A fera dos mares
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A fera dos mares - Severino Rodrigues
A CRIATURA
O burburinho começou na praia. Não como uma onda, mas como um verdadeiro tsunami.
Num instante, comerciantes, banhistas e turistas se aglomeravam na orla, querendo compreender os boatos.
Dagmara, a dona da Sorvetes do Nordeste, ao escutar o menor comentário, saiu do estabelecimento tremendo toda. Era uma morena de quarenta anos, cabelos cacheados e muito bonita, mesmo sem qualquer vaidade.
Aos poucos, as informações desencontradas foram deixando todos eufóricos. E um falava mais alto do que o outro:
– Está nadando pela costa...
– É muito rápida e feroz...
– Quase atacou um banhista...
– Mais perigosa que qualquer tubarão...
Só esta fala bastava para Dagmara entrar em pânico. Desde que vira, quando criança, o filme Tubarão, do Steven Spielberg, a dona da sorveteria tremia de medo só de pensar em entrar no mar. Ficara traumatizada. E tudo que se referisse ao bicho tirava o sono.
– Armaria! Uma criatura misteriosa? – inquiriu, trêmula.
Os outros confirmaram. Ela engoliu seco. Mas, logo em seguida, uma ideia:
– Vamos à Corporação!
Todos concordaram imediatamente e começaram a se movimentar.
Sob a sombra de uma palmeira, Dr. Sousa-e-Silva acompanhava a tudo com um sorriso no rosto. O senhor baixo, gordo, de poucos fios brancos ainda sobre a cabeça e com a pele do rosto e dos braços manchada de sol se afastou, devagar. Era preciso seguir com o seu plano, que estava dando certo.
No laboratório, Athos arrumava a bagunça. De cabelos escuros, pele clara e sempre de óculos, o rapaz conseguira a vaga de estágio há seis meses. Mas, neste dia, enquanto tentava organizar os tubos de ensaio, os bicos de bunsen e o gerador de Van de Graff sobre uma mesa ao canto alguém irrompeu pela porta bruscamente.
Era Dr. Pereira. O cientista de estatura mediana, cabelos grisalhos, testa marcada pelas rugas e usando óculos de aros quadrados era a figura que o estagiário evitava encontrar nos corredores da corporação. Apesar de ele ser, infelizmente, seu novo supervisor.
Com o indicador, Athos quis ajeitar a armação de acetato azul de seus óculos, mas acabou derramando um pouco da substância do tubo que segurava.
– Athos! – bradou o cientista.
– Des-desculpe... – pediu o rapaz, procurando algum pedaço de papel ou um pano para limpar a sujeira.
– Levante-se! – ordenou Dr. Pereira. – Depois resolve isso...
Ao se erguer e aprumar os óculos, Athos teve uma surpresa. Duas loiras acompanhavam seu novo supervisor. Uma de cada lado. A da esquerda, com cabelos curtos e retos e a da direita, longos e ondulados. Nada contra ruivas, negras ou morenas, porém o rapaz tinha uma queda mesmo por loiras. Quase um bunge jumping sem a corda elástica.
– Estas são Isabela, à minha direita, e Linda, à minha esquerda – anunciou o cientista. – São as novas estagiárias da CPEM.
O estagiário de Ciências Biológicas conhecia bem a sigla da própria instituição: Corporação de Pesquisas dos Ecossistemas Marinhos. E agora estava muito ansioso para conhecer as novas colegas de laboratório. Com a saída do Dr. Sousa-e-Silva, aquele lugar andava monótono e ele se sentia sozinho. Mas esta novidade agora injetava entusiasmo na sua corrente sanguínea.
– Isabela é estudante de Engenharia Ambiental e Linda, de Oceanografia. Espero, francamente, que não atrapalhe a pesquisa das duas, ouviu?
Não, não! Athos, boquiaberto, não atrasaria o trabalho das novatas. Ao contrário, estava animado até a fazer o trabalho por elas se fosse o caso.
– Oi – falou Linda.
– Prazer – cumprimentou Isabela.
Para o jovem estagiário, os nomes daquelas duas conchas marinhas já se confundiam.
Junto aos comerciantes dos quiosques, alguns moradores da cidade e mais uns turistas, Dagmara formou um numeroso grupo. Assim que o semáforo dos carros fechou, todos atravessaram a Av. Beira-Mar rumo à CPEM.
– Mãe! Mãe!
Era Janaína, filha da dona da sorveteria, que chamava aflita. A moça de pele morena igual à da mãe e de cabelos tingidos de dourado corria entre as pessoas.
– O que foi, Jana?! – Dagmara perguntou, assustada por causa da aparição inesperada da filha.
– A criatura atacou um banhista! Não se fala em outra coisa na sorveteria!
Após interjeições, as vozes se altearam. Cada um mais curioso e, ao mesmo tempo, mais assustado que o outro para saber sobre a estranha criatura marinha.
– É verdade isso mesmo, filha? – quis confirmar a dona da Sorvetes do Nordeste.
– Parece que sim, mãe – respondeu Janaína, juntando os cabelos e dando uma volta neles para prendê-los por causa do vento. – Não vi, não. Mas foi o que um senhor chegou avisando...
– Obrigada, filha! Mas, volta logo pra sorveteria! Você não pode largá-la assim, Jana! Sobretudo, com essa confusão.
Dagmara retomou a liderança da aglomeração que rapidamente se dirigiu e se espalhou em frente à CPEM. A dona da sorveteria, então, coçou a garganta e iniciou o que logo se tornaria um coro:
– Queremos a verdade! Queremos a verdade!
Após a saída do Dr. Pereira do laboratório, a nova estagiária de cabelos curtos e