O Horror da Fazenda São Lázaro
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Sobre este e-book
O patriarca dos Lopes Rezende é um homem maligno e mesquinho e, dizem as más línguas, tem parte com o diabo. Porém ele ainda é o membro mais antigo vivo de uma família em extinção, e, portanto, exige que seus familiares prestem respeito a ele na Fazenda São Lázaro. Lara odeia tudo a respeito dessas visitas – como seu avô só tem críticas e escárnio para oferecer à família, como seu primo mais velho é insuportável, como a fazenda é sinistra e silenciosa. Mas quando o tirânico vô Tonho oferece algo inesperado a seus netos, Lara acaba por descobrir que o casarão antigo da fazenda esconde horrores muito maiores do que imaginara.
O Horror da Fazenda São Lázaro é um conto de horror gótico centrado em uma família cheia de segredos e silêncios, que parece ser amaldiçoada. Narrado em primeira pessoa, é ideal para quem gosta de histórias de horror sobre traumas intergeracionais e famílias disfuncionais com um ritmo ágil e muito sangue.
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O Horror da Fazenda São Lázaro - Isabelle Morais
Aviso de conteúdo:
Famílias disfuncionais, racismo, machismo, sangue, gore, violência.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Quando eu tinha cinco anos, meu tio morreu em um acidente de carro, voltando pelas estradas tortuosas que ligavam a fazenda São Lázaro a Brasília. Não era o primeiro a morrer assim. Nós éramos uma família em extinção; os quatro filhos do meu avô viraram três, dois, até restar apenas um, meu pai. A sucessão de acidentes era suficiente para que os funcionários da fazenda nos contassem, em sussurros, que o velho Tonho era amaldiçoado, que havia algo de errado com a nossa linhagem. Uma alma, um monstro, uma assombração que rondava as terras e impedia que chegássemos à velhice. Com os irmãos de meu avô havia sido o mesmo — um a um, padeceram na mesma curva, na mesma estrada, até só restar meu avô.
Era melhor que tivesse morrido também.
Mamãe contava que, um pouco antes de se casar, quando finalmente conheceu o homem que seria seu sogro, saiu da fazenda horrorizada e jurou nunca mais pisar naquele lugar. Seu Tonho tinha um teste muito eficiente para o caráter das pessoas: a parte mais importante do seu tour da casa era o cômodo abaixo dela, praticamente intocado nos mais de cem anos desde que a princesa Isabel estragou tudo
.
— Bem, mas era de se esperar de uma mulher. Criaturas muito emotivas e pouco práticas — dizia ele, esperando o ultraje com seus olhos escuros assustadores e um sorriso malicioso.
Ninguém nunca tinha passado.
Sempre me olhava com desprezo quando lhe pedia a benção. Ele espremia os lábios quase inexistentes e enxugava a mão na calça com nojo depois que eu a beijava, me forçando a ficar parada à sua frente pelo tempo que quisesse. A primeira — e única — vez que inventei de sair de sua presença sem permissão, entendi por que ele sempre andava com uma vara de jabuticabeira fina demais para servir de bengala. Então eu sempre ficava lá, parada sob seu olhar, com a raiva esquentando o rosto. Minha vontade era cuspir na cara dele em vez de beijar sua mão, esticar o pé para fazê-lo tropeçar quando passava perto de mim com passos lentos e incertos, puxar sua bengala e ver o que aconteceria. Mas a forma como me tratava nem se comparava com o que fazia com Helena, minha prima mais nova — ele achava que ignorando-a, ela deixaria de existir.
— Mais uma vez a menina vem com essas roupas de rapaz — falava ele para o meu pai todas as vezes em que eu aparecia de calça jeans. — E aquela outra fica com a cara enfiada nos livros, o que ela acha que vai ganhar com isso? Ninguém quer se casar com mulher inteligente.
Meu pai ficava calado, olhando para as próprias mãos em silêncio, seus ombros curvados