A flauta e a lua: Poemas de Rumi
De Rumi e Marco Lucchesi
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Sobre este e-book
No esforço de desvendar o sistema literário persa do século XIII – uma complexa trama que associa o turco, o árabe e o persa –, Lucchesi contou com os especialistas Luciana Persice e Rafî Moussavî para apresentar as traduções de alto nível técnico de parte significativa da obra lírica de Rûmî: poemas extraídos de Divan Shams de Tabrîz, uma obra com cerca de 40 mil versos, além de uma série de quadras – a forma mais popular e musical da poesia persa –, colhidas do volume Rubayat.
A flauta e a Lua se completa com estudos críticos dos teólogos Leonardo Boff e Faustino Teixeira, e um vigoroso ensaio fotográfico em torno das terras e paisagens do Irã (parte do antigo território persa), assinado pelo fotógrafo italiano Riccardo Zipoli. Como lembra Lucchesi, citando Goethe: "Deus é Ocidente. Deus é Oriente. E Rûmî, essa ponte. Esse traço de união".
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A flauta e a lua - Rumi
© Bazar do Tempo, 2016
© Marco Lucchesi, 2016
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 12.2.1998.
É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.
Este livro foi revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
EDITORA
Ana Cecilia Impellizieri Martins
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Maria de Andrade
PROJETO GRÁFICO E CAPA
Victor Burton
DESIGNERS ASSISTENTES
Adriana Moreno
Anderson Junqueira
FOTOS
Riccardo Zipoli
REVISÃO TÉCNICA
Safa A-C Jubran
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS
Kathia Ferreira
REVISÃO
Leandro Salgueirinho
PRODUÇÃO GRÁFICA
Cristiane de Andrade Reis | Miradouro
CONVERSÃO PARA EPUB
Cumbuca Studio
L934 Lucchesi, Marco
A flauta e a Lua: poemas de Rûmî / Marco Lucchesi. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016.
208 p.: il., fotogrs.; 14x21 cm.
ISBN digital: 978-65-86719-10-9.
1. Jalâl ad-Dîn Rûmî, Mawlânâ, 1207-1273 – Crítica e interpretação. 2. Poesia mística. 3. Poesia sufi. 4. Literatura persa. 5. Tradução e interpretação. I. Teixeira, Luiz Couto Faustino. II. Boff, Leonardo. III. Moussavi, Rafi trad. IV. Persice, Luciana trad. V. Lucchesi, Marco trad. VI. Título.
CDD 891.551 CDU 821.222.1
BAZAR DO TEMPO
Produções e Empreendimentos Culturais Ltda.
Rua Alexandre Stockler, 353 – Gávea.
22451-230 – Rio de Janeiro – RJ
contato@bazardotempo.com.br
www.bazardotempo.com.br
Este livro é dedicado à saudosa memória de Armando Eric de Carvalho, Kitty de Carvalho e Daniela Connoly
Sumário
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Nota introdutória
Marco Lucchesi
Pequeno quadro de transliteração
Rûmî: a dança da Unidade
Marco Lucchesi
Poemas de Rûmî
I. A sombra do Amado
Tradução de Marco Lucchesi e Luciana Persice
II. O canto da Unidade
Tradução de Marco Lucchesi e Rafî MoussavÎ
Notas sobre os poemas
I. Notas para A sombra do Amado
Marco Lucchesi
II. Notas para O canto da Unidade
Marco Lucchesi
Rûmî: diário de um tradutor
Marco Lucchesi
Bibliografia
Ensaios
A flama do coração: perspectivas em Rûmî
Marco Lucchesi
O eixo do amor:
Leonardo Boff
Bibliografia
Imagens, uma geografia
Índice de primeiros versos
Sobre os autores
Landmarks
Folha de Rosto
Página de Créditos
Dedicatória
Sumário
Capa
Marco Lucchesi
Nota introdutória
A flauta e a Lua reúne dois livros do poeta afegão Jalâl ad-Dîn Rûmî ( 1207 - 1273 ), revistos e articulados para formar um novo espaço: A sombra do Amado: poemas de Rûmî (quarta edição, prêmio Jabuti de Tradução) e O canto da Unidade: em torno da poética de Rûmî (prêmio Mário Barata de Ensaio da UBE), este reunindo quartetos do poeta. Sete anos dividem as primeiras edições dessas obras – publicadas no Brasil em 2000 e 2007 , respectivamente, com o selo da extinta editora Fissus –, que se encontram hoje esgotadas.
A tradução dos quartetos foi feita diretamente do persa (edição Forouzanfar), em colaboração com Rafî Moussavî, funcionário da embaixada do Irã em Brasília, ao passo que os poemas de A sombra do Amado foram traduzidos a partir das obras de Vitray-Meyertovitch, em francês, de Alessandro Bausani, em italiano, de Annemarie Schimmel, em alemão, de Reynold e Nicholson, em inglês, assim como os quatro volumes de Nevit Ergin, com a colaboração de Luciana Persice, professora de Literatura Francesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O motivo desse duplo movimento – a utilização de fontes diretas e indiretas – é bastante simples: de A sombra do Amado a O canto da Unidade o tradutor aprofundou seu conhecimento da língua de Rûmî.
Meu reconhecimento à Bazar do Tempo pela proposta de retomar o diálogo com um dos maiores poetas de todos os tempos, além de, com este novo livro, inaugurar uma série voltada para os autores clássicos orientais.
Pequeno quadro de transliteração
¹
Para vocábulos das línguas persa e turca, algumas adaptações foram feitas, tais como a marcação das vogais longas, como na língua árabe.
¹ Tabela originalmente criada para esta edição por Safa A-C Jubran, professora de Língua e Literatura Árabe da Universidade de São Paulo (USP).
Marco Lucchesi
Rûmî: a dança da Unidade
Und was dir blüht. Sogleich wird es veralten.
GOETHE, WEST-ÖSTLICHER DIVAN
Desde minha primeira e única visita a Konya, na Turquia – era um inverno terrível e os dervixes dançavam –, fiquei impressionado com a devoção dos peregrinos, vindos em sua maioria do Irã, do Paquistão e de muitas cidades de regiões próximas. Decidi então que devia buscar um melhor conhecimento de Mawlânâ Jalâl ad-Dîn Rûmî e tentar, mesmo que de forma extensiva, a tradução de um punhado de seus versos em português. A busca da verdade. A busca da palavra. E o som da flauta, ao meu redor. E uma delicada luminosidade a teimar com as sombras. E uma certeza, tirada dos versos de Goethe. Deus é o Ocidente. Deus é o Oriente. E Rûmî, essa ponte. Esse traço de união. Essa presença viva dentro e além das terras do islã.
Jalâl ad-Dîn nasceu em Bali, no Iurassân, atual Afeganistão, em setembro de 1207, no seio de uma família de juristas e sábios. Os nomes Mawlânâ e Rûmî foram-lhe atribuídos posteriormente para significar, respectivamente, nosso senhor
(nosso mestre) e bizantino
(da Anatólia romana). Seu pai, Bahâ’ ad-Dîn Muhammad, era filósofo e erudito de marca – sultão dos sábios –, num tempo em que os teólogos desferiam ataques ao ultrarracionalismo. Apesar de sua fama (ou por causa dela), ameaçado pelas intrigas dos cortesãos e temendo a presença das hostes de Gengis Iân, Bahâ’ ad-Dîn deixou o palácio do xá de Iurassân e seguiu com a família para Nîšâpûr.
De 1213 a 1228, passaram por Bagdá, Meca e Medina, Damasco, Larinda e Jerusalém – santuários vivos do islã. Depois de uma infância tranquila e uma adolescência de múltiplas dimensões geográficas e culturais, Jalâl ad-Dîn Rûmî casou-se com Gevher Hatun, amiga dos primeiros anos, e prosseguiu os estudos, aprofundando conhecimentos de sufismo e teologia. Teve como mestre Burhân ad-Dîn Walad, com quem comentou os Hadîts e o Alcorão. Data de 1229 sua chegada a Konya, de onde não mais sairia. Após a morte de Bahâ’ ad-Dîn, ocorrida pouco depois, Rûmî completou sua educação formal entre Aleppo e Damasco, vigorosas capitais da ciência. Em Konya, consideravam-no um califa (vice-rei de Deus) de erudição, enquanto renomados filósofos e místicos, como Ibn cArabî, debatiam com ele quaestiones disputatae. Seus discípulos multiplicavam-se. Uma vida de estudo e meditação. Uma vida serena, voltada para Deus.
Foi no outono de 1244 que a vida de Jalâl ad-Dîn se transformou, tão logo encontrou Šams ad-Dîn, velho nativo de Tabrîz (na atual região do Azerbaijão Oriental) e grande místico, da tribo dos Assassin, de Hassan Sabbâh. Šams buscava um homem que pudesse guiá-lo para níveis fortes de adesão mística. Esse homem seria o Ímã secreto, o Amigo Divino. Šams juntava-se a algumas caravanas, chegando a passar dias a pão e água, mas, uma vez descoberta sua identidade, fugia imediatamente à procura de outros grupos, pois desejava um guia, não discípulos.
šams e Rûmî passaram meses isolados, em comunhão espiritual, em conversação mística. Inspiraram-se mutuamente. Buscaram o abandono nos braços do Amor. A união com o Misericordioso. E seus jardins. E seus palácios. Trataram do samâ’ (dança celeste), que caracteriza tão fortemente a tradição da fraternidade mevleviyye (onde o bater os pés marca a submissão da carne; o abrir os braços, o caminho da perfeição; e a prostração, a humildade do homem diante de Deus).
Um acontecimento doloroso, contudo, pôs fim a este que é dos capítulos mais formidáveis da amizade entre os homens: o assassinato de Šams, praticado provavelmente por um dos discípulos de Jalâl ad-Dîn. E a dor atingiu um grave sentimento