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Amor e Outras Aflições
Amor e Outras Aflições
Amor e Outras Aflições
E-book476 páginas5 horas

Amor e Outras Aflições

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Sobre este e-book

"Amor e Outras Aflições" é uma coletânea de contos escritos por Jonathan Finch ao longo de 30 anos da sua vida. Como o título sugere, os contos dialogam com diversos problemas e aflições que uma pessoa pode viver ao longo de sua vida, como desilusões amorosas ou a morte de alguém próximo. 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento14 de jun. de 2020
ISBN9781071551813
Amor e Outras Aflições

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    Pré-visualização do livro

    Amor e Outras Aflições - Jonathan Finch

    AMOR E OUTRAS AFLIÇÕES

    (UMA COLETÂNEA DE CONTOS LITERÁRIOS)

    JONATHAN FINCH

    TRADUÇÃO FERNANDA MARTINS F. DE ARAUJO

    Amor e Outras Aflições

    Escrito por Jonathan Finch

    Copyright © 2017 Jonathan Finch

    Todos os direitos Reservados

    ISBN: 197587272X

    ISBN-13: 978-1975872724

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Fernanda Martins F. de Araujo

    Babelcube Books e Babelcube são marcas registradas de Babelcube Inc

    Dedicatória

    Para Aureliano e Wanna, por sua ajuda ao longo dos anos, e para Kamonchanok por trazer tanta felicidade em minha vida.

    SUMÁRIO

    CANTA, DE MOMENTO A MOMENTO, AMOR, A VOCÊ ..............................................................................................

    A PRIMEIRA ARTE DO SR. FYN (DOS ARQUIVOS DA SALA LITERÁRIA B) ..................................................................

    O TIO DE KATHERINE ........................................................................................................................................................

    O CHEIRO ...........................................................................................................................................................................

    O CAPITÃO FURÃO .........................................................................................................................................................

    A PLANTA CARNÍVORA DO SR. BOGGIS .........................................................................................................................

    NO PONTO DE ÔNIBUS / NO ÔNIBUS ............................................................................................................................

    A MEDICINA DA VITÓRIA .................................................................................................................................................

    O APARTAMENTO E O PÁTIO .........................................................................................................................................

    O ESCRITOR ADOLESCENTE .............................................................................................................................................

    MAL-INTERPRETADO EM GESTO, PALAVRA E AÇÃO ....................................................................................................

    A CARTA DE NORTH PARA SI MESMO ..........................................................................................................................

    A CARTA DA LEI .................................................................................................................................................................

    LESLIE PROPENSITY (OU A MORTE DE QUINTA CATEGORIA) .....................................................................................

    AUTOCONHECIMENTO (UM MEMBRO DA SOCIEDA ABASTARDA SE PRONUNCIA) ...............................................

    KEN ESTÁ LÁ ......................................................................................................................................................................

    DUAS VEZES .......................................................................................................................................................................

    A LOQUAZ E LONGA VIDA DE DOUTOR BUTE, ILUSTE PSICOANALISTA, LOUCO IMINENTE, FUNDADOR DA PSICOSSOMABOBAGEOSE (UMA DOENÇA MENTAL), COMO REGISTRADO POR TRAVOR LEFT, PACIENTE DE UMA ÚNICA VEZ DO DOUTOR BUTE ............................................................................................................................

    MALÍCIA ARBITRÁRIA (UM CONTO DO ÚLTIMO SÉCULO) ........................................................................................

    A HISTÓRIA DO FRANCÊS E DO ESCOCÊS BRAVOS NA ESCÓCIA ...........................................................................

    WALTER WHITLOW, E LOGO ANTES DO NATAL ......................................................................................................

    O DISCURSO SOBRE O NEVOEIRO ..............................................................................................................................

    ROMA EM UM DIA DE NEVE ........................................................................................................................................

    MENTE FECHADA .......................................................................................................................................................

    UMA NOTA SOBRE OS BOSQUES ...................................................................................................................................

    NOTÍCIAS DO KAZAKHSTAN (O DIA QUE UM APARTAMENTO SE TORNOU CARRO E UM CARRO UM APARTAMENTO) ....................................................................................................................................................

    AMOR MATERNAL ........................................................................................................................................................

    ELES ESTÃO TE PROTEGENDO? ...........................................................................................................................

    TESCO BINGO BINGO TESCO (JACK COHEN COMPROU CHÁ DE THOMAS EDWARD. ELE FEZ NOVAS ETIQUETAS UTILIZANDO AS TRÊS PRIMEIRAS LETRAS INICIAIS DO NOME COMPLETO DE SEU FORNECEDOR (TES) E AS DUAS PRIMEIAS LETRAS DE SEU SOMBRENOME (CO), E BONGO BINGO TESCO!) ................................................................................................................................................................................

    DIA TERRÍVEL DE COINCIDÊNCIAS (APOSTADORES, CUIDADO!) ................................................................................

    ATIRANDO CEBOLA ....................................................................................................................................................

    A DISSERTAÇÃO DE H.M. PENSAMENTO .....................................................................................................................

    KOWALSKI ..........................................................................................................................................................................

    COMEÇANDO UM CONTO ...........................................................................................................................................

    ELE (É LOUCO) ................................................................................................................................................................

    O HOMEM AFUNDADO .................................................................................................................................................

    A ORDEM DO MESTRE ..................................................................................................................................................

    QUATTROCENTO ............................................................................................................................................................

    UMA TRISTEZA SELVAGEM VISITA SEU DENTISTA  ........................................................................................................

    APRECIAÇÃO DO FILME (DO SÉCULO PASSADO) .......................................................................................................

    GREENLEAVES ...................................................................................................................................................................

    MESSAGENS DE UMA CAIXA .........................................................................................................................................

    HÁ MUITO TEMPO ATRÁS ...............................................................................................................................................

    A CHUVA ...........................................................................................................................................................................

    O JOVEM NA UNIDADE DE AVALIAÇÃO .......................................................................................................................

    DESCIDA AO PORÃO .........................................................................................................................................................

    SUJEIRA SAUDÁVEL ........................................................................................................................................................

    O GAROTINHO E O BONECO DE NEVE QUE GANHOU VIDA ......................................................................................

    OS SAPATOS .......................................................................................................................................................................

    PATÉTICO (UMA HISTÓRIA DO AMOR MODERNO NÃO-CORRESPONDIDO)  ........................................................

    O INFORTUNO E FYODOR FASTBENDER ......................................................................................................................

    O DONO DO RESTAURANTE ...........................................................................................................................................

    UM BOM DIA ....................................................................................................................................................................

    FRAGMENTOS ...................................................................................................................................................................

    CONSTERNAÇÃO EM MOSCOU .....................................................................................................................................

    SOBRE O AUTOR ................................................................................................................................................................

    SOBRE A TRADUTORA .........................................................................................................................................

    CANTA, DE MOMENTO A MOMENTO, AMOR A VOCÊ

    Como uma criança em Nice, lembrava de comer com eles circulando ao redor do abajur claro, escutando o som de suas asas, enquanto a noite entrava sorrateiramente nas montanhas escarpas, e ele saía no vento pesado e tempestuoso para se livrar do barulho. Ele se lembrou que tinha visto, na Irlanda, um deles se chocar contra o vidro da janela, um cão grande se aproximou dele e trac!, ele se foi. Ele tinha gostado daquilo. Recordou-se anos depois enquanto lia um poema de amor, escrito por um homem de letras eminentes, referente ao despertar do poeta sobre o ruído pulsado e repelido através do interior de uma sala e esse barulho inspirou o poeta a amar Mary: 

    - [...] pois canta, de momento a momento, amor, a você.

    Ele não tinha gostado disso e depois odiou o poeta.

    Mais tarde, a vida o empurrou, picou, espetou e o esmurrou como um nojento pugilista. Sim, ele amou Mary e a manteve por perto, mas ele estava nauseado por anseios físicos presos nos movimentos de suas coxas, o balançar de seus peitos, pela queda de suas costas e lombos. Ela era jovem, mas ele era tão indecente e seu apetite era tão baixo. Um dia ele a amaria e depois a detestaria, pois ela era tão atraente para ele e muitos outros homens. Ele sentia que outros homens desejavam satisfazer seus apetites com ela e sobre ela. Ele também queria, mas ele pararia para ajudá-la a levantar caso desmaiasse ao sair do banheiro e nunca olharia para sua pálida nudez, não, nem uma vez. Ela a deixaria intocável, imaculada e incorrupta. E essa era a diferença entre ele e os outros homens. Sozinho, ele extinguia seu apetite, manchando sua mente com sujas pornográficas, mas ela permaneceria intocável, imaculada e incorrupta. Ele apresentaria esse ponto gritando com ela e uma vez batendo nela. Ela se curvou e escondeu seu rosto em suas mãos enquanto ele tremia.

    - Oh, Mary – Chorou – Me desculpe. Por favor, me ajude. Estou tão infeliz.

    E então, ele ouviu sobre o livro de William Golding, viu uma cópia, olhou para o título com horror e acordou um dia com o incessante e detestável ruído. Bangue, gangue, bangue! Chocou-se contra o vidro da janela. Ele não tinha fechado as janelas na noite anterior, o sol de maio inundou o cômodo. Incessantemente, reparou aquele ruído, o detestável som. Ele foi para o andar de baixo, encontrou um pote de geleia e se arrastou para cima, no luminoso cômodo. Era sete da manhã, e seus pais ainda não tinham acordado. Lá estava aquilo. Ele viu as assas tremulas enquanto voava. Bang, gang, bang! Aquilo se rastejou janela acima. Ele foi colocando o pote cada vez mais próximo, até que, com um ágil movimento de braço, ele o prendeu. 

    A luz do sol refletiu em suas asas com o formato de teia de aranha – a cor de fleuma. A mosca zumbiu e voou em direção ao lado do vidro, então ao se estabelecer, com movimentos curtos, subia pelos lados das paredes arredondadas de sua prisão, a cisterna. Ele sorriu. Era o espólio cheio de moscas varejeiras, mas se orgulhava disso. Orgulho é um pecado capital. Ele aproximou sua face mais perto e perto. Nunca tinha olhado tão atentamente e nunca tinha sentido tanta náusea tão intensamente. A mosca estava se contorcendo, sua vida sacudindo com o barulho débil dentro do pote. Ele a mataria, mas como? Afogando-a. Ele sorriu. A justiça de sua morte o agradava, ele pensou, tal como Otelo.

    - Você vai precisar ser um nadador de longa distância para sair dessa vivo, mano. – Ele disse se direcionando para a mosca.

    - Você sabe o que é uma maratona? – Ele zombou – Bom, se prepare, pois você é o único competidor e adivinhe? Você vai se perder, afogar-se, fungar-se e ser destruído da sua nojenta e espiral vida de inseto! O seu destino é o encontro com o afogamento. Entendeu?

    Sim, infelizmente, foi isso o que ele disse, gritando para a quase inocente mosca varejeira, o encerramento lírico de uma forma plena, repugnante e tola. Como se sentisse o perigo, a mosca levantou-se monumentalmente, voou desagradavelmente e se instalou mais uma vez. Perfurou-o com uma nefasta cara de mosca, olhando-o através do pote.

    Ele foi até o banheiro e encheu a bacia, depois colocando o frasco submerso e abriu a ponta. A mosca imediatamente subiu à superfície muito próximo do lado branco da pia. Lutou e subiu para o lado reto de esmalte da bacia branca. Ele a encarou, não sabendo o que fazer. Rastejou-se para cima e o zumbido cresceu para o ar. Como um meteoro, derramando leve gotas d’àgua, ele se aproximou em frente aos seus olhos atônitos. Ele pegou um jornal. A mosca assentou-se no espelho. Ele a esmagou com o papel enquanto, simultaneamente, entregava:

    - Sua narcisista de merda, seu admirador, você se acha uma beleza de mosca varejeira...

    Smash, plaft. A façanha foi realmente feita, e ele encarou suas entranhas esmagadas no espelho. Ele notou com horror que a mosca esmagada cobria parte de seu rosto refletido no espelho. Não iria aceitar qualquer punição pós-morte da azulado varejeira. Ele rasgou um pedaço do jornal, limpou a mosca do vidro e a colocou na pia. Checou a água circulada para ter cem por cento de certeza que o inseto mordo descia o vórtice.  Sem rodeios da mosca cocozenta para balançar e lembrá-lo de seu feito. Ele se estragou e sorriu pela segunda vez naquela manhã ao perceber que a excrescência excremental permaneceu presa no esgoto para sempre.

    Dois dias depois, o que parecia ser uma mosca varejeira ainda maior do que a anterior correu para seu quarto através de uma janela aberta e circulou feito louca, um buzz verde-azulado. Ele estava tentando dominar a visão irônica de Jane Austen e a sua versão de mundo, mas a mosca mandou a ironia do século dezoito para o espaço. Aposto que ele pensou Jesus amado, ou o equivalente, sobre aquela mosca. O mundo dos insetos está querendo se vingar!. Ele subiu bem perto dele, com o nariz próximo aquela mosca repugnante e ficou boquiaberto. Ele pensou que tinha visto a sujeira em suas patas traseiras, onde tinha se rastejado nos excrementos de um lixão. Suas asas eram nojentas e azuis, e seu corpo preto zumbia. Ele já tinha tido o suficiente. Aquele desagradável zumbido o atingiu e, como um barulho esfomeado, adormeceu seu fraco cérebro cruamente. 

    Obcecado, perplexo, deprimido, ele sentiu que poderia entrar na linha da mosca, pensou ouvir aquele zumbido horrível quando havia um silêncio virtual por toda casa, pensou que o espelho estava manchado quando estava limpo. Quando ele entrava em qualquer cômodo, olhava ansioso para qualquer parede, janela, lâmpada, esperando ver a criatura que estava se fixando sua fixação, adulterando com sua baixa e média concentração, escaneando seus sonhos acadêmicos e lentamente o levando a um estado quase frenético. Eu não era assim há dois meses, ele refletiu. Aquilo o fazia chorar. Quem pode me ajudar?, chorava até a parede, a autoestima como um poço próximo de uma queda.

    Quem de fato?

    Quando estava em seu quarto, ao começar quaisquer atividades, seja trabalho ou jogo masturbatório, ele sentava, ficava quieto e escutava. Quando saia e voltava dois segundos depois, ele imaginava que uma mosca havia entrado no quarto e acabado de voar para a janela aberta, mas antes ela tinha se assentado, manchado e contaminado. Ele se pegava fechando todas as janelas de seu quarto e depois de toda a casa. Um dia, teve a brilhante ideia que moscas e revistas pornográficas poderiam muito bem se esconder debaixo de sua cama ou entre o lençol e os livros. E foi isso. Checava algumas vezes e depois checava sua checagem. Ele se concentrava por cinco (minutos) até que pensava que precisava checar novamente, então, naturalmente, ele ia e checava de novo. E de novo.  Ele trabalhava de forma lenta, dolorosa, letárgica e cansativa, e não chegou a lugar algum. Seu psiquiatra, aquele que, por falta de senso de dever profissional tinha um acordo dissimulado com a polícia local, pelas suas costas, deu-lhe tranquilizantes poderosos, sedativos e antidepressivos. Ele empurrava uma boa parte goela abaixo, depois bebia um copo de água morna para limpar seus ajudantes. Quanto posso doar a balbúrdia, se questionou. Como posso fazer minha insanidade trabalhar?.

    Uma noite, sua mãe perguntou:

    - Por que você está fechando todas as janelas? É verão. Estamos próximos de seu aniversário.

    Ele saiu correndo em direção a porta, explodindo em lágrimas. Como ela pode ser tão insensível?. Chegando em seu quarto, onde todas as janelas estavam fechadas, pensou que viu uma mosca. Sim, mas agora não era uma mosca, mas tinha sido uma mosca. Ali, uma varejeira tinha se rastejado por toda sua cadeira, por sua mesa e tinha se agachado em seu lençol branco. A partir daquele momento em diante, decidiu não usar mais a cadeira, a mesa ou o lençol. Tornar as coisas inúteis o fazia se sentir bem por uma hora ou duas, mas ele achava, depois de um tempo, que não poderia mais pensar e, como a cadeira estava contaminada, era melhor coloca-la no jardim, jogando-a de uma janela do primeiro andar. Na mesma noite, Tabby, o gato da casa, levou um poderoso susto e viu a cadeira caindo em frente a um rato que queria pegar, morder, brincar com, poderosamente dominando para mostrar quem era o gato da casa. Na verdade, o rato também levou um grande susto. O gato e o rato estavam unidos por um breve segundo, fundidos por um medo comum de objetos voadores, os quais eram impulsionados pela adolescência psicanalisada por médicos bem sucedidos sem sucesso analisando (se você entende o que quero dizer, e provavelmente não, mas não se preocupe, pois nada é dificilmente explicável). Ele jogou o lençol na mesma noite, mas se cansou e pensou melhor antes de lançar sua pesada mesa.

    Escrever uma carta? Ele pensou. Não, a mesa, a mesa! Deitar e dormir? Somente se ele fechasse tudo, alterar a folha alterada, inspecionar, verificar e reverificar. Ele não podia tocar em Mary por medo de contaminá-la com suas mãos que podem ter, acidentalmente, tocado em algum item em seu quarto, o qual foi tocado por uma mosca ou um inseto que não tinha conseguido exterminar.  Quando abriu sua Jane Austen, ela não lhe fez bem algum. Ele não podia se concentrar. Ele não podia estudar. 

    E então esse dia chegou, e depois que chegou, ele veio e ali, depois de ter chego, aproximou-se a aterrorizante Mary e, para seu horror, ele viu suas mãos e braços se esfregando, contorcendo-se e varejeirando-se. Seus olhos saltaram, e ao saltarem eles pararam em paradas. Pararam. Sua voz zumbia:

    -  Saia daqui! – Ele gritou de repente para Mary.

    Ele olhou de relance para o real inimigo e era ela! Ela o encarou. Ela tinha escutado o "Zzbbuzzwweeeeeiiiii". Ele a circulava, voando de maneira estranha. Ela tinha tido o suficiente daquilo e colocou alguns metros entre ele e ela.

    Algumas noites depois, seus pais o encontraram imóvel, de pé, no meio da sala de estar. Quieto, quieto e imóvel. Ele estava sem movimento, emocionado.

    - Sente-se – Disse gentilmente seu pai, observando-o com apreensão. Ele o encarou e impotentemente moveu seus braços. – Sente-se – disse o Pai com mais firmeza.

    Ele nada fez. Ele não podia sentar. Não tinha voz. Não podia responder. Olhou para sua mãe e seu pai:

    - Buzz – disse lamentavelmente, e depois agressivamente adicionou – Buzz-BUZZ!

    Sua mãe começou a chorar:

    - A Mary fez isso – Choramingou.

    Ele bruscamente andou até a porta, esfregou suas mãos erraticamente uma contra a outra:

    -  Foi a Mary que fez isso – Choramingou.

    Após várias horas, ele mais uma vez ouviu o queixoso hino e estava cantando, amor, a ele.

    A PRIMEIRA ARTE DO SR. FYN

    (DOS ARQUIVOS DA SALA LITERÁRIA B)

    Há um tempo atrás, recebi uma carta peculiar. Para a veracidade da história, citá-la-ei por inteiro:

    Sua referência: S.U.A.R.E.F.E.R.Ê.N.C.I.A.

    Ullage Limited

    The Lane

    Undon

    S.E.1

    Data desconhecida

    Caro Sr. Fyn,

    Escrevo esta carta para lhe informar que, ao receber tal a informação, estamos lhe informando que a partir de amanhã, considera-se sua presença supérflua na prestigiada instituição indicada acima.

    Pedimos para que faça algo a respeito da informação que estamos lhe informando.

    Atenciosamente,

    O Escritório de Informação

    Depois de ler essa estranha carta (que não tinha intenção de responder), entrei no chuveiro, usando apenas um sungas por uma questão de modéstia. Quando sai do banho, olhei novamente para carta, e então, acreditando ser uma brincadeira ou entregue erroneamente, joguei-a fora. Passei o resto do dia colando minha lareira, pois tinha caído na noite anterior - muitos vários livros empilhados em cima dela.

    À noite, saí e me embebedei, querendo me tornar um poeta e sabendo que a bebida ajudaria.

    Na manhã seguinte, surpreendi-me ao receber outra carta. Com interesse na ciência e na verdade, citá-la-ei na íntegra:

    Nossa ref.: O E.I (Ei!)

    Ullage Limited

    The Lane

    Undon

    S.E.1

    Data em anexo

    Caro Sr. Fyn,

    Após não ter agido sobre as informações que lhe informamos, decidimos agir com brandura e levar em consideração a possibilidade de você não ter compreendido ou mal interpretado a carta anterior. Além disso, nos informaram sobre sua falta de percepção, o que ajuda sua situação.

    Nos foi instruído, sem termos inequívocos, a internamente digerir que sua presença ao endereço do prestigioso supracitado se torna totalmente supérflua. 

    Pedimos-lhe que aja de acordo com as informações que estamos lhe informando.

    Atenciosamente,

    O E.I.

    Li essa carta umas duas ou três vezes, guardei-a em uma gaveta, e então tomei meu banho usual, depois do qual coloquei minhas cuecas para secar, fiz umas torradas e passei o resto do dia cuidando dos meus pés (pois estavam com muitos calos). À noite, saí e fiquei tão bêbado que arrancei vários limpadores de para-brisas de diversos carros.

    Ao chegar em casa, algo maravilhoso aconteceu: escrevi meu primeiro poema.

    Deixe-nos, deixe-nos ser três

    um mais feliz que os outros

    com batidas, desajeitados

    andando uns contra os outros.

    Submeti-o de imediato a GOG, uma das principais revistas literárias do país que tem uma política liberal sobre tudo.

    Na manhã seguinte, recebi uma terceira carta que me assustou muito.

    Sua Ref.: ESCÓRIA

    Ullage Limited

    The Lane

    Undon

    S.E.1

    Data a terceira

    Caro Sr. Fyn,

    Fomos informados que você falhou ao não se ausentar do trabalho mais uma vez. Não é costume para os funcionários continuarem trabalhando quando são demitidos por pequenos furtos e atos injustificados de vandalismo pouco sutis.

    Proponho levar esse assunto mais longe, muito mais longe.

    O E.I.

    Essa carta me perturbou tanto que pensei em ir à polícia. Eu a coloquei abaixo da segunda (da primeira, eu suponho) e fui para o chuveiro. Pelo resto do dia, torci meus polegares ou rói minhas unhas e à noite eu saí. Algo estranho aconteceu: uma árvore, pela qual sempre passava, teve a ousadia de falar comigo, então voltei para casa e escrevi meu segundo poema.

    EROVRA  EROVRA

    R E O  R E O

    EROVRA  EROVRA

    A R V  A R V

    Submeti esse poema para PRENTWRIT, uma revista avant-garde da qual poucos ouviram falar (pois é avant-garde), mas fiquem tranquilos, acreditem na minha palavra, ela imprime todas as obras-primas avant-garde.

    Eu não queria me levantar na manhã seguinte, mas quando me levantei, havia uma quarta carta em meu tapete:

    Sem ref.

    Ullage Limited

    The Lane

    Undon

    S.E.1

    Data 4 de Junho do

    ano de 1995

    ––––––––

    Caro Sr. Fyn,

    Parece que medidas mais severas devem ser tomadas. Você se esqueceu que a Ei! deve ser levada a sério. Suas ofensas são prolificas, suas intenções obscuras e profanas.

    Mas por que... Ó, por que você continua vindo para o trabalho? Isso é o que não conseguimos entender. Perigo, perigo, perigo!

    Sinceramente

    Ei!

    Guardei essa carta e fiquei sentado por um logo tempo em um canto do meu quatro. Quando, eventualmente, levantei a cabeça, já era nove e vinte e estava muito escuro lá fora. Ouvi uma gravação dos meus choros que tinha feito antes, que poderia me ajudar no meu processo judicial pendente, e saí. Liguei para a delegacia, mas eles apenas anotaram meu nome e endereço. O sargento bocejou muito, ele tinha dentes amarelos e sua língua parecia um morango esmagado. Ele tinha um senso de humor estranho e ficava rindo.

    Eu não levantei no dia seguinte. No dia que se seguiu, achei duas cartas em meu tapete ao me levantar. Não abri nenhuma delas, mas fui direto para a polícia.

    Eu vi um sargento diferente dessa vez. Ele sorriu e vi os seus dentes ao bocejar – eles eram muito falsos. Sua língua era como uma laranja esmagada. Ele gritava muito e preencheu uma série de formulários e, depois disso, seus olhos ficaram muito, mais muito vermelhos e ele precisou ir ao banheiro, onde parecia que ele se engasgou por muito tempo.

    Eu não sei o que vai acontecer se essas cartas continuarem chegando... Eu realmente não sei...

    Hoje, algumas pessoas muito educadas tiveram uma conversa comigo. Parece que sou procurado como poeta-em-residência na Universidade de Sussex... Finalmente, eu consegui fazer isso.

    (Essa obra escrita, intitulada A Primeira Arte Do Sr. Fyn, pode ser estudada como manuscrito na Sala Literária B do Hospital Mental South Downham, na Avenida Five Spires, Croydon, Surrey, CR3 3AH.  O sr. Fyn continua a escrever, mas, na opinião dos guardiões da Sala Literária B, ele não produziu nada engraçado até hoje).

    Publicado no THE FROGMORE PAPERS NO. 44 OUTONO 1994

    O TIO DE KATHERINE

    Era uma vez, há muito tempo atrás (apesar que agora era realmente há muito tempo atrás), me apaixonei por uma jovem mulher chamada Katherine. Ela era bastante frágil, uma mulher maliciosa de cabelos escuros, olhos azuis escuros, uma pequena e quase miserável boca e um impreciso empinado nariz. Sua beleza, que passou despercebida no primeiro encontro, era tudo o que Katherine tinha. Ela era uma provocadora, uma cínica, uma destruidora e uma zombadora de homens e de seus afetos. Olhava de lado pra você e sua boca (que era terrivelmente bonita) se abria como se estivesse ofegando em silêncio. Ela exalava um perfume sem cheiro, um cheiro de rosas escondidas e flores que nunca foram percebidas.

    Depois de um tempo, depois que se encontrasse com Katharine várias vezes, chegará a conclusão do quão amável e triste ela e sua beleza eram, pois ela era a mais inteligente, bonita, gentil, frágil e triste de todas as mulheres incapazes de encontrar um homem que pudessem amar, mesmo que muitos tinham a amado e, é claro, muitos outros homens usariam e abusariam dela, da mesma forma que ela usaria e abusaria deles. A razão do porquê Katherine era tão notável e tão miserável era o fato dela odiar homens e querer destruí-los.

    Várias páginas escritas são necessárias para provar que ela odiava homens, para depois dizer o porquê odiá-los a fazia tão infeliz, e mesmo assim essas páginas podem nunca conter as mais sutis e as mais tediosas razões. Além do mais, essa história não é sobre Katherine (apesar que estou endividado a ela por seu tema), mas sim sobre o seu tio - um homem com quem me encontrei apenas uma vez, um homem cheio de estranhas excentricidades, que constantemente mastigava sua boca como se fosse sortudo por ainda ter lábios, você se simpatizaria com seus lábios devido ao tratamento bruto que ele dava.

    É claro que, com Katherine, eu era irremediavelmente infeliz. Hoje eu percebo que ela nunca teria ficado comigo caso contrário. Contundo, o amor é tão estranho e irracional que, até mesmo agora, desistiria de tudo para ficar mais uma vez com Katherine, embora sem que ela soubesse que estaria lá. Desistiria de tudo para vê-la mais uma vez e saber o que está fazendo de um dia ao outro, só pra poder observá-la comendo sua comida, ou até mesmo observá-la caminhar com seu mais novo namorado (embora talvez não aguentasse vê-la com seu mais novo homem). É claro que desejo vê-la dormindo e acordando brava de manhã (porque a manhã sempre a entristecia), ler com ela por longas horas de sono, parar para a ver jogando água em seu rosto, dobrando as mangas de sua camisola até que seus ombros brancos reluzem na estranha e sombria manhã de inverno, ou sussurrando na primavera estampada com brotos e as mais suaves luzes verdes.

    Mas isso é impossível, um sonho impossível, pois Katherine se foi. Se eu tivesse criado coragem e tentado vê-la, mesmo que ela não me visse, sem dúvidas ela teria me localizado de imediato e abusado de mim. Mesmo se me pendurasse debaixo de uma grande e protegida árvore, com meu céu em um círculo de folhas verdes sussurrando, e me arriscasse com tal vegetação para a olhar com amor e desejo enquanto passasse por mim, vestida com aquelas roupas marrons e cinzentas, aquelas sobriedades que sempre usou e amou, certamente ela me veria, sorriria para mim e acenaria e eu imediatamente iria até ela, aleijado de amor. Ela abusaria de mim sabendo o quanto eu a amava, conhecendo-me novamente em seu controle, e então eu ficaria mais miserável do que uma criança negligenciada, mantido sob sua teia. 

    Isso não é bom... Isso é impossível... Mas eu ainda amo Katharine. Não qualquer coisa que é Katharine (pois ela é completamente negativa e muito, mais muito horrível), mas algo que não é ela, apenas algo que existe nela e que nunca poderia dizer:

    - Essa sou eu!

    E embora ela seja uma muito, mais muito horrível como uma bela cobra que seu toque o pica até a morte, ela também é terrivelmente infeliz.

    Desejo com todo meu coração que ela possa ser atrozmente feliz no seu horror e mal.

    Mas essa história não pode ser sobre Katharine, pois apenas livros muito longos, livros lindamente longos, livros lindamente escritos deveriam ser sobre ela. Apenas a prosa, cuja cativantes jaulas e lustrosas linhas douradas com a mais triste névoa de soldados morrendo, em que há acontecimentos terrivelmente tristes, criaturas floridas florescentes e lamentações, podem tocar o destino dela, deles e o meu. Tais tratados devem ser sobre elas para honrá-la. Assim, essa história só pode ser sobre seu tio, a quem sempre amou o descrever como um homem velho ridículo e carinhoso, o velho, ridículo e carinhoso Tio Lambenweister.

    O vi apenas uma vez, em uma catedral próxima a Ponte de Londres, onde a irmã mais velha de Katharine estava cantando no meio de outras vozes energéticas. Eu era um dos espectadores e estava prestes a ter um grave ataque de gripe. A mãe de Katharine também estava lá, e sua irmã mais nova, quase uma reunião familiar completa, só que sem a irmã mais nova e, claro, o pai, o qual nunca conheci, mas que parecia ser, através de rumores, muito talentoso,  muito torto e muito infeliz, um anestesista sem uma fatalidade em seu nome!

    O tio Lambenweister se sentou, mastigando seus lábios durante toda a performance e, depois disso, fomos para um bar de vinho. O tio de Katharine alisou seus cabelos grisalhos, bem excêntrico e bem nervoso, e falou sem parar como um homem jovem. Era um homem cinzento e idoso, com odores, movimentos e preocupações inexplicáveis. Pediu um sumo de laranja no bar de vinhos naquela noite? Não tenho a certeza de que sim, mas penso que sim. Não me consigo lembrar, eu mão me lembro. Katharine e as suas irmãs olhavam com alegria, saboreando o tio e a sua criatividade absurda.

    Eram várias as memórias que Katharine tinha de seu tio. Eles eram todos encharcados de palhaçadas e seu tio Lambenweister podia ser facilmente um palhaço de circo a cair sobre si ao longo de todas as anedotas dele.

    Seu pai, um homem austero e presunçoso, muitas vezes ao extremo, era perpetuamente envergonhado pelo Tio Lambenweister – pois ele sempre estaria chamando a atenção para si sem perceber.

    O tio vivia sozinho em uma pequena motocicleta. Se ele fosse convidado para passar o final de semana na casa dos pais de Katharine, ele ia de moto até a estação, deixava-a lá, viajava até o norte de trem e chegava ao seu destino ainda usando seu capacete. Completamente ignorando o pedido do pai de Katharine, ele absolutamente se recusava a tirar o capacete até que chegassem em casa. Portanto, o pai de Katharine tinha que encontrá-lo e ir lado a lado com ele da estação para a casa, enquanto pessoas apontavam os dedos e reprimiam os risinhos para o seguinte par.

    Quando Katharine era pequena, ela costumava ir a Londres ficar com seu tio. Uma das suas memórias mais antigas era ele a levando ao Museu Britânico. Ele atravessou primeiro as portas giratórias, dando-lhes um empurrão muito forte. As portas o lançaram para a frente e caiu ao tropeçar no edifício. Katharine, ao segui-lo, ficou espantada quando entrou, vendo uma multidão à sua volta, muitos dos quais tentavam ajudá-lo. Enquanto ele estava além de si, com raiva, levantando os braços e mãos estendidos, murmurando, limpando o pó e se levantando.

    Ah, sim, e depois tem outra história que Katharina costumava a contar (Ó minha querida amada, ainda me lembro como costumava a contar essa história até que as lágrimas caíssem de seus olhos, precisando parar para secá-las da profusão de sua alegria). 

    O tio Lambenweister saiu com a família para dar um passeio de carro e andar pelo interior. O pai de Katharine usou todos seus poderes de persuasão para convencer Lambenweister a não usar seu capacete no carro. A viagem, então, começou mal, com o médico de mau humor e seu cunhado descontente e rabugento. Eles saíram todos atrapalhados do carro em direção ao campo. O pai de Katharine, o médico, insistiu em uma hora de caminhada (bom para o coração) apesar do céu cinzento e uma possibilidade de chuva. Depois de um extenuante passeio, todos voltaram para o carro, fecharam os guarda-chuvas, apenas para encontrar as rodas do carro rodopiando na lama corrente e a espirrando. Todos, exceto o pai de Katharine, saíram para empurrar, mas o Tio Lambenweister empurrou com mais força e energia do que todos. De repente, as rodas do carro travaram e o carro disparou para frente, o tio, ainda empurrando com fúria, encontrou-se empurrando contra o nada e, consequentemente, caiu de cara na lama. Todos ficaram horrorizados, mas felizes, embora o pai de Katharine ainda tinha dificuldade de se controlar. Mas o que poderia ser feito? O tio Lambenweister se colocou, com cuidado, no banco de trás, sentando em alguns jornais, e quando chegaram em casa, ele foi despido e feito a se lavar (palavras da própria Katharine). No entanto, o pai de Katharine permaneceu muito irritado e, na manhã seguinte, ele e o Tio Lambenweister fizeram uma limpeza completa no interior do carro. Depois disso, a mãe de Katharine e seu irmão foram vistos trocando palavras e lançando olhares terríveis ao eminente médico.

    E essas pequenas histórias, o quanto consegui reunir, são o que encantou Katharine e a fez chorar de alegria sempre que pensava em seu tio preferido.

    É estranho como um nome pode se tornar potente quando se perde a pessoa, cuja a beleza está no nome, a qual agora é apenas o nome que conhece e ama. Katharine, que eu amava, que se foi

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