Doce Veneno
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Doce Veneno - Marianna Lopes
A EDITORA
A Livros Ilimitados é uma editora carioca voltada para o mundo. Nascida em 2009 como uma alternativa ágil no mercado editorial e com a missão de publicar novos autores dentro dos mais diversos gêneros literários. Sem distinção de temática, praça ou público alvo, os editores ilimitados acreditam que tudo e qualquer assunto pode virar um excelente e empolgante livro, com leitores leais esperando para lê-lo.
Presente nas livrarias e em pontos de venda selecionados, tem atuação marcante online e off-line. Sempre antenada com as novidades tecnológicas e comportamentais, a Livros Ilimitados une o que há de mais moderno ao tradicional no mercado editorial.
Copyright © 2016 by Marianna Lopes
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Bernardo Costa
John Lee Murray
Projeto gráfico e diagramação:
John Lee Murray
Direitos desta edição reservados à
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Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.
Em memória de minha bisavó, Irse, e
minha tia, Maria José.
"Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto."
– William Shakespeare
Prólogo
Naquela noite – em pé de braços abertos na sacada do terraço do castelo junto dos arcanjos protetores –, implorava para que a chuva lavasse e levasse com ela o doce veneno correndo em minhas veias. A chama que ardia em meu peito e fazia o veneno reagir em meu sangue.
Aquilo era pura e insanamente... amor – algo do qual não tinha muito conhecimento e nunca havia imaginado sentir um dia. Mas, parece que a chuva também trouxe uma luz a minha mente. Eu devia me manter longe dele. Eu podia amá-lo, porém queria matá-lo e não me perdoaria se isso acontecesse. Esse amor significaria minha ruína.
"Quero uma garrafa de
vinho com teu gosto e uma taça que nunca fique vazia"
Ridley Scott
(Um bom ano)
A volta
Primeiro era a escuridão.
Depois vieram os rostos – distorcidos, apavorantes...
Também as vozes...
Esta noite estava mais escura do que de costume.
Mas, hoje eu queria que ela tivesse apenas um significado: que as horas parassem; que fosse... o fim de tudo.
Ela se debatia no chão; incontrolável. Não sentia dor – somente os espasmos – pois esta era extremamente forte, causada pelo veneno que corria em suas veias. Era apenas mais uma vítima da carnificina.
Sua mãe a olhava da cama, mas ela nada podia fazer sem a luz em seus olhos. Já havia partido. Seu pai se entregava aos poucos em seus últimos suspiros.
A menina queria escapar das risadas de seus maus feitores. Tudo começou a ficar turvo. Os sons mais longe... Foi quando ela ouviu sua voz. Seu anjo salvador...
– Não tenha medo... – disse para tranquilizá-la – Eu a salvarei.
Telefones e relógios tocaram uma sinfonia aparentemente infinita. Eram insistentes. Tinham algo a dizer. Despertaram-me da história que se repetia. Os fantasmas de meu passado gritavam em minha mente. Eles sabiam que conseguiriam atormentar-me como nunca.
Larguei a carta. Uma das muitas que escrevi enquanto estive longe, mas faltou coragem para mandar. Acho que foi mais por orgulho.
Os primeiros raios de sol iluminavam a cidade. O medo tomou conta de mim. Desci ao primeiro andar do apartamento parando para observar cuidadosamente os objetos no corredor dos quartos – os quadros de diferentes tamanhos, as estátuas africanas nos cantos – despedindo-me... Pus as malas perto da porta e saí para a varanda. As pessoas reiniciavam suas vidas – saíam para trabalhar, levavam os filhos à escola, o jornaleiro abria sua banca.
Retornando ao meu quarto, era hora de me arrumar. Ouvi passos do lado de fora. Clare, minha governanta e amiga, e seu neto, Bronwen já acordaram para o grande dia.
Há anos moro em Varsóvia, capital da Polônia. Mudei-me para cá após conhecer um velho pequeno empresário polonês, Hans, e mesmo que ele não soubesse nada sobre mim – principalmente meu segredo – nos tornamos grandes amigos. Ele não tinha família. Quando morreu, herdei todos os seus bens. Inserimos o pequeno negócio, que no início não pensávamos que daria tantos lucros, no sistema de holdings – comprando empresas falidas e dando-lhes uma nova oportunidade de circular no mercado carregando nosso nome – e ele prosperou, tornando-se um dos principais grupos empresariais do Mercado mundial, o Blackerby.
Nós temos um grande concorrente: o dono do grupo Progress, Baron Kenrickson – que ficou surpreso em saber que eu estava a caminho. A concorrência agora aumentaria e seria direta. Um tirano que pensa que tudo deve ser do seu jeito: o jeito mais sujo. Pai de três filhos – Randall, o mais velho, é casado com Mary, filha de um dos sócios de Baron, Carter Hamilton, e pai de Brandon, e seu maior defeito é ser a cópia perfeita do pai por ter personalidade fraca; Darin, o filho do meio e rebelde da família, que está sempre metido em alguma confusão – pois não aceita a tirania do pai – que ganha as páginas dos principais jornais; e o caçula, Nolan, que nasceu para trazer luz e alegria a um momento de tristeza, pois sua mãe, Betsy, morreu em seu parto.
E vieram as batidas na porta que anunciavam o que eu menos queria: a hora de partir.
Nosso vôo sairia às sete, entretanto o check-in nos fazia ter de chegar com antecedência ao aeroporto. No elevador, Clare me encarava pensativa e eu estava certa de que ela sabia o que se passava. Se bem a conheço e se ela bem me conhece, ela podia ver o que eu sentia através de meus olhos. Os vizinhos que entravam e saiam me desejavam uma boa viagem – como se fosse possível.
Hesitei em entrar no carro imaginando o que ainda estava por vir. A imprensa compareceu em peso à rua. Os flashes me assustavam mesmo que eu estivesse acostumada a eles.
Mas, foi no saguão do aeroporto Frédéric Chopin – em meio aos encontros e desencontros, às chegadas e despedidas, aos abraços longos e breves, aos beijos apaixonados, aos sorrisos e lágrimas – que me encolhi e vi a coragem correr para longe de mim. Jurei a mim mesma que jamais voltaria, porém decidi seguir o conselho de Clare – que sempre insistira: era o meu lar, onde eu cresci e vivi momentos felizes durante anos. Não era certo abandoná-lo. Contudo, era muito difícil.
Anunciaram nosso vôo.
No jatinho, Clare e Bronwen voltaram a dormir. Quando decolamos fechei os olhos tentando afugentar as imagens do filme de minha vida que passavam por mim novamente – desde o dia em que entrei para a família de Farrell e Alene Blackerby, então meus pais – os melhores do mundo –, até o dia da tragédia.
– Pai, eles estão por todos os lados! – disse Esmond entrando no escritório onde eu estava com meus pais.
Minha mãe olhou pela janela.
– Sentem o cheiro? – perguntou ela.
– Fumaça. – respondi.
Meu pai fechou os olhos e se concentrou. Geralmente fazia isso para se comunicar com o Supremo Conselho.
– Windsor e os outros já estão a caminho. – informou meu pai – Preparem-se.
Subimos para o terraço e ficamos horrorizados com a cena – o jardim em chamas, os inimigos nos cercando por todos os lados. Não sabíamos o que fazer.
– Ebony, leve meus filhos e minha mulher. – ordenou meu pai à nossa governanta.
– Sim, senhor. – ela respondeu. – Venham, vamos embora.
– Não, pai! – exclamei.
– Fora de cogitação, pai! – concordou Esmond.
– Isso é uma ordem! Quero que saiam daqui! – esbravejou meu pai.
Minha mãe o abraçou.
– Eu vou ficar, Ebony. – disse ela – Leve meus filhos e cuide bem deles.
– Alene... – tentou meu pai.
– Não, Farrell. Até o fim
, lembra-se?
Abraçamo-nos, entretanto meu pai sussurrou uma última ordem em meu ouvido.
– Não, pai, não posso. – neguei.
Ele sinalizou para Yates.
Yates nos transportou para a floresta. Os Vernan nos viram e começavam a vir em nossa direção.
– Charlotte? – chamou Esmond segurando minha mão – Você foi a escolhida, você deve continuar. – disse.
E saiu correndo para enfrentar os inimigos.
– Alden, você deve executar a ordem de seu pai. – disse Yates antes de correr para ajudar Esmond.
Olhando o fim se aproximar, protegi Ebony e...
O piloto anunciou nossa aterrissagem no aeroporto de Heathrow – a uns vinte e quatro quilômetros a oeste da cidade de Londres, na capital da Inglaterra. Levantei a cortina da janela – que eu fiz questão de manter fechada durante toda a viagem – e pude conferir a beleza do raiar do dia.
Dava para sentir a diferença de temperatura – apesar de que esta não tinha influência em mim – de quando partimos. Aqui é um dos poucos lugares onde eu poderia sair à luz do dia sem ter medo de ser queimada. Eram raros os dias que tinham sol – que quando resolvia aparecer deixava praças e parques lotados de pessoas que aproveitavam para sair e fazer caminhadas, piqueniques, brincar com os filhos, namorar – é frio e nublado na maior parte do tempo.
De carro, seguimos para o sudeste da Inglaterra – uma viagem que demoraria pouco mais de uma hora – até a capital do condado de Kent, Maidstone.
Cruzando a Broomfield Road, em Kingswood, uma pontada de dor, como uma facada, atingiu o meu peito. Estávamos perto. Nas redondezas de meu castelo construído em 1410 no meio de um lago rodeado por uma vasta área campestre – de cor marfim desbotado e tijolos: duas torres ladeiam o portão de entrada para a breve ponte que leva aos grandes muros do portão principal que dá para o pequeno jardim de frente para o castelo; ele possui quatro torres frontais guardadas por arcanjos protetores no topo; sua primeira parte é onde funciona o museu que mandei construir para preservar e contar minha história, e atravessando um corredor nos fundos saímos na segunda parte onde fica a residência –, nervosa, nem piscava.
Antes de entrar fui dar uma volta a cavalo.
Saindo do estábulo eu era novamente a garotinha de apenas oito anos – pele morena e macia, cabelos castanho-avermelhados lisos e longos, olhos castanho-escuros; sempre um pouco mais alta do que o normal para a idade – que adorava montar. Ficava horas admirando a beleza da natureza.
Vi meus pais trocando carícias. O amor deles era uma coisa contagiante. Minha mãe era como uma fada – movimentos leves, feições suaves e bem desenhadas, baixa estatura, cabelos ruivos ondulados e compridos até a cintura, pele branca como a lua, boca fina e vermelha como uma rosa, olhos puxados cor de mel – e se parecia mais com a figura mitológica quando colocava uma coroa de flores que meu pai lhe fazia e usava seu vestido tomara-que-caia de cetim branco cheio de babados da cintura aos pés. Meu pai também era um homem muito bonito – alto, cabelos pretos curtos e lisos, lábios finos e rosados, olhos azuis e amendoados.
Também pude ver meus irmãos, Torrance e Esmond, gêmeos e lindos – louros cabelos encaracolados, olhos verdes, mais pareciam anjos querubins. Só pareciam mesmo, pois adoravam fazer uma boa bagunça – correndo um atrás do outro dando altas gargalhadas.
Adentrando, o castelo estava sendo arrumado para uma festa. Ebony, nossa governanta na época, – uma senhora alta e morena, pele lisa, cabelos parcialmente pretos e grisalhos compridos presos numa trança. Era humana e de suma confiança, sabíamos que ela não revelaria nosso segredo a ninguém – coordenava todo o movimento dos funcionários.
De repente uma voz melódica chamou o meu nome.
– Alden? – era minha mãe do alto da escada que dividia o grande salão à metade.
– Sim, mamãe. – respondi.
– Venha cá. Quero lhe dar uma coisa.
Subi as escadas correndo para ver o que ela segurava em suas mãos.
– Tome. Quero que fique com isso. Para que se lembre que somos uma família e que estaremos sempre juntos. – disse ela – Abra. Espero que goste. Foi idéia minha e de seu pai.
Uma caixinha de jóias azul – era a cor favorita de minha mãe – dentro havia coração. Pingente de um cordão de prata e abria como se fosse um álbum de fotografias. E era isso que ele continha: uma foto de meus irmãos junto a mim e de meus pais quando eram mais novos, antes de se tornarem vampiros. Na parte de trás do cordão estavam escritos os nomes de toda família Blackerby.
– É lindo! Vou usá-lo sempre para tê-los aqui bem pertinho do meu coração. – lhe disse emocionada.
– Isso mesmo. E onde você também estará em nós.
– Eu te amo, mamãe.
– Eu também te amo, minha filha.
E nos abraçamos.
Mas alguma coisa quente se chocou contra o frio do meu corpo e despertou-me do sonho.
– Eu sinto muito, querida. – disse Clare tocando meu ombro.
Clare é meu porto seguro. Apesar de baixinha e já com certa idade ela é muito ativa. Loura e cabelos curtos rentes ao pescoço, boca pequena e rosada, olhos castanhos e pele enrugada – marcas do tempo. Enfrentou um período de grande dor com a morte de sua filha, Carrie e seu genro, Abderman, que morreram num acidente de carro. Clare teve de criar Bronwen sozinha. Eu a ajudei no que pude e hoje Bronwen tem um futuro brilhante pela frente.
– Clare... – sussurrei.
– Sei que é difícil para você estar aqui, mas entenda que aqui é sua casa e eles gostariam que você seguisse a sua vida sem se lamentar pelo o que aconteceu. – disse-me.
– É como se eu nunca tivesse saído daqui. Como se o tempo não tivesse passado...
– Também porque você conservou o lugar como ele era. Logo, até as lembranças ficam congeladas no tempo.
– Meu pai mandou construir esse castelo para minha mãe do jeito que ela queria e eu não deixaria que o tempo apagasse nada disso. Os anjos nas paredes do lado de fora, os arcanjos lá do alto guardando a entrada do castelo, as cores... Eu tinha de mantê-lo.
– A idéia do museu foi ótima.
– Quero que todos conheçam a nossa história.
– Uma bela história.
Sorri.
– Onde está Bronwen? – perguntei.
– Ajudando a tirar as malas do carro. – ela respondeu.
– Clare, o que eu falei sobre dar serviço pesado para ele?
– Não é serviço pesado.
– As malas são pesadas.
– Alden, ele não é mais nenhuma criança. O mínimo que ele pode fazer é ajudar.
– Tudo bem... Não vai adiantar nada discutir com você, não é?
– Não.
– Mas, não abuse...
– Já entendi, já entendi.
– Falando de mim, meninas? – perguntou Bronwen colocando a última mala no chão perto da porta. Ele é muito parecido, fisicamente, com o pai – moreno alto, cabelos bem próximos à raiz e castanho-escuros, olhos amendoados e castanho-claros, boca bem desenhada e farta, mãos largas. Porém, no jeito, ele é mais parecido com a mãe. Não que o pai também não tivesse essas características – coisa que não sei, pois não tínhamos muito contato, mas Carrie eu vi nascer e crescer. Era uma mulher honesta, de coração bom, queria resolver os problemas do mundo. Entretanto Bronwen alimentava sentimentos por mim e me deixa pouco a vontade, pois às vezes ele é muito insistente no assunto.
– Não quero que você trabalhe para mim. – falei – Nem você e nem a sua avó, mas ela sabe que não é minha empregada... Quero que você cresça e siga o seu caminho.
– Eu fico feliz em ajudar, Alden. – ele respondeu. –Não fique aborrecida.
– Eu falei, mas ela não me ouve. – disse Clare.
– É verdade, Alden. – concordou Bronwen. – É um prazer servir a você.
– Mudemos de assunto. – sugeri – Falemos da festa de boas-vindas... Não vou fazer nada específico. Só uma pequena recepção no salão do outro pavilhão do castelo, porque o do museu não pode se utilizado para estes fins.
– E o que você tem em mente? – perguntou Clare.
– Deixo essa parte com você.
– Vou dar o meu melhor.
– Sei que sim.
– Amanhã temos a inauguração do novo prédio da Blackerby. Será um grande evento.
– Precisamos descansar, então.
Dirigimo-nos para o segundo pavilhão do castelo.
Para não deixar que a tristeza me abatesse, sentei-me na mesa, em meu quarto, e comecei a fazer a lista de convidados da festa. Não demoraria muito até que eu terminasse – a memória é uma coisa que nunca me falha ou falhará e não poderia esquecer ninguém. Apesar de fingir que gosto das pessoas fúteis do mundo de hoje, eu tinha de fazer isso – mais uma exigência do trabalho.
– PEGUEM-NA! NÃO A DEIXE ESCAPAR! – esbravejava um dos colonos.
Os humanos descobriam nosso segredo. Elora foi considerada pioneira e maior culpada. Condenada a ter uma morte lenta e dolorosa por seus crimes. Enquanto ela corria por entre as vielas, eles a perseguiam com tochas, crucifixos e berros. Não, não havia como sobreviver. Ela seria morta. Então, teve a grande idéia que mudaria a história para sempre: depositou toda sua energia no livro da Constituição e transformou-se em estátua. Windsor, seu amado, lhe encontrou – felizmente antes dos colonos – e, junto com os outros, desapareceu para sempre.
Há livros que contam sobre aquela época, mas as páginas não podem revelar o que realmente aconteceu. Isso mudaria todo o curso da história, traria novos rumos e novas reações.
A Inglaterra não me faz bem. Nunca mais fará. Aqui os dias ficam mais lentos e cansativos. Os ponteiros do relógio se arrastam. Parecem estar decididos a me manter presa num mesmo tormento sem me dar chances de imaginar que o outro dia poderá me trazer algo novo mesmo que seja ruim.
Eu me distraí facilmente, porém o amanhecer chegou. Céu nublado, mas silencioso, não havia ameaças de chuva. Hoje iríamos à inauguração da nova filial da Blackerby na cidade de Londres.
– Bom dia, Clare. – cumprimentei-a ao entrar na sala de jantar onde ela e Bronwen tomavam café-da-manhã.
– Bom dia, Alden. – ela me respondeu sorridente.
– Não podia ser diferente. – comentou Bronwen olhando para o jornal. Ele costumava lê-lo todas as manhãs. – Esse... Darin é mesmo o cúmulo do absurdo.
– Ele teve a quem puxar. – falei.
– Dessa vez ele extrapolou...
– Bronwen, poupe-me de notícias sobre os Kenrickson. Já me basta ter de lidar com Baron nos negócios.
– Desculpe.
– Bom, então vamos? – sugeriu Clare.
– Estou à disposição. – falei.
– Vamos. – disse Bronwen por fim.
Dia de festa, noite de tortura.
Não parecia, mas já estávamos há dias aqui. Durante a tarde ajudei na arrumação do jardim – recebi o Buffet, direcionei os floristas, músicos. Clare supervisionava a cozinha e Bronwen estava aos estudos. Meu vestido já estava preparado esticado em cima da cama – Vera Wang preto tomara-que-caia com um cinto de laço grande decotado e longo. Os sapatos Chanel da mesma cor. Meus cabelos seriam presos em meia lua e usaria as jóias favoritas de minha mãe – um conjunto gargantilha, brincos e pulseira de diamantes.
À noite, os convidados chegavam em seus carros de luxo acompanhados de suas esposas ou de belas mulheres. Tomei fôlego e fui para o jardim. Baron chegou acompanhado de Randall – que estacionava seu belo Shuanghuan CEO – e Mary. Agora está planejando uma festa beneficente, patrocinada por sua empresa para arrecadar fundos para o hospital do câncer, Royal Marsden, nos jardins de sua casa que, diga-se de passagem, é linda – o corredor de entrada é ladeado por árvores, bancos e postes – como a trilha de um bosque –, três prédios unidos formam a grande mansão vermelha dos Kenrickson, o telhado é de um marrom bem escuro, ao lado há um imenso lago rodeado por um grande gramado.
– Ah... Blackerby, como vai?! – cumprimentou-me.
– Muito bem, Kenrickson. E você?
– Espetacular.
– Onde estão seus outros filhos? Pensei que teria o prazer de ver toda a família Kenrickson.
– Os dois... tiveram um compromisso.
– Uma pena... Teremos outras oportunidades.
– Vai ser muito bom tê-la como vizinha.
– Igualmente. Com licença.
– Claro.
Ele se lembrou de dizer-me algo.
– Ah, Blackerby?! – chamou.
– Sim...
– Vai ao evento no próximo sábado, não?
– Conte comigo.
– Nos vemos lá, então.
– Nos vemos lá.
Bronwen surgiu.
– Oi. – cumprimentou.
– Ah... Oi, Bronwen.
– Nossa, que felicidade.
Tentei sorrir.
– Você está linda. – elogiou-me.
– Obrigada, Bronwen. Você também.
– Jura? Estou experimentando novos estilos.
– Mudar é bom.
– Muito, Alden. Voltar a morar aqui vai lhe fazer bem. Vai lhe ajudar a superar.
– Nunca vou superar, Bronwen.
– Hans ia gostar de estar aqui. Ele ia gostar do glamour, do dinheiro, dos carros. – Bronwen mudou de assunto.
– Se não fosse por ele eu não faria isso. É uma coisa deprimente toda essa futilidade, entretanto... confesso que gosto da aristocracia.
– Ele era incrível.
– Era mesmo.
– O que Baron queria dessa vez?
– Além de testar minha paciência, confirmar minha presença no evento beneficente.
– E você confirmou?
– Sim.
– Obrigado! Adoro esses eventos!
– Mesmo?
Rimos.
Ele esticou-me sua mão.
– Quer