimento amoroso, mais integrado ao que chama de experiência da Vida.
Recebi a difícil tarefa do editor desta revista de escrever uma coluna elencando os 10 livros fun... more Recebi a difícil tarefa do editor desta revista de escrever uma coluna elencando os 10 livros fundamentais para o Diálogo Inter-religioso. Esta tarefa tem um certo grau de dificuldade ao meu ver, pois não sinto que haja realmente 10 livros fundamentais para o DIR de forma generalizada, mas, sim, aqueles que foram e tem sido fundamentais para a minha pesquisa sobre o DIR cristão-hindu e as teorias do filósofo e teólogo catalão Raimon Panikkar, bem como para o meu olhar de cientista da religião, ser humano, mulher, branca, etc.
Dito isso, segue minha lista de livros fundamentais, meio que de forma cronológica da forma como eu fui introduzida ao DIR, levando em consideração com toda certeza a minha orientação no mestrado e, agora também, como co-orientador no doutorado, do Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz e a tantas outras pessoas que me auxiliam ao longo da pesquisa, como minha orientadora , a Prof. Dra. Valentine Zuber, o Prof. Dr. Faustino Teixeira, o Prof. Dr. Frank Usarski, minha querida colega, a Ma. Angélica Tostes e tantos outros e outras que fazem parte da minha formação.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural. Palavras-chave: Realidade Cosmoteândrica. Cristofania. Raimon Panikkar. Diálogo Inter-religioso. Diálogo Intercultural.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural. Palavras-chave: Realidade Cosmoteândrica. Cristofania. Raimon Panikkar. Diálogo Inter-religioso. Diálogo Intercultural.
In the contemporary world, religions and cultures are mutually intertwined. We highlight Christianism, Hinduism and Budism and their incommensurable historical and theological richesses. Would it be possible to articulate them to the benefit of both the humanum and humanity? Raimon Panikkar (1918-2010) has faced this challenge. Of a bibliographical nature, this research intends to highlight aspects of his theological intuitions which stimulate dialogical relationships. The Hindu notion of advaita (aduality) has made it possible for him to reread some of his theological experiences. We highlight his conception of the Trinity, the cosmotheandric reality and its implications to the Christology, named Christofania. These intuitions awake new directions to the intercultural and interreligious dialogues. Keywords: Cosmotheandric reality. Christophany. Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Intercultural Dialogue.
Nestes tempos sombrios e de incertezas, tenho ouvido e lido sobre o papel da religião para nos aj... more Nestes tempos sombrios e de incertezas, tenho ouvido e lido sobre o papel da religião para nos ajudar a encontrar respostas, tanto teóricas quanto práticas, para as nossas inúmeras questões. No entanto, tenho me perguntado, qual é o lugar dos e das sem-religião diante da crise pandêmica? Onde poderíamos (pois me incluo neste grupo) encontrar tais respostas? Há uma salvação possível para nós diante de um possível apocalipse? Como sobreviver e garantir um mínimo de sanidade mental?
Ao ler a introdução do livro "O Silêncio de Buda", de Raimon Panikkar, deparei-me com reflexões d... more Ao ler a introdução do livro "O Silêncio de Buda", de Raimon Panikkar, deparei-me com reflexões do autor que dialogam diretamente com os dias atuais e que podem trazer alguma luz a este contexto de pandemia no qual estamos vivendo. E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salvação? Algo criado pela própria natureza para salvar o planeta e, portanto, a espécie humana.
Não pretendia escrever sobre o Coronavírus, mas a realidade me obriga a fazê-lo. Hoje, exatamente... more Não pretendia escrever sobre o Coronavírus, mas a realidade me obriga a fazê-lo. Hoje, exatamente agora, dia 17 de março, ao meio-dia, enquanto escrevo, estamos entrando em confinamento total aqui na França.
Raimon Panikkar (1918-2010) is a theologian and philosopher, born in Barcelone. From a hindu-chri... more Raimon Panikkar (1918-2010) is a theologian and philosopher, born in Barcelone. From a hindu-christian family, he was one of the main exponents of the interreligious dialogue. Stands out, in this context, his famous expression: “I left as a Christian, found myself as a Hindu and became a Budist, without ceasing to be a Christian. In my return, I found myself as a better Christian”. In order to understand it, we find essential to go deep into the meaning of advaita (aduality). The way in which the Vedic perspective of advaita is inserted in his work and constitutes a resource for the interreligious dialogue is the main theme of this research. The author has developed important concepts throughout his work and we can identify not only an influence, but a clear reference to the Hindu tradition and, more specifically, to the advaita perspective, mentioned many times by him and identified by us as a kind of conducting wire or explanatory factor to many of his theories. This research investigates how the advaita constitutes a way of building the interreligious dialogue in Panikkar’s works. For such, we contextualize the advaita perspective in the origins of Hinduism and its use by the author, from a critical analysis of Western philosophical thought, in his mystical experience, also defined by him as “experience of Life”. We analyze his theories of Trinitarian and cosmotheandric vision, based in the Christian Trinity, his concept of christology named as christophany and the development of a “pluralistic attitude”, which will serve as a base for the interreligious dialogue in his works, from the pluralistic paradigm of the Religious Pluralism Theology. Then, we identify the advaita in the development of what he understands as intra-religious dialogue, encountering the other in its ownself, through what he calls “advaitic love”. It is a pilgrimage that takes place in the human being’s interiority, parallel to the interreligious dialogue. This is a theoretical research, through a critical-analytical methodological perspective, in view of its apllication in the interreligious dialogue, based in Panikkar’s bibliography, but also in some authors who dialogue, criticize and/or are a reference to him.
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: “parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão”. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de que forma o advaita se constitui em caminho de construção do diálogo inter-religioso nas obras de Panikkar. Para tal, contextualizamos a perspectiva advaita nas origens do Hinduísmo e a sua utilização por parte do autor, a partir de uma análise crítica do pensamento filosófico ocidental, em sua experiência mística, também definida por ele como “experiência da Vida”. Analisamos suas teorias da visão trinitária e cosmoteândrica, baseadas na Trindade cristã, o seu conceito de cristologia nomeado de cristofania e o desenvolvimento de uma “atitude pluralista”, que servirá como base para o diálogo inter-religioso em sua obra, a partir do paradigma pluralista da Teologia do Pluralismo Religioso. E identificamos o advaita na construção do que ele entende por diálogo intra-religioso, o encontro do outro em si mesmo, através do que denomina “amor advaita”. Uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, através de uma perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasadas na bibliografia de Panikkar, mas também na de alguns autores que dialogam, criticam e/ou servem como referência para ele.
"E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salv... more "E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salvação? Algo criado pela própria natureza para salvar o planeta e, portanto, a espécie humana. Esse “ser” invisível que ameaça nos destruir pode ser nossa única esperança de salvação. A única coisa que nos fez parar até hoje, de consumir incessantemente, de destruir os recursos finitos do nosso planeta, de nos movermos desenfreadamente", escreve Rita Grassi, doutoranda em Sciences Religieuses na École Pratique des Hautes Études - EPHE em co-tutela com a PUC Minas, mestra em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, e membro do Grupo de Pesquisa REPLUDI - Religião, Pluralismo e Diálogo e do CEDRE (Centro Europeu de Estudos Republicanos).
Rita Grassi debate a emergência do diálogo interconvicções e seu impacto político na possibilidad... more Rita Grassi debate a emergência do diálogo interconvicções e seu impacto político na possibilidade de garantir uma vivência plural e a transformação da sociedade
Pode parecer estranho, mas atualmente lidamos melhor com as diferenças do que, talvez, em toda a história da humanidade. Isso porque, em geral, não toleramos a ideia de assassinar ou de violentar uma pessoa por ela ter convicções diferentes das nossas. Contudo, vivemos também uma experiência de encurtamento dos espaços, em que o convívio com a diferença é muito mais próximo do que supomos e gostaríamos. “E se, em outros tempos, as diferenças e divergências eram resolvidas na base da guerra, da violência, agora não é bem assim. Essas mudanças forçam os seres humanos a buscarem formas de relacionar-se com quem é diferente e que estejam mais alinhadas com os valores atuais das sociedades democráticas, ainda que haja exceções e que a democracia possa estar em xeque em diversos países”, pondera Rita Grassi, mestra em Ciências da Religião, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Diante desta miríade de visões sobre o mundo, o pluralismo religioso assume também um papel de consciência da diversidade que constitui a experiência humana na terra, mas também é reflexo justamente disso. “O diálogo interconvicções não por acaso nasce na Europa, mais especificamente na França e na Bélgica, há cerca de uma década, como um reconhecimento de que o proclamado ‘fim da religião’ não se concretizou e de que era preciso, sim, unir as vozes dissonantes, religiosas ou não, com o foco principal de garantir a laicidade do Estado e de que essas vozes fossem todas ouvidas no âmbito do Parlamento Europeu e dos governos nacionais”, descreve Rita Grassi.
“Entendo que o diálogo de interconvicções traga como ponto principal a discussão de gerar um impacto social e político por meio de sua atuação. Não se trata de um diálogo que tenha como objetivo encontrar uma harmonia ou a paz entre as convicções”, ressalta a entrevistada. “O seu principal objetivo é, através destas vozes, dos encontros e confrontos entre elas, construir um espaço para reivindicar uma transformação da sociedade que atenda a essa pluralidade e, ao mesmo tempo, que garanta a laicidade dos estados europeus e da comunidade europeia”, complementa.
Rita Macedo Grassi realizou mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas. Possui bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá - RJ.
Este artigo procura investigar de que forma a perspectiva advaita do Hinduísmo está inserida no p... more Este artigo procura investigar de que forma a perspectiva advaita do Hinduísmo está inserida no pensamento de Panikkar, como o que ele denomina de "amor advaita" e, assim, se constitui como caminho de construção do diálogo inter-religioso. Para tal, contextualizamos o advaita e a sua aplicação pelo autor em sua teoria da visão cosmoteândrica, baseada na Trindade cristã, em seu conceito de Cristofania e na sua compreensão da Teologia do Pluralismo Religioso, através de uma "atitude pluralista". Identificamos, então, o advaita em sua teoria de diálogo intra-religioso, como o encontro do outro em si mesmo através do "amor advaita", em uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, em perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasada na bibliografia de Panikkar.
O texto apresenta resultados de pesquisa sobre questões que envolvem a apreciação da diversidade ... more O texto apresenta resultados de pesquisa sobre questões que envolvem a apreciação da diversidade religiosa e cultural e as possibilidades de aproximação, cooperação e diálogo entre os distintos grupos que compõem esse quadro e como a interação de tais análises e atitudes interpela criticamente os estudos de religião. As concepções de diálogo e de interculturalidade decorrem de posturas e posicionamentos práticos e requerem formas de inserção sociocultural. Elas não são restritas ao dado prático, mas exigem sólida base analítica associada a atitudes de valorização da pluralidade, de abertura ao diálogo e de entrecruzamento de saberes. Metodologicamente, os resultados da pesquisa estão apresentados em três passos concatenados. O primeiro indica a necessidade de articulação de elementos fronteiriços das disciplinas Ciências da Religião e Teologia, em função do caráter propositivo que as perspectivas de diálogo e de interculturalidade possuem, bem como de se evitarem posições apologéticas, subjetivistas e arbitrárias em relação a elas. O segundo enfoca os aspectos críticos gerados nas teologias das religiões em relação ao centralismo do cristianismo como critério de avaliação do conjunto de experiências religiosas e de espiritualidades. Para isso, a análise propõe um olhar voltado às questões da interculturalidade, tanto a partir do movimento conceitual realizado por Raimon Panikkar em direção ao diálogo intercultural, que ultrapassa as fronteiras do religioso, quanto às teologias da religião em contexto latino-americano, base do princípio pluralista, que, entre outros aspectos, enfatiza a distinção entre interculturalidade funcional e crítica, feita por Catherine Walsh, dentro dos estudos culturais decoloniais. Por fim, o terceiro passo reúne as possibilidades de alargamento conceitual, com: (i) a crítica ao conceito moderno de religião; (ii) a valorização das dimensões transdisciplinar e transreligiosa para a compreensão da complexidade da realidade e (iii) a apresentação das possibilidades de diálogos interfés, interconvicções e interculturais, não se restringindo ao inter-religioso.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural.
HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 2019
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, f... more Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de ...
Este texto foi publicado na revista World Faith Insights 26, 1990, p. 7-16 e é a transcrição de u... more Este texto foi publicado na revista World Faith Insights 26, 1990, p. 7-16 e é a transcrição de uma palestra proferida pelo teólogo e filósofo catalão Raimon Panikkar (1918-2010). Por se tratar de uma transcrição fiel da linguagem oral, nosso desafio nesta tradução foi adequar o texto à linguagem escrita sem, no entanto, perder os traços característicos do palestrante e autor.
Originalmente publicado na revista World Faith Insights, n. 26, p. 7-16, 1990, este texto é a tra... more Originalmente publicado na revista World Faith Insights, n. 26, p. 7-16, 1990, este texto é a transcrição de uma palestra proferida pelo teólogo e filósofo catalão Raimon Panikkar (1918-2010).
A partir da perspectiva hindu, conhecida como advaita ou adualidade, Panikkar faz uma crítica à p... more A partir da perspectiva hindu, conhecida como advaita ou adualidade, Panikkar faz uma crítica à primazia do pensamento científico em detrimento de uma visão mais holística da realidade que, para ele, estaria relacionada à experiência de uma nova inocência. Tal experiência exige uma visão do terceiro olho, que integra a razão e os sentidos, que também pode ser chamada de experiência mística ou intuição advaita. Na visão panikkariana, a mística é uma relação adualista entre a ação e a contemplação, o conhecimento e o amor. Através de pesquisa bibliográfica em uma perspectiva metodológica crítico-analítica, mostraremos de que forma ele constrói sua crítica e aponta o caminho que, ao seu entender, leva a um tipo de conhecimento amoroso, mais integrado ao que chama de experiência da Vida.
Recebi a difícil tarefa do editor desta revista de escrever uma coluna elencando os 10 livros fun... more Recebi a difícil tarefa do editor desta revista de escrever uma coluna elencando os 10 livros fundamentais para o Diálogo Inter-religioso. Esta tarefa tem um certo grau de dificuldade ao meu ver, pois não sinto que haja realmente 10 livros fundamentais para o DIR de forma generalizada, mas, sim, aqueles que foram e tem sido fundamentais para a minha pesquisa sobre o DIR cristão-hindu e as teorias do filósofo e teólogo catalão Raimon Panikkar, bem como para o meu olhar de cientista da religião, ser humano, mulher, branca, etc.
Dito isso, segue minha lista de livros fundamentais, meio que de forma cronológica da forma como eu fui introduzida ao DIR, levando em consideração com toda certeza a minha orientação no mestrado e, agora também, como co-orientador no doutorado, do Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz e a tantas outras pessoas que me auxiliam ao longo da pesquisa, como minha orientadora , a Prof. Dra. Valentine Zuber, o Prof. Dr. Faustino Teixeira, o Prof. Dr. Frank Usarski, minha querida colega, a Ma. Angélica Tostes e tantos outros e outras que fazem parte da minha formação.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural. Palavras-chave: Realidade Cosmoteândrica. Cristofania. Raimon Panikkar. Diálogo Inter-religioso. Diálogo Intercultural.
No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo... more No mundo contemporâneo, religiões e culturas se entrelaçam continuamente. Destacamos cristianismo, hinduísmo e budismo com suas riquezas históricas e teológicas incomensuráveis. Seria possível articulá-las para benefício do humanum, da humanidade e do diálogo inter-religioso e intercultural? Raimon Panikkar (1918-2010) procurou enfrentar este desafio. De caráter bibliográfico, esta investigação se propõe destacar aspectos das suas intuições teológicas que estimulam relações dialogais. A noção hindu advaita (adualidade) o possibilitou reler algumas de suas experiências teológicas. Destacaremos sua concepção de Trindade, a realidade denominada cosmoteândrica e suas implicações para a cristologia, denominada de cristofania. Estas intuições despertam novos direcionamentos para o diálogo inter-religioso e intercultural. Palavras-chave: Realidade Cosmoteândrica. Cristofania. Raimon Panikkar. Diálogo Inter-religioso. Diálogo Intercultural.
In the contemporary world, religions and cultures are mutually intertwined. We highlight Christianism, Hinduism and Budism and their incommensurable historical and theological richesses. Would it be possible to articulate them to the benefit of both the humanum and humanity? Raimon Panikkar (1918-2010) has faced this challenge. Of a bibliographical nature, this research intends to highlight aspects of his theological intuitions which stimulate dialogical relationships. The Hindu notion of advaita (aduality) has made it possible for him to reread some of his theological experiences. We highlight his conception of the Trinity, the cosmotheandric reality and its implications to the Christology, named Christofania. These intuitions awake new directions to the intercultural and interreligious dialogues. Keywords: Cosmotheandric reality. Christophany. Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Intercultural Dialogue.
Nestes tempos sombrios e de incertezas, tenho ouvido e lido sobre o papel da religião para nos aj... more Nestes tempos sombrios e de incertezas, tenho ouvido e lido sobre o papel da religião para nos ajudar a encontrar respostas, tanto teóricas quanto práticas, para as nossas inúmeras questões. No entanto, tenho me perguntado, qual é o lugar dos e das sem-religião diante da crise pandêmica? Onde poderíamos (pois me incluo neste grupo) encontrar tais respostas? Há uma salvação possível para nós diante de um possível apocalipse? Como sobreviver e garantir um mínimo de sanidade mental?
Ao ler a introdução do livro "O Silêncio de Buda", de Raimon Panikkar, deparei-me com reflexões d... more Ao ler a introdução do livro "O Silêncio de Buda", de Raimon Panikkar, deparei-me com reflexões do autor que dialogam diretamente com os dias atuais e que podem trazer alguma luz a este contexto de pandemia no qual estamos vivendo. E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salvação? Algo criado pela própria natureza para salvar o planeta e, portanto, a espécie humana.
Não pretendia escrever sobre o Coronavírus, mas a realidade me obriga a fazê-lo. Hoje, exatamente... more Não pretendia escrever sobre o Coronavírus, mas a realidade me obriga a fazê-lo. Hoje, exatamente agora, dia 17 de março, ao meio-dia, enquanto escrevo, estamos entrando em confinamento total aqui na França.
Raimon Panikkar (1918-2010) is a theologian and philosopher, born in Barcelone. From a hindu-chri... more Raimon Panikkar (1918-2010) is a theologian and philosopher, born in Barcelone. From a hindu-christian family, he was one of the main exponents of the interreligious dialogue. Stands out, in this context, his famous expression: “I left as a Christian, found myself as a Hindu and became a Budist, without ceasing to be a Christian. In my return, I found myself as a better Christian”. In order to understand it, we find essential to go deep into the meaning of advaita (aduality). The way in which the Vedic perspective of advaita is inserted in his work and constitutes a resource for the interreligious dialogue is the main theme of this research. The author has developed important concepts throughout his work and we can identify not only an influence, but a clear reference to the Hindu tradition and, more specifically, to the advaita perspective, mentioned many times by him and identified by us as a kind of conducting wire or explanatory factor to many of his theories. This research investigates how the advaita constitutes a way of building the interreligious dialogue in Panikkar’s works. For such, we contextualize the advaita perspective in the origins of Hinduism and its use by the author, from a critical analysis of Western philosophical thought, in his mystical experience, also defined by him as “experience of Life”. We analyze his theories of Trinitarian and cosmotheandric vision, based in the Christian Trinity, his concept of christology named as christophany and the development of a “pluralistic attitude”, which will serve as a base for the interreligious dialogue in his works, from the pluralistic paradigm of the Religious Pluralism Theology. Then, we identify the advaita in the development of what he understands as intra-religious dialogue, encountering the other in its ownself, through what he calls “advaitic love”. It is a pilgrimage that takes place in the human being’s interiority, parallel to the interreligious dialogue. This is a theoretical research, through a critical-analytical methodological perspective, in view of its apllication in the interreligious dialogue, based in Panikkar’s bibliography, but also in some authors who dialogue, criticize and/or are a reference to him.
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: “parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão”. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de que forma o advaita se constitui em caminho de construção do diálogo inter-religioso nas obras de Panikkar. Para tal, contextualizamos a perspectiva advaita nas origens do Hinduísmo e a sua utilização por parte do autor, a partir de uma análise crítica do pensamento filosófico ocidental, em sua experiência mística, também definida por ele como “experiência da Vida”. Analisamos suas teorias da visão trinitária e cosmoteândrica, baseadas na Trindade cristã, o seu conceito de cristologia nomeado de cristofania e o desenvolvimento de uma “atitude pluralista”, que servirá como base para o diálogo inter-religioso em sua obra, a partir do paradigma pluralista da Teologia do Pluralismo Religioso. E identificamos o advaita na construção do que ele entende por diálogo intra-religioso, o encontro do outro em si mesmo, através do que denomina “amor advaita”. Uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, através de uma perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasadas na bibliografia de Panikkar, mas também na de alguns autores que dialogam, criticam e/ou servem como referência para ele.
"E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salv... more "E se começarmos a enxergar o vírus não como uma maldição, mas como uma benção? Como a nossa salvação? Algo criado pela própria natureza para salvar o planeta e, portanto, a espécie humana. Esse “ser” invisível que ameaça nos destruir pode ser nossa única esperança de salvação. A única coisa que nos fez parar até hoje, de consumir incessantemente, de destruir os recursos finitos do nosso planeta, de nos movermos desenfreadamente", escreve Rita Grassi, doutoranda em Sciences Religieuses na École Pratique des Hautes Études - EPHE em co-tutela com a PUC Minas, mestra em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, e membro do Grupo de Pesquisa REPLUDI - Religião, Pluralismo e Diálogo e do CEDRE (Centro Europeu de Estudos Republicanos).
Rita Grassi debate a emergência do diálogo interconvicções e seu impacto político na possibilidad... more Rita Grassi debate a emergência do diálogo interconvicções e seu impacto político na possibilidade de garantir uma vivência plural e a transformação da sociedade
Pode parecer estranho, mas atualmente lidamos melhor com as diferenças do que, talvez, em toda a história da humanidade. Isso porque, em geral, não toleramos a ideia de assassinar ou de violentar uma pessoa por ela ter convicções diferentes das nossas. Contudo, vivemos também uma experiência de encurtamento dos espaços, em que o convívio com a diferença é muito mais próximo do que supomos e gostaríamos. “E se, em outros tempos, as diferenças e divergências eram resolvidas na base da guerra, da violência, agora não é bem assim. Essas mudanças forçam os seres humanos a buscarem formas de relacionar-se com quem é diferente e que estejam mais alinhadas com os valores atuais das sociedades democráticas, ainda que haja exceções e que a democracia possa estar em xeque em diversos países”, pondera Rita Grassi, mestra em Ciências da Religião, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Diante desta miríade de visões sobre o mundo, o pluralismo religioso assume também um papel de consciência da diversidade que constitui a experiência humana na terra, mas também é reflexo justamente disso. “O diálogo interconvicções não por acaso nasce na Europa, mais especificamente na França e na Bélgica, há cerca de uma década, como um reconhecimento de que o proclamado ‘fim da religião’ não se concretizou e de que era preciso, sim, unir as vozes dissonantes, religiosas ou não, com o foco principal de garantir a laicidade do Estado e de que essas vozes fossem todas ouvidas no âmbito do Parlamento Europeu e dos governos nacionais”, descreve Rita Grassi.
“Entendo que o diálogo de interconvicções traga como ponto principal a discussão de gerar um impacto social e político por meio de sua atuação. Não se trata de um diálogo que tenha como objetivo encontrar uma harmonia ou a paz entre as convicções”, ressalta a entrevistada. “O seu principal objetivo é, através destas vozes, dos encontros e confrontos entre elas, construir um espaço para reivindicar uma transformação da sociedade que atenda a essa pluralidade e, ao mesmo tempo, que garanta a laicidade dos estados europeus e da comunidade europeia”, complementa.
Rita Macedo Grassi realizou mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas. Possui bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá - RJ.
Le Programme Gradué Sciences des religions de l'Université PSL/École Pratique des Hautes Études e... more Le Programme Gradué Sciences des religions de l'Université PSL/École Pratique des Hautes Études est heureux de vous inviter à une discussion virtuelle avec BRUCE LINCOLN Professeur émérite d'histoire des religions à l'Université de Chicago Le jeudi 10 juin 2021, 18h00-20h00 (EST)
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Papers by Rita Grassi
Dito isso, segue minha lista de livros fundamentais, meio que de forma cronológica da forma como eu fui introduzida ao DIR, levando em consideração com toda certeza a minha orientação no mestrado e, agora também, como co-orientador no doutorado, do Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz e a tantas outras pessoas que me auxiliam ao longo da pesquisa, como minha orientadora , a Prof. Dra. Valentine Zuber, o Prof. Dr. Faustino Teixeira, o Prof. Dr. Frank Usarski, minha querida colega, a Ma. Angélica Tostes e tantos outros e outras que fazem parte da minha formação.
In the contemporary world, religions and cultures are mutually intertwined. We highlight Christianism, Hinduism and Budism and their incommensurable historical and theological richesses. Would it be possible to articulate them to the benefit of both the humanum and humanity? Raimon Panikkar (1918-2010) has faced this challenge. Of a bibliographical nature, this research intends to highlight aspects of his theological intuitions which stimulate dialogical relationships. The Hindu notion of advaita (aduality) has made it possible for him to reread some of his theological experiences. We highlight his conception of the Trinity, the cosmotheandric reality and its implications to the Christology, named Christofania. These intuitions awake new directions to the intercultural and interreligious dialogues. Keywords: Cosmotheandric reality. Christophany. Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Intercultural Dialogue.
Keywords: Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Pluralism. Advaita. Hinduism.
RESUMO
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: “parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão”. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de que forma o advaita se constitui em caminho de construção do diálogo inter-religioso nas obras de Panikkar. Para tal, contextualizamos a perspectiva advaita nas origens do Hinduísmo e a sua utilização por parte do autor, a partir de uma análise crítica do pensamento filosófico ocidental, em sua experiência mística, também definida por ele como “experiência da Vida”. Analisamos suas teorias da visão trinitária e cosmoteândrica, baseadas na Trindade cristã, o seu conceito de cristologia nomeado de cristofania e o desenvolvimento de uma “atitude pluralista”, que servirá como base para o diálogo inter-religioso em sua obra, a partir do paradigma pluralista da Teologia do Pluralismo Religioso. E identificamos o advaita na construção do que ele entende por diálogo intra-religioso, o encontro do outro em si mesmo, através do que denomina “amor advaita”. Uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, através de uma perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasadas na bibliografia de Panikkar, mas também na de alguns autores que dialogam, criticam e/ou servem como referência para ele.
Palavras-chave: Raimon Panikkar. Diálogo inter-religioso. Pluralismo. Advaita. Hinduísmo.
Pode parecer estranho, mas atualmente lidamos melhor com as diferenças do que, talvez, em toda a história da humanidade. Isso porque, em geral, não toleramos a ideia de assassinar ou de violentar uma pessoa por ela ter convicções diferentes das nossas. Contudo, vivemos também uma experiência de encurtamento dos espaços, em que o convívio com a diferença é muito mais próximo do que supomos e gostaríamos. “E se, em outros tempos, as diferenças e divergências eram resolvidas na base da guerra, da violência, agora não é bem assim. Essas mudanças forçam os seres humanos a buscarem formas de relacionar-se com quem é diferente e que estejam mais alinhadas com os valores atuais das sociedades democráticas, ainda que haja exceções e que a democracia possa estar em xeque em diversos países”, pondera Rita Grassi, mestra em Ciências da Religião, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Diante desta miríade de visões sobre o mundo, o pluralismo religioso assume também um papel de consciência da diversidade que constitui a experiência humana na terra, mas também é reflexo justamente disso. “O diálogo interconvicções não por acaso nasce na Europa, mais especificamente na França e na Bélgica, há cerca de uma década, como um reconhecimento de que o proclamado ‘fim da religião’ não se concretizou e de que era preciso, sim, unir as vozes dissonantes, religiosas ou não, com o foco principal de garantir a laicidade do Estado e de que essas vozes fossem todas ouvidas no âmbito do Parlamento Europeu e dos governos nacionais”, descreve Rita Grassi.
“Entendo que o diálogo de interconvicções traga como ponto principal a discussão de gerar um impacto social e político por meio de sua atuação. Não se trata de um diálogo que tenha como objetivo encontrar uma harmonia ou a paz entre as convicções”, ressalta a entrevistada. “O seu principal objetivo é, através destas vozes, dos encontros e confrontos entre elas, construir um espaço para reivindicar uma transformação da sociedade que atenda a essa pluralidade e, ao mesmo tempo, que garanta a laicidade dos estados europeus e da comunidade europeia”, complementa.
Rita Macedo Grassi realizou mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas. Possui bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá - RJ.
Confira a entrevista.
Dito isso, segue minha lista de livros fundamentais, meio que de forma cronológica da forma como eu fui introduzida ao DIR, levando em consideração com toda certeza a minha orientação no mestrado e, agora também, como co-orientador no doutorado, do Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz e a tantas outras pessoas que me auxiliam ao longo da pesquisa, como minha orientadora , a Prof. Dra. Valentine Zuber, o Prof. Dr. Faustino Teixeira, o Prof. Dr. Frank Usarski, minha querida colega, a Ma. Angélica Tostes e tantos outros e outras que fazem parte da minha formação.
In the contemporary world, religions and cultures are mutually intertwined. We highlight Christianism, Hinduism and Budism and their incommensurable historical and theological richesses. Would it be possible to articulate them to the benefit of both the humanum and humanity? Raimon Panikkar (1918-2010) has faced this challenge. Of a bibliographical nature, this research intends to highlight aspects of his theological intuitions which stimulate dialogical relationships. The Hindu notion of advaita (aduality) has made it possible for him to reread some of his theological experiences. We highlight his conception of the Trinity, the cosmotheandric reality and its implications to the Christology, named Christofania. These intuitions awake new directions to the intercultural and interreligious dialogues. Keywords: Cosmotheandric reality. Christophany. Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Intercultural Dialogue.
Keywords: Raimon Panikkar. Interreligious Dialogue. Pluralism. Advaita. Hinduism.
RESUMO
Raimon Panikkar (1918-2010), teólogo e filósofo, nascido em Barcelona, de família cristã-hindu, foi um dos principais expoentes do diálogo inter-religioso. Destaca-se, neste contexto, sua expressão que se tornou célebre: “parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão. Em meu retorno, me descobri um melhor cristão”. Para entendê-la, compreendemos ser fundamental adentrar o sentido de advaita (adualidade). A forma como a perspectiva védica do advaita está inserida em sua obra e constitui em recurso para a sua concepção do diálogo inter-religioso é o tema principal desta pesquisa. O autor desenvolveu importantes conceitos ao longo de sua obra e podemos identificar não só uma influência, mas uma referência clara à tradição hindu e, mais propriamente, à perspectiva advaita, tantas vezes mencionada por ele e que identificamos como uma espécie de fio condutor ou de fator explicativo para muitas de suas teorias. Esta pesquisa procura investigar de que forma o advaita se constitui em caminho de construção do diálogo inter-religioso nas obras de Panikkar. Para tal, contextualizamos a perspectiva advaita nas origens do Hinduísmo e a sua utilização por parte do autor, a partir de uma análise crítica do pensamento filosófico ocidental, em sua experiência mística, também definida por ele como “experiência da Vida”. Analisamos suas teorias da visão trinitária e cosmoteândrica, baseadas na Trindade cristã, o seu conceito de cristologia nomeado de cristofania e o desenvolvimento de uma “atitude pluralista”, que servirá como base para o diálogo inter-religioso em sua obra, a partir do paradigma pluralista da Teologia do Pluralismo Religioso. E identificamos o advaita na construção do que ele entende por diálogo intra-religioso, o encontro do outro em si mesmo, através do que denomina “amor advaita”. Uma peregrinação que acontece na interioridade do ser humano, paralelamente ao diálogo inter-religioso. Trata-se de uma pesquisa teórica, através de uma perspectiva metodológica crítico-analítica, tendo em vista a sua aplicação no diálogo inter-religioso, embasadas na bibliografia de Panikkar, mas também na de alguns autores que dialogam, criticam e/ou servem como referência para ele.
Palavras-chave: Raimon Panikkar. Diálogo inter-religioso. Pluralismo. Advaita. Hinduísmo.
Pode parecer estranho, mas atualmente lidamos melhor com as diferenças do que, talvez, em toda a história da humanidade. Isso porque, em geral, não toleramos a ideia de assassinar ou de violentar uma pessoa por ela ter convicções diferentes das nossas. Contudo, vivemos também uma experiência de encurtamento dos espaços, em que o convívio com a diferença é muito mais próximo do que supomos e gostaríamos. “E se, em outros tempos, as diferenças e divergências eram resolvidas na base da guerra, da violência, agora não é bem assim. Essas mudanças forçam os seres humanos a buscarem formas de relacionar-se com quem é diferente e que estejam mais alinhadas com os valores atuais das sociedades democráticas, ainda que haja exceções e que a democracia possa estar em xeque em diversos países”, pondera Rita Grassi, mestra em Ciências da Religião, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Diante desta miríade de visões sobre o mundo, o pluralismo religioso assume também um papel de consciência da diversidade que constitui a experiência humana na terra, mas também é reflexo justamente disso. “O diálogo interconvicções não por acaso nasce na Europa, mais especificamente na França e na Bélgica, há cerca de uma década, como um reconhecimento de que o proclamado ‘fim da religião’ não se concretizou e de que era preciso, sim, unir as vozes dissonantes, religiosas ou não, com o foco principal de garantir a laicidade do Estado e de que essas vozes fossem todas ouvidas no âmbito do Parlamento Europeu e dos governos nacionais”, descreve Rita Grassi.
“Entendo que o diálogo de interconvicções traga como ponto principal a discussão de gerar um impacto social e político por meio de sua atuação. Não se trata de um diálogo que tenha como objetivo encontrar uma harmonia ou a paz entre as convicções”, ressalta a entrevistada. “O seu principal objetivo é, através destas vozes, dos encontros e confrontos entre elas, construir um espaço para reivindicar uma transformação da sociedade que atenda a essa pluralidade e, ao mesmo tempo, que garanta a laicidade dos estados europeus e da comunidade europeia”, complementa.
Rita Macedo Grassi realizou mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas. Possui bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá - RJ.
Confira a entrevista.