LENDAS DE MÃE ÁFRICA
De Diversos
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LENDAS DE MÃE ÁFRICA - Diversos
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LENDAS DE
MÃE ÁFRICA
1a edição
img1.jpgIsbn: 9786587921594
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Prefácio
Prezado Leitor
Lendas são histórias passadas de geração a geração. São histórias originalmente narradas com o intuito de explicar o que a ciência ainda não havia explicado. A África é um continente repleto de lendas, mitos, histórias. As lendas africanas trazem narrativas sobre espíritos das florestas, animais misteriosos, bravos guerreiros, fantasmas, religiões…
Como brasileiros, herdamos muitas coisas da cultura africana. Ritmos, hábitos, comidas típicas… mas deixamos de lado um riquíssimo acervo de histórias que remontam a um longínquo passado.
Queremos com essa obra deixar nossa contribuição para divulgação do rico folclore africano. São belíssimas histórias sobre o nascimento da Africa, o reino dos animais e o reino dos homens, histórias singelas que vão encantar os adultos e as crianças.
Nosso desejo é que todos os pais leiam para seus filhos lindas lendas africanas, permitindo-lhes conhecer um pouco mais de suas origens.
Uma excelente leitura
LeBooks Editora
Sumário
I. O GÊNESE AFRICANO
Lenda das Origens
Lenda da Criação
O Gênero Humano
Porque o Mundo Foi Povoado
Como Deus se Separou do Homem
Lenda da Separação
A Origem da Morte
Porque o Sol e a Lua Vivem no Céu
O Morto e a Lua
O Sol e os Meninos
O Filho do Vento
Como Veio a Primeira Chuva
Como Kintu Foi Posto à Prova Antes de Poder Desposar a Filha do Rei do Céu
Como a Aranha Conseguiu os Contos do Deus-do-Céu
Como a Abelha Construtora Foi Buscar o Fogo a Deus
II. O REINO DOS ANIMAIS
A tromba do elefante
Nwashisisana, a Lebre
A Lagarta e os Animais Selvagens
Porque há Grêtas no Casco da Tartaruga
O Elefante e a Tartaruga
O Leopardo, o Esquilo e a Tartaruga
Mantide e o Devora-Tudo
III. O REINO DO HOMEM
Façanha do Samba Gueladio Diegui
Kenkebe
História de Dois Moços e Quatro Moças
O Rapazinho que Foi Levado por um Leão
Lenda de Ngurangurane,
Filho do Crocodilo
Uma Mulher por Cem Cabeças de Gado
Untombinde, a Moça Alta
Zimwa-mbanje, o Fumador de Cânhamo
A Mulher Gorda que se derreteu
A Cidade Onde Ninguém Podia Dormir
Os Irmãos Gêmeos
As Aventuras de Mrile
Konyek e Seu Pai
A Pequena Sábia
O Taumaturgo da Planície
I. O GÊNESE AFRICANO
A guerra é a natureza do mundo (Provérbio Africano)
Lenda das Origens
Vereis o que meu pai me ensinou, o qual aprendeu de seu pai e este sabia-o desde há muito tempo, muito tempo, desde o princípio.
Na origem das coisas, mesmo na origem, quando nada existia, nem homens, nem bichos, nem plantas, nem céu, nem terra, nada, nada, nada, Deus já existia e se chamava Nzamé{1}. E aos três que são Nzamé nós chamamos Nzamé, Mebere e Nkwa. E no princípio Nzamé fez o céu e a terra, e reservou o céu para si. Soprou sobre a terra, e pela ação desse sopro nasceram a terra e a água, cada um do seu lado.
Nzamé fez todas as coisas: o céu, a lua, as estrelas, os animais, as plantas, tudo. E quando acabou de fazer tudo o que nós vemos agora, chamou Mebere e Nkwa e mostrou a sua obra.
— O que eu fiz, está bem feito? — perguntou.
— Sim, fizeste-o bem — foi a resposta deles.
— Ficou ainda alguma coisa por fazer?
E Mebere e Nkwa responderam:
— Vemos muitos animais; mas não vemos seu chefe. Vemos muitas plantas; mas não vemos seu amo.
E para darem um amo a todas as coisas designaram, entre as criaturas, o elefante, pela sua sensatez; o tigre, pela sua força e astúcia; o macaco, pelas suas malícias e agilidade.
Mas Nzamé quis fazer algo melhor ainda, e os três fizeram uma criatura quase à sua semelhança: um deu a força, o outro o poderio, o terceiro a formosura. Depois, os três:
— Toma a terra para ti — disseram. — De hoje em diante és senhor de tudo o que existe. Gomo nós, tu tens vida; todas as coisas te estão subordinadas. Tu és o senhor.
Nzamé, Mebere e Nkwa subiram para a sua morada no alto e a nova criatura ficou aqui embaixo sozinha, e tudo lhe obedecia.
Mas, entre todos os animais, o elefante continuou a ser o primeiro, o tigre ocupou o segundo lugar e o macaco o terceiro, porque foram eles os escolhidos no princípio por Mebere e Nkwa.
Nzamé, Mebere e Nkwa chamaram o primeiro homem de Fam, que quer dizer: a força.
Ufano do seu poder, de sua força e de sua formosura, porque sobrepujava nestas três qualidades ao elefante, ao tigre e ao macaco; ufano de vencer todos os animais, esta primeira criatura deitou-se a perder; tornou-se orgulhoso, não quis adorar a Nzamé e desprezava-o:
Yeyé, ó, lá, yeyé,
Deus no alto, o homem na terra.
Yeyé, ó, lá, yeyé,
Deus é Deus.
O homem é o homem,
cada um em casa, cada qual em sua casa.
Deus ouvira o cântico. Prestou atenção:
— Quem está cantando?
— Procura, procura! — responde Fam.
— Quem está cantando?
— Yeyé, ó, lá, yeyé.
— Quem está cantando, então?
— É! Sou eu! — grita Fam.
Muito colérico, Deus chama Nzalan, o Trovão.
— Nzalan, vem aqui!
E Nzalan acorreu fazendo grande estrondo: Buu, buuu, buu! E o fogo do céu abrasou o bosque. Comparado com tal fogo, o incêndio de uma plantação é a chama de uma faísca. Fií, fií, fií! estava tudo em chamas. Como hoje, a terra estava coberta de bosques; as árvores ardiam, as plantas, as bananeiras, a mandioca, o cacaueiro, tudo secava; bichos, pássaros, peixes, tudo foi destruído, tudo estava morto; mas, por desgraça, ao criar o primeiro homem, Deus dissera: Não morrerás.
O que Deus dá, Deus não tira. O primeiro homem queimou-se; não sei o que foi feito dele. Está vivo; mas, onde? Meus antepassados não me disseram o que foi feito dele; eu nada sei; esperai um pouco.
Porém, Deus olhou para a terra, toda negra, sem nada de nada, ociosa. Teve vergonha e quis fazer algo melhor. Nzamé, Mebere e Nkwa reuniram conselho em sua choça e fizeram o seguinte: sobre a terra negra, coberta de carvões, puseram uma nova camada de terra; brotou uma árvore, cresceu, cresceu mais e, quando uma de suas sementes caía ao solo, nascia uma nova árvore; quando uma folha se desprendia, crescia, crescia, começava a caminhar, era um animal, um elefante, um tigre, um antílope, uma tartaruga, todos, todos. Quando uma folha caía na água, nadava e era um peixe, uma sardinha, um mugem, um caranguejo, uma ostra, uma amêijoa, todos, todos. A terra voltou a ser o que havia sido, o que ainda é hoje. E a prova, meus filhos, de que estou dizendo a verdade é que, se em certos lugares cavardes a terra, e às vezes até mesmo em cima, encontrareis uma pedra dura, preta, mas que se quebra: lançai-a ao fogo e a pedra arde. Sabeis isto perfeitamente:
O assobio ressoou.
O elefante veio.
Obrigado, elefante.
Estas pedras são os restos dos antigos bosques queimados.
Entretanto, Nzamé, Mebere e Nkwa reuniram conselho:
— Faz falta um chefe para mandar nos animais — disse Mebere.
— Certamente, faz falta um — disse Nkwa.
— Na verdade, — replicou Nzamé — faremos de novo um homem, um homem como Fam; as mesmas pernas, os mesmos braços, mas voltar -emos a cabeça e verá a morte.
Assim se fez. Aquele homem, meus amigos, era como vós e como eu.
A este homem, que foi aqui embaixo o primeiro homem, pai de todos nós, Nzamé chamou Sekumé; mas Deus não o quis deixar só. Disse: — Faze unia mulher, com uma árvore. — Sekumé fez uma mulher, que pôs a andar e deu o nome de Mbongwé.
Ao fazer Sekumé e Mbongwé, Nzamé havia-os composto de duas partes: um exterior, aquela a que chamam Gnul, corpo, e outra que vive no Gnul e a que todos chamam Nsissim.
Nsissim é o que produz a sombra; a sombra e Nsissim são a mesma coisa, Nsissim dá vida a Gnul, Nsissim vai passear de noite, quando estamos dormindo, Nsissim vai-se embora quando o homem morre; mas Nsissim não morre. Sabeis onde se aloja, quando está em seu Gnul? No olho. Sim, habita no olho, e esse ponto brilhante que vedes no meio é Nsissim.
A estrela no alto,
O fogo aqui embaixo
A áscua no fornilho,
A alma no olho.
Nuvem, fumo e morte.
Sekumé e Mbongwé viviam aqui felizes e tiveram três filhos a que deram os nomes de: ao primeiro Nkure (o tonto, o mau); Bekolé ao segundo (o que não pensa em nada) e este ajudou Mefere, o terceiro (ou seja, o bom, o capaz). Também tiveram filhas. Quantas? Eu não sei e estes três também tiveram filhos e estes, por sua vez, tiveram outros filhos. Mefere é o pai de nossa tribo; os outros, os das restantes.
Além disso, Deus havia encerrado Fam, o primeiro homem, debaixo da terra e com um enorme penhasco tapou a brecha. Ah! o ardiloso Fam escavou muito tempo, muito tempo e um dia saiu de lá. Quem estava ocupando o seu lugar? Os outros homens. Quem se encolerizou contra eles? Fam. Quem procura sempre fazer mal? Fam. Quem se esconde na selva para os matar, ou debaixo da água para fazer soçobrar a sua piroga? Fam, o famoso Fam. Silêncio! Não falemos tão alto, talvez esteja aí escutando:
Guardai silêncio,
Fam nos escuta,
Para prejudicar o homem.
Estai calados.
Depois, aos homens que havia criado, Deus deu uma lei. Chamando a Sekumé, Mbongwé e seus filhos, chamou-os a todos, pequenos e grandes, grandes e pequenos:
— Aqui estão as leis — disse — que vos dou para o futuro e a que devereis obedecer:
Não roubareis dentro de vossa tribo.
Não matareis a quem não vos tiver feito mal.
Não ireis comer os outros de noite.
É tudo quanto vos peço; vivei em paz em vossas aldeias. Os que seguirem meus mandamentos serão recompensados, eu lhes darei sua paga; aos outros castigarei. Assim.
A maneira como Deus castiga aqueles que não o escutam, ides saber:
Depois de terem morrido, andam errantes de noite, padecendo e gritando e, enquanto as trevas envolvem a terra, à hora do medo, entram nas aldeias, matam ou ferem os que encontram, fazendo todo o mal que podem.
Em sua honra se dança a dança fúnebre kedzam-kedzam, mas de nada serve. Levam, em um di, os melhores pratos; comem e riem, mas de nada serve. E quando tiverem morrido todos os seus conhecidos, então e só então ouvem Ngofio, Ngofio, o pássaro da morte; em seguida ficam muito fracos, muito fracos e temo-los mortos. Aonde vão, meus filhos? Sabeis tão bem como eu: antes de passarem o grande rio, permanecem muito tempo, muito tempo, sobre uma pedra grande e lisa; têm frio, muito frio, brr!...
O frio e a morte, a morte e o frio,
Quero tapar o ouvido.
O frio e a morte, a morte e o frio,
Miséria, oh! minha mãe!
E quando morrem todos os infelizes Bekun, Nzamé encerra-os por muito tempo, muito tempo, no Ototolan, a mansão ruim, onde se ouvem queixumes e queixumes....
Quanto aos bons, sabe-se que, depois de mortos, voltam às aldeias, mas estão de bem com os homens; a festa dos funerais, a dança do luto, alegra seus corações. De noite voltam junto daqueles que conheceram e amaram, põem diante de seus olhos sonhos agradáveis, ensinam o que hão de fazer para viverem muito, adquirirem grandes riquezas, terem mulheres fiéis (estão ouvindo, vocês, aí da porta?), viverem no luxo e matarem muitos animais durante as caçadas. Deste modo eu soube, meus amigos, que veria o último elefante que matei.
E quando tiverem morrido todos os seus conhecidos, então e só então ouvem Ngofio, Ngofio, o pássaro da morte, e depois ficam muito gordos, muito gordos, até demasiadamente gordos e temo-los mortos. Aonde vão, meus filhos? Sabeis tão bem como eu. Deus leva-os para o céu e coloca-os, juntamente com ele na estrela da tarde. Dali eles nos olham, nos veem, se alegram quando festejamos a sua memória, e o que põe a estrela tão brilhante é os olhos de todos esses mortos.
O que os meus antepassados me ensinaram aqui o tendes e a mim também, Ndumenba; foi meu pai Mba quem me ensinou, o qual aprendeu de seu pai e o primeiro não sei de quem aprendeu, que eu não estava lá.
Lenda da Criação
Quando as coisas não existiam ainda, Mebere, o Criador, fez o homem de argila. Tomou a argila e modelou um homem. Assim começou este homem e começou-o como lagarto. Mebere pôs o lagarto em um charco de água do mar. Cinco dias se passaram: passou cinco dias com ele no charco das águas e manteve-o lá dentro. Sete dias: esteve dentro sete dias. No oitavo dia, Mebere foi olhar e eis que o lagarto salta, e eis que salta para fora. Transforma-se em um homem. E diz ao Criador: Obrigado.
O Gênero Humano
Três homens compareceram sucessivamente perante Uendé, para expor suas necessidades. O primeiro disse: Quero um cavalo. O outro disse: Quero cachorros para caçar na mata. O terceiro disse: Quero uma mulher para me dar prazer.
Uendé deu tudo: ao primeiro o seu cavalo; ao segundo os cachorros e ao terceiro uma mulher.
Os três homens vão-se embora. Mas sobrevêm fortes chuvas que, durante três dias, os mantêm encerrados nos matagais. A mulher fez a comida para os três. Os homens dizem: Voltemos perante Uendé. Chegam lá. Então todos lhe pedem mulheres. E Uendé anui em transformar o cavalo em mulher e os cachorros também em mulheres. Os homens vão-se embora. Mas a mulher tirada do cavalo é glutona; as mulheres tiradas dos cachorros são más e a primeira mulher, a que Uendé havia dado a um deles, é boa; é a mãe do gênero humano.
Porque o Mundo Foi Povoado
Abassi levantou-se, sentou-se em seu trono, fez todas as coisas superiores, todas as coisas inferiores: a água, a selva, o rio, as fontes, as tribos da selva; fez todas as coisas, de todas as espécies, no mundo inteiro. Não fez o homem.
Todos os homens habitavam no céu, com Abassi. Por isso, nessa altura, não existia nenhum homem no mundo terreno; não havia mais do que os bichos da selva, os peixes que estavam na água, as aves que vemos nos ares e muitos outros seres que não é necessário enumerar. Mas o homem não existia neste mundo. Todos os homens estavam no desterro, habitavam om Abassi a sua aldeia. Quando Abassi se sentava e comia, juntavam-se a ele e a Altai.
Por fim, Altai chamou; Abassi respondeu e ela disse:
— A situação, tal como está, não é boa. Tu possuis a terra que existe, possuis o céu que eles habitam conosco, fizeste um lugar de propósito para estar nele e, se não colocas lá os homens, será malfeito. Procura um meio de colocar os homens na terra para eles lá morarem e acenderem fogo de jeito que o céu esquente, porque agora faz aqui um frio enorme, por causa de não haver fogo na terra.
Como Deus se Separou do Homem
No princípio dos tempos Wulbari e o homem viviam muito perto um do outro e Wulbari estava deitado sobre a Madre Terra, Asase Ya. Acontecia então que, com tão pouco espaço para se mexer, o homem incomodava a divindade que, desgostosa, se foi embora, subindo para o lugar que ocupa agora, onde