Seu Verardi e o Grêmio
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Sobre este e-book
Eis um relato emocionante e rico em detalhes de uma história de amor. Entre sorrisos e lágrimas, Antônio Carlos Verardi, o Seu Verardi, revisita momentos marcantes dos seus 53 anos de dedicação e trabalho apaixonado pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Muito mais do que registrar os acontecimentos notórios da história do clube, ele se propõe a resgatar episódios de bastidores e, principalmente, homenagear todos os que se empenharam para fazer do Grêmio um colosso do futebol mundial, em termos esportivos e patrimoniais.
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Pré-visualização do livro
Seu Verardi e o Grêmio - Antônio Carlos Ricci Verardi
© Antônio Carlos Verardi 2018
Produção editorial: Buqui Livros Digitais
Redação: Palavra Bordada
Revisão: 3GB Consulting e Josias A. de Andrade
Copydesk: Rubem Penz
Projeto gráfico: Humberto Nunes
Capa: Buqui Livros Digitais
Foto de capa: Lucas Uebel
Editoração: Cristiano Marques
Fotos:
Hélio Devinar
Lucas Uebel
Acervo Memorial Hermínio Bittencourt
Diário Catarinense
Correio do Povo
Arquivo pessoal
CIP-Brasil, Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros
V583s
Verardi, Antônio Carlos Ricci
Seu Verardi e grêmio [recurso eletrônico] : uma história de amor / Antônio Carlos Ricci Verardi. - 1. ed. - Porto Alegre [RS] : Buqui, 2018.
recurso digital
Formato: ebook
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-8338-223-2 (recurso eletrônico)
1. Verardi, Antônio Carlos Ricci. 2. Futebol - Torcedores - Brasil - História. 3. Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense - História. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
18-54065 | CDD: 796.3340981 | CDU: 796.332(81)(092)
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária CRB-7/6439
29/11/2018 | 04/12/2018
Todos os direitos desta edição reservados à
Buqui Comércio de Livros Digitais Ltda.
Rua Dr Timóteo, 475 sala 102
Porto Alegre | RS | Brasil
Fone: +55 51 3508.3991
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SUMÁRIO
Apresentação
Prefácio
Destinado ao futebol
Muito aprendizado e crescimento
Uma era inesquecível
Cruzando fronteiras
O mundo como quintal
A volta do orgulho Tricolor
Um momento mágico
A história de amor da minha vida
Depoimentos
Fotos
APRESENTAÇÃO
Eis um relato emocionante e rico em detalhes de uma história de amor. Entre sorrisos e lágrimas, Antônio Carlos Verardi, o Seu Verardi, revisita momentos marcantes dos seus 53 anos de dedicação e trabalho apaixonado pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Muito mais do que registrar os acontecimentos notórios da história do clube, ele se propõe a resgatar episódios de bastidores e, principalmente, homenagear todos os que se empenharam para fazer do Grêmio um colosso do futebol mundial, em termos esportivos e patrimoniais.
Preocupado em honrar a memória daqueles com quem trabalhou e ainda trabalha, ele faz uma ressalva: os nomes de dirigentes, funcionários e jogadores que aparecem no livro são também reconhecimento a todos os inúmeros outros que, apesar de não citados, tiveram participação definitiva na trajetória do clube e, com extensão, na própria história de Seu Verardi, que sempre lembra deles com muita saudade e carinho.
Em mais de cinco décadas, Verardi transitou desde os gramados até os gabinetes; enfrentou perigos, tomou decisões difíceis; vibrou e sofreu com acontecimentos dentro e fora do campo.
Também cruzou o planeta para ser Campeão do Mundo, se emocionou incontáveis vezes, recebeu manifestações de carinho. Construiu uma trajetória respeitada e viveu momentos que, até hoje, ao serem lembrados, embargam sua voz e deixam seu olhar marejado.
Gremista apaixonado, profissional de primeira linha, funcionário que atravessou gerações. Uma pessoa vista com admiração por dirigentes, jogadores, funcionários e todos aqueles que têm a satisfação de conviver com ele.
Com a grandeza daqueles que fazem o que amam, ele celebra e agradece o fato de nunca ter precisado trabalhar um só dia nos últimos 53 anos. De domingo a domingo, incansável, tudo o que o Seu Verardi fez foi viver intensamente a grande história de amor da sua vida.
PREFÁCIO
SEU VERARDI – 53 ANOS DE TRABALHO E AMOR PELO GRÊMIO
Filho de Vitório Verardi, o menino de Passo Fundo cresceu e foi educado num clima de muito trabalho, simplicidade e generosidade. Era apaixonado por futebol e cinema e, por puro desejo de mãe, dona Dora, minha avó, teria vocação para o sacerdócio.
Na adolescência, o rapaz simpático e boa-pinta manifestou clara inclinação para a posição de zagueiro central e dom para a atividade executiva, não a religiosa, o que gerava um certo desapontamento da mãe. Além da sua qualidade nos campos de futebol de Passo Fundo e de Porto Alegre, chamava atenção também pelo seu alto grau de organização e capacidade gerencial, não obstante a pouca idade.
Logo após a formatura em Farmácia, no início da sua vida profissional, além das características e qualidades já destacadas, consolidava-se seu gosto pela busca do bem-estar e felicidade de todos que o rodeavam. Nesse mesmo período, essa verdadeira devoção pelo bem contagiava a família, constituída a partir do casamento com a dona Carminha, rapidamente acrescida por dois meninos e duas meninas num curto período de seis anos.
Apesar da idade adulta e da responsabilidade de chefe de família o terem aproximado de outros segmentos e afazeres, quis o caprichoso destino que o jovem pai se integrasse definitivamente à sua antiga e nunca abandonada paixão pelo mundo do futebol e, mais significativo ainda, ao seu amado Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Muitas vezes ele se questionou: sua reconhecida dedicação ao Grêmio teria de alguma forma prejudicado sua relação e atenção para com a família? Os sogros, que o adoravam, minha mãe, que foi fundamental nessa trajetória, os filhos, a nora, os genros e os netos sempre afirmaram e reforçaram que deveria fazer tudo de novo, exatamente como o fez ao longo desses últimos 53 anos.
O privilégio e o orgulho de desfrutar o amor inigualável de um homem por sua família e por uma instituição global movida por puro sentimento são muito maiores e mais representativos do que pequenas dificuldades decorrentes dessa verdadeira partilha de tempo e carinho.
Dedicação, comprometimento, liderança, sensibilidade, bondade e amor pelo que faz são qualidades que tornam Antônio Carlos Ricci Verardi um cidadão diferenciado enquanto homem, pai e profissional de futebol, exercendo todos os seus papéis e atividades ao longo da vida com espantosa qualidade, absoluta dignidade e muita discrição.
Seu Verardi, valeu a pena todo estímulo, cada segundo de trabalho, cada gesto de compreensão e cada ato visando ao crescimento dedicado a nós, ao Grêmio e aos gremistas!
Essa grande lição de amor é uma herança a ser dividida. Por isso, as incontáveis sugestões e os significativos fatos vivenciados propiciaram o relato dessa maravilhosa história de vida.
Paulo César Verardi
DESTINADO AO FUTEBOL
Acredito que existe uma destinação na minha vida
Antônio Carlos Verardi
Nasci em Passo Fundo, somos seis irmãos na família, sendo quatro homens: Waldemar, Hiran, eu e Heitor. Quando crianças, nossa rotina era levantar e ir para o Colégio Conceição, com aula das 8h30 às 11h30, intervalo para o almoço e estudo de novo das 13h30 às 15h30. Quando chegávamos em casa, todo mundo trocava de roupa, tomava um pouquinho de café por insistência da dona Dora e ia à bola.
Morávamos em um bairro chamado Exposição, que tinha bastante campo, onde meu avô era proprietário de terras. Jogávamos no meio da rua, para desespero do pai e da mãe, porque era uma zona de intensa movimentação de caminhões, até que o meu avô cedeu uma área grande para que fizéssemos um campo de futebol.
Os meus irmãos e eu resolvemos que seria um gramado com medidas oficiais e procuramos nos informar sobre quais eram as dimensões adequadas. Conseguimos delimitar o espaço de grama natural, em uma área plana, onde os animais pastavam. Usávamos bolas de tênis que sobravam das partidas do Clube Comercial, e o futebol era praticado de pés descalços, com qualquer temperatura e com qualquer tempo. Às vezes, enxotávamos até cobras de lá.
Decidimos, então, montar o time dos Verardi. Meus irmãos, embora eu fosse o terceiro entre os homens, me escalaram para coordenar tudo, sendo que eu tinha uns 13 anos. Escolhi o nome do time, Glória Futebol Clube, as cores – branco e verde – e tratei de montar a equipe. É o que eu considero destinação.
A preocupação com o relógio é uma obsessão que tenho desde aquela época. Organizávamos jogos aos domingos, e tinha um ônibus que atendia o nosso bairro. Eu ficava em frente à casa esperando o ônibus chegar, primeiro com os jogadores que eu convocava e, depois, com os adversários.
Meu pai era dono de um armazém e, ao final das partidas, ele nos obsequiava uma caixa de Soda Limonada – nossa bebida favorita. Qualquer que fosse o resultado, todos os jogadores se congraçavam. Alguns do meu time jogavam de pés descalços contra os outros de chuteira, porque não era todo mundo que conseguia comprar o calçado. Tínhamos dificuldade até de comprar bola, a chamada bola de tento.
Esta minha sina, a destinação a organizar e coordenar times de futebol, continuou quando vim para o Colégio Rosário, em 1949, com 14 anos de idade. No internato havia três divisões: dos maiores, dos médios, à qual eu pertencia, e dos menores. Os irmãos maristas sempre determinavam que um dos internos fosse encarregado das atividades dos três times. E o escolhido para aquela função fui eu, que acabava participando de todas as equipes.
No torneio interno, esperava-se que os maiores, obrigatoriamente, ganhassem a competição. Mas, em nosso primeiro ano, na partida decisiva dos maiores contra os médios, time em que eu era capitão e zagueiro central, nós fomos campeões. Ganhamos com o placar incontestável de 3 a 1. Resultado: muitos de nós apanhamos feio dos maiores depois do jogo. Lembram que meu primeiro time se chamava Glória? Pois é... Muito cedo descobri que mesmo a glória tem seu preço.
Antes, Vasco e São Paulo
Em Passo Fundo, meus irmãos e eu não tínhamos nenhum conhecimento do futebol de Porto Alegre, porque as rádios potentes que entravam na cidade eram a Nacional do Rio e a Nacional de São Paulo, que nós escutávamos. Eu era torcedor do Vasco e do São Paulo e, quando cheguei a Porto Alegre, simplesmente passei um ano inteiro sem tomar conhecimento de Grêmio e Internacional.
Os irmãos do Colégio Rosário nos permitiam, domingo sim, domingo não, sair pela manhã e almoçar fora. Voltávamos às 18h. Geralmente íamos à matinê, almoçávamos na Rua da Praia e ficávamos por ali, no famoso footing. Em dezembro de 1949, estávamos lá eu e Caíco, amigo meu de Passo Fundo, quando ele veio com uma notícia:
– Olha aqui, o Waldemar vai jogar no Grêmio.
– Como é que é, o Waldemar, meu irmão?
– Sim, está aqui.
Na última página do Diário de Notícias tinha uma fotografia do meu irmão descendo de um teco-teco, com uma expressão de assustado, em companhia do presidente do Grêmio, o senhor Saturnino Vanzelotti. Ali eu tomei conhecimento do Grêmio, e foi um amor instantâneo. No domingo seguinte, meu irmão e eu fomos ao Estádio dos Eucaliptos assistir ao Gre-Nal decisivo do campeonato. E nasceu uma afeição imediata e eterna.
Nunca fui centromédio
Em meados do ano seguinte, 1950, Waldemar me tirou do internato, e passei a morar com ele em uma pensão, ali pela região da Floresta, perto da churrascaria Santo Antônio. Fui jogar nos juvenis do Grêmio – como eram chamados os juniores naquele tempo.
O meu irmão era centromédio, e eu sempre fui zagueiro. Quando me apresentaram para o Aparício Viana e Silva, técnico do Grêmio, ele disse:
– Tu és centromédio.
– Não, não sou – respondi na hora.
– Mas pra mim tu és e está acabado.
Nunca tive a condição de me desenvolver como atleta de futebol, porque jogava em posição errada. Pior: o meia-esquerda a quem me competia marcar em todos os treinos se chamava Milton Kuelle, ninguém menos que o famoso Formiguinha, multicampeão pelo Grêmio. A atividade dele em campo era incessante, não parava.
Eu não tinha nem biotipo para jogar de centromédio, mas o Aparício queria que eu ficasse lá. E eu acabei ficando, mesmo porque o Grêmio nos dava um pequeno soldo que me permitia pagar a pensão, e nós nos alimentávamos na Churrascaria Santo Antônio por meio de um convênio com a direção do clube. O conforto da cama e os prazeres da mesa pesaram na balança.
Desde o princípio, paixão temperada de sofrimento
Joguei na velha Baixada, onde o Grêmio começou a existir, e lá vivi uma das minhas maiores alegrias. O Internacional, na época, tinha uma equipe fabulosa e a hegemonia do futebol gaúcho. E o meu irmão jogava contra eles.
Era um verão forte, dia de Gre-Nal, para o qual Waldemar não estava relacionado. Naquele tempo, não havia substituição durante o jogo, e nós havíamos saído na noite anterior à partida para ir ao cinema, na Rua da Praia.
Na manhã da partida, eu estava tomando café da manhã, e o meu irmão continuava dormindo. Até que chegou um carro na frente de casa e desceram o senhor Saturnino Vanzelotti, o presidente, e o Otto Pedro Bumbel, então treinador do Grêmio. Pediram:
– Vai chamar o teu irmão.
Eu fui atrás do Waldemar e disse que o presidente e o técnico estavam ali embaixo. Ele se assustou:
– Eu? Mas eu nem tô concentrado.
Assim, de surpresa, meu irmão foi escalado e teve uma grande atuação.
As laterais do pavilhão de madeira da Baixada eram sustentadas por um cabo de aço, revestido com arame farpado, para que ninguém se pendurasse. Quando o Grêmio empatou o jogo, na hora do gol, eu esqueci do arame farpado e pulei de euforia. Fiquei com as duas mãos lanhadas e tive de ser atendido na enfermaria do vestiário.
Mais uma vez a alegria esteve associada a um pouquinho de sofrimento. São coisas que foram moldando esse amor, essa afeição total, que é a minha razão de ser.
Gre-Nal da paz
Em 1954 houve uma ruptura, uma cisão na família em termos de torcida futebolística – fato que nunca se manifestou por nenhum tipo de enfrentamento, sempre com respeito. Meu irmão caçula, o Heitor, fez vestibular para Odontologia e foi aprovado. O meu pai não tinha condições de mantê-lo em Porto Alegre, muito menos na faculdade. E, claro, sabíamos que ele era um excelente jogador de futebol.
Quando chegou, imediatamente, nós o levamos ao Aparício:
– Temos um craque aí pra ti.
– Que posição tu joga? – perguntou ao Heitor.
– Meia-esquerda.
– Não preciso. Tô cheio de meia-esquerda.
Foi curto e grosso, como era o feitio do Aparício.
Aí, fomos para a Rua da Praia, muito preocupados, embora tivéssemos assegurado ao caçula que ele faria a faculdade. Ali mesmo ele foi reconhecido por um torcedor-símbolo do Internacional, cujo apelido era Tarzan. E, naquela hora, Tarzan o levou ao clube para assinarem contrato, sem fazer nenhum tipo de teste.
Meu irmão acabou ficando no Internacional até 1959 como titular. Chegou a ser, inclusive, capitão da equipe. Isso terminou dividindo na família a simpatia clubística.
Dos quatro irmãos homens, o mais velho, Waldemar, que jogou no Grêmio, e eu não mudamos de jeito nenhum. O segundo mais velho, Hiran, ficou torcendo para o Heitor, e a família continuou equilibrada (embora as duas irmãs torcessem para o caçula, como já haviam torcido para o Waldemar na época do Grêmio).
Apesar da cisão, tenho uma alegria: nunca houve nenhum tipo de discussão, atrito ou rompimento por causa de Grêmio e Internacional entre mim e meus cinco irmãos. Torcemos, todos, em perfeita paz.
O primeiro campeonato a gente nunca esquece
Waldemar parou de jogar no Grêmio no fim de 1951, por motivo de saúde. Coincidiu que, naquele fim de ano, fiz vestibular para medicina e fui malsucedido. Então, voltamos os dois para Passo Fundo. Lá aconteceu de novo o fenômeno da minha destinação com relação à coordenação e à organização de times de futebol.
Em Passo Fundo, à época, havia um time amador chamado Independente, que era praticamente propriedade do senhor Alceu Laus. Logo que voltei, minha atividade era ser redator dos jornais falados da Rádio Passo Fundo. Eu ia todas as manhãs à casa do seu Laus, porque ele e a esposa sabiam de tudo o que acontecia na cidade, para pautar o noticiário, que era apresentado por Maurício Sirotsky Sobrinho e José Lamaison Porto.
Em uma dessas visitas, seu Laus manifestou cansaço com o time do Independente, dizendo que estava disposto a fechá-lo. Nós tínhamos reavivado o antigo Glória Futebol Clube, o time dos Verardi, mas, mesmo assim, falei para os meus irmãos:
– Vou fazer uma proposta.
Levamos a equipe inteirinha para lá. Alceu Laus só mudou nossas chuteiras, calção e camiseta, tomou as providências que cabiam ao dirigente e fomos jogar o campeonato da cidade.
Passo Fundo tinha quatro times: três, formados por profissionais, e o Independente – só com a gurizada. Tínhamos um atleta profissional, que pedimos que o seu Laus contratasse, porque não havia outro ponta-esquerda daquele nível. E aquele time amador se tornou campeão da cidade.
Naquele instante, tive o meu primeiro título como supervisor e jogador, porque eu organizava tudo e também era zagueiro. Lembram-se da teimosia em me escalar como centromédio? Seu Aparício Viana e Silva precisaria ter visto: a imprensa de Passo Fundo me chamava de A Majestade da Área.
O retorno à terra natal foi ótimo, mas durou pouco. Voltei a Porto Alegre no fim de 1952, para fazer outro vestibular, agora para a Faculdade de Farmácia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fui aprovado e também comecei a trabalhar em um banco. Estudava de manhã na universidade e trabalhava à tarde.
O nascimento do Olímpico diante dos meus olhos
Mesmo com a rotina tomada de atividades, às vezes eu parava no descampado existente na Azenha, atrás de onde estava sendo construído o estádio, e via o Olímpico crescendo, sem jamais imaginar que eu passaria a minha vida inteira lá dentro, sofrendo e vibrando com cada novo tijolo colocado.
Faço questão de dizer que, em 1954, eu estava nas arquibancadas do Olímpico, junto com Waldemar, meu irmão mais velho, assistindo ao desfile inaugural do estádio. Não tinha nada parecido na região Sul.
Datilografia no caminho do esporte
Trabalhei no Banco de Crédito Real do Rio Grande do Sul por uns cinco anos, no setor imobiliário. E lá, fiel ao meu destino, também organizei um time para disputar o campeonato bancário. Ao terminar os três anos da faculdade, montei uma farmácia na Avenida Farrapos. Noivei e casei com dona Carminha em 1957. Foi quando recrudesceu a concorrência, com a chegada da Panitz e da Velgos. Eu, com uma farmácia pequena, não podia competir. Então resolvemos dissolver a sociedade.
Minha chefe no escritório do banco era noiva do chefe do escritório da Celulose Cambará S.A. E, naquela época, o doutor Fernando Kroeff, o dono da empresa, estava precisando de um funcionário para o setor de exportação que fosse exímio datilógrafo. Pensei: Por que alguém que trabalha com exportação precisa ser datilógrafo?
Foi apenas quando cheguei à Celulose Cambará para acertar o emprego com o doutor Fernando Kroeff que entendi. Ele era presidente do Grêmio em 1958 e precisava de um datilógrafo para redigir o relatório presidencial para o Conselho.
Fui encarregado de redigir e, além de trabalhar com o doutor Fernando, eu assistia a todas as partidas do Grêmio na condição de convidado. Nos fins de semana, jogava de manhã na várzea, porque era uma forma de complementar a renda e, à tarde, se tivesse jogo no Olímpico, eu estava lá.
Ao redigir o relatório, tomei conhecimento de coisas que eu nem imaginava. Não tinha a mínima ideia da estrutura que um clube precisava ter, do trabalho de treinos, da organização, da elaboração de contratos e da preparação de competições. Tomei consciência da dimensão e me surpreendi.
Passagem alvinegra antes do tricolor
Futebol e destino seguiram o cruzar de suas linhas na minha vida. Quando comecei a trabalhar com o doutor Fernando Kroeff, fui chamado à direção pela mãe dele, perguntando se eu poderia organizar um time para colocar o neto dela, Osvaldinho. Mais do que experiente, formei na Celulose Cambará uma equipe que tinha uniformes em branco e preto.
Montei um time muito poderoso, com jogadores da várzea e alguns egressos do futebol profissional. Um dos que jogavam comigo era o Milton Kuelle. Finalmente, não precisava marcar o Formiguinha. Ênio Rodrigues, famoso zagueiro da história do Grêmio, também jogava comigo.
Dona Celina, como se chamava a mãe do doutor Fernando, me emprestava uma caminhonete da empresa, nos fins de semana, para carregar o fardamento, buscar os jogadores que não tinham condições e levá-los ao estádio. O menino Osvaldinho se desenvolveu e gostou tanto, que nós chegamos a fazer uma preliminar no Olímpico, contra os juniores do Grêmio. A partida de fundo foi entre Grêmio e Santos. O time alvinegro da Celulose Cambará só acabou quando eu saí. Quer dizer: aí também continuava minha destinação.
A hora certa
Trabalhei com o doutor Fernando Kroeff de 1958 até 1964. Nesse período, eu também organizava e mantinha a farmácia da Celulose Cambará no município de Ouro Verde, naquela época distrito de São Francisco de Paula, como responsável técnico.
Em 1964 fui convidado por um primo para trabalhar em Passo Fundo na condição de químico responsável em uma empresa americana. Decidi aceitar. Porém, não cheguei a completar um ano lá, porque não me adaptei. O mesmo aconteceu com a minha família.
Em um determinado dia, vim a Porto Alegre e fui visitar os meus amigos na Cambará. Ao me ver, o doutor Fernando disse assim:
– Barbaridade, tu chegaste