O homem que gostava dos russos: e outros contos
De Rafael Bassi
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O homem que gostava dos russos - Rafael Bassi
riso
Introdução
Esse livro é o resultado de alguns anos, muitos rabiscos, muito rascunho. Entretanto, cabe ressaltar o apoio fundamental dado por meu amigo Arthur Telló, com alguns comentários fundamentais e algumas horas de discussão sobre livros; Fabíola de Paola, que tem uma sensibilidade para literatura como poucas pessoas que eu conheci; Felipe Karasek leu alguns dos textos e disse que era um editor igual ao de Carver; e também Patrícia Zanella, cujo olhar atento fez com que o texto não parecesse um grande experimentalismo gramatical.
Agradeço a Luís Henrique Pellanda, pelo aceite em fazer uma leitura dos originais e pelas belas palavras que estão na orelha desse livro. Os comentários de Luiz Antonio de Assis Brasil foram muito generosos, assim como é o próprio Assis, um dos grandes nomes entre os grandes nomes das letras portuguesas. A todo o grupo da Editora Gato Bravo, pelo carinho no trabalho completo de elaboração desse livro. E não poderia deixar de mencionar, mais uma vez além da dedicatória, Bárbara Menegotto, que foi uma editora extremamente dura em sua leitura, mas, também, fundamental. A todos que, de certa maneira, me incentivaram, registro aqui meu agradecimento.
3 Porteñas e 2 quase
A decisão de Cortázar
Júlio estava sentado em sua poltrona bastante confortável. O apartamento era pequeno, como convinha ao seu salário de professor e tradutor, mas bastante aconchegante, com livros nas paredes, uma luminária ao lado da poltrona que, por sua vez, encontrava-se ao lado da janela. Era assim que Júlio passava suas tardes e suas noites, lendo e pensando.
Lia sobre John Keats, porque estava escrevendo um contra-livro universitário sobre o poeta, e pensava, toda vez que repousava sua visão sobre uma pequena escrivaninha que tinha ao lado da prateleira de livros, no que precisava fazer para mudar as coisas. Nela, encontrava-se o bilhete que tinha recebido sobre a morte de André Gide, em Paris, em 19 de fevereiro de 1951, um dia antes dessa cena que se descreve aqui.
Não tinha mais tantas certezas sobre nada, principalmente sobre a sua própria condição de educador. Defendia a liberdade, acreditava na democracia, mas estava descontente tanto com o que escutava de alguns de seus alunos quanto com o sistema político vigente na Argentina. O mundo que Cortázar acreditava esfacelara-se, e ele via, pela janela, que o calor era demais naquele início de ano.
Em meio às incertezas que tinha, trazia em si a vontade. Vontade de viver. Viver entre livros, sem a certeza de nada, aberto para as vontades próprias que os acontecimentos ocasionais pudessem lhe dar. Olhava sua Olivetti e via nela uma amiga, uma defensora desses mesmos ideais.
Era, claramente, um homem voluntarioso. Sempre disposto a ajudar aos seus alunos, a responder-lhes sobre o que necessitavam. Adorava as discussões acerca da literatura e da sua importância para a compreensão de que o ser humano é um ser interessante a ponto de ser relatado. Queria terminar de vez de amontoar os seus contos e publicá-los. Achava que já era hora de ver o seu livro saindo. Demorara porque acreditava que os textos não eram aquilo que ele queria. Mas agora não, eles estavam prontos. E ele estava pronto.
Olhou para o relógio, viu que eram 17h40 e resolveu sair para caminhar, agora que o sol já deixara de ser o mesmo da quentura do meio-dia. Foi caminhando pelas ruas de Buenos Aires, que a ele tanto encantavam, e observou-as com calma. Como quem vê alguém e sente um deslumbramento. Por certo que sempre fora assim. Mas nesse dia estava em estado de êxtase. Entre um cigarro e outro, via-se parado em alguma esquina, olhando algum prédio e pensando: Sim, esse prédio tem uma beleza que eu gosto!
Por fim chegou ao London Café, onde sentia-se à vontade e em casa. Ali escrevera muito. E lera também. Era conhecido dos garçons, que sempre lhe saudaram com bastante carinho e lhe deram atenção. Nunca reclamaram das várias horas em que ele passava no canto, ao fundo, perto da janela, somente com um café, uma medialuna e, depois de um bom tempo, um outro café.
Sentou-se e não tirou nada. Nem um livro, nem um bloco de anotações. Apenas ficou visualizando o ambiente. Como aquela decoração lhe agradava. Como via naquelas luminárias uma beleza sem igual. Ficou apenas observando, com o pensamento distante, talvez pensando em Keats, talvez pensando na sua alma tomada, por desejo e por medo, por vontade e por indignação, acompanhados sempre com um tom de penúria e lamento.
Pediu um café, que chegou rápido, porque estava um dia calmo no London. Veio também uma medialuna.
Comeu a medialuna rapidamente, porque elas não devem ser deixadas no prato, em nenhuma hipótese. E o café foi tomando aos poucos, como quem pensa que o final do líquido não pode chegar, porque seria como o final de um conto que não se quer que acabe.
Ao sair do café, pensou ao olhar firmemente para a Avenida de Mayo que não a veria mais com os mesmos olhos. Se é que alguma vez a teria visto unicamente, a mesma. Não era. Ao olhar para a esquerda, a Casa Rosada. Nesse momento lhe dava asco. E não compreendia o porquê de as pessoas não sentirem o mesmo. Mas não, Júlio, não, as pessoas não sentem, nem agem racionalmente. Quantos golpes irracionais a política ainda teria? Quantas vezes o povo aclamaria aos calhordas, porque usariam um discurso encantador? Muitas vezes, querido, muitas vezes. Não há possibilidade de acreditar que a racionalidade vá vencer nessas questões. Você sabe, certamente sabe, que esse talvez seja o único momento em que a razão deva prevalecer. Deveria ser na política. Na literatura, a imaginação transporia a realidade de uma maneira verdadeira, muitas vezes sem o uso da razão. Você sabe que um dia a casa pode ser tomada, sem saber por quê, sem saber por quem. Mas sabe também que na política deveria imperar o uso da razão, mas nunca acontecerá. Foi triste a conclusão a que você chegou, meu querido Júlio. Chegamos todos nós? Acho que não.
Acontecerá, sim, meu caro!
, diria Júlio, desde que se note que chegamos ao fundo e que agora temos que mudar…
Acontece que eu sou pessimista, Júlio.
Eu também,
disse, pensativo. E é por isso que tomei essa decisão.
Porque a busca que ele se impôs naquele momento era baseada em si mesmo. Não teve — e a real questão que deve ser feita é: não quis? — nem ao menos a consideração por sua mãe, pois sabia que naqueles tempos não se era tão fácil de falar com ela, de vê-la, de abraçá-la, estando distante. E ele sabia que esse abraço iria fazer muita falta nos