Alimentação saudável na infância: Conceitos, dicas e truques fundamentais
De Cláudia Lobo
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Alimentação saudável na infância - Cláudia Lobo
Apêndice
INTRODUÇÃO
Caro(a) leitor(a),
Notícias de como as crianças têm se alimentado mal e estão sofrendo cedo demais as consequências danosas desse hábito estão cada vez mais presentes em todas as mídias. Grande parte das doenças existentes poderia ser evitada por meio da alimentação saudável, e muitas surgem silenciosamente ainda na infância.
Pesquisa realizada pelo McKinsey Global Institute em 2014 comprovou que a obesidade custa ao Brasil 2,4% de seu produto interno bruto, o equivalente a R$ 110 bilhões. Além disso, o excesso de peso aparece em terceiro lugar na lista de problemas de saúde pública, perdendo apenas para as mortes violentas e o alcoolismo.¹ Ainda mais grave, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovou que quase 35% das crianças entre 5 e 9 anos de idade estão obesas.² Ainda segundo a McKinsey, essa verdadeira epidemia atinge cerca de 30% da população mundial.
É extremamente difícil alimentar adequadamente uma criança nos dias de hoje. Falta tempo para preparar refeições equilibradas em casa, os pequenos estão voluntariosos e cheios de vontades, não aceitam a maioria dos alimentos que deveriam comer e só querem aqueles que não acrescentam nada de bom à saúde. Além do mais, certas comidas são mais saborosas que outras, é fato, e as mais gostosas nem sempre são saudáveis.
Ao mesmo tempo, todos os dias surgem informações, muitas vezes desencontradas, de como oferecer uma alimentação saudável aos filhos. Produtos que parecem maravilhosos e ricos em nutrientes são a menina dos olhos da publicidade, mas nutricionistas e médicos apontam seus perigos. Como se não bastasse, o Brasil é hoje campeão no uso de agrotóxicos. Pesquisa divulgada por ambientalistas no final de 2014 comprova que cada brasileiro consome em média 5,2 litros de veneno agrícola por ano.³ Somado a tudo isso, sabemos que mudar um hábito adquirido há algum tempo é bastante difícil.
Diante desses dados desanimadores, como garantir a seus filhos uma boa nutrição? Não se desespere: essa busca não é só sua. Ao longo de minha experiência como nutricionista, escritora e palestrante, conheci milhares de mães e pais que procuram uma solução viável para o problema da alimentação infantil. Pensando nessas famílias – e também nas instituições que acolhem crianças, como escolas, creches, hospitais etc. –, resolvi criar um livro que oferecesse dicas práticas e descomplicadas para atingir essa meta. Levando em conta que quase 40% dos lares brasileiros abrigam crianças menores de 12 anos, você não tem motivos para se sentir sozinha nessa luta. Por isso, mãos à obra!
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1 DÉJÀ VU
Provavelmente você já passou longas e angustiantes horas pensando na alimentação que seu filho recebe. Embora saiba que ele parece estar bem, você também tem consciência de que o que ele ingere – em casa, na escola, nas festinhas, nas reuniões com amigos – nem sempre é saudável.
É comum sentir-se frustrada por não conseguir que ele se alimente adequadamente e, ao mesmo tempo, não saber o que fazer para mudar a situação. O fato de as crianças adquirirem autonomia cada vez mais cedo também não ajuda nesse quesito: cheias de vontades, elas querem comer fora de hora, só apreciam o que não é saudável, só aceitam o mesmo tipo de comida todo santo dia e ainda por cima só têm apetite quando querem e para aquilo de que gostam.
A gente fala, o filho finge que não escuta, brigamos e ele emburra; ameaçamos, ele faz birra, cedemos e criamos um pequeno ditador; barganhamos e criamos um tirano; gritamos e ele chora; desistimos e ele vence.
É quase sempre assim em todo o mundo. Cenas e brigas entre pais e filhos por causa de comida inadequada acontecem todos os dias na maioria das casas. Como fazer para mudar esse panorama?
2 CAUSAS
POR QUE AS CRIANÇAS ESTÃO SE ALIMENTANDO MAL?
Vamos trabalhar com fatos.
As crianças preferem alguns alimentos a outros e lutam pelo direito de consumi-los ao bel-prazer com todas as suas forças e armas (choro, birra, mau comportamento, carinhas tristes, greve de fome ou de banho, ânsias de vômito, agressividade, chantagem emocional etc.).
Em geral, optam por alimentos doces, salgados, fritos, fáceis de mastigar, que possam ser comidos em qualquer lugar da casa – sobretudo se não demandarem talheres para ser consumidos –, de cor e cheiro agradáveis, com embalagens coloridas, de fácil acesso na hora da fome, rápidos de preparar, que sejam habituais e rotineiros, facilmente identificáveis, que apareçam nas propagandas e os amigos também comam. Se você observar bem, verá que acabei de descrever a maioria das guloseimas e dos alimentos industrializados que você tem em casa.
Os motivos que levam uma criança a preferir alguns alimentos a outros são os mais variados. Estou convencida de que essa preferência é estimulada e aceita muito facilmente, em primeiro lugar, dentro de casa.
Uma criança que já teve contato com o sabor doce do açúcar e de guloseimas como refrigerantes, chocolates, balas e afins, e também com o gosto diferente das frituras e o salgadinho dos snacks, certamente o fez porque tais alimentos lhe foram disponibilizados em seu ambiente familiar ou no convívio com familiares. A frequência de consumo desses produtos, a quantidade oferecida e o fato de os pais cederem regularmente às vontades da criança fazem-na, obviamente, rejeitar outros alimentos não tão saborosos ao seu confuso paladar. É um círculo vicioso:
oferta de alimentos pouco nutritivos → rejeição de alimentos saudáveis → oferta de alimentos pouco nutritivos
À medida que a criança vai crescendo, fica mais exposta à mídia agressiva dos alimentos industrializados e do fast-food, que descobriram nos pequenos importantes e leais consumidores geradores anuais de milhões de reais a essas empresas e utilizam todos os recursos para alcançar esse público tão lucrativo. Vejamos o que diz o renomado Instituto Alana sobre isso:
No âmbito da alimentação, a publicidade é um fator que estimula a disseminação da maior epidemia infantil da história: a obesidade. A pesquisa Targeting Children With Treats [...], de 2013, aponta que as crianças que já têm sobrepeso aumentam em 134% o consumo de alimentos com altos teores de sódio, gorduras trans e saturadas e açúcar, quando expostas à publicidade destes produtos.⁴
Vamos agora a alguns dados básicos sobre as crianças. Elas:
•têm preferências alimentares inatas, como o sabor doce e o umami (gosto presente no leite materno e nos alimentos industrializados que contêm glutamato monossódico, como salgadinhos de pacote,