Amor a três
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Sobre este e-book
Mas ao reencontrar Pedro, uma antiga paixão, o que era para ser só uma noite se transforma em um problema muito maior que o esperado, e traz de brinde uma conexão que ela não consegue ignorar. Na mais louca aventura de sua vida, Emília resolve dar uma chance ao destino; e ela, que não pretendia entregar seu coração a nenhuma pessoa, se vê apaixonada por duas.
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Amor a três - Drica Pimentel
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CAPÍTULO 1
— Nunca mais quero olhar na cara de um homem enquanto eu viver! — declarei, erguendo meu copo de cerveja. O décimo, pelas minhas contas. Depois do quinto, desisti de contar.
— Amém, irmã! — Juliana, minha melhor amiga, concordou, erguendo um copo vazio.
— Que todos morram de uma maneira dolorosa! — Beatriz, minha outra melhor amiga, emendou.
Era sexta-feira à noite, e o que era para ser a despedida da Bia — se é que poderíamos chamar de despedida, pois ela passaria menos de um mês fora — acabou se transformando em um muro das lamentações bem na sala do meu apartamento. Começamos com queijos e vinhos, evoluímos para as cervejas e amendoins, e agora, aparentemente, tínhamos chegado às lágrimas e reclamações.
Pudera! O último mês não havia sido fácil para nenhuma de nós. No espaço de trinta dias, eu tinha perdido um noivo, a Juliana havia assinado o divórcio e a Beatriz tinha se livrado do encosto do namorado. Morte aos homens era o mínimo que qualquer uma de nós podia desejar.
— Eu não acredito que ele me traiu! — Bia se levantou aos tropeços, lutando para alcançar o pote quase vazio de amendoins sem cair de cara no chão. — Aquele filho da puta! Eu espero que o pinto dele apodreça e caia!
— Ele e o cachorro do Marcos podem dar as mãos e ir direto pro inferno! — Ju gritou, como se tentasse notificar o capeta em pessoa de seus novos convidados. — Além de um traidor, ele ainda por cima é pedófilo!
— Você não falou que a menina tem vinte anos? — perguntei, num súbito rompante de lucidez.
— Cala a boca, Emília!
Ergui as mãos. Longe de mim falar qualquer coisa.
Olhei em volta. Já fazia duas semanas que Daniel tinha ido embora, mas era como se o apartamento ainda guardasse as impressões dele. O par de chinelos que ele usava quase todo dia ainda estava ao lado da porta, esperando-o chegar do trabalho, e a foto com John Lennon, nosso falecido gato, seguia firme e forte ao lado da TV. Seis anos de relacionamento e três de noivado vivendo sob o mesmo teto não se apagavam tão facilmente.
Noivado. Eu ainda me lembrava de como tinha sido o pedido. Foi no meu aniversário de 24 anos, na frente da minha família inteira. O anel ainda estava na minha mesa de cabeceira, onde eu o havia colocado na noite em que ele me disse que não queria mais se casar comigo. Não importava que os convites já tivessem sido enviados, que o salão estivesse pago, que meu vestido estivesse quase pronto, que o casamento fosse dali a um mês. Ele não queria mais. Ele não podia, eram as palavras exatas. Nunca entendi ao certo por quê.
Quando dei por mim, já estava chorando copiosamente, agarrada ao copo de cerveja como se minha vida dependesse dele.
— Ah, não, não, não, Emília, não! — Num átimo, Bia estava ao meu lado, passando os braços pelos meus ombros.
Juliana veio logo em seguida, apoiando-me pelo outro lado, e chorei pelo que me pareceu uma vida inteira. Minhas amigas murmuraram coisas incoerentes, bêbadas demais para me consolar de alguma forma eficaz. Quando me soltaram, percebi que haviam chorado junto comigo. Estávamos no mesmo barco, nós três, e esse barco estava furado e afundando.
— Não acredito que a gente tá chorando — Juliana brincou, nos fazendo rir. — A gente devia era estar fazendo eles chorarem.
— Desculpa, gente, fui eu que comecei! — Funguei, limpando as lágrimas e a maquiagem borrada com as costas da mão.
— Relaxa, amiga. Tá todo mundo meio mal.
Assentimos de maneira teatralmente sincronizada, e então ficamos quietas de novo. Como boa bêbada, uma vez aberta a porta da dor e do sofrimento, eu não conseguia mais fechá-la. Então funguei, sentindo uma nova onda de lágrimas a caminho, e disse:
— Vocês acham que ele nunca me amou? Ele terminou comigo um mês antes do casamento, então acho que não, né? Por que ele não me ama?
— Ah, não, amiga, não faz isso! — Bia me puxou de novo para um abraço. — Você não precisa do amor sem graça dele pra nada!
— Mas e se ele for o amor da minha vida? — continuei, a voz embargada. — E se ninguém nunca mais me quiser?
— Ai, maldita lua em câncer! — Juliana me chacoalhou pelos ombros. — Olha pra você, Emília! É claro que vão te querer! Vai ter uma fila de homens na sua porta, e aquele babaca do Daniel vai se arrepender! Já, já você tá de namorado novo!
— Deus me livre de namorado novo! — Bia disse em seguida, fazendo o sinal da cruz. — Investi dez anos da minha vida num encosto e olha só no que deu. A gente não precisa de namorado pra nada. Na real, a gente só precisa de homem pra transar e carregar sacola. Fim.
— Isso! — Ju aplaudiu, e em seguida bateu as mãos no colo. — Ai, gente, vamos fazer um acordo? Nada de ficar se lamentando por traste. Hoje é a última vez que a gente chora por causa de homem!
— Não sei se eu posso prometer isso. — Forcei um sorriso. Sempre fui a mais sensível de nós três. Dessa vez, foi Bia quem me chacoalhou.
— Consegue, sim! — disse ela. — E digo mais. A gente vai prometer aqui e agora que nada de celibato pós-término!
— Como assim? — perguntei.
Bia me soltou e se arrastou no chão até estarmos de frente umas para as outras.
— Amiga, a gente passou anos transando com as mesmas pessoas! Anos sem nem olhar pro lado — explicou ela, parecendo mais sóbria do que nunca. — E enquanto o Marcos tá transando com a novinha, o Felipe tá comendo aquela vagabunda e sabe-se lá o que o Daniel tá fazendo com a vida, a gente vai fazer o quê? Se matar de chorar e esperar o príncipe encantado?
— É claro que não! — Juliana gritou.
Meu Deus, eu ia tomar a maior multa de condomínio do século.
— Claro que não! — Bia concordou. — A gente vai sair e passar o rodo!
— Bia, você sabe que eu não sou assim… — comentei, torcendo o nariz. Sempre fui mais reservada, mais difícil de me abrir. Tive três parceiros na vida, e nunca transei sem compromisso. Não via atrativo nenhum em passar a noite com alguém com quem eu não gostaria de passar o dia.
Juliana estalou a língua.
— Tá bom, então não passamos o rodo, mas vamos prometer tentar conhecer outras pessoas? — sugeriu, ao que Beatriz concordou imediatamente. — A gente não vai ficar deitada vendo a vida passar, certo? Vamos sair, vamos viver, vamos tentar coisas novas?
— Isso! — Bia assentiu com veemência. — A gente já tá chegando aos trinta. Eu não quero olhar pros meus vinte daqui a alguns anos e pensar: Uau, eu perdi tempo chorando por ex
. A gente merece mais.
— Sim! A gente merece mais!
Sorri, de súbito empolgada pela empolgação delas.
— A gente merece mais! — repeti, e fui ovacionada com gritinhos e abraços.
— Então é isso? Temos um pacto? — Bia perguntou, colocando a mão com a palma para cima bem diante de nós.
— Temos um pacto. — Ju pôs a mão sobre a dela.
Olhei para elas um segundo. Mesmo embriagada, tinha certeza absoluta de que não conseguiria cumprir com aquela promessa. Eu era certinha demais, caxias demais. Provavelmente ia chorar aquele término pelos próximos meses e não me envolveria com ninguém por pelo menos um ano. Era assim que eu funcionava.
Mas elas nunca me deixariam em paz se eu não concordasse. E eu, naquele momento, queria muito que aquilo se tornasse real. Então pus minha mão sobre as delas e sorri.
— Temos um pacto.
CAPÍTULO 2
Acordei completamente destruída na manhã seguinte.
Eram quase quatro da manhã quando as meninas foram embora. Chorei até dormir e só peguei no sono quando o sol estava nascendo. Levantei no sábado quase na hora do almoço, a cabeça latejando pela ressaca e o coração ainda dolorido.
Entrei no banheiro e ergui a mão pra proteger os olhos da claridade. Pesquei um remédio para dor de cabeça na gaveta e engoli sem nem precisar de água. Só então me olhei no espelho.
Eu estava um caco. Meu cabelo, que estava sempre arrumado e penteado para valorizar