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Uma prova de amor
Uma prova de amor
Uma prova de amor
E-book450 páginas6 horas

Uma prova de amor

Nota: 4 de 5 estrelas

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Sobre este e-book

Primeiro vem o amor, depois vem o casamento e depois… os filhos. Não é assim?
Não para Claudia Parr. A bem-sucedida editora de Nova York não pretende ser mãe, e até desistiu de encontrar alguém que aceite esta sua escolha, mas, então, ela conhece Ben.
O amor dos dois parece ideal. Ben é o marido perfeito: amoroso, companheiro e — assim como Claudia — também não quer crianças. No entanto, o inesperado acontece: um dos dois muda de ideia a respeito dos filhos. E, agora, o que será do casamento dos sonhos?
Uma Prova de Amor é um livro divertido e honesto sobre o que acontece ao casal perfeito quando, de repente, os compromissos assumidos já não servem mais. Contudo, é também uma história sobre como as coisas mudam, sobre o que é mais importante, sobre decisões e, especialmente, sobre até onde se pode ir por amor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de ago. de 2013
ISBN9788581632049
Uma prova de amor

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    Pré-visualização do livro

    Uma prova de amor - Emily Giffin

    Sumário

    Capa

    Sumário

    Folha de Rosto

    Folha de Créditos

    Dedicatória

    Agradecimentos

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Notas

    Leia também – Laços Inseparáveis

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Notas

    Emily Giffin

    "A princípio, foi uma mudança sutil, como costumam

    ser as mudanças nos relacionamentos;

    fica difícil saber quando de fato começou."

    Tradução:

    Maria Angela Amorim De Paschoal

    Copyright © 2006 by Emily Giffin

    Copyright © 2013 Editora Novo Conceito

    Todos os direitos reservados.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

    Versão digital – 2013

    Produção Editorial:

    Equipe Novo Conceito

    Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Giffin, Emily

    Uma prova de amor / Emily Giffin ; tradução Maria Angela Amorim de Paschoal. -- Ribeirão Preto, SP : Novo Conceito Editora, 2013.

    Título original: Baby proof

    ISBN 978-85-8163-204-9

    1. Ficção norte-americana I. Título.

    13-01865 | CDD-813

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura norte-americana 813

    Rua Dr. Hugo Fortes, 1.885 — Parque Industrial Lagoinha

    14095-260 — Ribeirão Preto — SP

    www.editoranovoconceito.com.br

    Para meu pai, com gratidão

    Agradecimentos

    Agradeço à minha família e aos meus amigos pelo seu amor e apoio durante esse ano que passou. Um agradecimento especial a Mary Ann Elgin, Sarah Giffin e Nancy LeCroy Mohler, que, como sempre, contribuíram com seus valiosos comentários desde o comecinho da história. Não existem melhores mãe, irmã e amiga do que essas.

    Meu eterno apreço à minha extraordinária editora, Jennifer Enderlin, e para todos da St. Martin’s Press, incluindo Kim Cardascia, Sally Richardson, Matthew Shear, George Witte, Jeff Capshew, Andy Lecount, Tom Siino, Gina Wynn, Brian Heller, Christine Jaeger, Jeff Cope, Jeff Willmann, Rob Renzler, Matt Baldacci, Carrie Hamilton-Jones, Nancy Trypuc, Anne Marie Tallberg, Josh Zacharias, John Murphy, Dori Weintraub, Tommy Semosh, Jenn Taber, Christina Ripo, Harriet Seltzer, Christina Harcar, Kerry Nordling, Mike Storrings, Elizabeth Catalano, Kelly Too e Nicole Liebowitz. Obrigada também a Kari Atwell e às boas pessoas da H. B. Fenn.

    Um agradecimento especial para Lisa Reed, Julie Portera, Allyson Wenig Jacoutot, Jennifer New, Eric Kiefer, Brian Spainhour, Selina Cicogna e Stephen Lee pela sua amizade e generosas contribuições a este livro. Sou muito grata a Stephany Evans, uma excelente agente e uma amiga ainda melhor. Tenho muita sorte de ter Carrie Minton, a melhor assistente do mundo.

    Um especial agradecimento a todos os maravilhosos clubes de livros e livrarias que visitei, e a todos os leitores espalhados mundo afora que compareceram às noites de autógrafos e que dedicaram seu tempo mandando-me e-mails tão gentis e inspiradores.

    E, finalmente, agradeço ao meu marido, Buddy Blaha, e aos nossos filhos, Edward e George, por fazerem tudo isso valer a pena.

    Capítulo 1

    Eu nunca quis ser mãe. Mesmo quando eu era pequena e brincava de boneca com minhas duas irmãs, sempre fazia o papel da tia Cláudia boazinha, que dava banho, trocava fraldas, embalava seus bebês de plástico e depois ia embora, à procura de coisas mais animadas para fazer no quintal ou no porão. Os adultos achavam meu comportamento em relação à maternidade engraçadinho e sorriam de maneira condescendente para mim, assim como sorriam para os meninos que insistiam em dizer que todas as garotas tinham piolho. Para eles, eu era apenas uma menina levada e impetuosa que um dia iria se apaixonar e entrar na linha.

    Aqueles adultos estavam parcialmente corretos. Eu realmente superei minha fase de molecagens e realmente me apaixonei; várias vezes, na verdade, começando pelo meu namorado do colegial, Charlie. Mas quando Charlie olhou profundamente em meus olhos, no final do baile de formatura, e me perguntou quantos filhos eu queria ter, respondi, com firmeza, zero.

    — Nenhum? — Charlie pareceu assombrado, como se eu tivesse acabado de lhe confessar um segredo terrível e sombrio. — Por que não?

    Eu tinha muitas razões e as expliquei direitinho naquela noite, mas nenhuma delas o satisfez. E Charlie não foi o único. Entre os diversos namorados que vieram depois dele, nenhum parecia entender ou aceitar minha decisão. E, embora meus relacionamentos terminassem por outras razões, sempre senti que bebês eram um dos fatores. Ainda assim, eu realmente acreditava que um dia iria encontrar o cara certo, aquele que me amaria do jeito que sou, incondicionalmente, sem promessas de filhos. Estava disposta a esperar por ele.

    Porém, quando cheguei aos 30 anos, já estava começando a aceitar o fato de que talvez ficasse sozinha. De que talvez nunca experimentasse a sensação que a gente tem quando sabe que encontrou o Príncipe Encantado. Em vez de me sentir infeliz comigo mesma ou de colocar alguém que não fosse especial em minha vida, concentrei minhas energias em coisas que podia controlar com mais facilidade: minha carreira como editora numa grande empresa; viagens fascinantes; me divertir com bons amigos e escritores interessantes; belas noites acompanhadas de um bom vinho e de conversas brilhantes. Resumindo, estava satisfeita com a minha vida e dizia para mim mesma que não precisava de um marido para me sentir completa e realizada.

    Então, conheci Ben. Lindo, gentil e engraçado. Parecia bom demais para ser verdade, especialmente depois que fiquei sabendo que ele pensava o mesmo que eu sobre ter filhos. O assunto surgiu na noite em que nos conhecemos, num encontro às cegas maquinado por nossos amigos em comum, Ray e Annie. Estávamos no Nobu, batendo um papo descontraído enquanto comíamos sashimi e tempurá de camarão apimentado, quando um menininho nos chamou atenção. Ele não devia ter mais do que 6 anos e estava sentado à mesa ao lado. O menino estava súper na moda, usava um bonezinho preto Kangol e uma camiseta polo da Lacoste com a gola virada para cima. Sua postura era ereta e aprumada e ele mesmo estava fazendo seu pedido de sushi, com a pronúncia correta e tudo mais, sem nenhuma ajuda dos pais. Com certeza não era a primeira vez que ele estava num restaurante japonês. Na verdade, acho que ele estava mais acostumado a comer sushi do que misto-quente.

    Ben e eu o observamos e demos um sorriso daquele jeito que as pessoas dão quando olham para crianças e filhotinhos, e então, sem querer, deixei escapar:

    — Se tiver que ter filhos, tem que ser um assim.

    Ben se inclinou sobre a mesa e sussurrou:

    — Você está se referindo ao cabelo tigelinha e às roupas da moda?

    — Não. Do tipo que a gente pode levar a um restaurante japonês no meio da semana — falei séria. — Não estou nem um pouco interessada em comer iscas de frango empanado no T.G.I. Friday’s. Jamais!

    Ben pigarreou e deu um sorrisinho.

    — Então, você não quer morar num condomínio residencial longe do centro e comer no Friday’s ou você não quer ter filhos? — ele perguntou, enquanto eu olhava para seus dentes ligeiramente tortos e seu sorriso sexy.

    — Nenhuma das alternativas. As duas. Todas as alternativas anteriores — respondi. Para o caso de não ter sido bem clara, acrescentei: — Não quero comer no Friday’s, não quero morar num condomínio e não quero ter filhos.

    Era muita coisa para se dizer logo de cara, principalmente na nossa idade. Ben e eu tínhamos, ambos, 31 anos — idade suficiente para saber que o assunto filhos era um tabu para a maioria dos homens num primeiro encontro. Um tabu se você de fato quiser ter filhos. Se você não quiser tê-los, mencionar o assunto é o mesmo que anunciar que você é amiga íntima de Anna Kournikova, e que você e ela adoram ménage à trois, particularmente nos primeiros encontros. Em outras palavras, o cara provavelmente não vai achar que você pertence à classe de garota para casar, mas com certeza vai ficar animado em querer sair com você por algum tempo. Sair com uma mulher de 31 anos que não quer ter filhos significa ter uma relação sem pressão, e a maioria dos caras solteiros adora uma relação sem pressão, por isso vão atrás de mulheres na faixa dos 20. Com elas, eles não se sentem forçados a entrar numa relação mais séria.

    Por outro lado, eu reconhecia que poderia ser automaticamente desqualificada como candidata para um relacionamento de longo prazo, como já tinha acontecido com vários caras no meu passado recente. Afinal de contas, a maioria das pessoas, mulheres e homens, consideram o fato de alguém não querer ter filhos uma justificativa séria para um rompimento. Para dizer o mínimo, eu me arriscava a ser considerada fria e egoísta, duas características que não ficavam no topo da lista das coisas que todo homem quer.

    No entanto, no confuso mundo dos encontros, eu tinha decidido ser franca, me colocar e me posicionar. Era uma boa vantagem não querer ter filhos. Eu não estava lutando com aquele infame relógio biológico. Nem estava preocupada se um dia teria ou não minha própria família. Portanto, como consequência, podia me dar ao luxo de ser completamente honesta. Abrir o jogo até mesmo num primeiro encontro.

    Então, depois que mencionei a questão dos filhos com Ben, prendi a respiração, temendo ver aquele olhar crítico que já conhecia tão bem. Mas Ben estava todo sorridente e exclamou:

    — Nem eu! — com aquele tom maravilhado e feliz que as pessoas usam quando se deparam com uma coincidência inacreditável. Como daquela vez que encontrei minha professora do 3o ano num pub em Londres. Talvez a chance de se estar num primeiro encontro e descobrir que nenhuma das partes está interessada em ter filhos não seja tão pequena quanto se sentar num banquinho de bar do outro lado do oceano, bebericando uma cerveja, olhar para cima e ver uma professora que você não encontrava há duas décadas. Mas certamente não é todo dia que você encontra alguém que gostaria de ter um relacionamento significativo e monogâmico e que também optou por não participar do que parece ser uma escolha automática de ter a experiência no mundo mágico da paternidade. O semblante de Ben pareceu registrar e compreender tudo isso.

    — Você já notou como os casais discutem as vantagens de ter filhos mais cedo versus ter filhos mais tarde? — ele me perguntou com seriedade.

    Concordei com a cabeça enquanto tentava descobrir a cor de seus olhos — uma combinação agradável de verde-claro e cinza contornado por um círculo escuro. Ele era bonito, e, além do nariz fino, dos cabelos grossos, do corpo musculoso e forte, havia aquela coisa incandescente intangível que minha melhor amiga, Jess, costuma chamar de ter brilho. Seu rosto era alegre e luminoso. Ele era o tipo de homem que você encontraria no metrô e gostaria de conhecer, e seus olhos focariam imediatamente o dedo anelar da mão esquerda dele.

    Ben continuou:

    — E como a principal característica de cada situação é a liberdade? A liberdade que chega cedo ou tarde?

    Concordei com a cabeça novamente.

    — Bom — ele falou, e fez uma pausa para tomar um gole de vinho. — Se a melhor parte de ter filhos mais cedo é resolver logo a questão, e a melhor parte de ter filhos mais tarde é adiar o trabalho duro, não é normal pensar que não ter filhos em qualquer ocasião é a melhor das soluções?

    — Concordo plenamente — falei, erguendo meu copo para celebrar sua filosofia. Imaginei nós dois desafiando as forças da natureza juntos (aquela coisa do homem querer espalhar sua semente e da mulher querer ter uma vida crescendo dentro de si) e revirando as regras da sociedade que muitos de meus amigos estavam seguindo cegamente. Sabia que estava dando asas à minha imaginação, idealizando tudo isso com um homem que havia acabado de conhecer, mas, quando você chega aos 31 anos, reconhece imediatamente se um cara tem potencial ou não. E Ben tinha potencial.

    Claro que o restante do nosso jantar correu excepcionalmente bem. Não houve pausas embaraçosas na conversa, nenhuma bandeira vermelha foi levantada, nenhuma mania irritante veio à tona. Ele fez perguntas interessantes, deu boas respostas e deixou transparecer seu interesse por mim sem ser ansioso demais. Então, o convidei para subir ao meu apartamento para um drinque, algo que nunca faço num primeiro encontro. Ben e eu não nos beijamos naquela noite, mas nossos braços se tocaram enquanto ele folheava um álbum de fotos que estava na minha mesinha de centro. Sua pele parecia faiscar quando entrava em contato com a minha e eu tinha que respirar fundo todas as vezes que ele virava uma página.

    No dia seguinte, Ben me ligou, conforme tinha prometido. Fiquei meio tonta quando vi seu nome aparecer no identificador de chamadas e mais tonta ainda quando ele falou: Só queria dizer para você que foi, de longe, o melhor primeiro encontro que já tive.

    Dei uma risadinha e respondi: Concordo. Na verdade, foi melhor do que a maioria dos meus segundos, terceiros e quartos encontros.

    Conversamos por quase duas horas e, quando finalmente nos despedimos, Ben disse exatamente o que eu estava pensando: que aquela ligação parecia ter durado apenas cinco minutos. Que ele poderia ficar conversando comigo para sempre. Quem me dera, me lembro de ter pensado.

    Então, veio o sexo. Esperamos apenas duas semanas, o que ia contra todos os conselhos-padrão dos amigos, da família e de reportagens de revistas. Não que eu tivesse urgência ou um apetite sexual voraz (embora isso contribuísse bastante). Foi mais por não haver razão para adiar. Quando sei que algo está certo, acredito em ir atrás, entrar de cabeça. Nossa primeira vez não foi nem rápida nem estranha ou embaraçosa, marcas costumeiras das primeiras vezes. Muito pelo contrário: nossos corpos se encaixaram com perfeição e Ben sabia do que eu gostava sem nem mesmo ter que me perguntar. Era o tipo de sexo que faz você desejar ser um poeta ou compositor. Ou pelo menos ser uma mulher que mantém um diário, algo que não fazia desde criança, mas uma prática que retomei prontamente no dia seguinte.

    Ben e eu rapidamente descobrimos que tínhamos muito mais em comum do que nossa visão sobre ter filhos e muito mais que nos aproximava do que aquela química louca. Tínhamos um histórico semelhante. Nós dois crescemos em Nova York, com duas irmãs mais velhas e pais que se divorciaram quando já tinham certa idade. Ambos éramos esforçados, altamente empreendedores e apaixonados por nossas carreiras. Ben era arquiteto e adorava construções tanto quanto eu adorava livros. Gostávamos de viajar para lugares desconhecidos, comer comidas exóticas e extrapolar um pouquinho na bebida. Adorávamos cinema e bandas que não estavam na moda, sem a pretensão de sermos intelectuais. Aproveitávamos para dormir até tarde nos fins de semana, líamos jornal na cama e tomávamos café à noite. Tínhamos a mesma combinação de bagunceiros e loucos por limpeza, de sentimentais e pragmáticos. Ambos acreditávamos que um relacionamento que não tivesse um pouco de mágica não valia a pena.

    Resumindo, nos apaixonamos, todas as coisas se encaixavam no lugar certo. E não era uma alegria sem sentido que vem quando a gente quer acreditar desesperadamente que encontrou o par perfeito. Nosso relacionamento era tão bom, honesto e verdadeiro que, em determinado momento, comecei a acreditar que Ben era minha alma gêmea, a única pessoa que poderia estar ao meu lado. Era algo em que nunca tinha acreditado antes de conhecer Ben.

    Lembro-me do dia em que me conscientizei de tudo isso. Ainda era relativamente o começo de nosso relacionamento, mas bem depois de já termos trocado nossos primeiros Eu te amo. Estávamos fazendo um piquenique no Central Park. Havia muita gente à nossa volta tomando sol, lendo, jogando Frisbee, rindo, e, apesar disso tudo, nos sentíamos completamente sozinhos. Todas as vezes em que estava ao lado de Ben, parecia que o resto do mundo sumia. Tínhamos acabado de comer nosso almoço, frango frito frio e salada de batatas, e estávamos deitados de barriga pra cima, de mãos dadas, olhando para um belo e azul céu de verão, quando começamos aquela conversa séria e cautelosa sobre antigos amores. Sobre as pessoas e experiências que nos levaram até aquele momento que estávamos vivendo.

    Já havíamos feito algumas breves referências às nossas histórias anteriores, e eu estava bem ciente de que ambos estávamos silenciosamente fazendo aquelas comparações inevitáveis, colocando nosso relacionamento em contexto. Ela é mais assim e menos daquele jeito. Ele é melhor ou pior nisso. Faz parte da natureza humana agir assim, a menos que seja o primeiro relacionamento. Deve ser por isso que nosso primeiro relacionamento parece especial e permanece sagrado para sempre. Mas, à medida que você fica mais velho e mais cínico, mais complicada e complexa fica essa prática. Você começa a perceber que nada é perfeito, que existem trocas e sacrifícios. O pior é quando alguém do seu passado atropela a pessoa que você é no presente, e você tem que refletir: se eu soubesse disso, talvez não o tivesse deixado ir embora. Estava me sentindo assim em relação ao meu namorado de faculdade, Paul. Meu relacionamento com Paul estava longe de ser perfeito, no entanto, há mais de uma década não encontrava ninguém que conseguisse superar o que tínhamos vivido juntos.

    Mas com Ben, as coisas eram diferentes. Eu estava mais feliz do que nunca. Contei isso a ele e me lembro de ele me perguntar por que agora era diferente, por que eu estava mais feliz. Pensei bastante, desejando que minha resposta fosse precisa e completa. Comecei a detalhar desajeitadamente o que havia feito meu relacionamento com Paul fracassar e passei um tempão enumerando suas qualidades e atributos específicos. Então, listei para Ben as coisas nas quais ele era melhor e, mais importante ainda, no que era melhor para mim. Eu disse:

    — Você beija melhor. Tem o temperamento mais estável. É mais generoso, mais inteligente e mais justo.

    Ben acenou com a cabeça e ficou tão sério que me lembrei de algo mais e acrescentei:

    E ainda você recicla! — Só para brincar um pouco. (A verdade era que Paul não reciclava nada, coisa que revelava muito sobre sua personalidade.) À medida que falava, tinha a sensação clara de que eu não estava capturando a real essência do que eu sentia. Era bem frustrante, pois queria que Ben soubesse como era especial para mim.

    Desisti de continuar falando sobre meu ex e perguntei a Ben a mesma coisa sobre sua ex-namorada, Nicole. Eu tinha começado a montar uma imagem bem detalhada dela baseada em trechos de conversas. Sabia que ela era descendente de vietnamita e se parecia com uma boneca de porcelana. (Devo ter bisbilhotado nas gavetas dele uma vez e achei uma foto ou duas.) Ela era designer de interiores e tinha conhecido Ben em um grande projeto de um museu no Brooklin. Seu livro favorito era Cem Anos de Solidão, que também era o livro favorito de Ben (isso me irritava profundamente). Ela fumava e eles fumaram juntos durante muito tempo até ele largar. Viveram juntos por três anos e namoraram por quase seis. O relacionamento deles foi intenso, cheio de altos bem altos e baixos bem baixos. Eles tinham terminado no inverno passado e eu ainda não sabia por quê. Então, é claro que eu tinha muito medo de ele estar comigo só para se recuperar do término. O nome Nicole me deixava tomada por um ciúme maluco.

    — Por que esse relacionamento é diferente? — perguntei a Ben e, então, me preocupei por estar fazendo suposições demais. — Ou será mesmo que é... diferente?

    Nunca esquecerei o modo como ele me olhou, com os olhos claros e quase transparentes. Ele mordeu o lábio inferior, um de seus hábitos mais sensuais, e disse:

    — Na verdade, essa não é uma pergunta difícil. Eu simplesmente amo mais você. É isso. E não estou falando isso porque ela faz parte do passado e você do presente. É o que eu sinto. Em termos absolutos. Quero dizer, eu a amava. De verdade. Mas amo você muito mais. E o que eu sentia por ela não chega nem perto do que eu sinto por você.

    Foram as melhores palavras que já ouvi, e por uma razão muito simples: eu sentia exatamente o mesmo. A pessoa que me amava era a pessoa que eu também amava, o que pode ser considerado um milagre. É um completo milagre.

    Não foi nenhuma surpresa quando Ben me pediu em casamento algumas semanas depois. E então, após sete meses, quando comemorávamos nosso primeiro encontro, fugimos para nos casar e trocamos as alianças numa praia bem romântica em St. John. Essa escapada não caiu bem com nossas famílias, mas queríamos que esse dia fosse apenas nosso. Logo depois que fizemos nossos juramentos, me lembro de olhar para o mar e pensar que éramos apenas nós dois, com a vida toda se estendendo à nossa frente. Nada iria mudar, a não ser a chegada de algumas rugas, de alguns cabelos brancos e as lembranças doces e felizes.

    Claro que o assunto de ter filhos surgiu com frequência irritante naqueles dias de recém-casados, mas apenas quando respondíamos a algumas perguntas grosseiras sobre nossos planos de procriar e formar uma família: da família de Ben, de minha família, de amigos, mulheres passeando com seus filhos no parque, até mesmo de nossa faxineira.

    — Não vamos ter filhos — um de nós respondia casualmente e então tínhamos que tolerar a conversa inevitável que se seguia, sobre como as crianças podiam enriquecer nossa vida.

    Uma vez, numa feira de livro, uma editora se aproximou e me disse que, se eu não tivesse filhos, minha vida seria vazia e sem significado. Isso é que é um comentário radical! Acho que lhe respondi: Bom, nossa, acho que eu deveria me matar agora, não é?. Ela fingiu que não me ouviu e continuou a falar sobre seus filhos.

    Outra coisa comum era o sacudir de cabeça daqueles que acreditavam que estávamos, na verdade, escondendo uma verdade dolorosa: nossa incapacidade de conceber. Como certa vez em que uma amiga da faculdade de Ben me entregou um cartão com os dados de sua clínica de fertilização escritos no verso. Entreguei o cartão a Ben, que prontamente anunciou à sua amiga que ele tinha feito uma vasectomia logo depois do nosso casamento. Isso não era verdade, eu estava tomando pílula, mas o jeito como ele falou a deixou envergonhada e ela calou a boca.

    E a pergunta mais intrigante que nos faziam era a seguinte: Quem vai tomar conta de vocês quando estiverem velhos?. Ben e eu respondíamos que um ia cuidar do outro. E, por incrível que pareça, nos faziam outra pergunta: Mas e quando um de vocês morrer?. Nesse ponto, as coisas realmente ficavam engraçadas. Vez ou outra, mencionava que as casas de repouso estavam cheias de pessoas cujos filhos nunca apareciam para visitá-las, que filhos não eram garantia de nada. Você podia ter um filho que se tornaria um artista malsucedido e pobre. Ou um filho que se tornasse um adulto egoísta e mal resolvido. Ou um filho que precisasse de atenção especial e fosse incapaz de cuidar de si mesmo, muito menos de pais idosos. Fim da questão; Ben e eu concordamos que nos preocupar sobre cuidados no futuro era, afinal de contas, uma razão egoísta e idiota para procriar. Era melhor trabalhar duro e economizar nosso dinheiro do que sobrecarregar uma geração futura.

    Com o tempo, aprendemos a não discutir sobre o assunto. Era muito mais fácil assim. Trocávamos olhares e discutíamos mais tarde. Ficávamos irritados com a suposição de algumas pessoas de mente estreita de que filhos eram uma dádiva, mas, ao mesmo tempo, nos divertíamos com a sensação libertadora de estarmos numa união sem filhos. Nosso relacionamento tinha tudo a ver com liberdade, possibilidades e aventura. Estávamos juntos porque queríamos estar juntos. Não porque precisássemos de um parceiro para a maternidade ou paternidade, ou porque os filhos nos estivessem prendendo, nos engaiolando durante dezoito anos de obrigação constante.

    Então, depois de dois anos que estávamos casados, algo mudou.

    A princípio, foi uma mudança sutil, como costumam ser as mudanças nos relacionamentos; fica difícil saber quando de fato começou. Mas, relembrando, acho que tudo começou quando fizemos uma viagem para esquiar com Annie e Ray, o casal que tinha nos apresentado. Eu conhecia Annie desde nossos tempos de farra da faculdade e percebi que ela só estava tomando água mineral. No começo, ela explicou que estava tomando antibiótico para uma sinusite, mas isso nunca tinha feito Annie diminuir seu ritmo beberrão antes; então, a fiz falar a verdade. Ela estava grávida de oito semanas.

    — Foi planejado? — deixei escapar, pensando que, com certeza, tinha sido um acidente. Minha amiga adorava sua carreira como cineasta de documentários e se dedicava a um milhão de causas diferentes. Ela nunca tinha demonstrado interesse em ter filhos e eu não conseguia imaginá-la no papel de mãe, abrindo mão de seu tempo para um filho.

    Annie e Ray entrelaçaram as mãos e acenaram juntos.

    — Mas pensei que você não quisesse ter filhos! — declarei.

    — Não queríamos ter filhos imediatamente — Annie explicou. — Mas estamos prontos. Embora eu ache que a gente nunca está completamente pronto! — Ela deu uma risadinha estridente, como uma garotinha de escola, e seu rosto ficou corado.

    — Hum... — assenti.

    Ben me deu um chute por baixo da mesa e disse:

    — Bem, parabéns, pessoal! Essa notícia é ótima! — Então, ele me deu um olhar firme e comentou: — Não é uma notícia maravilhosa, Cláudia?

    — Sim, maravilhosa... — respondi, mas não conseguia deixar de me sentir traída. Ben e eu estávamos prestes a perder nossos companheiros de viagem preferidos, nossos amigos mais íntimos, que eram tão livres e descompromissados quanto nós, sem bebês e todos seus infindáveis apetrechos.

    Terminamos o jantar e a conversa foi dominada pelo assunto de filhos e imóveis em Westchester.

    Mais tarde, quando estávamos sozinhos no quarto, Ben me repreendeu por não ter dado mais apoio aos nossos amigos.

    — Você podia pelo menos ter fingido estar feliz por eles — ele falou. — Em vez de ficar perguntando sobre controle de natali­dade.

    — Fiquei tão chocada! — repliquei. — Você sabia que queriam ter filhos?

    Ben negou com a cabeça, com uma expressão de inveja no rosto.

    — Não. Mas acho ótimo.

    — Não vai me dizer que você também quer filhos agora? — perguntei, brincando.

    Ben respondeu prontamente, mas suas palavras pareciam falsas e sem consistência.

    — Claro que não — ele respondeu. — Não seja ridícula!

    Nos meses seguintes, as coisas foram ficando mais complicadas. Ben ficou interessado demais nos progressos da gravidez de Annie. Ele ficou admirando as fotos do ultrassom e até mesmo chegou a grudar uma delas na porta de nossa geladeira. Falei para ele que nós não éramos o tipo de família que grudava fotos na geladeira.

    — Deus do céu, Cláudia! Relaxa! — Ben replicou, parecendo agitado enquanto retirava a imagem borrada em preto e branco e a jogava dentro de uma gaveta. — Você realmente deveria ficar feliz por eles. São nossos melhores amigos, pelo amor de Deus!

    Algum tempo depois, pouco antes de Annie e Ray terem seu bebê, Ben e eu planejamos uma viagenzinha de fim de semana para o mesmo resort onde havíamos casado. Era começo de janeiro, quando a súbita ausência da decoração de Natal e dos turistas deixava a paisagem de Manhattan vazia e desoladora, e Ben disse que não ia aguentar até o começo de março para nossa planejada viagem para Belize. Me lembro de jogar alguns shorts e um biquíni vermelho novo dentro da minha sacola de couro e comentar como era agradável essa espontaneidade no nosso relacionamento, a liberdade de poder viajar a qualquer momento, sem planejar.

    Ben respondeu:

    — Sim. Existem coisas maravilhosas na nossa vida a dois.

    Essa frase soou melancólica, posso até mesmo dizer sinistra, mas não fiz nenhum comentário. Nem mesmo o pressionei para conversar quando vi que ele estava estranhamente taciturno durante nosso voo para o Caribe.

    Não me preocupei de verdade até mais tarde, quando estávamos nos acomodando no quarto, desempacotando as malas e frasqueiras. Parei momentaneamente para inspecionar a vista do mar pela janela e, quando me virei para minha mala, vi o olhar de Ben refletido no espelho. Sua boca estava franzida numa carranca. Entrei em pânico, lembrando o que minha irmã Maura tinha falado certa vez sobre homens que traem. Ela era uma especialista no assunto, já que o marido dela, Scott, tinha sido infiel com pelo menos duas mulheres, isso era o que ela sabia. Preste atenção se estão muito grosseiros ou muito gentis. Por exemplo, se eles começarem a mandar flores e dar joias sem nenhum motivo aparente, ela tinha me dito. Ou levar você para uma viagem romântica. É a culpa que está por trás de tudo. Eles estão tentando compensar alguma coisa. Tentei me acalmar, falando para mim mesma que estava sendo paranoica. Nós sempre dávamos essas escapadas, não precisávamos de uma razão.

    Ainda assim, queria esquecer as imagens insistentes de Ben se esfregando numa amante suada e atraente, então, me sentei na cama, chutei as sandálias e disse:

    — Ben, vamos conversar. O que está acontecendo?

    Ele engoliu em seco e se sentou ao meu lado. A cama balançou levemente com o peso dele e o movimento me deixou ainda mais nervosa.

    — Não sei como dizer isso — Ben falou com a voz trêmula. — Vou ser direto, então.

    Concordei com a cabeça, me sentindo meio enjoada.

    — Vá em frente.

    — Acho que, afinal de contas, quero ter filhos.

    Fiquei aliviada e dei uma risada.

    — Você quase me mata de susto! — Dei mais uma risada, ainda mais alta, e fui pegar uma bebida no frigobar.

    — Estou falando sério, Cláudia.

    — De onde veio essa ideia? É por causa da Annie e do Ray?

    — Talvez. Não sei bem. É que... É uma sensação que eu tenho — Ben falou, fechando a mão sobre o coração.

    Pelo menos ele não está me traindo, pensei. Uma traição dessa magnitude não poderia ser apagada ou esquecida. Esse desejo passageiro por um filho certamente iria embora. Mas enquanto Ben continuava a enumerar sua lista de razões do porquê ter um bebê seria uma coisa boa, como mostrar o mundo para ele, fazer as coisas de um jeito melhor do que nossos pais haviam feito, meu alívio começou a ceder lugar para outra coisa. Senti que estava perdendo o controle. Uma sensação de que algo estava desaparecendo.

    Tentei ficar calma enquanto argumentava com um discurso eloquente. Disse a ele que essa questão de paternidade não tinha nada a ver com a gente. Que nosso relacionamento havia sido construído basicamente em cima da gente e a ideia de sermos três era absurda, seria como uma multidão. Salientei que não poderíamos mais fazer viagens de última hora. Estaríamos presos em casa o tempo todo.

    — Mas teríamos outras coisas — Ben argumentou. — E se nós estamos deixando escapar algo fantástico? Nunca ouvi alguém dizer que se arrependeu de ter um filho.

    — Será que iriam admitir, se esse fosse o caso? — eu disse.

    — Talvez não — Ben concordou. — Mas a questão é que não acho que se arrependeram.

    — Discordo totalmente... Se não, por que haveria escolas em período integral, internatos? A simples existência de internatos prova alguma coisa, não é? — perguntei. Estava brincando sobre os internatos, mas Ben não deu risada.

    Dei um suspiro e decidi mudar de assunto por completo, me concentrar apenas na diversão da viagem. Mostrar a Ben o que estaríamos perdendo se tivéssemos filhos.

    — Vamos nos vestir para o jantar — falei, ligando o CD player e colocando One Love para tocar, pensando que não havia nada como um pouco de Bob Marley para nos deixar com um estado de espírito solto e desencanado de filhos.

    No entanto, apesar dos meus esforços para que a gente se divertisse, o resto do nosso fim de semana transcorreu com uma tensão crescente. As coisas pareciam estar forçadas entre nós, e o humor de Ben transitou do silencioso para o lúgubre. Na nossa terceira e última noite na ilha, pegamos um táxi para Asolare, um restaurante com uma vista incrível para Cruz Bay. Comemos em quase completo silêncio fazendo apenas comentários sobre o pôr do sol e sobre como a lagosta estava perfeita. Quando a garçonete trouxe o café e o sorbet, olhei para Ben e disse:

    — Sabe o que mais? Nós fizemos um acordo.

    Assim que pronunciei essas palavras, percebi como soavam ridículas. Casamento nunca é um negócio fechado. Nem mesmo

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