Obsessor

Umbral

Era uma manhã de domingo, o dia despertava com um lindo sol de outono. Lucas me acorda e me convida a me desdobrar e segui-lo para juntos escrevermos mais uma obra.

Todas as minhas psicografias são feitas em desdobramento.

É um tipo de mediunidade, dentre alguns tipos que possuo, e que exerço desde menino.

Me preparei e, ao seu lado, chegamos a um lugar muito comum em minhas psicografias, o Umbral.

Mas aquela região era bem diferente, eu ainda não havia ido àquele lugar.

Era manhã também no umbral. Eu pude perceber que o sol tentava furar as densas nuvens daquele terrível lugar.

Estávamos em uma trilha nos dirigindo ao topo de um monte.

Lucas caminhava calado, e eu permanecia atento a todos os detalhes para relatar nessa mensagem.

Foi então que o nosso diálogo começou:

– Que lugar estranho, Lucas.

– O que é estranho?

– Esse lugar se parece muito com outros lugares que visitei em desdobramento, mas é muito estranho. Vejo que há algumas vilas lá embaixo. Parecem bairros, e vejo aglomerações de espíritos. Parece que há um comício, show, plebiscito, sei lá. Você viu? Há algumas fogueiras acesas e centenas de espíritos escutando um só espírito. Posso ver até um palanque e um homem lá em cima discursando para todos aqueles seguidores.

– Osmar, não se engane: O Umbral é muito semelhante a diversos lugares terrenos. Há líderes, governantes, assembleias de liderança e muito mais. É organizado. E a disputa por territórios é comum, no sombrio Umbral.

É um lugar escuro, como você pode ver. O Umbral é denso, de pouco luminosidade, região em que chove todos os dias. A vegetação e rasteira e sem vida. As árvores são retorcidas e sem folhas. A chuva é companheira inseparável do dia. Todos os dias são assim, sombrios, frios e chuvosos.

– Como nos outros livros, não é Lucas?

– Sim, você tem retratado muito bem o que vê por aqui.

– Olhe Lucas, tem uma pessoa no alto do monte. Lá na frente.

– Estou vendo, e é a história dele que iremos contar.

– Estranho...

– O que é estranho?

– Ele está de roupa preta.

– Roupa preta?

– Sim, ele este todo vestido de preto. E usa uma capa que lhe cobre todo o corpo. Olhe, ela revoa ao vento.

– Ele é um poderoso obsessor, Osmar.

– Meu Deus.

– O que Deus tem a ver com isso?

– É só uma expressão de medo, Lucas.

– Não tema, estou ao seu lado.

– Sim, tenho certeza, nada me acontecerá.

– Fique sossegado.

– Qual é o nome dele Lucas?

– Virgílio.

– Você pode me falar um pouco sobre ele?

– No decorrer dessa história você vai conhecê-lo melhor.

– Certo.

– Venha, Osmar, vamos nos aproximar.

Virgílio estava de pé no alto do monte olhando para as vilas e aglomerações a seus pés. Ele observa a multidão de espíritos alienados aos pregadores que falavam daquele palanque.

Havia um vento úmido soprando, o que esfriava o ambiente sombrio. O sol teimava em aparecer dentre as densas nuvens do lugar, mas pouco adiantava.

Ele usava uma capa preta, que lhe cobria todo o corpo, como disse acima. Eu pude ver que ele segurava uma bengala, também preta. Virgílio parecia que estava pensando ou meditando. O silêncio só era interrompido pelo barulho do vento, que uivava como se anunciasse uma tempestade, e os ecos dos gritos daqueles que saudavam a palestra lá embaixo.

– Esse lugar tem nome, Lucas? – perguntei.

– Sim, é chamado de Montanha, é o lugar mais alto do Umbral.

Continuamos nossa caminhada. Estávamos a uns cem metros do encontro. Foi quando Lucas começou a me falar um pouco mais sobre o nosso ilustre personagem.

– Osmar, Virgílio é um líder aqui, e tem muitos seguidores. Ele lidera uma das mais temidas falanges dos obsessores que trabalham com vocês encarnados. Todos os seus soldados, como assim ele os chama, vestem essa capa preta.

– Que coisa horrorosa, Lucas. E como ele conseguiu todos esses seguidores?

O Umbral é como uma cidade terrena, onde líderes, governantes e chefes deliberam sobre os demais que vivem nesse lugar. Mas você ficará muito surpreso após conhecer o trabalho de Virgílio e seus soldados. O tipo de obsessor que ele é. Eu vejo que você está muito curioso.

– Sim, Lucas. Na verdade, eu estou com um pouco de medo. Esse lugar me assusta.

– Não fique, confie. Fui eu quem te trouxe até aqui, por tanto fique em paz.

– Sim, eu confio. Lucas me perdoe, mas minhas dúvidas certamente são as dos meus leitores.

– Sim, Osmar. O que quer saber?

– Tudo... Como assim, líderes?

– Osmar, o Umbral é uma cidade como todas as cidades que existem na terra. Aqui, tudo o que vocês experimentaram na vida terrena é possível. Aliás, em todos os planos da criação, tudo é possível. O umbral é plasmado pelas mentes humanas. Esse lugar só existe porque vocês o criaram. É bom sempre lembrar que nós, os espíritos, somos cocriadores com o Pai. Todos os nossos desejos e vontades criadas em nosso subconsciente tornam-se realidade na vida após a vida. Só depende de você tudo o que pode lhe acontecer e tudo o que o cerca. Lembre-se: você é um pequeno Deus em treinamento.

Nossa! – pensei.

Lucas prosseguiu:

Espíritos milenares que vivem nessa região, e que não querem se libertar dela, adquirem poderes sobre outros espíritos, principalmente sobre os ignorantes, aqueles que não adquiriram ainda algum intelecto. É como na Terra, que há os mais sábios desfrutando dos mais humildes de sabedoria e usam dessa ignorância para satisfazer seus mais íntimos desejos.

Pode me explicar melhor Lucas?

– Sim, claro que sim. Vamos lá:

Na Terra existem espíritos maus encarnados, espíritos sábios, que tem poder sobre os mais humildes, não é assim? Espíritos que já adquiriram um certo intelecto e que se valem de seus conhecimentos para dominar outros seres. Esquecem-se que deveriam estar auxiliando o Criador com suas criaturas.

– Sim, infelizmente é o que mais vemos.

– Pois, bem... aqui, como na Terra, espíritos espertos usam de sua sabedoria para iludir e enganar àqueles que ainda não compreendem o que são, na verdade todo espírito que chega aqui, tem a consciência da eternidade, e tendo essa consciência decide por viver assim. Mas não se preocupa em expressar aquilo que aprendeu de bom na encarnação, e deixa-se levar pelas mentes sábias desse