Papers by Diego Fernandes Dias Severo
Mediações - Revista de Ciências Sociais
Cotidianamente os Kanhgág utilizam classificações para situar os indivíduos com quem se relaciona... more Cotidianamente os Kanhgág utilizam classificações para situar os indivíduos com quem se relacionam. Alguns termos remetem diretamente ao sistema de metades (Kamé e Kanhru), como o regre e o jamré, outros atingem as formas de comportamento, o índio puro e o indiano. Entre as duas posições aparentemente diametrais surgem, respectivamente, os termos kanhkó e misturado, que rompem a oposição e configuram os grupamentos de parentes como unidades e distingue os demais grupos indígenas dos brancos. Este artigo pretende apresentar e explorar as particularidades dessas denominações e problematizar tais elementos no quadro da discussão sobre o dualismo ameríndio. A partir da pesquisa etnográfica realizada na Terra Indígena Nonoai e nas aldeias Por Fi Ga e Fosá, foi possível constatar que os elementos utilizados para as distinções formam o mesmo conjunto acionado no sistema de metades e, da mesma maneira, encobre na diametralidade o concentrismo e o triadismo.
A “Lei Kanhgág”: Sistema de Metades e Outras Classificações Ameríndias, 2020
Resumo Cotidianamente os Kanhgág utilizam classificações para situar os indivíduos com quem se re... more Resumo Cotidianamente os Kanhgág utilizam classificações para situar os indivíduos com quem se relacionam. Alguns termos remetem diretamente ao sistema de metades (Kamé e Kanhru), como o regre e o jamré, outros atingem as formas de comportamento, o índio puro e o indiano. Entre as duas posições aparentemente diametrais surgem, respectivamente, os termos kanhkó e misturado, que rompem a oposição e configuram os grupamentos de parentes como unidades e distingue os demais grupos indígenas dos brancos. Este artigo pretende apresentar e explorar as particularidades dessas denominações e problematizar tais elementos no quadro da discussão sobre o dualismo ameríndio. A partir da pesquisa etnográfica realizada na Terra Indígena Nonoai e nas aldeias Por Fi Ga e Fosá, foi possível constatar que os elementos utilizados para as distinções formam o mesmo conjunto acionado no sistema de metades e, da mesma maneira, encobre na diametralidade o concentrismo e o triadismo. Palavras-chave: Kanhgág. Sistema de metades. Organização social. Etnologia indígena. Abstract On a daily basis, the kanhgág use classifications in order to situate their relationships. Some terms refer to the Moiety System (Kamé e Kanhru), such as regre e o jamré, and others reach the way of behavior: the pure indian and the indian. Between these two positions, which seem to be diametrical, surge, respectively, the terms kanhkó e misturado. These terms break the opposition and configure the group of relatives as unities, which distinguish the other indian groups from white people. This paper aims to present and explore the particularities of these denominations and problematize these elements in the framework of amerídio dualism. According to the ethnographic research conducted in the indian land Nonoai and in the villages Por Fi Ga and Fosá, it was possible to conclude the elements used for the distinctions make the same conjunct active in the moiety system and, in the same way, it embraces the diametrality, the concernism and the triadism.
A TERRA E A VIDA NA MITOLOGIA KAINGANG , 2020
A criação mitológica é característica em todo o mundo, as construções narrativas visam saciar ans... more A criação mitológica é característica em todo o mundo, as construções narrativas visam saciar anseios do intelecto humano. Entre coletivos ameríndios não é diferente, com a transformação de seu território, do grande impacto que a colonização proporcionou em suas vidas e da pressão constante sobre sua particularidade étnica é comum que surjam explicações para fenômenos contemporâneos. A população kaingang, presente no planalto meridional brasileiro, têm por perspectiva o dualismo constante e assimétrico, que abre espaço para o Outro, mas o recebe nos moldes de sua organização social. Atualmente, certo pessimismo sentimental tem atingido pesquisadores e mesmo ameríndios quanto a sua “tradicionalidade”, pois muitos membros
tem-se convertido a igrejas pentecostais. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar narrativas míticas sobre o inicio e o fim do mundo, elaboradas por intelectuais, kujã (xamã) e lideranças kaingang, textos e relatos orais atuais e compará-los com narrativas de outros momentos históricos. Assim, elementos ocidentais são indigenizados
no sentido de Marshall Sahlins, o elemento interior é identificado no exterior, dessa maneira signos nativos são identificáveis em “Deus”, na força como tõn, na espiritualidade da matéria, nas plantas, nos animais.
Este trabalho busca analisar os elementos que aproximam as crenças evangélicas do pensamento Kain... more Este trabalho busca analisar os elementos que aproximam as crenças evangélicas do pensamento Kaingang. Prioriza-se uma abordagem etnológica comparativa, investigando o dualismo nas socieda-des Jê, a descrição do cosmos, a organização do universo kaingang e seu desdobramento xamânico, que se materializa em dois sistemas ideológicos, o kujã (xamã) e o caboclo. A partir dessas caracterís-ticas, a narrativa mítica de uma ex-kujã kaingang nos revela o quanto o dualismo, o xamanismo e a mi-tologia indígena podem auxiliar a desvendar esse universo de conversão que, num primeiro momento, parece descaracterizar totalmente a cultura e, em outro, parece operar a partir de um modelo nativo. Palavras-chave: Xamanismo Kaingang, Mitologia ameríndia, Crenças evangélicas, Du-alismo Jê. Equatorial v.5 n. ARTIGOS Introdução Este trabalho busca analisar alguns elementos da cosmologia e do xamanismo kain-gang e sua relação com as crenças evangélicas, que nos últimos setenta anos atua em áreas e aldeias indígenas. Os Kaingang são uma população indígena que soma mais de quarenta mil pessoas¹ que habitam o Brasil Meridional, oeste de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com uma organização social dualista, os kaingang são linguística e culturalmente perten-centes ao tronco Jê-Bororo, do qual também fazem parte os Apinajé, os Khahô, os Xavante, os Xokleng, os Kayapó entre outros.
Docente-IFFar-Campus Alegrete Doutorando em Antropologia-PPGAnt \ UFPEL Introdução "cacique é cac... more Docente-IFFar-Campus Alegrete Doutorando em Antropologia-PPGAnt \ UFPEL Introdução "cacique é cacique, liderança é liderança" Augusto Õpẽ da Silva-Liderança Kaingang 2 Este trabalho busca analisar as continuidades e descontinuidades na forma de exercício político em uma aldeia grande 3 , a Terra Indígena Nonoai (Nonoai-RS), e duas aldeias pequenas, as aldeias Por Fi Gá (São Leopoldo-RS) e Foxá (Lajeado-RS). A literatura Jê, sobretudo sobre os Xavante, os Apinayé e os Kaingang desafiam, aparentemente, o modelo da chefia sem poder (CLASTRES, 2003). Uma vez que a coercividade, a expulsão dos insatisfeitos e a luta aberta e declarada pelo posto de liderança, em muitos casos, é requisitada pela sociedade. Dessa forma, onde encontrar a busca pela eliminação e mesmo uma revolta pela instalação do Um (o Estado)? Aparentemente esses modelos não se encaixam, a luta aberta pela chefia é vista como natural entre os Xavantes (MAYBURY-LEWIS, 1984), mesmo quando a população está dividida podem existir dois chefes. E, a tentativa de um depor o outro não causa nenhuma estranheza, pois homens proeminentes agem dessa forma. Contudo, a coerção gratuita contra membros da facção oposta ao chefe, que sempre é menor, pois a facção do chefe sempre é a dominante (pois senão o mesmo não seria chefe), pode esfacelar a própria base de apoio. Os Xavantes possuem um sistema dualista, com um sistema de classes de idade, linhagens e facções, segundo Maybury-Lewis (1984), é possível identificar os membros de 1 Publicado nos Anais de artigos do II Seminário Internacional Migrações e Direitos Humanos, 28 a 30 de maio de 2018, Lajeado, RS / Tania Micheline Miorando, Margarita Rosa Gaviria Mejía (Org.)-Lajeado : Editora Univates, 2019, p. 143-151. Esse trabalho é fruto de resultados preliminares da pesquisa em andamento no curso de doutorado em Antropologia, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, da Universidade Federal de Pelotas-área de concentração Antropologia Social e Cultural. Sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Reus Gonçalves da Rosa. 2 Liderança kaingang, falecido em 2014, vivia na T.I. Iraí e viajava todo o Rio Grande do Sul e ooutros estados em luta pelos direitos indígenas. O conheci em 2012 na comissão de organização do vestibular indígena da UFSM, destemido e guerreiro, Augusto em uma viajem para uma reunião sobre a educação superior na cidade de Frederico Westphalen (onde a UFSM possuí um campus) ouvi essa frase que me marcou, tal como os que viajavam comigo. Nunca consegui entender exatamente a definição conceitual nos termos kaingang, mas sigo essa pista para compreender o espírito político desse povo acolhedor. 3 Os termos aldeias grande e aldeias pequenas são utilizados pelos kaingang para caracterizar as áreas indígenas demarcadas há muitos anos e com uma grande extensão territorial e populacional. As aldeias pequenas são áreas conquistadas nos últimos anos, com pouca extensão territorial e populacional. Na maioria das vezes as aldeias localizadas nas cidades são (além das citadas: Pelotas, Santa Maria, Tabaí, Farroupilha, Porto Alegre e Estrela) denominadas aldeias pequenas, contudo algumas áreas no norte do estado do Rio Grande do Sul também são assim denominadas.
Resumo Este trabalho busca refletir sobre os elementos constitutivos da prática evangélica entre ... more Resumo Este trabalho busca refletir sobre os elementos constitutivos da prática evangélica entre os kaingang do setor Irapuá-Terra Indígena do Guarita, estado do Rio Grande do Sul. As igrejas evangélicas, de matriz pentecostal estão presentes entre os kaingang há mais de 60 anos, se materializam em diferentes denominações, que disputam adeptos por meio de práticas discursivas e curas realizadas nos cultos e nas casas dos enfermos. A crença evangélica se sustenta na resolução de questões individuais, como a obtenção de emprego, a conquista de uma vaga em universidades e o abandono do uso de bebidas alcoólicas e do cigarro, e também coletivas, como a resolução de conflitos entre grupos familiares, a diminuição de festas realizadas pelos jovens e mesmo em negociações feitas com as autoridades ocidentais para não punir infrações vistas como "menores", como o dirigir sem habilitação dentro da área indígena ou não ter documento do veículo. Contudo, a cura é o elemento que sustenta a adesão ou proporciona o abandono de uma denominação religiosa por outra, ela se constitui na manifestação de espíritos ruins, ligados ao Diabo, que são expulsos pelo pastor e pela prática de algum sacrifício de um parente próximo. A figura do pastor é central nos cultos, quando o mesmo é kaingang, o ponto forte dos discursos são em língua indígena, momento em que se busca significar a prática crente no universo ameríndio. O choro, os gritos e múrmuros de lamentação acompanham a cerimônia, todos são intimados a participar, o que configura a tomada do espírito santo na pessoa. A inserção do antropólogo em igrejas evangélicas, em especial, indígenas, exige paciência, que o mesmo se abstraia de suas imagens prévias sobre o fenômeno para de fato tentar compreender como o grupo entende e compreende a religiosidade em seu cotidiano e pensamento. A pesquisa de campo proporciona desafios, pois o tema apresenta resistência kaingang, de fato, os indígenas imaginam o pesquisador como a pessoa que busca a "tradicionalidade", as histórias dos antigos, os mitos sobre os animais, os rituais tradicionais e, portanto, fecham-se em seu íntimo quando a sua vida cotidiana, tal como ela se apresenta. Busco, nesse texto refletir sobre os elementos que constituem a presença e a densidade das práticas evangélicas entre os kaingang, sua articulação com a política ocidental e o xamanismo, assim como pensar os desafios da pesquisa antropológica em universos, muitas vezes, não priorizados pela etnologia.
Resumo Este trabalho busca analisar os elementos diferenciadores presentes na mitologia Kaingang,... more Resumo Este trabalho busca analisar os elementos diferenciadores presentes na mitologia Kaingang, prioriza uma abordagem etnológica comparativa, onde mitos Krahô, são comparados em sua estrutura. Como os mitos de origem do fogo, que se realiza a partir de um roubo, o mito de origem dos cantos e da dança que, na versão Kaingang, é apreendido do tamanduá e esse é respeitado pelos índios, enquanto entre os Krahô a história se repete, o animal está fora da aldeia (como entre os Kaingang), é um tatu e é morto pelos índios. Esse exemplo como outros apresenta a centralidade do outro no pensamento ameríndio, Jê em especial, onde a complementaridade, a hierarquia e a assimetria por vezes fica clara, como na organização social, e em outros momentos é "maquiada" pela "nuvem" civilizatória, que, tal como as inovações advindas do mundo dos animais, são apreendidas e utilizadas de uma perspectiva cultural particular. Palavras-chave: mitologia Jê, etnologia, Kaingang, outro, Krahô Introdução Este texto objetiva analisar a estrutura presente nos mitos de duas sociedades Jê, os Kaingang e os Krahô, que embora geograficamente distante apresentam elementos próximos em sua organização social, entre eles o dualismo, que estabelece um terreno profícuo para uma um exercício comparativo. Os mitos analisados versam sobre a origem do canto dos kaingang, krahô e dos mebêngôkre, e da origem do fogo kaingang e krahô. Todos apresentam um ponto comum, o canto como o fogo foram conseguidos com seres de fora da aldeia. A forma, contudo que o mesmo é apresentado em cada uma das versões destoa e se inverte, os krahô matam o provedor do canto e são acolhidos pela onça, enquanto os kaingang acolhem o provedor do canto e enganam o provedor do fogo. A partir da análise desses mitos podemos entender um pouco da forma com que essas sociedades interagem com seus outros. Sabemos que um mito não pode revelar como os homens pensam (Lévi-Strauss, 1991), mas:
Resumo Este trabalho busca analisar o processo de incorporação de elementos da crença evangélica ... more Resumo Este trabalho busca analisar o processo de incorporação de elementos da crença evangélica no pensamento kaingang. O estudo parte da narrativa mítica de uma kujã kaingang que entrelaça aspectos da cosmologia ameríndia com a ocidental, protagonizando inversões, atribuindo hierarquizações, e de forma sutil, estabelecendo similaridades entre os pensamentos. O desafio analítico reside em entender a ponte estabelecida entre os diferentes cosmos, onde um prioriza a igualdade e o outro a diferença. O mito analisado apresenta a diferenciação como ato divino, narra a futura destruição, momento em que ocorre uma inversão, o fogo que salvou, destruirá, a água que matou, salvará. As acomodações realizadas na narrativa demonstram que os signos evangélicos foram transpostos para a explicação, mas os valores, tais como a comunicação com não humanos, a diferenciação de saberes, e a estrutura dualista mantêm o fio ameríndio, o que revela a capacidade dos kaingang de tornar a 'evangelização indígena'. Palavras Chave: Mitologia; Kaingang; Etnologia; Igrejas evangélicas. Introdução Este trabalho busca analisar a narrativa de uma kujã kaingang, atualmente evangélica, que entrelaça aspectos da cosmologia ameríndia e da cosmologia ocidental. Os Kaingang são uma população indígena que soma quase quarenta mil pessoas que habitam o Brasil Meridional, oeste de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com uma organização social dualista, os kaingang são linguística e culturalmente pertencentes ao tronco Jê-Bororo, do qual também fazem parte os Apinajé, os Khahô, os Xavante, os Xokleng, os Kayapó entre outros. *
Thesis Chapters by Diego Fernandes Dias Severo
Chefia, parentesco e alteridade, 2020
Tese de Doutorado Chefia, parentesco e alteridade: Um estudo etnológico do sistema dualista e do ... more Tese de Doutorado Chefia, parentesco e alteridade: Um estudo etnológico do sistema dualista e do poder político Kanhgág Diego Fernandes Dias Severo Pelotas, 2020.
Esta Tese de Doutorado tem como objetivo analisar a lógica do poder político Kanhgág – uma Sociedade Jê Meridional. Para isso, foi realizada uma pesquisa etnográfica na ẽmã mág (aldeia grande) Nonohay e em duas ẽmã sĩ (aldeias pequenas), Por Fi Ga e Fosá. A escolha da ẽmã mág Nonohay se realizou por esta possuir um pã’i mág (chefe político) com 32 anos no cargo, ter um histórico de luta pela terra, ser uma das maiores terras indígenas Kanhgág no Rio Grande do Sul e por ser palco de conflitos políticos Kanhgág, que envolvem expulsões e transferências de oponentes por parte do pã’i mág, além do plantio de lavouras de
soja na terra indígena. As ẽmã sĩ são formadas por grupos domésticos expulsos da ẽmã mág Nonohay, que buscam acionar signos diacríticos em relação ao pã’i mág dessa ẽmã mág. Desse modo, este trabalho analisou as categorias Kanhgág que orientam a política e a distribuição de recursos econômicos e constatou que os conceitos se originam a partir do sistema dualista kanhgág marcado pela relação de metades e seções – respectivamente, Kamé, Kanhru, Wonhetky e Votor – que se
desdobram, por exemplo, nos quatro termos que denominam as espacialidades – Ĩn (Casa), ẽmã mág (aldeia grande), vãre (acampamento) e ẽmã sĩ (aldeia pequena) –, as classificações sociais – Kanhgág pé (Índio puro), Misturado, Fóg sĩ (pequeno branco) e Fóg (branco) – e as chefias políticas – pã’i (chefe de grupo doméstico),
pã’i mág (chefe político maior), cabeça e pã’i sĩ (chefe político menor). O conjunto dessas séries dualistas é o motor das alianças e das rupturas políticas, que por sua vez movimentam a lógica do poder e do prestígio político Kanhgág. Com isso, elencou-se em um primeiro momento o modelo político presente na ẽmã mág Nonohay para estabelecer um comparativo com a realidade observada nas ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá. Na ẽmã mág Nonohay foi delineado o contexto de seu surgimento, a trajetória dos pã’i mág, a centralidade e a longevidade do atual pã’i
mág Pénry. Também foram analisados os ciclos econômicos – do tempo do “matão”; das práticas das agências indigenistas; e das relações com o agronegócio – o sistema de trocas e a rede de solidariedade e reciprocidade pautada na hierarquia dos pã’i na Ĩn. Em relação as ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá analisou-se a lógica de funcionamento político, a distribuição das benesses do poder e o processo sucessório dos pã’i mág, com o intuito de identificar suas semelhanças e diferenças,
assim como verificar as aproximações e os afastamentos da prática política da ẽmã mág Nonohay. Acompanhando a permanência e o declínio dos pã’i mág e a distribuição de bens econômicos nos diferentes cenários etnográficos se conclui que a formação de grupos e a constante oposição é um princípio fundado na lógica dualista Jê que organiza a coesão e a dispersão Kanhgág. No mesmo sentido, o pã’i mág se mantém no cargo a partir da aliança com os demais pã’i, fundado no
prestígio de sua Ĩn e na força de seus kanhkó, que o protegem dos oponentes.
Uploads
Papers by Diego Fernandes Dias Severo
tem-se convertido a igrejas pentecostais. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar narrativas míticas sobre o inicio e o fim do mundo, elaboradas por intelectuais, kujã (xamã) e lideranças kaingang, textos e relatos orais atuais e compará-los com narrativas de outros momentos históricos. Assim, elementos ocidentais são indigenizados
no sentido de Marshall Sahlins, o elemento interior é identificado no exterior, dessa maneira signos nativos são identificáveis em “Deus”, na força como tõn, na espiritualidade da matéria, nas plantas, nos animais.
Thesis Chapters by Diego Fernandes Dias Severo
Esta Tese de Doutorado tem como objetivo analisar a lógica do poder político Kanhgág – uma Sociedade Jê Meridional. Para isso, foi realizada uma pesquisa etnográfica na ẽmã mág (aldeia grande) Nonohay e em duas ẽmã sĩ (aldeias pequenas), Por Fi Ga e Fosá. A escolha da ẽmã mág Nonohay se realizou por esta possuir um pã’i mág (chefe político) com 32 anos no cargo, ter um histórico de luta pela terra, ser uma das maiores terras indígenas Kanhgág no Rio Grande do Sul e por ser palco de conflitos políticos Kanhgág, que envolvem expulsões e transferências de oponentes por parte do pã’i mág, além do plantio de lavouras de
soja na terra indígena. As ẽmã sĩ são formadas por grupos domésticos expulsos da ẽmã mág Nonohay, que buscam acionar signos diacríticos em relação ao pã’i mág dessa ẽmã mág. Desse modo, este trabalho analisou as categorias Kanhgág que orientam a política e a distribuição de recursos econômicos e constatou que os conceitos se originam a partir do sistema dualista kanhgág marcado pela relação de metades e seções – respectivamente, Kamé, Kanhru, Wonhetky e Votor – que se
desdobram, por exemplo, nos quatro termos que denominam as espacialidades – Ĩn (Casa), ẽmã mág (aldeia grande), vãre (acampamento) e ẽmã sĩ (aldeia pequena) –, as classificações sociais – Kanhgág pé (Índio puro), Misturado, Fóg sĩ (pequeno branco) e Fóg (branco) – e as chefias políticas – pã’i (chefe de grupo doméstico),
pã’i mág (chefe político maior), cabeça e pã’i sĩ (chefe político menor). O conjunto dessas séries dualistas é o motor das alianças e das rupturas políticas, que por sua vez movimentam a lógica do poder e do prestígio político Kanhgág. Com isso, elencou-se em um primeiro momento o modelo político presente na ẽmã mág Nonohay para estabelecer um comparativo com a realidade observada nas ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá. Na ẽmã mág Nonohay foi delineado o contexto de seu surgimento, a trajetória dos pã’i mág, a centralidade e a longevidade do atual pã’i
mág Pénry. Também foram analisados os ciclos econômicos – do tempo do “matão”; das práticas das agências indigenistas; e das relações com o agronegócio – o sistema de trocas e a rede de solidariedade e reciprocidade pautada na hierarquia dos pã’i na Ĩn. Em relação as ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá analisou-se a lógica de funcionamento político, a distribuição das benesses do poder e o processo sucessório dos pã’i mág, com o intuito de identificar suas semelhanças e diferenças,
assim como verificar as aproximações e os afastamentos da prática política da ẽmã mág Nonohay. Acompanhando a permanência e o declínio dos pã’i mág e a distribuição de bens econômicos nos diferentes cenários etnográficos se conclui que a formação de grupos e a constante oposição é um princípio fundado na lógica dualista Jê que organiza a coesão e a dispersão Kanhgág. No mesmo sentido, o pã’i mág se mantém no cargo a partir da aliança com os demais pã’i, fundado no
prestígio de sua Ĩn e na força de seus kanhkó, que o protegem dos oponentes.
tem-se convertido a igrejas pentecostais. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar narrativas míticas sobre o inicio e o fim do mundo, elaboradas por intelectuais, kujã (xamã) e lideranças kaingang, textos e relatos orais atuais e compará-los com narrativas de outros momentos históricos. Assim, elementos ocidentais são indigenizados
no sentido de Marshall Sahlins, o elemento interior é identificado no exterior, dessa maneira signos nativos são identificáveis em “Deus”, na força como tõn, na espiritualidade da matéria, nas plantas, nos animais.
Esta Tese de Doutorado tem como objetivo analisar a lógica do poder político Kanhgág – uma Sociedade Jê Meridional. Para isso, foi realizada uma pesquisa etnográfica na ẽmã mág (aldeia grande) Nonohay e em duas ẽmã sĩ (aldeias pequenas), Por Fi Ga e Fosá. A escolha da ẽmã mág Nonohay se realizou por esta possuir um pã’i mág (chefe político) com 32 anos no cargo, ter um histórico de luta pela terra, ser uma das maiores terras indígenas Kanhgág no Rio Grande do Sul e por ser palco de conflitos políticos Kanhgág, que envolvem expulsões e transferências de oponentes por parte do pã’i mág, além do plantio de lavouras de
soja na terra indígena. As ẽmã sĩ são formadas por grupos domésticos expulsos da ẽmã mág Nonohay, que buscam acionar signos diacríticos em relação ao pã’i mág dessa ẽmã mág. Desse modo, este trabalho analisou as categorias Kanhgág que orientam a política e a distribuição de recursos econômicos e constatou que os conceitos se originam a partir do sistema dualista kanhgág marcado pela relação de metades e seções – respectivamente, Kamé, Kanhru, Wonhetky e Votor – que se
desdobram, por exemplo, nos quatro termos que denominam as espacialidades – Ĩn (Casa), ẽmã mág (aldeia grande), vãre (acampamento) e ẽmã sĩ (aldeia pequena) –, as classificações sociais – Kanhgág pé (Índio puro), Misturado, Fóg sĩ (pequeno branco) e Fóg (branco) – e as chefias políticas – pã’i (chefe de grupo doméstico),
pã’i mág (chefe político maior), cabeça e pã’i sĩ (chefe político menor). O conjunto dessas séries dualistas é o motor das alianças e das rupturas políticas, que por sua vez movimentam a lógica do poder e do prestígio político Kanhgág. Com isso, elencou-se em um primeiro momento o modelo político presente na ẽmã mág Nonohay para estabelecer um comparativo com a realidade observada nas ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá. Na ẽmã mág Nonohay foi delineado o contexto de seu surgimento, a trajetória dos pã’i mág, a centralidade e a longevidade do atual pã’i
mág Pénry. Também foram analisados os ciclos econômicos – do tempo do “matão”; das práticas das agências indigenistas; e das relações com o agronegócio – o sistema de trocas e a rede de solidariedade e reciprocidade pautada na hierarquia dos pã’i na Ĩn. Em relação as ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá analisou-se a lógica de funcionamento político, a distribuição das benesses do poder e o processo sucessório dos pã’i mág, com o intuito de identificar suas semelhanças e diferenças,
assim como verificar as aproximações e os afastamentos da prática política da ẽmã mág Nonohay. Acompanhando a permanência e o declínio dos pã’i mág e a distribuição de bens econômicos nos diferentes cenários etnográficos se conclui que a formação de grupos e a constante oposição é um princípio fundado na lógica dualista Jê que organiza a coesão e a dispersão Kanhgág. No mesmo sentido, o pã’i mág se mantém no cargo a partir da aliança com os demais pã’i, fundado no
prestígio de sua Ĩn e na força de seus kanhkó, que o protegem dos oponentes.