Pais apostólicos
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Equipe MC: Daniel Faria (editor)
Heda Lopes
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Diagramação: Felipe Marques
Diagramação para e-book: Yuri Freire
Capa: Maquinaria Studio
Categoria: Literatura
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Telefone: (11) 2127-4147
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1a edição eletrônica: março de 2013
2a edição eletrônica: novembro de 2018
Sumário
Prefácio
As cartas de Clemente
Primeira carta de Clemente
Segunda carta de Clemente
As cartas de Inácio
Aos efésios
Aos magnésios
Aos tralianos
Aos romanos
Aos filadélfios
Aos esmirniotas
A Policarpo
As cartas de Policarpo
Aos filipenses
O martírio de Policarpo
A Didaquê
O Pastor de Hermas
Primeiro livro — Visões
Segundo livro — Mandamentos
Terceiro livro — Comparações
Prefácio
Este volume reúne uma das mais importantes coleções de documentos cristãos antigos, os chamados Pais Apostólicos. Cobrindo um período que vai do final do século 1 até meados do século 2, as obras constituem um testemunho extremamente valioso sobre o pensamento e a vida da Igreja numa época remota da história do cristianismo, quando este ainda dava seus primeiros passos na sociedade greco-romana.
Esses textos podem ser definidos como o primeiro conjunto de literatura cristã posterior ao Novo Testamento. A designação pela qual são conhecidos, Pais Apostólicos, foi utilizada pela primeira vez pelo estudioso francês Jean Cotelier, em 1672, e reflete o fato de que tais documentos foram produzidos numa época muito próxima da era apostólica. A outra palavra do título os coloca no contexto dos Pais da Igreja
, os pensadores e escritores cristãos dos primeiros séculos. Na verdade, os Pais Apostólicos constituem o início do período patrístico, a era dos Pais da Igreja.
Apesar de suas muitas diferenças, esses escritos apresentam algumas características comuns. Em primeiro lugar, destacam-se por sua simplicidade intelectual e doutrinária. Não encontramos neles as reflexões teológicas profundas — e muito menos as elaborações filosóficas — que irão caracterizar muitos escritos cristãos posteriores. Antes, são declarações de uma fé e piedade sinceras, revelando acima de tudo um interesse pastoral e prático. Suas principais preocupações são a paz, a unidade e a pureza da Igreja.
Os Pais Apostólicos demonstram também grande reverência pelo Antigo Testamento, num período em que a coleção dos escritos neotestamentários ainda estava sendo reunida. O Antigo Testamento é objeto de uma interpretação tipológica e alegórica, no sentido de torná-lo ainda mais relevante para uma audiência cristã. Ao mesmo tempo, os autores revelam clara familiaridade com as formas literárias do Novo Testamento e com os ensinos dos evangelhos e das epístolas canônicas.
Esses antigos documentos espelham ainda várias situações conhecidas no que diz respeito à Igreja pós-apostólica. Há uma preocupação com a liderança eclesiástica, numa época em que a Igreja começa a experimentar forte processo de institucionalização. Avulta em alguns textos, principalmente nas cartas de Inácio, o interesse pela figura do bispo. Além disso, nota-se uma forte ênfase na ortodoxia, no momento em que se multiplicam interpretações alternativas da fé cristã. A realidade crescente das perseguições se reflete na exaltação do martírio, também presente em vários desses documentos.
Por último, a tendência para o declínio dos padrões éticos na vida de muitos cristãos e o perigo sempre presente da apostasia fazem com que muitos desses escritos, em especial O Pastor de Hermas, adotem uma postura rigorosa com respeito à moralidade e à disciplina. Em contraste com a ênfase paulina na graça e na fé, a salvação passa a ser entendida em termos de obediência a uma nova lei. Ela não mais é vista como uma dádiva graciosa de Deus, mas como fruto do esforço e da obediência dos cristãos, refletindo um entendimento legalista ou moralista da vida cristã.
O presente volume contém treze documentos: duas cartas atribuídas a Clemente de Roma, sete cartas de Inácio de Antioquia, uma carta de Policarpo aos filipenses, uma narrativa do martírio de Policarpo, o manual eclesiástico conhecido como Didaquê e O Pastor de Hermas. Outras coletâneas também incluem entre os Pais Apostólicos a Epístola de Barnabé, a Epístola a Diogneto e fragmentos atribuídos ao bispo Papias de Hierápolis. Apresentamos a seguir alguns dados relevantes sobre cada um dos documentos.
A Primeira carta de Clemente é o mais antigo desse conjunto de documentos, tendo sido escrita por volta do ano 96, ou seja, no final do reinado do imperador Domiciano. Trata-se de uma longa epístola da igreja de Roma aos cristãos de Corinto, exortando-os a restaurar os presbíteros da igreja, que haviam sido depostos de seu ofício. Segundo a tradição, seu autor foi Clemente, um dos antigos bispos de Roma, que não deve ser confundido com seu homônimo posterior Clemente de Alexandria. Um quarto da epístola contém citações do Antigo Testamento, usado como fonte de muitos modelos de ordem e virtude.
O documento é importante pelo quadro que apresenta do antigo cristianismo romano, no qual predominavam interesses éticos e uma forte ênfase na lei e na ordem. O texto pressupõe uma igreja governada por bispos ou presbíteros, e diáconos, que receberam seu ofício em sucessão regular a partir dos apóstolos. Percebe-se claramente um entendimento sacrificial da ceia do Senhor, e no capítulo 25 há uma curiosa alusão ao mito pagão da fênix. A epístola foi tão apreciada na Igreja antiga que, por algum tempo, os cristãos do Egito e da Síria quiseram incluí-la no cânon do Novo Testamento.
A Segunda carta de Clemente foi assim designada de maneira incorreta, pois não é uma carta nem pode ser atribuída ao bispo romano já mencionado. Trata-se do mais antigo sermão cristão conhecido (cf. 19.1), tendo sido escrito por um presbítero anônimo antes da metade do século 2, possivelmente em Alexandria, no Egito. Tem em vista exortar os ouvintes a uma vida de pureza moral e firmeza nas perseguições, enfatizando a necessidade de arrependimento e boas obras. A homilia combate ideias gnósticas, coloca os escritos apostólicos em pé de igualdade com o Antigo Testamento (a Septuaginta) e apresenta o curioso conceito da Igreja como a continuidade da encarnação. Esse documento também foi tido em alta estima na Igreja antiga.
As cartas de Inácio de Antioquia foram escritas no início do século 2, durante o reinado de Trajano, quando o idoso bispo foi conduzido a Roma por um destacamento de soldados a fim de ser executado. No caminho, ele passou por Filadélfia e depois por Esmirna, onde foi saudado pelo bispo Policarpo e por representantes das igrejas de Éfeso, Magnésia e Trales. De Esmirna, escreveu cartas às igrejas que enviaram essas delegações e a Roma. Rumando para o norte, fez nova parada em Trôade, de onde escreveu às igrejas de Filadélfia e Esmirna, e ao colega Policarpo.
Essas cartas simples, pessoais e fervorosas são dominadas por várias preocupações. Elas defendem a unidade da Igreja, acentuando a obediência ao bispo que governa cada comunidade local. Atacam movimentos heréticos, geradores de cismas, em especial uma heresia docética que negava a encarnação do Verbo. Por fim, valorizam grandemente o martírio cristão. Inácio se evidencia por sua paixão, intensidade e profunda devoção a Cristo. Na epístola aos esmirniotas, a expressão Igreja Católica
surge pela primeira vez na literatura cristã.
Dois escritos dentre os Pais Apostólicos estão relacionados com o bispo Policarpo de Esmirna, colega mais jovem de Inácio, nascido por volta do ano 70. Pouco após o encontro com o idoso bispo, ele escreveu uma carta aos filipenses em resposta a diversos pedidos dessa igreja. Entre tais solicitações estava uma coleção das cartas de Inácio, o envio de uma delegação para dar assistência à igreja de Antioquia e a situação do presbítero Valente e sua esposa, que haviam sido disciplinados por desonestidade em questões financeiras. O principal interesse dessa singela carta está no amplo uso que faz dos escritos do Novo Testamento, principalmente os evangelhos sinóticos, Atos, as epístolas paulinas e 1Pedro. Além disso, utiliza material da Primeira carta de Clemente e faz alusões às cartas de Inácio.
O outro documento relacionado com Policarpo é a narrativa de seu martírio em uma carta da igreja de Esmirna à igreja de Filomélio, na Frígia. O documento relata a prisão, julgamento e execução desse bispo, morto na fogueira aos 86 anos, provavelmente em 155 ou 156, durante o reinado do imperador Antonino Pio. Trata-se do mais antigo relato de um martírio cristão fora do Novo Testamento e também o mais antigo testemunho sobre a veneração dos mártires. A narrativa se destaca por sua simplicidade e por sua tocante descrição da fidelidade e coragem de Policarpo. Sua oração no capítulo 14 representa o tipo de oração eucarística de consagração que era usado em meados do século 2 em Esmirna.
A Didaquê ou Ensino
, às vezes denominada A doutrina dos doze apóstolos, é uma compilação, isto é, um documento composto de materiais de diferentes origens. Os seis primeiros capítulos contêm um conjunto de instruções morais conhecido como Os dois caminhos
(da vida e da morte). Esse documento se encontra em uma versão diferente no final da Epístola de Barnabé. O compilador teria incluído no texto judaico original uma boa quantidade de conteúdo cristão. A segunda parte (caps. 7—15) é um manual eclesiástico, o mais antigo que se conhece, estabelecendo regras simples para a conduta de uma congregação rural. Trata de questões litúrgicas sobre o batismo e a ceia do Senhor, do jejum, bem como de profetas itinerantes e do ministério local de presbíteros e diáconos. O último capítulo (16) considera a necessidade de preparação para o final dos tempos.
Segundo alguns estudiosos, o documento em sua forma atual surgiu na primeira metade do século 2, em Alexandria, no Egito. O compilador teria editado dois documentos que tinha em mãos: o catecismo moral conhecido como Os dois caminhos
e uma ordem eclesiástica do final do século 1, provavelmente originária da Síria. Esse manual inclui as mais antigas orações eucarísticas conhecidas e demonstra a transição de uma liderança eclesiástica carismática para um modelo institucional e hierárquico. O texto esteve perdido por muitos séculos e foi descoberto em 1873, em Constantinopla, por Philotheos Bryennios, metropolitano de Nicomédia, que o encontrou em um manuscrito datado de 1056 contendo também as epístolas de Clemente e Barnabé.
O documento mais longo dos Pais Apostólicos, abrangendo metade deste livro, é O Pastor, escrito por Hermas, um ex-escravo, possivelmente judeu, que foi emancipado em Roma. O Cânon Muratoriano diz que ele era irmão de Pio, um bispo romano de meados do segundo século. A obra é composta de cinco Visões, doze Mandamentos e dez Comparações. Nas Visões, Hermas recebe revelações de uma mulher, que representa a Igreja, e do anjo do arrependimento
, disfarçado como um pastor de ovelhas, cujo surgimento na quinta visão introduz as demais seções. Os Mandamentos e parte das Comparações se compõem principalmente de instrução ética, com forte ênfase na pureza e no arrependimento.
O texto é de difícil interpretação em virtude de sua linguagem apocalíptica e alegórica. O autor revela uma piedade singela e limitados recursos intelectuais. Ele admite o arrependimento por pecados posteriores ao batismo, mas, devido à aproximação do fim, o restringe aos pecados cometidos até o presente. Percebe-se no documento a existência de um sistema penitencial rudimentar. Segundo D. F. Wright, a obra é valiosa por lançar luz sobre as crenças do cristianismo judaico e de uma congregação cristã na sociedade romana helenística. O Pastor de Hermas foi tão apreciado nos primeiros séculos que alguns líderes defenderam sua inclusão entre os livros do Novo Testamento.
Concluindo, os Pais Apostólicos fornecem informações altamente relevantes sobre um importante período de transição na vida do cristianismo antigo, quando a Igreja ainda está relativamente próxima da geração dos apóstolos, mas começa a tomar novos rumos e a assumir novas características e ênfases. Ao mesmo tempo que se expande de maneira crescente no mundo grego-romano, o movimento cristão enfrenta difíceis desafios representados pela repressão estatal e pelo surgimento de heresias e cismas. Em resposta a essa nova e complexa situação, desenvolve-se o episcopado monárquico ou monoepiscopado, cristaliza-se o cânon do Novo Testamento e surgem as primeiras declarações credais — a regra de fé
.
ALDERI SOUZA DE MATOS, TH.D.
AS CARTAS DE CLEMENTE
A carta da igreja de Roma à igreja de Corinto, comumente denominada Primeira carta de Clemente
O TEXTO
A Igreja de Deus, que vive no exílio em Roma, para a Igreja de Deus, exilada em Corinto, para vocês que são chamados e santificados pela vontade de Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo: Que graça e paz em abundância, da parte do Deus todo-poderoso, estejam com vocês por meio de Jesus Cristo.
1 Amados, nós admitimos que, devido a súbitos e repetidos infortúnios e acidentes que sofremos, demoramos um pouco para voltar nossa atenção às desavenças entre vocês. Referimo-nos ao abominável e ímpio cisma que alguns sujeitos impetuosos e obstinados insuflaram até ele atingir tal grau de insanidade que a boa fama de vocês, noutros tempos notória e cara a todos nós, caiu na mais grave degradação. ² Alguém de fato conviveu com vocês sem atestar a excelência e firmeza da fé que vocês têm? Sem admirar sua sensata e ponderada piedade cristã? Sem divulgar seu espírito de ilimitada hospitalidade? Sem louvar seu perfeito e confiável conhecimento? ³ Pois vocês sempre agiram imparcialmente e seguiram as leis de Deus. Vocês obedeceram a seus governantes e trataram seus anciões com o devido respeito. Vocês disciplinaram a mente de seus jovens na moderação e dignidade. Vocês ensinaram suas mulheres a fazer tudo com uma consciência inocente e pura, e a dar a seus maridos o devido carinho. Vocês também as ensinaram a seguir as normas da obediência e a administrar suas casas com dignidade e total discrição.
2 Vocês todos eram humildes e não tinham nenhuma pretensão, mais obedecendo que dando ordens, sentindo mais prazer em doar do que em receber. Satisfeitos com as provisões de Cristo e atentos a elas, vocês cuidadosamente guardavam suas palavras no coração e não perdiam de vista seus sofrimentos. ² Consequentemente, vocês todos receberam uma profunda e preciosa paz e um insaciável desejo de praticar o bem, enquanto o Espírito Santo era copiosamente derramado sobre todos vocês. ³ Vocês estavam repletos de santos conselhos e, com zelo pelo bem e devota confiança, estendiam as mãos ao Deus todo-poderoso, suplicando-lhe que tivesse compaixão caso vocês involuntariamente cometessem algum pecado. ⁴ Dia e noite vocês labutaram em benefício de toda a irmandade, a fim de que, por meio de sua piedade e compaixão, a totalidade dos eleitos de Deus pudesse ser salva. ⁵ Vocês eram sinceros e leais e não guardavam nenhum ressentimento. ⁶ Toda insubordinação e cisma eram para vocês um horror. Choravam pelas faltas de seus vizinhos, enquanto reconheciam seus defeitos como se fossem de vocês mesmos. ⁷ Nunca lamentavam todo o bem que praticavam, estando sempre prontos a fazer tudo o que é bom
(Tt 3.1). Dotados de caráter excelente e devoto, tudo fizeram temendo a Deus. Os mandamentos e decretos do Senhor estavam gravados nas tábuas de seu coração.
3 Vocês conseguiram grande popularidade e um número crescente de adesões, de modo que se cumpriu a Escritura: O bem-amado comeu e bebeu, tornou-se pesado e farto de comida, e deu pontapés
(Dt 32.15). ² Por causa disso, surgiram a rivalidade e a inveja, os conflitos e as insubordinações, a perseguição e a anarquia, a guerra e o cativeiro. ³ E assim o desprezível
se levantou contra o nobre
, o que não gozava de nenhuma fama contra o notável, o néscio contra o sábio, o jovem contra o idoso
(Is 3.5). ⁴ Por essa razão a justiça e a paz estão distantes de vocês, pois cada um abandonou o temor de Deus e ficou cego em sua fé, e deixou de seguir as regras de seus preceitos ou de se comportar de um modo digno de Cristo. Cada um prefere seguir os apetites de seu maldoso coração, revivendo a perversa e ímpia rivalidade pela qual, de fato, a morte veio ao mundo.
4 Pois assim diz a Escritura: Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. ² O SENHOR aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. ³ Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. ⁴ O SENHOR disse a Caim: ‘Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fez uma oferta correta, mas não a dividiu corretamente, acaso você não pecou? ⁵ Fique calado. Seu irmão voltará para você e você mandará nele. ⁶ Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: ‘Vamos para o campo’. Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou
(Gn 4.3-8).
⁷ Percebam, irmãos, que a rivalidade e a inveja são responsáveis pelo fratricídio. ⁸ Devido à rivalidade nosso antepassado Jacó fugiu da presença de seu irmão Esaú. ⁹ Foi a rivalidade que fez José ser sanguinariamente perseguido e reduzido à escravidão. ¹⁰ A rivalidade obrigou Moisés a fugir da presença do faraó, o rei do Egito, após ter ouvido seu colega e membro de clã dizer: Quem o nomeou líder e juiz entre nós? Quer matar-me como matou o egípcio?
(Êx 2.14). ¹¹ Por causa da rivalidade, Arão e Miriã foram expulsos do acampamento. ¹² A rivalidade lançou Datã e Abirão ainda vivos no inferno porque se revoltaram contra Moisés, o servo de Deus. ¹³ Por causa da rivalidade, Davi não apenas foi vítima da inveja de estrangeiros, mas foi até mesmo perseguido por Saul, o rei de Israel.
5 Mas, deixando os exemplos da antiguidade, passemos para os heróis mais próximos de nossa época. Tomemos os nobres exemplos de nossa geração. ² Por causa da rivalidade e da inveja, os maiores e mais justos pilares [da Igreja] foram perseguidos e combatidos até a morte. ³ Lembremo-nos dos nobres apóstolos. ⁴ Pedro, que por causa do perverso ciúme, não apenas uma ou duas vezes, mas com frequência suportou sofrimentos e assim, dando seu testemunho, partiu para o glorioso lugar que mereceu. ⁵ Por motivos de rivalidade e discórdia, Paulo mostrou como ganhar o prêmio por meio da paciente resistência. ⁶ Sete vezes ele foi acorrentado, exilado, apedrejado, tornou-se um arauto [do evangelho] no Oriente e no Ocidente e conquistou a sublime fama que sua fé mereceu. ⁷ Ao mundo inteiro ele ensinou a justiça e, chegando até os confins do Ocidente, deu seu testemunho perante governantes. E assim, libertado deste mundo, ele foi levado para o lugar santo e tornou-se o maior exemplo da paciente resistência.
6 A esses homens que levaram uma vida tão santa juntou-se a grande multidão dos eleitos que, por causa da rivalidade, foram vítimas de muitos ultrajes e torturas e entre nós se tornaram eminentes exemplos. ² Por causa da rivalidade, mulheres foram perseguidas desempenhando os papéis de Danaides e Dirces. Vítimas de horrendos e blasfemos ultrajes, elas percorreram com firmeza o caminho da fé até o fim e, apesar de sua fragilidade física, conquistaram uma notável recompensa. ³ Foi a rivalidade que levou mulheres a se separarem de seus maridos e anularem a declaração de nosso pai Adão: Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne
(Gn 2.23). ⁴ A rivalidade e a discórdia destruíram grandes cidades e extirparam poderosas nações.
7 Estamos escrevendo neste tom, amados, não apenas para admoestá-los, mas também para lembrar essas coisas a nós mesmos. Pois estamos na mesma arena, envolvidos na mesma luta. ² Por isso, devemos abandonar toda preocupação vazia e fútil e voltar-nos para a gloriosa e santa regra de nossa tradição. ³ Vamos observar o que é bom, o que é agradável e aceitável àquele que nos criou. ⁴ Fixemos os olhos no sangue de Cristo e tomemos consciência de como ele é precioso para seu Pai, uma vez que foi derramado para nossa salvação e trouxe a graça do arrependimento para o mundo inteiro. ⁵ Vamos repassar todas as gerações e observar que, de uma geração para outra, o Mestre tem propiciado uma oportunidade de arrependimento aos que estão dispostos a recorrer a ele. ⁶ Noé pregou o arrependimento, e os que lhe deram ouvidos foram salvos. ⁷ Jonas pregou a destruição aos ninivitas; e quando eles se haviam arrependido de seus pecados, conseguiram as boas graças de Deus mediante suas orações e obtiveram a salvação, apesar do fato de não serem povo de Deus.
8 Os ministros da graça de Deus falaram do arrependimento por meio do Espírito Santo, ² e o próprio Mestre do universo referiu-se a ele com um juramento: Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o SENHOR, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam
(Ez 33.11). ³ Ele acrescentou também esta generosa consideração: Arrependa-se, ó casa de Israel, de sua iniquidade. Diga aos filhos do meu povo: ‘Embora seus pecados formem uma montanha que suba da terra até o céu, e sejam mais rubros que o escarlate e mais pretos que as vestimentas de luto, caso vocês recorram a mim de todo o coração dizendo ‘Pai!’, eu os ouvirei como se fossem um povo santo’
(cit. n.i.). ⁴ E em outra parte isto é o que ele diz: "Lavem-se!