Xenuh e o Destino de Agren parte II
De Victor Berto
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Sobre este e-book
No entanto, o que ele não sabia é que sua participação acabaria se tornando o estopim para que misteriosos acontecimentos do passado pudessem ser finalmente revelados. Quando toda a história por detrás de sua viagem ao planeta Agren é enfim contada, ele se vê diante da incumbência de uma delicada missão que há séculos havia sido profetizada.
Agora Alexen parte para uma corrida contra o tempo e contra aqueles que tentam a todo custo se impor em seu caminho enquanto ele se empenha em cumpri-la antes que se inicie mais um ciclo da lua vermelha.
Estará ele pronto a arcar com as consequências de seu próprio destino?
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Xenuh e o Destino de Agren parte II - Victor Berto
E a história continua…
O pequenino Alexen já demonstrava sinais significativos de mudança desde sua não planejada
chegada ao mundo mágico de Agren. Nem mesmo a indignação e a revolta por saber que provavelmente não voltaria a ver seus pais outra vez foram capazes de arrancar-lhe sua esperança e a vontade de encarar a nova realidade que de repente se dispôs diante de seus olhos. Mesmo sabendo da difícil missão de se adaptar a um universo completamente diferente do seu, ele hora alguma se acovardou frente aos desafios que cruzaram seu caminho. A cada passo dado, um outro Alexen parecia emergir pronto para se desprender daquele indefeso garoto que brotara na caverna de Oggar.
No entanto, será que depois de vivenciar e consequentemente superar um bocado de situações um tanto desafiadoras, estaria ele preparado para encarar mais uma delas?
A viagem ao belo nordeste setuniano seria a oportunidade perfeita para que Alexen se sentisse como um verdadeiro mago agreano. E esse sentimento não seria o mesmo se não acompanhado por acontecimentos rodeados de mistérios e por aventuras de tirar o fôlego. Os treinamentos antes concebidos por Marfano agora se transformariam em situações reais na qual somente um verdadeiro mago seria capaz de enfrentar.
Os desafios que estavam prestes a surgir seriam bem mais do que apenas lidar com vozes, sonhos, brincadeiras de criança ou meras projeções fictícias de bolas de cristal.
Capítulo 17
A Convenção dos magos
Havia finalmente chegado o dia da tão esperada Convenção Bianual de Magos na cidade de Krizan, onde se localizava o Conselho Mundial de Magia do continente setuniano. Evento que fora iniciado pouco depois de aquelas terras terem sido colonizadas pelos guerreiros vindos de Bergama-Setúnia. A classe mágica na época se viu acuada perante as diversas ofensivas por parte dos guerreiros setunianos. A grande perseguição e até mesmo a ameaça de morte àqueles que não se convertessem aos ideais do reinado de Gradazi acabou fazendo com que muitos magos abandonassem suas práticas de magia. No entanto, alguns destes magos, apoiados pelo aklor do Conselho de Magia de Monthebia, Lorwin Monthebian, se viram obrigados a formarem grupos de resistência para que as tradições e os ensinamentos mágicos não morressem por aquelas terras, o que acabou dando início à era das sociedades secretas. Com o passar dos tempos, mesmo com todos os riscos que corriam diariamente, estes magos conseguiram se estabelecer na clandestinidade e com isso mantiveram vivo o legado mágico no continente. As reuniões realizadas por estes grupos de magos eram sempre muito bem esquematizadas e realizadas com certa frequência na cidade de Krizan. E foi graças a essa mistura de persistência, união e organização que os principais líderes de seis dessas sociedades secretas, Belergon, Belerian, Melandra, Nydjari, Athebel, e Fagmir fundaram o tão famoso Clã Magi-Adca para que se tornassem ainda mais fortes na constante luta contra os ideais da classe guerreira.
Durante o governo do rei Ptezia, sucessor de Gradazi, a sociedade mágica se viu livre da perseguição e da repressão antes protagonizada pelos mesmos guerreiros que agora lhe devolviam o direito de liberdade. Foi um período em que o Clã Magi-Adca deixou de ser uma sociedade secreta para se tornar uma quase instituição ligada aos demais Conselhos de Magia de Agren, abandonando de vez a clandestinidade. Infelizmente após a morte de Ptezia e com o reinado sendo comandado por Amalgaz, seu único filho e fiel seguidor dos ideais de Gradazi, os magos voltaram a viver o terror da tirania guerreira. Os dias de adversidade fizeram com que o Clã Magi-Adca amadurecesse e ganhasse ainda mais força no cenário mágico da época. Foi uma época de muita luta e resistência e que veio a ter fim com a morte de Amalgaz e a subsequente posse de seu filho Celuka como novo rei. Assim como nos tempos de Ptezia, a classe mágica pôde mais uma vez ter de volta sua liberdade tantas vezes roubada. Os antigos encontros e reuniões secretas promovidos pelo Clã Magi-Adca passaram a receber cada vez mais e mais magos vindos de toda parte de Setúnia e até mesmo de outros continentes. Com isso, a partir daquele momento, seus fundadores tiveram a brilhante ideia de transformá-los em algo maior, o que acabou dando origem a um dos maiores e mais badalados eventos da classe mágica em Setúnia, a Convenção Bianual de Magos.
— Sejam bem-vindos a Krizan. É uma honra poder recebê-los em mais uma Convenção Bianual de Magos. Os portões do Conselho Mundial de Magia já estão abertos aguardando sua chegada — diziam repetidas vezes as imagens de Monceler gravadas em extensas faixas dispostas ao longo do caminho que dava para o Conselho.
A saudação era a mesma para qualquer um que estivesse indo para lá, independentemente de qual fosse o fator que os diferenciasse. Àquela altura da manhã as estradas já estavam todas tomadas por magos vindos de todos os cantos de Setúnia. Ricos, pobres, jovens, velhos, bem-vestidos, maltrapilhos, montados ou a pé, todos eles se encontravam a cada dois anos para discutirem assuntos pertinentes ao avanço da classe mágica, evento que passou a ser recheado de divergências desde que Monceler assumiu o posto maior da instituição no continente.
Ao longo das laterais do portão principal do Conselho de Magia, seus guardiões posicionados de uma ponta à outra contra a enorme muralha de pedra que o circundava, saudavam cada um dos convidados que ali adentrava e se colocavam prontos para auxiliá-los ou até mesmo para apaziguar qualquer transtorno que viesse a ocorrer. Lá dentro, Monceler se encontrava no conforto de seus aposentos enquanto seus empregados organizavam os últimos detalhes do evento conjuntamente com as demais festividades promovidas pelo Conselho.
— Como está o andamento das coisas lá fora? — perguntou o ansioso aklor a Lóry, um de seus mais antigos guardiões supremos, enquanto era vestido por seus serviçais.
— Os convidados estão chegando em grande número, porém nada que fuja ao nosso controle. Todos os guardiões responsáveis pela guarda geral estão em seus devidos postos zelando pela segurança e certificando-se de que nossos convidados sejam bem recepcionados; os demais guardiões supremos estão conferindo as pautas que discutiremos durante a convenção; e no mais todos nós estamos cuidando para que tudo saia conforme o planejado.
— Ótimo! E quanto ao nosso rei?
— O rei Celuka me parece um pouco impaciente e… — hesitou-se o guardião — …digamos que esteja também passando a impressão de estar intrigado com algo.
— E você sabe o porquê disto?
— Presumo eu que ele deva ter passado a noite se revirando em seu leito devido ao vai-e-vem dos organizadores de nosso evento durante a madrugada. Para piorar, ele está por entender o porquê de nada ter sido modificado do lado de fora após tanta movimentação durante a noite.
— Guerreiros nunca entenderão — comentou o sarcástico Monceler enquanto ajeitava e reajeitava as longas mangas de sua túnica. — Afirmo isto, pois como você mesmo sabe, eu já estive do lado deles um dia — complementou abotoando o último botão de seu colarinho e dispensando os serviçais que o ajudaram a se vestir. — Certifique-se de que ele e seus homens estejam recebendo a atenção devida. Irei descer em instantes para darmos início a nossa convenção — ordenou a Lóry.
— Como queira, senhor. — Curvou-se o guardião deixando o recinto.
Do lado de fora, todos os convidados aguardavam debaixo de um sol escaldante. Muitos até aproveitavam o momento para demonstrar um pouco dos truques que sabiam fazer para espantar o calor, como nuvens vindas do ar dos pulmões dos jovens mais robustos que logo as projetavam para o alto para que pudessem prover a eles um pouco de sombra fresca; borboletas enormes saindo de pequenas caixinhas e sobrevoando a multidão ventilando-os com suas gigantescas asas; e pequenos bebedouros em forma de plumas flutuantes circulando entre os convidados para que os mesmos matassem sua sede.
Em meio ao momento de descontração, o sino da catedral de Krizan badalou por três vezes, fazendo com que a atenção dos convidados se voltasse para um único ponto. Perfilados de um lado a outro do corredor de acesso ao pátio central, os guardas do Conselho anunciavam, ao som de sonoras trombetas, que Monceler estava por vir. Assim que eles deixaram suas posições e se dirigiram em sentido ao pátio, uma fumaça se formou pelo caminho desfazendo uma a uma as mágicas que ainda permaneciam, aliviando o calor de muitos na multidão. Sem muita demora, Monceler surgiu caminhando compassadamente por entre o fumaceiro.
Os aplausos foram imediatos, alguns de pura satisfação e também de louvor ao atual aklor; outros apenas por questões políticas; porém muitos deles para demonstrar a educação e os princípios de cidadãos que estavam ali unicamente por respeito à classe mágica.
— Senhoras e senhores. É com imenso prazer que os recebo aqui hoje para mais uma de nossas convenções. Fico muito agradecido pela presença de todos — pronunciou Monceler saudando seus convidados. — Agora peço que abram espaço para que eu possa alcançar o centro de nosso pátio.
Em poucos segundos uma clareira se abriu em meio à multidão e Monceler pôde caminhar até o ponto desejado. Empunhando um enorme cajado de madeira nobre lustrada, ornado em sua ponta superior com o que parecia ser uma bem lapidada Hepilyta Flamejante, raríssima pedra preciosa nunca vista em outro lugar senão no cajado original de Fezuro, ele prosseguiu altissonante.
— E daqui onde estou, tendo em mãos uma réplica do cajado de Fezuro, o lendário mago supremo precursor na criação de portais, dou início à nossa tão esperada convenção.
Olhares se cruzaram em meio ao público e os cochichos circularam por todas as partes. Talvez a boa maioria dos presentes sequer houvesse presenciado em suas vidas a formação de um portal. Muitos deles estavam extasiados com a possibilidade de presenciar tal espetáculo. Os lábios da maioria pareciam sussurrar um mesmo questionário decorado:
— Será que aquela é mesmo uma réplica do cajado de Fezuro?
— Será que há possibilidades de o original ainda existir?
— Será que um dia o Conselho de Magia nos revelará o porquê do legado de Fezuro não ter sido perpetuado após a sua morte?
A curiosidade pelo visto continuaria a corroê-los.
Monceler ergueu o tão famoso cajado e inúmeros fachos de um raio translúcido soltaram-se da pedra que ornamentava sua ponta direcionando-se ao chão do pátio. Ao reflexo daquela forte luz que tocava o solo e que quase a todos cegava, ele mencionou em voz alta:
— LAGVEN AT-HUM!
Centelhas em um tom cobre alaranjado se levantaram incessantemente de cada um dos pontos atingidos pelos raios do cajado de Fezuro e, ao olhar maravilhado dos convidados, um gigantesco portal de interior negro pulsante e de bordas verdes esfumaçadas se formou.
— Hoje o nosso salão de convenções será um pouco diferente do habitual. Espero que gostem. — Monceler assim abriu passagem para que todos ali adentrassem ao recinto através daquela fenda recém-criada.
Completamente diferente do salão de convenções na parte subterrânea do Conselho, o novo lugar dispunha de um espaço infinito onde não existiam paredes e muito menos um teto, mas uma película turva que se afastava conforme alguém se aproximava. A capacidade se adaptava magicamente conforme o número de convidados que se colocavam portal adentro, o mesmo acontecia com os assentos que simplesmente brotavam como flores de Algamia para que todos fossem bem acomodados. Velas aromágicas e globos luminosos, todos pendurados ao vento, compunham a simples e modesta decoração do local.
A admiração era unânime, pois uma convenção jamais havia sido organizada dentro de um recinto ilusório. Até mesmo Celuka parecia maravilhado com o espetáculo que presenciava, porém ainda não havia cruzado o portal.
— Monceler está à espera do senhor e de seus homens para que a convenção seja realmente iniciada — alertou ao rei um dos guardiões do Conselho.
Celuka segurou-o pelo braço e em voz baixa perguntou:
— Como terei certeza de que não ficaremos presos aí dentro?
— As possibilidades de isso acontecer são quase nulas, majestade.
— Quase? Quase? — Amedrontou-se Dorfrey colocando-se em meio ao homem e a seu rei.
— Desculpem estragar o momento de fraqueza de vocês… — interferiu Konef sob o olhar nada satisfeito de Celuka — …mas se um bando de reles aldeões já cruzou esse portal, nós guerreiros de Armara não temos o que temer. Não concordam?
Os demais guerreiros se fitaram em silêncio aguardando que Celuka se pronunciasse. Somente após olhar de um lado a outro e estalar os dedos de suas mãos é que o rei então tomou a palavra.
— Devo concordar contigo, meu warlord. — Apontou o indicador recém-estalado rumo ao portal. — Seguiremos em frente — ordenou decidido.
— Sigam-me, por favor. — O guardião então cordialmente abriu espaço e os guiou através do portal.
Conforme o rei e seus homens caminhavam pela passarela rumo à enorme mesa onde Monceler de pé os aguardava, o público automaticamente se levantava para saudá-los.
— Pensei que não mais viriam — pronunciou o anfitrião enquanto seus serviçais posicionavam corretamente os assentos para que os guerreiros se acomodassem.
— Meus homens estavam com receio de passarem pelo portal, por isso perdemos alguns minutos do lado de fora até que eles criassem coragem para fazê-lo — disse o rei nem um pouco constrangido pela inverdade que acabara de contar.
Sob os olhares de insatisfação de Konef e de seus demais guerreiros pelo fato de terem sido culpados pela demora, Monceler deu início à cerimônia de abertura da convenção.
— Peço que todos se coloquem de pé nesse momento — pronunciou o imponente aklor levantando-se e imediatamente sendo acompanhado por todos os demais.
Centenas de trombetas aladas brotaram da imensidão infinita que se enxergava além das paredes do salão mágico. Elas saíam coordenadamente bailando uma atrás da outra e proporcionando aos convidados um espetáculo maravilhoso bem acima de suas cabeças.
Descendo pelos corredores que desembocavam para a parte central onde se encontravam Monceler e seus nobres convidados, um grupo de meferinos, membros do Conselho responsáveis pelo coral da Catedral Central de Krizan, foram compassadamente enfileirando-se em torno da grande mesa principal. Os convidados ficaram boquiabertos de admiração ao ver um coral formado por aqueles homenzinhos verdes oriundos de Nedória, com suas orelhas esguias e pontiagudas, queixo protuso, dentes afiados, e semblante cerrado; comportamento nada condizente com o conhecimento que os demais povos de Agren tinham sobre eles. Não era comum vê-los classicamente uniformizados, muito menos tão sérios e compenetrados, pois na maior parte do tempo eles são hiperativos, curiosos, extremamente tagarelas e risonhos. Conforme mandava o protocolo de eventos da instituição, eles aguardaram até que todos permanecessem em absoluto silêncio para só assim darem início ao cântico do hino universal da classe mágica.
Além de Monceler e de seus convidados vindos de Armara, também faziam parte da mesa principal os membros operantes do alto escalão do Conselho como guardiões supremos, chefes de vários setores da instituição, professores da elite mágica, missionários, e até mensageiros.
***
Ainda pelo caminho, na metade dele para ser mais preciso, Alexen parecia muito empolgado com a viagem a Krizan. O pouco de contato que ele havia tido com os livros de magia de Marfano foi suficiente apenas para que ele aprendesse alguns truques mágicos, mas nada a respeito da história da classe mágica setuniana. Estar ao lado de magos vindos de todas as partes de Setúnia e até mesmo de outros continentes, e principalmente conhecer de perto um dos Conselhos de Magia de Agren, não estando no universo de uma bola roxa projetora, seria uma boa oportunidade para que ele se familiarizasse ainda mais com sua nova realidade.
— Você sabia que se Marfano estivesse conosco, você não estaria viajando em cima do meu lombo, não é? — perguntou Khalin assim que desacelerou sua corrida para um descanso.
— Ele me jogaria para o chão e subiria em você, é isso que você quer dizer? — rebateu Alexen parecendo não ter dito aquilo em tom de brincadeira.
— Hahahaha! — gargalhou o canifo. — É claro que ele não faria isso. Ele só não iria permitir que eu carregasse quem quer que seja durante a viagem.
— Eu sei. Eu estava apenas querendo descontrair um pouco para tentar não me irritar ao me lembrar dessas chatices do senhor Marfano. — Gargalhou ele também. — E não que eu seja um aproveitador, mas acho que você é forte o suficiente para carregar um pirralho magrelo como eu. Ah! E tem mais uma coisa — ergueu o dedo indicador com ar disciplinador —, acho que você também já é adulto o suficiente para tomar suas próprias decisões e não deixar que o senhor Marfano as tome por você.
Khalin engoliu seco na hora. Ele no fundo sabia que o garoto louro estava certo, mesmo assim saiu em defesa de seu amigo de longa data.
— Ele sempre foi um bom amigo e além do mais sempre foi muito mais sensato do que eu nas tomadas de decisões. Deve ser por isso que eu sempre acabo acatando ao que ele me diz.
— Estou vendo mesmo o quanto ele é sensato. — Revirou os olhos com ar de deboche.
— Não entendi muito bem o que você quis insinuar dessa vez — rebateu Khalin com uma de suas sobrancelhas arqueadas.
— Onde você vê sensatez nessa história de irmos a essa convenção no lugar dele?
— E o que você vê de errado nisso? — O canifo virou quase que por completo o seu rosto para olhar nos olhos do garoto em seu dorso. — Este é um evento aberto para qualquer um que faça parte da classe mágica agreana.
— Tudo bem que seja, mas não era sobre isso que me referia.
— Então? — Torceu ele o focinho ainda sem entender o posicionamento do garoto.
— Primeiro o senhor Marfano deixa bem claro que não iria a esse evento por conta de que o Conselho deixou de enxergá-lo com bons olhos desde que ele abandonou suas funções por lá. Até aí nada demais, porém logo em seguida ele praticamente joga essa responsabilidade sobre nós dois, exige que você se disfarce para evitar receber os olhares indesejados que seriam para ele se estivesse lá, e para finalizar ele enrola, enrola, e acaba não dizendo o real motivo de nos mandar a essa convenção. Sim, sim, ele já pode receber o prêmio de senhor sensatez do ano. — Fez questão de concluir com o máximo de ironia possível.
Khalin de repente estranhou todo aquele ar de revolta contido nas explicações de Alexen.
— Quem o vê falando dessa maneira nem diria que é aquele mesmo garoto cheio de entusiasmo do início da viagem.
— Pode ficar tranquilo que minhas dúvidas não mudam em nada minha enorme vontade de conhecer o Conselho de Magia e também os milhares de magos que estarão por lá.
— Pois bem, era justamente isso o que Marfano queria, poder lhe dar a oportunidade de estar em um dos eventos mais importantes da história da classe mágica em Setúnia. Com certeza agregará muito valor em seu treinamento.
— Você pode se fazer de desentendido o quanto quiser, afinal o senhor Marfano é seu melhor amigo, não é mesmo? Mas eu sei que ele quer muito que presenciemos algo que fará com que todos se lembrem dele. Isso eu ouvi saindo da própria boca dele.
— Duvido muito que ele tenha armado uma de suas peripécias. Há oitenta e quatro anos que ele não coloca os pés em Krizan.
Alexen não se deu por convencido e argumentou de forma desafiadora.
— E por acaso esse afastamento fez com que ele deixasse de ser um mago? — O canifo agora ergueu não apenas uma, mas as duas sobrancelhas, o que foi o bastante para o pequenino entender como um é óbvio que não
. — Pois então?!
Khalin soltou uma sonora gargalhada. Ele não conseguia reagir de outra maneira frente aos surtos de comportamento adulto que hora ou outra tomavam o pequeno Alexen.
— Acho que você é quem merece o tal prêmio de senhor sensatez do ano — respondeu o canifo aos risos. Ficou óbvio que ele já não queria mais dar continuidade àquela conversa. — Posso acelerar novamente os passos? Ainda temos muito chão pela frente.
— Ainda não. Eu trouxe um dos livros do senhor Marfano para ler. Peguei aleatoriamente de uma de suas estantes e pelo visto me parece ser bem interessante. Está intitulado As duas faces de Edakan
. Se for possível tente não correr demais para que eu pelo menos possa começar a lê-lo.
— Tudo bem, mas não se entusiasme muito ou nos atrasaremos para o início da convenção.
Alexen se aprofundou tanto na leitura que nem mesmo percebeu o passar das horas. Se não fosse por Khalin, talvez ele nem desconfiasse que o tempo havia passado tão depressa.
— Me desculpe por interrompê-lo, mas vou ter que apertar os passos — advertiu o canifo sendo respondido imediatamente com um gesto positivo.
Depois de uns bons quilômetros correndo como se estivesse fugindo de um ataque de guerreiros, Khalin simplesmente parou para que ele e Alexen trocassem suas posições. Ele estava prestes a ver o seu robusto corpo coberto de pelos ser transformado em um minúsculo inseto muito apreciado na dieta da maioria dos répteis em Agren.
— Pelo visto sua leitura acabou nos atrasando um pouco — disse o canifo de forma bem-humorada ao ver somente os rastros de pegadas deixados pelos convidados da convenção ao longo da estrada que dava para o Conselho. — Por favor, meu pequeno, me passe a poção MUTA-MORFA.
— Pronto, está aqui — disse Alexen retirando o pequeno frasco de sua bolsa.
— Vou precisar também que você segure o lagarto bem a minha frente para que eu seja engolido assim que assumir a forma daquele besouro.
— Nossa! — espantou-se o garoto. — Não deve ser nada bom ser engolido vivo.
Khalin abriu a pequena garrafa e em apenas um gole ingeriu seu conteúdo. Mais rápido que o brilho de um raio riscando os céus em dias de tempestade e ele já estava transformado em um pequeno besouro de carapaça dura. Na mesma hora ele até tentou ensaiar um pequeno voo, mas antes mesmo que suas asas pudessem iniciar qualquer movimento, o Yudi Falante lançou sua enorme língua contra ele engolindo-o instantaneamente.
— Até que não foi tão mal assim. — Brincou o canifo agora falando através do pequeno réptil. — Agora me coloque dentro de sua bolsa e vamos dar um jeito de nos apressar.
Alexen apertou os passos e enfim alcançou o grande portão do Conselho de magia. Os guardiões que montavam a guarda na entrada o saudaram cordialmente assim como fizeram com qualquer outro que anteriormente ali passara. O pequenino estava maravilhado com o que via dentro daqueles muros, era como se o mundo real houvesse ficado do lado de fora. Seus lentos passos, os olhos voltados para o alto, e os repetidos giros de trezentos e sessenta graus de seu corpo demonstravam sua admiração por cada centímetro que sua visão conseguia alcançar.
Um daqueles enormes guardiões trajados com vestes medianas de couro, capuzes de mago, e longas lanças empunhadas em mãos, pouco convencionais comparados à linha de guardiões antecessoras do Conselho, notou que o pequenino havia chegado desacompanhado e se sentiu na obrigação de orientá-lo.
— Bom dia, meu jovem. Este ano nossa convenção está sendo realizada em um auditório mágico por vontade de nosso aklor. Queira por gentileza dirigir-se ao pátio central e adentre-se ao portal que lá se encontra.
Outro guardião se aproximou e tomou a palavra.
— Haverá um assento lhe esperando assim que colocar os pés lá dentro.
Alexen não fazia ideia do que dizer e logo soltou o que lhe veio primeiro à cabeça.
— E qual é o número deste meu assento?
— Número? Como assim? Nada foi me dito sobre número. — Confundiu-se o guardião com a pergunta do ingênuo garoto.
— Não haverá números, jovem mago. Ou melhor, nunca houve números — respondeu o outro eliminando qualquer dúvida.
— E como chegarei até ele?
— É só se guiar por este seu magnífico instinto mágico, ora bolas — interveio um terceiro guardião nada paciente. — Com esse imenso potencial mágico exalando por todos os seus poros, você não deveria estar fazendo tal pergunta — expressou todo ranzinza. — Deve ser filho de um daqueles magos fracassados
— mussitou para si mesmo.
Imediatamente Alexen pensou em algo para que a conversa não se prolongasse.
— Desculpe, mas eu ouvi o que o senhor disse. — Mirou o olhar no guardião que nem sequer lhe devolvia a confiança. — Você tem muita sorte de meus pais já estarem lá dentro do auditório. Se não fosse pela convenção de magos já ter se iniciado, eu iria chamá-los agora mesmo e mostraríamos a você o que uma família de magos fracassados seria capaz de fazer. — Apontou o dedo para o homem com os olhos cheios de uma raiva muito bem encenada.
— Então trate de se apressar antes que eles se irritem com você — ordenou cordialmente o mesmo guardião que o havia saudado em sua chegada. Ele não queria de maneira alguma que o comportamento afrontoso do pequenino causasse maiores problemas.
Alexen seguiu rumo ao pátio central do Conselho movendo propositalmente os seus ombros em sinal de desdém. O rabugento guardião há pouco confrontado pareceu não ter engolido muito bem a forma como um mero garotinho havia se comportado perante a ele.
— Esses garotos de hoje em dia perderam totalmente o respeito pelos mais velhos e principalmente por seus superiores. Onde já se viu desafiar um guardião da maior instituição de magia desse continente?! Se fosse nos meus tempos de juventude ele teria sido transformado em um insignificante inseto e pisoteado por todos nós guardiões. — Permaneceu destilando sua revolta como se fosse transformá-la em um discurso infindável.
Já a uma certa e segura distância, Khalin projetou sua escamosa e quase imperceptível cabeça reptiliana para fora da bolsa de Alexen.
— Adorei sua estratégia — disse ele tateando o ar em sua volta com sua pequena língua.
— Qual estratégia? — questionou o garoto realmente sem entender o comentário.
— Por ter criado aqueles pais assim do nada. Marfano e eu pecamos por não termos pensado que situações assim pudessem acontecer. Com certeza eles barrariam sua entrada se descobrissem que estava a sós, mas você conseguiu se safar muito bem. Parabéns.
— Ah! Eu só inventei aquilo para que aquela conversa não se espichasse — justificou o pequenino. — Aquele deve ser o portal. — Apontou notando uma imensa massa energética luminosa bem ao centro do pátio do Conselho.
— É aquele mesmo —