Desvendando Exu: o Guardião dos Caminhos
4.5/5
()
Sobre este e-book
Exu e sua contraparte feminina, Pombagira, são as Entidades Espirituais mais conhecidas e mais controversas de todas as que se manifestam nas práticas afro-brasileiras. Isso porque, em todas elas, as demais Entidades são sempre mantidas a certa distância que os diviniza e sacraliza, enquanto Exu é visto como próximo e íntimo do ser humano, sendo, inclusive, tratado por seus fiéis carinhosamente como Compadre. O arquétipo representado por Exu também contribui para a criação desse vínculo quase afetivo entre o homem e o espírito. Párias de toda natureza, marginais no sentido literal da palavra - aqueles que vivem à margem -, a figura de Exu representa a própria natureza humana com todos os seus vícios e virtudes, livre das amarras morais impostas pela sociedade ocidental. Exu é, portanto, pai, irmão, amigo e, por que não, reflexo daquele que o cultua, servindo inclusive como elemento de catarse.
É a partir dessa relação de afetividade com o sobrenatural que Diego de Oxóssi lança seu primeiro livro "Desvendando Exu - O Guardião dos Caminhos". A obra, que teve origem na palestra de mesmo nome realizada pelo autor em eventos esotéricos no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, busca a origem afro-mitológica de Exu e constrói um resgate histórico desde o surgimento das religiões de matriz africana em todo o país até os dias atuais, com o advento da Quimbanda Tradicional.
Diego de Oxóssi
Diego de Oxóssi is a Chief of Kimbanda and Orishas Priest. For more than 20 years he has been researching and presenting courses, lectures, and workshops on pagan and African-Brazilian religions. He is the publisher at Arole Cultural and the author of Traditional Brazilian Black Magic. He lives in São Paulo, Brazil.
Relacionado a Desvendando Exu
Ebooks relacionados
Dicas de um pai de santo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mitos Yorubás: O outro lado do conhecimento Nota: 4 de 5 estrelas4/5O candomblé bem explicado: Nações Bantu, Iorubá e Fon Nota: 4 de 5 estrelas4/5O candomblé e seus orixás Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Ciência Espiritual Orixá e Ifá Nota: 5 de 5 estrelas5/5O mundo dos Orixás Nota: 4 de 5 estrelas4/5ÈKÓOLÉ: No candomblé também se educa Nota: 3 de 5 estrelas3/5Reinado Dos Exús Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cultos afro-paraibanos: Jurema, Umbanda e Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCiranda Dos Orixás Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExplorando as teologias Umbandistas: percepções críticas sobre a tradição oral e acadêmica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos De Uma África Mítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRaízes Sincréticas Da Umbanda E Do Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOrigem Da Quimbanda E Seus Reinos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBatuque De Umbigada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Filosofia de Òrúnmìlà-Ifá e a formação do bom caráter Nota: 5 de 5 estrelas5/5Exu do Ouro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lucifer: a estrada da evolução Nota: 5 de 5 estrelas5/5Reflexões noturnas: o lado oculto de exu Nota: 4 de 5 estrelas4/5Eu sou Exu Nota: 5 de 5 estrelas5/5Exu te ama Nota: 5 de 5 estrelas5/5Umbanda para iniciantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Umbanda em casa: prática umbandista familiar Nota: 4 de 5 estrelas4/5Orações umbandistas: a reza é a espada da alma Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda Nota: 5 de 5 estrelas5/5Guardiãs do amor: A missão das pombagiras na Terra Nota: 5 de 5 estrelas5/5Guardiões do Carma: A missão dos Exus na terra Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sob o céu de Aruanda Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Cultos para você
Grimório de Quimbanda- Sigilos, Feitiços e Rituais com Exús Nota: 4 de 5 estrelas4/5Grimorio de Mammon- Feitiços de Prosperidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA floresta sagrada de Ossaim: O segredo das folhas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ifá Lucumí: O resgate da tradição Nota: 5 de 5 estrelas5/5O mundo dos Orixás Nota: 4 de 5 estrelas4/5Ewé: A chave do portal Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Desvendando Exu
17 avaliações2 avaliações
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5De fácil compreensão, amei. Recomendo. O autor explanou muito bem o conteúdo. Vale muito a pena ler
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aguçou a minha atenção mais do que a curiosidade elevando a minha vontade de aprender mais e mais.
Pré-visualização do livro
Desvendando Exu - Diego de Oxóssi
Nota de Esclarecimento
Já há alguns anos que as religiões afro-brasileiras vêm sendo estudadas e codificadas por seus praticantes, dos quais, felizmente, muitos têm atingido graus de formação acadêmica até então dominados por uma elite branca e cristã que não aceitava a ascensão de negros e pobres às cadeiras das Universidades. Nesse sentido, um grande esforço tem sido empreendido para a qualificação das fontes de pesquisa e um processo de re-africanização dos ritos e, principalmente, dos mitos vem acontecendo de maneira ímpar, o que muito contribui para a preservação e especialmente para a valorização da cultura africana e sua influência na formação etnolingüística do Povo Brasileiro.
Por esse motivo, as palavras de origem africana - em sua maioria yoruba, ewe-fon e quimbundu - foram grafadas neste livro da forma original ou comumente aceita entre os estudiosos que precedem esta obra e grifadas em itálico e negrito, diferentes dos grifos do autor, puramente em itálico, como meio de destaque e incentivo à continuação dos estudos desses idiomas, que são pronunciados em forma tonal.
A relação a seguir demostra a forma de grafia e pronúncia aportuguesada
da maioria das palavras africanas presentes no livro:
Àse - Axé
Bàbá - Babá
Bàbálórìsà - Babalorixá
Kàmukà - Camucá
Esu - Exu
Nganga - Ganga
Ìyálórìsà - Ialorixá
Ìyá -Iá / Iyá
Ìyàwó - Iaô
Ìgbàlè - Ibalé / Balé
Ilè - Ilê
Ogo - Ogó
Orísa - Orixá
Sàngó - Xangô
Prefácio
João Batista Libaneo diz que Teologia é a ciência que estuda a fé. Não a fé do outro, mas a nossa própria fé. Por isso é quase que necessário que o Teólogo seja um vivenciador de uma religião e é sobre ela que refletirá.
Ao contrário do que se imagina essa área do conhecimento não é de exclusividade do cristianismo, mas cada tradição religiosa possui sua própria Teologia. E essa Teologia nasce da observação dos elementos ritualísticos, da experiência com o sagrado, da análise das Histórias Sagradas, dos cânticos e das rezas. Enfim, visita todos os elementos de determinada religião – incluindo sua história e sua filosofia – para tentar descobrir qual o propósito que Deus tem conosco através dela. Pois se a religião é a forma que os homens criaram para se aproximar de Deus, a Teologia é a forma que Deus se vale para chegar a nós, parafraseando Libaneo.
A Teologia das tradições de matriz africana como o Batuque e o Candomblé surgiu tímida, mas está vindo com tudo. Ganhou força com o comprometimento de alguns pesquisadores. Nasce, sobretudo, da preocupação com os intensos ataques desferidos por segmentos fundamentalistas da sociedade classificando-nos ora como demoníacos, ora como primitivos, numa demonstração de ignorância ou má fé. Isto fez com que nosso povo levantasse a bandeira do conhecimento, da intelectualidade, e muitos são aqueles que se atreveram a adentrar nas academias e se graduarem em Direito, História, Sociologia, Pedagogia, Psicologia, Ciências da Religião, Filosofia e também Teologia na expectativa de analisarem certos elementos das tradições de matriz africana, umbandista e demais religiões afro-brasileiras.
Ainda estamos longe de construirmos no Rio Grande do Sul uma verdadeira Escola de Teologia das Tradições de Matriz Africana (ou afroteologia como tenho defendido) nos moldes de outras tradições religiosas, mas já temos oferecido cursos de formação na área cujo referencial teórico está mergulhado na Afrocentricidade de Molefi Kete Asante.
Existe em São Paulo a Faculdade de Teologia Umbandista (FTU) que é a primeira e única do país atualmente e funda uma escola de pensamento que se baliza na análise das religiões afro-brasileiras e que tem muito a contribuir para a comunidade acadêmica e afro-religiosa como um todo.
Apesar dessas duas iniciativas ainda persiste um hiato na reflexão teológica sobre o que chamamos povo da rua
, os compadres
e comadres
, catiços, os Exus e Pombagiras. Neste quesito Diego de Oxóssi cumpre bem a tarefa com este trabalho.
Conheci Diego de Oxóssi através do extinto Orkut. Já se passaram mais de cinco anos desde quando esteve em minha casa para consultar Ifá e saber que caminhos deveria trilhar. Vendo o quanto progrediu fico contente de saber que seguiu à risca os conselhos deÒrúnmìlà.
Nesta obra, Diego de Oxóssi traz a preocupação acadêmica no cuidado com as fontes - o que garante uma elevada confiabilidade ao seu trabalho -, sendo que o traçamento da história das formas de religiosidade merece um destaque. Sua interpretação sobre a escravidão do Exu traz elementos talvez nunca antes pensado.
De forma despretensiosa e didática, Diego de Oxóssi nos aponta vários caminhos para a reflexão teológica a respeito dos Exus. No capítulo sobre as relações entre oOrísa Esu e a entidade Exu, o autor produz uma verdadeira Teologia da Quimbanda. Também merece destaque a sua reflexão sobre a relação forçada entre o Exu e o diabo judaico-cristão.
O autor possui uma linha lógica de pensamento desde a História até a Teologia trazendo à luz elementos não discutidos até hoje, o que torna este livro uma obra sem igual no mercado editorial brasileiro.
Você leitor, que tem em mãos esta obra, encontrará aqui uma preciosidade que, sem por um ponto final na questão, se apresenta como um excelente material histórico-teológico da quimbanda.
Boa leitura.
Porto Alegre, 25 de novembro de 2015, ano deÒgún.
Hendrix Silveira (Bàbá Hendrix deÒrúnmìlà)
Bàbálórìsà da Comunidade Tradicional de Matriz AfricanaIlè Àse Orísa Wúre
Doutorando e Mestre em Teologia pelas Faculdades EST
Assessor Teológico do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul
Um pouco de história
Falar sobre as religiões de matriz africana é, necessariamente, falar da história do Brasil e, por que não, de toda a civilização ocidental. É falar de colonialismo, de políticas imperialistas, de processos escravagistas e, em primeira instância, de racismo e discriminação.
Mais ainda, para que possamos entender de fato os comos e porquês das transformações e adaptações regionais e abrasileiradas dos cultos africanos – afinal, acreditar que o que fazemos aqui é uma repetição fiel do eu é feito em África seria, no mínimo, ingenuidade -, é preciso acima de tudo conhecer a história da formação social e cultural do país, especialmente de seus primeiros séculos após a chegada dos portugueses em 1500 e dos desdobramentos da escravidão. Por isso, antes de falarmos sobre religião, vamos falar um pouco de passado...
Origens do culto africano no Brasil
A história de descobrimento e colonização do Brasil se confunde com a história da diáspora africana e com o sistema escravista praticado em todo o mundo. Ainda que desde a Antiguidade a Europa fosse o centro cultural do ocidente conhecido, a África era o centro comercial: dali se exportava ouro e marfim, intelectualidade e mão de obra para todo o mundo que estava interligado por rotas comerciais
(Silveira, 2014, p. 51). Mesmo com a mudança dessa centralização comercial para a Ásia na Idade Média, o continente africano sempre permaneceu como rota de intermediação.
Já em meados do século XIII a Itália dominava esse mercado através de projetos expansionistas. Incentivados por esses mesmos projetos, e com o objetivo de dominar este mercado ou ao menos eliminar os atravessadores, os Portugueses tornaram-se pioneiros nas grandes navegações. Ainda de acordo com Silveira (2014),