Entre as ondas
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Entre as ondas - Ângelo Monteiro
As palavras perdidas
As palavras hoje ditas
dependem menos de quem as diz
do que daquele que as ouve.
Dependem menos ainda
do dia em que foram ditas
por alguém
que, com certeza,
as esqueceu.
Pois esquecer — apenas esquecer —
tornou-se a forma única de ser.
Nada sabemos
Nada sabemos quando o mal começa
e a paz, sempre adiada, não nos vem.
Quando qualquer de nós com toda a pressa
é despojado do seu próprio bem.
Mas que fazer se a vida recomeça
qual nuvem que não leva mais além?
Uma história fixa
Se a nossa história sempre volta
ao mesmo ponto de partida
como não estar à deriva?
Sem escapar do que vivemos
por que cada sinal de mais
não passa de um sinal de menos?
O destino das ondas
Navegantes, apenas navegantes
na direção de plagas que não vemos.
Se navegar é tudo que sabemos
somente às ondas somos semelhantes:
e para que tal fado se consuma
só resta a cada vida sua espuma.
Painel antigo
Na grita de tantas ondas
finalmente sou tangido
para bem longe das lonas
de um circo que em mim cresceu.
São vozes que vêm de longe
sobre um contundido eu.
Os pássaros
Os pássaros voam com graça
e os homens sonham no voo
que eles traçam para os olhos.
Mas — como eles — os pássaros
só sobrevivem à força
na terra como no céu.
Espaço & tempo
Se cada um só pertence a seu espaço
— e cada espaço tem seu próprio tempo —
somos então prisioneiros?
Ou fora desses limites
não seríamos senão mortos?
Legado
Aqueles que nos apontaram
não só o caminho da fonte
mas