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Dicionário do esporte no Brasil: Do século XIX ao início do século XX
Dicionário do esporte no Brasil: Do século XIX ao início do século XX
Dicionário do esporte no Brasil: Do século XIX ao início do século XX
E-book300 páginas5 horas

Dicionário do esporte no Brasil: Do século XIX ao início do século XX

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Sobre este e-book

Este notável Dicionário do Esporte no Brasil oferece a oportunidade pioneira de conhecer como se deram tantas mudanças, ao longo do tempo. O leitor sabia, por exemplo, que o avô das bicicletas era o velocípede e que com ele se faziam torneios imperdíveis? Que o chope e o charuto patrocinaram muitas atividades esportivas? Que o primeiro clube de hipismo rural foi fundado por um vigário, Ricardo Silva? Que o futebol era coisa de rico e que "atleta" queria dizer guerreiro, dando título até a jornais monarquistas? O leitor tem ideia da influência da imigração inglesa – que ao final do século atravessava o Atlântico para construir ferrovias – ou alemã, cujos higienistas recomendavam o esporte para mulheres a fim de prevenir adultérios, na difusão das atividades esportivas? Inventário de nomes, lugares e práticas que estão na origem de nossa atração pelos esportes, verdadeiro mapa de uma geografia sentimental que recupera nossos heróis e heroínas esportivos, este Dicionário tem, ainda, a vantagem da escrita ágil, límpida e elegante de Victor Melo em mais um de seus trabalhos de inconfundível qualidade. É leitura obrigatória para todos que amam o vasto mundo do esporte e querem conhecê-lo melhor. [excertos do prefácio redigido por Mary Del Priore, Historiadora, sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mar. de 2018
ISBN9788574964072
Dicionário do esporte no Brasil: Do século XIX ao início do século XX

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    Dicionário do esporte no Brasil - Victor Andrade de Melo

    Melo

    Abrahão Saliture. Abrahão Saliture foi um dos atletas* mais renomados e mais importantes dos primeiros anos de estruturação do campo esportivo brasileiro. Tinha um defeito no braço que o acompanhava desde a infância, mas nunca deixou que isso o impedisse de praticar esportes*. Pelo contrário, isso se incorporou ao seu mito de grande atleta, e realmente se tornou um dos destaques brasileiros e da América do Sul nas duas primeiras décadas do século XX. Representava bem as dimensões que estavam sendo construídas ao redor da imagem dos atletas naquele momento: uma articulação entre a ideia de saúde* adequada e de bom caráter, bem como a construção do ideal de amadorismo*. Foi provavelmente um dos atletas brasileiros que teve a carreira mais longeva, demonstrando as supostas benesses do esporte em sua própria vida e em seu próprio corpo*. Em 1898, sagrou-se vencedor do I Campeonato Brasileiro de Natação, disputado nas águas da Baía de Guanabara* (Rio de Janeiro). Como nadador, era praticamente imbatível, vencendo competições no Rio de Janeiro, em São Paulo, em outros estados e até mesmo no exterior, tendo sido o primeiro brasileiro a vencer provas internacionais, em 1908, em Montevidéu (Uruguai). Curiosamente, vencia provas curtas (50 e 100 metros) e também as longas (1.500 metros). Sagrou-se vitorioso ainda no I Campeonato Brasileiro de Natação promovido pela Federação Brasileira de Sociedades de Remo*, em 1912. Na verdade, venceu todos os campeonatos brasileiros da modalidade até o ano de 1920. Também se destacou como atleta de polo aquático* e remo*, tendo sido campeão brasileiro deste último esporte nos anos de 1904, 1905, 1911, 1913 e 1917. Integrou a primeira delegação brasileira que compareceu a uma edição dos Jogos Olímpicos*, em 1920, na Antuérpia. Já com 37 anos, participou das equipes de natação*, remo e polo aquático. Com 49 anos, ainda competiu nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932).

    ≈Arthur Amêndola; atividade física; Enseada de Botafogo/Baía de Guanabara; José Floriano Peixoto; masculinidade; natação.

    Água salutaris. Um dos produtos que no início do século XX mais associou seu nome ao esporte*, aproveitando a popularidade da prática (notadamente do remo*) e fazendo relação com seus supostos ganhos para a saúde*. Pelas revistas, especialmente em A Canoagem*, era comum ver pequenas chamadas como: A água salutaris às refeições torna o rower* forte.

    ≈cerveja Ritter; charutos Polock; chope Nautico; cigarros Campeonato; empresas; emulsão da Farmácia Abreu Sobrinho; imprensa.

    Amadorismo. Uma das marcas do desenvolvimento do esporte* em todo o mundo, uma forma de expressão do sentido burguês da prática esportiva, no Brasil passa a ser observado como uma bandeira dos envolvidos com o remo*, uma maneira de marcar sua diferença com o turfe*, em que a questão financeira ganhava destaque em função do seu caráter de jogo de azar. Na verdade, o termo amador chegou a ser utilizado nas corridas de cavalos*, para designar aqueles jóqueis* que não eram contratados e corriam sem receber nenhum tipo de remuneração. Algumas vezes, excepcionalmente, em situações festivas, os donos de cavalos e/ou membros das elites* participavam de provas conduzindo cavalos. Na verdade, para os clubes* de turfe a questão do amadorismo não era uma grande preocupação nem tinha grande significado e impacto, fundamentalmente por não ter o caráter moral que adquiriria para os clubes de remo. Tanto assim que logo o termo seria retirado dos códigos de corridas*. Já no remo, mesmo que no início houvesse ainda a separação entre profissionais e amadores, logo a obrigatoriedade do amadorismo passou a constar dos códigos de regatas* e era constantemente relembrada pelos dirigentes das associações do esporte náutico. Inicialmente, por ocasião da criação da União de Regatas Fluminense*, foram criadas duas categorias: os profissionais, que eram os que trabalhavam em ofícios relacionados ao mar (pescadores, marinheiros, catraieiros) e os amadores, os sócios do clube, que somente poderiam receber presentes por seus resultados, nunca remuneração. Posteriormente, os primeiros seriam eliminados das regatas por decisão dos clubes, algo observável a partir da criação do Conselho Superior de Regatas*. Em função dos altos custos na organização das regatas, no início do século XX, os clubes precisavam contar com o apoio governamental ou de empresas* diversas. Preocupados em deixar claro que não estavam a ferir os princípios do amadorismo, faziam questão então de somente aceitar presentes e não incentivos financeiros diretos (isto é, não se aceitavam pagamentos em dinheiro). Identificam-se assim os primórdios de uma relação de patrocínio no esporte nacional. Na verdade, o amadorismo sempre esteve mais presente nos discursos do que na prática. Nos primeiros anos da organização do futebol* brasileiro, tal temática volta à tona, sempre cercada de polêmica e de estratégias para burlar as imposições dos clubes e das associações.

    ≈apostas; atleta; corpo; elites; empresas; governo; pescadores.

    Antônio Pereira Braga. Vereador carioca, com Honório Gurgel* apresentou ao Conselho Municipal do Rio de Janeiro, em 1901, uma das primeiras propostas para a concessão de incentivos financeiros à prática de remo*, considerado por eles algo benéfico à saúde* da juventude. Mesmo que tal proposta não tenha sido aprovada, começa a pavimentar o caminho para iniciativas futuras e expressa bem os novos sentidos do remo (e do esporte* em geral) para a sociedade brasileira nos primeiros anos do século XX.

    ≈apostas; atividade física; Barros Franco Júnior; belle époque; corpo; governo; Pereira Passos.

    Antônio Prado Júnior. A ligação de Antônio Prado Júnior com a prática esportiva parece ter-se iniciado mesmo por estímulo familiar, pois seu pai, Antônio Silva Prado, personagem de destaque na política paulistana e nacional, foi um dos responsáveis pela construção, em 1895, do primeiro velódromo* da cidade de São Paulo, nas terras de sua avó, dona Veridiana Prado. Antônio Prado Júnior, com o pai muito ligado às iniciativas de modernização da cidade de São Paulo, esteve intensamente envolvido com os mais diferentes esportes*. Foi um dos fundadores do Clube Atlético Paulistano, que se instalou nas dependências do antigo velódromo. Nesse clube*, além de ter sido seu presidente, foi um dos principais responsáveis por sua manutenção e por seu crescimento. Esteve envolvido com as atividades de futebol*, tendo sido inclusive o organizador de uma excursão do time do Paulistano à Europa, a primeira de uma equipe brasileira. Foi um dos entusiastas e responsáveis pela organização dos primeiros desafios e corridas de automóveis. Na década de 1910, foi um dos fundadores e presidente do Aeroclube de São Paulo. Na década de 1920, foi presidente da Federação Paulista de Atletismo e, na década de 1930, da Federação Paulista de Tênis. Como atleta*, destacou-se no ciclismo*, tendo sido o primeiro brasileiro a tomar parte em competições internacionais. Foi também membro do COB* e do COI. Prado Júnior foi ainda prefeito da cidade do Rio de Janeiro (na época Distrito Federal), entre os anos de 1926 e 1930, quando implementou um plano de remodelação e embelezamento da cidade, sob a liderança do francês Alfred Agache. Nesse plano, a prática esportiva seria bastante beneficiada. Em sua gestão, ainda promoveu uma reforma no sistema educacional, concedendo atenção especial à educação física*.

    ≈automobilismo; governo; jogo de pelota; Jogos Olímpicos; Pereira Passos.

    Apostas. Inicialmente foi um dos elementos fundamentais para garantir a continuidade do turfe*, por possibilitar a aquisição dos recursos financeiros necessários para a manutenção dos clubes* (e por isso houve muitas iniciativas de busca de centralização e controle das apostas, uma iniciativa pioneira do Jockey Club*, em 1872), por ser mecanismo de obtenção de lucro por parte dos donos dos cavalos e por ser um enorme atrativo para a população, que sonhava em enriquecer com o jogo. Houve época (quartel final do século XIX) em que praticamente não se falava do turfe sem que se citasse a questão das apostas. No final do século XIX, era uma prática muito comum e popular entre todos os estratos sociais. Para se ter uma ideia mais precisa, estima-se que, no Rio de Janeiro do final da década de 1890, cerca de 1/3 da população realizava apostas com alguma frequência. Também outros esportes* em organização, seguindo o exemplo das corridas de cavalos*, estimulavam o ato de apostar, como o ciclismo* e os jogos de pelota*. Na peça O bilontra, Arthur Azevedo* descreve em algumas das cenas o frenesi que havia por ocasião das corridas, principalmente relacionadas ao ato de apostar e acompanhar o resultado. Aliás, o escritor é também muito crítico desse aspecto das provas, bem como às falcatruas e confusões consequentes, chegando, em 1892, a lançar uma peça denominada O tribofe. Com o tempo, na verdade, as apostas tornaram-se um problema para a prática esportiva, já que eram inúmeras as armações nos resultados, que desencadeavam frequentes conflitos nos hipódromos* (conhecidas como tribofes*) e outros locais de realização de competições, sempre seguidas de ação da polícia*. Em função disso, houve várias iniciativas governamentais no intuito de proibir ou ao menos regulamentar o ato de apostar, todas sempre seguidas de grande polêmica e debate público. Havia um mercado constituído ao redor das apostas (sempre realizadas em forma de compras de poules*), que ia desde a atuação polêmica dos bookmakers* (casas de apostas*) até a venda de guias científicos (como o na época famoso Guia do sportman) que ajudavam os apostadores a decidirem quais escolhas deveriam ser feitas. Os dirigentes responsáveis pelo remo*, no final do século XIX, colocaram-se contra as apostas, buscando eliminá-las das regatas, encarando-as como sinal do atraso e da imoralidade das corridas de cavalos. Na verdade, muitas eram as críticas, publicadas notadamente nos jornais, acerca dos escândalos e da perda do caráter esportivo do turfe em função do papel preponderante das apostas. O discurso moralista, tão bem incorporado pelos clubes de remo, consideraria o turfe mais como um jogo de azar do que como um esporte, um mal para a sociedade. A população, contudo, continuava a gostar e a exercitar o ato de apostar. As obras de Arthur Azevedo citadas neste dicionário podem ser encontradas na íntegra na página do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística da UFSC: .

    ≈empresas; Fernando Francisco da Costa Ferraz; imprensa; José Patrocínio; Luiz Caldas; teatro (peças).

    Árbitros. Responsáveis por conduzir o espetáculo esportivo no que se refere à observância das regras, desde o início das práticas esportivas são personagens importantes e polêmicos. Em todos os esportes* havia um corpo de árbitros cujas funções eram referendar os resultados, atuação sempre balizada por rigorosos códigos (regras). No turfe*, havia árbitros de partida (chamados de starter*), de distância, de chegada, de raia, de encilhamento* e até mesmo, em alguns casos, um responsável pelas arquibancadas. Chegaram a ser personagens conhecidos, pois com o passar do tempo seus nomes eram divulgados nos programas das corridas difundidos pelos jornais e entregues por ocasião da realização das provas. Inicialmente eram membros das elites* e a divulgação de seus nomes tinha o intuito de capitanear prestígio para as atividades, bem como funcionar como um atestado de suposta probidade. Posteriormente, paulatinamente foi gerando-se um quadro profissional de árbitros, hoje algo comum em praticamente todos os esportes. Para além dos enganos comuns, até porque poucos eram os recursos técnicos na época, houve muitos episódios, principalmente nas corridas de cavalos*, de árbitros subornados, que quando descobertos eram alvo de agressão e de fúria do público presente aos hipódromos*. No remo*, eram denotadas as preocupações com os árbitros, já que esse esporte pretendia diferenciar-se do turfe pela moralidade e pela honestidade. Constantemente os dirigentes chamavam a atenção dos clubes* e dos remadores para a necessidade de respeito aos árbitros, já que, afirmavam, o principal intuito do remo não deveria ser a vitória nas regatas, mas sua contribuição para a saúde* e para o desenvolvimento físico da juventude brasileira.

    ≈apostas; código de corridas; código de regatas; cronometragem; equitação; tribofes.

    Armada (Marinha). A adesão de membros da Armada (Marinha) foi um importante elemento nos primeiros momentos do remo*, já que concediam respeitabilidade às competições. Antes do surgimento do Club Guanabarense* (1874), associação fundamental na estruturação e popularização da prática, as regatas mais organizadas eram promovidas pela Armada, um hábito até hoje cultivado pela Escola Naval por ocasião de seu aniversário. Já naquela época surgiam discussões sobre a necessidade de embarcações* mais adequadas para a prática, o que no futuro seria fundamental para a substituição das antigas baleeiras por barcos mais modernos e mais rápidos: os out-riggers, yoles e gigs. O argumento de que o remo poderia contribuir para uma marinha brasileira mais moderna foi muitas vezes elencado para defender a importância do remo. No decorrer da história, muitos dirigentes de clubes* náuticos foram oriundos de suas fileiras. Outro fator que merece ser destacado é que pioneiramente na Escola de Marinha fora introduzida a educação física*. Já na década de 1920, a Liga de Esportes da Marinha foi criada, e tornou-se grande impulsionadora de diversas práticas esportivas. Por certo os membros da Armada foram importantes na conexão que seria estabelecida entre o remo, a atividade física*, a saúde* e o progresso do país.

    ≈Eduardo Minosi; militares.

    Arquitetura. Uma das necessidades para o desenvolvimento das práticas esportivas era a construção de instalações adequadas. A primeira construção esportiva nacional foi o Prado Fluminense, erguido para ser o hipódromo* do Club de Corridas*, em 1849, no bairro de São Francisco Xavier. O Prado foi depois reformado por João Guilherme Suckow*, no ano de 1851. Isso se considerarmos o esporte* em seu sentido moderno, pois arenas de touradas já existiam no Brasil desde a década de 1810. A construção dessas instalações era muito custosa e a princípio bastante problemática, já que não se dominava a tecnologia adequada. Futuramente, contudo, estariam plenamente adequadas ao contexto das cidades, constituindo-se rapidamente em grandes centros de entretenimento, onde eram oferecidas atividades de naturezas diferenciadas, além das competições esportivas. Assim, entende-se, no caso do Rio de Janeiro, porque os hipódromos (local das corridas de cavalos*, ligadas a um estilo de vida mais rural) foram construídos na zona norte da cidade, enquanto as instalações de remo* se situavam próximas à zona sul e central. As sedes sociais e os locais para a prática de esportes (prados, clubes, frontões, campos, quadras, entre outros) seguiam as tendências arquitetônicas mais influentes no momento, caso que pode ser observado nas sedes sociais do Jockey Club* e do Derby Club*, projetadas pelo importante arquiteto Adolfo Morales, situadas na Avenida Central e seguindo o estilo eclético que imperava nessa via simbólica do país (Rio de Janeiro, início do século XX). Anteriormente suas instalações da Rua do Ouvidor*, a via mais chique do Rio do século XIX, também seguiam o estilo mais adotado, o neoclássico. Outro interessante exemplo foi a construção do Pavilhão de Regatas*, em 1905, todo em ferro, também seguindo o estilo eclético, integrado às reformas da Avenida Beira-Mar*, conduzidas por Pereira Passos*.

    ≈Enseada de Botafogo/Baía de Guanabara; Maracanã; transportes públicos; velódromos.

    Arthur Amêndola. Foi um dos atletas* (remador, nadador, jogador de polo aquático*) mais conhecidos e enaltecidos no início do século XX, notadamente depois que se sagrou campeão brasileiro de remo* em 1903. Era encarado como exemplo de personalidade completa, tido como forte, saudável, cortês e de bom caráter. Assim o periódico A Canoagem* se referia a ele: de estatura mediana, moreno, bela complexão de atleta, bastante musculoso, dotado de muito bom gênio e no trato é cortez, excelente companheiro e amigo leal (PEREIRA, 1903, p. 4). Por certo sua figura foi muito utilizada para consolidar o remo e os novos sentidos do esporte* na transição dos séculos XIX-XX. Assim como outros atletas, era constantemente citado em propagandas de produtos medicinais, como no caso de um tônico: De ser um bom remador/Amêndola deu prova cabal/Pois bebeu Porto Invalid/Da Casa Silva Cabral. Integrou a primeira equipe brasileira a comparecer aos Jogos Olímpicos*, em 1920, na Antuérpia. Como referência, vale lembrar que seu irmão, Orlando Amêndola, também foi atleta de renome, no remo, na natação* e no polo aquático.

    ≈Abrahão Saliture; atividade física; atleta; corpo; empresas; José Floriano Peixoto; masculinidade; saúde.

    Arthur Azevedo. Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855-1908) foi um dos mais populares escritores do século XIX e do início do século XX. Jornalista, poeta, contista, dramaturgo, foi também um dos cronistas mais críticos da sociedade e das elites* brasileiras. Companheiro de trabalho de Machado de Assis* (com quem também tinha polêmicas constantes, embora a ele tenha dedicado seu primeiro livro* de contos, publicado em 1889), preferia escrever para o povo em geral, não somente para as elites da cidade. Suas crônicas foram publicadas, entre outros, nos jornais O Paiz*, no Diário de Notícias e em A Notícia. Entre os muitos aspectos da vida cotidiana, o esporte* não passaria despercebido por seu olhar, sempre tematizado de forma irônica, relacionado a um novo estilo de vida. Nas suas crônicas* estiveram, de diversas formas, presentes o turfe*, o ciclismo*, o remo*, os banhos de mar*, o jogo de pelota*, se não diretamente, como cenário ou pano de fundo para que abordasse a nova sociabilidade em construção no Brasil, notadamente na transição dos séculos XIX e XX. Vale a pena destacar o espaço que o esporte teve em algumas de suas peças. Em sua primeira peça de teatro de revista, O Rio de Janeiro em 1877, um personagem chamado Capoeira* incorpora o arruaceiro, uma consideração corrente na época. Em O homem, de 1887, um dos personagens chama-se Esporte e outro Sportman, e há referências às corridas de cavalos*. Em 1885, em O bilontra, novamente vemos personagens que são sportman* e muitas referências ao turfe. Em 1892, é montada O tribofe, uma gíria utilizada para referir-se às fraudes nas corridas de cavalos, também observadas em outros esportes, notadamente no jogo de pelota. Passando-se em parte em instalações esportivas, a trama de Arthur Azevedo, na verdade, procedia uma grande crítica ao cenário político nacional pós-República. Há diálogos que se passam no Frontão Fluminense e no Derby Club*. Capital federal é montada em 1897 e mais uma vez vemos o esporte incorporado como um estilo de vida luxuoso (o gerente do hotel lembra que seu estabelecimento oferece sala de natação* e ginástica*), mas também constantemente sendo motivo de escândalos com as apostas*, nesse caso no ciclismo. Algumas cenas se passam no Velódromo Nacional e há personagens que são frequentadores e amantes de corridas de bicicletas*. As obras de Arthur Azevedo citadas neste dicionário podem ser encontradas na íntegra na página do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística da UFSC: .

    ≈João do Rio; Olavo Bilac; Raul Pompeia; teatro (peças).

    Ascensão social. No momento em que se organiza o turfe* como prática esportiva na sociedade brasileira (a partir de meados do século XIX), ainda persistia alguma aversão social à prática de atividades físicas*. Havia certa valorização das atividades intelectuais e contemplativas, em detrimento às atividades de caráter manual. A postura mais adequada às elites* deveria ser a de direção das atividades e de assistência, não devendo seus membros se envolver com a condução dos cavalos nas corridas, a não ser em situações festivas excepcionais. Assim sendo, os jóqueis* eram normalmente selecionados entre os membros das camadas populares* ou importados de outros países, especialmente Argentina e Uruguai. Mesmo que não recebessem a mesma atenção que os cavalos (esses sim as grandes atrações, os cracks* citados nos jornais), os jóqueis gozavam de certa reputação pública e, caso fossem vitoriosos, tinham a possibilidade de obter bons recursos financeiros. Em função disso, constantemente o turfe era apresentado como uma oportunidade de ascensão social, mesmo que concretamente poucos fossem os jóqueis que conseguiam alguma segurança financeira ao encerrarem suas atividades. Em geral, no máximo conseguiam algum sucesso momentâneo enquanto estavam em atividade, sendo abandonados pelos clubes* ao fim de suas carreiras. O argumento da ascensão social também era utilizado pelos que defendiam que crianças muito novas deveriam ser aceitas como jóqueis, mesmo que se tratasse de algo que colocava em risco a sua integridade física. Segundo os defensores, o que os motivava era uma preocupação de dar melhores condições de vida para crianças oriundas das camadas populares. Na verdade, o que esperavam é que seus cavalos se tornassem mais velozes, já que os jóqueis seriam menores e mais leves. Com o futebol*, já no século XX, algo semelhante foi delineando-se. A princípio era uma prática não permitida para os mais pobres. Com o tempo, começaram a ser incorporados aos clubes jogadores formados nos campos de várzea e espaços informais, desencadeando-se então o velho discurso de que seria uma prática adequada como forma de inclusão social, um discurso falacioso que até os dias de hoje de algum modo permanece nas propostas de projetos esportivos e ronda o imaginário da população, mesmo que dados concretos demonstrem o contrário.

    ≈corpo.

    Associação Cristã de Moços (ACM). A ACM é uma instituição de origem norte-americana, criada em 1844, com o intuito de oferecer atividades saudáveis e motivadoras para os jovens que enfrentavam as dificuldades típicas das cidades que rapidamente

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