Memorias de um pobre diabo
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Memorias de um pobre diabo - Bruno Henriques de Almeida Seabra
The Project Gutenberg EBook of Memorias de um pobre diabo, by
Bruno Henriques de Almeida Seabra
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Title: Memorias de um pobre diabo
Author: Bruno Henriques de Almeida Seabra
Release Date: April 6, 2010 [EBook #31906]
Language: Portuguese
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMORIAS DE UM POBRE DIABO ***
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MEMORIAS
DE
UM POBRE DIABO
POR
ARISTOTELES DE SOUSA.
RIO DE JANEIRO
LIVRARIA LUSO-BRASILEIRA
30—RUA DA QUITANDA—30
MEMORIAS DE UM POBRE DIABO.
Typographia—PERSEVERANÇA—rua do Hospicio n. 91
1868
MEMORIAS
DE
UM POBRE DIABO
POR
ARISTOTELES DE SOUSA.
ARISTOTELES DE SOUSA.
Do autor.
RIO DE JANEIRO
LIVRARIA LUSO-BRASILEIRA
30—RUA DA QUITANDA—30
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Prologo.
Pobreza não é vileza. Aviados andariam os vicios se fizessem conta dos pobres. Por não ser a pobreza vicio, fogem della, até os... escriptores... E como esperar um pobre diabo que outrem, que não elle, escreva suas memorias?
Responda o respeitavel—Publico—, sujeito em quem nesta occasião não descarrego a mais tremenda das descomposturas por amor á vazão deste livrinho. Cá me fica ella, porém, de reserva para quando eu haja de escrever algum juizo critico sobre alheia obra.{6}
Eis ahi o que é um prologo; em latim—exordium, em francez—avant-propos, no alemão—Einleitung, no inglez... foolery, e em as outras linguas como queiram, excepto no grego quê por fôrça será pro-logos, de logos discurso, pró antecipado, para se não dizer que embaço.
Este prologo e os capitulos seguintes são escriptos em portuguez, com perdão do meu professor de grammatica.{7}
PRIMEIRA PARTE.
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CAPITULO I.
Vim á luz ao pôr do sol, minutos antes do toque das Ave-Marias. Hora fresca. No anno em que nasci, não appareceu nenhum cometa por cima de mim. Não requeri para vir á luz e, ai de nós! se o nascimento dependesse de um—como requer!—A esta hora meio mundo não teria feito a barba.
Do dia do nascimento aos meus oito annos de idade, deram-se mil e uma circumstancias; notem que não digo—pormenores e aprendam a evitar um hespanholismo.{10}
CAPITULO II.
Aos doze annos lia, escrevia, contava e até grammaticava, se dou crédito ao attestado do meu professor, que, nesse tempo, escrevia deste modo—proFeçôr.
Ainda noje não atinei como aprendi a lêr, a escrever, a contar e a grammaticar com um professor, que lia Simeão da Nautica em vez de Simão de Nantua, orthographava professor d'aquelle modo, contando pelos dedos quando sommava 3+2+5?!
Tambem já não tinha medo de almas do outro mundo.
CAPITULO III.
Ouçam isto:
—Senhor meu sobrinho! abeire-se cá, sommemos as nossas contas. Ha dous mezes esteve vossê de cama, em risco de morrer entrevado, consequencias das suas sahidas de casa a deshoras; pondo novamente os{11} pés na rua foi contrahir uma divida na importancia de oitenta e cinco mil e quinhentos réis; aqui tenho a nota:
pagos por mim ao Sr. Moreira, por honra das cinzas de meu irmão. Não satisfeito com esta compra, que vossê diz ter feito para seu uso, como se eu fosse algum pato, ave a mais estupida dos gallinheiros, tanto assim que sempre ouvi chamar pato a quem se deixa levar, sobretudo, pelos não me-deixes de certas mulheres; não satisfeito, dizia, ha oito dias recebeu vossê uma sova de peias,{12} em resposta aos desaforados versos que dirigio á santa mulher do honrado visinho o Sr. Onofre. Somme as parcellas, subtrahindo a sova a seu favor, e veja quanto me resta? O embolso é a sua entrada para a escola de aprendizes marinheiros.... Vá aprender a ser homem....
—E os meus estudos, tio? balbuciei.
—Os seus estudos! replicou elle; o que estuda vossê?
—Oh tio! o