Books by Enrico Bueno
A filósofa política Nancy Fraser destaca-se enquanto importante expoente da Teoria Crítica contem... more A filósofa política Nancy Fraser destaca-se enquanto importante expoente da Teoria Crítica contemporânea. Conhecida majoriamente por seu debate com Axel Honneth acerca da teoria do reconhecimento, suas formulações legaram importantes contribuições a, no mínimo, três campos do pensamento social: a teoria feminista, a sociologia política dos movimentos sociais e a filosofia da justiça. Visando uma reconstrução e sistematização crítica da evolução teórica da autora, este trabalho considera uma ampla gama de escritos datados de 1980 a 2012. No estudo de uma filósofa que sempre priorizou textos curtos e ensaios publicados em revistas políticas e acadêmicas a grandes sistematizações monográficas, identifica-se dois grandes modelos críticos em torno dos quais orbitam grande quantidade de diagnósticos de época, conceitos críticos e perspectivas emancipatórias. Para tratá-los, é utilizada uma classificação metodológica de sua produção em três blocos temáticos. O primeiro refere-se ao modelo para as "políticas de interpretação das necessidades", que mobiliza conceitos como discurso, democracia, hegemonia, esfera pública, cidadania e necessidade. O segundo trata das concepções teóricas e análises empíricas a respeito da subordinação feminina e das lutas feministas, que atravessam toda a produção da autora; destaca-se aqui o diálogo com as mais variadas correntes do pensamento: Escola de Frankfurt, pós-modernismo, pós-estruturalismo, pragmatismo, teoria do discurso. O terceiro bloco temático, enfim, contempla o modelo para uma teoria crítica da justiça, desenvolvido em estreita conexão com a práxis política dos movimentos sociais; aparecem aqui conceitos como participação paritária, reconhecimento, redistribuição, representação, transnacionalização e estrutura de governança. Não ignorando as oscilações temáticas e conceituais presentes ao longo do percurso filosófico de Fraser, a pesquisa busca compreender as contribuições originais e os inevitáveis limites verificados no pensamento social da autora, tencionando participar da teorização crítica das sociedades contemporâneas e contribuir para a compreensão e superação das injustiças nelas presentes.
The political philosopher Nancy Fraser is recognized as an important exponent of contemporary Critical Theory. Mainly known for the debate with Axel Honneth about the theory of recognition, her formulations give important contributions to at least three fields of social thought: the feminist theory, the political sociology of social movements and the philosophy of Justice. Aiming at a systematic reconstruction and critique of theoretical evolution of the author, it is considered here a wide range of writings dated from 1980 to 2012. In the study of a philosopher who always prioritized short texts and essays published in academic and political journals to large monographic systematizations, it is possible to identify two major critical models that lead to many diagnosis, critical concepts and emancipatory perspectives. To describe them, I use a methodological classification of her writings in three thematic blocks. The first one is about the "politics of needs interpretation" model, which mobilizes concepts such as discourse, democracy, hegemony, public sphere, citizenship and need. The second is about the theoretical concepts and empirical analyzes regarding the subordination of women and feminist struggles, which is visible through the entire production of the author; here, it is possible to highlight the dialogue among the various theoretic currents: Frankfurt School, post modernism, post structuralism, pragmatism, discourse theory. The third thematic block, finally, brings the model toward a Critical Theory of Justice, proposed in close connection with the political praxis of social movements; here are developed concepts as participatory parity, recognition, redistribution, representation, transnationalization and structure of governance. Considering the thematic and conceptual oscillations along Fraser's philosophical course, the research seeks to understand the original contributions and inevitable limits observed in her social thought, intending to participate in the critical theory of contemporary societies and to contribute to understanding and overcoming the injustices present in them.
Papers by Enrico Bueno
Idéias
O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto em sua j... more O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto em sua juventude. Recusando uma concepção essencialista, debruça-se antes sobre a “política de interpretação das necessidades”, tratando do conflito discursivo que fundamenta políticas sociais. Através de interlocuções com Habermas, Gramsci e Foucault, o modelo aborda: a luta para pautar uma necessidade como demanda política legítima; a disputa sobre a interpretação das necessidades legitimadas por grupos e instituições sociais; e as maneiras pelas quais a burocracia estatal age em resposta ao propor políticas públicas para satisfazê-las.
Idéias
O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto em sua j... more O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto em sua juventude. Recusando uma concepção essencialista, debruça-se antes sobre a “política de interpretação das necessidades”, tratando do conflito discursivo que fundamenta políticas sociais. Através de interlocuções com Habermas, Gramsci e Foucault, o modelo aborda: a luta para pautar uma necessidade como demanda política legítima; a disputa sobre a interpretação das necessidades legitimadas por grupos e instituições sociais; e as maneiras pelas quais a burocracia estatal age em resposta ao propor políticas públicas para satisfazê-las.
Resumo: Partindo da polêmica entre Axel Honneth e Nancy Fraser sobre a teoria do reconhecimento, ... more Resumo: Partindo da polêmica entre Axel Honneth e Nancy Fraser sobre a teoria do reconhecimento, o artigo tem como objeto a abordagem da autora estadunidense para a Economia Política. Após discutir o tratamento conferido ao tema em seus artigos que compõem a coletânea Redistribution or recognition, bem como as objeções a ele levantadas, busca-se investigar em que medida as revisões ulteriores propostas por Fraser foram suficientes e satisfatórias para superar as principais limitações e questões não-respondidas de seu modelo.
Abstract: Based on Axel Honneth and Nancy Fraser's controversy about the theory of recognition, the article focuses on the North-American author's approach to Political Economy. After discussing the given treatment to the issue in her articles that compose Redistribution or recognition, as well as the objections to it, this work seeks to investigate if the subsequent revisions achieved by Fraser were enough and satisfactory to overcome the main limitations and unanswered questions of her critical model.
Resumen: A partir de la polémica entre Axel Honneth y Nancy Fraser con respecto de la teoría del reconocimiento, el artículo tiene como objeto el abordaje de la autora estadunidense para la Economía Política. Después de discutir el tratamiento conferido al tema en sus artículos que componen la colección Redistribution or recognition, así como las objeciones a él planteadas, se busca investigar si las revisiones posteriores propuestas por Fraser fueron suficientes y satisfactorias para superar las principales limitaciones y cuestiones no respondidas de su modelo.
Resumo: O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto ... more Resumo: O texto trata do modelo crítico de Nancy Fraser para uma teoria da necessidade, proposto em sua juventude. Recusando uma concepção essencialista, debruça-se antes sobre a "política de interpretação das necessidades", tratando do conflito discursivo que fundamenta políticas sociais. Através de interlocuções com Habermas, Gramsci e Foucault, o modelo aborda: a luta para pautar uma necessidade como demanda política legítima; a disputa sobre a interpretação das necessidades legitimadas por grupos e instituições sociais; e as maneiras pelas quais a burocracia estatal age em resposta ao propor políticas públicas para satisfazê-las.
Abstract: This paper addresses Nancy Fraser's critical model toward a theory of needs, formulated in her early works. Refusing an essentialist conception, she focuses rather on the "politics of need interpretation" and on the discursive confl ict that grounds social policies. Dialoguing with Habermas, Gramsci and Foucault, her model deals with: the struggle to establish a need as a legitimate political claim; the dispute over the interpretation of needs legitimated by social groups and institutions; and the ways the State bureaucracy reacts to such needs, proposing public policies in order to meet them.
Enrico Paternostro Bueno da Silva
O artigo propõe um contraponto entre duas vertentes contemporâ... more Enrico Paternostro Bueno da Silva
O artigo propõe um contraponto entre duas vertentes contemporâneas de teoria dos movimentos sociais que tratam do papel das emoções e da moralidade para a análise do conflito: a teoria do reconhecimento de Axel Honneth e os estudos de James Jasper sobre política passional. Por meio de uma revisão bibliográfica, busca-se identificar os pontos de convergência e divergência entre as duas propostas, indicando possibilidades de interlocução.
RESUMO O artigo propõe um cotejo entre duas vertentes contemporâneas de teoria dos movimentos soc... more RESUMO O artigo propõe um cotejo entre duas vertentes contemporâneas de teoria dos movimentos sociais que visam apreender o papel das emoções para a análise do conflito: os estudos de James Jasper, Francesca Polletta e Jeff Goodwin sobre política passional, erigidos sobre as balizas da Teoria do Processo Político; e a Teoria do Reconhecimento de Axel Honneth, onde são lançadas bases para uma renovação da Teoria Crítica. Através de uma revisão bibliográfica, busca-se identificar os pontos de convergência e divergência entre as duas propostas, indicando possibilidades de interlocução capazes de um enriquecimento mútuo entre as abordagens, a despeito das diferenças filosóficas irredutíveis que se verifica entre elas.
ABSTRACT The article does a comparison between two contemporary theoretical approaches for social movements that aims to understand the role of emotions: the studies by James Jasper, Francesca Polletta and Jeff Goodwin on passionate politics, formulated over the fundamentals of Political Process Theory; and the Axel Honneth's Theory of Recognition, which lays the foundations toward a renewal of the Critical Theory. Through a literature review, we seek to identify the divergent and the convergent points between both of the formulations, indicating possibilities of an interlocution capable of some mutual enrichment between the approaches, despite the irreducible philosophical differences that exist between them.
Book Reviews by Enrico Bueno
Norus - Novos Rumos Sociológicos, 2018
A publicação de O Direito da Liberdade (Das Recht der Freiheit), por Axel Honneth em 2011, suscit... more A publicação de O Direito da Liberdade (Das Recht der Freiheit), por Axel Honneth em 2011, suscitou uma série de debates entre os estudiosos da justiça social comprometidos com o projeto de uma Teoria Crítica. Foi apontado, de sobremaneira, que o argumento apresentava alguma tendência conservadora, na medida em que propunha teorizar acerca dos caminhos para a realização da liberdade sob os parâmetros institucionais atualmente existentes; o modelo ofereceria, grosso modo, pouco ou nenhum espaço para se pensar momentos de ruptura ou transfiguração social. O livro em tela, originalmente publicado em 2015 como Die Idee des Sozialismus e traduzido à língua portuguesa em 2017, aparece com a tarefa explícita de suprir aquela lacuna e expandir o horizonte normativo formulado anteriormente para além do modelo atualmente vigente de democracia liberal capitalista.
Resenha da obra "Fortunes of Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis", de Na... more Resenha da obra "Fortunes of Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis", de Nancy Fraser
Conference Presentations by Enrico Bueno
Almejando discutir abordagens críticas acerca do problema da autonomia do conhecimento na Sociolo... more Almejando discutir abordagens críticas acerca do problema da autonomia do conhecimento na Sociologia, o trabalho estabelece um recorte que contempla dois autores e três temáticas; a saber, visa elucidar o tratamento pela primeira geração de frankfurtianos – especificamente, por Max Horkheimer e Theodor Adorno – quanto aos alcances e limites para a autonomia da produção de conhecimento em relação ao mercado, à política e às demais disciplinas do conhecimento.
Após retomar sucintamente o contexto histórico da emergência e separação disciplinar das Ciências Sociais, a comunicação trata como dois clássicos da Sociologia (Émile Durkheim e Max Weber) colocam a questão da autonomia, naqueles três sentidos, em suas obras. Tal estudo alcança a constatação de que Weber dá um passo reflexivo maior que o autor francês ao propor uma sociologia da ciência moderna, esboçando pistas para uma meta-sociologia capaz de colocar em questão as próprias condições de produção sociológica.
Para argumentar que a primeira geração de teóricos críticos – fundamentados de sobremaneira na herança neohegeliana de Karl Marx – radicaliza esse debate e questiona o caráter ideológico de uma autonomia que não se pode cumprir sob o Capital, o trabalho se vale especialmente do considerado texto fundacional da Escola de Frankfurt (“Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, de Horkheimer) e da polêmica entre Adorno e Paul Lazarsfeld nos anos de 1940, que coloca em evidência os condicionantes mercadológicos que pautam a sociologia hegemônica.
Sucintamente, o estudo alcança três pontos conclusivos. Primeiramente, quanto à autonomia da sociologia enquanto ramo específico do saber, constata-se que ela não corresponde ao modelo referencial de Horkheimer e ao ideário fundacional do Instituto de Pesquisa Social, que visava um materialismo interdisciplinar. De fato, a chamada Escola de Frankfurt herdou do pensamento marxiano uma noção de totalidade para a qual seria superficial a tentativa de apreender o “social” fora de suas relações com o “político”, o “cultural”, o “psicológico” e, principalmente, o “econômico”. E a sociedade ocidental moderna contemplada por eles estaria subsumida, em sua totalidade, aos imperativos do Capital, que se vale de mediações como a indústria cultural, a democracia burguesa, etc. para reproduzir seu próprio domínio.
No que se refere à autonomia face à política, é importante ressalvar que tanto Adorno quanto Horkheimer não fazem uso de sua posição intelectual como palanque de algum partido ou movimento específico, recusando também a noção de que alguma classe ou grupo social seria o portador da missão histórica de conduzir a humanidade à sua emancipação. Entretanto, tomando-se política de forma abrangente – enquanto envolvimento normativo em discussões sobre projetos para a sociedade –, a teoria crítica proposta por ambos é essencialmente política, já que não prescinde de tal normatividade. Nesse segundo sentido, aliás, não seria sequer desejável uma teoria social que abdicasse de uma orientação valorativa voltada à emancipação. Teorias desse tipo – nas palavras de Horkheimer, tradicionais – poderiam até reivindicar algum tipo de neutralidade axiológica, mas jamais seriam, de fato, neutras: na medida em que reproduzem a separação entre “ser” e “pensar” e que ratificam um modelo científico instrumental que não se coloca o problema dos fins, elas participariam da reprodução da ordem existente.
Finalmente, em relação à noção de autonomia em face do mercado se observa uma posição um tanto ambígua. Por um lado – sobretudo na Dialética do Esclarecimento –, Adorno e Horkheimer constatam um domínio totalitário do capitalismo administrado, no interior do qual sequer poderia haver alguma teoria que escapasse ao mercado e, mais precisamente, aos condicionantes epistêmicos próprios do esclarecimento em sua contradição fundamental: de engendrar a ruptura em relação ao mito mas acabar por tornar-se ele próprio mítico, de modo que, enquanto carrega a potencialidade para a libertação, carrega também o gérmen da barbárie. Nesse sentido, e se tomando por referência a Dialética do Esclarecimento e a Dialética Negativa, parece que não há escapatória aos condicionantes do Capital, não há autonomia possível.
Por outro lado, a própria proposição de uma Teoria Crítica constitui uma tentativa de ruptura a tais condicionantes epistêmicos do mercado. Nesse sentido, se Horkheimer postula uma outra possibilidade de teorização, que não aquela que reproduz a racionalidade instrumental própria do capitalismo administrado, é porque acena com alguma possibilidade de autonomia enquanto devir. Analogamente, se Adorno se envolve na celeuma com Lazarsfeld – criticando o fato de que seus estudos são mercadologicamente orientados –, é porque defende um tipo de pesquisa social que não o seja; nesse caso, parece que algum grau de autonomia crítica face ao mercado seria possível e desejável.
Em suma, sendo o teórico social – e, mais especificamente, o cientista social – envolvido por um contexto sócio-histórico totalizante dado pelo modo de produção capitalista, é preciso reconhecer que este contexto estabelece pressões e impõe limites às possibilidades de teorização. Não obstante, uma teoria crítica tal qual propõem os autores deve problematizar esse mesmo contexto e, a partir do autoexame imanente, buscar em alguma medida colocar em questão seus próprios condicionantes, confrontando sua ideologia com suas possibilidades estruturais. É nessa reflexividade que parece consistir o chamado “comportamento crítico”, fundamento para uma vindoura autonomia efetiva do conhecimento social.
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Books by Enrico Bueno
The political philosopher Nancy Fraser is recognized as an important exponent of contemporary Critical Theory. Mainly known for the debate with Axel Honneth about the theory of recognition, her formulations give important contributions to at least three fields of social thought: the feminist theory, the political sociology of social movements and the philosophy of Justice. Aiming at a systematic reconstruction and critique of theoretical evolution of the author, it is considered here a wide range of writings dated from 1980 to 2012. In the study of a philosopher who always prioritized short texts and essays published in academic and political journals to large monographic systematizations, it is possible to identify two major critical models that lead to many diagnosis, critical concepts and emancipatory perspectives. To describe them, I use a methodological classification of her writings in three thematic blocks. The first one is about the "politics of needs interpretation" model, which mobilizes concepts such as discourse, democracy, hegemony, public sphere, citizenship and need. The second is about the theoretical concepts and empirical analyzes regarding the subordination of women and feminist struggles, which is visible through the entire production of the author; here, it is possible to highlight the dialogue among the various theoretic currents: Frankfurt School, post modernism, post structuralism, pragmatism, discourse theory. The third thematic block, finally, brings the model toward a Critical Theory of Justice, proposed in close connection with the political praxis of social movements; here are developed concepts as participatory parity, recognition, redistribution, representation, transnationalization and structure of governance. Considering the thematic and conceptual oscillations along Fraser's philosophical course, the research seeks to understand the original contributions and inevitable limits observed in her social thought, intending to participate in the critical theory of contemporary societies and to contribute to understanding and overcoming the injustices present in them.
Papers by Enrico Bueno
Abstract: Based on Axel Honneth and Nancy Fraser's controversy about the theory of recognition, the article focuses on the North-American author's approach to Political Economy. After discussing the given treatment to the issue in her articles that compose Redistribution or recognition, as well as the objections to it, this work seeks to investigate if the subsequent revisions achieved by Fraser were enough and satisfactory to overcome the main limitations and unanswered questions of her critical model.
Resumen: A partir de la polémica entre Axel Honneth y Nancy Fraser con respecto de la teoría del reconocimiento, el artículo tiene como objeto el abordaje de la autora estadunidense para la Economía Política. Después de discutir el tratamiento conferido al tema en sus artículos que componen la colección Redistribution or recognition, así como las objeciones a él planteadas, se busca investigar si las revisiones posteriores propuestas por Fraser fueron suficientes y satisfactorias para superar las principales limitaciones y cuestiones no respondidas de su modelo.
Abstract: This paper addresses Nancy Fraser's critical model toward a theory of needs, formulated in her early works. Refusing an essentialist conception, she focuses rather on the "politics of need interpretation" and on the discursive confl ict that grounds social policies. Dialoguing with Habermas, Gramsci and Foucault, her model deals with: the struggle to establish a need as a legitimate political claim; the dispute over the interpretation of needs legitimated by social groups and institutions; and the ways the State bureaucracy reacts to such needs, proposing public policies in order to meet them.
O artigo propõe um contraponto entre duas vertentes contemporâneas de teoria dos movimentos sociais que tratam do papel das emoções e da moralidade para a análise do conflito: a teoria do reconhecimento de Axel Honneth e os estudos de James Jasper sobre política passional. Por meio de uma revisão bibliográfica, busca-se identificar os pontos de convergência e divergência entre as duas propostas, indicando possibilidades de interlocução.
ABSTRACT The article does a comparison between two contemporary theoretical approaches for social movements that aims to understand the role of emotions: the studies by James Jasper, Francesca Polletta and Jeff Goodwin on passionate politics, formulated over the fundamentals of Political Process Theory; and the Axel Honneth's Theory of Recognition, which lays the foundations toward a renewal of the Critical Theory. Through a literature review, we seek to identify the divergent and the convergent points between both of the formulations, indicating possibilities of an interlocution capable of some mutual enrichment between the approaches, despite the irreducible philosophical differences that exist between them.
Book Reviews by Enrico Bueno
Conference Presentations by Enrico Bueno
Após retomar sucintamente o contexto histórico da emergência e separação disciplinar das Ciências Sociais, a comunicação trata como dois clássicos da Sociologia (Émile Durkheim e Max Weber) colocam a questão da autonomia, naqueles três sentidos, em suas obras. Tal estudo alcança a constatação de que Weber dá um passo reflexivo maior que o autor francês ao propor uma sociologia da ciência moderna, esboçando pistas para uma meta-sociologia capaz de colocar em questão as próprias condições de produção sociológica.
Para argumentar que a primeira geração de teóricos críticos – fundamentados de sobremaneira na herança neohegeliana de Karl Marx – radicaliza esse debate e questiona o caráter ideológico de uma autonomia que não se pode cumprir sob o Capital, o trabalho se vale especialmente do considerado texto fundacional da Escola de Frankfurt (“Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, de Horkheimer) e da polêmica entre Adorno e Paul Lazarsfeld nos anos de 1940, que coloca em evidência os condicionantes mercadológicos que pautam a sociologia hegemônica.
Sucintamente, o estudo alcança três pontos conclusivos. Primeiramente, quanto à autonomia da sociologia enquanto ramo específico do saber, constata-se que ela não corresponde ao modelo referencial de Horkheimer e ao ideário fundacional do Instituto de Pesquisa Social, que visava um materialismo interdisciplinar. De fato, a chamada Escola de Frankfurt herdou do pensamento marxiano uma noção de totalidade para a qual seria superficial a tentativa de apreender o “social” fora de suas relações com o “político”, o “cultural”, o “psicológico” e, principalmente, o “econômico”. E a sociedade ocidental moderna contemplada por eles estaria subsumida, em sua totalidade, aos imperativos do Capital, que se vale de mediações como a indústria cultural, a democracia burguesa, etc. para reproduzir seu próprio domínio.
No que se refere à autonomia face à política, é importante ressalvar que tanto Adorno quanto Horkheimer não fazem uso de sua posição intelectual como palanque de algum partido ou movimento específico, recusando também a noção de que alguma classe ou grupo social seria o portador da missão histórica de conduzir a humanidade à sua emancipação. Entretanto, tomando-se política de forma abrangente – enquanto envolvimento normativo em discussões sobre projetos para a sociedade –, a teoria crítica proposta por ambos é essencialmente política, já que não prescinde de tal normatividade. Nesse segundo sentido, aliás, não seria sequer desejável uma teoria social que abdicasse de uma orientação valorativa voltada à emancipação. Teorias desse tipo – nas palavras de Horkheimer, tradicionais – poderiam até reivindicar algum tipo de neutralidade axiológica, mas jamais seriam, de fato, neutras: na medida em que reproduzem a separação entre “ser” e “pensar” e que ratificam um modelo científico instrumental que não se coloca o problema dos fins, elas participariam da reprodução da ordem existente.
Finalmente, em relação à noção de autonomia em face do mercado se observa uma posição um tanto ambígua. Por um lado – sobretudo na Dialética do Esclarecimento –, Adorno e Horkheimer constatam um domínio totalitário do capitalismo administrado, no interior do qual sequer poderia haver alguma teoria que escapasse ao mercado e, mais precisamente, aos condicionantes epistêmicos próprios do esclarecimento em sua contradição fundamental: de engendrar a ruptura em relação ao mito mas acabar por tornar-se ele próprio mítico, de modo que, enquanto carrega a potencialidade para a libertação, carrega também o gérmen da barbárie. Nesse sentido, e se tomando por referência a Dialética do Esclarecimento e a Dialética Negativa, parece que não há escapatória aos condicionantes do Capital, não há autonomia possível.
Por outro lado, a própria proposição de uma Teoria Crítica constitui uma tentativa de ruptura a tais condicionantes epistêmicos do mercado. Nesse sentido, se Horkheimer postula uma outra possibilidade de teorização, que não aquela que reproduz a racionalidade instrumental própria do capitalismo administrado, é porque acena com alguma possibilidade de autonomia enquanto devir. Analogamente, se Adorno se envolve na celeuma com Lazarsfeld – criticando o fato de que seus estudos são mercadologicamente orientados –, é porque defende um tipo de pesquisa social que não o seja; nesse caso, parece que algum grau de autonomia crítica face ao mercado seria possível e desejável.
Em suma, sendo o teórico social – e, mais especificamente, o cientista social – envolvido por um contexto sócio-histórico totalizante dado pelo modo de produção capitalista, é preciso reconhecer que este contexto estabelece pressões e impõe limites às possibilidades de teorização. Não obstante, uma teoria crítica tal qual propõem os autores deve problematizar esse mesmo contexto e, a partir do autoexame imanente, buscar em alguma medida colocar em questão seus próprios condicionantes, confrontando sua ideologia com suas possibilidades estruturais. É nessa reflexividade que parece consistir o chamado “comportamento crítico”, fundamento para uma vindoura autonomia efetiva do conhecimento social.
The political philosopher Nancy Fraser is recognized as an important exponent of contemporary Critical Theory. Mainly known for the debate with Axel Honneth about the theory of recognition, her formulations give important contributions to at least three fields of social thought: the feminist theory, the political sociology of social movements and the philosophy of Justice. Aiming at a systematic reconstruction and critique of theoretical evolution of the author, it is considered here a wide range of writings dated from 1980 to 2012. In the study of a philosopher who always prioritized short texts and essays published in academic and political journals to large monographic systematizations, it is possible to identify two major critical models that lead to many diagnosis, critical concepts and emancipatory perspectives. To describe them, I use a methodological classification of her writings in three thematic blocks. The first one is about the "politics of needs interpretation" model, which mobilizes concepts such as discourse, democracy, hegemony, public sphere, citizenship and need. The second is about the theoretical concepts and empirical analyzes regarding the subordination of women and feminist struggles, which is visible through the entire production of the author; here, it is possible to highlight the dialogue among the various theoretic currents: Frankfurt School, post modernism, post structuralism, pragmatism, discourse theory. The third thematic block, finally, brings the model toward a Critical Theory of Justice, proposed in close connection with the political praxis of social movements; here are developed concepts as participatory parity, recognition, redistribution, representation, transnationalization and structure of governance. Considering the thematic and conceptual oscillations along Fraser's philosophical course, the research seeks to understand the original contributions and inevitable limits observed in her social thought, intending to participate in the critical theory of contemporary societies and to contribute to understanding and overcoming the injustices present in them.
Abstract: Based on Axel Honneth and Nancy Fraser's controversy about the theory of recognition, the article focuses on the North-American author's approach to Political Economy. After discussing the given treatment to the issue in her articles that compose Redistribution or recognition, as well as the objections to it, this work seeks to investigate if the subsequent revisions achieved by Fraser were enough and satisfactory to overcome the main limitations and unanswered questions of her critical model.
Resumen: A partir de la polémica entre Axel Honneth y Nancy Fraser con respecto de la teoría del reconocimiento, el artículo tiene como objeto el abordaje de la autora estadunidense para la Economía Política. Después de discutir el tratamiento conferido al tema en sus artículos que componen la colección Redistribution or recognition, así como las objeciones a él planteadas, se busca investigar si las revisiones posteriores propuestas por Fraser fueron suficientes y satisfactorias para superar las principales limitaciones y cuestiones no respondidas de su modelo.
Abstract: This paper addresses Nancy Fraser's critical model toward a theory of needs, formulated in her early works. Refusing an essentialist conception, she focuses rather on the "politics of need interpretation" and on the discursive confl ict that grounds social policies. Dialoguing with Habermas, Gramsci and Foucault, her model deals with: the struggle to establish a need as a legitimate political claim; the dispute over the interpretation of needs legitimated by social groups and institutions; and the ways the State bureaucracy reacts to such needs, proposing public policies in order to meet them.
O artigo propõe um contraponto entre duas vertentes contemporâneas de teoria dos movimentos sociais que tratam do papel das emoções e da moralidade para a análise do conflito: a teoria do reconhecimento de Axel Honneth e os estudos de James Jasper sobre política passional. Por meio de uma revisão bibliográfica, busca-se identificar os pontos de convergência e divergência entre as duas propostas, indicando possibilidades de interlocução.
ABSTRACT The article does a comparison between two contemporary theoretical approaches for social movements that aims to understand the role of emotions: the studies by James Jasper, Francesca Polletta and Jeff Goodwin on passionate politics, formulated over the fundamentals of Political Process Theory; and the Axel Honneth's Theory of Recognition, which lays the foundations toward a renewal of the Critical Theory. Through a literature review, we seek to identify the divergent and the convergent points between both of the formulations, indicating possibilities of an interlocution capable of some mutual enrichment between the approaches, despite the irreducible philosophical differences that exist between them.
Após retomar sucintamente o contexto histórico da emergência e separação disciplinar das Ciências Sociais, a comunicação trata como dois clássicos da Sociologia (Émile Durkheim e Max Weber) colocam a questão da autonomia, naqueles três sentidos, em suas obras. Tal estudo alcança a constatação de que Weber dá um passo reflexivo maior que o autor francês ao propor uma sociologia da ciência moderna, esboçando pistas para uma meta-sociologia capaz de colocar em questão as próprias condições de produção sociológica.
Para argumentar que a primeira geração de teóricos críticos – fundamentados de sobremaneira na herança neohegeliana de Karl Marx – radicaliza esse debate e questiona o caráter ideológico de uma autonomia que não se pode cumprir sob o Capital, o trabalho se vale especialmente do considerado texto fundacional da Escola de Frankfurt (“Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, de Horkheimer) e da polêmica entre Adorno e Paul Lazarsfeld nos anos de 1940, que coloca em evidência os condicionantes mercadológicos que pautam a sociologia hegemônica.
Sucintamente, o estudo alcança três pontos conclusivos. Primeiramente, quanto à autonomia da sociologia enquanto ramo específico do saber, constata-se que ela não corresponde ao modelo referencial de Horkheimer e ao ideário fundacional do Instituto de Pesquisa Social, que visava um materialismo interdisciplinar. De fato, a chamada Escola de Frankfurt herdou do pensamento marxiano uma noção de totalidade para a qual seria superficial a tentativa de apreender o “social” fora de suas relações com o “político”, o “cultural”, o “psicológico” e, principalmente, o “econômico”. E a sociedade ocidental moderna contemplada por eles estaria subsumida, em sua totalidade, aos imperativos do Capital, que se vale de mediações como a indústria cultural, a democracia burguesa, etc. para reproduzir seu próprio domínio.
No que se refere à autonomia face à política, é importante ressalvar que tanto Adorno quanto Horkheimer não fazem uso de sua posição intelectual como palanque de algum partido ou movimento específico, recusando também a noção de que alguma classe ou grupo social seria o portador da missão histórica de conduzir a humanidade à sua emancipação. Entretanto, tomando-se política de forma abrangente – enquanto envolvimento normativo em discussões sobre projetos para a sociedade –, a teoria crítica proposta por ambos é essencialmente política, já que não prescinde de tal normatividade. Nesse segundo sentido, aliás, não seria sequer desejável uma teoria social que abdicasse de uma orientação valorativa voltada à emancipação. Teorias desse tipo – nas palavras de Horkheimer, tradicionais – poderiam até reivindicar algum tipo de neutralidade axiológica, mas jamais seriam, de fato, neutras: na medida em que reproduzem a separação entre “ser” e “pensar” e que ratificam um modelo científico instrumental que não se coloca o problema dos fins, elas participariam da reprodução da ordem existente.
Finalmente, em relação à noção de autonomia em face do mercado se observa uma posição um tanto ambígua. Por um lado – sobretudo na Dialética do Esclarecimento –, Adorno e Horkheimer constatam um domínio totalitário do capitalismo administrado, no interior do qual sequer poderia haver alguma teoria que escapasse ao mercado e, mais precisamente, aos condicionantes epistêmicos próprios do esclarecimento em sua contradição fundamental: de engendrar a ruptura em relação ao mito mas acabar por tornar-se ele próprio mítico, de modo que, enquanto carrega a potencialidade para a libertação, carrega também o gérmen da barbárie. Nesse sentido, e se tomando por referência a Dialética do Esclarecimento e a Dialética Negativa, parece que não há escapatória aos condicionantes do Capital, não há autonomia possível.
Por outro lado, a própria proposição de uma Teoria Crítica constitui uma tentativa de ruptura a tais condicionantes epistêmicos do mercado. Nesse sentido, se Horkheimer postula uma outra possibilidade de teorização, que não aquela que reproduz a racionalidade instrumental própria do capitalismo administrado, é porque acena com alguma possibilidade de autonomia enquanto devir. Analogamente, se Adorno se envolve na celeuma com Lazarsfeld – criticando o fato de que seus estudos são mercadologicamente orientados –, é porque defende um tipo de pesquisa social que não o seja; nesse caso, parece que algum grau de autonomia crítica face ao mercado seria possível e desejável.
Em suma, sendo o teórico social – e, mais especificamente, o cientista social – envolvido por um contexto sócio-histórico totalizante dado pelo modo de produção capitalista, é preciso reconhecer que este contexto estabelece pressões e impõe limites às possibilidades de teorização. Não obstante, uma teoria crítica tal qual propõem os autores deve problematizar esse mesmo contexto e, a partir do autoexame imanente, buscar em alguma medida colocar em questão seus próprios condicionantes, confrontando sua ideologia com suas possibilidades estruturais. É nessa reflexividade que parece consistir o chamado “comportamento crítico”, fundamento para uma vindoura autonomia efetiva do conhecimento social.